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o paciente, contudo a
saturação não melhora. O
que pode estar
acontecendo?
2.1 INTRODUÇÃO
O sistema respiratório é composto por diversos órgãos que
interagem e têm por objetivo básico colocar o ar ambiente em
contato com o sangue, a fim de haver troca do gás carbônico com
o oxigênio (O2), além de transportá-lo e entregá-lo aos tecidos do
organismo, permitindo, dessa forma, a respiração celular aeróbica.
A troca de gases entre o organismo e o ambiente é denominada
hematose. Para que isso seja possível, existe uma intrincada
interação de órgãos e sistemas, desde o controle central pelo
bulbo até a passagem de O2 e gás carbônico na membrana
alveolocapilar.
O centro respiratório está localizado no bulbo, no tronco cerebral,
e recebe informações de receptores sensíveis a variações de pH
e pCO2, sendo ativado quando ocorre queda do pH ou aumento da
pressão parcial de CO2. A ativação deste centro leva à inspiração,
ou seja, à contração do diafragma (estimulada via nervo frênico) e
dos músculos acessórios da respiração. Essa contração resulta
em aumento do volume da caixa torácica, com consequente
geração de pressão pleural negativa, gerando gradiente para o
influxo aéreo aos pulmões.
Esse influxo, à inspiração, marca o início do ciclo respiratório,
processo denominado ventilação. Esse processo compreende a
passagem do ar do ambiente externo até os alvéolos, nos quais
existe a troca de gases, terminando com a expiração, ou seja, a
expulsão do ar dos alvéolos para o meio externo.
A expiração marca o fim do ciclo respiratório e, normalmente,
ocorre de forma passiva, graças às forças de recolhimento
elástico dos pulmões. Nas situações em que há limitação ao fluxo
aéreo, como nos pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (DPOC), a expiração pode ser feita de maneira ativa.
Os pulmões apresentam sensores de estiramento, também
chamados de receptores de lenta adaptação, que são
estimulados pelo aumento de tensão nas vias aéreas. Esses
receptores respondem ao aumento de volumes pulmonares e às
inflamações parenquimatosas. Sua principal função é o ajuste fino
da respiração em conjunto com reflexos coordenados do sistema
circulatório.
Portanto, a ventilação é um processo fisiológico que depende da
integridade e do bom funcionamento dos sistemas nervoso
central, respiratório e cardiovascular, tendo com este último fina
interação.
Em sua interação com o sistema circulatório, o ciclo respiratório
promove algumas alterações hemodinâmicas. Durante a
inspiração, o aumento do volume da caixa torácica traciona
estruturas torácicas, elevando o volume do átrio direito e da veia
cava superior, diminuindo a pressão sanguínea no interior dessas
estruturas e aumentando o retorno venoso. Portanto, o volume
sistólico do ventrículo direito se eleva com a inspiração; no
entanto, há aumento da resistência vascular sistêmica
promovendo redução discreta do débito cardíaco. Na expiração, a
pressão intratorácica torna-se menos negativa e eleva-se até
zero, promovendo redução do retorno venoso, mas facilitando a
ejeção do volume sistólico, causando elevação da pressão arterial
nesta fase do ciclo respiratório, com redução do débito cardíaco.
Essa variação de volume ejetado determina uma diferença de
pressão sistólica entre a inspiração e a expiração. Em pessoas
normais, a pressão sistólica diminui, aproximadamente, 5 mmHg
na inspiração, ou seja, a pressão de pulso (diferença entre a
pressão sistólica e a diastólica) diminui. Isso causa diminuição da
amplitude do pulso, o que recebe o nome de pulso paradoxal,
considerado fisiológico quando a variação da pressão de pulso
não ultrapassa 10 mmHg. Nas condições patológicas como
hipovolemia, pneumotórax hipertensivo ou tamponamento
cardíaco, o pulso paradoxal pode ser identificado pelas variações
mais intensas das mensurações da pressão arterial e até mesmo
pelo desaparecimento do pulso arterial periférico durante o ciclo
respiratório.
Em situações de obstrução de fluxo, como nas crises de
broncoespasmo, observa-se aumento na amplitude da excursão
diafragmática, pois na expiração ocorre um esforço para vencer a
resistência aumentada ao fluxo aéreo, que eleva a pressão na
pleura, no átrio direito e na veia cava superior, diminuindo o
gradiente para o retorno venoso e, consequentemente, o volume
ejetado. Dessa forma, nos quadros obstrutivos, há maior variação
do volume ejetado, o que determina uma maior diferença de
pressão sistólica entre a inspiração e a expiração do que nos
indivíduos normais. Diante desse caso, o aumento da variabilidade
da pressão de pulso é indicativo de gravidade nas crises de
sibilância.
O ser humano respira por meio de um sistema de pressão
negativa. Ao oferecer suporte ventilatório, ocorrem mudanças na
fisiologia pulmonar, pois utilizamos um sistema de pressão
positiva, ou seja, o gradiente de pressão para o influxo de ar
ocorre com o aumento da pressão intratorácica na inspiração e
com a queda na expiração. Do ponto de vista do sistema
circulatório, ocorre o inverso do que se observa na respiração
normal; assim, são frequentes os casos de hipotensão arterial
nessa situação. Além disso, elimina-se o efeito de válvula das
cordas vocais, reduz-se o volume residual, com tendência de
colapso e redução do recrutamento alveolar, diminuindo a
superfície de troca gasosa. O emprego de pressão positiva no fim
da expiração (PEEP) compensa tal mecanismo, permitindo a
manutenção da patência alveolar, sem colapso das estruturas
respiratórias.
#importante
A pressão positiva no fim da expiração
considerada fisiológica é de cerca de 5
cm de água.
2.2 DEFINIÇÃO
A Insuficiência Respiratória (IR) é uma condição que torna o sistema
respiratório incapaz de fornecer suprimento de O2 suficiente para a
manutenção do funcionamento do organismo (diminuição na oxigenação)
e/ou incapaz de eliminar gás carbônico (CO2) de maneira adequada
(diminuição na ventilação). Acarreta riscos potenciais à vida, visto que os
tecidos não possuem estoque de O2.
#importante
A IR é uma síndrome determinada por
várias causas, não necessariamente
pulmonares.
2.3 CLASSIFICAÇÃO
#importante
A IR pode ser classificada de várias
formas, porém utilizaremos a
classificação fisiopatológica: IR tipo I
(hipoxêmica) — paO2 abaixo de 60
mmHg, sem aumento de paCO2; e IR tipo
II (hipercápnica) — paCO2 acima de 50
mmHg.
A IR tipo I ou hipoxêmica está associada à redução do conteúdo
de O2 arterial (paO2) e à paCO2 normal ou diminuída. A ventilação
está normal, e a hipoxemia decorre de alterações da difusão ou da
relação ventilação/perfusão (por exemplo: Síndrome do
Desconforto Respiratório Agudo — SDRA). Esse tipo de IR pode
ter causas cardiogênicas, caracterizadas por pressão capilar
pulmonar acima de 18 mmHg (como na insuficiência cardíaca
congestiva) ou não cardiogênicas, com pressão capilar pulmonar
abaixo de 18 mmHg (como nas pneumonias e na SDRA).
A IR tipo II ou hipercápnica é associada à redução da paO2 e à
elevação da paCO2. Ocorre alteração da ventilação alveolar, ou
seja, hipoventilação (exemplos: intoxicação por barbitúricos,
opioides e doenças neuromusculares).
Essa classificação, apesar de ser simplista, permite rapidamente
identificar grande número de pacientes em IR tipo II.
2.4 FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da IR tipo I está ligada a quatro mecanismos
possíveis, podendo haver predomínio de um deles de acordo com
as causas da IR.
2.4.1 Efeito espaço-morto
É a alteração mais frequentemente associada a hipoxemia,
geralmente corrigida com a administração de O2. Nos casos
muito graves, o efeito está relacionado à retenção de CO2.
Consiste em um predomínio de unidades alveolares mal
perfundidas e bem ventiladas. Exemplos: choque, hipovolemia,
embolia pulmonar (Figura 2.1).
Figura 2.1 - Mecanismos da insuficiência respiratória
Legenda: (A) Efeito shunt; (B) relação V/Q normal; (C) efeito espaço-morto.
Fonte: acervo Medcel.
#importante
De forma geral, a observação clínica
facilmente determina a severidade da IR,
assim como a necessidade de intubação
traqueal e suporte ventilatório.
2.6.3.9 Broncoscopia
▶ Absolutas:
▷▷ Parada respiratória franca ou iminente;
▷▷ Instabilidade hemodinâmica (choque, arritmias graves,
síndrome coronariana aguda não controlada);
▷▷ Rebaixamento do estado de consciência, Glasgow menor que
12;
▷▷ Não aceitação/não colaboração com VNI;
▷▷ Obstrução fixa das vias aéreas;
▷▷ Trauma, queimadura ou cirurgia facial;
▷▷ Inabilidade de proteção à via aérea (mecanismos de tosse ou
deglutição comprometidos);
▷▷ Cirurgia recente de esôfago, face ou vias aéreas superiores;
▷▷ Hemorragia digestiva alta ou sangramento pulmonar ativo;
▷▷ Pneumotórax não drenado.
▶ Relativas:
▷▷ Vômitos;
▷▷ Excesso de secreções;
▷▷ Ansiedade/fobia da máscara;
▷▷ Infarto agudo do miocárdio/angina instável;
▷▷ Gravidez.
É
É considerada tratamento-padrão para casos mais graves ou
refratários de IR e está indicada quando o paciente não é capaz
de realizar trocas gasosas adequadamente, mesmo com
suplementação de O2.
A ventilação mecânica invasiva necessita de acesso endotraqueal
(cânula vaso ou orotraqueal, traqueostomia ou
cricotireoidostomia), por isso está sujeita a maiores
complicações, além de necessitar de ambiente de terapia
intensiva. Tem como objetivos reverter a hipoxemia, a acidose
respiratória aguda e a fadiga muscular e reduzir o consumo de O2
sistêmico e miocárdico, além de permitir sedação e analgesia
adequadas para cada caso. As principais indicações estão listadas
a seguir:
▶ Anormalidades da ventilação:
▷▷ Fadiga da musculatura respiratória;
▷▷ Doença neuromuscular;
▷▷ Drive ventilatório diminuído;
▷▷ Obstrução das vias aéreas;
▷▷ Anormalidades da parede torácica.
▶ Anormalidades da oxigenação:
▷▷ Hipoxemia refratária;
▷▷ Trabalho respiratório excessivo.
▶ Outras indicações:
▷▷ Redução da pressão intracraniana;
▷▷ Diminuição do consumo de O2.