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CONCEITO
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma doença comum,
prevenível e tratável que é caracterizada por sintomas respiratórios persistentes e
limitação ao fluxo aéreo devido às anormalidades das vias aéreas e/ou alveolares,
em geral causadas por exposição a partículas ou gases nocivos. Tecnicamente ela é
definida como uma síndrome em que há obstrução crônica e difusa das vias aéreas
inferiores de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima
pulmonar.
Usualmente, a doença decorre da interação de fatores ambientais e do
indivíduo, dentre os quais, o tabagismo é o principal fator de risco ambiental. Isso se
deve ao fato de que as substâncias do tabaco causam uma série de alterações nas
vias aéreas como estimular a produção de muco, hipertrofiar as glândulas
submucosas e reduzir ou bloquear o movimento ciliar das células, principais causas
da obstrução persistente.
CLASSIFICAÇÃO
A classificação da DPOC é proposta pela guideline GOLD. Esta classificação
para ser adequada, precisa-se dos seguintes critérios: VEF1 (Volume Expiratório
forçado no primeiro segundo) pós-broncodilatador, sintomatologia do paciente e a
frequência e gravidade das exacerbações nos últimos 12 meses. O objetivo dessa
classificação é para realizar uma terapêutica individualizada para o paciente, assim
como, permitindo estadiar e dar seguimento do paciente com DPOC.
O grau de obstrução das vias aéreas é classificado a partir do exame de
espirometria, em que o VEF1 após a utilização de um pós-broncodilatador é dividido
em 4 variáveis de acordo com o valor, sendo VEF1>80% (GOLD 1 - LEVE), VEF1>=
50% (GOLD 2 - MODERADA, VEF1>= 30% (GOLD 3 - GRAVE), VEF1<30% (GOLD
4 - MUITO GRAVE). É importante salientar que essa classificação é complementar a
classificação combinada da DPOC e não deve ser utilizada para indicação de
terapia farmacológica (somente ela não indica o tratamento, porém indica o
prognóstico da doença).
A intensidade dos sintomas pode ser avaliada por dois escores sendo o
mMRC e o CAT. O escore mMRC é uma avaliação apenas da dispneia, variando de
0 a 4 e sendo considerado uma variação significativa >=1, porém é válido mencionar
que o valor >=2 é o valor de corte utilizado na escala de risco de exacerbações na
parte relacionada aos sintomas.
O escore CAT é uma avaliação mais abrangente, variando de 0 a 40, em que
variações >=2 são significativas. As variações são: disposição, tosse, opressão
torácica, qualidade do sono, dispneia, expectoração, limitação de atividades e
confiança para sair de casa apesar da doença. É válido mencionar que o CAT >= 10
é caracterizado por pacientes mais sintomáticos, equivalente a mMRC >= 2. E na
hora de classificar o paciente, deve-se selecionar apenas um dos escores, sendo o
ideal que seja realizado o CAT, uma vez que é mais abrangente.
Na avaliação do risco de exacerbações, é válido mencionar sobre o histórico
de exacerbações do paciente e sua sintomatologia. Sobre o histórico de
exacerbações divide-se em grupos A e B, em que são pacientes que tiveram
nenhuma exacerbação ou apenas 1 sem ser hospitalizado e, no grupo E, os
pacientes com mais de 2 exacerbações ou 1 exacerbação com internação. E em
relação a sintomatologia temos que o grupo A é aquele em que tem um CAT < 10 e
um mMRC entre 0 e 1, enquanto o grupo B, tem um CAT >= 10 e um mMRC >= 2.
O grupo E, nesse caso engloba tanto os pacientes oligossintomáticos quanto os
pacientes com muitos sintomas.
Por fim, tem-se a escala combinada da DPOC, em que avalia-se inicialmente
se o paciente possui DPOC, após isso, vê-se na classificação espirométrica o valor
de VEF1 após o uso de broncodilatador (classificando em gold 1 a 4, a depender do
valor VEF1 pós-BD) e avaliar a escala de sintomas mais exacerbações (Grupo A, B
e E). Dessa forma, pode-se classificar o paciente com DPOC e saber qual o
tratamento melhor indicado para ele.
EPIDEMIOLOGIA
DPOC é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo,
com impacto socioeconômico significativo, constituindo um problema prioritário de
saúde pública.
A DPOC foi responsável por 3,23 milhões de mortes em todo o mundo em
2019 e é reconhecida como a terceira principal causa de morte no Brasil e no
mundo, desde a última estimativa feita pela OMS (2019). Sua prevalência, na cidade
de São Paulo, foi estimada pelo mesmo estudo em 15,8% nos indivíduos acima de
40 anos.
Nas últimas décadas, foi a quinta maior causa de internação no Sistema
Único de Saúde entre pacientes com mais de 40 anos, correspondendo a cerca de
200.000 hospitalizações e gasto anual aproximado de 72 milhões de reais.
A DPOC afeta homens e mulheres, mas a prevalência tende a ser maior em
homens. No entanto, devido ao aumento do tabagismo entre as mulheres, a taxa de
DPOC está aumentando entre elas. Quanto à idade, a doença é mais comum em
pessoas acima dos 40 anos, embora possa ocorrer em idades mais jovens,
especialmente em casos de exposição significativa a fatores de risco.
Importante acrescentar que:
● Cerca de 85% dos portadores de DPOC são ou foram fumantes em
determinado momento de suas vidas.
● Como se popularizou há pouco tempo, ainda é difícil afirmar quais são
os prejuízos causados pelo vape a longo prazo. Não é possível dizer,
por exemplo, se o uso do cigarro eletrônico por si só causa DPOC. Por
outro lado, já se sabe que ele piora a condição naqueles pacientes que
já têm o diagnóstico.
● A taxa de mortalidade para pacientes com DPOC e COVID-19 foi de
15% versus 4% naqueles sem DPOC.
● As taxas de hospitalização foram duas vezes maiores para pacientes
com DPOC e COVID-19 em comparação com aqueles sem DPOC.
FISIOPATOLOGIA
Inflamação crônica das vias aéreas, com aumento das células inflamatórias
(macrófagos, neutrófilos, linfócitos), citocinas e mediadores que lesam as estruturas
pulmonares (elastase neutrofílica, metaloproteases, radicais livres).
HISTOPATOLÓGICO:
COR PULMONALE:
HISTÓRIA NATURAL:
FATORES DE RISCO
Entre os fatores de risco, o principal é o tabagismo, sobretudo quando a
frequência é maior do que 20-30 maços/ano. O contato frequente com a poluição
também é fator de risco, nisso também estão incluídos os trabalhadores expostos a
pós, como os mineradores, e o contato com químicos inalatórios, como o cádmio.
Já na parte genética, o principal fator de risco é a deficiência de alfa-1
antitripsina. É importante pensar na possibilidade quando é um paciente jovem, não
tabagista, que possua história familiar não ligada ao tabagismo e com
manifestações clínicas concomitantes, como hepatopatia. Além dessa deficiência,
existem outros alelos associados à DPOC, mas que não possuem tanta relevância
quanto a deficiência de alfa-1 antitripsina.
Outras condições de saúde também estão relacionadas, como a asma,
tuberculose, HIV e hiper-reatividade brônquica.
QUADRO CLÍNICO
A queixa mais marcante dos pacientes com DPOC é a dispneia aos esforços. A
evolução é insidiosa, progressiva, marcada por pioras agudas desencadeadas por
fatores descompensantes (ex.: infecção respiratória). Com o avançar da doença, a
dispneia acaba por ser desencadeada com níveis cada vez menores de esforço,
podendo evoluir para dispneia em repouso ou aos mínimos esforços.
Além disso, a tosse é outro sintoma de extrema frequência na DPOC, sendo
comumente acompanhada de expectoração e muitas vezes precedendo o quadro
dispneico
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Quadro clínico característico: sintomas respiratórios + presença de fatores de risco
+
Espirometria: VEF1/CVF < 0,7 após o uso de broncodilatador
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
● Asma
Não progressiva, inflamação eosinofílica, CD4+, doença de via aérea, declinio
funcional leve, boa resposta ao corticoide inalatório
Início na infância, sintomas variam ao longo do dia com piora à noite ou pela manhã;
história familiar de asma ou atopia
● IC
Fatores de risco para doenças vasculares, dispneia paroxística noturna, aumento da
área cardíaca, congestão e ausência de obstrução à espirometria
● Bronquiectasia
Grande volume de expectoração, dilatação dos brônquios e espessamento parietal
da via aérea, associado a infecções de repetição
Atenção: as entidades podem coexistir!
● Bronquiolite obliterativa
Jovem, não tabagista. Aprisionamento aéreo na tomografia em expiração, quase
sempre relacionada a outras doenças (colagenoses, drogas, inalação de produto
químico, transplante de medula óssea). histórico de artrite reumatóide (+comum)
● TB
Qualquer idade; achados respiratórios e sistêmicos (febre, perda de peso,
adinamia); opacidades centrolobulares com predomínio em campos superiores ao
exame de imagem. Pesquisa, cultura e testes moleculares para Mycobacterium
tuberculosis podem auxiliar no diagnóstico
● Panbronquiolite difusa
Predomínio em pacientes do sexo masculino e não tabagistas, maioria portador de
rinossinusite crônica, nódulos centrolobulares difusos na tomografia de tórax.
EXAMES COMPLEMENTARES
● Radiografia de Tórax
O raio X só se encontra alterado nos casos mais avançados de DPOC,
possuindo uma sensibilidade de 50%. Os sinais clássicos da DPOC na
radiografia são: (1) retificação das hemicúpulas diafragmáticas; (2)
hiperinsuflação pulmonar (aumento do número de costelas visíveis na
incidência PA – mais de 9-10 arcos costais);(3) aumento dos espaços
intercostais; (4) redução do diâmetro cardíaco (“coração em gota”); Na
radiografia também devem ser procuradas complicações, tais como
pneumonia, pneumotórax e tumor, serve como diagnóstico diferencial.
● Hemograma
Hemograma: pode mostrar eritrocitose (hematócrito maior que 55%). O
tabagismo por si só (na ausência de hipoxemia) pode estar associado à
eritrocitose porém a hipoxemia deve ser afastada como mecanismo causal.
● Gasometria Arterial
Como foi visto na fisiopatologia, a gasometria arterial pode estar
cronicamente alterada na DPOC, geralmente nos casos mais avançados de
doença. O dado mais comumente encontrado é a hipoxemia, que pode ser
leve, moderada ou grave
● Eletrocardiograma
Procurar as alterações do cor pulmonale, que são, na verdade, os sinais da
sobrecarga cardíaca direita
TRATAMENTO
2. Tratamento de exacerbações
● Suplementação de oxigênio
○ Pacientes cuja condição se deteriora com a oxigenioterapia (p.
ex., aqueles com acidemia grave ou depressão do sistema
nervoso central) exigem assistência ventilatória
● Broncodilatadores:
○ beta-agonistas de curta duração (albuterol)
○ anticolinérgicos (ipratrópio)
● Corticoides
○ para todas as exacerbações, com exceção das leves
● Antibióticos
○ para exacerbações de pacientes com expectoração purulenta
● Assistência ventilatória com ventilação não invasiva ou entubação e
ventilação
OBS: Para pacientes com DPOC em fase terminal, abordar o tratamento no
final da vida de maneira proativa, incluindo preferências em relação à ventilação
mecânica e sedação paliativa
PROGNÓSTICO
Pacientes com alto risco de morte iminente são aqueles com perda ponderal
progressiva inexplicável ou declínio funcional grave (p. ex. aqueles que
experimentam dispneia nas atividades de vida diária — ao vestir-se, tomar banho,
ou comer).