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Para Pincus & Dare (1981, p.

36), ocorre
Psicologia Conjugal e rapidamente e, por ser “baseada em
relativamente pouco conhecimento consciente,
Familiar e como torna-se evidente, precisa
complementaridade e ajuste de personalidades”.

O casamento por livre e espontânea vontade - Angelo (1995) afirma que esta escolha se dá
entre dois adultos que se aceitam como marido como uma “atenção seletiva” ou “desatenção
e mulher - foi legalizado no século XX. seletiva” de acordo com o que é importante ou
não para o indivíduo. Outro mecanismo apontado
O casal contemporâneo segue o modelo como influenciador na escolha do parceiro é o
monogâmico, seguindo os discursos das religiões chamado mecanismo de projeção, no qual o ser
cristãs, nos quais o marido e a mulher devem humano atribui a pessoas e objetos, sentimentos
amar o seu cônjuge da mesma forma em que e ideias internas.
Cristo ama a sua Igreja.
Segundo R.D. Laing, “cada parceiro luta para
Costa (1999) define o amor ocidental, de uma encontrar no outro, ou induz o outro a tornar-se
forma diferenciada: uma combinação entre o a própria incorporação daquela cuja cooperação
escape sexual, amizade afeiçoada e funções é requerida como um complemento da
familiares procriativas em uma única relação. identidade que ele se sente compelido a
Enfim, o casal se constitui de duas pessoas iguais sustentar”.
em direitos e responsabilidades para que o
casamento funcione de uma forma saudável para A escolha do parceiro também pode ser
ambos. Defende a ideia de que o sentimento de influenciada pela família de origem, ou extensa, e
amor não surge pronto e cristalizado nas pelos seus padrões de funcionamento. Que
pessoas. Este sentimento, esta emoção, pode “quanto menos elementos conflitantes não-
ser aperfeiçoado por outros sentimentos, outras resolvidos tiver a família de origem, tanto mais
razões e ações. “livre” é a escolha do parceiro, no sentido de que
as obrigações, as proibições, as necessidades de
Cruz (2006) reflete sobre que outros fios se ligar a um “determinado” tipo de parceiro são
constituem o Nós do casal, além do amor, e muito menos prementes”.
afirma que o que ajuda ou atrapalha na
construção do são as práticas discursivas e o que Contrato de casamento:
cada um dos cônjuges se dispõe a compartilhar
na relação. É fundamental que as pessoas tenham clareza
dos seus objetivos de vida e, se tiver um
Marum (2006, p.187), afirma que “casar é parceiro, que avalie se é possível realizar seus
conjugar e não anular a individualidade do outro”, sonhos, e alcançar seus objetivos ao lado desta
ou seja, o casamento deve ser visto como uma pessoa. Sendo assim, torna-se essencial um
oportunidade de crescimento individual, e não de diálogo aberto entre as partes, estabelecendo
anulação do outro, querendo moldá-lo de acordo um “contrato” em que fique claro o que cada um
com seus próprios desejos. quer do outro, e o que pode dar de si.

Escolha do parceiro: A paixão, segundo Menghi (1995), o ser humano


passa por uma limitação da consciência. Nesta
fase, as pessoas procuram valorizar aquilo que
acham que tem de melhor para oferecer. Com Desenvolvimento de vinculo:
o passar do tempo e com a rotina, “volta o Quando duas pessoas se casam, elas passam a
funcionamento psíquico habitual, permitindo que buscar uma identidade conjugal e, para isso, é
a antiga estrutura venha à tona e comece a se
preciso um período de adaptação logo após o
chocar, justamente, com os aspectos que no
casamento. Na teoria sistêmica, a família, ou o
começo atraíam inconscientemente”. Torna-se casal, é vista como uma totalidade, na qual analisar
necessário ampliar a realidade psíquica dos os seus membros individualmente, não é o
indivíduos, e é neste momento que surge o suficiente para explicar o comportamento de
amor.
todos os outros membros.
O autor distingue estas regras em:
- Regras explícitas: definidas em comum acordo Transgeracionalidade: como o resgate dos
pelos cônjuges (contrato consciente); conteúdos que acompanham a história familiar e
- Regras implícitas: não são verbalizadas, mas se mantêm ao longo das gerações.
produzem efeito metacomunicativos (contrato
pré-consciente); É comum, ao analisar as famílias bem como os
- Regras de transações: negadas pelo casal, mas casais, encontrar padrões de comportamentos,
evidentes ao observador; crenças e valores que vêm sendo repetidos ao
longo das gerações. Autores acreditam que o
Pincus & Dare (1981) afirmam que nos indivíduo constrói a sua forma de se relacionar
relacionamentos duradouros, geralmente existe com um parceiro, tomando por base o modelo
uma reciprocidade e complementaridade das de relacionamento dos seus pais, seja
necessidades, dos anseios e medos existentes na reproduzindo ou optando por fazer diferente ao
vida do casal. que lhe foi apresentado pela sua família.

Segundo os autores, processos como o de O papel social é um conjunto de


projeção e de identificação são parte integral comportamentos esperados por outras pessoas
deste acordo e tem sua origem nos que pertencem a mesma unidade social,
relacionamentos da infância os quais são definindo uma “zona de obrigações e de
responsáveis por grande parte dos anseios e dos limitações correlativas a uma zona de autonomia
medos inconscientes presentes na vida conjugal. condicional”.

Geralmente, pessoas com baixo grau de A triangulação, para Andolfi (1996), consiste em
diferenciação, declinam dos seus projetos de uma estrutura relacional formada por três
vida, por desestímulo ou impedimento do pessoas, e que é considerada a unidade mínima
cônjuge e, com isso, perdem a sua individualidade. de observação. Permite centrar os problemas e
os ressentimentos em um terceiro (pessoa ou
Ferreira-Santos (2007) denomina de “caderneta não), mantendo a ilusão de que este, é o único
de poupança psíquica” o local onde as pessoas responsável pelos seus problemas.
depositam suas renúncias as pessoas fazem isso
acreditando (consciente ou inconscientemente) Teoria do Apego: definiu como o objeto de
que poderão trocar essas “moedas psíquicas” apego, ou seja, a figura cuidadora que disponível
por qualquer coisa quando precisarem. Corre à criança sempre que essa se sinta ameaçada,
riscos de se frustrar, pois tem grandes chances ansiosa ou doente, capaz de prover, em maior
de, quando for cobrar o que deseja do outro, ou menor grau, a proteção e o conforto
perceber que esta dívida, na verdade, não existe. solicitados pela criança.
Base Segura como englobando, pelo menos, ajuda e, também, oportunidade para que surjam
três aspectos: possíveis modificações de atitude: aceitar, decidir,
- Um conjunto de comportamentos (choro, ressignificar, negociar”.
medo, olhar, buscar proximidade) ativados por
uma sensação de ameaça interna ou externa A terapia de casal “promove a oportunidade de
(dor, medo, percepção da falta de disponibilidade o cônjuge compartilhar com o outro o significado
da figura de apego); de sua depressão e suas angústias, situações
- As respostas dadas pela Figura de Apego muitas vezes evitadas anteriormente, sem a
(sensibilidade, sintonia, confiabilidade, capacidade presença de um interlocutor”. Não pode ser vista
de considerar a dimensão psíquica do outro); como uma terapia individual de um dos cônjuges
- E um estado psicofisiológico, que seria o com a presença do outro. A terapia conjugal é
resultado final da interação dos dois primeiros uma intervenção na relação do casal com a
aspectos citados os parceiros tornam-se objeto presença de ambos que são, ao mesmo tempo,
tanto do apego quanto do amor romântico criadoras e criaturas da relação.
sexual.
O conflito conjugal está entre os principais
No entanto, “até o fim da vida, o ser humano é estressores na vida do ser humano, sendo capaz
capaz de criar novos significados e novas de desencadear a depressão, além de ser
narrativas para sua existência, e com isso se considerado responsável por recaídas e recidivas.
torna capaz de transformar emoções,
sentimentos e ações” Neste caso, a função do terapeuta é modificar
esse funcionamento, ou seja, “construir uma
Ou seja, ser humano carrega, na sua bagagem, coreografia com novas sequencias relacionais nas
um modelo de apego, “entendido como relação quais os recursos individuais e daquela relação
significativa com adultos significativo, que se possam ser utilizados”. Ou, ainda, o terapeuta
caracteriza por busca de aproximação, quando deve ajudar na “ampliação da percepção do par,
em situação de tensão e protesto na ausência”. para criar novas formas de adaptação”.

Na terapia de família e de casal, busca-se, por A terapia de casal e de família tem como função
meio de uma comunicação aberta, revisar e ajudar o cliente a revisar os seus modelos de
atualizar os modelos mentais de padrão amoroso. funcionamento do mundo e do self. Por isso, o
No entanto, casais com padrão inseguro, terapeuta busca promover uma comunicação
acreditam que falar sobre as suas dificuldades e aberta entre os membros, para entender a
demonstrar emoções negativas, não é a melhor opinião individual a respeito dos assuntos
forma de resolver seus problemas. importantes para o casal, ou para a família.

Processo de Terapia Conjugal: Muitas pessoas se casam com imagens


idealizadas do cônjuge e acreditam que é função,
e dever exclusivo, deste lhe proporcionar
Em razão da complexidade relacional do casal,
felicidade.
muitas vezes passa despercebido pelas pessoas,
que a crise de um dos parceiros é, na verdade,
um problema a ser encarado por ambos. Afinal, Em suma, fazer que o casal se conscientize que
a relação de casal é dinâmica, e está sempre em os problemas não estão no outro, mas nas
relações desde a relação do casal, até nas
uma contínua construção tanto da relação a dois,
relações com a família de origem e com os filhos.
quanto como indivíduos. Para isso, muitas vezes
é necessário “abrir espaço para um pedido de

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