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rápicos na Atenção Básica, concebido, desenvolvido e ofertado pela parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação
Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Pará.
O curso completo pode ser acessado em: www.avasus.ufrn.br
Coordenação Geral
Joseane Carvalho Costa
Reitoria
Emmanuel Zagury Tourinho
Vice-Reitoria
Gilmar Pereira da Silva
Pró-Reitoria de Extensão
Nelson José de Souza Júnior
Coordenação Administrativa
Ivanete Guedes Pampolha
2016 Ministério da Saúde | Fundação Oswaldo Cruz | Universidade Federal do Pará
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamen-
to pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra em qualquer suporte ou
formato, desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministé-
rio da Saúde [www.bvsms.saude.gov.br]. Todo o material do curso também está disponível na RetisFito [www.retisfito.
org.br] e no repositório institucional UFPA Multimídia [www.multimidia.ufpa.br].
ISBN 978-85-65054-39-3
25 4 BIOMAS BRASILEIROS
4.1 Amazônia | 26
4.2 Caatinga | 27
4.3 Cerrado | 29
4.4 Mata Atlântica | 31
4.5 Pantanal | 32
4.6 Pampa | 34
37 REFERÊNCIAS DE IMAGENS
Com vistas a auxiliá-lo(a) na aquisição desse conhecimento, esta etapa do curso introduz con-
ceitos referentes à botânica aplicada às plantas medicinais e aos biomas, assim como caracte-
riza as principais plantas medicinais cultivadas no Brasil, a partir de sua classificação taxonô-
mica e do estudo de seus aspectos morfológicos e toxicológicos.
Este texto, por conseguinte, destaca aspectos fundamentais para o conhecimento, cultivo e
prescrição relacionados aos nomes populares das plantas e sua nomenclatura científica, bem
como procedimentos a serem seguidos na busca pela sua correta identificação taxonômica
e incorporação de material botânico testemunho em herbários. O texto aborda, também, a
importância dos aspectos agronômicos para se ter um produto final de qualidade, tendo asse-
guradas suas propriedades terapêuticas e aromáticas.
Ressaltamos que a pretensão não é formar botânicos, mas informar e esclarecer a respeito
dessas questões, bem como orientar você sobre indicações de literatura e sítios da Internet
que tratem do tema. Isso porque existem fatores que comprometem a produção de determi-
nado princípio ativo encontrado nas plantas medicinais. O acesso e a consulta a essas fontes é,
portanto, altamente recomendável, especialmente por serem ferramentas teóricas e práticas
complementares entre si. Além dessas fontes, você também tem informações para aprofun-
damento destacadas tanto neste texto, quanto nos diversos materiais disponíveis nesta e em
outras etapas do Curso.
Deixe a sua curiosidade falar mais alto e, de posse dos materiais disponíveis, ao se deparar
com uma planta em uma Farmácia Viva ou até mesmo no quintal de casa, procure não apenas
contemplá-la, mas também identificá-la a partir dos conteúdos estudados.
Bons estudos!
06
1 A IDENTIDADE DAS PLANTAS:
NOME POPULAR E NOME CIENTÍFICO
Ao avaliar um paciente com bronquite crônica, você prescreveria como coadjuvante no
tratamento cápsulas com óleo de Allium sativum L. ou simplesmente cápsulas com óleo
de alho? Considera que seu paciente entenderia melhor a prescrição usando o nome científico
ou popular?
A identificação botânica ou, simplesmente, a identificação das plantas, consiste em saber re-
conhecê-las pelo seu nome, melhor dizendo, pelos seus nomes. O uso do plural aqui é perti-
nente, uma vez que existem pelo menos dois nomes para cada planta: um (ou mais) popular e
outro científico. Embora pareça simples, trata-se de uma atividade que requer grande conhe-
cimento e poder de observação.
O nome popular, como o próprio nome diz, é aquele reconhecido pelas pessoas de um
determinado local e que pode variar de um lugar para outro e até mesmo de pessoa para
pessoa de um mesmo lugar. Em geral, os nomes populares devem ser iniciados com letra mi-
núscula - exceto quando for um nome próprio - e aqueles que forem compostos devem ser
separados por hífen.
Atenção!
A diversidade de nomes populares para uma mesma espécie botânica pode gerar “confu-
sões”, que colocam em risco o consumo das plantas, podendo resultar em intoxicações, por
exemplo. Tais riscos tendem a ser ainda mais graves se essas plantas forem, sobretudo, uti-
lizadas fora do contexto da medicina tradicional e/ou utilizadas com base apenas no nome
popular, sem nenhum tipo de orientação de um entendido em plantas medicinais (raizeiro,
parteira, curador, médium, etc.).
Veja alguns exemplos de espécies bem conhecidas em nosso país em que uma planta ou
espécie botânica medicinal pode ter diversos nomes populares e vice-versa:
- Plectranthus barbatus Andr: boldo, sete-dores, folha-de-Oxalá, tapete-de-Oxalá, malva-
santa, falso boldo, hortelã-do-Juazeiro.
- Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr: hortelã da folha grossa, hortelã-da-Bahia, malva-do
-reino, malvarisco, malvariço.
- Vernonia condensata Baker: alumã, boldo baiano, boldo-da-Bahia, árvore-do-pinguço, boldo
goiano, sacaca.
- Cymbopogon citratus DC. Stapf.: capim-santo, capim-marinho, capim-limão, capim-cidrei-
ra, capim-de-cheiro, cidreira-em-capim.
- Petiveria alliacea L.: mucura-caá, guiné, erva-de-guiné, tipi, tipi verdadeiro, amansa-
senhor.
A tradição oral, característica entre populações tradicionais que ocupam locais com grande
isolamento geográfico em relação a atendimento médico oficial e/ou centros urbanos, contri-
bui para a diversificação das denominações populares de algumas plantas. A erva óleo elétri-
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co, por exemplo, vendida nos mercados e feiras de Manaus e Belém, é também conhecida por
diferentes moradores de áreas rurais do Amazonas, Pará e de outros estados da região como
aulelétrico, lelétrico, leleto e, ainda, elixir paregórico.
O nome científico de uma planta, por sua vez, é quase sempre composto por uma combinação
de dois nomes em latim que devem ser escritos em itálico (ou sublinhados, quando manus-
critos), seguidos pelo nome do autor que descreveu aquela planta. O primeiro nome, conhe-
cido como gênero (grupo ao qual pertence a planta), deve ser iniciado com letra maiúscula e
o segundo, conhecido como epíteto específico, com minúscula. O nome específico funciona
como uma identidade da planta e é conhecido por “espécie”. Assim, a planta “óleo elétrico”
corresponde à espécie Piper callosum Ruiz &Pav. Sendo Piper, o gênero; callosum, o epíteto
específico; e Ruiz & Pav., os autores que a identificaram, isto é, deram o nome científico a ela.
Você já deve ter percebido que uma única espécie pode ser conhecida por diferentes no-
mes populares ao longo do território brasileiro. Agora imagine o quanto esta situação (ou
problema?) se amplia se considerarmos os nomes populares pelos quais são conhecidas em
outros países. O contrário também ocorre, ou seja, várias espécies diferentes podem ter um
mesmo nome popular. É o caso da erva-cidreira! Dependendo do local, podemos encontrar
as seguintes espécies com este nome popular: Lippia alba (Mill.) N.E.Br., Melissa officinalis L.
Você também e Cymbopogon citratus DC. Stapf. Veremos mais adiante como isso pode causar problemas
encontra material
sobre esse assunto de saúde pública.
na apresentação de
slides sobre aspec-
tos botânicos das Por isso, o nome científico facilita a comunicação entre botânicos. Quando precisam se referir
plantas medicinais ou obter informações sobre uma planta, botânicos de diferentes países, mesmo que não fa-
disponível nesta
Etapa.
lem a mesma língua, podem se comunicar utilizando seu nome específico.
08
Um aspecto interessante do nome científico atribuído a quaisquer plantas é que ele pode
nos trazer informações curiosas sobre particularidades destas. Se você observar as espécies
ilustradas a seguir (Figuras 01, 02, 03 e 04), perceberá que todas têm em comum o epíteto
específico officinalis:
Figura 01 Rosmarinus officinalis L. (alecrim) Figura 02 Salvia officinalis L. (sálvia)
Foto: Forest e Kim Starr. Foto: Programa Cultivando Água Boa [1]
Em latim, officinalis significa “o que está relacionado com a Medicina, medicamentos”. Assim,
todas as plantas que tiverem officinalis como epíteto específico são medicinais. Suas proprie-
dades são reconhecidas provavelmente desde o século XVIII, quando foram descritas pelo
botânico sueco Linnaeus (1707 - 78), Lineu em português, cuja inicial aparece após o epíteto
específico. Essas plantas têm ainda grande chance de serem europeias, uma vez que Lineu era
europeu e dedicou grande parte de seus estudos à flora daquele continente.
Voltando aos significados dos nomes científicos, se observarmos a espécie do alecrim, vere-
mos que Ros significa orvalho e marinus significa mar, dando sentido de “orvalho que vem do
mar”; a salvia vem do termo salvus que significa “sadio”. Conhecer o latim, portanto, é sem
dúvida de grande valia para os botânicos e demais interessados em plantas, pois muitas vezes
a tradução de um nome científico pode revelar características inerentes à planta em questão,
sejam elas visíveis ou não.
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Seguindo o raciocínio dos significados, você saberia dizer qual o possível uso medicinal das
duas espécies abaixo (Figuras 05 e 06)? Lendo com atenção, verá que o segundo nome das
plantas em questão segue como uma identificação da planta, ou seja Deianira nervosa Cham.
&Schltdl. seria indicada para problemas do sistema nervoso e Heteropterys afrodisiaca O.
Mach. teria efeitos afrodisíacos.
Figura 05 Deianira nervosa Cham. & Schltdl Figura 06 Heteropterys aphrodisiaca O. Mach.
(Gentianaceae) (Malpighiaceae)
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Muitas vezes, sobretudo na floresta Amazônica, não resta mais do que um tronco largo, cuja
altura da copa (30 - 50 m) impossibilita a observação de suas folhas, flores e frutos, dificultan-
do muito o diagnóstico ou reconhecimento de determinada árvore. Nesse caso, os moradores
locais retiram um pedaço da casca, cortada com um facão, para analisá-la cuidadosa e crite-
riosamente, testando seu sabor, odor, verificando sua cor e textura. Observam, ainda, restos
de fezes e/ou pegadas de certos animais que se alimentam dos frutos da árvore em questão.
Todos esses estímulos são levados em consideração no diagnóstico final da árvore por parte
do nativo. A identificação de árvores nessas condições, ou mesmo de outras plantas de menor
porte, requer uma sensibilidade aguçada, resultante de sucessivas observações anteriores de
indivíduos dessa espécie, que possibilitaram a formação de um tipo de “memória sensível”,
capaz de reconhecer naquela planta a essência comum àqueles indivíduos.
Da mesma forma que os povos da mata, o(a) taxonomista botânico(a), especialista na identi-
ficação de determinado grupo de plantas, lança mão da observação meticulosa das estruturas
externas das plantas, isto é, das características morfológicas para chegar à sua identificação.
Esse profissional observa também, e principalmente, as características internas de certas par-
tes, tais como flores e frutos. Muitas dessas características não podem ser vistas a olho nu;
para tanto, deve-se fazer uso de lupas e microscópios.
Com a evolução das ciências e dos sistemas de classificação vegetal em particular, essas ca-
racterísticas estão se tornando, a cada dia que passa, insuficientes para a classificação e iden-
tificação das plantas. Sabe-se que, embora haja uma aparente semelhança morfológica entre
duas plantas, elas podem diferenciar-se em nível químico ou ainda, genético. Existe, portanto,
uma tendência em se incorporar estudos genéticos a esses procedimentos.
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zônia brasileira, região em que atuam os pesquisadores, autores desse manual. Além de
ter uma linguagem didática e agradável, o livro é ricamente ilustrado, com destaque para
as fotografias de espécies nativas de importância econômica, inclusive medicinais.
Chave de identificação para as principais famílias de angiospermas nativas e cultivadas
do Brasil
Autores: Vinícius Castro Souza e Harri Lorenzi
Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora
Ano: 2007
Manual prático para ser utilizado em campo, contém as chaves de identificação para as
principais famílias de angiospermas e gimnospermas nativas e cultivadas do Brasil. A iden-
tificação botânica segue o sistema de classificação mais moderno, o APG III (Angiosperm-
PhylogenyGroup, 2009), que se baseia na biologia molecular e não apenas nas caracte-
rísticas morfológicas. É importante salientar ainda que os principais termos morfológicos
são explicados e ilustrados, e apresenta apenas 31 páginas, o que o torna bastante prático
e facilmente transportável.
É importante que você conheça sobre esses avanços científicos, bem como tenha em mente
que há procedimentos básicos que não mudam para identificar uma planta e torná-la testemu-
nha da flora local. Esses procedimentos compreendem a coleta, a herborização, a identifica-
ção e a incorporação de suas respectivas exsicatas em herbários. Recomendamos
Sobre as exsicatas que você consulte os manuais a seguir como ampliação de estudos, por estarem disponíveis
e herbários, veja
também uma
na Internet, serem fartamente ilustrados e trazerem situações e detalhes relevantes sobre
apresentação de esses temas.
slides e uma série
de vídeos desta
Etapa. Exsicata: é a planta herborizada, devidamente coletada, processada e depositada em um
herbário.
Herbário: termo derivado do latim herbarium, que designa uma coleção de plantas ou de fun-
gos, ou de parte desses, técnica e cientificamente preservados, destinada a servir como docu-
mentação da diversidade vegetal e fúngica. Os herbários são prioritariamente utilizados para
estudos da flora (plantas) ou micota (fungos) de uma determinada região, país ou continente,
enfocando Morfologia, Taxonomia, Biogeografia, Etnobotânica, História e outros campos do
conhecimento.
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fia e sítios de interesse a serem consultados.
Manual de Procedimentos para Herbários
Autores: Ariane Luna Peixoto e Leonor Costa Maia (Organizadoras)
Editora: Editora Universitária da UFPE
Ano: 2013
Acesse em: http://inct.florabrasil.net/wp-content/uploads/2013/11/Manual_Herbario.pdf
Esse manual abrange instruções básicas a respeito de coletas, herborização, registro e in-
clusão de exemplares em coleções, além da organização e manutenção de um herbário.
As organizadoras revelam que o intuito é contribuir para divulgação de normas e proce-
dimentos que auxiliem pesquisadores, técnicos e alunos e motivem estudiosos de outros
campos da ciência e o público leigo a compreender a importância estratégica dos herbá-
rios para a ciência e para a conservação ambiental.
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2 OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO
DAS PLANTAS NO REINO VEGETAL
Entre as plantas conhecidas, note que existem aquelas que parecem mais entre si do que ou-
tras. Essas semelhanças ou diferenças observadas são utilizadas para agrupar ou separar as
plantas por parentesco, para classificá-las. Tal como nos sistemas de identificação, existem
dois sistemas de classificação: o tradicional e o da academia.
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2.2 O sistema de classificação das plantas pela academia
Inicialmente, as plantas são reunidas em grandes grupos, separados entre si pelas suas carac-
terísticas morfológicas mais contrastantes. Esses grupos são conhecidos como: algas, briófi-
tas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Neste texto, iremos nos concentrar ape-
nas nas angiospermas, uma vez que é nesse grupo que se encontra a maior parte das plantas
medicinais conhecidas pela riqueza de seus compostos secundários.
Imagine que entre as angiospermas estejam contidas espécies que se aproximam pelas suas
semelhanças e, por este motivo, foram agrupadas em sub-universos, as classes. Entre as plan-
tas pertencentes a uma mesma classe, por sua vez, existem aquelas que se aproximam pelas
semelhanças e que, por isso, foram agrupadas em ordens e assim sucessivamente.
Dessa maneira, cada agrupamento é conhecido por categoria ou táxon, são eles: divisão, clas-
se, ordem, família, gênero e espécie. O termo táxon é originário da Taxonomia, que é a parte
da botânica que se ocupa da identificação ou denominação correta das plantas e também
é empregado para fazer referência aos organismos de um determinado grupo. Alguns estu-
diosos consideram que a Taxonomia é sinônimo de Sistemática enquanto para outros, ela é
menos abrangente que essa última.
Algas: são organismos fotossintéticos com capacidade de liberar oxigênio, que vivem na
água doce e salgada ou em locais úmidos. Se diferem das plantas por não possuírem teci-
dos e órgãos. Podem ser unicelulares ou pluricelulares; não possuem raízes, caules ou folhas
verdadeiras.
Briófitas: primeiras plantas a ocuparem o ambiente terrestre, as briófitas são plantas crip-
tógamas, isto é, não apresentam sementes, flores ou frutos, se reproduzindo por meio de
esporos. As briófitas são avasculares, pequenas e vivem sobre rochas, solo, tronco e ramos
de árvores, preferindo locais úmidos. O grupo está constituído por hepáticas, antóceros e
musgos.
Pteridófitas: segundo grupo na escala evolutiva das plantas. São criptógamas vasculares,
que vivem em ambientes úmidos, pois assim como as briófitas necessitam da água do meio
para realizarem a fecundação. Estão divididas em duas classes: licófitas e samambaias (Ex.:
samambaias, avencas, cavalinhas, etc.).
Gimnospermas: São plantas vasculares que produzem flores e sementes nuas, ou seja, não
são envolvidas pelo ovário desenvolvido, que são os frutos. As sementes são inseridas em
escamas, que formam uma estrutura cônica (Ex.: espécies de Pinus - pinheiros Araucária,
Thuya - ciprestes, Taxus - do qual se obtém o taxol, substância anticancerígena, Ephedra -
fonte da droga efedrina e Gingko biloba L.).
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Sistemática: é a ciência que se ocupa da diversidade biológica que existe hoje na Terra e de
sua história evolutiva. Envolve a descoberta, a descrição e a interpretação da diversidade
biológica, bem como a síntese dessas informações na forma de “sistemas de classificação”.
Táxon: refere-se a qualquer grupo taxonômico (divisão, classe, ordem, família, gênero e es-
pécie), sendo também empregado para fazer referência aos organismos de um determinado
grupo. O termo táxon é originário da Taxonomia, que é a parte da botânica que se ocupa da
identificação ou denominação correta das plantas.
Adolf Engler (1884 - 1930) e Arthur John Cronquist (1919 - 1992) foram dois botânicos que se
destacaram pelos estudos com o grupo das angiospermas. Cada um deles propôs um sistema
para a classificação das plantas pertencentes a esse grupo, a partir da sua morfologia: sistema
Engler e sistema Cronquist. As diferenças básicas entre esses dois sistemas são de ordem
classificatória, ou seja, diferenças entre agrupamentos. Além disso, oito famílias de plantas
são reconhecidas por dois nomes diferentes.
Você também
encontra material
sobre esse assunto
Enquanto Engler utilizou, por exemplo, a denominação Compositae para referir-se à família
na apresentação de das margaridas, Cronquist adotou o termo Asteraceae para representar esse mesmo grupo de
slides sobre aspec- plantas. Os nomes apresentados por Engler são considerados alternativos, enquanto aque-
tos botânicos das
plantas medicinais les propostos por Cronquist são atualmente aceitos. Segundo o Sistema de Cronquist (1981),
disponível nesta existem cerca de 367 famílias taxonômicas diferentes reunidas em 74 ordens; cada uma dessas
Etapa.
famílias pode ter um número variável de gêneros e espécies.
Em 1998, outro sistema de classificação foi proposto - o sistema APG, seguindo uma aborda-
gem filogenética ou molecular, procurando usar todas as informações disponíveis no momen-
to a respeito dos táxons, relacionando-os segundo uma afinidade baseada na ancestralidade
e descendência.
Imagine uma pessoa que sofra de úlcera e que tenha ouvido falar sobre os efeitos antiúlcera
da espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek. - família Celastraceae). Esses efeitos
foram comprovados durante estudos de Farmacologia pré-clínica realizados na Universidade
Federal de São Paulo, na década de 1980 pelo pesquisador Elisaldo L. de A. Carlini.
O Prof. Elisaldo
Carlini dá as boas
Tendo acesso a essas informações, essa pessoa busca pela planta. Imagine que, pelo fato de
vindas ao nosso morar no ambiente rural, busque a espécie junto a um conhecedor de plantas medicinais. Po-
Curso. Assista o rém, nessa nossa história, o conhecedor indica duas possíveis plantas (Figuras 07 e 08), uma
vídeo inaugural
para conhecê-lo. vez que ambas são conhecidas pelo mesmo nome popular.
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Figura 07 [2] Figura 08 [3]
Fica a dúvida: qual das duas é a espinheira-santa estudada pelo Prof. Carlini? Será que uma
dessas duas plantas é a “verdadeira”, isto é, a que foi estudada? Em caso positivo, qual?
Ao observar as duas espinheiras-santa, note que entre elas existem diferenças morfológicas
gritantes, tal como a cor de seus frutos. Esse caso é similar àquele comentado no início do
texto, em que mais de uma espécie é conhecida por erva-cidreira. A primeira atitude que a
pessoa deveria tomar, nesse caso, seria coletar ambas as plantas conhecidas por espinheira-
santa, enumerá-las como material (a) e (b) e, em seguida, procurar o taxonomista (botânico)
responsável pela identificação das plantas daquela família ou daquele gênero. Caso não saiba
a qual gênero ou família pertence a planta, recomenda-se procurar o curador do herbário
mais próximo à sua casa. Geralmente as universidades com cursos de graduação em Biologia
possuem herbários que podem ser consultados como uma opção.
Uma vez contatado o taxonomista, os materiais serão por ele analisados, por meio de chaves
de identificação que o guiarão até as respectivas espécies. A chave tem esse nome, pois, tal
como uma chave, é muito específica e, se seguida com rigor quando da análise de uma planta,
chega-se sempre a uma única espécie.
Agora pense, ainda que o taxonomista tenha identificado o material (a) como Maytenus
robusta Reissek e o (b) como a Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek., ambas são pertencentes
ao gênero Maytenus e à família Celastraceae.
Dessa história pode-se concluir que, dentre as duas plantas indicadas pelo conhecedor, ape-
nas a planta (b) poderia ter sido consumida como remédio com segurança, uma vez que já foi
submetida a estudos que comprovam sua eficácia e toxicologia (segurança). Apesar de a plan-
ta (a) pertencer ao mesmo gênero que a planta (b) (a “verdadeira espinheira-santa”), ela pode
17
apresentar substâncias muito diferentes daquelas encontradas na planta estudada. Ou seja, o
fato de terem um grau relativo de parentesco não significa que sejam iguais, principalmente
do ponto de vista químico.
Atenção!
Partindo do princípio de que espécies de um mesmo gênero podem apresentar princípios
ativos diferentes, imagine a variação química entre indivíduos de famílias diferentes!
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Não se pretende com esses exemplos desestimular o uso das plantas que não tenham com-
provação farmacológica, pois está claro que a cura promovida por uma planta deve sempre
ser considerada dentro de um contexto cultural e de crenças particulares a uma população,
que transcende a comprovação científica.
O que deve ser alertado, no entanto, é o cuidado necessário com o uso de plantas medicinais
adquiridas em mercados, principalmente em relação àquelas que não tenham sido estudadas
do ponto de vista fitoquímico e farmacológico. Talvez no futuro, a ciência utilize o conheci-
mento tradicional dos extratores para realizar testes, por exemplo, com as espinheiras-santa
por eles citadas e comercializadas. Enquanto isso não acontece, seu comércio não é acon-
selhável, pois não se conhecem seus efeitos quando consumidas por pessoas de diferentes
culturas.
Saber identificar uma planta medicinal é, sem dúvida, uma etapa importante, mas você não
pode esquecer de que a forma como as plantas são cultivadas, colhidas, armazenadas e trans-
formadas até que possam ser beneficiadas é que vai garantir que elas não percam suas pro-
priedades terapêuticas. Um conjunto de boas práticas agrícolas deve fazer parte da rotina dos
que lidam com essa questão, principalmente se o cultivo visa à comercialização.
19
3 O CULTIVO DE
PLANTAS MEDICINAIS
Atualmente, há consenso entre cientistas, indústrias e organizações ambientalistas de que
uma das iniciativas para reduzir a pressão sobre o ambiente e preservar os recursos genéticos
é, por um lado, o desenvolvimento de sistemas que permitam o uso sustentável das espécies
nativas exploradas e, por outro, o cultivo com base em pesquisas agronômicas, matéria-pri-
ma com qualidade e em quantidade. O cultivo de plantas medicinais auxilia na conservação
da biodiversidade, ao mesmo tempo em que resgata o conhecimento popular com vistas ao
cuidado da saúde humana.
Atenção!
É imprescindível àqueles que pretendem trabalhar com plantas medicinais que conheçam e
cumpram a legislação pertinente. A organização e sistematização da legislação relativa à co-
leta, produção e comercialização tem sido objeto de constantes levantamentos e debates,
pois as plantas medicinais são pouco contempladas diretamente e a legislação específica é
parcial, pouco divulgada e sujeita a interpretações variáveis conforme a região.
Devem ser observadas a legislação ambiental, que trata da coleta, acesso, comércio e indus-
trialização de espécies nativas e do manejo sustentável de espécies em seu ambiente natu-
ral; e a legislação sanitária, que regulamenta a comercialização das plantas no varejo e na
forma de alimento ou medicamento. Essas leis são disponibilizadas para consultas nos sítios
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério do Meio Ambiente e do
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nos órgãos
ambientais de cada estado e nas Secretarias de Saúde nos Serviços de Vigilância Sanitária.
Para importação e exportação, é necessário consultar ainda o Banco do Brasil e o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
20
3.1 Exigências climáticas e edáficas das plantas medicinais
Para a produção de plantas medicinais, a não observação das exigências relacionadas ao clima
e ao solo (edáficas) pode resultar na produção de plantas bem desenvolvidas, mas sem o teor
de princípio ativo desejado. Entre os fatores que influenciam a produção de plantas medicinais
estão os ambientais, tais como a temperatura, luz, água, solo, altitude, latitude.
Veja mais sobre
esse conteúdo na
apresentação de
Com isso, caso você tenha interesse em produções maiores, certifique-se com especialistas de
slides sobre aspec- que sua planta estará no local adequado. Muitas plantas como, por exemplo, hortelã-pimen-
tos do cultivo de ta, camomila, alecrim e sálvia, dificilmente terão a mesma qualidade no Brasil quanto àquela
plantas medicinais
nesta Etapa. alcançada na região de origem.
Altitude é a altura de uma região em relação ao nível do mar. Ela refletirá diretamente na tem-
peratura, pois locais de altitudes menores são mais quentes do que locais mais altos. À medida
que aumenta a altitude, diminui a temperatura, interferindo no desenvolvimento das plantas
e na produção de princípios ativos. Segundo estudos já concluídos, as plantas produtoras de
alcaloides produzirão um melhor teor dessas substâncias em baixas altitudes.
É importante que você perceba que a influência da latitude também impacta na quantidade
de horas de luz. A maioria das plantas aromáticas de interesse econômico (alecrim, tomilho,
capim limão, manjerona, melissa, camomila e sálvia, por exemplo) são originadas de latitudes
entre 40º e 60º, em que os dias no verão são mais longos do que em localidades de latitudes
menores, condição que as plantas citadas preferem para florescer. Maiores teores, principal-
mente de óleos essenciais, são produzidos nestas latitudes.
No Brasil, não há regiões com essas latitudes e, por conta disso, muitas das plantas aromáticas
produzidas possuem qualidade inferior em termos de teor de óleos essenciais, se comparadas
com as plantas cultivadas nas referidas latitudes. As plantas de origem tropical ou subtropical
recebem pouca ou nenhuma influência da latitude.
21
cada espécie. Por exemplo, no Brasil, a camomila é cultivada no inverno; o capim-limão se
desenvolve melhor em climas quentes.
A água é um elemento essencial para a vida e o metabolismo das plantas; o excesso ou a falta
dela pode impactar a produção de certos metabólitos secundários. O excesso de umidade
leva à redução do teor de alcaloides em espécies da família Solanaceae (Datura sp., Atropa sp.,
etc.), por exemplo. Com relação à produção de óleos essenciais, observou-se um aumento de
sua concentração quando não são irrigadas, como, por exemplo, o capim-limão (Cymbopogon
citratus DC. Stapf.). Um outro exemplo é o alecrim (Rosmarinus officinalis L.), que, em solo
muito argiloso e rico em matéria orgânica, não produz tanto óleo essencial quanto se cultiva-
do em solos arenosos, seu habitat natural.
22
Nesse contexto, é incontestável seguir as Boas Práticas Agrícolas - BPA -, que têm por obje-
tivo realizar uma agricultura sustentável do ponto de vista técnico, ambiental, social e econô-
mico. As diretrizes das BPA específicas para o cultivo de plantas medicinais são orientações
gerais que visam limitar os efeitos negativos nas plantas durante o cultivo, processamento
e armazenamento, bem como aspectos relacionados à higiene, especialmente na produção
para reduzir, ao mínimo, a carga microbiana.
Cultivar: variedade cultivada; grupo de indivíduos de uma espécie que se relaciona por as-
cendência e se apresenta uniforme quanto às características morfológicas, de desenvolvi-
mento, propriedades bioquímicas ou fisiológicas.
Quimiotipos: são variações químicas naturais que acontecem com os óleos e que surgem
devido a diferenças climáticas, tipo de solo, altitude, exposição ao sol e chuva, época de
colheita, etc., além de diferenças causadas pelo método de extração empregado e fração
da destilação.
3.2.2 Cultivo
Os produtores devem seguir as recomendações técnicas previstas para cada espécie, encon-
tradas em publicações técnicas de diversos órgãos de pesquisa e extensão, como a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emater) e as instituições de ensino que oferecem o curso de Agronomia.
O cultivo de plantas medicinais deve ser feito em áreas isentas de contaminação por metais
pesados, resíduos de agrotóxicos ou qualquer outra substância química não-natural. Além
disso, essas áreas devem estar situadas longe de rodovias de movimento intenso (pelo menos
2km) e de áreas industriais, pois os poluentes lançados no ar nessas regiões também podem
23
depositar-se sobre as plantas e contaminá-las. Produtos químicos eventualmente utilizados
devem ter o menor efeito negativo possível.
A aplicação de adubos deve ser feita com moderação, conforme a análise de solo e as neces-
sidades particulares de cada espécie. O uso de adubos e fertilizantes deve estar associado a
medidas para minimizar a lixiviação de substâncias que possam contaminar o lençol freático
e os rios.
Atenção!
É fundamental que as plantas estejam livres de agroquímicos, que podem alterar a com-
posição das mesmas, fazendo com que percam seu valor medicinal, podendo até provocar
efeitos colaterais ou tóxicos. Recomenda-se, portanto, que o sistema de agricultura a ser
praticado seja o orgânico.
Veja também
informações sobre
manejo e proteção
da cultura de plan-
tas medicinais em
apresentação de
3.2.3 Colheita
slides sobre aspec-
tos do cultivo de Todo esforço despendido no cultivo das plantas pode ser posto a perder quando não se dá
plantas medicinais
na Etapa 2.
atenção às etapas de colheita, beneficiamento e armazenagem. O valor comercial das plan-
tas medicinais é determinado por sua qualidade. A qualidade das drogas vegetais depende,
entre outros, da colheita no estágio de maior teor de princípios ativos; do correto manuseio
durante e após a colheita; do beneficiamento adequado; e da armazenagem apropriada.
Droga vegetal: é o nome dado à planta medicinal ou suas partes, após processos de coleta,
estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada, de acordo
com a Farmacopeia Brasileira e a Resolução Anvisa RDC nº 48, de 16 de março de 2004.
Aspectos como clima, tipo de solo, entre outros influenciam diretamente no processo
de cultivo de plantas medicinais. Por isso, é possível encontrar uma diversidade de
espécies de acordo com sua localização nos diferentes biomas brasileiros, que você
conhecerá a seguir.
24
4 BIOMAS BRASILEIROS
O Brasil é reconhecido mundialmente por sua biodiversidade, figurando entre os 17 países
megadiversos no mundo, que ao todo reúnem 70% da biodiversidade do planeta (SCARANO,
2009). Estima-se a existência de 103.780 - 136.990 espécies animais e 43.020 - 49.520 vegetais,
o que equivale a cerca de 10% (1.279.300 - 1.359.400) e 18% (263.800 - 279.400) da flora e fau-
na mundiais, respectivamente (LEWINSOHN; PRADO, 2005).
Essa diversidade encontra-se distribuída em seis principais biomas, nos quais é possível iden-
tificar várias espécies medicinais, conhecidas e manipuladas por diversos povos e comunida-
des locais. Entre os biomas, ainda ocorrem áreas de transição denominadas ecótonos, com
alta diversidade vegetal, também contribuindo para as potencialidades biológicas do territó-
rio brasileiro. Conheça agora as principais características de cada bioma brasileiro.
Assista também ao
vídeo sobre os bio-
mas brasileiros e as
Bioma: um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
plantas medicinais, vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas si-
nesta Etapa. milares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica
própria (IBGE, 2015).
25
4.1 Amazônia
(AB'SABER, 2006; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2010)
4.1.4 Clima
Predomina na região o clima equatorial, com pluviosidade variando de 1400 a 3500 mm por
ano, ou seja, uma média anual de 2.500 mm. As temperaturas anuais oscilam entre 22 e 28ºC,
sendo a temperatura média anual de 24ºC. A combinação desses dois fatores ao longo do ano
caracteriza duas épocas distintas: a seca, também chamada verão amazônico, e a chuvosa ou
inverno amazônico.
4.1.5 Vegetação
A aparente homogeneidade florestal desse bioma abriga de fato uma ampla diversidade de ti-
pos vegetacionais: florestas de terra firme, florestas inundáveis (igapós e várzeas), campinas,
campinaranas, savanas ou cerrados, entre outros.
26
4.1.6 Espécies de plantas medicinais (exemplos)
Hymenaea parvifolia Huber. (jatobá) Burdachia duckei Steyer. Mark. (pau-vidro)
Siparuna guianensis Aubl. (capitiú) Bonamia ferruginea (Choisy) H. (cipó-tuíra)
Spilanthes oleracea L. (jambu) Vismia guianensis (Aubl.) Pers (lacre)
Crescentia cujete L. (cuia-jamarú) Gossypium barbadense L. (algodoeiro)
Indigofera suffruticosa Mill. (anis) Pothomorphe peltata L. Miq. (caapeba)
Croton cajucara Benth. (sacaca) Aspidosperma excelsum (Wod.) (carapanaúba)
Himatanthus sp. (sucuuba) Lophanthera longifolia H.B.K. Griseb. (cuiarana)
Cassia leiandra Benth. (mari-mari) Couma macrocarpa Barb. Rodr. (sorva)
4.1.7 Fauna
A fauna amazônica abriga inúmeras espécies-bandeira, isto é, espécies muito populares e ca-
rismáticas, entre as quais podemos mencionar os macacos, a ariranha, o peixe-boi, o pirarucu,
além de diversas aves como araras e papagaios. Botos, lontras, répteis como os jacarés, tar-
tarugas e jiboia, além de insetos e muitos outros animais terrestres contribuem para a riqueza
biológica da região.
Curiosidade
O Brasil abriga cerca de ¾ da Amazônia total (contendo cerca de 22 mil espécies vegetais).
4.2 Caatinga
(AB'SABER, 2006; ALBUQUERQUE et al., 2010; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a)
27
4.2.3 Principais produtos vegetais
Os principais produtos vegetais desse bioma são a carnaúba (principalmente na produção de
cera), o babaçu (óleo com diversos usos: medicinal, sabonetes, alimentação) e o juazeiro (me-
dicinal).
4.2.4 Clima
A caatinga se caracteriza por clima semiárido, com temperaturas médias anuais compreendi-
das entre 27ºC e 29ºC e com médias pluviométricas inferiores aos 800 mm.
4.2.5 Vegetação
Com base na vegetação e no solo, a caatinga pode ser dividida nas seguintes zonas:
Sua vegetação típica é seca e espinhosa, por causa da falta de chuvas durante grande parte
do ano. Porém, quando chega o período de chuvas, as folhagens voltam a brotar e a paisa-
gem fica mais verde. Algumas das principias plantas do bioma são: xiquexiques [Pilosocereus
gounellei A. Weber ex K. Schum. (Bly. ex Rowl.)], mandacarus (Cereus jamacaru DC.), caragua-
tás [Bromelia plumieri (E. Morren) L.B. Sm.], coroas-de-frade [Melocactus bahiensis (Britton &
Rose) Luetzelb.].
Este bioma abriga 1102 espécies de plantas lenhosas, sendo 318 espécies de angiospermas
endêmicas.
28
4.2.7 Fauna
O conhecimento atual da fauna da Caatinga é reduzido e, para diversos grupos animais, não
há informação ou coletas realizadas. Alguns animais bem registrados neste bioma são: la-
gartos (tal como o teiú), serpentes (cascavel e jararaca) e aves (siriema, pomba-de-bando,
quenquém e juriti).
Curiosidades
O nome caatinga tem origem Tupi-Guarani e significa “floresta branca” (aspecto da vegetação
durante a seca [8 a 9 meses no ano], quando caem as folhas e permanecem apenas os tron-
cos brancos e brilhantes);
Único bioma exclusivo do território brasileiro;
Bioma que tem a biodiversidade mais desconhecida da América do Sul;
A Caatinga vem sofrendo diversas agressões ambientais: substituição de espécies vegetais
nativas por cultivos e pastagens, desmatamento e queimadas. A falta de preservação preju-
dica a sobrevivência da fauna silvestre, a qualidade da água e o equilíbrio do clima e do solo.
4.3 Cerrado
(AB'SABER, 2006; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a)
29
4.3.4 Clima
É tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22 - 23ºC,
chove de 1500 a 1800 milímetros ao ano (outubro - março). Possui duas estações bem defini-
das: inverno seco e verão chuvoso.
4.3.5 Vegetação
Esse bioma é composto por diversas fisionomias, entre elas destacam-se três:
Sua flora é composta por no mínimo 10 mil espécies (6500 nativas e 4400 endêmicas) e só
recentemente começa a ser conhecida.
4.3.7 Fauna
Abriga aproximadamente 200 espécies de mamíferos, 800 espécies de ave, 180 de répteis, 150
de anfíbios e 1200 espécies de peixes, uma notável diversidade de espécies animais endêmi-
cas. Entre eles, destacam-se: anta, ariranha, bugio-preto, cachorro-do-mato, capivara, cervo,
gambá, tamanduá-bandeira, lobo-guará, onça-pintada, queixada, tatu-canastra.
30
Curiosidades
O cerrado é a savana de maior diversidade do mundo, responsável pela manutenção de um
terço da diversidade brasileira;
É considerado um hotspot - região com grande biodiversidade e endemismo, porém, alta-
mente ameaçada de extinção;
Segundo maior bioma brasileiro, depois da Amazônia;
Bioma muito ameaçado por monoculturas de soja, cana, entre outras.
4.4.4 Clima
Com clima equatorial ao norte e quente temperado, sempre úmido, ao sul, tem temperaturas
médias elevadas durante o ano todo e não apenas no verão.
4.4.5 Vegetação
A Mata Atlântica é formada por um conjunto de formações florestais (Florestas: Ombrófila
Densa, Ombrófila Mista, Estacional Semidecidual, Estacional Decidual e Ombrófila Aberta) e
31
ecossistemas associados, como as restingas, manguezais e campos de altitude. Nesse Bioma
existem cerca de 20 mil espécies de plantas, das quais cerca de oito mil são endêmicas dessa
floresta, incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção.
4.4.7 Fauna
Os levantamentos já realizados indicam que a Mata Atlântica abriga 849 espécies de aves,
370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 espécies
de peixes. Os mais representantes e ameaçados de extinção são mico-leão-dourado, bugio,
tamanduá-bandeira, tatu-canastra, arara-azul-pequena, muriqui e onça-pintada.
Curiosidades
A Mata Atlântica é considerada uma das áreas mais ricas em espécies da fauna e da flora mundial;
Restam apenas cerca de 7% de sua cobertura florestal original, fator agravado pelo fato de
nessa região se localizarem os recursos hídricos (rios) que abastecem cerca de 70% da po-
pulação brasileira;
A exploração da Mata Atlântica começou com a chegada dos portugueses ao Brasil, cujo
interesse principal era a extração da preciosa madeira do pau-brasil;
Parte da Mata Atlântica foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educa-
ção, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva da Biosfera no começo da década de 1990.
4.5 Pantanal
(AB'SABER, 2006; SILVA; ABDON, 1998; ICMBIO, 2015b; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a)
32
4.5.2 Elemento humano
O bioma se destaca pela forte presença de comunidades tradicionais, como os povos indíge-
nas e quilombolas que, no decorrer dos anos, ajudaram a difundir a cultura pantaneira.
4.5.3 Clima
O regime pluviométrico no Pantanal apresenta duas estações bem definidas: uma chuvosa,
que ocorre entre os meses de outubro e março, e outra seca, entre abril e setembro. Segundo
a classificação de Köppen, o bioma Pantanal está inserido no grupo de clima tropical com es-
tação seca ou clima de savana (Aw) e exibe temperaturas médias mensais superiores a 18ºC
com um dos meses com precipitação média inferior a 60 mm.
4.5.4 Vegetação
A vegetação do Pantanal é heterogênea e influenciada principalmente pelo Cerrado, mas
apresenta também elementos de Floresta Amazônica, Chaco e Floresta Atlântica. Essa ca-
racterística, aliada aos diferentes tipos de solo e regimes de inundação, é responsável pela
grande variedade de formações vegetais e pela heterogeneidade da paisagem, que abriga rica
biota aquática e terrestre.
O Complexo do Pantanal é constituído por savana estépica alagada em sua maior parte (250
mil km de extensão). Como é uma área de transição, a região é formada por uma variedade de
ecossistemas que são periodicamente inundados, apresentando, por isso, uma fauna bastan-
te diversificada.
P. de Poconé;
P. de Nhecolândia;
P. Aquidauana;
P. Barão de Melgaço;
P. Cáceres;
P. Nabileque;
P. Paiaguás;
P. Paraguai;
P. Abobral;
P. Miranda;
P. Porto Murtinho.
33
Esse bioma abriga cerca de 3,5 mil espécies de plantas. Segundo a Conservation International
(2002), não há registros de plantas endêmicas para o Pantanal, o que estaria associado ao fato
de compartilhar a maior parte de suas espécies com as regiões vizinhas, como o Cerrado e a
Amazônia.
4.5.6 Fauna
São descritas para este bioma aproximadamente 124 espécies de mamíferos, 463 espécies de
aves e 325 espécies de peixes; sendo os característicos: peixes (dourado, pintado, curimbatá,
pacu), jacarés, capivaras, ariranhas, onça-pintada, macaco-prego, veado-campeiro, lobo-gua-
rá, cervo-do-pantanal, tatu, bicho-preguiça, tamanduá, lagartos, cágados, jabutis, cobras (ji-
bóia e sucuri) e pássaros (tucanos, jaburus, garças, papagaios, araras, emas e gaviões).
Curiosidades
O Pantanal é uma das maiores planícies sujeitas a inundações periódicas do globo;
Habitat de uma das mais espetaculares concentrações de vida silvestre da Terra, o que o tor-
na uma das melhores áreas do mundo para a observação de animais selvagens, comparável
às savanas africanas.
4.6 Pampa
(AB'SABER, 2006; CORADIN et al., 2011; PILAR et al., 2009; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015;
BRASIL, 2015c)
34
4.6.2 Elemento humano
Diversas etnias indígenas, quilombolas, além do elemento humano predominante, o gaúcho.
4.6.3 Clima
O clima da região é o subtropical, que se caracteriza por temperaturas amenas e chuvas com
pouca variação ao longo do ano. O solo, em geral, é fértil, sendo bastante utilizado para a
agropecuária.
4.6.4 Vegetação
Bioma caracterizado pela vegetação campestre (gramíneas, herbáceas e algumas árvores),
predominando os campos nativos, matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, for-
mações arbustivas, butiazais, banhados e afloramentos rochosos. Estimativas indicam valores
em torno de 3.000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, representadas
por mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos
de-porco). Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de
leguminosas (150 espécies), como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nati-
vo. Nas áreas de afloramentos rochosos, podem ser encontradas muitas espécies de cactá-
ceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa, vale destacar o algarrobo (Prosopis
algorobilla Griseb.) e o nhandavaí [Acacia farnesiana (L) Willd]. Não se tem informação sobre
espécies endêmicas desse bioma.
4.6.6 Fauna
A fauna é expressiva, com mais de 500 aves, entre elas a ema, o perdigão, a perdiz, o quero-
quero, o caminheiro-de-espora, o joão-de-barro, o sabiá-do-campo e o pica-pau do campo.
Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o graxaim, o zorri-
lho, o furão, o tatu-mulita e o preá. O Pampa abriga um ecossistema muito rico, com muitas
espécies endêmicas, tais como: tuco-tuco, o beija-flor-de-barba-azul, o sapinho-de-barriga-
vermelha e algumas ameaçadas de extinção, como o veado-campeiro, o cervo-do-pantanal, o
caboclinho-de-barriga-verde e o picapauzinho-chorão.
35
Curiosidades
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna pró-
prias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência;
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global;
Também é no Pampa que fica a maior parte do aquífero Guarani.
Como visto neste texto-base, os biomas brasileiros são ricos em diversidade cultural e bioló-
gica. É considerável o número de plantas com efeitos medicinais já comprovados que podem
ser utilizadas como parte do tratamento em diversas racionalidades médicas. Entretanto, há
muito ainda a ser explorado.
Ao final da leitura, você deve ter percebido que a identificação botânica e as boas práticas de
cultivo, juntamente com a comprovação das atividades farmacológicas e determinação da
composição química, são procedimentos complementares nas pesquisas de plantas medici-
nais. Somente uma associação do conhecimento tradicional e popular com o conhecimento
botânico e as inovações tecnológicas poderá garantir um equilíbrio dos ecossistemas dos bio-
mas, de maneira a permitir a produção de fitoterápicos com segurança e eficácia.
36
REFERÊNCIAS DAS IMAGENS
[1] Fonte: Imagem cedida pelo Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional e parcei-
ros, em Foz do Iguaçu.
37
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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2 Os sistemas de classificação das plantas no reino vegetal
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