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Esta gasometria é característica de um paciente com DPOC compensado, revelando uma acidose respiratória
crônica (PaCO2 e bicarbonato aumentados, mas pH discretamente reduzido). Por definição, neste distúrbio acidobásico teremos
um Base Excess (BE) elevado, representando a retenção de bases (bicarbonato) pelo organismo. O paciente tolera muito bem a
acidose respiratória crônica, mantendo-se lúcido e ativo.
Agora compare a gasometria acima com o exame a seguir:
Paciente 2: pH = 7,15 // PaCO2 = 80 mmHg // HCO3 = 27 mEq/L // BE = +1,5 mEq/L
Para um mesmo nível de hipercapnia, o pH sanguíneo encontra-se muito mais baixo e o base excess está normal (entre
-3,0 e +3,0 mEq/L). Ela reflete uma acidose respiratória aguda, que pode ter ocorrido em algumas horas ou poucos dias. O
paciente não tolera este distúrbio, evoluindo rapidamente com a síndrome da carbonarcose, marcada por acidose liquórica grave,
redução do sensório, edema cerebral (hipertensão intracraniana), instabilidade hemodinâmica e, caso não seja revertida de imediato,
óbito em parada cardiorrespiratória.
Para finalizar, analise esta última gasometria:
Paciente 3: pH = 7,15 // PaCO2 = 120 mmHg // HCO3 = 42 mEq/L // BE = +10 mEq/L
Esta é a gasometria do paciente 1 que acabou de descompensar a função ventilatória. Trata-se de uma acidose
respiratória “crônica agudizada”. A PaCO2 aumentou rapidamente de 80 mmHg para 120 mmHg, sem tempo hábil para os rins
reterem mais base (o bicarbonato continuou próximo a 40 mEq/L). Por isso, o pH sanguíneo despencou.
Como saber, olhando para esta gasometria, que se trata de uma acidose crônica descompensada, e não uma acidose
aguda? É só analisar o base excess – se estiver elevado, é porque já havia retenção prévia de bases.
HIPOXEMIA DA HIPOVENTILAÇÃO
Durante a hipoventilação, o ar alveolar não é adequadamente renovado, reduzindo seu O2 (que continua sendo
consumido pelos capilares). O resultado é uma diminuição da PO2 alveolar (PAO2). Assim como o aumento da PCO2 alveolar
faz aumentar a PaCO2 (hipercapnia), se a PO2 alveolar sofre redução, a PaO2 diminui na mesma proporção. Daí a hipoxemia
decorrente da hipoventilação pulmonar.
Esta hipoxemia pode ser corrigida pelo suplemento de O2, porém esta é uma conduta perigosa, pois ofertar O2 não
corrige a hipercapnia e, em alguns casos, pode até contribuir para a sua piora. Como veremos adiante, a hipoxemia da hipoventilação
cursa com um gradiente alvéolo-arterial de oxigênio em níveis normais.
CAUSAS DE INSUFICIÊNCIA VENTILATÓRIA
Vamos analisar agora as causas de insuficiência ventilatória. Onde pode estar o problema? Pode estar, por exemplo:
(1) no drive ventilatório (controle bulbar involuntário da ventilação pulmonar);
(2) na origem medular dos nervos frênicos ou intercostais;
(3) na própria inervação diafragmática ou intercostal;
(4) na musculatura respiratória;
(5) na caixa torácica, que pode impedir a expansão dos pulmões;
(6) nas vias aéreas superiores, que podem encontrar-se gravemente obstruídas.
Em todos esses casos, o paciente cursará com redução do volume corrente e, algumas vezes, também com bradipneia.
O resultado final é a queda do volume minuto e da ventilação alveolar. Todos os exemplos acima pertencem ao grupo
denominado Insuficiência Respiratória Extrapulmonar.
Analise atentamente as causas de insuficiência ventilatória aguda, exemplificadas na Tabela 1.
Após confirmar uma P(A-a)O2 elevada, o próximo passo é a diferenciação entre distúrbio V/Q e shunt.
OBS: Diferenciação entre distúrbio V/Q e shunt
A hipoxemia por distúrbio V/Q pode ser corrigida pela administração de O2 a 100%, pois os alvéolos mal
ventilados elevarão sua PO2 ao receberem O2 a 100%. O sangue proveniente destes alvéolos tornar-se-á oxigenado. Em
ventilação mecânica, o ajuste da FiO2 para 100% eleva a PaO2 > 500 mmHg.
A hipoxemia por shunt pulmonar ou cardíaco, por definição, não responde à administração de O2 a 100%, pois
este oxigênio extra não alcança o sangue que está passando pelo shunt. Ao colher uma gasometria arterial após administrar O2
a 100%, comparando-a com a gasometria anterior, não há um aumento significativo da PaO2 nem da SaO2. Em ventilação
mecânica, o reajuste da FiO2 para 100% não eleva a PaO2 > 300 mmHg.
Para diferenciar o shunt pulmonar do shunt intracardíaco, utilizamos o ecocardiograma com Doppler, que
visualiza facilmente qualquer shunt cardíaco.
Para diferenciar o shunt vascular pulmonar do shunt intraparenquimatoso pulmonar utilizamos inicialmente a
radiografia de tórax (que neste último está alterada, demonstrando a presença de infiltrados alveolares). Se a radiografia não
esclarecer o diagnóstico, recorremos à TC de tórax e à cintilografia de perfusão pulmonar. No shunt vascular (ex.: síndrome
hepatopulmonar), a cintilografia mostra a passagem do radioisótopo para o coração e o cérebro (isto é, ele passa pelos vasos
dilatados do shunt). No shunt intraparenquimatoso (alveolar), o radioisótopo fica retido nos pulmões – não é visualizado nem no
coração nem no cérebro.
O Fluxograma 1 ilustra a investigação do paciente com hipoxemia.
Dispositivos de Alto Fluxo: representados pela máscara de Venturi e pela máscara com reservatório de oxigênio.
A máscara de Venturi direciona o fluxo de O2 através de um tubo estreito que aumenta a velocidade do ar. A pressão
negativa gerada pela passagem do ar enriquecido por este tubo constrictor permite que mais ar seja “puxado” pelo paciente do
fornecimento de O2. De acordo com o tamanho do constrictor, teremos uma FiO2 conhecida para cada tipo de máscara. Em geral,
a FiO2 pode ficar na faixa entre 25-50%. O fluxo deve variar entre 2-12 L/min.
A máscara com reservatório de oxigênio utiliza uma bolsa coletora de O2 contendo uma válvula unidirecional.
Esta válvula só permite que o ar seja inspirado da bolsa, garantindo uma FiO2 bastante alta, entre 70-90%. É o único dispositivo
de suplemento de O2, excluída a ventilação mecânica, capaz de fornecer uma FiO2 superior a 50%.
FONTE: Apostila - MEDCURSO
O processo de transferência do ar do ambiente até os alvéolos exige integridade do aparelho respiratório do
indivíduo. Este é composto fundamentalmente dos seguintes elementos: sistema nervoso central (incluindo o centro respiratório),
sistema nervoso periférico, estruturas musculares, caixa torácica, vias aéreas e parênquima pulmonar. O prejuízo de qualquer
componente da bomba ventilatória e/ou da qualidade do ar do ambiente com relação à sua concentração de oxigênio pode interferir
com a eliminação do dióxido de carbono (CO2) e a captação do oxigênio (O2).
Insuficiência respiratória é, dessa forma, um desequilíbrio funcional que acontece devido à incapacidade de
manutenção da adequada oxigenação dos tecidos e consequente eliminação do dióxido de carbono produzido no organismo.
Quanto à duração e à rapidez com que se instala, a insuficiência respiratória pode ser dividida em aguda e crônica.
Constituem exemplos de insuficiência respiratória aguda a crise asmática, a lesão pulmonar aguda ou a síndrome da distrição
respiratória do adulto (SDRA), a bronquiolite viral aguda da criança, entre outras. A bronquite crônica, o enfisema pulmonar e as
fibroses pulmonares são exemplos de insuficiência respiratória crônica, que em determinadas circunstâncias podem agudizar.
Se o distúrbio na função ventilatória for de gravidade suficiente, pode causar hipoventilação alveolar e acidose
respiratória, caracterizando a insuficiência respiratória hipoxêmica e/ou hipercápnica.
Na insuficiência respiratória hipoxêmica, a gasometria mostra uma PaO2 ≤ 50 mmHg com saturação de O2 < 90%.
Ocorrem alterações no parênquima pulmonar inicialmente com hipoxemia e depois com retenção de CO2. Já́ na insuficiência
hipercápnica, a fadiga ou o comprometimento muscular determina uma elevação na PaCO2 e, posteriormente, ocorre a hipóxia.
Elas são definidas pelos achados na gasometria arterial:
a) pressão parcial de CO2 (PaCO2) maior do que 45 mmHg para os pacientes sem envolvimento respiratório crônico
prévio;
b) PaCO2 > 50 mmHg ou aumento maior do que 10 mmHg sobre a PaCO2 basal, com pH < 7,30 nas situações de
envolvimento respiratório crônico prévio.
Embora arbitraria, tal definição tem utilidade clínica, pois denota uma anormalidade funcional grave que acarreta risco
à vida e exige intervenção imediata. Além disso, a caracterização do tipo de insuficiência respiratória facilita a busca diagnostica
da causa especifica, bem como proporciona manejo pratico imediato.
Outra maneira de entender a insuficiência respiratória é pelas etapas do ciclo pulmonar. Essa divisão esquemática
auxilia na compreensão dos diversos mecanismos pelos quais as doenças que acometem os pulmões determinam a insuficiência
respiratória, facilitando o reconhecimento de situações em que certa doença apresenta mecanismo fisiopatogênico simultâneo.
Assim, é possível dividir a insuficiência respiratória em ventilatória e alveolocapilar.
Na insuficiência ventilatória, ocorre uma incapacidade dos pulmões de movimentar o ar entre o meio ambiente e os
alvéolos.
Na alveolocapilar, existe uma incapacidade dos pulmões de assegurar adequada mobilização gasosa entre os alvéolos
e o fluxo sanguíneo capilar.
O Quadro 86.1 demonstra os tipos de insuficiência respiratória.
INSUFICIÊNCIA VENTILATÓRIA
Esta incapacidade dos pulmões de movimentar ar entre o meio ambiente e os alvéolos pode ocorrer por 3 mecanismos:
- Funcionamento inadequado dos centros nervosos e/ou do aparelho muscular que comandam a ventilação:
insuficiência ventilatória neuromuscular (IVNM).
- Obstrução das vias respiratórias: insuficiência ventilatória obstrutiva (IVO).
- Incapacidade do fole torácico de se distender e retrair, mesmo quando eficientemente acionado pelo comando
neuromuscular: insuficiência ventilatória restritiva (IVR).
INSUFICIÊNCIA
INSUFICIÊNCIAVENTILATÓRIA NEUROMUSCULAR
VENTILATÓRIA NEUROMUSCULAR
As perturbações mais importantes deste mecanismo estão ligadas à disfunção do drive respiratório, manifestadas por
hipoventilação e/ou hiperventilação. Podem ser causadas por:
- Depressão dos centros respiratórios (anestesia geral, doses excessivas de opiáceos ou barbitúricos, traumatismo
cerebral, hipertensão intracraniana, anoxia ou isquemia cerebral prolongada, alta concentração de CO2, eletrocução).
- Interferência na condução nervosa dos centros respiratórios até as placas neuromusculares (lesões traumáticas da
medula, poliomielite, polirradiculoneurite, neurite periférica).
- Bloqueio do estimulo nervoso na placa neuromuscular (intoxicação por curare, decametônio ou succinilcolina;
miastenia grave, botulismo, intoxicação nicotínica).
- Doenças dos músculos respiratórios (dermatomiosite).
Nos quadros de disfunção do drive respiratório, na maioria dos casos, há necessidade de entubação orotraqueal e
ventilação mecânica, para compensar a depressão respiratória, enquanto se afastam as causas determinantes como fármacos
sedativos e alcalose metabólica.
As disfunções neuromusculares decorrentes de traumatismo raquimedular, as polineuropatias, polirradiculoneurite,
entre outras, exigem uma abordagem diagnóstica etiológica para tornar a terapêutica adequada.
INSUFICIÊNCIA VENTILATÓRIA OBSTRUTIVA
A IVO pode ser consequência de:
- Processos intrabrônquicos (acúmulo de secreções, corpos estranhos).
- Processos endobrônquicos (tumores da parede brônquica, edema da mucosa brônquica, broncoespasmo).
- Processos extrabrônquicos (compressão externa por tumores, aneurismas, pneumotórax, derrame pleural).
A IVO apresenta quadros distintos conforme o tamanho dos brônquios sede da obstrução. Distinguem-se, assim,
quadros por obstrução de “pequenos” ou de “grandes” brônquios fixando-se o calibre divisor dos dois grupos em 2 mm,
INSUFICIÊNCIA VENTILATÓRIA RESTRITIVA
A IVR pode ser consequência de:
- Limitação dos movimentos do tórax (artrite, esclerodermia, deformidade torácica, obesidade, elevação do diafragma
por tumores abdominais, ascite, meteorismo).
- Enrijecimento do parênquima pulmonar (fibrose), congestão pulmonar (insuficiência ventricular esquerda, estenose
mitral, pneumonia).
INSUFICIÊNCIA ALVEOLOCAPILAR
A incompetência dos pulmões para assegurar adequada troca gasosa entre os alvéolos e o sangue pode ser devida às
seguintes condições:
- Inadequada proporção entre ventilação e perfusão alveolar, de tal forma que a quantidade de ar que ventila o alvéolo
não é suficiente para depurar o CO2 do sangue que o perfunde, nem para saturá-lo de oxigênio: insuficiência alveolocapilar
distributiva (IACDt).
- Redução da permeabilidade às trocas gasosas dos meios anatômicos que separam o lúmen alveolar do lúmen capilar:
insuficiência alveolocapilar difusional (IACDf).
INSUFICIÊNCIA ALVEOLOCAPILAR DISTRIBUTIVA
A IACDt pode ocorrer quando a relação ventilação alveolar/perfusão alveolar se altera para mais ou para menos.
As variações para menos transformam os alvéolos atingidos em curtos-circuitos venoarteriais (havendo excesso de perfusão em
relação ao ar disponível nos alvéolos, parte do sangue passa ao átrio esquerdo com características de sangue venoso). As variações
para mais não alteram a oxigenação do sangue, mas levam a uma remoção maior de CO2.
As variações regionais da ventilação são devidas à ação de mecanismos restritivos ou obstrutivos, atuando isolada
ou conjuntamente.
As variações regionais da perfusão são, na maioria dos casos, devidas às seguintes condições:
- Embolia ou trombose de ramos da artéria pulmonar por coágulos sanguíneos, gordura, gás, parasitas ou êmbolos
metastáticos.
- Obstrução parcial ou completa de uma artéria pulmonar ou de um de seus ramos por lesões arterioscleróticas,
endarterite, colagenose ou anomalias congênitas.
- Compressão ou angulação de vasos pulmonares por tumores, derrames pleurais ou pneumotórax.
- Redução do leito vascular por destruição do parênquima (enfisema) ou por obliteração fibrótica.
- Congestão regional por descompensação cardíaca.
- Colapso de vasos pulmonares pela redução do volume sanguíneo circulante (choque).
- Fistulas arteriovenosas.
No estudo da IACDt, é necessário considerar a vasoconstrição pulmonar em resposta à hipóxia alveolar. Esse
reflexo promove o ajuste do fluxo capilar de uma determinada região do pulmão de acordo com a ventilação que ele recebe; ou
seja, existindo hipóxia alveolar por hipoventilação, há, por via reflexa, vasoconstrição e redução da perfusão sanguínea proporcional
àquele nível, mantendo-se assim constante a proporção ventilação/perfusão.
Se o equilíbrio reflexo descrito fosse completo, não poderia haver IACDt. O poder de compensação desse reflexo é
apenas relativo, e casos de insuficiência distributiva ocorrem com grande frequência.
INSUFICIÊNCIA ALVEOLOCAPILAR DIFUSIONAL
A IACDf engloba os diversos quadros clínicos reunidos sob a designação genérica de “bloqueio alveolocapilar”. A
dificuldade de difusão pode ser devida aos seguintes fatores:
- Deposição no alvéolo de substâncias que determinam o espessamento da barreira alveolocapilar como transudatos e
membrana hialina.
- Espessamento das estruturas anatômicas que compõem a barreira alveolocapilar normal como edema pulmonar,
infiltrado inflamatório intersticial e carcinoma de células alveolares.
- Fibrose dessas mesmas estruturas como ocorre nas granulomatoses.
Poucas vezes a insuficiência respiratória se deve a apenas um mecanismo fisiopatogênico; mais comumente coexistem
mais de um tipo ao mesmo tempo. Com frequência, as IVOs acompanham-se de um componente restritivo e vice-versa. Também
é regra que a IACDf esteja acompanhada de alterações restritivas.
Por sua vez, a IACDt – a mais comum de todas as formas de insuficiência respiratória – participa, em maior ou menor
grau, de quase todos os quadros de disfunção funcional pulmonar. Essas alterações fazem com que os quadros de insuficiência
respiratória tenham, do ponto de vista fisiopatogênico, um aspecto com- plexo. Na maioria dos casos, o que se determina é apenas
o mecanismo dominante.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A insuficiência respiratória pode se apresentar de forma extremamente variada em sua intensidade, começando com
uma fase latente, assintomática, detectada apenas por meio de provas de função pulmonar. Em uma etapa posterior, o indivíduo
torna-se sintomático, sendo a dispneia a manifestação clássica, fase esta denominada fase compensada. Finalmente, em uma
terceira etapa, observam-se, além da dispneia, a presença de hipoxemia com ou sem hipercapnia, ou seja, a falência da hematose,
cuja expressão clinica se dará́ por incapacidade de manter a ventilação, maior trabalho ventilatório, cianose, uso de musculatura
acessória, podendo evoluir para parada respiratória. É a fase descompensada da insuficiência respiratória.
As manifestações são decorrentes basicamente da hipoxemia e hipercapnia, sendo, no entanto, pouco específicos. O
mais notório sinal de hipoxemia, a cianose, é de detecção enganadora por sofrer influência das condições do paciente (melanina,
anemia), do ambiente (luz) e do médico (percepção de cores).
Os sintomas da hipoxemia aguda lembram os da intoxicação alcoólica: taquicardia, taquipneia, ansiedade, sudorese,
alteração do estado mental, confusão, hipertensão, hipotensão, bradicardia, crise convulsiva, acidose lática.
Os sintomas de hipercapnia, aguda ou subaguda, são basicamente os de um anestésico: sonolência progressiva,
desorientação e coma. Cefaleia, por vasodilatação cerebral ou encefalopatia metabólica, é queixa proeminente. Ocasionalmente,
no exame de fundo de olho, há asterixe, ingurgitamento das veias retinianas ou edema de papila.
Outros sinais, relacionados com vasodilatação e altos níveis de catecolaminas circulantes, são rubor da pele,
hiperemia das mucosas e de conjuntiva, sudoração e hipertensão leve a moderada.
Em quadros crônicos, as manifestações de hipoxemia e hipercapnia, salvo a cianose para a primeira, costumam
ser inexpressivas.
TRATAMENTO
O tratamento da insuficiência respiratória depende da fase em que o paciente se encontra.
Nos casos crônicos e de progressão lenta, o diagnóstico e o tratamento adequado da doença de base são fundamentais
na tentativa de evitar a evolução para uma fase de descompensação.
Quando o paciente apresentar-se agudamente descompensado, o manejo inicial deverá focalizar 3 diferentes
aspectos: controle das vias respiratórias, correção da hipoxemia e assistência ventilatória.
CONTROLE DAS VIAS RESPIRATÓRIAS
A abordagem inicial deve garantir a via aérea permeável. Faz-se uma avaliação das vias aéreas superiores,
procurando sinais que indiquem obstrução, como estridor, roncos ou retenção de secreções.
Obstrução por corpo estranho e aspiração maciça de conteúdo gástrico devem ser consideradas. No caso de obstrução
mecânica, está indicada broncoscopia, que servirá também para aspiração de secreções. Quando detectada a obstrução, a via aérea
deve ser rapidamente restabelecida, iniciando-se pelo posicionamento da cabeça e da mandíbula.
Deve-se pesquisar anafilaxia como causa de obstrução de via aérea. Neste caso, os sintomas vão desde fraqueza,
lacrimejamento, prurido, tonturas, sonolência, desmaios até urticária, angioedema, estridor laríngeo, broncoespasmo, confusão
mental, síncope, taquicardia, choque e óbito.
Se houver confirmação de reação anafilática, está indicada conduta medicamentosa com adrenalina (1:1.000), nas
doses de 0,3 a 0,5 mL por via subcutânea. Também podem ser utilizados beta2-adrenérgicos, anti-histamínicos e corticoides.
A colocação de um tubo traqueal, por via nasal ou oral, deve ser particularizada conforme a indicação. Os pacientes
mais graves e com grande edema de laringe necessitarão de traqueostomia de urgência.
No paciente em crise asmática, por exemplo, a possibilidade de laringospasmo deve ser lembrada, podendo ser
reduzida quando realizada por indivíduo experiente e também com a utilização de atropina. Tubos endotraqueais largos (diâmetro
interno > 8 mm) oferecem menor resistência e oportunizam a realização de fibrobroncoscopias para aspirar secreções. A maior
incidência de polipose nasal e sinusopatia nesse grupo de pacientes torna menos indicada a entubação nasotraqueal, bem como nos
pacientes com traumatismo cranioencefálico com fratura da base do crânio.
A sedação é uma etapa decisiva para permitir uma ventilação adequada e efetiva. Além disso, oferece maior conforto
ao paciente, diminui o esforço ventilatório, reduz o risco de barotrauma, facilita a realização de procedimentos e diminui o consumo
de oxigênio e a produção de CO2. O midazolam é o benzodiazepínico de escolha, por ter início de ação rápido e por determinar
amnésia. Na fase pré́ -entubação, pode ser utilizada uma dose de 1 mg IV, repetindo-a até que o paciente permita a entubação.
CORREÇÃO DA HIPOXEMIA ARTERIAL E VENTILAÇÃO
A maioria dos pacientes com insuficiência respiratória precisa de frações de oxigênio suplementar
progressivamente maiores, objetivando alcançar uma saturação da hemoglobina > 90%.
A fração de oxigênio efetiva máxima obtida por sistemas não invasivos pode ser alcançada com cateter nasal,
utilizando-se fluxos de 0,5 a 5 L/min e FiO2 de 0,4 a 0,5 dependendo da ventilação-minuto. Fluxos maiores através de cateteres
nasais não são bem tolerados porque determinam irritação na mucosa nasal. Máscaras faciais tipo “Venturi” dão uma titulação
mais controlada de FiO2, variando de 24 a 50%. Essas máscaras tem indicação mais precisa para os pacientes que necessitam de
algum grau de hipoxemia para manterem o estimulo ventilatório.
Níveis maiores de oxigênio podem ser obtidos por máscara facial com reservatório acoplado, em que o alto fluxo e
a alta concentração de oxigênio mantém esse reservatório preenchido com oxigênio a 100%, desde que o fluxo de oxigênio continue
elevado, ou seja, maior do que 15 L/min.
Nos pacientes em que a correção da hipoxemia se faz com baixos níveis de oxigênio, estes, caracteristicamente, sofrem
de pequenas anormalidades na ventilação-perfusão. Tal resposta está presente em condições como DPOC, asma e
tromboembolismo pulmonar. Por outro lado, na SDRA, na hemorragia alveolar, nas atelectasias e nas pneumonias, pode
ocorrer uma resposta ruim à suplementação de oxigênio, devido a um significativo curto-circuito venoarterial ou efeito shunt.
Nessas situações, as modalidades de oxigênio suplementar passam pela seleção de sistemas de oxigênio de alto fluxo até a instalação
de ventilação mecânica não invasiva e invasiva.
Para os pacientes que não responderem aos regimes ventilatórios avançados, o suporte respiratório extracorpóreo
é uma alternativa. Em neonatos, essa modalidade de tratamento está provada, mas em adultos permanece controversa.
FONTE: Pneumologia: Princípios e Práticas
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA CRÔNICA
A IRC é definida como a incapacidade prolongada, reversível ou irreversível, de o aparelho respiratório manter
a hematose do sangue circulante para que a entrega (DO2) e o consumo de oxigênio (VO2) aos tecidos atendam às
necessidades metabólicas do organismo, bem como eliminar o dióxido de carbono (CO2) resultante da atividade celular. A
análise dos gases arteriais com o indivíduo respirando ar ambiente é utilizada para o diagnóstico de IRC.
Embora os critérios da definição tenham sido estabelecidos arbitrariamente, a falência respiratória é indicada por uma
pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2), inferior a 60 mmHg e/ou uma pressão parcial de CO2 no sangue
arterial (PaCO2) superior a 50 mmHg.
Na IRC, as alterações das trocas gasosas estabelecem-se de modo progressivo durante meses a anos.
EPIDEMIOLOGIA
O grupo das doenças respiratórias capazes de provocar IRC é constituído por um grande número de entidades, as quais,
geralmente, podem levar décadas para se manifestarem clinicamente. O período de latência prolongado entre o início da doença e
o surgimento de sintomas mais ou menos incapacitantes de IRC deveria favorecer a sua detecção e a implementação de medidas
preventivas.
No adulto, a DPOC representa a causa mais importante de IRC. Entretanto, muitas dessas doenças tem início na
infância, como, por exemplo, bronquiectasias e asma brônquica. Outra faceta a ser considerada é a frequência aumentada de estados
comórbidos à IRC, principalmente doença cardiovascular, doenças relacionadas ao sono e neoplasias. A prevalência estimada
das principais doenças crônicas respiratórias geradoras de IRC é apresentada na Tabela 30.1.
CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA
A IRC pode ser dividida em 2 classes principais, segundo os mecanismos fisiopatogênicos envolvidos na sua gênese:
hipoxêmica (alveolocapilar) e hipercápnica (ventilatória). O termo IRC agudizada refere-se à deterioração aguda do quadro
clínico funcional de um indivíduo com IRC previamente compensada.
QUADRO CLÍNICO
A IRC geralmente instala-se de maneira insidiosa, com limitação funcional crescente e evidências de doença torácica
ou neuromuscular crônica. A insuficiência respiratória também pode ser diagnosticada em pacientes assintomáticos ao realizar-se
gasometria arterial por outros motivos que não queixas respiratórias.
A gravidade da dispneia na IRC é muito variável. Em doenças neuromusculares crônicas, por exemplo, a dispneia
pode estar ausente até que estágios clinicamente avançados sejam atingidos.
A hipoxemia é considerada crônica quando não são identificados eventos mórbidos recentes, mas há distúrbio
cardiopulmonar crônico. Os pacientes com hipoxemia crônica podem ser relativamente assintomáticos. No entanto, geralmente os
seguintes achados podem estar presentes: cianose, policitemia, edema, hipertensão pulmonar com cor pulmonale, emagrecimento,
déficit cognitivo e disfunção cardíaca esquerda.
A hipercapnia crônica é considerada como de fácil caracterização por ser a mesma acompanhada por acidose
respiratória com compensação renal. Além dos sinais clínicos provocados pela hipóxia, a hipercapnia pode causar cefaleia
(especialmente ao despertar), tremores, inquietude, alterações do humor e obnubilação. O achado de papiledema é decorrente do
aumento da pressão liquórica secundariamente ao aumento do fluxo sanguíneo cerebral provocado pela propriedade vasodilatadora
da hipercapnia.
Vários mecanismos adaptativos contribuem para a percepção reduzida da dispneia na IRC. Um desses mecanismos
é a retenção de bicarbonato, a qual reduz o estimulo respiratório decorrente da acidose respiratória. Outra resposta adaptativa
pode dever-se à produção de endorfinas secundárias ao estresse provocado pela sobrecarga respiratória.
Aos achados anteriormente descritos agregam-se os sintomas e sinais das doenças especificas. No entanto,
independentemente da patogênese da IRC, os sintomas geralmente exacerbam-se à noite ou durante o sono. Um exemplo clássico
é o da dispneia paroxística noturna na insuficiência cardíaca congestiva. Levando-se em conta essa peculiaridade, sonolência diurna
devido à privação crônica do sono ou cefaleia matutina secundária à hipóxia noturna podem ser importantes indicações de IRC em
evolução.
As anormalidades encontradas durante a realização do exame físico em um paciente com IRC costumam ser muito
tênues no período inicial da evolução. Após essa primeira fase, com o esgotamento da reserva funcional respiratória instala-se um
quadro clínico exuberante.
Na DPOC, por exemplo, a inspeção do tórax na doença moderada a grave caracteriza-se pelo aumento do diâmetro
anteroposterior com horizontalização das costelas e estabelecimento de uma postura cifótica. O esforço anormalmente aumentado
da musculatura respiratória traduz-se pela adoção da posição de ortopnéia e pelo estabelecimento de um ponto de ancoragem para
o recrutamento da musculatura acessória por meio da fixação da cintura escapular. O funcionamento desvantajoso da musculatura
também é revelado pela presença de tiragem intercostal, tiragem subcostal (sinal de Hoover) e pela dissincronia toracoabdominal
que aponta na direção do surgimento de fadiga diafragmática. Os movimentos respiratórios podem ser restritos e confinados ao
tórax superior. O enchimento da veia jugular torna-se facilmente percebido devido à elevação da pressão positiva intratorácica
durante a expiração.
A cianose central envolvendo lábios, língua e palato mole é a expressão de hipoxemia. A hipercapnia pode causar
engurgitamento venoso e edema de papila no exame de fundo de olho, bem como engurgitamento de veias periféricas. A agitação
psicomotora é indício de hipóxia; a hipercapnia leva à desorientação, podendo evoluir para o coma.
O hipocratismo digital sugere principalmente a presença de carcinoma brônquico, bronquiectasias ou fibrose pulmonar
idiopática.
Na ausculta pulmonar, o murmúrio vesicular está diminuído no enfisema pulmonar. Os sibilos costumam ser menos
ostensivos na DPOC do que na asma brônquica. Na asma, os sibilos tendem a exacerbar-se quando o paciente é estimulado a tossir;
na bronquite crônica, a eliminação de secreções pela tosse pode atenuá-los. No enfisema pulmonar desacompanhado de bronquite
crônica, via de regra não se auscultam ruídos adventícios. Os estertores úmidos são ouvidos com frequência na DPOC e ocorrem
na fase inicial da inspiração (proto-inspiratórios). Os estertores da insuficiência cardíaca esquerda e da fibrose pulmonar idiopática
são ouvidos na segunda metade da inspiração (teleinspiratórios). Os estertores da DPOC costumam ceder com a tosse, enquanto os
estertores fixos (pós-tussivos) são mais comuns nas doenças infecciosas parenquimatosas.
No cor pulmonale, além do edema periférico e da cianose central há o aparecimento de turgência jugular,
hepatomegalia e refluxo hepatojugular. O deslocamento do ventrículo direito hipertrofiado torna-se palpável na região paraesternal
esquerda e pode haver hiperfonese da segunda bulha em foco pulmonar, bem como pode surgir uma terceira bulha mais audível no
quarto espaço intercostal à esquerda do esterno ou na região epigástrica. No enfisema avançado, devido à hiperinsuflação pulmonar,
as bulhas cardíacas podem estar abafadas.
Os pacientes obesos podem ter sua IRC agravada pelo excesso de peso. A obesidade tem impacto negativo sobre a
DPOC, a asma brônquica e a SAHOS. A síndrome da hipoventilação secundária à obesidade caracteriza-se por IMC igual ou maior
do que 30 kg/m², PaCO2 diurna maior do que 45 mmHg e distúrbios respiratórios associados ao sono, na ausência de outras causas
de hipoventilação.
Esta inflamação, através de uma complexa rede de interações moleculares (envolvendo diversos tipos de célula), é a
causa da hiper-reatividade brônquica. Desse modo, estímulos como infecções, contato com alérgenos, mudanças climáticas,
exercício físico, agentes químicos, fármacos ou estresse emocional podem desencadear um quadro de obstrução aguda das vias
aéreas inferiores, chamado genericamente de crise asmática. Vale ressaltar que, além do broncoespasmo (contração da
musculatura brônquica), os seguintes eventos são observados: edema da mucosa e formação de tampões de muco, contribuindo
para a redução aguda no calibre da via aérea.
A explicação mais aceita para a gênese da asma envolve um desequilíbrio imunológico relacionado à diferenciação
dos linfócitos T-helper. Estes linfócitos podem se diferenciar em 2 subtipos: Th1 e Th2. Os linfócitos Th1 participam da resposta
protetora contra agentes infecciosos, enquanto os Th2 promovem um tipo especial de inflamação chamado inflamação alérgica,
cuja função não é propriamente de “defesa”.
Nos pacientes asmáticos, existe predomínio dos linfócitos Th2 (Figura 3), os quais estimulam, pela secreção de
citocinas específicas, os seguintes eventos secundários: (1) proliferação de mastócitos; (2) produção de IgE por linfócitos B; e (3)
recrutamento de eosinófilos à mucosa respiratória.
Os eosinófilos parecem ser os principais responsáveis pelas lesões estruturais encontradas na via aérea do asmático!
Já os mastócitos seriam as células que sinalizam para o sistema imune a ocorrência de contato com os alérgenos (pela ligação do
alérgeno às IgE presentes em sua superfície), promovendo a liberação de mediadores que, entre outras ações, induzem diretamente
o broncoespasmo.
Observe na Figura 2 como a parede brônquica se encontra cronicamente inflamada. Se o tratamento anti-
inflamatório não for instituído, ocorrerão mudanças estruturais potencialmente irreversíveis que, em conjunto, são chamadas
de remodelamento brônquico. Fazem parte desta condição: desnudamento epitelial, edema da mucosa e acúmulo de muco,
espessamento da membrana basal, hipertrofia/hiperplasia das glândulas submucosas e da camada muscular e, fundamentalmente,
infiltrado inflamatório com predomínio de eosinófilos.
Como dissemos, diversas substâncias são liberadas na via aérea durante o processo asmático, e estas podem ser
divididas em três grandes grupos: (1) mediadores pró-inflamatórios; (2) fatores quimiotáticos para eosinófilos, neutrófilos e
macrófagos; (3) citocinas, que são substâncias produzidas por leucócitos, endotélio ou mesmo pelas células epiteliais, capazes de
estimular a atividade e proliferação das células inflamatórias.
As substâncias pró-inflamatórias mais importantes na asma são: histamina, bradicinina, prostaglandinas, cisteinil-
leucotrienos e PAF (Fator de Ativação Plaquetário). Em graus variáveis, todas promovem vasodilatação e edema da mucosa,
além de broncoconstrição. Os cisteinil-leucotrienos ainda aumentam a produção de muco e reduzem a atividade ciliar. A
cronicidade do processo resulta em alterações estruturais na mucosa brônquica que promovem a exposição de terminações nervosas
vagais (parassimpáticas), permitindo a ocorrência de uma resposta neurogênica direta que exacerba ainda mais o edema e o
broncoespasmo.
Dentre os fatores quimiotáxicos, merecem destaque o leucotrieno B4, a eotaxina e o RANTES, que atraem
preferencialmente eosinófilos. As principais interleucinas na patogênese da asma são: IL-3, IL-4 e IL-5. Outros mediadores que
atuam como “amplificadores” são: IL-1, IL-6, TNF-alfa e GM-CSF. Atualmente, quase todas essas substâncias vêm sendo
estudadas como “alvos” em potencial para o desenvolvimento de novos fármacos contra a asma.
CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DA ASMA
Alguns autores classificam a asma brônquica nos seguintes subtipos (considerando o provável mecanismo
etiopatogênico):
(1) asma extrínseca alérgica (aquela que tem sua gênese relacionada a fatores externos, tais como alérgenos, agentes
químicos ou fármacos)
(2) asma extrínseca não alérgica;
(3) asma criptogênica (termo que corresponde à antiga “asma intrínseca” - refere-se aos casos em que não se identifica
o fator causal);
(4) asma induzida por aspirina.
Isso faz com que sejam descritos grupos de pacientes com características demográficas, clínicas e patológicas
peculiares, os chamados "fenótipos asmáticos".
ASMA EXTRÍNSECA ALÉRGICA
O fenômeno alérgico é o principal mecanismo etiopatogênico na maioria dos casos, sendo responsável por 70% das
asmas em indivíduos com menos de 30 anos de idade e 50% em pacientes com mais de 30 anos. No subgrupo infantil, na faixa
etária entre 2-15 anos, quase todos os casos (90%) representam o tipo alérgico! Para compreendermos a etiopatogenia da asma,
portanto, devemos ter alguns conceitos básicos sobre alergologia.
Alergia é um processo de resposta imunoinflamatória, de início rápido, a determinadas substâncias antigênicas
(geralmente proteicas) estranhas à composição molecular do nosso organismo. O processo alérgico é caracteristicamente mediado
por anticorpos do tipo IgE que se encontram ligados à superfície dos mastócitos.
Em geral, existe na natureza uma série de substâncias suspensas no ar que, ao serem inaladas, têm grande propensão
a desencadear o processo alérgico nas vias aéreas de pessoas predispostas – são os aeroalérgenos. Quase todas são glicoproteínas
de baixo peso molecular e diâmetro entre 5-60 µm.
As principais fontes de aeroalérgenos são: Ácaros, Baratas, Cães e Gatos, Fungos e Grão de Pólen.
Que eventos celulares acontecem numa reação alérgica? A reação alérgica é uma resposta imunológica, também
conhecida como reação de hipersensibilidade tipo I, ou hipersensibilidade IgE-mediada. Para a sua ocorrência, é preciso que haja
uma sensibilização prévia ao antígeno específico (alérgeno). No indivíduo sensibilizado, novos contatos com o antígeno
desencadeiam a reação. A resposta costuma se manifestar nos primeiros 10min após o contato, durando < 2h. Porém, em alguns
casos, há também uma resposta tardia e prolongada, iniciando-se em 3-4h e durando > 24h. Agora vamos descrever como ocorrem:
(1) a sensibilização; (2) a resposta imediata; e (3) a resposta tardia.
SENSIBILIZAÇÃO
O antígeno é fagocitado pela célula dendrítica (célula de Langerhans) – chamada de “célula apresentadora” – presente
no epitélio da mucosa brônquica. Esta célula processa e expressa o antígeno em sua membrana plasmática, ligando-o ao complexo
MHC classe II. O reconhecimento do conjunto antígeno-MHC pelo linfócito T-helper (CD4) do tipo Th2 dá início ao processo
de ativação imunológica. Esta célula produz interleucinas (IL-4 e IL-5) que estimulam a formação de linfócitos B produtores de
IgE, a imunoglobulina envolvida na alergia. A IL-4 estimula ainda a proliferação e diferenciação de mastócitos, e a IL-5 estimula
a proliferação e diferenciação de eosinófilos. As moléculas de IgE secretadas pelo linfócito B se ligam à membrana plasmática do
mastócito e do basófilo. Mastócitos e basófilos tornam-se, portanto, sensibilizados, isto é, revestidos de IgE específica contra o
alérgeno em sua superfície.
RESPOSTA IMEDIATA
Na presença de mastócitos sensibilizados (na via aérea), a reexposição ao antígeno promove a resposta imediata. O
antígeno se liga à IgE presente na superfície dos mastócitos, promovendo a degranulação e liberação de mediadores: histamina,
leucotrienos, bradicinina etc. Estes mediadores induzem diretamente 3 eventos: (1) broncoconstrição; (2) vasodilatação, levando
ao edema da mucosa; (3) produção de muco (células caliciformes e glândulas submucosas).
Há também ativação de terminações nervosas vagais, com liberação reflexa de acetilcolina, o que contribui para a
broncoconstrição e o edema. Eosinófilos, são recrutados por ação quimiotáxica de mediadores mastocitários, tornando-se as
principais células inflamatórias neste momento! Secretam substâncias com ação lesiva celular, como a proteína básica principal e
a proteína eosinofílica catiônica, além de “mais” mediadores inflamatórios e quimiotáxicos.
RESPOSTA TARDIA
Os mastócitos e eosinófilos (bem como células endoteliais e epiteliais), quando ativados, também liberam mediadores
quimiotáxicos para neutrófilos, monócitos e linfócitos. Após 3-4h, esses outros leucócitos se acumulam na mucosa brônquica, junto
aos eosinófilos, e secretam mediadores que contribuem para a persistência da atividade inflamatória e broncoconstrição, além
de induzir a degeneração das células epiteliais, que descamam para o lúmen brônquico. Os eosinófilos continuam sendo as células
inflamatórias mais numerosas neste momento, porém já podemos dizer que a reação inflamatória tornou-se crônica (linfócitos e
monócitos).
ASMA EXTRÍNSECA NÃO ALÉRGICA
A asma extrínseca não alérgica NÃO envolve reação IgE mediada, mas sim uma irritação direta da mucosa
brônquica por substâncias tóxicas. Agentes químicos, geralmente presentes nos processos industriais, são frequentes causadores
desse tipo de asma.
Definimos asma ocupacional como a asma causada por contato com agentes presentes apenas no ambiente de
trabalho, podendo ser tanto de origem alérgica quanto irritativa. É responsável por cerca de 10% dos casos de asma em adultos! Os
agentes podem ser substâncias inorgânicas (isocianatos, resinas epóxi, sais de platina, solda, glutaraldeído etc.) ou orgânicas
(enzimas proteolíticas, poeira da madeira, farinha de cereais, poeira de mamona, crustáceos etc.). Os agentes orgânicos geralmente
apresentam componente alérgico, enquanto as substâncias químicas são majoritariamente irritantes.
Existe uma característica clínica que ajuda a diferenciar entre os 2 mecanismos: no alérgico, observa-se um período
de latência entre a exposição e o início dos sintomas, intervalo esse inexistente na forma irritativa.
OBS: Quando suspeitar de asma ocupacional? Quando os sintomas de asma aparecem somente nos dias de trabalho,
melhorando nos finais de semana e feriados.
Nem sempre, porém, a asma extrínseca não alérgica está relacionada à asma ocupacional. Alguns agentes químicos
podem estar presentes no cotidiano das pessoas, dentro de suas próprias casas. Os principais exemplos são os sulfitos
(metabissulfito de potássio, bissulfito de sódio), presentes em determinados conservantes de alimentos (saladas, frutas, batatas,
frutos do mar e vinho) e em alguns remédios.
Por fim, elementos da poluição atmosférica podem contribuir para o desencadeamento da crise asmática, porém, a
princípio, não participam da gênese da diátese asmática. Os exemplos são: ozônio, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. As
infecções virais, o ar frio, a hiperventilação, os fumos, o exercício físico e o estresse emocional podem também desencadear
exacerbações, contudo, igualmente não participam da gênese da doença.
ASMA CRIPTOGÊNICA (“INTRÍNSECA”)
Uma minoria dos pacientes asmáticos (aproximadamente 10%) apresentam uma resposta negativa a todos os testes
cutâneos, com níveis séricos de IgE normais, sendo denominados de asma criptogênica. Esse tipo é mais comum quando a asma
aparece na idade adulta. A etiopatogenia não é bem conhecida, porém a imunopatologia de biópsias brônquicas e análises do
escarro são semelhantes à asma atópica, inclusive com infiltrado eosinofílico. Parece haver uma hiperprodução local de IgE nas
vias aéreas. A participação de infecções virais prévias como agente causal também já foi sugerida, mas nunca confirmada.
ASMA INDUZIDA POR ASPIRINA (AIA)
A asma induzida por aspirina responde por 2-3% dos casos de asma em adultos. É desencadeada pelo uso de aspirina
ou outros AINE não seletivos, podendo persistir por vários anos mesmo após a suspensão dos mesmos. Alguns pacientes já eram
asmáticos previamente, apenas apresentando um componente associado de AIA. Seu grande marco clínico é a associação da asma
com rinite e pólipos nasais.
Acredita-se que um dos mecanismos etiopatogênicos seja o seguinte: com a inibição da COX-1 pela aspirina (ou
AINE), o ácido aracdônico passa a ser preferencialmente metabolizado pela lipo-oxigenase, a enzima que gera leucotrienos –
mediadores de grande importância na reação inflamatória da asma (responsáveis por broncoconstrição, edema, aumento de muco
e atração de eosinófilos para a via aérea).
Mas por que somente algumas pessoas desenvolvem o quadro? Simples: genética! Estudos recentes demonstraram a
existência de mutações na lipo-oxigenase que exageram a síntese de leucotrienos quando a COX-1 é inibida pela aspirina ou outros
AINE.
Vale dizer que os inibidores seletivos da COX-2 (Coxibs) não se associam a AIA e podem ser usados nestes pacientes.
FATORES DESENCADEANTES DAS CRISES
Diversos fatores podem precipitar crises de broncoespasmo em asmáticos, mas não em pessoas normais.
Antigamente recomendava-se que o contato com tais fatores fosse evitado a todo custo, porém, hoje sabemos que muitas vezes isso
é impossível. Na realidade, a ocorrência de crises deve ser encarada como um sinal de mau controle da doença, indicando a
necessidade de intensificar a terapia controladora! Pacientes cuja asma encontra-se bem controlada conseguem permanecer
livres de sintomas mesmo quando em contato com desencadeantes. A Tabela 4 resume as principais etiologias das crises de
broncoespasmo.
OBS: betabloqueadores, AAS e AINEs não têm contraindicação absoluta em TODOS os asmáticos! Deve-se avaliar
cada caso individualmente. Pacientes com história de piora dos sintomas após o uso dessas medicações sem dúvida devem evitá-
las, porém, muitos asmáticos conseguem tomar essas drogas sem problemas. No paciente nunca antes exposto a tais medicamentos
recomenda-se prudência e bom senso clínico.
Por exemplo: você não vai iniciar betabloqueador num asmático "não controlado" e com múltiplos "fatores de risco
futuro" (ver adiante). Por outro lado, num paciente assintomático do ponto de vista respiratório, com a asma bem controlada na
vigência de tratamento e boa função pulmonar, podemos "pagar pra ver" caso a indicação da droga seja consistente (ex.: atenolol
para tratamento da doença coronariana; colírio de timolol para tratamento do glaucoma).
FISIOPATOLOGIA
Como vimos, a principal alteração fisiopatológica da asma é a obstrução variável e reversível ao fluxo aéreo, que
ocorre de forma predominante na fase EXPIRATÓRIA da respiração. Isso acontece principalmente devido ao broncoespasmo
(contração da musculatura lisa brônquica), mas também em consequência ao edema da mucosa e à hipersecreção de muco no lúmen
da via aérea.
O parâmetro espirométrico mais afetado é o Volume Expiratório Forçado no 1º segundo (VEF1), que diminui
subitamente. A relação VEF1/CVF (Índice de Tiffenau) se reduz, atingindo a faixa dos distúrbios obstrutivos da ventilação (<
0.75-0.80 em adultos ou < 0.90 em crianças). O Pico de Fluxo Expiratório (PFE), que pode ser medido com aparelhos portáteis
("fluxômetros"), também diminui, sendo, entretanto, um parâmetro menos fidedigno do que o VEF1 medido por espirometria
convencional. A resistência das vias aéreas aumenta, e pode ocorrer hiperinsuflação pulmonar (aprisionamento aéreo), com
aumento do volume residual pulmonar. A pletismografia evidencia estas últimas alterações.
OBS: Na asma grave, um aprisionamento aéreo muito intenso, com aumento desproporcional do volume residual,
pode reduzir a Capacidade Vital Forçada (CVF), fazendo a relação VEF1/ CVF ficar artificialmente "normalizada". Nesta curiosa
situação, como tanto o VEF1 quanto a CVF serão baixos, pode-se ter a falsa impressão de um distúrbio restritivo da ventilação.
Clinicamente, no entanto, em tais casos não costuma haver dúvida quanto ao diagnóstico de asma, pois a história é geralmente
típica.
Raramente a crise asmática causa insuficiência respiratória aguda! A gasometria arterial do paciente costuma
mostrar apenas HIPOCAPNIA, isto é, queda da pCO2, devido à hiperventilação alveolar (alcalose respiratória aguda). Esta
alteração é naturalmente esperada em qualquer paciente taquipneico.
Por outro lado, se houver normo ou mesmo hipercapnia (pCO2 normal ou aumentada, respectivamente), temos um
importante sinal ominoso, indicando que o paciente está entrando num processo de fadiga progressiva da musculatura respiratória,
devendo ser intubado e colocado em prótese ventilatória. A fadiga tende a aparecer de forma mais precoce nas crianças asmáticas
com menos de dois anos de idade.
Nas crises muito graves, especialmente aquelas que afetam as pequenas vias aéreas periféricas e comprometem a
ventilação alveolar, ocorre HIPOXEMIA. O mecanismo é o desequilíbrio entre ventilação e perfusão (distúrbio V/Q), isto é, o
parênquima pulmonar (alvéolos) não recebe ventilação, mas continua sendo perfundido. Assim, o sangue passa pela circulação
pulmonar sem ser adequadamente oxigenado, gerando queda da pO2 e da SpO2.
REPERCUSSÃO FUNCIONAL
A asma é uma doença episódica, marcada por períodos de exacerbação e remissão.
A exacerbação é a própria crise asmática, caracterizada por um episódio agudo de obstrução generalizada das vias
aéreas inferiores. O principal componente desta obstrução é o broncoespasmo ou broncoconstrição, porém o edema e a formação
de tampões mucosos também contribuem para o processo obstrutivo agudo.
A maioria dos asmáticos (60%) possui asma “persistente” e permanece com obstrução das vias aéreas no período
intercrítico (mesmo na ausência de sintomas). O restante dos casos – asma “intermitente” – não apresenta obstrução nesse
intervalo.
A obstrução das vias aéreas altera os volumes e fluxos pulmonares, podendo ser facilmente mensurada através da
espirometria. O volume residual (aquele que permanece no pulmão após uma expiração forçada) e a capacidade residual
funcional (volume que permanece após uma expiração espontânea) estão caracteristicamente aumentados, em função do
“aprisionamento” de ar (air trapping). Na expiração, a pressão intratorácica elevada agrava o estreitamento das vias aéreas mais
distais, impedindo a saída de parte do ar que foi inspirado. Durante a crise, o volume residual pode aumentar em até 400%.
A gasometria arterial comumente está alterada. Devido à taquipneia e à hiperventilação, a eliminação de CO2
aumenta, provocando hipocapnia e alcalose respiratória – esta é a alteração mais frequente. Nos casos mais graves, a obstrução
brônquica reduz a relação V/Q (ventilação/perfusão) em múltiplas unidades alveolares, gerando hipoxemia. Quanto mais grave a
crise, pior a hipoxemia.
Na crise muito grave, a obstrução é tamanha que o trabalho da musculatura respiratória é maior que o suportável pelo
paciente, culminando em fadiga respiratória e insuficiência ventilatória aguda (hipercápnica). Uma pCO2 em níveis normais já é
preocupante, pois mostra a incapacidade do paciente em manter um trabalho respiratório elevado (sinal precoce de fadiga). Ocorre
em 10% das crises asmáticas e é o principal mecanismo de óbito na “asma fatal”.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
HISTÓRIA CLÍNICA
Classicamente, a asma se manifesta com episódios limitados de DISPNEIA, TOSSE e SIBILÂNCIA – a tríade
clássica. Eventualmente os pacientes referem sensação de aperto no peito ou desconforto torácico. Os sintomas são mais intensos
à noite ou nas primeiras horas da manhã.
Os indivíduos que apresentam episódios desta tríade têm asma brônquica até prova em contrário. Caracteristicamente,
os sintomas são desencadeados por um dos seguintes fatores: exposição a alérgenos, infecção viral respiratória, mudança climática
(ar frio), fumos, exercício físico, fármacos e estresse emocional.
Quando os episódios de crise asmática ocorrem apenas em determinadas estações do ano, está caracterizada a asma
sazonal. Tais pacientes geralmente apresentam asma extrínseca alérgica, sendo os episódios relacionados a determinados alérgenos
que aparecem naquelas épocas, como o pólen durante a primavera de países temperados, e os fungos nas estações úmidas. A asma
alérgica relacionada a antígenos presentes durante todo o ano é denominada asma perene (ex.: ácaros, animais domésticos etc).
Tosse asmática: alguns pacientes manifestam-se apenas com crises de tosse seca ou mucoide. Eles apresentam tosse
noturna e normalmente são usuários crônicos de drogas antitussígenas. Na investigação de toda tosse crônica inexplicada deve ser
pesquisada a presença de asma. Quando não há sibilos no exame físico, temos a chamada asma oculta. A tosse, na asma, está
relacionada à hiper-reatividade das vias aéreas mais proximais, ricas em receptores da tosse.
Rinite alérgica e dermatite atópica: são condições bastante associadas à asma alérgica e devem ser questionadas na
anamnese de todos os pacientes asmáticos.
OBS: O diagnóstico de asma brônquica é facilmente suspeitado pela clínica. No entanto, recomenda-se que um
método complementar que demonstre e quantifique a presença de obstrução reversível das vias aéreas seja sempre utilizado
para confirmação.
EXAME FÍSICO E EXAMES COMPLEMENTARES INESPECÍFICOS
Na crise asmática há taquipneia (geralmente > 25 ipm), com tempo expiratório prolongado em relação ao tempo
inspiratório, o que caracteriza a dispneia por obstrução de vias aéreas.
Nos casos mais graves, podemos observar sinais de esforço ventilatório: tiragem intercostal, tiragem supraclavicular,
batimento de asa do nariz, respiração abdominal. O esforço é nitidamente maior na fase expiratória! Na crise asmática grave, que
cursa com hipoxemia, podemos observar cianose do tipo central (lábios, lobo da orelha).
A ausculta respiratória revela o sinal clássico da asma: os sibilos. Os sibilos podem ser apenas expiratórios e
geralmente são difusos. Quando a obstrução brônquica é mais intensa, auscultam-se sibilos também na fase inspiratória. Na crise
asmática MUITO grave pode-se não auscultar sibilos, devido ao fluxo aéreo extremamente baixo. Neste caso, há uma redução
generalizada do murmúrio vesicular associada a importante esforço ventilatório. Roncos também podem ser auscultados,
especialmente quando as vias aéreas estão cheias de muco.
Na crise grave, o paciente pode ainda apresentar pulso paradoxal (redução exagerada na pressão sistólica durante a
inspiração) e assumir a famosa posição de tripé (posição sentada com os braços estendidos suportando o tórax, a fim de melhorar
a mecânica da musculatura acessória).
Os exames laboratoriais fora da crise podem mostrar eosinofilia e aumento da IgE sérica total. Dependendo do
caso, solicita-se a dosagem de IgE contra antígenos específicos, para determinação de alergia a estes. Testes cutâneos também
podem ser feitos, e a combinação de ambos os métodos aumenta a acurácia do diagnóstico de alergia.
A Radiografia de Tórax pode ser solicitada, visando basicamente afastar complicações (pneumonia, pneumotórax).
No asmático leve, a radiografia é totalmente normal. No asmático moderado a grave, podemos observar sinais de hiperinsuflação
pulmonar (padrão semelhante à DPOC).
O Exame de Escarro pode revelar alterações bastante sugestivas: (1) cristais de Charcot-Leiden (precipitados
cristalinos, contendo eosinófilos degenerados); (2) espirais de Curschmann (cilindros de muco formados nos bronquíolos,
envoltos por fibrilas em forma de espiral); (3) corpúsculos de Creola (aglomerados de células epiteliais descamadas).
PROVAS DE FUNÇÃO PULMONAR (PFP)
Exame fundamental na asma, não só para confirmar o diagnóstico, mas também para estratificar a gravidade da
obstrução brônquica e a resposta à terapia. Constitui-se de quatro elementos principais: (1) espirometria; (2) cálculo dos volumes
pulmonares; (3) capacidade de difusão de monóxido de carbono (CO); (4) gasometria arterial.
ESPIROMETRIA
Esta parte do exame é a mais importante no que concerne à asma. O paciente faz uma inspiração profunda máxima
e depois expira de forma forçada todo o ar possível. Os fluxos e volumes de ar expirados são mensurados no aparelho e
comparados com valores estabelecidos para o sexo, peso, altura e idade.
A classificação quanto à gravidade que acabamos de apresentar sempre foi motivo de controvérsia. A razão é que,
para estabelecer a verdadeira gravidade da asma, além de quantificar as manifestações clinicofuncionais, é preciso determinar
também a resposta ao tratamento, isto é, se a doença pode ou não ser facilmente controlada com as medicações. Por exemplo:
imagine dois pacientes virgens de tratamento com sintomas asmáticos semelhantes, classificados num primeiro momento como
“asma persistente grave”. Viu-se que não era incomum que um deles apresentasse adequado controle clínico com baixas doses de
corticoide inalatório, ao passo que o outro poderia se mostrar refratário até mesmo à associação de corticoide inalatório em altas
doses + agonistas beta-2 de longa ação + corticoide oral. E agora, quem tem a asma mais grave??? A classificação antiga, na
realidade, não consegue responder corretamente a este quesito.
Atualmente se recomenda classificar a asma de acordo com o nível de controle. O termo “controle” refere-se ao grau
de supressão das manifestações clínicas da doença, de forma ESPONTÂNEA (paciente virgem de tratamento) OU EM
RESPOSTA À TERAPIA, e abrange 2 esferas principais:
(1) controle das manifestações clínicas atuais;
(2) controle dos riscos futuros.
As manifestações clínicas atuais referem-se ao comportamento da doença nas últimas 4 semanas, o que permite
estabelecer 3 diferentes níveis de controle: asma controlada, asma parcialmente controlada e asma não controlada. O controle
dos riscos futuros refere-se à redução das chances de exacerbação, perda acelerada da função pulmonar e efeitos colaterais do
tratamento – ver Tabela 3. Os riscos futuros estão diretamente relacionados ao grau de controle das manifestações clínicas atuais,
sendo bastante reduzidos quando o paciente consegue manter a “asma controlada” em longo prazo e com baixas doses de
medicação.
Assim, a atual classificação clínica da asma consiste no emprego do esquema apresentado na Tabela 3, independente
se o paciente é virgem de tratamento ou não. As decisões terapêuticas sempre serão tomadas objetivando manter a asma sob
controle. A conduta baseada nesse sistema será explicada com detalhes adiante (“Etapas de Controle”, em “Terapia de
Manutenção”).
O controle da asma expressa o grau de supressão das manifestações clínicas da doença, sendo variável em dias ou
semanas por influência da adesão ao tratamento e exposição a fatores desencadeantes. Já a gravidade é uma característica intrínseca
da doença, relacionando-se com a intensidade do tratamento necessário para se obter o controle.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Uma boa anamnese, seguida de exame físico minucioso, em geral, permite o reconhecimento das principais condições
que mimetizam a asma.
Nas obstruções de via aérea alta o paciente apresenta estridor, um sinal semiológico mais audível na região cervical
lateral e cujas características sonoras são mais intensas na fase inspiratória (no broncoespasmo os sibilos são difusos pelos campos
pulmonares e predominantemente expiratórios, acompanhados de aumento do tempo expiratório). Sibilos localizados sugerem
aspiração de corpo estranho ou tumor endobrônquico (em crianças e idosos, respectivamente). A broncoscopia auxilia no
diagnóstico de todas essas situações.
Na insuficiência ventricular esquerda pode haver edema da mucosa brônquica como parte da congestão pulmonar,
gerando sibilos difusos (“asma cardíaca”). No entanto, nestes casos, nota-se a presença de estertores crepitantes bibasais, achado
que NÃO faz parte do quadro de asma. Aumento de BNP, além de ECG e ecocardiograma alterados, confirmam a origem
cardiogênica dos sintomas.
MAS CUIDADO: Todos os diagnósticos diferenciais da asma podem COEXISTIR com a asma! Logo, a fim de afastar
em definitivo a presença desta doença, é preciso realizar testes de função pulmonar, de preferência espirometria com prova
broncodilatadora.
Portadores de DPOC podem apresentar um componente significativo de reversibilidade sobreposto à obstrução
brônquica fixa (irreversível) de base. Tais indivíduos são considerados portadores de ambas as doenças, se beneficiando do uso de
corticoide inalatório em função do componente asmático.
FONTE: Apostila do MEDCURSO.
TRATAMENTO ASMA ATUALIZADO
TRATAMENTO PREFERENCIAL DE CONTROLE DA ASMA
O tratamento da asma tem por objetivo atingir e manter o controle atual da doença e prevenir riscos futuros
(exacerbações, instabilidade da doença, perda acelerada da função pulmonar e efeitos adversos do tratamento). Isso implica em
uma abordagem personalizada, incluindo, além do tratamento farmacológico, a educação do paciente, o plano de ação por escrito,
o treinamento do uso do dispositivo inalatório e a revisão da técnica inalatória a cada consulta.
A base do tratamento medicamentoso da asma é constituída pelo uso de corticoide inalatório associado ou não a
um long-acting β2 agonist (LABA, β2-agonista de longa duração). Esses medicamentos estão disponíveis para uso no Brasil em
diversas dosagens e dispositivos inalatórios (Tabela 1).
Na prática clínica, a escolha da droga, do dispositivo inalatório e da respectiva dosagem deve ser baseada na avaliação
do controle dos sintomas, nas características do paciente (fatores de risco, capacidade de usar o dispositivo de forma correta e
custo), na preferência do paciente pelo dispositivo inalatório, no julgamento clínico e na disponibilidade do medicamento. Portanto,
não existe uma droga, dose ou dispositivo inalatório que se aplique indistintamente a todos os asmáticos.
O tratamento de controle da asma é dividido em etapas de I a V, nas quais a dose de CI é aumentada progressivamente
e/ou outros tratamentos de controle são adicionados (Figuras 1-3).
Os medicamentos de controle recomendados nas diferentes etapas do tratamento estão descritos a seguir.
CORTICOIDE INALATÓRIO
A eficácia dos diferentes CIs varia de acordo com sua farmacocinética e farmacodinâmica, com a deposição pulmonar
e com a adesão ao tratamento. A equivalência dos CIs, dividida em dosagens baixa, média e alta, está discriminada na Tabela 2. A
avaliação da resposta ao tratamento com CI deve ser feita pela combinação de parâmetros clínicos e funcionais. Após a obtenção e
manutenção do controle da asma por um tempo prolongado (não inferior a 3 meses), a dose do CI pode ser reduzida para uma dose
mínima, objetivando utilizar a menor dose para manter o controle da asma.
O uso de CI pode causar efeitos adversos locais, como irritação da garganta, disfonia e candidíase. O risco de
efeitos adversos diminui com o emprego de inalador pressurizado dosimetrado com espaçador e com higiene oral após a inalação
de cada dose do CI. A utilização de doses altas de CI por tempo prolongado aumenta o risco de efeitos adversos sistêmicos, como
redução da densidade mineral óssea, infecções respiratórias (incluindo tuberculose), catarata, glaucoma e supressão do eixo
hipotálamo-pituitária-adrenal.
CORTICOIDE INALATÓRIO ASSOCIADO A LABA
A associação de CI com um LABA ou LABA de ultralonga duração é o tratamento de controle preferencial nas
etapas III a V da asma, ou seja, quando o tratamento com CI isolado não é suficiente para atingir e manter o controle da doença.
As evidências para o uso da associação CI + LABA como tratamento de controle preferencial nas etapas III-V do tratamento da
asma são muito robustas.
Em sua mais recente edição, a GINA amplia essa recomendação, indicando a associação de baixas doses de CI +
formoterol por demanda como tratamento preferencial para o controle da asma na etapa I. Na etapa II a recomendação de tratamento
preferencial é opcional: CI em baixas doses continuamente ou CI + formoterol por demanda.
O racional para o uso da associação CI + LABA é baseado em fortes evidências de que essa associação é mais eficaz
em controlar os sintomas da asma e reduzir as exacerbações e a perda acelerada da função pulmonar após exacerbações do que a
monoterapia com CI. Além disso, existem evidências mostrando que a associação CI + LABA resulta em um efeito sinérgico
dessas drogas, o que possibilita uma maior eficácia anti-inflamatória com uma menor dose de CI e, consequentemente, com menos
efeitos adversos.
ESTRATÉGIA DE USO DO CI + LABA: DOSE FIXA OU DOSE VARIÁVEL
O uso da associação CI + LABA no tratamento da asma pode ser indicado em dose fixa associada a um SABA de
resgate, ou ainda em dose variável com budesonida + formoterol ou beclometasona + formoterol de manutenção e resgate, usando
um único inalador. A eficácia das estratégias fixa ou variável está confirmada por diversas meta-análises, ECRs e estudos de vida
real.
Até o presente, nenhuma meta-análise comprovou a superioridade de uma ou de outra estratégia e, dessa forma, a
GINA recomenda a associação CI + LABA sem distinção da estratégia (fixa ou variável) para o tratamento da asma nas
etapas III-V.
MANEJO DA ASMA POR ETAPAS BASEADO NO CONTROLE
O tratamento individualizado da asma de acordo com o controle da doença, características e preferências do paciente
e acesso ao tratamento implica em consultas mais frequentes (a cada 3-6 meses) e acompanhamento regular do asmático. O racional
para o ajuste do tratamento da asma é obter e manter o controle da doença, além de reduzir os riscos futuros com a menor dose
possível de medicação de controle. Todo paciente deve receber um plano de ação atualizado, e os resultados do ajuste da dose
devem ser acompanhados, se possível, com medidas objetivas.
O ajuste da dose (aumento ou redução) do tratamento de controle deve ser feito com ferramentas objetivas que indicam
o grau de controle da asma (Quadro 1). Se a asma não estiver controlada, ajusta-se a medicação subindo as etapas e, vice-
versa, se a asma estiver controlada (Figuras 1 e 2).
OBS: Existem frascos de aerossol que combinam anticolinérgicos com beta-2 de curta duração (ex.: Combivent® =
ipratrópio + salbutamol).
OBS: IMPORTANTE!!!
Sempre que estivermos tratando um paciente com asma, é recomendado, independentemente de sua gravidade, que
seja prescrito um broncodilatador inalatório de início rápido (ação curta) SOS, para que, aos primeiros sintomas de crise, o
paciente faça uso da medicação em casa. O tratamento precoce das exacerbações evita muitas vezes uma evolução complicada.
CORTICOSTEROIDES SISTÊMICOS
Os corticoides, em doses farmacológicas, inibem uma série de processos imunológicos e inflamatórios. Entre eles, a
formação de citocinas e interleucinas, especialmente pelos linfócitos T e eosinófilos. A lipocortina, proteína produzida pela ação
glicocorticoide, inibe diretamente o metabolismo do ácido aracdônico, bloqueando a fosfolipase A2. Com isso, a produção de
leucotrienos e prostaglandinas é bloqueada. A prednisona, por via oral (1-2 mg/ kg/dia, dose máx. 60 mg), tem mostrado
excelente ação no tratamento agudo da asma, com eficácia equivalente a dos corticoides venosos (ex.: metilprednisolona), mesmo
nas crises graves, sendo a droga de escolha. Desse modo, não se justifica um atraso na medicação devido à dificuldade de obtenção
de acesso venoso. O efeito, no entanto, demora entre 4-6h para começar, pois o mecanismo de ação envolve transcrição gênica.
Os corticoides sistêmicos devem ser mantidos por 7-10 dias, não havendo necessidade de suspensão paulatina (pode
suspender abruptamente). O risco de insuficiência adrenal geralmente só ocorre após o uso contínuo por > 3 semanas. Evidências
recentes sugerem que os corticoides inalatórios, quando utilizados em doses altas (4x a dose basal, por alguns dias), podem ser
efetivos no tratamento da crise asmática desde que iniciados precocemente.
ESTRATÉGIA NA CRISE ASMÁTICA (PELO CONSENSO BRASILEIRO DE ASMA)
A maioria das crises asmáticas pode ser abordada pelo próprio paciente. Para tanto, ele deve ser instruído a
reconhecer o início da crise, utilizar corretamente a medicação e reconhecer a eficácia ou não da terapia. O fluxômetro
portátil (medidor de PFE) é extremamente útil nesse sentido. Clinicamente, estagiamos a crise asmática em leve/moderada, grave
e muito grave (insuficiência respiratória). Os principais critérios de gravidade são: dificuldade de falar, taquipneia > 30 irpm,
taquicardia > 110 bpm, uso da musculatura acessória (esforço ventilatório), cianose central e a presença de pulso paradoxal (queda
da PA sistólica na inspiração) – veja a Tabela 5.
O Consenso Americano de Asma propõe um esquema mais simplificado para avaliação de gravidade da crise
asmática, conforme exposto na Tabela 6.
O sinal de maior gravidade é a queda do nível de consciência – sonolência, desorientação, torpor – denotando
hipercapnia e acidose respiratória aguda por fadiga, ou mesmo hipoxemia grave. Esses pacientes devem ser imediatamente
intubados e colocados em ventilação mecânica.
Nos pacientes sem indicação inicial de suporte respiratório invasivo, os sedativos e analgésicos opioides são
contraindicados, por serem potencialmente depressores do sensório e do drive respiratório.
A oxigenoterapia e a oximetria de pulso estão indicadas em todos os pacientes com crise moderada a grave. Nos
pacientes com insuficiência respiratória iminente, pode-se fazer uso de beta-2-agonista intravenoso, especialmente em crianças
(devido às consequências menos deletérias da taquicardia). Adrenalina subcutânea também pode ser feita neste subgrupo ou nos
adultos que apresentam outros indícios de anafilaxia ou angioedema.
Metilxantinas (aminofilina e teofilina) não devem ser empregadas como tratamento inicial da crise asmática, porém,
representam uma opção nos quadros graves e refratários. Outra terapia “alternativa” é o sulfato de magnésio por via intravenosa
ou inalatória. Os pacientes em ventilação mecânica podem se beneficiar de anestésicos broncodilatadores como o halotano.
OBS: Crise Asmática na Gestante
O tratamento da crise asmática em gestantes é basicamente idêntico ao já descrito. As únicas diferenças são as
contraindicações relativas do brometo de ipratrópio e dos beta-2-agonistas DURANTE o trabalho de parto (o primeiro pode
causar taquicardia fetal, e os últimos podem inibir as contrações uterinas).
A hipoxemia na gestante pode levar ao sofrimento fetal, devendo ser tratada de forma mais agressiva.
TERAPIA DE MANUTENÇÃO
Eis aqui a base terapêutica da asma que, como vimos, é uma doença inflamatória crônica. O grande avanço no controle
dessa doença reside justamente no desenvolvimento da terapia de manutenção, que comprovadamente influi de forma positiva
em sua história natural (evitando o “remodelamento brônquico” e a evolução para perda irreversível da função pulmonar).
Vamos primeiramente descrever as chamadas “etapas de controle” (uso escalonado dos medicamentos em função do
grau de controle da asma), para depois esmiuçar os principais detalhes acerca de cada classe farmacológica.
ETAPAS DE CONTROLE
Observe na Tabela 7 as recomendações da última diretriz de asma da SBPT (que inclusive está em consonância com
as recomendações do último guideline norte-americano). Lembre-se que o objetivo é manter a asma sob controle com a menor
dose de medicação possível, de modo a reduzir também os riscos futuros.
Se o paciente não tiver sua asma controlada com determinada etapa, deve-se progredir para a etapa subsequente após
se certificar de que o paciente adere corretamente à prescrição.
CORTICOSTEROIDES INALATÓRIOS
São as drogas de escolha no tratamento de manutenção da asma. Os corticosteroides são potentes anti-inflamatórios
e imunomoduladores, porém, em níveis plasmáticos altos e por tempo prolongado (provenientes da terapia sistêmica contínua)
promovem uma série de efeitos adversos (osteoporose, miopatia, hipertensão, diabetes, úlcera péptica, imunodepressão, edema e
catarata). Entretanto, se a administração for inalatória, conseguem-se concentrações eficazes nas vias aéreas sem aumentar demais
os níveis plasmáticos. Em doses baixas ou moderadas, os únicos efeitos adversos relatados são locais: candidíase oral e disfonia. A
candidíase oral pode ser prevenida pelo uso do espaçador e pela lavagem bucal (retirar partículas grandes que se precipitam na
cavidade oral). Em crianças, doses elevadas de corticoide inalatório aumentam o risco de catarata.
Vários estudos demonstraram que os corticoides inalatórios melhoram de forma duradoura os sintomas, bem como
parâmetros objetivos da espirometria (aumento do VEF1,0, do índice de Tifennau, da CVF e do PFE), além de reduzir as taxas de
mortalidade e hospitalização.
Antigamente, a terapia de manutenção da asma utilizava doses regulares (8/8h ou 6/6h) de beta-2-agonistas de curta
ação. Hoje sabemos que, além de ineficaz, esta conduta pode ser prejudicial e aumentar a mortalidade! O uso contínuo dessas
drogas leva ao down regulation dos receptores β2, reduz a ação dos corticoides e se associa a efeitos cardiológicos importantes. Por
isso, atualmente, qualquer asmático com indicação de terapia de manutenção deve fazer uso de uma droga que interfira
primariamente no processo imunoinflamatório da árvore brônquica, sendo os corticosteroides inalatórios as drogas de escolha.
Os principais corticoides inalatórios no mercado são: (1) propionato de beclometasona; (2) triancinolona; (3)
fluticasona; (4) flunisolida; (5) budesonida; e (6) mometasona. Os quatro últimos são considerados de última geração, por terem
meia-vida mais longa. Na tabela, estão relacionadas às preparações comerciais destas drogas sob a forma MDI.
O bambuterol é um β-2-agonista de ação prolongada administrado por via oral, 1 vez ao dia. Esta droga pode ser uma
alternativa para crianças e idosos que tenham dificuldade na utilização dos aerossóis dosimetrados. É útil também nos pacientes
com asma noturna.
A terbutalina está disponível, no mercado brasileiro, sob a forma de cápsulas de liberação lenta. Apesar de os β-2-
agonistas administrados de forma sistêmica (oral ou venosa) serem caracteristicamente relacionados a significativos efeitos
adversos pelo estímulo β1, a terbutalina de liberação lenta costuma ser bem tolerada nas doses convencionais. A posologia é de
12/12h. A importância desta preparação farmacológica é o seu baixo preço em relação aos β-2-agonistas de ação prolongada
inalatórios.
Atualmente diversos produtos associam o beta-2-agonista de longa ação com o corticoide inalatório (ex.: FORASEQ,
ALENIA, SERETIDE).
XANTINAS
As xantinas são drogas bastante antigas utilizadas no tratamento da asma. Derivam de alcaloides presentes em uma
série de espécies de plantas (são “parentes” da cafeína). Nas últimas décadas seu papel no tratamento da asma tem sido questionado.
Pensou-se, durante muito tempo, que a principal ação das xantinas fosse o efeito broncodilatador. Na verdade, nas doses
convencionais não tóxicas, o efeito broncodilatador é discreto! Existem outros efeitos mais significativos que beneficiam os
pacientes com asma, como os efeitos imunomodulador e estimulador do movimento ciliar, bem como o efeito analéptico
respiratório (maior contratilidade diafragmática).
A teofilina é comercializada sob a forma de xarope, comprimidos ou cápsulas de liberação lenta.
Sua solubilidade é aumentada quando combinada ao composto etilenodiamina, formando a aminofilina, substância
que contém 80% de teofilina. A aminofilina está disponível sob a forma de ampolas para uso intravenoso. Apesar das controvérsias,
é bastante utilizada como adjuvante no tratamento da crise asmática em nosso meio.
Uma xantina mais moderna, a bamifilina, possui vantagens farmacológicas sobre a teofilina: é menos tóxica e não
exerce efeito estimulante sobre o SNC, além de possuir meia-vida mais longa, podendo ser feita de 12/12h. A desvantagem é o
preço elevado, e o fato de ser uma droga pouco estudada.
O mecanismo de ação das xantinas envolve inibição da fosfodiesterase, enzima que degrada o AMP-cíclico
intracelular. Como o AMPc promove relaxamento da musculatura lisa e contração da musculatura estriada, haveria broncodilatação,
além de aumento na contratilidade da musculatura respiratória e do miocárdio. Mas, como já dissemos, em doses farmacológicas
tais efeitos são discretos. As xantinas antagonizam também a adenosina, bloqueando seus receptores purinérgicos. A adenosina é
um broncoconstritor endógeno.
Outro uso das xantinas na prática médica é o emprego de aminofilina como antídoto do dipiridamol, nas cintilografias
miocárdicas com “estresse farmacológico”. O dipiridamol age através dos receptores purinérgicos, que são bloqueados no fim do
exame pela infusão lenta de aminofilina (o que ajuda a reverter uma eventual isquemia miocárdica identificada).
Atualmente, considera-se que o principal efeito antiasmático das xantinas seja sua ação IMUNOMODULADORA,
responsável pela relativa eficácia na terapia de manutenção da asma. A aminofilina não é mais indicada no tratamento da crise
asmática. Pode ser associada aos corticosteroides inalatórios no tratamento de manutenção (droga de 3° linha). A forma preferida
é a cápsula de liberação lenta, disponível em nosso mercado.
Efeitos Adversos: o índice terapêutico é baixo (relação entre concentração tóxica e terapêutica). A toxicidade por
teofilina gera distúrbios gastrointestinais (náuseas, vômitos), arritmias cardíacas, cefaleia e crise convulsiva generalizada.
A dose oral varia de 200-1200 mg/dia. A monitorização dos níveis séricos é essencial no uso desses fármacos, devendo
ficar entre 10-20 mg/ml. A dose venosa de aminofilina deve ser cuidadosamente calculada para se evitar a overdose. A dose de
ataque é de 5-6 mg/kg, diluído em 100 ml de soro, correr em 20 minutos. A dose de manutenção em adultos é de 0,5 mg/ kg/h.
Deve ser aumentada nos fumantes (para 0,8 mg/kg/min) e reduzida nos idosos, cardiopatas e hepatopatas (para 0,3 mg/kg/min),
bem como naqueles que usam drogas que reduzem a depuração da teofilina.
Interação Medicamentosa: diversas drogas aumentam o efeito da teofilina por reduzir a sua depuração plasmática:
cimetidina, eritromicina, ciprofloxacina, alopurinol. Outras diminuem o efeito da droga, por aumentar a sua depuração:
fenobarbital, fenitoína, tabaco, maconha.
BRONCODILATADORES
Relaxam a musculatura lisa brônquica, revertendo o broncoespasmo. Não interferem no processo inflamatório
crônico da via aérea, logo, não servem como terapia de controle, isto é, não devem ser usados isoladamente em longo prazo, pois
não evitam o remodelamento brônquico.
Existem três representantes principais:
(1) agonistas β2 -adrenérgicos;
(2) antagonistas muscarínicos (anticolinérgicos);
(3) teofilina.
Os agonistas β2 -adrenérgicos são as drogas de escolha, por terem maior eficácia e início de ação mais rápido. Por
serem específicos para o receptor β2, têm poucos efeitos diretos sobre o coração (que possui receptores β1). A preferência é pela
via inalatória, já que a via sistêmica (oral ou parenteral) acarreta mais efeitos colaterais. Podem ter meia-vida curta (SABA) ou
longa (LABA).
As principais drogas em uso clínico na atualidade estão descritas na Tabela 20.
Os principais efeitos colaterais dos agonistas β2 -adrenérgicos são tremores e palpitações, ocorrendo principalmente
em IDOSOS. Por estimularem a entrada de K+ nas células, podem causar discreta redução da calemia, em geral, sem repercussões
clínicas.
Os anticolinérgicos bloqueiam receptores muscarínicos de acetilcolina, inibindo apenas o componente neurogênico
do broncoespasmo (por isso sua menor eficácia em comparação com os agonistas β2 -adrenérgicos, que inibem todos os
mecanismos do broncoespasmo). Também reduzem a secreção de muco na via aérea. São classificados como de meia-vida curta
(brometo de ipratrópio ou Atrovent®) ou longa (tiotrópio ou Spiriva®): SAMA e LAMA, respectivamente.
O SAMA pode ser usado como adjuvante no tratamento agudo das crises asmáticas graves, mas como seu início de
ação é mais tardio que o dos agonistas β2 -adrenérgicos, deve sempre ser associado a estes. O LAMA pode ser associado ao
tratamento crônico no paciente (> 12 anos) que não obtém controle da asma com o uso de CI + LABA. Seu acréscimo melhora a
função pulmonar e diminui a ocorrência de crises!
Os efeitos colaterais também predominam em idosos: os principais são xerostomia (boca seca) e, mais raramente,
retenção urinária e glaucoma.
A teofilina de liberação lenta (Teolong®) é uma droga de uso oral que causa broncodilatação por inibir a enzima
fosfodiesterase. Isso aumenta os níveis de AMPc intracelular, produzindo relaxamento do músculo liso. Infelizmente, as doses
necessárias para promover broncodilatação costumam ser altas o bastante para induzir efeitos colaterais sistêmicos (nível sérico
entre 10- 20 mg/l). Ademais, a teofilina é bastante inferior ao SABA como agente broncodilatador.
Não obstante, foi descrito que a teofilina de liberação lenta em baixas doses (nível sérico entre 5-10 mg/l) parece
exercer discreta ação anti-inflamatória, por um mecanismo molecular diferente: silenciamento da expressão de genes pró-
inflamatórios. Por isso ela passou a ser aceita como alternativa no tratamento de controle da asma, de preferência como
adjuvante à combinação CI + LABA nos portadores de asma grave.
Existe uma formulação solúvel de teofilina para uso intravenoso, a aminofilina (Asmapen®). Antigamente ela era
muito usada como droga de segunda linha no tratamento da crise aguda grave e refratária em adultos, mas atualmente prefere-se o
sulfato de magnésio IV (dose única de 2 g em 20min). Como não mostrou benefícios em estudos clínicos em comparação com o
SABA, a aminofilina deixou de ser recomendada nos guidelines atuais, em função de sua baixa eficácia e baixo índice terapêutico.
Os principais efeitos colaterais são náuseas, vômitos e cefaleia. Intoxicações graves provocam crise convulsiva e
arritmias cardíacas, com risco de morte súbita.
CONTROLADORES DE INFLAMAÇÃO
Diversos fármacos são capazes de reduzir a inflamação asmática nas vias aéreas inferiores, reduzindo não apenas os
sintomas, mas também os riscos futuros, por evitar o remodelamento brônquico. São eles: (1) corticoide inalatório ou sistêmico;
(2) antagonistas do receptor de leucotrieno; (3) cromonas; (4) anti-IgE; e (5) anti-IL-5.
O corticoide inalatório revolucionou o tratamento da asma e hoje representa a base da terapia de controle. Quanto
mais precocemente iniciado, maior o benefício. O CI literalmente "limpa" a infiltração mucosa por linfócitos Th2, eosinófilos e
mastócitos, reduzindo a hiper-reatividade brônquica. Seu efeito se dá no núcleo das células, silenciando a expressão de genes pró-
inflamatórios e ativando a expressão de genes anti-inflamatórios.
Efeitos colaterais sistêmicos são raros (em geral, quando altas doses são usadas por longos períodos). Na realidade,
o bom controle da asma propiciado pelo CI faz com que o paciente necessite de menos cursos de corticoide oral/venoso, o que no
fim das contas resulta em menos exposição sistêmica. Não obstante, paraefeitos locais são relativamente comuns quando a técnica
de uso do inalador é inadequada.
O ideal é que seja utilizado um espaçador, cujo objetivo é reter partículas de aerossol de maior peso, evitando que
estas "caiam" na mucosa orofaríngea. Isso diminui a ocorrência de rouquidão, cujo mecanismo é a miopatia das cordas vocais. É
importante também enxaguar a boca com água e cuspir logo em seguida! Isso diminui a chance de candidíase oral.
Na Tabela 21 elencamos as principais formulações de corticoide inalatório e sua estratificação posológica.
Na Tabela 22 listamos as drogas e doses recomendadas para crianças com idade ≤ 5 anos.
Na Tabela 23 apresentamos as principais combinações de CI + LABA aprovadas para uso clínico (passos 3-5 em
adultos e adolescentes) e seus respectivos nomes comerciais.
Em relação ao uso sistêmico, já está provado que a via oral tem a mesma eficácia do que a via intravenosa no
tratamento das crises, sendo a primeira, pela sua maior comodidade, preferível. Ambas levam cerca de 4h para começar a agir.
Cerca de 1% dos asmáticos necessita de corticoide oral crônico como terapia adicional para controle da doença. A menor dose
possível deve ser empregada (de preferência ≤ 7.5 mg/dia de prednisona), mas mesmo assim o risco de efeitos colaterais sistêmicos
é significativo no longo prazo.
Os inibidores de leucotrienos também podem ser utilizados. Leucotrienos são mediadores inflamatórios com
poderosa ação broncoconstrictora secretados por mastócitos e eosinófilos na via aérea do portador de asma. O bloqueio de seu
receptor cys-LT1 por drogas de uso oral como zafirlucaste (Accolate®) e montelucaste (Singulair®, Piemonte®) é eficaz e bem
tolerado. A associação CI + LABA é superior como terapia de controle da asma no longo prazo, porém pode-se acrescentar um
antagonista de receptor de leucotrieno em pacientes que não atingem o controle da doença. A resposta é maior em alguns indivíduos
do que em outros e não existe uma explicação definitiva para este achado, tampouco uma maneira de prevê-lo.
Logo após a introdução dos antagonistas de leucotrieno, alguns estudos sugeriram que tais drogas se associariam a um
aumento na incidência da síndrome de Churg-Strauss (angiite com granulomatose eosinofílica). No entanto, parece que se trata
de uma associação não causal, isto é, não seriam essas drogas a causa direta da referida síndrome, e sim a suspensão da corticoterapia
nos pacientes que apresentavam melhora da asma em resposta aos antileucotrienos. O glicocorticoide sistêmico constitui a base
terapêutica da síndrome de Churg-Strauss. Como o diagnóstico desta condição, em geral, demora a ser estabelecido (por ser uma
doença raríssima), o paciente passa anos sendo taxado como portador de "asma grave", fazendo uso de corticoide oral. Um subgrupo
de portadores de asma grave que na verdade já possuía a síndrome de Churg-Strauss pode apenas ter sido "descoberto" após a
suspensão da corticoterapia devido à introdução dos antagonistas de leucotrieno, já que tais drogas não exercem qualquer efeito de
controle sobre esta síndrome vasculítica, apesar de poder amenizar seu componente asmático.
Cromonas como o cromoglicato (Intal®) e o nedocromil (Tilade®) são especialmente eficazes na asma alérgica e
na AIE, e já foram muito populares no tratamento da asma em crianças, porém, além de serem menos eficazes do que o CI, impõem
sérias dificuldades práticas: são necessárias várias administrações diárias, e seus inaladores precisam ser lavados com frequência
para não ficarem entupidos por resíduos da medicação. Atualmente são muito pouco usados.
O omalizumabe (Xolair®) é um anticorpo monoclonal anti-IgE indicado como adjuvante para pacientes com idade
≥ 6 anos que possuam asma alérgica refratária à combinação de CI + LABA na vigência de níveis elevados de IgE no sangue. Pode
melhorar o controle da doença e reduzir exacerbações. É ministrado pela via subcutânea a cada 2-4 semanas, e seu custo é muito
alto.
O mepolizumabe (Nucala®) e o reslizumabe (Cinqaero®) são anticorpos monoclonais anti-IL-5, enquanto o
benralizumabe (Fansera®) é um bloqueador do receptor de IL-5. Todos são de uso parenteral. Como a IL-5 é a citocina que
recruta e ativa eosinófilos, tais drogas reduzem eosinófilos no sangue e nos tecidos, podendo melhorar o controle da asma em
pacientes refratários às demais medicações que apresentem contagens elevadas de eosinófilos no escarro. Seu uso não foi aprovado
em crianças, e seu custo também é altíssimo.
FONTE: Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2020.
DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
A DPOC é definida como uma síndrome caracterizada pela obstrução crônica e difusa das vias aéreas inferiores,
de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. Geralmente estão incluídos nesta definição os
pacientes com bronquite obstrutiva crônica e/ou com enfisema pulmonar, os 2 principais componentes da doença, ambos
relacionados à exposição à fumaça do tabaco.
EPIDEMIOLOGIA
A DPOC é uma doença que acomete a população mundial. Sua prevalência vem aumentando nas últimas décadas,
especialmente no sexo feminino. É caracteristicamente uma doença de adultos mais velhos, manifestando-se na 5° ou 6° décadas
de vida. A preponderância no sexo masculino é explicada basicamente pela maior prevalência do tabagismo nos homens, porém
esta diferença tem se reduzido pela maior proporção de mulheres fumantes.
Enquanto a mortalidade mundial por doenças cardiovasculares, como o IAM e o AVE, vem decaindo, a mortalidade
relacionada à DPOC está aumentando progressivamente nos últimos anos, sendo atualmente a 4° causa de morte nas estatísticas
dos EUA.
FATORES DE RISCO
- Tabagismo e DPOC: cerca de 1/3 população adulta fuma. O tabagismo é sem dúvida o principal fator de risco para
a DPOC, havendo uma história tabágica positiva em 90% dos casos. Estima-se que 15% dos fumantes de 1 maço/dia e 25% dos
fumantes de 2 maços/dia terão DPOC futuramente se mantiverem o hábito tabágico.
As substâncias do tabaco causam uma série de alterações nas vias aéreas:
(1) estimulam a produção de muco e a hipertrofia das glândulas submucosas;
(2) reduzem ou bloqueiam o movimento ciliar das células epiteliais;
(3) ativam macrófagos alveolares a secretar fatores quimiotáticos (especialmente o IL-8) que estimulam o
recrutamento alveolar de neutrófilos;
(4) ativam neutrófilos, que passam a produzir mais enzimas proteolíticas, como a elastase;
(5) inibem a atividade da α-1-antitripsina, enzima inibidora fisiológica da elastase.
OBS: IMPORTANTE!!!
A quantificação do tabagismo é dada pela “carga tabágica”. Esta é calculada multiplicando-se a quantidade de maços
consumidos por dia pelo número de anos de tabagismo. Por exemplo, um paciente que fumou dois maços por dia por 30 anos,
possui uma carga tabágica de 60 maços/ano. A maioria dos pacientes com DPOC possui uma carga tabágica de 40 maços/ano,
sendo incomum abaixo de 20 maços/ano.
- Asma e DPOC: a presença de hiper-reatividade brônquica na DPOC é frequentemente encontrada, sendo
denominada por alguns “bronquite asmática obstrutiva crônica”. O componente “asmático” da obstrução pode ser revertido com
broncodilatadores e, principalmente, com o uso de corticoide inalatório. Não se conhece exatamente a relação patogênica entre
asma e DPOC. Na verdade, parecem ser doenças distintas, mas que podem superpor-se.
A inflamação das vias aéreas encontrada na bronquite obstrutiva crônica difere daquela observada na asma:
enquanto na asma a inflamação é dependente de linfócitos T CD4, eosinófilos, basófilos e mastócitos, havendo pouca ou nenhuma
fibrose; na bronquite a inflamação é dependente de linfócitos T CD8 citotóxicos, macrófagos e neutrófilos, estimulando a fibrose
das vias aéreas.
Alguns casos de asma, contudo, podem evoluir com o fenômeno do remodelamento das vias aéreas, levando à
obstrução crônica progressiva por mecanismo fibrogênico. Estes pacientes apresentam um quadro fisiopatológico muito semelhante
ao da DPOC.
- Outros fatores de risco: o tabagismo passivo, a poluição atmosférica extra e intradomiciliar (ex.: fogões a lenha),
bem como a exposição ocupacional a poeiras orgânicas (minas de carvão, ouro), fumaças (ex.: cádmio) e vapores são considerados
fatores de risco para DPOC, podendo ser aditivos ao efeito do tabagismo ou explicar a ocorrência de DPOC em não tabagistas.
Existe um dado interessante (e preocupante) sobre o tabagismo passivo: crianças expostas ao tabagismo materno,
inclusive durante a gestação, apresentam crescimento pulmonar reduzido, o que é fator de risco para DPOC no futuro (lembre-se
que o VEF1 máximo é atingido por volta dos 20-30 anos – nestas crianças o VEF1 máximo atingido pode estar abaixo do normal).
O baixo nível socioeconômico também é fator de risco bem estabelecido para DPOC! É provável que múltiplos
“componentes” da pobreza sejam diretamente responsáveis por este efeito (ex.: baixo peso ao nascer; maior exposição aos poluentes
extra ou intradomiciliares; maior número de infecções respiratórias na infância etc.).
A Deficiência de Alfa-1-Antitripsina é uma doença genética autossômica recessiva que cursa frequentemente com
enfisema pulmonar isolado em crianças ou adolescentes. Em 10% dos casos ocorre hepatopatia crônica que evolui para cirrose
hepática. Os indivíduos homozigotos para o gene Z (genótipo PiZZ em vez do genótipo normal PiMM) têm uma concentração de
α-1-antitripsina menor que 10% do valor normal. A ausência da ação desta enzima deixa livre a elastase neutrofílica que vai
degradando paulatinamente o parênquima pulmonar. O tratamento desses pacientes pode ser feito com a infusão venosa semanal
de alfa-1-antiprotease. Os pacientes heterozigotos (PiZM) parecem ter um risco apenas levemente aumentado para DPOC.
HISTOPATOLÓGICO
Para compreender a fisiopatologia da doença, devemos antes descrever seus achados patológicos. A maioria dos
pacientes com DPOC apresenta 2 importantes e distintos componentes da doença, ambos altamente relacionados ao tabagismo:
Bronquite Obstrutiva Crônica; Enfisema Pulmonar.
Bronquite Obstrutiva Crônica: as alterações patológicas principais são: (1) hipertrofia e hiperplasia das glândulas
submucosas secretoras de muco associadas a um aumento no número de células caliciformes da mucosa (daí o estado
hipersecretor), presentes principalmente nas vias aéreas proximais; (2) redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao
espessamento da parede brônquica por edema e fibrose (bronquiolite obliterante).
Enfisema Pulmonar: definido como um alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos, decorrente da
destruição progressiva dos septos alveolares. O enfisema causa obstrução crônica das vias aéreas distais pelo fato de haver perda
no tecido elástico de sustentação da parede brônquica, o que permite a redução do seu lúmen, principalmente na fase expiratória.
O tipo patológico mais comum é o enfisema centroacinar. O alargamento e a destruição parenquimatosa
encontram-se nos bronquíolos respiratórios, ou seja, na região central do ácino ou lóbulo pulmonar. Esta é a forma relacionada ao
tabagismo, por isso de longe a mais comum. O processo predomina nos lobos superiores dos pulmões.
O segundo tipo patológico é o enfisema panacinar, típico da deficiência de α-1-antitripsina. Neste caso, o processo
mórbido distribui-se uniformemente pelo ácino, na região central e periférica. Observe a Figura 2.
HISTÓRIA CLÍNICA
A queixa mais marcante dos pacientes com DPOC é a dispneia aos esforços. A evolução é insidiosa, progressiva,
marcada por pioras agudas desencadeadas por fatores descompensantes (ex.: infecção respiratória). Com o avançar da doença, a
dispneia acaba por ser desencadeada com níveis cada vez menores de esforço, podendo evoluir para dispneia em repouso ou aos
mínimos esforços. Eventualmente pode haver ortopneia e dispneia paroxística noturna (embora esses sintomas sejam mais
sugestivos de insuficiência cardíaca) cujo mecanismo pode ser atribuído a dois fatores: (1) piora da mecânica diafragmática no
decúbito dorsal; (2) aumento da secreção brônquica pela hiperatividade vagal noturna.
A tosse é outro sintoma de extrema frequência na DPOC, sendo comumente acompanhada de expectoração e muitas
vezes precedendo o quadro dispneico. Cabe aqui a seguinte definição:
Bronquite Crônica é definida como a entidade clínica na qual o paciente apresenta tosse produtiva (geralmente
matinal) por mais de 3 meses consecutivos de um ano e há mais de dois anos.
A causa na grande maioria dos casos de bronquite crônica é o tabagismo. O seu mecanismo é a hipertrofia das
glândulas submucosas que passam a secretar quantidades expressivas de muco. O muco acumula-se nas vias aéreas, principalmente
durante a noite de sono, pois o tabagismo inibe a atividade ciliar do epitélio brônquico.
OBS: Quando a bronquite crônica não está relacionada à obstrução crônica de vias aéreas, denomina-se Bronquite
Crônica Simples. Esta entidade não é uma DPOC.
EXAME FÍSICO
Os achados do exame físico variam de acordo com a forma predominante da doença (enfisematoso ou bronquítico).
No paciente com bronquite obstrutiva crônica, a ausculta pulmonar revela uma série de ruídos adventícios, tais como sibilos,
roncos, estertores crepitantes e subcrepitantes, associados à diminuição do murmúrio vesicular. Nos pacientes com predomínio
do componente enfisematoso, a ausculta revela apenas a diminuição do murmúrio vesicular, sem nenhum ruído adventício.
A elasticidade e a expansibilidade pulmonar estão reduzidas, enquanto a percussão mostra aumento do timpanismo.
A respiração do paciente com DPOC pode chamar atenção para um detalhe especial: a fase expiratória está
desproporcionalmente prolongada em relação à fase inspiratória. Nos pacientes dispneicos, o esforço é maior na expiração,
havendo contração da musculatura abdominal. Alguns pacientes expiram como se estivessem soprando.
Nos casos mais avançados, o paciente pode mostrar-se pletórico, ou seja, com um tom de pele avermelhado. O motivo
é a policitemia reativa à hipoxemia crônica, mediada pelo aumento da eritropoietina renal. A dessaturação da hemoglobina
associada à eritrocitose leva à cianose. A mistura do tom avermelhado com o tom azulado da cianose dá o aspecto da eritrocianose.
O aspecto do tórax pode revelar a hiperinsuflação pulmonar, com aumento do diâmetro anteroposterior – “tórax em
tonel”. Nos pacientes com cor pulmonale, o edema de membros inferiores e a turgência jugular patológica podem chamar atenção.
O baqueteamento digital não é um sinal do DPOC! Seu aparecimento deve levar à investigação de outras doenças,
sendo a neoplasia de pulmão uma das causas mais importantes nesse contexto.
O exame físico pode revelar dois tipos estereotipados de pacientes: os pink puffers e os blue bloaters.
- Pink Puffers: são os “sopradores róseos”. Este é o estereótipo do enfisematoso. Na inspeção, notam-se apenas a
pletora e o tórax em tonel. Geralmente são magros, às vezes consumidos pela doença, apresentando dispneia do tipo expiratória
(“sopradores”), mas sem sinais de cor pulmonale e hipoxemia significativa. A ausculta pulmonar revela apenas a diminuição
acentuada do murmúrio vesicular, sem ruídos adventícios.
- Blue Bloaters: são os “inchados azuis”. Este é o estereótipo do bronquítico grave. Estes pacientes possuem um
distúrbio mais grave da troca gasosa do que o enfisematoso puro, apresentando-se com hipoxemia significativa, manifesta como
cianose (“azuis”). A hipoxemia leva ao cor pulmonale e, portanto, ao quadro de insuficiência ventricular direita e congestão
sistêmica. Daí o corpo inchado (bloater). Estes pacientes frequentemente são obesos e apresentam a síndrome da apneia do sono.
A ausculta pulmonar é rica em ruídos adventícios (sibilos, roncos, estertores).
É importante ressaltar que a grande maioria dos pacientes com DPOC apresenta graus variados de bronquite obstrutiva
crônica e enfisema, apresentando um quadro misto entre esses dois estereótipos!
EXAMES COMPLEMENTARES INESPECÍFICOS
HEMOGRAMA
Pode mostrar eritrocitose (hematócrito maior que 55%). O tabagismo por si só pode estar associado à eritrocitose
(síndrome de Gäisbok), porém a hipoxemia deve ser afastada como mecanismo causal. A hipoxemia é um estímulo importante para
a produção de eritropoietina pelos rins, levando ao aumento da produção de hemácias na medula óssea.
GASOMETRIA ARTERIAL
Como vimos no item fisiopatologia, a gasometria arterial pode estar cronicamente alterada na DPOC, geralmente nos
casos mais avançados de doença. O dado mais comumente encontrado é a hipoxemia, que pode ser leve, moderada ou grave (PaO2
< 55 mmHg ou SaO2 < 88%). A hipercapnia com acidose respiratória crônica, marcada pelo aumento compensatório do
bicarbonato e do BE ocorre em 30% dos pacientes com DPOC – são os casos mais avançados da doença. O pH não está muito
distante da faixa normal, estando discretamente baixo. Entretanto, nos estados de descompensação, pode haver piora importante da
hipoxemia e da hipercapnia, levando, eventualmente, à acidose respiratória agudizada.
São indicações de solicitação de gasometria arterial: (1) a suspeita de hipoxemia/hipercapnia aguda (ex.: DPOC com
descompensação grave) bem como (2) a presença de VEF1 < 40% do previsto, mesmo fora do contexto de uma descompensação,
e/ou (3) sinais de insuficiência do ventrículo direito.
ELETROCARDIOGRAMA
Devemos procurar as alterações do cor pulmonale, que são, na verdade, os sinais da sobrecarga cardíaca direita.
Os seguintes achados sugerem essa sobrecarga:
- onda P alta e pontiaguda, medindo mais de 2,5 mm na amplitude (P pulmonale): denota aumento atrial direito.
- desvio do eixo do QRS para a direita.
- graus variados de bloqueio de ramo direito.
- relação R/S maior que 1 em V1.
A hipoxemia crônica associada à cardiopatia do coração direito predispõe a taquiarritmias. As mais comuns são as
extrassístoles atriais, o ritmo atrial multifocal, o flutter e a fibrilação atrial. A taquicardia atrial multifocal é conhecida como a
arritmia do DPOC. Muitas destas arritmias melhoram apenas com a correção da hipoxemia, reposição eletrolítica (potássio e
magnésio) e compensação do quadro respiratório.
RADIOGRAFIA DE TÓRAX
O raio X só se encontra alterado nos casos mais avançados de DPOC, possuindo uma sensibilidade de 50%. Os sinais
clássicos da DPOC na radiografia são: (1) retificação das hemicúpulas diafragmáticas; (2) hiperinsuflação pulmonar (aumento do
número de costelas visíveis na incidência PA – mais de 9-10 arcos costais); (3) hipertransparência; (4) aumento dos espaços
intercostais; (5) redução do diâmetro cardíaco (“coração em gota”); (6) aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil; (7)
espessamento brônquico. Bolhas pulmonares também podem ser eventualmente observadas. Na radiografia também devem ser
procuradas complicações, tais como pneumonia, pneumotórax e tumor.
Na realidade, nos dias de hoje, o grau espirométrico de obstrução ao fluxo aéreo é avaliado de maneira complementar
à classificação integrada proposta na Figura 8, isto é: por si só, o grau espirométrico não muda a classificação (A, B, C ou D) –
esta é definida apenas em função dos sintomas e da história de exacerbações. Contudo, na definição final do caso, devemos citar
o grau espirométrico, de modo a compreender melhor a gravidade da doença do paciente.
AVALIAÇÃO DO RISCO DE EXACERBAÇÕES
O maior fator de risco para exacerbações futuras da DPOC é a história de exacerbações prévias, particularmente
quando estas motivaram uma internação hospitalar.
PRESENÇA DE COMORBIDADES
A presença de comorbidades também não entra diretamente no sistema de classificação da DPOC (ver Figura 8 a
seguir), porém é claro que precisa ser considerada! A DPOC é uma doença crônica grave e progressiva, e a coexistência de outras
doenças crônicas graves e progressivas (ex.: ICC, hepatopatia, IRC) sempre vai afetar o prognóstico. É interessante que muitas
comorbidades podem ser consequências diretas da DPOC ou de fatores de risco “compartilhados”, por exemplo: Ca de pulmão
(onde tanto a DPOC quanto o tabagismo são fatores de risco independentes), doenças cardiovasculares (associação com tabagismo),
síndrome da caquexia/sarcopenia (decorrente do estado inflamatório crônico associado à DPOC, particularmente em sua forma
enfisematosa), síndrome metabólica e osteoporose (condições que aumentam o risco dos glicocorticoides empregados no tratamento
da DPOC), entre outras. A importância de considerar as comorbidades existentes reside no fato de que às vezes elas podem
modificar a conduta terapêutica, tornando-a mais complexa e/ou limitada.
CLASSIFICAÇÃO INTEGRADA
Conjugando os elementos descritos (exceto a presença de comorbidades e o grau espirométrico, que não entram na
matriz 2 x 2 a seguir, devendo ser “agregados” à parte no raciocínio do médico), classificamos a DPOC em quatro “grupos” de
gravidade crescente: A, B, C ou D. Observe a Figura 8.
A oxigenioterapia pode ser indicada apenas durante o sono (oxigenioterapia noturna), quando a PaO2 é menor que
55 mmHg (ou a SaO2 menor que 88%) somente durante o sono do paciente ou quando há uma queda da PaO2 maior do que 10
mmHg (ou da SaO2 maior do que 5%), relacionada a sintomas como insônia e agitação noturna. Os mesmos valores de PaO2 e
SaO2 são utilizados para indicar a oxigenioterapia durante o exercício físico. O benefício dessa indicação em termos de mortalidade
não está tão bem estabelecido.
O oxigênio pode ser administrado por cânula nasal tipo óculos ou cateter transtraqueal. As fontes de oxigênio
podem provir de sistemas de oxigênio líquido, cilindros de compressão gasosa ou aparelhos concentradores. Os últimos são capazes
de captar oxigênio do ar atmosférico, tendo um custo mensal inferior. Os aparelhos podem ser portáteis ou estacionários (o ideal é
que o paciente possua os dois). O fluxo de oxigênio deve ser 1-3 L/min, de acordo com a resposta gasométrica do paciente.
(Lembrar que o fluxo não pode passar dessa quantidade, devido ao aumento do espaço morto!!)
TRATAMENTO DAS EXACERBAÇÕES
Uma exacerbação da DPOC é definida como a piora aguda dos sintomas respiratórios (além da variação circadiana
esperada) que requer mudanças igualmente agudas no esquema terapêutico.
Perceba que o diagnóstico de uma exacerbação, portanto, é essencialmente clínico, feito pelo reconhecimento de
piora da dispneia, da tosse e/ou da expectoração (em particular quando um escarro previamente claro se torna purulento, além
de ser produzido em maior quantidade).
Na maioria das vezes as exacerbações são desencadeadas por infecções respiratórias (bacterianas e/ou virais).
Exposição a elevados níveis de poluição ambiental também parecem ser desencadeadores frequentes. Outros fatores podem
mimetizar as exacerbações da DPOC ou mesmo agravá-las, por exemplo: hiper-reatividade brônquica (broncoespasmo),
insuficiência cardíaca, pneumotórax espontâneo (devido à formação de bolhas subpleurais que se rompem com facilidade),
tromboembolismo pulmonar, drogas potencialmente depressoras do centro respiratório (opiáceos, barbitúricos, benzodiazepínicos),
entre outros. É importante ter em mente que cerca de 1/3 das exacerbações da DPOC não têm etiologia clinicamente definida!
O tratamento envolve: (1) antibioticoterapia; (2) broncodilatadores; (3) corticosteroides sistêmicos (em alguns
casos); (4) teofilina ou aminofilina (opcional); (5) ventilação não invasiva, quando necessária; (6) ventilação invasiva, quando
necessária.
Alguns casos de exacerbação aguda da DPOC podem ser tratados em regime ambulatorial; outros merecem internação
hospitalar. A seguir estão as indicações de internação hospitalar.
Antibioticoterapia: quando indicar a antibioticoterapia na exacerbação da DPOC? Quando houver pelo menos 2
das seguintes condições: (1) aumento do volume do escarro; (2) alteração do seu aspecto para purulento; (3) aumento da
intensidade da dispneia.
Outra indicação inclui pacientes com exacerbações graves, independente dos critérios acima (ex.: necessidade de
suporte ventilatório invasivo).
A maioria das descompensações está diretamente relacionada a uma infecção viral das vias aéreas, porém, mesmo
assim, sempre existe a participação de bactérias (que colonizam de forma excessiva a via aérea inferior do paciente com DPOC e
aumentam sua densidade populacional na vigência de outro insulto pulmonar qualquer, aumentando o grau de exposição antigênica
da mucosa e, consequentemente, agravando desse modo a intensidade do processo inflamatório). Na maioria dos casos, as bactérias
implicadas são o Haemophilus influenzae, o Streptococcus pneumoniae e a Moraxella catarrhalis. Mycoplasma pneumoniae
e Chlamydia pneumoniae são encontrados em 5-10% das exacerbações. Estudos realizados nas exacerbações graves têm
demonstrado a presença de micro-organismos Gram-negativos entéricos, como a Pseudomonas aeruginosa.
Outros fatores de risco para infecção por Pseudomonas incluem hospitalizações frequentes, administração prévia de
antibióticos (quatro cursos no último ano) e o isolamento de P. aeruginosa durante uma exacerbação prévia ou colonização
demonstrada durante um período estável.
Alguns estudos mostraram que a gravidade da DPOC, assim como a presença de algumas comorbidades, apresenta
relação direta com os micro-organismos causadores do quadro infeccioso. Pode-se estratificar o paciente DPOC com infecção em
3 grupos, de acordo com os patógenos causadores esperados. A partir dessa estratificação, é feita então a recomendação da
antibioticoterapia empírica, conforme observado nas Tabelas a seguir.
A prevenção do quadro infeccioso pode ser feita através de 2 vacinas: contra a gripe (influenza – anual) e contra
pneumococo (polivalente), estando indicadas no paciente DPOC. O uso de antibiótico profilático não mostrou benefício na DPOC,
não sendo indicado.
Broncodilatadores: devemos prescrever a associação de beta-2-agonista de curta duração (salbutamol, fenoterol
ou terbutalina) com o anticolinérgico brometo de ipratrópio, administrados por via inalatória, seja por nebulização seja por spray
de aerossol. A dose deve ser repetida de 4/4h ou de 6/6h. O beta-2-agonista tem a vantagem de seu rápido efeito, combinado à
maior duração de ação do ipratrópio. Geralmente se dá preferência à nebulização pelo fato de o spray de aerossol ser de
administração tecnicamente mais difícil, especialmente nos pacientes idosos e com esforço respiratório. O spray de aerossol
necessita da coordenação entre ativação da dose e inspiração do paciente.
Corticosteroides sistêmicos: estudos randomizados COMPROVARAM o efeito benéfico dos corticoides sistêmicos
na exacerbação aguda da DPOC (redução da duração da internação, melhora mais rápida do quadro clínico e diminuição da chance
de nova exacerbação futura). Por isso, atualmente são drogas indicadas de rotina, por um período de 7-10 dias, com uma dose de
prednisona 40 mg/dia ou equivalente (o corticoide venoso é usado nas exacerbações graves por 72h e depois trocado por
prednisona). A nebulização com budesonida é uma alternativa ao corticoide oral nos pacientes ambulatoriais com exacerbações
leves. Veja a Tabela.
REABILITAÇÃO CARDIOPULMONAR
É uma parte fundamental da terapia da DPOC, indicada para todos os pacientes. Os estudos mostraram um aumento
significativo da capacidade funcional após a realização de exercícios físicos controlados por profissionais habilitados
(fisioterapeutas). Os resultados são visíveis clinicamente e confirmados no laboratório experimental, ao demonstrar a melhora no
perfil bioquímico da atividade muscular. Mais uma vez repetindo: esta parte do tratamento é de fundamental importância!!! Quase
todos os pacientes apresentam uma grande melhora da capacidade física, e existem evidências de que a sobrevida do portador de
DPOC pode ser prolongada pela prática de atividades físicas.
CIRURGIA NA DPOC
Por um lado, sabemos que a DPOC aumenta o risco cirúrgico de cirurgias torácicas e abdominais, sendo
responsável por períodos mais prolongados de intubação traqueal e complicações no pós-operatório. O risco cirúrgico torna-se
bastante acentuado se o VEF1,0 pré-operatório for menor do que 1 L. Por outro lado, existem cirurgias indicadas para a própria
DPOC.
Transplante de Pulmão: o que limita esse tipo de cirurgia é a reduzida disponibilidade de órgãos. Antigamente
visto de forma entusiástica e promissora devido aos seus resultados iniciais, sua indicação tem sido cada vez mais questionada,
pois, apesar da melhora na qualidade de vida, alguns estudos não mostraram benefícios claros de diminuição de mortalidade nos
pacientes DPOC terminal. Ainda não existe uma definição se o transplante de um único pulmão ou dos 2 seria a melhor estratégia.
Cirurgia Redutora Pulmonar (Pneumoplastia): realizada pela primeira vez por Brantigan, nos anos 1960, para
pacientes com enfisema pulmonar em fase avançada, tem mostrado resultados promissores recentemente com o avanço das técnicas
cirúrgicas e da medicina intensiva pós-operatória. Baseia-se na retirada de 20-30% de tecido pulmonar, geralmente de uma região
bastante afetada pela doença. Com a redução pulmonar, melhora a mecânica diafragmática e o distúrbio V/Q desses pacientes.
Essa cirurgia mostrou melhora da mortalidade e na qualidade de vida nos pacientes com baixa capacidade de exercício e enfisema
predominante nos lobos superiores, sendo este o subgrupo no qual está indicada.
Na presença de grandes bolhas parenquimatosas complicando com sintomatologia local, como infecções, hemoptise e
dor torácica, o tratamento também pode ser cirúrgico (“bulectomia”).
VACINAÇÃO
Um ponto muito importante, que não deve ser esquecido, é a recomendação das vacinas anti-influenza (anual,
composta por vírus vivo inativado ou vírus morto) e anti-pneumocócica (vacina 23-valente, uma dose com reforço após cinco
anos).
FONTE: Apostila do MEDCURSO.
DESCREVER A HIPERTENSÃO PULMONAR E LISTAR SUAS CAUSAS.
HIPERTENSÃO PULMONAR
A hipertensão pulmonar é uma síndrome clínica e hemodinâmica de grande importância devido ao seu diagnóstico
diferencial exuberante: comumente cursa com dispneia aos esforços e dor torácica, sendo por vezes confundida com situações
mais prevalentes, como por exemplo insuficiência cardíaca e doença coronariana. Não é comum que cause edema expressivo,
porém pode se apresentar com congestão sistêmica associada a falência do ventrículo direito. Trata-se de uma morbidade que
ainda está sendo melhor estudada e compreendida, mas que, no entanto, já possui um respeitável arsenal terapêutico.
DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA
A hipertensão pulmonar pode ser definida de diferentes maneiras, sendo a mais comum a partir de uma Pressão
arterial pulmonar média ≥ 25 mmHg em repouso, obtida por cateterização do ventrículo direito. (MUDOU PRA 20).
Desde 2003, ela que antes era simplesmente dividida em primária (idiopática) e secundária, viu sua etiologia crescer
cada vez mais e se tornar tão heterogênea que teve de ser dividida em 5 grupos. Veja a seguir, a classificação atual, de acordo com
a última modificação no Simpósio de Nice (2013). Neste bloco, daremos ênfase ao grupo 1, representado pela Hipertensão Arterial
Pulmonar idiopática (HAP).
HIPERTENSÃO PULMONAR SECUNDÁRIA
Embora a hipertensão pulmonar possa se desenvolver como um transtorno primário, a maioria dos casos representa
manifestação secundária a condições como hipoxemia crônica resultante de DPOC, DPI, ou de distúrbios respiratórios do sono;
aumento da resistência à drenagem venosa pulmonar devido a condições como disfunção diastólica do ventrículo esquerdo, ou
distúrbios da valva mitral ou aórtica; ou distúrbios tromboembólicos crônicos.
No dia a dia, é comum que se coloquem Hipertensão pulmonar e Hipertensão arterial pulmonar como sinônimos, mas
não são. Observe que apenas o primeiro grupo recebe o nome de “Hipertensão Arterial Pulmonar” (HAP).
E a patogênese da HAP, resumidamente, se baseia nesta sequência a seguir:
- Disfunção endotelial levando a menor produção de substâncias vasodilatadoras (prostaciclina, NO)
- Vasoconstricção arteriolar
- Hiperplasia da camada média
- Proliferação de miócitos e fibroblastos na camada íntima
- Lesões plexiformes
- Espessamento e fibrose da íntima, com predisposição à trombose local
- Remodelamento vascular (irreversível).
A HAP idiopática é uma doença rara – incidência de aproximadamente 6 casos por milhão de habitantes por ano e
relação de 1,7 mulheres:1 homem. Compromete principalmente indivíduos jovens; entre as mulheres, a prevalência é maior na
terceira década e, entre os homens, na quarta década de vida. A transmissão hereditária é descrita em aproximadamente 6%-10%
dos pacientes com HAP; em 50%-90% destes indivíduos foi identificada a presença da mutação no BMPR2.
OBS: HIPERTENSÃO PULMONAR HIPOXÊMICA
ETIOLOGIA E PATOGÊNESE
A exposição continuada dos vasos pulmonares a hipoxemia é uma causa comum de hipertensão pulmonar. Ao
contrário dos vasos sanguíneos da circulação sistêmica, a maioria dos quais sofre dilatação em resposta a hipoxemia e hipercapnia,
os vasos pulmonares se contraem. O estímulo para a constrição parece ter origem nos espaços aéreos próximos aos ramos menores
das artérias pulmonares.
Em regiões do pulmão com baixa ventilação, a resposta é adaptativa, no sentido em que desvia o fluxo sanguíneo das
áreas com pouca ventilação para áreas mais adequadamente ventiladas. Esse efeito, no entanto, torna-se menos benéfico à medida
que uma quantidade cada vez maior de áreas do pulmão permanece com baixa ventilação.
A hipertensão pulmonar é um problema comum em casos avançados de DPOC ou DPI. Também pode se desenvolver
em altitudes elevadas em pessoas com pulmões normais. Pessoas que experimentam hipoxemia acentuada durante o sono (como
aquelas com apneia do sono) muitas vezes apresentam elevações marcantes da pressão arterial pulmonar.
QUADRO CLÍNICO
Os sintomas iniciais da HAP são frequentemente leves e inespecíficos – isso faz com que esta doença não seja
reconhecida até que esteja numa fase avançada. A New York Heart Association (NYHA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)
dispõem de uma classificação funcional que deve ser sistematicamente aplicada na graduação dos sintomas:
O principal sintoma é a dispneia aos esforços, mas sua origem não é a mesma da insuficiência de VE, pois aqui não
há congestão pulmonar: postula-se que a gênese da dispneia envolva o baixo débito cardíaco para a musculatura respiratória
(a hipertensão pulmonar faz chegar menos sangue ao VE). Outros sintomas relacionados ao baixo débito cardíaco são fadiga,
fraqueza e síncope.
Já a precordialgia pode ocorrer por 2 causas:
• Distensão da artéria pulmonar;
• Isquemia miocárdica (o baixo débito cardíaco também reduz a perfusão coronariana).
A hipertensão pulmonar pode levar à falência do VD e, consequentemente, causar congestão sistêmica.
Outra associação interessante é com a presença do fenômeno de Raynaud em até 30% dos portadores de HAP
primária, indicando que o vasoespasmo provavelmente é um fenômeno importante na patogênese da doença pulmonar desses
pacientes.
EXAME FÍSICO
A hiperfonese de P2 (componente pulmonar da 2ª bulha) é característica devido ao fechamento valvar contra a pressão
aumentada nas artérias pulmonares. Essa bulha também pode ter um componente palpável ao exame físico (choque valvar).
Batimento de VD palpável e quarta bulha de VD só ocorrem quando se instala sobrecarga de VD. A evolução
esperada é o aparecimento posterior de B3 de VD e sopro holossistólico de insuficiência tricúspide – esta condição será melhor
estudada no final do ano, quando falarmos de Semiologia Cardiológica e Lesões Orovalvares.
Como você pode observar, é uma evolução bem parecida com a IVE secundária à hipertensão arterial sistêmica:
primeiro hipertrofia ventricular com déficit de relaxamento e B4, evoluindo com aparecimento de B3, dilatação de VE e
insuficiência sistólica.
OBS: Saiba Mais! O que seria de fato a “hiperfonese de P2”? É comum durante o exame que se ausculte o foco aórtico
e depois pulmonar. Se P2 for mais alta no pulmonar que no aórtico, costuma-se dizer que P2 > A2. Isso é um erro bem comum em
semiologia... O correto (descrito no Braunwald inclusive) é, no mesmo foco, auscultar o desdobramento de B2 e perceber qual
possui o maior volume, A2 ou P2. Não vamos entrar no mérito se é humanamente possível ou não, mas faz muito mais sentido, já
que ausculta em focos diferentes naturalmente produziria sons de volume diferentes. Bastaria uma anatomia um pouco mais
“rodada” do coração para que o som no foco pulmonar fosse sempre mais alto, independentemente da existência ou não de
hipertensão pulmonar.
EXAMES COMPLEMENTARES
Enquanto alguns exames como radiografia de tórax, eletrocardiograma e, principalmente, ecocardiograma, servem
para diagnosticar hipertensão pulmonar, outros como espirometria e cintilografia são indicados para afastar causas secundárias.
Quais são as alterações esperadas?
RX DE TÓRAX
• Abaulamento do 2º arco da silhueta cardíaca à esquerda (tronco pulmonar);
• Dilatação > 16 mm na artéria pulmonar direita;
• Redução da vascularização pulmonar periférica;
• Casos avançados: aumento do AD (1º arco cardíaco à direita) e do VD (diminuição do espaço retroesternal e “coração
em bota”).
ECG
• Sobrecarga de VD: desvio do eixo de QRS para a direita, aumento das relações R/S em V1 e S/R em V6;
• Aumento de AD: onda P alta e apiculada.
Ecocardiograma-Doppler: estima a pressão arterial pulmonar sistólica e avalia causas de hipertensão pulmonar
secundária.
Prova de função respiratória (espirometria): a principal utilidade é afastar doenças restritivas e DPOC, que são causas
de hipertensão pulmonar secundária. Se houver suspeita de doença intersticial pulmonar (distúrbio ventilatório restritivo), está
indicada uma tomografia computadorizada de tórax.
Cintilografia pulmonar de ventilação-perfusão ou angio-TC de artérias pulmonares: sua principal utilidade é a
diferenciação entre HAP primária e tromboembolismo crônico, uma causa relativamente comum de hipertensão pulmonar
secundária.
Cateterismo cardíaco: a instalação de um cateter de Swan-Ganz para avaliação das pressões do coração direito e da
artéria pulmonar está indicada em todos os pacientes com suspeita de HAP primária. Além disso, a infusão de vasodilatadores
durante o exame (teste da vasorreatividade aguda) permite avaliar a resposta futura do paciente ao tratamento da HAP primária –
consideramos satisfatória uma redução da PAP média superior a 10 mmHg, atingindo um valor inferior a 40 mmHg, sem redução
do débito cardíaco ou da pressão arterial.
DIAGNÓSTICO
Ao avaliarmos um paciente com quadro clínico e exame físico compatíveis com hipertensão pulmonar, a primeira
pergunta é se existe mesmo hipertensão pulmonar? RX de tórax e ECG podem sugerir o diagnóstico inicialmente e, em seguida,
precisaremos do ecocardiograma-Doppler para este fim. Contudo, ainda que a pressão da artéria pulmonar estimada pelo ECO
esteja elevada, a confirmação só pode ser feita com exatidão pela cateterização do ventrículo direito.
Assim, sendo o ECO sugestivo de hipertensão, o próximo passo é definir se ela é primária ou não. Cabe pontuar que
a HP primária é uma doença extremamente rara e o seu tratamento é diferente da maioria das causas de hipertensão pulmonar
secundária. Por isso, o diagnóstico de uma causa de hipertensão pulmonar secundária deve ser insistentemente buscado, através de
exames como prova de função respiratória, TC de tórax (em caso de suspeita de doença intersticial pulmonar) e cintilografia
pulmonar (ou angio-TC de artérias pulmonares). Outras causas secundárias que devem ser investigadas são hipertensão porta,
colagenoses, uso de anorexígenos e infecção pelo HIV. Se não chegamos a uma causa secundária, o último exame indicado é o
cateterismo cardíaco, que estabelecerá de fato se a HAP é primária ou se existe alguma causa secundária não detectada pelo
ecocardiograma.
TRATAMENTO
O tratamento da hipertensão pulmonar está indicado para todos os pacientes sintomáticos e deve ser instituído
precocemente, quando se espera uma resposta melhor à terapia. Medidas gerais incluem a restrição de sódio na dieta e
oxigenoterapia nos indivíduos hipoxêmicos. A utilização de diuréticos deve ser cautelosa, a fim de não reduzir ainda mais o débito
cardíaco, estando indicada apenas naqueles com evidência de retenção de fluidos. A anticoagulação crônica com warfarin é indicada
sobretudo para os do grupo 4 (doença tromboembólica) e para pacientes selecionados com a forma primária idiopática ou
hereditária, relacionada ao HIV ou a medicamentos, mantendo- -se normalmente o INR entre 2 e 3 (alguns centros preferem entre
1,5 e 2,5).
Além disso, o tratamento específico para cada uma das doenças que podem cursar com hipertensão pulmonar
secundária deve ser oferecido. O tratamento da HP primária é diferenciado e baseado em algumas intervenções avançadas, que só
devem ser estabelecidas após cateterização ventricular direita:
- Pacientes com teste da vasorreatividade aguda positivo devem ser inicialmente tratados com bloqueadores dos canais
de cálcio (nifedipina, anlodipina ou diltiazem), na maior dose tolerada, tomando cuidado para não reduzir demais a PA. Atenção:
se o teste da vasorreatividade tiver sido negativo, o uso desses fármacos piora os sintomas! A resposta positiva ao teste de
vasodilatação é caracterizada por uma redução na pressão média da artéria pulmonar de pelo menos 10 mmHg, atingindo um valor
absoluto inferior a 40 mmHg. O débito cardíaco deve permanecer inalterado ou aumentar.
- Naqueles pacientes com teste negativo, e também naqueles com teste positivo que não responderam ao tratamento
inicial, podemos tentar outros vasodilatadores, como os análogos da prostaciclina (selexipag, epoprostenol, iloprost, treprostinil),
inibidores da fosfodiesterase (sildenafil ou tadalafil), antagonistas do receptor da endotelina (bosentan, ambrisentan, macitentan),
estimulantes da guanliato ciclase (riociguat). O epoprostenol é o mais potente deles, contudo deve ser administrado em infusão
venosa contínua – razão pela qual está reservado apenas para os casos graves (classe funcional IV da NYHA). O iloprost é inalatório,
o treprostinil pode ser subcutâneo e os demais fármacos são de uso oral.
- O único tratamento definitivo, reservado para os pacientes com sintomas graves e refratários ao tratamento clínico,
é o transplante pulmonar. A septostomia atrial (criação de shunt interatrial) pode ser tentada para manter o débito cardíaco nos
pacientes com doença grave que esperam pelo transplante.
Nos pacientes com doenças pulmonares crônicas, a gravidade da enfermidade e o prognóstico não são determinados
exclusivamente pelas alterações da função pulmonar. Em indivíduos com doença leve ou moderada, a capacidade de exercício, a
qualidade de vida e as atividades de vida diária são frequentemente alteradas, mas não guardam relação com a função pulmonar.
Consequentemente, tratamentos que melhoram a função pulmonar podem ter pouco impacto nesses desfechos, daí a importância
da reabilitação pulmonar (RP) no tratamento dessas pessoas.
O sintoma respiratório que leva à incapacidade o indivíduo portador de doença respiratória crônica é a dispneia,
causada pela alteração da função pulmonar. Com o progresso da doença respiratória, há um aumento da sensação de dispneia, e o
paciente começa a se privar de realizar esforços físicos, seja pelo medo do sintoma, seja pela própria limitação física, o que o leva
ao sedentarismo. Em acréscimo, o sedentarismo, associado à hipoxemia, hipercapnia e presença de mediadores inflamatórios
sistêmicos, gera alterações estruturais na musculatura esquelética, sobretudo nos grupos musculares de membros inferiores,
membros superiores e respiratórios, contribuindo para a piora da dispneia e limitação física. As principais alterações encontradas
são diminuição da massa muscular (hipotrofia muscular), diminuição do número de capilares e transformação das fibras musculares
para metabolismo glicolítico (redução de mitocôndrias e de glicogênio muscular).
O tratamento não farmacológico da DPOC inclui a RP. Todavia, a RP não muda a função respiratória, porém diminui
as alterações musculares e reduz a sensação de dispneia aos esforços.
A American Thoracic Society em conjunto com a European Respiratory Society, assim como a American College
of Chest Physicians, definiram o programa de RP (PRP) como uma intervenção terapêutica multiprofissional baseada em
evidências de cuidados a pacientes com doença respiratória crônica que apresentam sintomas e habitualmente têm limitação para
realizar atividades da vida diária. O paciente recebe tratamento individualizado com o objetivo de reduzir os sintomas, otimizar a
capacidade funcional, aumentar sua participação social e reduzir custos relacionados aos serviços de saúde por meio da estabilização
ou da redução das manifestações sistêmicas da doença. O interesse pela RP tem crescido muito nos últimos anos por causa do maior
entendimento da fisiopatologia das doenças pulmonares e de suas manifestações sistêmicas, especialmente na DPOC, e também
em razão do surgimento de melhores tratamentos farmacológicos e cirúrgicos e do aumento da expectativa de vida dos portadores
de doenças pulmonares.
O PRP oferece um arsenal de cuidados, como controle clínico e suportes nutricional, psicológico e educacional, assim
como treinamento físico da musculatura de membros superiores e inferiores. O objetivo é capacitar o paciente para a realização,
com sucesso, das atividades da vida diária, aceitando e respeitando sua atual condição respiratória. A melhora na qualidade de vida,
o aumento no tempo gasto com as atividades do cotidiano, a diminuição da dispneia e a maior tolerância ao exercício são os
principais resultados alcançados pelos pacientes com DPOC após o PRP.
A RP tem seu reconhecimento terapêutico descrito em várias diretrizes publicadas, e a maioria das evidências está
concentrada na DPOC. Todavia, têm sido descritos os avanços da aplicação, investigação e adaptação dos princípios da RP em
algumas outras doenças pulmonares crônicas, como asma, câncer de pulmão e doenças pulmonares intersticiais, assim como no
transplante pulmonar. Atualmente, a RP está indicada precocemente nas doenças pulmonares em estado agudo, como nas
exacerbações da DPOC e acometimentos críticos.
O PRP, idealmente, deve ser realizado por uma equipe de profissionais especializados e capacitados no cuidado de
portadores de doenças pulmonares crônicas em um centro ou unidade com recursos físicos e materiais suficientes para o suporte
dos doentes. A RP pode ser realizada em indivíduos internados/hospitalizados e em pacientes ambulatoriais e domiciliares.
Dentre essas modalidades, o tratamento ambulatorial é o mais utilizado; porém, a RP domiciliar vem adquirindo grande
importância para se conseguir uma maior abrangência de tratamento dos doentes. Benefícios têm sido consistentemente obtidos
nos três níveis de programas.
Uma equipe multiprofissional completa é composta por um médico pneumologista, fisioterapeuta, educador físico,
enfermeiro, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social. A escolha dos profissionais e a determinação de suas
funções devem ser adequadas às necessidades de cada centro, de modo a suprir todas as necessidades dos cuidados com os doentes.
No entanto, PRP podem apresentar resultados adequados mesmo com um número menor de profissionais, desde que eles
identifiquem e supram as necessidades individuais dos pacientes.
BENEFÍCIOS
Durante os últimos anos, a RP tornou-se um tratamento fundamental para pacientes com DPOC. A evidência dos
mecanismos de melhora na qualidade de vida, aumento na tolerância ao exercício, alívio da dispneia e melhora da capacidade
funcional é essencial para se associar ao tratamento de pacientes com DPOC. O Quadro 2 demonstra os benefícios obtidos com o
PRP de acordo com os graus de recomendação demonstrados na literatura
FONTE: Reabilitação Pulmonar.