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Constelação e Hipnose Transformacional: A Transformação

Sistêmica

A Constelação Familiar é uma das práticas terapêuticas mais comuns


atualmente, e sua utilização continua a crescer ano após ano. É possível
aliar essa técnica à Hipnose Transformacional? O que uma escola de
pensamento pode ensinar à outra?

Bases da Constelação Familiar

A Constelação Familiar é um método terapêutico criado por Bert


Hellinger a partir dos anos 70 e aperfeiçoado até o fim de sua vida, em
2019.

Ele é baseado no estudo da fenomenologia, o campo da psicologia que


estuda como a experiência de uma pessoa se constrói a partir do que
ela pensa sobre o mundo e do contexto no qual está inserida.

O que é fenomenologia?

A fenomenologia se preocupa em entender como a experiência de uma


cor, por exemplo, pode variar entre as pessoas tanto no sentido físico - o
que é visto - quanto psicológico - o que é interpretado.

Se eu e você vemos um objeto vermelho, nossos olhos podem captar tons


ligeiramente diferentes, e você pode associá-lo ao amor enquanto outra
pessoa faria uma associação com a agressividade.

Da relação entre o indivíduo e o ambiente surge um Campo de


Experiência ou Campo de Fenômenos, onde os valores,
comportamentos, pensamentos e outras características são expressas,
fazendo parte tanto do indivíduo quanto da situação.

Pensando num exemplo cotidiano, você pode ser uma pessoa muito
comunicativa ao redor de seus amigos, e ficar mais calada perto dos
pais. Isso significa que você não é nem uma nem outra coisa de forma
isolada. Cada “personalidade” vai surgir a partir do cenário ao redor.

Como essa ideia é aplicada na Constelação Familiar?

Hellinger pensou como as ideias sobre um Campo de Experiência se


aplicam à relação familiar, já que esta é a principal base formadora do
indivíduo: a família é onde aprendemos a nos relacionar com o mundo e
temos nossas primeiras experiências.

Tome a relação familiar mais comum como exemplo: pai, mãe e filho(a).

Estes três indivíduos possuem, cada um, seu próprio mundo interno e suas
próprias relações com outros ambientes - os pais trabalham, são filhos dos

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avós e irmãos dos tios, tem amizades e assim por diante. O filho também
possui seu ambiente escolar ou de trabalho, namoro, amizades, etc.

No entanto, quando eles se juntam - seja fisicamente ou mesmo numa


lembrança - um Campo de Experiência é imediatamente formado, e traz
consigo uma carga imensa de significados que não existem fora dele. Já
não são mais três indivíduos, mas partes de um todo reconhecido
enquanto família.

Em outras palavras, um homem pode ser filho, amigo, colega,


funcionário, chefe, e várias outras coisas, mas quando está no contexto
familiar ele sempre será o marido e o pai. O mesmo vale para todos os
envolvidos.

A Constelação Familiar, quando realizada, procura recriar esse Campo


de Experiência, utilizando outras pessoas, objetos, animais e outros
recursos que julgar necessários.

O participante, ao posicionar os símbolos que representam sua família da


maneira que julgar mais adequada, vai estar recriando no mundo
material a sua vivência interna.

Pra que serve essa reconstrução?

Nós vimos que os pensamentos, comportamentos, valores e todas as


outras expressões físicas ou emocionais de uma pessoa não existem no
vácuo; elas se manifestam de acordo com uma determinada situação.

A Constelação, entendendo que algo na relação familiar precisa ser


revisto, pois conduziu a pessoa a determinadas atitudes que estão
causando resultados negativos, recria o ambiente no qual esse “algo” se
construiu para que uma nova possibilidade possa surgir a partir dele.

Pense em alguém que parece estar sempre cuidando de todos ao seu


redor, e nunca tem tempo para se concentrar um pouco nos seus
próprios objetivos. Talvez essa pessoa tenha uma culpa por acreditar que
não deu atenção suficiente ao pai ou à mãe, que estava doente e
acabou falecendo.

A prática da Constelação Familiar, ao fazer com que essa relação seja


representada, intensifica o Campo de Experiência onde surgiu a crença
“eu não fui um bom filho” e dá ao participante uma chance de rever
seus comportamentos atuais.

Leis da Constelação Familiar

Agora que você já entendeu os fundamentos desse processo, vamos dar


uma olhada em suas principais leis, que servem como uma orientação
para construir relações saudáveis entre o indivíduo e seu sistema familiar.

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1) Pertencimento

Cada pessoa tem um lugar no sistema, e excluir membros provoca


instabilidade em toda a situação.

Talvez o seu pai tenha ido embora muito cedo e você o rejeita, talvez
uma discussão pesada afastou você de uma irmã e não houve qualquer
comunicação nos últimos 10 anos.

Essas relações ainda precisam estar representadas, pois até as figuras


ausentes influenciam o sistema.

Tomando o exemplo de um pai que deixou a família, podemos entender


que o sentimento de abandono é constante nesse grupo. Existe uma
ausência física, mas uma presença psicológica, que deve ser levada em
consideração.

Isso não significa representar uma família abraçada se divertindo. As


posições dos símbolos que tomam o lugar de cada pessoa podem ser
usadas para dar forma ao distanciamento, se este for o caso.

O importante é que a figura paterna (ou qualquer outra) seja


representada, mas a forma com que isso será feito é uma escolha do
participante.

Quando aplicar a Constelação Familiar, informe que todas as pessoas


marcantes no contexto familiar do participante devem ser retratadas. Isso
pode incluir parceiros anteriores (primeiro marido, primeira esposa…),
avós, pais adotivos e biológicos, amigos muito próximos da família e assim
por diante.

Cada sistema (o conjunto da pessoa e dos que a cercam) terá uma


configuração única. O participante é o único que sabe quem marcou
sua vida, mas você pode direcioná-lo com perguntas ou pegar
informações a partir do que ele fala.

2) Equilíbrio

A Lei do Equilíbrio diz que as relações possuem um sistema de trocas


único e muito específico, com enorme relevância para o funcionamento
do sistema.

Entre pais e filhos, o equilíbrio é formado pelo “dar” de um lado e


“receber” do outro. Pai e mãe nos deram a vida, que é a base de todas
as nossas experiências.

Eles também são responsáveis por dar alimento, conforto, educação e


uma série de outras necessidades, as quais nunca poderão ser pagas
pelos filhos. Entender isso é necessário para evitar culpa ou ressentimento,
de ambos os lados.

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Mesmo no caso de pais que se distanciaram ou são vistos como
negligentes, a relação permanece, pois eles deram a vida e nada pode
retribuir esse acontecimento.

Num casal o equilíbrio exige uma relação por igual. Se um está fazendo
mais que o outro, haverá ressentimento (de quem mais dá) e culpa (de
quem mais recebe) levando a todo tipo de comportamento
problemático.

A comunicação, nesse caso, tem um papel de extrema importância, já


que não estamos falando apenas sobre dividir as tarefas de casa, por
exemplo.

É sobre dividir o amor, o carinho e o respeito. Dar e receber atenção, ter


espaço para falar e saber escutar. É sobre encontrar formas de atender
o que o outro considera importante, sem abrir mão de si mesmo.

Pode ser que uma parte do casal entenda “amor” como ser ouvido ao
chegar cansado no fim do dia, e a outra parte entenda “amor” como
um café da manhã surpresa, por exemplo.

Cada pessoa terá sua representação para os sentimentos que considera


importantes, e é sempre bom comunicá-las à outra metade do casal.

3) Hierarquia

A Lei da Hierarquia diz que, se uma pessoa chegou primeiro ao sistema,


ela terá um lugar mais importante.

Não estamos falando no sentido vazio de que “esse lugar era meu” mas
no sentido de que ela contribuiu mais para o sistema - mesmo que essa
contribuição seja considerada negativa.

Filhos de um casamento anterior tem precedência sobre o companheiro


atual, pais biológicos tem precedência sobre os adotivos, irmãos mais
velhos sobre os mais novos, e assim por diante.

Perceba que não se trata de “amar mais”. No caso de uma adoção, por
exemplo, a pessoa não deve ser obrigada a “amar mais” seus pais
biológicos do que os adotivos, ou vice-versa.

Basta ela entender quem chegou primeiro e o peso que isso tem para o
sistema.

Para manter a Lei da Hierarquia e evitar que um sistema seja


sobrecarregado por dezenas de pessoas, a formação de um casal
precisa “quebrar” o sistema anterior de cada um e criar uma nova
configuração.

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Os dois passam a ser os primeiros e mais importantes desse novo sistema,
ganhando hierarquia sobre os pais de ambos. Em termos mais simples:
pai, mãe, sogro e sogra não devem ter o poder de conduzir a relação.

Suas contribuições são importantes, afinal eles formaram as duas pessoas


da nova relação, e possuem uma experiência maior, mas no fim das
contas as decisões devem ser tomadas com base no melhor interesse do
casal.

Onde entra a Hipnose Transformacional?

A essa altura você já deve saber que a Hipnose Transformacional


enxerga como a comunicação é usada para criar realidades, ou estados
de hipnose.

Também deve ter visto que a comunicação não se forma apenas de


palavras, mas também de pensamentos e gestos. Confira o exemplo
dessa história:
Um garoto segurava duas maçãs. Seu pai se aproximou e lhe
pediu com um belo sorriso: filho, você poderia dar uma maçã
ao papai?

O menino levanta os olhos para seu pai durante alguns


segundos, mordendo subitamente uma das maçãs e logo em
seguida a outra. O pai sente seu rosto se esfriar e perde o sorriso.
Ele tenta esconder a decepção quando o filho dá uma das
maçãs mordidas.

O pequeno olha para seu pai e diz: essa aqui é a mais doce,
papai!

Uma atitude simples poderia ter sido interpretada como descaso ou


provocação da criança. Foi isso que a sua comunicação não-verbal
estabeleceu, na interpretação do pai.

Estes fatores tem um peso ainda mais forte na infância, quando não
sabemos usar ou entender muito bem as palavras. Sendo assim, julgamos
as pessoas quase inteiramente a partir de seus gestos, o que pode
conduzir a diversos problemas.

No contexto familiar, é fácil ver que pais tomam atitudes pensando em


“segurança” mas seus filhos as interpretam como “aprisionamento”.
Nenhum dos dois está errado por si só, mas a falta de comunicação cria
sentimentos difíceis de lidar, para ambos.

A Hipnose Transformacional e a Constelação Familiar conversam entre si


para nos mostrar que no Campo de Experiência da família há o que é
seu e o que é do outro.

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Os gestos de um pai, mãe, irmão ou qualquer outra pessoa são deles.

A interpretação disso é nossa.

É comum ver familiares brigando porque o outro fez algo desagradável.


Isso não deveria acontecer quando ambos são adultos e conscientes.

É verdade que a dinâmica familiar, até então, criou estes conflitos, mas
agora ambos continuam a alimentá-los.

Isso não significa que se você der um passo atrás a sua mãe ou o seu
irmão vai se acalmar imediatamente. A sua tomada de consciência é
sua, a deles precisa atravessar um processo próprio.

No entanto, quando você compreende a sua participação nesse


contexto, pode entender e transformar a influência que ela possui em
todas as outras áreas da sua vida, se libertando de desafios que nem
conseguia compreender até então.

Transformação Sistêmica

Foi juntando as duas escolas que o Wagner Faustino, parceiro de missão


no Movimento Transformacional, criou a Transformação Sistêmica; um
processo em onde ocorrem atividades terapêuticas específicas e são
aplicadas técnicas para o desenvolvimento humano e a transformação
de vidas.

A Transformação Sistêmica é mais uma ferramenta para quem deseja


fazer um trabalho transformacional, e pode ser aplicada a partir de vários
métodos.

Você não precisa se tornar um(a) especialista em todos eles, mas é


interessante conhecer o funcionamento de cada um, já que muitos
clientes podem trazer o desejo de realizar uma técnica específica.

Tipos de Encontro

Muitos encontros na Transformação Sistêmica costumam ser em grupos.


Nesse caso, outras pessoas irão representar os papéis no sistema de um
participante: alguém será o pai, outro será a mãe, e assim por diante.

Aberta, onde a estrutura familiar trabalhada fica evidente para todos;

Fechada ou Encoberta, quando o grupo não sabe que papel está


representando;

Autopoiética, se o participante central não sabe quem está


representando os papéis. Ele apenas informa ao facilitador/constelador
quais membros devem ser representados;

Circular, quando o cliente fala até se sentir contemplado por tudo que
disse naquele momento, e os demais participantes expressam suas

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emoções ou sensações a partir de tal fala, sem que seja preciso estruturar
os papéis;

Self, modelo em que o grupo irá representar diferentes papéis do cliente:


pai, filho, marido, profissional, e assim por diante;

Imaginária, quando através de uma hipnose direcionada o cliente


poderá visualizar ativamente certos acontecimentos;

Também existe o modelo de Novas Constelações em que o cliente ou


um representante irá apresentar o desafio, e o grupo (incluindo o cliente
ou não) irá se mover de forma livre, sem um direcionamento “racional”
ou uma motivação clara, criando novas formações que irão fazer surgir
naturalmente um Campo de Experiência que nem o cliente nem os
participantes esperavam formar.

Um encontro individual também terá suas ferramentas específicas,


conhecidas como âncoras:

Âncoras de solo, com papéis no chão representando situações de


emaranhamento (conflito, emoções difíceis de lidar…) e dúvidas;

Âncoras com olhar antroposófico, as quais marcarão diversas idades nas


quais aconteceram eventos marcantes para o cliente e permitirão
“dialogar” com essas várias versões de si mesmo;

Bonecos usados para representar os membros do sistema, expressando


na realidade material e acessível ao terapeuta a forma como o cliente
organiza internamente essas relações;

Não existe um modelo certo ou errado, apenas formas diferentes de lidar


com a questão. A prática em grupo costuma ter um certo componente
da energia humana, que dá mais intensidade ao Campo de Experiência,
mas nem todos os clientes ficarão confortáveis em se expressar de tal
maneira.

Além disso, tem surgido cada vez mais formas de abordar essa questão,
como a Constelação na Água, Constelação com Cavalos, Constelação
com Cadeiras, e assim por diante.

Tenha cuidado para não confundir essas “especialidades” com a prática


em geral. É mais importante entender os fundamentos, a ideia do Campo
de Experiências e as leis da constelação.

Estes conhecimentos são como um alicerce, sobre o qual você pode


construir qualquer técnica e até mesmo criar novas formas de aplicar a
Constelação.

Conclusão

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A Constelação Familiar é uma técnica terapêutica que pode ser utilizada
para lidar com os mais diversos sintomas: problemas de relacionamento,
dificuldade no trabalho, adoecimento, emoções complexas e assim por
diante.

Essas manifestações devem ser encaradas como uma representação


superficial de questões mais profundas, que envolvem a infância, o
ambiente familiar e a relação com os indivíduos que moldaram a nossa
primeira identidade.

Podemos dizer que a Constelação Familiar trabalha as raízes para mudar


os frutos.

Entretanto, esse deve sempre ser visto como um Processo Ativo. Ir até o
encontro e vivenciar a prática da constelação é apenas o primeiro
passo, e cada pessoa deve estar comprometida com a mudança que
deseja alcançar!

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