Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Amâncio:
o género
como ação
sobre o
mundo
Âmbito
Linha temática Género,
Sexualidades e Intersecionalidade
Organização
João Manuel de Oliveira
Conceição Nogueira
Edição
2018
Financiado por
2 Lutos de Antígona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Jorge Correia Jesuíno
9
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
10
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
11
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
12
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
13
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
14
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
15
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
16
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
17
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
18
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
19
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
20
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
21
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
22
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
23
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
24
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
25
JOÃO MANUEL DE OLIVEIRA E CONCEIÇÃO NOGUEIRA
26
LÍGIA AMÂNCIO: O GÉNERO COMO AÇÃO SOBRE O MUNDO
Ela é uma Pioneira, como diz Maria do Mar Pereira. Das que
iniciam uma viagem sozinhas, mas que juntam gente no
caminho. Gente mais alinhada no mainstream da psicologia,
gente menos alinhada seja em termos disciplinares (outras
áreas), seja em termos epistemológicos... mas gente que depois
desse encontro, nunca mais mudou o destino da viagem.
27
Jorge Correia Jesuíno
Lutos de Antígona
2 LUTOS DE ANTÍGONA
Jorge Correia Jesuíno
PRÓLOGO
31
JORGE CORREIA JESUÍNO
32
LUTOS DE ANTÍGONA
PORQUÊ A ANTÍGONA?
33
JORGE CORREIA JESUÍNO
Cadmo
Polidoro
Lábdaco
Laio Meneceu
Édipo
(Meneceu) Hémon
Etéocles
Polinices
Ismena
Antígona
34
LUTOS DE ANTÍGONA
35
JORGE CORREIA JESUÍNO
36
LUTOS DE ANTÍGONA
37
JORGE CORREIA JESUÍNO
RETÓRICA ARGUMENTATIVA
Antígona Creonte
a b
Hemon Ismene
b a
38
LUTOS DE ANTÍGONA
39
JORGE CORREIA JESUÍNO
40
LUTOS DE ANTÍGONA
41
JORGE CORREIA JESUÍNO
lhe pede que regresse. Mas Édipo, tal como Creonte, é inflexí-
vel, lança um anátema sobre Polinice e profetiza o duelo final
entre irmãos. Para um Sófocles no final da vida, já quase com
90 anos, a jovem Antígona é agora descrita como uma menina
submissa, que cuida do pai Édipo e que o leva também ele, mas
agora por outras razões, a ver as filhas que “se comportam como
se fossem homens vez de mulheres” (166), já que são elas que o
acompanham e sustentam.
42
LUTOS DE ANTÍGONA
Antígona Eteocles
Polinices Ismene
43
JORGE CORREIA JESUÍNO
ÉTICA E ESTÉTICA
44
LUTOS DE ANTÍGONA
45
JORGE CORREIA JESUÍNO
46
LUTOS DE ANTÍGONA
47
JORGE CORREIA JESUÍNO
48
LUTOS DE ANTÍGONA
49
JORGE CORREIA JESUÍNO
50
LUTOS DE ANTÍGONA
51
JORGE CORREIA JESUÍNO
52
LUTOS DE ANTÍGONA
NOTAS
53
JORGE CORREIA JESUÍNO
54
LUTOS DE ANTÍGONA
55
JORGE CORREIA JESUÍNO
56
LUTOS DE ANTÍGONA
57
JORGE CORREIA JESUÍNO
(20) “É por isso, escreve Heidegger, que aquele que faz vio-
lência não conhece a bondade e a conciliação no sen-
tido vulgar, o apaziguamento e o alívio pelo sucesso e
pelo prestigio e pela confirmação desse prestígio. Em
tudo isso, aquele que faz violência sendo criador, não
vê no sucesso senão uma aparência que ele despreza.
Na sua vontade de extraordinário, rejeita qualquer ajuda.
A ruína é para ele o consentimento mais profundo e mais
58
LUTOS DE ANTÍGONA
59
Teresa Joaquim
Uma questão
suspensa para
um até já
3 UMA QUESTÃO SUSPENSA PARA UM ATÉ JÁ
Teresa Joaquim
Quando estava a pensar neste texto que queria escrever para este
livro-presente para a Lígia Amâncio, cruzei-me com ela na Avenida
da Liberdade no dia 25 de Abril, que é certamente uma data marcante
para a nossa geração, pelo que vivemos antes dele em colégios de
meninas, escolas públicas que não eram mistas, nas saídas para os
mundos do trabalho, nas escolhas disciplinares marcadas pelo ambiente
em que estudávamos, pelo trabalho que íamos fazendo em contextos
diversos, em que essa saída “lá para fora” se fez / se fazia com mais ou
menos apoios familiares.
63
TERESA JOAQUIM
64
UMA QUESTÃO SUSPENSA PARA UM ATÉ JÁ
65
TERESA JOAQUIM
66
UMA QUESTÃO SUSPENSA PARA UM ATÉ JÁ
67
TERESA JOAQUIM
68
UMA QUESTÃO SUSPENSA PARA UM ATÉ JÁ
69
TERESA JOAQUIM
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
70
UMA QUESTÃO SUSPENSA PARA UM ATÉ JÁ
THOMAS, Yann, “À Rome, pères citoyens et cité des pères (II siècle
avant J. C.- II siècle après J. C.)” in A. Burguière, C. Klapish - Z
uber, M. Segalen et F. Zonabend (eds), Histoire de la Famille, vol I,
A. Colin,1986, pp 195-229
71
Maria do Céu da Cunha Rêgo
Tanto tempo,
e ainda...
4 TANTO TEMPO, E AINDA...
Maria do Céu da Cunha Rêgo
75
MARIA DO CÉU DA CUNHA RÊGO
76
TANTO TEMPO, E AINDA...
...
77
MARIA DO CÉU DA CUNHA RÊGO
...
78
TANTO TEMPO, E AINDA...
79
MARIA DO CÉU DA CUNHA RÊGO
80
TANTO TEMPO, E AINDA...
81
MARIA DO CÉU DA CUNHA RÊGO
82
TANTO TEMPO, E AINDA...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
83
MARIA DO CÉU DA CUNHA RÊGO
84
Maria do Mar Pereira
A importância
(e dificuldade)
de ser pioneira:
transformar
o pessoal em
político no
trabalho científico
5 A IMPORTÂNCIA (E DIFICULDADE) DE SER
PIONEIRA: TRANSFORMAR O PESSOAL EM
POLÍTICO NO TRABALHO CIENTÍFICO
Maria do Mar Pereira
89
MARIA DO MAR PEREIRA
Foi com essa palavra que ela me permitiu compreender e gerir a expe-
riência vivida do trabalho feminista num contexto académico muitas
vezes hostil. Tudo isto aconteceu quando um dia nos cruzámos num
corredor, era eu ainda estudante de licenciatura, e a Lígia me pergun-
tou como é que eu estava. Eu, sensibilizada pela sua consideração e
desesperada para desabafar, expliquei-lhe que andava desorientada,
desmotivada, triste e zangada com a resistência sexista e homofó-
bica que sentia sistematicamente no ISCTE quando tentava abordar
questões de género nas disciplinas que frequentava ou nos órgãos de
gestão nos quais representava xs estudantes de Sociologia. Quando
acabei de falar, acelerada e exaltada, a Lígia fez um sorriso caloroso
e compreensivo e disse, calmamente: “pois, Maria, de facto, é mesmo
muito difícil e desgastante ser uma pioneira. Como a compreendo!”.
“É difícil ser pioneira!”, explicava a mim mesma. Cada vez que o fazia,
sentia-me melhor: mais forte, mais segura de mim, menos sozinha,
ligada a um movimento maior do que eu, mais capaz de continuar a
lutar com outrxs por um mundo e uma universidade diferentes.
90
A IMPORTÂNCIA (E DIFICULDADE) DE SER PIONEIRA
91
MARIA DO MAR PEREIRA
92
A IMPORTÂNCIA (E DIFICULDADE) DE SER PIONEIRA
Eu não fui a única investigadora mais jovem a quem a Lígia deu força e
alento – sou uma entre muitxs outrxs. Segundo a Lígia, “[o] feminismo
é um projecto, sem dúvida, mas também um método e uma ética...”
(Amâncio, 2008). A sua versão particular de uma ética feminista inclui
uma terceira característica que aparece também na definição de “pio-
neiro” (sic) do Dicionário Priberam: “Que, ou quem, prepara os resulta-
dos futuros” (Priberam, 2017). Para a Lígia, só vale a pena ser pioneira
– “desbravar” e “ir à frente” – se esse trabalho pioneiro criar condições
para que muita gente venha a seguir cultivar as tais “regiões incultas”
(Priberam, 2017). Para a Lígia, “[a]s dificuldades e [o] esforço realizado
no passado” para desenvolver investigação feminista em Portugal
ganham sentido apenas na medida em que criam uma “realidade
no presente” e “uma promessa para o futuro” para essa investigação
(Amâncio & Oliveira, 2014: 38).
93
MARIA DO MAR PEREIRA
94
A IMPORTÂNCIA (E DIFICULDADE) DE SER PIONEIRA
– pioneiro ou não – vai ser sempre, de certa forma, difícil. (Às vezes
convém, aliás, desconfiar dos momentos em que é demasiado fácil!)
Segunda: a resistência a esse trabalho é, muitas vezes, sinal de sucesso
e não de fracasso, porque demonstra que estamos a abalar certezas,
questionar dogmas, desconstruir o naturalizado.
95
MARIA DO MAR PEREIRA
96
A IMPORTÂNCIA (E DIFICULDADE) DE SER PIONEIRA
REFERÊNCIAS
Amâncio, Lígia (1994). Masculino e Feminino: Carmo, Isabel do & Amâncio, Lígia (2004).
A Construção Social da Diferença. Porto: Vozes Insubmissas: A História das Mulheres
Afrontamento. e dos Homens que Lutaram pela Igualdade
dos Sexos quando era Crime Fazê-lo. Lisboa:
Amâncio, Lígia (2001). “O Género na Psico- Dom Quixote.
logia: uma História de Desencontros e
Rupturas”. Psicologia, XV (1), 9-26. Faludi, Susan (1993). Backlash: the Undecla-
red War Against Women. London: Vintage.
Amâncio, Lígia (2002). “O Género na Psicolo-
gia Social em Portugal”. ex aequo, 6, 55-75. Kuhar, Roman & Paternotte, David (Eds.)
(2017). Anti-Gender Campaigns in Europe:
Amâncio, Lígia (2003). “O Género nos Mobilizing Against Equality. London:
Discursos das Ciências Sociais”. Análise Rowman & Littlefield.
Social, XXXVIII (168), 687-714.
Priberam (2017). “Pioneira” in Dicionário
Amâncio, Lígia (2008). “O Feminismo é um da Língua Portuguesa. Edição online:
Projecto mas Também um Método...”. disponível em https://www.priberam.pt/
esquerda.net, disponível em http://www. dlpo/pioneira.
esquerda.net/dossier/o-feminismo-e-um-
projecto-mas-tambem-um-metodo/17907. Smith, Eleanor (2017). “First Midlands Black
MP Eleanor Smith: «Hope I’m not the
Amâncio, Lígia & Oliveira, João Manuel de last»”. BBC News, disponível em http://
(2006). “Men as Individuals, Women as a www.bbc.co.uk/news/av/uk-40306519/
Sexed Category: Implications of Symbolic first-midlands-black-mp-eleanor-smith-
Asymmetry for Feminist Practice and hope-i-m-not-the-last.
Feminist Psychology”. Feminism &
Psychology, 16 (1), 36-44. Tavares, Teresa (2004). “Recensão: Carmo,
Isabel do; Lígia Amâncio, Desamaldiçoar o
Amâncio, Lígia & Oliveira, João Manuel de feminismo. A propósito de Vozes Insubmissas.
(2014). “Ambivalência e Desenvolvimen- A história das mulheres e dos homens que
tos dos Estudos de Género em Portugal”. lutaram pela igualdade dos sexos quando
Faces de Eva, 32, 23-42. era crime fazê-lo.“. Revista Crítica de
Ciências Sociais, 69, 159-170.
97
Manuela Tavares
Mulheres que
marcam os tempos
— Lígia Amâncio
6 MULHERES QUE MARCAM OS TEMPOS –
LÍGIA AMÂNCIO
Manuela Tavares
101
MANUELA TAVARES
102
MULHERES QUE MARCAM OS TEMPOS – LÍGIA AMÂNCIO
103
MANUELA TAVARES
104
MULHERES QUE MARCAM OS TEMPOS – LÍGIA AMÂNCIO
105
MANUELA TAVARES
106
MULHERES QUE MARCAM OS TEMPOS – LÍGIA AMÂNCIO
107
MANUELA TAVARES
5. Idem, p.50.
108
MULHERES QUE MARCAM OS TEMPOS – LÍGIA AMÂNCIO
109
Rosa Cabecinhas
Quem quer
ser apagada?
Memória coletiva
e assimetria
simbólica
7 QUEM QUER SER APAGADA?i
MEMÓRIA COLETIVA E
ASSIMETRIA SIMBÓLICA
Rosa Cabecinhas
113
ROSA CABECINHAS
114
QUEM QUER SER APAGADA?
115
ROSA CABECINHAS
116
QUEM QUER SER APAGADA?
117
ROSA CABECINHAS
118
QUEM QUER SER APAGADA?
País
24 489 0
Brasil
4,7% 95,3% 0,0%
21 578 0
Cabo Verde
3,5% 96,5% 0,0%
24 647 0
Moçambique
3,6% 96,4% 0,0%
70 1071 3
Portugal
6,1% 93,6% 0,3%
19 444 8
Timor Leste
4,0% 94,3% 1,7%
119
ROSA CABECINHAS
120
QUEM QUER SER APAGADA?
121
ROSA CABECINHAS
País
122 691 0
Angola
15,0% 85,0% 0,0%
43 461 4
Brasil
8,5% 90,7% 0,8%
77 515 1
Cabo Verde
13,0% 86,8% 0,2%
55 786 0
Guiné-Bissau
6,5% 93,5% 0,0%
118 730 0
Moçambique
13,9% 86,1% 0,0%
68 1059 4
Portugal
6,0% 93,6% 0,4%
13 461 5
Timor Leste
2,7% 96,2% 1,0%
122
QUEM QUER SER APAGADA?
123
ROSA CABECINHAS
124
QUEM QUER SER APAGADA?
¾ CONSIDERAÇÕES FINAIS
125
ROSA CABECINHAS
126
QUEM QUER SER APAGADA?
¾ REFERÊNCIAS
127
ROSA CABECINHAS
128
QUEM QUER SER APAGADA?
Licata, L., & Klein, O. (2005). Regards croisés sur un passé commun:
anciens colonisés et anciens coloniaux face à l’action belge au
Congo. In M. Sanchez-Mazas, & L. Licata (eds.), L’Autre: Regards
psychosociaux (pp.241-277). Saint-Martin d’Hères: Presses
Universitaires de Grenoble.
Liu, J. H., & Hilton, D. (2005). How the past weighs on the present:
Towards a social psychology of histories. British Journal of Social
Psychology, 44, 537–556.
Liu, J. H., Páez, D., Slawuta, P., Cabecinhas, R., Techio, E., Kokdemir, D.,
et al. (2009). Representing world history in the 21st Century: The
impact of 9-11, the Iraq War, and the nation-state on dynamics
of collective remembering. Journal of Cross-Cultural Psychology,
40, 667–692.
129
ROSA CABECINHAS
130
QUEM QUER SER APAGADA?
¾ NOTAS
vii. Para mais detalhes ver, por exemplo, Cabecinhas et al. (2006).
131
ROSA CABECINHAS
132
Jorge Vala
Uma foto,
um percurso,
um agradecimento
8 UMA FOTO, UM PERCURSO, UM AGRADECIMENTO
Jorge Vala
137
JORGE VALA
138
UMA FOTO, UM PERCURSO, UM AGRADECIMENTO
139
António Manuel Marques
Um género de
homenagem
9 UM GÉNERO DE HOMENAGEM
António Manuel Marques
143
ANTÓNIO MANUEL MARQUES
Feminismo,
palavra
1 Em 1994, procurava uma orientação nacional para uma tese de
maldita Doutoramento a desenvolver na Universidade de Salamanca e
a mediação da Professora Graça Carapinheiro levou-me a um
primeiro encontro com a Professora Lígia Amâncio. Em troca
do meu projeto em rascunho recebi a sugestão da leitura de
dois artigos seus que haveria de conhecer quase de cor e que
transformaram radicalmente a forma como, até aí, pensava as
relações sociais entre homens e mulheres e, sem consciência
plena, o género.
144
UM GÉNERO DE HOMENAGEM
2. Amâncio, L.
(1993a). Níveis de
análise no estudo da
identidade social.
Análise Psicológica,
XI, 213-221;
Amâncio, L. (1993b).
Stereotypes as
Estranhei o conteúdo dos artigos que me comprometi a ler2, ideologies, the case
of gender categories.
pelo que se distanciavam do meu conhecimento e pelo sen- Aprendizage - Revista
tido para que apontavam: afinal, ainda que imprescindíveis, a de Psicología Social,
história, a antropologia e a sociologia (as bases do meu olhar) 8(2), 163-170.
não cobrem a multiplicidade do que tem de ser considerado e,
por outro, a psicologia individual tem fracas potencialidades
para a compreensão da complexidade da organização social
das relações entre os sexos. Reencontraria a perspetiva psicos-
social por esta via.
145
ANTÓNIO MANUEL MARQUES
146
UM GÉNERO DE HOMENAGEM
O género
no discurso
das ciências
sociais3 Beneficiei em muito da possibilidade de estar e de aprender
em grupo; um grupo que, para além de ter em comum a
mesma orientadora, partilhou interesses, recursos, energias
e, de alguma forma, afetos. Por impulso seu e com aceitação
coletiva, esse grupo agregou, em muitas sessões de trabalho,
elementos de diferentes origens, formações, idades e níveis
académicos.
147
ANTÓNIO MANUEL MARQUES
148
UM GÉNERO DE HOMENAGEM
149
ANTÓNIO MANUEL MARQUES
150
UM GÉNERO DE HOMENAGEM
A(s) masculinidade(s)
em que-estão4
Em 2000, expressei-lhe a vontade de “estudar os homens”,
dando continuidade a um trabalho de investigação-ação que
tinha iniciado. Essa vontade residia em alguns laivos de rebel-
dia contra a predominância dos estudos de género focalizados
na situação das mulheres. Ainda que essa predominância seja
histórica e socialmente justificada, a reflexão com o “grupo do
género”, algumas leituras fundamentais e o questionamento da
Professora sinalizaram a fragilidade das premissas básicas da
minha insistência: os estudos sobre os homens são necessários
e podem contribuir para o conhecimento sobre a construção
social do género. Enveredar por esse caminho não represen-
taria, necessariamente e ao contrário do meu imaginário, a
realização de um percurso contra a corrente.
Julgo que ela percebeu, desde logo, que o meu caminho seria
outro, que haveria de me envolver com a temática da masculi-
nidade, em vez de algo nebuloso e questionável - os “estudos 4. Amâncio, L. (2004).
sobre os homens”. Confesso a lentidão do meu pensamento a A(s) masculinidade(s)
em que-estão.
este propósito, o logro que criei e me serviu, inicialmente, para In L. Amâncio (Org.),
narrar o que pretendia conhecer. Ainda não tinha percorrido Aprender a ser
caminho suficiente para me dar conta desse logro. homem, construindo
masculinidades
(pp. 13-27). Lisboa:
Essa experiência, junta a outras, ilustra o estilo de orientação Livros Horizonte.
próprio que adotou, pelo menos comigo: liberdade criativa
e incentivo à procura de questões e posicionamentos pes-
soais, sem censura liminar ou encaminhamento pré-deter-
minado. Deduzo que acredita que a orientação de pesquisas
se concretiza na responsabilização do ou da estudante, que o
151
ANTÓNIO MANUEL MARQUES
152
UM GÉNERO DE HOMENAGEM
153
Abílio Oliveira
Tributo à
professora
Lígia Amâncio
10 TRIBUTO À PROFESSORA LÍGIA AMÂNCIO
Abílio Oliveira
157
ABÍLIO OLIVEIRA
de s s e m o m e n to, fiquei
A partir
to q u e er a e s s a a p es s o a
convic
u go s t av a d e t e r como
que e
orientadora.
Ela ainda não sabia disso. Mas foi mesmo assim que eu
pensei. A verdade é que só se apercebeu da minha intenção
quase um ano depois...
Um dia, no final de uma aula, perguntei-lhe se poderíamos
falar um pouco. Simpaticamente, e com a calma e disponibili-
dade que sempre demonstrou para com os alunos, combinou
comigo uma reunião. Chegado o dia, lá fui eu, nervoso, ter
com ela à ala Norte do ISCTE – numa altura em que somente
existia o edifício I, o original – onde era o seu gabinete. Com
a sua generosidade habitual, e ainda que algo surpreendida,
recebeu-me com naturalidade. Disse-lhe que ela era uma pessoa
que eu admirava, inspirando-me e transmitindo segurança, e
158
TRIBUTO À PROFESSORA LÍGIA AMÂNCIO
159
ABÍLIO OLIVEIRA
Foi assim.
ao
A prontidão com que reagiu
ante.
meu desafio foi impression
160
TRIBUTO À PROFESSORA LÍGIA AMÂNCIO
161
ABÍLIO OLIVEIRA
162
TRIBUTO À PROFESSORA LÍGIA AMÂNCIO
163
ABÍLIO OLIVEIRA
164
TRIBUTO À PROFESSORA LÍGIA AMÂNCIO
Tudo isso eu
encontrei e tive com
a Professora Lígia.
165
ABÍLIO OLIVEIRA
ré m , em n e n h u m momento a
Po r que,
e m d eix e i de sab e
esqueci, n
ne ce ss á rio , eu p o deria contar
se
tadora’.
com a ‘minha orien
Por tudo o que fez por mim, pelo que me proporcionou e
ensinou, pelo seu contínuo exemplo a todos os níveis, pela sua
integridade, sinceridade, bondade, paciência e grandeza humana,
eu quero Agradecer-lhe, do fundo do coração! E dizer-lhe, sem
hesitação e com forte convicção:
Bem-haja, Professora Lígia!
A Professora superou tudo o que eu poderia à partida
esperar, sendo, para mim, a melhor orientadora do mundo!
Sempre pude contar consigo, e não só como orientadora,
no sentido restrito do termo. Mesmo nos momentos difíceis
soube ouvir-me e ter uma palavra amiga e compreensiva. E nos
melhores momentos também encontrei um cintilar de alegria
166
TRIBUTO À PROFESSORA LÍGIA AMÂNCIO
Abílio Oliveira
167
Maria Helena Santos
Ingresso na ciência
e percurso nos
estudos de género
com Lígia Amâncio:
uma homenagem
pessoal
11 INGRESSO NA CIÊNCIA E PERCURSO NOS
ESTUDOS DE GÉNERO COM LÍGIA AMÂNCIO:
UMA HOMENAGEM PESSOAL
Maria Helena Santos
171
MARIA HELENA SANTOS
172
INGRESSO NA CIÊNCIA E PERCURSO NOS ESTUDOS DE GÉNERO
173
MARIA HELENA SANTOS
174
INGRESSO NA CIÊNCIA E PERCURSO NOS ESTUDOS DE GÉNERO
175
MARIA HELENA SANTOS
176
INGRESSO NA CIÊNCIA E PERCURSO NOS ESTUDOS DE GÉNERO
177
MARIA HELENA SANTOS
178
INGRESSO NA CIÊNCIA E PERCURSO NOS ESTUDOS DE GÉNERO
179
MARIA HELENA SANTOS
180
INGRESSO NA CIÊNCIA E PERCURSO NOS ESTUDOS DE GÉNERO
Referências
Santos, Maria Helena (2017). Desigualdades de
género em profissões qualificadas e resistências à
mudança – Um percurso de investigação. In João
Manuel de Oliveira & Lígia Amâncio (Eds.), Géneros
e sexualidades: interseções e tangentes” (pp. 55-
72): Lisboa: ISCTE-IUL.
181
Fátima Rodrigues
Assimetrias sociais
reproduzidas nas
organizações ou,
como mulheres e
homens jogam o
género na arena
organizacional
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
Falar da Professora Lígia Amâncio é-me ativismo, rigor e valor estratégico das
particularmente caro pelo muito que suas múltiplas participações institucionais
partilhámos ao longo de onze anos e (Vice-Presidente da FCT; Docente no
pelo quanto cresci pela nossa relação. ISCTE-IUL desde há longos anos, agora
Os percursos de Mestrado e Doutoramento Professora Catedrática, e investigadora;
em Psicologia Social e das Organizações autora na imprensa nacional; Presidente
no ISCTE-IUL constituem em duração e da CIDM; membro do 4º Mandato do
significado para a minha identidade, um Conselho Nacional de Ética para as
dos três grandes pilares da minha vida. Ciências da Vida; Membro do Conselho
Constroem-me, definem-me e abrem-me de Curadores da Agência de Avaliação e
portas para todo um Novo Mundo e hoje Acreditação do Ensino Superior (A3ES),
sou diferente por causa deles. Quando entre outras).
hoje me bato pela Igualdade de Género
em diversos fóruns, é a sua mensagem Em termos científicos e académicos, a
que transmito e tento fazer passar contribuição da Professora para o estudo
adiante, em prol de todas as pessoas que do Género numa perspetiva psicosso-
creem na Igualdade e no potencial de ciológica, é vasta, conforme pode ser
todas as pessoas para a construção de apreciado pela sua longa lista de publica-
um mundo melhor. ções. Neste singelo tributo, foco-me em
alguns dos modelos e conceitos da sua
Em termos sociais, e com o percurso obra que constituindo marcos diferen-
de vida assinalável, o contributo da ciadores, inspiraram as minhas reflexões
Professora é também marcante pelo seu posteriores.
185
FÁTIMA RODRIGUES
186
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
187
FÁTIMA RODRIGUES
sejam julgadas pelos seus méritos indivi- autonomia individual” (Amâncio, 1994,
duais, mas pelas expectativas do compor- p. 64), permanece altamente específica
tamento de todas as mulheres, com cada (Amâncio, 1997), e intimamente ligada à
mulher a arcar a responsabilidade pelo casa e à família, traduzindo um modelo
comportamento de todas as outras. de pessoa condicionada às fronteiras de
uma função social específica (Amâncio,
1994, 1995).
Estereótipos de
O carácter referente do estereótipo mas-
género e prescrição culino exclui o feminino da definição do
comportamental contexto organizacional (Amâncio, 1994),
e em diversos estudos tem sido verificada
Os estereótipos de género constituem “… a incompatibilidade entre os atributos
ideologizações coletivas sobre os membros femininos e os atributos associados com
de determinados grupos sociais, abrangem a gestão, (Connell, 2002), com a liderança
conteúdos e processos, tal como as (Amâncio, 1996) entre outros.
representações sociais e traduzem também
um conhecimento prático” (Amâncio, 1994, Além da sua dimensão descritiva, já assi-
pp. 48-49), embora estas englobem toda métrica, o seu forte pendor prescritivo
a realidade social, o que lhes confere um inclui crenças fortes sobre as condutas
universo simbólico mais vasto e as situa desejáveis para os elementos dos grupos
num nível ideológico. sociais em questão - homens e mulheres -
controlando o comportamento.
Na sua dimensão descritiva, os este-
reótipos de género diferenciam-se O estereótipo feminino mostra-se
significativamente. normativo e apresenta menor latitude
comportamental que o masculino
O estereótipo masculino reúne as dimen- (Amâncio, 1994).
sões de instrumentalidade, dominância
e sociabilidade negativa, estabilidade A adoção por parte dos homens, de
emocional, dinamismo, agressividade comportamentos com significado
e autoafirmação, competitividade e estereotipicamente feminino, não
ambição, objetividade, orientação para representa uma violação da identidade
a ação, independência, análise e, à ética masculina, uma vez que nesse caso, os
do trabalho. O estereótipo feminino significados deixam de ser femininos e
caracteriza-se pelos polos opostos dessas tornam-se universais (Amâncio, 2003b).
dimensões, isto é, instabilidade emocional, Em situações de sobreminoria, os homens
passividade, submissão e orientação estão sujeitos a consequências mais
interpessoal. A definição de pessoa positivas do que as mulheres e são mais
adulta, subjacente ao estereótipo feminino, proactivos (Santos & Amâncio, 2014a).
encontra-se fortemente limitada às
esferas afetiva e de objeto de desejo, “…às A saída do contexto de intervenção
quais se associa a ausência de qualidades feminino socialmente desejável para
orientadas para o trabalho e para a um contexto masculino, leva a que as
188
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
189
FÁTIMA RODRIGUES
190
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
191
FÁTIMA RODRIGUES
192
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
MASCULINO
Instrumentalização
,50*** das Relações
Instrumental ,72***
-,26*** ,27*
Instrumentalização
,1
das Impressões
Cooperante
,25*** ,08
Informação/Regras
FEMININO
Instrumentalização
,28*** das Relações
Instrumental ,76***
-,26*** ,22
Instrumentalização
,27***
das Impressões
Cooperante
,08 ,41*
Informação/Regras
193
FÁTIMA RODRIGUES
194
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
195
FÁTIMA RODRIGUES
Bibliografia
· Amâncio, L. (1993a). Género – · Amâncio, L. (2003b). Género e assimetria
Representações e identidades. Sociologia simbólica: o lugar da história na
– Problemas e Práticas, 14, 127-140. psicologia social. In L. Lima, P. Castro,
& M. (. Garrido, Temas e debates em
· Amâncio, L. (1993b). Identidade social
psicologia social (pp. 111-124). Lisboa:
e relações intergrupais. In &. M. J. Vala,
Livros Horizonte.
Psicologia social (pp. 287-306). Lisboa:
Fund. Calouste Gulbenkian. · Amâncio, L. (2004). A(s) masculinidade(s)
em que-estão. In L. A. (Org.), Aprender a
· Amâncio, L. (1994). Masculino e feminino
ser homem. Construindo masculinidades
– A construção social da diferença. Porto:
(pp. 13-28). Lisboa: Livros Horizonte.
Edições Afrontamento.
· Amâncio, L. (2007). Género e divisão do
· Amâncio, L. (1995). Gender, social identity
trabalho doméstico – O caso português em
and social change. In &. C. L. Amâncio,
perspectiva. In L. A. K. Wall, Família e
Gender, management and science (pp. 33-42).
género em Portugal e na Europa (pp. 181-211).
Braga: UM-IEP.
Lisboa: ICS.
· Amâncio, L. (1996). Gender, expertise
· Amâncio, L., & Oliveira, J. M. (2006). Men
and authority: The effect of gender and
as individuals, women as sexed category:
specialized knowledge on the perception of
Implications of symbolic asymmetry for
authority. Psicologia, XI(1), 11-25.
feminist practice and feminist psychology.
· Amâncio, L. (1997). The importance of Feminism & Psychology, 16(1), 36-44.
being male: ideology and context in
· Apfelbaum, E. (1979). Relations of domination
gender identities. Revue Internationale
and movements for liberation: An analysis
de Psychologie Sociale, 2, 79-94.
of power between groups. In &. S. W. G.
· Amâncio, L. (2003a). O género no discurso Austin, The Social Psychology of Intergroup
das ciências sociais. Análise Social, Relations (pp. 188-204). Montrey, Califórnia:
XXXVIII(168), 687-714. Brooks/Cole Publishing Company.
196
ASSIMETRIAS SOCIAIS REPRODUZIDAS NAS ORGANIZAÇÕES
197
Emília Fernandes
O estudo do
género na gestão
e o contributo
de Amâncio:
um relato pessoal
13 O ESTUDO DO GÉNERO NA GESTÃO
E O CONTRIBUTO DE AMÂNCIO:
UM RELATO PESSOAL
Emília Fernandes
O
s trabalhos de Lígia Amâncio (1992, 1993a, 1993b)
constituíram-se, para mim, como o primeiro contacto
com uma investigação que, no âmbito da psicologia
social e no contexto nacional, visava questionar e desconstruir
as convicções de género na sociedade portuguesa. De certo
modo, a sua investigação permitiu legitimar o meu interesse
pelas desigualdades de género na área académica em que
me encontro: a gestão. Este percurso, iniciou-se, assim, com
a minha tese de mestrado cujo objetivo era explorar o efeito
das conceções socioculturais do feminino e masculino na
construção da figura da gestão. Para o efeito, a investigação
de Amâncio sobre estereótipos de género foi assumida como
o ponto de partida conceptual da investigação em causa.
Ao contrário das correntes cognitivistas americanas
(e.g. Ashmore e Del Boca, 1979; Rozenkrantz et al, 1968;
Best e William, 1993) e, mais especificamente, da teoria
dos papéis de Alice Eagly (1983, 1987), Amâncio considera
que “encarar os papéis sexuais como principal explicação da
diferença entre homens e mulheres, sem existir uma preocu-
pação em analisar a ideologia amplamente consensual que
diferencia o masculino do feminino através da desejabilidade
das suas características, consiste apenas em analisar o
como sem analisar o porquê” (1994:23). A criticalidade da
201
EMÍLIA FERNANDES
202
O ESTUDO DO GÉNERO NA GESTÃO
203
EMÍLIA FERNANDES
204
O ESTUDO DO GÉNERO NA GESTÃO
REFERÊNCIAS
Amâncio, L. (1992). As assimetrias nas representações do género.
Revista Crítica de Ciências Sociais, 34, 9-23.
Butler, J., & Scott, J. W. (eds.) (1992a). Feminists theorize the political.
Londres: Routledge.
Ashmore, R. D., & Del Boca, F.K. (1979). Sex stereotypes and implicit
personality theory: toward a cognitive-social psychological con-
ceptualization. Sex Roles, 5(2), 219-248.
Calás, M., & Smircich, L. (1992b). Using the “f” word: feminist and the
social consequences of organizational research, in Mills, J. A.,
& Tancred, P. (eds.), Gendering organizational analysis: 222-234.
Newbury Park, CA: Sage Publications
205
EMÍLIA FERNANDES
Fernandes, E., & Leite, R. (2016). Embodied women in the work context:
the case of Portuguese businesswomen and their female subordi-
nates. Women’s Studies International Forum, 56, 45-55.
Rosenkrantz, P.S., Vogel, S. R., Bee, H., Broverman, I. K., & Broverman,
D. M. (1968). Sex role stereotypes and self-concepts in college
students. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 32(3),
287-295.
206