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ESA ”

1
Servico Social brasileiro:
cenarios e perspectivas nos anos 2000

Ana Elizabete Mota*


Angela Santana do Amaral**

1. A cultura profissional sob o legado da tradição


marxista

Ao longo dos últimos trinta anos, o Servigo Social brasileiro


consolidou uma referéncia tedrico-metodoldgica e politica que vem
alimentando a cultura profissional e o idedrio da profissao: o projeto
ético-politico profissional.

* Doutora em Servico Social pela PUC-SP e professora titular do Departamento de Servigo


Social da UFPE.
do Departamento de
** Doutora em Servico Social pela UFRJ-RJ e professora associada
Servico Social da UFPE.
MOTA * AMARAL
30

' trata-se de um projeto


asmesimc
Como afirmamos em outras oc' o e teórico-metodoló-
iniciado no final de 1970, cujo peso ".ieoP-’z Sy | estratégica para a
gico determinou a opção por uma direga o ofissional, na for-
profissio com profundas refraqéef no e),(ª-ª a dos assistentes sociais,
mação profissional e na organização polític
. . ico 14l não
Social nã se Tes trinja aos
Embora o projeto politico do Serviço e regulamentação da pro-
instrumentos formais e legais, como a lfª' d stca profissional e os
fissão, as diretrizes curriculares, o código de = ot kit
mecanismos de fiscalização do exercicio Prºfls;liiçõe/s
dasolidar
prática e
U
força material que, para além de favorec'ezj as co!
da formação profissional, contribui declsív?men : r};s TEAA
uma cultura profissional marcada por prinu_ploS, val lo S d.
teórico-metodológicos que abraçam a teoria manlªllfª;n gy
da ordem capitalista, o human%smo, o in.temacwna 1:am ki
sociais e a radicalidade democrtica, os quais fundamen %
e medeiam — sob condigdes histéricas precisas — a relagao entre a
realidade e a profisso.
Dado que são amplamente conhecidas as condigdes sob as quais
esse processo se realizou historicamente, vale ressaltar que a. expe-
riéncia e as particulares conjunturas vivenciadas pela categoria pro-
fissional ao longo das trés últimas décadas foram marcadas por
transformagdes e contextos societários que afetaram significativamen-
te a totalidade da vida social e incidiram direta ou indiretamente
sobre a profissio.
* As mudangas na ordem social capitalist
a produziram novas
demandas profissionais, ampliaram
os espagos sócio—ocupacionais,
modificaram as condições de trabalho,
exigiram a incorporação de
sólid os fundamentos para adensar
a formação profissional e desa-
fiaram as práticas organizativas
dos sujeitos profissionais,
Tudo
isso foi operado em um curto
espaço temporal, se considerarmo
s
que, em menos de um quarto de
século, em uma conjuntura histórica

1. Referimo-nos ao texto “Profissão: projeto profissional e Projeto societário


” publicad,
na Revista Inscrita, em 2009. -
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO Ell

marcada pela reestruturagio produtiva do capital,? as conquistas e


avangos da profissao passaram a integrar o cotidiano profissional
eacadémico do Serviço Social, seja através de aportes que permitem
a problematizagio critica dos fenomenos sociais contemporéa-
neos, seja oferecendo respostas profissionais portadoras de opgoes
ético-politicas.
Nesse contexto, a duradoura ofensiva do pensamento burgués
no que se refere à fragmentação e a fetichização da vida social, por
um lado, e reatualizagio das priticas e ideologias conservadoras,
necessdrias a reprodugio do capitalismo contemporéneo, por outro,
produziram um brutal esvaziamento da compreensdo critica da so-
ciedade, mediante o estimulo a anilises superficiais da realidade e à
necessidade de dar respostas imediatas, de efeito “útil” ou prético a
estes. Alids, um traço histórico da reprodução social capitalista, que,
na perspectiva lukacsiana, revela, desde 1848, a trajetoria da “deca-
déncia ideolégica da burguesia” (Lukács, 2010), ora robustecid@
novo espirito do tempo (Lyotard apud Netto, 2012) materializado
nas construcdes do pensamento pés-moderno.*
O Servigo Social não ficou imune a essas tendéncias mais gerais
da ofensiva das classes dominantes e de seus intelectuais que tentam
socializar, a todo custo, seus interesses particularistas de modo a
tornd-los universais, generalizando-os para toda a sociedade. Essa é
a razão pela qual a profissao tem sido instada, permanentemente, a
redefinir suas estratégias e táticas para enfrentar as problematicas
emergentes, seja no plano do exercicio, da formação profissional
stricto sensu, no ambito da regulação da profissao, da produgao de

2. Concordamos com Dias (1999), ao afirmar que [...] “todo processo conhecido como
reestruturagao produtiva nada mais é do que a permanente necessidade de resposta do capital
as suas crises. Para fazer-lhes frente é absolutamente vital ao capital — e aos capitalistas —
redesenhar nio apenas sua estruturagio econdmica”, mas, sobretudo, “reconstruir permanente-
mente a relagio entre as formas mercantis e o aparato estatal que lhe dá coeréncia e sustentação”.
3. Sobre o tema, ver o instigante ensaio de José Paulo Netto no posfácio a segunda edição
de Estruturalismo e miséria da razio. NETTO, J. P. Posfécio. In: COUTINHO, C. N. Estruturalismo
¢ miséria da raziio. 2. ed. Sio Paulo: Expressio Popular, 2012. Igualmente, o já clássico livro de
Harvey, Condigiio pds-moderna. HARVEY, D. Condigio pds-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.
MOTA « AMARA,

ial, onde se inclu em as


: u mesmo no sp! lano macrossocial,
onh ecimentos 0
. icul: ações com
arnul; as lutas sociais. " "
sintético balango histérico-cr itico "
das conquistas pro-
mum s
fissionais,
issionais, recordemo-nos
Congressode que o exauriment? dª_ditad?fa nos
da Virada; a organizagio politica g,
fortalece.'u comlº ,Zuga politizagdo da ABESS (pcosteriormeme
calºªgí] en: Íef(c))%ma curricular de 1982 implicou a ressignificação
:: Éonsl,lho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e c.los Conselhos
Regionais de Assistentes Sociais (ÇRASÍ) (o atual‘ c.on]unto CFESS/
CRESS), transformando uma organização bur?cratlca em espaço de
exercício da política, permitindo-nos construlrllínovos e rel"IOVadOS
meios de afirmação do projeto profissional crmco' que prima por
combater as dimensões do conservadorismo da sociedade brasileira
e do Serviço Social.
« Todavia, é acertado lembrar que o conservantismo ora mencio-
nado, como expressão de uma vertente de pensamento que tem na
“miséria da razão” (Coutinho, 2012) o suporte intelectual para reite-
r;;o’;ensamento da ordem, nunca deixou de operar no ambito da
profissio, facultando a Netto (1996, p.112) o alerta de que “o conser-
vadorismo, nos meios profissionais, tem raizes profundas e se enga-
na quem o supuser residual”.
Com efeito, o esforgo de uma vanguarda intelectual para com-
preender a dinamica da sociedade brasileira como parte do movimen-
to real das classes e da sua relagdo com o Estado levou grande parte
da profissãoa sintonizar-se com as necessidades das classes subalter-
nas e, portanto, a mobilizar referéncias e propostas criticas para
en-
frentar expressoes da questio social. Em sintese, é esse o terreno
no
qual se consolidou o Servigo Social: vinculado ao pensamento
de base
critico-dialética, cuja recorréncia, nos termos
de Netto (1989), é quase
compulséria’ para compreender a dindmica
da sociedade burguesa.

4. Referendamos a posição do autor de que a neces


tradição marxista não significa, neces
sidad e do confronto aberto com a
sariamente, a automatica e imperativa
No entanto, se nos apresenta como interlocut adesão a esta
or privilegiado e inalienável no campo tedri
-cultural na contemporaneidade, co-
-
CENARIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVICO SOCIAL BRASILEIRO 3

Como já afirmamos, a despeito dessas conquistas que fizeram


do Serviço Social uma profissão legitimada e enraizada no conjunto
c!a sociedade, suas bases teóricas e também sua dimensão interven-
tiva vêm sendo atingidas, nesta primeira década do século XXI, com
0 avanço de uma outra ofensiva neoconservadora, a qual não reedi-
ta nem a forma, nem o conteúdo da vertente modernizadora nasci-
da na reconceituação, em oposição à tendência de ruptura (Netto).
Mas, igualmente, produzem tensões, negações e oposiçõesà direção
social da profissão, sob os influxos das posturas idealistas, pragmá-
ticas e/ou empiristas.
Emblemática e analogamente, podemos afirmar que, se na déca-
da de 1970, a vertente modernizadora ancorava o enfrentamento da
pobreza na mediação do “desenvolvimento de comunidade” como
estratégia de desenvolvimento social, a partir dos anos 1990, prolon-
gando-se na primeira década dos anos 2000, as vertentes neoconser-
+

vadoras relacionam a píbjªzf_qu_eªão'soªl, mas o fazem ressig-


nificando-a, ou seja, “numa operação ideopolitica exitosa, a burguesia
e seus intelectuais imprimem novos significados à questão social,
dentre eles, a sua redução às manifestações contemporâneas da po-
breza” (Mota, 2012), afastando-se da relação entre pauperização e
acumulação capitalista, como tratada sob a perspectiva da crítica da
economia política. Em consequência, hipotecam seu enfrentamento
às políticas ativas de combate à pobreza, desta feita, mediadas pelo
ideário do novo desenvolvimentismo.
Ao considerar as conjunturas que emergiram a partir dos anos
1990 — a década do desmonte da Nação — e dos anos 2000 —, as
décadas da restauração ideopolítica e econômica do capital —, no
campo do Serviço Social também é possível identificar os rebatimen-
tos particulares desse movimento cultural e teórico que tem repre-
sentatividade política de esquerda, mas “epistemologia conservadora”,
desaguando no ecletismo político e teórico. Sob essa forma, advoga-
-se a possibilidade de enfrentar a pobreza, mas tangenciando os in-
conciliáveis projetos das classes sociais fundamentais, e que — quan-
do considerados — são tornados muitas vezes opacos, nublados e
36 MOTA * AMARAL

tratadas como exigências de ajustes e reformas, contribuindo para a


manutenção da hegemonia dominante.
Também nos parece interessante apontar que após esse longo
período de êxito neoliberal, os debates crescentes sobre a “crise do
neoliberalismo” impõem o esforço teórico-crítico para desnudar as
novas configurações desse processo. As políticas de austeridade, as
práticas gerenciais inovadoras, a proliferação do setor de serviços, as
novas modalidades de emprego e contratação, a dinâmica das cidades
e a gentrificação dos espaços, a degradação ambiental, entre outros
elementos, foram aprofundados e ampliados, exigindo-nos uma per-
manente compreensão e análise dessas mudanças.
Os elementos contraditórios que emergiram da programática
neoliberal e, consequentemente, do projeto societário global que se
pretende universalizar mobilizaram correntes de pensamento em toda
a América Latina com o intuito de elaborar e difundir uma posição
crítica ao neoliberalismo. Todavia, a alternativa patrocinada pela
maioria dos governos considerados progressistas se faz mediante a
proposta do neodesenvolvimentismo, cuja máxima de tal pensamen-
to e ideologia centra-se na defesa do crescimento econômico com
redução da pobreza, através das políticas compensatórias.
Sob essas condições, articula-se uma nova ofensiva ideológica
dirigida à periferia do capitalismo dependente, onde se reforçam
aa I T .
valores
Vvaloresee concepgdes
concepgoes relativas
reativa as possibilidades de mobilidade social,
€12
a0 aumento do consumo da nova classe média que emerge dessa etapa
de desenvolvimento, ao crescimento do emprego formal, as oportu-
rlid:qdes de qualificagao da forga de trabalho, entre outros.
Os argumentos dos defensores dessa proposta social-liberal®
acreditam na reversao da contrarreforma do estado, sob a miragem
de que é possivel mudar, por dentro e negocialmente, a privatizagao
do estado e ampliar sua intervengao pública mediante o fortalecimen-
to das politicas sociais, especialmente as de satde, previdéncia e

6. Para um exame mais completo sobre essa discusséo, ver CASTELO, R. O social-liberalismo.
Auge e crise da supremacia burguesa na era neoliberal. São Paulo: Expressio Popular, 2014.
Í
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO n

educação, imaginando que ainda estão em disputa as diretrizes das


reformas neoliberais já consolidadas.
Por outro lado, as conjunturas concretas em que se inserem tais
proposições estão inseridas na dinâmica capitalista mundial contem
-
porânea, cujo contexto é de intensa austeridade orçamentária, cortes
nos gastos públicos, ampliação da acumulação por despossessão (grifos
nossos), ondas de desqualificação profissional, consolidação do desem-
prego permanente e aumento da desigualdade social (Harvey, 2014).
No Brasil, os recentes cortes orçamentários promovidos pelo
governo Dilma Roussef terão fortes impactos nas promessas de for-
talecimento das políticas sociais e na geração de emprego. Em setores
estratégicos da economia, responsáveis por impulsionar o recente
crescimento econômico, os reflexos das medidas de ajuste já são vi-
siveis, a exemplo do que ocorre nos setores naval e da construção
civil. São milhares de trabalhadores desempregados atraídos pelo
ideário de mudança nas condições de vida e de ascensão social e que,
agora, engrossam a superpopulação relativa.
A configuração do Estado social-liberal nos termos de Castelo
(2013, p. 122) “muda apenas os aspe
do ctos
neoliberalismo para pre-
erv esséncia”. Na verdade, a despeito de todos os indicado-
res positivos ressaltados como resultado do desempenho da economia,
permanecem intactos os pilares que dão sustentagio a reprodugio
ampliada do capital. A superexploracdo da força de trabalho e as
constantes dentincias sobre as condições de vida e de trabalho daque-

de renda aliados a renda do capital se constituiram em instrumentos


fundamentais para a concentragao de renda durante as décadas neo-
liberais. Ao mesmo tempo, dados oficiais revelam que, em 2014, 97,5%
dos empregos criados no mercado formal de trabalho pagavam até 1,5
salario minimo (conforme Biancchi; Braga, 2015).

d TR A
MOTA * AMARAL
38

proces-
poont
Do pont vista do Serviço Social, o que emerge desse
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nTafii?esiE@fi ieflqsoci_a}. i f
mente,
— Especial estamos nos referindo à necessária transfom)léçãº
s programáticas
das competências profissionais forjadas pelas nova
a formé de um
das políticas sociais, transformações estas q_ue tomam
conjunto de saberes que devem ser concebidos como co-nhemmentos
científicos, objeto de sistematizações, transmissão geracional, profis-

ceitos e termos passam a ser incorporados à cultura profissi


acadêmica para responder as problemáticas sociais emgçge_rx_ªl cons-
tituinemdo-se
supostas “teorias setoriais” portadoras de capacidade
heuristideca, conceitos de fa-
que são exemplaresas referências aos
mília, “resiliência”, empoderamento, empreendedorismo, acolhimento
social, qualidade de vida, entre outros.
No nosso ensaio “Reestruturação do capital, fragmentação do
trabalho e Serviço Social” (Mota e Amaral, 1998), publicado na cole-
tanea A nova fábrica de consensos (Mota [org.], 1998), afirmávamos que
o discurso da humanização do trabalho e do direito do cidadão que
permeou a cultura política nos anos 1980 foi substituído por novas
palavras-chave: o compromisso do trabalhador com o cliente-consu-
midor, a qualidade total dos produtos e a produtividade e competi-
tividade das empresas.
Naquela reflexão, mereciam destaque alguns tipos de demandas
profissionais que correspondiam às modernas práticas empresariais,
e os exemplos eram aqueles que tinham interface com a ampliação de
atividades no setor informal, tratadas como alternativa ao desempre-
80 e/ou à complementação de renda familiar, os programas de qua-
lificação e requalificação dos trabalhadores, o estímulo à estruturação
de negócios próprios, as modalidades de economia solidária etc.
Objetos de intervenção e de formação de uma cultura de adesão
e de consentimento do trabalhador, tais práticas extrapolaram o
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEIAS DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO EJ

âmbito de atuação exclusiva das empresas, como nos mostra a reali-


dade, reforçando a tese de orientação gramsciana, exposta no ensaio
“Americanismo e fordismo” (2001), de que a hegemonia nasce da
fábrica, sendo necessária apenas uma quantidade mínima de
inter-
mediários para se irradiar a todo o conjunto da sociedade.
A rigor, a
experiência fordista, base material da ideologia americanista, expõe
uma das expressões históricas mais significativas da unidade entre a
esfera da produção e da reprodução social, cujas questões centrais
permanecem válidas e fundamentais para compreender a atual dina-
mica da acumulagio flexível do capital e da contrarreforma do Estado
das classes dominantes.
Quase duas décadas depois de Reestruturagio do capital, fragmen-
tação do trabalho e servigo social (Mota; Amaral, 1998), observamos que
as demandas mencionadas nesse ensaio passaram por transformacdes
substantivas, sendo as mais emblematicas as mudangas no mercado
e nas competéncias profissionais dos assistentes sociais na grande
empresa, em face das redefinicdes dos setores de Servico Social’ como
parte das politicas de recursos humanos, atualmente nomeadas de
“gestao de pessoas”, como trabalhado por Botio Gomes (2015).
Igualmente, identificamos uma ampliagio do mercado e das
demandas profissionais para o ambito da “intervengio social” das
empresas, fundagdes ou consórcios empresariais, especificamente nos
setores de “responsabilidade socioambiental”, como estudado por
Cesar (2008), no livro “Empresa cidadã”.
Outrossim, as demandas relacionadas à formagio da forga de
trabalho, a qualificacao e a requalificagao profissionais foram redi-
mensionadas (Amaral, 2005), sendo praticamente inexistentes de-
partamentos especificos das empresas, posto que vieram a se cons-
tituir em programas públicos ou em parceria publico-privado, res-
ponsaveis até pela expansao dos ensinos técnico e superior. Desta

7. Sobre o tema, consultar a tese de doutorado de Marcia Regina Botão Gomes, Servigo
Social nas “consultorias empresariais”: entre o avango da profissio e o retrocesso das condigbes de tra-
balho, orientada por Dra. Lucia de Barros Freire, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2014.
MOTA * AMARA,
4o

issional aos assiste


feita, o redire
e c'iemandzlft’:;il: aos usuários (selelçl;xeoS
sociais se dá em funç㺠Íie ª.tiVIdªilesziZompanhamento e avalíação):
íser_lção de taxas, ííª;ífgãl:aíf;çãlo das questões relativas à requa.

frí;flf;;ção profissionais, qufª. também sa'er'n do âmb?tº


?iªêcl';;;:':g espaço sócio-ocupacio-
ara o da Previdência Social,
consideravelmente os postos de trabalho para
:Zí :Tep Ír;a;líu
a5515;::
i ociais.
t:::diz respeito a inclusao pr(?du'fiva,.ao.e@};'reendedori'smo

mgmfica' Yamentg, }nte


¢ a0 autoemprego, tais agoes se ampliaram
soclais, redefu:undo
grando-se as diversas modalidades de programas
a relaga.o do
a divisio socioinstitucional do trabalho, fortalecem.:lo
as parcerias com as instj-
Estado com o setor mercantil e estendendo
tuicdes do terceiro setor.
Em suma, o que fica evidente é a incorporagdo, pelas politicas
públicas, de uma série de iniciativas que nas.cem das necessidades
imediatas da produgdo capitalista, mas transitam para a esfera do
Estado, como necessidades de “toda a sociedade”. Representativa
desse processo é a ampliação permanente do exército de reserva e do
precariado,® determinados pela redução de postos de trabalho e/ou
“multifuncionalizagio” de tarefas — uma tendéncia da produgéo capi-
talista stricto sensu — cujos trabalhadores “sobrantes” e “precarizados”
se tornaram alvo das politicas ativas de trabalho e renda ou de pro-
gramas de transferéncia de rendas, sem que se visibilize a determi-
nagao social dessa metamorfose que, ao promover o apagamento da
responsabilidade da empresa capitalista, constitui-se em objeto de
politicas sociais financiadas por contribuintes-trabalhadores.

8. Segundo Ruy Braga (2012, p.18); o precariado é o proletariado


precarizado, composto
de trabalhadores que integram o que Marx nomeou de superpopulagiio
relativa, excluido o lumpem-
proletariado, em permanente transito entre a possibilidade
de exclusio socioecondmica e o
aprofundamento da exploragio econômica.
9. Referimo-nos à superpopulação relativa de que fala
Marx, composta por um conjunto de
8rupos heterogéneos, abrangendo uma multi
facetada populagio de trabalhadores que se
contram tanto desempregados ou parcialmen em
te empregados. (Maranhio, Cezar Henrique.
2008, p. 104).
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVIÇ
O SOCIAL BRASILEIRO

Essa metamorfose é mediada por processos diversos


— de al

enquanto uma totalidade concreta, a despeito de atenderem a neces-


sidades reais que afetam as classes trabalhadoras no seu cotidiano
de vida e trabalho.
Nessa dinâmica, ganha sentido a tendência de tratar os fenôme-
nos sociais contemporâneos sob uma perspectiva autônoma em face
das suas determinações (um exemplo disso é a questão da violência,
das discriminações
de gênero e etnia), operando redefinições de pro-
blemáticas e meios de enfrentamento que têm repercussões na divisão
sociotécnica do trabalho, gujos especialistas depositamno exercício
de competências técnicas o êxito dessas iniciativas.
Segundo essa hipótese, o Serviço Social não estaria isento de
participar desse processo, particularmente no que diz respeito à cen-
tralidade que passa a ter a lógica gerencialista nos processos de ges-
tão e implementação de programas e projetos sociais que, ao super-
dimensionar a utilização de metodologias de ação uniformizadas e a
definição de procedimentos profissionais padronizados em manuais
deorient intervenção, tendem a imprimir um caráter tecnicista
à ação
à profissão. Na esteira desse processo, tem primazia a produção do
conhecimento aplicado e instrumental, que esvazia a pos:
de saturar a realidade de mediações necessárias para compreender
as reais necessidades subjacentes às demandas sociais.
O contraponto a essa tendência tem sido a ofensiva do CFESS/
CRESS, com a definição de parâmetros de atuação profissional em
MOTA * AMARAL
a2

iação dos grupos


com a criag P!
algumas dreas, e as iniciativas da ABEPÍelntos tedrico-politicos para
A " osiciona :
temáticos de pesquisa e seus P! rocesso formativo e sua
identificar os Énós críticos” que ameaçam O P
perspectiva de totalidade. rodução capitalista em expres-
a
— A diluição i ades dare
das necessid =
da rep mente, 08 novos fenômen os e
\ent 0S novos
e, e
sdes fenoménicas, afastando defm:2 videncia um nítido
abandono do
ê istórica, e —
Rrocessos da'suage%al
gê a partir das suas macro-
étodo que identifica o movimento alapa %
Eoorquem ss processo.
om Cria-se, assim, um
determinações e das contradições em processo:
A e ee tismo, enquanto vertente de pensa-
ambiente que favorece o pragmatismo, eapr
ser tes-
só podem By
isa de de q que as teorias divbssed
mento que se apoia na premissa
F. i í
tadas pelas suas consequéncias: donde'o peso
conhecimento aplicado e da recusa da ideia de certeza ' e dlflsº. b
2005) — parecendo-nos ser essa a expressão concreta das tendências
globais, com amplos rebatimentos na profissão.
Dados o quadro sócio-histórico brasileiro, a particularidade do
Serviço Social, a configuração das políticas sociais contemporâneas e
as respostas que os profissionais têm dado no âmbito das políticas
sociais, o pragmatismo se encontra com o traço sincrético do Serviço
Social, constituindo-se, no momento atual, em uma alternativa teóri-
co-profissional à perspectiva legatária da tradição marxista, que, a
partir da intenção de ruptura, tem dinamizado a elaboração de sólidos
fundamentos para compreender os processos sociaí_s.
A preocupação com a consequência prática das respostas às
problemáticas sociais contemporâneas e aquelas que incidem nos
comportamentos dos sujeitos visando alterar sua conduta prática
reatualiza a “velha” psicologização da questão social no âmbito da
profissão. Ao fazer isso, os profissionais tendem a tratar tais
proble-
máticas como uma questão moral, renovando-se aqui os elementos
reprodutivos da ordem social.
Aqui, esses elementos de reiteração da aparência,
via valorização
do empiricismo e de reposição da racionalidad
e instrumental, des-
bordam para as universidades, aparecendo
sob as formas de modelos
de gestão, mestrados profissionais, estudos
avaliativos e aplicados,
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVIÇO SOCIAL BRASI
LERO *

entre outros, operando refrações no sentido e na direçã


PA o da univer-
sidade" e, igualmente, na formação profissional."
Çom esse direcionamento, o caldo dessa cultura profissional do
SeWÉço Social no século XXI parece enaltecer a dimensão técnica do
Serviço Social — não menos importante —, mas insuficiente para
pensar a realidade e a dinâmica social contraditória gerada pelas
relações sociais capitalistas, subtraindo sua dimensão intelec
tual e
produzindo, paulatina e tendencialmente, um esgarçamento entre
a
formação profissional (crítica) e o exercício profissional (conservador).
Essa nova vaga do conservadorismo que não se explicita como
negação da orientação e dos fundamentos marxianos, mas pelo mar-
xismo funcionalista, pelo método da escolha racional, pelo pensamen-
to pós-moderno e por uma espécie de novo sincretismo (Maranhão, 2014),
refrata no projeto de formação profissional crítico, apartando a crítica
da economia política do método e da teoria da revolução, criando um
nªarxismo sem sujeito revolucionário e uma realidade sem história.

2. O protagonismo do Serviço Social e suas


possibilidades objetivas: lutas e resistências

Como exposto anteriormente, são profundas as transformações


econômicas, políticas e sociais em curso e notórias as suas incidências

10. O redirecionamento da educação superior no mundo e no Brasil, em particular, vem


sendo pautado pelas diretrizes de organismos multilaterais, sendo operado pelas frações bur-
guesas dos países periféricos, na perspectiva de adequar a educação às necessidades do mer-
cado. Novas questões se colocam à universidade nesse processo: a missão de formar compe-
tências individuais, em contraposição à formação universalista e coletiva; a inserção
internacional, mensurada, principalmente às publicações em veículos reconhecidamente im-
portantes, do ponto de vista da ciência e da tecnologia; a preocupação com os ranqueamentos,
que induzem à competitividade; a captação de recursos dos docentes; a busca por inovação,
traduzida na capacidade de articulação de seus pesquisadores com as empresas.
11. Estamos nos referindo especialmente às tendências de desespecialização e desprofis-
sionalização presentes nos conteúdos e estruturas curriculares mediante a flexibilização dos
currículos, das metodologias de ensino, entre outras iniciativas.
MOTA * AMARAL
a6

eja no campo da esquerda (a


categoria, S
dissensões no interior da profissiona|
iência, .no P lano da regulacao
exemplo do exame de profic
istência SO cial, no ambiente académico),
e da crítica da política de ass inegavelmente,
ºmº
asê téroidaoebexercitar
orizen ate sóbreo
seja no de setores c?ns?rf/adoreâiílzlfícªl
acidade de EAA
pluralismo Éomo prlvnapno e 'a p 'a
e a cap . á
essas questões tem tido o mérito
d.aium;m-pedagq_
profissional, investindo, taticamente, nge/xew_
' "
gica da Emfisgão.
vigo SO‘?lal brasileiro cons-
Embora a cultura profissional do Ser
ulte exercitar um papel inte-
truida nas trés últimas décadas nos fac , em
sen tid o gra msc ian o), é necessério ter clareza de que
lectual (no
ªleºer
momentos de regressão politica, é preciso acumltxlar forças, fº.rtf
nte os mel_ºS que possibilitem
principios e redefinir pedagogicame s
ico-metodológica e
construir uma unidade entre as diretrizes teór
fissional.'2
políticas e o campo do exercício pro
relações de forças presen-
Avançar na perspectiva de análise das
s articular
tes na sociedade, acompanhar o movimento das classe e
rminações mais gerais da di-
os elementos de realidade com as dete
c-
nâmica capitalista contemporânea significa apostar no papel intele
li-
tual da profissão, o que é condição para estabelecer o debate qua
ficado e competente com o intuito de fortalecer a tradição de inspi-
ração marxista no Serviço Social, e recusar, com sólidos argumentos,
a postura antimarxista e anti-intelectual que se constrói, molecular-
mente, entre amplos segmentos profissionais.
Afora os desafios práticos operativos que se revelam, muitas
vezes, sob formas de obstáculos e desalento profissional, traduzidas
nas precárias condições de trabalho profissional, impõe-se fortalecer
o atual ue o Servi ial ocupa no espectro politico-profis-

12. Aqui cabe lembrar os ensinamentos gramscianos de que os elementos desta cultura
estão organicamente vinculados aos processos societdrios mais amplos e, portanto, as disputas
classistas. Nesse contexto, a anilise de correlagio de forgas indica que as classes dominantes
dispoem de uma fileira de intelectuais e intermedidrios que se antecipam aos momentos de
crise e formulam projetos, criam prticas e politicas capazes de trazer para suas trincheiras s
saidas provis6rias para o acirramento das contradigdes.
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELE
JAS DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO
é

s%onal & principalmente, na produção intelectual no campo das ciên-


ES SIO.ClªlS,
iais 13
sob pena de reproduzirmos
" - ——
as práticas empiricistas,
sincréticas e imediatistas confrontadas pelas vanguardas profissionais
e cuja hf!rança encontra adeptos que, apoiados em outras teorias, me-
todologias e ideologias,
disputam os projetos societários e profissionais.
7 A necessária clareza sobre as dimensões presentes no Serviço
Saocial brasileiro (constituindo-se mesmo em uma particularidade
continental e mundial), suas particularidades como profissão
no
interior da divisão sociotécnica do trabalho e sua expressividade
acadêmica, constitutiva de uma área de produção de conhecimentos,
revela — nestes anos de pós-modernidade e regressão da razão crí-
tico-materialista e dialética — um considerável acervo de pesquisas
e produções bibliográficas que podem ser consideradas de resistên-
cia ideológica e teórica ao conservadorismo intelectual do Brasil dos
mªs_;mo.
No sentido de ampliar o campo das lutas, resistências e propo-
sições, o que nos parece central sinalizar é a possibilidade de investir
em novas problematizações e formulações — para além do que já foi
realizado, resgatando, nos planos intelectivo e prático-operativo, as
“lições de maioridade” derivadas do estatuto profissional, acadêmico
e intelectual do Serviço Social como uma das principais armas de
enfrentamento do conservadorismo.

3. Os novos rumos profissionais: por quem os sinos


dobram?

Se considerarmos que as questões objetivas e as tendências ex-


postas neste texto têm pertinência, cabe-nos advertir sobre a relevân-
cia e o espaço que têm ocupado o pragmatismo teórico-político e o

113. Sobre as particularidades do Serviço Social brasileiro, tematizado como profissão e área
de produção de conhecimentos, consultar Mota, A. E. Serviço Social brasileiro: profissão e área
do conhecimento. In: Katdlysis, Florianópolis, v. 16, número especial, 2013
MOTA * AMARAL

48

a pro sional,
fisSocial.
esco lha r acional na culturServ igo
a e
_marxismo funcionalist— da
: ded esquerda do -
minando o protagonismo intelectual
conjecturamos que o maior
sofensivalda
Ex
Embora a conj untu ra seja adver slªr. .
; i ileiro ..-
“fogo amig; o” do Servigo Social brast : ibil idades de con-
esquerda cons erva dora que, acre dita ndo nas pzs: clet ismo .
* ” á l, oper isio nism o P
o — termina por .
ciliar o inco
i nciliáve op a um revisiont
ta de conciliação/
político que — por desconhecimento ou op6ã
propos taTE
€€ COLS
no ambiente acadêmico e profissional uma
relativizagao com e da ordem. çá o do
tic a, o que oco rre é um a ressigni ficagao da direçã
Na pré ando de seus propósitos
e
projeto ético-político p rofissional, pinç
pondem pela totalidade
princípios aspectos e formulações que na o res
uma sup! osta frente ampla em
da direção estratégica da profissão, sob
defesa do projeto ético-politico.
eristicas da pratica politica
E preciso saber distinguir as caract
sub alternas e setores
ante as necessidades imediatas das classes
pauperizados, das formulagdes teérico-metodolégica
s e projetais
a ordem social,
que, vincadas pelo idedrio de construg 30 de outr
fenomenos,
permitem apanhar criticamente a imediaticidade dos
es e
identificando (como tratamos nos idos dos anos 1990) as relago
determinagdes subjacentes a capilaridade das demandas, descons-
o,
truindo-as enquanto objeto de conhecimento e não as cristalizand
exclusivamente, como novos objetos de intervengao, como postula
o pragmatismo responsavel, entre outros, pela “fetichizagdo” de
exigéncias técnico-profissionais e pela tendéncia de tecnificagao do
Servigo Social brasileiro.
—> Advém dai a preocupação emdemarcar as distinções entre a
dir_ngrª interventiva, comprovadamente objeto de fecundas sísg?-
%?É e campoda implementação de estratégiase táticas refe-
ríxgaldªp_ejg,p;ojegg ético-político profissional que Permitérfi por
em movimento direitos sociais, politicas, lutas e práh'cáá sociais, e a
Pºíl“,iª_ª_ªº,'"ª—ºªl (onde se incluem a prática profissional e a
formação), cuja relaçãode unidade com1.real
a idade não supõe a

subt raa çã
da relativ o da profissão nem a possibilidade
autonomia
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO
o

de e construçdeãoum conhecimento
to organicamente vinculado à crítica
dos meandros e fet
fehches que permitem a produção mgrod
e ugao dª
s&aedade burg esa.
O exercicio da sempre relativa autonomia profissional (lamamoto,
2007, p. 415; Mota, 1985, p- 129; Mota e Amaral, 1998, p. 42) é um
esforgo continuo que evidencia os limites e as possibilidades da in-
tervengao. Se, do ponto de vista da inserção do profissional de Ser-
viço Social nos processos e relações de trabalho, temos o estabeleci-
mento da relagao de controle e subordinagio, a natureza da relativa
autonomia técnica e tedrico-politica do profissional requer outras
mediagdes, afora a das relagdes de trabalho.
Referimo-nos a mediação das consciéncias individual (lasi, 2006)
e coletiva do sujeito profissional, ao dominio das categorias ontoló-
gicas e reflexivas explicativas dos fendmenos e ao conhecimento das
suas manifestagdes objetivas. Também, ao dominio institucional-legal
das politicas e aos processos a estas relacionados, cujas competéncias
profissionais para operar sinteses, proposi¢des, articulagdes e nego-
ciações (compativeis com cada estégio de dominio do objeto e per-
meabilidade socioinstitucional) são uma exigéncia teórica e operativa.
Somente sob essas condigdes pensamos ser possivel ampliar,
enriquecer e saturar de determinacdes as demandas profissionais que
emergem da complexa e contraditéria conjuntura de uma visao his-
térica e da critica radical.
Na auséncia dessa competéncia intelectual, que requer reflexao,
estudo, pesquisa e dominio de informagdes sobre a realidade, ganham
projecdo técnica a avaliagao e o julgamento dos resultados da ação
que, quase sempre, recaem na constatagao da impossibilidade de
utilizagio da teoria social critica, de inspiragao marxiana, para tratar
os fendmenos contemporéneos. Isso ocorre porque alguns profissionais
procuram na teoria marxiana inspiração para orientar ou instrumen-
tallzar mndmfanwnh’ as demandas profl;smna.bdn.dm_a_dm Assim,
atéad\ogam a pertinéncia do marxismo para explicar as macroestru-
l’uras mas praticam o praj namp e 0 empirismo para “J,LLQLJL&
requisitos da agao, sem mediagoes de qualquer ordem.
MOTA * AMARAL
EM

Todavia, é necessário recordar: as mediações não se pre —ªf—n—ª


indicativas
mecânica decomposição do todo em partes, tomadas como 'contnb'um-
de operagdes pratico-operativas. Se assim 0 for, estaremos
do para, em rota inversaao que defendemos, algar o Serviço S(?Cl_ªl a
setores e ativida-
uma profissao tecnicista, subsumindo-a, em alguns
des, ao empirismo, ao pragmatismo e até a0 oportunismo Pomi'c‘?/
uma nova dníl-
criando justificativas para que, de fato, seja fundada
são técnica do trabalho. Desta feita, entre os que pensam € estão
alojados na academia e os que executam, compreendidos como
aqueles inseridos no mercado de trabalho profissional.
A magnitude dos desafios postos pela atual conjuntura repõe,
da socie-
no plano político-profissional, a relação entre o movimento
práti-
dade, a dinâmica intelectual da profissão e os requerimentos
do
co-profissionais, produzindo inflexões significativas na trajetória
que,
Serviço Social, entre elas, uma nova ofensiva conservadora
conforme afirmamos anteriormente, por meio do pensamento pós-
-moderno, do pragmatismo e do ecletismo, insiste em reduzir o
projeto profissional a sua viabilidade prática, tecnificando-o e impri-
mindo uma racionalidade e instrumentalidade negadora de seus
princípios e propósitos.
Quiçá, a insuficiência de reflexões que auxiliem a identificar as
mediações da dimensão política da prática profissional favoreça a
ofensiva neoconservadora no Serviço Social. Isso se daria, como afir-
mamos, mediante a valorização das avaliações de resultados das ações
— o que seria um procedimento típico dos processos de avaliação e
monitoramento técnico —, obscurecendo as necessárias avaliações de
processos e mecanismos sociopolíticos que têm potencial para trans-
formar aspectos da realidade com a contribuição da intervenção
profissional.
Indiscutivelmente, parece-nos que a questão de fundo é a neces-
sidade de conduzir as reflexões sobre o sentido e a direção do projeto
ético-político da profissão com a firmeza e o rigor teórico-metodoló-
gico que as análises da realidade nos impõem nesse momento, até
mesmo depurando seus usos e abusos.
CENÁRIOS, CONTRADIÇÕES E PELEJAS DO SERVIÇO
SOCIAL BRASILEIRO
E

Ademais, os confrontos e resistências intelectuais e políticos que


sex?lpre fizeram parte das lutas cotidianas das vanguardas profissio-
pais — haja vista o legado da dimensão política da profissão ser uma
das principais conquistas da chamada “intenção de ruptura” — devem
se transformar em proposições que avancem no horizonte estratégi-
co da profissão na perspectiva de construir uma outra ordem socie-
tária capaz de sustar o movimento de “La nave va” da direção social
estratégica do Serviço Social dos anos 2000.

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