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SBV – AFOGADO

Suporte Básico de Vida para Vítimas de


Incidente em Meio Líquido

Sd. QPM 2-0 Zanela


Boletim epidemiológico do
afogamento 2021
∙ A cada uma hora e meia um
brasileiro morre afogado;

∙ 15 brasileiros morrem
afogados diariamente;

∙ Adolescentes tem o maior


risco de morte.
O Afogamento é:
•2ª causa de óbito de 1 a 4 anos;
•3ª causa de 5 a 14 anos;
•4ª causa de 15 a 24 anos.

59% das mortes, na faixa


etária de 1 a 9 anos,
ocorrem em piscinas e
residências!!!
• 70% dos óbitos ocorrem em
rios, represas, cavas e
lagos.
• Cada óbito custa pro Brasil
R$ 210.000,00 SSS.
No ano de 2019 o
Brasil registrou 4.974
5.791
mortes por
afogamento!!!
E no Paraná?
• 2.261 óbitos em 10 anos (2010 – 2019);
• Curitiba teve 107 óbitos em 10 anos;
• 265 óbitos por afogamento em 2019;
• 28 óbitos de 0 à 9 anos;
• 40 óbitos de 10 à 19 anos;
• 62 óbitos de 20 à 29 anos.
• 35 óbitos de 30 à 39 anos.
• Curitiba teve 15 óbitos em 2019, o município com o maior índice;
• Matinhos 14 óbitos, Paranaguá 11, Guarapuava 10, Pontal 9, Guaratuba e
Londrina 8, Ponta Grossa 7 e Araucária 6.
• Em 2012, 650 casos estudados, 378 óbitos em rios, 58% do total.
Fonte: DATASUS (ano base 2019)
Corrente de Sobrevivência do
Afogamento
Vídeo de Salvamento

https://www.youtube.com/watch?v=YoFYVcneOgM
O que é o Afogamento?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o Afogamento como a aspiração de
líquido causado por submersão de um individuo ou imersão das vias aéreas em ambiente
aquoso. Este termo foi discutido e definido durante o Congresso Mundial sobre Afogamento
em 2002,Amsterdã, Holanda.
Outros termos eram utilizados como “quase afogamento”, “afogamento a seco”, “ativo e
passivo” entre outros. Porém a nova definição distingue o que é o Afogamento e o classifica
em graus, o que é Resgate e o Já Cadáver por afogamento.
Muitos confundem o afogamento com a situação de quando um indivíduo ingere líquido e
vem a “engasgar”, ou seja, ocorre uma Obstrução das Vias Aéreas pelo Líquido ingerido e
não um afogamento.
Uma situação que pode ocorrer durante o processo de afogamento é o Laringoespasmo
(Espasmo de Glote), onde ocorre o fechamento glótico, como resposta do organismo para
interromper a entrada de água na Via Áerea (VA). Porém com o aparecimento da Hipóxia,
este reflexo é interrompido e a glote é liberada, permeabilizando novamente as VVAA,
possibilitando a respiração. Entretando se o individuo não for removido do meio líquido, o
afogamento continuará.
Outra definição importante é a causa do afogamento, e esta se dividide em Afogamento
Primário e Afogamento Secundário.
Causas do Afogamento
∙Primário: quando não existem indícios
de uma causa de afogamento;
∙Secundário: quando existe uma causa
de a vitima não se manter na superfície;
Afogamento Primário
Este processo ocorre quando o indivíduo não
possui capacidade de se manter na superfície da
água, ou está com as vias aéreas imergidas, porém
nenhum fator externo ou secundário o levou a esta
situação.
Alguns exemplos podem ser citados para melhor
compreensão como: a falta de aptidão para a
natação de um banhista, uma criança que coloca a
cabeça em um balde de água e não consegue tirar,
um veranista que entra na corrente de retorno e em
situação de desespero, vem a submergir.
Afogamento Secundário
Esta condição necessita de um fator externo para
que o indivíduo passe pelo processo do afogamento.
Algum motivo “primário” o levou ao afogamento, seja
ele um trauma, uma crise convulsiva entre outros.
A câimbra não é considerada um afogamento
secundário, pois não é um fator responsável por levar
um indivíduo ao afogamento. Muitos atletas,
nadadores, guarda-vidas, surfistas já passaram por
uma situação de câimbra no ambiente aquático, e
não se afogaram (Szpilman 2017).
Secundário
∙ Traumas; ∙ Doenças cardíacas e
∙ Hidrocussão;
pulmonares;
∙ Acidentes de
∙ Hipotermia;

∙ Drogas/Álcool;
Mergulho;
∙ Convulsão;

***Câimbra não é considerado afogamento secundário.


Hidrocussão
A “Hidrocussão” ou “Síndrome da Imersão” é um
acidente provocado pela exposição com a água com uma
amplitude térmica inferior ao do nosso corpo. Quanto
maior for a amplitude e mais súbita a exposição, maior o
risco do fenômeno ocorrer.
Há uma hipótese de que quando um indivíduo se coloca
nesta condição, parte do sistema autônomo (vagal) produz
uma arritmia cardíaca ou até mesmo uma Parada
Cardiorrespiratória. Ou seja, uma descompensação do
sistema simpático e do para simpático, podendo levar a
uma Fibrilação Ventricular (FV).
Hipotermia
A Hipotermia é a Temperatura corpórea menor que 35º C.
Este processo pode ocorrer enquanto o individuo passa algum período
de tempo em ambiente aquático, com uma amplitude térmica inferior a
corpórea. Estudos mostram que se o ambiente aquático estiver abaixo de
24º C, dependendo do tempo de exposição a este ambiente, a vítima
poderá ter Hipotermia.
Durante a exposição a água fria, o corpo começa a perder temperatura,
tornando lenta as funções fisiológicas, afetando também o sistema
respiratório e circulatório, acuidade mental, tempo de reação neuromuscular
e taxa metabólica.
A vítima apresenta intensos calafrios, disfunção do sistema nervoso
central e continua a queda de temperatura. Ocorre sinais de letargia,
confusão evoluindo para o coma. Frequencia respiratória e cardíaca
diminuem até cesar. No inicio ocorre a Bradicardia sinusal, que é seguida
pela Fibrilação Atrial (FA) que por fim, evolui para a Fibrilação Ventricular
(FV) seguida por assistolia.
Reflexo do Mergulho
Em 1934 o cientista Laurence Irwing formulou a hipótese do
Reflexo do Mergulho, estudando a apneia da foca, superior a 30 min.
Em 1966 esta hipótese foi confirmada em outros mamíferos. Em
1968 estudos foram realizados em humanos, e constataram efeitos
semelhantes aos de Laurence.
O fenômeno ocorre quando o mamífero imerge a face na água,
neste momento um mecanismo reflexo é ativado redistribuindo o
fluxo sanguíneo para os órgãos nobres, reduzindo o envio para os
órgãos que tem mais resistência a hipóxia (músculos, tecidos,
intestino e etc.). O intuito é reduzir o consumo de Oxigênio,
diminuído o ritmo cardíaco (bradicardia). Este reflexo explica a
aptidão do mergulhador a se adaptar e consumir menos oxigênio.
Graus de Afogamento
O afogamento é classificado em graus durante o primeiro atendimento, e
permite quem está prestando o socorro a seguir uma conduta de acordo
com os sinais/sintomas que o afogado apresenta.
A classificação deve ocorrer em ambiente seco, ou seja, após remover
a vítima do ambiente aquático e coloca-la em solo (areia, embarcação,
“barranco” de rio e etc.)
Após classificar a vítima, esta não evolui o grau. A vítima pode evoluir o
quadro clínico, tanto para uma melhora, quanto para uma piora, mas não
muda o grau que foi classificado quando retirada da água.
Ex.: Uma vítima foi classificada como Grau 4 de afogamento: Respiração
presente, tosse e/ou grande quantidade de espuma na boca e/ou nariz,
porém com ausência de pulso periférico (radial), e após 5 min. de
atendimento, ela evolui para uma Parada Cardiorrespiratória (PCR). A
vítima continua sendo Grau 4, mas que evoluiu para uma PCR, não poderá
ocorrer o erro de reclassificá-la para Grau 6.
Grau Sinais e sintomas Primeiros procedimentos

Resgate Sem tosse, espuma na boca/nariz, dificuldade na Avalie e libere no local;


respiração ou PCR

1 Tosse sem espuma no boca/nariz 1. Repouso e medidas que visem o conforto e a tranquilidade
do banhista.
2. Não há necessidade de O2 e hospitalização

2 Pouca espuma na boca/nariz. 1. O2 nasal a 5 litros/min.


2. Aquecimento corporal, repouso e tranquilização.
3. Encaminha ao P.S; Observação de 6 a 24h.

3 Muita espuma na boca/nariz com pulso radial 1. O2 por máscara facial a 15 litros/min.
palpável. 2. Posição Lateral de segurança;
3. Internação hospitalar no CTI.

4 Muita espuma na boca/nariz sem pulso radial 1. O2 por máscara facial a 15 litros/min.
palpável. 2. Observe respiração, pode haver PR;
3. Posição lateral de segurança.
4. Internação com urgência no CTI.
Fisiopatologia
∙Resgate: É a condição em que a vítima
é removida do ambiente aquático, sem
nenhum sinal/sintoma de afogamento.

∙Grau 1: A vítima apresenta tosse como


uma resposta reflexa para tentar expelir
a pequena quantidade de água que
entrou em suas vias aéreas.
Fisiopatologia
∙ Grau 2: Ocorre uma pequena quantidade de espuma na boca e/ou nariz da
vítima. Esta espuma é decorrente da perda de surfactante, líquido composto por
fosfolipídios e proteínas, que serve para reduzir a tensão superficial dentro dos
alvéolos pulmonares.
∙ Grau 3: A vítima apresenta como sinal/sintoma o Edema Agudo de Pulmão, onde
a perda de surfactante impossibilita a troca gasosa entre o capilar e os alvéolos
pulmonares. Com a água em toda a via aérea, combinada com a perda de
surfactante e a impossibilidade da troca entre O2 e o CO2, o indivíduo apresenta
por sinal, grande quantidade de espuma saindo da sua boca e/ou nariz. Porém
no Grau 3 a vítima ainda apresenta sinais de circulação periférica (pulso radial
palpável).
∙ Grau 4: A fisiopatologia é a mesma do Grau 3 ou seja, Edema Agudo de Pulmão.
Porém com a condição de hipóxia, o organismo preserva a oxigenação nos
órgãos nobres, deixando de enviar para as periferias. Nesta situação, o
socorrista identifica este processo com a ausência de pulso radial palpável.
Efeitos da água nas VVAA
• Perda do surfactante;
• altera a permeabilidade dos capilares;
• provoca edema pulmonar ( líquido nos alvéolos);
• impede a troca gasosa;
• aumenta a aspiração de líquidos;
• provoca vômito;
• inundação pulmonar, perda da consciência e morte
Surfactantes
Embora o nome não seja muito comum, todos temos,
em nossos lares, dezenas de exemplos de soluções e
misturas com surfactantes. Tais como o detergente, o
shampoo, o condicionador, o sabão, produtos de limpeza,
creme dental, entre outros. As nossas células são
revestidas por uma parede de surfactantes. O oxigênio é
levado dos alvéolos pulmonares até os vasos sanguíneos
por surfactantes. Nossos olhos são lubrificados por
surfactantes.
Fisiopatologia
Grau Sinais e sintomas Primeiros procedimentos

5 Parada Respiratória com pulso carotídeo 1. Ventilação, não faz compressão cardíaca.
2. Após retornar com a respiração espontânea, tratar com grau
4.

6 Parada Cardio-Respiratória 1. Reanimação (RCP) – 2 ventilações x 30 compressões com 1


socorrista, 2x15 com 2 socorristas.
2. Sucesso na reanimação, tratar como grau 4.

Já cadaver PCR com tempo de submersão > 1h, ou rigidez 1. Não realize RCP, acione IML;
cadavérica, decomposição corporal e/ou
livores.
Fisiopatologia
∙Grau 5: Com a evolução da Hipóxia no o organismo,
ocorre a hipoxemia (baixo nível de oxigênio no
sangue)desencadeando em segundos o rebaixamento do
nível de consciência e a apnéia, levando o individuo a
uma Parada Respiratória (PR).
∙Grau 6 – A evolução da Parada Respiratória é a Parada
Cardiorrespiratória (PCR), onde por consequência da
ausência da respiração, a taquicardia rebaixa seu ritmo
tornando uma bradicardia e então uma Atividade Elétrica
Sem Pulso (AESP), levando a uma assistolia, situação
em que não a pulso cardíaco e o individuo encontrasse
em PCR.
Fonte: Manual de Afogamento ao Curso de Emergências Aquáticas – 2019 – Dr. David Szpilman
SBV dentro água
A reanimação dentro do ambiente aquático é aplicada na vítima que não respira.
A recomendação do procedimento só deverá ser realizado com um guarda-vidas
equipado com pranchão ou life-belt, ou dois guarda-vidas, onde um sustentará a
vítima e o outro aplicará até 10 ventilações boca-a-boca. Se a vítima tossir ou
provocar qualquer reação que caracterize a volta da respiração espontânea, o
procedimento deve ser interrompido e a vítima removida do meio líquido. Se após as
10 ventilações não houver resposta, remova a vítima para a área seca.
Ainda se a vítima está na linha de arrebentação, ou o GV está sem o cinto de
salvamento (life-belt), a vítima deve ser removida da água o mais rápido possível.
Mecanismos de barreira como micro-shield ou pocket mask não deverá ser
utilizado dentro do ambiente aquático, pois o filtro do equipamento inundará,
interrompendo a passagem do O2 no momento da ventilação. Outra situação é a
dificuldade de posicionar o equipamento na vítima e realizar a hiperextensão, para
poder liberar a via aérea para a manobra de ventilação.
SBV dentro água
10 ventilações com 2 gv’s ou com 1 gv com Lifebelt
ou pranchão;
START Múltiplas Vítimas
A situação de múltiplas vítimas se caracteriza quando
número de vítimas é maior do que a capacidade de auxílio
pelos guarda-vidas, e a prioridade é salvar o maior número
possível de vidas, e não atender a de maior gravidade no
primeiro momento.
Para determinar quais vítimas merecem o primeiro
atendimento, e quais conseguem suportar até a chegada de
mais recurso, o GV poderá fazer uma rápida triagem,
determinado qual vítima é Vermelha (Maior Prioridade),
Amarela (Segunda Prioridade), Verde (Terceira Prioridade) e
Preta (Ultima Prioridade).
START Múltiplas Vítimas
Suspeita de TRM

Fonte: Manual de Afogamento ao Curso de Emergências Aquáticas – 2019 – Dr. David


Szpilman
SBV área seca
•PR Adulto – 10 a 12 vent. p/ min. (1 a cada 5 ou 6
seg);
•PR Criança – 20 a 24 vent. p/ min. (1 a cada 2 ou
3 seg);
•5 ventilações iniciais, 30x2, 1 gv;
•5 ventilações iniciais, 15x2, 2 gv’s;
•3 compressões x 1 ventilação neonatos.
DEA
•Secar o tórax da vítima;
•Retirá-la de poças d'água;
•Pá de adulto em criança;
•Pá de criança em adulto;
SBV – COVID 19
• Guarda-Vidas se equipa;
• Não Realizar as 5 ventilações de
Resgate;
• Não realizar Boca – a – boca;
• Máscara descartável ou de tecido na
vítima;
• Ventilação com BMV + Filtro de Barreira
(HME, HEPA ou HMEF).
Vítimas de Lesões por Relâmpago
Lesão Mínima: Lesão Média:
•Confusão, Anésia •Convulsões
•Surdez temporária •Surdez;
•PCR;
•Cegueira •Lesões Pulmonares;
•Parestesia Temp; •Amnésia Lacunar;
•Paralisia, Dor muscular•Dor Crônica;
Tratamento
•Seg. do Local;
•Avaliação Primária (C-A-B);
•RCP 30x2;
•DEA;
APH - Trauma
•Seg. do Local;
•Avaliação Primária (X-ABCD);
•RCP 30x2;
•DEA;
Animais Marinhos
Caravela e Água Viva:
•Lavar o local com água do mar, sem
provocar atrito com a pele;
•Irrigar com Ácido Acético (Vinagre);
•Cuidar com o Choque Anafilático (Acionar
SAV).
Animais Marinhos

Fonte: Internet
Animais Marinhos
Moreias e Arraias: Ouriço do Mar:
•Lavar com água e sabão; •Remover espinhos, quando possível;
•Compressas de água quente; •Veneno pouco resistente a altas
•Encaminhamento P.S. temperaturas, portanto compressas
quentes de 30 – 60 min;
Bagres: •Encaminhamento P.S.
•Não tentar tirar o ferrão;
•Se houver faca/tesoura, separar o
ferrão do peixe;
•Encaminhamento ao P.S.
“Dizem que a morte é certa, pode até ser, mas
não no meu plantão!!!”
Referências
• DE SOUZA, Paulo Henrique (Org). MANUAL TÉCNICO DE SALVAMENTO
AQUÁTICO, Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná. 1ª Ed.
Curitiba- Paraná, 2014.
• SZPILMAN, David – Manual de Afogamento ao curso de emergências
aquáticas 2019. Publicado on-line em www.sobrasa.org, Março de 2019.
• SZPILMAN, ENEIDA, PRATES (et. al.) – COVID 19 E SEGURANÇA
AQUÁTICA, Recomendação SOBRASA, 27 de Abril de 2020.
• SZPILMAN, David – Diretriz de Ressuscitação 2017. Publicado on-line em
www.sobrasa.org, 2017.
• SZPILMAN, David – O USO DE MÁSCARA NA VENTILAÇÃO DENTRO DA
ÁGUA É NECESSÁRIO E POSSÍVEl?. Recomendação SOBRASA, Fevereiro
de 2016. Publicado on-line em www.sobrasa.org, Março de 2016.

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