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m ENSAIOS DE SOCIOLOGIA Este tiltimo processo acaba coincidindo com um suicidio de dharna, Porque se obriga a pessoa assim “‘abengoada” ou 1a violar 0 juramento e entéo morre em conseqiiéncia de seu Bese Genter SOR no eae unigdo legal. Por conseguinte, em Ashanti, o suicidi See pessoa obrigada 2o suicidio ou a uma coisa equivalente. Séo 0s mesmos mecanismos de idéias — ainda ‘mais pronunciados — que funcionam neste reino © funcio- fiavam entre os gauleses. 9. Mentalidade Arcaica e Categorias de Pensamento ICATEGORIAS COLETIVAS DE PENSAMENTO E LIBERDADE] (1921)* 5 socidlogos felicitar-se-fo com o fato de que um fil6- sofo como Weber faga trabalhos da Escola sociol6gica. Com feito, admite conosco: a nogdo de causalidade se apresenta, antes. de_qualquer. outra forma, na histéria_do_pensamento humano, sob aquela da crenca na virtude dos ritos em geral / ¢ das palayras em particular; © a nogao de liberdade metafi- sica, supondo esta nogio da-eausalidade magica ¢ religiosa, supe, pois, estas erencas. Entretanto, mesmo registrando este acordo de principio \, com Weber, este nos permitiré narrar de maneira diferente da \” » dele, na medida em que a entrevemos, a histéria destas nogoes. ta ac nopao de ei is, na medida em que pod 8 podemes stntarnos~as Mentalidades ditas primitivas, a difc a palavra-e.o aio nao E41 Wo Grane cono om astas ae, filos ocldenals. Isto @ verdadetom Joly SentdOx A plea {ym al, ctia-diz- Weber, mas, fnvrsamente, oi Ge ‘Tomemos, se quiserem, um grupo de sociedac lefinidas e bem conhecides, ¢ nio falemos me e0s'¢ de primitives. Escolhamos, por exemplo,ceray fribos ee cae ormeee sig Ros © eu poder cio, que fol etter icla. c erté et langage"; extraiaa do. Bullet Dai, Bi. Toeeeres, wk Bp 1-152) seme See Paneer ae ok 34 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA australianas. E posstvel estabelecer que a emissio da voz, © proprio sopro so ai concebidos rigorosamente como um gesto: 0 mégico encanta por sua inspiragio e sua expiracio; seu sopro, 0 som de suas palavras, seu ritmo, so sua forga + € sua alma, so também algo de material. Aqui se reco- nhecem os fatos que H. Preuss propés* chamar “magia dos sopros” © que ele estudou sobretudo na América Central antiga. Mas inversamente, o gesto, nestas religiGes, € conce- ,bido como uma em; 0 rito em geral € uma dani arremedada ou um mimo; em todo caso, € ao menos um “ | simbolo. Isso foi exaustivamente demonstrado por Emile ‘Durkheim 2, Faz-se_um somes ‘De um outro ponto de vista, alifs, a uni tual_manual_¢a_do_ritwal oral € ainda manifesta: | formulas ¢.gestos.sio-ritmados,.cadenciados. Nao. slo sim- | ples palavras ou simples atos, mas sio poesias, cdnticos € ‘mimos.—Tan{o-nuins.como.noutros. existe o mesmo elemento a repetigio_levada as vezes_a | 9 De tal forma que é a exis téncia_dessas_palavras edesses_gestos, no brutos, mas for- ‘mais,-que-€mister-liger-a-nogao.de.eficécia, a ‘Assim, 6 na origem dos simbolismos de todos os tipos, nfo somente na da linguagem, que se deve procurar a ori« | gem da nogo de causa. a Aqui, permitam uma pequena digressio, Nossas pesquisas de socidlogos no estio de modo algum cheias — como nos censura Roustan — nem de postulados nem de peticSes de principios. Ela nao tém outro axioma exceto este: jamais esquecer-queo homem pensa em comum com 05 ottr0s,-ea sociedade. Elas s6-tém um objetivo: determinar_a parte do Social no pensamento. Longe de serem contraditGrias ow —¥—mesmo-contriias is pesquisas do psicélogo, as nossas Thes so correlativas. E isto nos reconduz a nosso assunto: todas as teorias sobre os simbolismos, de que evidentemente fazem parte a nogio de eficécia, a de’causalidade ¢ a de liberdade, apresentam-se, a0 contrrio, em perfeito acordo com as dltimas descobertas da psicologia. Os préprios psicdlogos atribuem sempre mais ao espirito, antes de tudo, a funcéo simbélica. Mencionemos as belas observagdes de’ Dumas sobre 0 rif, © sorrir, as ldgrimas de uma parte, e 0s fatos e as teotias 180 ‘bem apresentadas, de outra parte, a propésito da afasia, pe- los Doutores Head e Mourgue. Nos mesmos observamos propésito dos “Rituais funerérios australianos”?, que ponto havia acordo entre psicblogos, fisiologistas © 1. Anfinge ger Raton una der Kunst SE: Fotmet iSmentatrer de te “ele religous, 'X. Journat de" pmgholone, tai" ‘Iver Capito € desta coletanes]. MENTALIDADE ARCAICA, ans Ora, esta fungiio do pensamento em parte alguma ¢ 7} precisamente mais simbélica do que na elaboragdo das no- | S ges de individualidade e de liberdade. Podemos agora aproximar-nos dos filésofos moralistas & metafisicos de maneira menos abrupta do que Weber, mas nna mesma diregio. Para tanto, vamos, se quiserdes, pré- ria nosdo de liberdade, ¢ deixemos a histria da nogio de Alliés, pego desculpas pela brevidade, generalidade ¢ in- erteza das indicagdes que seguem. A nogio de liberdade — possibilidade de escolha — nao “ parece imediatamente_na_histdria. SO se esclarece com © desenvolvimento do direito e da nogao de responsabilidade vil ¢ criminal; ¢ estranha as primeiras fases do direito ro- mano. & 0 que Fauconnet demonstrou eximiamente em sua obra sobre a Responsabilidade, da qual preciso lembrar ‘aqui 0 notével apéndice sobre 0 “Sentimento de liberdade”, Mas hii mais, e¢ decididamente em data muito recente que nogéo € elaborada, na patrstica, na dogmética, no cristia. nismo essencialmente, apos-o-uparecimento do prédestinacio. nismo e da nogao do pecado original e sobretudo apés 0 ap recimento da conselencix-individual-da-pessox ta 180 estranha aos antigos ¢ mesmo 4s linus. cas, que © mais recente dietto bizantino ainda se serve do” termo—npbownay—(traduzindO~persOMay, Mascara, pata twaduzir a idéia-de_pesson. J& 08 padres ‘da Tgreja, mas sot ‘escoldsticos, falam numa linguagem to- talmente diferente e cheia de valores de outra natureza, quase 0 mesmos que 0s nossos. E ao desenvolvimento da lo direito, da moral e da religiao, | dita, ‘Ora, uma das razGes pelas quais as nogées de individua- lidade e de liberdade demoraram tanto tempo para aparecer € que era necessério 0 desenvolvimento das sociedades ¢ tal- vez aié das napées-modemnas para que a nocéo de Hberdade civica, politica, religiosa e econOmica impusesse & c individual @ nogio de Iiberdade pura. Todas est «da nog de-tiberdades6-exprimemro:crescimento consideré- vel do nimero das agées possiveis oferectdas-aescotha do individuo, do cidedao em nossas nacOes. Fot-a-realidade ¢ nimerodas contingéncias que deu o sentido de contingéncia. Mas uma categoria do pensamento nfo 6 menos verde- deira pelo fato de ter aparecido mais tardiamente na historia. Muito pelo contrétio. Nao estarfamos muito Tonge de pen- ser, como Hegel ¢ Hamelin, que as idéias mais fundamentais ‘em geral sio as dltimas a serem descobertas, aquelas em cuja explicagdo 0 espirito levou mais tempo, ‘ | escolha. naga est 7 | — ee Ora, ¢ digno de nota que o problema da liberdade cf ica, o da liberdade metafisica, o da fundacdo das ciéncins sociais se tenham apresentado ao mesmo tempo. O problema que os filésofos debatem — com a ajuda do céleulo das probabilidades — se apresentou precisamente a propSsito dos problemas sociais: € 0 da estatistica moral, da de ue esté na origem a0 mesmo tempo da sociologia a trovérsia que nos retine. A estatistica — nio é a Weber que Se deve Tembrar isto — 6 “‘inteiramente nossa”, dos ‘socislogos. Ele 0 é ainda. f nossa disciplina que pode dar os melhores ensinamentos nesta matéria e, por conseguinte, sobre o problema ventilado neste momento, Pois ela procura precisamenie o sentido daquilo que 6 a liberdade: est tese da necessidade e da contingencia” + Lembremos a brilhante verificagdo de um século a esta parte das principais leis estatisticas e, em particular, da e tidio das descobertas de Durkheim e dos outros sobre 0 Sui. cidio, Suicidar-se-4 amanha um certo némero rela “deferminado de pessoas de cada sexo, em Paris, por exemplo: necessidade. Mas quem se suicidaré? Contingéncias possiveis, Nao hd nenhuma contradigio entre a determi: ica do socislogo © a nogio de uma certa “mare racional”, como diz. Me ‘Ao contrério, tivemos Tum alto concelto & cofezao sentiment tisce or assim dizer, que na sociedade 6 hi quantidades estaisticasy_ continuos de freqiiéncia, curvas de uma parte®, com des continuos, quanta, limites destas curvas, de outra, Admitamos~ ‘que estas curyas s6 descrevam o exterior dos fendmenos, mas tal aspecto € a Gnica parte perceptivel e imediatamente racional. Ademais, nada demonstra que haja outra coisa no mune do além das freqtiéncias aprecidveis e dos limites do acaso, As outras ciéncias harmonizam-se agora com a nossa neste Ponto. Arrisquemo-nos a um pouco de metafisica, Talvez ha. ja, até nas raizes do ser, as mesmas quantidades de deter. minismo e nfo mais do que nos fendmenos sociais que estu damos. Sem divida, isto significa que as outras ciéncias nao esto melhor situadas do que a nossa, Mas neste caso, & preciso crer, como Weber, estatistico, que exista_um_certo_género de liberdade em_ tod a menos que nao exista em parte alguma. Em caso nenhum, do nosso ponto de vista, a liberdade metafisica pode ser 0 apandgio do homem. Ou existe toda parte em quantidades estatisticas a determinar, ou sim. plesmente nao existe. S Herpeun, zuments rincipaus ete roprtentation, p. 289, BW Orbtiny dournas “de prnchcogte, 1k, pass | MENTALIDADE ARCAICA a IMENTALIDADE PRIMITIVA E_ PARTICIPACAO} «1923)* Agradego a Société de philosophie a honra de admitir-me entre seus membros. Talvez me faca ja pagé-la oferecendo-se j- imediatamente 0 espeticulo de dois socidlogos que se devo- fam mutuamente, Entretanto, da mesma forma como os ees esquimés se combatem vigorosamente no interior do pack da parelha, mas sao muito maus para os cies estranhos ma: assim € preciso tomar cuidado porque os socidlogos poderiam fazer frente, € fortemente, aos fil6sofos Em primeiro lugar, Lévy-Bruhl_ por Muitos pontos de sua noménclatura; realmente, tanto ein seu livro como em sew resumo, dé-nos satisfacdo, explicando fermos mais abstratos aquilo que entende por “mentalidad. primiivo™e- “pelea”, Entrtano, ind equivaléncia que estabelece entre “prelogico” e io € exata, pois, justamente, é-avexisté roligagdes. Ha soci junto de ideas ligadas > préiio, es este ponto se assemelham. Enfim, notarei cue Lévy-Bruhl fez justi¢a & censura formulada por Dur- Kheim * por ter negligenciado em proveito das “participages”” ts exclus6es de idéias que nao so menos importantes ¢ que esto nar base de Todo"o sistema consideravel das proibicdes, ou dos ritos negativos, ou dos tabus, como se diz vulgarmente, Entretanto, no creio que Lévy-Bruhl tenha dado ainda a devida importincia a tais contrasies. Estas oposicées, estas contrariedades, por exemplo em adivinhagao, nao sio menos importantes do’ qué as participagoes sobre as quais téo. util mente nos chamou a atengao. Lévy-Bruhl ¢ nés somos igualmente sociélogos por- dmitimos que_o espirito_humano tem uma hist6ria e ¥ due esta histéria no pode ser escrila sem que se foga, ay mesmo_tempo a histéria das sociedades. Pois a histéria do espirito humano, é a histéria do espitito destas sociedades ¢ dlestas mesmas sociedades. Tal nosso método comum, Mas Lévy-Bruhl na minha opiniao nao-{6i Suficientemente historiador. Em primeiro lugar, nio levou esta histéria até sociedades modernas. Nao efetuou, portanto, a prova de a diferenga entre o espirifo-husmano primitivo ¢ 0 nosso. Com efeito; existem_semelhancas muito’ mais profundas do que o dé a entender Lévy-Brukl.. Sem davida, ele faz reserves na questo das sobrevivéncias, mas nio € cerio que partes considerdveis de nossa mentalidade nao sejam ainda idénticas + iniyrneto que s¢segta umm comuniseto de. Léry Db saat ase Sa iter rose, 1,3 v Lestado, hoje. As préticas divinatérias nao se acham mais em uso mo Ocidente, a no ser entre pessoas supersticiosas, ou sridentalmente. verdade, mas as nogées de veia, de sorte, -de_acaso, so as mesmas hoje como nos tempos tntigos oe em espirituslidades ainda mais rudes. Da mesma forms seat que, em moral © em teologia, a nogdo de pecado e de we iagdo funcionam entre nds ‘de maneita tao diferente do {ue nas sociedades polinesianas onde nosso pobre amigo Ro, bert Hertz as estudou? Vou publicar na Revue philosophiqne um certo nimero de péginas notiveis de Hertz, justamente sobre este assunto. Serdo elas mais isentas de. contradigoes, mais ricas ¢ mais puras em nossas Igrejas? Deverio dees, arecer mesmo de nossas sociedades? Nao 0 ereio, O mecno gucede com a nogio de mocda. Num dos ltimos némens / a Anthropologie que apareceu antes da guerra, erelo haves { demonstrado que uma das origens mais seguras’ da moeda ¢ \@ crenca no poder mégico das pedras preciosas ou coisas pPreciosas. De fato, moeda traz o nome de mand nas linguas ‘melanesianas, ¢ as pérolas dos wampun sto-chamadas em: "m nossas sociedades o poder de compr dado na razio? CTS LEN, [= manitu. Mas seré tio seguro de que mesmo Hd mais: nio s6 a relago que une as sociedades que Lévy-Brubl estuda as nossas’sociedades modernas sito mais estreita do que ele cré, mas ainda as diferencas que Direi de bom Fado, que em sociologia é preciso ainda mais antropologia ¢ Qixria. Irei_ mesmo a ponto de dizet que a antropologia { Completa poderia substituir a filosofia, pols compreendes Precisamente esta hist6ria do espirito ‘humano que a filo, sta hist6ria néo pode ser escrita se se ‘minha opinigo, somente os australia. Os, os tinicos sobreviventes da idade paleo este nome. Todas as sociedades esto na idade neolitica si africanas ¢ as cordo, Por certo, que esta classificagio muito geral das civilizagdes no pode ocupar o lugar de uns ficasdo—de~suas “mental ‘Entretanto, na realidade é \sabido que a mentalidade do australiano € muito diferente, MENTALIDADE ARCAICA 9 or exemplo, daquela do africano: primeiro porque o meio social, que as tenicas permitiram conaituir, © de ma des sidade totalmente Wiferente ¢ de uma estrutura inisinanee diversae tem atrés de si uma historia totalmente difees 6 Sm stuida poraue, mesmo do ponte de vist desta t_ de causalidade que Lévy-Brufl estuda, € evidente que ae, os imo afirma, ela comegou por formas religiosas ¢ contadingien, € claro nfo obstante que ela se-apresenta sob aspecton entre homens que exercem dominios muito “/ es sobre seu proprio meio. Enfim, € preci Ie ideragao as degenerescéncias, as evolugées aberanien Por exemplo, nao tratar como primitivos os polinésos ue 0 0 produto de uma longa histria, de uma longa migeatas € de todos os tipos de desenvolvimenios em todos os sesiekee ‘mesmo contra 2+. Também no estamos de acordo sobre 0 suéiodo a seguir. Temos sempre o direito de fazer aquilo qué quay mos € Mo censuro Lévy-Bruhl por ter realizado esies diene 7 studs. “A questio saber se outros nio teriam sido male is. ‘Em primeiro lugar, creio que valeria mais, cm ver de Pesquisar diretamente o-cardier geral de todas as cutgorine em todas essas mentalidades primitivas, investigar as Toray J ie de cada uma das categorias para, em seguida, conclair- com seu_cariter geral. “Ao menos—fot~assim —que- procedsmos Durkheim, Hubert ¢ eu, a propdsito da nogio-de género iu — Propésite-da_nogio de tempo, e & como nds pensamor que se deveria proceder para a nogio de espaco. Da mesina fo, ma, persisio em achar que as indicagées que outrora demos sobre a nogio de mand so mais exatas e mais matizaday de que aquelas que consistem em converté-la numa forme de Rosdo de causa, ou do que aquelas muito acusadas de Durkheim que a une de maneira demasiado estreita 2 nocio do totem. Da mesma forma ainda, para as formas primitives ‘da nosdo de espago, estas supdem no somente uma concepgao emotiva ¢ contradit6ria do mundo das reagdes bem previnns & scbretudo a nogio de que existe um espaco onde a gente ¢sté em casa: 0 campo, o circulo sagrado da ronda, ete. Yess que a nogio de espago estd ligada a relacdo de uma sociedade com seu solo. Ora, tal relacio é de fato diferente das relagdes simples. entre estas nogdes e 0 principio de contradigao, Mas tate nos Teva & censura fundamental, 38. Toda nogio, toda representacio coletiva, como 2 Proprio Lévy-Bruhl © sustenta, de maneira muito firme exata, estd ligada_a instituigoes soci Ora, reconhecendo o principio, Lévy-Bruh abstrai-se dele, Cortamente tinka direito de assim proceders ‘entretanto, pode-se contestar-the tal dircito, porque, fazendovo renunciava ‘a explicar e, definitivamente, conteniava-se em deserever. Ora, por mais interessante e stil que seja ume 380 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA MENTALIDADE ARCAICA 361 ale menos que uma explicagio. Mas, mesmo assim, mento supde-se que o chefe se encontre em estado de posses- tornase esta descrigé0 insuficiente. sto, de eyoraaie de éxtase, € no somente de Suotwete Pois deixando de lado aquilo que, nas instituigées e nas HG transporte ¢ confusio a0 mesmo tempo. ‘déias coletivas, € emocional e motor e, de outro lado, dei- _Assim_a “participagio” no implica somente-uma_con- xando também aquilo que, por detrds destas instituigées, des- fusdo de categorias.mas é, desde a origem, como entre nés, 0) | tas emogdes ¢ destes movimentos da coletividade, € 0 _prd- um esforgo para identificar-nos Com as coisas e idenlificar as 22 | prio grupo social, chega-se no fundo a des nope coisas entre si. A razio tem a mesma origem voluntéria © RL 1, nao € duvidoso que nos processos “fo ordélio'€ coletiva nas sociedades mais antigas e nas formas mé adivinhagao judiciéria funcionem nogdes do género daquel: sadas da filosofia ¢ da ciéncia. gue LéviBruhl descreve. Mas podese facilmente explicar a © presenga nogdes. A pesquisa da causa da morte nio 7 'mals do que o iltimo termo de uma série que Fauconnet 1A ALMA, © NOME E A PESSOA] (1929) descreveu muito bem em sua obra sobre a Responsabilidade, i Ha em primeiro lugar o grupo social, sua emocio, sua von. « pNio Preciso renovar a Lévy-Bruhl os cumprimentos que ~ ~tateraic Peseta de puslr-o-Tesponaivel: Yor tome sod id Ihe fiz, a propésito de seu ultimo livro, que, em particular, de alma que se fez esta pesquisa, € este estado de alma que trouxe tanta popularidade para nossos estudos. explica estes procedimentos divinat6rios, todos carregados Nio tenho a competéncia dos missionérios ou dos fun- destes elementos motores, emocionais, tradicionais. E é pre- cionérios coloniais que esto aqui presentes. Tenho apenas iso descrevé-lo bem para nao omitir nada. Assim ainda, 0 uma competéncia de socidlogo e de forma alguma quero julzo que hoje o juiz emite certamente é um julzo ldgiay citicar as conclusées de Lévy-Bruhl, Quero apenas acres. , Masa regra que pretende, por exemplo, que toda a mor centar-Ihes algo. Violenta acarfeta instrugio, pertence, mesmo em nossa socie- Quero, entretanto, mostrar no que 0 método que ele | dade, a outro-plano do espirito que nio 0 l6gico. Sequit as conclusGes socoligicas ts quais ele chegou coin- SEGRE Ror eta SIRENS, “Gide CAPE cidem com as nossas ¢ em que pontos divergem dos métodos locou fora das condigdes de compreender ©. proprio. car Ae sic empregados, entre os soidlogs, por aquees que et | tal questo bom tape "A Srorncigagas aie a chamaria da estrita’ obediéncia, > uma confusio. Supse um esf6reo para confundir e um ectorga-.| a ieftande diferenca entre Lévy-Bruhl © estes socislogos ara fazer assemelhar-se.. Ela néo é uma simples semelhane Gh Gitta obediéncia ¢ por conseguinte “mais rigorosos, Gf mag uma Buolwow HU desde origem umn Ted ie: aggpermanecem {itis 20s_ grandes principios, ‘uma Violéncia do espirito sobre si préprio para ultrapassarse crigina/idade < extudar_as Tormas_primitivas da razso, das ft team bh deeds (Origen uate ress oe ees Categoria, 8 torias de Durkheim e de seus intimos tendem exemplo, o ritual totémico da iniciagio infelro€; etetivamente, Fear gepcundamentos_desias mentalidades. NiO nos 6 (yy um ritual de “participacdo” se quisermos, mas’ antes. de tuda gilclente “deserevero—mito. Seguindo os prineipias de é * Schelling € filésofos, queremos saber-qual o jue cle ©\, um ritual de revelacao; tem por finalidade mostrar aos jo LeremO$ me vens iniciados que os seres que eles julgam serem animais, | dradug. Lene Baubles :ve_O pensamento sic = por exemplo, na realidade sd0 homens ¢ espiritos. E, de outro Sencar nag Ste is descreve admiravelmente a0 I~ ledo, os rituals eficazes do totemisano sic eafersos pars aia menos um Jado dele. Entretanto, sobre o ponto que ele des- tar A natureza, as plantas e aos animais que nés somos aquilo. roves aoa 33 Sands Pessoal, qual € 0 dos outros? Esco- ; gr revlon sain eh ae at fone Re Neste dltimo: livro, sobre a Alma _primitiva, temnos cose SMG cs nesta ene oa a ci panticular algumas péginae realmente belas pela quant- po-o sentido quer das diferencas, quer das semelhancas que | - ie fatos ¢ pela clareza da exposicao, sobre a relagio estabelece. Pode-se ver, no Museu do Trocadero, iocaras 69 Sanda a saa oclviGual-auesthoalds, Noroeste americano sobre as quais hé totens esculpidos. -yconhecida, ni it pela a . Alguns so de dupla porta. A primeira se abre, e atrés do y Xo eae qual a diferenca entre a maneira pela totem pablico do “xama-chefe” aparece outra méscara menofy ual eu teria tratado o assunto ¢ a maneira como Lévy-Bruhl ‘que representa seu totem privado, depois da ultima porta ree @ tratou. Ele se contentou com a observagio psicolégica e com vela-se aos iniciados das mais altas categorias sua verdadeit natureza, sua face, o espirito humano e divino e totémico, espirito que ele encarna. Porque, observe-se bem, neste 382 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA MENTALIDADE ARCAICA 383 a_descrigéo_filoséfica, embora_sociolégicado_fato. Num sgenero na presenga dos autores que as assinalaram. Nao é » grande niimero de soc ome Porque professor Boas nos dé neste momento a honra de Neste ponto, estamos de acordo. Mas nés, de nossa parte, luma conversa que vou cité-lo; mas porque foi ele que nos pretendemios encontrar o Fundamento iden: forneceu os melhores fatos a partir dos quais refleti sobre | tidade da alma ¢ do nome na or esta questo. Para mim ficou esclarecida no dia em que um Tundamento da realidade aquilo foram publicados os documentos de Boas sobre as “Socie- | tica da palavra e um preconceito il . dades secretas dos Kwakiut!”. O Principio que tudo domina , Permito-me dizer-vos desde logo qual seré a comunicagao © seguinte: a sucessiva reencamnagéo das_almas titulares, que tenho a intengio de fazer no Congresso internacional da sucessivas possesses pelos espiritos titulares aos quais os +histéria das religides em Lund, ao qual j4 sou delegado. Trax nobres, Kwakiutl em particular, so obrigados a chegar para Deca ae 2 uma quesilo, cuja Fame guardar sua categoria, at€ que, como todos nds, sejam-@po- Dortkcia verea Ue ponto de Vista sociolégico e moral. sentados. Cada cla fem certa quantidade de nomes, categorias, Vn Secon ee, babunn a ar de ool los, uo Ut hem 8 Sento do flo ge anu eld sonalidade hu necessério um pouco de_ his: date rf c tori, Quando fot que a pelavrs 4 J prota «le perpétua reencarnacéo ou de possessa0 que, definindo pole opeande Tol que a palavea posieae uo—em seu o2 em SUNT _Sente-a0-passidor persona" mascara. Tis.o sen ‘lade, no conjunto da vida, definem sua personalidade. ‘do termg. Foram os Fomanos qu Nao € tampouco porque o Reverendo Padre Aupiais est TERE: peseonalidadis often + r aqui que Ihe direi que seu trabalho sobre a adivinhacao, 0 “Alls, explcarelalhures por que © came 0 fate on amas Ji, se harmoniza realmente com aquilo que Boas nos havia novo, Prova de que era novo € que, para designarem’s nod ensinado. © nome fa, que, em Porto Novo e em toda uma de pessoa humana, pessoa juridica, os gregos, tardiamente, parte da Africa, é dado no nascimento, determina toda a vida, traduziram a palavra latina — pois nao foram eles os im ‘até mesmo a pessoa que é prudente desposar — segundo Yentores da nogio de pessoa — e traduzem ainda na época seu Jd, seu nome igualmente. justiniana persona por rpbownov , mascara. Vé-se que néo ‘Também no é porque M. Granet esté aqui que lembrarei foram os fatinos que traduziram 0 grego;, foram 0! gregos seu trabalho e sua idemtficacdo das dinastias legendatias da ‘que traduziram scrvilmente 0 latim. ‘China com repetigées de cinco nomes por ciclo de cinco ‘Ao que corresponde esta méscara?_Remontemos a el Bencarnacics, 405 poucos; citarei aqui um admirdvel texto que comumenté Mas mencionarei ainda os documentos de um de nossos nao € citado nas enciclopédias ¢ nem mesmo nos manuai nelhores sébios franceses que trabalham para nds, Leenhardt Pois, de tempos em tempos, é preciso ler os textos, como Um = que se escusa de nao poder vir. Aquilo que’ nos trans- humanista, por inteiro e nao pelas referencias: mite foi observado independentemente de todo ensinamento Jer do latim, ler do hebreu ou nao importa de de toda conversagio de nossa parte; e respeito a mancira texto enconirase em Pro.Cluentio. Cleero fala dene pela qual se exprime: ele € 0 observador © eu sou 0 revisor feitor qui cognomen ex Aeliorum imaginibus delegere, dle impressio. Leenhardt diz: “O nome designa o conjunto escolhera seu sobrenome entre as imagens (as méscaras) das ‘posigoes especiais do-indiy Tsto per, ‘Aclii”. Mascara, imagem, tem. aqui tenee-ao neocafedoniano ¢ ndo a sociologia teérica. FE numa \ sentido de prenome om ‘explicagio auOnomia que enconiro precisamente este elemento cstas-miiscaras que cit Roma eram-Carregadas nos enteron de explicagao do mito, Aliés, Leenhardt reeneontra também ‘as dos antepassados que foram pessoas consulares, edilicias, ‘5 nomes classificados por trés cinco geragées. r ete. Sio as méscaras das pessoas mortas, mas também a Lévy-Bruhl foi_até a explicago do mito. Penso, de mi- ° reencarnar: Tu Marcellus eris. nha parte, poder encontrar a razio do mito do prenome idén- Remontemos cada vez mais longe. £ uma questio tico & alma através dos fatos que acabo de Ihes indicar. A bre a qual muitas vezes voltei, a propésito das pesqui hp Personalidad vem, com 0 nome, da sociedade. ~~ de Dieterich sobre Mutter Erde, a propésito daquelas de Ve Eis a diferenca pura ¢ simples entre o Lé- ‘Ossebruggen sobre 0 direito de propricdade nas Indias Ne vy-Bruhl ¢ 0 trabalho que alguns de nés quetemos e sem Jandesas, etc. O sistema dos pronomes iroqueses e sit Ahivida podemos fazer. América, etc., € significativo. O fato é muito geral em Haveria outros fatos que poderiam ser assinalados a conhecido. Pata direita dianteira do lobo: é um nome proposito desta questio: © mito da alma. E absolutamente Jugar do consétho. Citemos algumas outras instituigdes ‘indtil indicar-vo-los. $6 vos fale destes poucos fatos para ‘Que possais ver no somente 0 que é a lenda da alma, mas fambém a causa da lenda: uma parte propriamente ven ds necessidade de nomear 0 individuo, de precisar “sua posigso social” (entre os mortos e 05 vivos) ie. Mas tranqiilizai-vos. A oposigio no ¢ absoluta, 1H somente dois tipos de trabalhos; ha os bons © os aus. Os bons param onde querem: M, Lévy-Bruhl paron 9 seu onde quis. Outros continuam, Eles vao mais longe ou mais fundo como se the apraz. Talvez se engancm; €°> ue se saberd de outra forma que no a do raciocinio simples, Pois a sociologia é uma eiéncia dos fetos, [1] Eis como Mauss analisou a obra de Dieterich (1906) * O Sr. Dieterich projetou um trabalho de conujnto sobre a “religido popular, ¢ as formas fundamentais do pensamento religioso”. “AS partes futuras tratario das “formas do rito magico; as formas da revelagao divina; as formas da unig do homem com deus”. Esta primeira parte! foi apressada em sua publicagio pela necessidade de oferecé-la como ho ‘menagem aniverséria do pranteado Usener, Sua finalidade é, de umaparte, metédica. Trata-se de’ ‘mostrar por um exemplo, como, sem desconheser ou inter pretar mal as religiGes classicas ¢ suas formas superiores, seu Proprio estudo pode ser renovado pelo estado de seu funda mento popular e primitive. Segundo o Sr. Dietrich, € prev iso considerar os ritos © seu sentido nas sociedades pre itivas, depois vir a0s ritos e as id i madas inferiores das populagdes da an , conde se conservou a fé ea mitologia ingénuas sobre as qui . tudo se construiu. E assim que se chega, enfim, a eo nova de seus processos. © objetivo é, de outra parte, pragmitico. Trata-se, antey de tudo, de explicar a nocio de Mae-Terra, tema fundamental das mitologias clissieas, tema Titerdrio de maltiplas literaturag que teve suas manifestagdes até no cristianismo, onde a Virgem com freqiiéncia “assumiu certos.tracos da antiga Mée-Terra, © Sr. D. parte da observacio de trés ritos romani 4 colocagio_da_crianca_recém-nascida sobre” terra; © terro da crianga no cremada; a colocagao do moribundo bre 0 solo. Ele propée, com a ajuda de comparacées que gstendem, um pouco ao acaso, dos Arunta, aos Ewhé, folclore europeu aos usos americanos, a seguinte teoria: es Fe ee SS vxon er vetue Tetptig, 1905" (dots “capitiion tn Arthie Tur “Aelitonsten eat MENTALIDADE ARCAICA ats costumes correspondem a uma crenga global; a terra seri 4 mae dos homens, nela as almas dos mortos viriam morse- | até “sua“reencarnaci0. A terra € verdadeiramente mie dos homens e nao-simplesmente mie mitica dos deuses. Os dois capitulos seguintes referemse a TH tiem ‘sega, a tellus romana, e demonstram que mitologia, ritual, It ‘eratura, magia, mistica, mistérios ¢ cultos populares, se ali. mentaram na fonte de uma noco igualmente primitiva, De. Pois ha um capitulo onde se indica, de mancira talvez in suficientemente fundamentada, a evolugio destas nogdes nas duas religides cléssicas. © que dai resulta é sobretudo que 4 tradicao popular foi um fundo sempre idéntico e jamais esgotado, onde periodicamente se restaurou ese renovou a mentalidade religiosa em via de transformacdes. Resta determinar a causa destas idéias © destes ritos © ‘Sr. D. une essa nogio da maternidade as representagoes primitivas referentes tanto & reprodueso das espécies animais Auanto & fertilidade do solo concebidos como paralelos, an logos, simpéticos, e idénticos geragio e as ‘relagSes entre homens ¢ mulheres. Ele aproxima de mancira feliz o mite da mieterra dos ritos félicos e dos atos cerimoniais pelos a e6pula humana provoca a multiplicagao dos objetos alimentares. Mas, em suma, a demonstra¢o acaba depressa; por mais cengenhosas que sejam as observagées do Sr. D. sobre a cren 2, sobre a “jocira’” onde é colocada a crianga, sobre ritos documentos figurados, 0 resultado geral nao ‘ultrapassa.os limites das teorias ideolégicas, da interpretacdo pelas simples idéias. Ademais, a religido popular de que trata s6 interssee 40 Sr. D. por seu lado primitivo ¢ no como fenémeno social, E neste momento que cle se separa dos métodos que nds aqui preconizamos; 0 St. D. persiste, como todos seus an, fecessores, como os melhores entre os cientistas da escola inglesa, na erenga que, para explicar um mito ou um rito, de preferéncia antigo, ou um trago do folclore indo-curopeu, basta torné-lo compreensivel mostrando as idéias que Ihe sao Ssubjacentes ou antecedentes. Nao hi duvida de que este paso da pesquisa é 0 primeiro a ser feito e seria tolo censurar um trabalho pelo fato de ter comecado por af. Mas, ao menos Para nds, nio é suficiente ter feito isto. Cumpre ainda redes- cobrir quer os sentimentos sociais, quer as estruturas soci dde que estes fatos constituem expressio, de que estes mitos sio apenas as representagées, de que estes ritos nada Bio exceto os gestos. E sob esta condigao que se pode che- far a sentir ndo simplesmente as nogées que, embora sejam Populares, no deixam de ter algo de voluntétio, de fortullo. de livre, mas ainda as coisas, as coisas sociais Ora, nenhum assunto era mais fecundo neste ponto do que aquele de que tratou, parcial mas tdo felizmente o Se Dieterich. Ele mesmo sentiu, em diversas notas, o sentido em = ENSAIOS DE SOCIOLOGIA que era preciso pesquisas [...]. Com efcito, é gragas & nogo de reencarnacio dos mortos que se pode compreender todo este plexo quer de idéias e de praticas, quer de sentimentos € de coisas sociais que deu origem a tantas e tio diversas fru. lificagSes. Mas esta noso no funciona normalmente & parte de toda organizagio social ¢ a verdadcira explicacao con. siste em descobrir esta organizagio. Ora, se prestarmos atem sao a certo niimeto de fatos indicados pelo Sr. D., peroebe- emos imediatamente a importincia que assumem dois fator € do prenome e 0 do cli Com efeito, no é um morto qualquer que se reencarna: | normalmente num nascente qualquer. Em toda a antiguic | dade indo-européia, € um membro da tribo, da naggo que \ vem reencarnar-se no recém-nascido autécione indigena. “AS \almas de atenienses davam origem a outros atenienses. Mag Jesta regra da reencamacdo tribal s6 coincide com um sistema suplantado dos direitos ¢ das idéias. Deve ter sido apenas ‘uma sobrevivéncia, nas sociedades indo-curopéias jd fora desta fase de organizagio, de uma forma muito mais antiga, da qual_vislumbramos vestigios mais nitidos em outras partes, Entretanto, se é verdade, como 0 indica, depois de outros, © Sr. Olrik num trabalho que o Sr. Dieterich nao pode utilizar, ue os antigos vikings acreditavam numa verdadeira rem carnacao do iiltimo morto no tiltimo reeém-nascido da familia, ‘iltimo reeém-nascido que teria recebido o prenome do morto, nio seria il6gico esperar que novas pesquisas sobre o sistema dos prenomes, aliés hereditérios e relativamente especiais a cada gens em Roma, poderiam, em outras sociedades indo- européias, provar a existéncia pré-histérica do mesmo fato. ‘Mas afora esta questo da extensio, existe um conjunt me de sociedades, sociedades negras, malai linea, {ndias (grupos sits, algonquianos, iroqueses, pueblo, do Now roeste), esquimés, australianas, onde o sistema da’ reencare nacéo do morto ¢ da heranga do prenome na familia ou no cla é a regra. O individuo nasce com seu nome e com stag funges sociais, com seu brasdo nas sociedades do Noroeste americano. Sobre 0 nome nikie, entre os Dacotah ¢ os Sid, sobre © nome nas confrarias e nos clas (pueblos, kwakiutl, haida) dispomos desde jé de um conjunto imponente de fatos, © niimero dos individuos, dos nomes, das almas e das fune es € limitado no cli, © a vida deste no passa de um con- junto de renascimentos e de mortes de adividuos sempre ‘dénticos. Menos claro entre os australianos ou entre os de aga negra, 0 fendmeno no deixa de existir entre eles de ‘maneira normal ¢ compreensivel, a modo de uma instituiglo Inecesséria, Esta consideracio do cla e do prenome nfo s6_ per compreender o sistema das reencamagdes © conjugé-lo a constituisio juridica da sociedade, como ainda permite ‘erever, em parte, a origem da nocao da mie-terra e de mi MENTALIDADE. ARCAICA 8 ‘com preciso o momento em que esta se formou definitiva- mente. Basta partir do fato de que o cla é, desde a origem, concebido como ligado a um ponto do solo, sede central das, almas totémicas, rochedos onde sogobraram os mortos ¢ de onde escapam as criangas a serem concebidas, de onde se espalham enfim no espago totémico as almas’ dos animais ‘cuja multiplicagio 0 cla assegura. Indicamos mais adiante, com 0 Sr. van Ossenbruggen como esta nogio alcanga ¢ a de propriedade*. E a ela, mais complexa, mais precise, e portanto mais elementar mais rica, que esti ligada mie-terra, Porque seria um erro acteditar, como parece fazélo 0 St. D., que os ritos félicos, ou melhor gerativos austra lianos, que idéias como a da pedra Eratipa, junto a qual as mulheres arunta temem conceber, impliquem ja a nosio de ieterra. Todos eles correspondem a estados muitos mais baixos, © esta nogdo pode ser estranha a civilizagSes onde {todas as suas condigées, salvo sua causa, so dadas. Quanto 4 nés, impressiona-nos o fato de que todos os casos indicados aqui ¢ todos os casos verdadeiramente precisos que conhe- cemos onde 0 mito ultrapassou a simples imagem da geragao, dos de sociedades agricolas. Ademais o St. Dieterich niio deixou de sentir a questdo, e a maneira pela qual consi- ddera quase que exclusivamente os ritos agriios € significativa, Em parte alguma melhor do que entre os Maoris poder-seo estudar esta formagio de uma nogao mitica precisa. De uma parte, clés locais extremamente fortes, com sistema de pre- nomes bem marcados; de outra parte, um extremo apego esses clas a seu solo, visto que seu mand é idéntico ao da alma (hau, mauri), do solo, da mae-terra (whenua): de outra parte, enfim, todo o desenvolvimento mitico luxuriante do mito da terra e do céu, pai ¢ mie dos deuses. Em toro do mito que estabelece a equivaléncia, em torno do rito que a dramatiza, a nogo de mae-terra é provavelmente fechada, Precisa; liga-se 20s mitos celestes e outros, formando uma das bases de toda a mitologia agréria, Mas'hé af toda uma série de estudos a tentar da qual s6 podemos entrever os ‘comegos. Contudo, por mais precisa que seja a imagem da mie- {erra, no se podcria querer que fosse a nica imagem de maternidade concebida pela humanidade mesmo an. tiga, ou pelo folelore, mesmo moderno. As relagées entre @ semente ¢ a planta, entre a espécie © 0 individuo, ete também foram representadas sob a forma de parto: arroz, a mie milho, as mies do rito agrério europeu, sao inn Portantes © numerosas. Aqui ainda € preciso enriquecer d todas as virtudes do principio da vegetagéo nossa descrigfo da nosao primitiva. Mas basta de criticas e de adigées. 0 2. (et. texto seguinte) 388 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA trabalho do Sr. Dieterich € dos mais importantes; abre uma nova avenida. As idéias engenhoses abundam af, como por exemplo a aproximagao entre a postura agachada dada amiG- de ao morto em sua tumba e a postura do feto; © a ex: plicaglo pela idéia de ressurreicdo da importéncia, em di- reito penal ateniense, do banimento. [2] Aqui esté, sobre este assunto, a anilise de Mauss sobre © livro de Ossenbruggen: A nocio de propriedade terrestre entre os primitivos (1906) * Este trabalho do Sr. van Ossenbruggen ! vincula-se a seu estudo sobte o direito de heranca na China e o esclarece. B concebido no mesmo espirito e tem a mesma finalidade; mas ‘© método volta a ser comparativo, como na excelente obra to de tutela e de testar. Ademais, esta com paragio se refere sobretudo & China ¢ aos indonésios, isto é as sociedades onde o direito de propriedade fundisria tem um cardter dos mais tipicos. A pesquisa é portanto das mai frutuosas. Acrescentemos que a erudi¢ao sociolégica © ctno- grdfice do Sr. van Ossenbruggen se ampliou, malgrado 0 afastamento em que vive; © que scus estudos comparativos sio provocados por observacées pessoais permitidas por sua posigio de juiz neerlandés, tendo que julgar causas malaias chinesas, e no poderemos exagerar 0 mérito de nosso autor. A questéo levantada e verdadeiramente tratada por ele € das mais graves © aqui nos preocupa desde ha muito. Néo € mais aquela, eterna ¢ viciosamente repisada, da propriedade comum ¢ da propriedade individual; é a do “dominio emi- nente", a do conecito social do direto da sociedade sobre 0 solo, © autor parte da discussdo levantada pelo Sr. Franke? referente ao direito de propriedade absoluta do soberano chi nés sobre 0 solo; e da afirmacdo dos cédigos malaio-neerla- deses de que a terra pertence a0 principe. © ‘nico paso metédico que encontrivamos insuficien- temente circunstanciado é uma definigao da propriedade, de- finigéo certamente proviséria, mas facilmente legitimada pela afirmagio de que 0 conceito € muito complicado. “O direito de propriedade € 0 direito menos condicionado (nunca ine condicionado) de dispor de uma coisa, direto que pode per tencer a uma pessoa privada ou a uma pessoa moral privada, © que provém de uma relagéo direta entre a pessoa e a ” Esta definigéo tem o mérito de mostrar a existéncia de uma relagéo direta, de incorporagio, do proprietétio & 1 Bytraldo do anne soctorogtaue, 9 pendint aah Onerieem, Over et rimites Bearip van ronda For Année soctologigue, 7, p. 456 MENTALIDADE ARCAICA 389 coisa apropriada. Mas tem evidentemente 0 incoveniente de 1ndo mostrar o signo externo pelo qual, em nossa opiniao, se reconhece a propriedade, isto é, 0 respeito em que se tem 1 dita coisa, ‘Signo negativo, é verdade, explicando-se muito bem que se haja negligenciada sua importincia, mas nio menos essencial ao proprio teor das regras que constituem © direito de propriedade e o sancionam, civil e criminalmente. Se, de tempos em tempos, 0 Sr. v. O. indica fatos que se relacionam com este trago, em nossa opinido fundamental, € de passagem ¢ amitide sem provas, como quando emite hipdtese, justa em nossa opiniao, de que a marca de pro- priedade € originariamente a marca de um tabu. Toda a andlise torna-se subitamente incompleta. Ela poderia ser de- finitiva, como pode sé-lo hoje uma anélise sociol6gica. Com efeito, o Sr. v. O. vi com acerto a maneira pela qual foi concebido primitivamente o direito de propriedadc. Este direito teria tido originariamente uma forma quase ex- clusivamente religiosa, e seria pelo desenvolvimento de seus clementos econémicos que se teriam formado os conceitos modernos de propriedade e de posse. Conservaremos a argumentagao referente & forma pri A ap rege mae cont torefo talvez mais claro a seu pensamento. N&O tetia existido pri- mitivamenté, em_matéria Tundiérie,senao-uma~propriedade coleti frabalhio_primitivo terla_sidOcoletivo-e- se_estabelece pelo trabalho. Talvez. este raci sejaum pouco simplista, e-ganharia muito se fosse um pouco mais matizado. Mas quase no importa, pois, quanto a nés, a maneira pela qual o Sr. v. O. liga suas idéias as do Sr. Biicher sobre os princfpios do trabalho, corresponde a cone. xGes muito profundas entre os fatos. Isto posto, como foi que a coletividade se representou suas relagdes com o solo? Foi sob a forma da apropriagio pelos espiritos © pelos deuses nacionais. Aqui a messe dos fatos é singularmente abundante e torna'se evidente que este dominio do principe nas sociedades malaias, o dircito di- reto da dessa, € fundamentalmente um direito religioso. O proprio autor aproxima de maneira feliz esta questo. do direito de propriedade religiosa do cla da questo dos cen- ‘ros totémicos levantada pelas observagdes de Spencer © illen. Deve-se lamentar que no tenha tido o tempo ou a de estender a outras sociedades malaio-polingsias a série dde suas pesquisas. Sabemos pertinentemente que teria tirado Proveito de um estudo aprofundado do cli local (hapu) neo- zelandés, de seu direito de propriedade, da maneira pela qual se representa uma espécie de alma-mae, deusa-proprietéria (whema) residindo no fundo dos bosques, dotada de mand, ‘causa de tabu, parente de todos os membros do cla. E digno de nota, enfim, que atinjamos as representacGes referentes & Ber#eio, sobre as quais, neste mesmo ano, Frazer e Dietrich acabam de Tangar nova luz3. E certo que nos encontraron Giante ‘de um tronco, extremamente vivaz, de. iddiag mol Esta associagéo do cla e da terra seria o fundamento do dircito © a expressio do fato. Mas ela € mals ¢ mene dlo que © direito de propriedade; ela o ultrapasea co eect Preende; $6 lentamente ele se separou dela. Que ela teaha ido sua forma primitiva © necesséria € algo que nao deine slavidas quando se observa que mesmo a propriedade de instrumento foi concebida como um vincul mistice entey no fundo dos hina ¢ da Malésia é 0 que prova direitos se deduzem dela. O di- e ireitos emi No fim de contas, 0 principio Fano exprime simplesments @ cla. ing MoPriedade individual nao foi possivel antes que familias comunitérias, indivisas, mas restrtas, consewaisteg sonal © lugar do cla que se tornara demasiado amplo. Meg S Salitlto de propriedade da familia, que ainda é um grupo, Sarees telativamente tarde na China e em outras parlony ies estes direitos ainda no conhecem a. propriedady fags individual entendida no sentido ocidental da palaven A aistingao fundamental do dieito romano entre o' funda ; icie, aparece. O St. van Ossenbruggen estabelece como esta nogid do fonds funeionay gm dizetos tio primitives como certos direitos congolesosy © ainda funciona na Malésia, na China, no Isl fonds nao ¢ outra coisa sendo a terra incorporada ao. lay S270, 2 anticrese, a locagio perpétua, o empenho da parte de terra, a retrovendico do ‘uso do solo funcionam dante nicamente na China, © qual o contrasenso que existe om supor que haja neste’ pais verdedeiras yendag Grande niimero de idéias engenhosas sio semeadas de Passagem: a “casa dos homens” (casa comum) seria a cage See itis: 0s ritos agrérios corresponderiam a. proprics fade, © a Tavragem solene do imperador chinés série ug {ato juridico ao mesmo tempo que religioso; as relacoes dp Srsito administrativo e do direitopredial seriam muito prt ©F, Année scicopiaue, v.23, p. 25 mn ALIDADE ARCAICA 391 jocesslténcia a que 6 relegada a propriedade mobiléia; thas dade ® das casas morfologicas tais como a fuses, tegyilddes 4 China, em Roma, 380 as principals Lease te6ricas deste trabalho, 15] “Mauss aflorou os problemas referentes as crengas da aia € aos prenomes numa série de seus cursos em 106 60 Aqui estdé uma nota onde ele os resume* As creneas atribuides 4 alme-prenome ¢ a seu nasci- i certamente existem em pais ‘hi, provavelmente sc, pani, © certos rites sio ao menos seus vesting nt Pais banto, IA COIARIDADE RELIGIOSA EA DIVISKO DO MACROCOSMO] (1933) ** Dirci simplesmente das palavras para marcar 0 pro. gresso que Garnet faz e também o progressn fizemos. No_momenio H. da_seu trabalho sobre a daremitinca da mao dire, trtava'e somente dx weak da repartigao das coisas em dois Jados, entre duas maos. A ues: que Granst lores eae Tepartigao de todas as Shut £m dois hemisferios simétrcos. E preciso, portent: SBNE a da simetrin-€ da Reterogencidade destan duge vay do espago, iprsde i muito cheguei & conclusio que pressupd aiuele que Granet acaba de nos expor (falo de 1900; oe Tre, tabu no & exclusivamente aquilo que Hong owt jideta e aquilo em que, em suma, todos nds poteame ‘quando falamos da_n« -O sistema de-tabus,-€ antes ivo-de circunstincias, de regras € um edificio de condigies ¢ Acabastes de vélo agora mesmo. Um exemplo: Simiand, assumireis a Presidéncia do jan. lar: vossa esposa estaré ite de vés, © & esquerda de vossa “sposa, € vossa direita, porque estais diante dele” Vistes como 0 problema das disposigdes reciprocas s@) coloca além do problema da simples ‘Separagao, 4 Ha muito tempo lecionei sobre a etiqueta na casa mal- eonsianeeg We, isis Ou menos do tipo’ chinés. 9 Constato ainda este ano em meu curso sobre etiqueta polingsi dwar, Geet SANE Go Annuaire de YEcote des hautes étude, rari, eit et pair oa Soma ea ge Baal oP, Grant oat Sedge ‘ me Mas no é tudo. Gragas as colepbes de documentos de Hertz ¢ aos dltimos trabalhos de Best, eu estava em melhores condigdes para fixar as coisas. Creio que fomos ‘no s6 demasiado simplistas neste caso da caracteristica Ine perativa do tabu e do sagrado, mas ainda que, por erro, Tomos excessivamente ritologistas ¢ ficamos por démiais pres, ‘cupados com as pratice “0, Prosresso que Granet fez & 0 de pér mitologia ¢ “tepresentacio” em tudo isto. De fato, a série de posigGie , de diteita © de esquerda — alto e baixo, centro, ex terior ¢ interior, etc. — ocupa entre os Maoris, dos quais artira Hertz, lugares muito mais considerdveis do que Herts Percebera. Portanto, mesmo a propésito dos Maori, Granee fem raza, Estas maneiras de pensar e de agir 20 mesmo tempo > atts; comuns #-umra-gramctssima-massa humana, Greet sabe — visio queTios une um vinculo-de-int abso- uta — que atualmente quando penso nessas questées, de dunia geal da civlizago, vejo cada vez mais que os tages Pouco no somente a0 préhist6rico indo- hinés, mas ao proto-hist6rico e mesmo a0 histérico chines: Jé comuniquei a um piblico bastante vasto um pequeno trabalho sobre 0 escaravelho, sobre o mastro de cocanha € eobre as nodes referentes aos espacos que a cles esto Higadas. Anotarei ainda de maneira particular as relagGes entre a espiral, a grega, a sudstica e as diferentes partes do or Partin bem: i Partindo daf, 0 problema se torna diferente; além da linica divisio entre diteita © esquerda aparecem todas” as Outras divisées espacials. Considerai, ao mesmo fempor-os Platios ‘alto € baixo, & frente ¢ atrds: é isto que se deve ereeber se se quiser descrever a maneira pela qual toda usta Parte da humanidade raciocinow. E 6 preciso acrescentar ta suplemento bastante longo & anilise de Hertz, por uma rato, muito simples: € que entéo o individuo e a comunida Contam uma, mas ts dimensées, diresbes, seispélas (com freqiié ‘camente) ou até mesmo ‘centro cosmogrifico (campo, ‘mundo, mundus etrusco-romano).” Atit letividade, dos individuos, do. indi em complexidade, em variedade, mas nao em principio uela que supSe a simples diviséo do trabalho éntre ie © fizemos do I MENTALIDADE ARCAICA 393 jaucs como Robert Hertz a considerou ¢ por abstragio a justificou, Tore 1hos, 405, PrOprios Maoris, € 0 que prova de maser spite parte fds uma série de nogées'¢ de rites; assim Tint a Precions inslituisio de representacio material, oH ok, sa. Os tiki heitiki esto muito. em Ffetivamente, so crocosmo sob forma de ‘noss0s antigos i 40 homem “correspondem” seres, coisas, acontecinersor peuneceemundo. Portanto tudo se reparte entre “podere “nio apenas da direita e da esquerd: Bilxo.¢ do alo, de frente detrés, em cortelagho Corr one parittl-modo queno_préprio_pensamento’ maori, dé age Fo alto itz, £6 Ba preeminencia da direita sobre a esqus: Hojalta Sobre o Baixo, ete, se se considera o todo ate {do se se considera a correlagao das partes do todo, ¢ cialmente a dos individ i, esta nogio de “preemi- cnet gave Cranet critica deve dar lugar 8 nogao de porte, © qualidades correlativas sta consideracao das representagées, e das representa: fitge Gomplexas é, com efeito, explicativa com relagio bes cactus Herta e eu estudamos de maneita demasiadamecs: exclusiva, Neste ponto, Granet ainda tem razzer relo que esta maneira de representar o mundo ¢ as re- eine uatbes coletivas que dominam o mundo dos ritos ¢ re coisa absolutamente ‘efetuiamos 0 esforgo cor Quanto a isto, além das causas de nossa deticiéon Mninha, hé causas que sio normais e outras que was mais: entre elas, a morte dos melhores. dente’ ox Particularmente de Hertz. Mas resta-nos um mitélo ENSAIOS DE SOCIOLOGIA justamente Granet. Havia outro, no menos penetrante que le: era Hubert. Empenho-me em suprir a falta de Hubert © em ajudar Granet, mas nao fago aquilo que poss. De fato, as demonstragdes de Granet ajustam-se mui extamente fos passos de Czamowski sobre a nocio de espaco. Espero que acabaremos tendo tima obra sua acerca do assunto. Mas ‘6s vos lembrais, sem diivida, de uma comunicagao que ele nos fez. Os melhores fatos que nos expés para explicar 0 famoso “‘figado de (este admirével monumento da adivinhagao Tatina — digo propositalmente latina) $40. fa- tos tchuktchi, e os outros, ainda melhores, sio fatos chineses, A cesta seqiiéncia poder-se-iam acrescentar outros mongdis 6 0s do mundo fino-ugriano, de todo o Nordeste da Europa, Tyg, Afestd todo um conjunto de pesquisas, de trabathos que tém de vinte a trinta anos. Os antigos resultados estao para 16s ultrapassados, mas esto ultrapassados a partir deles mes: mos. Aqui € que podemos dizer que somos verdadeiros cien. tistas. Quando passamos da divisio das fungSes em_duas, como Hertz, & consideragao de sete posig6es-no-interior-de uma espécie de esfera, nao. rejeitamos aquilo que Hertz des. cobriu, mas the acrescentamos algo, e quando Granet afirma que a nosio de polaridade religiosa talvez. seja especifica a certas populagdes, podemos dizer: sim © no, porque se trata, no momento em que Hertz escreve, de uma polatidade ext ‘tremamente simples, de dois pélos somente, e de uma nolo >, da religiéo extremamente restrita — a nogo do sagrado. Mas, ‘no momento em que aquilo que reima-¢-um-complexo de osigées, de poderes ¢ de purezas 20 mesmo tempo — niig a do poder sem a pureza ou do poder sem a posigio — entio a simples direita-esquerda se emprega como um si elemento do todo. Entretanto, ela continua essencial. Tomemos um um musulmano. Ele se caracteriza pelo fato de s com a mio direita © s6 se serve da mio quem quer que sej @ esquerda. Mas isto € caracteristico: um drabe 6 um mem que 86 sabe comer com a mio dircit aquilo que Hertz mao direita continua valido com relagio a este problema, Hé outros casos, que so casos extremos, onde sf0 \siderados no somente o ego ¢ sua posiglo, mas onde se vam também em consideracao todas as outras posicoes, 98 outros seres, coisas e acontecimentos com relagao a oul j coisas: onde aquilo que esta minha direita, esté a esqt | Para a pessoa colocada diante de mim; onde aquilo que 7 alto para mim € baixo para outros, e assim por diante, El | vamente, devemos deter-nos diante da consideracéo do | junto das coisas, das representagdes © nio de tm $6. de representapées. E devemos prestar atencao as rel da representaio com a pratica, e nao somente ao da pritica, MENTALIDADE ARCAICA 395 Creio que neste ponto Granet e eu estamos de acordo. ‘Tal é a maneira de explicar-yos como esté assegurado 0 de_ senvolvimento destes problemas e também como o ponto de partida permanece 14 onde Hertz, Durkheim e todos. nds © fixamos. ICATEGORIAS COLETIVAS E CATEGORIAS PURAS] 934)" coke 2 ee Confesso preferir ater-me as posigSes de tese do Sr. Serrus diante de nossa Sociedade em vez de referir-me a sua ‘obra. Encontro ai uma expresséo e um sentido mais direto dos fatos do que numa discussao filoséfica — ‘por exemplo, 4 de Husserl — e portanto permanecerei no terreno, por ele mesmo escolhido, da psicologia da inteligéncia e da lingiiistica. 1. Lingiiistica. Ainda que o Sr. Serrus se tenha refe- rido aos melhores lingiiistas, a meu mestre Meillet, a meu amigo Vendryés ¢ a outros, parece nfo levar em conta nem as velhas € ainda muito boas tradigdes como a da “pala- vrafrase”, corrente no tempo dos romanos, ne lises ferais ou especiis de Sapir e-de Boas, sobretad noms se fefere”a¢-Inguas-noFeamertcanss, “Ee denice vain, do campo escolhido ter-The-ia permitido evitar a expresso “linguas sem verbo", e ter-lhe-ia dado o sentido que sincera- mente procurou adquirir a partir da sintaxe e da morfologia unicamente das linguas indo-européias. Tomemos um exem- plo: um cntico de danga (representado por um mito ou conto e um ritual importante, arunta e loritja, centro austra- Jiano) consiste em duas palavras indefinidamente repetidas: kwaia_kwaia, wai kwat it irma, égua.” (Duas irmas vo ao ribeiro tirar ‘gua, um deménio apodera-se de uma delas,) Nenhum verbo, mas aquilo que o substitui: os sentidos, os tempos, os atos le uma tal frase, a0 longo do mimo (elas vio buscar agu luma estd na gua, etc.) so numerosos; mostram a brutalidade © a simplicidade de expressio de uma multiplicidade de sen- tidos atestados pelos temas do mito, os passos da danca e as insist8neias do cdntico. Ao contrério, as mesmas tribos tém grande quantidade de férmulas orais onde 0 verbo ser € fortemente empregado, em particular sob a forma de n0- Panaria, ser constantemente (arunta, amitide misturado com loritja), intensive (mas substantivo’ infinito) marcando. até ‘mesmo a eternidade, em patticular a dos antepassados toté- tmicos. No fundo, toda a andlise sin linguas deve ser fei SoSSi ott geo Me ume comunionto. doo. sera ta poole ge Fintaligence et la lingustigue’, ‘sttatsa-ao Hee Seles rrengatue de phiiosophie Se Bs, © “396 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA conclui-se destas observagtes, que facilmente podem ser mul- Tiplicadas, que os esforgos de expressao nestas Iinguas — as tinicas que conservaram tragos primitivos ‘complexo, afastando-se oul aproximandose consideravelmente —» des ipos superiones de lingugem. Sem divide, em toda parte trata-se de proporgées diferentes de tal ou tal sintaxe, de tal morfologia em tal lingua, entre os falantes, segundo | a8 idades dos falantes, etc. Nao s6 as “montagens intelectuais | variam através das Iinguas e eas, mas variam através > | de todas as refragdes diversas dos individuos, das classes-€ ddos sexos dos membros das sociedades. F disto concluo que, se € justo dizer com o Sr. Serrus que hha algo de “prelogico”™ — preferiria dizer com ele “substancialismo mistico” —na anélise racionalista das linguas, néo € menos verdade dizer que este racionalismo substancialista nio é estranho — nao importa © que se possa dizer, alids — as manciras mais ais simples que se conhecem de pensar ¢ de dizer — pois em todo tempo sio extremamenie prenhes de sentido. " multiplicidade categorias.. cos, endo sime ), Plicidade:’ eis, em nossa opini90, © ponto de partida. Foi a partir deste centro de divergéncia que “caminhou 0 pensae mento”, para falar como-nosso-caro saudoso Meyerson, @ como, em sua esteira, fala 0 Sr. Serrus. ‘Mas por onde-caminhou este pensamento, em que meio real? Aqui € que se julga de fato necesséria a intervenga0 da sociologia. Nos individuos? Na cadeia dos individuos? mais do que os seres discretos, as mulld6es conde as coisas se passam. Por conseguinte, os. dadas_psico= ©) légicos sé0 0s do°possivel mental. Eles nao tém forga nem. + “Aquilo que os realiza, aquilo que Thes d& fore aquilo” que os particulariza — que faz, BOr exemplo, com que o chins ¢ as Tinguas polinésias pensem QD) _tudo.s08'a forma sexo, e nio tenham palavra, artigo, pronome ‘para exprimi-lo, a0 passo que a maior parte das linguas ine do-europtias conhecem os géneros, mas nao pensam- mais, nas hierogamias de seus astr6logos e alquimistas > que categoriza, digo, so as sociedades © sua histéria. .”.inttadatbiidade: dee” Wnguas, a das mentalidades, hheterogeneidade das sociedados, das familias de povos, das reas © das camadas de civilizagio. As categorias. vivem_¢ ‘morrem com 08 povos e seus diversos contributos. “/— Pedimos que se nos conceda aqui um instante. samos té1o provado para o género, para o tempo. Ne amigo Czamowski tenta prové-lo para o espaco; Dut provou-o, cteio, para a totalidade. Nos comegamos provi pela substancia, e indicamos aqui mesmo um comego de “personalidade”. A época atual dissolve no tas”, € 0 Sr. Serrus concorre para estas destrul , antes dela, muitas outras “Idéias”, como teria dito ‘nico, morreram. Destino, assinaturas, correspondénci ,\ a sto_de_tipo_ MENTALIDADE ARCAICA 397 harmonias so agora palavras vas. cada uma destas categorias, de idade, de valor, de forma ¢ de ‘matérias diversas, suas relagées entre si na Iégica, na na ciéncia, na arte, na técnica, na economia, em tudo, varia com © funcionamento das sociedades. E verdade que nio hé nem gramética pura nem légica pura; existem as das de_que-dispunham. ‘Mas hé — no obstante a abstracio relativamente vé- lida, mas s6 provisoriamente valida do Sr. Lévy-Bruhl — em toda a Iingua, em todo o simbolo escrito ou nfo, figurado cou ngo figurado, pensado ou mesmo apenas subconscientc, em toda maneira_d pensar_—_e_ todos_supcem_no homem_a vida em comum — hé sempre ao_lado_de uma légica imposta,_prévia, &s_vezes_animista, outro_valor.F. uum valor “comum”, pois quem_diz. simbolo, diz. significacdo comum para os individuos — naturalmente agrupados — que aceitam este simbolo, que escolheram-mais_ou_menos arbitrariamente, mas com unanimidade, um rito, uma crenca, um modo de trabalho em_comum,um-tema musical, uma danga. Em todo o acordo hé uma’verdade subjetiva ¢ uma verdade objetiva;e. em tida_a_sequiéncia de acordos sit bélicos,um_mfnimo de realidade, a saber, a coordenacao destes acordos. E mesmo se ias_ de simbolos 86 correspondem imagindria e arbitrariamente as coisas, cor- respondem ao menos as pessoas que as compreendem e nel créem, e para as quais_servem de expresso total concomi- tantemente destas coisas e de suas ciéncias, de suas I6gicas, de suas t€enicas, ao mesmo tempo que de stias artes, de suas afetividades. E quando se trata das técnicas © mesmo das aries — origens das citnctas-mil-vezes mais evidentes do ue 0s ritos — seus simbolos tém sempre algum valor, visto que elas tém como fiador 0 efeito técnico ou estético procurado. III. Histéria da Idgica e I6gica ideal. Esta visio so- iol6gica_da hist6ria_dos conhecimentos humanos e de sua concatenagio légica permite-nos agora focalizar o ultimo pro- blema; a conclusiordogidlica que n6s mesmos procuramos. .. amelin, como Durkheim, como o Sr. Serrus. bolicos da representacdo conduz-nos, creio — estou certo disto — a um modo as 08 probs Durkheim_¢ nés_cremos ter demonstrado_ que s6-hd simbolo. porque hé comunhfo, e que o fato da comunhio cria um uulo-que pode dat a ilusio do real, mas que ja € do real, O juizo, quando-é~o- de uma coletividade, tem esta “qualidade Spee so eal a0 Henos Bie mano, € de poder-sempre~corresporder a algumia coisa, Parir-deste-principio, podemse generalizar algunas. obser. ‘ages © aprofundar o problema sem deixar o dominio dos sociedades com seus ilogismos-e-suas Iinguas“a-carrear mais ‘ou menos aquilo que clas podem ter pensado com os meios “ na lingua, 8) ‘Uma consideragio sociolégica de todos os elementos sim-+ 398 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA [ fatos, da histéria conereta. Bem entendido, a sociologia & espécie humana. Mas, como a psicologia,-v€-outra” cols ~ sicologias diferenciais de povos e de estas psicotogias coletivas' diferentes, nensas” See \% ) thaneas~xs"mabeeas,as-dancas" vation -coni oe as “Tamifias de povo. O’Sr. von Hombostel, 0 Sr. Curt Sachs dizem a este respeito coisas excelentes. Nossa misica nao € mais do que uma mésica, E, no entanto, existe alguma coisa que merece o nome de “a’misica”. Nao € aguela de nossa “gramética musical”, mas esta entra naquela. “Passa 4 mesma coisa com todas as grandes ordens de Fatos so ‘Nossas cincias sto efémeras e caleidosc6picas e, no en. tanto, existe “a ciéncia” ¢ sua logica. Nossas técnicas muito poderosas e muito variaveis neste momento de acordo com nossa vontade — demasiado estagnadas, demasiado ia. cionais e locais outrora — tém em toda parte os mesmos fundamentos, ou cientificos (mecinica, ct. _(einoboténica, etnozoologia, ete). Exist direitos © as ‘morais_tém_um fundo humano, a5" gramiticas {¢ 85 ldgicas t2m outro. Mesmo a mistica a poesia existe Lomo tais, em geral. basta dizer que este fundo comum esté ai porque os modos gerais ‘do pensamentosio-obra de" homens; € pre dizer” que-esté-at porque seus modos si — mesmo diferentes a obra de "homens a ctiat-se representagbes Go ‘muns e @ dar assim ja um passo rumo i racionalidades por ie estes homens © no éxtase — comue ‘A grimatica pura, a l6gica pura, a_arte pura esti nossa frente © nao airés de nés. B. M. von Mornbostel, “Musik der Makuschi, Taulipens. ‘im RochGrinberg, Veh Roraima rum Orinoceo, Parte_da_antropologia e pdstula a_unidade~(relativay—da~ 10. Algumas Formas Primitivas de Classificagao CONTRIBUICAO PARA © ESTUDO DAS REPRESEN: TAQOES COLETIVAS (1903)* Emile Durkheim ¢ Marcel Mauss que nos fez tomar como simples ¢ clementares operagdes mentais que na realidade so muta complexas. Sabemos agora de que multiplici tos é formado 0 mecanismo em viriude projetamos no exterior, Yeager ao mando cingao <6 mui raramente foi aplicado as operagses.propris. mente Tigicas. “As faculdades de" definir, de deduzit de-in- |

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