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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL

GILVÂNISSON RAFAEL SANTOS DE LIMA

DITADURA E SERVIÇO SOCIAL:


Uma análise do serviço social no Brasil pós - 64

MACEIÓ- AL
2022
GILVÂNISSON RAFAEL SANTOS DE LIMA

DITADURA E SERVIÇO SOCIAL:


Uma análise do serviço social no Brasil pós – 64

Trabalho apresentado para a obtenção de nota AB2


disciplina de Fundamentos do Serviço Social III, do curso
de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas,
sob a orientação da professora Sandra Barros Lima

MACEIÓ- AL
2022
Análise: Autocracia burguesa e o “mundo da cultura”

Partindo da análise do texto, a gente já consegue perceber que as


transformações no Serviço Social brasileiro começam partindo do ponto de mudanças
econômicas, sociais e políticas. José Paulo Netto nos remete, nessa obra, as origens
culturais e a formação dos processos da época ditatorial de 64, faz-se com isso, uma
forma de refletir até nos problemas que os acadêmicos sofreram nesse período.
Manifestações culturais aconteceram de forma autêntica, e mesmo com toda repressão
e violência, o processo cultural não foi interrompido. Netto, na primeira parte do seu
livro, busca explicar a sociedade política-cultural no golpe de abril de 64 para que
entendamos as mudanças sociais e as mudanças no Serviço Social.
A autocracia burguesa, em seu processo, acaba enfrentando “o mundo da cultura” ao
longo de sua vigência, que gerou, em face disso um aglomerado de procedimentos que
alternam ao largo de três lustros, e assim buscam a visão de um objetivo que é a
necessidade de controlar o país.

Diante disso, a gente percebe que a política cultural pressupõe a erradicação de


pontos negativos na esfera social e política, sendo eles; a erradicação do analfabetismo,
o combate à miséria e a exploração, o acesso à meio de comunicações livres de
censura, padrões de participação social efetiva, etc. que se dá no mesmo que a
definição e efetivação de uma política cultural qualquer, que comparece diretamente e
necessariamente todos os problemas que possam a ter ligação direta com a reprodução
social como processo geral e abrangente. E paralelamente, somente como
simultaneidade o equacionamento e resolução destes problemas, é que a partir daí se
pode começar a caminhar e encaminhar todas as questões culturais específicas.
Portanto, trata-se nesta perspectiva de trabalhar e ensinar a questão da política cultural
diante do tecido social e político vivo. A pretensão de juntar e colocar em prática as
especificidades e características da questão cultural simultaneamente ao
equacionamento da problemática compassada da vida social, que se dá a partir do
dilema da coerência dessa política cultural com o conjunto de das políticas sociais que
dela fazem parte.
A partir daí, nota-se que o estado, não tem interesse e nem produz cultura, uma
vez que a produção cultural está deslocada dessa sociedade política, sendo benefício
direto pertinente de personagens que se movem de modo direto no espaço da
sociedade civil. Sendo assim, apenas indiretamente essa intervenção projetada do
Estado, pela mediação política cultural, pode ter efeito e incidir na produção direta de
cultura.

Diante disto, a partir de uma determinada complexidade, a dinâmica do “mundo


da cultura” tem como insuprimível força motora originaria ao confronto de livres
posições, a contradição do processo duradouro parcial e aproximativo no envolver da
prática social. Uma das linhas de força política cultural precisamente aquela tipifica o
seu movimento conservador, e constitui na ampliação e adensamento para manter essa
tara elitista. Mas, por outro lado, a ditadura não podia se contentar apenas com a
reprodução do viés elitista, pois o processo da cultura brasileira era necessário.
Procurando conservar e entender aquele viés, investir na criação de um bloco cultural
compatível com a sua projeção histórica-social “modernizadora”, organizada em duas
frentes; reprimir as vertentes no “mundo cultural”, apontando para a ultrapassagem da
massa elitista, estimulando aqueles que contribuíam para sua cristalização; induzir e
promover a emergência de tendências culturais funcionais ao projeto “modernizador”.
A primeira face da política cultural reclamada pela autocracia burguesa, foi a face
repressiva, vinda de um obscurantismo congênito à dominação burguesa. Já a segunda
face é face indutora, promocional, que consiste em alimentar tendências, que lhe
assegurem, na melhor das hipóteses, tanto uma efetiva legitimação ideal, quanto a
ausência de contestação concreta, garantindo-lhes a contribuição de quadros técnicos
e científicos.

A política cultural da ditadura, na sua implementação diferenciada, violenta e


repressiva, sempre conjugou essas duas tarefas em combinações diversas, com o
predomínio da sua intervenção “positiva”.

O controle do “mundo da cultura” variou as providencias, expedientes, recursos


e os métodos, porém sempre se manteve nítido seus objetivos; compelir residualidades
as vertentes críticas e nacional popular e privilegiar as tendências funcionais da
“modernização conservadora”.
Na busca do controle do “mundo da cultura” alimentadas pelas tensões entre a
sua própria dinâmica e as exigências da autocracia burguesa, potenciadas pela
resistência democrática e pelo movimento popular, as colisões e contradições entre o
regime autocrático e o “mundo da cultura” jamais foram erradicados. Estes são os
poucos indicadores dos limites do projeto de controle do “mundo da cultura”
implementado pelo Estado autocrático burguês.

Os analistas, apesar das suas diferenças políticas e de suas opções teórico-


metodológicas alternativas coincidem na verificação de que ouve um giro uma
mudança qualitativa e estrutural no trato da educação por parte da autocracia e que
este giro ocorre entre 1968 e 1969. Em termos breves, há como que uma espécie de
umidade em reconhecer pelo menos dois momentos enfrentamento da ditadura com
a educação: um entre 1964 e 1968 caracterizado especialmente pelo esforço para
erradicar as experiências democratizantes que se vinham desenvolvendo: outro a
partir de 1968-1969 marcado pela intervenção direcionada para modelar pela política
educacional o sistema institucional do ensino conforme as exigências imediatas e
estratégicas do projeto modernizador.

Inúmeras investigações mostram que desde o início do golpe de abril no interior


da coalização que empalmou o poder, já se tinha definida a “filosofia” para a política
social no terreno da educação não foi essa “filosofia” que variou a mudança registrada
em 1968-1969 foram as condições que permitiram levá-la à pratica. Com efeito, a mais
manifestação da alteração na demanda foi a evidencia do agravamento da crise do
sistema educacional. Crise que vinha de longe, que não fora travada e menos ainda
revertida sequer no instante de auge inicial da industrialização pesada e que se
acentuara na entrada dos anos sessenta, sendo constatada no censo escolar
projetando num dos últimos governos constitucionais e levado s cabo de 1964 pela
ditadura, porém não é esse cenário que compele a um novo encaminhamento
habilitado a concretizar a “filosofia” educacional da autocracia burguesa o que
precipita a nova equação são as incidências políticos sociais que arrancam deste
estrangulamento.
O emergir da educação como prioridade por razoes imediatamente política,
acompanhada por estudo e analises do estrategista do regime, torna patente por outro
lado que a autocracia é imperativa uma inteira funcionalização do sistema educacional
os dilemas que sua crise, então afiada, traz à tona não são suscetíveis de com o
ataque emergencial sofrer reversão expressiva. Em 1964 e1968, a política
educacional da ditadura materializou a sua intenção de controle e enquadramento
implementado praticamente a destruição de instrumento organizativos do corpo
discente, promovendo um clima de intimidação no corpo docente e muito
especialmente, reprimindo com entusiasmo as propostas experiências, movimentos e
instituições que ensaiavam ou realizavam alternativas tendentes a democratizar a
política, o sistema e os processos educativos, vinculando-os as necessidades de base
de massa da população.

Em 1964 se fez sentir sobre inúmeros protagonistas do cenário educacional, e


é entre 1968 e 1969 que o regime autocrático burguês golpeia centralmente o conjunto
de instituições do sistema educacional. São indissociáveis na inflexão da
implementação da política educacional o terrorismo de Estado e a reformulação
estrutural do sistema de ensino: a lei 5.540 que institui os princípios para organização
e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola media não pode
ser pensada separadamente da especificação do AI5 ao sistema educacional através
do decreto-lei 477 de 26 de fevereiro de 1969 e sua regulamentação através das
portarias ministeriais. O aparato legal de que a ditadura se valeu para edificar o seu
sistema educacional primeiro no âmbito do ensino superior depois no do ensino de 1º
e 2º graus e do supletivo e ainda no quadro das suas (fracassadas) campanhas para
combater o analfabetismo bem como a realidade educacional por ele engendrada já
está bastante averiguada.

No ensino superior, a introdução da “lógica empresarial” conduzindo a vida


acadêmica a um patamar antes desconhecido de burocratização teve por efeito uma
racionalização segmentar que derivou numa irracionalidade global. Mas a política
educacional da ditadura para o ensino superior não se submeteu a orientação dos
interesses do grande capital apenas contendo o acesso a graduação e reduzindo a
adoção de recursos públicos, liberados para investimentos capitalistas privados
extremamente rentáveis a educação superior sob autocracia burguesa transformou-
se num “grande negócio”.

O êxito que acreditamos a política educacional da ditadura reside


especialmente na neutralização que mencionamos visível nomeadamente e este é um
dos aspectos que mais interessam ao objetivo no esvaziamento da universidade. Esta
universidade esvaziada, igualmente apta a produzir profissionais afeitos a lógica
formal burocrática que preside aos ordenamentos tecnocráticos na mesma escala em
que modela atores orientados pela irresponsabilidade social do cinismo esta
universidade que um juízo mais duro talvez não vacilasse em considerar domesticada
e corrompida foi a obra do regime autocrático burguês.

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