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HISTÓRICOS TEÓRICOS
E METODOLÓGICOS
DO SERVIÇO SOCIAL
Introdução
A perspectiva crítica se revela importante para a definição de estratégias
dos profissionais do Serviço Social direcionadas a segmentos sociais
diversos a partir de suas particularidades e individualidades, bem como
diante da possibilidade de movimentações sociais ideologicamente
conservadoras. Na contemporaneidade, as práticas desenvolvidas
para a equidade social indicam um posicionamento de inclusão da
diversidade pautada na valorização da construção identitária, cultural
ou individual dos sujeitos sociais. Ao mesmo tempo que fortalece a
dignidade humana dos sujeitos envolvidos no processo, pode causar a
retomada das perspectivas conservadoras pelos grupos sociais “centrais”,
que compreendem a diversidade como ameaça aos cenários sociais
estabelecidos.
Neste capítulo, você reconhecerá a importância da pesquisa, da
coleta, do levantamento e da análise dos dados para a intervenção
profissional na perspectiva crítica. A partir disso, compreenderá de
que forma é possível desenvolver estratégias de garantia dos direitos
da população LGBT+, negra e das mulheres de forma coletiva e não
2 Demandas emergentes e intervenção crítica
[...] o Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação como
especialização do trabalho. Questão social apreendida como o conjunto das
expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma
raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se
mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se
privada, monopolizada por uma parte da sociedade. A globalização da pro-
Demandas emergentes e intervenção crítica 3
dução e dos mercados não deixa dúvidas sobre esse aspecto: hoje é possível
ter acesso a produtos de várias partes do mundo, cujos componentes são
fabricados em países distintos, o que patenteia ser a produção fruto de um
trabalho cada vez mais coletivo, contrastando com a desigual distribuição da
riqueza entre grupos e classes sociais nos vários países, o que sofre a decisiva
interferência da ação do Estado e dos governos.
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas
expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho,
na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc.
Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver
sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem. É nesta
tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistên-
cia, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movidos por
interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir
porque tecem a vida em sociedade. Exatamente por isso, decifrar as novas
mediações por meio das quais se expressa a questão social, hoje, é de funda-
mental importância para o Serviço Social em uma dupla perspectiva: para que
se possa tanto apreender as várias expressões que assumem, na atualidade,
as desigualdades sociais — sua produção e reprodução ampliada — quanto
projetar e forjar formas de resistência e de defesa da vida. Formas de resis-
tência já presentes, por vezes de forma parcialmente ocultas, no cotidiano dos
segmentos majoritários da população que dependem do trabalho para a sua
sobrevivência. Assim, apreender a questão social é também captar as múltiplas
formas de pressão social, de invenção e de re-invenção da vida construídas
no cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas formas novas de
viver, que apontam um futuro que está sendo germinado (IAMAMOTO,
2000, p. 27-28).
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Você sabe como funciona a prática profissional do Serviço social em outros países?
Conhecê-la é uma etapa importante, pois permite elucidar questões, apontar caminhos
já explorados por outras sociedades e ponderar benefícios e pontos a serem evitados
na realidade nacional. Veja, como exemplo, o trabalho que reflete a interação entre
pesquisa e prática do Serviço Social em Portugal no link a seguir.
https://qrgo.page.link/Zd8q
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi instituída pela Organização das Nações
Unidas, em 10 de dezembro de 1948, e, a partir disso, o Brasil instituiu a celebração do
Dia Nacional da Inclusão Social. A celebração é símbolo da luta por políticas públicas
voltadas para a diversidade e o respeito às múltiplas identidades culturais do brasileiro.
Acesse o portal do Ministério da Educação no link a seguir para saber mais.
https://qrgo.page.link/KtwQ
A reatualização do conservadorismo na
contemporaneidade e a necessidade da retomada
dos valores associados aos direitos humanos
A América Latina vive hoje um processo releitura do conservadorismo em
níveis institucionais e também no tecido social. Após pouco menos de duas
décadas de ascensão de governos e políticas públicas associadas às esquerdas e
à social-democracia, as populações latinas vivem, atualmente, um processo de
reatualização do conservadorismo semelhante àquele observado nas décadas
de 1960 e 1970 em alguns segmentos sociais, como a classe média.
A leitura conservadora prega a centralidade dos valores tradicionais, como
a família patriarcal heteronormativa e o cristianismo, além da noção de meri-
tocracia associada à mobilidade social e à tensão de classes, e a naturalização
dos privilégios de classe. A novidade é que, em vez do catolicismo de meados
do século XX, são segmentos protestantes os centrais nas décadas inicias do
século XXI.
As leituras conservadoras tornam-se, aos poucos, extremamente nacio-
nalistas e autoritárias, não temendo usar a violência para a manutenção dos
valores conservadores centrais. O panorama torna-se excludente e coercitivo,
na medida em que os sujeitos sociais que não correspondem à homogeinização
branca-heteronormativa-cristã podem sofrer discriminação, sexismo, racismo,
transfobia, entre outras formas de violências, simbólicas e físicas.
É importante ressaltar que pertencer a grupos sociais privilegiados não é
um problema. O problema é a utilização de privilégios sociais para segregar
ou explorar sujeitos sociais externos aos grupos centrais. Por isso, após a
comemoração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em
2018, é essencial retomar a perspectiva crítica do documento e intensificar as
abordagens particulares à defesa e à promoção dos direitos humanos no Brasil.
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Leitura recomendada
CARDOSO, P.; DAL PRÁ, K. R. A intervenção profissional do assistente social no eixo de
planejamento e gestão: uma discussão a partir da experiência na coordenação de um
serviço de assistência social no âmbito da Proteção Social Básica. Textos & Contextos,
Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 129-141, jan./jul. 2012.