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INCISTE

TEMA: AFOGAMENTO
HUGO BENEDITO HUGO
MARÇO, 2023
OBJECTIVOS

1. Definir afogamento.
2. Descrever os factores de risco associados.
3. Explicar o que é a síndrome de imersão ou ‘choque térmico’.
4. Explicar os mecanismos que levam a morte num acidente de submersão em água
5. Descrever os principais sinais e sintomas de afogamento.
6. Explicar os diferentes passos específicos no atendimento das vítimas de afogamento.
7. Descrever a indicação para referência urgente.
INTRODUÇÃO

•Principal causa de morbi-mortalidade acidental prevenível em todo mundo.

•É considerado a 4ª causa de morte acidental no adulto e 50% associado a bebida alcoólica.

•É a segunda causa de morte acidental em crianças, perdendo apenas para os acidentes


automobilísticos, com maior incidência entre o 1° e o 2° ano de idade, por falta de vigilância,
ocorrendo em piscinas e banheiras.

•O afogamento é predominante em qualquer faixa etária do sexo masculino.


DEFINIÇÃO

• É o resultado da asfixia por imersão ou submersão em qualquer meio líquido, resultando


em redução parcial ou total da ventilação e/ou da perfusão pulmonar, e
consequentemente impedindo a troca de gases com o ar ambiente.

•Para que haja afogamento, pelo menos a face e vias aéreas superiores devem estar
imersas em meio líquido, sem que necessariamente todo corpo esteja submerso.
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FACTORES DE RISCO
 Epilepsia
 Distúrbios mentais
 Idade pediátrica
 Arritmias cardíacas, infarto do miocárdio
 Alcoolismo
 Uso de drogas estupefacientes
 Hipoglicémia
 Maus tratos até o homicídio
 Incapacidade de nadar
 Trauma do pescoço ou cabeça devido a um mergulho
 Acidente da oxigenação durante um mergulho profundo
DINÂMICA E FISIOPATOLOGIA
1. Síndrome de Imersão (vulgarmente conhecida como "choque térmico") é um acidente
desencadeado por uma súbita exposição á água mais fria que o corpo, levando a uma arritmia
cardíaca que poderá levar a síncope ou a parada cárdio-respiratória (PCR).
•Quando a vítima percebe que está numa situação de perigo e não consegue respirar bem,
geralmente apresenta uma fase inicial de pânico em que tenta se manter a superfície, com a
evolução atinge-se a exaustão e ocorre a submersão.
• Na fase inicial ocorre aspiração de uma pequena quantidade de água, levando imediatamente a um
laringoespasmo e apnéia voluntária por aproximadamente 2 minutos.
 Em seguida, ocorre deglutição de grandes quantidades de água, devido ao pânico, presença de
movimentos descoordenados na tentativa de atingir a superfície, agitação e confusão causados
pelo aumento da hipoxia, período que tem duração de 1 a 2 minutos.
•A gravidade da hipoxemia, a extensão do dano pulmonar causado pela aspiração de líquido, a
resposta fisiológica do organismo ao stress, factores ambientais (tipo de água, doce ou salgada,
temperatura da água, presença de corpos estranhos na água) e a capacidade individual de resistir à
submersão, a hipotermia, irão determinar o nível de gravidade e a apresentação clínica.
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2. Mecanismos dos acidentes por submersão em água doce e em água salgada
•Os acidentes de submersão podem ocorrer em água doce ou em água salgada e apesar do
tipo de líquido aspirado ser hipotónico ou hipertónico, respectivamente, ocorre edema
pulmonar em ambos os casos. Além do líquido, pode haver ainda aspiração de areia, lama,
vómito e vegetação aquática.
 A água doce, devido a hipotonicidade em relação ao plasma, atravessa a membrana
alvéolo-capilar causando hipervolémia, hemodiluição, hemólise e hiponatrémia. Nos
alvéolos há lesão endotelial e alteração do surfactante pulmonar, levando a atelectasias e
consequentemente shunt intrapulmonar e hipóxia.
 A água salgada por sua vez, leva à transudação de líquido em direcção ao alvéolo,
levando a hipovolémia, hipernatrémia e hemoconcentração. Nos pulmões ocorre aumento
de líquido nos alvéolos, levando a formação do efeito shunt.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
O quadro clínico é muito variável, e depende da extensão das lesões. O pulmão e o cérebro são os órgãos
mais afectados.
•Dentre os sinais e sintomas apresentados, os mais comuns são os seguintes:
 Aparelho respiratório: sinais e sintomas de edema pulmonar, de obstrução das vias respiratórias
(devido ao laringoespasmo), de insuficiência respiratória aguda, como: presença de espuma nas vias
aéreas, taquipnéia, dispnéia, roncos, sibilos e fervores crepitantes e subcrepitantes; paragem
respiratória, pneumonia de aspiração.
 Aparelho cardiovascular: sinais e sintomas cardiovasculares de arritmias cardíacas como: taquicárdia
ventricular, bradicárdia; de choque cardiogénico, pulso fraco ou imperfectível, paragem cardíaca.
 Sistema nervoso: sinais e sintomas de hipertensão intra-craniana; agitação, confusão mental, estupor e
coma.
 Sintomas e sinais gerais: hipotermia, náuseas, vómitos, distensão abdominal, tremores, cefaléia,
cansaço, cianose, acidose metabólica.
MEIOS AUXILIARES E DIAGNÓSTICO

•O diagnóstico de afogamento é basicamente clínico. Mas a radiografia do tórax pode mostrar


algumas alterações no caso de edema agudo do pulmão, que podem ajudar na confirmação da
lesão pulmonar e evolução clínica da vítima.
 Radiografia do tórax: presença de infiltrado alveolar fino, principalmente na região peri-hilar,
simétrico e bilateral, em casos leves; presença de infiltrados nodulares confluentes e granular
fino e opacificações homogéneas em quase todo o pulmão, presença de broncograma aéreo e
pequeno derrame cisural ou pleural, em casos graves.
 Laboratório:
o Bioquímica: transaminases elevadas; sódio e potássio elevados
o Hemograma: leucocitose e hemoglobina diminuída
PRIMEIROS SOCORROS: CONDUTA
•Seguem os princípios do suporte básico de vida, com algumas particularidades.
1. Conduta no local do acidente
 Resgate da água:
o O resgatador deve ser de preferência uma pessoa treinada;
o Durante este processo, o resgatador deve estar sempre atento à sua segurança, evitando prejuízo para si e
prejuízos adicionais para a vítima;
o Sempre que possível, fazer o resgate sem entrar na água, se possível usar um barco, bote ou prancha
flutuável e se for imperioso entrar na água deve-se utilizar bóias ou outros dispositivos de flutuação e
mantenha as vias aéreas do afogado fora da água.
 Chame pelo paciente, para ver se ele está consciente.
 Se houver suspeita de traumatismo cervical (mergulho, presença de rochas e pedras, afogamento após queda de
altura significativa), coloque um protector da coluna cervical e manipule cuidadosamente o paciente. Nos pacientes
afogados não se deve colocar o protector cervical de rotina, pois este pode agravar a obstrução das vias aéreas. É
aconselhável colocar sempre o protector da coluna caso não haja nenhuma informação sobre as causas do
afogamento.

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 Realize o ABC:
o Permeabilize as vias aéreas e remova corpos estranhos
o Verifique a respiração, observando se o paciente consegue realizar ciclos respiratórios efectivos
o Palpe os pulsos para verificar o estado da circulação
 Se o paciente apresentar paragem cardiorrespiratória inicie as manobras de ressuscitação
enquanto espera por ajuda para transportá-lo a uma unidade sanitária. Considerar sempre a
temperatura da água onde ocorreu a submersão, a temperatura corporal e a duração da
submersão (num paciente sem pulso, com o tempo de submersão menor que 1h, deve-se iniciar
a RCP; se a temperatura da água for inferior a 21°C, deve-se realizar a RCP por mais de 1h;
não abandonar as manobras de RCP até que, após o devido aquecimento do corpo a 30°C, não
haja resposta cardiovascular).
 Se a vítima estiver há mais de 2h submersa, não está indicada a reanimação pois o prognóstico
é mau.
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 Promover o aquecimento da vítima usando as seguintes técnicas:
o Aquecimento externo passivo
• Retirar a roupa molhada e cobrir a vítima com cobertores ou roupas secas
o Aquecimento externo activo
• Por meio de cobertores aquecidos e imersão em água quente
o Aquecimento central activo
• Através da infusão de líquidos intravenosos aquecidos, administração de oxigénio
morno e humidificado.
• Manter a vítima deitada em decúbito dorsal procedendo com a lateralização da cabeça ou
até da própria vítima evitando a aspiração de líquidos.
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 Não é recomendada a compressão abdominal para remover água, pois pode estimular o
vómito e provocar aspiração pulmonar, agravando o quadro.
• Conduta na unidade sanitária
• Apesar de a fisiopatologia ser diferente no afogamento por água doce e por água salgada, a
conduta para ambas é similar.
 Administre oxigénio a 100% com fluxo de 2 a 4 l/minutos
 Avalie o nível de consciência e decida sobre a necessidade de entubar o paciente. Se nível de
consciência abaixo de 8/15 na escala de coma de Glasgow, entube-o
 Monitorize os sinais vitais
 Monitorize os sinais apresentados pelo paciente, com maior enfoque para os sinais respiratórios e
cardíacos
 Se estiver presente hipotensão, é importante o restabelecimento da volémia e da tensão, utilizando
expansores do volume circulante efectivo (soro fisiológico, lactato de Ringer, soluções coloidais)
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 Tratamento da hipotermia: secagem do corpo da vítima, uso de vestes secas, cobertores,
aquecedores.
 Tratamento com salbutamol nebulizável (5 mg/ml) com nebulizador: diluir 0,5-1ml de salbutamol com
3-4 ml de soro fisiológico em caso de sibilos
 Controlo se há sinais de traumatismo no aparelho músculo-esquelético, lesões da pele, outros órgãos
 Administre antibióticos profilácticos nos casos de afogamento em águas muito contaminadas, como
por exemplo água de esgotos ou aspiração de conteúdo gástrico ou sinais de infecção secundária
presentes: febre, leucocitose, infiltrado pulmonar e outros.
 É necessário referir ao nível superior para o controlo e manejo do possível edema cerebral, função do
coração e balanço hidro-electrolítico.
INDICAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA URGENTE

•Tem indicação de transferência todas as vítimas que:


 Tenham permanecido por mais de 1 minuto submersas
 Tenham sido submetidos a manobras de reanimação
 Que apresentem cianose ou apneia
Prognóstico
•O prognóstico das vítimas de afogamento é reservado devido as graves e permanentes
sequelas neurológicas secundárias a hipóxia cerebral e lesões cardíacas.
• Obrigado pela atenção

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