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Cultura e sentimentos ensaios em antropologia das emogoes Maria Claudia Coelho Claudia Barcellos Rezende [orcanizagio] CatA corrniattt ©, 2011 dos autores ‘CAPA, PROJETO GRARICO # PREFARAGAO. tra Capa ‘coELito, Maia Claud; nx22¥0, Cla Cultura sentiments: enstior em antropologia das emocdes. ‘Rode Janeiro: Contra Capa FarERy, 2001 suo p16 xem SAN 78S 740-0511 1 Cultura 2 Sentiments 3. Emogées 4 Antropoogi Thu. t. Maria Cauda Coeho. nt. Claula Barelos Rezende, \ ch J ‘Apublcaco deste liz tornov-te posse! ‘rags ao apoio da Fundasto Carlos Chagas ho orcontracapa.combr Rua de Santana,ig8 | Centro Rio de Janeiro ~ ay D 3455128 Sumario Introdusao. O campo da antropologia das emogdes MARIA CLAUDIA COELHO CLAUDIA BARCELLOS REZENDE Emogao “brega” e relagbes de genero na feira de Sao Cristévao: coragées, corpos ¢ mentes em transbordamento emocional 7 SONIA MARIA GIACOMINI A producao de género no hipismo a luz dos discursos sobre as emogoes 45 LUIZ FERNANDO ROJO Ninguém se arrisca a toa: os sentidos da vida para praticantes do esporte base jump 6 VERONICA ROCHA A dimensio emocional: ja, emogio ¢ felicidade 8 GERALDO GAaRCEZ CONDE © Introducio. ‘Ocampo da antropologia das emogées ‘As emoges gozam de um status ambiguo como objeto de estudo das citncies sociais. Sua representacio pelo senso comum ocidental como um fendmeno pertencete, «um s6 tempo, 8 ees do individual — porque aria & ; Piperidaca plguica, definida como singular ¢idiosncritia — e& efera do natural ~ porque entendido como fato universal, da ordem da “ “naturea | humana” — parece ter contribuido para situ4-las no polo “excluido” das duas oposig6es fundadoras das ciéncias sociais: individuo-sociedade ¢ natureza- / cultura. ua concepgo sendo simultaneamente (e tm tf parole) da ordem da natureza ~ porque dotadas de uma esséncia universal ordem do individuo — porque associadas & singularidade do-sujeito — seria Sane a Tee a ambiguidade acima mencionada: ora excluida por sua associago a0 psico- ig oe cmp mo spend expec inal tambem integrante dos estudos sobre a sociedade e a cultura. yuidade pode ser reco mos da sua famosa definiclo da unidade analitica sociol6gica—0“fato socal” c, em seguida, voltarmos a atengio para sua andlise do fendmeno da “eferves- céncia”. Em As regras do metodo sociolégico, ele define “fato social” como “ nciras de agir, de pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante juais” (1984: 2); a natureza social dessas por sua capacidade de coagir a vontade individual, seja, elas seriam “dotadas de um poder de coergao em virtude do qual se the impoem’ (:3). Em sua andlise das formas da vida religiosa, todavia, a distingao tio clara entre o individual e o social aparece matizada, como em sua busca por ida, se lembrar- a= sobre 0 “estado de efervescéncia” ligado ao pensamento religioso: Vimos, com efeito, que se a vida coletiva, quando atinge um certo grau de in- fortes; ha algumas inclusive que s6 se produzem nesse momento (Durkheim, 1996: 466). A ambivaléncia entre excluir a dimensao psiquica do escopo da anilise sociolégica no momento de demarcar fronteiras disciplinares e reincorpors- la nas obras que se debrucam sobre temsticas especfficas pode ser reconhe- cida também na obra de Simmel. Em “O problema da sociologia” ~ texto que podemos tomar como equivalente, em termos de esforco de demarcagao de campo, a As regras do método sociolégico -, Simmel parte do par forma- contetido para descrever a interagao social. Para ele, o “contetido” seria “o feresse, 0 propésito ou o motivo”, enquanto a forma corresponderia a teracio”, por meio do qual o contetido adquire “realidade soci |. Forma e contetido, contudo, sao empiricamente indissociaveis, \¢do entre eles de ordem conceitual e prestando-se, nesse “pro- grama” definido por Simmel, & demarcacdo da fronteira entre a sociologia € a psicologia, como em seu comentério sobre 0 fenomeno do 6dio entre ex-companheiros: Neste sentido, entdo, os dados da sociologia séo processos psicologicos cuja realidade imedia se apresenta em primeiro lugar sob a forma de catego- rias psicologicas. Mas essas categorias psicol6gicas, embora indispenséveis para a descricio dos fatos, permanecem fora dos propésitos da investigag ido, uma -veres s6 pode ser descrita por seu intermédi em processos pstquicos, que mui (35, nossa tradugio). Assim, ndo €0 sentimento de édio o objeto de estudo, mas sim as formas cragio por ele engendradas ou, nos termos de Simmel, as categorias de 10” ¢“discOrdia”. Do mesmo modo que em Durkheim, esse aspecto psico- logico e emocional dos processos de intera¢ao, aqui exclutdo explicitamente ‘escopo da anilise sociol6gica, ¢ reinserido sob a forma de construgao dos -0s, como em sua anilise dos se lade e gratidao”, Simmel afirma que esses dois sentimentos para a coesio e a estabilidade da vida social, Para ele, a gratidio ” (1964: 388). A fidelidade, por sua ver, € descrita como o fator de preservagao das unidades sociais (: 381), sendo um sentimento “so- ado”, a0 contrario de outros sentimentos que, embora ¥ém possam concorrer para o estabelecimento de vinculos interpessoais, jam uma natureza mais “solipsista”(:384).Em bela formulagio, a fidelidade la como a “inércia da alma” (: 380). Vemos na obra desses dois “pais fundadores’, portanto, um movimento de crtudo/encomparsmento da emogio como objeto possivel de andlise posteriores da historia destas, aparecendo de forma mais matizada na obra ‘ores classicos das principais tradigées do pensamento antropoldgico: francesa, a britanica ea norte-americana. NUM PEQUENO TEXTO PUBLICADO originalmente em 1921, Marcel Mauss isa um conjunto de ritos funerérios australianos. Seu tema central retoma 4 preocupagio fundamental de Durkheim: 0 poder de coergao da sociedade sobre o individuo, formulado em termos da relagdo entre obrigatoriedade mernopugho | 9 € espontaneidade. Na obra de Mauss, todavia, essa relago aparece menos em termos de uma oposigéo na qual o social coage o individual e mais sob a forma de uma articulagéo entre as duas instancias, nuangando a perspectiva durkheimiana a qual esté fliada. A hipétese de Mauss € de que as expresses orais dos sentimentos, longe de serem fendmenos exclusivamente psicol6gicos ou fisiolégicos, constituem “fenomenos sociais marcados, eminentemente, pelo signo da nao esponta- recurso a etnografia des- iva dos sentimentos, suscita- dos em momentos especificos que envolvem toda a coletividade ou grupos socialmente delimitados, parecem fazer a dor recrudescer ou atenuar-se. Entretanto ndo se trataria de uma “coercio” pura e simples, uma vez que a nnatureza coletiva da expressio do sentimento nio excluia sua sinceridade; a0 contrario, sugere Mauss, seria justamente seu caréter coletivo que intensifi- caria a vivéncia emocional. Em seus termos, “tudo isso é, a0 mesmo tempo, social ¢ obrigatério, ¢, no entanto,violento e natural: afetacdo e expressao de dor andam juntas” (: 60). Embora a afirmagao de que a natureza coletiva da emogdo tem por efeito sua intensificagao parega retomar a descricao do fendmeno da efervescéncia feita por Durkheim, hé nela uma matizagao na forma de conceber a relacéo individuo-sociedade no que diz respeito a experiéncia emocional. Essa nuanga pode ser sintetizada pela definigo da expressio dos sentimentos como uma linguagem & qual o individuo recorre para falar do que sente para 05 outros e, no mesmo movimento, também para si. Mas todas estas expresses coletivas, simultineas, de valor moral e de for- s@ obrigat6ria dos sentimentos do individuo e do grupo, so mais do que simples manifestagdes, sio signos de expressoes compreendidas. Numa pa- lavra, sio uma linguagem, Esses gritos sio como frases ¢ palavras.£ preciso Pronunci-los, mas se € preciso pronuncié-los, é porque todo 0 grupo os compreende. Faz-se, portanto, mais do que manifestar os sentimentos, manifesta-se-os para os outros porque é preciso manifesté-los para eles. As pessoas manifes- tam seus sentimentos para si préprias, 20 exprimi-los para os outros e por conta dos outros. EB, essencialmente, simbdlico(: 62). A tematica das emogdes pode ser encontrada também na antropologia funcionalista britanica, desta feita em articulagao com o problema da organi- ‘ago social. Nesse desenho, um autor de referencia 6, inegavelmente, Alfred R Radeliffe-Brown em sua conhecida discussio sobre a jocosidade nas rela- ‘ges de parentesco. esse estudo, os sentimentos desempenham importante fungao social, tinda que tenbam, para o autor, um status ambiguo. Por um lado, 0 afeto parece como oposto ao dever nas relagbes familiares, ficando o pai e seus itmios associados a autoridade ¢ a dis enquanto a mie e seus irmaos seriam responsiveis pelo cuidado afetivo.' Como diz Raddlffe-Brown em passagem reveladora: parentesco por brincadeira, sob certos aspectos, se opie frontalmente a re- lagdo contratual. Em vez de deveres especificos a serem cumpridos, ha desres- peito privilegiado, liberdades ou mesmo licitude, e a tinica obrigacao é nao se ‘ofendido ante o desrespeito desde que ele se mantenha dentro de certos limites definidos pelo costume, ¢ ndo ultrapasse esses limites. Qualquer falta, na relagdo é como uma ruptura das regras de boas maneiras (1973: 130). Assim, apesar de os sentimentos parecerem estar fora do ambito do dever ‘edas obrigagbes sociais, permanecendo equacionados ao individual e ao nao regrado, 0 trecho citado expde uma outa visio das emogoes,talvez até mais prevalente em sua anélise das relacOes jocosas entre tios e sobrinhos, avés € Inetos, sogras ¢ genros. O sentimento de nao se ofender torna-se uma obri- facto nessas relagbes, desde que o desrespeito seja expresso de acordo com desfazendo-se entao a oposicdo entre dever e afeto, € Mais ainda, os sentimentos de amizade e de hos palmente nas relagoes de parentesco por alianga, S20 e : to ou pela jocosidade nessas relagoes, o que garantiria a ordem social. Como Radcliffe-Brown argumenta em varios momentos, sob nitida Durkheim, os sentimentosnio s6 desempenham fungées soci como também se originam de certas situagdes estruturais, visio de uma origem puramente individual das emosdes. ‘A mostra de hostilidade, o desrespeito permanente, € continua expressio daquela disjungao social que € parte essencial da situagéo estrutural total, + Para uma andl dental de con ‘oposisio entre dever e afeto em Rat quar 0 mundo, ver Viveitos de Castro e Ar EE ee ee nee ee da amistosidade e ajuda-mntua (: 121), 80% Na antropologia norte-americana culturalista, por sua vez, as emogbes Sio foco de estudo como elementos padronizados pela cultura, Embora essa ideia tenha sido abordada por varios autores da Escola de Cultura e Perso- nalidade,* a conceituagao de configuragdes de cultura de Ruth Benedict sem duivida foi marcante durante esse periodo. Preocupada em explicar a integracdo das culturas, Benedict parte da no- 40 de que haveria um princfpio, de acordo com o qual os elementos cultu- iam organizados em padrdes coerentes e variéveis entre os grupos ou seja, as configuragées de cultura “condicionam as reagdes emocio- 's de seus portadores, de forma que estas se tornam incomen- : 316). Estudando grupos indfgenas norte-americanos como os Pueblo e os Zuni, Benedict argumenta que, apesar dos contatos ¢ das trocas, cada cultura reelabora os tragos culturais adotados para que exprimam sua. “padronizagéo emocional” distintiva. ‘Temos, pois, uma visio que toma as emogées como elemento cultural — foco de aso da cultura. O relativismo de Benedict s6 ¢ limitado pela no- s80 de que o individuo possui “disposig6es inatas”, que podem ou nao ser acentuadas pela cultura na qual ele nasce. Com essa ideia, percebe-se uma concepg¢ao mais essencializada das emogées, que pertenceriam a natureza de cada individuo, mas seriam moldadas ~ acentuadas ou afastadas —cultu- ralmente. Em outras palavras, embora sua origem esteja fora da iveis que ganham matizes distintos, de acordo com cada con- texto cultural. E importante destacar ainda a centralidade que as emogoes tém no con- ceito de configuragdes culturais. Mais do que discutir as reagbes cognitivas, Benedict se detém nas reagdes emocionais dos Pueblos, que enfatizariam contengao e sobriedade, ¢ dos Zuni, marcados pelo exagero, em situagbes sociais variadas, tomando-as como principal fator distintivo entre as culturas. Em suas palavras, “o que importa ¢ o background emocional diante do qual tem lugar o ato nas duas culturas” 2 Destacamos aqui. trabalho de Gregory Bateson (1958) e sua elaborasao do conceito de «thos como um sistema culturalmente padronizado de organizacao de emocbes. ‘emogdes data, nos Estados Unidos, da década de 1980, com a publi BSPELTO DE AS EMOGOKS terem estado presentes nas reflexdes de pen- res clissicos da sociologia ¢ da antropologia, a preocupago com a de- tao formal de um campo especifico para o estudo antropolégico das so de dois textos que realizaram mapeamentos e sio tomados aqui como marcos Iniciais desse esforco de organizagéo do campo na cena norte-americana. primeiro deles, de autoria de Catherine Lutz e Geoffrey M. White, sur- flu em 1986 e se propds a realizar um balango do interesse sobre as emogies ta década antecedente, Os autores sugerem algumas razdes para o incremento esse interesse, das quais se destaca, para nossos propésitos aqui, a ascensio da antropologia interpretativa, segundo cles “mais apta a examinar 0 que havia sido previamente considerado um fenémeno incoerente” (Lutz & White, 1986: 405). © mapeamento realizado tem como fio condutor a distingio entre os estudos preocupados com os aspectos universais e invariantes da experié emocional, de um lado, e aqueles preocupados com sua diversidade histo- rico-cultural, do outro, Essa tensio entre universalismo e relativismo se faz acompanhar de outras quatro tensbes, que, ainda segundo os autores, atra- vyessariam 0 campo de smo/interpretativismos ‘materialismo/idealism ionalismo. universalismo, de acordo com os autores de orientagdo epistemolégi- a positivista, entende a emogo como fendmeno “pan-humano”, invariante; nessa perspectiva, eventuais “variaveis” so tratadas como epifend- ‘menos. Jo relativismo rompe com a visio da emogdo como “estado interno”, incorporando ao escopo da investigagao os processos sociais associados a ela. A oposicao positivismo/interpretativismo apresenta intima articulagao com a tensdo central entre universalismo e relativism. Esté ligada a uma nao exclua eventuais interpenetracbes ismo, mais forte nos estudos de cunho psi- iza a relacio entre emogio e comportamento, com o interesse pelo emocional sendo justificado por sua concepcio como causa para o com- portamento, tomado por sua vez como via de acesso ao estudo da relacdo entre cultura e emogao. Jé no ismo, a emocio ¢ tida como “um aspecto central do significado cult 407-8). A concepeao af presente da emogdo como construgao cultural traz como uma de suas consequencias a caracterizaga0 do projeto de conhecimento da “verdade sobre a emogao” como algo problematico. © foco principal da distingao materialismo/idealismo ¢ a divergéncia na. concepgao da emogio. O primeiro a concebe como uma “coisa material’, de constituicao biol6gica expressa em movimentos faciais, alteragGes de pressdo nernopugio | 13 SO = a cultura influencia esses fendmenos, que, entretanto, slo dados do mundo ma- terial com os quais os individuos e as sociedades precisam lidar. Em contrapar- tida, no idealismo a emogio aparece como “julgamentos valorativos”,estando A quarta oposicdo se dé entre o individual ¢ o social. Para Lutz e White, sua articulagdo perpassa os estudos sobre emosao e cultura, com o individuo surgindo em algumas abordagens como o lécus da emocio e defrontando-se com padrées sociaise culturais. Tal iso tornaria necesséria a distingao entre A Gltima tenséo ocorre entre o romantismo ¢ o racionalismo, Naquele, a emogdo recebe valoracao positiva como aspecto da “humanidade natural” ¢€ associada a pureza e & honestidade, tornando-se a capacidade de sentir 0 atributo definidor da condigao humana, Jé o racionalismo estaria ancora- do na concepgao ocidental que associa a emogao a irracionalidade, sendo um fendmeno problemético ¢ desorientador, ou mesmo evidéncia de “ani- malidade” (: 409). Para os autores, a maior ou menor proximidade dessas vertentes respon- deria pela pluralidade de focos analiticos presentes nos estudos sobre as emo- {es. Em seguida, 0 mapeamento realizado por eles te dé ao longo de dois © esforgo realizado por Lutz e White se conclui com uma exploragio da contribuigao que a etnografia pode trazer para o estudo da emogao e, num movimento de mio-dupla, dos efeitos possfveis da atengio na experiéncia ‘emocional sobre os estuclos etnogréficos, No primeiro caso, 0 foco ¢ deslocado do problema da universalidade eventual de uma experitncia emocional para “o modo como as pessoas atribuern sentido aos acontecimentos da vida’ (: 428). Os dois autores advogam ainda a importancia de refletir sobre a forma come os antropélogos ocidentais entendem, na condigao de “nativos” de sua “culture” a experiéncia emocional, bem como sugerem que muitas das oposi- ‘ges que sustentam as cinco tensdesidentificadasno campo sfo tributérias des- sas representagdes ocidentais sobre a emogao (racional/irracional, natureza/ cultura etc.). Por esse motivo, seria urgente um esforgo autorreflexivo para refinar a constru¢ao da emo¢éo como objeto da pesquisa antropolégica. Feito isso, 0 estudo da emosio poderia trazer duas contribuigdes para. , © emptéendimento etnogréfico de viés iiterpretativista: a compreensdo da” ¢ Importincia metodolégica das emogbes do pesquisador no campo ¢ a revita~ E Izacto da descricio etnogréfica. Conforme sugerem Lutz e White: ‘A incorporacio da emocdo na etnografia permitiré apresentar uma visio ‘mais completa daquilo que esté em jogo para as pessoas em seu cotidiano, ‘Ao reintroduzir a dor e o prazer em toda a sua complexidade em nossos retratos da vida cotidiana das pessoas em outras sociedades, podemnos hu- -manizar esses outros diante do publico ocidental (: 431). ‘O segundo mapeamento, também de autoria de Catherine Lutz, mas des- tu vez em parceria com Lila Abu-Lughod, introduz a coleténea Language and the politics of emotion, organizada por ambas em 1990. Nesse texto, as autoras dentificam quatro estratégias usadas no desenvolvimento do campo da an- tropologia das emogdes. A abordagem essencialista trataria as emogSes como processos psicobiologicos que respondem a diferencas ambientais ¢ culturais, Seriam processos universais com os quais os sistemas sociais devem “lidar”. Em tal perspectiva,o estudo das emogées se torna problemético, pois s6 seria possivel por meio de relatos introspectivos. Em seguida, a abordagem relati- vista partir da premissa da construs3o cultural das emogbes, tomando-as categorias emotivas sio relativizadas e comparadas entre culturas, fra~ categorias emotivas, a fim de revelar como constituiram sua forma atual ou tiveram seu I6cus social deslocado ao longo do tempo. Por fim, a quarta abor- género e violencia: experitncias e relatos de vitimieagio’, Revista Brasileira de Sociologia da Emoto, 1909) “Narrativas da violéncis a aras 3° Encontro da anpocs, Ca ‘etAnx, Candace (1997) Misery and Company: Sympathy in Everyday Life. Chicago & London: The University (of Chicago Press. 104, Emile As regras do método sociolégico. Sao Paulo: Companhia Editors Nacional 1996) As formas elementares da vida religiosa, S40 Paulo: Martins Fontes, oun, Mau (2005) “A pologia das emordes no Brasil’ Revista Brasileira de Sociologia da Emogao, vol. 4, Jodo Pessoa, p. 239-52. Catering (tt) Until Eton Biya Sentinentson «Mica A Thr Calege to Water Theory Chicago an London: The Universo Cig Pre te ‘ee | ‘area Catherine & witrre, Geofttey M, (1986) “The anthropology of emotions’, Annual Review of Anthropology, Plo Ata, 15, P.405-36, saves Mae (98) “Acres brpdriado sentiment : sctimeno novi, Sev or). cede ¢ Ciéncias Sociais. 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Local de encontro, lazer e ‘confraternizacdo, a Feira retine pessoas a procura de diversio e de emogdes, constituindo-se em um local privilegiado para aqueles que se interessam pelo estudo da antropologia das emogdes e pelas varias formas como elas sio vividas e expressas num contexto urbano metropolitano como o da cidade do Rio de Janeiro. 1A pesquisa “Genero, corpo, sexualidade e geracio em contextos de sociabilidade no Rio de Janeiro’ sob minha coordenas8o, envolveu alguns alunos do Departamento de Sociologia e Politica da Pontificia Universidade Catlica do Rio de Jeneiro, que participaram como esta ros durante alguns meses e em diferentes momentos do trabalho de campo e da realizagio de algunas entrevistes. Ente esses alunos, destaco a participagio de Adaiton Moreira Costa, bolsista do Programa de Iniciasio Cientifica rxmic-cng, ede Bruna Rangel Bacsa

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