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SERVIÇO SOCIAL

AGDA ROBERTA MEDINA

PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL (PTI)

CONTEXTO SOCIOECONÔMICO E POLÍTICO BRASILEIRO, NO


PERÍODO DE EMERGÊNCIA DO SERVIÇO SOCIAL, ATÉ A
CHEGADA DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO, NA DÉCADA
DE 1960.

CATAGUASES
2022
AGDA ROBERTA MEDINA

PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL (PTI)

CONTEXTO SOCIOECONÔMICO E POLÍTICO BRASILEIRO, NO


PERÍODO DE EMERGÊNCIA DO SERVIÇO SOCIAL, ATÉ A
CHEGADA DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO, NA DÉCADA
DE 1960.

Trabalho de produção textual interdisciplinar


apresentado à Universidade Pitágoras Unopar, como
requisito parcial para obtenção de notas nas disciplinas
do 3º semestre de Bacharelado em Serviço Social.

CATAGUASES
2022
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................1
2. DESENVOLVIMENTO...............................................................................................3
3. CONCLUSÃO..........................................................................................................11
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................13
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1. INTRODUÇÃO

O Serviço Social enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do


trabalho tem sua origem determinada por fatores históricos, sociais e econômicos
delimitados na fase monopolista do desenvolvimento capitalista. O presente trabalho
propõe resgatar a trajetória histórica do Serviço Social, a nível macro e micro
societário com ênfase na particularidade brasileira, enfatizando o impacto das
transformações societárias para o processo de precarização que a profissão vem
vivenciando, em especial, a partir do último decênio do século XX com a difusão do
neoliberalismo e da reestruturação produtiva de caráter flexível.
Netto (2011) expressa que, “é somente na intercorrência do conjunto de
processos econômicos, sócio-políticos e teórico culturais [...] que se instaura o
espaço histórico-social que possibilita a emergência do Serviço Social como
profissão” (p.69). Entendemos que é através do reconhecimento da questão social,
por meio do Estado, que vai ser possível a emergência do Serviço Social enquanto
profissão, todavia este processo não ocorreu de forma imediata.
O presente portfólio vem realizar uma análise sobre o desenvolvimento do
Serviço social, enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho,
evidenciando os determinantes histórico e sociais que culminaram na sua
emergência, profissionalização e legitimação diante do desenvolvimento capitalista.
A análise se pauta também nas transformações ocorridas principalmente no
do século XX e na transição para o século XXI, no que leva a crescente relação de
precarização que a profissão vem passando por meio do desmonte das políticas
sociais e da desregulamentação dos direitos sociais sob a tutela do neoliberalismo e
da reestruturação produtiva.
Segundo Netto (2011), nesta direção, o Serviço Social conquista seu status de
profissionalização, quando passa por um processo de ruptura com as suas
protoformas de cariz filantrópico e religioso/doutrinário, esse processo de ruptura vai
se caracterizar quando os agentes começam a desempenhar papeis executivos em
projetos de intervenção que vão além das suas intencionalidades, adentrando em
atividades interventivas cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são
determinados para além do seu controle, caracterizando um afastamento das suas
matrizes originarias.
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A prática profissional era exercida expressando ações doutrinarias e


assistencialistas, como assevera Iamamoto e Carvalho (2007) “os relatos existentes
sobre as tarefas desenvolvidas pelas primeiras Assistentes Sociais demonstram
uma atuação doutrinária e eminentemente assistencial” (p.190). A ação doutrinaria
desenvolvida pela profissão, expressivamente nas décadas de 1930 e 1940, torna-
se funcional a inserção do Serviço Social pelo Estado, segundo Iamamoto e
Carvalho (2007) “[...] esse conteúdo não se constitui em entrave à sua assimilação
pelo Estado e empresas. Pelo contrário, essa formação é funcional as suas
necessidades[...]” (p.179).
O processo de renovação do Serviço Social, expõe Netto (2010), se
expressou em três vertentes que caracterizavam diferentes projetos profissionais do
Serviço Social em distintos contextos históricos, partindo da década de 1960 a 1980.
Como reflexo do desenvolvimento de novos projetos e ações profissionais tivemos a
perspectiva modernizadora, colocada como a mais conservadora; a perspectiva de
atualização do conservadorismo, expresso pela fenomenologia e a intensão de
ruptura, que dentre as três se evidenciou por ser a mais crítica.
A política social é tema central na formação profissional do assistente social e
constitui os lócus de sua intervenção. Este artigo tem como objetivo uma
aproximação com a construção histórica da relação entre o Serviço Social e a
política social no Brasil, através de uma revisão de literatura, o que possibilitou o
resgate dos elementos centrais de mútua influência construída no cotidiano
profissional. Esse movimento se apresenta de forma pendular com momentos de
identificação, afastamento e até mesmo negação, sem, no entanto, jamais deixar de
existir materialmente.
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2. DESENVOLVIMENTO

Conforme solicitado na situação geradora de aprendizagem, foram feitas


primeiramente as leituras dos materiais sugeridos e feita uma análise de todo o
contexto que cerca essa temática de extrema importância para o Serviço Social.
Embasado nas matérias do semestre, foram analisados os três pontos
norteadores, para o primeiro podemos nos fundamentar nas seguintes matérias
correntes: Acumulação Capitalista e Desigualdade Social, Estatística e Indicadores
Sociais.
As causas das crises econômicas capitalistas estão sempre ligadas a uma
pluricausalidade e função. Entre as causas mais determinantes, Mandel (1990) cita:
subconsumo das massas, superacumulação de capitais, a queda da taxa de lucros,
a anarquia da produção. O subconsumo das massas trabalhadoras acontece porque
os capitalistas inundam o mercado com suas mercadorias, mas os trabalhadores
não dispõem de meios para comprá-las.
É importante ressaltar que essas não são as únicas causas das crises, mas
certamente elas sempre vão contribuir para a sua eclosão. Mesmo porque, as crises
apresentam-se como eventos inerentes ao modo de produção capitalista, são
expressões de contradições próprias do desenvolvimento deste sistema. Nesse
sentido, não há dúvidas que sua função “é a de constituir o mecanismo através do
qual a lei do valor se impõe, apesar da concorrência (ou da ação dos monopólios)
capitalistas (MANDEL, 1990, p. 212).
Para Mészaros (2007), enquanto as crises periódicas ou conjunturais do
capitalismo se desdobram e se resolvem com maior ou menor êxito no interior de
uma dada estrutura política, a crise estrutural afeta a própria estrutura política como
um todo. Além disso, “ela afeta a totalidade de um complexo social em todas as
suas relações com suas partes constituintes ou sub complexos, aos quais é
articulada” (p. 357). Diferentemente de uma crise não estrutural, ela afeta apenas
algumas partes do complexo em questão.
É nesse contexto que se pode dizer que o processo de produção e
acumulação na era de crises vem colocando em risco as duas fontes de produção
de valor e de toda a riqueza produzida: a capacidade de trabalho e a natureza. No
entanto, é importante ressaltar que todos os traços predatórios e parasitários, assim
como a tendência à transformação das forças inicialmente potencialmente
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produtoras em forças destrutivas, já estavam inscritas nos fundamentos do


capitalismo e foram identificadas por Marx ao analisar o movimento do capital.
Em muitas cidades brasileiras, os poderes públicos diminuíram sua tarefa de
fazer cidades, deixando esse papel ao capital privado, reservando ao livre jogo do
mercado a ocupação do solo urbano. Em uma sociedade marcada por extrema
desigualdade, a maioria da população vê-se alijada do mercado formal de habitação,
do que resultam extremas periferias desequipadas como cinturão de abordagem dos
mais pobres às regiões metropolitanas, além de porções centrais deterioradas e a
auto segregação das elites. Tudo isso se visualiza em uma certa topografia social da
desigualdade.
Na Historicidade Brasileira, é perceptível a formação da sociedade em que as
oportunidades, desvantagens econômicas e social, organização social, formas de
sobrevivência e relações sociais eram distintas, destacando assim, dentro de um
contexto social.
Pereira (1977, p.101) ressalta que “o capitalismo mercantil, foi sempre o modo
de produção e dominação na formação social colonial. Assim, o que se via era uma
exploração de bens natural e humana, tendo em vista a já um sistema capitalista
europeu enraizado à serviço do capitalismo mercantil. Formando assim uma
sociedade de povos subordinados a uma elite mercantil, formando grupos pobres e
sem renda.
Segundo Siqueira (2009), até a abolição da escravatura, o Brasil já estava
povoado de pobres, caracterizando uma pobreza rural extensiva aos centros
urbanos. Numa sociedade marcada por extremos bem definidos, senhorial e
escravizados, a população livre e pobre, num processo contínuo de desclassificação
social, protagonizou a situação de carência, miséria e exclusão do Brasil colonial.
Com a abolição da Escravatura, o que se tem é uma sociedade ainda mais
dividida, é uma nova forma de subordinação, a qual, o Negro pobre e liberto, se viu
diante de um novo sistema capitalista a qual lhes obrigava a manter vínculos
semelhantes a escravidão, com os mesmos requintes de crueldade.
Fernandes (2005, p.35) destaca que em suma, a sociedade brasileira largou o
negro ao seu próprio destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidade de se
reeducar e de se transformar para corresponder aos novos padrões e ideais de ser
humano, criados pelo advento do trabalho livre, do regime republicano e do
capitalismo.
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Fernandes (2005, p.31), salienta que em uma nova ordem econômica e


organização social do trabalho, os ex-escravizados, tinha de optar pela reabsorção
ao sistema de produção em que se mantinha análogo ao trabalho escravo, ou ao
ingresso a massa de desocupados, mas, os negros, tinha ainda uma grande
concorrência, os trabalhadores nacionais e a mão de obra importada. Assim, se
compreende o quanto e a que condições de trabalho a população negra, “pós
libertação”, estariam sujeitos, em meio a uma sociedade altamente racista e
escravocrata. Assim, o que lhes sobraram é novamente servir a uma elite, branca e
com maior poderio econômico, mas, subordinado além de outros, aos interesses
econômicos e ao preconceito racial existente a partir de uma recente escravidão.
Não há de se negar as contribuições deste movimento para a exclusão social e
formação da pobreza no Brasil.
O crescimento econômico e ascensão social, parecia, portanto, uma utopia à
população negra, reafirmando-os a condições de pobreza e, os colocando em
situação de submissão. Destaca-se que este processo, criar e construí ao longo da
história uma massa populacional sem grandes oportunidades e uma grande
desigualdade social, que pode ser vista até aos dias atuais.
A formação social do Brasil, no que se refere a questões como exclusão
social, está enraizado no processo de formação da sociedade brasileira, uma vez
que o que se percebe, é que haveria dois lados distintos neste sistema, um
explorador a qual detinha o lucro e o capital econômico e outro, a mão de obra, mas
que tinha o mínimo valor possível, assim, formando os grupos sociais a qual se tem
até a atualidade, pobres e ricos.
Haveria, portanto, um desenvolvimento social e econômico no país a todo o
vapor, a qual movimentos da cidade e zona rural, se colocaram diante a conflitos de
interesses no que se refere ao desenvolvimento industrial, neste auge do
desenvolvimento econômico e social do Brasil, estaria a pobreza e as divisões
sociais.
De acordo com Santos e Araújo (2011, p. 44) “À medida que os processos de
industrialização e mercantilização se ampliavam, o modo de produção capitalista
tornava-se hegemônico mundialmente. Processo que resultou na instituição de uma
divisão internacional do trabalho desigual e hierarquizada. ”
Santos e Araújo (2011, p.44) ressaltam que “as melhorias nas condições de
vida operadas pela Revolução Industrial ficaram concentradas nas mãos de poucos,
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em especial dos grandes proprietários, comerciantes e setores pequenos da classe


média. Enquanto a maioria da população arrancada do modo de vida pretérita
passou a sobreviver em condições de miséria. ”
Assim, a imagem que ia se desenhando das cidades, apresentava-se como as
divisões de trabalho e o lucro, ou seja, de um lado empreendimentos, casas e
construções nobres, de outros vilarejos, cortiços, dentre outros, a pobreza se media
não tão somente pelo poder aquisitivo, econômico, mas também por sua localização.
Nas falas de Filho e Ávila (2019) o fenômeno do êxodo rural, reforça a
formação de periferias e favelas no país, ressaltando, portanto, a pobreza e formas
distintas de sobrevivência, o desemprego, empregos informais e formas ilícitas de
renda, ainda em precárias condições habitacionais, formando ainda populações em
extrema pobreza em situação de vulnerabilidade e risco social. Marca-se o fluxo da
pobreza do âmbito rural para o urbano.
Assim como ressalta Rocha (2013), há uma crescente aglomeração de pobres
nas periferias das metrópoles. O mesmo, ainda informa que neste período no Brasil,
a pobreza e desigualdade era algo distante de se tornar agenda política, ou seja,
não era discussão política para fins de criação de políticas públicas, desta forma,
seguiam enfrentando as mazelas do Estado e o pouco aparato a qual as instituições
de caridade proviam.
De acordo com Baiocchi (2011) para que a pobreza seja algo mensurável,
para que as autoridades desenvolvam programas sociais, é preciso que definam
uma medida, ou seja, uma conceituação clara.
A pobreza ou seu estado mais extremo, a extrema pobreza, é capaz de
produzir demais questões sociais, pois, o indivíduo ou família nesses contextos, não
gozam em plenitude dos direitos sociais, assim como não acessam com eficácia os
serviços públicos, ou tem portanto estes negligenciados pelo Estado, nesse sentido,
uma das principais consequência da pobreza é a exclusão social, que põem
determinada população à marginalidade, inserindo-o a situações de racismo,
preconceito, violências diversas, como também institucional.
Compreende-se que a pobreza torna o indivíduo excluído, e a exclusão social
cria um largo espaço entre este sujeito e seus direitos sociais, ou seja, as políticas
públicas e sociais, Educação, Saúde, Assistência Social, Habitação, dentre outros.
Havia portanto a necessidade de se criar normativas para essas garantias de
direitos, Segundo Leite (2014) a influência que as constituições e revoluções
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internacionais, dentre outros fatores, causaram no Brasil, mas todavia, é importante


ressaltar que o Brasil, mesmo depois de instituído a Declaração dos Direitos
Humanos, junto a seus pactos internacionais, retardou sua integração, aderindo
apenas muito depois da vigência dos mesmos, talvez por este motivo, caracteriza-se
por uma país ainda precoce em suas dogmáticas humanitárias. Sendo que apenas
com o advento da Carta de 1998, veio a adotar os princípios ditados pelos pactos
internacionais de direitos humanos.
Barroso (2013) destaca a forte influência do direito internacional, que se
tornou uma base de referencia a construção e formação do direito brasileiro,
determinando diversos preceitos na Carta de 1988, junto a várias modificações que
ocorrem e transcorreram à época, formalizando a criação e supremacia da dignidade
humana pautada em sua hierarquia necessária ao convívio social, e para se ter uma
sociedade igualitária e digna para todos a ela inseridos.
Nascida em 5 de outubro de 1988, aprovada pela Assembleia Nacional
Constituinte, a Constituição Brasileira inaugura o seu estado democrático de direito,
aderindo a princípios basilares, necessários a composição da sociedade e os
indivíduos pertencentes a ela. (PIOSEVAN, 2015).
Ainda a constituição traz consigo três classes, são elas: o direito coletivo, o
direito individual e o direito difuso, termos aparentemente novos ao país, albergando
diversos setores sociais, em sua ordem econômica, cultural e social, traçando novos
parâmetros para máxima garantia destes direitos. (PIOSEVAN, 2015).
Moraes (2018) destaca que os pilares da Constituição brasileira, são
fundamentados em três princípios, sendo eles: a soberania, a cidadania e a
dignidade da pessoa humana, princípios norteadores da legalidade e funcionalidade
social, compondo o estado democrático de direito. Percebe que o doutrinador
prioriza o impacto da vinculação aos direitos humanos, instituindo como um dos
princípios delimitadores da lei, a dignidade da pessoa humana. Destarte, é
reconhecido na lei diversas influências a proteção a dignidade do ser humano em
sua convivência social, cultural, política, religiosa, dentre vários.
Conclui-se, portanto, que o direito brasileiro positivou em seu ordenamento
jurídico a proteção a dignidade humana de forma clara e expressa, caracterizando
nitidamente o constitucionalismo contemporâneo, vigente até os dias atuais.
A identidade brasileira foi decorrente de um processo de construção histórica,
como em diversos outros países. Apesar de ter se iniciado após a Independência,
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em 1822, o processo de constituição da identidade nacional ganhou um impulso


maior após a década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder. A partir
disso, pôde-se perceber que a construção da identidade, para além de um processo
cultural, era também um processo político.
Os esforços para se constituir a identidade brasileira, que também é chamada
de brasilidade, estão ligados à necessidade de uma coesão social que acompanhe a
existência de um Estado que administra todo o território nacional. Dessa forma, a
manutenção de uma máquina administrativa comum a todo o território nacional foi
um primeiro passo na construção da identidade.
Contribuiu ainda para a existência da identidade nacional o fato de a língua
portuguesa ser comum a todo o território, apesar de suas particularidades regionais.
A língua seria então um elemento no conjunto de elementos culturais comuns que
são constitutivos da cultura nacional.
Vargas utilizou também os novos meios de comunicação, principalmente o
rádio, para difundir essa cultura nacional uniformizada. Passaram a ganhar
contornos de representação cultural nacional o samba, o futebol e pratos culinários.
No exterior, existiu também uma tentativa de criar uma imagem da cultura nacional,
da qual Carmem Miranda é a principal expressão.
Entre as décadas de 1940 e 1960, a construção da identidade nacional
passou a ser realizada levando em consideração a luta contra o que era considerado
uma influência colonial, do que era vindo da Europa ou dos EUA. A partir da década
de 1960, com a ditadura militar e sua centralização autoritária e repressiva, aliadas à
difusão da televisão pelos domicílios, um novo momento de difusão de elementos
culturais foi conhecido. As telenovelas passaram também a auxiliar na exposição de
práticas sociais consideradas expoentes da brasilidade.
Só que a partir desse período, a entrada cada vez maior do capital estrangeiro
na economia e a apresentação de um ideal de modo de vida cada vez mais próximo
do estadunidense influenciaram o processo contínuo de formação da identidade
nacional, momento ainda vivenciado no século XXI.
Industrialização e urbanização têm aparecido sempre associadas, como se se
tratasse de um duplo processo, ou de um processo com duas facetas. A identidade
entre estes dois "fenômenos" é tão forte, que não podemos fugir de sua análise, se
queremos refletir sobre a sociedade contemporânea. O sistema fabril já havia
começado a se constituir quando o capital comercial deu início à organização da
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produção manufatureira. Daí ao advento da maquinofatura foram alguns passos.


Um ponto a ser destacado é o da extensão urbana ao mundo colonial. Se não
fosse a necessidade de ampliação dos espaços sob o domínio do capital comercial,
provavelmente a urbanização não teria se estendido àquela época, à América por
exemplo. A peculiaridade deste processo expansivo está no fato de que há um
determinado tipo de urbanização que está sendo levado às novas áreas — a
urbanização europeia, sob o domínio capitalista e a ele dando sustentação. O que
se levou a criar novos sujeitos políticos e cenários para debates democráticos, já
que era necessário a participação e contribuição de toda sociedade local, assim
estava sendo moldada a democracia brasileira.
Os fundamentos teórico-metodológicos do serviço social podem ser
explicados, a partir do olhar dos métodos, técnicas e instrumentos utilizados pelo
profissional. Segundo Netto (2005) a vertente positivista, em uma abordagem
prática, aparece no bojo profissional, como sendo uma prática imediatista, ou seja,
uma resposta dada imediatamente às diversas expressões e manifestações da
questão social, vertente também conhecida como "vertente modernizadora",
caracteriza-se pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e,
mais tarde, sistêmicas, voltadas a uma modernização conservadora.
A vertente marxista, essa perspectiva também ingressa como referência
teórica a ser considerada no universo de discussão teórica da profissão por ocasião
do Movimento de Reconceituação nas décadas de 60 e 70. Sendo uma fonte
inspiradora pelas teorias capital versus trabalho, principalmente no reconhecimento
da questão social, como sendo o foco central das situações problemáticas que
encontram o público alvo do trabalho do serviço social.
A vertente fenomenológica, estava presente nas primeiras formulações
teóricas do Serviço Social no Brasil, ingressando no universo de discussão teórica
da profissão por ocasião do denominado Movimento de Reconceituação nas
décadas de 60 e 70, cujo cunho é centrada no vivido e nas vivências dos sujeitos,
rompendo, assim, com as formas de controle, ajuda, adaptação, cooptação e
desajustes, situando-se como uma proposição inovadora e de orientação
psicossocial. Apresenta uma metodologia baseada na tríade: diálogo, pessoa e
transformação social.
Segundo Iamamoto (2012) é preciso um olhar do profissional de Serviço
Social diferenciado e dinâmico no escolher destes para concretizar a prática
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operativa do serviço social, onde diante de toda a complexidade do sistema vigente,


requer um melhor rigor teórico na seleção dos mesmos, vistos que as suas ações
são polarizadas pelos interesses das classes burguesas, neste mesmo sentido
reproduz, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão.

3. CONCLUSÃO

Como vimos, o cotidiano da formação e a intervenção do assistente social no


Brasil são decisivamente marcados pelos caminhos da política social engendrada
pelo Estado capitalista brasileiro. Na contemporaneidade, a profissão vivência uma
significativa ampliação quantitativa de seu espaço no mercado de trabalho. No
entanto, depara-se, hoje, com inúmeros desafios que, certamente, exigem pensar a
necessidade de afirmação de seus referenciais críticos, no sentido de permitir a
instrumentalização e qualificação profissional na efetivação do Projeto Ético-Político
da profissão, sem deixar de pautar as demandas do mercado de trabalho, pois,
como enuncia Vasconcelos (2002), na contemporaneidade, os assistentes sociais
estão frente ao desafio de atender as demandas imediatas da população sem perder
de vista que, embora essas demandas sejam reais e precisem ser atendidas,
somente sua satisfação não resolve questões de origem estrutural.
É notório que, mesmo em tempo de neoliberalismo, não se trata de negar a
efetivação da política social no cotidiano profissional, mas de pautar a exigência e se
apropriar dela, de seus determinantes e, ao entender seus limites e possibilidades,
elaborar a crítica. Assim, acima de tudo, encontrar possibilidades de ação na direção
do reconhecimento dos direitos e da democratização do acesso enquanto atuação
comprometida com a direção do Projeto Ético-Político do Serviço Social.
Raichelis (2013) propõe que a partir de múltiplos espaços e estratégias
políticas, a ação coletiva contra o rebaixamento intelectual e a desqualificação do
trabalho profissional, a denúncia da violação de direitos dos próprios assistentes
sociais como trabalhadores no exercício de sua cidadania laboral, a resistência ao
produtivismo institucional, a luta pela melhoria das condições de trabalho e o
fortalecimento do compromisso do Serviço Social por uma sociedade emancipada.
Da qual é exatamente o entrelaçado permanente com a política social que
possibilita ao Serviço Social construir diferentes formas de intervenção, uma vez que
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as políticas sociais são formas necessárias à manutenção do modo de acumulação


capitalista e, por assim ser, trazem em si as diferenças de classes e a possibilidade
de mudança. Ao participar desse processo, a profissão se faz partícipe do
movimento das classes sociais antagônicas na sociedade, movimento que pode
alterar a maneira como a intervenção estatal se realiza e, também, a direção da
intervenção profissional.
Embora, como foi dito ao longo destas reflexões, que escapa às políticas
sociais reverter níveis tão elevados de desigualdade como os encontrados no Brasil,
não podemos duvidar das virtudes possíveis dessas políticas, nem nas (das)
possibilidades do trabalho profissional do assistente social, pois podem ser a
possibilidade de construção de direitos e iniciativas de “contra desmanche” de uma
ordem injusta e desigual. Romper com essa herança e instaurar esse debate na
sociedade brasileira é parte de nosso projeto.
Onde realização desse trabalho passa necessariamente pela reprodução que
a profissão realiza do movimento da política social na sociedade brasileira, sendo,
portanto, um desafio para a profissão trabalhar materialmente com a política social
na construção de estratégias de resistência, na perspectiva apontada pelo Projeto
Ético-Político hoje hegemônico na profissão.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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exclusão da população de baixa renda dos sistemas de trocas comerciais:
uma análise histórica sob a perspectiva do marketing. Rio de Janeiro, 2011. 95p.
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Volume I - 3ª ed. São Paulo: Ed. Ática, 1978. Alves, José Augusto Lindgren Alves.
São Paulo. Coleção Estudos Dirigidos por J. Guinsburg. Ed. Perspectiva S.s, 2005.
FILHO, Ilton Noberto Robl. Constituição Mexicana de 1917 e os avanços dos
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no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo,
Cortez, 1983.
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RAICHELIS, R. Proteção social e trabalho do assistente social: tendências e
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ROCHA, Sonia. Pobreza no Brasil: A Evolução de Longo Prazo (1970-2011).
XXV Fórum Nacional, (Jubileu de Prata – 1988/2013), INAE - Instituto Nacional de
Altos Estudos. 2013, p. 52.
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Brasil. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2011.
SIQUEIRA, Maria da Penha Smarzaro. Pobreza no brasil colonial: representação
social e expressões da desigualdade na sociedade brasileira. Histórica –
Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, n.34, 2009.
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social e expressões da desigualdade na sociedade brasileira. Histórica –
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VASCONCELOS, A. M. A prática do serviço social: cotidiano, formação e
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