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RINITES
Definição
Rinite é a inflamação e ou disfunção da mucosa de revestimento nasal, e é caracterizada por
alguns dos sintomas nasais: obstrução nasal, rinorréia anterior e posterior, espirros, prurido
nasal e hiposmia. Geralmente ocorrem durante dois ou mais dias consecutivos por mais de
uma hora na maioria dos dias.
Classificação
Depende dos critérios empregados (dados clínicos, frequência e intensidade dos sintomas,
citologia nasal, fatores etiológicos, fenótipos [clínica, padrão temporal, gravidade, duração,
controle, resposta aos tratamentos, e presença de comorbidades.
Em documento recente, a Academia Europeia de Alergia e Imunologia propôs a classificação
das rinites crônicas baseando-se no principal agente etiológico.
É constituída por 4 subgrupos, a saber:
1) rinites infecciosas (agudas, autolimitadas, causadas por vírus, e menos frequentemente por
bactérias);
2) rinite alérgica (forma mais comum, induzida por inalação de alérgeno em indivíduos
sensibilizados);
3) rinite não alérgica não infecciosa (grupo heterogênio, pacientes sem sinais de infecção e
sem sinais sistêmicos de inflamação alérgica, exemplos: rinite induzida por drogas, rinite do
idoso, rinite hormonal, rinite da gestação, rinite ocupacional não alérgica, rinite gustatória, e
rinite idiopática);
4) rinite mista (expressão significante em pacientes com rinite crônica, com mais de um agente
etiológico, conhecido ou não).
O prurido nasal pode induzir ao hábito de fricção frequente do nariz com a palma da mão,
gesto conhecido como “saudação alérgica”. Em crianças podem ocorrer episódios recorrentes
de epistaxe relacionados à friabilidade da mucosa, episódios de espirros ou ao ato de assoar o
nariz vigorosamente.
Características faciais típicas estão presentes em grande número de pacientes com rinite
alérgica, tais como:
Fatores desencadeantes
A ocorrência dos sintomas de rinite alérgica pode ser sazonal ou perene. Os sintomas sazonais
estão relacionados principalmente à sensibilização e à exposição a polens, presentes em países
de clima temperado e também no sul do Brasil, onde a polinização se faz presente. Quando o
indivíduo sensibilizado é submetido à exposição alergênica de modo continuado, como o que
acontece com os alérgenos da poeira doméstica, os sintomas ocorrerão ao longo de todo o
ano, de modo perene. Além desta classificação, com abrangência global, a rinite alérgica pode
ser classificada como intermitente ou persistente, de acordo com o número de dias na
semana, e mesmo no ano, em que o indivíduo apresenta sintomas.
Diagnóstico etiológico
Questionários
• Distúrbios do sono
Distúrbios relacionados ao sono (DRS) são frequentes, com prevalência entre 25% e
40% em crianças, pouco relatados e deixam de ser tratados. Normalmente os pais não
valorizam os sintomas e os médicos deixam de investigá-los. O padrão-ouro para
diagnóstico de DRS é a polissonografia, pois é uma avaliação objetiva, entretanto seu
custo é elevado e de difícil realização, o que limita seu uso em estudos populacionais.
Diários de sono são baratos, mas requerem tempo para preenchimento e são difíceis
de interpretar. Questionários escritos têm sido desenvolvidos para avaliação de DRS
em diversas faixas etárias, autoadministrados e de fácil aplicação, com custo baixo e
úteis para utilização em grandes estudos.
Questionário com sete domínios (resistência para dormir, duração do sono, ansiedade
para dormir, despertar noturno, parasonia, alteração da respiração no sono e
sonolência diurna) foi desenhado para verificar os hábitos de sono em crianças (CSHQ
= Children’s Sleep Habits Questionnaire). validado para a língua portuguesa e
espanhola. Este instrumento foi aplicado em crianças com asma e/ou rinite alérgica
em nove países da América Latina, incluindo o Brasil. Observou-se escore
significativamente maior do CSHQ em crianças com asma e/ou rinite em comparação
com as crianças saudáveis, em especial naquelas onde a doença era mal controlada58.
• Qualidade de vida
De maneira simples, qualidade de vida relacionada a saúde é um componente simples
da qualidade de vida determinada primariamente pela saúde da pessoa. Medidas
objetivas como rinomanometria e hiperreatividade nasal provêm informações
detalhadas sobre aspectos específicos do nariz, mas não sobre o impacto sobre a
qualidade de vida dos pacientes. Questionários de qualidade de vida são curtos, de
fácil compreensão, auto-administrados e de simples execução. Foram desenvolvidos
questionários específicos para rinoconjuntivite em adultos (RQLQ = Rhinoconjunctivitis
Quality of Life Questionnaire). Outra versão abreviada foi desenvolvida, o MiniRQLQ
(Mini Rhinoconjunctivitis Quality of Life Questionnaire).
Comorbidades
Várias comorbidades associadas à rinite alérgica têm sido descritas, entre as quais asma,
conjuntivite alérgica, rinossinusite aguda e crônica, otite média com efusão, tosse crônica e as
alterações do desenvolvimento craniofacial dos respiradores bucais em crianças, além de
apneia e hipopneia obstrutiva do sono, tanto em crianças como em adultos. Algumas destas
comorbidades parecem estar intimamente relacionadas à rinite alérgica por compartilhar
vários aspectos da fisiopatogenia. Comorbidades como a SAHOS (síndrome da apneia,
hipopneia obstrutiva do sono) e respiração oral estão mais relacionadas às consequências da
obstrução nasal provocada pela rinite alérgica.
Tratamento
• Medidas não farmacológicas
A proposição de medidas não farmacológicas para o controle, em vários níveis, das
doenças alérgicas, tem que passar obrigatoriamente pela avaliação de complexidades
que compõem o desenvolvimento destas doenças. Devemos, portanto, considerar
aspectos epigenéticos, as possíveis respostas modificadas Th2, as ações de proteases,
das quitinas e de outros fatores que possam influenciar a genética e o meio para o
desenvolvimento das doenças alérgicas respiratórias.
A avaliação do impacto das medidas de controle de exposição a alérgenos sobre a
redução de sintomas depende do número de alérgenos aos quais o indivíduo está
sensibilizado e exposto. Isto interfere na interpretação dos resultados de estudos
sobre as medidas de controle ambiental, pela dificuldade em se atingir uma
diminuição da carga de alérgenos com relevância clínica. Deve ser lembrado ao
paciente que as medidas de controle devem ser mantidas pelo menos por 3 a 6 meses
para que algum benefício clínico gradual possa ser observado.
• Medidas farmacológicas
o Antihistamínicos
Os antihistamínicos H1 (anti-H1) são considerados medicamentos de primeira
linha no tratamento da RA. Por atuarem sobre os receptores H1, interferem na
ação da histamina sobre as terminações nervosas sensoriais, na estimulação
reflexa parassimpática das secreções glandulares e na vasodilatação e
aumento da permeabilidade pós-capilar. Deste modo, aliviam de forma eficaz
os sintomas da fase imediata da RA, tais como o prurido nasal, os espirros, a
rinorreia e os sintomas oculares associados, e parcialmente o bloqueio nasal,
característico da fase tardia da doença. Além disso, sub-regulam a inflamação
alérgica nasal reduzindo a expressão de citocinas inflamatórias, moléculas de
adesão e também a ativação de células epiteliais, eosinófilos, basófilos,
mastócitos e células T81.
Admite-se, atualmente, a existência de quatro subtipos de receptores de
histamina (HR): HR1, HR2, HR3 e HR482. Todos pertencem à família de
receptores acoplados à proteína G e suas principais características e funções
estão descritas no Quadro 3. Os principais receptores da histamina envolvidos
na RA são os HR1.
Podem ser classificados como clássicos ou de primeira geração (sedantes) e
não-clássicos ou de segunda geração (não sedantes). Os anti-H1 clássicos,
apresentam alta lipofilicidade e consequentemente facilidade de penetração
na barreira hematoencefálica, além de baixa seletividade pelo receptor da
histamina, resultando em sedação, além de potenciais efeitos adversos
relacionados à sua ligação com outros tipos de receptores, listados no Quadro
4.
Tabela 2 Farmacocinética e farmacodinâmica de anti-histamínicos orais em adultos.91,95
Posologia
Nome Apresentação
Crianças Crianças >12 anos e adultos
Posologia
Nome Apresentação Crianças >12 anos e
Crianças
adultos
Cetirizina Gotas: 10mg/mL 6 meses - 2anos: 2,5mg 1x/dia 10mg/dia
Comprimidos: 10mg 2 - 6 anos: 2,5mg 12/12h
Solução oral: 6 - 12 anos: 5mg 12/12h
1mg/mL
Levocetirizina Gotas: 2-6 anos: 1,25mg (5 gotas) 12/12h 5mg/dia
2,5mg/10gotas > 6 anos: 5mg/dia (20 gotas ou 1cp)
Comprimidos: 5mg
Loratadina xarope: 1mg/mL > 2 anos, 10mg/dia
Comprimidos: < 30kg: 5mg/dia
10mg ≥ 30kg:10mg/dia
Desloratadina Xarope: 0,5 mg/ml 6 meses - 2 anos: 1 mg 1x/dia 5mg/dia
Gotas: 1,25 mg/ml (2 ml ou 16 gotas)
Comprimidos: 5 mg 2 - 6 anos: 1,25 mg 1x/dia
(2,5 ml ou 20 gotas)
6 - 12 anos: 2,5 mg 1x/dia
(5 ml ou 40 gotas)
Ebastina Xarope: 1mg/mL 2 - 6 anos: 2,5mg 1x/dia 10mg/dia
Comprimidos: 6 - 12 anos: 5 mg 1x/dia
10mg
Epinastina Xarope: 2mg/mL 6 - 12 anos: 5 a 10mg 1x/dia 10 a 20mg/dia
Comprimidos: 10mg ou
20mg
Fexofenadina Solução: 6mg/ml 6 meses - 2 anos: 15 mg (2,5 ml) 60mg a cada 12 horas ou
Comprimidos: 30, 12/12h 120mg 1 vez ao dia
60, 2 - 11 anos: 30 mg (5ml) 12/12h
120 e 6 - 12 anos: 60 mg/dia
180mg
Rupatadina Comprimidos: 10mg Não recomendado 10 mg/dia
Bilastina Comprimidos: 20mg Não recomendado 20 mg/dia
Obs: 1h antes ou 2h após
refeições
Tabela 5 Anti-histamínicos H1 de uso tópico.
Posologia
Nome Apresentação
Crianças Maiores de 12 anos e Adultos
Posologia
Associação Apresentação Adultos e maiores
Crianças
de 12 anos
Drágeas 1mg azatadina +
----- 1 comprimido de 12 /12h
Azatadina + 120mg pseudoefedrina
Pseudoefedrina Xarope 0,5mg azatadina + 1- 6 anos: 2,5mL de 12/12 h
10 a 20mL de 12 /12h
CEDRIN 30mg pseudoefedrina/mL > 6 anos: 5mL de 12/12 h
0,5mg/5ml
Xarope 5ml c/ 2mg
Bromofeniramina + bromofeniramina + 5mg
fenileferina > 2 anos: 2,5 a 5mL de 6/6 h 15 a 30mL de 6 / 6 h
Fenilefrina
Gotas 1mL c/ 2mg
Decongex plus > 2 anos: 2 gotas por
bromoferiramina + 2,5mg
kg de 8/8 h
fenilefrina
Comprimido: 12mg
bromofeniramina + 15mg 1 comprimido de 12 /12h
fenilefrina
Xarope 1ml c/ 0,2mg
> 6 meses: 0,25 a
Bromofeniramina + bromofeniramina + 3 mg 20ml de 6 em 6 horas
0,30ml/kg/dose de 6/6 h
Pseudoefedrina pseudoefedrina
Cápsulas com 4mg
1 cápsula de 6 em 6
bromofeniramina + 60mg
horas
pseudoefedrina
Comprimido: 2,5mg
1 comprimido de 6 em
triprolidina + 60mg
6 horas
pseudoefedrina
Tabela 8 Anti-histamínico H1 de segunda geração associados a descongestionante – Exemplos:
• Corticosteroide sistêmico
A princípio os corticosteroides sistêmicos (CE) não estão indicados para o controle dos
sintomas de RA. Por outro lado, o uso de CE por via oral por períodos curtos de tempo
(no máximo 5 a 7 dias) pode ser apropriado no controle de sintomas nasais graves. A
administração sistêmica, como medida excepcional, pode ter a vantagem de atingir nível
terapêutico em todas as partes do nariz e dos seios paranasais naqueles pacientes com
congestão grave e sintomas muito intensos. Nestes casos de crises mais graves deve-se
investigar a possibilidade de comorbidades associadas, como por exemplo, rinossinusite
bacteriana aguda.
A administração parenteral de CE, especialmente os conhecidos como CE de depósito
(ação prolongada) são proscritos no manejo da rinite, em especial em crianças e idosos,
devido aos efeitos adversos sistêmicos.
Estudo recente avaliou a ação da associação desloratadina (0,5mg/mL) e prednisolona
(4mg/mL) durante 7 dias em crianças (2 a 12 anos) em crise aguda grave de rinite
alérgica e documentou controle significativo dos sintomas nas primeiras 24 horas de
tratamento, acompanhada por menor incidência de eventos adversos, sobretudo
sonolência.
• Corticosteroide tópico nasal
A característica principal da RA é a presença de inflamação na mucosa nasal e nos seios
paranasais e daí a importância dos corticosteroides tópicos de uso nasal (CN)como
fármaco de escolha no seu tratamento. Além disso, os CN têm sido usados nos casos de
rinites não alérgicas, como as idiopáticas, ocupacionais e a gestacional.
Os CN melhoram todos os sintomas de RA, em especial a congestão nasal, a alteração do
olfato, a coriza, os espirros, o prurido nasal e os sintomas oculares associados. A
melhora dos sintomas oculares traduz sua ação no reflexo nasoocular (rinoconjuntivite
alérgica). Seu uso leva à melhora na qualidade de vida, na qualidade de sono e na
concentração diurna.
O tratamento com CN reduz também o risco de complicações como a rinossinusite, a
otite secretora e asma. O início da ação dos CN ocorre em 7 a 12 horas após sua
administração, mas os pacientes devem ser notificados que o efeito terapêutico final
pode demorar até 14 dias para ser atingido.
Comparado a outras medicações para o tratamento da RA, como os anti-H1 e os anti-
receptores de leucotrienos, os CN têm se mostrado mais efetivos. As opções de
formulações de CN em nosso meio incluem o dipropionato de beclometasona (DPB), a
budesonida (BUD), o propionato de fluticasona (PF), o furoato de mometasona (FM), o
furoato de fluticasona (FF) e a ciclesonida (CIC). Os CN liberados para uso em maiores de
dois anos de idade são o FM e o FF. Os produtos liberados em bula acima dos 4 anos
são a BUD e o PF enquanto que acima dos 6 anos estão o DPB e a CIC.