Você está na página 1de 6

Afogamento:

. Segundo David Spilzamn, afogamento é definido como resultado de asfixia por imersão ou
submersão em qualquer meio líquido, provocado pela entrada de água em vias aéreas,
dificultando parcialmente ou por completo a ventilação ou a troca de oxigênio com o ar
atmosférico.
. Dados do DATASUS revelam que, em 2019, o número de óbitos por afogamento e submersões
acidentais no Brasil foi de 4.869, ficando a região Nordeste em primeiro lugar com 1.541
casos.
. Dessa região, a Bahia ganha destaque sendo o estado com maior número de óbitos.
. Já o banco de dados do Ministério da Saúde (DATASUS) em relação a óbitos por afogamento
no Brasil, em 2020:
. 5.818 brasileiros (2.7/100.000 habitantes) morreram afogados.
SENDO:
. 1ª causa óbito de 1 a 4 anos
. 2ª de 5 a 9 anos
. 3ª de 10 a 14 anos
. 4ª de 15 a 24 anos.
. Do mesmo modo, 90% do total de óbitos por afogamentos no Brasil ocorre em águas naturais,
sendo 75% em água doce e 15% em praias oceânicas.
. Enquanto outros 8,5% ocorre em banheiros, caixas de água, baldes e similares, galeria de
águas fluviais, piscinas e poço.
. Por fim, 1,5% ocorrem durante o transporte com embarcações.
. Importante: 75% dos afogamentos ocorrem em águas naturais de natureza doce.
Destes:
1. 25% em rios com correnteza
2. 20% em represa
3. 13% remanso de rio
4. 5% lagoas
5. 5% inundações
6. 3% baía
7. 2% cachoeiras
8. 2% em córrego.

MECANISMO DA LESÃO NO AFOGAMENTO:


. No afogamento, devido a entrada de líquido nas vias aéreas, a função respiratória sofre
prejuízos que podem ocorrer devido a uma obstrução completa ou incompleta das vias
aéreas superiores, ou pela aspiração gradual de líquido até os alvéolos.
. À medida que a situação progride, a aspiração de água contínua leva à hipoxemia que,
após segundos ou minutos, culmina em perda de consciência e apneia.
. Em sequência, têm se bradicardia, redução da atividade elétrica do coração e assistolia.

1
. Quando há o resgate da vítima, seu quadro clínico é determinado pela quantidade de
líquido aspirado e, caso seja necessária a reanimação cardiopulmonar, o risco de dano
neurológico é semelhante ao de outros casos de parada cardíaca.

Quadro Clínico:
. A vítima de afogamento pode se manifestar com agitação, dificuldade respiratória,
inconsciência, parada respiratória e parada cardíaca.

. Isso acontece devido à aspiração de líquido não corporal, que causa asfixia por conta do
encharcamento dos alvéolos pulmonares ou por espasmo da glote, que pode se fechar e
obstruir a passagem de ar pelas vias aéreas.

. No caso da aspiração da água, a hematose é diminuída ou até mesmo paralisada, uma vez
que o líquido nos alvéolos não permite que o oxigênio passe para a corrente sanguínea,
tampouco que o gás carbônico saia do organismo.

. Por conseguinte, células que antes produziam energia aerobiamente passam a produzi-la
anaerobicamente, resultando na produção de ácido lático, que se acumula no organismo
proporcionalmente ao tempo e ao grau de hipóxia.

. O acúmulo de ácido lático e CO2, em associação à hipóxia, causam distúrbios


principalmente no cérebro e no coração.
. Além disso, a baixa de O2 e o estresse causado pelo incidente resultam em uma descarga
adrenérgica, causando aumento da frequência cardíaca;

. A qual pode resultar em arritmias cardíacas, que podem levar à parada do miocárdio.

. Bem como a vasoconstrição dos vasos sanguíneos na pele, que se torna fria e cianótica.
. Caso o afogamento ocorra em água salgada, cuja concentração de NaCl é muito maior que
a do plasma sanguíneo (É uma solução aquosa amarelada constituída de água, sais
minerais e proteínas, sua função é transportar essas substâncias pelo corpo).
. A água do mar aspirada, mais densa, pode promover uma espécie de infiltração, por
osmose, do plasma no pulmão, o qual fica encharcado, ocorrendo também a
hemoconcentração, dificultando ainda mais a troca gasosa
. Por outro lado, na água doce – cuja concentração de NaCl é menor que a do plasma
sanguíneo -, em decorrência de o plasma ser mais denso que a água, esta passa para a
corrente sanguínea e causa hemodiluição e hipervolemia.

. Ademais, a vítima de afogamento geralmente desenvolve um quadro de inflamação


pulmonar, que pode evoluir para pneumonia, devido à água aspirada e às impurezas e
microrganismos nela encontrados.

O processo de afogamento envolve três fases:


1) Angústia: fase na qual o indivíduo é submetido a grande esforço ou dificuldade, ou
ainda se encontra receoso ou perturbado. Pode haver período de aumento da angústia

2
antes do período real da emergência do afogamento. À medida em que a força do nadador
se esgota, a ocorrência da angústia progredirá para o pânico se a vítima não for resgatada
ou ficar em segurança
2) Pânico: pode progredir da fase acima ou começar imediatamente após a imersão da
vítima na água. O indivíduo torna-se incapaz de manter sua flutuabilidade devido à
fadiga, à falta de habilidade natatória ou a algum problema físico;
3) Submersão: pessoas sem um equipamento flutuante que perdem sua habilidade para se
manter flutuando submergem e vão até o fundo. Isso pode ocorrer mais rapidamente na
água doce, que proporciona menor flutuabilidade que a água salgada. Uma vez ocorrida a
submersão, a chance de um resgate bem-sucedido diminui drasticamente.
. Se uma pessoa é resgatada viva, o quadro clínico é determinado pela quantidade de água
que foi aspirada e os seus efeitos.
. Todos os casos de afogamento podem apresentar hipotermia, náuseas, vômitos, distensão
abdominal, tremores, cefaleia, malestar, cansaço, dores musculares, dor torácica, diarreia e
outros sintomas inespecíficos.
. Diante disso, a vítima de afogamento pode ser classificada em 6 diferentes graus, de
acordo com alguns critérios como frequência cardíaca e sinais de insuficiência respiratória
aguda.
Por fim, para saber a gravidade do afogamento, o socorrista deve avaliar:
1. O nível de consciência
2. Por estímulo tátil ou sonoro
3. A eficiência circulatória
4. Pela verificação do pulso carotídeo
5. E a eficiência respiratória
6. mediante inspeção e ausculta pulmonar.
. Na ausculta pulmonar, algumas anormalidades podem ser detectadas, como a presença de
sibilos, roncos e estertores

O MANEJO DESSES PACIENTES É BASEADO EM TRÊS CENÁRIOS:


1.Caso a vítima esteja consciente e respirando: Observar a vítima e colocá-la em posição
lateral de segurança (decúbito lateral);
2.Caso a vítima esteja inconsciente e respirando: Observar a vítima e colocá-la em posição
lateral de segurança (decúbito lateral);
3.Caso a vítima esteja inconsciente e sem respiração: Abertura de vias aéreas e realização
da ventilação de resgate.
. Esta deve ser iniciada assim que a vítima estiver em uma superfície estável, sendo feita
primeiramente a abertura da via aérea seguida de cinco respirações de resgate.
. Caso não haja sinais de ventilação efetiva (vítima permanece sem responder ou o tórax
não se expande), deve-se iniciar imediatamente a realização de compressões torácicas de

3
alta qualidade, seguindo as diretrizes de suporte básico de vida da American Heart
Association, incluindo a aplicação de um desfibrilador externo automático.

GRAUS DE AFOGAMENTO:
Resgate – Paciente não apresenta tosse, não houve afogamento.
Grau 1 – Paciente que apresenta apenas tosse, sem espuma em boca ou nariz.
Grau 2 – Paciente que apresenta tosse, além de espuma em pouca quantidade saindo da
boca ou nariz, indicando que já existe uma congestão pulmonar mínima.
Grau 3 – Paciente que apresenta muita espuma em região de boca ou nariz. O pulso radial
permanece palpável, afastando sinais de choque.
Grau 4 – Paciente que apresenta muita espuma em região de boca e/ou nariz. Não
apresenta pulso radial palpável, indicando sinais de choque.
Grau 5 – Paciente em Parada Respiratória.
Grau 6 – Paciente em Parada Cardiorrespiratória.

TRATAMENTO:
A priori, é necessário observar o cenário do incidente:
1. A profundidade do local;
2. A quantidade de vítimas e
3. A presença ou não de equipamento disponível para o resgate.
4. Depois dessa avaliação, deve-se tentar, primeiramente, realizar o resgate sem entrar na
água, principalmente se o socorrista não for uma pessoa com treinamento especializado ou
não tiver uma boa natação
. Se a vítima se encontra a menos de 4 m estenda uma corda, galho, ou cabo de vassoura
para ela.

. Se estiver muito próxima, é mais seguro oferecer o pé em vez da mão.


. Caso a vítima esteja entre 4 e 10 m – como em rios, encostas e canais deve ser priorizado
fornecer flutuação a ela, evitando sua submersão, pode-se atirar.
Para ser utilizado como boia:
1. Garrafas de plástico de 2L vazias e tampadas,
2. Materiais em isopor.
3. Bola.
4. Espumas diversas.
5. Madeiras.

. Em seguida, caso seja necessário entrar na água, deve-se fazê-lo diagonalmente e


garantir que a vítima visualize o socorrista.

4
. Em situações de afogamento, em geral, a vítima encontra-se em estado de pânico,
debatendo-se na superfície de modo quase incontrolável; por isso, mantendo uma distância
segura, acalmando-a verbalmente.
. No caso de a vítima se agarrar ao socorrista, ele deve se afundar com ela para que
consiga se soltar.
. A abordagem física consiste em agarrar o afogado pelas costas, para rebocá-lo: o braço
de dominância de quem atende deve ficar livre para ajudar no nado, já o braço não
dominante será utilizado para segurar a vítima por baixo da axila e apoiando o peito.
. Ademais, o posicionamento da vítima para o primeiro atendimento em área seca deve ser
paralelo à água, o mais horizontal possível, deitado em decúbito dorsal.
. Se estiver consciente, coloque o afogado em decúbito dorsal a 30º.
. Se estiver ventilando, porém inconsciente coloque-o em decúbito lateral direito.
. É imprescindível manter as vias aéreas permeáveis, deixar que o líquido aspirado seja
expelido naturalmente e evitar a incidência de vômitos, desse modo, não é recomendado
tentar retirar a água que provém não só dos pulmões, mas também do estômago – por
intermédio da Manobra de Heimlich.
. Além disso, é possível classificar o afogado em consciente – aproximadamente 99% das
ocorrências – e inconsciente.
. Nos casos em que a vítima se encontra consciente, o resgate deve conduzir a pessoa até a
terra sem demais cuidados médicos.
. Por outro lado, afogados inconscientes exigem como medida mais importante a instituição
imediata de ventilação ainda dentro da água.
. O socorrista que encontra uma vítima inconsciente deve iniciar a respiração boca a boca
ainda na água caso seja seguro para ambos, uma vez que, de acordo com pesquisas, isso
proporciona à vítima uma chance 4 vezes maior de sobrevivência sem sequelas.
Por fim, para melhor prestar os primeiros socorros ao afogado já em terra firme, é
necessário classificar a gravidade do afogamento e estabelecer seu tratamento básico. No
Suporte Básico de Vida, aplica-se o “ABC” sendo:
1. Airway: avaliar se as vias aéreas estão desobstruídas testando a responsividade do
paciente por meio de perguntas como “Você está me ouvindo?” e mantê-las pérvias. Abra
as vias aéreas, colocando dois dedos da mão direita no queixo e a mão esquerda na testa,
e estenda o pescoço da vítima.
2. Breathing: checar se existe respiração – ver, ouvir e sentir – e garantir a ventilação
pelos pulmões, observando os movimentos do tórax. Se houver respiração, colocar o
afogado em decúbito lateral direito e aplicar o tratamento adequado. Caso não haja
respiração, iniciar ventilação boca a boca: obstrua o nariz dele utilizando a mão esquerda,
abra a boca dele com os dois dedos da outra mão e realize 5 ventilações boca a boca
iniciais observando um intervalo de segundos entre cada uma que possibilite a elevação do
tórax, e logo em seguida o seu esvaziamento. É recomendável a utilização de barreira de
proteção – máscara – se possível
3. Circulação: Em seguida, verifica-se os batimentos. Caso estejam muito fracos ou
ausentes, é extremamente importante realizar a RCP – Reanimação Cardiopulmonar. Fazer

5
duas respirações a cada trinta massagens (2 x 30). Por fim, lembrar também de aquecer a
vítima.

Você também pode gostar