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CENTRO UNIVERSITÁRIO CELSO LISBOA

CURSO DE PSICOLOGIA

Qualidade e Desenvolvimento nos Relacionamentos Jovem Adulto

GRUPO:

ANDERSON RIBEIRO
GUILHERME ARANTES
RAISSA CARDOSO DA ROCHA
RODRIGO OLIVEIRA DOS SANTOS

Professora orientadora: Selena Rocha Almeida

Rio de Janeiro, Maio/2022


INTRODUÇÃO
“Todo Adulto tem necessidade de ajuda, de calor humano e de
proteção...sob muitos aspectos essas necessidades diferem e, ainda assim se
assemelham às de uma criança”. (Erich Fromn, The sane Society, 1995)
Os tempos estão diferentes, antigamente segundo Mouw(2005) na
década de 60 o padrão de relacionamento era terminar os estudos, sair de
casa, arrumar um emprego, casar e ter filhos. Já na década de 90 somente 1
entre 4 pessoas seguiam esse planejamento.
Com a modernidade e uma vida cada vez mais dinâmica esse padrão
de relacionamento foi ficando cada mais raro. Um nome utilizado para os
amores dessa geração segundo Bauman (2004) é amor líquido, onde ele
mostra a diferença de amor e paixão. “Aquela ideia de amor romântico, a
certeza de escolher uma pessoa, amá-la e viver o resto da vida com ela não
cabe mais nos dias atuais”. ( Bauman, 2004 p.26)
A grande questão dessa geração é que como tudo é de forma
instantânea e intensa, acabou por não saber mais diferenciar o que é paixão e
amor, tesão carnal e sentimento. Com isso as pessoas acabam por não se
aprofundar nos relacionamentos ficando somente na superficialidade. Vivendo
uma utopia onde só existe perfeição, mas assim que o véu cai e os defeitos
aparecem já partem para buscar um novo relacionamento, mantendo-se
sempre em um ciclo de frustração.
Também hoje em dia tem a facilidade de encontrar pessoas
disponíveis como exemplo os aplicativos de relacionamentos, mas existe uma
grande diferença entre disponível e disposta. Para estruturar um
relacionamento é necessário estar disposto a lidar com as qualidades, defeitos
e desafios diários para fazer funcionar.
Escolhemos utilizar a comunicação não violenta como a principal
ferramenta para esse projeto, pois acreditamos que a comunicação é um dos
pilares para uma vida de casal mais sólida e harmônica.
Buscamos um estudo de caso que foi feito em uma escola de rede
pública em porto alegre, onde se tinha muitos problemas tanto com os
funcionários como com os alunos. O objetivo era melhorar a comunicação e
evitar conflitos. O programa começou com a aplicação da CNV com os
professores e funcionários e depois passou para a sala de aula. Após um

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período pode-se perceber uma diminuição de greves de professores, os
funcionários se sentiam mais acolhidos e os alunos conseguiam lidar e
identificar melhor as emoções. Um obstáculo foi a resistência por parte de
alguns profissionais em participar do programa, mas ainda assim de uma forma
geral obteve-se benefícios para a escola.
Visto esse projeto em melhorar o setor acadêmico, pensamos em
integrar a CNV nos relacionamentos amorosos de jovens adultos já que um dos
obstáculos é falta de clareza na comunicação e a dificuldade em identificar as
emoções. Dessa forma a aplicação da CNV na vida do casal irá evitar
interpretação distorcida no diálogo.

JUSTIFICATIVA
Relacionamento e Saúde
Os relacionamentos não só de forma amorosa, mas também de forma
social podem interferir diretamente no bem-estar das pessoas, pois pode
influenciar e impactar diretamente no desenvolvimento comportamental, mental
e físico como por exemplo: melhorar a alimentação, praticar exercício físico,
melhorar a imunidade. (Cohen,2004) Reduzir a ansiedade, depressão e
diminuir riscos de ataques cardíacos. (Cohen, Gottlieb e Underwood,2000)
Como vimos anteriormente a interação com o meio social também
impacta diretamente na saúde das pessoas, mas também no desenvolvimento
total do ser. Segundo Erikson existe um comportamento chamado de
Intimidade e Isolamento que ocorre nas idades de 19 anos até 40 anos e foi
identificado que quando os jovens adultos têm dificuldade em manter um
relacionamento ou se aprofundar nas relações, isso pode causar um
isolamento profundo, tornando a pessoa muito direcionada a si própria. Mas
não podemos deixar de levar em consideração que o isolamento de forma
moderada também tem seus benefícios, pois ele ajuda na reflexão, decisão e a
desenvolver um sentido ético, já que no relacionamento íntimo ocorre sacrifício
e compromisso. Dessa forma quanto mais bem desenvolvido o Self for, mais a
pessoa estará apta para desenvolver um relacionamento íntimo de qualidade
com outra pessoa. (Desenvolvimento Humano, 2013)

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Com o passar do tempo e mudanças sociais na sociedade moderna
percebe-se que a vida em casal passou a ter como finalidade principal não
mais a sustentação de um núcleo familiar, mas a satisfação do indivíduo em
sua relação afetiva, amorosa e sexual. Com grandes expectativas dirigidas ao
casamento, os indivíduos se divorciam quando não se sentem satisfeitos.
Entretanto, o não entendimento dos seus próprios erros e motivações, podem
gerar um desgaste psicológico e novos relacionamentos frutados (Borges et al.,
2014).
A falta de experiência conjugal e os desafios da vida adulta contribuem
para que jovens casais (19-29 anos) sejam mais propensos aos conflitos
cotidianos da vida compartilhada (Borges et al., 2014). Atritos e discussões
podem fragilizar essas relações e desencadear situações de desgastes
emocionais. Deste modo, a CNV pode ser uma ferramenta estratégica para a
promoção de práticas mais saudáveis para os relacionamentos.

PROPOSTA
Ensinar os jovens adultos a aplicar a CNV nos relacionamentos
amorosos com o objetivo de levar maior clareza na comunicação, compreensão
de suas emoções, o reconhecimento das necessidades individuais,
proporcionando uma maior segurança para lidar com os desafios da vida de
casal e contribuindo para promover o bem-estar e convivências mais
harmônicas.

METODOLOGIA
Quando nos referimos a espaço, estamos pensando em levá-lo a prática
no SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) localizado na Universidade Celso
Lisboa.
A comunicação não violenta (CNV) é considerada uma ferramenta para
melhorar as relações humanas e utiliza a comunicação como uma forma de
resolver os conflitos negativos, podendo ser utilizada em diversas situações e
ambientes como escola, família e trabalho (PELIZZOLI, 2012).
Existe uma grande diferença entre a fala e a comunicação, onde o ponto
principal é a interpretação e o entendimento correto no diálogo. A comunicação
é um conjunto de tudo que constitui um ser, as memórias, histórias, sonhos,

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discursos, linguagem e narrativa. Parece muito simples o ato de expor seus
ideais, mas deve-se compreender que cada pessoa é um conjunto de emoções
e estados mentais, onde diferentes pessoas com ideias completamente
opostas estão conectadas a uma mesma engrenagem social (PELIZZOLI,
2012).
A CNV busca fazer uma ponte para trazer mais equilíbrio, satisfação e
resolução no meio do caos, então focar somente no certo e errado, culpado e
inocente não é a melhor escolha, já que somos uma projeção do que
experienciamos e aprendemos. No lugar de acusação a CNV utiliza a
compaixão e tem como base que todos buscam acertar e estão
constantemente fazendo o melhor que podem, mas na busca da felicidade
podem ocorrer atitudes boas e ruins. Então basicamente todos nós somos
movidos pelo que acreditamos ser o melhor, mas isso varia de acordo com
nossos valores e anseios. Porque de modo geral queremos amar e ser
amados, ter amigos, afeto e apoio, mas no caminho existem alguns obstáculos
como traumas, medos, inseguranças, entre outros (PELIZZOLI, 2012).
O uso da CNV é uma forma de resolver conflitos, reparar danos, obter
uma melhor conciliação e isso ocorre porque mudamos o ponto de vista de
determinada situação, nos colocamos no lugar do outro e passamos a usar
como base a honestidade e transparência (PELIZZOLI, 2012).
A observação é o primeiro componente da CNV, acarretando a
observação clara, sem avaliação. Ao Misturarmos observação e avaliação,
diminuímos a probabilidade de que os outros ouçam a mensagem que
desejamos transmitir-lhes, recebendo como crítica e resistência ao que
dizemos. A CNV é uma linguagem dinâmica que desestimula generalizações
estáticas. As observações devem ser ater a um tempo e um contexto
determinado. Por exemplo, “Henrique não estudou hoje”, em vez de, “Henrique
é burro”. O filósofo indiano J. Krishnamurti comentou que observar sem avaliar
é a forma mais elevada da inteligência humana, então avaliando alguém com
essa língua estática é o que chamamos de rótulos: reduzimos a pessoa em
seus processos de vida única característica, imutável. Quase que uma
comunicação alienante da vida, desumanizando o outro, mesmo que seja
daqueles julgamentos como “neutros” ou “positivos” (MARSHALL, 2021).

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O psicanalista Rollo May afirma que “a pessoa madura se torna capaz
de separar sentimentos em vários nuances: experiências fortes e emotivas, ou
outras delicadas e sensoriais, tais quais os diferentes trechos de uma sinfonia”
(MARSHALL, p.37, 2021). Com isso, o segundo componente da CNV é
expressar como nos sentimos. Por exemplo, na frase “sinto que não consegui
um acordo justo”, a palavra sinto poderia ser substituída com mais precisão por
penso, creio ou acho. Assim desenvolvendo um vocabulário de sentimentos
que nos permite nomear ou identificar de forma clara e específica (MARSHALL,
2021).
É importante diferenciar palavras que descrevem o que se imagina que
os outros estão fazendo em volta delas e que descrevem sentimentos reais.
Palavras como ignorado, incompreendido, insignificante, abandonado, traído,
expressam interpretações das ações dos outros e não sobre os sentimentos
reais. Uma boa estratégia para entrar no processo de expressar os sentimentos
é através da vulnerabilização. Existe um estigma estrutural da sociedade que
impede que as pessoas se tornem vulneráveis, pois as tornam passíveis de
serem humilhadas ou tidas como “fracas” perante os padrões do meio em que
vivem. Porém “revelar a nossa vulnerabilidade pode ajudar a resolver conflitos”,
dessa maneira é possível que as duas ou mais partes conflitantes tenham uma
noção mais clara da problemática que esteja travando algum possível avanço
em qualquer que seja o obstáculo. (MARSHALL,2015)
O terceiro componente da comunicação não violenta acarreta o
reconhecimento da raiz dos sentimentos. Percebe-se que os sentimentos
resultam de como optar por receber o que os outros dizem e fazem, bem como
das necessidades e expectativas específicas naquele momento (MARSHALL,
2021).
Com esse terceiro componente, deve-se aceitar a responsabilidade pelo
seu ato. Uma forma é entender as mensagens negativas, verbalmente ou não,
como ameaça e reconhecer nela apenas acusação e critica. Por exemplo,
alguém está bravo e diz: “você é a pessoa mais egocêntrica que eu já vi!”.
Tomando isso como ofensa, uma reação natural pode ser: “ah, eu deveria ter
notado isso antes” aceitando o julgamento feito pela outra pessoa e gerar
culpa. Julgamentos, criticas, análises e interpretações dos outros são todas
expressões apartadas das nossas necessidades (MARSHALL, 2021).

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Se alguém diz “você nunca me compreende”, está na verdade nos
dizendo que não foi satisfeita a sua necessidade de ser compreendido. Se uma
mulher casada diz: “você tem trabalhado até tarde todos os dias desta semana.
Você ama o trabalho mais do que a mim”. A esposa indica que sua
necessidade de contato íntimo não tem sido atendida (MARSHALL, 2021).
Um dos pontos da CNV é a não reatividade nos diálogos, fazer uma
pausa, organizar os pensamentos antes de agir por impulso, buscar a clareza
na comunicação pode evitar muitos desentendimentos. Saber ouvir é
extremamente importante e muitas vezes é preciso ser aprendido e exercitado,
uma forma de praticar é com o uso da meditação e respiração consciente, isso
vai ajudar a ter uma clareza maior de suas ações e pensamentos. A CNV pode
ser aplicada seguindo algumas etapas (PELIZZOLI, 2012):
1-Ser honesto na comunicação e sem julgamento.
2-Expressar honestamente como se sente e o seu ponto de vista da
situação.
3- Mostrar de forma clara seus sentimentos, necessidades e
expectativa.
4- Mostrar o que você quer receber do outro sem obrigação.

DESENVOLVIMENTO NO SPA
Convidamos Jovens Casais para participar do programa de
Comunicação Não Violenta e vida afeta, com o objetivo de desenvolver uma
melhora comunicação entre os casais. Para isso foi feito um questionário
individual de como seria a ideia de relacionamento ideal para cada pessoa, o
que é suportável e o que não é aceito de forma alguma. Tendo isso definido
passamos para a próxima etapa, onde praticamos os exercícios de CNV
citados anteriormente. O objetivo é ter uma comunicação fluida, onde se possa
construir um relacionamento sólido e sadio, com as informações de ambos e a
prática da CNV podemos auxiliar a evitar e contornar possíveis conflitos no dia
a dia. O experimento durou cerca de 3 meses e foi feito com 10 casais em
idades de 19 até 29 anos todos bem no início do relacionamento. A proposta
era desenvolver melhor a comunicação e aprofundar o vínculo, pois quanto
mais intimidade e confiança de expor sua opinião mais conexão era
desenvolvida.

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Ao final do projeto, foi visto que os casais estavam muito mais seguros e
confiantes em suas relações e não só de forma amorosa, como na vida para
lidar com outros conflitos.
Esse projeto foi feito no SPA da Celso Lisboa e com o bom desempenho
visto, passamos a expandir para sites de relacionamentos, consultórios e
organizações onde fazem união como igreja, centro budista, entre outros.

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REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços


humanos. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2004
Borges, C. D. C.; Magalhães, A. S.; Féres-Carneiro, T. Liberdade e
desejo de constituir família: percepções de jovens adultos. Arquivos
Brasileiros de Psicologia,66(3), 89-103, 2014.
Cohen, S., Gottlieb, B., & Underwood, L. (2000). Social relationships and
health. In S. Cohen, L. Underwood, & B. Gottlieb (Eds.), Measuring and
intervening in social support (pp. 3–25). New York: Oxford University Press.
Cohen, S. (2004). Social relationships and health. American
Psychologist, 59, 676–684. Cohen, S., Doyle, W. J., Skoner, D. P., Rabin, B. S.,
& Gwaltney, J. M., Jr. (1997). Social ties and susceptibility to the common cold.
Journal of the American Medical Association, 277, 1940–1944
Diane E. Papalia; Ruth Duskin Feldman: Desenvolvimento Humano,
AMGH; 12ª edição, 2013
Mouw, T. (2005). Sequences of early adult transition: A look at
variability and consequences. In R. A. Settersten Jr., F. F. Furstenberg Jr., &
R. G. Rumbaut (Eds.), On the frontier of adulthood: Theory, research, and
public policy (pp. 256–291). (John D. and Catherine T. MacArthur Foundation
Series on Mental Health and Development, Research Network on Transitions to
Adulthood and Public Policy.) Chicago: University of Chicago
Pelizzoli, M.L. (org.) Diálogo, mediação e cultura de paz. Recife: Ed.
da UFPE, 2012.
 Papalia,Diane; Feldman, Ruth. Desenvolvimento Humano Ed: 2013
(12ª), AMGH.
Rosemberg, Marshall B. Comunicação não-violenta. Técnicas para
aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 3. ed. São Paulo: Ágora,
2021.
Rosenberg, Marshall B. Observação sem avaliar. Editora Ágora, 2015
http://hdl.handle.net/10183/181450 último acesso 22/04/2022

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