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GINA COMPLETO 2020

SEÇÃO 2 – DIAGNÓSTICO E MANEJO DE ASMA EM CRIANÇAS COM 5 ANOS OU MENOS

PONTOS CHAVE

1. Sibilância recorrente é comum nessa faixa etária, especialmente com IVAS associado.
2. Diagnóstico de asma em crianças pequenas que sibilam é mais provável quando
associado a: a) sibilos e tosse associados a exercício físico, risos ou choros, na ausência
de infecções de vias aéreas; b) história de doenças alérgicas (DA ou RA), sensibilização
a alérgenos ou parentes de primeiro grau com asma; c) melhora clínica por 2-3 mese
com tratamento, e piora com a interrupção.

ASMA E SIBILÂNCIA EM CRIANÇAS PEQUENAS

Asma é a doença crônica mais comum na infância. Metade dos pacientes com asma iniciam o
quadro durante a infância. O início é mais precoce em homens que mulheres.

SIBILÂNCIA INDUZIDA POR VÍRUS

Crianças abaixo de 5 anos apresentam cerca de 6-8 episódios de IVAS durante o ano, episódios
que estão altamente relacionados a sibilância, e nem sempre significa asma. Nestes pacientes
é difícil identificas quem tem asma de quem tem sibilância induzida por infecção viral.

FENÓTIPOS (caindo em desuso)

 BASEADOS EM SINTOMAS: sibilância episódica e sibilância com múltiplos


desencadeantes (IVAS, durante o sono, durante o exercício, risos, choro)
 BASEADOS NO TEMPO: sibilância transitória (iniciou e terminou antes dos 3 anos),
asma persistente (iniciou antes dos 3 anos e permaneceu após os 6 anos) e sibilância
tardia (sintomas após os 3 anos).

DIAGNÓSTICO CLÍNICO

Tosse e sibilância extremamente comum na faixa etária, especialmente abaixo de 2 anos.


Realização de espirometria ou broncodilatador extremamente difícil. Realizar decisões
individualizadas com a família. Sintomas sugestivos de asma em menores de 5 anos:

 Padrões de sintomas: episódios recorrentes de tosse seca, sibilos, dispneia


(geralmente manifestado como limitação ao exercício), sintomas noturnos ou ao
despertar.
 Presença de fatores de risco (HF de atopias, asma ou sensibilização alérgica; história
pessoal de alergia alimentar ou DA).
 Resposta clínica à tratamento de controle (após 2-3 meses de tratamento).
 Exclusão de diagnósticos alterativos.
 Em crianças pequenas que não se queixam de “dispneia”: avaliar engajamento da
criança em atividades físicas e comparação com seus pares.

EXAMES COMPLEMENTARES

 Teste terapêutico com B2 de curta e corticoides inalatórios por 2-3 meses. Avaliar
melhora do quadro e piora após com a interrupção.
 Testes de sensibilização alérgica: teste cutâneo ou imunoglobulinas IgE-específicas. É o
melhor preditor de asma persistente.
 Radiografia de tórax: raramente indicadas. Pode auxiliar a excluir diagnósticos
diferenciais (anomalias congênitas, infecções crônicas como tuberculose, anéis
vasculares, aspiração de corpo estranho, entre outros).
 Espirometria: Não tem um papel importante nesta faixa etária devido à dificuldade em
realizar as manobras.
 Inalação de óxido nítrico.
 Perfis de risco: ferramentas que avaliam risco de desenvolver asma persistente após
os 5 anos de idade (ex. Index preditivo de asma – API).

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Sinais que indicam um diagnóstico alternativo e a necessidade de encaminhamento para


avaliação adicional:

 “Falha em prosperar”
 Sintomas de início muito precoce ou no período neonatal
 Vômitos associados aos sintomas respiratórios
 Sibilância contínua
 Falha de resposta aos medicamentos
 Não associação de sintomas com desencadeantes comuns, como IVAS
 Sinais pulmonares locais ou cardiovasculares, ou baqueteamento digital
 Hipoxemia fora do contexto de doença viral

Diagnósticos diferenciais comuns:

IVAS de repetição Sintomas somente durante as infecções


Refluxo gastroesofágico Tosse durante alimentação, vômitos, sem
resposta à tratamento da asma
Início abrupto, tosse ou estridor intenso
Aspiração de corpo estranho durante alimentação/brincadeiras, sintomas
focais, infecções recorrentes
Bronquiolite bacteriana persistente Tosse produtiva persistente, sem resposta à
medicações para asma
Respiração ruidosa durante o choro ou
Traqueomalácia durante IVAS, sintomas desde o nascimento,
tosse áspera
Tosse e respiração ruidosa persistente, febre
Tuberculose não responsiva à antibióticos tradicionais,
linfonodomegalias, contato com TB
Doença cardíaca congênita Sopro, cianose durante alimentação, failure
to thrive, taquicardia, hepatomegalia
Tosse após o nascimento, infecções
Fibrose Cística respiratórias de repetição, failure to thrive,
diarreia gordurosa
Discinesia ciliar primária Tosse e infecções de repetição, esforço
neonatal, otites crônicas, rinorreia
persistente desde o nascimento, situs
inversos (50%)
Aneis vasculares Respiração ruidosa persistente
Displasia broncopulmonares Pacientes prematuros, muito baixo peso ao
nascer, necessidade de VM, dificuldades de
respirar ao nascimento
Imunodeficiências Febre e infecções repetição (não só
respiratórias).

AVALIAÇÃO E MANEJO
O objetivo é controlar os sintomas e manter níveis de atividades normais. Minimizar risco de
exacerbações de asma, desenvolvimento pulmonar inadequado e efeitos colaterais das
medicações. É necessário revisar constantemente a necessidade de tratamento visto que
muitos pacientes apresentam remissão dos sintomas.

OBJETIVOS (converse com os pais para alinhar os objetivos):

1. Bom controle das crises


2. Manter níveis normais de atividades
3. Minimizar futuros riscos de exarcebações
4. Manter a função pulmonar e o desenvolvimento pulmonar
5. Minimizar efeitos colaterais das medicações

AVALIAÇÃO

Monitorizar o controle de sintomas e o risco de a asma os afetar no futuro.

(completar depois pág. 147-149)

STEPS DO TRATAMENTO DA ASMA PARA CRIANÇAS COM 5 ANOS OU MENOS

STEP 1: Beta2-agonistas de curta ação

O uso de beta2 mais de duas vezes por semana ao longo de um mês é um indicativo da
necessidade de teste com medicação profilática.

Devices: 0-3 anos jatos com espaçador e máscara (ou nebulizador com máscara) | 4-5 anos
jatos com espaçador sem máscara (ou nebulizador com ou sem máscara)

Opções:

 Terapia broncodilatadora oral não é recomendada


 Pode-se usar como alternativa doses elevadas de corticoide inalatório intermitente,
para pacientes com sibilância associada a quadros virais e com atopia subjacente.

STEP 2: TERAPIA PROFILÁTICA + BETA2 QUANDO NECESSÁRIO


Baixas doses diárias de corticoide inalatório. Para avaliar sua efetividade o tratamento deve ser
instituído por pelo menos 3 meses.

Opções:

 Antagonistas de receptores de leucotrienos (montelucaste)


 Doses intermitentes elevadas de corticoide inalatório
 Testar as opções do Step 2 antes de partir para Step 3.

STEP 3: TRATAMENTO PROFILÁTICO ADICIONAL + BETA2 QUANDO NECESSÁRIO +


CONSIDERE ENCAMINHAMENTO AO ESPECIALISTA

Após 3 meses de corticoide inalatório de baixa dose. Antes de progredir no tratamento, checar
os seguintes tópicos:

 Sintomas são realmente decorrentes de asma e não de outra condição.


 Avaliar qualidade da técnica inalatória.
 Conferir se o paciente apresenta uma adequada adesão.
 Questionar sobre fatores de risco (alérgenos, tabagismo passivo)

Se foram excluídas as opções acima >> dobrar a dose de corticoide inalatório (dose média
diária). Reavaliar em 3 meses.

Opções:

 Antagonista de receptores de leucotrienos + corticoide inalatório baixa dose


 Não existem estudos suficientes que corroborem o uso de corticoide inalatório com
LABA para crianças com <4 anos.

STEP 4: CONTINUE TRATAMENTO PROFILÁTICO + ENCAMINHAMENTO AO ESPECIALISTA

Reavaliar tópicos do Step 3 e reconsiderar o diagnóstico de asma. Encaminhar ao especialista.

Opções (com o apoio do especialista):

 Aumentar ainda mais as doses de corticoide inalatório


 Acrescentar antagonistas de receptores de leucotrienos ao corticoide com dose
dobrada.
 Acrescentar LABA ao corticoide inalatório (em crianças >4 anos)
 Acrescentar pequenas doses de corticoide oral por poucas semanas. Controlar efeitos
colaterais.
 Acrescentar doses elevadas intermitentes de corticoide inalatório ao esquema diário
quando em exacerbação.

Manter os tratamentos de profilaxia pelo menor tempo possível, levando em consideração


riscos e benefícios. Os objetivos e sua factibilidades devem ser rediscutidos com a família.

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