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Este texto-base integra os recursos didáticos elaborados para o Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitote-

rápicos na Atenção Básica, concebido, desenvolvido e ofertado pela parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação
Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Pará.
O curso completo pode ser acessado em: www.avasus.ufrn.br

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Saúde José Miguel Martins Veloso

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moção da Saúde. Universidade Federal do Pará. Assessoria de Educação a Distância.
Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica – Etapa 2: Botânica das plantas
medicinais / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Fundação Oswaldo
Cruz. Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde. Universidade Federal do Pará. Assessoria de Edu-
cação a Distância – 1. ed. – Belém: [EditAEDi], 2016.
42 p. : il.

ISBN 978-85-65054-39-3

1. Fitoterapia. 2. Plantas Medicinais. 3. Atenção à Saúde. I. Título.


CDU 633.88
__________________________________________________________________________________________
SUMÁRIO
ETAPA 2 - BOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS | 06

07 1 A IDENTIDADE DAS PLANTAS: NOME POPULAR E NOME CIENTÍFICO

1.1 Os sistemas de identificação | 10

14 2 OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS NO REINO VEGETAL

2.1 O sistema de classificação tradicional | 14


2.2 O sistema de classificação das plantas pela academia | 15

20 3 O CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS

3.1 Exigências climáticas e edáficas das plantas medicinais | 21


3.2 Boas Práticas Agrícolas de plantas medicinais | 22

25 4 BIOMAS BRASILEIROS

4.1 Amazônia | 26
4.2 Caatinga | 27
4.3 Cerrado | 29
4.4 Mata Atlântica | 31
4.5 Pantanal | 32
4.6 Pampa | 34

37 REFERÊNCIAS DE IMAGENS

38 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


ETAPA 2
BOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS
Caro(a) cursista,
A variabilidade de princípios ativos da matéria prima faz parte das preocupações dos profis-
sionais e da indústria farmacêutica que lidam com plantas medicinais e fitoterápicos. Nesse
sentido, o conhecimento, mesmo que básico, sobre os aspectos botânicos e agronômicos das
plantas medicinais é importante para que você, que atua na Atenção Básica à Saúde, possa,
com segurança, prescrever fitoterápicos e plantas medicinais.

Com vistas a auxiliá-lo(a) na aquisição desse conhecimento, esta etapa do curso introduz con-
ceitos referentes à botânica aplicada às plantas medicinais e aos biomas, assim como caracte-
riza as principais plantas medicinais cultivadas no Brasil, a partir de sua classificação taxonô-
mica e do estudo de seus aspectos morfológicos e toxicológicos.

Este texto, por conseguinte, destaca aspectos fundamentais para o conhecimento, cultivo e
prescrição relacionados aos nomes populares das plantas e sua nomenclatura científica, bem
como procedimentos a serem seguidos na busca pela sua correta identificação taxonômica
e incorporação de material botânico testemunho em herbários. O texto aborda, também, a
importância dos aspectos agronômicos para se ter um produto final de qualidade, tendo asse-
guradas suas propriedades terapêuticas e aromáticas.

Ressaltamos que a pretensão não é formar botânicos, mas informar e esclarecer a respeito
dessas questões, bem como orientar você sobre indicações de literatura e sítios da Internet
que tratem do tema. Isso porque existem fatores que comprometem a produção de determi-
nado princípio ativo encontrado nas plantas medicinais. O acesso e a consulta a essas fontes é,
portanto, altamente recomendável, especialmente por serem ferramentas teóricas e práticas
complementares entre si. Além dessas fontes, você também tem informações para aprofun-
damento destacadas tanto neste texto, quanto nos diversos materiais disponíveis nesta e em
outras etapas do Curso.

Deixe a sua curiosidade falar mais alto e, de posse dos materiais disponíveis, ao se deparar
com uma planta em uma Farmácia Viva ou até mesmo no quintal de casa, procure não apenas
contemplá-la, mas também identificá-la a partir dos conteúdos estudados.

Bons estudos!

06
1 A IDENTIDADE DAS PLANTAS:
NOME POPULAR E NOME CIENTÍFICO
Ao avaliar um paciente com bronquite crônica, você prescreveria como coadjuvante no
tratamento cápsulas com óleo de Allium sativum L. ou simplesmente cápsulas com óleo
de alho? Considera que seu paciente entenderia melhor a prescrição usando o nome científico
ou popular?

A identificação botânica ou, simplesmente, a identificação das plantas, consiste em saber re-
conhecê-las pelo seu nome, melhor dizendo, pelos seus nomes. O uso do plural aqui é perti-
nente, uma vez que existem pelo menos dois nomes para cada planta: um (ou mais) popular e
outro científico. Embora pareça simples, trata-se de uma atividade que requer grande conhe-
cimento e poder de observação.

O nome popular, como o próprio nome diz, é aquele reconhecido pelas pessoas de um
determinado local e que pode variar de um lugar para outro e até mesmo de pessoa para
pessoa de um mesmo lugar. Em geral, os nomes populares devem ser iniciados com letra mi-
núscula - exceto quando for um nome próprio - e aqueles que forem compostos devem ser
separados por hífen.

Atenção!
A diversidade de nomes populares para uma mesma espécie botânica pode gerar “confu-
sões”, que colocam em risco o consumo das plantas, podendo resultar em intoxicações, por
exemplo. Tais riscos tendem a ser ainda mais graves se essas plantas forem, sobretudo, uti-
lizadas fora do contexto da medicina tradicional e/ou utilizadas com base apenas no nome
popular, sem nenhum tipo de orientação de um entendido em plantas medicinais (raizeiro,
parteira, curador, médium, etc.).
Veja alguns exemplos de espécies bem conhecidas em nosso país em que uma planta ou
espécie botânica medicinal pode ter diversos nomes populares e vice-versa:
- Plectranthus barbatus Andr: boldo, sete-dores, folha-de-Oxalá, tapete-de-Oxalá, malva-
santa, falso boldo, hortelã-do-Juazeiro.
- Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr: hortelã da folha grossa, hortelã-da-Bahia, malva-do
-reino, malvarisco, malvariço.
- Vernonia condensata Baker: alumã, boldo baiano, boldo-da-Bahia, árvore-do-pinguço, boldo
goiano, sacaca.
- Cymbopogon citratus DC. Stapf.: capim-santo, capim-marinho, capim-limão, capim-cidrei-
ra, capim-de-cheiro, cidreira-em-capim.
- Petiveria alliacea L.: mucura-caá, guiné, erva-de-guiné, tipi, tipi verdadeiro, amansa-
senhor.

A tradição oral, característica entre populações tradicionais que ocupam locais com grande
isolamento geográfico em relação a atendimento médico oficial e/ou centros urbanos, contri-
bui para a diversificação das denominações populares de algumas plantas. A erva óleo elétri-

07
co, por exemplo, vendida nos mercados e feiras de Manaus e Belém, é também conhecida por
diferentes moradores de áreas rurais do Amazonas, Pará e de outros estados da região como
aulelétrico, lelétrico, leleto e, ainda, elixir paregórico.

Amplie seus estudos


Para ampliar seu conhecimento sobre a identificação das plantas é recomendável que você
consulte livros especializados, tais como:
Dicionário de Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas
Autor: Pio Corrêa
Editora: Ministério da Agricultura, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
Ano: 1984
Trata-se de uma obra clássica bastante consultada por curiosos e estudiosos de plantas
medicinais, que a ela recorrem para checar os diferentes nomes populares pelos quais uma
planta é conhecida nas diferentes regiões e estados brasileiros e seus usos. Mas, fique aten-
to(a), pois por ser uma obra mais antiga, a nomenclatura científica de muitas espécies en-
contra-se desatualizada.
Plantas Medicinais no Brasil
Autores: Harri Lorenzi e Francisco J. de Abreu Matos
Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora
Ano: 2002
Obra mais recente, bastante abrangente e atualizada, apresenta descrição da planta, nome
científico atualizado e sinonímias (nomes científicos antigos), áreas de ocorrência, usos po-
pulares, composição química e atividades terapêuticas.

O nome científico de uma planta, por sua vez, é quase sempre composto por uma combinação
de dois nomes em latim que devem ser escritos em itálico (ou sublinhados, quando manus-
critos), seguidos pelo nome do autor que descreveu aquela planta. O primeiro nome, conhe-
cido como gênero (grupo ao qual pertence a planta), deve ser iniciado com letra maiúscula e
o segundo, conhecido como epíteto específico, com minúscula. O nome específico funciona
como uma identidade da planta e é conhecido por “espécie”. Assim, a planta “óleo elétrico”
corresponde à espécie Piper callosum Ruiz &Pav. Sendo Piper, o gênero; callosum, o epíteto
específico; e Ruiz & Pav., os autores que a identificaram, isto é, deram o nome científico a ela.

Você já deve ter percebido que uma única espécie pode ser conhecida por diferentes no-
mes populares ao longo do território brasileiro. Agora imagine o quanto esta situação (ou
problema?) se amplia se considerarmos os nomes populares pelos quais são conhecidas em
outros países. O contrário também ocorre, ou seja, várias espécies diferentes podem ter um
mesmo nome popular. É o caso da erva-cidreira! Dependendo do local, podemos encontrar
as seguintes espécies com este nome popular: Lippia alba (Mill.) N.E.Br., Melissa officinalis L.
Você também e Cymbopogon citratus DC. Stapf. Veremos mais adiante como isso pode causar problemas
encontra material
sobre esse assunto de saúde pública.
na apresentação de
slides sobre aspec-
tos botânicos das Por isso, o nome científico facilita a comunicação entre botânicos. Quando precisam se referir
plantas medicinais ou obter informações sobre uma planta, botânicos de diferentes países, mesmo que não fa-
disponível nesta
Etapa.
lem a mesma língua, podem se comunicar utilizando seu nome específico.

08
Um aspecto interessante do nome científico atribuído a quaisquer plantas é que ele pode
nos trazer informações curiosas sobre particularidades destas. Se você observar as espécies
ilustradas a seguir (Figuras 01, 02, 03 e 04), perceberá que todas têm em comum o epíteto
específico officinalis:
Figura 01 Rosmarinus officinalis L. (alecrim) Figura 02 Salvia officinalis L. (sálvia)

Foto: H. Zell. Foto: Gabi Pastro.


Figura 03 Melissa officinalis L. (melissa) Figura 04 Calendula officinalis L. (calêndula)

Foto: Forest e Kim Starr. Foto: Programa Cultivando Água Boa [1]

Em latim, officinalis significa “o que está relacionado com a Medicina, medicamentos”. Assim,
todas as plantas que tiverem officinalis como epíteto específico são medicinais. Suas proprie-
dades são reconhecidas provavelmente desde o século XVIII, quando foram descritas pelo
botânico sueco Linnaeus (1707 - 78), Lineu em português, cuja inicial aparece após o epíteto
específico. Essas plantas têm ainda grande chance de serem europeias, uma vez que Lineu era
europeu e dedicou grande parte de seus estudos à flora daquele continente.

Voltando aos significados dos nomes científicos, se observarmos a espécie do alecrim, vere-
mos que Ros significa orvalho e marinus significa mar, dando sentido de “orvalho que vem do
mar”; a salvia vem do termo salvus que significa “sadio”. Conhecer o latim, portanto, é sem
dúvida de grande valia para os botânicos e demais interessados em plantas, pois muitas vezes
a tradução de um nome científico pode revelar características inerentes à planta em questão,
sejam elas visíveis ou não.

09
Seguindo o raciocínio dos significados, você saberia dizer qual o possível uso medicinal das
duas espécies abaixo (Figuras 05 e 06)? Lendo com atenção, verá que o segundo nome das
plantas em questão segue como uma identificação da planta, ou seja Deianira nervosa Cham.
&Schltdl. seria indicada para problemas do sistema nervoso e Heteropterys afrodisiaca O.
Mach. teria efeitos afrodisíacos.
Figura 05 Deianira nervosa Cham. & Schltdl Figura 06 Heteropterys aphrodisiaca O. Mach.
(Gentianaceae) (Malpighiaceae)

Foto: Eliana Rodrigues. Foto: Eliana Rodrigues.

A identificação de uma amostra inclui o fornecimento do nome científico e a procedência da


espécie. Agora que você sabe como um nome científico é composto e que características ele
pode informar, a seguir você conhecerá o processo de identificação da planta, que lhe permi-
tirá avançar nos estudos de botânica das plantas medicinais.

1.1 Os sistemas de identificação


Basicamente existem duas maneiras de se nomear uma planta: uma, utilizada pelas pessoas
comuns e outra, desenvolvida e utilizada pelos botânicos ou taxonomistas. Ambas constituem
os sistemas de identificação tradicional e de identificação científica ou acadêmica, respectiva-
mente. As informações tratadas no item 1 justificam a importância destes sistemas.

1.1.1 O sistema de identificação tradicional


O sistema de identificação tradicional ou popular é empírico e bastante complexo. Para reco-
nhecer uma planta na mata, a população local (caboclos, índios, ribeirinhos, caiçaras, caipiras)
Você pode conhe-
cer mais sobre os geralmente se utiliza dos recursos de que dispõe, ou seja, um conjunto de sensações (odor,
usos medicinais de paladar, tato e intuição) somadas à observação das características externas das plantas, como
plantas por popu-
lações tradicionais formas, texturas e cores das suas partes.
nos materiais da
Etapa 1.

10
Muitas vezes, sobretudo na floresta Amazônica, não resta mais do que um tronco largo, cuja
altura da copa (30 - 50 m) impossibilita a observação de suas folhas, flores e frutos, dificultan-
do muito o diagnóstico ou reconhecimento de determinada árvore. Nesse caso, os moradores
locais retiram um pedaço da casca, cortada com um facão, para analisá-la cuidadosa e crite-
riosamente, testando seu sabor, odor, verificando sua cor e textura. Observam, ainda, restos
de fezes e/ou pegadas de certos animais que se alimentam dos frutos da árvore em questão.

Todos esses estímulos são levados em consideração no diagnóstico final da árvore por parte
do nativo. A identificação de árvores nessas condições, ou mesmo de outras plantas de menor
porte, requer uma sensibilidade aguçada, resultante de sucessivas observações anteriores de
indivíduos dessa espécie, que possibilitaram a formação de um tipo de “memória sensível”,
capaz de reconhecer naquela planta a essência comum àqueles indivíduos.

1.1.2 O sistema de identificação da ciência acadêmica


Você já viu que recursos as populações locais se utilizam para a identificação das plantas na
mata. Agora veja como a ciência acadêmica o faz e qual a importância na padronização de um
único nome científico, específico para cada planta.

Da mesma forma que os povos da mata, o(a) taxonomista botânico(a), especialista na identi-
ficação de determinado grupo de plantas, lança mão da observação meticulosa das estruturas
externas das plantas, isto é, das características morfológicas para chegar à sua identificação.
Esse profissional observa também, e principalmente, as características internas de certas par-
tes, tais como flores e frutos. Muitas dessas características não podem ser vistas a olho nu;
para tanto, deve-se fazer uso de lupas e microscópios.

Com a evolução das ciências e dos sistemas de classificação vegetal em particular, essas ca-
racterísticas estão se tornando, a cada dia que passa, insuficientes para a classificação e iden-
tificação das plantas. Sabe-se que, embora haja uma aparente semelhança morfológica entre
duas plantas, elas podem diferenciar-se em nível químico ou ainda, genético. Existe, portanto,
uma tendência em se incorporar estudos genéticos a esses procedimentos.

Amplie seus estudos


Consulte os livros a seguir para complementar e aprofundar os seus estudos:
Noções Morfológicas e Taxonômicas para Identificação Botânica (livro digital)
Autores: Regina Célia Viana Martins-da-Silva; Antônio Sérgio Lima da Silva; Marília Morei-
ra Fernandes; Luciano Ferreira Margalho
Editora: Embrapa
Ano: 2014
Acesse em: www.embrapa.br/amazonia-oriental/publicacoes
Esse livro oferece informações básicas sobre botânica, dando ênfase às características
morfológicas das plantas e descrevendo todo o processo envolvido na sua identificação.
Apresenta ainda a caracterização das principais famílias botânicas de ocorrência na Ama-

11
zônia brasileira, região em que atuam os pesquisadores, autores desse manual. Além de
ter uma linguagem didática e agradável, o livro é ricamente ilustrado, com destaque para
as fotografias de espécies nativas de importância econômica, inclusive medicinais.
Chave de identificação para as principais famílias de angiospermas nativas e cultivadas
do Brasil
Autores: Vinícius Castro Souza e Harri Lorenzi
Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora
Ano: 2007
Manual prático para ser utilizado em campo, contém as chaves de identificação para as
principais famílias de angiospermas e gimnospermas nativas e cultivadas do Brasil. A iden-
tificação botânica segue o sistema de classificação mais moderno, o APG III (Angiosperm-
PhylogenyGroup, 2009), que se baseia na biologia molecular e não apenas nas caracte-
rísticas morfológicas. É importante salientar ainda que os principais termos morfológicos
são explicados e ilustrados, e apresenta apenas 31 páginas, o que o torna bastante prático
e facilmente transportável.

É importante que você conheça sobre esses avanços científicos, bem como tenha em mente
que há procedimentos básicos que não mudam para identificar uma planta e torná-la testemu-
nha da flora local. Esses procedimentos compreendem a coleta, a herborização, a identifica-
ção e a incorporação de suas respectivas exsicatas em herbários. Recomendamos
Sobre as exsicatas que você consulte os manuais a seguir como ampliação de estudos, por estarem disponíveis
e herbários, veja
também uma
na Internet, serem fartamente ilustrados e trazerem situações e detalhes relevantes sobre
apresentação de esses temas.
slides e uma série
de vídeos desta
Etapa. Exsicata: é a planta herborizada, devidamente coletada, processada e depositada em um
herbário.

Herbário: termo derivado do latim herbarium, que designa uma coleção de plantas ou de fun-
gos, ou de parte desses, técnica e cientificamente preservados, destinada a servir como docu-
mentação da diversidade vegetal e fúngica. Os herbários são prioritariamente utilizados para
estudos da flora (plantas) ou micota (fungos) de uma determinada região, país ou continente,
enfocando Morfologia, Taxonomia, Biogeografia, Etnobotânica, História e outros campos do
conhecimento.

Amplie seus estudos


Consulte as referências a seguir para ampliar os seus estudos:
Guia Prático de Métodos de Campo para Estudos de Flora/Bocaina Biologia da Conser-
vação (livro digital)
Autores: Nara Furtado de Oliveira Mota; Luíza Fonseca de Paula; Pedro Lage Viana
Editora: Bocaina Biologia da Conservação
Ano: 2014
Acesse em: https://biowit.files.wordpress.com/2010/11/bocaina_guia-de-metodos-de-campo-em-botanica.pdf
O guia, embora reúna abordagens metodológicas que podem ultrapassar seu interesse
como profissional de saúde, expõe de maneira clara e simples o processo de coleta de ma-
terial botânico para identificação, preparo de amostras para herbário, caracterização dos
ambientes onde ocorrem as plantas e formas de vida. Ao final, sugere uma vasta bibliogra-

12
fia e sítios de interesse a serem consultados.
Manual de Procedimentos para Herbários
Autores: Ariane Luna Peixoto e Leonor Costa Maia (Organizadoras)
Editora: Editora Universitária da UFPE
Ano: 2013
Acesse em: http://inct.florabrasil.net/wp-content/uploads/2013/11/Manual_Herbario.pdf
Esse manual abrange instruções básicas a respeito de coletas, herborização, registro e in-
clusão de exemplares em coleções, além da organização e manutenção de um herbário.
As organizadoras revelam que o intuito é contribuir para divulgação de normas e proce-
dimentos que auxiliem pesquisadores, técnicos e alunos e motivem estudiosos de outros
campos da ciência e o público leigo a compreender a importância estratégica dos herbá-
rios para a ciência e para a conservação ambiental.

Além de identificar as plantas, o ser humano necessita classificá-las. Segundo Lévi-Strauss


(1989), todo grupo humano dentro de sua visão de mundo (cultura e crenças) classifica as
plantas, agrupando-as por parentesco. Por meio desse agrupamento de coisas e de seres, é
introduzido um princípio de ordem do universo. A seguir, você conhecerá os diferentes siste-
mas de classificação de plantas.

13
2 OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO
DAS PLANTAS NO REINO VEGETAL
Entre as plantas conhecidas, note que existem aquelas que parecem mais entre si do que ou-
tras. Essas semelhanças ou diferenças observadas são utilizadas para agrupar ou separar as
plantas por parentesco, para classificá-las. Tal como nos sistemas de identificação, existem
dois sistemas de classificação: o tradicional e o da academia.

2.1 O sistema de classificação tradicional


Segundo Lévi-Strauss (1989), a classificação dos seres vegetais e animais é uma necessidade
universal, pertencendo às culturas de todos os continentes. Embora seja universal, cada cul-
tura lança mão de suas próprias percepções e visões de mundo para ordenar os seres. Ainda
segundo esse autor, no caso dos pigmeus, por exemplo, quase todos os homens enumeram
com a maior facilidade os nomes específicos e descritivos de pelo menos 450 plantas, 75 aves,
de quase todas as serpentes, peixes, insetos, mamíferos e ainda de 20 espécies de formigas.

O povo indígena Krahô classifica as plantas do cerrado em duas metades: a metade


wakmenye (pertence à estação seca) e a katamye (estação chuvosa). As plantas que perten-
cem à metade wakmenye são consideradas “remédios fortes”, enquanto as da metade ka-
tamye são “remédios fracos”. A partir desta classificação, fazem o uso medicinal das plantas,
priorizando aquelas pertencentes à metade wakmenye, uma vez que, segundo eles, essas
plantas estão privadas da água de chuva e, portanto, a “substância” responsável pela cura
está concentrada na planta, enquanto que, nas plantas da outra metade, essas “substâncias”
estão diluídas pelas águas das chuvas!

Alguns ribeirinhos amazônicos classificam as plantas em “machos” e “fêmeas” dependendo


da forma da raiz. Raízes pivotantes remetem a plantas machos e devem ser consumidas como
medicamentos por mulheres, caso contrário não irão promover a cura. E as plantas com raízes
fasciculadas são consideradas fêmeas, tendo que ser consumidas por homens, pelos mesmos
motivos. A planta conhecida popularmente na Amazônia por mucura-caá (Petiveria alliacea
L.), que em outras regiões do país é conhecida por guiné, tipi verdadeiro ou amansa-senhor,
apresenta variações na forma da folha. Em alguns indivíduos, as folhas são arredondadas
(fêmeas), enquanto em outros, pontiagudos (machos). Seu uso é preferencialmente ligado ao
sexo do paciente, assim, as plantas “fêmeas” são indicadas para homens e vice-versa. Além
dessas, existem muitas outras formas e exemplos de classificação tradicional.

14
2.2 O sistema de classificação das plantas pela academia
Inicialmente, as plantas são reunidas em grandes grupos, separados entre si pelas suas carac-
terísticas morfológicas mais contrastantes. Esses grupos são conhecidos como: algas, briófi-
tas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Neste texto, iremos nos concentrar ape-
nas nas angiospermas, uma vez que é nesse grupo que se encontra a maior parte das plantas
medicinais conhecidas pela riqueza de seus compostos secundários.

Imagine que entre as angiospermas estejam contidas espécies que se aproximam pelas suas
semelhanças e, por este motivo, foram agrupadas em sub-universos, as classes. Entre as plan-
tas pertencentes a uma mesma classe, por sua vez, existem aquelas que se aproximam pelas
semelhanças e que, por isso, foram agrupadas em ordens e assim sucessivamente.

Dessa maneira, cada agrupamento é conhecido por categoria ou táxon, são eles: divisão, clas-
se, ordem, família, gênero e espécie. O termo táxon é originário da Taxonomia, que é a parte
da botânica que se ocupa da identificação ou denominação correta das plantas e também
é empregado para fazer referência aos organismos de um determinado grupo. Alguns estu-
diosos consideram que a Taxonomia é sinônimo de Sistemática enquanto para outros, ela é
menos abrangente que essa última.

Algas: são organismos fotossintéticos com capacidade de liberar oxigênio, que vivem na
água doce e salgada ou em locais úmidos. Se diferem das plantas por não possuírem teci-
dos e órgãos. Podem ser unicelulares ou pluricelulares; não possuem raízes, caules ou folhas
verdadeiras.

Angiospermas: plantas que apresentam sementes verdadeiras, encerradas em frutos. É o


grupo de plantas mais numeroso, geralmente terrestre, e abrange desde as herbáceas até as
arbóreas mais frondosas. A principal característica das angiospermas é a presença de flores
e frutos, o que as tornam importantíssimas tanto para os seres humanos quanto para os
animais. Estão divididas em duas classes: dicotiledôneas (espécies de Mentha, Piper, Aristo-
lochia, Rhamnus, Uncaria, Copaifera, Coleus, etc.) e monocotiledôneas (orquídeas, palmeiras,
gramíneas, bromélias, etc.).

Briófitas: primeiras plantas a ocuparem o ambiente terrestre, as briófitas são plantas crip-
tógamas, isto é, não apresentam sementes, flores ou frutos, se reproduzindo por meio de
esporos. As briófitas são avasculares, pequenas e vivem sobre rochas, solo, tronco e ramos
de árvores, preferindo locais úmidos. O grupo está constituído por hepáticas, antóceros e
musgos.

Pteridófitas: segundo grupo na escala evolutiva das plantas. São criptógamas vasculares,
que vivem em ambientes úmidos, pois assim como as briófitas necessitam da água do meio
para realizarem a fecundação. Estão divididas em duas classes: licófitas e samambaias (Ex.:
samambaias, avencas, cavalinhas, etc.).

Gimnospermas: São plantas vasculares que produzem flores e sementes nuas, ou seja, não
são envolvidas pelo ovário desenvolvido, que são os frutos. As sementes são inseridas em
escamas, que formam uma estrutura cônica (Ex.: espécies de Pinus - pinheiros Araucária,
Thuya - ciprestes, Taxus - do qual se obtém o taxol, substância anticancerígena, Ephedra -
fonte da droga efedrina e Gingko biloba L.).

15
Sistemática: é a ciência que se ocupa da diversidade biológica que existe hoje na Terra e de
sua história evolutiva. Envolve a descoberta, a descrição e a interpretação da diversidade
biológica, bem como a síntese dessas informações na forma de “sistemas de classificação”.

Táxon: refere-se a qualquer grupo taxonômico (divisão, classe, ordem, família, gênero e es-
pécie), sendo também empregado para fazer referência aos organismos de um determinado
grupo. O termo táxon é originário da Taxonomia, que é a parte da botânica que se ocupa da
identificação ou denominação correta das plantas.

Adolf Engler (1884 - 1930) e Arthur John Cronquist (1919 - 1992) foram dois botânicos que se
destacaram pelos estudos com o grupo das angiospermas. Cada um deles propôs um sistema
para a classificação das plantas pertencentes a esse grupo, a partir da sua morfologia: sistema
Engler e sistema Cronquist. As diferenças básicas entre esses dois sistemas são de ordem
classificatória, ou seja, diferenças entre agrupamentos. Além disso, oito famílias de plantas
são reconhecidas por dois nomes diferentes.
Você também
encontra material
sobre esse assunto
Enquanto Engler utilizou, por exemplo, a denominação Compositae para referir-se à família
na apresentação de das margaridas, Cronquist adotou o termo Asteraceae para representar esse mesmo grupo de
slides sobre aspec- plantas. Os nomes apresentados por Engler são considerados alternativos, enquanto aque-
tos botânicos das
plantas medicinais les propostos por Cronquist são atualmente aceitos. Segundo o Sistema de Cronquist (1981),
disponível nesta existem cerca de 367 famílias taxonômicas diferentes reunidas em 74 ordens; cada uma dessas
Etapa.
famílias pode ter um número variável de gêneros e espécies.

Em 1998, outro sistema de classificação foi proposto - o sistema APG, seguindo uma aborda-
gem filogenética ou molecular, procurando usar todas as informações disponíveis no momen-
to a respeito dos táxons, relacionando-os segundo uma afinidade baseada na ancestralidade
e descendência.

Em virtude da riqueza do Brasil quanto ao número de plantas existentes em nosso terri-


tório, um taxonomista brasileiro geralmente especializa-se na identificação de plantas
pertencentes a determinado gênero ou, no máximo, a uma família, quando ela for composta
por poucas espécies.

A partir das informações deste texto, veja o exemplo ilustrativo do processo de


identificação botânica:

Imagine uma pessoa que sofra de úlcera e que tenha ouvido falar sobre os efeitos antiúlcera
da espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek. - família Celastraceae). Esses efeitos
foram comprovados durante estudos de Farmacologia pré-clínica realizados na Universidade
Federal de São Paulo, na década de 1980 pelo pesquisador Elisaldo L. de A. Carlini.
O Prof. Elisaldo
Carlini dá as boas
Tendo acesso a essas informações, essa pessoa busca pela planta. Imagine que, pelo fato de
vindas ao nosso morar no ambiente rural, busque a espécie junto a um conhecedor de plantas medicinais. Po-
Curso. Assista o rém, nessa nossa história, o conhecedor indica duas possíveis plantas (Figuras 07 e 08), uma
vídeo inaugural
para conhecê-lo. vez que ambas são conhecidas pelo mesmo nome popular.

16
Figura 07 [2] Figura 08 [3]

Fica a dúvida: qual das duas é a espinheira-santa estudada pelo Prof. Carlini? Será que uma
dessas duas plantas é a “verdadeira”, isto é, a que foi estudada? Em caso positivo, qual?

Ao observar as duas espinheiras-santa, note que entre elas existem diferenças morfológicas
gritantes, tal como a cor de seus frutos. Esse caso é similar àquele comentado no início do
texto, em que mais de uma espécie é conhecida por erva-cidreira. A primeira atitude que a
pessoa deveria tomar, nesse caso, seria coletar ambas as plantas conhecidas por espinheira-
santa, enumerá-las como material (a) e (b) e, em seguida, procurar o taxonomista (botânico)
responsável pela identificação das plantas daquela família ou daquele gênero. Caso não saiba
a qual gênero ou família pertence a planta, recomenda-se procurar o curador do herbário
mais próximo à sua casa. Geralmente as universidades com cursos de graduação em Biologia
possuem herbários que podem ser consultados como uma opção.

Curador do herbário: representante legal do herbário perante a instituição à qual pertence e


às demais instituições parceiras. Algumas das atribuições do curador são autorizar emprés-
timos de exsicatas, visitas de estudiosos ao herbário, fazer cumprir as normas de funciona-
mento deste, etc.

Uma vez contatado o taxonomista, os materiais serão por ele analisados, por meio de chaves
de identificação que o guiarão até as respectivas espécies. A chave tem esse nome, pois, tal
como uma chave, é muito específica e, se seguida com rigor quando da análise de uma planta,
chega-se sempre a uma única espécie.

Agora pense, ainda que o taxonomista tenha identificado o material (a) como Maytenus
robusta Reissek e o (b) como a Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek., ambas são pertencentes
ao gênero Maytenus e à família Celastraceae.

Dessa história pode-se concluir que, dentre as duas plantas indicadas pelo conhecedor, ape-
nas a planta (b) poderia ter sido consumida como remédio com segurança, uma vez que já foi
submetida a estudos que comprovam sua eficácia e toxicologia (segurança). Apesar de a plan-
ta (a) pertencer ao mesmo gênero que a planta (b) (a “verdadeira espinheira-santa”), ela pode

17
apresentar substâncias muito diferentes daquelas encontradas na planta estudada. Ou seja, o
fato de terem um grau relativo de parentesco não significa que sejam iguais, principalmente
do ponto de vista químico.

Ainda sobre a “espinheira-santa”, durante um levantamento realizado entre extratores de


plantas medicinais do Vale do Ribeira, em um projeto conduzido pela ONG Vitae Civilis, obser-
vou-se que eles indicam duas outras plantas com o mesmo nome popular “espinheira-santa”:
uma pertence à família Leguminosa e a outra, à Moraceae (Figura 09). Ou seja, nenhuma delas
é a “verdadeira espinheira-santa”.
Figura 09 Exemplos de outras espécies conhecidas como “espinheira-santa”

Atenção!
Partindo do princípio de que espécies de um mesmo gênero podem apresentar princípios
ativos diferentes, imagine a variação química entre indivíduos de famílias diferentes!

Amplie seus estudos


Existem diversos sítios especializados na Internet que oferecem dados taxonômicos (classi-
ficação, nomes científicos aceitos e sinonímias), distribuição geográfica das plantas, nomes
populares e até usos. Veja os mais consultados:
Lista de Espécies da Flora do Brasil: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/
Flora Brasiliensis: http://florabrasiliensis.cria.org.br/index
MPNS - Medicinal Plant Names Services: http://mpns.kew.org/mpns-portal/
GRIN - Germplasm Resources Information Network - Taxonomy for Plants:
http://www.ars-grin.gov/cgi-bin/npgs/html/taxgenform.pl
The Plant List: http://www.theplantlist.org/
The International Plant Names Index: http://www.ipni.org
The New York Botanical Garden: www.nybg.org
Tropicos: www.tropicos.org
The Linnaean Plant Name Typification:
http://www.nhm.ac.uk/jdsml/research-curation/research/projects/linnaean-typification/index.dsml
Centro Nordestino de Informações sobre Plantas: www.cnip.org.br
Rede Brasileira de Herbários: http://www.botanica.org.br/rbh

18
Não se pretende com esses exemplos desestimular o uso das plantas que não tenham com-
provação farmacológica, pois está claro que a cura promovida por uma planta deve sempre
ser considerada dentro de um contexto cultural e de crenças particulares a uma população,
que transcende a comprovação científica.

O que deve ser alertado, no entanto, é o cuidado necessário com o uso de plantas medicinais
adquiridas em mercados, principalmente em relação àquelas que não tenham sido estudadas
do ponto de vista fitoquímico e farmacológico. Talvez no futuro, a ciência utilize o conheci-
mento tradicional dos extratores para realizar testes, por exemplo, com as espinheiras-santa
por eles citadas e comercializadas. Enquanto isso não acontece, seu comércio não é acon-
selhável, pois não se conhecem seus efeitos quando consumidas por pessoas de diferentes
culturas.

Saber identificar uma planta medicinal é, sem dúvida, uma etapa importante, mas você não
pode esquecer de que a forma como as plantas são cultivadas, colhidas, armazenadas e trans-
formadas até que possam ser beneficiadas é que vai garantir que elas não percam suas pro-
priedades terapêuticas. Um conjunto de boas práticas agrícolas deve fazer parte da rotina dos
que lidam com essa questão, principalmente se o cultivo visa à comercialização.

19
3 O CULTIVO DE
PLANTAS MEDICINAIS
Atualmente, há consenso entre cientistas, indústrias e organizações ambientalistas de que
uma das iniciativas para reduzir a pressão sobre o ambiente e preservar os recursos genéticos
é, por um lado, o desenvolvimento de sistemas que permitam o uso sustentável das espécies
nativas exploradas e, por outro, o cultivo com base em pesquisas agronômicas, matéria-pri-
ma com qualidade e em quantidade. O cultivo de plantas medicinais auxilia na conservação
da biodiversidade, ao mesmo tempo em que resgata o conhecimento popular com vistas ao
cuidado da saúde humana.

Atenção!
É imprescindível àqueles que pretendem trabalhar com plantas medicinais que conheçam e
cumpram a legislação pertinente. A organização e sistematização da legislação relativa à co-
leta, produção e comercialização tem sido objeto de constantes levantamentos e debates,
pois as plantas medicinais são pouco contempladas diretamente e a legislação específica é
parcial, pouco divulgada e sujeita a interpretações variáveis conforme a região.
Devem ser observadas a legislação ambiental, que trata da coleta, acesso, comércio e indus-
trialização de espécies nativas e do manejo sustentável de espécies em seu ambiente natu-
ral; e a legislação sanitária, que regulamenta a comercialização das plantas no varejo e na
forma de alimento ou medicamento. Essas leis são disponibilizadas para consultas nos sítios
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério do Meio Ambiente e do
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nos órgãos
ambientais de cada estado e nas Secretarias de Saúde nos Serviços de Vigilância Sanitária.
Para importação e exportação, é necessário consultar ainda o Banco do Brasil e o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Você pode conhe-


cer mais sobre a
legislação vigente A maioria das plantas medicinais comercializadas no Brasil – seja in natura ou beneficiada
em relação às
plantas medicinais – apresenta-se fora do padrão; portanto, o produto utilizado pela população, principalmen-
e fitoterápicos na te urbana, não tem asseguradas suas propriedades terapêuticas e aromáticas preconizadas
Etapa 5.
e/ou está contaminado por impurezas (terra, areia, dejetos animais, outras espécies vege-
tais, coliformes fecais, etc.). Para atender às exigências atuais em termos de qualidade das
plantas, reforçadas pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos no
SUS, faz-se necessário empregar práticas agrícolas adequadas no cultivo, no beneficiamen-
to e na armazenagem da produção, além de atentar para as exigências climáticas e edáficas
das plantas medicinais.

20
3.1 Exigências climáticas e edáficas das plantas medicinais
Para a produção de plantas medicinais, a não observação das exigências relacionadas ao clima
e ao solo (edáficas) pode resultar na produção de plantas bem desenvolvidas, mas sem o teor
de princípio ativo desejado. Entre os fatores que influenciam a produção de plantas medicinais
estão os ambientais, tais como a temperatura, luz, água, solo, altitude, latitude.
Veja mais sobre
esse conteúdo na
apresentação de
Com isso, caso você tenha interesse em produções maiores, certifique-se com especialistas de
slides sobre aspec- que sua planta estará no local adequado. Muitas plantas como, por exemplo, hortelã-pimen-
tos do cultivo de ta, camomila, alecrim e sálvia, dificilmente terão a mesma qualidade no Brasil quanto àquela
plantas medicinais
nesta Etapa. alcançada na região de origem.

Altitude é a altura de uma região em relação ao nível do mar. Ela refletirá diretamente na tem-
peratura, pois locais de altitudes menores são mais quentes do que locais mais altos. À medida
que aumenta a altitude, diminui a temperatura, interferindo no desenvolvimento das plantas
e na produção de princípios ativos. Segundo estudos já concluídos, as plantas produtoras de
alcaloides produzirão um melhor teor dessas substâncias em baixas altitudes.

A latitude se refere à distância de determinada região em relação à linha do Equador, para o


Sul ou para o Norte. Em uma latitude equivalente Norte e Sul, o comportamento das plantas
é diferente. Por exemplo, no caso da trombeteira (Datura stramonium L. e Hyosciamus sp.), as
plantas cultivadas em latitude Sul são mais ricas em alcaloides do que as cultivadas em latitu-
de Norte equivalente. As diferenças estão relacionadas, entre outros, à inclinação da terra e à
influência das correntes marítimas sobre o clima. É devido a esses fatores que, também, algu-
mas espécies originárias do Hemisfério Norte não florescem ou não frutificam no Hemisfério
Sul. Exemplos dessas espécies são o alecrim (Rosmarinus officinalis L.), o tomilho (Thymus vul-
garis L.) e a erva-doce (Pimpinella anisum L.).

É importante que você perceba que a influência da latitude também impacta na quantidade
de horas de luz. A maioria das plantas aromáticas de interesse econômico (alecrim, tomilho,
capim limão, manjerona, melissa, camomila e sálvia, por exemplo) são originadas de latitudes
entre 40º e 60º, em que os dias no verão são mais longos do que em localidades de latitudes
menores, condição que as plantas citadas preferem para florescer. Maiores teores, principal-
mente de óleos essenciais, são produzidos nestas latitudes.

No Brasil, não há regiões com essas latitudes e, por conta disso, muitas das plantas aromáticas
produzidas possuem qualidade inferior em termos de teor de óleos essenciais, se comparadas
com as plantas cultivadas nas referidas latitudes. As plantas de origem tropical ou subtropical
recebem pouca ou nenhuma influência da latitude.

A temperatura, por sua vez, afetará principalmente a produção da biomassa ou a produção


de flores, como ocorre com plantas originárias de regiões mais frias. Para cada espécie exis-
te uma temperatura mínima, uma temperatura máxima e uma faixa de temperatura ideal
para o seu desenvolvimento. Deve-se saber qual é a temperatura ideal de cultivo para

21
cada espécie. Por exemplo, no Brasil, a camomila é cultivada no inverno; o capim-limão se
desenvolve melhor em climas quentes.

As plantas ainda respondem às modificações, na proporção de luz e escuridão, dentro de um


ciclo de 24 horas. Esse comportamento é chamado fotoperiodismo. Em muitas espécies, o
fotoperíodo é o responsável pela germinação das sementes, desenvolvimento da planta e for-
mação de bulbos ou flores. A hortelã-pimenta (Mentha piperita Ehrh.) é uma planta de dias
longos com fotoperíodo crítico entre 12 e 14 horas, encontrando tais condições no Sul do Bra-
sil, onde ela floresce.

A capacidade de germinação das sementes também pode estar associada à iluminação. Há


espécies cujas sementes necessitam de luz para germinar, como a camomila [Chamomilla re-
cutita (L.) Rauschert.], a erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides L.) e a tanchagem
(Plantago spp.). Esse comportamento determina o modo adequado de plantio dessas espé-
cies (não devem ser cobertas com terra).

A água é um elemento essencial para a vida e o metabolismo das plantas; o excesso ou a falta
dela pode impactar a produção de certos metabólitos secundários. O excesso de umidade
leva à redução do teor de alcaloides em espécies da família Solanaceae (Datura sp., Atropa sp.,
etc.), por exemplo. Com relação à produção de óleos essenciais, observou-se um aumento de
sua concentração quando não são irrigadas, como, por exemplo, o capim-limão (Cymbopogon
citratus DC. Stapf.). Um outro exemplo é o alecrim (Rosmarinus officinalis L.), que, em solo
muito argiloso e rico em matéria orgânica, não produz tanto óleo essencial quanto se cultiva-
do em solos arenosos, seu habitat natural.

O tipo de solo pode influenciar, portanto, a produção de substâncias medicinais e de biomas-


sa. Geralmente a origem da planta medicinal pode servir como indício sobre o tipo de solo ao
qual ela está mais adaptada, de modo que possa servir de subsídios para indicação de locais
mais propícios.

Outros fatores técnicos, como a época e a forma de colheita e transporte, a secagem e o


armazenamento, complementam o quadro. Esses aspectos técnicos devem ser adequados
às características de cada espécie e aos princípios ativos que produz.

3.2 Boas Práticas Agrícolas de plantas medicinais


As plantas medicinais podem representar um componente importante no sistema produtivo
de pequenas propriedades (agricultores familiares), constituindo-se como alternativa de ren-
da para unidades de agricultura familiar. Isso porque essa prática de cultivo demanda baixo
custo, além de ser uma atividade pouco mecanizada, geradora de oportunidades de trabalho
que podem ser planejadas e distribuídas ao longo do ano, e os rendimentos por área são rela-
tivamente elevados.

22
Nesse contexto, é incontestável seguir as Boas Práticas Agrícolas - BPA -, que têm por obje-
tivo realizar uma agricultura sustentável do ponto de vista técnico, ambiental, social e econô-
mico. As diretrizes das BPA específicas para o cultivo de plantas medicinais são orientações
gerais que visam limitar os efeitos negativos nas plantas durante o cultivo, processamento
e armazenamento, bem como aspectos relacionados à higiene, especialmente na produção
para reduzir, ao mínimo, a carga microbiana.

3.2.1 Sementes e material de propagação


A importância da certificação da identidade botânica da espécie a ser cultivada já foi enfatiza-
da. As sementes utilizadas devem indicar, quando for o caso, a variedade da planta, o cultivar,
o quimiotipo e a origem. O material usado deve ser 100% rastreável, ou seja, deve-se ter,
inclusive, o nome/local da empresa fornecedora. O mesmo se aplica ao material para propa-
gação vegetativa (Ex.: estacas).

Cultivar: variedade cultivada; grupo de indivíduos de uma espécie que se relaciona por as-
cendência e se apresenta uniforme quanto às características morfológicas, de desenvolvi-
mento, propriedades bioquímicas ou fisiológicas.

Quimiotipos: são variações químicas naturais que acontecem com os óleos e que surgem
devido a diferenças climáticas, tipo de solo, altitude, exposição ao sol e chuva, época de
colheita, etc., além de diferenças causadas pelo método de extração empregado e fração
da destilação.

Amplie seus estudos


O material de propagação (sementes, mudas, estacas, etc.) deve atender às exigências e/
ou padrões estabelecidos relativos à pureza e germinação se estiverem estabelecidos nas
Normas de Produção de Sementes e Mudas do Ministério da Agricultura.
Essas normas podem ser acessadas no sítio do próprio Ministério por meio do link: http://
www.agricultura.gov.br/legislacao.

3.2.2 Cultivo
Os produtores devem seguir as recomendações técnicas previstas para cada espécie, encon-
tradas em publicações técnicas de diversos órgãos de pesquisa e extensão, como a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emater) e as instituições de ensino que oferecem o curso de Agronomia.

O cultivo de plantas medicinais deve ser feito em áreas isentas de contaminação por metais
pesados, resíduos de agrotóxicos ou qualquer outra substância química não-natural. Além
disso, essas áreas devem estar situadas longe de rodovias de movimento intenso (pelo menos
2km) e de áreas industriais, pois os poluentes lançados no ar nessas regiões também podem

23
depositar-se sobre as plantas e contaminá-las. Produtos químicos eventualmente utilizados
devem ter o menor efeito negativo possível.

A aplicação de adubos deve ser feita com moderação, conforme a análise de solo e as neces-
sidades particulares de cada espécie. O uso de adubos e fertilizantes deve estar associado a
medidas para minimizar a lixiviação de substâncias que possam contaminar o lençol freático
e os rios.

Atenção!
É fundamental que as plantas estejam livres de agroquímicos, que podem alterar a com-
posição das mesmas, fazendo com que percam seu valor medicinal, podendo até provocar
efeitos colaterais ou tóxicos. Recomenda-se, portanto, que o sistema de agricultura a ser
praticado seja o orgânico.

Veja também
informações sobre
manejo e proteção
da cultura de plan-
tas medicinais em
apresentação de
3.2.3 Colheita
slides sobre aspec-
tos do cultivo de Todo esforço despendido no cultivo das plantas pode ser posto a perder quando não se dá
plantas medicinais
na Etapa 2.
atenção às etapas de colheita, beneficiamento e armazenagem. O valor comercial das plan-
tas medicinais é determinado por sua qualidade. A qualidade das drogas vegetais depende,
entre outros, da colheita no estágio de maior teor de princípios ativos; do correto manuseio
durante e após a colheita; do beneficiamento adequado; e da armazenagem apropriada.

Droga vegetal: é o nome dado à planta medicinal ou suas partes, após processos de coleta,
estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada, de acordo
com a Farmacopeia Brasileira e a Resolução Anvisa RDC nº 48, de 16 de março de 2004.

Aspectos como clima, tipo de solo, entre outros influenciam diretamente no processo
de cultivo de plantas medicinais. Por isso, é possível encontrar uma diversidade de
espécies de acordo com sua localização nos diferentes biomas brasileiros, que você
conhecerá a seguir.

24
4 BIOMAS BRASILEIROS
O Brasil é reconhecido mundialmente por sua biodiversidade, figurando entre os 17 países
megadiversos no mundo, que ao todo reúnem 70% da biodiversidade do planeta (SCARANO,
2009). Estima-se a existência de 103.780 - 136.990 espécies animais e 43.020 - 49.520 vegetais,
o que equivale a cerca de 10% (1.279.300 - 1.359.400) e 18% (263.800 - 279.400) da flora e fau-
na mundiais, respectivamente (LEWINSOHN; PRADO, 2005).

Essa diversidade encontra-se distribuída em seis principais biomas, nos quais é possível iden-
tificar várias espécies medicinais, conhecidas e manipuladas por diversos povos e comunida-
des locais. Entre os biomas, ainda ocorrem áreas de transição denominadas ecótonos, com
alta diversidade vegetal, também contribuindo para as potencialidades biológicas do territó-
rio brasileiro. Conheça agora as principais características de cada bioma brasileiro.
Assista também ao
vídeo sobre os bio-
mas brasileiros e as
Bioma: um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
plantas medicinais, vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas si-
nesta Etapa. milares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica
própria (IBGE, 2015).

Biodiversidade: “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, den-


tre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos
ecológicos de que fazem parte” (CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA, 1992).

Ecótono: áreas de transição ambiental, onde comunidades ecológicas diferentes entram em


contato.

Figura 10 Localização geográfica dos biomas brasileiros

25
4.1 Amazônia
(AB'SABER, 2006; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2010)

4.1.1 Área e distribuição geográfica


Esse bioma é compartilhado por nove países – Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Equa-
dor, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Representa o maior bloco contínuo de florestas do
mundo, abrigando praticamente metade da biodiversidade do planeta. A Amazônia brasileira
é o maior entre os seis biomas encontrados no país, ocupando mais de 50% do território na-
cional, isto é, uma área de 4.196.943 km2, abrigando os estados do Acre, Amapá, Amazonas,
Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.

4.1.2 Elemento humano


Diversos povos indígenas e comunidades tradicionais (caboclos, quilombolas, etc.) ocupam
este bioma.

4.1.3 Principais produtos vegetais


Importantes representantes da flora brasileira estão aqui representados, entre os quais pode-
mos destacar: mogno (Swietenia macrophylla King), borracha ou seringa [Hevea brasiliensis
(Willd. ex Adr. de Juss.) Muell-Arg.], castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl.),
açaí (Euterpe oleracea Mart.), pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke.), guaraná (Paullinia cupana
Kunth.), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), muirapuama (Ptychopetalum olcaoides Benth.),
unha-de-gato (Uncaria spp.), etc.

4.1.4 Clima
Predomina na região o clima equatorial, com pluviosidade variando de 1400 a 3500 mm por
ano, ou seja, uma média anual de 2.500 mm. As temperaturas anuais oscilam entre 22 e 28ºC,
sendo a temperatura média anual de 24ºC. A combinação desses dois fatores ao longo do ano
caracteriza duas épocas distintas: a seca, também chamada verão amazônico, e a chuvosa ou
inverno amazônico.

4.1.5 Vegetação
A aparente homogeneidade florestal desse bioma abriga de fato uma ampla diversidade de ti-
pos vegetacionais: florestas de terra firme, florestas inundáveis (igapós e várzeas), campinas,
campinaranas, savanas ou cerrados, entre outros.

26
4.1.6 Espécies de plantas medicinais (exemplos)
Hymenaea parvifolia Huber. (jatobá) Burdachia duckei Steyer. Mark. (pau-vidro)
Siparuna guianensis Aubl. (capitiú) Bonamia ferruginea (Choisy) H. (cipó-tuíra)
Spilanthes oleracea L. (jambu) Vismia guianensis (Aubl.) Pers (lacre)
Crescentia cujete L. (cuia-jamarú) Gossypium barbadense L. (algodoeiro)
Indigofera suffruticosa Mill. (anis) Pothomorphe peltata L. Miq. (caapeba)
Croton cajucara Benth. (sacaca) Aspidosperma excelsum (Wod.) (carapanaúba)
Himatanthus sp. (sucuuba) Lophanthera longifolia H.B.K. Griseb. (cuiarana)
Cassia leiandra Benth. (mari-mari) Couma macrocarpa Barb. Rodr. (sorva)

4.1.7 Fauna
A fauna amazônica abriga inúmeras espécies-bandeira, isto é, espécies muito populares e ca-
rismáticas, entre as quais podemos mencionar os macacos, a ariranha, o peixe-boi, o pirarucu,
além de diversas aves como araras e papagaios. Botos, lontras, répteis como os jacarés, tar-
tarugas e jiboia, além de insetos e muitos outros animais terrestres contribuem para a riqueza
biológica da região.

Curiosidade
O Brasil abriga cerca de ¾ da Amazônia total (contendo cerca de 22 mil espécies vegetais).

4.2 Caatinga
(AB'SABER, 2006; ALBUQUERQUE et al., 2010; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a)

4.2.1 Área e distribuição geográfica


Este bioma é predominante no nordeste do Brasil. Ocupa 9,92% do território brasileiro, numa
área de 844.453 km2, nos estados: Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do
Norte, Alagoas, Sergipe, Maranhão e a porção norte de Minas Gerais.

4.2.2 Elemento humano


A geografia humana predominante neste bioma é das mais sofridas do Brasil, representada
sobretudo pelos sertanejos, mas existem também etnias indígenas e quilombolas.

27
4.2.3 Principais produtos vegetais
Os principais produtos vegetais desse bioma são a carnaúba (principalmente na produção de
cera), o babaçu (óleo com diversos usos: medicinal, sabonetes, alimentação) e o juazeiro (me-
dicinal).

4.2.4 Clima
A caatinga se caracteriza por clima semiárido, com temperaturas médias anuais compreendi-
das entre 27ºC e 29ºC e com médias pluviométricas inferiores aos 800 mm.

4.2.5 Vegetação
Com base na vegetação e no solo, a caatinga pode ser dividida nas seguintes zonas:

Domínio da vegetação hiperxerófila;


Domínio da vegetação hipoxerófila;
Ilhas úmidas;
Agreste e área de transição.

Sua vegetação típica é seca e espinhosa, por causa da falta de chuvas durante grande parte
do ano. Porém, quando chega o período de chuvas, as folhagens voltam a brotar e a paisa-
gem fica mais verde. Algumas das principias plantas do bioma são: xiquexiques [Pilosocereus
gounellei A. Weber ex K. Schum. (Bly. ex Rowl.)], mandacarus (Cereus jamacaru DC.), caragua-
tás [Bromelia plumieri (E. Morren) L.B. Sm.], coroas-de-frade [Melocactus bahiensis (Britton &
Rose) Luetzelb.].

Este bioma abriga 1102 espécies de plantas lenhosas, sendo 318 espécies de angiospermas
endêmicas.

4.2.6 Espécies de plantas medicinais


Myracrodruon urundeuva Allemão. (aroeira)
Ziziphus joazeiro Mart. (juá)
Cereus jamacaru DC. (mandacaru)
Amburana cearenses (Allemão) A.C.Sm. (cumaru ou imburana-açu)
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (angico ou angico-de-caroço)
Caesalpinia pyramidalis Tul. (catingueira ou catinga-de-porco)
Bauhinia cheilantha (Bong.) Stend. (mororó, pata-de-vaca ou unha-de-vaca)
(Fonte: ALBUQUERQUE et al., 2010)

28
4.2.7 Fauna
O conhecimento atual da fauna da Caatinga é reduzido e, para diversos grupos animais, não
há informação ou coletas realizadas. Alguns animais bem registrados neste bioma são: la-
gartos (tal como o teiú), serpentes (cascavel e jararaca) e aves (siriema, pomba-de-bando,
quenquém e juriti).

Curiosidades
O nome caatinga tem origem Tupi-Guarani e significa “floresta branca” (aspecto da vegetação
durante a seca [8 a 9 meses no ano], quando caem as folhas e permanecem apenas os tron-
cos brancos e brilhantes);
Único bioma exclusivo do território brasileiro;
Bioma que tem a biodiversidade mais desconhecida da América do Sul;
A Caatinga vem sofrendo diversas agressões ambientais: substituição de espécies vegetais
nativas por cultivos e pastagens, desmatamento e queimadas. A falta de preservação preju-
dica a sobrevivência da fauna silvestre, a qualidade da água e o equilíbrio do clima e do solo.

4.3 Cerrado
(AB'SABER, 2006; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a)

4.3.1 Área e distribuição geográfica


Sua área é de 2.036.448 km2, representando 23,9% do território nacional. O Cerrado se esten-
de pelo Centro-Oeste e penetra em partes do Sudeste, Nordeste e Norte do país, ocupando os
estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Tocantins, além de porções
de outros seis estados.

4.3.2 Elemento humano


Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilom-
bolas, raizeiros, ribeirinhos, babaçueiras e vazanteiros que, juntos, fazem parte do patrimônio
histórico e cultural brasileiro e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade.

4.3.3 Principais produtos vegetais


Polpas dos frutos do pequi (Caryocar brasiliense Camb.), buriti (Mauritia flexuosa L.), mangaba
(Hancornia speciosa Gomes), bacupari (Salacia crassifolia Mart.& Schult), cajuzinho do cerrado
(Anacardium humile A. St.Hil.) e araticum (Annona crassifolia Mart.).

29
4.3.4 Clima
É tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22 - 23ºC,
chove de 1500 a 1800 milímetros ao ano (outubro - março). Possui duas estações bem defini-
das: inverno seco e verão chuvoso.

4.3.5 Vegetação
Esse bioma é composto por diversas fisionomias, entre elas destacam-se três:

Cerrado (strictu sensu): é a vegetação característica do cerrado, composta por exemplares


arbustivo-arbóreos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos de forma ligeiramen-
te esparsa, intercalados por uma cobertura de ervas, gramíneas e espécies semi-arbustivas.
Cerradão: este tipo de vegetação cresce sob solos bem drenados e relativamente ricos em
nutrientes, as copas das árvores, que medem em média de 8 - 10 metros de altura, tocam-se,
o que denota um aspecto fechado a esta vegetação.
Campo rupestre: encontrado em áreas de contato do cerrado com a Caatinga e a Floresta
Atlântica, os solos desse tipo fisionômico são quase sempre rasos e sofrem bruscas variações
em relação à profundidade, drenagem e conteúdo nutricional. É, caracteristicamente, com-
posto por uma vegetação arbustiva de distribuição aberta ou fechada.

Sua flora é composta por no mínimo 10 mil espécies (6500 nativas e 4400 endêmicas) e só
recentemente começa a ser conhecida.

4.3.6 Espécies de plantas medicinais


Psidium myrsinites DC. (araçá) Tabebuia ochracea A.H. Gentry (ipê-amarelo)
Pterodon emarginatus Vogel. (sucupira) Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (barbatimão)
Platonia insignis Mart. (bacuri) Ipomoea purga Wender. Hayne. (batata-de-purga)
Mauritia flexuosa L. (buriti)

4.3.7 Fauna
Abriga aproximadamente 200 espécies de mamíferos, 800 espécies de ave, 180 de répteis, 150
de anfíbios e 1200 espécies de peixes, uma notável diversidade de espécies animais endêmi-
cas. Entre eles, destacam-se: anta, ariranha, bugio-preto, cachorro-do-mato, capivara, cervo,
gambá, tamanduá-bandeira, lobo-guará, onça-pintada, queixada, tatu-canastra.

30
Curiosidades
O cerrado é a savana de maior diversidade do mundo, responsável pela manutenção de um
terço da diversidade brasileira;
É considerado um hotspot - região com grande biodiversidade e endemismo, porém, alta-
mente ameaçada de extinção;
Segundo maior bioma brasileiro, depois da Amazônia;
Bioma muito ameaçado por monoculturas de soja, cana, entre outras.

4.4 Mata Atlântica


(AB'SABER, 2006; PEREIRA et al., 2012; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015b)

4.4.1 Área e distribuição geográfica


A Mata Atlântica compreende a região costeira do Brasil e ocupa uma área de 1.110.182 km2
percorrendo 17 estados brasileiros e representando 13,04% do território.

4.4.2 Elemento humano


Indígenas, afro-brasileiras, caiçaras, jangadeiros, entre outras populações tradicionais fazem
parte deste bioma.

4.4.3 Principais produtos vegetais


Orquídeas, bromélias, palmito juçara. Atualmente, a atividade de extração do palmito desta
árvore tem sido substituída pela extração dos frutos, numa atividade ainda mais rentável e
que tem proporcionado a conservação da planta, que já estava em vias de extinção.

4.4.4 Clima
Com clima equatorial ao norte e quente temperado, sempre úmido, ao sul, tem temperaturas
médias elevadas durante o ano todo e não apenas no verão.

4.4.5 Vegetação
A Mata Atlântica é formada por um conjunto de formações florestais (Florestas: Ombrófila
Densa, Ombrófila Mista, Estacional Semidecidual, Estacional Decidual e Ombrófila Aberta) e

31
ecossistemas associados, como as restingas, manguezais e campos de altitude. Nesse Bioma
existem cerca de 20 mil espécies de plantas, das quais cerca de oito mil são endêmicas dessa
floresta, incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção.

4.4.6 Espécies de plantas medicinais


Erytrina mulungu Mart.ex Benth (mulungu)
Eugenia uniflora L. (pitanga)
Piper umbelatum L. (caapeba, pariparoba) Cestrum axillare Vell. (canema)
Pyrostegia venusta (KerGawl.) Myers. Varronia curassavica Jacq. (erva-baleeira)
Baccharis crispa Spreng. (carqueja)

4.4.7 Fauna
Os levantamentos já realizados indicam que a Mata Atlântica abriga 849 espécies de aves,
370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 espécies
de peixes. Os mais representantes e ameaçados de extinção são mico-leão-dourado, bugio,
tamanduá-bandeira, tatu-canastra, arara-azul-pequena, muriqui e onça-pintada.

Curiosidades
A Mata Atlântica é considerada uma das áreas mais ricas em espécies da fauna e da flora mundial;
Restam apenas cerca de 7% de sua cobertura florestal original, fator agravado pelo fato de
nessa região se localizarem os recursos hídricos (rios) que abastecem cerca de 70% da po-
pulação brasileira;
A exploração da Mata Atlântica começou com a chegada dos portugueses ao Brasil, cujo
interesse principal era a extração da preciosa madeira do pau-brasil;
Parte da Mata Atlântica foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educa-
ção, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva da Biosfera no começo da década de 1990.

4.5 Pantanal
(AB'SABER, 2006; SILVA; ABDON, 1998; ICMBIO, 2015b; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a)

4.5.1 Área e distribuição geográfica


Localizado na região centro-oeste do país, ocupa uma área de 150.355 km2, representando
1,76% do território brasileiro, abrangendo os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Esse bioma faz ligação entre o Cerrado (no Brasil Central), o Chaco (na Bolívia) e a região ama-
zônica (ao Norte do país). Por ter influências de diversos biomas, às vezes é denominado Ma-
cro-bioma ou Complexo do Pantanal.

32
4.5.2 Elemento humano
O bioma se destaca pela forte presença de comunidades tradicionais, como os povos indíge-
nas e quilombolas que, no decorrer dos anos, ajudaram a difundir a cultura pantaneira.

4.5.3 Clima
O regime pluviométrico no Pantanal apresenta duas estações bem definidas: uma chuvosa,
que ocorre entre os meses de outubro e março, e outra seca, entre abril e setembro. Segundo
a classificação de Köppen, o bioma Pantanal está inserido no grupo de clima tropical com es-
tação seca ou clima de savana (Aw) e exibe temperaturas médias mensais superiores a 18ºC
com um dos meses com precipitação média inferior a 60 mm.

4.5.4 Vegetação
A vegetação do Pantanal é heterogênea e influenciada principalmente pelo Cerrado, mas
apresenta também elementos de Floresta Amazônica, Chaco e Floresta Atlântica. Essa ca-
racterística, aliada aos diferentes tipos de solo e regimes de inundação, é responsável pela
grande variedade de formações vegetais e pela heterogeneidade da paisagem, que abriga rica
biota aquática e terrestre.

O Complexo do Pantanal é constituído por savana estépica alagada em sua maior parte (250
mil km de extensão). Como é uma área de transição, a região é formada por uma variedade de
ecossistemas que são periodicamente inundados, apresentando, por isso, uma fauna bastan-
te diversificada.

Segundo Silva e Abdon (1998), existem 11 sub-regiões da área fisiográfica desse


complexo bioma:

P. de Poconé;
P. de Nhecolândia;
P. Aquidauana;
P. Barão de Melgaço;
P. Cáceres;
P. Nabileque;
P. Paiaguás;
P. Paraguai;
P. Abobral;
P. Miranda;
P. Porto Murtinho.

33
Esse bioma abriga cerca de 3,5 mil espécies de plantas. Segundo a Conservation International
(2002), não há registros de plantas endêmicas para o Pantanal, o que estaria associado ao fato
de compartilhar a maior parte de suas espécies com as regiões vizinhas, como o Cerrado e a
Amazônia.

4.5.5 Espécies de plantas medicinais


Ayenia sp. (raiz-de-bugre-da-várzea) Camarea ericoides A St.-Hil. (erva-doce-do-campo)
Lafoensia pacari A.St. Hil. (mangava-brava) Cordia insignis Cham. (iodo-do-campo)
Dorstenia asaroides Gardner. (caia-piá) Solanum lycocarpum A St.-Hil. (lobeira)
Palicourea rigida Kunth. (erva-molar-fêmea) Guazuma ulmifolia Lam. (chico-magro)
Helicteres sacarolha A St.-Hil. (piteira) Macrosiphonia longiflora (Desf.) Muell. Arg. (velame)

4.5.6 Fauna
São descritas para este bioma aproximadamente 124 espécies de mamíferos, 463 espécies de
aves e 325 espécies de peixes; sendo os característicos: peixes (dourado, pintado, curimbatá,
pacu), jacarés, capivaras, ariranhas, onça-pintada, macaco-prego, veado-campeiro, lobo-gua-
rá, cervo-do-pantanal, tatu, bicho-preguiça, tamanduá, lagartos, cágados, jabutis, cobras (ji-
bóia e sucuri) e pássaros (tucanos, jaburus, garças, papagaios, araras, emas e gaviões).

Curiosidades
O Pantanal é uma das maiores planícies sujeitas a inundações periódicas do globo;
Habitat de uma das mais espetaculares concentrações de vida silvestre da Terra, o que o tor-
na uma das melhores áreas do mundo para a observação de animais selvagens, comparável
às savanas africanas.

4.6 Pampa
(AB'SABER, 2006; CORADIN et al., 2011; PILAR et al., 2009; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015;
BRASIL, 2015c)

4.6.1 Área e distribuição geográfica


Também conhecido como Campos do Sul ou Campos Sulinos, ocupa apenas 2,07% do sul do
território brasileiro, o que corresponde a uma área de 176.496 km2, no estado do Rio Grande
do Sul. Abrange ainda territórios da Argentina e Uruguai.

34
4.6.2 Elemento humano
Diversas etnias indígenas, quilombolas, além do elemento humano predominante, o gaúcho.

4.6.3 Clima
O clima da região é o subtropical, que se caracteriza por temperaturas amenas e chuvas com
pouca variação ao longo do ano. O solo, em geral, é fértil, sendo bastante utilizado para a
agropecuária.

4.6.4 Vegetação
Bioma caracterizado pela vegetação campestre (gramíneas, herbáceas e algumas árvores),
predominando os campos nativos, matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, for-
mações arbustivas, butiazais, banhados e afloramentos rochosos. Estimativas indicam valores
em torno de 3.000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, representadas
por mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos
de-porco). Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de
leguminosas (150 espécies), como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nati-
vo. Nas áreas de afloramentos rochosos, podem ser encontradas muitas espécies de cactá-
ceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa, vale destacar o algarrobo (Prosopis
algorobilla Griseb.) e o nhandavaí [Acacia farnesiana (L) Willd]. Não se tem informação sobre
espécies endêmicas desse bioma.

4.6.5 Espécies de plantas medicinais


Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (marcela) Cuphea carthagenensis (Jacq.) J. Macbr
Equisetum giganteum L. (cavalinha) C. calophylla Cham. & Schltdl. (sete-sangrias
ou guanxuma vermelha)
(Fonte: CORADIN et al., 2011).

4.6.6 Fauna
A fauna é expressiva, com mais de 500 aves, entre elas a ema, o perdigão, a perdiz, o quero-
quero, o caminheiro-de-espora, o joão-de-barro, o sabiá-do-campo e o pica-pau do campo.
Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o graxaim, o zorri-
lho, o furão, o tatu-mulita e o preá. O Pampa abriga um ecossistema muito rico, com muitas
espécies endêmicas, tais como: tuco-tuco, o beija-flor-de-barba-azul, o sapinho-de-barriga-
vermelha e algumas ameaçadas de extinção, como o veado-campeiro, o cervo-do-pantanal, o
caboclinho-de-barriga-verde e o picapauzinho-chorão.

35
Curiosidades
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna pró-
prias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência;
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global;
Também é no Pampa que fica a maior parte do aquífero Guarani.

Como visto neste texto-base, os biomas brasileiros são ricos em diversidade cultural e bioló-
gica. É considerável o número de plantas com efeitos medicinais já comprovados que podem
ser utilizadas como parte do tratamento em diversas racionalidades médicas. Entretanto, há
muito ainda a ser explorado.

Ao final da leitura, você deve ter percebido que a identificação botânica e as boas práticas de
cultivo, juntamente com a comprovação das atividades farmacológicas e determinação da
composição química, são procedimentos complementares nas pesquisas de plantas medici-
nais. Somente uma associação do conhecimento tradicional e popular com o conhecimento
botânico e as inovações tecnológicas poderá garantir um equilíbrio dos ecossistemas dos bio-
mas, de maneira a permitir a produção de fitoterápicos com segurança e eficácia.

36
REFERÊNCIAS DAS IMAGENS
[1] Fonte: Imagem cedida pelo Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional e parcei-
ros, em Foz do Iguaçu.

[2] Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/83/Flickr_-_João_de_Deus_


Medeiros_Maytenus_robusta

[3] Fonte: http://www.guayubira.org.uy/monte/Congorosa.pdf

37
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