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Notas das Aulas Práticas

Elaborado Por:

Copenhaga
Paris
Praga
&
Professor

2020-2021
La Casa de Fisiologia - Prática (Mod. II.II)

Índice
Aula 1 – Aparelho Respiratório I .................................................................................................. 2
Aula 2 – Aparelho Respiratório II ............................................................................................... 15
Aula 3 – Pressão Arterial e Pulsos .............................................................................................. 26
Aula 4 – ECG I .............................................................................................................................. 32
Aula 5 – ECG II ............................................................................................................................. 41
Aula 6 – Sistema Nervoso Autónomo ........................................................................................ 48
Anexo 1 – Perguntas Kahoot ...................................................................................................... 61

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Aula 1 – Aparelho Respiratório I


Funções do Sistema Respiratório:
• Respiração;
• Síntese / secreção / reciclagem do surfactante;
• Clearence mucociliar;
• Equilíbrio ácido / base;
• Filtro (coágulos, células neoplásicas, …);
• Imunomodulação;
• Sinalização neuroendócrina;
• Função enzimática;
• Hematopoiética (hipoxia prolongada, …)

A respiração inicia-se com o nascimento, quando o recém-nascido é expulso para o meio


exterior, necessita de ter suporte ventilatório, já que durante a gestação vê a sua oxigenação
fornecida através da mãe, via artéria umbilical (ramo da ilíaca interna) e aí os pulmões
encontram-se colapsados. Quando se dá a laqueação do cordão umbilical no parto, deixa de
haver oxigenação por parte da mãe, ocorrendo uma hipoxia acentuada, necessitando assim de
chorar ou provocar o grito, para haver uma insuflação repentina dos pulmões.

A dinâmica pulmonar, mostra-nos que a inspiração


permita uma rápida entrada de ar nos pulmões (5
segundos) e a expiração vá ter um fluxo mais lento (8
segundos). A pressão intrapulmonar vai diminuir
durante a inspiração mesmo antes do pico da própria e
vai no fim da inspiração voltar a ter pressão 0. Para
expirar há um aumento da pressão intrapulmonar numa
primeira fase mais rápida da expiração seguida de um
retorno da pressão pulmonar a 0 numa segunda fase de
expiração, mais lenta. A pressão intrapleural, já
inicialmente negativa (-7 cm H2O) vai tornar-se ainda
mais negativa na inspiração (quase até -14 cm H2O) indo
depois retornar na expiração á linha de base, podendo
até ultrapassar esta na parte final da expiração.

Se introduzirmos um cateter através de um trocânter no pulmão com um tubo em forma de U


com água, quando este chega a pleura vai fazer com que haja uma depressão da água no tubo
de cerca de 7 cm H2O.

Espaço Pleural:
• 2 folhetos: parietal e visceral;
• Fluido pleural: lubrificação (em quantidade mínima);
• Muito inervado – sensação de for, estiramento;
• Patologia pleural – mais frequentemente secundária a outra patologia orgânica.

O fluido pleural provem da filtração a nível alveolar para a cavidade pleural e dos capilares da
parede parietal para a cavidade pleural. A pequena quantidade em repouso na cavidade (7 a 14
ml), é posteriormente drenado pelos estomas, localizados principalmente na parte linfática na
zona diafragmática.

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De cima para baixo na cavidade pleural, existe em cima uma pressão negativa maior que em
baixo, sendo que no final da expiração a pressão existente varia entre os -14 cm H2O (em cima)
e os -5 cm H2O (em baixo).

Débito ventilatório – Volume de ar mobilizado por unidade de tempo. É dependente da vontade.


É o produto do volume inspiratório (ou expiratório) pela frequência / minuto (6 a 8 litros em
repouso, pode atingir os 100 a 150 litros em situações de esforço).

A compressão dinâmica das vias aéreas limita o débito expiratório máximo a um dado volume
da CPT (Capacidade Pulmonar Total), ou seja, quando inspiramos temos uma facilidade em
encher o peito de ar, para expelir temos de pedir para expirar o mais rápido que puder, visto
que uma das medidas mais importantes é a do Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo
(FEV1). O FEV1 em relação à capacidade vital irá traduzir-se num índice que é o Índice de
Tiffeneau (para ser normal terá de ser maior que 0,75 ou 75% da capacidade vital).

Para que a respiração seja efetiva, é necessário que a ventilação (entrada e saída dos gases na
árvore respiratória), a difusão (passagem dos gases através da barreira alvéolo-capilar) e a
perfusão (no alvéolo pulmonar, de forma a permitir o transporte de gases no sangue)
funcionem.

Ao entrar nas fossas nasais e na passagem pelo trajeto labiríntico pelos cornetos, o ar sofre um
processo de filtragem grosseira, aquecimento e humidificação, pela riqueza de vasos na zona,
fazendo depois o seu movimento descendente pelas restantes estruturas da via aérea.

Vias aéreas superiores:


• Cavidade Nasal;
• Faringe.

Vias aéreas inferiores:


• Laringe;
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• Traqueia;
• Brônquios / Bronquíolos;
• Pulmões.

Um aspeto particularmente importante dos mecanismos de defesa da via aérea é a existência


do tapete muco-ciliar. As células que existem
quase até à zona dos bronquíolos respiratórios
são dotadas de cílios contracteis, que ao
contrair na mesma direção levam o muco
produzido por células mais altas do aparelho
respiratório, que está depositado em cima deles
para o exterior. Este muco transporta consigo
quaisquer microorganismos ou partículas que
possam ser danosas para a via aérea para o
exterior.

Os tubos condutores do ar dividem-se


individualmente cerca de 23 vezes:
• As 16 primeiras divisões têm que ver
com a condução do ar, com anéis
cartilagíneos que impedem o colapso
das estruturas. Formam os brônquios e
os bronquíolos terminais.
• As 7 divisões restantes formam zonas
de transição e área respiratória onde
ocorrem as trocas, formando os
bronquíolos respiratórios, os ductos
alveolares e os alvéolos.

A membrana respiratória é constituída por uma


camada de liquido: surfactante pulmonar (que
reduz a tensão superficial que tenderia a
colapsar devido à presença de líquido), logo a
seguir temos o alvéolo capilar, a membrana
basal, o espaço intersticial, e do outro lado a
membrana basal do capilar, o endotélio capilar
e depois o lúmen do capilar. Podem existir
processos de fibrose que atinjam o espaço intersticial, fazendo com que haja ventilação e
circulação, mas não aconteça difusão devido a essa fibrose.

Alguns Números:
• Frequência respiratória: 12 a 16 ciclos / minuto;
• Quantidade de ar em cada ciclo: 500 ml;
• Débito 6 a 8 L / min;
• Área total da traqueia: 2.5 cm2
• Área transversal total dos brônquios respiratórios: 11800 cm2;
• Número de alvéolos: 300 milhões;
• Área total da parede alveolar: 70 m2;
• Espessura da membrana respiratória: 0,5 µm;
• Gradiente de pressão (- 1 +1 mmHg, em relação à pressão atmosférica);
• Trabalho respiratório (em %): 1 a 2 % (3% durante exercício).

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Ventilação Pulmonar

Mobilização do ar entre o meio ambiente e o corpo:


• Inspiração (ativo, 90% feito à custa do principal músculo inspiratório, diafragma);
• Expiração (passivo em que em algumas circunstâncias pode ser ativo, através do auxílio
de músculos expiratórios).

Implica o funcionamento apropriado de:


• Músculos ventilatórios;
• Caixa torácica;
• Pulmão;
• Pleura;
• Sistema nervoso.

Pressões que afetam a ventilação pulmonar:


• Pressão atmosférica:
o 760 mmHg a nível do mar.
• Pressão intralveolar:
o Pressão no interior dos alvéolos
(sistema aberto);
o Depende da pressão atmosférica e
varia com o ciclo respiratório;
o É negativa (> Patm) na inspiração e positiva (< Patm) na expiração;
o É a diferença entre a pressão alveolar e a pressão atmosférica que permite a
ventilação.
• Pressão intrapleural:
o Pressão dentro de um sistema fechado (cavidade pleural);
o É sempre negativa (em circunstâncias normais);
o Deve se à elasticidade dos pulmões e da caixa torácica;
o É sempre inferior à pressão intralveolar.
• Pressão transpulmonar:
o É o diferencial entre a pressão intralveolar e a pressão intrapleural;
o É este diferencial que permite que os pulmões se mantenham distendidos no
interior da caixa torácica.

Lei de Boyle-Mariotte – Num sistema fechado e a temperatura constante, a pressão e o volume


de um gás variam inversamente.

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Avaliação Clínica do Aparelho Respiratório

Principais Sintomas:
• Tosse:
o Início e duração;
o Horário;
o Seca / expetoração;
o Caraterísticas sonoras (bitonal / rouca / afónica);
o Fatores desencadeantes;
o Fenómenos associados (vómito / síncope).
• Expetoração;
• Dor:
o Localização;
o Irradiação;
o Tipo (“facada” / “pontada” / “moínha”);
o Intensidade e horário (matinal / noturna);
o Início e duração;
o Fatores desencadeantes ou atenuantes.
• Dispneia:
o Sensação subjetiva de falta de ar;
o Aumento da frequência respiratória (e da profundidade);
o Aumento do tempo expiratório;
o Tiragem (retração e afundamento supraesternal, supraclavicular, intercostal);
o Adejo nasal e retração exagerada da parede abdominal;
o Circunstâncias (ortopneia / paroxística noturna).
• Outros:
o Anorexia / astenia / adinamia;
o Febre;
o Sudação.

Semiologia:
• Inspeção:
o Morfologia do tórax:
▪ Assimetrias, massas ou cicatrizes;
▪ Deformações:
• Tórax em tonel;

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• Pectus excavatum (retração do esterno);


• Pectus carinatum (esterno em quilha).
o Morfologia coluna:
▪ Deformações:
• Eixo frontal (escoliose);
• Eixo lateral (hipercifose dorsal cervical e hiperlordose lombar).
o Alterações cutâneas:
▪ Cor (cianose);
▪ Circulação colateral.
• Palpação:
o Observa-se:
▪ Expansibilidade e elasticidade do tórax;
▪ Pontos dolorosos;
▪ Alterações das mamas;
▪ Sensações táteis:
• Pulsações normais (choque da ponta) ou anormais;
• Frémitos.
▪ Alterações da traqueia (desvios);
▪ Transmissão das vibrações vocais.
o Metodologia:
▪ Pede se ao doente para emitir um som (“diga trinta e três”);
▪ Coloca se bordo cubital da mão num espaço intercostal.
o Bases físicas:
▪ Ondas sonoras geradas na glote percorrem tecido pulmonar e parede
torácica;
▪ Ar e água transmitem menos eficazmente;
▪ Condensações pulmonares transmitem melhor;
o Resultado:
▪ Transmitem se normalmente;
▪ Diminuídas (ex: pneumotórax ou derrame);
▪ Aumentadas (ex: pneumonia).
• Percussão:
o Metodologia:
▪ Método digito-digital;
▪ Método dígito-palmar:
• Dedo ou mão sobre
espaços intercostais;
• Percussão com a ponta do dedo e não com a polpa (atenção a
unhas);
• Pancada breve;
• Movimento basculante.
o Bases físicas:
▪ O som obtido depende da relação ar/líquido.
o Resultado:
▪ Normal: Som claro pulmonar;
▪ Desvio a favor do ar – Timpanismo (ex: enfisema);
▪ Desvio a favor do líquido – Macissez (ex: pneumonia).
• Auscultação:
o Estetoscópio:
▪ Termo grego (“exame ao peito);
▪ Serve para transmitir e ampliar (fonendoscópio);

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▪ Desenvolvido por René Laennec;


▪ Constituído por:
• Olivas auriculares: peças em formato anatômico, que se
encaixam ao canal auditivo do examinador;
• Tubo de condução: haste em forma que permitem a
transmissão do som com pouca distorção;
• Campânula: apropriado para perceção de sons graves (filtra
frequências mais altas);
• Diafragma: apropriado para perceção de sons agudos (filtra
frequências mais baixas).
▪ Sons normais:
• Murmúrio vesicular: ruído suave que ocorre durante a
inspiração e começo da expiração devido à passagem do ar em
regime turbulento nos brônquios segmentares e brônquios
terminais
• Ruído laringo-traqueal: percetível durante a inspiração, ruído
rude produzido ao nível da glote.
▪ Ruídos Adventícios:
• Fervores: parecem ter origem pela passagem do ar em
pequenas vias aéreas que (bronquíolos terminais) que
deixaram de estar colapsadas ou através de secreções fluidas,
em vias de maior calibre;
• Fervores crepitantes: audíveis na inspiração;
• Fervores sub-crepitantes: audíveis na inspiração e expiração;
• Roncos e sibilos: sons musicais, contínuos, com origem na
estenose de brônquios de maior calibre (roncos mais graves) e
de menor calibre (sibilos mais agudos);
• Atritos: sons irregulares, comparáveis pelo som de couro ao ser
enrugado e audíveis na inspiração e expiração (origem na
pleura).

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Alguns Padrões Semiológicos

Nome Padrão Semiológico

Transmissão Vibrações Vocais: Normal;

Percussão: Som claro pulmonar;


Normal
Auscultação pulmonar: murmúrio
vesicular audível sem ruídos adventícios.

Transmissão Vibrações Vocais:


Diminuídas;

Derrame Percussão: Macissez;


Pleural
Auscultação pulmonar: murmúrio
vesicular ausente na zona afetada, com
atritos audíveis.
Transmissão Vibrações Vocais:
Diminuídas;

Percussão: Timpanismo;
Pneumotorax
Auscultação pulmonar: murmúrio
vesicular ausente na zona afetada sem
ruídos adventícios.
Transmissão Vibrações Vocais:
Aumentadas;

Percussão: Macissez;
Pneumonia
Lobar Auscultação pulmonar: murmúrio
vesicular diminuídos na zona afetada,
com fervores (crepitantes e / ou sub
crepitantes audíveis).
Transmissão Vibrações Vocais: Normal
Diminuídas;
Bronquite /
Percussão: Som claro pulmonar;
Asma
Auscultação pulmonar: murmúrio
vesicular com roncos e sibilos audíveis.

Transmissão Vibrações Vocais:


Diminuídas;

Enfisema Percussão: Timpanismo;

Auscultação pulmonar: murmúrio


vesicular sem ruídos adventícios.

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Provas de Função Respiratória

Provas Funcionais:
• Diagnóstico funcional;
• Avaliação da progressão da doença;
• Decisão terapêutica (ventiloterapia / oxigenoterapia);
• Monitorização da terapêutica;
• Avaliação da incapacidade;
• Fisiologia do exercício.

Métodos de Registo:
• Formas de apresentação dos resultados de sucessivas determinações de uma grandeza:
o Numérica (os resultados são apresentados em duas colunas: numa, os valores
da variável independente e, noutra, os da variável dependente);
o Geométrica (o valor de cada determinação é representado por uma grandeza
geométrica um comprimento, um ângulo, uma superfície, etc.);
o Gráfica (método de registo de forma contínua, geralmente de uma variável em
função do tempo, ou em função de outra).

Método de Registo Gráfico:


• Thomas Young (1807);
• Registo das vibrações de um diapasão;
• Estilete / pena escrevente;
• Papel fumado / quimógrafo;
• Registo de sons;
• Fenómeno reversível (fonógrafo – Thomas Edison (1847 1931));
• Aplicações à fisiologia (Ludwig,1847):
o (primeiro dispositivo de medição da pressão arterial).

Método de Registo Gráfico:


• Vantagens:
o Traçado obtido automaticamente;
o Informação corresponde a grande número de determinações;
o Possibilidade de registar variações rápidas.
• Desvantagens:
o Discordâncias entre o traçado e o fenómeno que lhe deu origem;
o Número finito de informações.

Sensibilidade – Relação entre a amplitude do traçado e a variação que lhe deu origem.
• Depende do efeito amplificador da alavanca;
• Depende da elasticidade da membrana.

Fidelidade – Relação entre o traçado obtido e a variação real da grandeza em estudo.


• Depende da frequência própria do sistema:
o Do efeito amplificador da alavanca;
o Da elasticidade da membrana;
o Do momento de inércia da alavanca.

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Oscilógrafo Pneumático:
• Passagem de uma corrente
elétrica;
• Tinha de ser calibrado para poder
efectuar um bom registo:
o Sub-amortecido;
o Criticamente amortecido –
registo mais fidedigno;
o Sobre-amortecido.

Osciloscópio:
• Canhão de eletrões:
o Cátodo e filamento;
o Tubo de Wehnelt:
▪ Controla intensidade (brilho);
▪ Supressão de retorno.
o Ânodo colimador:
▪ F. aceleradora;
▪ F. colimadora;
▪ F. coletora.
o Grelha de focagem.
• Sistema de deflexão:
o Placas verticais XX (desvio horizontal);
o Placas horizontais YY (desvio vertical).
• Écran.

Volumes e Capacidades

Espirómetros:
• Mais antigos: de campânula ou de fole;
• São aparelhos que medem a respiração.
• Num espirómetro de campânula tenho:
o Uma estrutura cilíndrica, de parede
dupla, cheia de água entre as duas
paredes, na qual temos um copo
cilíndrico invertido, formando uma
zona selada onde existe ar;
o Um registador que através de um
sistema de alavancas vai registar o
movimento do copo invertido
dentro do cilindro de parede dupla.

Pletismógrafo:
• Aparelho mais complexo, com análise de gases.

Volumes Pulmonares

Volume pulmonar – quantidade de ar existente no pulmão num dado momento.

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Principais volumes pulmonares:


• Volume corrente:
o Cerca de 500 ml;
o Volume mobilizado numa inspiração ou expiração normal.
• Volume de reserva inspiratória:
o Cerca de 3000ml;
o Volume extra de ar que pode ser inspirado, além do volume corrente normal.
• Volume de reserva expiratória:
o Cerca de 1100ml;
o Volume de ar que ainda pode ser expirado, pela expiração forçada, após o
término da expiração corrente normal.
• Volume residual:
o Cerca de 1200 ml;
o Volume de ar que ainda permanece no pulmão após uma expiração forçada;
o Não é possível avaliar por espirometria, só com pletismografia.

Capacidades Pulmonares:
• Somatório de volumes;
• Principais capacidades pulmonares:
o Capacidade vital:
▪ Cerca de 4600 ml;
▪ Volume que é possível expulsar durante uma expiração forçada
consecutiva a inspiração máxima;
▪ Volume Corrente + Volume de Reserva Inspiratória + Volume de
Reserva Expiratória.
o Capacidade inspiratória máxima:
▪ Cerca de 3500 ml;
▪ Volume máximo que pode ser inspirado a partir da posição expiratória
de repouso;
▪ Volume Corrente + Volume de Reserva Inspiratória.
o Capacidade residual funcional:
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▪ Cerca de 2300 ml;


▪ Volume de ar contido nas vias aéreas no fim de uma expiração normal;
▪ Volume de Reserva Expiratória + Volume Residual;
▪ Só pode ser avaliada por pletismografia.
o Capacidade pulmonar total:
▪ Cerca de 5800ml;
▪ Volume máximo a que os pulmões podem ser expandidos com o maior
esforço respiratório possível;
▪ Capacidade Vital + Volume Residual;
▪ Só pode ser avaliada por pletismografia.

Capacidade Vital:
• Homem: VC – Litros
o VC = 0.052H – 0.22ª – 3.60. H – Altura (cm)
• Mulher: A - Idade
o VC = 0.041H – 0.018ª – 2.69.

Homem Mulher
Volume Reserva Inspiratório
3000 1900
(VRI)
500 Volume Corrente (VC) 500
Volume Reserva Expiratório
1100 700
(VRE)
1200 Volume Residual (VR) 1100
Capacidade Pulmonar Total
5800 ml 4200 ml
(CPT)

Parâmetros Importantes

Capacidade Vital Forçada (CVF / FVC) – Volume máximo de ar que pode ser expirado durante
uma manobra expiratória forçada, a partir do ponto de inspiração máxima, com um período
mínimo de expiração de seis segundos no adulto e de três segundos nas crianças;

Volume expiratório máximo forçado 1º segundo (VEM1 ou FEV1) – Volume expirado no 1º


segundo de uma expiração máxima, após uma inspiração máxima

Índice de Tiffeneau – A fração de ar expirado no primeiro segundo relativo ao volume total


expirado. Relação do FEV1 em função da CVF (expresso em %). FEV1/FVC > 0.75
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Função / Disfunção – Síndromas Ventilatórios

Alteração Ventilatória Obstrutiva

Alteração Ventilatória Restritiva

Alteração Ventilatória Mista

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Aula 2 – Aparelho Respiratório II


Espirometria – Interpretação:

A espirometria pode ser facilmente realizada actualmente, através de espirómetros portáteis


que podem ou não estar ligados a um computador. Antes de cada sessão de teste espirométrico,
o aparelho deve ser calibrado, o que normalmente é feito através da utilização de uma seringa
de 3 Litros, sendo avaliada a acuidade e precisão do sistema. É importante perceber que os
aparelhos apresentam valores de referência ou normalidade, que dependem da população
controlo considerada saudável.

O registo de parâmetros antropométricos, bem como história prévia de tabagismo, alergias e


registo de atividades profissionais do doente, bem como da sintomatologia apresentada e
terapêuticas realizadas são de elevada importância para a interpretação correta dos resultados.

Para verificarmos se as manobras são de boa qualidade, é fundamental conhecer e saber


interpretar os dois gráficos dados pela espirometria. A expiração deve prolongar-se por pelo
menos 6 segundos, e ser possível a identificação de um plateau final de pelo menos 2 segundos,
de forma a assegurar que a expiração foi realizada até ao volume de reserva expiratória.

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A qualidade do gráfico fluxo-volume é dada por alguns pontos. A expiração deve ter um início
rápido, instantâneo, com um rápido aumento do fluxo até se atingir um pico inicial precoce, que
corresponde ao Fluxo Expiratório de Pico (PEF). A expiração deve continuar sem interrupções,
de forma contínua, até á gradual extinção do fluxo. A inspiração por seu lado, e de igual forma,
deve apresentar um fluxo contínuo, até se atingir a capacidade pulmonar total. A manobra deve
ser realizada pelo menos três vezes, sendo que pelo menos duas das curvas, de preferência as
três, estejam livres de artefactos, incluindo artefactos que possam resultar da tosse (FEV1 ↓),
pelos entalhes identificáveis no gráfico, e devem ser reprodutíveis, devendo haver uma
diferença nos valores da capacidade vital forçada que não ultrapassem os 200 ml entre elas
(preferencialmente 150 ml).

Como referido anteriormente, deve-se assegurar que não acontece um término precoce quer
da inspiração (expiração não parte da CPT; FEV1, PEF, FVC ↓), quer da expiração (FVC ↓,
FEV1/FVC falsamente ↑), e que também não existe perda de fluxo por incorreta oclusão dos
lábios em torno do bucal (frequente em doentes com parésias orofaciais; FVC e FEV1 ↓, PEF
pode ↓). Deve-se também excluir que o bocal não seja ocluído pela língua do doente, o que leva
a limitação do fluxo.

O reconhecimento de padrões respiratórios normais e anormais, processa-se pela avaliação das


curvas de fluxo-volume e pela avaliação de três parâmetros: FEV1, FVC e FEV1/FVC.

Estamos em presença de um padrão ventilatório normal, quando os valores da FEV1 e FVC são
normais. Estes são normais quando o seu valor é superior ou igual a 80% do predito ou
superiores ou iguais ao limite inferior da normalidade. Obtemos estes resultados quando
comparamos os valores absolutos obtidos pelos sujeitos comparados com os valores obtidos
para uma população controlo, considerando a mesma idade, sexo, etnia e índices
antropométricos. A razão entre estas duas variáveis será normal quando esta for superior a 70%
do predito.

Padrões Anormais

Padrão Restritivo Padrão Misto Padrão Restritivo


FEV1 ↓
FVC ↓ (ou N)
FEV1 /FVC ↓
FEV1 ↓ (ou N) FEV1 ↓ (ou N)
PEF ↓
FVC ↓ FVC ↓
FEV1 /FVC N FEV1 /FVC ↓
FEV1 N
FVC mto >
FEV1 /FVC ↓

Obstrução das vias aéreas superiores:


• PEF ↓;
• PIF ↓;
• FEV1 N;
• FEV1 /PEF > 8.

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Os doentes com patologia restritiva, têm um FEV1 menor, mas geralmente superior aos doentes
com patologia obstrutiva, assim como o PEF. Geralmente conseguem deitar o ar todo fora e
fazem-no de uma forma paralela à forma como os controlos saudáveis o fazem, mas não o
conseguem fazer por um tempo tão prolongado, podendo nem sequer fazer o tempo de 6
segundos necessário para o teste. Estes doentes apresentam uma Capacidade Vital Forçada
geralmente inferior aos doentes com patologia obstrutiva. O comportamento da curva também
pode ser alterado pela patologia.

Os doentes com patologia obstrutiva têm maior dificuldade em expirar o ar, necessitando assim
de mais tempo para o fazer. Consequentemente o FEV1 vai ser menor e mais dificilmente estes
doentes em 6 ou 8 segundos conseguem apresentar o plateau. Na curva fluxo-volume
verificamos que o PEF é muito menor e na continuação da expiração observa-se a concavidade
característica da curva expiratória. Esta concavidade será tanto mais acentuada quanto mais
grave for a patologia de base.

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Doentes que apresentem obstrução das vias aéreas superiores podem ter uma de três situações:
• Diminuição acentuada de fluxo inspiratório, estando assim presente um envolvimento
das vias superiores extra-torácicas. Doentes apresentam estridor inspiratório;
• Diminuição acentuada de fluxo expiratório, estando assim presente um envolvimento
das vias superiores intra-torácicas. Doentes apresentam sibilância;
• Uma obstrução fixa, gera envolvimento quer inspiratória quer expiratória nas curvas
fluxo-volume.

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Durante o crescimento, ocorre um aumento da caixa torácica e do


tamanho e capacidade dos pulmões, havendo um aumento progressivo
do FVC e do FEV1 até cerca dos 20 anos. A partir daqui vamos verificar a
ocorrência de um decréscimo progressivo que acompanha o
envelhecimento dos indivíduos.

Curvas Fluxo-Volume

O fluxo encontra-se no eixo do Y e o volume encontra-se no eixo X. Não esquecer que o fluxo é
um volume por unidade de tempo (L/seg, por exemplo). A prova inicia-se na expiração máxima,
efetuando-se a seguir uma expiração máxima, que vai terminar no ponto onde X e Y se
encontram, o zero. De seguida efetua-se a expiração máxima, indo retornar ao ponto inicial. De
inicio o fluxo expiratório é maior que no final, aumentando até ao Pico de Fluxo Expiratório
Máximo (PFE). Entre o ponto de expiração máxima e o ponto de inspiração máxima temos o
valor da Capacidade Vital Forçada.

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Ventilação Voluntária Máxima

Volume máximo de ar ventilado em um período de tempo por repetidas manobras respiratórias


forçadas.

Por vezes respira-se para dentro de um saco, de forma a evitar a perda de CO2 aumentando a
sua circulação de forma a evitar a alcalose provocada pela hiperventilação (ciclos rápidos de
respiração consecutivos mostrados na imagem) o que pode causar desmaios.

A ventilação voluntária máxima obtém-se:


• Hiperventilando por 12 segundos.
• Verificam-se o número de ciclos nesses 12 segundos;
• Multiplica-se o número de ciclos por 5 (de forma a perfazer o total de ciclos efetuados
em 60 segundos);
• Calcula-se o valor médio por ciclo (soma dos volumes a dividir pelos 12 ciclos)
• O MVV calcula-se multiplicando o volume médio por ciclo pelo número de ciclos num
minuto.

Valores médios:
• Homem – 140-180 L/min;
• Mulher – 80-120 L/min.

Atletas:
• Aumento da Capacidade Pulmonar Total;
• Aumento da Capacidade Vital;
• Aumento do Volume Residual;
• Aumento da Capacidade Residual Funcional;
• Aumento da Ventilação Voluntária Máxima;
• Aumento da Capacidade Difusão Pulmonar.

Ex-atletas, e pessoas que praticam exercício físico durante a juventude, mantêm estas
capacidades aumentadas quando são mais idosos.

A nicotina tem influência sobre o aparelho respiratório, provocando broncoconstrição e paralisa


os cílios. O fumo do tabaco, promove a irritação e aumento das secreções. Se de forma crónica,
o tabaco pode provocar enfisema e a destruição das paredes alveolares.

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Asma (Padrão Obstrutivo):


• Ocorre a contração dos bronquíolos, com aprisionamento do ar nos alvéolos;
• FEV1 Inferior a 80% do previsto;
• Relação FEV1/FVC inferior a 75%.

Uma prova importante para o diagnóstico de asma é a prova de broncodilatação, na qual se


regista em primeiro lugar a curva com que o indivíduo se apresenta à consulta e depois
administra-se um broncodilatador, como o Salbutamol, repetindo-se o teste 10 minutos após
administração. Se existir asma é suposto a curva reverter para valores próximos do normal.

Um equipamento utilizado sobretudo pelos doentes em casa para o controlo da asma é o Peak
Flow Meter ou Determinador do Pico de Fluxo Expiratório Máximo. Este permite verificar o pico
máximo de fluxo de saída de ar dos pulmões. Estando o cursor no 0, este vai subir por uma escala
quanto maior for o volume de ar deslocado a quando da expiração.

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Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)


(Padrão Obstrutivo)

Nesta patologia verifica-se uma destruição


das paredes alveolares e a acumulação de
secreções dentro dos bronquíolos. Muito
frequente em indivíduos fumadores.

Fibrose Pulmonar (Padrão Restritivo)

Corresponde á deposição de tecido


conjuntivo nas regiões respiratórias, o
que vai desencadear uma imagem na
TAC com muitas zonas brancas dentro
dos pulmões (zonas fibróticas) que vão
tornar os pulmões mais rígidos.
Assemelha-se a uma cicatriz na pele.

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Correlações Clínicas (Padrões Espirométricos Anormais)

Normal Obstrutivo Restritivo

Ascensão lenta; tempo Ascensão Rápida para


prolongado para expiração plateau com volume máximo
total reduzido

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Doenças Restritivas Doenças Obstrutivas


Miastenia
Fibrose Obesidade Gravis
Asma Aguda Enfisema Grave
Pulmonar Moderada (Fraqueza
Muscular)
Capacidade
Pulmonar 60% 95% 75% 100% 130%
Total
Capacidade
Residual 60% 65% 100% 104% 220%
Funcional
Volume
60% 100% 120% 120% 310%
Residual
Capacidade
Vital 60% 92% 60% 90% 60%
Forçada
35% (pré- 35% (pré-
broncodilatador) broncodilatador)
FEV1 75% 92% 60%
75% )pós- 38% )pós-
broncodilatador) broncodilatador)

Nível de Saturação de Oxigénio no Sangue Arterial

Pode ser observado por:


• Métodos Não-invasivo – Oximetria de Pulso;
• Método Invasivo – Gasometria.

Oximetria de Pulso - Vantagens:


• Monitorização contínua não invasiva;
• Informação rápida sobre sistema cardíaco e respiratório;
• Reduz número de gasometrias;
• Instalação fácil e indolor;
• Custo baixo;
• Fiável (entre 80% 100%);
• Utilizado para estratificação de risco / hospitalização (ex: asma).

Lei de Lambert-Beer (-Bouguer) – (Espectofotometria)


• “A absorção da luz passando por um solvente não absorvente que contenha um soluto
absorvente é proporcional ao produto do seu comprimento de onda, o seu coeficiente
de extinção e a concentração do soluto.”

Utilizando esta lei podemos distinguir:


• Desoxihemoglobina: Absorção máxima de luz no espectro de comprimento de onda do
vermelho (600-750 nm).
• Oxihemoglobina: Absorção no infravermelho (850-1000 nm).

O aparelho de oximetria de pulso vai ter dois componentes principais: um emissor de luz
vermelha e infravermelha, e um detetor de luz vermelha e infravermelha, que vai receber os
comprimentos de onda não absorvidos. Este vai calcular o diferencial entre a luz emitida e
absorvida de forma a calcular a grau de oxigenação do sangue. Nestes casos estamos a medir a
saturação periférica, visto que estamos a medir a saturação sanguínea numa região periférica.

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SpO2 (%) Interpretação


95 - 100 Normal Valores até 94%, implicam a necessidade de
91 - 94 Hipoxemia Ligeira suplementação do doente com O2.
86 - 90 Hipoxemia Moderada
< 85 Hipoxemia Grave

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Aula 3 – Pressão Arterial e Pulsos


Pressão Arterial - A pressão arterial é a força exercida pelo sangue contra a parede de um vaso.

Valores normais (ótimos): PaS < 120 mmHg e PaD < 80 mmHG

Determinantes da Pa: Pam = DC (VS e FC) x RVP

Pressão de Pulso= Pressão sistólica – Pressão diastólica

Pressão arterial média = Pressão diastólica + 1/3 Pressão pulso

O objetivo é que a pressão arterial seja o mais constante possível. Há diversos mecanismos e
sistemas de órgãos a regular a pressão arterial, sendo esta fundamental à vida. A variabilidade
da FC e Pa durante 24h numa pessoa saudável: diversas alterações de FC porque se adapta às
circunstâncias e Pa constante.

A volémia (quantidade de sangue a circular) por si só não tem grande impacto na Pa, a não ser
que que sejam situações extremas.

Uma PAm que garanta uma boa perfusão de órgãos tem que ser de pelo menos 65 mmHg.

A pressão sistólica é muito dependente do débito cardíaco, mas a pressão diastólica é sobretudo
dependente da RVP, como da elasticidade das grandes artérias, principalmente da aorta.

Medição da Pressão Arterial

A única maneira de medirmos a verdadeira pressão arterial é dentro da artéria. Isto é essencial
em doentes onde precisamos de saber a tensão a cada segundo. Normalmente a tensão arterial
é medida com o esfingmomanómetro de mercúrio, aneroide ou digital. A braçadeira deve ser
ajustada ao doente. Se tivermos uma manga muito curta dá-nos uma pressão arterial mais
elevada, se for muito larga dá-nos uma pressão arterial mais baixa.

• Invasiva: cateterismo arterial

• Não invasiva: esfingmomanómetro

Características da Braçadeira:
• Altura da manga – 40% da circunferência do braço;
• Bolsa insuflável – 80% da circunferência do braço;

Condições para a medição da PA:


• Doente em repouso pelo menos 5 minutos;
• Sala confortável, silenciosa e aquecida;
• Evitar ingestão de café ou tabaco nos 30 minutos anteriores;

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O braço deverá estar totalmente descoberto até à raiz do membro. A medição deve ser bilateral
e a braçadeira deve ser colocada 2-3 dedos acima da prega do cotovelo. Deve-se escolher o valor
mais elevado.

A pressão arterial deve ser medida ao nível do coração, daí se medirmos no pulso temos que
colocar a ponta dos dedos do doente no ombro para que o pulso fique perto do coração. O mais
correto é medir no braço.

Métodos de medição da pressão arterial


• Método palpatório: determinação da PA sistólica;
• Método auscultatório: determinação da PA sistólica e diastólica.

O mais correto é realizar-se o método palpatório, seguido do método auscultatório.

Método palpatório:
1. Aplicar a braçadeira sobre o braço do paciente, 2 dedos acima do cotovelo
2. Palpar o pulso radial
3. Rodar totalmente a válvula no sentido horário; insuflar a braçadeira lentamente até
deixar de se palpar o pulso radial; insuflar mais 30 mmHg
4. Abrir lentamente a válvula, rodando no sentido anti-horário, até que se palpe
novamente o pulso radial: a pressão indicada na coluna de mercúrio neste preciso
momento corresponde à pressão sistólica.
5. Desinsuflar totalmente a braçadeira.

Qualquer pulso radial corresponde à pressão arterial sistólica.

Método auscultatório:
Aqui temos em mente o que medimos pelo método palpatório. Imaginemos que medimos 110
mmHg de PA sistólica. Então aqui insuflamos mais 30 mmHg acima do que medimos no
palpatório, ou seja, até aos 140 mmHg.
1. Braço apoiado, em repouso e sem roupa
2. Semi-flexão do antebraço sobre o braço
3. Palpação da artéria braquial (umeral)
4. Colocação da manga sobre a artéria (2-3 cm acima da prega do
cotovelo)
5. Colocar o estetoscópio sobre a artéria braquial, um pouco abaixo
do bordo inferior da braçadeira dos esfingmomanómetro
6. Insuflar a braçadeira até se deixar de sentir o pulso radial
7. Desinsuflar lentamente, auscultando os sons de Korotkoff: a fase
1 corresponde à PAS e a fase 5 (desaparecimento de sons de
Korotkoff) à PAD.
8. Repetir mais duas vezes, eliminar a primeira medição e fazer a
média aritmética entre as duas últimas.

Sons de Korotkoff: resultantes do fluxo turbulento causado pela oclusão parcial da artéria. Têm
5 fases, a fase I corresponde à TA sistólica e a fase V à TA diastólica. Na prática estas fases são
difíceis de distinguir.
Exemplo:
Insuflação da braçadeira → Artéria ocluída → Ausência de som → Fase 1 dos sons de Korotkoff
120 mHg (TA sistólica) → Fase 2 dos sons de Korotkoff 108 mmHg → Fase 3 dos sons de
Korotkoff 100 mmHg → Fase 4 dos sons de Korotkoff 86 mmHg → Fase 5 dos sons de Korotkoff
80 mmHg (TA diastólica) → Artéria desobstruída
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Variação da PA:
• Ritmo diurno;
• Stress emocional;
• Exercício Físico;
• Idade.

Classificação da PA

PULSOS ARTERIAIS PERIFÉRICOS

O pulso arterial é a expansão da parede arterial síncrona com o batimento cardíaco, devida à
distensão súbita originada pela ejeção ventricular na aorta e sua transmissão aos vasos
periféricos → Onda de Pressão

Se colocássemos uma cateter na artéria, era


esta a onda de pulso que obtínhamos.
A tracejado temos a PA média, que pode ser
obtida pelo integral desta curva ou pelo cálculo
já acima mencionado.
A curva apontada com a seta verde
corresponde ao encerramento da valva aorta,
que faz com que uma pequena quantidade de
sangue volte para trás. Isto marca o fim da
sístole e o início da fase diastólica.

Os pulsos arteriais podem ser palpados em vários sítios:


• Carotídeo;
• Axilar;
• Umeral;
• Radial;
• Cubital;
• Femoral;
• Popliteu;
• Tibial posterior;
• Pedioso.

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Os pulsos nunca devem ser palpados com o polegar.


Os pulsos centrais e periféricos têm uma distinção relativamente relevante, porque numa
situação de doença grave não vamos medir pulsos periféricos. Os dois pulsos centrais mais
importantes são o carotídeo e o femoral.

O pulso carotídeo normalmente é


medido com 3 dedos entre a
traqueia e o
esternocleidomastoideu.
Não se deve medir os dois pulsos
carotídeos ao mesmo tempo por
causa da ativação do barorecetor.

O pulso femoral é importante para alguns procedimentos


clínicos. A artéria é mais externa do que a veia. O pulso
femoral é medido ao nível do ligamento inguinal, no terço
médio, palpamos com 3 dedos verticalmente.

A artéria axilar passa na profundeza da axila e é difícil de palpar.

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A artéria umeral passa na face interna do braço, na goteira que se


para o bicípete e do tricípete, tem um trajeto oblíquo e quando se
aproxima do cotovelo está junto do tendão do bicípete.

O pulso radial e cubital são


relativamente fáceis de palpar.

O pulso popliteu palpa-se no escavado popliteu, com as duas


mãos, embora seja difícil.

O pedioso palpa-se no dorso do pé, normalmente entre o 1º e o


2º ou 2º e 3º ossos metatársicos.

O tibial posterior palpa-se na região posterior do maléolo interno.

Procedimento para palpação:


1. Orientar o indivíduo quanto ao procedimento e coloca-lo em posição confortável,
sentado ou deitado;
2. Avaliação do pulso:
• Dedos indicador e médio (o polegar centro de fixação)
• Examinador usa a mão direita para examinar o pulso esquerdo e vice-versa
3. Avaliar durante 1 minuto
4. Anotar observações
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Características:

Frequência:
• Medir a frequência do pulso
• Normal: 60-100 p.p.m.
• Bradicárdia < 60 p.p.m.
• Taquicárdia > 100 p.p.m.

Amplitude:
Um pulso normal designa-se habitualmente como “amplo” (só a experiência e o treino nos
permitem avaliar corretamente a amplitude do pulso).
Podem-se classificar as amplitudes do pulso:
• 0: Ausência (pulso não palpável)
• 1: Diminuída (pulso dificilmente palpável)
• 2: Amplitude normal

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Aula 4 – ECG I
O importante a deter sobre a eletrocardiografia, é que esta é uma forma de avaliação da
atividade elétrica do coração, em que partimos do pressuposto de um potencial de ação a nível
celular, na sua fase de despolarização e repolarização, e vamos alargar a soma de toda essa
atividade elétrica em todo o coração e transpô-la para um eletrocardiograma de 12 derivações,
que no fundo é o registo, em diferentes ondas e intervalos, da atividade elétrica global do
coração.

O coração tem um sistema elétrico próprio, especializado, a que chamamos sistema cardionetor.
Esse sistema começa no nódulo sinusal, a zona comandante do ritmo cardíaco normal (sinusal),
tendo a partir daí a ativação das aurículas (da direita para a esquerda) através do feixe de
Bachmann. O nódulo sinusal vai também ativar o nódulo atrioventricular, através dos tratos
internodais. O nódulo atrioventricular, que se encontra na transição entre aurículas e ventrículos
vai, através do ramo direito e esquerdo do feixe de His, ativar a rede de Prukinje e assim os
ventrículos. Este fenómeno de ativação elétrica e mecânica chama-se binómio excitação-
contração.

Se olharmos para a atividade de uma miofibrilha,


e transpondo essa atividade para o papel,
percebemos que existe um processo de
despolarização numa célula que está inicialmente
em repouso, tendo assim o seu meio intracelular
predominantemente negativo e o meio
extracelular positivo. É esta diferença de potencial
que conseguimos medir entre dois polos. Na
despolarização é que a célula que estaria em
repouso, ou seja, negativa, passa a ter carga
positiva ao longo da corrente de despolarização.
Regista-se uma carga positiva porque estas cargas
vão na frente da onda de ativação. Quando a célula fica toda positiva no seu interior, verifica-se
uma despolarização completa, verificando-se assim graficamente a onda de despolarização
desta fibra. Depois da despolarização, temos a repolarização, onde a célula, progressivamente,
vai voltar a ter carga negativa no seu interior. A repolarização fica completa quando todo o
interior da célula volta a ter carga negativa.

Chamamos ao conceito de estar a ver cargas negativas, porque na despolarização são cargas
positivas que lideram, a teoria do dipolo, isto é, existe sempre um conjunto de cargas positivas
e negativas sendo que, numa onda de despolarização a carga positiva lidera. Um dipolo
representa um vetor que vai numa determinada direção, com uma determinada amplitude e um
determinado sentido. Quando o dipolo passa pela sonda de observação primeiro passa a zona
positiva e depois a negativa.

Eletrocardiografia - Registo do potencial elétrico na superfície corporal, causado pelas correntes


do volume condutor torácico que foram geradas pela atividade elétrica do coração. É o exame
complementar de diagnostico:
• Mais antigo e mais utilizado;
• Permite uma noção da orientação anatómica do coração e do tamanho relativo das
diversas câmaras cardíacas;
• Mais direto no diagnóstico das alterações do ritmo e condução cardíacos;
• Essencial no diagnóstico e manejo de alterações metabólicas e eletrolíticas;

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• Essencial no estudo do efeito de drogas e respetiva toxicidade;


• O mais importante na avaliação das síndromes coronárias agudas e doenças elétricas
primárias.

A ativação elétrica é feita a partir do nódulo sinusal, que fica na porção antero-lateral da aurícula
direita. Esta produz o primeiro acidente do eletrocardiograma, a onda P (amplitude 0.2 mV) que
é marcada na sua primeira porção pela auricula direita e na segunda porção pela aurícula
esquerda. Depois desta existe um intervalo isoelétrico (PR) que corresponde a propagação do
impulso através do nódulo aurículo-ventricular e feixe de His/ sistema de Purkinje. A
despolarização do músculo ventricular, que começa pela porção septal e termina na porção
basal do ventrículo esquerdo, é dada no ECG pelo complexo QRS. À despolarização auricular
segue-se a sua repolarização, que não é evidente no
ECG, visto ocorrer ao mesmo tempo que a
despolarização ventricular, que origina voltagens
maiores. Depois da despolarização ventricular,
temos um segmento isoelétrico (ST), que nos vai
levar à repolarização ventricular, mostrada através
da onda T. A repolarização ventricular começa na
porção onde terminou a despolarização, sendo assim
uma onda T positiva.

Resumidamente:
• Onda P:
o Despolarização auricular.
• Complexo QRS:
o Despolarização ventricular;
o Repolarização auricular.
• Onda T:
o Repolarização ventricular.

A segunda parte da onda tem um aspeto bífido,


em derivação DII mostra uma hipertrofia da
aurícula esquerda. Em V1, quando a
componente negativa é mais acentuada que a
positiva, também traduz um aumento.

Quando em DII a onda P fica muito alta,


traduz-se num aumento da aurícula
direita

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O registo do eletrocardiograma, é feito num


esquema quadriculado (seja no papel ou digital)
em que temos o papel a correr a uma velocidade
de cerca de 25 mm/s, ficando o tempo no eixo
das abcissas e a voltagem no eixo das ordenadas.
Para a voltagem 10mm no gráfico correspondem
a 1 mV.

Tempo de duração da onda P – Máximo de


0.08 - 0.12 segundos.
Duração do intervalo PQ – 0.12 a 0.2
segundos.
Tempo de duração QRS – 0.08 segundos.
Duração Intervalo QT (compreende a
despolarização e repolarização ventricular) –
0.35 s, dependente do batimento cardíaco.

Falamos de intervalos quando falamos do


início da onda P ao início da onda QRS, o
intervalo PQ / PR e do Intervalo QT do início
da onda QRS ao final da onda T. Utilizamos a designação segmentos, para porções do
eletrocardiograma que teoricamente são isoelétricas (não têm voltagem), neste caso o
segmento PQ /PR, vai do final da onda P ao início do QRS. Da mesma maneira, o segmento ST
vai do final do QRS até ao início da onda T.

As derivações para fazer o eletrocardiograma são 12:


• 3 derivações clássicas:
o D1 – Do braço esquerdo (polo positivo) ao braço direito (polo negativo);
o D2 – Do braço direito (polo negativo) à perna esquerda (polo positivo -
observador);
o D3 – Do braço esquerdo (polo negativo) à perna esquerda (polo positivo -
observador);
o O conjunto destas 3 derivações bipolares formam o triângulo de Eithoven.
• Goldberg modificou as 3 derivações clássicas, tirando uma resistência de uma central de
Wilson, aumentando a voltagem do registo. Passamos assim a ter 3 derivações
monopolares:
o aVR – Derivação do braço direito, aumentada, polo positivo explorador no braço
direito, polo neutro no centro do triângulo;
o aVL – Derivação do braço esquerdo, aumentada, polo positivo explorador no
braço esquerdo, polo neutro no centro do triângulo;
o aVF – Derivação da perna esquerda, aumentada, polo positivo explorador na
perna esquerda, polo neutro no centro do triângulo.
• 6 Derivações Pré-cordiais no plano frontal:
o V1-V6, colocadas no pré-cordio, desde a porção do bordo direito do esterno,
para o bordo esquerdo do esterno, ao longo do 4º e 5º espaço intercostal até
chegar à linha média axilar;

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o Orientações anatómicas: Ângulo de Louis, ou ângulo esternal (corresponde ao


2º espaço intercostal);
o Contar 2 espaços para baixo do 2º espaço intercostal, colocar à direita do
esterno o V1 e à esquerda o V2;
o Passamos para o 5º espaço intercostal, do lado esquerdo, na linha
médioclavicular e colocamos o V4;
o No ponto médio entre V2 e V4 colocamos V3;
o Na linha axilar anterior do 5º espaço intercostal do lado esquerdo colocamos
V5;
o Na linha axilar média do 5º espaço intercostal do lado esquerdo colocamos V6;

Triângulo de Eithoven – Linhas perpendiculares


traçadas a partir do centro de cada eixo
intersectam o centro do triângulo.
Teoricamente, este ponto de intersecção
representa o centro da atividade elétrica.

Com as derivações colocadas nos membros e


a nível pré-cordial, conseguimos desenhar
um sistema hexa axial onde estão colocadas
os eixos de todas as derivações. É em cima
deste eixo que vamos conseguir definir o eixo
elétrico do coração e dizer se este é anormal
ou anormal.

Passos na interpretação do ECG:


1. Frequência cardíaca;
2. Rimo:
• Relação P/QRS;
• Morfologias dos Ps e dos QRS.
3. Morfologia P;
4. Morfologia QRS;
5. Eixo QRS;
6. Intervalo PQ (0.12-0.20);
7. Duração do QRS (0.08-0.10);
8. Segmento ST-T;
9. Onda T (morfologia e polaridade);
10. Intervalo QT (0.32-0.40) – QTc (
𝑄𝑇
): Homem 0.39 ± 0.039
√(𝑅−𝑅) Mulher 0.41 ± 0.041

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ECG é realizado em repouso e com o paciente decúbito dorsal. Todos os objetos metálicos
devem ser removidos. Devemos ter todos os cuidados para diminuir os artefactos, senão o
exame pode ficar prejudicado. Por exemplo se o doente tiver frio durante a realização do exame,
este pode ficar com interferências. O excesso de oleosidade da pele deve ser removido, e gel
condutor aplicado caso seja necessário. Na colocação dos elétrodos, começamos pelos
periféricos, aplicados nos membros utilizando as braçadeiras, sempre de forma a que o elétrodo
fique para medial, com o código de cores standard:
• Amarelo – Antebraço esquerdo;
• Verde – Perna esquerda;
• Vermelho – Antebraço direito;
• Preto – Perna direita (ligação à terra).
Para colocação dos elétrodos pré-cordiais:
• Após palpar a fúrcula esternal, deslizar os dedos sobre o esterno até achar uma saliência,
o ângulo de Louis, ou ângulo esternal. Abaixo deste estará o segundo espaço intercostal;
• Dois espaços para baixo do segundo espaço intercostal, ficará o quarto espaço
intercostal;
• Outro ponto importante é a linha hemiclavicular, que é a linha vertical que passa no
ponto médio da clavícula;
• As linhas axilar anterior e média são importantes também para a colocação dos
elétrodos;
• No quarto espaço intercostal, na borda para-esternal direita deve ser colocado o V1;
• No quarto espaço intercostal, na borda para-esternal esquerda deve ser colocado o V2;
• No quinto espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular esquerda deve ser
colocado o V4;
• O V3 é colocado no ponto médio entre V2 e V4;
• O V5 é colocado no mesmo plano horizontal do V4, na linha axilar anterior;
• O V6 é colocado no mesmo plano horizontal do V4 e V5, na linha axilar média.
É possível usar mais derivações pré-cordiais que as 6 standard em caso de necessidade.

Toda a atividade de despolarização é feita sempre da direita para a esquerda e de cima para
baixo. Se tiver um elétrodo à direita, todos os acidentes que registo no ECG são negativos. Todos
os acidentes positivos são registados em baixo e à esquerda. Assim aVR vai apresentar
normalmente ondas negativas

A frequência cardíaca normal varia entre 60 e 100 batimentos por minuto, no entanto devemos
ter em consideração o doente, pois há fatores que podem alterar a frequência cardíaca e serem
saudáveis na mesma. Um exemplo são os atletas que apresentam frequências cardíacas mais
baixas.

Existem três métodos que permitem avaliar a frequência cardíaca através de um


eletrocardiograma (funcionam nestes moldes apenas se for a velocidade standard).
• “Multiplicação por 10”: Num traçado com 6 segundos (30 quadrados grandes)
contam-se os complexos QRS, e multiplicam-se por 10. Uma vez que o
varrimento tem um velocidade de 25mm/s isto significa que em cada segundo
temos 5 quadrados grandes. Logo 6 segundos são 30 quadrados grandes,
levando a que ao contar quando QRS temos em 6s basta multiplicar por 10 para
termos um minuto. Este método é usado quando existe evidência de que os
ritmo não é constante.
• “Método do 1500”: Conta-se o número de quadrados entre pontos QRS e divide-
se 1500 por esse valor. Cada minuto tem 1500 quadrados pequenos, pois tem
300 grandes e cada grande tem 5 pequenos, 300x5=1500. Logo, se contarmos o

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número de quadrados pequenos entre cada ponto semelhante podemos


efetuar uma regra de três simples:

• “Método Sequencial”: encontra-se o pico de um QRS mais próximo de uma linha


mais escura (limite dos quadrados grandes), e atribui-se às linhas mais escuras
seguintes os seguintes valores de frequência cardíaca: 300, 150, 100, 75, 60, 50,
40, … . Verifica-se de seguida de qual desta linhas o QRS seguinte está mais
próximo e estima-se um valor. Os valores atribuídos às linhas sequenciais
baseiam-se no mesmo cálculo que o método anterior, como por exemplo, um
quadrado grande são 5 quadrados pequenos, logo 1500/5=300, o que
significaria que se os QRS tivessem um quadrado grande de distância a
frequência cardíaca era de 300 batimentos por minuto.

Quando observamos um eletrocardiograma temos de verificar se os intervalos entre QRS


consecutivos são ou não constantes. Se não forem pode haver uma arritmia.

Eletrocardiograma com artefactos, no entanto é possível analisar. Com uma frequência cardíaca
de 70 batimentos por que minutos. Apresenta intervalos PQ e QT normais.

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Eletrocardiograma com evidência de taquicardia com frequência cardíaca superior a 150


batimentos por minutos. Não se diz que este ritmo seja sinusal porque a onda P não se observa
bem e por isso não se compreende a sua morfologia. (ritmo sinusal explicado mais à frente)
Existe um fenómeno fisiológico, denominado de arritmia sinusal, que é a diminuição ligeira da
frequência cardíaca quando a pessoa expira, e um aumento quando a pessoa inspira. Sendo mais
marcada em atletas.

Quando se fala em intervalo PQ refere-se ao intervalo entre o início da onda P até ao início do
complexo QRS, quando se fala em segmento PQ refere-se ao intervalo entre o fim da onda P e
o início do complexo QRS. Assim, o segmento PQ é um momento que não apresenta voltagem.
O mesmo é válido para a diferença entre intervalo QT e segmento QT.

Podemos denominar variações esquerdas ou derivações laterais a D1, AVL, V5, V6, pois estão
todas à esquerda. Nestas derivações a onda P tem de ser positiva para ser sinusal porque a
despolarização ocorre da direita para a esquerda. Ainda, chamamos de derivações inferiores a
D2, D3 e AVF, que devem ser positivas também para ser sinusal, pois a despolarização dá-se de
cima para baixo. Para que o ritmo seja sinusal também é obrigatório que após uma onda P exista
um complexo QRS.

Frequência cardíaca de 40 batimentos por minuto, e ritmo sinusal. Sendo por isso uma
bradicardia sinusal.
Quando existe dilatação do átrio esquerdo o vetor de despolarização fica virado para trás e por
isso a onda P torna-se negativa em D1. Em D2 é possível observar uma onda bífida neste tipo de
casos. Por outro lado, quando há um aumento do átrio direito então o vetor passa a dirigir-se
para a frente e por isso a onda P apresenta-se aumentada em voltagem e diz-se que tem aspeto
de tenda.

A nível dos ventrículos, a despolarização desloca-se maioritariamente para a esquerda e de cima


para baixo, por isso o início do QRS nas derivações esquerdas são positivas e as derivações mais
à direita são negativos (V1, V2 e V3).

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As derivações permitem descrever um eixo


hexaxial sendo que D1 se encontra a 0º, AVF
a 90º, D2 a 60º, D3 a 120º e AVR a 150º.
Relativamente ao eixo elétrico diz-se normal
dos -30º aos 120º, para valores superiores a
estes temos um desvio direito do eixo e para
valores inferiores temos um desvio
esquerdo do eixo. Dentro dos valores
descritos como normais considera-se ainda
um eixo normal do tipo direito entre os 90º
e os 120º e um eixo normal do tipo esquerdo
entre os -30º e os 0º. Para determinar o eixo
elétrico soma-se a voltagem do QRS em duas
derivações, sendo uma delas sempre D1 e a
outra entre D2, D3 ou AVF. Soma-se a
voltagem de cada ponto do complexo QRS
de cada derivação escolhida
separadamente, traça-se cada vetor com o
tamanho correspondente à soma efetuada no seu eixo. A direção do eixo elétrico é dada pela
direção da soma dos dois vetores obtidos. (o professor da outra prática explicou de outra forma,
ou seja, não é a soma dos vetores, mas sim o cruzamento da projeção das perpendiculares dos
vetores. O professor da primeira prática disse que era a soma, mas eu escrevi em cima que era
apenas a direção da soma e não o vetor da soma.) NOTA: Quando a soma é igual nas duas
derivações então o eixo encontra-se em cima do eixo que existe entre as duas derivações. (assim
o desenho de exemplo está mal feito porque teria de cair em cima de 30º)

Uma componente isoelétrica de um eletrocardiograma é quando a parte positiva e negativa têm


o mesmo “tamanho”. Quando isto acontece a soma dos seus componentes dá zero e como tal
não existe vetor nesse eixo. Assim, nesta situação o eixo isoelétrico é perpendicular à derivação
que apresenta a componente isoelétrica. Por exemplo, se isso acontece em D2 então significa
que o eixo elétrico é perpendicular a D2 e coincide com AVL. No entanto, apenas com este
cálculo não saberíamos para que lado estaria o eixo isoelétrico, se positivo ou se negativo. Para
podermos tirar essa conclusão teremos de olhar para outra derivação que nos indique a direção
do eixo. Por exemplo D3, se nesta derivação também é positivo então o eixo isoelétrico tem uma
inclinação de 150º.

NOTA: NÃO CAIR NO ERRO!!!! Uma vez que somamos sempre D1 e outra derivação para calcular
o eixo isoelétrico, teríamos a ideia de que se essa outra derivação é zero, então, pela soma o
eixo isoelétrico coincidiria com D1. No entanto, para que um vetor de uma determinada
derivação seja zero é necessário que o eixo isoelétrico lhe seja perpendicular, e por isso a soma
com D1 não se aplica!!!

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Para vermos se o eixo é normal de um modo mais simples verificamos se D1 e outra derivação
são positivas ou negativas e sobrepomos os setores relativos ao sinal dessa derivações. Isto dá-
nos um intervalo de onde se encontra o eixo isoelétrico e podemos concluir se é normal ou não.
Por exemplo, se D1 é positivo sabemos que o eixo varia de -90º a 90º, e por sua vez, se D2
também é positivo este varia de -30º a -150º, assim a sobreposição destas duas derivações é de
-30º a 90º, sendo por isso normal.

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Aula 5 – ECG II
Passos na interpretação (analisar sequencialmente)
1. Frequência cardíaca - Quando um intervalo entre complexos QRS é maior (e a
velocidade de eletrocardiograma é a mesma), a frequência cardíaca é mais baixa.
2. Ritmo
3. Morfologia P
4. Morfologia QRS – A amplitude de QRS é superior à amplitude da onda P e corresponde
à despolarização ventricular.
5. Eixo do QRS – eixo cardíaco frontal (mede-se em graus)
6. Intervalo PQ (0,12 – 0,20)
7. Duração do QRS (0,08 – 0,10)
8. Segmento ST-T
9. Onda T (morfologia e polaridade) - Quando olhamos para a onda T olhamos
principalmente para a sua duração e polaridade. Regra: Se a duração da onda T for
menor do que metade da duração entre dois intervalos R-R, à partida é normal. Ver a
duração do intervalo QT para termos a certeza. A polaridade da onda T acompanha a
polaridade da onda QRS.
10. Intervalo QT (0,32-0,40) – QTc (homem 0,39+-0,039; mulher 0,41+-0,041)

Nesta aula cobre-se maioritariamente até ao passo 5.

1 - Determinar frequência cardíaca

Método: Multiplicação por 10


1. Ter uma porção de eletrocardiograma com 30 quadrados grandes, sendo que cada 5
quadrados equivalem a 1 segundo, e desse modo, cada 30 quadrados a 6 segundos.
2. Contar as ondas P nesse intervalo.
3. Multiplicar o número de ondas P por 10.
4. Calcular a frequência ventricular da mesma forma usando as ondas R.
Método: 1500
1500 quadrados pequenos equivalem a 1 minuto
1. Contar o nº de quadrados pequenos, entre pontos idênticos em duas ondas P
consecutivas.
2. Dividir 1500 por esse número para obter a frequência auricular.
3. Usar o mesmo método com duas ondas R consecutivas para calcular a frequência
ventricular.

Método: Sequencial
1. Atribua às linhas mais próximas seguintes números 300, 150, 100, 75, 60, 50, 40
2. Encontre o próximo pico da onda P e calcule a freq cardíaca com base no número
atribuído à linha escura mais próxima.
3. Calcular a frequência ventricular da mesma forma usando as ondas R
Neste método será mais simples encontrar o início de duas ondas P consecutivas e traçar duas
linhas. Depois, ver quantos quadrados estão entre essas linhas. Se forem 4 quadrados, serão
300/4=75 pulsações; se forem 5 quadrados, serão 300/5=60 pulsações; Se forem 3,5 quadrados
a pulsação será algo entre 60 e 75 pulsações.

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2- Ritmo

Taquicardia fisiológica – quando alguém faz exercício físico.


Intervalo PR: 120-200 ms
Complexo QRS: 80-100 ms
Intervalo QT: 360-440 ms
Frequência cardíaca não é o mesmo que ritmo. Podemos ter arritmias cardíacas e frequência
cardíaca normal (por exemplo uma fibrilação auricular) e também podemos ter um doente em
ritmo sinusal mas com uma frequência cardíaca anormal (como por exemplo uma bradicardia
ou taquicardia sinusal). Quando pensamos em ritmo temos de pensar qual está a ser o driver
que está a gerar o impulso cardíaco. Em situações saudáveis, o nódulo sinusal é que gera esse
ritmo. Como é que sabemos que é sinusal? Sabemos anatomicamente onde está o nódulo
sinusal (zona posterior da aurícula direita), e sabemos que uma despolarização auricular com
origem no nódulo sinusal tem certas características no ECG, ou seja, para nos esclarecermos
devemos analisar a polaridade da onda P.

Arritmia Sinusal

Irregularidade no intervalo R-R’, na frequência cardíaca. Atenção: Não é patológico como


algumas arritmias que vamos ver, é sim um fenómeno fisiológico que observamos em pessoas
jovens, ou que fazem desporto por exemplo, e está relacionado com influências vagais,
principalmente do sistema nervoso do parassimpático sobre a frequência cardíaca. Podemos
facilmente simular se pedirmos à pessoa para inspirar fundo, vemos estas variações da
frequência cardíaca. É apenas uma resposta exagerada ao sistema nervoso autónomo.
Factos: Há uma onda P antes de cada QRS. Há variação no intervalo P-P’ do mesmo modo que
há variação no intervalo QRS-QRS’.
Conclusão: O ritmo que causa a variação da frequência cardíaca é o nódulo sinusal, daí chamar-
se uma arritmia sinusal.

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Geração das ondas P no plano frontal e horizontal – Despolarização auricular

No plano frontal, a onda P vai de cima para baixo, desce da parte de cima da aurícula direita
para o resto do tecido auricular. A ativação é feita de cima para baixo pelo que a deflexão é
positiva em D2 e em aVF. Como a ativação vem da aurícula direita e vai para a aurícula esquerda,
vai afastar-se das derivações do lado direito (aVR) e aproximar-se das derivações do lado
esquerdo (D1 e aVL), portanto vai ser positivo em D1 e aVL.
No plano horizontal, temos as mesmas 2 componentes: primeiramente a componente positiva,
que representa a ativação da aurícula direita, de posterior para anterior, na direção de V1,
porque a despolarização se está a aproximar do elétrodo (e portanto origina uma deflexão
positiva em V1); e em segundo, a componente negativa, que representa a ativação da aurícula
esquerda, onde a ativação é feita do septo interventricular para a esquerda (a aurícula esquerda
é mais posterior que a aurícula direita), e portanto a deflexão é negativa em V1 porque o vetor
já não aponta no sentido de V1. Nota clínica: Há patologias em que há dilatação da aurícula
direita e esquerda em que estas defleções ficam alteradas. (Nota: V1 é bifásica, ao contrário de
V5 e V6 que é monofásica.).

Geração de ondas no plano horizontal – Complexo QRS – Despolarização ventricular

1º componente – dá-se no septo interventricular e vai ter um primeiro vetor no sentido


esquerda - direita, portanto vamos ter uma deflexão de pequena amplitude, positiva em V1, V2
e V3 e pode ser negativa em V4, V5 e V6.
2º componente – é a componente dominante e está diretamente relacionada com a maior parte
da massa ventricular esquerda. Dirige-se no sentido de V5 e V6, ou seja, está maioritariamente
mais alinhada com estas derivações, pelo que tem uma deflexão positiva nestas 2 derivações.
Como já vimos, a polaridade da segunda deflexão do QRS vai depender da posição do elétrodo,
e, portanto, vai ser predominantemente negativa em V1 porque o vetor se está a afastar de V1;
mas ao longo das derivações vai aumentando, sendo cada vez mais positiva até chegar a V5 e
V6, onde a amplitude é a mais positiva. A este fenómeno chama-se de progressão de onda R nas
derivações pré-cordiais. Há alterações patológicas que alteram esta progressão das ondas R.

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Determinação do eixo elétrico:

No plano frontal conseguimos determinar o eixo elétrico. Ou seja, calcular o vetor dominante
na despolarização do ventrículo.
Na imagem abaixo, temos as derivações dos membros sobrepostas.
• D1, D2 e D3, têm 60º entre si, estando D1 a 0º, D2 a 120º e D3 a 180º.
• aVL (-30º), aVR (-150º) e aVF (90º)
A despolarização ventricular vai ter uma direção e temos de olhar para as derivações para
perceber a direção desse eixo. Interessa-nos o complexo QRS para fazer essa análise, e temos
de analisar a amplitude e polaridade.

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Método Simples – Eixo Normal

1ª forma demonstrada para calcular o eixo elétrico: Primeiro olhamos para D1 e vemos que D1
é positivo. Sabendo que em D1 o complexo QRS é positivo, e que D1 está a 0º (apontando para
a esquerda), o vetor vai estar sempre localizado no hemicírculo esquerdo se traçarmos uma
linha vertical perpendicular a D1 (Fig. 2). Seguidamente olhamos para D2 e vemos que também
é positivo, ou seja, o vetor tem de estar no hemicírculo que aponta para D2. Daqui resulta que
o eixo do doente só possa estar na intersecção dos dois hemicírculos, ou seja entre aVL (-30º) e
aVF (90º), como demonstrado na Fig. 3.

Figura 2 Figura 3

2ª forma (mais rigorosa): Olhar para a amplitude. A amplitude (altura do pico) do complexo QRS
é muito semelhante em D1 e em D2. Fazemos uma intersecção entre as duas linhas que retratam
D1 e D2 e percebemos que o vetor fica no meio de D1 e D2, ou seja, entre 0º e 60º, e que
portanto o eixo elétrico seria algo como 30º.
3ª forma: Ir à procura de derivações onde o eixo cardíaco seja isoelétrico, o que significa que o
componente positivo e negativo do complexo QRS são semelhantes, e portanto que se anulam.
Na imagem abaixo conseguimos ver, em D3, que estas duas amplitudes se anulam. O que é que
isto significa na despolarização ventricular? Significa que o vetor da ativação ventricular tem de
ser perpendicular a D3, ou seja, pode ser aVR (-150º) e (30º). Como sabemos que D1 e D2 são
positivos, temos que a única hipótese possível para o vetor é cerca de 30º.

Método Simples – Desvio esquerdo do eixo


Trata-se de um eixo cardíaco anormal – temos que D1 é positivo, mas D2 é negativo. O vetor
poderá constar no intervalo de intersecção das duas áreas, ou seja, num intervalo entre aVL (-
30º) e -90º.

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Diz-se desvio esquerdo porque tem o vetor no sentido de aVL; chamar-se-ia desvio direito se o
vetor estivesse mais próximo de aVR. Vemos esse exemplo de seguida.

Método Simples – Desvio direito do eixo

D1 é negativo, D2 é positivo, portanto o eixo estará posicionado entre aVF (90º) e 150º.

Resumindo, quando as derivações são negativas em D1 (sendo que D2 é positivo), temos um


desvio à direita, quando as derivações são negativas em D2 (tendo que D1 é positivo), temos um
desvio à esquerda. Nota: o aVR nunca deverá ser positivo. Se obtivermos este resultado,
devemos repetir o eletrocardiograma porque algo não foi bem feito.

Identificação da derivação frontal isoelétrica

Se o eixo eletrico desta despolarização for -30º (que vai na direção de aVL), como representado
na figura, significa que a onda R do complexo QRS é a mais positiva de todas as derivações dos
membros. Para identificarmos a derivação isoelétrica a partir daqui, vamos encontrar a

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derivação perpendicular a aVL. Terá uma deflexão positiva e negativa que se anulam, que neste
caso será D2.
Também é possível fazer o raciocínio inverso e chegar ao eixo elétrico olhando para o eixo
isoelétrico. Tendo em conta que D2 é isoelétrico, o eixo cardíaco poderá estar em aVL (-30º) ou
150º. Para sabermos mais, teríamos de saber se D1 era positivo ou negativo ou se aVL era
positivo ou negativo. Neste caso que aVL é positivo porque se pode ver na imagem.

Determinar o valor exato do eixo elétrico (o modo automático como os eletrocardiogramas o


fazem)
1. Ver a amplitude de cada onda (Q, R e S) através da contagem de quadrículas que ocupa
cada onda.
2. Somar a amplitude das 3 ondas para D1.
3. Repetir os dois primeiros passos para D2.
4. Traçar duas seta, uma para D1 e uma para D2, com o comprimento da soma dessas
ondas na matriz das 12 derivações e ver onde as duas setas se intersectam.

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Aula 6 – Sistema Nervoso Autónomo


Sistema Nervoso Autónomo – É uma parte do sistema nervoso, que faz o controlo das funções
viscerais de forma inconsciente. Funciona como um arco reflexo. Vamos ter recetores sensoriais
em determinadas partes do nosso corpo (zonas reflexogénicas) que a cada instante enviam a
sua informação por fibras sensitivas, para zonas de integração central (zonas do encéfalo ou
medula espinal). Daí saem fibras autonómicas motoras eferentes, que vão atuar sobre órgãos
alvo. Estas fibras eferentes dividem-se em dois grandes grupos: simpáticas ou parassimpáticas
(o sistema nervoso entérico ainda não está completamente autonomizado para alguns autores
sendo assim considerado uma divisão do parassimpático). São exemplos de reflexos
autonómicos o reflexo barorecetor (regulação da pressão arterial) e quimiorecetor.

O reflexo baroreceptor tem os seus recetores no seio carotídeo, transmite essa informação
através de fibras sensitivas aferentes, através do seio e do nervo de Hering, que vão fazer
sinapse ao nível do núcleo do tracto solitário (grande estação de receção de informação
autonómica no encéfalo, localizado na porção dorsal do bulbo) e a partir daí, a informação, após
integração é separada em duas vias: uma que vai até aos núcleos vagais e que daí, através do
nervo vago (fibra motora eferente), vai impressionar o nódulo sinusal modificando a frequência
cardíaca; e outra via, que vai impressionar os neurónios da coluna de células intermédio-lateral
da medula espinal e a partir daí dá origem á ativação parassimpática, que vai atuar sobre o
músculo liso vascular, condicionando a resistência vascular periférica. Há ainda fibras simpáticas
que vão atuar, de forma menos intensa, sob a função cardíaca.

A avaliação autonómica é diferente na medicina e na fisiologia, devido aos diferentes objetivos.


Para a avaliação autonómica na medicina interessa perceber se a função está normal ou se existe
algum défice. Em caso de a função estar anormal interessa perceber qual é o local onde a
disfunção se origina, qual é o grau de disfunção (ligeira, grave,…), se cria um défice funcional, e
se ela tem origem primária (decorre da falência do próprio sistema) ou secundária (decorre de
patologia associada). Com estes dados, podemos criar um diagnóstico, instituir terapêutica e
continuar a fazer follow-up ao paciente de forma a avaliar melhorias.

Na fisiologia, através da mesma manobra que se aplica para a avaliação em medicina, o objetivo
é definir o que é a normalidade num teste de avaliação autonómica, visto existir uma grande
variação, quer interindividual, quer intraindividual. Outros objetivos são a atualização do tipo de
testes efetuados, e o desenvolvimento de novas técnicas, que originem medidas e avaliações
mais específicas e dirigidas, que depois possam ter valor diagnóstico. Enquanto em medicina o
homem é o objeto em estudo, em fisiologia usam-se modelos animais.

O rato é o modelo animal mais utilizado atualmente. Pode-se utilizar o rato saudável com as
suas diferentes idades, ou modelos animais de doença, que apesar de tentar mimetizar as
condições de doença do homem são sempre uma aproximação. Por outro lado, esses modelos
animais podem ser de resposta aguda, modelos esses que para o estudo dos circuitos
fisiológicos, depois da sua anestesia são intervencionados cirurgicamente, de forma a se estudar
um determinado trajeto ou uma determinada função. Nestes modelos animais agudos podemos
fazer registos de atividade central ou periférica. Podemos trabalhar também em modelos ex-
vivo, ou animais conscientes que são instrumentados com sensores que depois recolhem e
enviam a informação.

Na avaliação autonómica humana, existem uma série de manobras provocativas que permitem
o teste do sistema. Utiliza-se um estímulo supra-máximo para provocar um arco reflexo
autonómico e registar uma resposta. Na sua grande maioria é não invasiva, não permitindo

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assim perceber a localização da origem do défice de funcionamento autonómico. As principais


manobras provocativas estão divididas em:
• Fisiológicas (Cardiovascular), não invasivas, mais comuns:
o Manobra de Valsalva;
o Respiração Profunda;
o Ortostatismo ativo;
o Ortostatismo passivo;
o Massagem do seio carotídeo;
o Manobras pressoras (contração isométrica, frio, stress mental)
• Bioquímicas, farmacológicas e neurológicas, com algum grau de invasividade:
o Injeção de catecolaminas;
o Microneurografia.

O grande bolo da avaliação autonómica dirige-se à coleção de sinais de natureza cardiovascular,


nomeadamente sinais decorrentes do eletrocardiograma e de variações de pressão arterial,
visto que são as mais fáceis de registar de forma não invasiva, com a instrumentação que temos
disponível atualmente.

Para além destas provas podemos fazer que são:


• Função Sudomotora:
o QSART, TST, QDIRT, impressão de silicone.
• Função Ocular:
o Pressão intraocular, pupilometria.

A avaliação dos dados é feita através de:


• Protocolo Clássico de Ewing, através de uma avaliação do longo do tempo das alterações
de pressão arterial e frequência cardíaca decorrentes de cada manobra;
• Processamento de sinal:
o Verificamos as mesmas alterações da pressão arterial e frequência cardíaca,
através de métodos no domínio do tempo, da frequência e do tempo-escala.

Não basta fazer uma prova de avaliação autonómica para se concluir acerca de desautonomia
da pessoa que estamos a avaliar. A regra de boa prática é que são precisas 3 provas que tenham
o mesmo resultado, em que haja indicação de anormalidade para se definir acerca de alterações
do sistema nervoso autónomo. É também importante que os laboratórios de função autonómica
tenham condições que permitam a avaliação de forma estrita. As condições de temperatura,
humidade, ruido, entre outras, devem estar controladas.

Manobra de Valsalva

Prova mista. Decorre da inspiração forçada e da manutenção dessa respiração durante 1 minuto,
vai avaliar as variações de frequência cardíaca e de pressão arterial, devidas à ativação
baroreflexa decorrente da manobra. A manobra de Valsalva tem 4 fases, duas reflexas
(decorrentes da inspiração) e duas mecânicas (decorrentes na expiração). Vamos avaliar as
alterações decorrentes das duas fases mecânicas (fase I e III) na fase II e IV (fases reflexas) e
através delas definir aquilo que designamos por Índice de Valsalva (Valsava Ratio, VR) que faz a
relação entre a frequência cardíaca que é máxima na fase II, com o strain respiratório, e com a
frequência cardíaca que é mínima na fase IV. Se o VR for maior que 1 a prova está normal, se for
menor que 1 está anormal. Quando falamos da manobra de Valsalva, falamos de uma prova
mista, ou seja provoca modificações de frequência cardíaca e de pressão arterial em simultâneo,

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estando assim a alterar vias simpáticas e parassimpáticas simultaneamente, e podendo


considerar-se assim uma prova mista.

Uma prova anormal, existe uma variação da pressão arterial que decai no strain respiratório
para valores abaixo do baseline. Além disso, no traçado de pressão arterial não vemos que é o
overshooting que acontece após a eliminação do strain respiratório, ou seja após a fase III. As
variações da frequência cardíaca, sofrem um atraso na resposta de frequência cardíaca, que
tenta compensar a diminuição de pressão arterial e que ocorre durante a fase IV.

Respiração Profunda

Prova predominantemente parassimpática. Utiliza-se um exacerbamento do mecanismo da


arritmia sinusal respiratória. A taquicardia e bradicardia relacionadas com o ciclo respiratório
têm origem nos neurónios inspiratórios localizam-se na mesma localização anteroposterior que
os núcleos vagais, que o NTS, e que os neurónios da face antero-lateral do bulbo, e por existir
essa proximidade, é que ocorre interferência entre os neurónios cardíacos simpáticos e os
neurónios do núcleo de pré-Botzinger donde se origina o nervo frénico que vai enervar o
diafragma. A regulação da pressão arterial é feita principalmente pelo reflexo barorecetor, mas
é auxiliada por reflexos secundários como o quimiocetor, que regula de forma indireta através
da partilha de vias com o reflexo barorecetor. A estimulação do quimiorecetor também irá
causar alterações no reflexo barorecetor.

Utilizando o mecanismo da arritmia sinusal respiratória, provocamos o sistema de forma a


evocar modificações de frequência cardíaca. Vamos provocar alterações na frequência de
ventilação, diminuindo-a drasticamente (o normal são 12 a 15 ciclos por minutos, diminuímos
para 6 ciclos por minuto). Queremos verificar que existem alterações da frequência cardíaca
(ciclos de máximo e mínimo), relacionados com cada ciclo ventilatório, o que não acontece nos
pacientes com desautonomia. Nestes pacientes ocorre também uma diminuição da pressão
arterial.

É avaliada fazendo o somatório das diferenças de alterações de frequência cardíaca máxima e


mínima em cada ciclo, dividindo-as pelo número de ciclos. Se o índice for maior que 15 é normal,
se menor que 15 é anormal.

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Ortostatismo Ativo

Prova mista. Pedimos ao paciente para se levantar de uma cadeira e se ponha de pé. Queremos
avaliar a modificação do reflexo barorecetor. As mudanças ortostáticas dependem de outros
factores:
• Composição muscular da perna;
• Ciclo respiratório;
É difícil fazer nesta prova a avaliação do baroreflexo. Vemos nos traçados, as alterações
decorrentes da mudança de posição. Inicialmente há uma subida de pressão e manutenção da
frequência cardíaca, seguida de uma “queda do sangue para as pernas” fruto da gravidade, a
qual se segue o controlo do retorno venoso e do reflexo barorecetor, que fazem com o valor
tensional e de frequência cardíaca, voltem ao normal. Na prova anormal, há um atraso na
resposta e o individuo não consegue adaptar-se as condições ortostáticas (queda da pressão
arterial em valor médio e em pressão de pulso, fortemente compensada pelo aumento da
frequência cardíaca).
A prova é normal quando o índice 30:15 (de acordo com o protocolo de Ewing, relação entre a
frequência cardíaca máxima ao batimento 15 e mínima ao batimento 30) é maior que 1 e
anormal quando é menor que 1, tudo isto para o controlo da frequência cardíaca.
Se existirem diminuições da pressão da pressão arterial sistólica maiores que 40mmHg ou
diastólica maiores que 25 mmHg, o teste é anormal para o componente da pressão arterial.

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Ortostatismo Passivo

Prova mista. É usada para eliminar os fatores que podem criar distorções na prova de
ortostatismo ativo e mostrar assim a interferência barorecetora, caso exista, de forma mais
pura. Realiza-se a prova numa cama de tilt (que é utilizada para muitos outros testes). Por
exemplo, num teste de diagnóstico de síncope reflexa, colocamos o indivíduo na cama de tilt, e
mudamos a inclinação de 0° para 70° esperando que o individuo desmaie. Caso não aconteça o
desmaio, administramos adenosina ou semelhantes para verificar se existe uma queda de
pressão e se assim a pessoa desmaia, ficando na posição de tilt o tempo que for necessário para
isso acontecer. Na avaliação autonómica, a avaliação começa com o paciente em posição de
repouso (supina), por 5 minutos, depois temos o tilt que dura 2 minutos, voltando depois
novamente a posição supina por 5 minutos (tendo assim uma duração limitada), de forma a se
avaliarem as alterações dinâmicas do sistema.

Num teste normal, verifica-se que, assim que a posição da cama de tilt passa de 0° para 70°, o
que é feito em 15 segundos, ocorre uma queda abrupta da pressão da arterial, com aumento
acompanhado de frequência cardíaca. Com o início de funcionamento do reflexo barorecetor,
há uma diminuição da frequência cardíaca e um aumento da pressão arterial, que restabelecem
até aos valores basais. De acordo com o protocolo de Ewing, se tivermos quedas de pressão
arterial sistólica maiores que 10 mmHg, ou diastólica de 5 a 10 mmHg, estamos perante um teste
anormal. Em casos anormais podem ocorrem modificações fisiológicas, mas mais lentas (em
casos mais leves de desautonomia) ou ausência de resposta fisiológica (em casos mais graves).

Teste Pressor ao Frio

Podemos fazer de frio com as mãos ou com frio aplicado no tórax ou na cara com gelo fundente,
mas a prova mais comum é a imersão da mão, até ao punho, em gelo fundente a 4° durante 3
minutos, o que vai provocar a ativação dos recetores da dor (nociceptores), que vão provocar
ativação simpática. Tanto o teste pressor ao frio, como o teste de pressão isométrica, como o
teste de pressão mental, são predominantemente simpáticas. Qualquer prova deve ser
interrompida, caso o paciente mostre algum tipo de desconforto, porque este desconforto
origina reações de alerta que vão modificar os resultados.

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Numa prova normal, observamos nos momentos iniciais, a manutenção dos valores de pressão
arterial, mas que a partir do momento em que ocorre a ativação nociceptora, ocorre um
aumento da pressão arterial, principalmente da sistólica, mas também da diastólica. Assim que
a manobra termina, os valores voltam ao normal. Uma prova é normal quando observamos
aumentos de pressão arterial de 20 mmHg, acompanhados de aumentos de frequência cardíaca
de cerca de 10bpm. Numa prova anormal, verifica-se uma ausência de modificação da
frequência cardíaca e pressão arterial.

Outros testes:
• Sweat Testing – Teste de suor, em que ficam impressas num molde de silicone as
gotículas de suor, sendo observadas ao microscópio e contadas por cm2;
• Avaliação de microcirculação com avaliação por Iontoforese e medição simultânea de
pressão do pulso;
• Avaliação de função ocular – tonometria, e pupilometria IV (medição do diâmetro
pupilar).

Processamento de Sinal

As técnicas de processamento de sinal vão ser aplicadas à avaliação autonómica tendo por base
a variabilidade do sinal que estamos a registar. O organismo humano não tem o mesmo
comportamento a todas as horas do dia, por exemplo no caso das pressões arteriais e dos
valores tensionais que variam consoante a hora do dia, sendo maiores de dia que de noite
(período de sono). Por outro lado, esses valores são também diferentes em pacientes com
desautonomia.

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Quando queremos fazer a avaliação por processamento de sinal, fazemos a modificação do sinal
que estamos a registar, transformando-o noutro sinal. Através do ECG, por exemplo, originamos
o registo de frequência cardíaca, usando 3 elétrodos para capturar uma onda R. O novo sinal é
construído a partir dos pontos do ECG que normalmente são máximos da onda R, obtendo assim
um tacograma.

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Para a pressão arterial sistólica, em que a partir do traçado original, se unem os pontos máximos
do traçado, correspondentes à pressão sistólica, obtendo assim o sistograma.

Análise no Domínio da Frequência

Partindo desses sinais, fazemos uma avaliação baseada no domínio da frequência, indo utilizar
a Transformada de Fourier. Esta metodologia matemática decompõe um sinal, em múltiplas
ondas seno de amplitudes e períodos diferentes, que o compõem. A partir daí constrói-se um
espectro de potência/frequência que nos vai dizer qual é a impacto que cada função seno, com
determinado período e amplitude, tem para o sinal inicial. A partir daí podemos dizer quais as
frequências que estão em maior quantidade naquele sinal. Pegando no tacograma e sistograma,
podemos com a Transformada de Fourier, saber quais as frequências que impressionam mais
ou menos o traçado.

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Estudos em diferentes modelos animais, mostraram que existiam num sinal de frequência
cardíaca e de pressão arterial, frequências específicas que representavam a atividade simpática,
a atividade parassimpática, e algumas delas a respiração. Chegou-se à conclusão que existem
duas frequências principais, low frequencies (LF, 0.04-0.15 Hz) relacionadas com a função
simpática, e high frequencies (HF, 0.15-0.4 Hz) relacionadas com a função parassimpática e a
respiração.

No gráfico da Transformada de Fourier, observam-se duas bandas, a banda LF e HF. A relação


entre as duas bandas dá-nos a variação do tónus autonómico geral durante o período de registo.
A avaliação da área sobre a curva, tanto para LF como para HF, dá-nos indicação relativa do
tónus simpático e parassimpático.

Na arritmia sinusal respiratória, por exemplo, é que o ciclo ventilatório impressiona também as
altas frequências (onda HF), o que podemos confirmar, se pedirmos a um paciente para respirar
normalmente, mas depois lhe pedirmos para respirar de forma mais lenta (como no deep
breathing), verificando-se assim que a onda HF diminui, porque o componente ventilatório fica
dissociado do componente parassimpático e vamos obter um aumento da onda LF, que vai
sofrer a adição do componente ventilatório. Assim a onda HF, deve ser sempre observada com
atenção, porque por vezes os valores apresentados devem ser sempre relacionados com a
componente ventilatória, o que não acontece, levando a resultados menos corretos.

Na avaliação no domínio da frequência de um teste de tilt, verificamos uma variação da área


sobre a curva, tanto nas altas frequências como nas baixas frequências, mas também uma
diferente relação entre elas. Existe um predomínio das LF em relação às HF quando o individuo
se encontra em posição ortostática.

A aplicação da Análise de Fourier obedece, do ponto de vista matemático, a algumas condições


e não nos permite a observação da dinâmica do sistema, porque não tem, uma base temporal.
Este apenas compara eventos que têm uma determinada sequência temporal, com eventos que
estão relacionados com a modificação da frequência, sem nos dizer em que período temporal
essa modificação de frequência de facto ocorreu. Por outro lado, a Análise de Fourier diz-nos
que o sinal, tem de ser um sinal estacionário, com um período mínimo de 5 minutos para ter
algum significado fisiológico e fisiopatológico. Um sinal estacionário é aquele que não tem
grandes modificações ao longo de um determinado intervalo. Esta análise, como está baseada
em funções seno, que têm uma linha base que depois tem alterações de período e amplitude.
Muitas vezes os sinais que avaliamos não são estacionários (estáveis), ou seja, que sofrem por
exemplo uma queda seguida de um aumento do valor. Se fizermos uma análise a um sinal

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destes, a onda seno consegue apanhar o sinal durante um período, mais vai perde-lo durante os
períodos de instabilidade, o que significa que não conseguiremos capturar as alterações que
acontecem, por exemplo, durante a passagem de um período de controlo para um período de
realização de um teste (de tilt, por exemplo), porque o sinal não é estacionário nos momentos
em que queremos a sua avaliação. A Transformada de Fourier é utilizada por exemplo num teste
Holter ou MAPA (Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial), medições de frequência ou
pressão arterial ao longo de 24 horas e queremos perceber como é que variou o tónus
autonómico do individuo nas 24 horas. Quando queremos estudar modificações dinâmicas do
sistema, a Análise de Fourier não se adapta, sendo assim necessário outro método.

Análise no Domínio do Tempo-Escala

Um dos métodos adaptados é o dos Wavelets, que trabalham com variações de frequência do
longo do tempo, estando assim no domínio do tempo-escala. Podemos adaptar o raciocínio das
altas e baixas frequências, mas temos de adapta-lo a funções que variam ao longo do tempo e
que nos permitem um raciocínio de natureza mais clínica.

Os Wavelets (ondículas), são várias funções que têm a capacidade de mudar a sua energia ao
longo do tempo, percorrendo o sinal que queremos que queremos avaliar, ajustando-se ao perfil
do sinal, dando informação ao longo do tempo. O tipo de função, definido matematicamente, a
utilizar é escolhido de acordo com o perfil do sinal.

No laboratório de fisiologia da faculdade, usa-se a função Daubechies 12, que dá o resultado em


12 escalas de acordo com as frequências, procurando-se depois pelas frequências do LF e HF
relacionadas com a avaliação autonómica.

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No exemplo de teste de tilt acima, a avaliação com Wavelets é feita através da avaliação das
baixas frequências usando o sinal da pressão arterial sistólica (sistograma), que é aquela que
está mais relacionada com a ativação simpática do sistema, e avaliamos as altas frequências
através do tacograma (RR), porque de acordo com o reflexo barorecetor, a informação
parassimpática vai para o coração impressionar o nódulo sinusal e originar uma determinada
frequência e a simpática vai para o músculo liso vascular. Aquilo que vemos é que existe um
aumento da área sobre a curva da LF quando há uma diminuição da pressão arterial sistólica e
não se verifica nenhuma modificação ou existe um ligeiro aumento dos HF. Isso dá a indicação
que durante a fase inicial do tilt, para a ativação barorecetora, decorre uma maior ativação
simpática e uma menor ativação parassimpática.

Em doentes com Atrofia Multisistémica (uma forma de Parkinsonismo, mas com alterações
autonómicas muito mais exacerbadas, na fase inicial), verificamos que através da avaliação por
Wavelets, o doente 1 foi capaz de realizar alguma adaptação ortostática, tendo assim algum

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tónus autonómico, mas que o doente 2, não foi capaz de adaptar às alterações decorrentes do
tilt, não apresentando qualquer alteração simpática ou parassimpática.

Os métodos com base no tempo-escala permitem estudar doentes que estão a fazer modulação
autonómica, invasiva ou não-invasiva.

Existem outros métodos para análise do tempo-escala, como por exemplo através da
Transformada de Hibert-Huang, que tem poucas diferenças quando comparado o resultado final
com os Wavelets, mas que está mais adaptada aos resultados de natureza biológica, começando
assim a substituir os Wavelets.

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Coerência

Os Wavelets podem também ser utilizados de outras formas, nomeadamente através de


transformadas contínuas de Wavelets (as anteriores eram transformadas discretas), originando
gráficos como os da imagem seguinte.

Neste caso, um paciente com fibrilação auricular paroxística e síncope reflexa, em que um dos
mecanismos subjacentes a estas patologias pode ser a disfunção autonómica, foi sujeito a um
programa de modulação autonómica não invasiva, através de um teste de tilt, primeiro de
natureza hospitalar e depois em casa de natureza ortostática. Verificou-se uma melhoria da sua
condição deixando de ter fibrilação e sincope. Na imagem da esquerda temos as variações com
Wavelets contínuos de LF e HF, onde estudamos a inter-relação entre eles (coerência da variação
entre LF e HF), de um individuo normal, onde verificamos as variações que ocorrem antes e após
o momento do tilt (linha amarela vertical), para o LF e HF. Na comparação com o individuo
doente (direita), verificamos que o padrão é substancialmente diferente. Com as sessões de
modulação autonómica, verifica-se uma melhoria no padrão. Isto significa que se foi capaz de
modular o sistema nervoso autónomo do indivíduo, através da modulação do reflexo
barorecetor, garantindo-lhe melhor qualidade de vida.

Os programas de modulação autonómica com tilt training, englobam sessões hospitalares em 6


semanas, três vezes por semana.

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Anexo 1 – Perguntas Kahoot


Fisiologia Respiratória

1. O Índice de Tiffenneau deste indivíduo é:


• 4/5, padrão restritivo;
• 5/4, padrão normal;
• 4/5, padrão normal;
• 5/4, padrão restritivo.

2. Qual destes volumes não pode ser determinado por espirometria?


• Volume residual;
• Volume de reserva expiratório;
• Volume de reserva inspiratório;
• Volume corrente.

3. A inspiração é um fenómeno?
• Ativo;
• Passivo.

4. “Mantendo a temperatura constante, a pressão e o volume de um gás num sistema


estão inversamente relacionados”
• Lei de Boyle-Mariotte;
• Lei de Henry;
• Lei de Laplace;
• Lei de Charles.

5. Em todo o ciclo respiratório, num indivíduo saudável, a pressão intrapleural é sempre …


em relação à pressão atmosférica.
• Negativa;
• Positiva.

6. Não é função importante da Pleura…


• Proteger os pulmões;
• Evitar colapso pulmonar;
• Manter pulmões expandidos;
• Produzir hormonas.

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7. Este gráfico é um…


• Pneumomiograma (PMG);
• Eletrocardiograma (ECG);
• Eletromiograma (EMG);
• Espirograma.

8. A letra “A” corresponde ao:


• Volume Residual;
• Volume de Reserva Expiratório;
• Volume Corrente;
• Volume de Reserva Inspiratório.

9. O som fisiológico obtido à percussão digito-digital do tórax…


• Timpânico;
• Maciço;
• Fino;
• Claro.

10. O epitélio respiratório possui células … com função importante no transporte


mucociliar.
• Caliciformes e ciliadas;
• Flageladas e escamosas.

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11. A capacidade vital corresponde à letra:


• E;
• I;
• G;
• C;

12. Que variável não está aumentada nos atletas:


• Volume residual;
• FVC;
• MVV;
• [CO] basal.

13. O som fisiológico obtido à auscultação correspondente à passagem do ar nos alvéolos.


• Fervor vesicular;
• Sibilo vesicular;
• Ronco vesicular;
• Murmúrio vesicular.

14. Na expiração o diafragma contrai…


• Verdadeiro;
• Falso.

15. O funcionamento do oxímetro de pulso baseia-se na Lei de…


• Boyle-Mariotte;
• Laplace-Charles;
• Lambert-Beer;
• Henry-James.

16. Expiração é um fenómeno…


• Normalmente passivo, ativo quando é forçada;
• Ativo.

17. Reflexo protetor das vias aéreas superiores.


• Espirro;
• Tosse.

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18. O número “1” corresponde a:


• Capacidade Vital;
• Expiração Máxima;
• Inspiração Máxima;
• Inspiração Corrente.

19. Músculo(s) que desloca(m) maior volume de ar…


• Abdominais;
• Escalenos;
• Intercostais;
• Diafragma.

20. A estrutura pulmonar com milhões de alvéolos ao invés de dois grandes sacos permite…
• Aumentar muito a área de superfície de contacto do sangue com o ar;
• Diminuir muito a área de superfície de contacto do sangue com o ar.

21. Esta curva é de…


• Fluxo-volume, padrão restritivo;
• Volume-tempo, padrão obstrutivo;
• Fluxo-volume, padrão obstrutivo;
• Volume-tempo, padrão restritivo.

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22. Esta curva é de…


• Fluxo-volume, padrão restritivo;
• Volume-tempo, padrão obstrutivo;
• Fluxo-volume, padrão obstrutivo;
• Volume-tempo, padrão restritivo.

23. Prova de função pulmonar ou prova ventilatória.


• Rx Tórax;
• Espirometria;
• Ventilografia Torácica;
• Cinestesiometria.

24. Volume de ar mobilizado normalmente (em repouso) corresponde à letra:


• B;
• I;
• E;
• A.

25. Reflexo protetor das vias aéreas inferiores…


• Tosse;
• Espirro.

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Pressão Arterial

1. Qual destes não é um determinante da pressão arterial?


• Débito cardíaco;
• Frequência cardíaca;
• Resistência vascular periférica;
• Compliance venosa.

2. A pressão arterial é medida em que unidade?


• Milímetros de mercúrio;
• Batimentos cardíacos;
• Milímetros de prata;
• Ciclos por minuto.

3. Para a técnica clássica de medição da tensão arterial, ao que correspondem os sons de


Korotkoff?
• A um sopro do coração;
• Ao fluxo de sangue venoso;
• Ao som produzido numa artéria parcialmente ocluída;
• Ao som de encerramento da válvula aórtica, após a fase de ejeção.

4. Quando a pressão arterial de um doente está mais alta que o normal, dizemos que ele
tem:
• Hipertensão;
• Hipotensão;
• Normotensão;
• Taquicardia.

5. Para medição correta da tensão arterial, a braçadeira deve ser colocada:


• No tornozelo;
• No braço, ao nível do coração;
• Sempre no braço esquerdo;
• No pulso.

6. Quando a pressão arterial de um doente está mais baixa que o normal, dizemos que ele
tem:
• Hipertensão;
• Hipotensão;
• Normotensão;
• Bradicárdia.

7. A medição da tensão arterial pelo método palpatório, permite-nos determinar:


• A pressão arterial diastólica;
• A pressão arterial sistólica;
• A pressão arterial sistólica e diastólica;
• A pressão arterial média.

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8. A medição da tensão artéria pelo método auscultatório, permite-nos determinar:


• A pressão arterial diastólica e o pulso;
• A pressão arterial sistólica e média;
• A pressão arterial sistólica e diastólica;
• A pressão arterial média.

9. Hipertensão é quando a pressão arterial se encontra acima:


• 120/80;
• 140/90;
• 90/60;
• 100/70.

10. Para ocluir o vaso, devemos insuflar a braçadeira, e para isso a válvula deve estar…
• Aberta;
• Fechada.

11. A medição da força exercida nas paredes das artérias quando o coração contrai é:
• Pressão sistólica;
• Pressão diastólica;
• Pulso;
• Palpação.

12. A pressão arterial mínima ocorre quando o coração relaxa e é definida como:
• Pressão sistólica;
• Pressão diastólica;
• Pulso;
• Bradicárdia.

13. A braçadeira deve ser colocada aproximadamente três dedos acima do pulso radial.
Verdadeiro ou Falso?
• Verdadeiro;
• Falso.

14. O estetoscópio é colocado sobre a artéria braquial para determinar a tensão arterial.
Verdadeiro ou Falso?
• Verdadeiro;
• Falso.

15. Se medirmos uma tensão de 154/72, esta é considerada:


• Normal;
• Incorreta;
• Hipertensão;
• Hipotensão.

16. Uma pressão arterial de 115/70 é considerada:


• Normal;
• Anormal;
• Hipertensão;
• Hipotensão.

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17. Uma pressão arterial de 88/52 é considerada:


• Normal;
• Hipotensão;
• Hipertensão;
• Incorreta.

18. Uma pressão arterial de 186/96 é considerada:


• Normal;
• Incorreta;
• Hipertensão;
• Hipotensão.

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Pulsos Arteriais

1. É considerado um pulso arterial normal quando a frequência é de:


• > 100 p.p.m;
• 50-120 p.p.m;
• 60-100 p.p.m;
• < 60 p.p.m;

2. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso aórtico;
• Pulso axilar;
• Pulso umeral;
• Pulso carotídeo.

3. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso radial;
• Pulso popliteu;
• Pulso tibial posterior;
• Pulso cubital.

4. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso radial;
• Pulso popliteu;
• Pulso tibial posterior;
• Pulso cubital.

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5. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso pedioso;
• Pulso axilar;
• Pulso cubital;
• Pulso radial.

6. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso cubital;
• Pulso axilar;
• Pulso femoral;
• Pulso radial.

7. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso cubital;
• Pulso axilar;
• Pulso popliteu;
• Pulso umeral.

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8. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso cubital;
• Pulso axilar;
• Pulso popliteu;
• Pulso umeral.

9. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso cubital;
• Pulso axilar;
• Pulso radial;
• Pulso umeral.

10. Que pulso está o examinador a palpar?


• Pulso popliteu;
• Pulso pedioso;
• Pulso tibial;
• Pulso umeral.

11. Como pode ser descrito um pulso arterial normal?


• 50 p.p.m., Amplo, Arrítmico, Regular e Simétrico;
• 70 p.p.m., Amplo, Rítmico, Regular e Simétrico;
• 80 p.p.m., Amplo, Arrítmico, Regular e Simétrico;
• 140 p.p.m., Amplo, Rítmico, Regular e Simétrico;

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