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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE

TEORIA, PESQUISAS E PRÁTICAS


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE
TEORIA, PESQUISAS E PRÁTICAS

Jeane Freitas de Oliveira


Mirian Santos Paiva
Dejeane de Oliveira Silva
Cleuma Sueli Santos Suto
Pablo Luiz Santos Couto
Carle Porcino
editora
(Orgs.) DeViRes
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SAÚDE
TEORIA, PESQUISAS E PRÁTICAS

Jeane Freitas de Oliveira


Mirian Santos Paiva
Dejeane de Oliveira Silva
Cleuma Sueli Santos Suto
Pablo Luiz Santos Couto
Carle Porcino
(Orgs.)

Editor(a): Gilmaro Nogueira


Diagramação: Daniel Rebouças
Capa: Gustavo Barrionuevo

Conselho Editorial:
Prof. Dr. Carlos Henrique Lucas
Prof. Dr. Leandro Colling
Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Prof. Dr. Djalma Thürler
Profa. Dra. Luma Nogueira de Andrade
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Profa. Dra. Fran Demétrio Afro-Brasileira – UNILAB
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB
Prof. Dr Guilherme Silva de Almeida
Prof. Dr. Helder Thiago Maia Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
USP - Universidade de São Paulo
Prof. Dr. Marcio Caetano
Prof. Dr. Hilan Bensusan Universidade Federal do Rio Grande – FURG
Universidade de Brasília - UNB
Profa. Dra. Maria de Fatima Lima Santos
Profa. Dra. Jaqueline Gomes de Jesus Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Instituto Federal Rio de Janeiro – IFRJ
Dr. Pablo Pérez Navarro
Profa. Dra. Joana Azevedo Lima Universidade de Coimbra - CES/Portugal
Devry Brasil – Faculdade Ruy Barbosa e Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/Brasil
Prof. Dr. João Manuel de Oliveira Prof. Dr. Sergio Luiz Baptista da Silva
CIS-IUL, Instituto Universitário de Lisboa Faculdade de Educação
Profa. Dra. Jussara Carneiro Costa Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(BENITEZ Catalogação Ass. Editorial, MS, Brasil)
R651 Representações sociais e saúde : teoria, pesquisas e práticas /
1.ed. organizadores Jeane Freitas de Oliveira...[et al.]. – 1.ed. –
Salvador, BA : Devires, 2022.
266 p.; 16 x 23 cm.

Outros organizadores : Mirian Santos Paiva, Dejeane de


Oliveira Silva, Cleuma Sueli Santos Suto, Pablo Luis Santos
Couto, Carle Porcino.
ISBN : 978-65-86481-50-1

1. Representações sociais. 2. Saúde pública. I. Oliveira,


Jeane Freitas de. II. Paiva, Mirian Santos. III. Silva, Dejeane
de Oliveira. IV. Suto, Cleuma Sueli Santos. V. Couto, Pablo Luis
Santos. VI. Porcino, Carle.
11-2021/141 CDD 613

Índice para catálogo sistemático:


1. Ciências médicas : Saúde pública 613
Bibliotecária: Aline Graziele Benitez CRB-1/3129

Qualquer parte dessa obra pode ser reproduzida, desde que


citada a fonte. Direitos para essa edição cedidos à Editora Devires.

Av. Ruy Barbosa, 239, sala 104, Centro – Simões Filho – BA


www.editoradevires.com.br
A organização de um livro é sempre um trabalho composto
de diferentes olhares, perspectivas, mãos, afetos,
afetividades e muitos aprendizados. Este livro não teria
sido possível sem o apoio de cada uma das pessoas que
acreditaram e apoiaram esse projeto coletivo. Agradecemos
a cada autora e autor que investiu esforços na construção
de um capítulo na esperança de contribuir com o
fortalecimento e propagação da Teoria das Representações
Sociais desenvolvida por Serge Moscovici.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 11
Mirian Santos Paiva

PREFÁCIO 15
Antonio Marcos Tosoli Gomes

ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SUA ABORDAGEM


PROCESSUAL: REFLEXÕES, DESAFIOS E POSSIBILIDADES 21
Antônio Marcos Gomes Tosoli
Rafael Moura Coelho Pecly Wolter
Virginia Paiva Figueiredo Nogueira
Luiz Carlos Moraes França
Karen Paula Damasceno dos Santos Souza
Pablo Luiz Santos Couto
Magno Conceição das Mercês
Juliana de Lima Brandão

APLICAÇÃO DE TESTES DE CENTRALIDADE EM ESTUDOS


DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 35
Juliana Costa Machado
Charles Souza Santos
Virginia Paiva Figueiredo Nogueira
Rita Narriman Silva de Oliveira Boery
Antônio Marcos Gomes Tosoli
Vanda Palmarella Rodrigues
Alba Benemérita Alves Vilela

FACEBOOK COMO CENÁRIO E FERRAMENTA PARA COLETA DE DADOS


ENQUANTO APORTE METODOLÓGICO EM PESQUISAS ANCORADAS NA
TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 47
Pablo Luiz Santos Couto
Mirian Santos Paiva
Tarcísio da Silva Flores
Antônio Marcos Tosoli Gomes
Samantha Souza da Costa Pereira
Alba Benemérita Alves Vilela
Maria Virgínia Almeida de Oliveira Teles
Beatriz da Costa Pereira

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MÃES E PAIS SOBRE A PARALISIA


CEREBRAL NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE COGNITIVA DE REDES 61
Jeórgia Pereira Alves
Luciene Matos de Souza
Sumaya Medeiros Bôtelho
Alba Benemérita Alves Vilela
Claudia Ribeiro Santos Lopes
Darci de Oliveira Santa Rosa
Rita Narriman Silva de Oliveira Boery
A UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA PROJETIVA DO DESENHO-ESTÓRIA COM TEMA
PARA A COLETA E PRODUÇÃO DE DADOS EM PESQUISAS QUALITATIVAS E
SUA INTERFACE COM A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 75
Samantha Souza da Costa Pereira
Dejeane de Oliveira Silva
Pablo Luiz Santos Couto
Alba Benemérita Alves Vilela
Carle Porcino
Antônio Marcos Tosoli Gomes
Beatriz da Costa Pereira

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ACADÊMICAS/OS DA ÁREA DE SAÚDE

DISCENTES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM: REPRESENTAÇÕES


SOCIAIS SOBRE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA
Dejeane de Oliveira Silva
Cauan Barbosa Nery
Alba Lúcia Santos Pinheiro
Gabrielli de Jesus Santos
Danielle de Oliveira Rocha Pereira
Priscilla dos Santos Nascimento
Marília Emanuela Ferreira de Jesus
Jeane Freitas de Oliveira

CUIDADO À PESSOA VIVENDO COM HIV/AIDS: REPRESENTAÇÕES


SOCIAIS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM 109
Gizélia dos Santos Souza
Cleuma Sueli Santos Suto
Letícia da Silva Cabral
Laura Emmanuela Lima Costa
Tamille Marins Santos Cerqueira
Sinara de Lima Souza
Greice Kely Oliveira de Souza
Marília Emanuela Ferreira de Jesus

A PESSOA TRANSGÊNERA NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS


DE DISCENTES DE UM CURSO SUPERIOR EM SAÚDE 123
Carle Porcino
Maria Thereza Ávila Dantas Coelho
Jeane Freitas de Oliveira
Lanna Katherine Leitão Conceição
Ana Paula de Lima Valverde
Ester Mascarenhas de Oliveira
Maria Virgínia Almeida de Oliveira Teles
Dejeane de Oliveira Silva

REPRESENTAÇÕES E USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS


ENTRE UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DE SAÚDE 137
Maria Thereza Ávila Dantas Coelho
Louyze Maria dos Santos Lopes Silva
Karla Ingryd Ferreira Barbosa
Carle Porcino
Vinicius Pereira de Carvalho
Cíntia Raquel da Silva Castro
José Vítor Araújo Rosa Ribeiro
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O USO DO PRESERVATIVO
POR ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE 151
Felipe Fontes Costa Pinto
Maria Thereza Ávila Dantas Coelho
José Vítor Araújo Rosa Ribeiro
Carle Porcino
Vinicius Pereira de Carvalho
Louyze Maria dos Santos Lopes Silva
Karla Ingryd Ferreira Barbosa

A AMAMENTAÇÃO E O ALEITAMENTO NAS REPRESENTAÇÕES


SOCIAIS DE MULHERES MIGRANTES E PUÉRPERAS PRIMÍPARAS

AMAMENTAÇÃO ENTRE MULHERES MIGRANTES DA MESMA FAMÍLIA


E DE TRÊS GERAÇÕES: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 167
Michelle Araújo Moreira
Marizete Argolo Teixeira
José Carlos de Araújo Junior
Patrícia Figueiredo Marques
Mônica Aparecida Gomes
Polliana Santos Ribeiro
Priscilla dos Santos Nascimento

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS DE UMA


MATERNIDADE PÚBLICA ACERCA DO ALEITAMENTO MATERNO 181
Andreia Silva Rodrigues
Jéssica de Almeida Farias
Loren Caroline da Cruz Maciel
Cíntia Andrade Silverio da Silva
Ana Rita Barreiro Chaves
Simone Santos Souza
Cleuma Sueli Santos Suto
Carle Porcino

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NAS


RELAÇÕES DE INTIMIDADE DOS ADOLESCENTES 199
Greice Kely Oliveira de Souza
Sinara de Lima Souza
Tamyres Lopes Santana de Carvalho
Rosely Cabral de Carvalho
Tamille Marins Santos Cerqueira
Cleuma Sueli Santos Suto
José Eduardo Ferreira Santos
Vivian Ranyelle Soares de Almeida

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS


DE SAÚDE EM CONTEXTOS DE PRÁTICAS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS SOBRE O CUIDADO


AO PREMATURO DURANTE AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE 215
Sumaya Medeiros Botêlho
Rita Narriman Silva de Oliveira Boery
Zenilda Nogueira Sales
Eliane dos Santos Bonfim
Jeórgia Pereira Alves
Isnara Teixeira de Britto
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ENFERMEIRA(O)S SOBRE
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS UTILIZADOS NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE 231
Cristiane Purificação de Oliveira
Mary Gomes Silva
Bárbara Angélica Gómez Pérez
Magno Conceição das Mercês
Antônio Marcos Tosoli Gomes
Carle Porcino

POSFÁCIO 245
Mirian Santos Paiva
Michele Mandagará de Oliveira

SOBRE AS AUTORAS E OS AUTORES 247

ÍNDICE REMISSIVO 255


APRESENTAÇÃO

Viver e conviver num Grupo de Pesquisa é extremamente prazeroso!


A inquietação suscitada pelos objetos a serem estudados, as escolhas
metodológicas e os campos empíricos, aliados às trocas intergeracionais
que envolvem os saberes e fazeres, o ensinar e o aprender, as caminhadas
e descobertas compõem a trajetória de um Grupo. Além disso, ela propicia
a construção de relações, de responsabilidades afetivas que são permeadas
pelas subjetividades das situações e dos contextos, que associam o vivido e
o aprendido na composição do conhecimento de mundo e da conquista de
vitórias.
Nossa caminhada inicial como Grupo de Pesquisa se deu no GEM – Grupo
de Estudos sobre a Saúde da Mulher, hoje denominado Centro de Estudos
e Pesquisas sobre Mulheres, Gênero, Saúde e Enfermagem, que nos deu
e, continua dando, régua e compasso na trajetória de pesquisadoras e de
formadoras de nova(o)s pesquisadora(e)s. Entretanto, ao alcançar a maioridade
o GEM, se encontrava num ponto de maturação acadêmica que nos encorajou,
para além da nossa linha de pesquisa, fundar o Grupo de Pesquisa sobre
Sexualidades, Vulnerabilidades, Drogas e Gênero (SVDG).
O SVDG já nasceu pujante! Sua força sempre esteve ligada a complexidade
e a diversidade dos objetos e dos grupos populacionais que se configuram
em seus estudos e pesquisas. Escolhas difíceis que nos apontavam grandes
desafios, porém encorajadoras! A descoberta e a apropriação da Teoria das
Representações Sociais - TRS que se nos apresentam como saberes socialmente
construídos, geradores de práticas sociais tornando-se impulsionadoras e
guias de ações e comportamentos. A compreensão que olhar os objetos da
Enfermagem a luz dos conceitos, pressupostos e princípios da TRS nos levaria
a compreender e ressignificar as ações de promoção e prevenção em saúde e,
consequentemente, redirecionar as práticas de cuidados, fez com que ela fosse
escolhida para ancorar a explicação dos fenômenos estudados pelo Grupo.
Coincidentemente, o SVDG do presente, está no estágio em que o GEM se
encontrava quando ele nasceu, é um Grupo jovem, no auge de sua adolescência
(completando nesse mês de outubro, 14 anos), portanto, em franco processo
de amadurecimento. Se desenvolve, cresce e não mede esforços para alcançar
objetivos relacionados expectativas culturais dos espaços em que se insere. Se
o olhamos e o comparamos com uma pessoa adolescente, constataremos que
ele exerce um processo de distanciamento de comportamentos e privilégios

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 11


típicos da “infância” e, já adquire características e competências que o capacitam
a assumir os deveres e papeis sociais de pessoas “adultas”.
O Grupo toma para si o arrojo, a coragem, a ousadia e o ânimo para
o desenvolvimento do processo de produção do conhecimento. Explora
habilidades de suas/seus integrantes e cultiva a autoconfiança, características
essas, importantes para o enfrentamento da transição que ora experimenta
para tornar-se cada vez mais independente, maduro, ativo e produtivo no
manejo sociocultural de suas atividades e em sua capacidade para lidar com as
adversidades. É certo que vivenciar o presente com todos os desafios que ele
apresenta deixa o Grupo mais preparado para enfrentar o futuro, já que essa
transição é inevitável, mas, seguir o seu curso fará tudo fluir mais naturalmente.
A produção de um livro confere ao Grupo a condição de emancipado,
dando-lhe o direito de sentir-se maduro e consolidado. Soma-se a esta
conquista a distinção recebida pela líder do Grupo, Professora Doutora
Jeane Freitas de Oliveira, considerada pelo Ranking for Scientist “Pesquisadora
Destaque na América Latina”, o que com certeza, representa a assunção de
novas responsabilidades e deveres na trajetória acadêmica do Grupo e de
suas/seus integrantes!!
A presente coletânea é a concretização de um desejo do SVDG, entre
muitos outros..., embora sempre pensado, ele acabava por ocupar o lugar do
ideal, construído imageticamente como possibilidade de futuro, mas como
este Grupo é permeado de grandes virtudes que transitam num ‘continuum’
de ousadia e sensatez, chegou ao momento presente com temperança
e moderação, numa construção coletiva de compartilhamento de saberes
envolvendo uma multiplicidade de olhares advindos de pesquisadoras(es),
docentes, discentes e de profissionais da área assistencial integrantes de
variadas instituições, públicas e privadas, federais e estaduais, sem perder
sua característica gregária, através da qual foi possível consolidar parcerias
históricas e escolher novas parcerias.
Embora muito tenha sido produzido a partir de trabalhos acadêmicos e de
projetos de pesquisa dos Grupos participantes, não tenho dúvida que todos
os que aqui não estão poderiam ser inseridos nas seções que compõem a
coletânea, entretanto, escolhas foram necessárias, mas elas são tão ricas que
asseguram o sucesso e a contribuição a todas as pessoas que acessarem o livro.
Gostaria de agradecer as colaborações que tornaram possível a sua
produção, aos coautores dos artigos, mas principalmente, a Jeane Freitas de
Oliveira, Dejeane de Oliveira Silva, Cleuma Sueli Santos Suto, Pablo Luiz Santos
Couto e Carle Porcino, que compõem a organização desta coletânea e pela
oportunidade de apresentar este livro que trará benefícios a(o)s leitora(e)s

12 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


aprendizes da TRS que quiserem continuar ou trilhar este caminho. Privar
dessa leitura foi um privilégio e desejo muito sucesso.
Espero que a(o)s leitora(e)s destes textos encontrem inspirações para
novas pesquisas, novas parcerias e consolidação de antigos encontros!!!

Salvador, 15 de outubro de 2021

Mirian Santos Paiva


Doutora em Enfermagem (USP). Professora Aposentada da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 13


PREFÁCIO

A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: DESAFIO E


ENCANTAMENTO NA BUSCA PELO CONHECIMENTO

A teoria das representações sociais se apresenta, simultaneamente, como


um desafio e um encanto, em especial para os profissionais de saúde que, de
um modo geral, não possuem contato com frequência com a Psicologia Social,
a ideia de pensamento social ou temáticas próximas a este eixo. Chegando ao
campo da saúde através de enfermeiros, médicos, educadores físicos e outros
profissionais que usam este arsenal teórico para melhor compreender os
objetos que estudam ou em função de psicólogos sociais que estudam a área
da saúde e o fazem com o suporte desta teoria, adquiriu um importante espaço
na formação de profissionais de alto nível, no âmbito dos cursos de mestrado
e de doutorado, na formação de alunos da graduação, em diagnósticos
situacionais e no desenvolvimento de pesquisas em diferentes instituições
de ensino superior.
O desafio está relacionado ao desenvolvimento de competências teóricas
e metodológicas diante de tantas novidades e diferentes conceitos, como
ancoragem, objetivação, difusão, propaganda, propagação, polifasia cognitiva,
núcleo central e assim por diante. É comum, entre os alunos dos diferentes
níveis, conversas constantes acerca do famoso quadro de quatro casas ou dos
softwares usados para análise, como o EVOC, o ALCESTE, o IRAMUTEQ e o SIMI
como sendo as representações sociais em si. Depois, no entanto, vai caindo a
ficha que a questão teórica é bem mais complexa que isto, sendo necessárias
muitas horas de dedicação para que esta teoria flua com mais naturalidade no
pensamento, permita conexões entre conceitos e, em seguida, se apresente
como um óculos teórico a partir do qual se pode olhar os dados empíricos e
a própria realidade.
Por outro lado, há o encantamento pela capacidade heurística da teoria,
por sua possibilidade de explicar diferentes fenômenos sociais, pelo seu
potencial para fazer diagnósticos situacionais que permitam intervenções
em diferentes contextos, pela possibilidade de encontrar, nos congressos da
área, os seus principais autores ainda vivos e, em alguns contextos, começar
a explicar os motivos de alguns comportamentos sociais de determinados
grupos. Durante uma aula, um aluno uma vez me disse meio assustado:
Professor, os evangelistas, ao escreverem os evangelhos, fizeram a ancoragem
de jesus à ideia do messias do antigo testamento! Eu respondi que do ponto

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 15


de vista psicossocial sim, mas que no âmbito da fé ou da teologia a resposta
certamente seria outra, terminando a conversa debatendo a questão do
referencial teórico como uma forma de visão de mundo que, sendo mudada,
muda a nossa interpretação da realidade.
Em outros momentos, recebo alunos que, ao iniciarem os seus mestrados,
dizem que se não trabalharem com o ALCESTE ou com a análise de similitude
em suas dissertações terão um infarto agudo do miocárdio. Achando certa
graça, digo que as decisões sobre o percurso metodológico são consequências
da escolha do objeto de estudo e que esta definição, no caso da teoria das
representações sociais, passa pelo processo de reflexão teórica acerca do
questionamento se objeto que se deseja abordar é, também, um objeto
representacional.
Para enfrentar esta primeira parte do caminho com suas dificuldades
inerentes, é impossível não citar o Professor Celso Pereira de Sá que, com
os seus três livros e os seus inúmeros capítulos de livro e artigos completos
em periódicos, tornam o nosso caminho muito mais seguro e tranquilo. Com
elegância e precisão, o seu livro conhecido como “o branquinho”, a construção
do objeto de estudo em representações sociais, publicado em 1998 pela
EdUERJ, pega os seus leitores pela mão e os introduz no complexo mundo das
representações sociais, guiando-os pelos labirintos teóricos e metodológicos
com leveza e profundidade. É um clássico para quem deseja se enveredar por
estes caminhos e ao ser lido com toda a atenção, sente-se o misto de rigor
acadêmico e generosidade que transbordam de suas páginas. Como diz Denise
Jodelet(1:11) no prefácio da referida obra: “Possam os jovens pesquisadores
nutrir-se dos conselhos que ele provê e adotar a postura científica que ele
propõe”.
Após esta introdução ao mundo das representações sociais tem-se, pela
frente, o cotidiano cinzento e repetitivo para dar conta de uma psicossociologia
do conhecimento, de compreender cada vez mais uma forma de saber prático,
apreender a construção de teorias do senso comum através das quais as
pessoas se movimentam em seus cotidianos e tentar entender a complexa
relação entre representações e práticas. Tudo isto pode ser “degustado”, mas
não como uma fruta ao alcance da mão e sim como aquela boa do fundo de
quintal que se encontra na copa de uma árvore alta e possui uma casca que
necessita ser retirada. Isto pode ser comprovado nas necessárias leituras dos
principais autores, como Moscovici, Jodelet, Abric, Doise, Marková e Sá, dentre
outros que poderiam ser citados. O conhecimento é um ser ciumento que só
se entrega a quem se dedica a ele e o convence de que se é merecedor de tal
dádiva.

16 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


O livro que ora chega às mãos dos leitores é fruto do empenho de
professoras/es e pesquisadoras/es que cresceram e crescem no contexto da
teoria e ousam construir conhecimentos e propor discussões. Englobando as
técnicas de testagem de centralidade, o uso do facebook como meio de coleta
de dados, a utilização de técnicas projetivas do desenho-história, a abordagem
processual das representações sociais e a discussão de diferentes objetos à
luz desta teoria, como a paralisia cerebral, o cuidado à pessoa vivendo com o
HIV/Aids, a pessoa transgênera, o álcool e outras drogas, o uso do preservativo,
a amamentação e o aleitamento materno, a violência, o cuidado ao prematuro
e o processamento de produtos utilizados na área da saúde, nos oferecem um
diálogo atual e profícuo.
As/Os organizadoras/es, Jeane Freitas de Oliveira, Dejeane de Oliveira
Silva, Cleuma Sueli Santos Suto, Pablo Luiz Santos Couto e Carle Porcino, nos
presentearam com um material atual e que nos faz subsidia no enfrentamento
das questões candentes da contemporaneidade na área da saúde. Então, sejam
bem-vindos a esta obra, puxem uma cadeira e mergulhem nos diferentes textos
que estão aqui. Boa Leitura!

Vale do Engenho Novo, 11 de junho de 2021

Antonio Marcos Tosoli Gomes


Professor Titular
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Faculdade de Enfermagem
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq Nível 1D
Procientista UERJ/FAPERJ
Líder do Grupo de Pesquisa RELIGARES

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 17


REFERÊNCIA

Jodelet D. Prefácio. In: Sá CP. A construção do objeto de pesquisa em representações


sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ; 1998.

18 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SUA
ABORDAGEM PROCESSUAL: REFLEXÕES, DESAFIOS
E POSSIBILIDADES

Antônio Marcos Gomes Tosoli1


Rafael Moura Coelho Pecly Wolter2
Virginia Paiva Figueiredo Nogueira1
Luiz Carlos Moraes França1
Karen Paula Damasceno dos Santos Souza1
Pablo Luiz Santos Couto3
Magno Conceição das Mercês4
Juliana de Lima Brandão1

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Para começar a discussão acerca da teoria das representações sociais
(TRS), destaca-se que o próprio termo representação social (RS) engloba objetos
e fenômenos que se localizam no dia-a-dia dos grupos sociais, possuindo
relação e origem em conceitos formulados pelo senso comum e no processo
de interações consubstanciadas por estes mesmos grupos. Ao mesmo tempo,
pode ser identificada em uma área de conhecimento específico, a partir das
proposições de Serge Moscovici(1-2), no contexto da psicologia social. Caracteriza-
se, portanto, em um primeiro momento, em um fato social e também em uma
área de saber. Assim, estes fenômenos e objetos estão difundidos na cultura,
na comunicação e em diferentes práticas levadas a cabo no meio social(3).
As representações sociais têm, como fundamento, os indivíduos e os
grupos sociais em função do seu caráter psicossocial, em especial quando
eles se deparam com a tensão entre sua objetividade e sua subjetividade,
permanentemente contextualizada em seu meio histórico e social. Sá(3:24)
destaca que “uma representação social é sempre de alguém (o sujeito) e
de alguma coisa (o objeto)”. Consequentemente, a teoria considera, em seu
contexto, tanto os comportamentos dos sujeitos e as suas atitudes, motivações
e opiniões, quanto a estrutura social, as instituições que a compõem e a
concretude histórica própria que a caracteriza.
A teoria nasce realizando uma ruptura epistemológica com o behaviorismo,
afirmando que não há distinção entre os universos exterior e interior de um

1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Vitória, ES, Brasil.
3
Centro Universitário FG. Guanambi, BA, Brasil.
4
Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 21


indivíduo ou grupo e, dessa maneira, deve-se considerar que sujeito e objeto
não são necessariamente distintos(4). A TRS, nesse sentido, faz parte de uma
grande corrente das ciências humanas e sociais que trata da construção social
da realidade. O objeto de RS encontra-se sempre inscrito em um contexto
ativo, percebido, ao menos em parte pelo grupo, como prolongamento dos
seus comportamentos, práticas e normas. Dessa maneira, não se pode dividir
estímulos e respostas como dois momentos estanques e separados, uma vez
que são indissociáveis e se formam em conjunto a partir de uma relação de
mútua implicação. Esta ruptura provoca outro questionamento fundamental na
construção da representação: se abandona o corte normalmente estabelecido
entre sujeito e objeto, como definir a objetividade do objeto e da realidade?
Abric(5:12) responde que, para a teoria,

não há uma realidade objetiva, toda realidade é representada,


apropriada pelos indivíduos e reconstruída em seu sistema
cognitivo e integrada em seu sistema de valores que depende
de sua história e do contexto social e ideológico que o
circunda.

E o autor aprofunda a questão: “é esta realidade apropriada e reestruturada


que, para o indivíduo ou o grupo, constitui a própria realidade” (5:12). Neste ponto,
pode-se trazer então, uma primeira definição de representação social, qual
seja, a de uma visão funcional do mundo que permite ao indivíduo ou ao grupo
conferir sentido às suas condutas e entender a realidade mediante seu próprio
sistema de referências, adaptando e definindo deste modo, um lugar para si(5).
Neste sentido, a representação não se apresenta como um “simples reflexo da
realidade” (5:13), mas uma organização (e, por que não, totalidade?) significante.
É da complexidade desta teoria que se procura tratar neste capítulo,
trazendo uma abordagem geral de suas principais características e conceitos
e, posteriormente, aprofundando especificamente a abordagem processual.
De certa maneira, se pensou a sua construção com vistas a reflexões pontuais
associando a literatura a trabalhos já realizados ou decisões teóricas que foram
necessárias ao seu desenvolvimento, nem sempre óbvios para pesquisadores
menos experientes na área. Para sua organização, decidiu-se por uma
apresentação geral da teoria e, a seguir, o aprofundamento da abordagem
processual.

As representações sociais como teoria: seus processos, seus


conceitos e suas funções
O significado de determinado objeto para um grupo se caracteriza
por apresentar complexidade em sua estrutura, ser multifacetado em sua

22 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


manifestação e ser interligado com os contextos de vida dos sujeitos que o
integram. As representações podem ser identificadas e reconstruídas a partir
dos posicionamentos em relação aos objetos, das atitudes adotadas pelas
pessoas e pelos grupos e da articulação de diferentes pensamentos que
obedecem a uma lógica própria. Desta maneira, as representações sociais
são também conhecidas como “ciências coletivas sui generis, destinadas à
interpretação e elaboração do real”(1:50).
Essa forma de pensamento se apresenta como complexa nas relações
entre os sujeitos, as crenças e ideologias do grupo social, a sociedade de um
modo geral, as suas instituições e instâncias e assim em diante. A capacidade
singular e individual de pensar, marcada pela influência e também pela
capacidade de influenciar as construções sociais dos grupos de pertença, é
chamada “sociedade pensante” por Moscovici. Para as representações sociais,
contudo, esta sociedade pensante possui uma estrutura interna dividida em
dois universos distintos, que, mesmo não sendo opostos em si, apresentam
características particulares e se alimentam mutuamente: o consensual e
reificado(6).
O universo reificado é definido como o conhecimento produzido
com o rigor lógico formal, os critérios de objetividade e os parâmetros
metodológicos característicos do pensamento erudito e da ciência(6). Já o
consensual se caracteriza pelo pensamento que está na base das atividades
intelectuais da interação social realizada no dia-a-dia, onde são estruturadas
as representações sociais. Cada um, então, pode se apresentar como um
conhecedor, um especialista ou um pesquisador amador, expondo teorias,
manifestando opiniões e oferecendo respostas para os problemas cotidianos.
Na atualidade, além do senso comum como corpo de conhecimentos produzido
espontaneamente através da tradição e do consenso do grupo, surge uma
nova modalidade do conhecimento popular que são os conhecimentos de
segunda mão, ou seja, apropriados daqueles gerados pela ciência ou, sendo
mais explícito, do universo reificado.
Aqui se estabelece um ponto nevrálgico para a discussão acerca das
representações sociais. A teoria nasce para compreender o processo de
difusão e apreensão de objetos que possuem uma construção científica
específica e que passam a existir, no senso comum, de maneira autônoma, às
vezes, próxima, outras vezes, distantes do fato do qual todo este complexo
processo teve início(7-8). O estudo seminal de Moscovici acerca da psicanálise
na sociedade francesa no início da segunda metade do século passado teve
basicamente este intuito: compreender o processo através do qual um conceito
cientificamente construído e com vistas à utilização em um contexto específico
foi empregado a partir de uma reapropriação que, para a sua consolidação,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 23


reuniam elementos oriundos da própria ciência e do saber erudito e outros que
faziam parte do código cultural, comportamental e religioso. Este fato foi, de
forma aprofundada, demonstrado por Moscovici acerca da ideia de complexo
que, ao ser usado no conjunto de proposições teóricas da psicanálise, possui
um direcionamento e, no cotidiano das interações pessoais, mostra-se com
aplicações múltiplas, ora apropriadas à sua concepção científica, ora fruto de
sua reconstrução sociocognitiva.
O ponto nevrálgico destacado acima se refere ao fato de que a teoria
de representações tem seu início com esta preocupação e a mantém até
os dias atuais, em que pese as inúmeras transformações (e, por que não
dizer, verdadeiras revoluções?) da sociedade nas últimas décadas e, muito
particularmente, das comunicações sociais. Os últimos anos do século XX
caracterizaram-se por uma imbricada encruzilhada de atores sociais, ideologias,
instituições, descobertas científicas, epidemias letais e revalorização do
conhecimento comum e cotidiano como um elemento importante à qualidade
de vida e à solução dos problemas modernos. Desta maneira, as representações
sociais também são frutos dessa simultaneidade de processos e da rapidez da
informação, bem como da caracterização do globo terrestre em uma aldeia
através das grandes mídias, o que permite um entrelaçamento constante
entre informações científicas, observações empíricas, julgamentos ideológicos,
crenças religiosas e atitudes grupais.
Este fato não implica sucessivas mudanças representacionais, o que seria
inviável por natureza, mas a presença constante de esquemas estranhos em
sua forma de estruturação e na necessidade premente de mecanismos próprios
(como a racionalização, por exemplo) para a manutenção do arcabouço
interno de determinada representação. Permite, igualmente, que a teoria de
representações sociais não fique limitada a estudar grupos sociais que seriam
considerados como “consumidores” de conhecimentos produzidos alhures,
como se a construção de representações se desse de modo unidirecional; a
ciência mostra-se eivada, em alguns contextos, de construções sociais, quando
não de vieses ideológicos, e os cientistas manifestam, regularmente, o senso
comum que os habita insistentemente, apesar das tentativas de equilíbrio que
se percebe na quase totalidade destes atores sociais.
A aids se configura como um exemplo paradigmático deste processo, ao
se perceber que a construção científica e do senso comum se deram de forma
conjunta, às vezes, em paralelo e, em outras ocasiões, com forte interação
e mútua influência(7). Neste sentido, podem-se apontar as declarações e
posicionamentos de pessoas importantes que colaboraram na construção de
conhecimentos, imagens, metáforas, atitudes e crenças que consubstanciaram
um campo representacional marcante para a síndrome, na maioria das vezes,

24 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


com um suporte considerado científico e, portanto, visto como verdadeiro,
inquestionável, racional ou aceitável. Este aspecto justificou segregações e
legitimou proposições estigmatizantes para grupos minoritários, causando
grande sofrimento individual e ferindo a autoestima. A aids mostra-se, então,
como um marco que a dinâmica da modernidade imprimiu ao processo
de formação, manutenção e transformação das representações sociais,
apresentando-se mais fluido e intercambiável do que anteriormente. Destaca-
se, ainda, que as estruturas dos universos reificados e consensuais, na
atualidade, possuem inúmeros pontos de comunicação, com mecanismos de
difusão dos acontecimentos mundiais e das descobertas científicas, como se
observou durante toda a primeira década da existência da aids.
As representações sociais fornecem uma “impressão da topografia
mental de várias culturas e sociedades modernas”(8:3), possuindo um conjunto
coletivo de conhecimentos e atitudes, compartilhando e baseando-se em
crenças, imagens, metáforas e símbolos. Para o mesmo autor, este conteúdo
é mentalmente estruturado, abarcando as dimensões cognitiva, afetiva,
avaliativa e simbólica acerca dos fenômenos já comentados. Ao mesmo tempo,
a representação é resultante de um processo coletivo e público de criação,
elaboração e difusão de conhecimentos no grupo social. Como ainda continua
o referido autor, “as representações de tais objetos fazem o mundo inteligível
para os membros de grupos sociais e culturais”(8:7).
Outra definição de representação social é a que ela “é uma forma de
conhecimento socialmente elaborada e partilhada, tendo uma orientação
prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social”(7:22), ao passo que ela também pode ser conceituada como
sendo “o produto e o processo de uma atividade mental, através da qual um
indivíduo ou um grupo reconstitui a realidade com a qual ele se confronta e
para a qual ele atribui um significado específico”(9:28).
Moscovici(1) pontua que, em representações sociais, indica-se um conjunto
de explicações, conceitos, imagens e afirmações que se originam na vida
diária e no curso de comunicações interindividuais. Portanto, representar
é um processo ativo ou, mais especificamente, uma reconstrução do dado
ou do objeto dentro da noção de valores e do contexto de reações, regras
e associações(10). A mesma autora ainda comenta que este é, portanto, um
processo de classificação e de nomeação, estabelecendo relações entre
categorias e rótulos. Por fim, as representações sociais possuem elementos
afetivos, mentais e sociais, integrando a cognição, a linguagem, a comunicação,
as relações sociais e a realidade material, social e ideal(10).
Para os grupos, as representações sociais possuem basicamente quatro
funções: a de saber, que consiste em compreender e explicar a realidade; a

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 25


identitária, constituindo a identidade própria do indivíduo/grupo, ao mesmo
tempo em que protege suas especificidades; a de orientação, ao guiar os
comportamentos específicos e suas práticas; e a de justificação, fornecendo
o background para as tomadas de posição e para os comportamentos(9). Assim,
o fazer e o pensar estão intimamente ligados, influenciando-se mutuamente e
tornando possível a construção de representações, ao mesmo tempo em que
esta representação influencia a prática social. Para que um grupo construa
uma representação se faz necessário que o objeto tenha importância social
e coletiva.

A abordagem processual: alguns aprofundamentos e notas para


pesquisadores iniciantes
A abordagem processual atribuída, em especial, ao trabalho de Jodelet(11)
é a que mais se aproxima da proposição original de Moscovici, apresentando,
com ela, ampla face de interseção e, até mesmo, de justaposição. A análise
da produção de Jodelet mostra que o seu trabalho se caracterizou por um
intenso desdobramento e aprofundamento das ideias iniciais da teoria das
representações sociais, com formulação de propostas originais e próprias
ao longo deste processo, mas também, por uma demonstração empírica de
conceitos que ainda estavam, à época, mais teóricos do que palpáveis para
a compreensão do pensamento social e a prática da investigação científica.
Neste sentido, ela aborda as representações da loucura entre indivíduos
que abrigavam os pacientes com alterações mentais em suas residências
em uma pequena cidade do interior da França. Evidencia, ainda, as práticas
relacionadas a estas representações, as dimensões através das quais estas
eram organizadas, os modos em que a comunicação acontecia entre aqueles
que abrigavam os doentes com os demais, incluindo os próprios pacientes,
as formações simbólicas acerca da loucura e dos loucos, a afetividade que
permeava as relações e o diálogo cotidiano entre os membros de um grupo,
entre outras questões que poderiam ser citadas(12).
Pode-se destacar que esta abordagem evidenciou diversas facetas das
representações, como a compreensão de sua formação e a sua circulação em
grupos sociais(7). Esta autora trouxe, ainda, novos elementos necessários à
compreensão da teoria, tais como o aprofundamento teórico e conceitual das
representações especificamente(13), sua inserção no contexto do pensamento
mítico e simbólico(14), o outro e a alteridade como um importante fator para
a construção de representações(15) e a proposição de novos conceitos para a
compreensão de fenômenos psicossociais complexos, como o de experiência(16),
por exemplo.

26 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Portanto, a abordagem processual centra-se não só na identificação,
através de alguns elementos, da influência do social e do contexto cultural nas
representações sociais, mas procura compreender os processos que interagem
entre si para formá-las, permitir a sua continuidade ou transformá-las, com
especial ênfase (mas não exclusividade) em seus conteúdos. Procura resgatar,
ainda, o processo de simbolização realizado pelo grupo acerca do objeto social
e como o pensamento social se organiza e se reflete em práticas, estereótipos,
atitudes, imagens e afetividades, reconstruindo a realidade e transformando o
estranho e desconhecido em familiar e próximo. Torna-se importante realizar
um destaque neste momento: a compreensão que se apresenta da abordagem
processual não inclui somente a sua formação (processo este muito destacado
no âmbito da sua delimitação), mas a sua própria continuidade (que implica
em um mecanismo de interação, de produção simbólica, de comunicação e
de reconstrução do já dado) e a sua transformação.
Torna-se importante destacar que há autor(17-18) que apresentou duas
reflexões com a preocupação de sistematizar as diferenças entre a abordagem
processual e estrutural. Esta autora(18:401) considera que a primeira

centra-se nos processos de constituição do pensamento


social englobando não somente os aspectos cognitivos que
se produzem em nível individual, mas também os processos
sociais (interação cara-a-cara, comunicação, fundamentos
culturais) de sua construção.

Ela continua afirmando que se fundamenta sobre a lógica que busca


entender os modos de produção social do conhecimento do senso comum, a
circulação deste conhecimento e como eles se concretizam na cotidianidade das
diferentes dimensões da vida social. Busca-se, então, continuadamente pelos
sentidos construídos coletivamente e partilhados socialmente, reconstruindo a
realidade e adquirindo (através da representação) a capacidade de manejá-la e
compreender as interações diárias que se encontram na base para a produção
e a disseminação da produção simbólica.
Considera, ainda, que a abordagem processual compreende o ser humano
como produtor de sentidos e, como já referido, focalizam-se na análise das
produções simbólicas, dos significados e da linguagem, através dos quais o
sujeito constrói o mundo em que vive(17). Em função disso, pode-se observar
uma tendência de a produção científica desta abordagem centrar-se na
pesquisa qualitativa, por permitir a apreensão do processo de formação,
continuidade ou de transformação de uma representação social, mas isto
não se configura como um imperativo ou uma recomendação metodológica.
Deseja-se, então, aprofundar algumas questões relacionadas à abordagem
processual, em especial a partir da clássica obra de Jodelet(7) publicada no

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 27


Brasil no primeiro ano do século XXI. A primeira questão que se coloca com
relação aos estudos de representações sociais, em especial para os novos
pesquisadores, é se o grupo a ser estudado desenvolveu uma teoria ingênua,
do cotidiano, um saber prático acerca do objeto ou do fenômeno que se deseja
pesquisar. Neste sentido, considera-se também como importante se o grupo
social se posiciona em face dele, se o insere nas rodas de conversas e se produz
argumentos para sustentar determinados pontos de vista.
Para melhor compreender estas questões, considera-se que as

representações formam um sistema e dão lugar a teorias


espontâneas, versões da realidade encarnadas por imagens
ou condensadas por palavras, umas e outras carregadas
de significações – concluiremos que se trata de estados
apreendidos pelo estudo científico das representações
sociais. [...] Estas definições partilhadas pelos membros
de um mesmo grupo constroem uma visão consensual da
realidade para este grupo. Essa visão, que pode entrar em
conflito com a de outros grupos, é um guia para as ações
e trocas cotidianas – trata-se das funções e da dinâmica
sociais das representações(7:21).

Esta autora ainda aprofunda dizendo

que as representações sociais – enquanto sistema de


interpretação que regem nossa relação com o mundo e
com os outros – orientam e organizam as condutas e as
comunicações sociais. Da mesma forma, elas intervém em
processos variados, tais como a difusão e a assimilação dos
conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, a
definição das identidades pessoais e sociais, a expressão
dos grupos e as transformações sociais(7:22).

Podem ser citados, como exemplo, as teorias que são, de certo modo,
comuns à aids e à COVID-19, quais sejam, a de que ambas se configuram como
castigo divino ou como tendo origem em um laboratório. Chama a atenção,
inclusive, um estudo(19) realizado com pastores evangélicos abordando as
representações que eles possuem acerca do HIV/Aids, explicitando que estas
teorias de castigo por causa do pecado, punição em função da prática do sexo
considerada desviada e como praga enviado pelo divino continuam presentes
neste grupo social, o que significa dizer que quase quarenta anos depois dos
primeiros casos da síndrome (à época da realização do estudo), as mesmas
teorias do senso comum continuam circulando e influenciando atitudes e
práticas diante das pessoas que vivem e convivem com o vírus.
Ao mesmo tempo, chama a atenção um aspecto específico nos estudos que
o Grupo de Pesquisa RELIGARES vem desenvolvendo sobre as representações

28 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


sociais de comunidades religiosas acerca de suas divindades. Tem-se observado
que mesmo quando elas não se inserem no panteão cristão, circula entre
a comunidade as características de amor, cuidado e desvelo como suas
características fundamentais nas relações que estabelecem com os seus
fiéis, em moldes muito próximos ao que a tradição cristã afirma sobre a
sua própria divindade. Isto significa que, ao lado do saber teológico próprio
desta comunidade, seja através da escrita e da oralidade, se estabeleceu um
diálogo com o conhecimento que se tem dos atributos divinos no contexto
da cristandade, assim como se considerou experiências próprias das pessoas
que compõem esta comunidade no processo de construção e de consolidação
desta representação.
Ao se delinear as propostas de pesquisa no âmbito das representações
sociais, deve-se questionar se o objeto de estudo também se configura como
sendo de representação, uma vez que, em alguns momentos, pode ter seu
enquadramento em uma dimensão mais técnica em determinado campo
profissional (situação relativamente comum quando se adota a teoria em áreas
mais aplicadas) ou quando se percebe que, frente ao objeto, o grupo pode ter
opiniões e até mesmo atitudes, mas não possuem uma representação social
estruturada. Outra questão que ainda pode se apresentar é a necessidade
em separar, na construção do trabalho, o objeto de representação do objeto
de estudo. Neste sentido, um estudo desejando estudar o processo de
judicialização em saúde para profissionais, adotou este fenômeno como objeto
de estudo e propôs, como meio de alcançá-lo, os objetos representacionais de
direito à saúde e de acesso às ações e serviços em saúde(20).
Outra possibilidade, quando se tiver dúvida de que o objeto de estudo se
configura como sendo, de fato, de representação, é a realização de um estudo
exploratório que forneça resultados preliminares para que o pesquisador
continue com mais segurança o caminho que deseja. Este foi o caso de uma
pesquisa(21) em que as doenças negligenciadas para profissionais de saúde
foram adotadas como um objeto de representação após a análise de sua
estrutura e de seus conteúdos no início do desenvolvimento(22).
Outra questão importante a se considerar, tanto na construção do objeto
de estudo como sendo de representação, quanto na análise dos dados
empíricos, se refere ao que Jodelet(7) chama de elementos das representações,
que são “informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores,
atitudes, opiniões, imagens, etc”(7:21), “afetivos, mentais e sociais”(7:26) ou os
seus constituintes que são, além de alguns já citados, “informações, imagens,
[...] elementos culturais, ideológicos, etc”(7:38). Ao se trabalhar a abordagem
processual, torna-se necessário estar atento a cada um destes elementos e
constituintes, de modo que se possa desenvolver uma pesquisa que os explicite,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 29


senão a todos, pelo menos a alguns dos que estão listados, permitindo uma
síntese teórica mais rica a partir dos dados empíricos.
A representação, então, pode ser definida como “uma forma de saber
prático ligando um sujeito a um objeto”(7:27), de onde se pode tirar algumas
questões importantes, quais sejam, (1) a representação social como uma
psicossociologia do conhecimento, uma forma de saber, de conhecer
determinados objetos, de dar sentido à realidade, assim como de construção
da própria realidade; (2) É um saber especificado, adjetivado, com finalidade
prática, como modo de domínio e de intervenção na realidade em que se
está inserido; e (3) este saber prático, faz a ligação entre o sujeito e o objeto,
discussão esta que não será aprofundada aqui, uma vez que já foi abordada
anteriormente neste mesmo capítulo.
Ressalta-se o resultado de um estudo(23) em que se descobriu que as
representações que os profissionais de saúde possuíam das mães de crianças
que viviam com o HIV/Aids determinava o modo como se relacionavam com
estas. Basicamente, a classificação era de inocentes, se não fossem responsáveis
pela entrada do vírus na vida familiar e, portanto, pela transmissão à criança,
e de culpadas, se tivessem adotado comportamentos pessoais, sociais ou
profissionais que possibilitassem uma via para esta entrada e para esta
transmissão. Com as primeiras, desenvolvia-se uma relação de empatia e
solidariedade, enquanto com as segundas, de hostilidade e de discriminação.
Outro aspecto importante a ser destacado é que as representações sociais
possuem dois tipos de relações com o seu objeto, o primeiro de simbolização,
o segundo de interpretação. O de simbolização implica um processo de
substituição, enquanto o de interpretação a atribuição de significações, fruto
de atividade que permite que uma representação seja uma construção e
expressão do sujeito(7). Esta atividade requer processos cognitivos, o que o
transforma necessariamente em sujeitos epistêmicos que são necessariamente
atravessados por pertencimento grupal, inserção social e dimensões culturais(7).
Desta maneira, grupos sociais, através das representações, realizam
um complexo processo de conhecimento da sua realidade, de modo que
se consiga transitar por ela com maior desenvoltura e domínio. Ao mesmo
tempo, percebe-se que há uma relação entre as representações e práticas,
aprofundada por alguns autores(24), ressaltando que esta é uma dimensão que
necessita ser ainda mais aprofundada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria das representações sociais e os fenômenos representacionais
entre os quais se convive diariamente indicam que se trata de uma teoria com

30 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


potencial para ser cada vez mais usada nas áreas aplicadas e com um poder
heurístico considerável. No atual momento político e social, inclusive, ela possui
alto poder explicativo dos fenômenos que estão sendo vividos e enfrentados
no país. Ao mesmo tempo, deve-se destacar sua importância na realização de
diagnósticos sociais e situacionais que podem servir de base para a elaboração
de políticas públicas e de projetos de intervenção da realidade.
Outra questão que deve ser apontada é o desafio de um pesquisador
iniciante em aprofundá-la, compreender seus conceitos e realizar um
desenvolvimento a ponto de ter um pensamento refinado e consistente com
relação a ela. Isto pode ser enfrentado de uma maneira mais suave tentando
observar os fenômenos sociais e passar a lê-los sob a ótica da teoria: pensar a
famosa imagem do Cazuza em seu último show como uma objetivação da aids
ou que a pandemia da COVID-19 foi ancorada em noções religiosas arcaicas,
como o castigo divino, ou na ideia de guerra biológica, no caso do pensamento
de que sua criação se deu em um laboratório.
A abordagem processual com a sua preocupação com a formação da
representação, sua permanência ou transformação e sua relação com o
contexto cultural se apresenta como importante para uma gama de estudos
em distintas áreas, incluindo aí o aprofundamento da relação entre cultura e
representações, representações e alteridade e prática e representações. Todas
estas áreas, na verdade, se manifestam ainda como campo de possibilidades
para os pesquisadores que queiram explorá-las com segurança teórica, rigor
metodológico e ousadia intelectual.
De certa maneira, procurou-se oferecer dicas concretas e pontuais aos
novos pesquisadores, exemplificando com decisões tomadas e desafios
enfrentados. Ao mesmo tempo, o texto apresenta ao leitor alguns dos principais
autores em representações sociais, como Moscovici, Jodelet, Abric, Wagner e Sá,
podendo-se se configurar como uma apresentação básica para se compreender
melhor a teoria e os seus principais pressupostos.
Por fim, deve-se destacar o bom casamento entre a teoria e determinadas
áreas, como a da saúde, uma vez que ela pode fornecer subsídios teóricos para
a compreensão de diferentes fenômenos, ao passo que estas podem torná-la
cada vez mais heurística na leitura da realidade.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 31


REFERÊNCIAS

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2-Moscovici S. A psicanálise, sua imagem e seu público. Petrópolis: Vozes; 2012.
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EdUERJ; 1998.
4-Moscovici S. La psychanalise: son image et son public. Paris: PUF; 1961.
5-Abric JC, organizador. Las representaciones sociales: aspectos teóricos. México: Ed.
Coyoacán; 1994. p. 11-32.
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organizadora. O conhecimento no cotidiano. São Paulo: Brasiliense; 1993. p. 19-45.
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Janeiro: EdUERJ; 2001. p. 17-44.
8-Wagner W. Sócio-gênese e características das representações sociais. In: Moreira ASP,
Oliveira DC, organizadoras. Estudos interdisciplinares em representação social. 2a ed.
Goiânia: AB; 2000. p. 3-26.
9-Abric JC. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Moreira ASP, Oliveira
DC, organizadores. Estudos interdisciplinares em representação social. 2a ed. Goiânia:
AB; 2000. p. 27-38.
10-Leme MAVS. O impacto da teoria das representações sociais. In: Spink MJP. O
conhecimento no cotidiano. São Paulo: Brasiliense; 1993. p. 46-57.
11-Jodelet D. Folies et représentations sociales. Paris: PUF; 1989.
12-Jodelet D. Loucuras e representações sociais. Petrópolis: Vozes; 2005.
13-Jodelet D. Représentation sociale: phénomènes, concept et théorie. In: Moscovici S,
organizador. Psycologie Sociale. Paris: PUF/QUADRIGE; 2008. p. 363-384.
14-Jodelet D. O lobo, nova figura do imaginário feminino. In: Paredes EC, Jodelet D,
organizadoras. Pensamento mítico e representações sociais. Cuiabá: UFMT/FAPEMAT/
EdUNI; 2009. p. 33-84.
15-Jodelet D. El otro, su construcción, su conocimiento. In: Abundiz SV, organizador.
Representaciones sociales: alteridad, epistemología y movimientos socials. Guadalajara:
Universidad de Guadalajara/MSH; 2006. p. 21-42.
16. Jodelet D. Experiências e representações sociais. In: Menin MSS, Shimizu AM,
organizadoras. Experiência e representação social: questões teóricas e metodológicas.
São Paulo: Casa do Psicólogo; 2005. p. 23-56.
17-Banchs MA. Alternativas de apropriación teórica: abordaje procesual y estructural
de las representaciones sociales. Educ. cult. Contemp.; 2004. 1(2):39-60.
18-Banchs MA. Representaciones sociales en proceso: su análisis a través de grupos
focales. In: Moreira ASP, Camargo BV, Jesuíno JC, Nóbrega SM. Perspectivas teórico-
metodológica em representações sociais. João Pessoa: UFPB; 2005. p. 401-423.

32 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


19-Espírito Santo CC. Pecado, salvação e cura: representações sociais da aids para
líderes religiosos pentecostais [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2016.
20-Ramos RS. As representações sociais da judicialização da saúde para profissionais
de saúde [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Faculdade de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro; 2015.
21-Santos CS. As doenças negligenciadas e suas representações sociais: um estudo
com profissionais de saúde [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2018.
22-Santos CS, Gomes AMT, Souza FS, Marques SC, Lobo MP, Oliveira DC. Representações
sociais de profissionais de saúde sobre doenças negligenciadas. Esc. Anna Nery. 2017;
21(1):e20170016.
23-Barbosa BFS, Gomes AMT, Santos ÉI, Oliveira DC. A família da criança soropositiva: um
estudo de representações sociais de enfermeiros. Revista Eletrônica De Enfermagem.
2012; 14(3):504–13.
24-Wolter RMCP, Sá CP. As relações entre representações e práticas: o caminho
esquecido. Revista Internacional de Ciencias Sociales y Humanidades, SOCIOTAM. 2013;
XXIII(1-2):87-105.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 33


APLICAÇÃO DE TESTES DE CENTRALIDADE EM ESTUDOS
DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Juliana Costa Machado1


Charles Souza Santos1
Virginia Paiva Figueiredo Nogueira2
Rita Narriman Silva de Oliveira Boery1
Antônio Marcos Gomes Tosoli2
Vanda Palmarella Rodrigues1
Alba Benemérita Alves Vilela1

INTRODUÇÃO
A Teoria das Representações Sociais (TRS) fundamenta-se na psicologia
social, na vertente da Escola Francesa criada por Serge Moscovici que em 1961
desenvolveu a teoria através da obra: La psychanalyse: Son image et son public.
Moscovici explica no seu estudo sobre a representação social da psicanálise,
como o conhecimento científico é convertido em um saber do senso comum;
como também possibilita reconhecer que as representações sociais constituem
para nós uma realidade partilhada e elaborada(¹).
A TRS é fundamentalmente dinâmica, suscetível à transformação, o que
permite a compreensão da sociedade de modo mais dialogal e portando
a possibilidade do encontro entre o senso comum e o universo reificado.
Deste modo, a representação funciona como um sistema de interpretação da
realidade que rege as relações dos indivíduos com seu meio físico e social, ela
vai determinar seus comportamentos e suas práticas(2,3).
Desta maneira, as representações são sempre um produto da interação
e comunicação e tornam sua forma e configuração específicas a qualquer
momento, como uma consequência do equilíbrio específico desses processos
de influência social. Enquanto essas representações são partilhadas, penetram
e influenciam o pensamento social de cada um, influenciando suas visões de
mundo(1).
O uso da TRS abrange uma diversidade de pesquisas com objetos sociais
também variados. No momento, sabe-se que existem abordagens diferenciadas
acerca da teoria que não se constituem como alternativas a esta, mas se
complementam: a societal, processual e a estrutural.

1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Jequié, BA, Brasil.
2
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 35


O presente capítulo enfatiza aspectos teóricos e metodológicos da
abordagem estrutural estabelecida por Jean-Claude Abric e foi a única a
formalizar-se como uma teoria em separado, a chamada Teoria do Núcleo
Central (TNC). Ocupa-se com o conteúdo cognitivo das representações, não
como uma simples colocação de ideias e valores, mas concebendo-o como
um conjunto estruturado, que se organiza em um sistema central e periférico,
com características e funções distintas(4,5).
A abordagem estrutural foi proposta inicialmente por Jean-Claude Abric
em sua tese de doutorado intitulada Jeux, conflits et représentations sociales
em 1976, sob a forma de uma hipótese a respeito da organização interna das
representações sociais. Posteriormente, o seu postulado teve a colaboração
de diversos autores em todo o mundo como Flament, Guimelli, Moliner, entre
outros; sendo conhecido o grupo inicial de pesquisadores como grupo Midi,
por estar sediado no Sul da França na região do Mediterrâneo nas cidades de
Aix-en-Provence e Montpellier (5,6).
Na abordagem estrutural, a representação social possui uma estrutura
constituída por um conjunto de cognemas que são organizados, hierarquizados,
ponderados e mantém entre si relações que determinam o significado e o
lugar que ocupam no sistema representacional(7). Trata-se de uma perspectiva
marcada por um olhar experimental que lida com o conhecimento socialmente
compartilhado na forma de estruturas, isto é, sistema formado por unidades
interconectadas que tem seu funcionamento regulado por leis(8).
A partir dos conhecimentos da TRS e da TNC verifica-se a necessidade
de utilização de métodos que visem levantar e fazer emergir os elementos
constitutivos de uma representação, ou seja, o seu conteúdo e como esses
elementos se estruturam e se organizam com a delimitação do núcleo central
da representação(5).
Desse modo, é necessário fazer uma abordagem multimetodológica das
representações para uma possível definição da centralidade organizada em três
tempos sucessivos: o levantamento do conteúdo da representação; o estudo
das relações entre os elementos de sua importância relativa e sua hierarquia;
e a determinação e o controle do núcleo central(7). Para o levantamento do
conteúdo da representação temos os métodos interrogativos (entrevista,
questionário, os desenhos, entre outros) e os métodos associativos (que incluem
as evocações e associações livres, os mapas associativos, entre outros)(7).
Nesse contexto, Moliner traz uma crítica aos métodos propostos por Abric
pelas dificuldades metodológicas iniciais para o cumprimento das exigências
teóricas de identificação precisa do núcleo central, considerando que as
dificuldades partem de uma análise insuficiente da noção de centralidade(5).

36 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Nessa perspectiva de autocrítica e de identificação da centralidade de
uma representação, é que Moliner juntamente com o grupo Midi introduz
diferentes propriedades teóricas atribuídas ao núcleo central, métodos e
técnicas específicas capazes de colocar em evidência os elementos centrais.
As primeiras técnicas de delimitação do núcleo central fundamentaram-se
nas diferenças quantitativas, ou seja, que os supostos elementos centrais se
apresentavam mais salientes e conectavam com um número maior de outras
cognições mesmo sendo elementos periféricos(5).
A abordagem estrutural das RS possui técnicas específicas, porém a mais
utilizada no Brasil é a análise prototípica ou análise das evocações livres que se
organiza em quatro quadrantes, núcleo central e zona de contraste à esquerda,
primeira e segunda periferias à direita9,10. Trata-se de uma técnica exploratória
elaborada por Vergès que fornece indicações prováveis de centralidade
válidas(11).
Entretanto, para caracterizações estruturais ligadas a pesquisa de base ou
então aprofundamentos sobre um diagnóstico representacional vinculado a
um grupo, os elementos do núcleo central são mais precisos após o emprego
de técnicas confirmatórias como as técnicas do questionamento (mise-en-
cause) por Moliner em 1989, dos esquemas cognitivos de base por Guimelli e
Rouquette em 1992(10), o método de escolhas sucessivas por blocos ou choix-
par-bloc elaborado por Guimelli em 1989 e a técnica de constituição de pares
de palavras de acordo com Abric(7).
Esses métodos, dentre outros desenvolvidos pelo grupo do Midi, são
importantes para que os pesquisadores compreendam melhor as relações
entre os elementos de uma representação e confirmem a centralidade
daqueles que são nucleares. Destarte, o presente capítulo tem como objetivo
apresentar os métodos de escolhas sucessivas por blocos ou choix-par-bloc e
o de constituição de pares de palavras.

Aspectos teóricos e metodológicos para aplicação do Choix-Par-


Bloc e Constituição de Pares de Palavras
Os estudos da psicologia social e das representações sociais têm utilizado
frequentemente multimétodos (quantitativo/qualitativo), assim como variados
instrumentos mais adequados à obtenção dos dados que forneçam mais
fielmente uma apreensão pelo pesquisador do objeto social, busquem
identificar os elementos constitutivos da representação, conhecer a organização
destes elementos e identificar seu núcleo central9. Desta forma, a aplicação de
multimétodos em uma investigação é uma tendência crescente na pesquisa

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 37


em saúde posto que a combinação de métodos oferece uma alternativa para
a investigação de fenômenos complexos(12).
Neste sentido, para compreender as representações sociais de um
grupo sobre determinado assunto com enfoque na abordagem estrutural, é
necessário seguir um aporte teórico metodológico suficiente para desvelar a
estrutura e organização desta representação no pensamento social. Assim, é
preciso estabelecer etapas com instrumentos de coleta de dados, a saber: a
aplicação da técnica de evocações livres de palavras, e posteriormente, aqueles
instrumentos relativos aos testes de centralidade.
A técnica de evocações livres de palavras é um método projetivo/associativo
onde o provável núcleo central é mais facilmente detectável, com vistas a
identificar as dimensões latentes através da configuração dos elementos que
constituem a trama ou a rede associativa dos conteúdos evocados em relação
a cada termo indutor(2,5). A aplicação consiste em solicitar que os participantes
da pesquisa falem prontamente cinco palavras que vêm a sua mente quando
ouvem o termo indutor que está ligado à temática em questão. A análise
prototípica (também chamada análise de evocações ou quadro de quatro casas)
é uma das técnicas mais difundidas para caracterização estrutural de uma
representação social.
Os dados empíricos provenientes das evocações podem ser processados e
analisados com auxílio de softwares como o Ensemble de Programmes Permettant
l’analyse dês Evocations (EVOC) ou através da utilização da Interface de R pour
les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ) ou,
ainda, com o uso do Microsoft Excel, de modo manual.
O software EVOC possibilita efetuar a organização dos termos produzidos
em função da hierarquia subjacente à frequência e à ordem de média de
evocação (rang) e favorece a construção do quadro de quatro casas11. Desse
modo, é possível o levantamento daquelas palavras ou expressões pertencentes
ao provável núcleo central da representação, por seu caráter prototípico e os
sistemas periféricos(5).
O IRAMUTEQ é um software gratuito e desenvolvido sob a lógica da open
source, disponível para download gratuitamente, ancorado no ambiente
estatístico do software R e na linguagem python. Assim viabiliza diferentes
tipos de análise de dados textuais, dentre as quais, análises simples como a
lexicografia básica com o cálculo de frequência de palavras e ordem média de
evocação, resultando no quadro de quatro casas(13).
Essa etapa é fundamental para a aplicação dos testes de centralidade, já
que, os instrumentos serão planejados a partir dos resultados da análise dos
dados anteriores, ou seja, a partir da análise prototípica é possível construir os
instrumentos e aplicar os testes como o choix-par-bloc e o de constituição de

38 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


pares de palavras, para verificação da centralidade dos elementos e a ligação
entre eles. Portanto, descrever uma representação em termos estruturais, ao
menos em sua essência, equivale a identificar os elementos que compõem o
seu núcleo central(14).
Nesta perspectiva, com acesso aos elementos do quadro de quatro casas
lança-se mão da construção e aplicação dos instrumentos do choix-par-bloc e
constituição de pares de palavras.

Choix-par-bloc ou Método de Escolhas Sucessivas por Blocos


O método choix-par-bloc ou de escolhas sucessivas por blocos elaborado
por Guimelli em 1989, permite identificar a estrutura da representação, verificar
e validar o caráter central ou periférico dos elementos gerados pelo método
da rede de associação. Um de seus interesses é o estudo da saliência e da
conectividade existente entre os diferentes componentes da representação(15).
Trata-se de um método de hierarquização dos termos evocados e permite
uma abordagem quantitativa para elementos da representação e através dele
evidenciam-se as relações de similitude no interior da representação, bem
como as relações de antagonismo ou exclusão através do cálculo do índice de
distância, permitindo comparar a importância relativa de certos elementos(5).
Este método permite explorar a relação que une os elementos que
compõem a representação social dois a dois. Ela ajuda a explicar a sua
organização e fazer suposições de “centralidade” de certos elementos da
representação estudada(16).
Desta maneira, elabora-se o instrumento de coleta do choix-par-bloc
contendo uma lista com os elementos presentes no quadro de quatro casas
ao termo indutor utilizado, inserindo os termos conforme maior frequência.
Ressalta-se que o número de cognemas utilizados no instrumento necessita ser
múltiplo de três, ou seja, 9, 12, 15, 18… conforme Figura 1. A partir da utilização
desta técnica em estudos(15,17) notam-se que a utilização de mais cognemas,
como 15 ou mais, mostram de forma mais esclarecedora a conexidade dos
cognemas, melhor apontando a indicação de centralidade e mostrando a
relação interna dos elementos de forma mais rica. Ao passo que uma análise
de choix-par-bloc realizada com 9 elementos, por exemplo, não possui muita
riqueza de detalhes, resultando num baixo poder explicativo.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 39


Figura 1: Instrumento utilizado para coleta de dados do choix-par-bloc. Jequié/BA/BR, 2021.

Palavras As 5 palavras mais características referente ao estímulo indutor ...

X1 1.
X2 2.
X3 3.
X4 4.
X5 5.
X6
As 5 palavras menos características referente ao estímulo indutor...
X7
X8 1.
X9 2.
X10 3.
X11 4.
X12 5.
X13 As 5 palavras restantes:
X14
1.
X15
2.
3.
4.
5.
X1 a X15 = palavras evocadas pelos participantes resultantes da análise prototípica
Fonte: autores, 2021.

Assim, solicita-se aos participantes da pesquisa que escolham os termos


que mais caracterizam o objeto social, os que menos caracterizam e anotem
também os termos restantes. Ao término da coleta de dados transcrevem-se
as respostas criando um corpus e destacando a relevância de cada item que é
calculada da seguinte forma: para cada cognema pontua-se o valor que varia
de +1 a -1, sendo +1 para as palavras do bloco mais característico, -1 é para o
menos característico e 0 para o restante, de acordo ao planilha abaixo (Figura 2).

Figura 2: Preparação do Corpus do Choix-par-bloc. Jequié/BA/BR, 2021

Participante Palavra X1 Palavra X2 Palavra X3 Palavra X4 Palavra X5...

01 -1 0 +1 +1 0 ...

02... +1 -1 +1 0 -1
Fonte: autores, 2021.

40 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Após a criação da planilha faz-se o cálculo das respostas. Os questionários
que não foram completamente respondidos deverão ser excluídos pela baixa
quantidade de respostas.
menos característico eAssim, calculam-se
menos característico (-1 as
-1),relações das característico
neutro e menos palavras que (0 -1),
estão na linha em relação às colunas, ou seja, quantas vezes foram realizadas
mais e menos característico (+1-1); menos característico e neutro (-1 0), neutro e neutro
as relações. Por exemplo: X1 e X2: menos característico e menos característico
(0 0), mais característico e neutro (+1 0); mais característico e menos característico (+1
(-1 -1), neutro e menos característico (0 -1), mais e menos característico (+1-1);
-1), mais característico
menos característico e neutroe (-1neutro
0), (+1 0) e mais
neutro característico
e neutro e maiscaracterístico
(0 0), mais característico (+1
e neutro (+1+1). 0); mais característico e menos característico (+1 -1), mais
característico e neutro (+1 0) e mais característico e mais característico (+1 +1).
Para cada par de cognemas, calcula-se o destaque médio de cada item, somando
Para cada par de cognemas, calcula-se o destaque médio de cada item,
o total de valores conferido pela soma das relações entre dois elementos e dividindo-o
somando o total de valores conferido pela soma das relações entre dois
elementospelo número de indivíduos,
e dividindo-o pelo número encontrando-se o índiceencontrando-se
de indivíduos, de distância. Quanto maior a
o índice
de distância. Quanto
pontuação, maior
maior a pontuação,
destaque maior
para o respectivo destaque
item (5,16)
paracálculo
. Portanto, o respectivo
de distância
item(5,16). Portanto, cálculo de distância segue a seguinte fórmula: (2x((Em
segue a seguinte fórmula: (2x((Em - Eo)/Em))-1; onde Em = soma de todos os - Eo)/
valores
Em))-1; onde Em = soma de todos os valores encontrados na relações
encontrados na relações de cada cognema e Eo = número total de participantes.
de cada
cognema e Eo = número total de participantes.
A operação éAexecutada
operação é executada
para cada para
parcada par de cognemas
de cognemas e permite
e permite desenvolver a
desenvolver
a “matriz de similitude”,
“matriz ao fiao
de similitude”, nalfinal
da da
análise,
análise, oo resultado é disposto
resultado é disposto na árvorena máxima
árvore de
máxima de similitude. É a combinação de relevância e conectividade
similitude. É a combinação de relevância e conectividade que permite considerar que os
permite considerar os cognemas como um elemento central (5,16)
. A Figura 3
cognemas como um elemento central(5,16). A Figura 3 ilustra a árvore de similitude, nela
ilustra a árvore de similitude, nela os cognemas em destaque são aqueles que
os cognemas em destaque são aqueles que fazem maior número de ligações e ligações
fazem maior número de ligações e ligações mais próximas de 1.
mais próximas de 1.

Figura 3: Esquema
Figura ilustrativo
3: Esquema da árvoreda
ilustrativo de similitude
árvore de similitude

Fonte: autores, 2021.


Fonte: autores, 2021.

A análise deAsimilitude
análise de similitude foi desenvolvida
foi desenvolvida particularmentepara
particularmente para oo estudo
estudo das
das representações
representaçõessociais em1962
sociais em 1962
porpor Claude
Claude Flament.
Flament. O autor
O autor utilizou utilizou
a interface a as
entre
interface entre as ciências humanas e a matemática, desenvolveu a análise
ciências humanas e a matemática, desenvolveu a análise através da teoria dos grafos,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 41


através da teoria dos grafos, introduzindo a árvore máxima. A análise de
similitude tornou-se a principal técnica de detecção do grau de conexidade
dos diversos elementos de uma representação(5).
Neste contexto, existe a visão de que o elemento central da representação
social é aquele que se relaciona intensamente com outros elementos
representacionais. Desta forma, a distância entre os diferentes elementos
representacionais é apresentada em formas de árvores e ramificações, os
elementos que estão muitos próximos de outros elementos tendem a ser
considerados centrais, por sua vez, os elementos próximos de poucos outros
elementos tendem a ser considerados periféricos(18).

Método de Constituição de Pares de Palavras


A técnica de constituição de pares de palavras de acordo com Abric(7) é
o método mais óbvio de detecção da conexidade a partir da identificação de
ligações específicas que se estabelecem entre os vários elementos(5).
De maneira a orientar à identificação dos elementos centrais, Moliner
atribui quatro propriedades às cognições: seu valor simbólico, seu poder
associativo, sua saliência e sua forte conexidade na estrutura. Sendo que o
valor simbólico e o poder associativo são propriedades qualitativas, enquanto
sua saliência e conexidade são propriedades quantitativas e aparecem em
consequência das primeiras. Desta forma, entende que o valor simbólico de
uma cognição central designa que esta será frequentemente evocada, também
seu forte poder associativo se manifesta quantitativamente, no caso de uma
elevada conexidade(5).
A constituição de pares de palavras consiste em um método de propriedade
quantitativa através do qual se verifica que os elementos centrais possuem
maior número de conexidades com outros termos(7). O elemento central não é
um elemento isolado, ele se situa na confluência de uma vasta gama de ideias
que surgem a respeito do objeto e se relaciona aos elementos do sistema
periférico, por estas razões a importância de estudar as conexões estabelecidas
entres esses sistemas(19).
A coleta de dados do método de constituição de pares de palavras também
parte dos cognemas que foram evocados na técnica de evocações livres de
palavras ao estímulo indutor sobre a temática e que se apresentaram na análise
prototípica através do quadro de quatro casas. A partir disso, elabora-se um
instrumento dispondo todas as palavras em duas colunas, onde as palavras
que estiverem na primeira coluna obrigatoriamente precisam estar presentes
na segunda coluna conforme a Figura 4.

42 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Figura 4: Instrumento de Coleta de Dados do Método de Pares Palavras

Palavras provenientes da análise prototípica ao estímulo indutor.


X1 X1
X2 X2
X3 X3
X4 X4
X5 X5
X6 X6
X7 X7
X8… X8...

Fonte: autores, 2021.

A aplicação do instrumento trata-se de pedir ao participante da pesquisa


para constituir um conjunto de pares de palavras que lhe parecem “ir juntas”
através da ligação de uma palavra à outra, o que permite precisar o sentido dos
termos utilizados pelos participantes. Cada palavra pode ser escolhida diversas
vezes, o que favorece o levantamento de termos polarizadores a numerosos
elementos da representação, e que podem ser seus organizadores(7).
A partir da coleta transcreve-se em uma planilha todas as coocorrências
dos pares de palavras que se formaram e soma-se cada par, por exemplo: X1
e X2 ligaram-se 12 vezes, X1 e X3 ligaram-se 10 vezes e assim sucessivamente.
A análise dos dados do método de constituição de pares de palavras
é realizada por meio da técnica de análise de similitude, onde é calculado
para cada par de palavras um índice de similitude (número de coocorrências
dividido pelo número de participantes), esses dados são dispostos na matriz
de similitude e posteriormente se constrói a árvore máxima(5). Assim, admite-
se que os termos serão tanto mais próximos da representação quanto um
número mais elevado de sujeitos os trate da mesma maneira(5).
Para a construção da árvore máxima têm-se como ponto de partida os
maiores índices de similitude, ou seja, as mais fortes conexões. O suporte
da análise de similitude decorre da teoria dos “grafos”, através do qual uma
árvore máxima é um grafo conexo e sem ciclo, ou seja, aquele no qual todos
os elementos, são ligados entre si, existindo um só caminho para ir de um
elemento a outro(5).
Realizando essa operação para cada par de itens, vai se dispor da matriz
de similitude para todos os itens do corpus. Para facilitar a compreensão e
a interpretação de tais matrizes, constrói-se a “árvore máxima”. Trata-se de

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 43


um grafo conexo sem ciclo cujos vértices são os itens do corpus e as arestas
são os valores dos índices de similitude entre esses itens. O procedimento de
construção da árvore máxima permite reter apenas as relações mais fortes
entre os itens(20,21).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que pesquisas que utilizam multimétodos e são alicerçadas
na TRS mostram-se adequadas para temáticas inseridas no cotidiano dos
indivíduos e grupos sociais e para a compreensão do pensamento social.
Através da utilização de multimétodos é possível identificar a estrutura e
organização dos conteúdos constituintes das representações sociais sobre
um objeto conforme a abordagem estrutural.
No estudo da estrutura representacional de grupo sobre um assunto/objeto
de representação, pode-se utilizar a técnica de evocações livres de palavras
para a apreensão dos elementos compartilhados e cognitivamente ativados
ao termo indutor. A partir desta técnica, realizam-se testes essenciais para
verificação e definição da centralidade dos elementos e o papel que os termos
exercem na representação.
Dentre os diversos testes de centralidade, neste capítulo discutiu-se o choix-
par-bloc e a constituição de pares de palavras que são métodos considerados
de fácil aplicação e análise, além disso, dão uma indicação dos elementos
centrais. Entretanto, para a confirmação de centralidade de um objeto social
é necessário a utilização de outros métodos como o mise-en-cause e/ou os
esquemas cognitivos de base.
Deste modo, abrem-se os caminhos para que pesquisadores da TRS
busquem aprimorar seus conhecimentos e aplicar em estudos a abordagem
estrutural com enfoque na identificação e organização da estrutura
representacional de um objeto social.

44 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


REFERÊNCIAS

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pessoas que vivem com HIV/Aids: estrutura de pensamento, enfrentamento da síndrome
e cuidado de enfermagem [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2019.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 45


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doméstica contra a mulher: estrutura de pensamento, conceitos e práticas [tese]. Jequié
(BA): Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia; 2020.
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de l’article de R. Michit. Papers on Social Representations. 1994. p. 18-122.

46 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


FACEBOOK COMO CENÁRIO E FERRAMENTA PARA
COLETA DE DADOS ENQUANTO APORTE METODOLÓGICO
EM PESQUISAS ANCORADAS NA TEORIA DAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Pablo Luiz Santos Couto1


Mirian Santos Paiva2
Tarcísio da Silva Flores1
Antônio Marcos Tosoli Gomes3
Samantha Souza da Costa Pereira1
Alba Benemérita Alves Vilela4
Maria Virgínia Almeida de Oliveira Teles5
Beatriz da Costa Pereira1

INTRODUÇÃO
O eixo teórico norteador do estudo foi a Teoria das Representações Sociais
(TRS), que serviu como ferramenta capaz de traduzir e dar o sentido e os
significados atribuídos pelos/as jovens católicos/as quanto a influência dos
princípios religiosos frente aos acontecimentos presentes na sociedade.
Ao longo dos anos, muitas pesquisas têm se aportado na TRS para explicar
e traduzir o conhecimento, as dinâmicas, os fenômenos e comportamentos
sociais, uma vez que a representação social do sujeito dá significado a partir
dos contextos inseridos, tanto individualmente, como no grupo de pertença(1).
Logo, a teoria remete a uma categoria de conhecimento individual que elabora
comportamentos da vida cotidiana, oriundos de pensamentos pertencentes a
um sujeito e um grupo, de forma fluída, complexa e entrecruzada(2-3).
A origem das representações sociais está nas representações coletivas de
Durkheim, quando determinou etapas essenciais para o desenvolvimento da
pesquisa ao definir o coletivo como princípio do desenvolvimento intelectual
do ser humano, o qual é levado a enxergar suas ideias associadas aos
comportamentos coletivos(4). Moscovici ao construir a teoria, interessou-se mais
em explorar a heterogeneidade das ideias coletivas nas sociedades modernas,

1
Centro Universitário FG. Guanambi, BA, Brasil.
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.
3
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Jequié, BA, Brasil.
5
Universidade Nova de Lisboa (NOVA). Lisboa, Portugal.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 47


cujas diferenças exprimem a distribuição desigual do poder, ocasionando
variação e diversidade nas representações(4).
Diferente de Durkhein que considerava “as representações coletivas como
formas estáveis de compreensão coletiva”(4:15), com o poder de preservar e
conservar o todo social contra qualquer desintegração e fragmentação, e,
que serve para integrar a sociedade de uma maneira geral(4). Denise Jodelet
entende as representações sociais como um conhecimento pautado na prática
diária, e, portanto, no senso comum, onde o objeto e o sujeito que o representa
são conectados. Ou seja, as representações relacionam-se ao conhecimento
produzido pelas condições, pela experiência e pelos referenciais sociais(5).
Nesse contexto ao transversalizar a TRS com a abordagem metodológica,
entende-se as relações com as etapas da pesquisa científica, mediante a
elaboração do plano de trabalho a ser executado, com vistas a produção do
conhecimento, ao se considerar as fases do planejamento, execução, análise e
interpretação das ideias(6). Para a aplicação do método necessita a delimitação
do cenário ou universo de pesquisa, no qual o pesquisador procede com sua
leitura tridimensional da realidade, levando-se em consideração o espaço
para a aplicação das técnicas, o tempo necessário que isso seja possível e as
relações sociais entre os sujeitos envolvidos(6-7).
Assim, as redes sociais são ferramentas desenvolvidas para a sociedade
utilizá-la na transmissão e no compartilhamento das informações(8). Por isso,
ao articular a TRS e as redes, há a percepção da rede como uma intersecção
entre o senso comum e o universo reificado, por meio da interação contínua,
diversificada e fluida, com compartilhamento de informações e conhecimentos,
conforme já ponderado por Moscovici(4).
Reitera-se que a TRS, por se interessar pela compreensão de conhecimentos
novos, que se difunde entre os grupos sociais e é apropriado por eles, a
representação social, favorece a investigação da forma como as pessoas
desenvolvem sua compreensão de mundo e como, em grupo que possuem
convergências, se relacionam e operacionalizam em seu cotidiano(8-9), tanto
nos espaços reais como nos virtuais.
O Facebook, uma das redes sociais mais utilizadas atualmente, se constitui
enquanto um sítio eletrônico, a ser usado na delimitação do universo de
pesquisa, tanto para aproximação e delineamento dos participantes quanto
para coleta de dados, visto que suas ferramentas permites troca de informações
imediatas, seja on-line ou off-line. Nos países desenvolvidos, por exemplo, dentre
as 1 bilhão e 250 mil pessoas, cerca de 90% são usuárias dessa rede, cerca 90%
e dos jovens, aproximadamente 75% fazem uso constante da ferramenta(10-11).
Os interesses pessoais e profissionais, geralmente são os motivos que
levam as pessoas a vincular-se ao Facebook, cujas ferramentas e aplicativos

48 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


permitem que os usuários desta rede social se comuniquem e partilhem
informações, anexem fotografias, vídeos, comentários, fazem ligações, enviam
mensagens, interajam com outros websites, dispositivos móveis e outras
tecnologias(12). São nessas relações sociais firmadas no universo virtual, que
se conformam os grupos de pertencimento e a identidade social, onde há o
compartilhamento aspectos semelhantes de vidas, fenômenos, crenças, ideias
e símbolos, possibilitando a construção das representações sociais(13).
Outrossim, o pesquisado que se apoia na TRS ao utilizar-se de novas
tecnologias, para apreender os significados acerca do seu objeto de estudo,
compreenderá o processo de relação dos grupos sociais para além do mundo
físico, mas no mundo virtual das redes socais(8). Considerando os aspectos
apontados até aqui, traçou-se o seguinte problema: como se procede a
articulação da TRS com a utilização do Facebook, como cenário e ferramenta,
enquanto aporto metodológico para coleta de informações e produção
de dados em pesquisa multimétodos? Para auxiliar nas respostas a esse
questionamento, objetivou-se descrever a experiência de uma pesquisa
desenvolvida que utilizou o Facebook como uma ferramenta e cenário para
pesquisa ancorada na Teoria das Representações Sociais.

MÉTODO
O método e os aspectos éticos essenciais que nortearam o presente
manuscrito, também o fizeram na dissertação intitulada: “A influência da religião
católica entre os/as jovens sobre o exercício da sexualidade e a prevenção do
HIV/aids”(14), que utilizou o Facebook como cenário de estudo e suas ferramentas
para aplicação de instrumentos. Portanto, trata-se de estudo teórico-reflexivo,
sobre a experiência de uma pesquisa fundamentada na transversalização
entre a Teoria das Representações e as pesquisas que utilizam redes sociais,
como o Facebook.

O contexto da Pesquisa
Foram utilizados recursos multimetológicos, multitécnicas de coleta e
análise dos dados, para apreender as representações sociais de jovens católicos/
as sobre o exercício da sexualidade e as formas preventivas para o Vírus da
Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/aids).
Todas as etapas de delineamento do cenário de estudo, recrutamento dos
participantes e coleta de dados ocorreu no Facebook, nas ferramentas, on-line
e off-line disponibilizadas para diálogo entre pessoas, chamada de ‘caixas de
bate-papo’, foram os espaços aproveitadas para aplicação dos instrumentos.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 49


Contribuíram com a pesquisa 84 jovens católicos/as praticantes, que
participaram da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em 2013 no Rio de Janeiro-
BR, pertencentes a uma paróquia e integrantes da Renovação Carismática
Católica. A faixa etária composta foi de 18 a 24 anos, de ambos os sexos, e
deveriam ser membros do grupo/comunidade virtual no Facebook vinculado
ao site da JMJ. Esse grupo ou página oficial da JMJ no Facebook era composto
por católicos vinculados a página.
Os/as jovens que se enquadraram nesse perfil, era convidados por meio de
uma publicação oficial na página da JMJ e convites disponibilizados nas páginas
particulares de cada um. A priori 132 pessoas aceitara o convite, mas na medida
em que as etapas de coleta eram explicadas, alguns desistiram e, por fim 84 se
dispuseram contribuir até o final. Como a pesquisa valeu-se de duas etapas, na
primeira (caracterização e associação livre de palavras) participaram todos que
aceitaram contribuir com a pesquisa e que se inseriram dentro dos critérios
pré-estabelecidos; na segunda etapa os participantes foram convidados para
continuar na pesquisa e 19 aceitaram responder a entrevista em profundidade.
Assim, a primeira alteração feita foi com o TALP, quando constatou-se
que os estímulos aplicados numa ordem lógica e sequencial atrapalharam os
participantes a evocarem, visto que as induções eram semelhantes e por isso,
repetiriam algumas palavras de modo consciente para os estímulos. Então
ao aplicar o teste com os/as pessoas que de fato participariam da pesquisa,
os estímulos indutores tiveram sua sequência de aplicação alterada naquele
momento, conforme sugerido a seguir:

(...) deve-se fazer o uso do processo rotativo dos estímulos


para controlar o efeito da ordem, de modo que com a
introdução da modificação da sequência dos objetos-
estímulos apresentados, torna-se possível evitar, com
esse procedimento, que o estímulo anterior influencie na
resposta do estímulo seguinte. Isso significa que evitando-
se o contágio dos estímulos no repertório das respostas,
torna-se possível avaliar a interdependência semântica
entre objetos estímulos diferentes, mas relacionados(15).

Aspectos éticos em pesquisas no Facebook


O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia sob o no de protocolo
878.042/2014.
Nos encontros on-line e off-line, nas ‘caixas de bate papo’, foram explicados
os objetivos do projeto, a sua importância, assim como, a entrega e a explanação
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde garantiu-se o sigilo

50 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


das informações e o anonimato dos participantes. As ferramentas da rede
social, local que onde foi determinado como lócus de pesquisa, permitiu a troca
e o envio de documentos através da caixa de bate-papo. Nesse espaço virtual
o TCLE foi encaminhado aos/às participantes, e, após a leitura e explanação
das dúvidas pertinentes a pesquisa, eles declararam que aceitariam participar
e contribuir com a pesquisa. Essa declaração foi digitada (escrita) pelo próprio
participante que estava do outro lado da rede, na ferramenta destinada ao
diálogo, e, que funcionou como uma espécie de assinatura digital, com a qual
afirmaram que concordavam e queriam participar da pesquisa on-line.
Tais cuidados partiram da obediência aos requisitos éticos determinado
pela Resolução n°466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) a respeito
das pesquisas envolvendo os seres humanos, como a beneficência, o respeito
à dignidade humana e a justiça. Os/as participantes da pesquisa foram
informadas/os sobre os objetivos e a relevância da mesma, assim como a livre
escolha em participar, sem nenhum prejuízo, caso optassem pela desistência,
seja qual fosse o momento. Todo/as tiveram orientações sobre o procedimento
a ser realizado para obtenção das informações mediante a Técnica de
Associação Livre de Palavras (TALP)(16) e a Entrevista em Profundidade, como
também dos benefícios esperados e dos possíveis riscos. O anonimato foi
garantido aos/às participantes, cujos nomes eram substituídos pelo uso da
letra E (entrevistado/a) sequenciado por um número de identificação. Além
disso, tiveram orientações em relação ao não benefício financeiro.

Produção dos dados


As pesquisas aportadas na TRS se valem de multimétodos e multitécnicas,
uma vez que Moscovici, em 1961, fazia o uso da combinação de métodos
mistos em seu estudo pioneiro “A representação social da psicanálise, sua
imagem e seu público”(4). Portanto, as técnicas definidas para a coleta de dados,
e adaptadas para a aplicação online, foi a TALP e a Entrevista em Profundidade.
Embora, deve-se pontuar que algumas entrevistas ocorreram off-line, visto
que as perguntas norteadoras foram enviadas e alguns iam respondendo aos
poucos, conforme a disponibilidade de tempo deles.
Antes da pesquisa ser iniciada, ela foi testada em um piloto no que
concerne a aplicabilidade dos instrumentos e a sequência, realizado com
19 pessoas, que possuíam perfis no Facebook e, também, se encaixavam
dentro dos critérios de inclusão. Tanto a associação livre de palavras quanto
a entrevista em profundidade foram realizadas nas ‘caixas de bate-papo’, e,
todo o diálogo era digitado e posteriormente copiado e colado no processador
de texto Microsoft Word 2007, para organização das falas. Houve um risco

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 51


de constrangimento durante a coleta de dados, pois os participantes foram
questionados sobre assuntos tidos como tabus na sociedade, os quais remetia
à aids e a sexualidade, e, por esse motivo, foi informado aos/às jovens, caso
se sentissem constrangidos/as, a coleta de informações seria interrompida e
recomeçado em momento posterior, ou então a desistência da participação.
Precisa-se fazer um adendo sobre a aplicabilidade da TALP ter sido primeiro
e ocorrido apenas on-line, pelo fato do possível corrompimento das respostas
que poderia acontecer nos conteúdos latentes do inconsciente, a partir, das
informações oriunda da entrevista. A associação livre de palavras é uma técnica
projetiva, que se distingue de outras por possuir um material ambíguo pela
liberdade dada ao participante. O método de aplicabilidade da técnica, com
perguntas e respostas diretas, de modo rápido/imediato adentra ao campo
metafórico fazendo com que a pessoa que responde revele aquilo que está
escondido no inconsciente(17).
A primeira técnica utilizada, a Associação Livre de Palavras (TALP), conforme
Nóbrega (2003) foi desenvolvida por Jung e adaptada à Psicologia Social e
tem como objetivo inicial fazer o levantamento do diagnóstico psicológico e
cognitivo sobre a estrutura da personalidade do sujeito. E, atualmente, com o
intuito de buscar evidências em universos semânticos(15). Ela também fornece
condições ao/a pesquisador/a de apreender a percepção da realidade de um
grupo, cuja estrutura semântica já é existente(18).

EXPERIÊNCIA COM A COLETA DE DADOS


Com vistas na identificação do universo semântico e cognitivo dos
participantes e, principalmente, evitar que as respostas elaboradas fossem
politicamente corretas. Para tanto, aplicou-se inicialmente a TALP, técnica
projetiva que passou por adaptações para pesquisas na Psicologia Social(5,15).
Conforme delimitou Jung, a associação livre de palavras como uma técnica
projetiva, se orienta pela hipótese de que a estrutura psicológica dos indivíduos
torna-se compreensível e palpável por intermédio das manifestações de
condutas de reações, escolhas e criação, mostrando-se em indícios reveladores
da personalidade. Tais evidências são perceptíveis a partir das quatro principais
condições de um teste projetivo: estimular, tornar observável, registrar e obter
a comunicação verbal(15).
As técnicas projetivas, de uma maneira geral, possibilitam submergir
as relações do ser humano com a sociedade em suas variadas dimensões,
principalmente, com o universo que a rodeia(18). Através delas as pessoas
delineiam como queriam ser, o que gostariam de ser, o que não querem ser
ou como queriam que os outros fossem ou agissem em relação a elas. Elas são

52 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


indicadas em investigações com pessoas ou grupos que enfrentam problemas
de ordens psicológicas ou fisiológicas em uma pesquisa de abordagem com
métodos mistos(17).
As técnicas projetivas, como a TALP, ao serem aplicadas permitem a
compreensão de como as pessoas mostram-se como queriam ou gostariam
de ser, bem como não queriam ser ou apenas queriam demonstrar como os
outros fossem ou agissem em relação a elas(9). Os estímulos que compuseram
o instrumento para a associação livre de palavras na pesquisa foram:
Exercício da sexualidade (e1); catolicismo e exercício da sexualidade (e2);
aids (e3); catolicismo e aids (e4). Tais estímulos faziam com que as pessoas
evocassem prontamente palavras e/ou expressões que vinham à sua mente
espontaneamente e rapidamente no momento que eram inquiridas. Por conta
da necessidade de respostas rápidas e curtas, que a TALP deve ser antecipada
à entrevista, para que dê tempo ao participante para formular as respostas.
O desenvolvimento da entrevista em profundidade ocorreu conforme
era indagado ao sujeito as três questões principais que compôs o roteiro e os
questionamento subsequentes era explorados, a fim de que as respostas não
ficassem vagas e houvesse fuga da temática, garantindo coerência, consistência
e profundidade nas informações. A técnica de associação de palavras e a
entrevista em profundidade foram aplicadas nas ferramentas particulares6
do perfil individual7 destinadas ao diálogo interação com outras pessoas, e foi
com esse subterfúgio que a coleta foi viabilizada. Tal ferramenta para conversas
virtuais, disponibilizadas pelo Facebook, favorece a interação entre as redes. As
informações trocadas entre os indivíduos podem ser particulares e sigilosas.
Os discursos digitados, produzidos pelos participantes, ocorreram em
horários previamente agendados conforme a disponibilidade de cada um/uma.
A duração de cada resposta dada ao estímulo do TALP, foi de 40 segundos para
cada participante, ainda que tivessem um minuto responder cinco palavras.
Todavia, ao considerarmos que há sempre problemas técnicos, sobretudo com
sinal de internet, pensamos que porventura poderiam interferir na emissão da
resposta e, por isso, aceitamos a média de tempo supracitada. Cada estímulo
era digitado pelo pesquisador conforme as respostas associadas eram digitadas

6
As caixas de diálogos particulares no Facebook se encontram na barra lateral de ‘bate papo’, a qual
permite que você contate rapidamente alguns dos amigos com os quais você mais conversa. Basta
clicar no nome de um amigo para abrir uma janela virtual que permitirá a conversação. Disponível
em: <https://www.facebook.com/help/260938680677469/>. Acessado em 15 de junho de 2015.
7
O perfil individual é uma página no Facebook individual e pessoal. Nenhuma empresa, negócio,
grupo ou marca pode ser incluído nesta categoria. Esse perfil tem um limite de amigos, até
5.000. Disponível em: <http://www.webmarketingpt.com/social-media/facebook-pagina-vs-
perfil/#axzz37YvWNxYa>. Acessado em: 15 de junho de 2015.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 53


pelos participantes, de forma não fossem processadas no inconsciente e se
evitasse as respostas politicamente aceitas sobre a temática.
Quanto as Entrevistas em Profundidades, as mesmas duraram cerca de
uma hora, e os/as participantes tinham tempo livre e liberdade para responder
a cada uma das perguntas feitas, seja on-line ou off-line. As indagações se
seguiam, uma depois da outra, na medida em que eram respondidas e as
dúvidas eram tiradas às respostas vaga ou incompletas. Todas as informações
obtidas consideradas pertinentes à construção do entendimentos e
conhecimento do objeto de estudo, que eram as representações sociais
dos/as jovens católicos/as, foram apreendidas conforme era desenvolvidas
as interações virtuais, que permitiu captar a rede de significados, sentidos,
símbolos, ideias, conceitos, rompimento com os estigmas e, por fim, a (re)
significação de paradigmas construídos da influência da religião católica em
interface à sexualidade e a aids.

DESENVOLVIMENTO
Pondera-se que o Facebook é uma plataforma tecnológica, ou seja, um
ciberespaço que proporciona interação entre as pessoas, como em outras
redes sociais. É um espaço virtual composto por ferramentas necessárias à
difusão e compartilhamento de informações, cujos recursos disponíveis servem
para promover a troca de mensagens de texto, comentários, notícias, vídeo,
áudio, fotos e informações pessoais, bem como a possibilidade de delimitar e
conformar grupos baseados interesses comuns(11).
Nas relações estabelecidas na rede há a possibilidade de delimitação
dos grupos de pertencimento social, que compartilham de ideias, ideologias,
informações, símbolos, crenças, fenômenos, conhecimentos culturais
e religiões, os quais são aspectos que favorecem a identificação de
semelhança da vida cotidiana, o que permite a construção e estruturação
de representações sociais. Qualquer rede sociais, virtual ou física, pode ser
entendida enquanto uma representação de um conglomerado de pessoas
unidas pelo compartilhamento ideias e recursos perpassado por valores e
interesses comuns(13). Tais motivações são necessárias para a compreensão
do grupo de pertencimento que contribuiu com o estudo.
Embora, deve-se considerar que restringir um grupo de um determinado
contexto não é suficiente para proceder com generalizações dos resultados,
oriundo de experiências e vivência do cotidiano, como foi o caso das/os jovens
católicos/as participantes, ainda que o método adotado envolvesse o Facebook,
para que fosse possível alcançar uma quantidade maior de participantes.

54 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Pondera-se que o grupo que participou revelou representações
homogêneas, pelo fato da religião católica, a partir de suas doutrinas, dogmas
e discursos moralizantes, tem lançado mão das ferramentas disponibilizadas
pelas redes sociais para compartilhar e difundir informações referentes
aos valores defendidos pela religião, tanto aos seu fieis quanto às demais
pessoas, o que contribui para a o agrupamento das pessoas e a formação de
representações sociais.
O grupo de pertença social é confirmado quando se percebe consenso
entre os/as participantes sobre um objeto de investigação, o que é relevante,
tanto para o processo de formação das representações sociais do grupo quanto
para a estrutura de tais representações. Esse argumento é relevante, já que
as redes de significações atribuídas pelo grupo, originam de objetivações
ancoradas em conhecimentos e informações difundidas, propagadas e
compartilhadas, a exemplo do que acontece no Facebook(19).
O Facebook é um dos meios digitais utilizados como plataforma para que
pessoas e grupos divulguem e propaguem informações, seja com os amigos
e contatos on-line como pessoas desconhecidas que são outros usuários
interligados à rede por meio de temas comuns e afinidades. Geralmente o
círculo social (virtual) de cada usuário é abrangente, com variações de ordens
culturais, sociais, geracionais - colegas, familiares ou até mesmo pessoas
desconhecidas presencialmente, mas próximas virtualmente – que possibilita
que os envolvidos comunguem de interesses e temas(20-21).
Um adendo deve ser feito, que na pesquisa em questão a variável
procedência, item que delimitou o perfil e caracterização dos participantes,
foi utilizado no processamento informações nos softwares, não influenciou
nas opiniões, pois o grupo composto por homens e mulheres, com raça
autodeclarada distintas, tiveram homogeneidade em seus discursos e
opiniões. Tal evidência vai ao encontro de uma das funções das redes sociais,
e da internet em geral, de permitir a propagação rápida das informações,
contribuindo para conformação dos grupos de pertencimento e promovendo
uma “cultura cibernética” o que, inevitavelmente, com a globalização leva o
aculturamento dos indivíduos e grupos(22-23).
Tais evidências reveladas com esse contexto do mundo virtual das
redes sociais, e nesse caso o Facebook, reitera a contribuição da internet na
construção do conhecimento, significados e representações, que podem passar
por mudanças ou reforçar ideias, opiniões e comportamentos(21,23). “Dentre
os espaços de produção/circulação discursiva, não podemos negligenciar a
participação massiva que tem a rede social Facebook na sociedade atual. A
heterogeneidade dos campos que aí se apresenta é enorme: publicidade,
debates sobre as minorias étnicas, entretenimento”(20:349).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 55


O Facebook possibilita de modo interativo o desenvolvimento e consolidação
das relações interpessoais no ciberespaço e favorece a comunicação entre
as pessoas envolvidas(22-23). Nesse sentido, ao propiciar a delimitação e o
envolvimento de pessoas nas comunidades virtuais com amigos, colegas,
cientistas, acadêmicos, as redes sociais contribuem com fomento de discussões,
debates, troca de informações relevantes sobre diversas áreas do saber(23).
Com o processo de trocas intraindividual, interindividual e intergrupal,
há o delineamento e a explicitação de experiência e vivências pessoais nos
mais diversos contextos históricos e sociais, permitindo fusões ou conflitos
dentro dos grupos e, portanto, organização social, estrutural, legitimidade e
estabilidade sócio-virtual. Logo, tais pressupostos facilitam a compreensão da
identidade social associada ao sentimento de pertença, com o qual se formam
os grupos de pertencimento(4,9,13).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao ponderamos sobre a experiência de uma pesquisa desenvolvida com
jovens católicos que participaram na Jornada Mundial da Juventude possibilitou
a identificação e aproximação do grupo no Facebook e, por transversalizar
os resultados com a TRS, conseguiu-se perceber o grupo de pertencimento
social. As redes sociais, consideradas ciberespaços para compartilhamento
e discussão de informações, são constituídos por grupos que coadunam de
pensamentos semelhantes, e no caso dos participantes da pesquisa possuíam
uma identidade religiosa bem delimitada, cujo espaço propiciava discussões
que revelaram consensos e/ou dissensos relacionados ao objeto de estudo.
Destarte, a TRS em interface com o Facebook enquanto universo de pesquisa
e ferramenta para coleta de dados possibilitou a apreensão da rede significados
cognitivos construídos na memória coletiva de modo intrainvididual, dentro dos
grupos de pertença social. Por meio da construção, difusão e compartilhamento
de informações, discussão de temas e formação de um novo conhecimento
coletivo, é que as representações sociais se processam e estruturam. Nesse
sentido, as redes socais com suas diversas comunidades virtuais, que agrupam
as pessoas conforme suas afinidades e visões semelhantes de mundo,
favorecem que a discussão, o compartilhamento de informações e a construção
de conhecimentos fundamentadas em contextos culturais e sociais, ambíguos
ou semelhantes em diversos aspectos.
Nesse contexto on-line e globalizado de formação de representações
sociais, verifica-se que o aculturamento das pessoas se dá pela facilidade
de aproximação virtual, possibilitada pela realização de leituras diversas da
realidade. Por isso, há a facilidade de utilizar tal espaço para aplicação das

56 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


técnicas de coleta de dados. Portanto, o Facebook e suas possibilidades de
interação permitiu compreender que os grupos de pertencimento se delimitam
na medida em que compartilham de vivências e informações semelhantes, e
com suas ferramentas tecnológicas favorecem a aplicação de instrumentos/
técnicas de forma rápida e interativa diversos segmentos sociais.

AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pela concessão de bolsa de mestrado, que oportunizou e incentivou a realização
desta pesquisa.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 57


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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 59


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MÃES E PAIS SOBRE A
PARALISIA CEREBRAL NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE
COGNITIVA DE REDES

Jeórgia Pereira Alves1


Luciene Matos de Souza1
Sumaya Medeiros Bôtelho1
Alba Benemérita Alves Vilela1
Claudia Ribeiro Santos Lopes1
Darci de Oliveira Santa Rosa2
Rita Narriman Silva de Oliveira Boery1

INTRODUÇÃO
O diagnóstico de Paralisia Cerebral (PC) para um (a) filho (a) repercute em
uma nova realidade na rotina de pais, mães e suas famílias. Pois, a partir de
então, o cuidado que esses indivíduos prestam aos seus filhos modificam seus
valores, sonhos e aspirações, relações diárias e sociais; transforma a visão de
mundo e a materialização de objetos e conceitos ou mesmo reestrutura-os.
Ou seja, se a chegada de um filho já é capaz de mudar a vida do casal e,
consequentemente, a rotina da família, ser pais/família de uma criança com PC,
constitui um processo delicado e complexo, haja vista que esses pais passam
a lidar com algo novo e inesperado em suas vidas. Ademais, geralmente esses
indivíduos nunca haviam tido contato anterior com a realidade da PC, sendo
a partir da observação de que há algo diferente no desenvolvimento de sua
criança, que esses pais recorrem aos serviços de saúde para compreender tal
desenvolvimento. É desta forma que esses pais passam a conhecer não só o
diagnóstico acrescenta o conceito da PC e prognóstico de seu filho.
A paralisia cerebral, ou a encefalopatia crônica não-progressiva da
infância, advém de uma lesão no cérebro ocorrida nas fases de maturação
estrutural e funcional, no período pré, peri ou pós-natal, e acarreta num
grupo de desordens do movimento, da postura, tônus muscular anormal,
levando a limitação das atividades funcionais da criança em desenvolvimento
e até a incapacidade física(1). Outros órgãos e sistemas também podem sofrer
alterações em seu funcionamento, problemas como alterações sensoriais,
cognitivas, perceptivas, de comunicação e de comportamento, epilepsia e

1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Jequié, BA, Brasil
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 61


problemas musculoesqueléticos secundários podem estar presentes no quadro
clínico(2,3).
Acredita-se que a PC afete cerca de 2 a 4 crianças por 1000 nascidos vivos,
desta forma, não é raro encontrar uma família que conviva com os desafios
dessa experiência(4), principalmente referente como essa família se adapta às
novas situações trazidas pelo processo de reabilitação e cuidado da criança
com PC, o que depende das experiências prévias, crenças e valores dessas
famílias e seus integrantes, além da influência dos espaços que ocupam e dos
papéis que desempenham na dinâmica familiar(1).
Assim, esses pais, aliados ao processo de diagnóstico, passam a lidar com
novos conceitos e situações ‘não familiar’ até então, passando a assimilar todo
o contexto desta nova realidade a partir do contato com profissionais de saúde,
educação, instituições, e até mesmo com outros indivíduos que passam pela
mesma realidade de ter e cuidar de um (a) filho(a) com PC. Neste contexto, o
uso da para a Teoria das Representações Sociais (TRS), que estuda como um
fenômeno social constitui uma nova realidade, ou seja, como o ‘não-familiar’
torna-se um ou mais elementos constituintes da representação social, em
um percurso através do qual tais elementos adquirem materialidade, isto é,
se tornam expressões de uma realidade vista como natural, pelo processos
denominados ancoragem e objetivação(5).
A família, como instituição social tende a exercer influências nos processos
de formação das representações sociais de um indivíduo, atribuindo-lhes
valores culturais próprios do meio no qual a pessoa está inserida(6). Logo, é
no contexto das relações diárias e interações do indivíduo em que são exigidos
a manifestação, as explicações, os julgamentos e os posicionamentos frente
às situações do cotidiano. Não obstante a tal processo são as interações
estabelecidas por esse grupo social de mães/pais/cuidadores de pessoas com
PC, que vão criando os universos conceituais deste grupo, e formula a partir
de ideias particulares dessa realidade social as representações sociais sobre
diversos objetos. Dessa forma, a simples opinião agora passa a fazer parte
desses sujeitos, como teorias do senso comum, orientando sua conduta no
mundo social, seus valores e aspirações sociais(7).
Assim, o processo de formação e interação das representações sociais que
cada indivíduo carrega, acontece como num movimento contínuo no decorrer
de suas vivências, e interage dinamicamente com as suas experiências prévias,
as imagens e códigos que o indivíduo já tinha criando assim, novos universos
conceituais para o sujeito.
Nesse sentido, é importante conhecer como a realidade social imposta pela
paralisia cerebral e a rotina de cuidado advindo do quadro clínico apresentado
pelo filho ou filha com PC, aproxima-se da possibilidade de subsidiar ações
futuras para a melhoria do apoio prestado a essas famílias, tanto no sentido
de melhorar o vínculo e a relação entre família/criança, quanto na melhoria
do relacionamento entre os profissionais e tais famílias. Já existem instituições

62 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


que trabalham no sentido de apoiar essas famílias e subsidiam atendimentos
voltadas para o tratamento das pessoas com PC, o que fortalece ainda mais
a necessidade de aproxima-se da realidade vivenciada extra instituição, pois
essa influencia diretamente no prognóstico dessas crianças como também no
cuidado domiciliar prestado pelos pais e familiares.
Neste estudo voltado para a realidade social advinda pelo fenômeno
paralisia cerebral, objetivou-se apreender as Representações Sociais de mães
e pais sobre a Paralisia Cerebral a partir da análise Cognitiva de REDES (AnCo-
REDES), uma vez que tal modelo de análise possibilita a compreensão do
conteúdo dessa representação através da identificação de grupos de sentidos.
Dessa forma, cada grupo de sentido constituído através das conexões geradas
nesta rede de significados, torna possível para o pesquisador realizar análise
cognitiva e compreensão desse fenômeno social como também o entendimento
sobre o estabelecimento de condutas e códigos comunicativos entre esses
sujeitos e outros grupos sociais com os quais convivem rotineiramente(8).

METODOLOGIA

Referencial teórico metodológico


As representações sociais se estruturam a partir de uma realidade comum
a um conjunto social, ou seja, vivências nas quais elementos ‘não familiar’
passam a adquirir materialidade para os sujeitos, tornando-se expressões
de uma realidade, estabelecendo códigos comunicativos como também
orientando ações mediante as situações do dia-a-dia(5).
Para Jean Claude Abric (1998), toda representação está organizada
em torno de um núcleo central e um sistema periférico; sendo o núcleo
central estável, coerente, marcado por uma memória coletiva que reflete
os valores e significados homogêneos do grupo(9). O núcleo central também
determina a significação e organização interna da representação social,
exercendo duas funções simultaneamente, uma função geradora e outra
função organizadora; sendo a função geradora aquela pela qual se cria e se
transforma a significação dos elementos que compõem a representação. E a
função organizadora determina a natureza dos laços que unem os elementos
da representação caracterizando-os como elemento unificador e estabilizador
da representação(10,11).
Assim, o núcleo central, consiste num subconjunto da representação no
qual seus elementos assume tal importância que sua ausência determinaria
a desestruturação da representação ou até mesmo lhe daria uma significação
diferente, por implicar em outras instâncias estruturais da representação – os
elementos intermediários e elementos periféricos da representação social(12).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 63


Os elementos intermediários tratam-se dos elementos da primeira periferia
e zona de contraste, sendo que a primeira periferia são os elementos mais
importantes que estruturam a representação, enquanto a zona de contraste
são elementos de baixa frequência, porém que reforçam os sentidos presente
nos elementos da primeira periferia ou ainda representam um pensamento
minoritário dentro do grupo sobre o objeto de representação. Já a segunda
periferia ou elementos periféricos da representação são constituídos
por elementos menos frequentes e mais suscetíveis as mudanças de
pensamentos(13).

Uso do desenho-estória com tema para compreensão das


Representações sociais de mães e pais de crianças com
Paralisia cerebral
O Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) foi introduzido por Walter
Trinca, em 1972, como instrumento de investigação clínica da personalidade.
Na verdade, constitui-se na reunião de processos expressivos-motores
(entre os quais se inclui o desenho livre) e processos aperceptivos-dinâmicos
(verbalizações temáticas). Inclui, ainda, associações dirigidas: o “inquérito”. Com
o direcionamento da técnica para pesquisas científicas e buscando focalizar
ainda mais no objeto a ser estudado surge então, como aprimoramento o
Desenho-Estória com Tema(14).
Essa modificação foi introduzida para focalizar de forma direta algum
aspecto do conflito psíquico. Recomenda-se a sua utilização quando não
haja um setting que promova naturalmente a expressão dos conflitos e
perturbações(14). Esta forma de emprego do D-E consiste em fazer com que o
examinando se confronte diretamente com suas dificuldades, resistências ou/
mesmo, bloqueios defensivos. Apesar disso, tem sido usado com sucesso na
focalização estudos da representação social sobre diversos objetos.
O desenho estória com tema é uma técnica temática e gráfica desenvolvida
com a finalidade de compreender elementos como a ampliação de dados do
dinamismo da personalidade, podendo ser aplicada a todas as faixas etárias,
sem restrições de níveis econômicos e mentais(15). O desenho enquanto
técnica projetiva funciona como estímulo da percepção temática, uma vez
que o participante faz um desenho e conta uma história sobre o desenho
feito(16), além de facilitar o acesso aos conteúdos conscientes e trazer à tona
os conteúdos inconscientes(15).
Após a conclusão do desenho e da fase de contar estórias, passa-se ao
“inquérito”. Neste momento, podem ser solicitados quaisquer esclarecimentos
necessários para a compreensão e consequente interpretação do material

64 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


que foi produzido tanto na expressão gráfica quanto na estória. O “inquérito”
também tem o propósito de obtenção de novas associações, pois quando
o indivíduo é colocado em condições para associar livremente, essas
associações tendem a se dirigir para setores nos quais sua personalidade
está emocionalmente mais sensível. Desta forma, pode acontecer a revelação
sobre seus esforços, disposições e conflitos. E ainda com o desenho exposto
diante do participante, pede-se o título da estória contada(15).
Com o D-E com tema o pesquisador tem a possibilidade de o sujeito
participante realizar uma determinada sequência, em repetição, de provas:
gráficas ou temáticas, ocorrendo assim um fator de ativação dos mecanismos
e dinamismos da personalidade, alcançando-se maior profundidade e clareza,
oportunizando uma coletânea de dados mais robusta para a pesquisa e
consequentemente uma análise mais coerente dos dados conforme técnica
empregada.
Em pesquisa desenvolvida a partir de abordagem quantiqualitativa, do
tipo exploratória, descritiva, fundamentada na abordagem estrutural da Teoria
das Representações Sociais foi realizado no município de Jequié/Bahia/Brasil,
nos meses de abril a agosto de 2015, na Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE) e na Clínica Escola de Fisioterapia (CEF), da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
Os participantes da pesquisa foram 12 mães e 7 pais de crianças
diagnosticadas de PC, a partir dos seguintes critérios de inclusão: ter idade
superior ou igual a 18 anos; ser mãe ou pai de uma criança que tenha entre
1 a 10 anos com diagnóstico de PC, que fosse acompanhado rotineiramente
pela APAE e/ou CEF, e residissem no referido município. E ainda que aceitasse
participar da pesquisa e registrasse sua anuência no Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Dessa forma a pesquisa respeitou as diretrizes éticas
da Resolução da Comissão Nacional de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
No. 466/2012, que versa sobre pesquisas como seres humanos. Foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa conforme Parecer consubstanciado 961.459
e CAAE: 38942414.1.0000.0055.
Com esses participantes, foi utilizada a técnica projetiva de acesso ao
inconsciente, Desenho-Estória com tema. Na qual se buscou elementos quanto
a estrutura das representações da PC, a partir das solicitações: fazer um
desenho que represente a paralisia cerebral, contar uma estória com início
meio e fim e dar um título ao desenho. Logo depois foi realizada a fase de
inquérito para buscar esclarecimentos e provas acerca do material constituído,
que pudesse subsidiar o processo de análise e interpretação da coletânea dos
dados(14).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 65


Das estórias contadas emergiu um corpus que foi tabulado a partir de um
dicionário de termos, gerado para a pesquisa, no qual palavras como: aceitação,
aceitando e aceitar, foram tratados como aquele termo que apresentou maior
centralidade de grau, neste caso: aceitar. Após essa fase de tratamento do
corpus de análise o mesmo foi submetido ao software Gephi a partir do qual foi
possível efetuar a Análise cognitiva de REDES (AnCo-REDES) (8) e a compreensão
da estrutura da representação social da Paralisia Cerebral para o grupo social
de mães e pais que vivenciam a realidade deste fenômeno social que tem
modificado seu cotidiano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A estrutura da Representação Social da Paralisia cerebral na


perspectiva do AnCo-REDES
Após tratamento o corpus foi submetido à análise a partir do modelo
AnCo-REDES, que utiliza métricas de análise de redes (grau médio da rede
(<k>) e as centralidades de grau (Cg) e de autovetor (Ec)) para identificar cada
elemento que compõe a estrutura da representação (Núcleo Central, primeira
periferia, elementos de contraste e segunda periferia) e Grupos de Sentido (GS)
por meio de um algoritmo de modularidade implementado no software Gephi.
Ao aplicar o modelo AnCo-REDES, foi produzido pelas mães e pais uma rede
semântica contendo 22 componentes. Dessa rede foi extraído o componente
gigante que conteve 95,45% dos vértices (palavras) da rede formada, conforme
Tabela 1. Desta forma, a rede semântica de representações sociais analisada,
da paralisia cerebral, conteve um total de 588 vértices (palavras) e 3.820 arestas
(conexões entre os vértices), estruturando a representação como pode ser
observado na figura 1.

Tabela 1- Propriedades da rede das estórias contadas. Jequié/BA/BR, 2021


Índices Rede total Componente Gigante
Número de vértices (n=|V|) 616 588
Número de Arestas (m=|E|) 3.831 3.820
Densidade (Δ) 0,02 0,02
Grau Médio (<k>) 12,438 12,438
Número de Componentes 22 1
Coeficiente de Aglomeração Médio
0,759 0,759
(C)
Caminho Mínimo Médio (ℓ)
Diâmetro (D) 6 6
Fonte: Dados da pesquisa

66 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Conforme limites propostos para cada métrica como medidas para
identificação da estrutura da representação social preconizado pelo modelo
AnCo-REDES, foi possível a partir da rede semântica encontrada apreender a
estrutura da representação da paralisia cerebral, que teve como núcleo central
o vértice Família; como primeira periferia os vértices conhecimento, fé e vida,
os elementos de contraste foram compostos pelos vértices: falar, criança,
casa, problema, medico especial e a segunda periferia dos demais vértices
encontrados, conforme demostrado no quadro 1.

Figura 1 – Rede das estórias contadas sobre a PC com destaque para o núcleo
central: Família. Jequié/BA/BR, 2021

Núcleo Central Família

Conhecimento

Primeira periferia Fé

Vida

Falar

Criança

Casa
Elemento de contraste
Problema

Médico

Especial

Segunda periferia Demais termos

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 67


Quadro 1 - Medidas utilizadas para identificação dos elementos que compõe a estrutura
da representação social conforme o modelo AnCo-REDES. Jequié/BA/BR, 2021
Modelo AnCo-REDES Representações da PC
Medida para Medida para
Vértices
identificação identificação
Núcleo Vértice que apresente
Núcleo Central Família Cg= 253 e Ec =1,0
Central Cg ˃ k e Ec ≥ 0,75
Vértice que apresente Conhecimento Cg = 131e Ec = 0,64
Primeira Primeira
Cg ˃ k e 0,60 ≤ Ec ˂ Fé Cg = 130 e Ec = 0,62
periferia periferia
0,75 Vida Cg = 128 e Ec = 0,60
Falar Cg = 114 e Ec = 0,59
Criança Cg = 112 e Ec = 0,56
Vértice que apresente
Elemento de Elemento de Casa Cg = 99 e Ec = 0,52
Cg ˃ k e 0,45 ≤ Ec ˂
contraste contraste Problema Cg = 89 e Ec = 0,50
0,60
Médico Cg = 101 e Ec = 0,59
Especial Cg = 68 e Ec = 0,45
Vértice que apresente
Segunda Segunda Cg < k* ou Cg ≥ k* e
Cg < k ou Cg > k com Demais termos
periferia periferia Ec < 0,45
Ec ˂ 0,45
k*- Grau médio da rede semântica produzida por mães e pais de crianças com PC igual a 12,43.
Fonte: Dados da pesquisa

Quadro 2 – Grupos do sentido e seus respectivos vértices com conexões mais densas dentro
da rede semântica das representações de mães e pais sobre a PC. Jequié/BA/BR, 2021
Grupos do sentido Vértices conectados
Novo, esperar, pecado, esperança, humano, certeza, buscar,
Busca pelo diagnóstico aliada
sonho, sol, justiça, solução, saúde, recuperação, declarar,
a busca de explicação e
conservar, realização, reconhecer, concretizar, prosseguir,
certeza de recuperação
presenciar, paz, segurança, surpresa, notícia, merecer, progresso
Médico, poder, morte, convulsão, exames, diagnosticar,
Desfecho e Sentimentos explicar, preocupação, reagir, sangue, organismo, acabar,
frente a confirmação da medo, estranho, risco, enfermidade, espasmo, sofrimento,
Paralisia Cerebral e Luto doar, desmaio, apagar, respirar, barulho, sufocar, aliviar,
pelo filho idealizado desenvolvimento, sequela, perseguição, provocar, remédio,
adoecer
Problema, pessoa, mundo, realidade, mão, pé, orientação,
Constituição da nova
envolver, abraçar, coração, aposentar, importante, sarar,
realidade social
crescer, cabeça, depressão, indefinido
Aceitação do filho com Criança, especial, descobrir, aceitar, representar, necessidade,
Paralisia cerebral e busca dedicação, incondicional, união, pequeno, aparecer, escolher,
de atributos para enfrentar a carinho, empenhar, acordo, independente, própria, culpa,
nova realidade oferecer, superar, responsabilidade
Instalação de nova rotina Vida, nascer, força, trabalho, difícil, luta, escola, aprender,
período marcado por pensar, tornar, perder, desespero, valorizar, crise, mandar,
sentimentos mistos e buscar prematuridade, icterícia, história, hospital, dor, relação,
de explicações ultrasom, acolher, parto, adaptar, sobreviver, conforto, vencer
Necessidade de atenção Falar, perceber, amigo, estudar, perguntar, parecer, profissional,
profissional no processo de nutricionista, conceito, esclarecer, justamente, amizade,
construção do conhecimento aguentar, trocar

68 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Processo de identificação,
Família, diferente, alegria, deficiência, mente, palestra,
busca do apoio familiar
internalizar, usar, enxergar, insistir, transformar, anseio, ganho
primeiros sinais de
de peso, sustentáculo, apoio, fonte
sobrecarga.
Busca de apoio afetivo
Fé, casa, ajuda, cuidado, conseguir, conversar, sentimento,
emocional nas crenças e
tristeza, atenção, agradável, missão, confiante, discriminação
religião.
Aspirações e sonhos para
Conhecimento, correr, precisar, normal, tratamento, doenças,
o filho com PC, advindas
andar, sentar, correr, rotina, obstáculo, acompanhamento,
do processo vivenciado e
fisioterapia, lesão, caminhar, dor, psicólogo
necessidade de tratamentos.
Fonte: Dados da pesquisa

Além disso, os vértices encontrados estão dispostos em nove grupos


dos sentidos que contribuíram para a análise do conteúdo da representação
encontrada corroborando na interpretação dos sentidos representacionais.
Pois no modelo AnCo-REDES, um grupo de sentido tem a finalidade de auxiliar
a análise cognitiva do conteúdo das representações sociais como estratégia
de categorização dos vértices a partir das relações mais densas estabelecidas
entre os mesmos, considerando apenas a rede original gerada.8 Para tanto, foi
utilizado um algoritmo de detecção de comunidades, neste caso o modularity
class(17) implementado no software Gephi, utilizado para o cálculo e visualização
das redes.
Conforme observado nos grupos do sentido, mães e pais buscam
entendimento sobre o quadro de seus filhos, a partir da percepção de que
algo em seu desenvolvimento não ocorre conforme esperado para a idade de
seu infante. Trata-se de uma busca árdua que suscita sentimentos variados,
como; apreensão pelo diagnóstico, busca de explicações e de culpados para
a problemática, como também a esperança de uma possível cura.
A confirmação da PC e o conhecimento do prognóstico como uma condição
crônica tende a suscitar nos pais o sentimento de negação, acarretando
na protelação do início do tratamento(18). Assim, esse grupo social tem sua
realidade transformada por novos desafios e práticas, que modificam sua
rotina, principalmente do (a) cuidador (a) principal dessa criança, geralmente
a mãe.
É a mãe quem geralmente sofre as maiores mudanças em sua rotina
em favor do tratamento da sua criança com PC. Ela tende a abandonar suas
atividades laborais e/ estudantis para dedicar-se aos cuidados domésticos, de
saúde e educacionais e seu filho(a) com PC(19,20). Aos pais cabe geralmente, o
cuidado financeiro adequando-se ao papel de provedores principais de sua
prole. Para tanto, esses pais tendem a buscar mais de um vínculo empregatício
ou ainda dobrar sua carga horária de trabalho e participam do cuidado de
seus filhos quando estão em seus domicílios nas horas de folgas e descanso.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 69


A PC exige uma reorganização nos projetos existenciais da família e fazem
com que mães e pais sejam imersos em um universo no qual, vive-se um
processo de busca de conhecimento para entender a nova realidade social
vivenciada a partir do diagnóstico de PC(18). Trata-se de mudanças difíceis de
ser enfrentadas e equacionadas no dia-a-dia dessas famílias que conforme os
grupos dos sentidos, tendem a gerar sentimentos, ora de força e segurança
que impulsionam o cuidar de seus filhos; ora de dor, desespero e tristeza frente
às dificuldades e transtornos enfrentados, como também frente a incertezas
quanto ao processo de reabilitação da sua criança com PC.
Ainda conforme os grupos de sentidos encontrados, mães e pais
necessitam e buscam como suporte social a família de origem, fonte principal
de apoio. Os membros extensivos da família: avôs, tios e tias; assumem um
papel importante na rotina e práticas de cuidado(3), como suporte afetivo e
emocional efetivando o cuidado não só a criança com PC como também a
seus genitores. Além disso, o grupo social: mães e pais de crianças com PC,
estrutura na fé o aporte necessário para manter-se esperançoso diante da
rotina exaustiva de cuidados a seus filhos. Assim as crenças e práticas religiosas
são importantes como apoio afetivo, emocional e espiritual dessas famílias.
Neste estudo das representações sociais de mães e pais sobre PC, o núcleo
central é constituído pelo vértice família, que contém valores tanto normativos
na constituição dos sujeitos quanto funcionais ao que se refere às práticas de
cuidado.
A primeira periferia da representação de mães e pais sobre paralisia
cerebral é constituída pelos vértices: conhecimento, fé e vida; esses vértices
desempenham um papel tanto estruturante como funcional do núcleo central
da representação, pois referem-se ao próprio processo de conhecimento da
PC, como aos grupos de apoio que os genitores recorrem para os cuidados e
manutenção da vida de seus filhos.
Os elementos de contraste: falar, casa, criança, problema, médico,
especial tanto reforçam o sentindo presente na primeira periferia referente
à necessidade de apoio e acolhimento quanto demostram os pensamentos
e preocupações advindas das necessidades do processo reabilitativo de seus
filhos com PC. Os demais vértices que aparecem na rede semântica constituem
a segunda periferia da representação de mães e pais sobre paralisia cerebral
e estruturam os grupos dos sentidos dessa representação, são mais instáveis
e podem sofrer mudanças ao longo do tempo devido os atos comunicativos
e movimentos sociais envolvidos.

70 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apreender as representações sociais de mães e pais sobre a PC demonstrou
o quanto esse objeto influencia no pensamento e atitudes das famílias, pois
a partir do conhecimento adquirido como as práticas de cuidado e itinerários
terapêuticos que determinam o modo de viver desse grupo. Ademais, foi
possível apreender que os aspectos referentes à fé e espiritualidade constituem
fonte de apoio para o enfrentamento das dificuldades advinda da PC.
Foi possível compreender também, pelos elementos de contraste, o
quanto essa população necessita de intervenções em saúde com a finalidade
de atender suas necessidades, socializar as informações sobre o cuidado,
trabalhar as expectativas, medos e ansiedades frente ao processo de cuidado
e de desenvolvimento de seus filhos.
Estudar as representações a partir do D-E e do AnCo-REDES permitiu o
aprofundamento sobre a estrutura das representações de mães e pais sobre
a PC, a partir da estratégia de categorização dos vértices que permite o estudo
de suas relações e colabora na interpretação dos sentidos representacionais.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 71


REFERÊNCIAS

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72 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 73


A UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA PROJETIVA DO DESENHO-ESTÓRIA
COM TEMA PARA A COLETA E PRODUÇÃO DE DADOS EM
PESQUISAS QUALITATIVAS E SUA INTERFACE COM A TEORIA
DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Samantha Souza da Costa Pereira1


Dejeane de Oliveira Silva2
Pablo Luiz Santos Couto3
Alba Benemérita Alves Vilela4
Carle Porcino5
Antônio Marcos Tosoli Gomes6
Beatriz da Costa Pereira4

INTRODUÇÃO
As técnicas projetivas retratam um enfoque mais ampliado da avaliação
da personalidade, entretanto, a sua aplicação não se restringe apenas à esta
perspectiva de investigação, mas estende-se ao estudo de outros contextos, que
incluem a apreensão dos indivíduos acerca das suas vivências e experiências
subjetivas, mostrando-se legítimas, também, para desvelar e trazer à tona
traços velados ou inconscientes da personalidade, bem como, aparatos
emocionais significativos (1-2-3).
A partir da utilização de instrumentos projetivos, o indivíduo é capaz de
elucidar características representadas pelo objeto projetado, realçando, desse
modo, sinais que apontam para a performance da sua estrutura psíquica e
para seu manejo subjetivo com realidades internas e externas (3). Neste sentido,
destaca-se que há um conjunto de ferramentas projetivas aplicadas para a
avaliação psicológica, dentre as quais, traz-se à evidência, neste texto, a técnica
projetiva Desenhos-Estórias com Tema, que representa uma expansão do
procedimento Desenhos-Estória (D-E), cujos primórdios de aplicabilidade
encontram-se localizados no final do século XX.
O psicólogo Walter Trinca, há quase meio século (1972), introduziu a técnica
projetiva Desenhos-Estórias (D-E) como instrumento de investigação clínica

1
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus XII, Guanambi, BA, Brasil.
2
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA, Brasil.
3
Centro Universitário FG (UniFG), Guanambi, BA, Brasil.
4
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié, BA, Brasil.
5
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil.
6
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 75


da personalidade. Já àquela época, o D-E, dispositivo auxiliar na condução de
exames psicológicos, apresentava-se como um método inovador, que alvitrava
transformações de paradigmas, tanto no estabelecimento de diagnóstico
psicológico isento dos parâmetros cientificistas vigentes, quanto na avaliação
por livre inspeção, que se orientava, até o advento do D-E, em ferramentas,
majoritariamente, psicométricas. Walter Trinca considera, portanto, que o
D-E proporciona emancipação do psicólogo das perspectivas deterministas e
objetivistas que circundam sua práxis(2).
Havia uma compreensão inicial, quando do surgimento do D-E, que a
aplicação desse método deveria restringir-se aos indivíduos de cinco a
quinze anos de idade. Entretanto, num momento posterior, percebeu-se que
a sua utilização poderia ser estendida para o grupo etário de três e quatro
anos, além dos adultos de todas as idades. Quanto aos dados obtidos por
meio das atividades projetivas, dada a sua flexibilidade, tem-se que sua
análise pode ocorrer tanto no campo qualitativo, quanto na perspectiva
quantitativa. A utilização desses dispositivos confere liberdade imaginativa
aos sujeitos, estimulando sua interpretação subjetiva da realidade, bem como
a exteriorização de sentimentos(2-1).
Deste modo, as técnicas projetivas apresentam significativa utilidade para
a apreensão de significados, cujo constructo se dá no campo subjetivo, em
indivíduos que participam de pesquisas qualitativas. Ao ser concebido, o D-E
foi idealizado para auxiliar no diagnóstico psicológico, conforme fora dito em
parágrafos anteriores. Contudo, através da sua aplicação e notório sucesso,
diversificadas áreas passaram a perceber nesta técnica um meio de captar
mensagens que repousam no inconsciente dos sujeitos. Tem-se, assim, um
amplo uso do Desenhos-Estória com Tema, para a realização de pesquisas
qualitativas, em áreas como: Enfermagem, Medicina, Odontologia, Serviço
Social, Fonoaudiologia e Psicopedagogia(2).
Partindo-se dessas considerações, constata-se que a técnica projetiva
dos Desenhos-Estórias com Tema pode ser aplicada diante de abordagens
multimétodos qualitativos, associando-se, por exemplo, ao Teste de Associação
Livre de Palavras (TALP), dispositivo que requer que o participante, após ouvir
uma palavra ou frase, transcreva ou fale, imediatamente, palavras ou frases
que surjam à sua mente (4), podendo, também, ser executada, conjuntamente
com diversas técnicas de entrevista: semiestruturada, em profundidade, dentre
outras.
Este trabalho faz uso da técnica projetiva Desenhos-Estória com Tema
amparando-se na Análise de Conteúdo, apresentada por(5-6), que propõe uma
perspectiva mais ampliada sobre a leitura das unidades de registro, tomando-as
como integrantes de uma conjuntura sócio-histórica, o que suscita uma análise

76 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


crítica e reflexiva acerca da representação dos dados empíricos, estando estes
associados às dimensões políticas, culturais e ideológicas.
A técnica Desenhos-Estória com Tema também tem sido amplamente
aplicada às pesquisas que lançam mão da Teoria das Representações Sociais
(TRS) como suporte teórico-metodológico pois, os Desenhos-Estória com Tema
fomentam uma interação entre indivíduos e as imagens representadas e fazem
emergir, além de emoções, fenômenos difusos e ocultos da esfera mental(2).
Nesta perspectiva, vê-se a viabilidade do seu emprego associado à TRS, uma
vez que esse modelo teórico-metodológico se orienta para variadas condições
e subjetividades, os quais se desvelam através de critérios mentais: teorias,
imagens, conceitos, categorias(7-8).
Deste modo, diante das reflexões propostas até aqui, levanta-se a seguinte
questão norteadora: qual a viabilidade da utilização da técnica projetiva
Desenhos-Estória com Tema para a coleta e produção de dados em pesquisas
qualitativas, e sua interface com a Teoria das Representações Sociais? Com
vistas a responder tal questionamento, levantou-se o seguinte objetivo:
demonstrar a viabilidade da utilização da técnica projetiva Desenhos-Estória
com Tema para a coleta e produção de dados em pesquisas qualitativas,
lançando luz à sua interface com a Teoria das Representações Sociais.

MÉTODO
Trata-se de um relato de experiência sobre a aplicabilidade da técnica
projetiva Desenhos-Estória com Tema, durante a realização da pesquisa
“Atenção à mulher em processo parturitivo em uma maternidade pública do
interior da Bahia: um estudo com Desenhos-Estória com Tema”, cujo objeto de
investigação foi a percepção de puérperas sobre a atenção recebida durante
o processo parturitivo no centro obstétrico de uma maternidade pública do
interior da Bahia, norteado pela questão: Como as puérperas percebem a
atenção recebida durante o processo parturitivo no centro obstétrico de
uma maternidade pública do interior da Bahia? Com vistas a responder a
esta pergunta, traçou-se como objetivo “analisar a percepção de puérperas
hospitalizadas no Alojamento Conjunto de parto normal, de uma maternidade
pública do interior da Bahia, sobre a atenção recebida durante o processo
parturitivo”.
Este estudo possui, portanto, caráter teórico-reflexivo, objetivando descrever
uma experiência de pesquisa de campo, baseada na utilização do Desenhos-
Estória com Tema, enquanto instrumento capaz de auxiliar na realização
de pesquisas qualitativas, em suas fases de coleta e produção de dados.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 77


O lócus da pesquisa
O lócus utilizado como campo empírico deste estudo foi uma maternidade
pública de médio porte, de caráter municipal, configurando-se numa fundação
hospitalar, especializada na atenção à mulher no ciclo gravídico-puerperal,
localizada numa cidade do interior da Bahia, escolhida por sua relevância no
cenário baiano, características geográficas, socioeconômicas e indicadores
de saúde.

Participantes da pesquisa
Tomando como base o objeto desse estudo, para a escolha das
participantes foram utilizados os seguintes critérios de inclusão nesta pesquisa:
Puérperas que estivessem internadas na enfermaria C (enfermaria destinada
às mulheres que passaram pelo parto vaginal e encontravam-se em conjunto
com seus recém-nascidos); Puérperas com idade superior a dezenove anos;
Puérperas de parto simples natural em vértice; Puérperas com feto nativivo.
Estabelecidos estes parâmetros previamente, foram escolhidas 19 puérperas
para participarem desta pesquisa. Esta escolha foi feita aleatoriamente, sendo
respeitada a voluntariedade para a participação.

Aspectos éticos da pesquisa


Após a autorização do hospital para a realização da pesquisa, o Comitê de
Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciências, campus de Salvador,
Bahia, aprovou a realização dessa pesquisa, em 14 de setembro de 2009, sob o
parecer 01.382-2009. Todo o processo de levantamento, registro e análise dos
dados foi subsidiado por princípios éticos que orientam a pesquisa com seres
humanos, seguindo a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)(9).
No lócus do estudo, após a aproximação da pesquisadora com as
participantes, foram explicados o objetivo e as razões desta pesquisa,
propondo que as mulheres participassem livremente, sem qualquer coação
ou constrangimento. Destacou-se neste contexto, o caráter voluntário e não
remunerado da pesquisa, bem como os prováveis riscos que poderiam advir
da participação na mesma.
Com o objetivo de resguardar os direitos das puérperas participantes
desta pesquisa e atentando para os princípios éticos previstos pelo CNS para
pesquisas com seres humanos, foi elaborado um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) que foi lido pela pesquisadora ou pelas próprias
puérperas, ficando esta escolha a critério das participantes. Desta maneira,

78 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


foram elucidadas as dúvidas que porventura surgiam e, posteriormente a
isso, o TCLE foi assinado pelas entrevistadas, antes de dar-se prosseguimento
à entrevista. A assinatura do TCLE tornou legal a obtenção, reprodução e
divulgação das informações coletadas, assegurando-se o sigilo da identidade
das puérperas entrevistadas.
Na perspectiva de acautelar o anonimato das puérperas participantes
deste estudo, lançou-se mão de códigos para identificá-las na transcrição e
divulgação de suas falas. De igual modo, salienta-se, aqui, a não remuneração
da pesquisadora pela realização deste estudo, bem como a omissão, no
relatório final da pesquisa, do nome da cidade e da maternidade em que ela
foi realizada.

Produção e análise dos dados


A coleta de dados aconteceu entre fevereiro e março de 2010, após a
devida aprovação pelo Comitê de Ética em Saúde. Intencionando alcançar
os objetivos propostos por este estudo, foram utilizados como técnica para
a coleta de dados, a entrevista semiestruturada, e, para auxiliá-la, a técnica
projetiva do Desenhos-Estória com Tema, sobre a qual se debateu nos
momentos preliminares deste trabalho.
Após manifestar a espontânea vontade de colaboração, as puérperas
leram ou ouviram a leitura do TCLE. Em seguida, aquelas que se voluntariaram
a participar do estudo, assinaram este documento, aceitando o que estava
acordado nos termos.
Os dados empíricos foram analisados à luz da Análise de Conteúdo,
que não se traduz como um método rígido, no sentido de uma receita com
etapas bem circunscritas, bastando transpor em uma ordem determinada
para ver surgirem as conclusões. Esta etapa representa um conjunto de vias
possíveis, nem sempre claramente balizadas, para a revelação - alguns diriam
reconstrução - do sentido de um conteúdo(10).
A fase da descrição (ou preparação do material), a inferência (ou dedução)
além da interpretação significam os pilares da Análise de Conteúdo. Sendo
assim, na pré-análise tem-se a leitura flutuante, que representa as leituras
iniciais de contato com os textos. Seguido a este passo, realizou-se uma leitura
mais acurada, pretendendo reconhecer as unidades de análise e a unidade
de significação(5).
Tendo sido concluída a fase de leitura das entrevistas, procedeu-se à
observação dos Desenhos-Estórias, associando-os à transcrição das estórias de
cada participante, buscando-se inferir significados às imagens, as quais foram

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 79


descritas através das falas. Após esta etapa, foram elaboradas as categorias
que deveriam ser discutidas. Dentre estas, serão aqui apresentadas: “O contato
com os trabalhadores da saúde” e “A medicalização: da ocitocina à restrição
ao leito”.

EXPERIÊNCIA COM A COLETA DE DADOS


Para coletar os dados foi utilizada a entrevista semiestruturada e a técnica
projetiva do Desenhos-Estória com Tema. Deste feito, posteriormente à
assinatura do TCLE, a puérpera participante recebeu uma folha em branco,
modelo A4, além de lápis coloridos. Em seguida, solicitou-se que ela realizasse
desenhos que representassem a sua vivência durante o processo parturitivo.
Neste momento, foi possível perceber que as puérperas demonstravam grande
interesse em tentar retratar, com veracidade, através do desenho feito, a
sua vivência. Elas recorriam, muitas vezes, a silenciosas pausas, na intenção
de recordar, fidedignamente, as experiências que marcaram seu processo
parturitivo.
Deste modo, as puérperas tinham a liberdade de desenhar, com canetas
coloridas, as recordações que lhes vinham à mente, acerca do seu processo
parturitivo. Tendo feito isto, a participante foi convidada a relatar o que as
imagens pretendiam significar. No momento seguinte, realizou-se a entrevista
semiestruturada, cujos passos descrevem-se a seguir.
Para as entrevistas com as puérperas utilizou-se um roteiro, cuja questão
norteadora versou sobre a seguinte abordagem: “conte para mim como foi o
seu parto”. Este momento foi gravado e depois suas respostas foram transcritas
integralmente.
Os dados coletados a partir deste estudo são apresentados e discutidos em
duas categorias. A análise temática ou categorial está baseada em intervenções
de desmembramento do texto em unidades, descobrindo os diferentes núcleos
de que constituem a comunicação, reagrupando-os, posteriormente, em classes
ou categorias (5).
Sob o aspecto analítico instrumental, o conceito de Bardin acerca da
Análise de Conteúdo foi fundamental para a interpretação dos elementos
apresentados nas entrevistas, levando-se em conta o fato de que a Análise
de Conteúdo compõe um conjunto de técnicas de análise das comunicações,
expressando uma análise de significados - a análise temática - e/ou uma análise
dos significantes – análise léxica, analítica dos procedimentos(5).
Deste modo, após uma leitura mais detalhada e cuidadosa do material
empírico resultante das entrevistas e da aplicação da técnica do Desenhos-

80 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Estória com Tema, emergiram, dentre outras, as duas categorias de análise,
descritas mais detalhadamente abaixo.
Na primeira categoria, foi feita uma abordagem sobre a forma como
ocorre o contato da puérpera com os trabalhadores da saúde, presentes
na maternidade, quando da vigência de seu parto. Na segunda categoria,
o processo de medicalização ao qual esta mulher é submetida é abordado,
discutindo-se, prioritariamente, o uso de ocitócitos e a restrição ao leito que
lhes é imposta.

CATEGORIAS RESULTANTES DA COLETA DE DADOS

Categoria 1: O contato com os trabalhadores da saúde


Esta categoria emergiu das falas recorrentes das participantes acerca da
maneira como se deu o contato entre elas e os trabalhadores/as da saúde,
que integravam a equipe multidisciplinar da maternidade pesquisada. Neste
sentido, a partir das colocações das participantes, quer por meio da entrevista,
quer através das ilustrações, são feitas, na Categoria 1, algumas ponderações,
as quais se destacam a seguir.
O processo parturitivo vulnerabiliza a mulher, expondo-a em situação de
fragilidade emocional, fato que intensifica a necessidade de companheirismo,
atenção e afetividade. Diante das imprevisibilidades que o processo parturitivo
pode apresentar, as mulheres que experienciam o parto natural, referem
sentimentos como insegurança, incerteza e medo(11). Portanto, a companhia
de alguém, durante o trabalho de parto, pode representar o apoio que a mulher
necessita para enfrentar esse momento transversalizado por intensas emoções.
Neste sentido, a simples presença de algum trabalhador da saúde na sala
de parto, mesmo que esta se dê apenas no período do expulsivo, já confere
a muitas destas mulheres a ideia de que foram bem atendidas. Ainda que o
contato com a equipe de saúde ocorra de forma remota e fria, estas mulheres
julgam importante a presença de algum dos seus componentes na sala de
parto, conforme se observa nas falas a seguir:

O tratamento da equipe foi ótimo porque logo quando eu


comecei a sentir as dores o médico foi logo vendo, pedindo
para fazer os procedimentos e tudo, aí foi um procedimento até
ótimo. Assim, quando a criança sai é ótimo, é a parte melhor
(E1, negra, primigesta).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 81


A equipe foi bem, me deu muita atenção, apesar de que na
hora da dor que foi muita mesmo, quando o menino ia sair, a
médica mandou segurar o menino, só que eu não aguentava
mais, aí eu “despejei” logo e falei que não ia segurar mais nada
(E2, negra, multigesta).

Contrapondo o olhar de frieza e indiferença que lhe é dirigido pelo


profissional de saúde presente na sala de parto, o qual foi referido em
entrevista e registrado na imagem abaixo, a entrevistada número 2 busca
traduzir, na ilustração que fez, sua própria fisionomia de satisfação por ter
alguém lhe assistindo no momento do expulsivo.

Figura 1 – Ilustração da entrevistada número 2. Negra. Multigesta.

A entrevistada 5 destaca que a relação de apoio dos trabalhadores da saúde,


a atenção que a equipe presta à parturiente, podem ser percebidas desde o
momento de sua recepção na maternidade até a fase em que se evidencia o
parto. Ainda para esta puérpera, esse contato acolhedor e humanizado pode
transformar o processo parturitivo num momento prazeroso, facilitando, desta
forma, o expulsivo.

Foi bem, graças a Deus, correu tudo bem, cheguei, entrei, correu
tudo “ok”, fui bem atendida pela médica e pelas enfermeiras,
foi tudo bem acompanhado. Quando você está num local que
é bem atendido, bem recebido, estão ali lhe apoiando, pra se
acontecer alguma coisa, lhe incentivando, é mais fácil, você
fica mais tranquila, vai começando a relaxar, aí é gostoso, e
quando você vê, já teve (E5, negra, multigesta).

Uma assistência integral, individualizada, pautada por ações que


considerem as singularidades que cada momento traz consigo, bem como as
subjetividades de cada mulher, deveria nortear o exercício dos profissionais
que lidam com o momento da parturição. Todavia, o que se observa na
prática obstétrica são atitudes padronizadas, cujos pilares fundamentam-se
em modelos medicalizadores, engessados, atravessados por intervenções

82 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


potencialmente desnecessárias ou desaconselhadas pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), por exemplo (12-13). Tais condutas são reproduzidas, de forma
tecnicista, na assistência às parturientes, sem, contudo, atentar-se para a
sua real efetividade ou riscos que podem advir da adoção dessas condutas.
O depoimento da entrevistada 6 (E6), evidenciado a seguir, corrobora este
princípio:

Eu gostei muito das enfermeiras, elas foram muito atenciosas,


alegres, fizeram o trabalho delas bem feito, não tenho nada
o que falar, apesar de que teve uma menina que deu muito
trabalho do meu lado e estava tirando todo mundo do sério,
aí a médica ficou meio estressada, meio nervosa. A médica
ficou nervosa, fechada, eu tentava conversar com ela, ela
não respondia nada, ainda disse que eu era “muito fresca”,
aí eu falei: “eu não sou fresca não, senhora, por que a outra
está dando trabalho aqui eu vou dar também”? (E6, parda,
primigesta).

A Entrevistada 6 (E6) busca retratar, através da sua ilustração, o


comportamento que julgou como insensível, por parte da profissional médica
que a atendera. A imagem representada por esta puérpera demonstra a
distância que os profissionais mantêm dela, estando a mesma restrita ao leito
e em uso de ocitocina endovenosa para acelerar o trabalho de parto, práticas
intervencionistas prejudiciais à mulher, e/ou ao binômio mãe-filho(14). Em
contrapartida, a parturiente traz no olhar retratado pelo desenho a expressão
de alegria pelo fato de estar sendo assistida, ainda que esta assistência se dê
sem a formação do vínculo, e apenas no momento do expulsivo.

Figura 2 – Ilustração da entrevistada número 6. Parda. Primigesta.

O medo, a dor e a solidão podem representar elementos-chave e


estruturantes do processo parturitivo, se este momento for conduzido num
contexto não acolhedor(15). Por vezes os trabalhadores da saúde têm suas

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 83


ações permeadas pela insensibilidade em relação aos dilemas que afligem
as mulheres em trabalho de parto, o que pode tornar o contato do binômio
parturiente/equipe de saúde numa relação desvencilhada da compaixão e da
solidariedade humana.
Esta realidade leva a mulher em trabalho de parto a superestimar ações
que deveriam ser rotineiras no cenário obstétrico, valorizando interações
efêmeras pelo simples fato destas terem sido conduzidas de forma educada,
como se vê a seguir:

Não foi muito bom não, porque eu tive muita dificuldade para
ter o parto normal, porque é meu primeiro filho, aí eu tive muita
dificuldade mesmo para ter, pois a dor foi muito grande, mas
valeu a pena. (...) O tratamento do médico que fez meu parto
foi ótimo porque ele teve muita paciência comigo (E7, parda,
primigesta).

Meu parto foi bom, eu achei bom porque eu estava achando


que ia ser difícil, mas na hora o médico reagiu muito bem (E4,
parda, primigesta).

A representação a seguir, feita pela entrevistada número 7 faz alusão à


sensação dolorosa à qual ela se referiu em sua fala. A cena ilustra a imagem do
médico próximo à parturiente, enquanto a equipe de enfermagem encontra-se
numa distância maior da mesma, centrando seu cuidado e atenção ao recém-
nascido (RN). À medida que os profissionais presentes na sala de parto voltam
a assistência exclusivamente ao RN, percebe-se que a mãe experimenta a
solidão e o desamparo. A postura horizontalizada é mais uma vez evidenciada
e destaca-se a expressão de dor da entrevistada (“Uai!”), contrastando com a
apatia da equipe de saúde diante da aflição exteriorizada por esta paciente.

Figura 3 – Ilustração da entrevistada número 7. Parda. Primigesta.


Figura 3 – Ilustração da entrevistada número 7. Parda. Primigesta.

(16)
O Ministério da Saúde ressalta que a “anestesia” da escuta e a indiferença

84 diante do outro em relação as suas Representações


necessidades promovem a “imersão
Sociais e Saúde I Teoria,do profissional
Pesquisas e Práticas
no isolamento”, entorpecem sua sensibilidade e enfraquecem os laços coletivos através
dos quais se constroem a própria humanidade. Nesta perspectiva, tem-se que a vida não
é o que se passa apenas em cada um dos sujeitos, mas, sobretudo, o que ocorre na
Figura 3 – Ilustração da entrevistada número 7. Parda. Primigesta.

(16)
O Ministério da Saúde ressalta que a “anestesia” da escuta e a indiferença
O Ministério da Saúde (16) ressalta que a “anestesia” da escuta e a indiferença
diante do outro em relação as suas necessidades promovem a “imersão do profissional
diante do outro em relação as suas necessidades promovem a “imersão do
no isolamento”,
profissional entorpecem sua entorpecem
no isolamento”, sensibilidade e enfraquecem os laços coletivos
sua sensibilidade através
e enfraquecem os
laços
dos coletivos atravésa própria
quais se constroem dos quais se constroem
humanidade. a própria
Nesta perspectiva, humanidade.
tem-se que a vida nãoNesta
perspectiva, tem-se
é o que se passa queem
apenas a vida
cada não
um dosé osujeitos,
que semas,
passa apenas
sobretudo, em ocorre
o que cada um na dos
sujeitos, mas, sobretudo, o
coletividade, entre os sujeitos. que ocorre na coletividade, entre os sujeitos.
Contrariando
Contrariando esta perspectiva
esta perspectiva humanizada
humanizada e geradora edegeradora de vínculos, a
vínculos, a entrevistada
entrevistada número 19 (E19) confirma através do seu desenho a solidão e
número 19 (E19) confirma através do seu desenho a solidão e a dor que enfrentou
a dor que enfrentou durante o processo parturitivo. Paralelamente a isso,
durante o processo parturitivo. Paralelamente a isso, ela representa e a indiferença de
ela representa e a indiferença de uma integrante da equipe de saúde que
uma integrante
transitava peloda equipe de saúde
corredor, próximoque transitava
à sala de pelo corredor,
parto, próximo
e não à sala de parto,
lhe prestou o apoio e
e não lhe prestou o apoio e a assistência idealizados
a assistência idealizados por ela para aquele momento: por ela para aquele momento:

Figura 4 – Ilustração da entrevistada número 19. Negra. Primigesta.

A partir dessas discussões, pode-se inferir, portanto, que o contato entre


parturiente e trabalhador/a da saúde e as relações estabelecidas entre esta
díade mostram-se aquém do preconizado pelas políticas de humanização
do parto e distanciam-se da idealização das mulheres acerca do tratamento
que gostariam de receber na maternidade quando da vigência do nascimento
de seu filho. É possível observar nos depoimentos das participantes que as
ações dos profissionais presentes no cenário do parto, na maioria das vezes,
fragmentam a atenção à mulher e subestimam o contexto na qual esta se
insere.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 85


Sabe-se que a postura da mulher frente à parturição pode reverberar
os valores da sua cultura e o seu posicionamento diante das expectativas
alheias. Sendo assim, os aspectos socioculturais que a circundam não devem
ser secundarizados, pois estas questões originam, por vezes, a significação
que cada parturiente dará a este evento.

Categoria 2: A medicalização: da ocitocina à restrição ao leito


Esta segunda categoria é resultante das colocações contumazes das
participantes sobre a medicalização à qual foram expostas em todo seu
processo parturitivo. Neste aspecto, tanto as entrevistas quanto os Desenhos-
Estória das puérperas apontam para a adoção de técnicas invasivas, dolorosas à
mulher e de eficácia duvidosa. Uma leitura mais pormenorizada da transcrição
das entrevistas, além de uma análise cuidadosa das ilustrações trouxeram à
tona a necessidade da discussão que se estabelece na Categoria 2.
O trabalho de parto, por vezes, caracteriza-se como um processo
demorado. Esta morosidade demanda atenção dos profissionais da saúde e
a ocupação, pelas parturientes, de leitos obstétricos, os quais já são escassos
em muitos serviços de saúde, a acerca dos quais já existem outras tantas
mulheres aguardando para preencher (17).
Com vistas a diminuir o tempo de permanência da parturiente no centro
obstétrico e desocupar o leito o quanto antes a fim de atender a demanda da
unidade, a ocitocina endovenosa é utilizada tradicionalmente para acelerar
o trabalho de parto. Esta ação reflete a adoção de uma atenção obstétrica
pautada no princípio de que o parto é evento patológico, devendo, portanto,
ser enfrentado como tal.
Embora se afirme que os métodos fisiológicos de indução promovem
contratilidade uterina similar à do parto natural, e, como, por exemplo, a
administração da ocitocina endovenosa(18), estudos recentes comprovam que
outros métodos se mostram tão eficientes quanto a utilização deste hormônio
sintético, como, por exemplo, a posição verticalizada, a deambulação, a
participação ativa da mulher no trabalho de parto, entre outros(19-21).
Os depoimentos abaixo explicitam a forma como se faz a utilização
indiscriminada e sem critérios bem definidos do ocitócito endovenoso:

Meu parto foi um parto rápido, com muitas dores, “uma em


cima da outra” e eu pari em mais ou menos meia hora. Me
colocaram no soro, dentro de meia hora eu tive meu filho,
também foi um soro e tanto! Eu nunca vi um soro daquele! O
soro botou mesmo pra esquentar e dar aquela dor e descer
logo! (...) Mas foi bom, apesar da dor do soro, eu nunca vi

86 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


trabalho de parto, entre outros(19-21).
Os depoimentos abaixo explicitam a forma como se faz a utilização
indiscriminada e sem critérios bem definidos do ocitócito endovenoso:

Meu parto foi um parto rápido, com muitas dores, “uma em cima da
outra” e eu pari em mais ou menos meia hora. Me colocaram no soro,
dentro de meia hora eu tive meu filho, também foi um soro e tanto! Eu
um soro daquele, mas foi bom que andou ligeiro, adiantou
nunca vi um soro daquele! O soro botou mesmo pra esquentar e dar
logo
aquela(E2,
dor enegra, multigesta).
descer logo! (...) Mas foi bom, apesar da dor do soro, eu
nunca vi um soro daquele, mas foi bom que andou ligeiro, adiantou
logo (E2, negra, multigesta).
Tomei soro porque eu estava sentindo uma dor muito
Tomei soro
fraca, porque
aí eles meeu deram
estava sentindo
sorouma dor amuito
para dorfraca, aí eles me Assim
aumentar.
deram soro para a dor aumentar. Assim que aumentou, rapidinho o
que aumentou, rapidinho o meu
meu bebê nasceu (E4, parda, primigesta).
bebê nasceu (E4, parda,
primigesta).
A entrevistada número 8 representou, através de seu desenho, a infusão
A entrevistada
endovenosa número
da ocitocina 8 representou,
e desenhou através
a componente de seu
da equipe desenho,
de saúde, a infusão
a quem a
endovenosa da ocitocina e desenhou a componente da equipe de saúde, a
puérpera não soube identificar com exatidão, apontando para o leito e solicitando que a
quem a puérpera não soube identificar com exatidão, apontando para o leito e
cliente voltasse
solicitando que a para este espaço.
cliente Mais
voltasse umaeste
para vez comprova-se
espaço. Mais a imposição
uma vezdacomprova-se
postura
horizontalizada
a imposição dadurante
posturaa parturição.
horizontalizada durante a parturição.

Figura 6 – Ilustração da entrevistada número 8. Negra. Multigesta.


Figura 6 – Ilustração da entrevistada número 8. Negra. Multigesta.

É importante destacar, neste contexto de medicalização do corpo da mulher, que


É importante destacar, neste contexto de medicalização do corpo
da embora
mulher, seja que
preconizado
embora peloseja
Ministério da Saúde que
preconizado a parturiente
pelo deve ter
Ministério daassegurado
Saúde que a
parturiente
o direito dedeve teraassegurado
escolher o direito
posição que melhor de escolher
lhe aprouver durantea oposição
trabalho que melhor
de parto (22)
, lhe
aprouver
não é estadurante o trabalho
a realidade de parto
que se observa
(22)
, não é
na maternidade esta a realidade
pesquisada e em outrasque sepelo
tantas observa
na Brasil.
maternidade pesquisada e em outras tantas pelo Brasil. Segundo
Segundo relatam as puérperas, a posição horizontalizada era-lhes imposta, em
relatam
as puérperas, a posição horizontalizada era-lhes imposta, em detrimento
de outras posturas quaisquer que, porventura, estas quisessem assumir no
expulsivo.
Deixar a mulher livre para escolher a posição de parir pode redundar
em vários aspectos incômodos à equipe de saúde, como, por exemplo, a
mobilização do cateter venoso, ocasionando a perda deste acesso. A ocorrência
de tal episódio pode atrasar o andamento das rotinas e demandar mais atenção
de uma equipe já reduzida, cujo quantitativo é insuficiente para atender as
exigências diversas que a rotina e a dinâmica do trabalho lhe impõem. As falas
e as ilustrações abaixo apoiam esta constatação:

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 87


detrimento de outras posturas quaisquer que, porventura, estas quisessem assumir no
expulsivo.
Deixar a mulher livre para escolher a posição de parir pode redundar em vários
aspectos incômodos à equipe de saúde, como, por exemplo, a mobilização do cateter
venoso, ocasionando a perda deste acesso. A ocorrência de tal episódio pode atrasar o
andamento das rotinas e demandar mais atenção de uma equipe já reduzida, cujo
quantitativo é insuficiente
Lá euparaestava
atender asdeitada
exigências e
diversas
quando que a ela
rotinanasceu
e a dinâmica
eu estava sozinha
do trabalho lhe impõem. As falas
(E13, e as ilustrações
parda, abaixo apoiam esta constatação:
multigesta).

(...) AíLáeles ainda


eu estava deitadame deixaram
e quando ela nasceu lá, demorou,
eu estava demorou, depois
sozinha (E13,
parda, multigesta).
me botaram na cama. (...) Senti como se eu estivesse em
uma(...) prisão (E15,
Aí eles ainda me parda,
deixaram lá,primigesta).
demorou, demorou, depois me
botaram na cama. (...) Senti como se eu estivesse em uma prisão (E15,
parda, primigesta).

Figura 7 – Ilustração da entrevistada número 15. Parda. Primigesta.


Figura 7 – Ilustração da entrevistada número 15. Parda. Primigesta.
A deambulação durante todo processo parturitivo, bem como a adoção de outras
medidas não farmacológicas para o alívio da dor e para a condução do trabalho de parto,
A deambulação durante todo processo parturitivo, bem como a adoção
apresentam benefícios para a mulher e seu concepto. Além disto, a verticalização do
de outras medidas não farmacológicas para o alívio da dor e para a condução
parto – posição que auxilia na coordenação das contrações uterinas, pois apagamento e
do trabalhodilatação
de parto, apresentam
cérvico-uterinas benefícios
são favorecidos para–asãomulher
por esta postura métodos e
queseu concepto.
Além disto, promovem
a verticalização do parto
bem-estar e conforto à mulher–(23)posição
. Entretanto,que auxilia
não obstante na coordenação
a essas
das contrações uterinas, pois apagamento e dilatação cérvico-uterinas são
favorecidos por esta postura – são métodos que promovem bem-estar e
conforto à mulher(23). Entretanto, não obstante a essas constatações, o que se
observa, na prática, é a padronização da postura horizontalizada para parir. O
fragmento da entrevista e o Desenho-Estória a seguir expressam essa realidade:

Eu não podia ficar sentada na cama ou ficar levantando


da cama quando a dor vinha. Ela [referindo-se a uma
componente da equipe de saúde] queria que eu ficasse só
deitada na cama, mas se quando eu levantava era melhor
pra mim, eu ia ficar deitada lá? Senão eu ia parir igual à
outra, sozinha. Aí eu ficava andando e ela não gostava
porque eu ficava andando, por isso ela ficava brigando
comigo (E18, parda, primigesta).

88 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


realidade:

Eu não podia ficar sentada na cama ou ficar levantando da cama


quando a dor vinha. Ela [referindo-se a uma componente da equipe de
saúde] queria que eu ficasse só deitada na cama, mas se quando eu
levantava era melhor pra mim, eu ia ficar deitada lá? Senão eu ia parir
igual à outra, sozinha. Aí eu ficava andando e ela não gostava porque
eu ficava andando, por isso ela ficava brigando comigo (E18, parda,
primigesta).

Figura 8 – Ilustração da entrevistada número 18. Parda. Primigesta.


Figura 8 – Ilustração da entrevistada número 18. Parda. Primigesta.
Observa-se, desta forma, que práticas intervencionistas são amplamente
empregadas desta
Observa-se, no cenário obstétrico
forma, sem, contudo,
que práticas haver uma clarificação
intervencionistas dos critérios
são amplamente
empregadas no cenário obstétrico sem, contudo, haver uma clarificação
estabelecidos para respaldar sua aplicação. O processo de medicalização ao qual a
dos critérios
mulher éestabelecidos para
submetida desrespeita seurespaldar sua
subjetivismo, aplicação.
ignora O processo de
sua multidimensionalidade e
medicalização ao qual a mulher é submetida desrespeita seu subjetivismo,
contribui para que ela assuma a condição de coadjuvante naquele que representa um dos
ignora sua multidimensionalidade e contribui para que ela assuma a condição
mais relevantes momentos de sua vida.
de coadjuvante naquele que representa um dos mais relevantes momentos
de sua vida.
INTERFACE ENTRE A TÉCNICA DESENHOS-ESTÓRIA COM TEMA E AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
INTERFACE ENTRE A TÉCNICA DESENHOS-ESTÓRIA COM TEMA E
Os Desenhos-Estória com Tema podem ser elementos facilitadores de
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
expressões subjetivas e discursivas, quando se toma por base a relação que os
Os Desenhos-Estória com Tema podem ser elementos facilitadores de
significados da imagem produzida pelo sujeito e sua história de vida têm entre si. Aos
expressões subjetivas e discursivas, quando se toma por base a relação que os
indivíduos
significados e suas imagens
da imagem produzida há uma
pelo espécie
sujeitode interação,
e sua favorecendo,
história assim,
de vida têm a
entre
(1)
compreensão acerca
si. Aos indivíduos e suasdasimagens
suas vivências
há umae sentimentos
espécie .de interação, favorecendo,
assim, a compreensão acerca das suas vivências e sentimentos(1).
Nesta perspectiva, estudos indicam que a apreensão das Representações
Sociais pode ser viabilizada e facilitada através da adoção de técnicas
projetivas, tais quais Desenhos-Estórias com Tema, haja vista o fato de que
as imagens produzidas através desse instrumento podem emergir realidades
emblemáticas, não comunicáveis de outra maneira(1).
Ao longo dos anos, os estudos ancorados na TRS possibilitam explicar a
dinâmica social de diversos fenômenos coletivos, uma vez que a representação
social do sujeito revela os significados construídos na interação entre grupos
de pertença (24). Logo, a teoria remete a uma categoria de conhecimento

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 89


individual que se desvela em comportamentos da vida cotidiana, oriundos de
pensamentos pertencentes a um sujeito e um grupo, de forma fluida, complexa
e entrecruzada(25), obtidas nas pesquisa e reveladas em seus resultado com
o suporte de técnicas/instrumentos que favorecem o aprofundamento
de subjetividades que se constroem no sistema de cognição das pessoas
e na memória social, com possibilidades de fugir daquilo que se mostra
politicamente correto.
Salienta-se que a origem das representações sociais reside nas
representações coletivas propostas por Émile Durkheim, quando apresentou
as etapas essenciais para o desenvolvimento de sua pesquisa social, ao definir o
coletivo como princípio do desenvolvimento intelectual do ser humano, o qual é
levado a enxergar os sentidos e significados reverberados nos comportamentos
coletivos(26).
Todavia, o conceito RS foi utilizado por Moscovici apenas na década de 60
do século XX, quando se voltou à Sociologia do conhecimento para expressar,
através da comunicação social, como são elaboradas as ideias, os sentidos,
significados e conceitos pelo ser humano e em suas relações individuais(27).
Nesse sentido, a TRS, formulada por Moscovici, se expressa na noção de que as
representações criam realidade e senso comum e não apenas designam uma
classe de conhecimentos e crenças coletivas, conforme Durkhein considerou
ao falar em representações coletivas(28).
Por esse motivo, ao construir a teoria, Moscovici interessou-se em
aprofundar na heterogeneidade do senso coletivo nas sociedades modernas
e em suas interações intragrupais e intraindividuais para construções mentais
das representações, cujas diferenças exprimem a distribuição desigual do
poder, ocasionando variação e diversidade nas RS(26). Diferente daquilo que
Durkhein defendia das “representações coletivas como formas estáveis de
compreensão coletiva”(26:15), para a preservação e conservação de todo social
contra qualquer desintegração e fragmentação e, que serve para integrar a
sociedade de uma maneira geral(26).
Assim, as representações se apresentam na relação direta com as
influências comunicativas, visto que são formadas e configuradas a todo
momento na cognição humana, oriundas do equilíbrio entre os processos de
formação das representações, da interação do produto com a comunicação e da
influência social que exerce na construção dos significados(26). Nesse processo
de compreensão das representações sociais de um grupo sobre determinado
objeto ou fenômeno as ideias, conceitos, conhecimento, significados e vivências
individuais são compartilhadas e difundidas por intermédio da comunicação e,
através dessas idas e vindas, das trocas entre o indivíduo e o grupo, que vão

90 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


se construindo as representações e comportamentos/práticas, permitindo o
entendimento das influências sociais(29).
A interface que se estrutura entre as representações sociais e os Desenhos-
Estória com Tema pode ser apreendida a partir da relação que se estabelece
entre o binômio figura e significado. Compreende-se, deste feito, que as
representações sociais abarcam, em si esse binômio, podendo-se presumir
que as figuras expressam sentidos, ao passo que os sentidos têm a faculdade
de serem representados por figuras(30).
No âmbito da TRS, as técnicas projetivas são utilizadas em pesquisas
cujo objeto é denso, complexo e diverso, para extrair informações por vezes
traumáticas, sensíveis ou que são tabus na sociedade, que se armazenam no
inconsciente humano e, por meio de outros signos como as palavras associadas
aos estímulos indutores (expressões, frases ou imagens) e desenhos/grafismos
aprender as representações. Neste sentido, nas pesquisas qualitativas,
pautadas ou não na TRS, as técnicas projetivas fornecem condições ao/a
pesquisador/a de apreender a percepção da realidade de um grupo, por
meio de grafismos e texto escrito elaborados pelos pesquisadores, no intuito
de trazer à tona aquilo que realmente compõe os sistemas imagéticos e de
memória das pessoas sobre um objeto(31).
As técnicas projetivas permitem, de uma maneira geral, emergir as relações
do ser humano com a sociedade em suas variadas dimensões, sobretudo nas
vivências e experiências construídas com o universo que o rodeia(31). Através
delas as pessoas revelam como queriam ser, o que gostariam de ser, o que não
querem ser ou como queriam que os outros fossem ou agissem em relação
a elas. Destarte, tais técnicas, no contexto deste estudo, o Desenhos-Estória
com Tema, são recomendadas em investigações com pessoas ou grupos que
enfrentam problemas de ordens psicológicas ou fisiológicas, em uma pesquisa
de abordagem com métodos mistos que permitirão serem apreendidas as
RS(32-33).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude do que foi ponderado, percebe-se que as técnicas projetivas são
amplamente utilizadas nos processos de avaliação da personalidade, podendo
ter seu uso estendido, também, para outras possibilidades, e, neste sentido,
apresenta grande serventia para a percepção dos indivíduos acerca das suas
vivências e experiências. Estas técnicas permitem, aos sujeitos, projetar objetos
que se tornam importantes para caracterizar seu aparelho psíquico e para a
forma como ele lida com o seu entorno, bem como com as questões internas
que o perpassam.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 91


Ressalta-se, portanto, que existe uma variedade de dispositivos projetivos,
destacando-se, aqui a técnica projetiva Desenhos-Estória com Tema, cuja
viabilidade de utilização, em pesquisas qualitativas, fez-se notória através desta
pesquisa. Esta ferramenta é amplamente utilizada em pesquisas qualitativas
de diversas áreas, entendendo-se, assim que esta estratégia pode ser aplicada
em abordagens multimétodos qualitativos, além de apresentar-se exequível
quando associada ao Teste de Associação das Livre de Palavras (TALP), bem
como a várias modalidades de entrevista, a exemplo: semiestruturada, em
profundidade, dentre outras.
As discussões aqui elaboradas evidenciaram, também, que muitas
pesquisas que utilizam, em sua base teórico-metodológica, a Teoria das
Representações Sociais (TRS) – cujo pressuposto ancora-se nas representações
coletivas propostas por Émile Durkheim –, lançam mão da técnica projetiva
Desenhos-Estória com Tema, a fim de estimular uma relação entre os sujeitos
e as imagens, fazendo-se emergir, desse modo, emoções e fenômenos velados
do campo mental.
Neste estudo, os dados coletados através da entrevista semiestruturada
e da técnica projetiva Desenhos-Estória com Tema – momento em que a
puérpera pôde representar, através de um desenho, como havia sido o seu
parto – fizeram emergir duas categorias de análise, a saber: “O contato com
os trabalhadores da saúde”, momento em que se abordou, junto à puérpera,
a maneira como se estabeleceu o seu contato com os trabalhadores da saúde
presentes em seu processo parturitivo, e; “A medicalização: da ocitocina à
restrição ao leito”, etapa em que se evidenciou o controle e a medicalização do
corpo da mulher em trabalho de parto, com destaque para o uso indiscriminado
de ocitócitos, a determinação da posição para parir e a restrição ao leito, que
lhes é imposta.
Tem-se, destarte, a compreensão de que os Desenhos-Estória com
Tema possuem o potencial de viabilizar a expressão de elementos subjetivos
e discursivos, considerando-se a interação que a imagem elaborada pelo
indivíduo e seu contexto de vida mantém em comum. Sendo assim, a apreensão
das representações sociais pode tornar-se um processo facilitado pelo uso
de técnicas projetivas. A interface entre esses dois instrumentos é, portanto,
passível de ser observada, ao olhar-se a relação existente entre a imagem e
seu significado, levando-se em conta o fato de que imagens podem representar
sentidos, ao mesmo tempo em que os sentidos podem ser simbolizados pelas
imagens.

92 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 93


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94 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE
ACADÊMICAS/OS DA ÁREA DE SAÚDE
DISCENTES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM:
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE PESSOAS EM SITUAÇÃO
DE RUA

Dejeane de Oliveira Silva1


Cauan Barbosa Nery1
Alba Lúcia Santos Pinheiro1
Gabrielli de Jesus Santos1
Danielle de Oliveira Rocha Pereira1
Priscilla dos Santos Nascimento1
Marília Emanuela Ferreira de Jesus2
Jeane Freitas de Oliveira2

INTRODUÇÃO
O crescente número de pessoas em situação de rua no Brasil e em
países desenvolvidos, tem revelado a exclusão social em todo o mundo o
que demonstra a dificuldade por parte do Estado em responder frente as
desigualdades sociais, urbanização e migrações contínuas(1-2). A existência
de pessoas que vivenciam a situação de rua é um fenômeno social que vem
assumindo novas expressões nas sociedades modernas, principalmente nos
grandes centros urbanos. Esse grupo social tem como habitação os logradouros,
albergues públicos ou filantrópicos e, ainda, vivencia situações de trabalho,
condições de vida e inserções sociais precárias(3).
A população em situação de rua é um grupo populacional heterogêneo,
composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a
condição de pobreza absoluta e a falta de pertencimento à sociedade formal(4,5).
São homens, mulheres, jovens, crianças, idosos, famílias que têm em sua
trajetória o enfrentamento de algum infortúnio em suas vidas, seja a perda do
emprego, o rompimento de laços familiares e afetivos, o envolvimento direto
ou indireto com a problemática das drogas, que aos poucos foram perdendo
a perspectiva de projeto de vida, referências familiares, passando a utilizar o
espaço da rua como (sobre)vivência e moradia(5-6).
A população que vivencia situação de rua engloba as pessoas excluídas
das estruturas sociais, que possuem menos que o necessário para atender as
necessidades básicas do ser humano. Esse segmento populacional tem a sua

1
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Ilhéus, BA, Brasil.
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 97


sobrevivência frequentemente comprometida, decorrente da indigência ou
pobreza absoluta(7).
As vivências de pessoas em situação de rua (PSR) são permeadas por
ruptura dos mais diversos vínculos, sendo cotidianamente subjugadas,
estigmatizadas, injustiçadas, abandonadas pela sociedade e conduzidas ao
isolamento social, tendo em vista o enfrentamento diário do preconceito,
discriminação e violências(4,8,9).
Segundo estimativas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) existiam cerca de 101.854 pessoas vivendo em situação de rua
no Brasil(10). Para essas pessoas, viver nas ruas tem sido sinônimo de (con)viver
com a violência em suas variadas formas, a saber: violência física, psicológica,
sexual, patrimonial, impostas pela exclusão social, intervenções violentas por
parte de agentes públicos e segurança privada, remoções ou recolhimento de
pertences, negligência no atendimento e ausência de políticas públicas(11,5,12)
Nesse sentido, as políticas sociais adotadas pelos diferentes governos
privilegiaram a implementação de ações pontuais que tende a enfrentar os
problemas sociais como fatos isolados. Noutras palavras, tais políticas não
trouxeram resultados efetivos na melhoria da condição de vida das PSR6.
As especificidades da vida em situação de rua potencializam as
vulnerabilidades que se sobrepõem resultante das condições de agravos sociais
e de saúde que se constituem em desafios para a equipe multiprofissional e
para os diversos setores e serviços da sociedade(13).
Nesse sentido, o cuidado dispensado nem sempre é condizente com as
reais necessidades, aspecto esse que contribui para a vulneração e frustração
para a equipe em função da ausência de recursos para a promoção do cuidado
ampliado. De modo geral, o cuidado pode ser entendido como a interação
entre duas ou mais pessoas, com o objetivo de aliviar o sofrimento e alcançar
o bem-estar, mediado por conhecimentos voltados para essa finalidade,
considerando também as estratégias de autocuidado da própria pessoa(14). Por
vezes, tendo em vista que essa temática é pouco discutida na formação superior
em saúde, é possível que as condutas que deveriam privilegia a autonomia
do sujeito e o cuidado integral, acabam sendo reduzidas a procedimentos,
prescrições, normatizações, em detrimento de um plano que valorize a escuta,
as singularidades e os projetos de vida da pessoa(15).
A perspectiva do cuidado como uma construção cotidiana em interações
que envolvem relações de poder tem a pessoa como foco principal(16). Essa
perspectiva amplia a compreensão das diversas maneiras de cuidar e dos
diversos fatores que podem influenciar as práticas sociais. Por conseguinte,
pode contribuir com a minimização das barreiras existentes entre aqueles que
cuidam e aqueles que são cuidados. Dessa forma, o cuidado tem vinculação

98 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


com questões sociais e culturais, podendo diferenciar-se de pessoa para
pessoa em distintos contextos. Essas questões perpassam por conhecimentos,
símbolos, valores que são (com)partilhados nas relações cotidianas. Nesse
aspecto, estudar as representações sociais de Discentes de Enfermagem sobre
PSR é importante uma vez que, a partir dessas representações, pode-se lançar
mão de práticas que ressignifiquem as ações desenvolvidas no cotidiano. Assim,
o conhecimento elaborado sobre as PSR pode legitimar preconceitos, barreiras
no acesso aos serviços e consequente (des)cuidado por parte da equipe
Moscovici define a Representação Social como sendo uma forma específica
de conhecimento, socialmente construído, cujo saber está relacionado à
inscrição social do sujeito em uma realidade representada pela pessoa e
pelo grupo(17). Para Abric(18) a representação social se refere a um conjunto
organizado de opiniões, atitudes, crenças e informações que se referem a um
dado objeto.
Diante disso, essa pesquisa teve como objetivo analisar a estrutura das
representações sociais de discentes de graduação em Enfermagem sobre
pessoas em situação de rua.

METODOLOGIA
Pesquisa exploratória, descritiva de cunho qualitativo que utilizou os
princípios da Teoria das Representações Sociais, em sua abordagem estrutural.
O estudo foi realizado em sua fase inicial nos espaços da Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC), tendo como participantes 67 Discentes do curso de
Enfermagem. Em virtude da pandemia de covid-19, com a resolução CONSU
N.º 03/2020 que suspendeu as atividades presenciais, houve necessidade de
mudança no processo de coleta de dados. Foi incluída a modalidade de coleta
virtual. Para tanto, foi submetida uma emenda ao Comitê de Ética em Pesquisa
da UESC solicitando autorização para a coleta virtual, quando foi obtido o
parecer aprovado de Nº 4.082.938. Após a aprovação, a coleta foi retomada
na modalidade virtual.
Os meios para contato com as/os participantes, foram: ligação telefônica;
WhatsApp; Telegram e e-mail disponibilizados pelos Colegiados dos respectivos
cursos, vinculados ao Departamento de Ciências da Saúde.
Como critérios de inclusão foram estabelecidos: estar regularmente
matriculados, com idade igual ou superior a 18 anos. Como critérios de
exclusão: discentes que estivessem de licença por qualquer motivo no
momento da coleta de dados.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 99


Na perspectiva de acessar as representações sociais de discentes,
os dados foram produzidos por meio da evocação livre de palavras que se
configura como técnica projetiva que permitiu o acesso às projeções mentais.
Essa técnica faculta à pessoa trazer à lembrança conteúdos latentes que estão
fixos em sua memória e que não são explícitos nas falas, como no caso da
realização apenas da entrevista(19). O instrumento utilizado foi o teste de
Associação Livre de Palavras (TALP) o que permite melhor apreensão do objeto
de estudo. Trata-se de instrumento inicialmente desenvolvido e utilizado em
1905, por Jung, psiquiatra suíço, em sua prática clínica em psicologia. Foi
adaptado no campo da Psicologia Social, por Di Giacomo, em 1981 e, desde
então, vem sendo largamente utilizado em pesquisas que versam sobre as
Representações Sociais(20).
O TALP foi composto por duas partes: uma com os dados de caracterização
sociodemográfica e a outra com o termo indutor. A primeira parte do
instrumento permitiu, de forma resumida, caracterizar o grupo investigado
e seu contexto social, buscando atender a um dos princípios da TRS, de que
a Representação Social é sempre de alguém e/ou de um grupo sobre alguma
coisa(20). A segunda parte comportou o termo indutor “pessoas em situação
de rua”. Desse modo, foi solicitado às/aos participantes que enunciassem as
cinco primeiras palavras e/ou expressões que lhes viessem imediatamente à
mente quando ouvissem e/ou leram o termo indutor. Em seguida foi solicitado
que enumerassem as palavras evocadas de 1 a 5, por ordem de importância,
e posteriormente, justificassem aquela palavra classificada como a mais
importante(20).
Após a coleta dos dados, os termos foram organizados em uma planilha
no Microsoft Word. Em seguida foi elaborado o dicionário de palavras, sendo
as mesmas agrupadas considerando a relação semântica. Em seguida, foi
constituído o corpus e processado pelo softwares Ensemble de programmes
Permettant I’ analyse des Evocations - EVOC (versão 2005), compondo o Quadro
de quatro casas. Posteriormente, procedeu-se a análise e discussão dos
resultados.
Todas as fases da pesquisa foram pautadas nas normas da Resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde(21). A pesquisa buscou atender os
princípios éticos, quais sejam: autonomia, não maleficência, beneficência, justiça
e equidade, dentre outros. Todas/os as/os participantes foram informadas/os
sobre a natureza voluntária e confidencial da sua participação. Foi solicitada a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo esse
assinado em duas vias, ficando uma com as/os pesquisadoras/es e outra com
a/o participante. As/os participantes que participaram da pesquisa por meio do

100 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


ambiente virtual, a assinatura do TCLE foi considerada a partir da concordância
em participar do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Participaram do estudo 67 Discentes do curso de Enfermagem. Quanto
ao gênero, 78,8% se autodeclararam mulheres cisgêneras, 19,4% homens
cisgêneros e 1,8% não responderam essa informação. No que tange a situação
conjugal, 86,6% eram solteiras/os; 11,4% casadas/os; 2,0% estavam em união
estável.
Quanto ao local de moradia, a maior parte das/os participantes, 67,4%,
residem na cidade de Ilhéus; 23,3% na cidade de Itabuna; 9,3% moram em
outras cidades do interior baiano. Quando questionadas/os sobre raça ou cor
autodeclarada, 58,3% se consideraram pardas; 24,3% brancas; 16,2% negras
ou pretas e 1,2% não autodeclaram nenhuma raça.
Acerca da orientação sexual, 86,5% se autodeclararam heterossexuais;
7,1% bissexuais; 3,8% gays; 1,4% lésbicas e 1,2% não declararam nenhuma
orientação sexual. Com relação a religião autodeclarada: 40,3% católicas; 24,1%
cristãs; 8,8% espíritas; 2,5% são agnósticas e 24,3% afirmaram não possuir
nenhuma religião.
Tendo em vista o objeto de estudo, 75,4% das/os participantes relataram
que já tiveram algum contato com PSR; desses apenas 24,6% admitiram terem
atendido PSR. No tocante às atividades curriculares das/os discentes - projetos
sociais, atividades acadêmicas, doações e prestação de socorro.
Para o termo indutor “pessoas em situação de rua” foram evocadas 325
palavras, das quais 22 eram diferentes. Para o processamento dos dados, foi
definida a frequência média de 20 e a mínima de 10, excluindo-se palavras que
tivessem frequência inferior a esse valor. A média das ordens médias (OME)
foi de 2,8. Com base nesses parâmetros foi construído o Quadro de Quatro
Casas (Quadro 1).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 101


Quadro 1: Estrutura da representação social de Discentes de Enfermagem frente ao
termo indutor “pessoas em situação de rua” (n=67). Ilhéus, Bahia, Brasil, 2020

ELEMENTOS DO NÚCLEO CENTRAL ELEMENTOS DA 1ª PERIFERIA

Frequência > = 20 / Rang< 2,8 Frequência > =20 / Rang> = 2,8

FREQ RANG FREQ RANG

Fome 34 2,676 Desigualdade 40 3,250


Vulnerabilidade 27 2,185 Tristeza 46 2,978
Pobreza 27 2,741 Abandono 32 2,969
Necessitados 20 2,650 Doença 23 3,652
Exclusão 22 2,818
Correm-riscos 20 3,300
Frio 20 3,300
ELEMENTOS DA ZONA DE CONTRASTE ELEMENTOS DA 2ª PERIFERIA

Frequência < 20 / Rang< 2,8 Frequência < 20 / Rang> = 2,8

FREQ RANG FREQ RANG

Solidão 16 2,750 Cuidado 17 3,118


Compaixão 15 2,800 Precisa de ajuda 16 3,000
Morador de rua 12 2,583 Sujeira 13 3,154
Preconceito 11 2,818
Drogas 11 3,636
Vida 11 3,727
Iniquidade 10 3,400

FONTE: Dados da Pesquisa, 2020

Segundo alguns pesquisadores(22,23,24), os elementos presentes no quadrante


superior esquerdo do Quadro 1 consistem em evocações provavelmente
centrais para a representação social sobre a pessoa em situação de rua em
função das altas frequências e por terem sido mais prontamente evocadas.
Conforme pode ser observado no quadro de quatro casas, as evocações
com possíveis características centrais foram fome (F=34), vulnerabilidade (F=27),
pobreza (F=27) e necessitados (F=20). Para os participantes, quem vive em
situação de rua enfrenta situações de extrema pobreza, vivenciam a falta de
acesso ao alimento, evidenciado pelo elemento fome (F=34) e por isso estão
expostas a diversas situações de vulnerabilidades, como o frio, a solidão e a
exclusão. Pesquisa elucida que a situação de rua impõe a quem ali (sobre)vive,
situações como a fome, adoecimentos, tristeza, dor e desnutrição, resultantes
da falta de acesso aos alimentos adequados para garantir as necessidades
diárias(25). Essa lógica contrapõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos
que declara a alimentação e nutrição como direitos humanos fundamentais o
que requer ações que efetivem esse direito(26).

102 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


No quadrante superior direito, primeira periferia são encontrados os
elementos importantes da representação, devido as frequências elevadas,
mas no entanto, foram evocados mais tardiamente(27). Foram identificados os
termos desigualdade (F=40) e exclusão (F=20) que se associam a elementos do
núcleo central, como vulnerabilidade, fome e pobreza, evidenciando para os
participantes que as PSR ainda são vistas como indivíduos marginalizados, o
que os torna, desiguais, excluídos e renegados a um não-lugar. Tais condições
derivam das representações hegemônicas, do sistema econômico vigente no
país, do capitalismo, considerando que esse sistema intensifica a desigualdade
social e a precarização da vida.
A vista disso, a desigualdade social é historicamente um fenômeno
típico das sociedades de classes. Contudo, com o advento do capitalismo,
esse fenômeno alcançou configurações distintas e se mantém por meio da
concentração do capital, reforçando a exclusão e as desigualdades sociais(28).
Outros elementos identificados na primeira periferia foram frio (F=20), correm-
riscos (F=20), desigualdade (F=40), doença (F=23) e tristeza (F=46), aspectos que
remetem a vulneração compreendendo esta como sendo uma condição
concreta para que determinados grupos sejam vulnerados.
No quadrante inferior esquerdo, também conhecido como zona de
contraste, encontram-se as evocações solidão (F=16), compaixão (F=15) e
morador de rua (F=12) (Quadro 1). Os componentes deste quadrante foram
enunciados por menor número de participantes, mas quando evocados
ocuparam as primeiras posições(22). Nesse quadrante não foi revelado um
subgrupo, visto que os termos aqui presentes têm relação com os demais
elementos que compõem o Quadro 1. Diante da evocação compaixão, verificou-
se a capacidade dos participantes em compreender a condição das PSR e
se mostrarem sensíveis aos enfrentamentos e as necessidades que fazem
parte do cotidiano de quem (sobre)vive nessa condição. A compaixão pode se
caracterizar como a vontade ou o desejo de amenizar ou sanar a situação vivida
pelo outro enquanto que o elemento mendigo remete aos aspectos imagético
pelos participantes em relação ao modo de vida das PSR, ou seja, pessoas que
vivem de caridade e possuem uma carência material. No entanto, estudos
apontam(5-13) que a vivência nas ruas não se dá tão somente pela caridade, mas
pelo trabalho informal desenvolvido por homens e mulheres nessa condição
O quadrante inferior direito, segunda periferia, é composto por elementos
menos frequentes e mais tardiamente evocados(27). Nesse quadrante estão
alocados os elementos cuidado (F=17), precisa de ajuda (F=16), sujeira (F=13),
drogas (F=11), preconceito (F=11), vida (F=11) e iniquidade (F=10). Para os
participantes as PSR são excluídas das políticas públicas existentes, dos
centros urbanos, de acesso a bens de consumo e serviços. Cabe destaque o

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 103


elemento sujeira, que também pode ser um recurso utilizado como proteção,
especialmente para mulheres, tendo em vista o risco de violência sexual e
estupro(5). Apesar dos participantes evocarem o termo cuidado, que deve fazer
parte do cotidiano do trabalho dos profissionais de saúde, o que se observa na
prática é a desassistência que faz parte do cotidiano dessas pessoas. Infere-
se, entretanto que a discussão incipiente sobre as PSR e suas especificidades,
no âmbito da formação superior e técnica em saúde, pode comprometer a
qualidade da assistência direcionada a esse segmento populacional.
Nesse sentido, as dificuldades de acesso aos serviços de saúde na Atenção
Básica expõem PSR a adoecimentos e comprometimento da saúde, muitas
vezes levando-os a recorrerem às unidade de emergência como porta de
entrada em função do agravamento da condição de doença. A esse respeito
Pesquisa Nacional sobre PSR(29,30) revelou que 43,8% dos participantes relataram
procurar primeiramente o hospital/emergência como forma de alcançar o
atendimento desejado. Ademais, outros estudos revelaram que as PSR têm
dificuldades relacionadas ao acesso aos serviços, em virtude de preconceitos,
discriminação, falta de documentação, dentre outros(11,5,12).
Por esse ângulo, conhecer as representações sociais de discentes de
Enfermagem sobre PSR se constitui em um elemento importante em função
de contribuir com o desenvolvimento de habilidades e competências, por meio
de reflexões no que se refere ao acolhimento a esse segmento, considerando
suas especificidades de modo a minimizar as iniquidades em saúde.
Na perspectiva de confirmar aspectos gerais relacionados às
representações que emergiram das/os participantes, foi realizada a análise
de similitude (Figura 1) a qual permite revelar as coocorrências, com base
na análise frequencial, resultado da conexão entre os termos(31,32). A Figura 1
mostra a representação gráfica da árvore máxima de similitude, produzida
com os dados concernentes ao estímulo indutor “pessoas em situação de rua”,
para os Discentes de Enfermagem que participaram do estudo.

104 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Figura 1 - Árvore máxima de similitude das evocações de Discentes de Enfermagem
frente ao termo indutor “pessoas em situação de rua” (n=67). Ilhéus, Bahia, Brasil, 2020.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020

A árvore de similitude é estruturada por dois conjuntos de temas que


geram sentido e organizam os demais elementos da representação das pessoas
em situação de rua: “pobreza” e “vulnerabilidade”. O termo “pobreza” apresenta
maior centralidade e conexão outros termos, sendo organizador da RS. Há
forte conexão com o termo “fome”, reafirmando-os como componentes do
provável NC, com o elemento “tristeza”, “desigualdade” e “doença”, que compõe
a primeira periferia, ambos com frequência significativa e relevante para o
grupo social. O termo tem ainda uma forte conexão com o termo “solidão”
presente na zona de contraste.
A expressão “pobreza” teve o maior número de conexões, em um total
de 12, reforçando a sua importância na organização interna da representação
para o grupo social investigado. Essas características sinalizam a notável ligação
entre objeto e sua representação(23,22,33). O termo “vulnerabilidade”, presente
no Núcleo Central do Quadro 1, tem conexão com 5 elementos, evidenciando
que as pessoas em situação de rua são representadas como um grupo em
constante situação de vulnerabilidades, que vivencia preconceito, exclusão,
correm riscos, estão expostas ao frio e muitas vezes passam a fazer uso de
drogas como forma de cuidado.
Nesse sentido, a análise da árvore máxima de similitude, no contexto
geral da estrutura das RS, entende-se, mediante as conexões constituídas, que
as pessoas em situação de rua são representadas de forma ainda bastante
negativa. Ancora-se na situação de extrema pobreza e vivência da fome,
precisando dessa forma, de ajuda, em virtude das desigualdades sociais.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 105


São pessoas que enfrentam doenças, solidão, tristeza, mas que encontram
compaixão por parte de algumas pessoas. No âmbito da higiene pessoal,
são pessoas sujas, que estão vivas e enfrentam as iniquidades que lhes são
impostas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo possibilitou conhecer elementos da estrutura das representações
sociais de um grupo de acadêmicos acerca de pessoa em situação de rua.
Percebeu-se a possível centralidade de elementos específicos como fome,
pobreza, vulnerabilidade e necessitados evocações características e presente
no cotidiano das pessoas que vivenciam essa realidade. Uma das evocações
de maior destaque foi o termo “fome”, no núcleo central, no qual revela a
precariedade de acesso a alimentos essenciais para a manutenção da vida.
Nessa conjuntura, esta pesquisa demonstrou que é importante a discussão
dessa temática na formação de discentes, com vistas a desconstruir as
representações hegemônicas que potencializam as situações de preconceito,
violências e discriminação que culminam em exclusão. Desse modo, reafirma-
se a importância de uma reflexão mais abrangente, que ultrapasse a ideia
do assistencialismo e permita a implementação de políticas mais amplas e
efetivas, que visem a promoção do cuidado com qualidade, equânime, integral
e holístico.

106 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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108 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


CUIDADO À PESSOA VIVENDO COM HIV/AIDS:
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ACADÊMICOS DE
ENFERMAGEM

Gizélia dos Santos Souza1


Cleuma Sueli Santos Suto1
Letícia da Silva Cabral2
Laura Emmanuela Lima Costa3
Tamille Marins Santos Cerqueira4
Sinara de Lima Souza4
Greice Kely Oliveira de Souza4
Marília Emanuela Ferreira de Jesus2

INTRODUÇÃO
O vírus Human Immunodeficiency Virus (HIV) tem como principal alvo o
sistema imunológico, que é responsável pela defesa do organismo contra
doenças. Assim, com a incapacidade do organismo de se defender, o
indivíduo fica susceptível a infecções oportunistas, e surge a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, chamada de Aids ou Sida, é denominada de
síndrome, porque apresenta um conjunto de sinais e sintomas que não dizem
respeito apenas a uma doença(1).
Por ser uma doença que traz tantos comprometimentos físicos e psíquicos,
a atenção à saúde aos indivíduos que vivem com o HIV não deve ser restrita
apenas ao cuidado da patologia. O cuidado prestado deve ser acolhedor
visando estabelecer relações entre profissional e paciente a fim de garantir
melhoria do estado de saúde e da qualidade de vida dessa população(2).
Abordar a temática sobre HIV/Aids em Instituições de Ensino Superior (IES),
especificamente, na graduação em enfermagem, oportuniza aos acadêmicos
serem propulsores na construção de conhecimento, contribuindo na formação
de futuros profissionais preparados para orientar a população sobre as
formas de prevenção e enfrentamento dos desafios trazidos pelo HIV, além
de constituir profissionais competentes a atender e cuidar da população com
sensibilidade e ética(3).

1
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) - Campus VII. Senhor do Bonfim, BA, Brasil.
2
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.
3
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) - Campus IV. Jacobina, BA, Brasil.
4
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Feira de Santana, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 109


Deste modo, a preparação destes profissionais deve voltar-se a obtenção
de senso crítico sobre o cuidado a ser prestado, buscando garantir um exercício
profissional com equidade e respeito. É importante destacar, que cuidar é
a essência da enfermagem e “em enfermagem o cuidado é o que se faz, ou
seja, consiste no que predominam as ações realizadas com e para o sujeito
de cuidado” (4,41)
A Teoria das Representações Sociais (TRS), por se tratar de uma teoria
focada na compreensão dos pensamentos sociais com base no senso
comum, possibilita adentrar ao universo das/dos estudantes e desvelar um
conhecimento real por meio de comunicações individuais, fazendo com que
o cotidiano dos mesmos seja compreendido(5-6).
A importância de conhecer as representações sociais dos acadêmicos
de enfermagem, durante seu processo formativo, é nítida uma vez que
a IES é um ambiente de construção de opiniões que por meio de debates
propicia formar cidadãos e profissionais competentes. O/a acadêmico/a
de enfermagem ao graduar-se, deve saber lidar com os riscos existentes,
garantir cuidado e acolhimento sem discriminação e incentivar as pessoas
soropositivas a participarem ativamente do seu autocuidado, facilitando assim,
a adesão dessa população na atenção básica e a redução das comorbidades
e, consequentemente, da mortalidade pela doença(7).
Este trabalho, ao buscar representações do cuidado prestado à pessoa
vivendo com HIV, que foram constituídas durante o processo de formação
de graduandos/as de enfermagem, poderá contribuir para desenvolvimento
de uma visão contextualizada da assistência concedida a essa população
vulnerável. Consideramos, ainda, que a pesquisa poderá provocar nos
participantes uma ampla reflexão das representações sociais que portam a
respeito da temática em questão.
Assim, o estudo traz como objetivo compreender as representações sociais
dos/as acadêmicos/as de enfermagem quanto ao cuidado à pessoa vivendo
com HIV.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, descritiva e fundamentada
na TRS, visto que busca compreender como os/as graduandos/as elaboram e
compartilham conhecimentos acerca do cuidado à pessoa vivendo com HIV.
A pesquisa foi realizada seguindo os critérios da pesquisa descritiva que
visa observar, registrar e descrever as características de um determinado

110 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


fenômeno ocorrido em uma amostra ou população, sem, no entanto, analisar
o mérito de seu conteúdo(8).
Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa qualitativa, este método
requer como atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade, a capacidade
de observação e de interação entre o grupo de investigadores e os atores
sociais envolvidos(9). Preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que
não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da
dinâmica das relações sociais.
E, assenta-se na TRS, que “é um modelo teórico, um conhecimento
científico que visa compreender e explicar a construção do conhecimento
leigo das teorias do senso comum” e, possibilita trabalhar com o pensamento
social em todas as suas variedades buscando o seu próprio universo(10,21).
Os/as participantes da pesquisa foram graduandos/as do curso de
Bacharelado em Enfermagem da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) –
Campus VII. Do total de 109 alunos/as matriculados/as regularmente no curso,
a amostra foi constituída por 60 graduandos/as. A escolha de participantes
matriculados/as no 6º, 7º ou 8º semestre deu-se por acreditarmos que aos
mesmos já foi oportunizado alguns conhecimentos acerca da temática
estudada, seja através de contribuições teóricas de diversas disciplinas cursadas
ao longo de três ou mais anos na academia; ou da prestação de assistência
direta a indivíduos soropositivos; ou assistência aos que realizam exames de
sorologia ou teste rápido em atividades práticas ocorridas tanto no contexto
hospitalar quanto na Atenção Básica.
Os critérios de inclusão foram: todas as faixas etárias, ambos os sexos,
estarem regularmente matriculados/as na IES e, cursando componentes do 6º,
7º ou 8º semestre do curso. E para exclusão, encontra-se dessemestralizados
no momento da realização da coleta de dados. De modo que, respeitando-se
os critérios, dentre os/as 60 graduandos/as, 39 participaram da Técnica de
Associação Livre de Palavras (TALP) e 15 da entrevista.
Por se referir a uma pesquisa envolvendo seres humanos, isto é, pesquisa
que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou
indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações
ou materiais(11), todos os princípios éticos preconizados pelo Conselho Nacional
de Saúde (CNS) foram considerados. Assim como, respeitamos a resolução
n°510/2016, específica para as Ciências Humanas(12).
Os/as participantes foram convidados a participar da pesquisa de forma
voluntária, conforme a presença e disponibilidade, sendo respeitados os
aspectos éticos e legais das Resolução do Conselho Nacional de Saúde, sendo
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da
Bahia por meio da Plataforma Brasil, sob CAAE 74221317.2.0000.0057. Este

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 111


estudo está vinculado ao Trabalho de Conclusão no Curso de Enfermagem da
Universidade do Estado da Bahia-Campus VII.
A aproximação com os/as graduandos/as deu-se de forma amistosa,
respeitando-se a privacidade e a confidencialidade dos/as participantes. Assim,
para garantir o anonimato dos/as mesmos/as, os instrumentos de coleta de
dados foram identificados com a letra “E” de estudante e número sequencial,
(ex.: E1...E39). O qual foi composto, inicialmente, pela TALP, seguida de uma
entrevista semiestruturada, previamente agendada, no qual foi possível
discorrer sobre as práticas de cuidado já realizadas, fontes de informações
sobre o agravo, convivência com pessoa vivendo com a doença e, suas
experiências em cuidar de pessoa vivendo com HIV.
A coleta por meio da TALP visou à busca de evocações, ou seja, a obtenção
das cinco primeiras palavras que lhe veem de imediato à mente ao ouvir o
termo indutor(13). Para este estudo, o estímulo ou termo indutor foi: “Cuidado
à pessoa vivendo com HIV”. Após a solicitação, registrou-se as evocações na
ordem direta (ordem em que foram mencionadas); sendo também requerida a
realização de hierarquização e de uma justificativa para a palavra, considerada
pelo/a participante, como a mais importante dentre às evocadas.
Em seguida, coletaram-se os dados de caracterização de cada
entrevistado/a utilizando-se das variáveis (idade, sexo, nível socioeconômico
familiar, formação anterior). Os/as graduandos/as que aceitaram participar da
entrevista semiestruturada tiveram suas entrevistas gravadas em gravador de
voz digital. As entrevistas foram transcritas e submetidas ao procedimento de
análise por meio de um software.
O corpus da pesquisa com dados da TALP foi processado inicialmente
pelo software EVOC (Ensemble de Programas permettant I’ Analyse de Évocations)
gerando o quadro de quatro casas, por meio da frequência e ordem média
das evocações. Os quadrantes que constituíram o quadro de quatro casas
exibem informações importantes que fazem análise da representação. O núcleo
central apresenta os elementos evocados com maior grau de importância e
frequência, enquanto os demais quadrantes são formados pelos elementos de
baixa frequência, zona periférica, que por sua vez são capazes de transportar
significados aos elementos centrais(14).
Seguindo a abordagem estrutural o núcleo central é composto por
elementos pertencentes à memória coletiva que se manifestam com harmonia,
segurança e resistência, sendo muitas vezes insensível ao contexto social(15).
O núcleo central apresenta a representatividade concreta e absoluta do
pensamento. Já o sistema periférico constitui-se pelos demais elementos, expõe
um pensamento mais flexível que dá significado aos elementos centrais(16).

112 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


A análise dos dados oriundos das justificativas se deu por meio do software
de análise textual Iramuteq. O software é gratuito e desenvolvido sob a lógica
da open source, e viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais, desde
aquelas bem simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequência de
palavras), até análises multivariadas que incluem classificação hierárquica
descendente e análises de similitude(17).
As respostas curtas que justificaram as palavras evocadas e elencadas como
mais importes pelo/as participantes foram processadas e por meio da análise
lexical, técnica adotada regularmente por pesquisadores das representações
sociais, permitiu detectar as coocorrências entre as palavras, mostrando a
ligação existente entre as evocações, auxiliando assim na identificação da
estrutura da representação(18). O Iramuteq permitiu o agrupamento das
palavras estatisticamente significativas e a análise qualitativa dos dados de
cada justificativa por meio das Unidade de Contexto Inicial (UCI)(19)
O software utilizado possibilitou a formação de uma Nuvem de Palavras
através da conexão entre as palavras, produzindo uma visualização gráfica com
a identificação das coocorrências e ligação entre os termos. O material advindo
das justificativas da TALP possibilitou utilizar de análises lexicais, sem que se
perdesse o contexto em que a palavra aparece, o que torna possível integrar
níveis quantitativos e qualitativos na análise, propiciando maior objetividade e
avanços às interpretações dos dados de texto. Já a nuvem de palavras, formada
a partir das justificativas, representa um agrupamento e organização das
palavras que possuem a mesma frequência(17).
O Quadro de quatro casas e a Nuvem de Palavras foram analisados e
interpretados de acordo com a compreensão dos/as acadêmicos/as sobre
a temática por meio da abordagem estrutural da teoria das representações
sociais à luz da literatura vigente.

RESULTADOS
Concernente aos estudantes participantes, 29 eram do sexo feminino (74,4%);
a faixa etária prevalente foi de 20-25 anos (71,8%), e se autodenominaram de
classe baixa (51,3%). A maioria dos/as discentes se encontravam no 8º semestre
(61,5%), sendo que os demais participantes eram do 6º semestre (38,5%); quando
questionados/as sobre o grau de formação anterior 89,7% afirmaram ter apenas
o ensino médio, 5,1% já possuem nível superior completo e 5,1% vieram de um
curso superior não concluído.
Em relação ao cuidado à pessoa vivendo com HIV, dos/as 15 discentes
participantes da entrevista semiestruturada apenas três já tiveram experiência

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 113


de cuidado prestado à pessoa vivendo com o agravo, sendo está em área
hospitalar e equivalendo a 20% dos integrantes da pesquisa.
De acordo com as evocações, o corpus foi constituído por 156 termos e ou
palavras das quais 18 eram diferentes. O software EVOC processou o corpus
com uma Ordem Média de Evocações (OME) de 2,9 e frequência mínima de
4. A análise dos dados sobre a representação social dos/as acadêmicos/as de
enfermagem referente ao cuidado à pessoa vivendo com HIV/Aids trouxe a cena
entre os elementos centrais os termos ‘aceitação’, ‘acolhimento’, ‘medicação’
e ‘respeito’ (Quadro 1), que retratam a essência do processo assistencial
adequado à prática do cuidado e normatizado pelo Ministério da Saúde.

Quadro 1: Quadro de 4 casas das evocações livres de acadêmicos/as de enfermagem


ao termo indutor “Cuidado a pessoa vivendo com HIV/Aids”, Senhor do Bonfim, Bahia,
Brasil, 2021 (n=39)

NÚCLEO CENTRAL SISTEMA PERIFÉRICO PRÓXIMO


FREQUÊNCIA > = 10 RANG < 2,9 FREQUÊNCIA > = 10 RANG > = 2,9

Aceitação 21 2,857
Acolhimento 14 2,786 Cuidado 11 3,455
Medicação 15 2,400 Informação 10 3,600
Respeito 11 2,364

SISTEMA PERIFÉRICO PRÓXIMO SISTEMA PERIFÉRICO DISTANTE


FREQUÊNCIA < 10 RANG < 2,9 FREQUÊNCIA < 10 > = 2,9

Atenção 5 2,200
CTA 4 2,000
Competência 4 3,750
Exames 5 2,400
Ética 4 4,750
Medo 7 2,286
Humanização 8 3,000
Orientação 7 2,857
Tratamento 9 3,000
Preconceito 8 2,250
Prevenção 7 2,714
Proteção 6 2,667

Fonte: EVOC 2005.

Na busca de nos aproximarmos da centralidade da RS, as justificativas


apresentadas pelos/as acadêmicos/as ao termo mais importante, dentre os
evocados, propiciaram a conformação de outro corpus que foi analisado pelo
software Iramuteq. Graficamente, apresenta-se o resultado em forma de uma
Nuvem de Palavras (Figura 1).
O termo ‘cuidado’ se destaca, por sua alta frequência, no entanto,
diferencia-se da organização do núcleo central, onde o termo ‘aceitação’
organiza a RS de acadêmicos/as sobre cuidado de pessoa com HIV. E, os termos

114 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


com maior frequência como ‘Aids’, ‘HIV’, ‘tratamento’, ‘portador’, ‘paciente’
e ‘doença’, remetem à ideia do cuidado centrado no biológico e, também
divergem da representação apresentada na figura 1 e na Política Nacional de
Humanização (PNH).

Figura 1. Nuvem de palavras com as justificativas dos termos evocados e


classificados como mais importante. Senhor do Bonfim, 2021

Fonte: Iramuteq 0.7 alfa

DISCUSSÃO
O termo ‘aceitação’ (Quadro 1), apresenta-se como elemento central por
ter sido o mais evocado pelos/as acadêmicos/as, apresentando frequência de
21 evocações. Por possuir significado subjetivo, tornou-se necessário recorrer
à base de dados para melhor compreensão do termo, buscando, assim, a
representatividade reproduzida pelos/as participantes da pesquisa. Esclarece-
se que o termo ‘aceitação’, no processo da lematização, estava intimamente
ligado aos termos ‘apoio familiar’ e ‘vínculo’. Nessa perspectiva, “aceitação” nos
conduziu a visibilizar que, em momentos de grandes transtornos e angústia,
característicos do sofrimento de viver com HIV, a necessidade de apoio familiar
e do vínculo que se estabelece entre cliente/profissional é imprescindível, no
imaginário dos/as acadêmicas, para que esses indivíduos aceitem a doença
(diagnóstico) e busque tratamento adequado.
A família se caracteriza como fonte de cuidado, colaborando para o
equilíbrio físico e mental do indivíduo que vive com HIV(20). Além disso, as
autoras apontam que a família ocupa o lugar de elo necessário para maior
adesão ao tratamento, ajudando, assim, a melhorar a qualidade de vida dessas

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 115


pessoas. Um estudo sobre resiliência reforça a importância do apoio familiar
como principal fonte de apoio para soropositivos pois, indivíduos que recebem
o suporte familiar apresentam menores índices de estresse, depressão e
solidão(21).
Sob o olhar dos profissionais de saúde, a ‘aceitação’ e o ‘vínculo’, evidenciam
que a base do cuidado a pessoa vivendo com HIV demanda compromisso e
respeito. Dentre os profissionais envolvidos nesse processo, o/a enfermeiro/a
destaca-se com maior relevância no apoio a essa população com intenção de
promover a aceitação, compreensão e informação sobre a doença(22).
A qualidade da assistência prestada pelo/a enfermeiro/a perpassa
principalmente pela capacidade que possui em ouvir, interagir e conscientizar,
assegurando uma atenção especial focada na individualidade de cada ser(23).
Assim, é necessário garantir segurança e confidencialidade, construindo uma
relação de vínculo e confiança entre profissional/paciente, propiciando maiores
possibilidade de aceitação da doença e, consequentemente, maior adesão ao
tratamento.
Ao receber o diagnóstico positivo de HIV, a pessoa geralmente apresenta
angústia e depressão. No entanto, os que aceitam melhor o diagnóstico reagem
e lidam com a doença de uma forma mais proativa. Levando-nos a acreditar
que a eficiência do cuidado depende primeiramente da aceitação do paciente e,
posterior a isso, que os profissionais ao se despirem de preconceitos, ofertem
um acolhimento efetivo como garantia da qualidade de atenção à saúde(24).
Corroborando com a informação supracitada, o Ministério da Saúde refere
que é necessário se atentar especialmente aos sintomas depressão e ansiedade
no pós-diagnóstico. Indivíduos com esta sintomatologia e outros transtornos
de ansiedade, além de síndromes psicóticas, apresentam mais chance de não
aderirem ao tratamento(25).
Ainda, referente ao núcleo central, o termo ‘acolhimento’ se mostra
significativo no imaginário dos/as acadêmicos/as, quando se trata de cuidado
a pessoa vivendo com HIV, por demonstrar afetividade e receptividade a
quem recebe o cuidado e coaduna-se à política nacional de HIV/Aids. Os
termos ‘medicação’ e ‘respeito’ reforçam a importância à adesão voluntária
ao tratamento medicamentoso e ao compromisso do Estado brasileiro para
com a população.
De acordo com o Ministério da Saúde o acolhimento é uma prática que
permeia todas as relações de cuidado nos atos de receber e escutar, podendo
acontecer de formas variadas, nos encontros entre profissionais da área de
saúde e pessoas atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS). Acolher é receber
o indivíduo desde a sua chegada, ser responsável por ele, ter uma escuta
atenta às suas queixas, permitir que mostre as suas inquietações com relação

116 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


à doença, deixá-lo à vontade para procurar o serviço de saúde e a equipe
multiprofissional sempre que necessário, facilitando o acesso ao serviço e ao
tratamento(1).
Nota-se no quadro 1 que os elementos que compõem o núcleo central,
conformam uma representação baseada na adequação do atendimento por
associar imputações esperadas a pessoas que vivem com HIV - adesão ao
‘tratamento’ e ‘aceitação’ do diagnóstico – com atributos profissionais como
‘acolhimento’ e ‘respeito’.
No sistema periférico próximo no quadro 1, identificam-se os termos
‘cuidado’ e ‘informação’, ambos reforçam os sentidos das representações que
estruturam o núcleo central. Ressaltamos o elemento ‘cuidado’ se mostra como
termo com maior representatividade neste quadrante, tendo sido evocado
11 vezes. Por se tratar de representação de acadêmicos/as de enfermagem,
a palavra “cuidado”, pode apresentar-se como aquela que carreia o sentido
das ações que subsidiam a prática profissional da enfermagem, por tanto, ao
responderem ao estímulo o termo cuidado pode realmente estar associado
ao fazer da profissão.
Ainda no sistema periférico próximo destacam-se os termos ‘atenção’,
‘CTA’, ‘exames’, ‘medo’, ‘orientação’, ‘preconceito’, ‘prevenção’ e ‘proteção’. E,
no sistema periférico distante, os termos ‘competência’, ‘ética’, ‘humanização’
e ‘tratamento’. Nos dois sistemas, os termos, em sua maioria, fortalecem
e fundamentam as ações do cuidar. No entanto, chamam atenção, os
termos ‘medo’ e ‘preconceito’ que se afinam com sentimentos negativos, e,
de certo modo, se contrapõem a promoção de uma atenção humanizada
pela enfermagem, o que pode revelar um possível desconhecimento e/ou
distanciamento da prática de cuidado a pessoas vivendo com HIV pelo/as
acadêmicos/as.
As pessoas que vivem com HIV muitas vezes sofrem preconceitos e
rejeições em suas famílias e grupos sociais, além de constrangimentos nos
serviços de saúde e desrespeito aos seus direitos. Esta prática contribui para
o isolamento dessas pessoas, uma vez que existe o temor da rejeição nos
relacionamentos afetivos, sociais e sexuais ao compartilhar o seu estado
sorológico. As demandas emocionais são tão importantes quanto os sintomas
físicos, e precisam ser acolhidas por todos os profissionais de saúde, numa
perspectiva de assistência humanizada e integralizada, além disso, os aspectos
psicológicos podem ser causas ou consequências de sintomas físicos(1).
Os resultados que se apresentam no núcleo central e nos sistemas
periféricos, estruturam uma representação dos/as acadêmicos/as de
enfermagem que apontam para um discurso reificado, ancorado na PNH
que ampara a discussão teórica do cuidado na formação do/a enfermeiro/a.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 117


No entanto, carreiam ainda, mesmo que perifericamente, o estigma e a
insegurança, que são marcas presentes desde o início da epidemia nos anos
80, ao revelarem ‘medo’ e ‘preconceito’ que ainda estão presentes no imaginário
dos/as acadêmicos/as como elementos que perpassam o cuidar de pessoas
vivendo com HIV.
Ao referirem um lugar de importância ao termo ‘acolhimento’ podemos
inferir que as IES estão preparando seus profissionais não só para a realização
de uma prática adequada, mas preocupam-se em prepará-los para a realização
de uma assistência integral mais abrangente que visa à prestação do cuidado
dirigido para o paciente e compreendido como algo complexo, que suscita
acolhimento, e tem como base a perspectiva da integralidade.
Podemos inferir que ao responderem a TALP, por meio de palavras que
vinham de imediato à mente, as representações sociais dos/as acadêmicos/
as de enfermagem revelaram-se pertinente e coerente à PNH, uma vez que
os termos evocados fazem referência ao cuidado humanizado e assentado na
integralidade da assistência à pessoa vivendo com HIV. Porém, os resultados
descritos conforme organização da Nuvem de Palavras (Figura 1) revelam
diferenças e até contradições entre os termos que se apresentam no quadro
de quatro casas (Quadro 1).
Na Nuvem de palavras os termos que se destacam são: ‘cuidado’, ‘Aids’,
‘HIV’, ‘tratamento’, ‘portador’, ‘paciente’ e ‘doença’. Nesse sentido, é importante
ressaltar que o termo “cuidado” também se vincula a autoproteção, pelo risco
da contaminação por acidente ocupacional, atrelada ao perigo e ao estigma que
perpassa historicamente a assistência aos indivíduos portadores de doenças
negligenciadas, a exemplo da tuberculose, hanseníase e outras.
O Fato da palavra cuidado apresentar coocorrência com aids, portador
e doença pode indicar que há uma ideia da necessidade de autoproteção
e/ou de distanciamento quando se dispensa assistência a pessoas que
vivem com HIV. Assim, destacamos que a informação e a educação exercem
importante impacto na redução do estigma, e por isso constituem uma
estratégia importante na redução de comportamentos discriminatórios(26).
Partindo deste entendimento, reconhecemos que, ao refletirem durante o
processo de justificação do termo evocado com maior importância, decorrente
da oportunidade da escrita livre acerca deste, a representação de cuidado
a pessoa que vive com HIV se afasta da abordagem ancorada na PNH, com
enfoque especial no acolhimento e vínculo. Possivelmente, ainda carregam a
representação de que a assistência/cuidado precisa ser focada no biológico
(doença e tratamento) e que o “risco” da contaminação durante a assistência
é eminente.

118 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Tal contradição, apontada por meio da análise multitécnica, assinala para
a importância de reflexão por parte das IES no processo formativo de futuros/
as profissionais altruístas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As representações que emergiram nesse estudo se expressam de forma
diversa. De um lado, o quadro de quatro casas, por meio das evocações,
mostrou uma representação social do cuidado à pessoa que vive com HIV
que perpassa por sentimentos de compaixão/solidariedade, amparada no
termo ‘aceitação’ e tendo o ‘acolhimento’ como fundamental na prestação
de assistência de qualidade. Do outro, ressalta-se o cuidado em sua vertente
biológica e curativista, revelando por meio do medo e preconceito.
A realização da pesquisa contribuiu para compreender as representações
do grupo estudado, com vistas a subsidiar a discussão das ações e dos modos
de aprendizado no processo formativo na enfermagem focado em acolhimento
e prestação de um cuidado integral as populações vulneráveis.
Entende-se que a problemática do HIV ainda precisa ser mais discutida
no âmbito universitário, para além das questões atinentes à biossegurança,
uma vez que as pessoas que vivem com o vírus, além de cuidados específicos,
necessitam de uma atenção especial por parte dos profissionais da enfermagem.
Espera-se que este estudo traga resultados benéfico na promoção da saúde
no contexto do HIV.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 119


REFERÊNCIAS

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23-César MRPM et al. Acolhimento do paciente HIV em uma unidade de referência do
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Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids
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Infecção pelo HIV em Adultos. Brasília; 2018.
26-Zambenesetti G, Silva RAN. O paradoxo do território e os processos de estigmatização
no acesso ao diagnóstico de HIV na atenção básica em saúde. Estud. Psicol [Internet].
2015;20(4):229-240.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 121


A PESSOA TRANSGÊNERA NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DE DISCENTES DE UM CURSO SUPERIOR EM SAÚDE

Carle Porcino1
Maria Thereza Ávila Dantas Coelho1
Jeane Freitas de Oliveira1
Lanna Katherine Leitão Conceição1
Ana Paula de Lima Valverde2
Ester Mascarenhas de Oliveira3
Maria Virgínia Almeida de Oliveira Teles4
Dejeane de Oliveira Silva5

INTRODUÇÃO
O cuidado à saúde de pessoas transgêneras e/ou de gênero-diversas ainda
é pouco discutido nos espaços de formação técnica e superior em saúde.
Destarte, as campanhas feitas em 2003[a] e 2004[b] pelo Ministério da Saúde
(MS) e a publicação da Política Nacional de Saúde Integral de Pessoas[c] Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais(1) (LGBT) em 2010/2011, os avanços
no que se refere à formação e à qualificação de profissionais de saúde acerca
das necessidades de saúde de pessoas transgêneras ainda são incipientes(2-3).
A referida Política explicita em seu bojo as estratégias para sua implementação
pela gestão nos âmbitos dos níveis: federal, estadual e municipal do Sistema
Único de Saúde (SUS). As ações e atividades do Plano Operativo da referida
política estão estruturados em quatro eixos estratégicos e pretendem incidir
sobre os diferentes condicionantes e determinantes que sustentam as
desigualdades sociais em saúde que acometem as pessoas LGBT, quais sejam:
Eixo 1: Acesso da população LGBT à Atenção Integral à Saúde; Eixo 2: Ações
de Promoção e Vigilância em Saúde para a população LGBT; Eixo 3: Educação
permanente e educação popular em saúde com foco na população LGBT; Eixo
4: Monitoramento e avaliação das ações de saúde para a população LGBT(1).
Dessa maneira, tendo em vista a importância de conhecer para melhor
acolher, estreitar laços com o movimento social organizado de pessoas
transgêneras, assim como o investimento na formação de estudantes e

1
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.
2
Universidade Salvador (UNIFACS). Salvador, BA, Brasil.
3
Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Brasília, DF, Brasil.
4
Universidade Nova de Lisboa (NOVA). Lisboa, Portugal.
5
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Ilhéus, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 123


profissionais da área de saúde, se constituem estratégias essenciais para que
o atendimento a esse segmento seja equânime, em consonância aos princípios
doutrinários do SUS(2,4). Nesse sentido, o desrespeito ao nome social, por
exemplo, ainda se constitui a principal barreira no acesso aos serviços de saúde
por pessoas transgêneras, frente à dificuldade por parte das/dos profissionais
em reconhecerem a relevância desse direito(5). Assim, é fundamental pensar
que estas/estes profissionais podem assumir o protagonismo no combate a
essas desigualdades experienciadas por esse segmento populacional, quer
seja por meio da oferta de serviço de qualidade e/ou pelo respeito ao modo
como essas pessoas se autorreconhecem(6).
Neste trabalho, a priori, não privilegiaremos definições acerca das
transgeneridades, por compreendermos que essas vivências estão relacionadas
aos processos identitários com base na autodeterminação de gênero e
comportam expressões e experiências plurais. Ademais, concordamos com o
Conselho Federal de Psicologia (CFP)(7), o qual reconhece que as identidades
trans e travestis não se constituem uma condição psicopatológica, visto que
esse processo remete a autoidentificação, ou seja, é a própria pessoa que
define o gênero com o qual se identifica e sente pertencer.
No tocante à autodeterminação de gênero, também concebida como um
saber que é construído pela própria pessoa, Preciado(8:127) pontua ser esse um
dos resultados da tecnologia de gênero, ou seja, um movimento em que a
pessoa é a protagonista e produz “[...] um saber sobre si mesmo, de um sentido
do eu sexual que aparece como uma realidade emocional para a consciência
[...] agindo como núcleos biopolíticos e simbólicos rígidos em torno dos quais
é possível aglutinar um conjunto de práticas performativas”. Nesse contexto,
o poder não está localizado somente no corpo, mas também nos discursos
que o nomeiam através de um conjunto de representações(8) que, além de
transformar, podem despertar os mais diversos tipos de (des)afetos. Assim,
como forma de contribuir para os processos de formação das condutas e
orientação das comunicações(9) e práticas sociais(10), torna-se importante
conhecer as representações de estudantes da área de saúde sobre as pessoas
cujos corpos são vistos e/ou considerados dissidentes e/ou inconformes.
Desse modo, o conceito de representação social proposto por Serge
Moscovici(11-12) e desenvolvido por Jean-Claude Abric(13-14) orienta o presente
trabalho. Para tanto, considera-se que uma representação é composta por um
conjunto de informações, crenças, opiniões e atitudes sobre um determinado
objeto(13).
Esses pressupostos teóricos facultam a compreensão de aspectos que
remetem ao senso comum e à vida cotidiana e podem ser considerados
como objeto de representação, inclusive aqueles relacionados aos processos

124 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


identitários e constituem uma visão (com)partilhada por um grupo sobre
um objeto, num contexto social e cultural próprio(9). Por esse motivo, as RS
cumprem um papel fundamental acerca das dinâmicas e estratégias que
envolvem a dimensão subjetiva e os processos identitários(15).
À vista disso, concebe-se que a capacidade de representar, além de
sistematizar, também permite compreender, explicar, descrever e transformar
os fenômenos representados(16). Frente ao exposto, o presente trabalho foi
organizado com o objetivo de analisar a estrutura das representações sociais
de discentes de um curso superior em saúde sobre a pessoa transgênera.

METODOLOGIA
Este é um estudo descritivo, de abordagem qualitativa e delineado
com o aporte da Teoria das Representações Sociais (TRS)(12), que privilegia a
abordagem estrutural(14), realizado no período de outubro de 2015 a janeiro
de 2016, com 243 estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS)
da UFBA, regularmente matriculadas/os no componente curricular ‘HACA40
- Campo da Saúde: Saberes e Práticas’ que, por ser obrigatório, concentra o
maior número de discentes. No respectivo semestre foram disponibilizadas 335
vagas, das quais 257 foram preenchidas. Do total de estudantes, 243 aceitaram
participar, 11 não participaram por terem idade inferior a 18 anos e três não
manifestaram interesse em participar da pesquisa.
Para coleta de dados foram aplicados dois instrumentos específicos:
questionário de caraterização e o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP).
O questionário contemplou questões relacionadas ao gênero, orientação
sexual, faixa etária, estado civil, naturalidade, raça/cor, religião, semestre em
curso, se exerciam atividade remunerada, renda mensal familiar e se já tinham
vivenciado alguma situação de discriminação ao longo da vida. :
O TALP é um instrumento oriundo da psicologia clínica, amplamente
utilizado em pesquisas fundamentadas na TRS, cuja aplicação implica em
solicitar às/aos estudantes que, a partir da expressão indutora “pessoa
transgênera”, escrevessem até cinco palavras que rapidamente lhes viessem
à mente. Em seguida, que classificassem as palavras evocadas por ordem
de importância, de 1 a 5. Por último, que justificassem o motivo pelo qual
determinada palavra foi considerada a mais importante. A aplicação do TALP
pode ser feita individual e/ou coletivamente, desde que o/a pesquisador/a
oriente a/o participante e explicite antes de sua aplicação através de um
exercício demonstrativo. Também foi informado a preferência por palavras,
expressões e/ou frases curtas, bem como a observância para o limite de tempo

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 125


das respostas. De acordo com essa técnica, quanto mais rápida for a resposta,
maior seu efeito, validade e fidedignidade(17).
O questionário de caracterização e o TALP foram aplicados conjuntamente,
em sala de aula, a partir de combinação prévia com a/o docente responsável pelo
respectivo componente. Os dados do questionário permitiram a caracterização
do grupo investigado, conforme preconizado pela TRS. Os dados obtidos por
meio do TALP foram organizados e processados pelos softwares Ensemblè de
Programmes Permettant l’Analyse des Évocations (EVOC)(18) e Interface de R pour
les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ)(19).
O EVOC revelou a estrutura da representação social, a partir do cálculo
da frequência e ordem média (OME) dos termos evocados. A frequência
está relacionada ao número de vezes que o termo foi enunciado pelas/os
participantes; a OME evidencia a ordem ou posição de cada evocação. Como
base nesses aspectos, os elementos estruturais do campo representacional
foram revelados e organizados em quatro quadrantes (quadro de quatro casas):
núcleo central (quadrante superior esquerdo), primeira periferia (quadrante
superior direito), zona de contraste (quadrante inferior esquerdo) e segunda
periferia (quadrante inferior direito)(14,18,20). Os termos do núcleo central
estão fortemente relacionados às condições socioculturais, normativas e aos
valores sociais, e sofrem influência desses elementos, além de prescreverem
atitudes, comportamentos e condutas do grupo social. Enquanto que o
sistema periférico, dado sua flexibilidade, pode contribuir na transformação
da representação(14,20,21). O IRaMuTeQ produziu a árvore de similitude(22) com
base na teoria dos grafos, que permite identificar as coocorrências entre os
termos, resultado do grau de conexidade que é estabelecido entre eles, além
de realçar sua identificação na estrutura do corpus textual(22, 23).
O projeto de pesquisa foi submetido à Plataforma Brasil, sendo apreciado
e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), sob o protocolo de nº 684.219/2014.
As/Os participantes da pesquisa fizeram a leitura e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo assegurado o direito de livre
participação, bem como a total liberdade para retirar seu consentimento em
qualquer etapa da pesquisa.

RESULTADOS
Das(os) 243 estudantes que participaram do estudo: 167 eram mulheres;
201 na faixa etária de 18 a 29 anos; 207 solteiras/os; 160 soteropolitanas/
os; 201 raça/cor preta/parda; adeptas/os do cristianismo (católicas/os, 74
e protestantes 57); 72 não possuíam religião; 207 estavam matriculadas/

126 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


os entre o primeiro e terceiro semestres (dentre os quais 180 no segundo
semestre); 82 exerciam atividade remunerada; 199 oriundas/os de escola
pública; renda mensal familiar: 180 com até cinco salários mínimos; orientação
sexual autodeclarada: 23 lésbicas, 37 gays, 13 bissexuais e 170 heterossexuais,
enquanto que 127 relataram terem sido discriminadas/os em algum momento
da vida.
Para a expressão indutora “pessoa transgênera” foram produzidas 1.208
palavras, entre as quais 85 eram diferentes, com uma média de 4,97 palavras
evocadas por pessoa. A frequência mínima definida foi 17; a frequência média
calculada foi 31 e a ordem média de evocação (OME) 2,9. Com base nesses
parâmetros foi construído o quadro de quatro casas (Quadro 1), que mostra
os elementos centrais (quadrante superior esquerdo) e periféricos (demais
quadrantes), bem como a identificação dos elementos de significação mais
importantes para o grupo investigado frente ao objeto representado(23).

Quadro 1 - Quadro de quatro casas das representações sociais de discentes de um curso


superior em saúde sobre a “pessoa transgênera”, Salvador, Bahia, Brasil, 2016 (n=243).
Frequência OME < 2,9 OME ≥ 2,9
Média Termo evocado Freq. OME Termo evocado Freq. OME
≥ 31 Mudança 111 2,360 Coragem 102 3,264
Identidade de gênero 104 2,702 Escolha 100 3,000
Cirurgia de mudança de sexo 56 2,071 Preconceito 82 3,293
Cirurgia 52 2,481 Aceitação 55 3,509
Conflito psicológico 31 3,516

< 31 Pessoa humana 28 2,857 Respeito 25 3,560


Genitália 21 2,524 Mulher 23 3,391
Doença 20 3,550
Corpo 17 3,529
Homem 17 3,487

Nota: A expressão “cirurgia de mudança de sexo” foi mantida considerando a forma


como foi escrita/evocada.
Fonte: autoras, 2021.

A Figura 1 ilustra a representação gráfica da árvore de similitude proveniente


do processamento dos dados pelo software IRaMuTeQ, onde é possível visualizar
que o elemento mudança ocupa posição de destaque e agrupa em torno de
si os demais elementos, com base nas coocorrências e na análise frequencial,
resultado da conexão estabelecida entre os termos(24). Para a expressão
indutora “pessoa transgênera”, das/os 243 participantes, 189 evocaram
simultaneamente duas ou mais palavras dentre as que conformaram o Quadro 1.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 127


Figura 1 - Árvore de similitude das representações sociais de discentes de um curso
superior em saúde sobre a “pessoa transgênera”, Salvador, Bahia, Brasil, 2016 (n=243).

Fonte: autoras, 2021.

DISCUSSÃO
A representação social da “pessoa transgênera” para as/os participantes
do estudo comporta em seu possível núcleo central as seguintes palavras:
mudança (f=111, OME=2,360), identidade de gênero (f=104, OME=2,702),
cirurgia de mudança de sexo (f=56, OME=2,071) e cirurgia (f=52, OME=2,481);
por apresentarem alta frequência e terem sido mais prontamente evocados,
estruturam o campo representacional em análise(14,21,25). Assim, considerando
a hierarquia e saliência, os termos mudança - maior frequência - e cirurgia
de mudança de sexo - mais prontamente evocado - foram considerados
importantes para o grupo em função da forte conotação simbólica frente ao
objeto representado. Esses elementos são considerados consensuais em seu
núcleo central, pois estão ligados à memória coletiva do grupo, determinam
a organização e conferem significados à representação(13). Essa compreensão
ainda se mostra ligada ao saber e poder que a biomedicina imprime sobre os

128 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


corpos onde o sexo e o gênero devem estar alinhados numa perspectiva (cis)
heteronormativa. Nesse entendimento, é como se a única possibilidade de
existência para a pessoa transgênera fosse por meio e/ou através da mudança,
em relação as práticas de modificação corporal, como forma de alcançar a
linearidade entre a conformação anatômica genital, o corpo, a performance e
o gênero, conforme preconiza o CIStema.
Por conseguinte, com base nos termos evocados e sua disposição (Quadro
1), infere-se que o elemento mudança - em termos da transição de gênero -
atrelado à pessoa transgênera remete à utilização de alguma técnica biomédica
para conformar e/ou adequar o corpo. No entanto, mudança deveria ser
apontada como uma possibilidade para conferir oportunidade de escolha às
pessoas transgêneras com base na autodeterminação de gênero que engloba
os aspectos físico, psíquico e social, com vistas à promoção do bem-estar
pessoal, satisfação com a autoimagem e reconhecimento social. Todavia, a
manutenção dessa ideia para com às pessoas transgêneras, sobretudo por
futuras/os profissionais de saúde, pode interferir na saúde dessas pessoas,
uma vez que se mostra associada à lógica binária, tendo em vista os corpos das
pessoas que não seguem essa linearidade, no que se refere ao sexo/gênero,
ainda serem vistos e/ou considerados inconformes. Sob essa lógica, o viés
binário e patologizante seria reafirmado, se a mudança através da cirurgia for
compreendida como o único meio pelo qual os corpos trans, ainda vistos como
‘não inteligíveis’ e/ou ‘abjetos’(26), são ‘aceitos’ e/ou considerados ‘inteligíveis’.
Diante disso, assim como as práticas de modificação do corpo(27), a
retificação do nome civil também é uma necessidade premente para pessoas
transgêneras, mas o posicionamento e o tempo de cada pessoa devem ser
respeitados(28), pois nem todas as pessoas possuem os mesmos desejos e/
ou demandas(29,27). Ademais, não existe uma única forma de vivenciar a(s)
transgeneridade(s), mas sim diversas e plurais as possíveis formas de existir,
ser e estar no mundo.
A expressão cirurgia de mudança de sexo foi a mais prontamente evocada;
essa característica reafirma sua permanência no núcleo central dada a sua
consensualidade. A relevância atribuída a esse termo se mostra em sintonia
com a compreensão do discurso biomédico que acredita ser essa a forma de
a pessoa se sentir completa. Esse aspecto revela que os grupos constroem
e atribuem sentidos aos objetos a partir do modo como os concebem e os
incorporam na vida cotidiana(30). Por esse ângulo, é possível inferir que haja, no
grupo de estudantes do BIS, o predomínio de representações sobre pessoas
transgêneras ainda pautadas em uma lógica biologicista, medicalizante e
patologizante. Nesse caso, essa compreensão pode tomar diversas formas,
tais como: as crenças, os julgamentos e as opiniões que, além de conferirem
um viés que potencializa as vulnerabilidades às vivências trans, poderá reforçar

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 129


o estigma, o preconceito e a discriminação, impactando suas vidas de modos
distintos.
Como assinalam Stryker e Currah(31), na vida cotidiana as pessoas
transgêneras não são nem mais nem menos neuróticas ou psicóticas do
que as pessoas cisgêneras. A cirurgia de redesignação sexual (CRS) ainda é
costumeiramente chamada e/ou conhecida por “mudança de sexo” ou “cirurgia
de mudança de sexo”. No entanto, a utilização dessa expressão junto a uma
pessoa que realizou esse procedimento pode se configurar em uma situação
de preconceito e discriminação, tendo em vista que as pessoas transgêneras
não “mudam de sexo”, mas o redesignam e/ou adequam à conformação
anatômica genital, considerando o seu desejo pessoal em sintonia com o
gênero autodeterminado. Desse modo, a manifestação de interesse em realizar
esse procedimento perpassa por uma questão de ordem pessoal e nenhuma
pessoa deve ser submetida a procedimentos clínico e/ou cirúrgico contra a sua
vontade para ter a sua identidade de gênero reconhecida, conforme preconiza
os Princípios de Yogyakarta(32).
Estudo realizado com profissionais de saúde(33) também evidenciou em
seu núcleo central o termo “mudança de sexo”, aspecto que se assemelha
com o nosso estudo, pois é como se a CRS fosse a principal demanda de todas
as pessoas transgêneras. Essa ideia pode estar embasada na perspectiva de
que essas pessoas não são livres e não têm autonomia para escolher um
procedimento clínico e/ou cirúrgico, bem como o melhor momento para realizá-
lo, considerando a satisfação pessoal - quando for o caso(29).
O termo cirurgia em muito se aproxima dos sentidos atribuídos à mudança
e cirurgia de mudança de sexo, e pode se constituir em um grande desafio para
as pessoas transgêneras, pois seguem a mesma lógica (medicalizante). É como
se todas as pessoas tivessem os mesmos desejos em relação à adoção de
algum procedimento para modificar o corpo. Nesse caso, a pessoa transgênera
que não deseja realizar algum procedimento clínico e/ou cirúrgico não possui
o direito de se autodeclarar e/ou ser reconhecida como mulher e/ou homem
- para as pessoas que assim se reconhecem?
Ademais, deve-se levar em consideração que nem sempre o desejo da
pessoa é levado em consideração devido ao número restrito de serviços
habilitados no âmbito do Processo Transexualizador. A esse respeito, Moira,
Nery, Rocha e Brant(34) pontuam que a pessoa transgênera pode recorrer a
algum recurso para modificar o corpo e/ou não, mas também pode pensar em
outras possibilidades. Além disso, as necessidades das pessoas transgêneras
não podem ser levadas em consideração apenas com base nas normas que
a medicina estabelece como verdade, mas que podem “[...] se espelhar em si
mesmas para pensar seus próprios modelos de masculino e feminino, a forma
como querem existir” (34:s/p).

130 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Esses resultados denunciam alguma polaridade no campo representacional.
Ao mesmo tempo, constata-se que a evocação identidade de gênero - segunda
maior frequência - possui um significado positivo, na medida em que o grupo
reconhece que a identidade de gênero dar-se-á mediante a experiência interna
e individual de cada pessoa, muito embora ainda seja necessário “[...] lutar
todos os dias contra toda essa [cis]normatividade que não entende, que não
aceita nossos corpos e não aceita sermos quem realmente somos” (35:71).
De acordo com os pressupostos da abordagem estrutural, o sistema
periférico engloba os elementos mais acessíveis, vivos e concretos da
representação em função de sua abertura para a realidade imediata, que leva
em conta as histórias e experiências individuais e constituem a interface entre o
núcleo central e o funcionamento da representação (14,21,36). Nesta pesquisa, os
elementos que compõem a primeira periferia são: coragem (f=102; OME=3,264),
escolha (f=100; OME=3,000), preconceito (f=82; OME=3,293), aceitação (f=55;
OME=3,509) e conflito psicológico (f=31; OME=3,516). Essas evocações revelam
sensibilidade do grupo investigado para com o objeto representado, na medida
em que salientam a coragem e a luta por reconhecimento e direitos, tendo
em vista os desafios, tensionamentos e o preconceito que são enfrentados
na vida cotidiana, por pessoas transgêneras. O termo aceitação foi apontado
como sendo a atitude em aceitar a pessoa como ela é, privilegiando o
aspecto individual. No entanto, essa representação se mostra associada ao
sofrimento psíquico, aqui nominada como conflito psicológico, podendo ela estar
relacionada à uma condição psicopatológica, o que pode reforçar o estigma,
o preconceito, a invisibilização, a discriminação e o não protagonismo, ainda
impressos às transgeneridades.
Na zona de contraste (quadrante inferior esquerdo do Quadro 1)
destacam-se os termos pessoa humana (f=28; OME=2,857) e genitália (f=21;
OME=2,524). Os elementos que compõem esse quadrante foram prontamente
evocados, mas por um número menor de sujeitos. Por terem sido apontados
como importantes, os termos pessoa humana e genitália reforçam as noções
presentes no núcleo central e na primeira periferia. Embora o grupo reconheça
e humanize a pessoa transgênera como pessoa humana, essa representação
está ligada ao genital da pessoa. É como se a genitália fosse a questão central
dessas vivências e seu reconhecimento enquanto pessoa humana somente
ocorresse mediante a realização de procedimentos cirúrgicos que adequassem
e/ou conformassem a genitália. Mais uma vez, a linearidade entre gênero,
identidade de gênero e genitália é suscitada, além de apontar certa dificuldade
em reconhecer a existência de mulheres com pênis e homens com vagina.
No que se refere à saúde, é extremamente importante e necessário que
o Estado assegure o direito de acesso ao Processo Transexualizador para as
pessoas que desejam realizar procedimentos clínicos ou cirúrgicos. Desse

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 131


modo, também é importante respeitar a autonomia das que desejam acessar
esse equipamento (e/ou outros procedimentos) e não desejam realizar
especificamente a CRS, haja vista que não é a realização de um e/ou outro
procedimento que confere legitimidade ou define quem a pessoa é. Além
disso, a conformação anatômica genital não deveria ser um marcador na
determinação do destino, do gênero, da identidade de gênero, da orientação
sexual ou da prática sexual de nenhuma pessoa, seja ela cisgênera ou
transgênera.
Na segunda periferia (quadrante inferior esquerdo do Quadro 1) estão as
evocações que apresentaram as menores frequências e que foram evocadas
mais tardiamente, sendo menos importantes para o grupo. Nesse quadrante
encontram-se respeito (f=25; OME=3,560), mulher (f=23; OME=3,391), doença
(f=20; OME=3,550), corpo (f=17; OME=3,529) e homem (f=17; OME=3,487).
Esses elementos ratificam os termos dispostos nos demais quadrantes,
especialmente aqueles alocados no núcleo central (quadrante superior
esquerdo do Quadro 1) e reafirmam o quão importante é o respeito para
com as pessoas transgêneras, no que se refere às escolhas e tomadas de
posição. Entretanto, essas evocações demarcam que o gênero é reconhecido
em termos binários (mulher ou homem), cujos corpos são vistos/percebidos
como associados à doença, e que não são questionadas as implicações que as
normas de gênero podem impactar às vidas das pessoas transgêneras. Diante
disso, infere-se que essa concepção pautada no binarismo poderá potencializar
a exclusão de vivências cujos corpos e posicionamentos não são atravessados
pelo gênero, e ser considerada um marcador social que apaga e exclui as
‘diferenças’.
Na árvore de similitude (Figura 1), o termo mudança ocupou uma posição de
centralidade, pois estabeleceu 10 conexões e organizou em torno de si os demais
elementos da representação social da pessoa transgênera. Essa característica
reafirma sua importância na estrutura interna do campo representacional e
aponta a estreita ligação entre o objeto e sua representação(13). Os maiores
índices de similitude e o forte grau de conexidade foram estabelecidos com
as seguintes evocações: identidade de gênero (0,31) e cirurgia (0,25), presentes
no núcleo central, preconceito (0,26), coragem (0,21), escolha (0,19) e conflito
psicológico (0,12), presentes na primeira periferia, genitália (0,12), na zona de
contraste, respeito (0,05), mulher (0,11), homem (0,12) e corpo (0,09), na segunda
periferia.
A segunda evocação que mais estabeleceu conexões foi preconceito, com
um total de três, apresentando alto índice de similitude com aceitação (0,12),
cirurgia de mudança de sexo (0,13) e doença (0,04). É importante salientar que
esses elementos revelam a estrutura da representação social sobre a pessoa
transgênera e chamam a atenção para a importância de abordar a temática

132 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


no âmbito da formação técnica e superior em saúde, articulada ao movimento
social organizado, levando em consideração os saberes construídos sobre si,
sobre seus corpos e as diversas formas de ser e estar no mundo.
Mais uma vez, é importante reafirmar que defendemos a importância
do reconhecimento, por profissionais de saúde, do direito das pessoas
transgêneras à autodeterminação de gênero, pois compreendemos que cada
pessoa pode escolher o momento mais adequado e/ou ideal em sua vida para
iniciar a transição, se este for o seu desejo. Como pontua Bento(37:28), “[...] cada
um decide o que fazer com sua vida e sua história. Querer ser um tribunal da
história é um caminho muito fácil para encontrar o fascista que habita em nós.
Nada mais sedutor do que legislar sobre a vida do outro”.
À vista disso, na medida em que se considera a complexidade do objeto em
análise, se torna um desafio construir e assegurar a atenção à saúde integral
as pessoas transgêneras(38). Sendo assim, é possível que as crenças e opiniões
individuais possam comprometer a qualidade das práticas desenvolvidas por
profissionais, na medida em que se considera os aspectos subjetivos, que
atravessam tanto as pessoas que cuidam, quanto aquelas que são cuidadas.
Desse modo, assim como os estudos desenvolvidos com o aporte da TRS
podem facultar uma aproximação com o objeto de estudo, também é possível
que representações hegemônicas se desnaturalizem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo possibilitou analisar a estrutura da representação de discentes
de um curso superior em saúde sobre a pessoa transgênera. Os dados
apresentados revelaram aspectos concernentes aos processos identitários
e aos enfrentamentos cotidianos por pessoas transgêneras, mas também
a possibilidade de um viés patologizante, biologicista e medicalizante na
compreensão dessas vivências.
Os dados apresentados, embora limitados a um grupo de estudantes de
um curso de uma universidade pública, oferecem elementos de reflexão para
o acolhimento e práticas de cuidados em saúde, dada a aparente dificuldade
de lidar com as questões que remetem ao gênero e às sexualidades. Revelam
a necessidade de dialogar sobre a temática investigada com estudantes de um
modo geral, mas sobretudo com estudantes da área de saúde. A discussão
sobre as transgeneridades devem se estender na educação continuada com
profissionais de saúde em atuação, na perspectiva de apontar direções para
a construção de uma prática que respeite as demandas, singularidades e se
mostre comprometida com as diretrizes do SUS.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 133


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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 135


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Notas
“Travesti e respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos. Em casa. Na boate.
[a]

Na escola. No trabalho. Na vida”.


[b]
“Sou travesti: tenho direito de ser quem eu sou”.
O termo “pessoa” foi incluído e destacado propositalmente, porque, do modo como
[c]

está o título da referida política, parece que a política construída se destina à orientação
sexual e à identidade de gênero, mas sem levar em consideração as pessoas. Não se
pode perder de vista que as pessoas não são a orientação sexual e nem a identidade
de gênero, visto que essas características integram a dimensão intersubjetiva de cada
pessoa que assim se reconhece e ocupam posições distintas em suas vidas. Nesse caso,
a forma ‘humanizada’ e respeitosa é colocar o termo “pessoa” antes de assinalar sua
orientação sexual e/ou a identidade gênero - considerando esse aspecto como essencial
no planejamento e dispensa de cuidado a essa pessoa.

136 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


REPRESENTAÇÕES E USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
ENTRE UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DE SAÚDE

Maria Thereza Ávila Dantas Coelho1


Louyze Maria dos Santos Lopes Silva1
Karla Ingryd Ferreira Barbosa1
Carle Porcino1
Vinicius Pereira de Carvalho1
Cíntia Raquel da Silva Castro1
José Vítor Araújo Rosa Ribeiro1

INTRODUÇÃO
O uso de álcool e outras drogas está presente desde os primórdios da
humanidade. No decorrer do tempo, tem sido atribuído diferentes sentidos
para essa prática, além de terem sido modificadas suas formas e motivações,
considerando o contexto social. Isso envolve questões sociais, culturais,
jurídicas, econômicas, biológicas, dentre outras, o que revela a abrangência e
complexidade do tema(1).
Inicialmente, o uso de drogas era voltado principalmente para fins religiosos
e sua função atribuída mais recentemente é a terapêutica, na área da saúde.
Outras finalidades relacionadas à utilização de tais substâncias envolvem a
recreação, o comércio ou até mesmo a sobrevivência pessoal(2). Ainda assim,
houve no Brasil, principalmente no início do século XX, ações estatais que
vetavam o comércio de substâncias psicoativas (SPA) e, um pouco mais adiante,
intervenções eugenistas e higienistas que marginalizavam as pessoas que
faziam uso dessas substâncias. Essas intervenções resultaram em internações
compulsórias devido à patologização dessa prática e, no âmbito jurídico, na
proibição de algumas substâncias para consumo e comercialização(2).
Por conseguinte, a especificação entre as drogas classificadas como
lícitas e ilícitas difere de modo exponencial no que se refere à relação entre
aqueles que usam com os que a comercializam. Nesse aspecto, uma pessoa
que vende crack e maconha, por exemplo, não é vista do mesmo modo como
aquela que comercializa bebidas alcoólicas, pois, se por um lado o primeiro é
classificado como traficante, por outro, o comércio desenvolvido pelo segundo
é considerado como aceitável pela sociedade(3).

1
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 137


Apesar desse histórico proibicionista no Brasil, o uso das SPA continuou
presente em diversas populações e foram criadas políticas públicas,
principalmente voltadas para a área de saúde. A Política para a Atenção
Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas, elaborada pelo Ministério da
Saúde, reconhece a utilização abusiva e dependência do álcool como o maior
problema relacionado ao uso de drogas no país(4) e atua em paralelo com a
Política Nacional sobre Drogas, da Secretaria Nacional sobre Drogas. Ainda
nesse âmbito, há um tensionamento entre diferentes grupos (como associações
e instituições da área da saúde) em relação às políticas públicas, aos serviços
de tratamento e às estratégias de gestão do uso, tais como a redução de danos
e o proibicionismo, que refletem valores morais, sociais e econômicos(5).
Sobre o perfil de consumo de álcool no Brasil, um estudo realizado
nas capitais do país por um órgão do Ministério da Saúde apresenta que o
percentual de uso abusivo se eleva com o nível de escolaridade e diminui
com a idade(6). Além disso, mostra que Salvador é a capital brasileira em que
as mulheres mais fazem uso abusivo de álcool e que, entre os homens, é a
segunda capital com maior percentual de uso abusivo dessa substância.
Estudos com universitários apontam como fatores desencadeadores do
uso de psicoativos as alterações do humor (depressão e tristeza), festas e
companhias (amigos e família, principalmente), comportamentos antissociais
e problemas afetivos(7-8). No que se refere à exposição a fatores de risco,
especialmente ao estresse, maiores são as probabilidades para o consumo
de drogas diante de tais fatores, na população universitária, ainda que a
intensidade do uso possa ser baixa ou moderada(9).
Investigar o fenômeno das drogas, assim como refletir acerca de seus
signos, imagens ou símbolos, relativos às atitudes e práticas sociais, permitirá
apreender as representações sociais acerca desse objeto social multifacetado.
Dessa maneira, levando em consideração a importância do senso comum
sobre a problemática das drogas, este artigo busca responder ao seguinte
questionamento: quais são os elementos que compõem a formação das
representações sociais sobre drogas entre universitários? Toma-se como
referência a Teoria das Representações Sociais (TRS) proposta por Moscovici(10-11),
em sua vertente estrutural desenvolvida por Jean-Claude Abric(12). Considera-se
que uma representação é o resultado e o processo de uma atividade mental
pela qual uma pessoa ou grupo reconstrói a realidade com a qual é confrontado
e atribui sentidos a ela, considerando a dimensão do objeto e o contexto em
que emerge(13).
Parte-se do pressuposto de que o uso de álcool e outras drogas entre os
universitários, assim como na sociedade em geral, é bastante comum. Dessa
maneira, as diferentes óticas acerca da temática, seja na Saúde Pública ou nas

138 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Ciências Sociais, mostram-se pertinentes na discussão e problematização do
consumo de SPA entre a população universitária em cenário local. À vista disso,
compreendendo-se que o campo representacional de um determinado objeto
dar-se-á mediante as interações sociais que são construídas pelo grupo através
da objetivação e ancoragem em sua relação com o fenômeno representado(14),
objetiva-se, neste estudo, apreender as representações sociais de estudantes
do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS) da Universidade Federal da
Bahia (UFBA) sobre as drogas.

METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de abordagem qualitativa e de natureza descritiva,
realizada na UFBA, na cidade de Salvador. Para tal finalidade, a coleta dos
dados ocorreu em sala de aula, previamente combinada com docentes dos
componentes curriculares “Introdução ao Campo da Saúde” e “Oficinas de
Textos Acadêmicos e Técnicos em Saúde”, nos meses de março e abril de
2019, por meio de um questionário semiestruturado vinculado ao projeto de
pesquisa “Concepções e práticas pessoais e profissionais ligadas a processos
de saúde e doença”.
Para participar desta pesquisa, os critérios de inclusão foram: ser aluno
ingressante ou veterano do BIS, cursando os componentes curriculares
supracitados, no semestre 2019.1. Esses componentes curriculares foram
selecionados por serem obrigatórios para os estudantes do BIS e por reunirem
o maior número de discentes do curso em suas respectivas turmas. Foram
considerados como critérios de exclusão: idade inferior a 18 anos e ser
estudante de outras graduações. Inicialmente, 185 ingressantes e 155 veteranos
aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária. Aplicando os critérios de
exclusão, foram selecionados 164 ingressantes e 148 veteranos, considerados
participantes, cujos dados possibilitaram a caracterização desse grupo social.
As questões do questionário utilizadas neste estudo estão relacionadas
aos dados sociodemográficos, tais como idade, semestre no curso, gênero,
orientação sexual, com quem vive, raça/cor e renda; à temática do álcool
e outras drogas (frequência do uso); e as respostas oriundas do Teste de
Associação Livre de Palavras (TALP), ao estímulo indutor “droga”, com vistas
à apreensão das Representações Sociais. Para tanto, foi solicitado que
elencassem no TALP até cinco palavras que viessem rapidamente à mente
ao escutarem o termo “droga”; em seguida, que classificassem por ordem de
importância e justificassem a palavra considerada como mais importante(15).
A TRS, em sua vertente estrutural, foi utilizada neste estudo como referencial
teórico-metodológico por facultar o entendimento acerca do comportamento,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 139


práticas e ações de um determinado grupo social. Esse referencial possibilita
explicar aspectos relevantes da realidade, definir a identidade grupal, orientar
práticas sociais e justificar ações e tomadas de posição(16).
Os dados extraídos dos questionários foram tabulados com auxílio do
editor de planilhas Microsoft Excel. Posteriormente, as respostas às questões
relativas aos dados sociodemográficos e à frequência do uso de álcool e outras
drogas foram processadas pelo software SPSS versão 24.
Os dados obtidos por intermédio da aplicação do TALP foram organizados
com o auxílio do processador de texto Microsoft Word e processados por meio
do software Ensemble de Programmes Permettant l’Analyse des Évocations (EVOC)
na versão 2005, que gerou o quadro de quatro casas(17). A árvore máxima
de similitude e as duas nuvens de palavras (ingressantes e veteranos) foram
organizadas pelo software Iramuteq, que permitiu visualizar em forma gráfica
como os elementos que organizam o campo representacional se articulam
entre si(18). O quadro de quatro casas é composto por elementos centrais e
periféricos dispostos do seguinte modo: elementos do núcleo central (quadrante
superior esquerdo) são estáveis ou mais permanentes na representação social,
sendo estes de natureza normativa e funcional; os elementos da 1ª periferia
(quadrante superior direito), elementos da zona de contraste (quadrante inferior
esquerdo) e elementos da 2ª periferia (quadrante inferior direito) integram o
sistema periférico e são responsáveis pela atualização e contextualização da
representação. Os aspetos funcionais estão relacionados à natureza do objeto
representado e os normativos aos valores e normas sociais pertencentes ao
meio social do grupo de pertença(16).
Para preservar a identificação das/dos participantes em suas respostas
sobre a justificativa da palavra mais importante associada ao termo droga no
TALP, foi utilizada a letra E (para substituir a palavra estudante) seguida do
número correspondente ao questionário, a idade, se é ingressante ou veterano
e o gênero autodeclarado. Os acadêmicos considerados como ingressantes
são aqueles que estão no primeiro semestre e os considerados veteranos
são os que estão cursando um semestre a partir do segundo (inclusive este).
Foi utilizado “fi” para identificar a frequência das respostas dos discentes
ingressantes e “fv” para frequência das respostas dos veteranos.
Em relação aos aspectos éticos, este projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da UFBA, sob parecer
de nº 2.349.850, conforme dispõem as Resoluções 466/2012 e 510/2016(19-20).
Todos os participantes da pesquisa leram, concordaram e assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.

140 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


RESULTADOS
Participaram deste estudo 312 estudantes do BIS da UFBA, sendo 164
ingressantes e 148 veteranos. A maioria dos calouros se autodeclarou mulher
cisgênera – 123 (75%), ou seja, possui uma identificação com o gênero assignado
ao nascer e assim se reconhece(21); heterossexual – 138 (84,1%) e negra – 128
(78%); vive com familiares – 116 (70,7%); e possui renda de dois a sete salários-
mínimos – 106 (64,6%), concentrada na categoria de 2 a 4 salários mínimos
– 65 (39,6%). Entre os veteranos, os resultados são semelhantes, uma vez
que a maioria também se identificou como mulher cisgênera – 107 (72,3%),
heterossexual – 118 (79,7%) e negra – 112 (75,7%); vive com familiares – 100
(67,6%); e possui renda de 2 a 7 salários-mínimos – 89 (60,1%), sendo que a
maior parte dos discentes está concentrada na categoria de 2 a 4 salários-
mínimos – 52 (35,1%).
Sobre o uso das SPA, tanto ingressantes quanto veteranos consomem mais
o álcool – 101 (61,5%) e 100 (67,6%), respectivamente -, seguido da maconha
– 17 (10,3%) e 19 (12,8%) e tabaco – 13 (7,9%) e 14 (9,5%). Entre veteranos foi
relatado o uso de crack – 2 (1,4%) e de cocaína – 3 (2,1%), nas frequências
“semanal” ou “eventual”. Também foi referido o uso experimental da cocaína
por cinco estudantes ingressantes (3%). O uso de ritalina também foi referido
entre os estudantes, entre sete ingressantes (4,2%) e sete veteranos (4,8%).
A maior parte dos estudantes, ingressantes e veteranos, faz o uso de SPA, de
modo geral, em pouca intensidade e de forma eventual.
Após o processamento das informações no software EVOC, verificou-se que
o termo “droga” produziu, nos 312 estudantes participantes do estudo, 1393
evocações, com uma média de 4,46 palavras por pessoa, sendo 416 diferentes
entre si. A constituição dos valores para a composição do núcleo central e
de elementos periféricos foi extraída do relatório Rangmot emitido por esse
software: frequência mínima = 21, frequência intermediária = 30 e Ordem Média
das Evocações (OME) = 2,7. Ilustra-se, a seguir, a organização dos elementos
oriundos das evocações através do quadro de quatro casas (Quadro 1).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 141


Quadro 1. Configuração estrutural da representação sobre “droga”: elementos centrais
e periféricos, entre estudantes universitários(as), Salvador, Bahia, Brasil, 2019 (n=312).
Elementos do núcleo central Elementos da 1ª periferia
Frequência > 30 – OME < 2,7 Frequência > 30 - OME > 2,7
Elemento Freq. OME Elemento Freq. OME
Vício 177 2,006 Álcool 48 2,750
Remédios 95 2,642 Maconha 38 2,711
Fuga 33 2,515 Doença 36 3,222
Elementos da zona de contraste Elementos da 2ª periferia
Frequência < 30 – OME < 2,7 Frequência < 30 - OME > 2,7
Elemento Freq. OME Elemento Freq. OME
Depressão 22 2,636 Morte 26 3,231
Cocaína 25 2,880
Crack 25 2,800
Fonte: autores.

A árvore máxima de similitude acerca da representação da droga pelos


estudantes (n=312) foi organizada pelo software Iramuteq (Figura 1). Para sua
conformação foi estabelecido o mesmo parâmetro do quadro de quatro casas,
ou seja, a frequência mínima de 21 evocações. Os termos que conformaram
a respectiva árvore remetem àqueles dispostos no quadro de quatro casas
(Quadro 1).

Figura 1: Árvore máxima de similitude gerada no Iramuteq acerca da representação


sobre droga por estudantes universitários, Salvador, Bahia, Brasil, 2019 (n=312).

Fonte: autores.

142 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


O núcleo central (Quadro 1) é constituído a partir dos termos “vício”
(f=177, OME=2,006), “remédios” (f=95, OME=2,642) e “fuga” (f=33, OME=2,515),
os quais apresentaram alta frequência e baixa OME em virtude de terem
sido mais prontamente evocados por um maior número de participantes. O
elemento “vício” foi o mais evocado e classificado como mais importante por 75
estudantes. Foi possível observar nas justificativas pertencentes aos três termos
do núcleo central estreita relação entre a droga e as ideias de consequência
e causa/motivação para o uso:

[...] as drogas sempre acabam levando quem as consomem


a uma espécie de vício. (E303, 19 anos, veterano, homem
cisgênero).

[...] escolhi remédios, pois são drogas largamente consumidas.


(E3, 20 anos, ingressante, homem cisgênero).

[...] na minha concepção, as pessoas usam, em sua maioria,


para tentarem fugir de uma realidade e experimentar boas
sensações. (E118, 18 anos, ingressante, mulher cisgênera).

O termo “remédios” foi o segundo mais evocado pelos estudantes e aparece


com duas principais justificativas: remédio como uma SPA propriamente dita,
uma substância que causa efeitos diversos no corpo do indivíduo, e remédio
como medicamento, numa perspectiva terapêutica. Além disso, alguns
estudantes também fazem uma ligação com drogaria, local em que se vende
remédios e droga. Também há uma forte relação evidenciada na árvore de
similitude (Figura 1) entre “remédios” e “vício” e “remédios” e “álcool”, bem como
uma mais sutil entre “remédios” e os termos “crack” e “maconha”, conforme
ilustram as justificativas abaixo:

[...] todo remédio é uma droga. (E117, 18 anos, ingressante,


mulher cisgênera).

Todo remédio ou medicamento a certo modo é uma droga [...]


(E264, 26 anos, veterano, homem cisgênero).

A droga como um remédio, quando bem usado, pode e é


necessário para salvar vidas. (E163, 32 anos, ingressante,
homem cisgênero).

São formas mais utilizadas em casos de doença, para que,


assim, auxilie no tratamento. (E226, 20 anos, veterana,
travesti).

Minha primeira associação é drogaria. (E43, 18 anos,


ingressante, mulher cisgênera).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 143


No grupo de palavras que compõem os elementos da 1ª periferia (Quadro
1) encontram-se os termos “álcool” (f=48, OME=2,750), “maconha” (f=38,
OME=2,711) e “doença” (f=36, OME=3,222). A árvore máxima de similitude
(Figura 1) também representa essa ideia, ao revelar a conexão estabelecida
entre esses termos e alguns elementos do núcleo central. Esses termos
complementam em função de sua sensibilidade ao contexto imediato,
fornecendo sustentação aos elementos do núcleo central. No que se refere
ao termo “doença”, é possível observar na árvore máxima de similitude
(Figura 1) as coocorrências que estabelece com termos de conotação negativa,
como “morte”, “depressão” e “vício”. Em suas justificativas, alguns estudantes
apontaram o elemento “doença” como o mais importante, ao considerarem o
uso de droga, de forma abusiva ou sem especificar a intensidade, como uma
doença a ser tratada. Desse modo, percebe-se também a estruturação do
estereótipo de que alguém que faz uso de SPA pode ser vista e/ou considerada
como uma pessoa doente e que demanda tratamento, como ilustram os
excertos a seguir:

O uso excessivo de drogas, é uma dependência, automaticamente


é uma doença. (E57, 22 anos, ingressante, homem cisgênero).

Considero, antes de tudo, uma doença que precisa ser tratada


como problema da saúde pública. (E253, 19 anos, veterano,
homem cisgênero).

Uma pessoa que usa droga de alguma forma está doente.


(E275, 33 anos, veterana, mulher cisgênera).

Na zona de contraste (Quadro 1), a palavra “depressão” (f=22, OME=2,636)


apresentou a menor frequência dos elementos que integram o quadro de
quatro casas. Quando evocada, ocupou as primeiras posições em função
da baixa OME, muito próxima aos termos que compõem o núcleo central. A
relação entre droga e depressão é justificada da seguinte forma:

Porque é um problema que faz muitos recorrerem a drogas e


entorpecentes (E35, 20 anos, ingressante, mulher cisgênera).

A 2ª periferia é composta pelos termos “morte” (f=26, OME=3,231), “cocaína”


(f=25, OME=2,880) e “crack” (f=25, OME=2,800), que foram evocados por um
número menor de sujeitos, ocupando as últimas posições, embora estejam
mais acessíveis ao contexto social imediato. A palavra “morte” foi considerada a
palavra mais importante por cinco estudantes e “crack”, por oito estudantes. Já
“cocaína”, nenhum dos estudantes considerou como a palavra mais importante.
Algumas justificativas a seguir reforçam a importância desses elementos no
campo representacional em análise:

144 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


A droga pode levar à morte, perder o bem maior: a vida. (E12,
19 anos, ingressante, mulher cisgênera).

O uso excessivo pode [...] desencadear em morte. (E27, 18 anos,


ingressante, homem cisgênero).

O crack é uma droga de grande poder destrutivo (E2, 21 anos,


ingressante, homem cisgênero).

Acredito que seja uma das drogas [crack] que causam maior
dependência e danos, não apenas na saúde biológica, também
na saúde psicológica e social (E193, 19 anos, veterana, mulher
cisgênera).

As duas nuvens de palavras (Figura 2) organizadas pelo software Iramuteq


a partir dos termos evocados por ingressantes (à esquerda) e veteranos (à
direita) para o estímulo “droga”, considerando a frequência simples, realçaram
e ilustraram imageticamente as representações sociais de modo condensado
em nível concreto e objetivo. A disposição dos termos é feita de modo aleatório
e aqueles que possuem as maiores frequências são destacados pelo tamanho
da fonte, que aponta para sua importância no corpus em análise.

Figura 2. Nuvens de palavras geradas no Iramuteq acerca da representação sobre


droga por estudantes ingressantes à esquerda (n=164) e estudantes veteranos à direita
(n=148), Salvador, Bahia, Brasil, 2019.

Fonte: autores.

As nuvens de palavras são semelhantes quanto aos termos com maior


frequência para ingressantes e veteranos, que são “vício” (fi=92; fv=89),
“remédios” (fi=51; fv=51) e “álcool” (fi=26, fv=22), respectivamente. Entre os
ingressantes, é possível observar mais termos com conotação negativa do

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 145


que entre os veteranos, uma vez que, além de evocarem os elementos “morte”
(fi=14; fv=12), “depressão” (fi=10; fv=12), “problemas” (fi=7; fv=6) e “tristeza”
(fi=11; fv=6) (comum nas duas nuvens), também mencionaram “transtorno”
(fi=10) e “ruim” (fi=7). Entre os veteranos, observou-se uma concepção mais
ampla, sendo que, além de termos com conotação negativa, também aparece a
perspectiva terapêutica evidenciada pelo termo “cura” (fv=6), de bem-estar por
meio do termo “prazer” (fv=6) e a biomédica pelo elemento “farmácia” (fv=8).

DISCUSSÃO
O álcool foi apontado como a substância mais utilizada entre os estudantes
universitários do presente estudo, assim como em outras pesquisas(22-23). No
entanto, este estudo diverge quanto à continuidade da sequência das SPA
mais utilizadas, uma vez que neste, a sequência é continuada pela maconha
e tabaco respectivamente, enquanto que na literatura é o inverso.
Em outro estudo(24), a ritalina foi considerada um remédio cujo uso
é destinado, farmacologicamente, para aprimorar capacidades cognitivas.
Considera-se, entretanto, que a inobservância da prescrição no que se refere
ao uso pode potencializar o risco de consumo abusivo. Ainda assim, é frisado
que os riscos são raros e que o uso deve ser avaliado com o objetivo de gerar
melhoria na qualidade de vida do usuário.
Além disso, é importante destacar que o termo “vício”, muitas vezes,
foi apresentado com o mesmo sentido de dependência, tipificando o uso
constante de álcool e outras drogas como potencialmente danoso. Isso nos
permite inferir a relação entre “vício” e “fuga”, vide a gama de fatores motores,
seja no ambiente familiar ou acadêmico, para comportamentos de evasão por
meio do consumo de SPA. O uso de SPA mostra-se presente por motivações
como “válvula de escape”, alívio de pressões e do sofrimento, diminuição do
estresse, pertencimento e relações sociais(25), as quais podem ser intensificadas
pela entrada no ambiente universitário, marcado pela mudança de hábitos e
rotina, afastamento da família, desafios desconhecidos e outras implicações
causadas na vida por essa nova realidade. Essa “válvula de escape” também
é interpretada como fuga.
A droga quando associada ao termo “fuga” foi representada pelos
estudantes como um método utilizado para esquivo, alívio e/ou diminuição de
tensões relacionadas ao ambiente familiar e/ou acadêmico em detrimento do
regozijo e do bem-estar autodeclarado. Nessa sequência, um estudo apontou
que o ser humano, de modo geral, possui um histórico de busca por métodos
que o aproximasse do prazer ou o afastasse do sofrimento(26). Seguindo a
lógica encontrada nos resultados suscitados a partir da representação da

146 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


palavra droga pelos universitários, é possível que a fuga à pressão do ambiente
universitário e aos anseios causados pela inserção em tal contexto motive
a busca por SPA e, posteriormente, o uso descontrolado de outras drogas
consideradas ilícitas, ocasionando o vício(27).
A presença dos elementos “álcool” e “maconha” enaltece um padrão
encontrado na literatura sobre o uso destas substâncias. Pesquisas feitas com
estudantes indianos, caribenhos e latino-americanos da área da saúde indicam
que álcool e maconha são as drogas preferidas pelos universitários para o
consumo(28-29), assim como no presente estudo.
Os resultados suscitados no presente estudo relativos à doença são
semelhantes aos achados de uma pesquisa sobre a representação de doença
pelos estudantes do BIS, uma vez que ambos apresentam uma concepção da
doença principalmente associada à ideia de desequilíbrio e como algo a ser
tratado, que precisa erradicar(30). Esse é um aspecto que pode reforçar a relação
entre droga e doença, apresentada pelos estudantes.
Embora o termo “ansiedade” (f=8) não tenha apresentado uma frequência
mínima para compor o quadro de quatro casas, na literatura o termo é
recorrente em estudos sobre álcool e outras drogas entre universitários. Além
disso, é um problema emocional que pode se agravar e levar a um diagnóstico,
sendo, portanto, considerada uma doença, assim como o termo “depressão”,
presente na zona de contraste (Quadro 1). Ademais, foi verificado em um
estudo(31) que o nível de ansiedade está correlacionado com o consumo de
álcool e suas consequências, uma vez que, ao aumentar o nível de ansiedade,
também se eleva o consumo de álcool e suas consequências ou vice-versa.
Em outro estudo sobre ansiedade, depressão e uso de SPA entre jovens
universitários de uma faculdade especializada em saúde, concluiu-se que a
maioria dos estudantes que apresentaram sintomas de ansiedade fazia o uso
de alguma substância psicoativa, lícita ou não(32).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível inferir, portanto, que a representação da droga entre os
universitários do BIS remete ao uso de substâncias químicas, sejam elas
medicinais ou não, com enorme potencial para ocasionar dependência, como
meio de fuga às adversidades do meio e como fator agravante para depressão
e outras doenças. A representação centrada no termo “vício” demonstra a
importância da redução de danos causados ou intensificados pelo uso de
drogas para evitar a dependência e outros problemas de saúde que foram
evidenciados pelo sistema periférico do campo representacional em análise,
tais como doenças, depressão e até mesmo a morte.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 147


Os remédios enquanto a substância mais evocada pelos estudantes e
suas justificativas apontaram para um sentido de medicalização e aceitação
social, uma vez que podem promover a cura, auxiliar no tratamento, entre
outras finalidades. Além disso, o álcool como a substância mais utilizada e
uma das mais evocadas reflete nas implicações do uso e na estruturação da
representação social de droga pelos universitários.
Entre os estudantes ingressos, há uma presença maior de aspectos
negativos associados à droga do que entre os veteranos. Além disso, percebeu-
se uma outra diferença entre os veteranos, por apresentarem uma perspectiva
de cura e de bem-estar, evidenciando uma visão mais ampliada da droga. Isso
só foi possível a partir da análise da nuvem de palavras, o que demonstra a
importância de utilizar diferentes instrumentos de análise em um estudo de
representações sociais. Ademais, é importante considerar as representações
de outros grupos para além dos estudantes do BIS, com o intuito de conhecer
e orientar possíveis questionamentos relacionados ao que se pensa sobre
as drogas nas sociedades, bem como direcionar para os principais desafios
envolvidos na problemática.

148 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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150 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O USO DO PRESERVATIVO
POR ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE

Felipe Fontes Costa Pinto1


Maria Thereza Ávila Dantas Coelho1
José Vítor Araújo Rosa Ribeiro1
Carle Porcino1
Vinicius Pereira de Carvalho1
Louyze Maria dos Santos Lopes Silva1
Karla Ingryd Ferreira Barbosa1

INTRODUÇÃO
A adoção de métodos de proteção sexual tem correlação com a percepção
de pessoas sobre a sexualidade. Os sujeitos que compreendem positivamente
o comportamento humano face à libido tanto apresentam mais conhecimentos
em relação às formas de prevenção quanto tendem a se proteger mais
em suas práticas sexuais. Por conseguinte, as pessoas que apresentam
emoções desagradáveis em relação às condutas sexuais demonstram menor
conhecimento sobre o uso de métodos de proteção(1).
O uso do preservativo entre os jovens é mais frequente do que em outros
segmentos da população, porém esse público tem negligenciado quanto à
utilização da camisinha nos últimos tempos(2). Especificamente em relação
ao público de estudantes universitários, os jovens adultos, ao ingressarem
em uma universidade, ganham gradativamente uma maior liberdade e
independência, o que os deixa mais expostos e vulneráveis a comportamentos
de risco(3). Isso porque a universidade é um ambiente de experiências, inclusive
sexuais(2). Soma-se ainda a isso o conhecimento incipiente sobre as Infecções
Sexualmente Transmissíveis (IST) e o desconhecimento do próprio ou alheio
estado sorológico, pelos universitários.
Nesse contexto, as extensões universitárias ‘AIDS: Educar para desmitificar’
e ‘Formação em Saúde: diálogos e olhares sobre as travestilidades’, da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), visam ampliar conhecimentos e reflexões
dos sujeitos sobre questões voltadas à sexualidade, com um estímulo à adoção
de práticas de cuidado em saúde. Sustentadas na articulação entre pesquisa,
ensino e extensão, de modo interdisciplinar, essas extensões universitárias
possibilitam uma ação transformadora, por meio de um processo educativo
e dialógico, do trânsito de conhecimento e da interação entre a universidade

1
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 151


e a sociedade. A extensão universitária abrange, dessa forma, as dimensões
ética, formadora, acadêmica, didático-pedagógica, estratégica e acolhedora(4).
A Teoria das Representações Sociais (TRS) foi fundada por Serge Moscovici
a partir da defesa de sua tese que culminou com a publicação do livro
Psychanalyse: son Image et son Public, em 1961(5). As representações sociais são
compreendidas como “[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada
e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma
realidade comum a um conjunto social”(6). Isso significa que elas são formadas
no senso comum a partir da interação entre as pessoas, abrangendo aspectos
simbólicos, práticos, individuais e coletivos(5). Por essa razão, as representações
podem variar de acordo com o sujeito e com o contexto social.
Assim, as representações não ocorrem aleatoriamente em uma
sociedade, sendo elas atravessadas por diversas dimensões que não se
restringem ao caráter cognitivo(7). Há, portanto, um conhecimento coletivo
pré-lógico relacionado com as representações, o nexus, que predita o seu
desencadeamento. As três dimensões das representações sociais são: os
conhecimentos que as pessoas têm sobre um objeto (informação), a opinião
do sujeito (opinião) e o posicionamento do sujeito (atitude)(5,8). Em seu estudo
sobre as representações sociais, Abric(9) pontua que elas possuem um papel
essencial na dinâmica das relações e nas práticas, pois respondem a quatro
funções: função de saber, que permite entender a realidade; função identitária,
que confere, define e determina a identidade grupal; função de orientação, que
guia comportamentos e práticas; e função justificadora, que permite justificar
a posteriori as tomadas de posição e comportamentos do grupo.
O estudo de Galinkin, Seidl, Barbosa e Magalhães(10) sobre as representações
sociais da AIDS e as percepções de risco em práticas sexuais, realizado com
201 estudantes da Universidade de Brasília, revelou que esse grupo, ao pensar
na AIDS, evoca prontamente as palavras sexo, morte e doença. Os termos
camisinha, prevenção, preconceito e medo também foram destacados por
esses universitários. Segundo os autores, esses resultados sugerem que tais
termos constituem um provável núcleo organizador das representações sociais
dos estudantes universitários. Ainda nesse estudo, a camisinha surge como
uma forma de prevenção, significando segurança, confiança e uma maneira
de se evitar um contágio.
Um outro estudo sobre as representações sociais do preservativo
feminino entre 94 alunas do ensino médio da rede pública, de um município
baiano, revelou que a falta de conhecimento, ou conhecimento incipiente, de
parte dessas estudantes sobre o preservativo feminino resultou em sua não
utilização(11). Isso indica que não conhecer satisfatoriamente um método de
proteção resulta em sua não utilização.
Nessa direção, o objetivo deste estudo é investigar as representações
sociais de estudantes da área da saúde sobre o uso de preservativo. As
perguntas que o orientaram foram: o que os estudantes de saúde pensam

152 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


sobre o preservativo e outros métodos de proteção? Qual a frequência de uso
do preservativo entre eles? A realização desta investigação é justificada tendo
em mente que as representações sociais estão ligadas ao comportamento
dos sujeitos(5,12). Conhecer o que pensam as/os estudantes da área de saúde
sobre o uso de preservativo é importante para compreender as informações,
a tomada de posição e o autocuidado desse grupo em relação a essa medida
de proteção nas práticas sexuais.

METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de natureza descritiva e exploratória, de abordagem
qualitativa (13). ancorada na TRS, privilegiando a abordagem estrutural
desenvolvida por Jean-Claude Abric(9). Para esse autor, as representações
sociais são organizadas em torno de um núcleo central que possui as seguintes
funções: gerar e atribuir significados aos objetos e organizar a natureza dos
laços entre os elementos do campo representacional sustentado pelas zonas
periféricas.
Um questionário semiestruturado foi aplicado virtualmente através da
Plataforma Moodle/UFBA nos encontros de duas atividades de extensão
mencionadas acima e intituladas “AIDS: Educar para desmitificar” e “Formação
em Saúde: diálogos e olhares sobre as travestilidades”. Essas atividades foram
escolhidas por contarem com a participação de estudantes da área da saúde
e por possibilitarem o contato virtual com essas pessoas, sem a exposição
ao Sars-Cov-2, já que este trabalho foi desenvolvido durante o isolamento
social consequente da pandemia da COVID-19. Esse instrumento de produção
de dados foi aplicado entre agosto e novembro de 2020. Participaram deste
estudo 39 pessoas, sendo 29 participantes da extensão sobre a AIDS e 10, da
extensão sobre as travestilidades, com idade maior ou igual a 18 anos. Sujeitos
com idade inferior a 18 anos foram excluídos do estudo.
O questionário continha perguntas relacionadas a dados sociodemográficos
(idade, raça/cor, renda, religião, gênero, orientação sexual, curso e/ou profissão)
e à frequência de uso do preservativo, seguidas do Teste de Associação Livre
de Palavras (TALP) com o termo indutor: “uso do preservativo”. Foi solicitado
as/aos participantes que escrevessem até cinco palavras e/ou frases curtas que
viessem à mente a partir da leitura do enunciado; em seguida, que indicassem,
dentre os termos evocados, aquele considerado o mais importante e justificasse
sua importância.
O TALP é um instrumento utilizado amplamente no campo de estudos das
Representações Sociais (RS), cujo propósito é apreender a realidade de um
grupo a partir da composição semântica, considerando o que é discutido no/
pelo grupo, com base nas palavras evocadas prontamente pelo indivíduo(14).
Por meio dessa técnica projetiva, as/os pesquisadores em RS identificam as

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 153


dimensões latentes a partir dos elementos que conformam a rede associativa
das evocações, estímulos, criações e reações(15).
As respostas extraídas a partir dos dados sociodemográficos e da
frequência de uso do preservativo foram organizadas com o auxílio do editor
de planilhas Microsoft Excel®, com vista à análise descritiva, objetivando
caracterizar o grupo de pertença. O corpus oriundo do TALP, após agrupamento
semântico, foi processado tanto pelo software EVOC®, que gerou o quadro de
quatro casas, com base na frequência e na Ordem Média de Evocação (OME),
quanto pelo Iramuteq®, que produziu a árvore máxima de similitude(16). O
quadro de quatro casas agrupa as informações evocadas e as organiza em
um plano cartesiano composto por quatro quadrantes. No quadrante superior
esquerdo apresenta-se o provável núcleo central da representação, cujos
termos tiveram as maiores frequências e foram mais prontamente evocados;
no quadrante superior direito encontra-se a primeira periferia, indicando
as evocações com alta frequência e OME; no quadrante inferior esquerdo
encontra-se a zona de contraste, contendo elementos com baixa frequência e
OME; por último, a segunda periferia, localizada no quadrante inferior direito,
apresenta evocações com baixa frequência e com alta OME(17). A árvore máxima
de similitude permite verificar a coocorrência e grau de conexão entre os
termos, por meio da análise frequencial(16).
Este trabalha integra um projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da UFBA, sob o parecer nº
2.349.850, obedecendo ao disposto na resolução nº 466/2012, do Conselho
Nacional de Saúde (CNS)(18). A participação dos estudantes se deu de forma
voluntária, após a leitura e concordância do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre as/os 39 estudantes participantes do estudo, 30 eram mulheres
cisgêneras (76,93%); 27, heterossexuais (69,23%); 16 e 8, pardas e pretas
respectivamente (61,54%); 24 tinham entre 18 a 24 anos (61,54%); 27 não
exerciam atividade remunerada (69,23%); e 27 possuíam renda familiar entre 1
e 4 salários mínimos (69,24%). Dentre as pessoas que declararam que exerciam
atividade remunerada, o valor de até R$1000,00 por mês foi o mais frequente,
o que representou 15,39% (6 pessoas) do total de participantes. Ainda em
relação aos participantes do estudo, 24 declararam que possuem alguma
religião (61,53%). Quanto ao curso de graduação, 9 (23,08%) dos participantes
são estudantes do BI em Saúde e 29 (74,36%) pertencem a outras graduações
em saúde. Notou-se também a presença de uma integrante (2,56%) já graduada
e atuante no campo da saúde. Esses dados podem ser visualizados no Quadro
1 abaixo.

154 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Quadro 1: Dados sociodemográficos dos participantes dos encontros das extensões
sobre a AIDS e as Travestilidades, que responderam ao termo indutor “uso do
preservativo” (N=39), Salvador, Bahia, Brasil, 2020.
Idade Quantidade Percentual
18 a 24 anos 24 61,54%
25 a 39 anos 11 28,21%
40 a 59 anos 3 7,69%
NR 1 2,56%
Total 39 100,00%
Exerce atividade remunerada Quantidade Percentual
Sim 12 30,77%
Não 27 69,23%
Total 39 100,00%
Renda média Quantidade Percentual
Até R$ 1000,00 6 15,39%
De R$ 1001,00 a R$ 2000,00 1 2,56%
De R$2001,00 a R$ 3000,00 1 2,56%
Não exerce atividade 27 69,23%
NR 4 10,26%
Total 39 100,00%
Renda Familiar Quantidade Percentual
Até um salário mínimo 4 10,26%
Mais de 1 até 2 salários mínimos 11 28,21%
Mais de 2 até 4 salários mínimos 16 41,03%
Mais de 4 até 6 salários mínimos 3 7,69%
Mais de 6 até 8 salários mínimos 1 2,56%
Mais de 8 até 10 salários mínimos 1 2,56%
Acima de 10 salários mínimos 3 7,69%
Total 39 100,00%
Raça/cor Quantidade Percentual
Amarela 2 5,13%
Branca 13 33,33%
Parda 16 41,03%
Preta 8 20,51%
Total 39 100,00%
Religião Quantidade Percentual
Católica 13 33,33%
Candomblé 1 2,56%
Umbanda 1 2,56%
Espírita 5 12,82%
Protestante 2 5,13%
Sem religião 15 38,47%
Outra 2 5,13%
Total 39 100,00%
Gênero Quantidade Percentual
Homem cisgênero 8 20,51%
Mulher cisgênera 30 76,93%
Outro 1 2,56%
Total 39 100,00%
Orientação Sexual Quantidade Percentual
Heterossexual 27 69,23%
Homossexual 3 7,69%
Bissexual 9 23,08%
Total 39 100,00%
Fonte: produzido pelos autores

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 155


As respostas de 31 das/os participantes (79,49%) sugerem uma vida sexual
ativa, já que elas/es referiram utilizar, ou não, o preservativo em suas relações
sexuais (Quadro 2). Nesse grupo, 13 estudantes fazem uso do preservativo
em todas as relações sexuais (33,34%) e 8 o fazem na maioria dessas relações
(20,51%). A pouca ou nenhuma utilização do preservativo foi referida por 10
estudantes (25,64%).

Quadro 2: Uso do preservativo entre participantes dos encontros das extensões


sobre a AIDS e as Travestilidades, que responderam ao termo indutor “uso do
preservativo” (N=39), Salvador, Bahia, Brasil, 2020.
Em Relação ao uso do preservativo Quantidade Percentual
Utiliza em todas as relações sexuais 13 33,34%
Utiliza na maioria das relações sexuais 8 20,51%
Pouco utiliza nas relações sexuais 8 20,51%
Nunca utiliza nas relações sexuais 2 5,13%
Não tem prática sexual 8 20,51%
Total 39 100,00%
Fonte: Produzido pelos autores

Dentre as 31 pessoas que declararam ter vida sexual ativa, 10 utilizam


pouco, ou nunca, o preservativo em suas práticas sexuais (Quadro 2). Com
isso, 25,64% dos sexualmente ativos não costumam utilizar o preservativo.
Esse percentual mostrou-se menor em comparação ao encontrado em uma
investigação que ocorreu em uma universidade pública do norte de Minas
Gerais com 902 estudantes, no qual 63,1% daqueles que tinham vida sexual
ativa não utilizaram o preservativo no último mês(3). O resultado desse último
estudo diverge, entretanto, dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar
de 2015, realizada com 102.301 estudantes, segundo os quais um entre três
adolescentes não utilizaram o preservativo em sua última relação sexual(19).
O resultado de nossa pesquisa parece convergir com um estudo brasileiro
realizado em uma universidade federal do extremo sul do Brasil, no qual os
resultados apontaram que 27,5% (1215) dos estudantes não fizeram uso
do preservativo em sua última relação(2). Embora as perguntas do nosso
questionário não tratem especificamente do uso do preservativo na última
relação, o percentual dos 21 participantes que utilizam o preservativo em
todas, ou na maioria, das relações (53,85%) sugere que o uso desse método de
proteção é predominante nesse grupo, assim como parece ser no da pesquisa
anterior.
Um estudo epidemiológico feito em escolas públicas de Petrolina com
1.169 discentes de 12 a 17 anos revelou que o uso do preservativo é menos
frequente em adolescentes com maior número de parceiros sexuais e que
iniciaram a vida sexual mais precocemente(20). A iniciação precoce na vida sexual
entre jovens e a propensão a ter uma vida sexual mais ativa mostram-se como

156 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


fatores negativos ao uso do preservativo. Nesse sentido, residir sozinho, ou com
apenas um dos genitores, permite uma maior liberdade sexual. A baixa renda
e, para as mulheres, uma menor escolaridade da mãe [ensino fundamental e
médio] também se mostram preditivos para o não uso do preservativo, tendo
em vista que essas pessoas podem não ter conhecimento suficiente em relação
aos métodos de proteção(19).
A utilização do preservativo está relacionada com a liberdade sexual, a
menor idade do início da vida sexual, o número de parceiros sexuais(1,19-21),
ser homem, solteiro, jovem, ter parceiros(as) casuais, morar com amigos, em
pensionato ou em casa de estudante e com a utilização do preservativo na
primeira relação(2). Destaca-se que o uso do preservativo diminui conforme a
idade e a precocidade do início da vida sexual.
A adesão quanto ao uso do preservativo é decorrente de influências
comportamentais e psicossociais do sujeito, além da disponibilidade e do
acesso desse produto(2). Isso sugere que o uso do preservativo está ligado à
naturalização da sexualidade. Desse modo, como os participantes de nossa
investigação integraram grupos de discussão em projetos de extensão que
abordaram a sexualidade, infere-se que o interesse pelo tema e os trabalhos
de educação em saúde desenvolvidos nessas extensões tenham relação com
esse indicativo de uso mais frequente do preservativo.
Para o termo indutor “uso de preservativo” foram evocadas 188 palavras,
entre as quais 22 eram diferentes. A frequência mínima definida foi de 8, sendo
excluídas palavras com frequência menor do que esta. A frequência média
calculada dos termos restantes foi de 13 e a ordem média de evocação (OME)
foi 3,0. Com base nesses parâmetros foi constituído o quadro de quatro casas,
evidenciado no Quadro 3 abaixo.

Quadro 3: Quadro de quatro casas referente à expressão indutora ‘uso do preservativo’:


elementos centrais e periféricos das representações sociais de participantes das
atividades de extensão ‘Aids: educar para desmitificar’ e ‘Formação em saúde:
diálogos e olhares sobre as travestilidades’ (N=39), Salvador, Bahia, Brasil, 2020.
NÚCLEO CENTRAL PRIMEIRA PERIFERIA
Frequência>= 8 Rang< 3,0 Frequência>= 8 Rang> = 3,0
Proteção 24 2,125 Importante 17 3,059
Prevenção 15 2,733 Evitar gravidez 14 3,143
Camisinha 13 1,923 Infecções Sexualmente 14 3,357
Autocuidado 13 2,692 Transmissíveis
ZONA DE CONTRASTE SEGUNDA PERIFERIA
Frequência< 8 Rang< 3,0 Frequência< 8 Rang> = 3,0
Desconfortável 8 2,875 Saúde 12 3,250
Relação sexual 9 3,556
Educação 8 3,750
Fonte: Produzido pelos autores

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 157


A representação social sobre o “uso do preservativo” para as/os
participantes do estudo comporta em seu provável núcleo central (quadrante
superior esquerdo) as seguintes palavras: “proteção” (f=24/OME=2,125),
“prevenção” (f=15/OME=2,733), “camisinha” (f=13/OME=1,923) e “autocuidado”
(f=13/OME=2,692), por apresentarem alta frequência e terem sido as mais
prontamente evocadas(9,17).
Assim, a partir dos termos que compõem o respectivo quadrante e
considerando a hierarquia e saliência, infere-se que os termos “proteção”,
“prevenção” e “autocuidado”, evocados pelo grupo demonstram forte conotação
simbólica frente o uso do preservativo como objeto de representação.
Nesse quadrante, encontra-se, também, o termo “camisinha”, empregado
provavelmente como sinônimo de preservativo. Vale destacar que os elementos
aqui alocados no núcleo central estão em sintonia com os demais quadrantes,
dada a homogeneidade e consensualidade em relação ao objeto representado.
Nesse aspecto, na medida em que a maior parte do grupo converge em termos
de consenso para uma representação, há maior aproximação entre as/os
participantes e fortalecimento dos laços sociais(22).
As expressões dispostas na primeira periferia (quadrante superior direito),
quais sejam “importante” (f=17/OME=3,059), “evitar gravidez” (f=14/OME=3,143)
e “Infecções Sexualmente Transmissíveis” (f=14/OME=3,357) apontam para
a funcionalidade e/ou a obtenção de resultados em relação ao uso do
preservativo. Os elementos que compõem esse quadrante complementam e
conferem proteção ao núcleo central, pois é flexível e permite a integração de
experiências e histórias individuais(9,17). Dessa forma, a questão do autocuidado
proporcionado pelo uso do preservativo, nomeado pelas/os participantes
como camisinha, foi considerado importante, sendo o seu objetivo a proteção
e prevenção da gravidez indesejada e das IST.
A zona de contraste (quadrante inferior esquerdo) é composta pela
evocação “desconfortável” (f=8/OME=2,875) e aponta para a existência de um
elemento periférico que expressa um aspecto avaliativo no que se refere ao
uso do preservativo. Nesse sentido, o preservativo é considerado como algo
desconfortável, o que pode colaborar para o seu não uso eventual ou em todas
as relações sexuais.
Na segunda periferia (quadrante inferior direito) estão os elementos que
tiveram baixa frequência e foram evocados mais tardiamente, sendo eles menos
importantes para o grupo(23). Esse quadrante é composto pelas evocações
“saúde” (f=12/OME=3,250), “relação sexual” (f=9/OME=3,556) e “educação”
(f=8/OME=3,750). Esses elementos se mostram consensuais com aqueles que
compõem o provável núcleo central e com os demais termos dispostos no
Quadro 3. Desse modo, infere-se que, em função desses termos apresentarem

158 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


as menores frequências e altas OME, eles não foram considerados tão
importantes para o grupo no que se refere ao uso do preservativo, pois nesse
quadrante se encontram as ideias pouco prestigiadas pelos sujeitos(17). Aqui,
parece que o conceito de saúde é atravessado pela ausência de enfermidade,
discutido na literatura como um dos conceitos de saúde mais difundidos no
senso comum(24), o que revela a importância do uso do preservativo para a
saúde, pois, se utilizado de maneira correta, poderá prevenir as IST. Ao mesmo
tempo, em seu sentido mais amplo, parece contraditório que a saúde seja
percebida como menos importante para uma parte das/os estudantes. De
acordo com a abordagem estrutural, o sistema periférico tolera as contradições,
ao permitir a integração de experiências individuais(9). À vista disso, é possível
inferir ainda que o aparecimento do termo saúde na segunda periferia possa
remeter à seguinte situação: o estado de saúde do sujeito não pode ser
preditivo ao uso/não uso do preservativo.
Nesse seguimento, depreende-se que o uso do preservativo não foi
considerado como um aspecto importante para a relação sexual, já que o ato
propriamente dito, nesse sentido, não é o fator desencadeador desse uso e
sim a preocupação que os sujeitos têm em relação aos riscos que as práticas
sexuais envolvem, como por exemplo a gravidez e as IST citadas pelas/os
participantes. Ademais, tendo em vista o grupo ser constituído por estudantes
da área de saúde, é curioso que a educação não seja destacada como elemento
importante no que se refere ao uso de preservativo. Tal aspecto pode remeter
à percepção de que, embora a educação tenha um papel importante na
prevenção de doenças, a mudança de comportamento na direção da adoção
do uso de preservativo envolve aspectos culturais e subjetivos mais profundos,
nem sempre transformados por ela.
As palavras de maior frequência no campo representacional foram:
“proteção” (f=24/OME=2,125), “importante” (f=17/OME=3,059), e “prevenção”
(f=15/OME=2,733), respectivamente. Enfatizar tais evocações significa ter em
vista que a importância do uso do preservativo para o grupo deve perpassar
pelos propósitos de proteção e de prevenção. Assim, a não proteção em
práticas sexuais se mostra relacionada à percepção sobre os riscos advindos
delas.
Um estudo peruano que analisou as condutas de 773 jovens universitários
sexualmente ativos entre 16 e 30 anos, em Cuzco, descobriu que 46,85%
dos estudantes não tinham realizado o teste para HIV, pois acreditavam
que estariam seguros, por pensarem que seus parceiros sexuais não iriam
transmitir-lhes o vírus(21). Isso sugere que o uso do preservativo só é efetivado
quando o sujeito reconhece os riscos em práticas sexuais e sente a necessidade
de se proteger e de se prevenir, tendo o preservativo como referência enquanto

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 159


objeto que possibilita isso. Em nossa pesquisa, o termo que apresentou a menor
OME foi justamente “camisinha” (f=13/OME=1,923), talvez porque primeiro
o grupo pensou nesse objeto propriamente dito e, depois, no propósito do
preservativo de prevenção e proteção.
A Figura 1 abaixo mostra a representação gráfica da árvore de similitude,
na qual é possível visualizar as coocorrências e as conexões estabelecidas
entre os termos(16). Na respectiva árvore, a palavra “proteção” ocupa posição
de centralidade, pois estabelece o maior número de conexões no campo
representacional em análise. A conexão mais forte entre os termos é
evidenciada pela espessura da linha que liga uma palavra a outra, como pode
ser observado por meio das linhas que ligam os termos “proteção” a “saúde”,
“prevenção”, “autocuidado” e a “evitar gravidez”.

Figura 1: Árvore máxima de similitude à expressão indutora “uso do preservativo”, de


participantes das atividades de extensão “Aids: educar para desmitificar” e “Formação em
saúde: diálogos e olhares sobre as travestilidades” (N=39), Salvador, Bahia, Brasil, 2020.

Fonte: Produzido pelos autores

A proteção proporcionada pelo uso do preservativo mostrou-se relacionada


com o autocuidado e com a saúde. A relação entre proteção e autocuidado
foi coerente com o núcleo central, mas a relação entre saúde e proteção não

160 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


coincidiu com o quadro de quatro casas (Quadro 3). Isso porque, no quadro,
a saúde parece ter sido pouco valorizada pelo grupo em relação ao uso do
preservativo, mas na árvore de similitude a evocação “saúde” apresentou
forte coocorrência com o elemento proteção. Assim, a “proteção” frente a
uma possível gravidez indesejada e contra as IST se apresenta como fator
motivacional para o uso do preservativo, já que há uma interconexão entre
esses dois termos com “proteção”, o que pode explicar também a correlação
entre as palavras “prevenção” e “proteção”.
Outrossim, as/os participantes também relacionaram a prevenção com a
educação e destacaram a importância do uso da camisinha. Esses dados se
coadunam com o de outro estudo(10), já que a representação social da AIDS
por 201 estudantes da Universidade de Brasília indicou que a camisinha foi
percebida como um mecanismo de prevenção, sendo algo que protege. Esses
mesmos participantes atribuíram ao uso desse objeto sensações de segurança,
confiança e a consideraram como um modo de se evitar o contágio [de IST],
além de seu uso significar para eles um ato de responsabilidade(10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As representações sociais sobre o uso do preservativo entre estudantes da
área de saúde que participaram de duas extensões universitárias, desenvolvidas
no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC/
UFBA), que se predispuseram a participar desta investigação, giraram em torno
das ideias de proteção da saúde e de prevenção de doenças. Por isso, a questão
do autocuidado foi destacada como elemento importante para esse grupo. O
uso do preservativo foi representado como algo importante para evitar o risco
de adoecimento. As preocupações das pessoas em relação ao risco de contrair
uma IST e de gerar uma gravidez inesperada apresentaram-se como fatores
motivacionais. Inferiu-se que, para esse grupo, o estado de saúde não deve
ser um fator condicionante para o uso, ou não uso, do preservativo.
Ao refletir sobre os dados deste estudo, inferiu-se também que o motivo de
uso do preservativo é o inverso do motivo do não uso. Ou seja, a utilização do
preservativo perpassa pela busca de proteção e prevenção. A partir do momento
em que o sujeito se sente seguro e protegido, quando, no seu imaginário, ela(e)
não está correndo riscos, o não uso do preservativo torna-se uma alternativa
viável. Se uma pessoa deseja ter uma relação sexual e reconhece os seus riscos,
o uso do preservativo é considerado. Essa contribuição ajuda a explicar o
porquê de o uso do preservativo diminuir em pessoas com um menor número
de parceiros sexuais, em mulheres e em pessoas de maior idade: a sensação
equivocada de segurança. Isso nos leva a crer que, para aumentar a frequência

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 161


de uso do preservativo, deve-se estimular as ações que visam despertar nos
sujeitos a percepção dos riscos em práticas sexuais desprotegidas.
Sugere-se, dessa forma, o desenvolvimento de outros estudos que
explorem justamente as representações sociais das pessoas sobre tais riscos,
bem como mapear ações de educação que abordem questões relacionadas
ao uso do preservativo com vistas a perceber a eficiência dessas ações
visando ampliar o campo de atuação de intervenções em saúde. Ademais,
as limitações deste estudo perpassaram pela coleta de dados, que se deu de
forma virtual por conta do isolamento social proveniente da pandemia da
COVID-19, tendo em vista as dificuldades de participação das pessoas e da
atuação dos pesquisadores envolvidos no manejo da pesquisa por um meio
não convencional.

162 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 163


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164 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


A AMAMENTAÇÃO E O ALEITAMENTO NAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MULHERES
MIGRANTES E PUÉRPERAS PRIMÍPARAS
AMAMENTAÇÃO ENTRE MULHERES MIGRANTES DA
MESMA FAMÍLIA E DE TRÊS GERAÇÕES: UM ESTUDO DE
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Michelle Araújo Moreira1


Marizete Argolo Teixeira2
José Carlos de Araújo Junior1
Patrícia Figueiredo Marques3
Mônica Aparecida Gomes1
Polliana Santos Ribeiro1
Priscilla dos Santos Nascimento1

INTRODUÇÃO
A amamentação está associada a diversos fatores, dentre eles estão os
biológicos, psicossociais, socioculturais, geográficos e principalmente familiares,
permeados por mitos e crenças, consolidando ou não a continuidade e duração
da prática de aleitar(1).
O aleitamento materno propicia ainda inúmeros benefícios para o binômio
mãe-filho como proteção do bebê contra doenças, fortalecimento de vínculo,
desenvolvimento motor e sensorial. Sabe-se que, as experiências maternas
no processo de aleitar podem ser positivas ou negativas, especialmente para
primíparas, momento em que estão vivenciando um novo tipo de cuidado(2).
Sendo assim, é de extrema importância a abordagem e aproximação
com o aleitamento materno ainda durante o pré-natal, reforçadas no parto
e principalmente no puerpério, fase de grandes inseguranças e incertezas,
influenciadas ainda por concepções e representações sociais pregressas e/ou
atuais transmitidas pelas gerações e pelo contexto local(3).
Entende-se que, as mudanças nas normas sociais e nos padrões de
maternidade e amamentação ao longo do tempo e do espaço definiram
condutas semelhantes e diferentes entre as gerações, o que resultou na
continuidade de ações durante o aleitar ou no rompimento do modo de cuidar
dos filhos das gerações mais novas (4).
Dessa forma, as nutrizes acabam por introjetar valores, tabus, crenças,
atitudes e normas, através da experiência com mulheres de lugares e gerações

1
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Ilhéus, BA, Brasil.
2
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Jequié, BA, Brasil.
3
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (URFB). Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 167


distintas, podendo para tanto manter a herança familiar através de suas mães
e avós como também incorporar novos padrões sociais de acordo com o
seu meio relacional e com o contexto sócio histórico em que se encontram
situadas(5).
Desse modo, pesquisar questões geracionais e migratórias atreladas à
amamentação oportuniza analisar as experiências e trocas intergeracionais
ancorada nos aspectos sociais, culturais, geográficos e históricos, valorizando
a subjetividade de cada mulher(6).
Nesse sentido, as diferentes gerações podem experimentar múltiplas
representações, novos sentidos e novas experiências que podem ser
compartilhadas ou não durante o processo da amamentação, em virtude das
posições intra, intergeracional e do fenômeno migratório em si.
Portanto, o estudo justifica-se pela escassez de publicações nacionais
e internacionais centradas nas representações sociais sobre amamentação
entre mulheres da mesma família e de três gerações, especialmente quando
vivenciam ou vivenciaram o processo migratório. Tal afirmativa centra-se
em um levantamento bibliográfico feito nas bases de dados online SciELO e
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), momento em que se detectou 5065 artigos,
utilizando-se os descritores: aleitamento materno/amamentação. Contudo, a
maioria dos estudos abordavam os aspectos biológicos, epidemiológicos e os
benefícios para mãe e bebê, as causas do desmame precoce, a importância
da informação no pré-natal e as dificuldades enfrentadas durante a prática
de aleitar. No que se refere aos descritores migração, geração e a associação
com a amamentação não foram encontrados estudos, revelando a necessidade
de novas pesquisas.
Sendo assim, a relevância social e cientifica ancora-se na necessidade de
compreensão da prática da amamentação em diferentes gerações da mesma
família, sobretudo quando vivenciam o processo migratório, contribuindo
na assistência dos profissionais de saúde, rede de apoio e para as próprias
mulheres.
Desse modo, tem-se a seguinte questão de pesquisa: Quais as
representações sociais de mulheres migrantes da mesma família e de três
gerações sobre amamentação? Diante disto, definiu-se como objetivo deste
estudo: analisar as representações sociais de mulheres migrantes da mesma
família e de diferentes gerações sobre amamentação.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo referente a um recorte de uma pesquisa
de pós-doutorado, fundamentado na Teoria das Representações Sociais, por
compreender que este referencial permite a percepção das formas em que os

168 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


sujeitos partilham o conhecimento e transformam ideias em ações, captando
fenômenos mutáveis construído pelos atores sociais ativos dentro da sua
realidade cotidiana. A representação é alicerçada em um conjunto de crenças,
opiniões e informações a propósito de um determinado objeto social(7).
As participantes foram 39 mulheres, ou seja, 13 tríades. A seleção das
depoentes foi realizada na modalidade Snowball (Bola de Neve), através
de alguns critérios de inclusão: Ter filha e neta (1ª geração) /mãe e filha (2ª
geração)/mãe e avó materna ou paterna (3ª geração) que amamentaram ou
amamentam, independentemente do tempo de amamentação e da quantidade
de filhas(os); Residir no município de Ilhéus ou em cidades do entorno; Ter
migrado internamente no país (de uma região para outra, de um estado para
outro, de um município para outro) ou ter migrado na modalidade internacional
na condição voluntária (vindo de outro país); Possuir laço de consanguinidade
e/ou afetividade com as mulheres da mesma família e de gerações diferentes,
a exemplo de mãe adotiva, avó adotiva ou sogra); Ter convivência (viver em
proximidade) com as mulheres da mesma família e de diferentes gerações
(no mesmo espaço geográfico ou em lugares diferentes); Ter situação de
migração em pelo menos uma geração de mulheres da mesma família.
Consequentemente, os critérios de exclusão foram: ser um refugiado; não
ter capacidade civil plena; não ter amamentado; ter migrado na modalidade
de domicílio (de um domicílio para outro); ter uma convivência esporádica
(conviver irregularmente, ou seja, um encontro por mês ou por ano) entre as
mulheres da mesma família.
O estudo foi realizado no município de Ilhéus-Ba e cidades do entorno. A
escolha por esta cidade caracterizou-se por ser local constante de migração
para as mulheres de outros países, regiões, estados e municípios juntamente
com seus familiares, incluindo as/os mães e/ou filhas/os, que passaram ou
passam pela experiência da amamentação. Ademais, as famílias migrantes
costumam possuir várias gerações coabitando no mesmo espaço físico, o que
facilitou o acesso e a realização da pesquisa.
A coleta dos dados foi realizada no domicílio entre fevereiro e abril de
2016, mediante consentimento assinado das participantes, em dia e horário
determinados pelas depoentes. Utilizou-se a entrevista semiestruturada, com
as seguintes questões, para cada geração: Conte-me sobre sua experiência de
sair de uma região para outra/ estado para outro/ município para outro/ país para
outro. Fale-me sobre sua experiência de amamentar. Ao mudar de uma região
para outra/ estado para outro/município para outro/ país para outro, a senhora
percebeu se existia algo idêntico ou parecido ao que aprendeu ou fazia sobre
amamentação no local que morava antes? Ao mudar de uma região para outra/
estado para outro/ município para outro/ país para outro, a senhora aprendeu

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 169


algo diferente (ou novo) sobre amamentação? A senhora acredita que ao mudar de
uma região para outra/ estado para outro/município para outro /país para outro, a
mulher sofra algum tipo de influência? Se sim, poderia falar sobre estas influências?
Fale-me sobre sua relação com sua filha/nora quando esta amamentou seu(sua)
neto(a) e sobre sua relação com sua neta quando esta passou a amamentar
seu(sua) bisneta(a). Fale-me o que aprendeu com sua mãe sobre amamentação
e que manteve quando sua filha/ nora e neta passaram amamentar. Fale-me o
que representou a influência da sua mãe na sua experiência de amamentar. Sua
filha/nora e neta modificaram sua forma de perceber a amamentação quando
estas passaram a amamentar seus(suas) netos(as) e bisnetos(os). Fale-me sobre
as trocas relacionadas à amamentação que aconteceram entre as gerações de sua
família (trocas entre avó, filha/nora, neta). Você acredita que ocorram trocas entre
gerações mais antigas e mais novas da sua família relacionadas à experiência de
amamentar? Quais?.
Salienta-se que, os depoimentos foram gravados em fitas de áudio e,
posteriormente, transcritos e identificados por codinomes escolhidos pelas
próprias mulheres da pesquisa. Após a etapa de transcrição e leitura exaustiva
dos depoimentos, procedeu-se à construção de categorias e subcategorias
ancoradas na perspectiva da análise de conteúdo.
Para a análise dos depoimentos, realizou-se a constituição do corpus
formado por todas as entrevistas e textos, leitura flutuante e atentiva dos
dados, codificação e recortes com a elaboração de categorias simbólicas e
subcategorias, composição das unidades de análise por tema, categorização
das unidades temáticas e descrição das categorias.
Convém destacar que, os aspectos éticos permearam toda a elaboração
e desenvolvimento desta pesquisa. Neste sentido, encaminhou-se o projeto
para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa, pautado nos princípios éticos
da pesquisa que envolve seres humanos, definidos e regulamentados na
Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional de Saúde(8).
Após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o nº de parecer
1.459.882, iniciou-se o contato com as participantes, etapa que envolveu a
identificação a estas mulheres, relatando o objeto de estudo, os objetivos, a
relevância da pesquisa e a apresentação do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), enfocando a participação voluntária, o sigilo e o anonimato.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO


As trinta e nove participantes do estudo caracterizam-se por serem
mulheres migrantes de três gerações diferentes e da mesma família. A grande

170 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


maioria tinha ensino médio completo, era solteira, autodeclarava-se pela cor
não negra e era adepta do catolicismo.
De posse do perfil, procedeu-se a análise das entrevistas que permitiu a
construção de 2 categorias, destacadas a seguir.

1. Simbologias sobre amamentação diante do processo migratório e


intergeracional: o cuidado de si e do outro
As simbologias atreladas a amamentação, amplamente discutidas na
literatura, demonstram que as construções geracionais ancoram-se em valores
e concepções associados à saúde, senso de responsabilidade, afeto, abnegação,
dentre outros e, portanto, podem ser entendidos tanto como aspectos positivos
quanto como aspectos negativos(9).
Nesse sentido, percebe-se que as mulheres de diferentes gerações e
da mesma família mantem as representações sociais sobre a amamentação
como uma prática que demanda obrigatoriedade, sacrifício e doação materna,
conforme exemplificado pelos seguintes depoimentos:

Minha experiência de amamentar no começo foi difícil [...]


e não tinha a facilidade que tem hoje [...] então eu tinha
que aprender mesmo, eu tinha que dar porque achava que
era importante o neném mamar [...] era bom para saúde!
Com minha mãe eu aprendi sobre isso, que era importante!
Então, eu tive um pouco de dificuldade, mas consegui! (1ª
geração).

Eu pensei em desistir [...], mas eu suportava a dor [...] Cecilia


mamando e a lágrima escorrendo [...] eu sabia que era
importante para ela (2ª geração).

[...] foi uma fase de grandes descobertas e muito


aprendizado [...] uma experiência muito prazerosa, no início
muito dolorosa, mas amamentar me ensinou muito sobre
o ser mãe, como as mães fazem sacrifícios pelo amor aos
seus filhos (3ª geração).

Para além destas significações, o conceito de aleitamento materno


representa, para mulheres e mães, concepções de identidade, corpo e
gênero que são reflexo da cultura e do local em que estão inseridas(10). Assim,
compreende-se que a influência intergeracional exercida dentro de uma mesma
família pode ser modificada ou mantida quando associada aos processos
de aculturação nos territórios geográficos, propiciados pelo fenômeno da
migração(11).
Nesse sentido, os resultados demonstram que a troca entre as gerações
durante a prática de amamentar se estabeleceu através de ensinamentos,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 171


auxílio e demonstração de apoio, refletidos na continuidade da amamentação,
com base nas experiências particulares vivenciadas por cada uma das
mulheres(12), como evidenciado a seguir:

[...] minha mãe me ensinou que amamentação é um bem


muito forte que podemos dar aos nossos filhos e, por
isso, hoje os meus estão todos bem, com saúde e vida (1ª
geração).

Mantive as mesmas coisas que aprendi com minha mãe,


por que ela falava que amamentação é cuidar do filho e
amamentar ele (2ª geração).

[...] isso já vem desde sempre na nossa família, porque é


importante amamentar, quais são os benefícios que seu
filho pode ter com a amamentação, então isso veio de
geração a geração, minha bisa passou para minha avó,
minha avó passou para minha mãe e minha mãe passou
para mim (3ª geração).

Nota-se, a partir dos discursos, que a amamentação é um forma de cuidado


que, neste caso, tanto pode ser direcionada para a(s) criança(s), quanto para a
lactante. O cuidado do outro, aqui representado pela(o) filha(o), é o propósito
principal do incentivo, influência e das trocas entre as gerações, sendo mantido
pela necessidade de uma fonte de nutrição adequada para a criança, bem como
recurso disponível para se evitar surgimento de intercorrências que afetem
a saúde da mesma(13), evidenciado pelo processo de ensino e aprendizagem
como nas falas a seguir:

[...] minha mãe me ensinou as coisas simples, que era bom


amamentar, que era um ótimo alimento [...] (1ª geração).

Que dar mama à criança era muito bom para o crescimento


e para os dentes, e na saúde da criança. Ao invés de dar
comida, dava mama, que a comida dá dor de barriga. Eu
continue fazendo e passei para minha filha (2ª geração).

[...] eu aprendi o jeito de colocar a criança para amamentar,


onde não sufocaria a criança apertando nariz sobre o peito
[...] porque elas me instruíram que era bom para criança a
amamentação, para formação dos dentes, para quando a
criança estivesse doente, que era nutritivo [...] (3ª geração).

O cuidado do outro e de si permanecem entrelaçados em um contexto


único entre as gerações. Uma das maiores preocupações da espécie
humana foi transmitir conhecimento adquirido de uma geração para a
outra sucessivamente, mesmo antes de termos formas de se registrar este
conhecimento. Assim acontece com os fenômenos no seio familiar(14).

172 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


É possível perceber no discurso das depoentes a relação entre as gerações
e os cuidados referendados ao corpo da lactante, o cuidar de si, com maior
especificidade a mama e a alimentação para a produção adequada do leite:

[...] bota no peito, senta, dá mamar, bebe um copo de água


que faz bem [...] (1ª geração).

[...] minha mãe sempre apoiou muito que eu amamentasse,


me deu muitas dicas agora foram dicas do senso comum,
aquelas coisas do senso comum tipo, tem que comer muito
cuscuz, essas coisas do senso comum de você ter que comer
e beber isso e aquilo, porque isso dá leite [...] (2ª geração).

[...] o cuidado com a mama, de estar sempre com o sutiã,


que elas sempre me incentivaram beber bastante liquido
por que isso traz aumento na quantidade de leite [...] (3ª
geração).

Cuidar da mama reflete o olhar entre estas mulheres para a saúde do


corpo, a preocupação com a produção do leite busca reduzir os danos a fim de
manter o aleitamento materno. Tradicionalmente, as trocas ocorrem entre as
mulheres de diferentes gerações e da mesma família, assim a geração migrante
mais experiente aprende, recicla e emite informações para as mais novas neste
cuidar de si:

[...] aprendi que não deveria estar fumando, aprendi a parte


de higiene que eu não sabia, que deveria pegar um soro
fisiológico para limpar toda a parte da mama. Aprendi muita
coisa que hoje eu já passo para minha filha [...] (1ª geração).

[...] a troca foi mais nesse nível de informações daquilo


que pode ou que não pode, que a mulher tem que beber
bastante líquido, comer bem, comer bastante e ter cuidado
com as mamas para não ferir tanto (2ª geração).

As dicas que eu recebi delas foram: para eu tomar sol no


peito durante a manhã, para puxar o bico do peito para
fora para quando a criança começasse a mamar não ter
dificuldade de ferir o peito. Tomar bastante leite, comer
fubá de milho, cuscuz, mingau [...] (3ª geração).

As informações passadas, conforme aparecem nos fragmentos, refletem


um contexto de objetividade focado em ações simples, mas com a preocupação
de manter a amamentação ativa e colher os benefícios. Inclui também um
olhar sistêmico do corpo refletido na hidratação, nutrição, cuidados com a
pele, atenção para o estilo de vida, higiene e condições que facilitem a lactação
a fim de prevenir a lesão e as complicações.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 173


Por fim, entende-se que a prática da amamentação enquanto fenômeno
familiar e fisiologicamente feminino engaja as gerações, especialmente quando
vivenciam processos de migração. A proteção da avó/mãe para com a filha/
mãe e neta/mãe migrante tem como ferramenta a tradição, a informação e o
cuidado, a fim de garantir o sobrevir.

2. Principais dificuldades experienciadas por mulheres migrantes


durante a amamentação
A amamentação é uma etapa da vida da mulher que pode ser vivenciada,
caso ela deseje, ou não, haja vista que esta é uma experiência permeada de
facilidades e/ou dificuldades, a depender das representações que este ato tem
para ela. No universo simbólico das mulheres, fatores biológicos, psicológicos,
econômicos, educacionais, sociais e espirituais revestem o imaginário individual
e coletivo das pessoas direcionando condutas e comportamentos relacionados
a determinados fenômenos sociais, dentre eles a amamentação.
As mulheres deste estudo, advindas de três gerações de uma mesma
família, destacam o processo de amamentação, como vividos de uma forma
ambígua, haja vista que ao tempo em que proporciona prazer, também é
permeado por dificuldades oriundas, em especial, pelos fatores biológicos
e socioculturais. As falas foram transcritas de maneira equivalente para
comparação apropriada entre as gerações.
A primeira dificuldade levantada foi referente aos problemas mamários,
a mama ingurgitada, dor e fissura mamilar causam desgastes físicos e
psicológicos para as mulheres migrantes. Entretanto, a maioria delas enfrentou
o sofrimento em detrimento da saúde do filho(a):

Doía muita como te falei! [...] (1ª geração).

[...] os peitos inflamavam, ficava muito doendo...E o bico do


peito dela (filha) ficou todo inflamado (2ª geração).

[...] no início muito dolorosa, mas, amamentar me ensinou


muito sobre o ser mãe, como as mães fazem sacrifícios pelo
amor aos seus filhos (3ª geração).

É sabido que o posicionamento correto da criança na mama, favorece


a pega correta, ajudando a diminuir a dor, facilitando a retirada do leite,
não provocando a fissura mamilar, favorecendo esvaziamento da mama e
produção de leite adequado. Desta forma, encontrar uma posição correta para
amamentar é essencial, a fim de prevenir as intercorrências mamárias. Apesar
do trauma nos mamilos ser a principal queixa das mães ao amamentar, ele

174 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


não foi considerado como o principal motivo para o desmame, pois, mesmo
sendo considerado uma intercorrência, ainda é visto como natural(15).
Entretanto, a prevenção destas intercorrências, pode ser realizada, a partir
de cuidados, como o Projeto Consulta de Enfermagem no Pré-Natal e Pós-
Parto, no qual foi descoberto os problemas mamários relevantes, subsidiando
os profissionais para atuarem na prevenção de complicações mamárias ao
utilizarem a educação em saúde no período de pós-parto(16).
Outro grupo de dificuldades destacadas pelas mulheres migrantes das
três gerações diz respeito às crenças atribuídas à qualidade do leite materno
e descritas abaixo:

[...] eu tinha pouco leite e eu não queria dar outro leite [...]
eu não tinha experiência de outro leite, então eu dei para
outras pessoas dar de mamar para ela [...] (1ª geração).

o leite secou [...] Amamentei somente por mais ou menos


uns 15 a 20 dias mais ou menos (2ª geração).

[...] minha avó indicava que podia dar chá, que ele sentia
sede, que era para eu dar água (3ª geração).

Estas crenças limitantes atribuídas ao processo de amamentação são


transmitidas de geração a geração, trazendo no seu bojo como verdade
absoluta. O pouco leite, o leite secou, o leite não sustenta, atrelado à crença
de que o choro da criança é consequência de fome. Estas representações têm
permeado o coletivo individual e grupal das mulheres que amamentam e de
seus familiares, amigos e vizinhos.
O mito do leite fraco é uma das queixas mais comuns e se relaciona com
choro da criança e insegurança da mãe sobre sua produção de leite. Está
relacionado ainda a forma como as famílias lidam com os desafios iniciais dos
bebês e as falsas crenças para explicar o oferecimento de fórmulas lácteas(17).
Um fato destacado pelas mulheres migrantes que nos chama atenção,
em sua maioria da terceira geração, é sobre a dificuldade devido à falta de
experiência, falta de apoio, o não gostar de amamentar, não ter orientação
e não ter paciência, o que foi revestido numa obrigatoriedade em defesa da
criança, que necessita ser alimentada como demonstram os depoimentos a
seguir nos recortes de falas:

Eu não gosto muito de amamentar não, mas como é


importante para o bebê eu amamento, mas não sou muito
fã de estar amamentando não [...] (3ª geração).

Muita paciência que você tem que ter, porque pelo fato
de você sentir muita dor amamentando [...] (3ª geração).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 175


Eu não aprendi nada que minha avó e minha mãe não falava
nada pra mim, o povo da rua que falava [...] (3ª geração).

[...] tive muita dificuldade para amamentar por conta da falta


de orientação que eu não tive. Tive filho muito cedo, e não
tive uma orientação [...]. Eu não tive orientação da minha
mãe para amamentação! (2ª geração).

A dedicação de tempo, a disponibilidade para amamentar, por vezes, pode


ser vista como desestimulante, já que algumas relatam necessitar de paciência
para realizar o aleitamento. A mulher ampliou seu papel na sociedade, e a
concepção de maternidade vem tomando novo significado com as dificuldades
da mãe em conciliar o atendimento às demandas do filho e aos seus próprios
interesses(18).
A amamentação como prática esbarra nas experiências subjetivas de
cada mulher, o que é frequentemente desconsiderado. Para o sucesso da
amamentação faz-se necessário entender as subjetividades, experiências
compartilhadas entre mulheres-mães, os discursos e as biopolíticas sobre os
corpos das mulheres que amamentam(19).
O sucesso da amamentação está também muito relacionado à rede
de apoio das lactantes, especialmente diante da migração, pois contribui
diretamente na assistência às necessidades culturais, físicas, emocionais,
sociais, emocionais e intelectuais(20).
Com o retorno ao trabalho as mulheres migrantes relatam que o sentimento
de preocupação é ressaltado, fica exposto que a licença-maternidade pode
influenciar a duração do aleitamento materno:

Você vai para o trabalho e você não tinha direito de ir para


casa amamentar seu filho, então a família tinha que dar
esse suporte e os colegas de trabalho ficavam criticando,
[...] a legislação trabalhista demorou muito dar esse direito
a mulher [...] então todos os aspectos são uma luta grande
das mulheres, inclusive e vinha junto a amamentação (2ª
geração).

Não foi uma experiência muito tranquila pois não me


acostumei a amamentar, estava preocupada com o
emprego, com a saúde de minha filha, achei que ela estava
ficando com fome por isso só amamentei por 4 meses [...]
(2ª geração).

Uma pessoa que mora em capital, não tem tanto tempo para
você se locomover do trabalho para casa, para poder “dar
mama”, entendeu? Mas interior, acho que é mais tranquilo,
a pessoa se dedica mais a amamentação[...] (3ª geração).

176 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


O aleitamento materno entre as mulheres trabalhadoras é complexo
e permeado por muitas escolhas, é necessário, muitas vezes, mais do que
benefícios trabalhistas para a continuidade da amamentação(21).
A vivência da amamentação possui diversos aspectos que mostram que
as mulheres migrantes cada vez mais estão enfrentando dificuldades nesta
prática, em especial devido à falta de apoio, da família, da sociedade e da
equipe de saúde. Tal fato, torna-se difícil para a mulher iniciar e manter a
amamentação, especialmente quando há deslocamentos geográficos e culturais
durante a prática.
Tanto na primeira, quanto na segunda e terceira geração foram
encontradas dificuldades no processo de amamentação diante da migração.
A maioria ocasionando o desmame precoce ou provocando stress, dor mamilar,
incerteza na qualidade do leite materno, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As evidências demonstraram que, para as mulheres migrantes da mesma
família e de diferentes gerações, a amamentação constitui-se como uma prática
social, cultural e intergeracional construída a partir da obrigatoriedade, doação
e sacrifício. Nota-se que, as dificuldades na amamentação das mulheres
migrantes associadas à vulnerabilidade do processo migratório permitem
que este processo seja continuado em benefício da(o) filha(o).
Ressalta-se que, para as mulheres migrantes das gerações mais velhas, o
processo migratório influenciou afetivamente menos em relação às gerações
mais novas, devido ao contexto histórico e social sobre a amamentação na
época em que viveram, algo diferente das atuais.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 177


REFERÊNCIAS

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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 179


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS DE
UMA MATERNIDADE PÚBLICA ACERCA DO ALEITAMENTO
MATERNO

Andreia Silva Rodrigues1


Jéssica de Almeida Farias2
Loren Caroline da Cruz Maciel2
Cíntia Andrade Silverio da Silva3
Ana Rita Barreiro Chaves4
Simone Santos Souza3
Cleuma Sueli Santos Suto5
Carle Porcino3

INTRODUÇÃO
O aleitamento materno é a maneira mais saudável de alimentar e nutrir o
neonato. É um ato fisiológico que a mãe oferta ao filho, oferecendo benefícios
não somente pelo período de lactância, mas por toda a vida. É um processo
complexo, singular e um ato que, mesmo isoladamente, tem a capacidade de
reduzir a ocorrência de doenças infecciosas diminuindo a morbimortalidade
infantil ao ofertar a nutrição de alta qualidade para criança contribuindo para
seu crescimento e desenvolvimento, atuando também na saúde da mulher ao
reduzir o risco de determinados tipos de câncer e anemias, e quando realizado
com sucesso, proporciona satisfação para a maioria das mulheres(1).
Nesse contexto, existe a especificidade da mulher que amamenta pela
primeira, a puérpera primípara, a qual demanda ser orientada quanto o
processo de amamentação com mais detalhamento. Os profissionais de
saúde têm papel fundamental nesse processo, podendo informar e envolver
essas mulheres apontando as vantagens e desvantagens da amamentação,
esclarecendo os benefícios para mãe e para a criança, para que a partir dessas
orientações, a mulher possa se empoderar nesse contexto.
Vale salientar que, segundo as recomendações do Ministério da Saúde
(MS) do Brasil(2) o aleitamento materno exclusivo se dá por seis meses e
complementado até os dois anos ou mais, podendo acarretar em prejuízos à

1
Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Salvador, BA, Brasil.
2
Centro Universitário Estácio da Bahia. Salvador, BA, Brasil.
3
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.
4
Hospital da Sagrada Família. Salvador, BA, Brasil.
5
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) - Campus VII. Senhor do Bonfim, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 181


saúde da criança se iniciada a alimentação com outro tipo de alimento antes
dos seis meses. Essas recomendações encaixam-se na Lei 11.770, publicada
em 9 de setembro 2008, mediante concessão de incentivo fiscal, estimulando
as empresas a ampliarem a licença maternidade das trabalhadoras para seis
meses(3).
Os índices de aleitamento materno sofreram incremento no Brasil,
baseado em dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil
(ENANI) do Ministério da Saúde. Dentre as 14.505 crianças menores de cinco
anos avaliadas no período compreendido entre fevereiro de 2019 e março
de 2020, 53% do total das crianças do estudo, permanecem sendo nutridas
através de aleitamento materno no primeiro ano de vida. Considerando as
crianças com faixa etária entre zero e seis meses o índice de amamentação
exclusiva encontrado foi de 45,7% e em relação às menores de quatro meses,
o índice foi de 60%(4).
Para o estabelecimento e manutenção do aleitamento materno a mulher
e sua família têm de estar informados sobre os benefícios da amamentação e
das dificuldades que podem se apresentar nesse caminho que ela vai percorrer
na maternagem, que envolve não somente o processo fisiológico de ser mãe.
Ressalta ainda, a importância do afeto na relação mãe-filho no desenvolvimento
do bebê e a na participação da mãe em propiciar um clima emocional favorável
ao crescimento da criança (2).
Desse modo, para que a amamentação tenha sucesso o apoio e motivação
por parte da equipe e entre pares se fazem necessários para que a mulher
desenvolva a autoconfiança e passe a incorporar essa prática na vida cotidiana.
Nesse contexto, estão imbricadas as representações sociais que segundo Sá(5)
constituem o conhecimento a partir das construções de valores e vivências dos
indivíduos em comunidade. Assim, ao escolher vivenciar essa experiência, é
importante que a mulher se sinta preparada para apreender e a ressignificar
conceitos culturais e sociais essenciais o desenvolvimento da autonomia e para
o enfrentamento de barreiras. A esse respeito, em determinadas situações,
pode-se considerar que as representações sociais podem orientar as práticas
caso os sujeitos disponham de algum grau de autonomia no desempenho de
tarefas complexas(6). Como é caso, do aleitamento materno por puérperas
primíparas.
Nesse âmbito, faz-se necessário o esclarecimento de que a amamentação
é uma jornada a ser apoiada pela família, aprendida pela mãe e ensinada não
só pelos profissionais da área de saúde, mas também pelo contexto social
como um todo(7).
Nessa perspectiva, pontua-se a importância do atendimento perinatal e
como é fundamental esta atenção para identificação e diagnóstico de possíveis

182 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


dúvidas, questionamentos e inseguranças dessa mulher e para oferta de apoio
e aconselhamento sobre os benefícios do aleitamento materno. Assim sendo,
o objetivo desse estudo foi: conhecer as representações sociais de puérperas
primíparas acerca do aleitamento materno.

METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa,
fundamentada na Teoria das Representações Sociais (TRS). O estudo de
abordagem qualitativa é pertinente a esta pesquisa pelo fato dela tomar
como material principal a fala cotidiana, aprendida a partir do discurso das
informantes, que é capaz de revelar valores, símbolos e representações,
permitindo a captação e a valorização das subjetividades(8).
As representações sociais expressam o senso comum criado dentro
das comunicações sociais, o qual é pautado pelos mitos e crenças em uma
sociedade tradicional. Estas representações servem de parâmetro para uma
análise de grupos utilizados para pesquisa de aspectos sociais e as pesquisas
de caráter empírico não geram resultados replicáveis ou generalizáveis, pelo
fato de estarem condicionados a um perfil estabelecido dentro do aspecto
que será analisado(5).
O campo específico desta pesquisa foi uma maternidade pública, situada na
cidade de Salvador, Bahia. Fundada em março de 1959, pelo então governador
Antônio Balbino, a maternidade recebeu o nome da então primeira dama e
está localizada na Baixa de Quintas.
Salvador é um município brasileiro, capital do estado da Bahia, localizado
na região nordeste do Brasil. Com 2.211.539 habitantes, sendo que 1.172.017
são mulheres e apresenta densidade demográfica de 3.859,44 habitantes por
quilômetro quadrado(9).
Esta maternidade realiza em média 900 atendimentos e 300 partos por
mês, sendo considerada um dos centros de prestação de serviços às mulheres
de Salvador e de outros municípios da Bahia. Nesta instituição, as mulheres
dispõem de serviço de pré-natal completo, composto de consultas com médico
obstetra, enfermeiro, nutricionista e assistente social. Sendo referência na
rede estadual para assistência obstétrica, foi a primeira unidade no estado e
a segunda em todo o país a implantar o Método Canguru(10).
Participaram do estudo 101 puérperas primíparas, sendo que destas
apenas 86 responderam ao estímulo: aleitamento e você mesma no ano de
2016. Puderam participar as puérperas primíparas que estavam amamentando
e hospedadas no alojamento conjunto, com no mínimo um dia após o parto.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 183


A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a março de 2016, no
alojamento conjunto da maternidade escolhida. Os dados obtidos sobre o
conhecimento materno em amamentação foram coletados utilizando entrevista
pessoal, na coleta de dados utilizou-se o e um questionário de identificação
e o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP). As entrevistas foram feitas
por bolsistas de iniciação científica previamente treinadas pela pesquisadora.
O roteiro de entrevista foi composto por duas partes, sendo a primeira por
dados sociodemográficos e a segunda pelo TALP com sete estímulos onde um
foi escolhido para análise neste estudo: aleitamento e você mesma.
O número de participantes foi definido a partir do processo de aproximação
com os sujeitos da pesquisa, não afetando assim a rotina do hospital e da nova
nutriz, que necessita de um cuidado maior ao seu recém-nascido e sua própria
recuperação.
Os dados oriundos do TALP foram organizados e processado pelo software
IRAMUTEQ que produziu a árvore de similitude que permite identificar o grau
de conexidade entre os termos evocados, identificando o conhecimento latente
das puérperas quanto ao aleitamento materno.
Fundamentando-se na teoria dos grafos, a análise de similitude
proporciona a identificação das coocorrências entre as palavras e seu resultado,
apresenta informações da vinculação entre as palavras, auxiliando no processo
de identificação da estrutura e as especificidades em função das variáveis
ilustrativas, identificadas na análise(11).
O software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles
de Textes et de Questionnaires), objetiva a descoberta da informação fundamental
apresentada num texto por meio de análise estatística textual. Mesmo tratando-
se de uma análise quantitativa de dados textuais, permanece priorizando a
qualidade do fenômeno estudado, disponibilizando critérios provenientes
do próprio material, para a consideração do mesmo como indicador de um
fenômeno de interesse científico(12).
Esse software possui diversos tipos de análises de dados textuais,
dentre elas a análise de similitude, utilizada nesta pesquisa. Este software,
desenvolvido por Pierre Ratinaud, apresenta um caráter arrojado à análise
dos discursos possibilitando o desenvolvimento de novas técnicas de análise
de dados e beneficiando as pesquisas sobre os fenômenos sociais(12).
O corpus textual oriundo das entrevistas foi analisado com base na análise
de conteúdo(13), a partir de uma leitura abrangente de todo o conteúdo e
posteriormente, foram feitas leituras sucessivas, possibilitando destacar os
trechos significativos que embasaram a discussão dos termos que conformaram
a árvore de similitude.

184 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Este estudo está vinculado ao projeto de pesquisa de iniciação científica
- O Conhecimento de Puérperas Sobre a Amamentação desenvolvido - no Curso
de Enfermagem do Centro Universitário Estácio da Bahia (Estácio/Ba), com
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Estácio/Ba, sob o nº
08524512.7.0000.0041 do CAAE, com nº de comprovante 047988/2012.
Para participar da pesquisa as participantes, após conhecimento, leram,
concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
onde foi explicitada a natureza da pesquisa, seus objetivos e métodos.
Em todas as etapas do projeto foram atendidos os requisitos da Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), relativos à ética na pesquisa,
que estabelece critérios sobre a pesquisa envolvendo seres humanos e que
diz respeito à autonomia, não maledicência, justiça, veracidade e fidelidade(14).

RESULTADOS
Com base nas respostas que nortearam o estudo, em relação ao perfil sócio
demográfico podemos traçar a seguinte composição: quanto à faixa etária a
que predominou foi entre 14 anos e 26 anos de idade atingindo um percentual
de 75,25% das entrevistadas, tratando-se de religião a que predominou foi
a opção sem religião com 36,63%, a raça predominante foi a parda, porém
segundo o IBGE(9) a raça negra é composta entre pardos e negros, baseando-se
nesta premissa foram encontrados 94,06% participantes pertencentes à raça
negra. A renda familiar tem uma influência muito marcante na abordagem das
representações sociais e dentre as participantes, a renda dominante foi de um
salário mínimo com 42,57%. Quanto à procedência encontramos 99,01% da
Bahia, naturais de diversos municípios e 0,99% representando uma natural
de Recife (PE).
Outro componente deste quadro sócio demográfico que impacta nas
representações sociais é a escolaridade, pois à medida que se avança no
conhecimento acadêmico, a mente percebe os fatos de forma diferente do
momento anterior, neste estudo totalizou com predominância o segundo grau
completo com 44,55%, não menos impactante temos a ocupação profissional
que teve predominância das que 98,02% possuíam algum tipo de ocupação
profissional incluindo as de ocupação informal e quanto ao estado civil 73,27%
encontravam-se solteiras no momento da entrevista. Com este perfil traçado
poderemos compreender melhor as respostas relacionadas ao aleitamento
materno, foco central deste estudo.
A árvore de similitude (Figura 1) apresenta o campo de interação dos
resultados a partir da identificação das múltiplas conexões entre as palavras
e indica os eixos representacionais: amor, bom, prazeroso, dor, aumento da

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 185


mama, alimentação saudável, saudável, importante, auxiliando na identificação da
estrutura do campo representacional dos fatores associados à amamentação.

Figura 1 – Árvore ilustrativa da análise de similitude das justificativas das palavras mais
importantes para o estímulo indutor cuidado a mulher usuária de drogas, Salvador - Ba, 2016

Fonte: corpus de análise processado pelo software IRAMUTEQ 0.7 alpha2

Ao apontar o elemento amor como um dos eixos que apresentou o


segundo maior número de conexões, depreende-se que ele organiza a
representação social e facultado o entendimento que a amamentação é uma
expressão de amor ao filho. É uma consolidação do vínculo entre a mãe e o
bebê, exigindo muita dedicação, lembrado como algo divino, que resulta em
felicidade e satisfação, mas que possui ainda o peso do medo, especialmente
relacionado a capacidade de produção suficiente de leite, como evidenciado
pelas participantes:

Porque quando estou amamentando o amor é muito forte,


é uma ligação entre mãe e filho. (P69).

186 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Porque a gente transmite nosso carinho e amor ao bebê
pela amamentação. (P73).
Felicidade, porque o bem que você mais ama está perto
de você. (P80).
Vínculo, porque através da amamentação aumenta o
contato afetivo com a mãe. (P82).
Porque eu vejo que é importante, nunca imaginei que seria
tanta dedicação. (P86).
Medo de não ter leite, do peito empedrar, isso ficava na
minha cabeça. (P3).

Conectado ao amor segue-se o eixo bom com a representação do


amamentar como algo bom por produzir leite, uma característica singular
da mãe, sendo então representada pela imagem da vaca, como também
provedora de leite, como pode ser observado:

Porque é bom produzir e dá para minha filha.(P18).


Singular, porque é só a mãe que é capaz.(P82).
Porque sou para ela algo importante, ela me reconhece
mesmo vendo outra pessoa dá o leite para ela, vai saber
reconhecer que não sou eu.(P44).

Observa-se a conexão de eixo bom com o eixo prazeroso, apresentando o


comportamento como bom, mas também um ato que dá prazer, onde existe
satisfação, traduzindo-se em um comportamento que remete ao campo
emocional. Esse aspecto pode ser verificado nos seguintes depoimentos:

Porque amamentar é muito prazeroso.(P70).


Porque é um prazer sustentar um vida.(P77).
Dom de Deus, porque só a mulher tem esse privilégio.(P82).
Porque é uma sensação emocionante e diferente por ser a
primeira vez.(P71).

O eixo dor representa uma das dificuldades apontadas pelas participantes


durante a amamentação, juntamente com o cansaço. Esta leitura permite a
percepção do ato, paradoxalmente, como algo prazeroso, porém doloroso e
exaustivo, como se observa nos relatos:

Porque na hora fica doendo.(P66).


Porque não consegue descansar e sente sono.(P85).

Porque tem que estar ali sempre, tem que dá no horário e


toda hora quer mamar.(P69).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 187


Porque é importante amamentar, não devemos deixar de
dá o leite mesmo com dor, pois a dor é suportável.(P60).

Na leitura do eixo aumento da mama, identifica-se o reconhecimento da


puérpera em relação às mudanças corporais decorrentes da gestação e da
amamentação. Tais aspectos foram considerados positivos, como por exemplo,
a capacidade de produzir leite, mas também aponta ao mesmo tempo, as
dificuldades decorrentes, como ferimentos e ingurgitamento mamário.
Observa-se estas pontuações nos excertos abaixo:

Aumento da mama, porque é especial você produzir o leite.


(P59).
Aumento da mama, porque sei que assim vou poder
amamenta-la e passar proteção para ela.(P27).

O eixo alimentação saudável, representa a preocupação da puérpera


com as mudanças alimentares decorrentes da amamentação, relacionando
alimentação saudável com a qualidade e produção de leite. Esse aspecto está
evidenciado nos seguintes discursos:

Porque nem todo tipo de comida você pode comer na


amamentação. Não pode comer gorduras.(P28).
Porque tudo ingerido vai passar para ele.(P10).

Saudável apresenta-se como o primeiro maior eixo por estabelecer o


maior número de conexões. Nesta leitura, entende-se que a amamentação
proporciona saúde, tendo um fator de proteção imunológica, sendo de
natureza nutritiva e fortalecedora do neonato, proporcionando seu crescimento
e desenvolvimento. Para este resultado o comportamento está aliado à
responsabilidade e encarado como um cuidado primordial para a vida do
bebê. Todo este ciclo ocorre através do aprendizado da puérpera sobre
amamentação e as expectativas que essa possui sobre esta prática. Como se
pode perceber nas seguintes falas:

Nutritivo porque dá mais sustância para o bebê .(P9).


Porque ele saudável não vai ter problemas de saúde.(P4).
A criança se desenvolve com bastante saúde.(P24).
Ajuda a criança a ter um bom desenvolvimento.(P48).
Porque sendo curiosa você vai pesquisar, não se prende só
a uma fonte.(P33).

188 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Adquirimos experiência, sabedoria, a mente começa a fluir,
é natureza, é Deus, incrível.(P1).
Porque nem todas as mães podem amamentar, é um
crescimento e responsabilidade. Saber que não sou mais
uma menininha irresponsável, que agora tem alguém que
precisa de mim.(P5).

Como último eixo têm-se a palavra Importante, apontando a importância do


amamentar por estar conectado ao eixo saudável e a tudo que este representa.
Apresenta o ato de amamentar como algo importante e especial, para mulher
e neonato, como vê-se nas falas:

Porque é importante para o bebê, pois o alimenta.(P45).


Porque quando amamento sei que o bebê está se
alimentando bem, sinto amor e não tem como explicar.
(P81).
Porque é mágico alimentar o bebê, você tem o bebê, o
privilégio.(P55).
Porque você sabe que é uma coisa única, precioso para mãe
e para a criança, é um contato único.(P41).

DISCUSSÃO
Através do tempo, a prática da amamentação vem sofrendo influência do
contexto social, de estudos científicos vigentes na época, dos padrões culturais
e mitos. Todas essas influências refletem no comportamento de amamentação
da nutriz ao concretizar o conhecimento que esta possui, considerando que
o ato de amamentar, apesar de natural, não é automático e sim uma reflexão
das vivências desta mulher(15).
Reconhece-se então, que o início e manutenção da amamentação,
especialmente de forma exclusiva, pode sofrer influências de natureza
multifatoriais, sendo considerada a atuação dos profissionais da área de saúde
um dos fatores que ajudam nesta promoção, mas também deve-se levar em
consideração o aprendizado entre pares e aqueles que são transmitidos entre
gerações. Nesse sentido, a avaliação que uma pessoa faz de si tem como
referência o aprendizado adquirido através de sua interação com o contexto
social(16).
De uma forma geral, identifica-se as representações sociais do aleitamento
materno como uma expressão afetiva, como algo bom, uma capacidade
singular da mãe, que ao prover o leite cria a correlação com a imagem de uma
vaca, ao viver essa experiência de forma emocionante e prazerosa podendo,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 189


porém acarretar em dor causada por feridas mamilares e cansaço. Essa ideia
confirma que o puerpério é um momento na vida da mulher em que ela se
apresenta fragilizada, seja pela oscilação hormonal característica do pós-parto,
pelo cansaço resultante dos cuidados exigidos com o neonato ou pelo processo
plural que é se adaptar a mais um papel, como mãe(2).
Os resultados também indicam a percepção das mudanças corporais
causadas pela gravidez, como o aumento das mamas e uma preocupação
com alimentação saudável para garantir uma produção de leite satisfatória e
nutritiva, que resulte em saúde e fortalecimento deste filho, sendo isto uma
responsabilidade e forma de cuidado resultante do aprendizado desta vivência
e expectativa de sucesso, reforçando a crença da amamentação como algo
importante e especial, para mulher e para o recém-nascido(2).
Um estudo publicado em 2017 acerca das representações sociais de
puérperas sobre prática educativa realizada pela enfermagem, pontuou
a importância das orientações recebidas pelas puérperas a partir da
Enfermagem, quando enfatizaram os benefícios do aleitamento exclusivo e
o desenvolvimento saudável da criança(17). Outra pesquisa realizada também
sobre representações sociais do aleitamento materno compartilhadas por
mães adultas, aponta que suas representações se baseiam em concepções,
como a dedicação e o sacrifício em prol dos filhos(18).
Assim, a percepção da puérpera sobre a amamentação como forma
de amor é reforçada pelo sentimento de felicidade e prazer que sentem ao
amamentar e por reconhecerem a importância do ato para o filho, sentindo-se
assim dedicadas e validadas em suas ações(19).
Evidencia-se que o aleitamento materno é o vínculo que oferece uma
proximidade maior entre mãe e neonato. Com a capacidade de gerar filhos e
cuidar destes, a mulher dedica mais tempo a eles, mantendo assim os laços
emocionais, tornando-se dessa forma a principal depositadora de amor ao
neonato(20).
Neste sentido, as participantes encaram o ato como algo benéfico que
ultrapassa o fator biológico, tornando-se uma forma de comunicação e
manifestação de amor, fortalecedor de um vínculo emocional, semelhante ao
evidenciado no estudo acima(18).
Observou-se também a representação da influência da amamentação
sobre as mamas. Como o aumento de tamanho, o risco de ingurgitamento e a
dor causada pelas possíveis feridas mamilares. O medo da dor ao amamentar é
outro sentimento presente entre as puérperas além da ansiedade e insegurança
relacionada à impotência diante das intercorrências do processo de lactação(19).
As mulheres ao serem questionadas quanto à percepção da prática da
amamentação, apontam os benefícios do aleitamento materno sendo que este

190 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


conhecimento das mães gira em torno das vantagens do aleitamento materno
que são direcionadas para o neonato(21).
Porém, os achados também apresentam as representações sociais
das puérperas primíparas com influência de sentimentos relacionados à
insegurança na realização dessa prática, como cansaço e medo, pois, segundo
as mães, a amamentação requer um esforço físico e emocional, e dedicação
extra.
Apesar disso, observou-se a partir da utilização de multitécnicas(5), com
vistas a apreensão do fenômeno representado em consonância com a TRS com
base nas evocações e entrevistas que a amamentação foi representada pelas
puérperas como fonte de melhor nutrição e provedora de saúde. Pois, contém
o fator de proteção imunológica, traduzindo o ato como uma responsabilidade
e uma forma de cuidado para manter o recém-nascido saudável, mas que
demandam orientação para o enfrentamento dos desafios da prática de
amamentar.
O conhecimento sobre a amamentação obtido a partir de Programas de
Governo e acompanhamento perinatal é de suma importância para a educação
da gestante e o sucesso do aleitamento materno, pois, o representante social
mais importante nesta tarefa tornou-se o pré-natal, e posteriormente ao parto,
à puericultura(2).
Desse modo, as ações educativas são sem dúvida, um grande marco do
programa, pois visam levar informação para essas mulheres, promovendo
uma prática educativa para que a mesma tenha autonomia sobre seu corpo,
valorizando sua experiência de vida. No pré-natal, a mulher é orientada
para que vivencie um parto de maneira positiva, tendo assim menos riscos
de complicações no puerpério, e uma boa orientação na amamentação(22).
Considerando que esses momentos são únicos, os profissionais de saúde, como
educadores, devem oferecer informações necessárias para essas gestantes,
buscando desenvolver a autoconfiança para viver a gestação, o parto e o pós-
parto com vistas a autonomia e autocuidado.
Salienta-se que na consulta de pré-natal, o profissional deve atentar
quanto à realidade sociocultural da cliente, visando às dificuldades e benefícios
encontrados no processo da amamentação enfrentados pelas gestantes
primíparas puérperas, dando ênfase quanto à tomada de decisão na escolha
em participar desse processo.
É de interesse também que as atividades voltadas à gestante sejam
direcionadas não só à assistência, mas envolva também a educação, pois, o
mesmo servirá como elemento primordial para o entendimento dos assuntos
abordados pela equipe de saúde, de forma didática, lúdica e dentro da realidade
da população.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 191


O educar para a amamentação requer uma maior compreensão da
mulher e suas vivências, para que esse conhecimento tenha a capacidade
de transformar suas crenças, fortalecer sua autoconfiança e lhe forneça
embasamento para se necessário lutar contra a falta de apoio, desconfortos
e dificuldades que possam surgir em sua jornada de aleitamento materno e
puerpério.
O empoderamento de puérperas pode se dá a partir do momento em que
esta mulher compreende que o ato de amamentar constitui-se como estratégia
mais inteligente, equilibrada, eficiente, inerente ao vínculo, propiciadora de
nutrição, de defesa imunológica e de afeto. Esse empoderamento, baseado
em seu conhecimento e autoconfiança na sua capacidade de nutrir o neonato,
é fator de incentivo, aumentando as chances de prevalência do aleitamento
materno exclusivo (23).
A amamentação não acontece de forma simples e automática, sendo
sim um comportamento natural aprendido e resultante muitas vezes da
persistência perante muitos desafios vividos. Dentre estes é possível citar, não
saber amamentar, dificuldade na pega, traumas mamilares, mito do leite fraco,
mamilo invertido, involução uterina, mastite e ingurgitamento mamário, dentre
outros. É na tentativa de solucionar esses questionamentos e dificuldades, e
intervir nessas intercorrências, que o enfermeiro atua na atenção à mulher no
puerpério, influenciando então na ocorrência do desmame precoce(24).
O papel do profissional de saúde, inclusive da Enfermagem, por exemplo,
ao orientar e promover o aleitamento materno exclusivo, extrapola o cuidado
individualizado à mulher e família, interferindo também na coletividade,
resultando em indivíduos mais inteligentes e economicamente estáveis.
Fato afirmado com o estudo sobre a importância do aleitamento materno
prolongado e a influência direta na inteligência humana ao demonstrar
que indivíduos amamentados por doze meses ou mais, comparados com
aqueles amamentados por menos de um mês apresentam uma maior renda
econômica(25).
Quando se enfoca na amamentação como meio de prover uma nutrição
adequada para a criança compulsoriamente atuamos na construção de uma
geração mais saudável, com maior potencial intelectual, resultando nesse
processo uma população mais digna no futuro. Nesse aspecto, estudos
desenvolvidos com o aporte da TRS faculta melhor compreensão da dinâmica
relacional entre a pessoa, o grupo e o contexto social, pois permite melhor
compreender as dinâmicas sociais que aí se apresentam(16).

192 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


CONCLUSÃO
Este estudo limita-se por ter ocorrido em um único cenário do SUS,
porém obteve-se uma amostra satisfatória das participantes, o que viabilizou
o processamento no software escolhido e, consequentemente, atendeu a
demanda metodológica de estudos fundamentos na TRS.
Baseado nos resultados encontrados nesta pesquisa, percebemos que a
amamentação como um comportamento de grande complexidade envolvendo
representações sociais que evidenciam a dualidade de sentimentos despertados
e as influências sofridas pelo meio em que a mulher está inserida. A evidência
dessas representações pode contribuir para um acompanhamento pré-natal
e puerperal mais eficaz quanto a influência do empoderamento materno para
a amamentação. Vislumbra-se, então, o conhecimento dessas mulheres sobre
os benefícios do aleitamento materno, a vontade destas em amamentar, bem
como as maiores dificuldades que estas enfrentam e os pontos onde ainda é
necessário um maior conhecimento.
Diante dos achados, concluímos que a maioria das puérperas tinha desejo
de amamentar seus filhos e conhecia os benefícios da amamentação, assim
como suas vantagens. Porém, ainda apresentam dificuldades em lidar com
as intercorrências da lactância devido à falta de orientação e insegurança
na capacidade de produção suficiente de leite. Os resultados evidenciados
conduzem a reflexão de uma nova forma de educação durante o pré-natal e
atenção no puerpério. Uma educação que não enfatize somente os benefícios
do leite materno, mas que forneça um aporte para que esta mulher possa
reconhecer e lidar com os obstáculos possíveis na jornada de amamentação.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 193


REFERÊNCIAS

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Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil, aleitamento materno e nutrição
complementar. Cad. Atenção Básica, nº 23. Brasília: MS; 2015.
3-Lei 11.770, publicada em 9 de setembro 2008. Cria o Programa Empresa Cidadã,
destinado à prorrogação da licença-maternidade mediante concessão de incentivo
fiscal, e altera a Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. Diário Oficial da União, 09 Set 2008.
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semana mundial do aleitamento materno. 2020.
5-Sá C. Representações sociais: o fenômeno, o conceito e a teoria geral. In: Sá C. Estudos
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EdUERJ: 2015; p. 183-208.
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e das Unidades da Federação. Brasília: IBGE; 2015.
10-Bahia. Secretaria de Saúde. Centro de Informações de Saúde. Notícias Cidadão
Usuário. Salvador: SESAB; 2015.
11-Marchand P, Ratinaud, P. L’analyse de similitude appliqueé aux corpus textueles: les
primaires socialistes pour l’election présidentielle française. In Actes des 11eme Journées
internationales d’Analyse statistique des Données Textuelles. Liège: Belgique; 2012.
12-Camargo BV, Justo AM. Iramuteq: um software gratuito para análise de dados
textuais. Temas psicol.2013;21(2):513-518.
13-Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2016.
14-Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos: Resolução nº 466/12.
Brasília (DF); 2012.
15-Souza MH, Nespoli A, Zeitoune RCG. Influência da rede social no processo de
amamentação: um estudo fenomenológico. Esc Anna Nery. 2016;20(4):e20160107.
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puérperas. Rev. Bras. Enferm. 2017;70(6):1250-1258.

194 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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19-Bezerra MJ, Carvalho ACO, Sampaio KJAJ, Damasceno SS, Oliveira DR, Figueiredo
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20-Teixeira MM, Vasconcelos VM, Silva DMA, Martins EMCS, Marins MC, Frota MA.
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materno. Rev Rene. 2013;14(1):179-186.
21-Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas: Pré Natal e Puerpério; Atenção qualificada e humanizada.
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22-Silva ALS, Nascimento ER, Coelho EAC, Nunes IM. Atividades educativas no pré-natal
sob o olhar de mulheres grávidas. Revista Cubana de Enfermería. 2015;30(1):40-51.
23-Giordani RCF, Piccoli D, Bezerra I, Almeida CCB. Maternidade e amamentação:
identidade, corpo e gênero. Ciênc. saúde coletiva. 2018;23(8):2731-2738.
24-Oliveira CS, Iocca FA,Carrijo MLR, Garcia RATM. Amamentação e as intercorrências
que contribuem para o desmame precoce. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(esp):16-23.
25-Victora CG, Horta BL, Mola CL, Quevedo L, Tavares R et al. Association between
breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years
of age: a prospective birth cohort study from Brazil. The Lancet Global Health.
2015;3(4):e199-e205.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 195


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 197


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NAS
RELAÇÕES DE INTIMIDADE DOS ADOLESCENTES

Greice Kely Oliveira de Souza1


Sinara de Lima Souza1
Tamyres Lopes Santana de Carvalho1
Rosely Cabral de Carvalho1
Tamille Marins Santos Cerqueira
Cleuma Sueli Santos Suto2
José Eduardo Ferreira Santos3
Vivian Ranyelle Soares de Almeida1

INTRODUÇÃO
As interações amorosas desenvolvidas ao longo da existência assumem
grande relevância na vida dos adolescentes, o que poderá conferir uma
segurança emocional em um momento no qual há o distanciamento da família
e a necessidade de pertencimento ao grupo1.
O namoro é caracterizado, sobretudo, pela estabilidade da associação
entre duas pessoas, que é inversamente relacionado à probabilidade que uma
pessoa vai terminar a relação. Além da causalidade embutida no surgimento
do compromisso é necessário atentar o que deixa os pares unidos2.
Devido às transformações sociais ocorridas, modificando as relações de
intimidade e surgindo novas formas de se nomear um relacionamento, alguns
autores sintetizaram o “ficar”, o “pegar” e o “namorar” com a mesma definição,
referindo que podem ocorrer ao mesmo tempo (3-5).
Esses protótipos de relacionamento são replicados também no âmbito dos
namoros, afetos e das intimidades entre adolescentes. Ponderando que a escola
é um dos principais ambientes de sociabilidade dos adolescentes, o exercício da
sexualidade constitui dimensão fundamental da vivência escolar. As primeiras
vivências afetivas e íntimas se dão, assim, em um contexto de produção e
reprodução de relevantes desigualdades marcadas por subalternizações
diversas de gênero, raça e sexualidade6.
A violência no namoro ou também chamada de violência nas relações de
intimidade pode ser conceituada como uma prática ou ameaça de um ato de

1
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Feira de Santana, BA, Brasil.
2
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) - Campus VII. Senhor do Bonfim, BA, Brasil.
3
Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 199


violência que ocorre com um dos membros de um casal de namorados, seja do
mesmo sexo ou do sexo oposto. Ocorre de forma gradual e inclui os diversos
tipos de violência (psicológica, física ou sexual), pode mostrar-se sob a forma
do menor abuso a situações mais extremas como o homicídio (7-9).
Adotando a teorização de Pierre Bourdieu10, a violência simbólica é
compreendida como forma de coação alicerçada no assentimento de uma
imposição determinada, seja de classe econômica, social ou simbólica. Dessa
forma, a naturalização da relação dominante-dominado é o exercício do poder
simbólico, manifestando esse conhecimento através da legitimação do discurso
dominante.
Na última década, no Brasil, os estudos acerca da violência no namoro
tiveram grande avanço como campo de investigação e intervenção, porém a
maior parte da produção é destinada a violência contra a mulher de uma forma
geral. Os primeiros estudos tinham como foco a relação conjugal, porém, o
tema foi estendido para relacionamentos de namoro11, principalmente na
América do Norte, sendo menos frequente na Europa, América Latina, África
e Ásia4.
Na interface da violência, no que diz respeito as relações intimas entre
adolescentes, os estudos são cada vez mais necessários, a princípio, por ter
altas taxas de prevalência da violência no namoro em vários países (3,4,8,12) e o
impacto psicossocial da violência no namoro que é considerado um grande
problema de saúde pública (13-14).
A violência nas relações de intimidade pode ser entendida como
um movimento circular em que as dinâmicas do casal se propagam
sistematicamente por três fases, podendo estas variar dependendo do tempo
e intensidade da situação (15-16).
A primeira fase refere-se a fase do aumento da tensão, caracterizada por
um aumento nos conflitos do dia a dia que posteriormente originará discussões
e este fato pode gerar no futuro um ato violento. Além disso, ocorrem injúrias
e as ameaças, demonstrando um ambiente de perigo iminente. Esta fase pode
progredir mais rapidamente quando associada ao consumo de drogas lícitas
e ilícitas, como por exemplo o álcool (15,17-18).
A segunda fase representa o ato violento, propriamente dito, caracterizado
por violência física, psicológica e/ou sexual sobre a vítima e de forma gradual,
aumentando a frequência e a intensidade18. Muitos desses comportamentos
são mediados pela tecnologia, aplicativos e a cyber cultura, em que as meninas
compõem um grupo vulnerável a eventos considerados como a “pornografia
de vingança”, marcada pela divulgação não autorizada de fotos de conteúdo
íntimo e sexual – realizada, em geral, como retaliação por relacionamentos
rompidos19.

200 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Na terceira fase, a reconciliação volta-se à fase da lua de mel, quando se
pretende esquecer o ocorrido e recomeça o relacionamento com promessas
renovadas, acompanhada de um pedido de desculpas e arrependimento.
Esse ciclo é repetido na vida da mulher que passa por violência doméstica,
dificultando o término da relação e a manutenção da distância do companheiro/
agressor, por diversos motivos, que vão desde financeiros a razões de cunho
emocional20.
O evento deste ciclo de violência tem sido utilizado na compreensão das
razões que levam a vítima a sentir-se culpada por ser agredida e as razões pela
qual não se abandona a relação, mesmo oferecendo risco iminente de vida21.
O fenômeno da violência está relacionado as noções de representação
social, crenças e estereótipos, o qual participam da vida social das pessoas
envolvidas22. A legitimação da violência pode ser considerada uma consequência
das crenças culturais em que a desculpabilização dos atos violentos é
parte integrante da compreensão do ser homem ou mulher, da instituição
familiar e do casamento e da vida afetiva. Assim, “romper com tais práticas e
representações implica o questionamento e a constante reflexão sobre certos
modelos de existência instituídos no campo social”23.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi compreender as
representações sociais dos adolescentes acerca da violência simbólica nas
relações de intimidade. Discutiremos aqui a representação social da violência
simbólica que emergiu durante a realização da pesquisa desenvolvida
no período de 2017 a 2019 no Mestrado Profissional em Enfermagem da
Universidade Estadual de Feira de Santana - Bahia.
A Teoria das Representações Sociais (TRS) permitiu um novo olhar para
o objeto ao qual propomos compreender, de forma a enfatizar elementos
importantes na apreensão das construções sociais, se mostrando relevante
para o estudo da violência no namoro, pois a violência nas relações de
intimidade de adolescentes, diferentemente da comparada a violência marital,
tem uma menor atenção da comunidade científica, necessitando ser melhor
compreendida com vistas a promoção de relações de intimidade saudáveis
entre os adolescentes.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório e descritivo fundamentado
no aporte teórico-metodológico da Teoria das Representações Sociais. O campo
da pesquisa foi uma escolar da rede pública de ensino do município de Feira de
Santana- Bahia. Os participantes deste estudo foram 12 adolescentes cursando
o ensino fundamental, a faixa etária foi de 11 a 16 anos, que concordaram em

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 201


participar do estudo de livre e espontânea vontade, e o termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE) assinado por um dos pais ou responsável, assim
como o termo de assentimento livre e esclarecido (TALE). Foram excluídos da
pesquisa, adolescentes que possuíam alguma patologia que impossibilitasse
a sua participação e aqueles que evadiram da escola.
Na escolha dos participantes, o pesquisador deve preocupar-se menos
com a generalização e muito mais com o aprofundamento da pesquisa, sua
amplitude e a diversidade no processo de compreensão24. Assim, não foram
estabelecidas a quantidade de participantes da pesquisa previamente.
A coleta de dados ocorreu mediante a realização do grupo focal (GF),
que tem por característica ser pequeno e ocorrer em ambiente não diretivo.
Foram realizados dois encontros, adotando a seguinte estrutura: acolhimento,
dinâmica de apresentação dos participantes, posteriormente realizamos uma
discussão temática, em que circulamos uma caixa com frases contendo trechos
de músicas da atualidade que versavam sobre o tema e cada participante
deixou emergir pensamentos e reflexões sobre o papel sorteado. Por fim,
houve uma socialização do conteúdo discutido e sugestões de relacionamento
saudável. Ressalta-se que os moderadores estiveram atentos para que todos os
integrantes do grupo expusessem seus pontos de vista e interagissem durante
o debate25.
As Representações Sociais (RS) dos adolescentes se amparam no conteúdo
de um dos seus principais suportes: a linguagem. Com a apreensão da
linguagem sobre a violência no namoro foi possível complementar a captação,
no âmbito das RS, das expressões, atitudes, imagens e valores, trazendo para
o estudo um campo estruturado de informações.
Os dados foram analisados em duas etapas complementares: por meio dos
pressupostos da Análise de Conteúdo24 e pela utilização do software Interface
de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires
(IRaMuTeQ). O conteúdo do GF foi transcrito na íntegra e submetido a análise
qualitativa de conteúdo de Bardin, o qual se define como um conjunto de
técnicas e análise das comunicações, utilizando procedimentos sistemáticos
e objetivos divididos em três fases relativos à recepção dessas mensagens26.
O software permite várias formas de análise de dados textuais, abrangendo
desde as mais simples como a lexicografia – Cálculo da Frequência de Palavras
– até as análises multivariadas – Classificação Hierárquica Descendente (CHD),
análises de similitude25. No estudo, utilizou-se a análise de similitude e a nuvem
de palavras.
Neste estudo, acatamos a resolução 466/2012, que dispõe sobre a Ética em
Pesquisa envolvendo seres humanos, contendo aspectos relativos à justificativa,
aos objetivos e metodologia da pesquisa, bem como a garantia total do sigilo

202 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


dos dados que serão obtidos dos adolescentes que concordarem a participar
da pesquisa. Assim como, respeitamos a resolução n°510/2016, específica
para as Ciências Humanas28. Este estudo é um recorte do projeto de pesquisa
iniciado em 2017, intitulado “Representações Sociais dos adolescentes e jovens
acerca da violência nas relações de intimidade”, sob o parecer nº 2.098.268,
desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Vulnerabilidades
e Saúde (NIEVS), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram deste estudo 12 adolescentes, sendo seis do sexo feminino
e quatro do sexo masculino. A idade dos participantes variou de 11 a 16 anos
e a maioria, 8 participantes, se declararam solteiros/sem nenhum tipo de
relacionamento no momento, 1 “crush” e 1 relacionamento sério, os tipos de
relações atuais traduzem a vontade dos adolescentes em possuir relações
abertas e livres de opiniões alheias e as etiquetas da sociedade.
O sigilo sobre o nome dos participantes foi preservado, sendo estes
identificados com a abreviatura Adol. (Adolescente), seguido do número
indicativo o sexo e depois a ordem do Grupo Focal (Adol_01_F, Adol_02_F e
assim por diante). E relacionados ao grupo focal foram identificados GF1 para o
primeiro grupo focal e GF2 para o segundo grupo focal associados ao número
do participante no grupo e o sexo.
As Representações Sociais (RS) é um conjunto de definições, elucidações
e afirmações que se originam da vida cotidiana, no curso da comunicação
interindividual27. As representações que se formam na sociedade influenciam
diretamente no comportamento, atitudes e modos de agir, por isso que
constituem estruturas individuais de conhecimentos que norteiam os membros
de um grupo social em determinado tempo e espaço.
Nos resultados das explanações do Grupo Focal através das análises de
conteúdo, análise de similitude e nuvem de palavras foram desveladas as
representações da violência nas relações de intimidade dos adolescentes por
meio de duas categorias, a saber: (1) As diferentes faces da violência simbólica;
(2) As mídias sociais e a violência simbólica.

AS DIFERENTES FACES DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA


O grupo focal foi permeado por falas que denotaram uma dominação
simbólica, mesmo que de forma sutil e efetiva pelos participantes do sexo
masculino. A prática da violência está embutida em uma rede de dominações
com várias classes, etnias, raça, gênero e violência simbólica e isto deriva de

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 203


uma rede de discriminações, estigmas e exclusões sendo que as mulheres,
nem sempre estão cientes de sua condição de dominadas30.
Durante o primeiro grupo focal, o adol_01_M, ao comentar a letra da
música de Guilherme e Santiago, que diz: “E olha eu aqui, pela décima vez, tô
passando na frente da casa amarela, se algum vizinho me denunciar, a culpa
é dela, de ex-namorado agora eu tô virando suspeito”, possivelmente fazendo
referência a responsabilização da mulher como “culpada por ter largado o
rapaz e por isso ele rondava a casa dela”. Essa fala demonstra que a noção de
dominação está incorporada pelos indivíduos no pensamento ou na expressão
facial ou corporal, sendo exposta através da linguagem. Considerando, a teoria
da dominação masculina8, que não se restringe somente a questão de gênero,
mas sim uma relação social que existe entre o masculino e feminino, num
aspecto simbólico “a dominação masculina, que constitui as mulheres como
objetos simbólicos, cujo ser (esse) é um ser-percebido (percipi), tem por efeito
colocá-las em permanente estado de insegurança corporal, ou melhor, de
dependência simbólica”.
Ao compartilhar como interpretavam os trechos das músicas, os
adolescentes relataram, praticar/presenciar mais comportamentos específicos,
tais como: “puxar pelo braço mesmo”, “pode pegar pelo braço”, “fazer o que
ela não tem vontade”, “xingar”, “humilhar”, conheço várias estórias de facadas”,
o que se articula também com achados de violência simbólica e psicológica
permeados em quase todas as falas, das quais destacamos as seguintes:

Trata da mulher do tinder, de short curto (Adol_04_M_GF1)


Pode pegar o celular desbloqueado (Adolescente_02_F_GF1)
Dou o celular se o namorado pedir (Adolescente_06_F_GF1)

A violência simbólica é definida como uma violência que é cometida com a


cumplicidade entre quem sofre e quem a prática, sem que, frequentemente, os
envolvidos tenham consciência do que estão sofrendo ou exercendo. Pode ser
compreendida como um meio sutil de dominação e exclusão social10. Apesar
dessa violência não ser tão desvelada quanto a agressão física, não pode
considerar menos prejudicial, pois pode ocasionar no adolescente conceitos
e regras que o façam permanecer sempre nessa posição de dominado.
É importante destacar que muitas colocações, para além da situação
trazida pela música, foram reveladoras de situações naturalizadas entre os
adolescentes que podem ser desencadeadoras de atos mais explícitos de
violência.

204 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


O processo de dominação simbólica aparece de forma tênue e eficiente
porque a maioria das adolescentes não está ciente de sua condição de
dominada, participando desse processo de dominação, na proporção de que
não está ciente de sua condição. Saffioti31 discorre sobre a cultura androcêntrica
no Brasil e no mundo, levando a supervalorização do masculino em detrimento
do feminino.
Nas falas, a seguir, durante o segundo grupo focal, os/as adolescentes
demonstram violência física e psicológica:

Pego a força de boa [fazendo gestos de violência]


(Adol_02_M_GF1)
Pegaria a força pelo braço (Adolescente_02_M_GF2)
Eu xingava todo (Adolescente_08_F_GF1)

Observa-se além da violência física, a violência simbólica velada,


demonstrando uma dominação em que a música reflete a fala do adolescente,
onde mostra a agressão física motivada por pretextos fúteis. Neste interim32,
discorrem que a violência por parceiro íntimo, na perspectiva do gênero, é
pautada na desigualdade de poder, cercada de desigualdades e fundamentada
na assimetria do poder que existe nas relações sociais entre os sexos, sendo
que esta diferença se traduz em relações de força e dominação.
A árvore máxima da similitude (Figura 1) elaborada, a partir do software
Iramuteq, reforça a representação da violência nas relações de intimidade
dos adolescentes, em que a palavra ‘violência’ está destacada e próxima
às palavras: ‘namoro’, ‘celular’ e ligada a palavra ‘música’, que foi derivado
da dinâmica com as faixas de músicas e os comentários decorrente dessa
atividade. O programa lematiza as formas verbais, colocando todas no infinitivo
e denotando a frequência com que essas palavras são usadas no discurso e
o quanto elas representam.
Em uma das músicas, a letra trata de uma estória de puxar a mulher, e
por isso a árvore de similitude apresenta a palavra música próxima da palavra
‘pegar’, onde os adolescentes relataram como forma de consentimento o “pegar
a força”, o “puxar pelo braço” e até o “pego mesmo”.
A análise de similitude ou também conhecida como semelhanças, ancora-
se na teoria dos grafos, pois o grafo constitui o modelo matemático para o
estudo das relações entre os objetos de qualquer tipo e permite identificar as
coocorrências entre as palavras e o seu resultado. Demonstra a conexidade
entre as palavras, auxiliando na identificação da estrutura de um corpus textual,
diferenciando-as partes comuns e as especificidades em função das categorias

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 205


identificadas na análise33. Com essa análise, foi possível observar como os
adolescentes estruturam suas representações sociais da violência no namoro.
A similitude é identificada pela coocorrência de dois termos, indicando
a forma pela qual o grupo os significa. Analisando a figura 1, observa-se que
os termos com maior conexidade são ‘música’, ‘celular’ e ‘violência’. O termo
violência está diretamente ligado a palavra namoro, o que coaduna com as
discussões com a temática. De forma geral, as representações gráficas em
função da frequência de palavras, realizadas pelo IRAMUTEQ, legitimam a
categoria identificada com base na análise de conteúdo de Bardin. A finalidade
de apresentação gráfica foi de triangular os dados obtidos e proporcionar ao
leitor uma melhor visualização dos resultados.

Figura 1: Análise Máxima de Similitude

Essa análise admite que, quanto maior for o número de adolescentes que
considere a violência próxima ao celular, mais próximos estarão esses dois
itens, ou seja, mais conectados. A relação é expressa por um índice que vai
de zero (0) a um (1) e, ainda, pode ser representada graficamente por arestas
em um grafo.

AS MÍDIAS SOCIAIS E A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA


As discussões no grupo focal foram permeadas por relatos que envolviam
as tecnologias e as mídias sociais, gerando conflitos entre eles sobre o acesso

206 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


ou não ao celular e redes sociais do parceiro. O uso de celular foi bem citado em
diversos momentos e identificados nessas falas: “dou o celular se o namorado
pedir [...] (Adol_06_F_GF1)”, “se não dar o celular é porque tá escondendo
(Adolescente_F_06)”, “se não der o celular tem briga (Adol_01_M_GF1).
O uso do celular e das tecnologias foram também relatados em outros
estudos34-35 Segundo os estudos, a violência ocorre pelo desejo do parceiro (a)
em manter o controle do outro, exigindo senhas de celular e de redes sociais
entrando numa dinâmica de manipulação e invasão de privacidade.
A perpetração das desigualdades e o aumento da violência de gênero na
adolescência é diretamente relacionada ao mito do amor romântico durante
a juventude36. O controle do parceiro (a) é justificado pela ideia utópica de
um amor que tudo suporta. Essa crença no discurso do amor romântico
relacionado a violência simbólica é exacerbada através das redes sociais, uma
vez que tornam as pessoas o tempo todo conectadas.
Percebe-se então, que surge um novo paradigma37 de que as redes sociais
se constituem estrutura de possibilidades, contatos e rede de interação,
quando relata que as interações sociais no ciberespaço acontecem mediadas
pela tecnologia e isto as tornam diferenciadas. Pois, nem sempre o acesso é
facultado ao parceiro.
Ponderando neste sentido, as representações facilitam a identificação
das redes de relações, onde existe a ligação dos comportamentos e objetos38.
A forma de entender o fenômeno, de influenciar e transformar a visão de
mundo é transformada pelas relações entre os indivíduos e com a coletividade.
Pode-se, então, influenciar o pensamento das pessoas e a forma como elas
se relacionam com o mundo. Assim sendo, as pesquisas ancoradas nas
representações sociais admitem a aproximação com o fenômeno complexo
e multifacetado da violência nas relações de intimidade, com a elaboração e
construção do conhecimento do senso comum sobre esse objeto e, por fim,
com a construção da realidade social.
A nuvem de palavras (Figura 2) elaborada a partir do software Iramuteq
apresenta de forma gráfica a organização e agrupamento das palavras de
acordo com a sua frequência e centralidade, o que possibilita facilmente a
sua identificação, a partir de um único arquivo, o corpus textual com os textos
originados do grupo focal.
A nuvem de palavras fornece uma análise lexical mais simples, entretanto,
com uma ilustração gráfica que permite com facilidade e rapidez a identificação
das palavras-chave de um corpus. Conceitua-se corpus textual como o conjunto
de unidades de contexto inicial (UCI) que se pretende analisar, e é elaborado
pelo pesquisador. Cada conjunto de entrevistas a que a análise foi aplicada
será um texto27.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 207


O vocabulário é processado e quantificado em relação à frequência e, em
determinados casos, é submetido a cálculos estatísticos para obter sua posição
no texto, para posterior interpretação, sendo uma das diferenças da análise
de conteúdo, no qual o pesquisador interpreta para depois sistematizar39.

Figura 2: Nuvem de Palavras

Pelo método da nuvem de palavras, a palavra ‘violência’ foi a que teve uma
maior frequência no corpus – 17 vezes, seguida da palavra história - 15 vezes.
As palavras ‘celular’, ‘música’ e ‘pegar’ tiveram a mesma frequência e por isso o
mesmo tamanho. Graficamente, as palavras são posicionadas aleatoriamente
de tal forma que as palavras mais frequentes aparecem maiores que as outras.
Nesse sentido, observamos que os adolescentes representam o celular como
objeto/símbolo e ressignificam as relações evidenciando a violência, como já
foi reafirmado através da análise de conteúdo de Bardin.
Os resultados do presente estudo reforçam relatos da literatura sobre a
existência de violência física e do uso das mídias sociais, no desejo sempre de
manter o controle do parceiro (a), vingança-exposição, difamação14,40. Neste
sentido23, nossos resultados corroboraram com um estudo realizado em 10
capitais brasileiras, no qual observaram que a violência física é o tipo mais
comum de violência perpetrada e/ou vivenciada.

208 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que os objetivos aqui propostos de compreender as
representações sociais dos adolescentes acerca da violência simbólica nas
relações de intimidade foram alcançados. Desvelou-se a forma pluridimensional,
retrocessiva e interdependente dos aspectos relativos à violência nas relações
de intimidade dos adolescentes atravessados pela tecnologia, mídias sociais
e letras de músicas.
Assim, a violência simbólica esteve representada por meio das suas falas
demarcando a dominação masculina “acatada” no namoro entre adolescente.
A relação de intimidade entre eles foi representada pelo termo pegar. O celular
se configurou como uma marca dessa geração que agrega poder, dominação e
necessidade de invasão sobre a vida privada. Se constitui, inclusive, em veículo
de controle, o que torna uma das representações sociais da violência simbólica.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 209


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Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 211


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212 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE
SAÚDE EM CONTEXTOS DE PRÁTICAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS SOBRE O
CUIDADO AO PREMATURO DURANTE AÇÕES DE EDUCAÇÃO
EM SAÚDE

Sumaya Medeiros Botêlho1


Rita Narriman Silva de Oliveira Boery1
Zenilda Nogueira Sales1
Eliane dos Santos Bonfim1
Jeórgia Pereira Alves1
Isnara Teixeira de Britto1

INTRODUÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde são considerados prematuros (ou pré-
termos), os bebês que vêm ao mundo antes de completar 37 semanas de
gestação. No Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem antes do
tempo previsto, entretanto, o avanço científico e tecnológico tem permitido
que a maior parte desses bebês consigam se desenvolver e crescer de forma
saudável.(1)
Existem múltiplos fatores que podem ser considerados como riscos
comuns associados à prematuridade, entre eles podem ser destacados a idade
materna (abaixo de 20 anos e acima de 35 anos), raça negra, renda mensal
inferior a 2 salários mínimos, primiparidade, hábitos maternos de tabagismo e
alcoolismo, uso de drogas ilícitas, desnutrição, anemia, ganho de peso ponderal
materno insuficiente, estresse na gestação, mães solteiras, gestação múltipla,
intervalo pequeno entre as gestações, ocorrência anterior de prematuridade,
ocupação materna, assistência pré-natal ausente ou inadequada, afecções
maternas (agudas ou crônicas) e intercorrências clínicas na gestação. Observa-
se que a prematuridade pode ser considerada um problema de saúde pública
mundial e, por isso, necessita de prevenção, com base na identificação dos
fatores de risco precocemente. (2-3)
Segundo a Organização Mundial de Saúde aproximadamente 15 milhões
de bebês prematuros nascem a cada ano no mundo. A prematuridade
é considerada a principal causa de morte em menores de cinco anos,
e as complicações que são relacionadas à prematuridade causaram
aproximadamente um milhão de mortes em 2015. (4)

1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Jequié, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 215


O prematuro possui uma maior fragilidade, acentuado risco de morte,
apresenta ne­cessidades especiais, está mais favorável a infecções e, por isso,
precisa de maior atenção, cuidado, zelo e vigilância. A Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal (UTIN), local onde demandam cuidados especializados, é
tida como um ambiente controlado e com tecnologia de ponta para atender
as particularidades de cada um desses bebês. (5)
Devido ao aumento do número de bebês prematuros ocorreu uma ampla
modificação na forma de cuidar e de perceber a necessidade da inclusão dos
pais como colaboradores dos cuidados, a fim de permitir uma recuperação
mais rápida e qualidade de vida melhor para o bebê, e o estabelecimento do
vínculo entre eles. A oportunidade de os pais estarem presentes diariamente
junto ao filho prematuro permite a ampliação afetiva entre eles e auxilia no
atendimento das necessidades do bebê. Essa vivência contribui para uma
maior segurança no cuidado domiciliar. (6)
Dessa forma, os profissionais de saúde devem ensinar, orientar e
supervisionar as mães nos procedimentos realizados a seus filhos, sendo
que essa assistência deve ser feita com dedicação e carinho, pois as mães se
sentem mais acolhidas, assistidas e amparadas. O profissional não necessita
somente ter conhecimento, mas deve ter a consciência de que partilhar desse
conhecimento torna o cuidado humanizado e contribui para a superação da
mãe diante das situações vivenciadas, contribuindo para o vínculo e confiança
entre a equipe e a mãe.(7) O diálogo entre a equipe de saúde e os pais se
faz necessário para a minimização do sofrimento dos pais nesse período de
hospitalização e para o exercício do cuidado no domicílio.
Diante do exposto, entrelaçou-se a Teoria das Representações Sociais
(TRS) com o cuidado ao bebê prematuro hospitalizado realizado nas ações de
educação em saúde para as mães, no olhar dos profissionais. Considerou-se a
complexidade e singularidade de ambos ao reconhecer que a Representação
Social (RS) permite a identificação dos padrões, regras e comportamentos
de grupos sobre um objeto que lhe é peculiar. De tal modo, a RS pode ser
repensada ou ressignificada, possibilitando novos conhecimentos e práticas
sociais.
Nesse sentido, o estudo das RS torna-se um aporte central, já que esse
fenômeno – cuidado ao bebê prematuro hospitalizado realizado nas ações
de educação em saúde para mães – traduz uma forma de conhecimento
importante para um olhar mais profundo em relação aos profissionais de
saúde e serve de parâmetro para desvendar as nuanças que permeiam as
relações estabelecidas, o pensar, o sentir e o agir, explicitando as contradições
e as mediações do psicossocial, político e ideológico.

216 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Este tema tem o objetivo de apresentar as representações sociais de
profissionais de saúde sobre o cuidado ao bebê prematuro hospitalizado
realizado nas ações de educação em saúde para mães.

MÉTODO
Esse recorte integra a Tese de Doutoramento de Sumaya Medeiros Botêlho,
denominada Representações sociais de profissionais de saúde e percepções de
mães de bebês prematuros sobre ações de educação em saúde, defendida em
2019. Trata-se de uma abordagem qualitativa, de natureza exploratória, com o
aporte teórico da TRS proposta por Serge Moscovici, como uma possibilidade de
apreender os universos consensuais de pensamento, tendo em vista, a conexão
do sujeito e objeto, em interação dinâmica; (8) e na Teoria do Núcleo Central
das RS de Jean-Claude Abric, uma abordagem complementar, que apresenta
descrições mais detalhadas de supostas estruturas com as explicações de seu
funcionamento, possuindo compatibilidade com a teoria geral. (9)
Participaram desse estudo 33 profissionais de saúde de nível superior
(médicos, enfermeiros e fisioterapeutas) da Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal - UTIN ou na Unidade Semi-intensiva de um Hospital Municipal, no
município de Vitória da Conquista – BA - BR. A coleta de dados foi realizada no
próprio hospital, nos meses de junho, julho e agosto de 2018.
Foram incluídos os profissionais de saúde que tinham pelo menos seis
meses de atuação nas unidades; e excluídos, os profissionais de saúde que se
encontravam de férias ou de licença no período da coleta de dados.
Para a coleta de dados, inicialmente, foi realizada a técnica de observação
sistemática; em seguida, o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) e,
depois, a entrevista semiestruturada. A observação sistemática é comumente
utilizada em pesquisas que têm como objetivo a descrição precisa dos
fenômenos, por isso, elabora previamente um plano de observação. (10) Essa
técnica foi escolhida a fim de observar a rotina dos profissionais em relação
ao cuidado prestado aos bebês prematuros nas ações de educação em saúde
para mães. Foram 10 dias, escolhidos de forma aleatória e não sequencial,
seguindo um roteiro pré-estabelecido para a observação sistemática nas
unidades estudadas.
A seguir, o TALP que se constitui em uma técnica projetiva consistente em
solicitar aos participantes da pesquisa que evoquem um determinado número
de palavras (normalmente cinco), a partir de um estímulo indutor fornecido e,
em seguida, organizem as suas respostas de acordo à ordem de importância, da
mais importante para a menos importante. (11) No presente estudo, esse teste foi
realizado com os 33 participantes, sendo solicitado que eles evocassem cinco

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 217


palavras que viessem à mente após a questão indutora: associe cinco palavras
ao termo “cuidado ao prematuro”, e, em seguida, que eles enumerassem as
evocações de acordo com a ordem de importância.
Por fim, a entrevista semiestruturada ocorre a partir do diálogo entre dois
ou mais interlocutores, no qual o entrevistador toma a iniciativa, com a intenção
de construir informações conexas para um determinado objeto estudado. (12)
A mesma, composta por perguntas a respeito do cuidado prestado ao bebê
prematuro realizado nas ações de educação em saúde realizada no ambiente
hospitalar, foi realizada com 14 profissionais, considerando-se o alcance do
objetivo e a saturação dos dados. (13)
Os dados produzidos pela observação sistemática e pelas entrevistas
semiestruturadas foram submetidos à Técnica da Análise de Conteúdo
Temática, uma vez que esta objetiva explicar por meio de deduções os dados
coletados, organizando-os, dando sentido às características dos mesmos. (13)
Já os dados obtidos no decurso do TALP foram processados estatisticamente
por meio do software Ensemble de Programmes Permettant l’analyse dês Evocations
(EVOC), que objetiva realizar a análise estatística dos dados textuais de uma
determinada rede associativa, na qual é permitido combinar a frequência de
aparição das palavras evocadas com a atribuição da ordem de importância
das mesmas. (14)
Após análise da observação sistemática, das entrevistas semiestruturadas
e do TALP foi realizada a triangulação dos dados, considerando que é um
instrumento útil ao pesquisador que deseja aumentar a robustez dos resultados
de sua pesquisa e de suas conclusões. (15)
O estudo atendeu à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde,
sendo submetido ao CEP/UESB, sob CAAE nº 83490317.1.0000.0055. Para
garantir o anonimato dos participantes, eles foram identificados no estudo
por meio de P 01 (profissional 01) a P14 (profissional 14).

RESULTADOS
Após a análise das entrevistas semiestruturadas emergiram uma Classe
Temática, As RS sobre o cuidado ao prematuro realizado nas ações educativas
para mães no olhar dos profissionais de saúde; e cinco Categorias, 1) O cuidado
na higiene, vestes pessoais e na postura dentro da unidade; 2) O cuidado no
aleitamento materno; 3) O cuidado no Método Canguru e no estabelecimento
de vínculo; 4) O cuidado no banho e na troca de fralda; 5) O cuidado ao estímulo
auditivo e ao toque.

218 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Diante da análise realizada dos dados textuais do TALP observou-se que
os 33 profissionais conseguiram contemplar a orientação solicitada, pois cada
um evocou cinco palavras, perfazendo um total de 165 palavras evocadas e,
em seguida, enumeraram as palavras segundo ordem de importância, da mais
importante para a menos importante.
Das 165 palavras existentes, 78 eram distintas, porém algumas possuíam
significados muito parecidos, as quais foram uniformizadas sob a mesma
denominação (aproximação semântica), garantindo que no sentido final fossem
processadas pelo software como sinônimas (39). A partir dessa aproximação
foram geradas 15 palavras diferentes entre si. No entanto, das 165 evocações,
06 palavras foram evocadas uma única vez, 11 palavras foram evocadas duas
vezes e 08 palavras foram evocadas três vezes, representando um número
considerado não significativo, sendo então desprezadas. Utilizou-se, portanto,
68,5% das palavras evocadas (113 palavras), tornando assim a análise mais
representativa. A análise gerou os dados necessários para a construção do quadro
de quatro casas, sendo que a partir desse quadro observou-se que a frequência
média (ponto de corte superior) de ocorrências das palavras foi 7; a média
das ordens médias (RANG) foi 3, conforme demonstra o Quadro 1, seguinte.

Quadro 1: quadro de quatro casas do estudo representações sociais de profissionais


sobre o cuidado ao prematuro durante ações de educação em saúde. Jequié/BA/BR, 2019.

ELEMENTOS DO NÚCLEO CENTRAL ELEMENTOS DA 1ª PERIFERIA


Frequência ≥ 7 / Rang < 3 Frequência ≥ 7 / Rang ≥ 3
Freq Rang Freq Rang
amor 17 1,529 ambiente adequado 7 4,000
atenção 19 2,737 delicadeza 9 3,889
conhecimento 7 2,429
cuidado 14 2,857
ELEMENTOS DE CONTRASTE ELEMENTOS DA 2ª PERIFERIA
Frequência < 7 / Rang < 3 Frequência < 7 / Rang ≥ 3
Freq Rang Freq Rang
cautela 4 2,750 carinho 4 4,250
entrega 4 3,000 manuseio mínimo 5 3,400
humanização 5 3,000 toque 4 4,000
responsabilidade 4 3,000 trabalho em equipe 4 3,250
sensibilidade 5 2,200

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 219


ELEMENTOS DO NÚCLEO CENTRAL ELEMENTOS DA 1ª PERIFERIA
Frequência ≥ 7 / Rang < 3 Frequência ≥ 7 / Rang ≥ 3
Freq Rang Freq Rang
amor 17 1,529 ambiente adequado 7 4,000
atenção 19 2,737 delicadeza 9 3,889
conhecimento 7 2,429
cuidado 14 2,857

ELEMENTOS DE CONTRASTE ELEMENTOS DA 2ª PERIFERIA


Frequência < 7 / Rang < 3 Frequência < 7 / Rang ≥ 3
Freq Rang Freq Rang
cautela 4 2,750 carinho 4 4,250
entrega 4 3,000 manuseio mínimo 5 3,400
humanização 5 3,000 toque 4 4,000
responsabilidade 4 3,000 trabalho em equipe 4 3,250
sensibilidade 5 2,200

1) O cuidado na higiene, vestes pessoais e na postura dentro da


unidade
A primeira categoria apresenta as representações dos profissionais
ancoradas no cuidado que a equipe de saúde tem com as mães em relação
a higiene, as vestimentas adequadas e a própria postura dentro da unidade,
conforme depoimentos a seguir.
Na verdade, assim, a equipe em si, ela tenta em conjunto transmitir isso
pra mãe, todo o processo, não só o fisioterapeuta, o médico, o psicólogo,
desde as secretárias, como essas mães devem chegar na UTIN, o processo
de higienização das mãos, porque higienizar as mãos até a chegada do filho
[...] ela passa por toda essa equipe que tenta trabalhar em conjunto pra não
haver desavenças de informações, distorções de informações [...] (P 02). As
enfermeiras, principalmente elas, dão as orientações de higiene das mãos [...]
de como se portar, de cuidar de vestimentas dentro da UTIN [...] (P 03)
Os profissionais da unidade buscam sempre orientar as mães para que
estejam de acordo com as normas, deixando o ambiente sempre adequado,
no intuito de prevenir que elas levem infecções para seus filhos. Essa é uma
preocupação de toda a equipe, visível também na observação realizada.
Durante a observação sistemática, a orientação é uma prática dos
profissionais no processo da entrada e permanência de qualquer visitante na
UTIN e na semi-intensiva. Destarte, foi observado que as mães são orientadas
antes de entrar na UTIN e na semi-intensiva a retirar brincos, pulseiras, relógios,

220 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


anéis e celular, a vestir um avental e uma touca, higienizar as mãos com água
e sabão e, posteriormente, com álcool gel.
No TALP o termo evocado “ambiente adequado” aparece como elemento da
1ª periferia, com frequência de 7 e ordem de importância de 4,000; e “trabalho
em equipe” aparece nos elementos da 2ª periferia com uma frequência de 4 e
ordem de importância de 3,250. O ambiente adequado e o trabalho em equipe,
apesar de aparecem em frequência relativamente baixa, se apresentam com
representações fundamentais para a organização e tranquilidade dentro do
serviço de saúde.

2) O cuidado no aleitamento materno


As RS apreendidas a partir das falas dos profissionais estão relacionadas
ao cuidado dos profissionais com as mães dos prematuros durante o processo
de aleitamento materno, conforme as falas que seguem.
A gente ensina também a mãe a como amamentar o seu filho, o que ela
pode comer durante a amamentação, a gente ensina que alguns alimentos
devem ser evitados [...] a boa pega [...] a gente ensina também pra essas
mães a questão da mamada que deve ser feita em cada mama por vez pra
que o bebê consiga absorver todo o alimento que existe na mamada desde
a água, os eletrólitos, as defesas, até as gorduras [...] (P 05). Normalmente, a
gente foca muito a amamentação, porque além de tudo o Esaú é um hospital
Amigo da Criança, então a gente tem que estar desenvolvendo isso o tempo
todo [...] (P 13)
O aleitamento materno é um dos primeiros ensinamentos direcionado
às mães dos bebês prematuros realizado pelos profissionais de saúde
na Instituição pesquisada. Segundo relato dos profissionais o hospital é
caracterizado como um Hospital Amigo da Criança e, por isso, é uma referência
em aleitamento materno.
Durante a observação sistemática percebeu-se, também, a preocupação
da equipe com o aleitamento materno, a exemplo de uma mãe que pede ajuda
a equipe, pois o bebê estava mamando e começou a espirrar, aí ela perdeu o
controle da amamentação, então, a enfermeira foi ajudá-la. Em outro momento,
outra enfermeira, orienta e demonstra a uma mãe a ordenha do leite.
As RS apreendidas dos profissionais sinalizam que, além do aleitamento
materno, buscam com que as mães participem do cuidado do filho desde
os primeiros momentos, já que depois irão assumir essa responsabilidade,
sozinhas, no domicílio. As falas a seguir constatam:
Também na questão do aleitamento materno e do cuidado do RN [...] (P
06). O aleitamento e ela ter o cuidado com o filho dela, o filho é dela, então a

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 221


gente já começa a fazer com que ela ponha a mão no bebê, tipo já passando
a responsabilidade pra ela [...] (P 13)
Através do TALP a palavra, cuidado aparece no núcleo central, tendo
sido repetida 14 vezes com ordem de importância de 2,857; e a palavra,
responsabilidade aparece nos elementos de contraste com uma frequência de 4
e ordem de importância de 3,000. Assim, as RS dos profissionais mostram que
o cuidado teve uma alta frequência de repetições, ou seja, o cuidado realizado
pelas mães é enfatizado desde o início da hospitalização do bebê. Por sua vez,
as RS referentes à responsabilidade, mesmo possuindo uma frequência baixa,
sinalizam para o sentido de dar obrigações às mães, que mais cedo ou mais
tarde, estarão assumindo no domicílio o papel de cuidadora principal.

3) O cuidado no Método Canguru e no estabelecimento de vínculo


As RS dos profissionais revelam o cuidado em mostrar que o Método
Canguru é importante para o cuidado, para a recuperação do bebê e para o
estabelecimento do vínculo, segundo as falas seguintes.
A gente aplica também o método canguru onde a mãe tem o contato pele
a pele com esse bebê, então ela sente, o bebê sente o toque, ele sente, ouve
a voz da mãe, sente o cheiro da mãe, então esse contato da mãe com o bebê
e ela ter a noção da relação com a situação do bebê é que é importante [...]
(P 02). O posicionamento canguru que a gente ensina também e propaga e
mostra quais são os benefícios e quando elas começam a ver esses benefícios
elas têm mais vontade, elas perdem o medo do contato com o bebê, vem todos
os dias pedir pra fazer [...] (P 04).
As RS apreendidas sinalizam a preocupação de deixar claro os benefícios
que o Método Canguru proporciona, tanto para a mãe, quanto para o bebê,
a exemplo da fala a seguir.
Como o hospital é Amigo da Criança a gente focaliza o cuidado da mãe
dentro da metodologia canguru, estimular o mais breve possível o contato
pele a pele da mãe com seu bebê, porque geralmente os bebes que chegam
pra UTI são bebes instáveis que as vezes não podem sair imediatamente da
incubadora pra poder ir pro colo da mãe, mas a gente tenta promover isso o
mais rápido possível, a partir da estabilidade do RN [...] (P 06)
Por sua vez, há RS que revelam a necessidade do vínculo entre pais e filhos
e que o fato do hospital ser Amigo da Criança deve ter o Método Canguru na
sua rotina, visando o contato precoce entre mãe e filho, conforme o relato a
seguir:
Aí a convivência com os pais, vai perguntando do caso tal e o primeiro
momento que ele pode pegar o bebê tando entubado ou não eu gosto de

222 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


oferecer que o pai e a mãe peguem no colo, porque eu acho que isso é o mais
importante pra não perder o vínculo, manter esse vínculo [...] (P 11)
O método é feito também com o objetivo de estabelecer um vínculo entre
pais e filhos, sendo que o mesmo não é realizado apenas pela mãe, mas o pai
também tem o direito de participar do método canguru e de gerar um vínculo
com seu filho.

4) O cuidado no banho e na troca de fralda


As RS dos profissionais estão ancoradas no cuidado, ao ensinar a mãe a
dar o banho e trocar a fralda do seu filho, conforme os relatos a seguir.
Quando já é um bebê de semi-intensiva, que são alguns cuidados que ela
vai realizar dentro de casa como a troca de uma fralda, a gente vai ensinar
o posicionamento correto da troca de fralda porque no cotidiano da vida de
todas as pessoas existe já um jeito de se posicionar a criança que é levantando
as pernas para fazer a troca de fralda e aqui a gente aprende que esse tipo de
método é errado, o porquê desse erro, o que causa quando a gente faz isso, a
gente ensina essas mães, pede pra fazerem isso da forma correta, até a higiene
da criança a gente vai ensinando [...] (P 04). As vezes acontece de a mãe trocar
fralda de crianças entubadas, porque ela vai se mostrando confiante, a equipe
vai sentindo e aí vai dando liberdade [...] Basicamente é isso, aí quando já está
próximo a alta a gente orienta a mãe dar banho no prematuro [...] (P 11)
Em suas ancoragens representacionais, a equipe de saúde procura mostrar
a importância dos ensinamentos básicos de higiene do bebê às mães dos
prematuros, gerando maior confiança, mais segurança e vontade de estar
dentro da unidade cuidando dos seus filhos.

5) O cuidado ao estímulo auditivo e ao toque


Na quinta categoria emergiram as representações que enfatizam a
importância do cuidado ao tocar o bebê prematuro e do estímulo auditivo,
segundo as falas seguintes.
Mas em geral, primeiramente, a gente ensina o toque, a importância
de como tocar o prematuro, que é um toque diferenciado, é um toque pra
acalmar e não fazer aquele estímulo na pele [...] aquele carinho que os pais
acham que é bom, mas que na verdade nós sabemos que pro prematuro não
é bom, então a gente começa a ensinar isso [...] se a gente tem tempo, eu pelo
menos sempre falo a importância da voz porque é um estímulo auditivo, a
sensibilidade auditiva ela é a primeira que acontece desde a gestação, então
eu sempre falo pros pais conversarem com o bebê mesmo ele tando entubado
[...] (P 11)

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 223


De acordo com essas falas o toque no prematuro deve ser um toque para
acalmar o bebê, ou seja, um toque que traga tranquilidade e paz. E o estímulo
auditivo deve ser oferecido, visto que a sensibilidade auditiva é bastante eficaz
no bebê e ele necessita ouvir a voz dos pais para que fiquem mais calmos e,
com isso, tenham uma recuperação mais rápida.
Durante a observação sistemática também foi verificado as orientações
com relação ao toque e estímulo auditivo: uma mãe é orientada sobre como
tocar no bebê. Um pai chega para ver o filho, e toca no bebê com muito carinho
e também é orientado a conversar com o bebê.
Foi observado que no TALP a palavra toque aparece como elemento da 2ª
periferia, com frequência de 4 e ordem de importância de 4,000.

DISCUSSÃO
As RS dos profissionais são gerenciadoras das suas práticas, uma vez
que o pensar dos profissionais sobre o cuidado ao prematuro realizado nas
ações de educação em saúde para mães se tornam guias para o seu fazer. (16)
Também para Abric, uma das grandes funções da RS é de orientar e guiar os
comportamentos e suas práticas sociais. Significa reconhecer também a função
justificadora, pois essa permite justificar as posições e os comportamentos,
pois, se a função de orientação guia o comportamento, a justificadora justifica
o comportamento. Por outro lado, a função de saber e a função identitária
devem ser consideradas, sem elas não haveria essas outras duas funções. (17)
Assim, o processo de orientações aos pais dos bebês prematuros é iniciado
desde o momento que eles vão ao hospital fazer a primeira visita. Inicialmente,
eles são muito bem orientados em relação ao não uso de adereços, brincos,
anéis, pulseiras e relógios durante a visita, para que não corra o risco de
machucar os bebês na hora de segurá-los e para evitar o risco de infecções.
Também, sobre a maneira correta de higienizar as mãos, pois a higienização das
mãos dentro do ambiente hospitalar constitui-se em uma prática prioritária e
resolutiva no que diz respeito a diminuir as taxas de infecções por transmissão
de microrganismos. (18) Pedem, ainda, o uso de vestimentas adequadas para as
mães, sendo orientadas a usar roupa com abertura ventral e central, facilitando
o contato pele a pele, a ordenha e a amamentação. (19) E que tenham postura
dentro da unidade, procurando sempre falar baixo, uma vez que na UTIN deve
se prezar sempre pelo silêncio para não alterar o estado comportamental dos
bebês.
A UTIN constitui um setor do Hospital que requer atenção especial dos
gestores da instituição, visto que se trata de um espaço onde são assistidos
bebês prematuros, na maioria das vezes, muito debilitados. Levando em

224 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


consideração os riscos expressivos à saúde dos usuários hospitalizados
representados pelas Infecções Relacionadas à Assistência a Saúde, sua
prevenção e seu controle abrangem medidas de qualificação da assistência
hospitalar, educação permanente e avaliação do desempenho dos profissionais
para o resultado pretendido. (18)
Nesse sentido, os profissionais envolvidos no cuidado são considerados um
fator primordial na segurança do paciente, uma vez que estão sempre ligados
a este processo, podendo cooperar durante a identificação de certas situações
perigosas e falhas presentes no sistema de saúde. (20) Daí a importância da
apreensão das RS que têm acerca do cuidado ao bebê prematuro nas ações
de educação em saúde para mães.
Este hospital municipal é conceituado como Hospital Amigo da Criança,
que tem a finalidade de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno,
visto que este possui repercussão direta ou indireta na vida futura do indivíduo,
protegendo-o de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e obesidade,
além de reduzir o risco da mulher que amamenta de ter câncer de mama,
de ovário e diabetes tipo II; promove, também, a saúde física e mental da
criança e da mãe, beneficiando o vínculo entre eles. Assim, o Ministério da
Saúde recomenda 10 passos para o aleitamento materno, dentre os quais,
vale destacar dois: capacitar toda a equipe de cuidados da saúde nas práticas
necessárias para implementar essa política e mostrar às mães como amamentar
e como manter a lactação, mesmo separadas dos seus filhos. (21)
Acredita-se ser adequado o desenvolvimento da educação permanente e
da técnica de aconselhamento para os profissionais da saúde serem habilitados
para a promoção do aleitamento materno como uma prática através de uma
relação de vínculo e confiança entre mães e profissionais envolvidos. (22)
No período pós-parto, a atuação precoce da equipe de saúde favorece a
maior formação do vín­culo dos profissionais com as mães, proporcionando
uma assistência mais individuali­zada, com resolutividade e qualidade, trazendo
para a mulher uma melhor adaptação a essa nova fase da vida e enfrentamento
de seus medos com mais segurança e tranquilidade. (23)
Além do aleitamento materno a equipe também visa, desde o início,
o incentivo ao cuidado dos bebês pelas próprias mães. Assim, a mãe do
prematuro pode participar dos cuidados de seu filho, obtendo seu espaço
dentro da unidade neonatal, trocando sua figura de fragilidade para uma
posição mais assertiva, pois a mãe passa a assumir seu lugar, capacitando-se
a assumir a sua função materna, exigindo seus direitos de cidadã e permitindo
um cuidado apropriado ao filho, sendo, assim, incluída de forma efetiva no
processo de cuidado. (24)

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 225


Outra preocupação da equipe é tentar a inserção dos pais, principalmente
das mães, no Método Canguru, pois a vivência do método proporciona vários
benefícios para pais e filhos, como a construção do vínculo, a aproximação
com o bebê, o favorecimento do crescimento, do desenvolvimento e do sono
tranquilo, além da segurança que o Método promove para as mães no cuidado
do bebê e na concretização da maternidade. (25)
Além disso, o Método Canguru também tem as funções de reduzir a
mortalidade neonatal; proporcionar melhoria da qualidade do desenvolvimento
neurocomportamental e psicoafetivo; incentivar o aleitamento materno;
permitir um controle térmico apropriado ao bebê; reduzir o risco de infecção
hospitalar; e promover uma melhor relação entre os pais e a equipe de saúde.
(26)

Estimular a constituição do vínculo entre pais e filhos também faz parte


das condutas da equipe de saúde. Partindo do pressuposto de que mães de
bebês internados em UTIN demandam cuidados especiais, é indispensável
conhecer os aspectos emocionais e sociais vivenciados por elas e proporcionar
apoio para a atuação do papel materno nesse período, necessitando fortalecer
o vínculo mãe-filho. (27)
A grande participação do esposo no meio doméstico parece conferir um
lugar mais central para o pai na família ao longo dos primeiros meses de vida
do bebê, reduzindo seus sentimentos de exclusão familiar, visto que a inclusão
do homem na rotina de cuidados com o bebê é uma possibilidade de o pai
investir no estabelecimento do vínculo com o filho, favorecendo a construção
de uma relação de intimidade e proximidade familiar. (28)
Outro foco dos profissionais é o cuidado em orientar os pais durante o
processo de higiene do bebê, desde a troca de fralda até o banho propriamente
dito. Assim, compreende-se, a importância do primeiro contato físico entre
mãe e filho, no processo de construção dos laços de afetividade que diminuem
os temores que estão sendo vivenciados. Ao mesmo tempo, esse processo
gradativo de aproximação atribui segurança à mãe, que passa a mostrar
capacidade em poder exercer o cuidado materno. É importante dar uma
conferida aos pequenos gestos de aproximação, de tal modo que cuidados
simples sejam bem valorizados e atividades diárias como a troca de fraldas
possa se tornar marcante neste processo de apropriação da função materna. (29)
O primeiro banho costuma gerar muitas expectativas, deixando a mãe na
maioria das vezes apreensiva e insegura diante dos movimentos e reações do
bebê durante o procedimento. As orientações dos cuidados encarregados às
mães devem ter várias repetições para que as mesmas consigam assimilar
e colocar em prática, até que se sintam seguras para a sua realização.
O profissional deve acompanhar a evolução dessa autonomia materna,

226 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


inicialmente, demonstrando e orientando, depois, auxiliando-a no cuidado
e, por fim, supervisionando a realização do procedimento, sempre de modo
disponível e acolhedor. (29)
A atividade educativa centrada no diálogo é um instrumento importante
durante as orientações das mães para o cuidado ao prematuro quando ele
receber alta hospitalar, momento em que a mãe assume todo o cuidado. Deve
ser direito de toda mãe ser preparada para essa condição, visto que essas
ações podem contribuir para a diminuição das intercorrências com o bebê
após a chegada ao domicílio. (30)
Durante o diálogo da equipe com os pais, eles também são orientados a
conversar e a tocar no bebê. A voz humana afetiva é um estímulo eficaz para
interromper o choro nas primeiras semanas de vida. (19) Por isso é importante
que os pais estejam sempre conversando com os filhos, principalmente as
mães, que nessa fase é quem têm o maior vínculo, por tê-lo carregado no
ventre durante um período relativamente grande de tempo.
A forma de tocar o bebê e o seu manuseio tem uma importância particular
enquanto o bebê se encontra na unidade neonatal. A sensibilidade tátil é o
primeiro sistema sensorial a se desenvolver e a amadurecer. Ao nascer, o bebê
já apresenta sensibilidade tátil em todo o corpo e consegue distinguir o toque
leve do toque profundo. É importante explicar aos pais que o bebê sente sua
presença e seu toque e que ele adora ser tocado por eles. Se os pais, por falta
de experiência, estão estimulando o bebê de forma excessiva, eles devem ser
orientados pela equipe a usar um estímulo de cada vez, por exemplo, falar
sem tocar o bebê ou tocar o bebê sem falar. (19) O toque no bebê prematuro
deve ser um toque firme que dê tranquilidade e segurança para o mesmo.

CONCLUSÃO
Este estudo apreendeu as RS de profissionais sobre o cuidado ao bebê
prematuro realizado nas ações de educação em saúde para mães e conseguiu
alcançar seu objetivo, pois conheceu as RS de profissionais de saúde sobre o
cuidado ao bebê prematuro hospitalizado realizado nas ações de educação em
saúde para mães, apreendendo os universos consensuais de pensamentos e,
também, elementos no núcleo central, elementos intermediários e periféricos
dessas RS.
As ações de educação em saúde para mães se relacionam com as
representações dos mesmos sobre o cuidado ao prematuro, na busca de
orientar as mães, sobre o filho que se encontra hospitalizado. As orientações
visam às prevenções para o risco de infecções hospitalares e para a melhoria
da saúde do bebê; buscam a inserção da mãe no processo do aleitamento

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 227


materno e no Método Canguru, nos ensinamentos sobre a troca de fralda e
banho e, também, sobre a estimulação auditiva e o toque no bebê.
O cuidado apareceu como um elemento do núcleo central das RS e o
mesmo também emergiu nas falas dos profissionais e durante a observação
sistemática, demonstrando, assim, a importância de inserir os pais no contexto
do cuidado do bebê.
As RS dos profissionais estão ancoradas no cuidado ao bebê prematuro
hospitalizado, durante as orientações às mães, uma vez que, nesse momento
necessitam de atenção e acolhimento, pois vivenciam um momento de
fragilidade e dor ao ver seu filho rodeado de aparelhos, muitas vezes sem
perspectiva de alta hospitalar.

228 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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230 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ENFERMEIRA(O)S SOBRE
PROCESSAMENTO DE PRODUTOS UTILIZADOS NA
ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Cristiane Purificação de Oliveira1


Mary Gomes Silva1
Bárbara Angélica Gómez Pérez1
Magno Conceição das Mercês1
Antônio Marcos Tosoli Gomes2
Carle Porcino3

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o sistema de saúde no Brasil, tem enfrentado
o desafio para planejar, implementar e melhorar a qualidade dos serviços
dispensados a população. Entretanto, para que essa meta seja alcançada é
necessária a incorporação de novas estratégias e ferramentas, que auxiliem
no planejamento, gestão e culminem com a redução de custos atrelados a
melhoria dos serviços oferecidos, considerando as expectativas, necessidades
e segurança de usuários.(1)
Nesse cenário, o Centro de Material e Esterilização (CME) destaca-se de
forma bastante singular, nos estabelecimentos de saúde por proporcionar
apoio aos serviços assistenciais e de diagnóstico que necessitam de produtos
utilizados na assistência à saúde, para prestação de assistência segura e de
qualidade aos seus clientes. Nesse serviço, a/o enfermeira/o desempenha
papel gerencial importante na condução do processo de trabalho em função
das peculiaridades inerentes.(2)
O CME pode ser definido como uma área, unidade ou um serviço destinado
à limpeza, ao acondicionamento, à esterilização, à guarda e à distribuição dos
produtos utilizados na assistência à saúde. A Resolução da Diretoria Colegiada
(RDC), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), nº 307, de 14 de
novembro de 2002, considera o CME como uma unidade de apoio técnico que
tem como finalidade o fornecimento de produtos para a saúde adequadamente
processados, proporcionando, assim, condições para o atendimento direto e
a assistência segura à saúde dos indivíduos enfermos e sadios.(3-4)

1
Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Salvador, BA, Brasil.
2
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 231


Esse serviço é caracterizado como uma área de atuação do profissional
de enfermagem, apesar de cada unidade pode diferenciar no que se refere à
dimensão de áreas física, organizacional, tipos de equipamentos e contingente
de pessoal. Além de demandar habilidades e conhecimentos advindo de
pesquisas e experiências prévias.(5) A esse respeito, Cruz e Soares(6) afirmam que
o trabalho nesse contexto é complexo em função das necessidades setoriais
que advém de experiências cotidianas e demanda conhecimentos empíricos,
científicos e tecnológicos.
Considerando o aporte teórico sobre a relevância do CME no âmbito
dos estabelecimentos de saúde e a trajetória profissional das(os) autora(e)s,
como enfermeira(o)s de CME, pesquisadora(e)s sobre representações sociais
e docentes de um componente curricular alinhados a temática, de uma
universidade pública, que aborda sobre CME e de alguma forma representações
sociais, tem sido possível constatar que o trabalho desenvolvido nesse serviço,
demanda muito mais que conhecimento técnico-científico específico.
Com base nesse entendimento, as/os autoras/es utilizaram a Teoria das
Representações Sociais (TRS) como aporte teórico para condução do estudo.
Esse referencial suscita reflexões para a tomada de posição e definição
de estratégias mais eficazes que podem ser adotadas por profissionais de
enfermagem no âmbito do processo de trabalho dos CME, considerando que as
representações são fundamentalmente dinâmicas, produtos de determinações
tanto históricas como do aqui e agora e, de modo particular, são consideradas
produtos do ambiente social de determinado grupo.(7)
Para Cruz e Soares(6), a TRS possibilita o reconhecimento das condições
objetivas do trabalho e dos processos que expressam e articulam a relação
entre a objetividade da prática de enfermagem e a subjetividade de cada
profissional inserido no seu contexto grupo social de trabalho, cujos elementos
de suas representações podem vir a ser deduzidos a partir do seu próprio
discurso mediante indicadores.
Frente a esse contexto, em consonância ao disposto na Resolução da
Diretoria Colegiada (RDC), nº. 156(8) de 2006, nº. 63(9) de 2011 e a nº. 15(10) de
2012, no que se refere as boas práticas para o processamento de produtos
para à saúde, este estudo teve como objetivo apreender e analisar a estrutura
das representações sociais de enfermeiras/os sobre o processamento dos
produtos utilizados na assistência à saúde.

REFERENCIAL TEÓRICO: A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS


Neste estudo, a TRS foi adotada como referencial teórico, com foco na
abordagem do estrutural, desenvolvida por Jean-Claude Abric(11), por facultar a

232 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


apropriação e compreensão das representações sociais elencadas pelos atores
sociais, enquanto componentes de um grupo social específico, ou seja, o de
profissionais de enfermagem de nível superior “Enfermeiras/os” atuantes no
contexto de CME.
As representações sociais se propõem a ir para além dos fatos de
instituição, da coleta das ideologias e dos documentos, demonstrando interesse
por crenças e pelo mais singelo cotidiano dos sentimentos e dos pensamentos.
De modo sintético, “[...] a representação social é uma modalidade de
conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos
e a comunicação entre indivíduos”.(11)
A TRS surgiu com a publicação da tese desenvolvida por Serge Moscovici,
no ano de 1961, em Paris, sob o seguinte título La psychanalyse: Sonimage et son
public. Porém, a versão brasileira da respectiva obra, foi traduzida da segunda
edição francesa, datada de 1976, e publicada em 1978, pelo grupo Zahar
Editores, intitulada “A representação social da psicanálise”.(12) Na realidade,
se trata de uma obra da psicologia social, em que a psicanálise foi objeto de
estudo.
No Brasil, o período de 1982 até 1987, marcou o surgimento das
primeiras pesquisas no campo da saúde ancoradas pela TRS, tendo em vista
que despontava como uma resposta possível para as questões presentes no
cotidiano e no campo profissional.(13) Entretanto, de acordo com Oliveira(14),
somente a partir da década de 1990, as primeiras produções embasadas na
TRS foram publicadas e coincidem com dois movimentos: a difusão da teoria e
a incorporação de novos paradigmas teóricos e metodológicos nas pesquisas
no campo da saúde,

[...] especialmente em estudos nos quais importe ter acesso


ao conhecimento social que orienta as práticas de um
dado grupo social quanto a problemas de saúde, ou seja,
o conhecimento que o grupo utiliza para interpretar tais
problemas e justificar suas práticas sociais, da mesma forma
que para a análise das práticas profissionais de atenção à
saúde.(14)

As representações sociais se expressam também como conhecimento do


senso comum. Ou seja, o saber ingênuo assume destaque como um legítimo
objeto de estudo, em função de sua importância na vida social e nas interações
sociais, possibilitando, por sua vez, a elucidação dos processos cognitivos, ao
tempo que estudos brasileiros, pautados na TRS, funcionam “[...] como um
instrumento para um melhor conhecimento da realidade social e uma melhora
na forma de intervenção sobre ela”.(15)

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 233


A construção do objeto de pesquisa pautado na TRS consiste em processo
decisório com vistas a transformar conceitualmente um fenômeno universo
consensual em um problema do universo reificado.(16) A partir daí, se faz
necessário, por parte da(o) pesquisador(a), promover a seleção dos recursos
teóricos e metodológicos a serem adotados para com a finalidade de propor
soluções para a problemática em questão.
As representações sociais são o produto e o processo de uma atividade
externa ao pensamento e de produção psicológica e social dessa realidade. A
partir daí, ocorre o estabelecimento de uma relação entre um conteúdo que
inclui as imagens, opiniões e informações, correlacionadas a um objeto a partir
da expressão singular de um sujeito.(17) A esse respeito, Sá(16) propõe que a
construção do objeto transcorra de modo processual, onde o fenômeno da
representação social, de forma simplificada, se torne compreensível através
da teoria e da respectiva finalidade da pesquisa.
De acordo com Abric(11), a teoria do núcleo central apresenta elementos
complementares à TRS, em função de se ocupar do conteúdo cognitivo
organizado e estruturado. Pois, “o objeto está inscrito num contexto ativo,
sendo este contexto concebido pela pessoa ou grupo, pelo menos parcialmente,
enquanto prolongamento do seu comportamento, de suas atitudes e das
normas às quais ele se refere”.(11) (ABRIC, 2000, p. 27).
As representações sociais respondem a quatro funções essenciais em
virtude de desempenharem papel fundamental nas práticas e relações
sociais com isso promovem sentido à realidade social, produzem identidades,
organizam as comunicações e orientam as condutas dos respectivos grupos a)
função de saber: permitem compreender e explicar e dar sentido a realidade
social; b) função identitária: elas definem a identidade e permitem a proteção
da especificidade dos grupos, pois na medida em que uma representação
social é compartilhada por um grupo, este pode ser definido e diferenciado
de outro. Nesse aspecto, a representação faculta uma identidade grupal,
assim como possibilita que um grupo se diferencie de outro; c) função
de orientação: elas guiam os comportamentos e as práticas; e d) função
justificadora: elas permitem, a posteriori, a justificativa da tomada de posição
e dos comportamentos, além de servirem para justificar condutas relativas
a determinados objetivos. Elas intervêm ainda, “[...] na avaliação da ação,
permitindo aos atores explicar e justificar suas condutas em uma situação ou
face a seus parceiros”.(11)
O conteúdo da representação é constituído a partir de dois sistemas que
funcionam interligados e possuem funções e particularidades distintas: um é
denominado central e o outro periférico. O núcleo central, também chamado
de núcleo estruturante, por um lado é determinado pela natureza do objeto

234 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


representado, por outro, a partir do tipo de relações que o grupo mantém
com esse objeto, considerando os valores e normais sociais constituídas que
perpassam pelo grupo.(11)

METODOLOGIA
Pesquisa de abordagem qualitativa, norteada pela TRS privilegiando a
abordagem estrutural ou TNC. Os dados foram produzidos durante a realização
de um evento sobre Central de Material Esterilizado que acontece de forma
anual na Cidade de São Paulo- SP, – Brasil, onde participam profissionais
Enfermeira(o)s de todos estados do Brasil.
Os dados foram coletados no período de 22 a 31 de março de 2017, de
forma individual pela pesquisadora e em horário previamente combinado, em
duas etapas: inicialmente foi aplicada a técnica da evocação livre, através do
Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) para a(o)s 103 participantes com
o seguinte estímulo indutor: “reprocessamento/processamento de materiais
utilizados na assistência à saúde”. Os critérios de inclusão: ser enfermeira(o)
atuante em CME, com idade igual ou superior a 18 anos. Como critério de
exclusão: enfermeira(o) que não atuava exclusivamente no contexto do
trabalho em CME.
A utilização do TALP aplicado como técnica de coleta de dados nas
pesquisas de representações sociais foi motivada objetivando apreender as
projeções mentais de forma descontraída e espontânea, pelo fato da obtenção
do conteúdo semântico de maneira rápida e objetiva.(18)
A aplicação do TALP consistiu em solicitar a(o) participante que escrevesse
as cinco primeiras palavras que lhe ocorressem ao escutar a expressão
indutora: ‘reprocessamento/processamento de materiais utilizados na
assistência a saúde’. A seguir, solicitou-se que: a) enumerassem em ordem
crescente, levando em consideração o grau de importância; b) selecionasse a
palavra considerada a mais importante; c) justificasse a importância atribuída
à palavra escolhida.
Os dados oriundos TALP foram organizados e processados pelos softwares
Esemble de Programmes PermettantI’ Analyse de Évoctions - EVOC 2000(19) e
IRAMUTEQ(20) que gerou o quadro de quatro casas e a árvore de similitude.
O projeto de pesquisa foi cadastrado na Plataforma Brasil e apreciado e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), sob o Parecer de nº Parecer de nº 1.963,466 de 04/03/2017, conforme
estabelece a Resolução 466/2012.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 235


RESULTADOS
Das(os) 103enfermeiras(os) que participaram do estudo: 92 eram mulheres;
32 na faixa etária de 32 a 38 anos; 43 raça/cor branca; e 80 possuíam curso de
especialização (Tabela 1).

Tabela 1 – Caracterização Sociodemográfica das Enfermeiras participantes, jan - jun


de 2017. São Paulo - SP

Características N = 103
Gênero
Mulher 92
Homem 11
Faixa Etária
> 45 15
39 – 45 23
32 – 38 32
25 – 31 31
18 – 14 02
Raça/cor
Branca 43
Parda 34
Negra 15
Outras 11
Qualificação
Graduação 16
Pós-Graduação 80
Mestrado 05
Doutorado 02
Tempo de Serviço (em anos)
< 20 11
16 – 20 15
11 – 15 12
06 – 10 31
0 – 05 34

Fonte: Dados da pesquisa

Após o processamento das informações, a associação ao sentido a


expressão indutora “processamento de produtos utilizados na assistência à
saúde” produziu, na(o)s 103 participantes do estudo, um total de 516 palavras,
das quais 37 foram diferentes. Para a construção do quadro de quatro casas
(Tabela 2) foi considerado a frequência mínima = 10, frequência intermediária
= 18 e Ordem Média das Evocações (OME) = 3,0.

236 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Tabela 2. Configuração estrutural da representação sobre “processamento de produtos
utilizados na assistência à saúde”: elementos centrais e periféricos, entre enfermeira(o)
s, São Paulo, SP, Brasil, 2016/2017 (n=103)
Elementos do núcleo central Elementos da 1ª periferia
Frequência > 18 - OME < 3,0 Frequência > 18 - OME > 3,0
Elemento Freq. OME Elemento Freq. OME
Reutilizar 70 2,357 Controle de qualidade 55 3,111
Limpeza 41 2,537 Processo 30 3,767
Esterilização 40 2,975 Risco de infecção 26 3,231
Segurança 39 2,872 Uso único 24 3,231
Instrumental 22 2,455 Lucratividade 23 3,217
Cuidado 20 3,500
Elementos da zona de contraste Elementos da 2ª periferia
Frequência <18 - OME < 3,0 Frequência < 18 - OME > 3,0
Elemento Freq. OME Elemento Freq. OME
Desinfecção 17 2,412 Proibido 17 4,429
Preparo 10 2,400 Acondicionamento 14 3,412
Validação 10 3,000 Rastreabilidade 11 3,545
Fonte: Dados da pesquisa, 2016/2017.

No quadrante superior esquerdo, observam-se os termos: reutilizar,


limpeza, esterilização, segurança e instrumental são os possíveis componentes
do núcleo central. A associação desses elementos, tendo como referência o
processamento de produtos utilizados na assistência à saúde, articula-se segundo
as justificativas apresentadas a atenção requerida pelo termo reutilizar.
No quadrante superior direito, denominada primeira periferia ou periferia
próxima, se encontram os elementos periféricos mais importantes, muito
embora tenham sido evocados mais tardiamente. Eles constituem o essencial
do conteúdo da representação: seus componentes mais acessivos e concretos,
cuja OME é igual ou superior a 3,0, destacam-se os termos: controle de qualidade,
processo, risco de infecção, uso único, lucratividade e cuidado.
O quadrante inferior esquerdo, denominado zona de contraste, encontra-
se os termos: desinfecção, preparo e validação. Para o grupo investigado esses
elementos são fundamentais para o processamento eficaz.
Como elementos da segunda periferia, encontramos os termos: proibido,
acondicionamento e rastreabilidade.
A Figura 1 mostra a representação gráfica da árvore de similitude, nela é
possível visualizar as coocorrências, com base na análise frequencial, resultado
da conexão entre os termos.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 237


Figura 1. Árvore máxima de similitude para a expressão indutora “processamento de
produtos utilizados na assistência à saúde” para enfermeira(o) que atuam em CME,
São Paulo, SP, Brasil

A árvore de similitude foi formada por três eixos representadas pelos


termos: controle de qualidade (f=55) que ocupa lugar de destaque, limpeza (41),
esterilização (40), segurança (39) e lucratividade (23). Esses elementos foram os
que apresentaram maior poder de conexidade, característica dos elementos
considerados centrais em função do seu valor simbólico.(21) A associação desses
elementos com os demais termos evocados que a compõem retrata a ideia de
que para o grupo de pertencimento, o processamento de produtos utilizados na
assistência à saúde está ancorado especialmente no que concerne a limpeza,
etapa essencial, na cadeia do processo.

DISCUSSÃO
Conforme pôde ser constatado na conformação estrutural da representação
social sobre “processamento de produtos utilizados na assistência à saúde”,
os elementos centrais e periféricos, entre enfermeira(o)s, os elementos do

238 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


quadrante superior direito, por apresentarem as frequências mais elevadas e
menor ordem média de evocação tendem a serem centrais.(21)
O segundo elemento com maior frequência foi limpeza, por ser o primeiro
passo para assegurar a qualidade na esterilização, se configura em uma das
etapas mais importantes no processamento, cuja finalidade é a remoção de
sujidades orgânicas e inorgânicas. Na medida em que é realizada de maneira
adequada, pode-se evitar a formação de biofilme, uma vez que, quando o
produto não foi limpo adequadamente, não pode ser esterilizado.(23) Nessa
etapa, a atenção é fundamental, considerando a complexidade e fragilidade
de alguns produtos, muitos fabricantes fornecem materiais extremamente
complexos que impossibilitam um desmonte devido para limpeza, se houver
impossibilidade o material não pode ser esterilizado, ele deve ser notificado
e devolvido para unidade de origem.
O elemento reutilizar, para além atenção necessária com os artigos
e materiais, considerando a fragilidade desses, inconformidades com as
legislações vigentes, também é associado à segurança consigo própria(o)
na perspectiva da prevenção de acidentes, assim como para assegurar que
o produto utilizado em procedimentos não ofereça riscos para à vida da(o)
cliente. Para isso, atender as instruções normativas e dispositivas legais é
de fundamental importância no que tange a reutilização e ao processo de
desinfecção. Nesse aspecto, como assinala Barbosa(24), o trabalho na CME,

[...] é realizado por meio de processos, as etapas que


compõem o processamento de um produto para saúde
são interdependentes, o que faz de cada ação um passo
importante e grandioso e, por que não dizer, imprescindível
para o sucesso dos resultados.(24)

Desse modo podemos observar que os elementos que formam o


quadrante superior direito remetem a uma realidade prática, indicando uma
ênfase desejável que se coaduna com todos os termos que integram o primeiro
quadrante como: reutilizar, limpeza, esterilização, segurança e instrumental.
Os elementos da zona de contraste, quadrante inferior esquerdo, podem
revelar elementos que reforçam as noções presentes na primeira periferia,
e sublinham as dimensões comportamentais e psicológicas, retratadas por:
desinfecção, preparo e validação. Se por um lado, a desinfecção está relacionada
ao critério estabelecido por procedimentos que devem ser seguidos
principalmente no que tange a efetividade na limpeza, pois reduz 90% de carga
microbiana evitando a formação de biofilme(4), por outro, perpassa também
pela tomada de decisão da(o) profissional.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 239


A dimensão do impacto dos elementos proibidos, acondicionamento e
rastreabilidade, dispostos no quadrante inferior direito, segunda periferia,
denota um impacto na atividade prática. Nesse sentido, deve-se considerar que,

[...] o uso clínico de um dispositivo médico, seja de uso único


ou de uso múltiplo, contribui para a sua natural degradação,
que pode ser insignificante após muitos usos ou pode
ocorrer após um único uso, mesmo que este produto
seja rotulado pelo fabricante como reusável e, assim, tais
produtos estarão inseguros para o cuidado assistencial em
alguma situação.(25)

Convém ressaltar que, a partir da análise dos resultados que compõem o


quadro de quatro casas, foi possível identificar o valor simbólico dos campos
semânticos reutilizar, limpeza, esterilização, segurança, instrumental, controle
de qualidade, processo, risco de infecção, uso único, lucratividade, cuidado,
desinfecção, preparo, validação, proibido, acondicionamento e rastreabilidade,
visto que explicitam as particularidades do objeto representado. Como bem
pontua Barbosa(24), pode-se afirmar que a CME “[...] exerce a arte de comprar,
receber, armazenar, separar, expedir, transportar e entregar o produto ou os
bens e serviços, no lugar certo, no tempo previsto” primando pelos aspectos
da qualidade, assim como a garantia de segurança em todas as etapas do
processo.(24)
A centralidade dos elementos é confirmada a partir da elaboração da
análise de similitude, pois o modo como a árvore máxima de similitude está
disposta, revela a variedade de sentidos, assim como evidencia a dimensão
e complexidade que os produtos utilizados na assistência à saúde requer,
principalmente a reutilização dos produtos de uso único, expressa no termo
“reutilizar”, presente também, de forma bastante significativa na nuvem de
palavras. Nesse sentido, o cuidado e a análise das questões dispostas acerca do
“[...] reuso de produtos médicos, especialmente os comercializados como sendo
de uso único, revela complexidade, diversidades de interesses e necessidades
de respostas aos distintos atores envolvidos.(25)
Desse modo, tendo em vista à heterogeneidade do objeto em estudo,
que mobiliza atitudes e comportamentos frente às atividades desenvolvidas,
a inobservância aos procedimentos específicos, podem se configurar em
situações de risco para os que ali atuam. A esse respeito Barbosa(24) enfatiza
que a(o)s profissionais que atuam na CME devem atentar para os requisitos e
competências exigidas para o cargo e/ou função exercem.
A noção e entendimento sobre as legislações vigentes que regulam as
boas práticas do processamento de produtos utilizados na assistência à saúde
demonstram que as(os) profissionais enfermeiras(os) que atuam na área de

240 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


CME, tem buscado desenvolver competência necessária para exercer a função
de gestão no processamento de tais produtos. Essa busca justifica-se pelo
fato da qualidade do processamento representar um dos principais pilares
relacionados ao controle das Infecções Relacionadas a Assistência à Saúde
(IRAS), sendo o controle da qualidade objeto de preocupação abordado em
pesquisas eventos científicos e legislações(23).
Nessa direção, com vistas a contribuir para área de conhecimento
relacionado ao controle de qualidade em CME, Fusco e Spiri(26) realizaram estudo
que teve como objetivo descrever e analisar os indicadores de qualidade de CME
de hospitais públicos, acreditados, do Estado de São Paulo e sua gestão pelos
responsáveis do setor. Entretanto, não conseguiram identificar indicadores de
qualidade que pudessem retratar a qualidade do processamento dos produtos
utilizados na assistência à saúde, tampouco sobre o gerenciamento do CME nos
hospitais que participaram do estudo. As autoras defendem que a gestão de
indicadores de qualidade pode assegurar a(o) enfermeira(o) do CME a encontrar
respostas para várias questões no âmbito gerencial, assistencial, econômico
e legal. Esse entendimento pôde ser verificado nas falas das enfermeiras que
participaram deste estudo.
Seguindo, foi verificado ênfase sobre o reprocessamento/processamento
de produtos utilizados na assistência à saúde, em que é reconhecido como
algo que oferece risco potencial à segurança do paciente. É interessante
perceber o quanto esse fato representado é compartilhado pela (o)s
participantes. Segundo Souza(27), esses fatores são intensificados à medida
que outros são incorporados, como por exemplo: entender o significado de
uso único, a educação permanente deficiente, a deficiência de outros setores
prejudicando o andamento do trabalho, a descontinuidade, a escassez de
material, a sobrecarga de trabalho, o não conhecer as legislações vigentes, a
lucratividade exigida nos procedimentos, os produtos disponíveis no mercado
(muitos de formatação complexa), a dificuldade de insumos e maquinários que
se adequem a realidade de cada especialidade, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os termos alocados no possível núcleo central: reutilizar, limpeza,
esterilização, segurança e instrumental remetem a aspectos das etapas
inerentes ao fazer no âmbito da central de material e esterilização. O
termo reutilizar está estreitamente relacionado à utilização de instrumental
considerado de uso único, que pode ser submetido ao processamento,
considerando as recomendações do fabricante em observância a legislação
vigente, apontada pelo termo controle de qualidade na primeira periferia.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 241


Para as/os participantes, o termo “uso único” está associado ao risco de
infecção. Entretanto, a lucratividade não deve se sobrepor ao cuidado requerido
no processo e preparo com vistas à garantia da rastreabilidade. Tais aspectos
devem primar pela segurança do paciente. Os resultados evidenciam que a
compreensão do conteúdo dessa representação ainda se mostra associado à
necessidade de desenvolvimento de estudos que assegurem a padronização
uniformizada nas análises sobre produtos de uso único, bem como a avaliação
efetiva do risco/benefício dos produtos utilizados na assistência à saúde.

242 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


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244 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


POSFÁCIO

Mirian Santos Paiva1


Michele Mandagará de Oliveira2

Alegria e gratidão definem os sentimentos sentidos de ser convidada para


escrever o posfácio deste livro. A alegria e a gratidão chegaram juntamente
com o convite realizado pelas pesquisadoras e pelo pesquisador, pessoas
estas que habitam meu mundo respeitoso de pessoas admiráveis. O livro
contém elementos atuais sobre estudos elaborados sob a luz da Teoria
das Representações Sociais (TRS) desenvolvida pelo Psicólogo Social Serge
Moscovici.
Ao ler cada um dos capítulos, pude enriquecer meu conhecimento sobre
os diferentes temas, instrumentos, e abordagens realizadas que efetivamente
simbolizam a qualidade da escrita, bem como simbolizam a preocupação dos
pesquisadores e das pesquisadoras com a escrita minuciosa de cada linha
e parágrafo ao apresentarem aos leitores e as leitoras um marco temporal
contemporâneo da apreensão da Teoria das Representações Sociais na
produção de pesquisas que focalizam fenômenos e objetos que submergem
das práticas e políticas de saúde, bem como do cuidado integral as pessoas
e grupos no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Se observa a maturidade teórica alcançada como resultado de anos de
dedicação ao estudo e a aplicação da TRS por parte dos grupos de pesquisa
envolvidos. Fato este que tenho podido observar também durante a minha
participação cotidiana junto ao Grupo de Pesquisa em Enfermagem:
Sexualidade, vulnerabilidade, drogas e gênero (SVDG) pertencente ao Programa
de Pós-graduação Em Saúde e Enfermagem da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia, que tem realizado inúmeros estudos, orientados
pela Teoria do Núcleo Central.
E por fim, mas não menos importante, eu gostaria de convidar os leitores e
as leitoras, os pesquisadores e as pesquisadoras, e aos estudantes de graduação
e pós-graduação, que possam acessar, ler e refletir sobre a variedade dos
métodos, bem como os tipos de abordagens teóricas descritas ao longo dos
capítulos do Livro: “Representações Sociais e Saúde: Teoria, Pesquisas e Práticas”.

Um grande abraço a todos e todas!!!

Profa. Dra. Michele Mandagará de Oliveira

1
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Salvador, BA, Brasil.
2
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas, RS, Brasil.

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 245


SOBRE AS AUTORAS E OS AUTORES

Alba Benemérita Alves Vilela é enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade


Federal do Ceará (UFC). Docente dos Cursos de Graduação em Enfermagem e
Odontologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Docente do
Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB) e do Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem
da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Pesquisadora do Grupo de Estudos
Filosóficos em Representações Sociais da UESB. E-mail: albavilela@gmail.com

Ana Paula de Lima Valverde é enfermeira pela União Metropolitana de Educação e


Cultura (UNIME) e pós-graduada em Saúde Pública com ênfase em Saúde da Família
pela Universidade Salvador (UNIFACS). E-mail: paulavalverde25@hotmail.com

Ana Rita Barreiro Chaves é enfermeira especialista em Auditoria em Serviços de


Enfermagem e MBA em Gestão de Saúde e Controle de Infecção Hospitalar e UTI,
Urgência e Emergência. É pós-graduanda em Enfermagem Dermatológica. E-mail:
anaritaempreendedora@gmail.com

Andreia Silva Rodrigues é enfermeira da atenção primária a saúde de Salvador/BA,


professora do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Maurício de Nassau. Possui
mestrado e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), é
pesquisadora do Grupo de Pesquisa Sexualidades, Vulnerabilidades, Drogas e Gênero
(SVDG). E-mail: enfandreiarodrigues@gmail.com

Antonio Marcos Tosoli Gomes é enfermeiro. Doutor em Enfermagem pela Escola de


Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor
Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico e do Programa de Pós-
graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ). Procientista UERJ/FAPERJ e PQ1D/CNPq. E-mail: mtosoli@gmail.com

Bárbara Angélica Gómez Pérez é enfermeira obstetra pela Universidade Federal de


São Paulo (UNIFESP). Professora do curso de Enfermagem da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB) e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Mestra
em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pesquisadora na área de
Saúde da Mulher. E-mail: babyagp@hotmail.com

Beatriz da Costa Pereira é graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário FG


(UniFG). E-mail: biacosta.psi@gmail.com

Carle Porcino é transativista, psicóloga, mestra em Estudos Interdisciplinares sobre


a Universidade e doutoranda em Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência
e Subjetividade (SAVIS) e do Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Violências, Drogas e
Gênero (SVDG). Voluntária no Grupo Gay da Bahia (GGB). E-mail: cporcino@gmail.com

Charles Souza Santos é enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Docente do curso de


Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 247


Líder do Grupo de Pesquisa Estudos Interdisciplinares em Saúde Coletiva da UESB.
E-mail: charlesss@uesb.edu.br

Cintia Andrade Silverio da Silva é enfermeira, professora de biologia da Prefeitura


Municipal de Camaçari/BA. Possui especialização em Obstetrícia, Neonatologia e
Psicopedagogia. E-mail: cintiasilverio@yahoo.com.br

Cíntia Raquel da Silva Castro é assistente social, mestra em Sociologia pela Universidade
Estadual do Ceará (UECE) e doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência
e Subjetividade (SAVIS). E-mail: raquelcastroas@gmail.com

Claudia Ribeiro Santos Lopes é professora titular do Departamento de Ciências e


Tecnologias (DCT) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campus
de Jequié. Doutora em Difusão de Conhecimento pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA). E-mail: clopesuesb@gmail.com

Cleuma Sueli Santos Suto é enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Escola de


Enfermagem (UFBA). Professora do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB) - Campus VII. Membra do Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher, Gênero
e Integralidade do Cuidado da UFBA. E-mail: cleuma.suto@gmail.com

Cristiane Purificação de Oliveira é enfermeira e administradora. Professora do curso


de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestra e doutora em
Saúde Pública pela Universidad Americana, Asunción, Paraguai. Possui especialização
em Centro Cirúrgico, SRPA e CME (UNIJORGE), MBA em Gestão de Saúde e Controle de
Infecção, MBA em Gestão de CME pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP).
E-mail: crisoliver0077@gmail.com

Darci de Oliveira Santa Rosa é enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa


Interunidades de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (USP); Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem e Saúde da UFBA. E-mail: darcisantarosa@gmail.com

Dejeane de Oliveira Silva é enfermeira, mestra em Enfermagem e doutora em


Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora adjunta
da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: dosbarros@uesc.br

Eliane dos Santos Bomfim é enfermeira. Mestra pelo Programa de Pós-graduação em


Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail:
elianebomfim17@gmail.com

Ester Mascarenhas de Oliveira é enfermeira, mestra em Enfermagem pela


Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutoranda em Enfermagem pela Universidade
de Brasília (UNB) e docente no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). E-mail:
estermascarenhas@gmail.com

Felipe Fontes Costa Pinto é bacharel em saúde, mestrando em Estudos


Interdisciplinares sobre a Universidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde

248 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


participa do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e Subjetividades
(SAVIS). E-mail: lipe.fcp@hotmail.com

Gizélia dos Santos Souza é enfermeira. Graduada pela Universidade do Estado da


Bahia (UNEB) - Campus VII. E-mail: gizelly.souzza@hotmail.com

Greice Kely Oliveira de Souza é enfermeira. Mestra em Enfermagem pela Universidade


Estadual de Feira de Santana (UEFS). Especialista em UTI Neonatal e Pediátrica pela
Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Saúde da Família pela Universidade de Brasília
(UnB) e MBA em Administração Hospitalar pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR).
Enfermeira Assistencial do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) da
Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: greicekely@hotmail.com.br

Isnara Teixeira de Britto é fisioterapeuta. Docente da Universidade Estadual do


Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail: isnara.britto@hotmail.com
Jeane Freitas de Oliveira é enfermeira, mestra em Enfermagem e doutora em Saúde
Coletiva, professora assistente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Vulnerabilidades,
Drogas e Gênero (SVDG). E-mail: jeane.foliveira@outlook.com

Jeorgia Pereira Alves é fisioterapeuta. Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pelo


Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde (UESB); Pós-graduação em UTI
adulto, pediátrica e neonatal pela Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR); Pós-
graduação em Neuropedagogia pela Realiza Pós-graduação. E-mail: jeuaquino@gmail.com

Jéssica de Almeida Farias é enfermeira formada pelo Centro Universitário Estácio,


Salvador, Bahia. E-mail: jessikafarias@hotmail.com

José Carlos de Araújo Junior é enfermeiro, Professor assistente do curso de


Enfermagem da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Possui mestrado em
Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: jcvedovajr@gmail.com

José Vitor Araújo Rosa Ribeiro é bacharel em saúde e acadêmico de Odontologia pela
Universidade Federal da Bahia. Integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em
Saúde, Violência e Subjetividade (SAVIS). E-mail: rosavitor1996@gmail.com

José Eduardo Ferreira Santos é pedagogo pela Universidade Católica do Salvador


(UCSal), mestre em Psicologia (UFBA), doutor em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde
Coletiva (UFBA). Professor e pesquisador no Programa de Pós-graduação em Família na
Sociedade Contemporânea (UCSal). E-mail: ferreirasantosenator@gmail.com

Juliana Costa Machado é enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Docente do


Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(UESB). Pesquisadora do Grupo de Estudos Filosóficos em Representações Sociais da
UESB. E-mail: juliana.costa@uesb.edu.br

Juliana de Lima Brandão é enfermeira pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso


Costa da Universidade Federal Fluminense (EEAAC/UFF) (2013). Mestre pela Faculdade

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 249


de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FACENF/UERJ) (2021).
Integrante do Religares. E-mail: julianabrandao20@yahoo.com.br

Karen Paula Damasceno dos Santos Souza é graduada em Enfermagem (2015), Mestre
(2018) e doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FACENF/
UERJ). Bolsista CAPES. Integrante do Religares. E-mail: paulakaren8@gmail.com

Karla Ingryd Ferreira Barbosa é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde


pela Universidade Federal da Bahia. Integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares
em Saúde, Violência e Subjetividade. E-mail: ingrydkifb@gmail.com

Lanna Katherine Leitão Conceição é ativista pelos direitos das pessoas LGBTPQIA+,
graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integrante
do Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Violências, Drogas e Gênero (SVDG). E-mail:
lanna.klc@gmail.com

Laura Emmanuela Lima Costa é enfermeira. Mestra e doutoranda em Enfermagem


e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Licenciada em Ciências Biológicas
pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). Professora Assistente da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB) - Campus IV/Educação Física. Enfermeira Núcleo Regional
de Saúde Centro Norte (SESAB), Jacobina, BA. E-mail: manuela.jacobina@gmail.com
Letícia da Silva Cabral é enfermeira. Licenciada em Química. Doutoranda em
Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestra em Cuidados
Clínicos em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (UFC). Integrante do
Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher, Gênero e Integralidade do Cuidado da UFBA.
E-mail: leticiacabral1109@gmail.com

Loren Caroline da Cruz Maciel é enfermeira. Especialista em Emergência e UTI, pela


UNIJORGE, pós-graduanda de Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família pela
Universidade Salvador (UNIFACS) e pós-graduanda em Auditoria em Serviço de Saúde
pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais (IPEMIG). E-mail: lorencarolina@hotmail.com

Louyze Maria dos Santos Lopes Silva é bacharela em saúde e acadêmica de Farmácia
pela Universidade Federal da Bahia. Integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares
em Saúde, Violência e Subjetividade. Bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq. E-mail:
louml10@outlook.com

Luciene Matos de Souza é pedagoga. Doutoranda em Psicologia pela Universidade de


Ciências Empresariais e Sociais (UCES); Mestra em Educação pela Universidade Federal
de Sergipe (UFS). Docente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
E-mail: lucimatos@yahoo.com.br

Luiz Carlos Moraes França é enfermeiro. Mestre (2018) e doutorando pelo Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (FACENF/UERJ). Docente do Curso de Enfermagem da UNIAN
e da UniCBE. Integrante do Religares. E-mail: lcmoraesfranca@hotmail.com

250 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Magno Conceição das Mercês é biólogo e enfermeiro. Mestre em Saúde Coletiva
pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) (2014). Doutor em Ciências da
Saúde pela Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB) da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) (2019). Professor Assistente e Diretor do Departamento de Ciências da Vida
(DCV) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus I, Salvador, Bahia. Líder e
Pesquisador do Grupo de Pesquisa Micropolítica do Cuidado e Formação em Saúde
DCV/UNEB. E-mail: magnomerces@hotmail.com

Maria Thereza Ávila Dantas Coelho é psicóloga, mestre e doutora em Saúde Coletiva,
professora associada do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) e coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em
Saúde, Violência e Subjetividade (SAVIS). E-mail: mariathereza.ihac@gmail.com

Maria Virgínia Almeida de Oliveira Teles é psicóloga, mestra em Estudos


Interdisciplinares sobre a Universidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e
mestra em Estudos sobre as Mulheres - As Mulheres na Sociedade e na Cultura pela
Universidade Nova de Lisboa (NOVA). E-mail: virginiaaoteles@gmail.com

Marília Emanuela Ferreira de Jesus é enfermeira. Doutoranda em Enfermagem e


Saúde, Mestra em Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e
especialista em Emergência e UTI pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE).
Integrante do Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Vulnerabilidades, Drogas e Gênero
(SVDG) da UFBA. E-mail: marilia_emanuela@outlook.com

Marizete Teixeira Argolo é enfermeira, Professora titular do curso de Enfermagem da


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Possui mestrado em Enfermagem
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutorado em Enfermagem pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Pós-doutorado em Psicologia Social pelo
Laboratoire de Psychologie Sociale, Aix-en-Provence, França. E-mail: marizeteargolo@
uesb.edu.br

Mary Gomes Silva é enfermeira. Professora do curso de Enfermagem da Universidade


do Estado da Bahia (UNEB) e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pesquisadora do
Grupo de Pesquisa Pró-ensino na Saúde, pesquisadora nas áreas de Centro Cirúrgico,
SRPA e CME. E-mail: mago13silva@gmail.com

Michele Mandagará de Oliveira é enfermeira. Professora associada da Faculdade de


Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Pós-doutorado em andamento
no Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Tem experiência em Saúde Coletiva e Saúde Mental, atuando nos
seguintes temas: Atenção Primária à Saúde, Enfermagem, Cuidado as pessoas usuárias
de substâncias psicoativas, reabilitação psicossocial infanto juvenil e necessidades em
saúde da população LGBT. E-mail: michele.oliveira@ufpel.edu.br

Michelle Araújo Moreira é enfermeira. Professora titular do curso de Enfermagem


da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Possui mestrado, doutorado e pós-
doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pesquisadora
do Grupo CRIAI da UFRB. E-mail: michelleepedro@uol.com.br

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 251


Mirian Santos Paiva possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA), mestrado em Enfermagem Obstétrica e Obstetrícia Social pela Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP) doutorado em Enfermagem pela Universidade de São
Paulo (USP) e pós-doutorado em Psicologia Social pelo Instituto Superior das Ciências
do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Portugal. Atualmente é professora titular aposentada
da Escola de Enfermagem da UFBA. E-mail: paivamirian@hotmail.com

Mônica Aparecida Gomes é enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade


Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: mgfilipin@gmail.com

Pablo Luiz Santos Couto é enfermeiro. Doutorando em Enfermagem e Saúde (UESB).


Docente no Colegiado de Enfermagem no Centro Universitário FG. E-mail: pabloluizsc@
hotmail.com

Patrícia Figueiredo Marques é enfermeira. Professora adjunta do curso de Enfermagem


da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Possui mestrado e doutorado
em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Líder e pesquisadora do
Grupo CRIAI da UFRB. E-mail: pfmenf@yahoo.com

Polliana Santos Ribeiro é enfermeira. Residente em Saúde da Família pela Universidade


Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: pollyribeir@hotmail.com

Priscilla Santos Nascimento é graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual


de Santa Cruz (UESC). E-mail: priscilladsn@gmail.com

Rafael Moura Coelho Pecly Wolter é doutor em Psicologia Social pela Universidade
de Paris V (René Descartes) (2008). Professor-Titular do Instituto de Psicologia e do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). E-mail: rafaelpeclywolter@gmail.com

Rita Narriman Silva de Oliveira Boery é enfermeira. Doutora em Enfermagem pela


Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com Pós-doutoramento em Bioética pela
Universidade Católica Portuguesa (UCP). Docente do Programa de Pós-graduação em
Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail:
rboery@gmail.com

Rosely Cabral de Carvalho é enfermeira. Professora titular aposentada da Universidade


Estadual de Feira de Santana (UEFS). Docente do Mestrado Profissional em Enfermagem
e do Programa de Pós-graduação de Saúde Coletiva. Pós-doutorado em Família e
Contemporaneidade (UCSal). E-mail: roselycarvalho056@gmail.com
Samantha Souza da Costa Pereira é enfermeira. Doutoranda em Ciência da Saúde
(UNIMONTES). Docente no Colegiado de Enfermagem da Universidade Estadual da
Bahia (UNEB). E-mail: samantha.uefs@gmail.com

Simone Santos Souza é enfermeira. Possui mestrado em Enfermagem e Saúde pela


Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora do curso de Enfermagem do Centro
Universitário Dom Pedro Segundo (UNIDOM). E-mail: simonessouza18@hotmail.com

252 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


Sinara de Lima Souza é enfermeira. Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Professora Titular da
Universidade Estadual de Feira de Santana - BA (UEFS). Coordenadora do Mestrado
Profissional em Enfermagem da UEFS e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre
Violência e Saúde (NIEVS) da UEFS. E-mail: sinarals@uefs.br

Sumaya Medeiros Bôtelho é fisioterapeuta. Doutora e Mestra em Ciências da


Saúde pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde (UESB). Docente
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail: sumayamedeiros@
hotmail.com

Tamille Marins Santos Cerqueira é enfermeira. Mestranda em Enfermagem (Mestrado


Profissional) pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Especialista em
Enfermagem do Trabalho pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Enfermeira do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano. E-mail: tamillemarins@
hotmail.com

Tamyres Lopes Santana de Carvalho é enfermeira. Pós-graduada em UTI Neonatal e


Pediátrica e Gestão em Saúde. Aluna especial do Mestrado Profissional em Enfermagem
da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Responsável Técnica da
Cooperativa de Profissionais de Saúde (COOPERHOME). E-mail: miresfsa@yahoo.com.br

Tarcísio da Silva Flores é advogado. Especialista em Direito Trabalhista. Membro do


Grupo de Pesquisa em Gênero, Saúde e Populações Vulneráveis do Centro Universitário
FG. E-mail: tarcisiosflores@gmail.com

Vanda Palmarella Rodrigues é enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Enfermagem


pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Docente do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Pesquisadora do
Grupo de Estudos Filosóficos em Representações Sociais da UESB. E-mail: vprodrigues@
uesb.edu.br

Vinicius Pereira de Carvalho é bacharel em saúde, mestre em Estudos Interdisciplinares


sobre a Universidade e acadêmico de medicina pela Universidade Federal da Bahia.
Integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e Subjetividade
(SAVIS). E-mail: vinicar100@hotmail.com

Virginia Paiva Figueiredo Nogueira é doutora em Enfermagem. Pós-Doutoranda


no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bolsista nota 10 da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Pesquisadora do Grupo
Religares UERJ. E-mail: virginiafigueiredo@yahoo.com.br

Vivian Ranyelle Soares de Almeida é graduanda de Enfermagem pela Universidade


Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista de Pesquisa e Extensão pelo NIEVS/UEFS.
E-mail: ranyalmeida98@hotmail.com

Zenilda Nogueira Sales é enfermeira. Professora plena do Departamento de Saúde II


da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail: zenysalles@gmail.com

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 253


ÍNDICE REMISSIVO

A
ABORDAGEM ESTRUTURAL 32, 36, 37, 38, 44, 45, 46, 65, 72, 99, 108, 112, 113, 125, 131,
134, 149, 153, 159, 229, 235, 243
ABORDAGEM PROCESSUAL 17, 22, 26, 27, 29, 31
ABUSO 149, 200
ACADÊMICAS 101, 115
ACADÊMICOS 8, 109
ACONDICIONAMENTO 231, 237, 240
ACONSELHAMENTO 183, 225
ADOLESCENTES 9, 73, 93, 156, 164, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 208, 209,
210, 211, 212
AFETIVOS 25, 29, 97, 117, 138
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA 231, 243
AIDS 17, 28, 30, 45, 109, 114, 115, 116, 118, 120, 121, 149, 157, 160
ALCESTE 15, 16, 150
ÁLCOOL 17, 137, 138, 139, 140, 141, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 200, 221
ALEITAMENTO 17, 167, 168, 171, 173, 176, 177, 178, 181, 182, 183, 184, 185, 189, 190,
191, 192, 193, 194, 195, 218, 221, 225, 226, 227, 230
ALTERIDADE 26, 31
AMAMENTAÇÃO 17, 120, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179,
181, 182, 184, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 221, 224
ANÁLISE 15, 16, 26, 27, 29, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 48, 49, 59, 63, 65, 66,
69, 72, 76, 78, 79, 80, 81, 86, 92, 94, 100, 104, 105, 107, 108, 112, 113, 114, 119,
121, 127, 128, 133, 135, 136, 144, 145, 147, 148, 149, 150, 154, 160, 163, 164,
170, 171, 183, 184, 186, 194, 202, 203, 205, 206, 207, 208, 211, 218, 219, 229,
233, 237, 240, 244
ANÁLISE COGNITIVA DE REDES 7, 61
ANÁLISE DE CONTEÚDO 76, 79, 80, 211, 218, 229
ANÁLISE DE SIMILITUDE 16, 41, 42, 43, 104, 184, 186, 202, 203, 205, 240
ANÁLISE LEXICAL 113, 207
ANÁLISE TEMÁTICA 80
ANCORAGEM 15, 62, 139
ANCO-REDES 63, 66, 67, 68, 69, 71
ANVISA 231
APREENDER 16, 49, 52, 63, 67, 71, 91, 138, 139, 153, 182, 217, 232, 235

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 255


APREENSÃO 23, 27, 37, 44, 56, 69, 75, 76, 89, 92, 100, 139, 191, 201, 202, 225, 245
ÁRVORE DE SIMILITUDE 41, 105, 126, 127, 132, 143, 160, 161, 184, 185, 205, 235, 237, 238
ÁRVORE MÁXIMA 105
ÁRVORE MÁXIMA DE SIMILITUDE 41, 104, 105, 140, 142, 144, 154, 240
ATITUDES 21, 23, 24, 25, 27, 28, 29, 71, 82, 99, 111, 124, 126, 138, 167, 202, 203, 234, 240
ATO VIOLENTO 200

B
BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE (BIS) 125, 139
BACKGROUND 26
BEBÊS 175, 215, 216, 217, 221, 224, 225, 226
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE (BVS) 168
BIS 125, 129, 139, 141, 147, 148
BVS 168

C
CAPACIDADE HEURÍSTICA 15
CASTIGO 28, 31
CELSO PEREIRA DE SÁ 16
CENTRALIDADE 17, 36, 37, 38, 39, 44, 66, 105, 106, 114, 132, 160, 207, 240
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE MULHERES, GÊNERO, SAÚDE E ENFERMAGEM 11
CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO (CME) 231
CHOIX-PAR-BLOC 37, 38, 39, 40, 44
CIÊNCIA 93, 135, 252, 253
CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL (CRS) 130
CLAUDE FLAMENT 41
CME 231, 232, 233, 235, 238, 239, 240, 241, 244, 248, 251
COGNEMA 40, 41
COGNEMAS 36, 39, 41, 42
COGNIÇÃO 25, 42, 90
COGNITIVOS 27, 29, 30, 37, 44, 46, 56, 233
COLETA DE DADOS 7, 47, 52, 80, 81
COMITÊ DE ÉTICA 50, 65, 78, 79, 99, 111, 126, 140, 154, 170, 185, 235
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 65, 78, 99, 111, 140, 154, 170, 185, 235
COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDE-
RAL DA BAHIA 50
COMPLEXIDADE 11, 22, 133, 137, 193, 216, 239, 240

256 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


COMPORTAMENTOS 11, 15, 21, 22, 26, 30, 35, 47, 55, 90, 91, 118, 126, 138, 146, 151,
152, 174, 200, 204, 207, 216, 224, 233, 234, 240
COMUNICAÇÃO 21, 25, 26, 27, 35, 52, 56, 61, 80, 90, 190, 203, 233
CONEXIDADE 39, 42, 126, 132, 184, 205, 206, 238
CONEXÕES 15, 42, 43, 63, 66, 68, 105, 132, 160, 185, 186, 188
CONHECIMENTO 11, 12, 16, 21, 23, 24, 25, 27, 29, 30, 32, 35, 36, 47, 48, 54, 55, 56, 67,
68, 69, 70, 71, 72, 89, 90, 99, 109, 110, 111, 120, 151, 152, 157, 169, 172, 182,
184, 185, 189, 191, 192, 193, 200, 207, 211, 216, 219, 220, 232, 233, 241, 243, 245
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP) 124, 134
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (CNS) 51, 78, 111, 154, 185
CONSENSO 23, 55, 158, 164
CONTEMPORANEIDADE 252
CONTROLE DE QUALIDADE 237
CONVIVÊNCIA 112, 169, 222
CORPUS 40, 43, 44, 66, 100, 112, 114, 126, 135, 145, 150, 154, 170, 184, 186, 194, 205,
207, 208, 211
COTIDIANO 16, 24, 26, 28, 32, 44, 48, 54, 62, 66, 93, 99, 103, 104, 106, 110, 134, 223,
233, 243
COVID-19 28, 31, 153, 162
CRENÇAS 23, 24, 25, 29, 49, 54, 62, 69, 70, 90, 99, 124, 129, 133, 167, 169, 175, 183,
192, 201, 233
CRS 72, 130, 132
CUIDADO 17, 29, 45, 61, 62, 63, 69, 70, 71, 72, 84, 98, 99, 103, 104, 105, 106, 107, 109,
110, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 123, 136, 151, 167, 171, 172, 173,
174, 178, 184, 186, 188, 190, 191, 192, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 224,
225, 226, 227, 228, 229, 230, 237, 240, 242, 245
CUIDADO AO PREMATURO 215
CUIDADO HUMANIZADO 118, 216
CUIDADOR 69
CUIDAR 62, 70, 98, 107, 109, 110, 112, 117, 118, 167, 172, 173, 190, 216, 220
CULTURAL 24, 27, 31, 125, 135, 177

D
D-E COM TEMA 65
DENISE JODELET 16, 48
DEPOIMENTOS 85, 86, 149, 170, 171, 175, 187, 220
DESENHO-ESTÓRIA COM TEMA 64
DIÁLOGO 17, 26, 29, 49, 51, 53, 216, 218, 227

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 257


DIFUSÃO 15, 23, 25, 28, 54, 56, 233
DIVERSIDADE 11, 35, 48, 90, 136, 202
DOENÇA 73, 103, 104, 105, 109, 110, 112, 115, 116, 117, 118, 132, 139, 143, 144, 147,
150, 152, 163, 164, 243
DOENÇAS NEGLIGENCIADAS 29, 33, 46, 118
DROGAS 17, 93, 97, 103, 105, 134, 137, 138, 139, 140, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149,
150, 186, 200, 215, 245

E
EDUCAÇÃO 62, 118, 120, 123, 133, 136, 157, 158, 159, 161, 162, 175, 191, 193, 212, 216,
217, 218, 219, 224, 225, 227, 241
EDUCAÇÃO EM SAÚDE 157, 175, 216, 217, 218, 219, 224, 225, 227
ELEMENTOS CENTRAIS 37, 42, 44, 112, 114, 127, 140, 142, 157, 237, 238
ELEMENTOS PERIFÉRICOS 37, 63, 64, 141, 237
ENFERMAGEM 45, 59, 84, 94, 108, 109, 110, 114, 117, 118, 119, 120, 150, 190, 194, 232,
233, 243
ENFRENTAMENTO 12, 17, 45, 71, 97, 98, 109, 182, 191, 225
ENSEMBLE DE PROGRAMMES PERMETTANT L’ANALYSE DÊS EVOCATIONS (EVOC) 38, 218
ENTREVISTA 36, 50, 51, 52, 53, 76, 79, 80, 81, 82, 88, 92, 100, 111, 112, 113, 169, 184,
185, 217, 218
ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE 50, 51, 53
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 79, 80, 92, 112, 113, 169, 217, 218
ESCOLAR 199, 201
ESTERILIZAÇÃO 231, 237, 243
ESTUDANTES 9, 94, 108, 110, 113, 123, 124, 125, 126, 129, 133, 139, 141, 142, 143, 144,
145, 146, 147, 148, 150, 151, 152, 153, 154, 156, 159, 161, 163, 245
ESTUDANTES 231
EVOC 15, 38, 100, 112, 114, 126, 140, 141, 218, 235
EVOCAÇÃO 38, 100, 103, 126, 127, 131, 132, 157, 158, 161, 235, 239
EVOCAÇÕES 36, 37, 38, 42, 44, 45, 72, 94, 102, 103, 105, 106, 112, 113, 114, 115, 119,
131, 132, 136, 141, 142, 154, 158, 159, 163, 191, 218, 219, 229, 244
EVOCAÇÕES LIVRES 37, 38, 42, 44, 45, 72, 94, 114, 136, 163, 229, 244
EVOCADOS 38, 39, 42, 103, 112, 114, 115, 118, 126, 128, 129, 131, 143, 144, 145, 153,
154, 158, 184, 237, 238
EXCLUSÃO 39, 97, 98, 99, 102, 103, 105, 106, 107, 111, 132, 139, 169, 204, 226, 235
EXPRESSÃO INDUTORA 125, 127, 157, 160, 235, 236, 238
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA 152, 163

258 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


F
FACEBOOK 17, 53
FATO SOCIAL 21
FÉ 16, 67, 70, 71
FENÔMENOS SOCIAIS 15, 31, 174, 184
FICAR 88, 199, 211
FILHO 61, 62, 68, 69, 83, 84, 85, 86, 167, 172, 174, 176, 181, 182, 186, 190, 216, 220, 221,
222, 223, 224, 225, 226, 227, 228, 229
FOME 102, 108
FREQUÊNCIA 102, 127, 142, 157, 202, 219, 220, 237

G
GEM – GRUPO DE ESTUDOS SOBRE A SAÚDE DA MULHER 11
GERAÇÕES 9, 167
GRUPO 22, 23, 25, 26, 27, 28, 29, 36, 37, 38, 44, 47, 48, 50, 52, 53, 54, 55, 56, 61, 62, 63,
64, 66, 69, 70, 71, 76, 90, 91, 97, 99, 100, 105, 106, 111, 119, 125, 126, 127, 128,
129, 131, 132, 133, 138, 139, 140, 144, 152, 153, 154, 156, 158, 159, 160, 161, 175,
192, 200, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 232, 233, 234, 235, 237, 238
GRUPO DE PESQUISA 11, 17, 28, 245, 247, 248, 249, 250, 251, 253
GRUPO DE PESQUISA EM ENFERMAGEM: SEXUALIDADE, VULNERABILIDADE, DROGAS
E GÊNERO (SVDG) 245
GRUPO DE PESQUISA RELIGARES 17, 28
GRUPO DO MIDI 37
GRUPOS SOCIAIS 21, 24, 25, 26, 30, 44, 48, 49, 63, 117

H
HETEROGENEIDADE 47, 55, 90, 240
HIERARQUIA 36, 38, 128, 158
HIV 8, 17, 28, 30, 45, 49, 58, 59, 109, 110, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120,
121, 159

I
IDEOLÓGICOS 24, 29
IMAGENS 24, 25, 27, 28, 29, 59, 62, 77, 79, 80, 89, 91, 92, 138, 202, 234
INDIVÍDUOS 21, 22, 26, 35, 41, 44, 52, 53, 55, 61, 62, 75, 76, 77, 89, 91, 103, 109, 111,
115, 116, 118, 182, 192, 204, 207, 231, 233
INFECÇÃO 121, 247, 248
INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (IST) 151
INFORMATIVOS 29

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 259


INQUÉRITO 64, 65, 149
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA) 98
INSTRUMENTAL 237
INTERFACE DE R POUR LES ANALYSES MULTIDIMENSIONNELLES DE TEXTES ET DE QUES-
TIONNAIRES (IRAMUTEQ) 38, 126
INTIMIDADE 9, 199, 200, 201, 203, 205, 207, 209, 210, 226
IRAMUTEQ 15, 38, 45, 108, 121, 126, 135, 164, 184, 186, 206, 211, 212, 235, 244
IST 151, 158, 159, 161

J
JEAN-CLAUDE ABRIC 36, 124, 138, 153, 217, 232

L
LA PSYCHANALYSE: SON IMAGE ET SON PUBLIC 35
LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS 123, 134
LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (LGBT) 123
LIMPEZA 231, 237, 238, 239, 240, 241, 244
LINGUAGEM 25, 27, 38, 202, 204

M
MATERNO 17, 167, 168, 171, 173, 175, 176, 177, 178, 181, 182, 183, 184, 185, 189, 190,
191, 192, 193, 194, 195, 215, 218, 221, 225, 226, 228, 230
MEDICALIZAÇÃO 80, 81, 86, 87, 89, 92, 148
MEIO SOCIAL 21, 140
MENTAIS 25, 26, 29, 64, 77, 90, 100, 235
MÉTODO CANGURU 183, 218, 222, 226, 228, 230
MÉTODO DE ESCOLHAS SUCESSIVAS POR BLOCOS 37
MICROSOFT EXCEL 38, 140
MIGRANTES 9, 165, 167
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS) 123, 181
MODIFICAR O CORPO 130
MULHER 46, 77, 78, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 92, 130, 132, 141, 143, 144, 145,
168, 170, 173, 174, 176, 177, 181, 182, 183, 186, 187, 189, 190, 191, 192, 193, 200,
201, 204, 205, 211, 225
MULHERES 55, 58, 78, 81, 84, 85, 86, 93, 94, 97, 101, 103, 104, 126, 131, 134, 135, 138,
154, 157, 161, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 181, 183,
190, 191, 193, 195, 204, 230, 236

260 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


N
NAMORAR 199
NEGLIGÊNCIA 98
NORMATIVOS 29, 70, 140
NÚCLEO CENTRAL 15, 36, 37, 38, 39, 63, 67, 70, 103, 106, 108, 112, 114, 116, 117, 120,
126, 128, 129, 130, 131, 132, 135, 140, 141, 142, 143, 144, 149, 153, 154, 158, 160,
163, 164, 222, 227, 228, 234, 237, 241, 244
NUVEM DE PALAVRAS 113, 148, 202, 203, 207, 208, 240

O
OBJETIVAÇÃO 15, 31, 62, 139
OBJETO 16, 18, 21, 22, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 32, 37, 40, 42, 44, 45, 48, 49, 54, 55, 56, 58,
64, 71, 75, 77, 78, 90, 91, 94, 99, 100, 101, 105, 124, 125, 127, 128, 131, 132, 133,
135, 138, 139, 140, 152, 158, 160, 161, 169, 170, 201, 207, 208, 216, 217, 218,
233, 234, 235, 240, 241
OME 101, 114, 126, 127, 128, 131, 132, 141, 142, 143, 144, 154, 157, 158, 159, 160, 236, 237
OPINIÕES 21, 23, 29, 55, 99, 110, 124, 129, 133, 169, 203, 234
ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO (OME) 127, 157
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) 93

P
PARALISIA CEREBRAL (PC) 61
PARTURIENTE 82, 83, 84, 85, 86, 87
PATOLÓGICO 86
PECADO 28, 68
PEGAR 173, 199, 204, 205, 208, 209, 222
PENSAMENTO 15, 23, 26, 27, 31, 35, 38, 44, 45, 46, 58, 64, 71, 111, 112, 204, 207, 217, 234
PENSAMENTO ERUDITO 23
PENSAMENTO MÍTICO 26
PENSAMENTO SOCIAL 15, 26, 27, 35, 38, 44, 58, 111
PESQUISA 11, 12, 18, 27, 29, 32, 37, 38, 40, 43, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 53, 55, 56, 57, 58,
59, 65, 66, 68, 69, 72, 77, 78, 79, 90, 91, 92, 93, 94, 99, 100, 106, 108, 110, 111,
112, 114, 115, 119, 120, 125, 126, 131, 135, 139, 140, 147, 149, 151, 153, 154, 156,
160, 162, 163, 164, 168, 169, 170, 183, 184, 185, 190, 193, 194, 201, 202, 203, 211,
212, 217, 218, 229, 234, 235, 236, 237, 244, 245
PESSOA 11, 17, 52, 62, 68, 98, 99, 100, 102, 106, 107, 110, 112, 113, 114, 116, 118, 119,
121, 124, 125, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 136, 137, 138, 141, 144, 161,
176, 187, 189, 192, 199, 234
PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA (PSR) 98

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 261


PESSOA TRANSGÊNERA 8, 123
PLANO OPERATIVO 123
PODER ASSOCIATIVO 42
POLIFASIA COGNITIVA 15
POPULAÇÃO LGBT 123, 251
PÓS-PARTO 175, 190, 191, 225
PRÁTICAS 4, 11, 16, 21, 22, 26, 27, 28, 30, 33, 35, 46, 69, 70, 71, 83, 89, 91, 94, 98, 99,
111, 112, 124, 129, 133, 134, 135, 138, 139, 140, 151, 152, 153, 156, 159, 162, 163,
182, 201, 210, 216, 224, 225, 229, 232, 233, 234, 240, 243, 245
PRÁTICAS DE CUIDADOS 11, 133, 135
PRECONCEITO 98, 103, 105, 106, 117, 118, 119, 130, 131, 132, 135, 152
PREMATURIDADE 68, 215, 229
PREMATUROS 195, 215, 216, 217, 221, 223, 224
PRESERVATIVO 9, 17, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163
PRIMEIRA PERIFERIA 64, 66, 67, 70, 103, 105, 126, 131, 132, 154, 158, 237, 239, 241
PRIMÍPARAS 167, 182, 183, 191, 195
PROCESSAMENTO 17, 55, 101, 127, 141, 193, 232, 235, 236, 237, 238, 239, 240, 241, 243
PROCESSO 11, 12, 16, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 49, 50, 55, 56, 61, 62, 65, 68, 69, 70,
71, 77, 78, 80, 81, 82, 83, 85, 86, 88, 89, 90, 92, 94, 99, 110, 114, 115, 116, 118,
119, 124, 134, 138, 151, 164, 167, 168, 171, 172, 174, 175, 177, 178, 181, 182,
184, 190, 191, 192, 194, 202, 205, 220, 221, 224, 225, 226, 227, 231, 232, 234,
237, 238, 239, 240, 242
PROCESSO TRANSEXUALIZADOR 130, 131, 136
PRODUTOS UTILIZADOS NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE 231, 232, 236, 237, 238, 240, 241, 242
PROFISSIONAIS DE SAÚDE 253
PROPAGAÇÃO 5, 15, 55
PROPAGANDA 15
PSICANÁLISE 23, 24, 32, 35, 51, 107, 134, 149, 163, 233, 243
PSICOATIVOS 138
PSICOLOGIA SOCIAL 21, 35, 37, 45, 58, 72, 93, 94, 108, 120, 134, 135, 149, 164, 194,
211, 233, 243, 244
PSICOSSOCIAL 16, 21, 107, 200, 216, 251
PSR 98, 99, 101, 103, 104
PUÉRPERA 80, 81, 82, 83, 87, 92, 181, 188, 190

Q
QUADRANTE 102, 103, 117, 126, 127, 131, 132, 140, 154, 158, 159, 237, 239, 240

262 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


QUADRO DE QUATRO CASAS 15, 38, 39, 42, 102, 112, 118, 119, 126, 127, 140, 141, 142,
144, 147, 154, 157, 161, 219, 235, 236, 240

R
RANG 102, 114, 219
RDC 231, 232, 243
REALIDADE 15, 16, 22, 25, 27, 28, 30, 31, 35, 48, 52, 56, 61, 62, 63, 66, 68, 69, 70, 76, 84,
87, 88, 90, 91, 99, 106, 111, 124, 131, 138, 140, 143, 146, 152, 153, 169, 191, 207,
233, 234, 239, 241
RELAÇÕES DE INTIMIDADE 9, 199, 200, 201, 203, 205, 207, 209
RELIGIÃO 49, 54, 55, 58, 69, 101, 125, 126, 153, 154, 155, 185
RELIGIOSIDADE 45
REMÉDIOS 142
REPRESENTAÇÃO 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 31, 32, 35, 36, 37, 38, 39, 42, 43, 44, 45,
47, 48, 51, 54, 62, 63, 64, 66, 67, 68, 69, 70, 72, 77, 84, 89, 94, 99, 102, 103, 104,
105, 107, 108, 112, 113, 114, 115, 117, 118, 119, 120, 124, 126, 127, 128, 131, 132,
133, 134, 138, 140, 142, 145, 146, 147, 148, 149, 154, 158, 160, 161, 169, 178, 186,
187, 190, 201, 205, 229, 233, 234, 237, 238, 242, 243
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 15, 16, 17, 18, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32,
33, 35, 36, 37, 38, 41, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 54, 55, 56, 58, 59, 62, 63, 66, 69, 70,
71, 72, 90, 91, 92, 93, 94, 99, 100, 104, 106, 107, 108, 110, 113, 118, 120, 121, 125,
127, 128, 134, 135, 136, 138, 139, 145, 148, 149, 150, 152, 153, 157, 161, 162, 163,
164, 167, 168, 171, 178, 182, 183, 185, 189, 190, 191, 193, 194, 195, 201, 206, 207,
209, 210, 217, 219, 229, 232, 233, 234, 235, 243, 244
RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA 231, 232
RESULTADOS 29, 38, 54, 56, 98, 100, 117, 118, 119, 124, 131, 141, 146, 147, 152, 156,
158, 171, 178, 183, 185, 190, 193, 203, 206, 208, 218, 239, 240, 242
REUTILIZAR 237, 239, 240, 241
RISCO 51, 68, 104, 118, 138, 146, 149, 151, 152, 161, 163, 164, 181, 190, 201, 215, 216,
224, 225, 226, 227, 229, 237, 240, 241, 242
RS 21, 22, 33, 37, 58, 90, 91, 105, 108, 114, 125, 153, 202, 203, 211, 216, 217, 218, 221,
222, 223, 224, 225, 227, 228, 245
RUA 93, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 176, 212

S
SALA DE PARTO 81, 82, 84, 85, 178
SALIÊNCIA 39, 42, 128, 158
SAUDÁVEL 181, 186, 188, 189, 190, 191, 192, 202, 215
SAÚDE 4, 8, 9, 11, 15, 17, 29, 30, 31, 33, 38, 46, 58, 61, 62, 68, 69, 71, 72, 78, 80, 81, 82,
83, 84, 85, 86, 87, 88, 92, 98, 104, 107, 108, 109, 116, 117, 119, 120, 121, 123,
124, 125, 127, 128, 129, 130, 131, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 144, 145, 147,

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 263


149, 150, 151, 152, 153, 154, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 168, 171, 172,
173, 174, 175, 176, 177, 178, 181, 182, 188, 189, 190, 191, 192, 195, 200, 210, 211,
212, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 223, 224, 225, 226, 227, 229, 230, 231, 232,
233, 235, 236, 237, 238, 239, 240, 241, 242, 243, 245, 247, 248, 249, 250, 251, 253
SCIELO 168
SEGUNDA PERIFERIA 64, 66, 67, 70, 103, 126, 132, 154, 158, 159, 237, 240
SEGURANÇA 210, 237
SENSO COMUM 16, 21, 23, 24, 27, 28, 35, 48, 62, 90, 110, 111, 124, 138, 152, 159, 173, 183, 207, 233
SERGE MOSCOVICI 5, 21, 35, 124, 152, 217, 233, 245
SEXUALIDADE 49, 52, 53, 54, 58, 151, 157, 199, 210, 211
SIMBÓLICO 26, 42, 174, 200, 204, 238, 240
SIMI 15
SINGULARIDADE 216
SISTEMA CENTRAL 36
SISTEMA PERIFÉRICO 42, 63, 112, 117, 126, 131, 140, 147, 159
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 116, 123
SOCIAL 15, 21, 22, 23, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 42, 44, 45, 47,
48, 49, 51, 53, 54, 55, 56, 58, 62, 63, 64, 66, 67, 68, 69, 70, 72, 89, 90, 93, 94, 97,
98, 99, 100, 102, 103, 105, 107, 108, 111, 112, 114, 119, 120, 123, 124, 125, 126,
128, 129, 132, 133, 134, 135, 137, 138, 139, 140, 144, 145, 148, 149, 152, 153, 158,
161, 162, 164, 168, 169, 177, 182, 183, 186, 189, 191, 192, 194, 200, 201, 203, 204,
207, 210, 211, 229, 232, 233, 234, 238, 243, 244, 248
SOFTWARE 38, 45, 66, 69, 108, 112, 113, 114, 121, 127, 135, 140, 141, 142, 145, 149,
154, 164, 184, 186, 193, 194, 202, 205, 207, 212, 218, 219
SOFTWARE GEPHI 66, 69
SPSS 140
SUS 116, 123, 124, 133, 136, 193

T
TALP 50, 51, 52, 53, 76, 92, 100, 111, 112, 113, 118, 125, 126, 139, 140, 153, 154, 184,
217, 218, 219, 221, 222, 224, 235
TCLE 50, 51, 65, 78, 79, 80, 100, 101, 126, 154, 170, 185, 202
TÉCNICA PROJETIVA 52, 64, 65, 75, 76, 77, 79, 80, 92, 100, 153, 217
TEORIA 1, 3, 4, 5, 11, 35, 36, 45, 47, 49, 62, 65, 77, 92, 94, 99, 108, 110, 120, 125, 135,
138, 149, 152, 164, 168, 183, 194, 201, 216, 217, 232, 243, 244, 245
TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 5, 11, 35, 47, 49, 62, 65, 77, 92, 99, 110, 125,
138, 152, 168, 183, 201, 216, 232, 245
TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL 36, 217, 245
TEORIA DOS GRAFOS 42, 126, 184, 205

264 Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas


TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) 50, 65, 78, 100, 126, 154, 170, 185
TESTE DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS 58
TESTES DE CENTRALIDADE 38, 44
TNC 36, 235
TRANSFORMAÇÃO 25, 27, 31, 35, 126
TRANSGENERIDADES 124, 131, 133
TRISTEZA 69, 70, 102, 103, 105, 106, 136, 138, 146
TRS 11, 13, 21, 22, 35, 36, 44, 47, 48, 49, 51, 56, 62, 77, 89, 90, 91, 92, 100, 110, 111,
125, 126, 133, 138, 139, 152, 153, 183, 191, 192, 193, 201, 216, 217, 232, 233,
234, 235, 245

U
UFBA 4, 47, 61, 75, 97, 109, 123, 125, 126, 137, 139, 140, 141, 151, 153, 154, 161, 181,
231, 245, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL (UTIN) 216
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA (UESB) 35, 47, 61, 65, 75, 167, 215,
247, 248, 249, 250, 251, 252, 253
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) 47, 61, 75, 97, 109, 123, 126, 137, 139, 151,
181, 231, 245, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253
UNIVERSOS REIFICADOS 25
USO ÚNICO 237
UTIN 216, 217, 220, 224, 226

V
VALORES 22, 25, 29, 36, 41, 44, 54, 55, 61, 62, 63, 70, 86, 99, 126, 138, 140, 141, 167,
171, 182, 183, 202, 235
VIDA 23, 24, 25, 27, 30, 47, 54, 58, 61, 67, 70, 72, 73, 85, 89, 90, 92, 97, 98, 103, 106, 109,
115, 124, 125, 127, 129, 130, 131, 133, 136, 145, 146, 150, 156, 157, 172, 173,
174, 178, 181, 182, 187, 188, 190, 191, 199, 201, 203, 209, 210, 216, 223, 225,
226, 227, 233, 239
VÍNCULO 62, 69, 83, 115, 116, 118, 167, 186, 190, 192, 216, 218, 222, 223, 225, 226, 227, 230
VIOLÊNCIA 9, 17, 46, 98, 104, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212
VIVÊNCIA 54, 80, 97, 103, 105, 177, 190, 199, 216, 226, 230
VULNERABILIDADES 98, 102, 105, 129

W
WALTER TRINCA 64, 75, 76

Z
ZONA DE CONTRASTE 37, 64, 103, 105, 126, 131, 132, 140, 142, 144, 147, 154, 158, 237, 239

Representações Sociais e Saúde I Teoria, Pesquisas e Práticas 265


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