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Fig.

Gilson de Almeida Pinho

Psicoteologia
Teoria e prática
Da fundamentação teórica ao
atendimento tera pêutico breve
focado na psicologia e na teologia

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Este ebook é uma apresentação do curso EAD
Psicoteologia: Teoria e Prática
Gilson de Almeida Pinho

Psicoteologia
Teoria e prática
Da fundamentação teórica ao
atendimento terapêutico breve
focado na psicologia e na teologia

Este ebook é uma apresentação do curso EAD


Psicoteologia: Teologia e Prática

2021
Sobre o autor

Gilson de Almeida Pinho é natural de


São Paulo, nascido em 1954. Reside atualmen-
te em São José dos Campos – SP. É casado
com Selma Pinho, e ambos possuem três fi-
lhos, todos casados, e quatro netos.
É oficial da Aeronáutica, especialista
em comunicação de dados, já está na reserva
desde 2003. Em 30 anos de vida militar (1973-
2003) atuou nas áreas técnica e de ensino, mi-
nistrando cursos, produzindo materiais acadêmicos diversos e partici-
pando na criação de novos cursos pelas unidades militares onde traba-
lhou.
Graduado em teologia, com pós-graduação em Ciência da Reli-
gião. Atualmente integra o quadro de pastores da Igreja Batista do
Jardim das Indústrias, em São José dos Campos. Também é filiado à
OPBB – Ordem dos Pastores Batistas do Brasil - SP. Na vida pastoral
atuou principalmente na área de ensino teológico, tanto nas igrejas
onde congregou, como também em vários seminários e faculdades te-
ológicas. Atua ainda como teólogo, terapeuta pastoral, terapeuta fa-
miliar e psicoteólogo.
Graduado em psicologia, com pós-graduação em Terapia Cog-
nitivo-Comportamental (TCC) e doutorado em psicologia com ênfase
em psicoteologia. Na psicologia atua como psicólogo clínico, psicote-
rapeuta e psicólogo organizacional.
Autor de vários livros e artigos de teologia e psicologia. É pales-
trante nas áreas de teologia e psicologia em escolas, igrejas, empresas
e diversas instituições privadas, tanto nacionais como internacionais.
Ministra palestras sobre: vida familiar; saúde física, mental, social e
profissional; motivação pessoal e profissional etc.
Conheça todas as teorias, domine todas
as técnicas, mas ao tocar uma alma hu-
mana seja apenas outra alma humana.
Carl Gustav Jung (1875-1961)
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade que me
deu para que este trabalho pudesse ser realizado pela terceira vez,
apesar das dificuldades encontradas ao longo de sua elaboração e re-
visão.
Agradeço à minha esposa Selma, aos nossos filhos Heloísa,
Selminha e Daniel, nossos netos Júlia, Isabela, Gabriel e Lucas, minhas
fontes de inspiração, e também aos nossos genros Odwaldo e Oséas, e
nossa nora Karla. Eles muitas vezes se viram privados de minha pre-
sença nos momentos em que eu estava envolvido com este trabalho, o
qual consumiu tempo e esforço, e eles me apoiaram e incentivaram
durante tão longo percurso.
Agradeço a todos os meus alunos dos cursos teológico e psico-
teológico que tenho ministrado ao longo dos anos. Cursos que não ve-
jo meramente como um compartilhamento de conhecimentos, mas
como um ministério de vida.
Agradeço a todas as pessoas a quem tenho atendido em tera-
pia psicológica em clínica psicoterápica convencional e a todas as pes-
soas a quem tenho dedicado aconselhamento psicoteológico nas igre-
jas e até mesmo em clínica. Tanto as pessoas já passadas, como as
presentes e as futuras, porque estiveram, estão e estarão continua-
mente me ensinando a ser um terapeuta, conselheiro e, principalmen-
te, uma pessoa um pouco melhor a cada dia. Não sei dizer o quanto
elas aprenderam ou se beneficiaram comigo, mas sei dizer que tenho
aprendido e me beneficiado muito com elas. Não as chamo de pacien-
tes ou clientes, mas sim de colaboradores e participantes atuantes,
pois elas realmente se envolvem ativamente no processo de trata-
mento. Entre essas pessoas quero destacar Joyce (nome fictício), a
qual personifica neste livro todas as demais pessoas a quem tenho
atendido. No relato da história de Joyce, muitos fatos são fictícios ou
alterados para se adaptarem ao contexto que abordo e para manter o

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 5


anonimato das pessoas envolvidas, mas a Joyce é uma pessoa real e
personifica todas as demais a quem tenho atendido.
Agradeço aos colegas psicólogos, teólogos, psicoteólogos, pas-
tores e ex-alunos pelas sugestões e pelas palavras de apoio e incentivo
para que tal trabalho fosse realizado e revisado.
A todos, meus sinceros agradecimentos e votos de muita felici-
dade sob as bênçãos do Senhor, a quem juntos servimos. Só na eterni-
dade vocês terão realmente a consciência do quanto foram e são im-
portantes para mim.

Gilson de Almeida Pinho

6 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Algumas palavras iniciais
Várias faculdades, principalmente de psicologia e teologia, ofe-
recem cursos de pós-graduação em ciência da religião ou outro curso
qualquer relacionado a isso, e há opções para todos os gostos. Alguns
cursos dão ênfase ao aspecto histórico-teológico; outros ao aspecto fi-
losófico; outros ao aspecto sociológico-antropológico; outros ao as-
pecto neurológico; e outros são voltados à psicanálise ou à psicologia;
sem contar os cursos com forte ênfase espiritualista, budista, teosófi-
ca, esotérica etc. Ou seja, não há pelos centros acadêmicos que ofere-
cem tais cursos uma definição clara do que seja ciência da religião, e
nem um programa padrão mínimo a ser adotado por eles. Cada enti-
dade cria seus cursos segundo sua própria visão do assunto e de acor-
do com o público-alvo que pretende alcançar.
Este livro foi escrito originalmente para servir de base ao curso
de “Pós-graduação em Ciência da Religião, com ênfase em psicoteolo-
gia clínica”, do Seminário Teológico Hosana, de Londrina, depois foi
aplicado à APCU (American Pontifical Catholic University) e também é
apresentado em forma de curso livre que tenho ministrado em diver-
sas igrejas ou organizações não eclesiásticas. Em qualquer dos casos,
trata-se de um curso fundamentado na psicoteologia e na neuroteolo-
gia.
---
Quando o autor desse trabalho era aluno do curso de psicolo-
gia, em uma aula de técnicas de atendimentos psicoterapêuticos, a
professora da disciplina, sabendo que muitos alunos ali presentes
eram evangélicos, passou gratuitamente a criticar os atendimentos te-
rapêuticos em clínicas pastorais, dizendo que eles não têm base psico-
lógica alguma e nem se utilizam de técnicas científicas reconhecidas.
Disse ainda que tais atendimentos “se limitam a ouvir as pessoas e
perdoar seus pecados”, o que não as ajudava em coisa alguma nos

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 7


seus problemas pessoais, pois “visavam somente à conversão da pes-
soa atendida”. Quando questionada por mim se ela conhecia as bases
teóricas e as técnicas empregadas nas clínicas pastorais, a professora
demonstrou total desconhecimento do assunto que estava se propon-
do a criticar e, o que é pior, apresentou forte preconceito contra qual-
quer forma de atendimento que não fosse a sua própria abordagem
teórica, inclusive menosprezando outras abordagens psicológicas re-
conhecidas internacionalmente.
Se o atendimento psicopastoral se limitasse apenas a “ouvir as
pessoas e a perdoar seus pecados”, de fato, isso seria um absurdo, e
aquela professora teria razão no que estava criticando, mas não é isso
o que acontece, pois hoje em dia o atendimento psicopastoral é bem
elaborado, e muitos terapeutas teológicos têm profundo embasamen-
to científico e técnica clínica bem elaborada. É óbvio que o atendimen-
to psicoteológico normalmente visa um público bem específico, cons-
tituído de pessoas já convertidas ao cristianismo e que se recusam a ir
a psicólogos não cristãos, portanto não há por que convertê-las visto
que elas já são convertidas. Além disso, pela peculiaridade desse pú-
blico, nem sempre o psicólogo que traz apenas a formação acadêmica
consegue se expressar na mesma linguagem da pessoa que propõe a
atender, nem tampouco consegue entender seus problemas espiritu-
ais e existenciais.
Quando o terapeuta psicopastoral fala sobre a salvação, ele
não está querendo converter quem já é convertido, e, sim, usar a
comparação da salvação, como experiência de mudança de vida, como
um paralelo com a necessidade de mudança de vida em relação a pro-
blemas específicos que a pessoa trouxe para o aconselhamento ou
atendimento psicoteológico. Neste trabalho será mostrado o quanto
essa comparação é significativa.
---
Um segundo aspecto que gostaria de destacar é o preconceito
anticristão entre grande número de profissionais da psicologia. Alguns
anos atrás, já como psicólogo, o autor desse trabalho participou de
uma palestra a respeito do “diálogo entre a psicologia e a religião”. Tal
palestra foi promovida por uma instituição vinculada ao CFP (Conselho

8 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Federal de Psicologia). A dirigente dos trabalhos fez inicialmente uma
longa exposição sobre a postura do CFP a respeito de diversos pro-
blemas sociais, entre os quais destacou os falsos tratamentos dados a
homossexuais por entidades religiosas, tachando as igrejas cristãs em
geral de preconceituosas quanto à homossexualidade. Depois, a diri-
gente deixou esse assunto de lado e passou a atacar a religião e as vá-
rias igrejas cristãs, principalmente os evangélicos, destacando a im-
possibilidade de comunicação entre a psicologia científica e as práticas
religiosas. Se o tema da palestra era o “diálogo entre a psicologia e a
religião”, aquela psicóloga deixou claro que tal diálogo era impossível
no ponto de vista dela. Conhecendo os pontos de vistas do CFP frente
a tais assuntos, eu não me manifestei inicialmente para evitar polêmi-
cas infrutíferas, apesar de achar que as palavras da dirigente tinham
só preconceito e nada de embasamento científico.
Depois de tudo isso, a dirigente passou a palavra para a pales-
trante convidada, a qual estava vestida com trajes típicos de candom-
blé e se apresentou como líder de terreiro, inclusive com pós-
graduação em religiosidade africana em um país daquele continente. A
palestrante falou sobre a importância de suas crenças, sobre a trans-
formação de vida pela qual passou ao abraçar tal prática religiosa e
discorreu a respeito da orientação religiosa e espiritual que dava às
pessoas que a procuravam em seu consultório. Ao fim da palestra, ela
foi aplaudida por alguns profissionais da plateia e pela dirigente dos
trabalhos.
No fim, a palestrante e a dirigente foram questionadas por vá-
rios dos presentes de que todo psicólogo é livre para professar a reli-
gião que bem entender, inclusive não professar religião alguma, mas
que o “Código de Ética Profissional do Psicólogo” proíbe o uso da psi-
cologia como forma de conversão e indução dos pacientes ou clientes
a qualquer tipo de orientação religiosa, filosófica, ideológica, política
etc. A grande dúvida que eu levantei nessa altura da palestra era se tal
determinação do código de ética só se aplicava aos cristãos, pois pelo
que entendi uma chefe de terreiro do candomblé teria liberdade de
expressar sua fé em consultório, mas um cristão não teria essa liber-
dade, pois incorreria em falta ética. Outras questões foram levantadas

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 9


pelos presentes, como, por exemplo, as origens cristãs da psicologia, o
lado bom da fé no processo terapêutico, o apoio da igreja a quem so-
fre etc. Obviamente tal palestra terminou em um desconforto genera-
lizado e sem apresentar um consenso, pois, como disse a dirigente,
aquilo era uma palestra e não um conselho deliberativo para discutir a
ética dos atendimentos clínicos, mas não era assim que ela pensava
quando no início estava tentando forçar seus pontos de vista sobre
todos os profissionais presentes.
É sabido que o CFP deveria ter uma postura neutra quanto à
religião, e seria até compreensível se tal postura fosse, na realidade,
ateísta, acristã e arreligiosa, mas na prática não é uma postura ateísta,
e sim uma postura antiteísta, anticristã e antirreligiosa, pois o CFP faz
questão de ignorar a origem judaico-cristã da psicologia, bem como
que muitas de suas práticas terapêuticas têm origem no consultório
pastoral.
Ao longo de 5 anos de faculdade o aluno de um curso de psico-
logia é orientado a pensar e a fazer com que seus futuros pacientes ou
clientes aprendam a pensar, mas, por outro lado, o CFP procura impor
sobre os psicólogos filiados seus pontos de vistas concernentes a de-
terminados assuntos (por exemplo: a recusa da redução da maiorida-
de penal, a recusa a atendimentos a pacientes com crises existenciais
devido à sua homossexualidade, e muitos outros que não valem a pe-
na ser citados agora), e quer tirar de seus associados a liberdade de te-
rem pontos de vistas diferentes daqueles que o CFP estabelece, ou
melhor, procura impor. Isso também vale para uma psicologia com
fundamentação cristã. Para o CFP “psicologia cristã” soa à blasfêmia,
mas blasfêmia mesmo é o CFP se esquecer de que a psicologia é origi-
nária da cultura judaico-cristã, e essencialmente uma prática judaico-
cristã, e que qualquer psicologia que se recusa a reconhecer suas ori-
gens judaico-cristãs pode ser chamada de tudo, menos de verdadeira
psicologia.
A psicologia científica pode sim, e deve, dialogar com suas ori-
gens judaico-cristãs e com o cristianismo em geral. O psicólogo não
deve utilizar sua clínica com a finalidade de evangelizar ou induzir seus
pacientes e clientes, mas se ele estiver prestando seus serviços em

10 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


uma entidade religiosa não deveria se amoldar aos padrões daquela
entidade, assim como faria em qualquer outra organização social, co-
munitária, trabalhista etc.? Se o psicólogo cristão estiver atendendo
uma pessoa cristã não poderia conversar com ela na linguagem que
essa pessoa entende? O psicólogo não pode aplicar técnicas psicológi-
cas em atendimentos pastorais, se ele for cristão, ou utilizar técnicas
pastorais em atendimentos psicológicos, sem com isso comprometer
seu profissionalismo técnico?
É óbvio que tudo isso é possível e com a garantia estabelecida
pelo nosso sistema jurídico e legal, inclusive constitucional. Mesmo
que tudo isso não fosse possível ao psicólogo, segundo o CFP, pergun-
to: Alguém com formação psicoterapêutica teológica pode ser um psi-
coteólogo clínico? Óbvio que sim. E sendo um psicoteólogo clínico, há
alguma instituição legal que possa impedi-lo de exercer legalmente a
prática psicoteológica? Óbvio que não, nem mesmo o CFP.
Este trabalho se propõe a ajudar qualquer terapeuta, cristão ou
não cristão, a lançar mão de alguns preceitos psicológicos e teológicos
no atendimento terapêutico psicoteológico, sendo essa pessoa um
psicólogo ou não, sendo um teólogo ou não. Basta apenas que tenha
um coração disposto a servir o próximo e que tenha em mente o dese-
jo de ajudar pessoas, e mais que isso “ajudar pessoas a ajudar pesso-
as”.
---
Diante do que foi exposto acima, só me resta dizer: Bem-vindo
ao estudo da “Psicoteologia: Teoria e prática – Da fundamentação
teórica ao atendimento terapêutico breve focado na psicologia e na
teologia”. Mesmo que você seja um profissional em psicologia e não
queira aprender coisa alguma sobre as fundamentações teológicas da
psicologia, leia os passos do atendimento terapêutico, pois isso poderá
ajudá-lo até mesmo em seus atendimentos clínicos convencionais.
A psicologia nasceu dentro da teologia, mas logo ambas passa-
ram a caminhar como saberes e práticas distintas. A psicologia nada
mais é que uma teologia ateísta, sem Deus; nada mais é que um cristi-
anismo acristão, onde o foco não é Cristo, mas sim o homem; nada
mais é que uma prática que não busca a conversão, mas sim a mudan-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 11


ça de vida. O fato de ser ateísta, acristã e arreligiosa não faz da psico-
logia algo ruim; o que pode tornar a psicologia má é quando toma uma
postura antiteísta, anticristã e antirreligiosa; pior ainda é quando os
psicólogos, assim como os teólogos, proclamam-se donos absolutos da
verdade, e não aceitam um pensar de modo diferente, e mais inclusi-
vo, pois cada uma tem muito a ensinar à outra. A psicoteologia não vi-
sa fundir psicologia e teologia, mas sim estabelecer um canal de co-
municação entre ambas.
Meu desejo e minha oração a Deus é que esta leitura seja útil
em sua vida pessoal, em sua vida profissional e em sua vida ministeri-
al, e na vida das pessoas a quem o leitor vai aplicar o que ler aqui. Seja
o melhor naquilo que você se propõe a fazer.

12 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Notas do autor
1) Como este trabalho é essencialmente didático, para realçar
ou separar ideias optou-se pelo emprego de numeradores: 1., 2., 3.;
ou 1-, 2-, 3-; ou 1), 2), 3); ou a., b., c.; ou a-, b-, c-; ou a), b), c); ou o
uso de marcadores (•).
Os numeradores são utilizados quando a ordem em que as
ideias são apresentadas é importante e não deve ser invertida para
não comprometer o entendimento sequencial do assunto.
Os marcadores são utilizados quando a ordem das ideias pode
ser trocada sem comprometer o entendimento global do que está
sendo abordado.
De acordo com as necessidades, um numerador pode se subdi-
vidir em outros numeradores e marcadores; bem como um marcador
pode se subdividir em outros marcadores e numeradores.
2) Neste trabalho os termos “aconselhamento, terapia, psico-
terapia e tratamento” são utilizados indistintamente como sinônimos,
não se fazendo diferenciação entre o atendimento psicoteológico e o
atendimento em uma psicoterapia convencional. O conceito de acon-
selhamento é semelhante ao empregado na psicologia humanista, e
não com o sentido de simples aconselhamento pastoral ou aconse-
lhamento feito por um leigo.
3) Os termos “conselheiro, terapeuta, psicoterapeuta, analista
e orientador” também são utilizados indistintamente como sinônimos.
O termo conselheiro é utilizado com sentido técnico, isto é, como sen-
do um terapeuta teológico, e não meramente um conselheiro pasto-
ral.
4) Os termos “aconselhado ou aconselhando, paciente e/ou
cliente, pessoa atendida ou consultante” são igualmente utilizados
indistintamente como sinônimos. O termo “paciente” é evitado, pois a
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 13
pessoa será orientada a não assumir uma atitude meramente passiva
durante o tratamento. O termo “cliente” é evitado devido a sua cono-
tação comercial.
5) As observações acima se fazem necessárias porque qualquer
pessoa que tenha conhecimento teórico e treinamento em psicotera-
pia pode realizá-la sem qualquer impedimento legal, e se apresentar
como psicoterapeuta, inclusive o terapeuta psicoteológico, teólogo te-
rapeuta e terapeuta pastoral. A psicoterapia não é atividade restrita a
psicólogos, psicanalistas, terapeutas sistêmicos, psicopedagogos e ou-
tros profissionais afins.
6) Com relação à observação anterior, a pessoa que não tem
formação específica, graduação ou pós-graduação, devidamente reco-
nhecida pelo Ministério da Educação, não pode atribuir títulos para si
de psicólogo, psicanalista, terapeuta sistêmico, psicopedagogo etc. Is-
so pode ser crime de falsidade ideológica, ou exercício ilegal de profis-
são. Portanto, em momento algum, o psicoteólogo pode se apresentar
como um dos profissionais mencionados, a não ser que realmente te-
nha formação específica na área.
7) Apenas a aplicação de testes psicológicos homologados pelo
Conselho Federal de Psicologia (CFP) é uma atividade restrita a psicó-
logos. A aplicação deles por pessoas não autorizadas se constitui em
crime. Também é crime ao profissional psicólogo fornecer tais testes
para que pessoas não autorizadas os utilizem. Por esses motivos, este
trabalho não fornecerá e nem tecerá comentários específicos sobre
testes psicológicos do CFP, mas fornecerá alguns testes livres (não
homologados pelo CFP), geralmente elaborados pelo próprio autor
desse livro, mas nem por isso são de qualidade ou de abrangência in-
ferior aos testes homologados. Quem é profissional terapeuta poderá
comparar os testes e inventários aqui apresentados com aqueles ho-
mologados pelo CFP, e julgar por si mesmo a validade clínica de tais
testes.

14 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Lista de abreviaturas e siglas
A ambiente
A avaliação do nível de ansiedade
a.C. antes de Cristo
AE ambiente externo
AI ambiente interno
APCU Pontifícia Universidade Católica Americana (American
Pontifical Catholical University)
ARA Almeida Revista e Atualizada (versão bíblica da SBB)
ARC Almeida Revista e Corrigida (versão bíblica da SBB)
Art., art. artigo
C consequência
CC crenças condicionais (o mesmo que CI)
CFP Conselho Federal de Psicologia
Cg reações cognitivas
CI crenças intermediárias (o mesmo que CC)
CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados com a Saúde, 10ª revisão,
2007.
CN crenças nucleares
Cp reações comportamentais
D avaliação do nível de depressão
DA transtorno misto de depressão e ansiedade
DSM-IV TR Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Men-
tais, Versão IV, Texto Revisado, de 2000, ou Diagnostic
and Statistical Manual of Mental Disorders, Version IV,
Revised Text, 2000
E extrovertido, pessoa extrovertida
E reações emocionais

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 15


EA evento ativador
EAD Educação À Distância
EC estratégia compensatória
EM, EMs esquema mental, EMs é plural
F sentimento (feeling), pessoa emocional sentimental
Fig., Figs. figura, Figs. é plural
Fs reações fisiológicas
Ft expectativas futuras
HIV vírus da imunodeficiência humana
IAVQF Inventário de Avaliação da Vida de Qualidade e da Fe-
licidade
ICD-10 International Statistical Classification of Deseases and
Related Health Problems, 10th revision, 2007
MDE, MDEs mecanismo de defesa do ego, MDEs é plural.
MEC Ministério da Educação
n. ano de nascimento ou de início
Nº, nº número
NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje
NVI Nova Versão Internacional
NVT Nova Versão Transformadora
OMS Organização Mundial da Saúde
org., orgs organizador, organizadores
P, P+, P- punição, punição positiva, punição negativa
p. pp. paginis, na página, nas páginas
PA, PAs pensamento automático, PAs é plural
pág., pags. Página, páginas
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
R reação ou resposta
Ra reforço aversivo
RCg reação cognitiva

16 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


RCp reações comportamentais
RE reação emocional
REM Rapid Eyes Movement (movimento rápido dos olhos)
Rf, Rf+, Rf- reforço, reforço positivo, reforço negativo
RFs reação fisiológica
RPD registro de pensamentos disfuncionais
S estímulo (stimuli)
SBB Sociedade Bíblica do Brasil
SC Estado de Santa Catarina
séc., sécs. século, sécs. é plural
SNC sistema nervoso central
S-R estímulo-resposta (Stimuli-Respond)
TAB transtorno afetivo bipolar
Tab. tabela
TCC Terapia Cognitivo-Comportamental
TE terapia do esquema
TOC transtorno obsessivo-compulsivo
TP, TPs transtorno de personalidade, TPs é plural
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de São Paulo
v., vol. Volume

As abreviaturas para os livros da Bíblia seguem o padrão adotado pela


SBB.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 17


Sumário

Introdução ........................................................... 23
Módulo 1. Apresentação do curso de
Psicoteologia .................................................... 27
2. Curso Crer e Ser de psicoteologia: Entendendo a
estrutura e abrangência do curso .............................. 29

Módulo 2. Introdução à psicoteologia .................. 35


1. Fundamentos de psicoteologia: O que é
psicoteologia? ........................................................... 37
1.1. Conceito de psicoteologia ............................................ 37
1.2. Psicoteologia e suas bases teóricas na psicologia
e na teologia ................................................................. 39
1.3. Conceito de neuroteologia ........................................... 41
Conclusão: O psicoteólogo deve ser um construtor de
pontes entre o psicólogo e o teólogo ........................... 42

Módulo 3: Homem como ser psicossomático e


espiritual .......................................................... 44
4. Homem psicossomático: Alma e os aspectos do
homem interior ........................................................ 46
4.1. Alma: O verdadeiro homem interior ............................ 46
4.2. Diferentes aspectos (sinônimos) para a alma .............. 47
Conclusão: Diferentes termos para os mesmos
elementos ..................................................................... 59

Módulo 4: Componentes da personalidade


humana ............................................................ 60
18 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
2. Humor, afeto e temperamento 2: As emoções e
os sentimentos ......................................................... 63
2.1. Conceituando emoções e sentimentos ........................ 64
2.2. Diferentes emoções humanas ...................................... 66
2.4. Emoções e suas manifestações corporais .................... 71
2.5. As emoções estão na alma............................................ 73
2.6. Características gerais de pessoas altamente
emotivas ........................................................................ 74
2.7. O domínio próprio ou temperança ............................... 78
Analfabetismo emocional ..................................................... 79
Características do analfabetismo emocional ....................... 80
Aprenda a controlar suas emoções ...................................... 80
Conclusão: Lidando com emoções negativas ...................... 82
Inventário de avaliação do perfil emocional e
sentimental.................................................................... 85

Módulo 5: Processo de formação da


personalidade humana .....................................88
3. Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais .... 91
3.1. Relação entre a terapia cognitiva e a teologia ............. 92
3.2. Conceituação cognitivista de esquemas mentais,
crenças condicionais e nucleares .................................. 94
1- S-R: Estímulo e Resposta .................................................. 94
2- S-R-C: Estímulo, Resposta e Consequência ...................... 96
3- Mudando do comportamentalismo de Skinner para
o cognitivismo de Beck .................................................. 100
4- Esquemas mentais (EM) ................................................. 102
5- Pensamentos automáticos (PA) ..................................... 103
6- Crenças condicionais (CC) ou crenças
intermediárias (CI) ......................................................... 104

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 19


7- Crenças nucleares (CN) ou crenças centrais .................. 106
8- Fatores determinantes dos esquemas mentais ............. 107
3.3. Como os esquemas mentais se formam? .................. 110
1- Linguagem e pensamento .............................................. 111
2- Linguagem e pensamento se autoconstroem................ 113
Conclusão: A importância dos esquemas mentais na
vida das pessoas.......................................................... 116

Módulo 6: Análise do comportamento


disfuncional .................................................... 117
2. Psicopatologia 1 Transtornos mentais e de
comportamento...................................................... 119
2.1. Conceituação de psicopatologia................................. 120
2.2. Fatores determinantes dos transtornos mentais e
comportamentais........................................................ 123
1- Fatores biológicos .......................................................... 125
2- Fatores psicológicos ....................................................... 127
3- Fatores socioculturais .................................................... 130
4- Fatores espirituais .......................................................... 133
2.3. Classificação dos transtornos mentais ....................... 139
2.4. Transtornos neuróticos ou psiconeuróticos ............... 143
1- Reação a estresse grave e transtornos de
ajustamento ou adaptação ............................................ 146
2- Transtornos ansiosos...................................................... 147
3- Transtornos fóbico-ansiosos .......................................... 149
4- Transtornos dissociativos ou conversivos (histeria) ...... 153
5- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ....................... 156
Conclusão: Transtornos mentais ou operações
demoníacas? ............................................................... 157
Inventário de avaliação do nível de estresse .................... 159

20 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do nível de ansiedade .................. 164

Módulo 7: Psicoteologia aplicada em


atendimento clínico breve............................... 169
1. Psicoteologia aplicada: Modelo psicoteológico de
atuação clínica breve .............................................. 175
1.1. Modelo de 7 passos de atuação clínica da terapia
psicoteológica .............................................................. 176
1.2. Por que o modelo de atendimento é chamado de
breve? .......................................................................... 178
1.3. Principais técnicas e procedimentos clínicos .............. 180
Conclusão: Por que um modelo de atendimento
clínico? ......................................................................... 182

Módulo 8: Práticas psicoteológicas ..................... 183


1. Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal . 187
1.1. A tarefa de aconselhamento pessoal.......................... 188
1- O local e momento certo para o aconselhamento
pessoal ........................................................................... 188
2- Alguns procedimentos éticos e técnicos por parte
do conselheiro ............................................................... 189
3- O que o conselheiro deve saber para aconselhar de
maneira eficaz ................................................................ 191
1.2. Confrontar e amar são ideias opostas ou ideias
complementares?........................................................ 195
1.3. O perdão e a administração da perda ........................ 197
Conclusão: O desafio do aconselhamento pessoal ........... 197

Referências ........................................................ 199


Com relação às referências bíblicas ................................... 206

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 21


22 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Introdução

Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Este-


jam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que
lhes pedir a razão da esperança que há em vocês. (1 Pedro 3.15
NVI)

Psicoteologia é uma palavra que pode parecer nova para o lei-


tor leigo, pois é um termo em moda atualmente nos ambientes psico-
lógico e teológico, e muitos acham que é alguma inovação ou adapta-
ção em cima da psicologia. Mas a psicoteologia não é nova, ao contrá-
rio, é uma área de saber e uma prática terapêutica mais antiga que a
própria psicologia, aliás, ela é que serviu de base para a psicologia, e
não o contrário.
Em uma pesquisa na internet, vários termos podem ser encon-
trados como sinônimos ou correlatos à psicoteologia, tais termos (aqui
foram listados apenas 23) servem de marcadores (ou tags) de localiza-
ção do assunto:

1) Como área de saber teórico:


• Psicoteologia e teopsicologia – segundo termo é mais apropri-
ado visto que a psicologia nasceu dentro da teologia, e não o
contrário, mas o primeiro termo acabou se tornando mais co-
mum.
• Psicologia teológica e psicologia cristã. Por mais que os psicó-
logos procurem desassociar a psicologia em relação à teologia,
e os teólogo também buscam fazer a desassociação inversa,
mas é importante dizer que a psicologia nasceu dentro da teo-
logia, então, para desespero e revolta dos psicólogos, em sua

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 23


Introdução

essência toda psicologia é teológica, toda psicologia é cristã.

2) Como prática terapêutica – todos os 11 termos abaixo des-


tacam o aspecto terapêutico da psicoteologia:
• Psicoteologia clínica;
• Teopsicoterapia;
• Terapia psicoteológica, terapia ou psicoterapia teológica, te-
rapia ou psicoterapia teocêntrica;
• Terapia ou psicoterapia cristã, terapia ou psicoterapia cris-
tocêntrica.

3) Como atividade de aconselhamento. Em todos os 7 termos


abaixo é importante destacar que o aconselhamento tem o mesmo
sentido de aconselhamento em psicologia humanista, em especial a
rogeriana (de Carl Ransom Rogers, 1902-87), onde tal palavra é sinô-
nimo de prática terapêutica, e não um aconselhamento leigo ou um
aconselhamento pastoral sem rigor técnico:
• Aconselhamento psicoteológico;
• Aconselhamento psicopastoral, aconselhamento pastoral te-
rapêutico;
• Aconselhamento terapêutico ou psicoterapêutico;
• Aconselhamento teológico, aconselhamento teológico tera-
pêutico.

4) Como atividade terapêutica pastoral. Apesar do nome pas-


toral, os 3 termos abaixo são usados: (1) para designar a atividade rea-
lizada por qualquer pessoa que tenha algum conhecimento teológico,
sendo ou não um pastor; e (2) é diferente de um aconselhamento pas-
toral comum, onde falta o rigor técnico, mas trata-se de uma prática
terapêutica:
• Terapia ou psicoterapia pastoral, terapia psicopastoral.

A relação da psicoteologia com a psicologia e com a teologia


não está apenas no nome, mas principalmente no que ela herda de

24 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Introdução

cada uma dessas áreas de saberes.


• Da psicologia, a psicoteologia busca os conceitos de mente,
psicossomática, processos mentais consciente e inconsciente,
esquemas mentais, linguagem, teorias motivacionais etc.
• Da teologia, a psicoteologia busca os conceitos de salvação (li-
bertação), conversão, mudança de vida, nova e velha naturezas
etc.
Outros assuntos seriam igualmente importantes para o emba-
samento psicoteológico e deveriam ser aqui abordados, mas se isso
fosse feito, o volume desse trabalho se multiplicaria muito:
• Da psicologia poderiam ser citados: fenômenos transferenciais,
mecanismos de defesa, grupoterapia, psicopatologias, teorias
da personalidade etc.
• Da teologia poderiam ser citados: ética cristã, ética pastoral,
ação ampla do Espírito Santo no processo da salvação etc.

O conhecimento dos conceitos apresentados é importantíssi-


mo para a atividade clínica focada na psicoteologia, pois fornece ao te-
rapeuta, conselheiro, orientador e analista pessoal alguns subsídios
que lhe permitirão a condução dos passos e técnicas que serão abor-
dados na sequência desse trabalho.
Existem diferenças de cosmovisão da psicologia e da teologia?
Óbvio que sim, e algumas são irreconciliáveis, mas existem muitas se-
melhanças. A psicoteologia procura trabalhar as cosmovisões seme-
lhantes e utilizar as cosmovisões diferentes, sem se preocupar muito
em tentar harmonizá-las, simplesmente porque isso em geral é uma
tarefa impossível. Apesar da impossibilidade dessa harmonização, isso
não significa que não dá para ser tolerante em conviver com ambas.
---
O estudo da psicoteologia é amplo, porque suas fundamenta-
ções são amplas. O estudo da psicoteologia é complexo, porque suas
fundamentações nem sempre são conciliáveis, mas essa convivência
não é impossível. O que queremos é convidar o leitor a ver que é pos-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 25


Introdução

sível uma convivência entre psicologia e teologia sem muitos conflitos


de egos e sem muitos conflitos de dogmas.
E tudo isso, vamos começar agora...

26 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Módulo 1.
Apresentação do
curso de Psicoteologia

Pois Esdras tinha decidido dedicar-se a estudar a Lei do SE-


NHOR e a praticá-la, e a ensinar os seus decretos e manda-
mentos aos israelitas. (Esdras 7.10 NVI)

Todo esse material foi desenvolvido para atender o curso Crer


e Ser de psicoteologia, tanto na sua modalidade curso livre, como
também curso de pós-graduação, tanto na sua forma presencial, como
também nas formas on-line e EAD (Educação À Distância). Antes mes-
mo de apresentar o que é psicoteologia, é importante falar algo sobre
o curso de psicoteologia e responder as dúvidas mais frequentes que
as pessoas apresentam com relação ao curso.
1. Legislação: Informações legais sobre os cursos livre e de
pós-graduação. Quando se fala em curso de psicoteologia, de imedia-
to as pessoas apresentam 3 questões básicas: (1) Esse curso é legaliza-
do e tem autorização para funcionar? (2) Esse curso é reconhecido pe-
lo MEC (Ministério da Educação e Cultura)? (3) Posso exercer a ativi-
dade de psicoteólogo após a conclusão do curso? As duas primeiras
perguntas podem ser respondidas facilmente neste capítulo. A terceira
questão ficará para o “Módulo 17. Orientações para a prática clínica
da psicoteologia”.
2. Curso Crer e Ser de psicoteologia: Entendendo a estrutura e
abrangência do curso. Este trabalho que o leitor tem nas mãos consta

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 27


Apresentação do curso de Psicoteologia

de diversos capítulos, os quais podem ser distribuídos em 18 partes


distintas ou módulos. É importante que o leitor tenha em mente que
tais assuntos foram elaborados especificamente como base para o
curso Crer e Ser Psicoteologia e, mais que isso, fazer desses módulos
uma base de estudo para a vida do leitor, uma orientação de prática
de vida e, por fim, algo a ser ensinado para outras pessoas.
3. Literatura psicoteológica: Montando uma biblioteca psico-
teológica mínima. Existem pouquíssimas fontes de pesquisa direta-
mente relacionadas à psicoteologia, mas indiretamente isso pode ser
conseguido nas fontes bibliográficas para a psicoteologia e para a teo-
logia. É importante considerar que quem pretende trabalhar como
psicoteólogo deve montar para si uma biblioteca mínima de estudo e
estar disposto a acessá-la o tempo todo, principalmente quando tiver
dúvidas ou enfrentar problemas na sua prática diária.

Até agora tudo que foi feito é uma apresentação do curso Crer
e Ser de psicoteologia. A partir do módulo seguinte começaremos o
curso propriamente dito.
Vamos começar!...

28 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


2. Curso Crer e Ser de psicoteologia: Enten-
dendo a estrutura e abrangência do curso

Tudo quanto vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas


forças... (Eclesiastes 9.10a ARA)

Este trabalho que o leitor tem nas mãos consta de diversos ca-
pítulos, os quais podem ser distribuídos em 18 partes distintas ou mó-
dulos. É importante que o leitor tenha em mente que tais assuntos fo-
ram elaborados especificamente como base para o curso Crer e Ser
Psicoteologia e, mais que isso, fazer desses módulos uma base de es-
tudo para a vida do leitor, uma orientação de prática de vida e, por
fim, algo a ser ensinado para outras pessoas.
Os 18 módulos são:

No “Módulo 01: Apresentação do curso de psicoteologia” é


apresentada a estrutura do curso de psicoteologia aqui proposto, visto
que todo esse material foi desenvolvido para atender o curso Crer e
Ser Psicoteologia, tanto do curso livre, como do curso de pós-
graduação; tanto do curso presencial, como do curso on-line e do cur-
so EAD (Educação À Distância). Traz informações sobre a legislação
pertinente aos cursos livres e de pós-graduação. Por fim, orienta o
aluno sobre a formação de uma biblioteca mínima para o estudo dos
assuntos relacionados à psicoteologia, os quais foram utilizados como
fontes didáticas para o curso. Este é o módulo que está sendo aborda-
do no momento.

No “Módulo 02: Introdução à psicoteologia” é apresentado ao


público leigo em psicoteologia e ao público crítico da psicoteologia

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 29


Apresentação do curso de Psicoteologia

uma introdução geral ao assunto, a fim de que todos conheçam o que


é a psicoteologia e o que ela se propõe a estudar, destacando que,
embora a psicologia e a teologia sejam saberes diferentes, ambas têm
muitos pontos e objetivos em comum, sendo o principal a busca do
bem-estar físico, mental, emocional, social, espiritual e existencial do
ser humano, cabendo à psicoteologia estabelecer uma ponte entre es-
sas duas fontes de saberes.

No “Módulo 03: Homem como ser psicossomático e espiritu-


al” é apresentado o homem como o foco principal da psicoteologia
(antropocentrismo psicoteológico), destacando a relação entre os as-
pectos orgânico, psicológico e espiritual, que serão vistos separada-
mente apenas para efeito didático, mas na realidade ele deve ser visto
como um todo e não como entidades isoladas, pois existe total intera-
ção entre essas partes.

No “Módulo 04: Componentes da personalidade humana”


procura-se apresentar ao leitor o foco da psicoteologia propriamente
dito, que é o estudo do homem, ou mais especificamente de sua per-
sonalidade, constituída de 5 componentes específicos: 1) instintos,
pulsões e impulsos, reações fisiológicas comportamentais e padrões
fixos de ação; (2) emoções ou emoções primárias e os sentimentos ou
emoções secundárias; (3) sentidos e percepções; (4) cognições e pro-
cessos mentais, tanto os inconscientes como os conscientes; e (5) voli-
ção ou vontade, escolhas, atitudes, motivações, hábitos, ações e rea-
ções. Sem a compreensão desses 5 elementos é impossível continuar
o estudo da psicoteologia e compreender o que ela se propõe a fazer,
portanto esse é um dos módulos mais importantes do curso de psico-
teologia.

No “Módulo 05: Processo de formação da personalidade hu-


mana” procura-se mostrar que os 5 componentes da personalidade já
vêm com o código genético de toda pessoa (herança filogenética), no
entanto eles são condicionados, doutrinados e formatados ao longo
da sua vida por fatores do ambiente sociocultural (herança sociogené-
tica) e pelas experiências pessoais do próprio indivíduo (herança onto-

30 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Entendendo a estrutura e a abrangência do curso

genética). Agora nesta parte, o destaque será como esses elementos


são condicionados para formarem a personalidade de cada pessoa e,
mais que isso, como são condicionados para formarem diferentes per-
fis padrões de personalidade.

No “Módulo 06: Análise do comportamento disfuncional”


procura-se mostrar que a bagagem genética e os condicionamentos
que a pessoa sofre ao longo da vida podem dar origem a esquemas
mentais funcionais e uma personalidade estruturada e sadia, mas
também pode dar origem a esquemas mentais completamente disfun-
cionais, os quais muitas vezes resultarão em psicopatologias diversas e
transtornos de personalidade, ou seja, tudo aquilo que dificulta o con-
vívio social do seu portador, e causa desconforto às pessoas com as
quais convive. Sem contar que tais comportamentos disfuncionais po-
dem ter forte componente espiritual.

No “Módulo 07: Psicoteologia aplicada em atendimento clíni-


co breve” será apresentado um modelo clínico de atendimento breve
psicoteológico, fundamentado na psicologia cognitivista (Terapia Cog-
nitivo-Comportamental) e também na teologia, em especial na doutri-
na da salvação e na ética cristã, porque seu público alvo é constituído
principalmente de conselheiros cristãos e pastorais, os quais atende-
rão pessoas evangélicas e simpatizantes, em sua maioria, isto é, pes-
soas que normalmente não procurariam um terapeuta que não fosse
evangélico. Esta é a parte mais importante de todo esse trabalho, não
só por causa do modelo psicoterapêutico apresentado, mas também
porque faz uso de tudo que foi estudado ao longo desse trabalho. O
ideal seria se esse módulo só fosse abordado no final do curso de psi-
coteologia, mas como o curso é estruturado em uma sequência que
contempla a prática terapêutica, esse módulo é colocado aqui para
que possa servir de base para os demais módulos práticos.

No “Módulo 08: Práticas clínicas individuais” é apresentado:


(1) um modelo de terapia individual na condição de paciente para o
participante do curso; (2) um modelo de prática terapêutica na condi-
ção de terapeuta em formação para o participante do curso; e (3) um

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 31


Apresentação do curso de Psicoteologia

modelo supervisionado de acompanhamento da terapia psicoteológica


realizado pelo participante do curso na condição de terapeuta em
formação. Esse módulo é a orientação para a aplicação prática do mó-
dulo anterior.

No “Módulo 09: Grupoterapia em psicoteologia” é apresenta-


do um modelo de terapia grupal ou grupoterapia fundamentado na
psicologia e na teologia, e baseado no trabalho dos Alcoólicos Anôni-
mos e no Celebração a Recuperação. Assim como o anterior, esse mó-
dulo serve de orientação para a aplicação prática da terapia, porém o
foco aqui está na grupoterapia, e não na terapia individual.

No “Módulo 10: Práticas psicoteológicas” serão apresentadas


algumas práticas terapêuticas psicoteológicas, como: aconselhamento
pessoal e gerenciamento de conflito, e também um recurso técnico de
medição de “qualidade de vida” e da “vida de qualidade e felicidade”.
Também o participante é incentivado a uma vida espiritual mais pro-
funda, através da prática da oração. O importante é que tudo seja fei-
to com rigor e ética.

No “Módulo 11: Aconselhamento pastoral terapêutico” será


apresentado o aconselhamento pastoral não como uma simples práti-
ca de aconselhamento religioso, mas sim como uma prática terapêuti-
ca e, como tal, deve se revestir de fundamento teórico e rigor técnico
para sua prática. É importante considerar que todo o curso de psico-
teologia faz parte do aconselhamento pastoral terapêutico.

No “Módulo 12: Psicoteologia aplicada em terapia familiar”


será apresentado o aconselhamento psicoterapêutico em ambiente
familiar uma vez que toda pessoa é produto de uma família nuclear
(pai, mãe, irmãos e demais parentes que vivem na mesma casa) e de
uma família estendida (avós, tios, primos e demais pessoas agregadas
a família, mas que não vivem na mesma casa da família nuclear). Pelo
fato de ser um produto do seu ambiente familiar, a pessoa herda ou
adquire da família características funcionais (crenças, valores, bons
hábitos e padrões saudáveis de comportamentos) e também caracte-

32 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Entendendo a estrutura e a abrangência do curso

rísticas disfuncionais (vícios, manias, padrões inadequados de compor-


tamentos, patologias etc.). Devido a tudo isso, o processo de aconse-
lhamento ou terapia muitas vezes não pode ser limitado somente a
pessoa que busca ajuda, mas deve envolver todas as pessoas imedia-
tas de seu ambiente familiar, mesmo não se tratando de uma terapia
familiar. O atendimento de outras pessoas pode servir de ferramenta
de terapia para a pessoa que está no processo terapêutico.

No “Módulo 13: Psicoteologia aplicada em terapia sexual” a


vida sexual é apresentada como um fator importante para a vida con-
jugal e, mais que isso, um fator relevante para a vida espiritual da pes-
soa. Quando mal aplicada, a vida sexual pode ser a causa ou conse-
quência de uma infinidade de psicopatologias que interferem direta-
mente no comportamento socialmente aceitável e, mais que isso, in-
terfere na vida da pessoa em seu relacionamento com Deus.

No “Módulo 14: Contribuições da sociologia da religião à psi-


coteologia” procura-se mostrar o homem como ser biopsicossocioes-
piritual, destacando que o homem é social por natureza e as conse-
quências da influência do ambiente sociocultural e da vida religiosa e a
igreja, como organização social, são fatores influentes na formação do
ser humano e no surgimento de muitas psicopatologia e comporta-
mentos disfuncionais.

No “Módulo 15: Contribuições teológicas, religiosas e espiri-


tuais à psicoteologia” procura-se mostrar que tais contribuições são
muitas porque o homem é um ser biológico, psicológico, social e tam-
bém é espiritual, mesmo que não viva uma vida espiritual dedicada. O
conhecimento das coisas espirituais não é fornecido pelas ciências na-
turais, e sim pela teologia e pela religião, pela revelação divina e pelas
manifestações socioculturais relacionadas às crenças das pessoas e
dos povos da qual fazem parte.

No “Módulo 16: Contribuições da parapsicologia à psicoteolo-


gia” o homem é apresentado como um ser muito além de psicológico
e espiritual, cabendo à parapsicologia estudar de maneira científica al-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 33


Apresentação do curso de Psicoteologia

guns fenômenos que extrapolam as áreas de estudo da psicologia e da


teologia, uma vez que tais fenômenos não podem ser explicados ape-
nas como produção sociocultural e nem pelos recursos que as ciências
naturais possuem atualmente.

No “Módulo 17: Orientações para a prática clínica psicoteoló-


gica” são apresentadas as orientações básicas para quem terminar o
curso e pretende fazer da psicoteologia uma atividade profissional
dentro dos parâmetros legais, e com os rigores técnico e ético perti-
nentes.

No “Módulo 18: Conclusão do curso de psicoteologia” são


destacados os pontos básicos abordados no curso, bem como os efei-
tos pessoais, terapêuticos e espirituais sobre a vida dos participantes
do referido curso.

Talvez o leitor ache muito complexo os assuntos aqui contidos,


mas tenha a certeza de que o seu conhecimento facilitará a compre-
ensão sequencial de cada capítulo e, mais que isso, facilitará a ativida-
de como terapeuta e conselheiro psicoteológico.

34 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Módulo 2.
Introdução à psicoteologia

A psicologia nasceu dentro da teologia, mas logo ambas passa-


ram a caminhar como saberes e práticas distintas. A psicologia
nada mais é que uma teologia ateísta, sem Deus; nada mais é
que um cristianismo acristão, onde o foco não é Cristo, mas sim
o homem; nada mais é que uma prática que não busca a con-
versão, mas sim a mudança de vida. O fato de ser ateísta, acris-
tã e arreligiosa não faz da psicologia algo ruim; o que pode tor-
nar a psicologia má é quando toma uma postura antiteísta, an-
ticristã e antirreligiosa; pior ainda é quando os psicólogos, as-
sim como os teólogos, proclamam-se donos absolutos da ver-
dade, e não aceitam um pensar de modo diferente, e mais in-
clusivo, pois cada uma tem muito a ensinar à outra. A psicoteo-
logia não visa fundir psicologia e teologia, mas sim estabelecer
um canal de comunicação entre ambas.

A primeira parte deste trabalho procura apresentar ao público


leigo em psicoteologia e ao público crítico da psicoteologia uma intro-
dução geral ao assunto, a fim de que conheçam o que a psicoteologia
se propõe a estudar, e para isso são destacados os seguintes pontos:
1. Fundamentos de psicoteologia: O que é psicoteologia? Em
primeiro lugar é preciso conceituar o que é psicoteologia e quais os
fundamentos científicos, teológicos e históricos da psicoteologia e de
sua meia irmã a neuroteologia.
2. Ciência e religião: Saberes antagônicos ou complementa-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 35


Introdução à psicoteologia

res? A ciência natural busca como fonte de seu conhecimento o méto-


do científico, enquanto a religião busca como fonte de seu conheci-
mento a revelação divina, mas ambas não se anulam, porque a teolo-
gia e a religião empregam o método científico em sua análise, enquan-
to a ciência na busca de seu conhecimento, muitas vezes, parte das
crenças nada científicas de seus pesquisadores, crenças mais voltadas
ao campo da fé.
3. Introdução à teologia: Cosmovisão e pressupostos teológi-
cos relacionados à psicoteologia. No sentido estrito o termo teologia
só poderia ser aplicado à teologia cristã, mas, em sentido mais amplo,
o termo é aplicado a qualquer religião ou manifestação filosófico-
religiosa. O que interessa aqui é fazer uma abordagem suscita da cos-
movisão cristã e de alguns pressupostos teológicos do teísmo funda-
mental, mas diretamente relacionados a psicoteologia.
4. Introdução à psicologia: O que é a psicologia ciência? A psi-
cologia como ciência nasceu dentro da teologia reformada do século
16, e todos seus primeiros teóricos eram originários do ambiente ju-
daico ou do ambiente cristão.
5. Psicoteologia: Onde psicologia e teologia se reencontram.
Apesar do estranhamento em que a psicoteologia e a teologia se en-
volveram, atualmente está começando a haver um reencontro de am-
bas na busca do seu objetivo último, que é buscar o bem do ser hu-
mano.

Tais conhecimentos listados acima são necessários antes de se


entrar no estudo específico do foco principal da psicoteologia, que é a
melhoria do ser humano. Como Esdras (Ed 7.10), o psicoteólogo deve
primeiramente se dedicar com afinco ao estudo da Bíblia e de tudo
mais que possa ajudá-lo no desempenho de sua função; deve também
ser um praticante em sua própria vida de tais princípios e valores, para
depois poder se dedicar à prática psicoteológica, que é essencialmente
uma atividade psicoeducativa.

36 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


1. Fundamentos de psicoteologia:
O que é psicoteologia?

Bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das
misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em
todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que
recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando
por tribulações. (2 Coríntios 1.3-4 NVI)

Antes de se entender o foco de estudo da psicoteologia, é pre-


ciso conceituar o que ela realmente é e quais os fundamentos científi-
cos, teológicos e históricos da psicoteologia e de sua meia irmã a neu-
roteologia.

1.1. Conceito de psicoteologia

O termo psicologia vem do grego: PSychḗ (Ψυχή) mais o sufixo


ología (ὀλογία). Psychḗ significa: (1) alma, vida, sopro da vida, expira-
ção; (2) ser vivo, pessoa; (3) mente, entendimento, conhecimento; (4)
consciência; e (5) sentimento, inclinação, caráter. O sufixo ología é
empregado para designar: (1) estudo de, tratado a respeito de, ensino
ou doutrina sobre; (2) palavra, conversação; (3) razão, argumento, ex-
plicação; (4) decisão, resolução; e (5) notícia.
A psicologia estuda o homem como ser biopsicossocial (bioló-
gico + psicológico + social), bem como a personalidade humana em
seus múltiplos aspectos (instintos, humores, sentidos, cognições e
vontade) e seus comportamentos resultantes (explícitos e implícitos),
ou seja, a manifestação exterior da personalidade.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 37


Introdução à psicoteologia

O termo teologia vem do grego: THeós (Θεός) mais o sufixo


ología. Theós significa (1) Deus ou deus, deusa, divindade; (2) poder,
poderoso.
A teologia estuda as revelações de Deus (ou deus, quando se
refere a outros deuses) aos homens; e as manifestações dos grupos
sociais em relação a Deus ou às suas divindades (neste último caso
está se referindo à religião ou fenômenos religiosos).
O termo psicoteologia é resultante da fusão de psicologia e te-
ologia (Fig. 2.1.1).

Ψ + Θ =
Fig. 2.1.1. Psicoteologia é a junção da psicologia e da teologia

No símbolo da psicoteologia, a psicologia (em azul, a cor pa-


drão da psicologia) está inserida dentro da teologia (em vermelho, a
cor padrão da teologia), porque a psicologia nasceu da teologia.
A psicoteologia estuda o homem em sua dimensão biopsicos-
social e espiritual, enfocando a relação entre esses aspectos com a
natureza religiosa do ser humano e suas interações socioculturais,
visto que a religião é essencialmente um fenômeno sociocultural.
---
A psicoteologia é também chamada de psicologia teológica ou
simplesmente psicologia cristã (o que é um pleonasmo, pois em sua
essência a psicologia é cristã). A psicoteologia se preocupa em:
1) estudar o homem como um ser biopsicossocial e espiritual
(biológico + psicológico + social + espiritual);
2) compreender os fenômenos espirituais e religiosos sob o
ponto de vista científico; e
3) utilizar princípios terapêuticos fundamentados na psicolo-
gia e na teologia para tratar os problemas psicossomáticos, afetivos,

38 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Fundamentos de psicoteologia: O que é psicoteologia?

emocionais, sensoriais, cognitivos, volitivos, espirituais, existenciais e


sociais do ser humano. Neste último caso, ela passa a ser chamada de
psicoteologia prática, psicoteologia clínica, psicoterapia teológica, psi-
coterapia teocêntrica ou terapia psicopastoral.

O termo psicoteologia já era conhecido desde fins do séc. 19.


Os primeiros psicoteólogos, como o termo é entendido hoje, foram o
teólogo dinamarquês Søren Aabye Kierkgaard (1813-55), um dos cria-
dores da filosofia existencialista, e o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung
(1875-1961), fundador da psicologia analítica (1915), mais conhecida
por psicologia junguiana. Embora o termo psicoteólogo não tenha sido
aplicado a William James (1842-1910), o fundador da psicologia funci-
onalista americana (1885), inegavelmente foi ele o maior dos psicoteó-
logos. Até mesmo Wilhelm Maximilian Wundt (1832-1926), o criador
da psicologia científica (1879), pode ser chamado de psicoteólogo.

1.2. Psicoteologia e suas bases teóricas na psicologia e na


teologia

Em função de seus objetivos, a psicoteologia tem sua funda-


mentação teórica na:
1) Teologia e religião.
2) Psicologia, filosofia e nas ciências sociais (sociologia, antro-
pologia, ética etc.).
3) Neurociências (em especial: neuropsicologia, neuroanato-
mia, neurofisiologia, neuroendocrinologia, neurologia, neuropatologia
e neuropsiquiatria, e também neurobiologia, neurogenética, neuroi-
munologia, neuroquímica, neurofarmacologia e neurorradiologia), e
em ciências correlatas (fisiologia, psicofisiologia, psiquiatria e psicos-
somática) e na bioética.
---
Esse trabalho procura apresentar uma sequência lógica prática
e algumas técnicas aplicáveis no aconselhamento ou terapia psicoteo-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 39


Introdução à psicoteologia

lógica, pois estas são justamente as duas maiores dificuldades que os


psicoterapeutas e conselheiros apresentam com relação ao aconse-
lhamento: (1) primeiramente, não sabem uma sequência lógica e prá-
tica de procedimentos durante o atendimento às pessoas que buscam
pelos seus serviços; e, (2) desconhecem as técnicas básicas a serem
empregadas durante os atendimentos.
O objetivo desse trabalho é ajudar psicoteólogos, psicólogos,
teólogos, pastores (mesmo sem formação teológica formal), conse-
lheiros cristãos e leigos em geral a compreender melhor o que é e co-
mo proceder em um aconselhamento eficaz, eficiente e efetivo com
embasamento científico e teológico.
Qual a grande finalidade do estudo da teologia? Conhecer Deus
e tudo mais que estiver relacionado com a Bíblia, inclusive o homem,
como criatura de Deus. Qual a grande finalidade do estudo da psicolo-
gia? Conhecer o homem, enquanto ser biológico e psicológico, dentro
de seu contexto sócio-histórico.
Enquanto a teologia vê o homem como um ser espiritual e
imortal, criado por Deus e para Deus, mas que está com seu relacio-
namento divino rompido e corroído pelo pecado; a psicologia vê o
homem como um ser natural, um aprimoramento da cadeia evolutiva
e sem culpa por algo que possa ser chamado de pecado, mas respon-
sável pelas suas escolhas e atos, e que sofre devido às escolhas erra-
das ou disfuncionais que faz ao longo da vida.
A psicologia e a teologia têm fundamentos teóricos, métodos
de pesquisa e objetivos diferentes, mas também têm pontos comuns,
sendo o principal “ajudar o ser humano a torna-se ser humano”, como
diz Clarisse Lispector (1920-77): “O que o ser humano mais aspira é
tornar-se ser humano”, o que não é uma tarefa nada fácil. Tanto a psi-
cologia como a teologia querem a melhoria do homem e da sociedade;
querem também a saúde física, mental, social e espiritual do homem.
Se, com relação ao homem, ambas querem o melhor, então, por que
as duas se digladiam sobre a arena humana? A verdadeira relação en-
tre a psicologia e a fé cristã deveria ser de crítica construtiva, de cola-
boração e de complementação entre si, não de antagonismos desne-
cessários e prejudiciais a ambas e, principalmente, ao homem a quem

40 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Fundamentos de psicoteologia: O que é psicoteologia?

as duas dizem querer ajudar.


Todo conselheiro e psicoterapeuta, independentemente de ser
cristão ou não, lida com pessoas, não com máquinas. Toda pessoa é
um indivíduo complexo resultante de: (1) heranças genéticas comuns
(filogenéticas); (2) fortes influências socioculturais (sociogenéticas), o
que inclui a religião; e (3) experiências muito particulares e subjetivas
(ontogenéticas).
Observar um comportamento é simples, basta ter olhos para
ver; analisá-lo corretamente é complicado, pois é preciso conhecimen-
to científico; captar suas motivações mais ocultas é algo bem comple-
xo, pois é necessário sensibilidade para captar suas crenças e valores;
mas ajudar a modificá-lo é muito comprometedor, pois exige paciên-
cia, amor e reconhecer que isso é um ministério na vida do conselhei-
ro, e que seus efeitos poderão ser eternos.

1.3. Conceito de neuroteologia

A neuroteologia, também chamada de bioteologia ou neuroci-


ência espiritual, é uma área de conhecimento diretamente atrelada à
psicoteologia.
A neuroteologia estuda os fenômenos espirituais e religiosos
com base na estrutura neurológica e nas atividades cognitivas padrões
(esquemas mentais). Faz parte das neurociências, isto das disciplinas
que têm seu foco no estudo do sistema nervoso.
As raízes da neuroteologia, como disciplina psicoterapêutica,
podem ser encontradas em Søren Aabye Kierkgaard (1813-55) e Karl
Gustav Jung (1875-1961), mas como disciplina científica, ela começou
a partir da década de 1980, com o desenvolvimento das pesquisas
neuroteológicas. Pode-se afirmar que ao longo da segunda metade do
séc. 20, as neurociências ampliaram tremendamente seu conhecimen-
to sobre a anatomia e fisiologia do cérebro humano, e, como efeito
colateral, tais estudos trouxeram grande interesse sobre os fenôme-
nos “espirituais” e religiosos dentro de uma visão científica, surgindo
assim a neuroteologia.
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 41
Introdução à psicoteologia

Se for possível apontar um pioneiro para a neuroteologia mo-


derna, pode-se dizer que foi o psiquiatra e antropólogo italiano Euge-
ne G. d’Aquilli (1940-98), da Universidade da Pensilvânia, que come-
çou suas pesquisas na década de 1970. Mas a figura de maior desta-
que na área é Andrew B. Newberg (n. 1966), discípulo de d’Aquilli e
continuador de suas pesquisas.
A questão fundamental da neuroteologia é entender: A crença
em Deus é um produto da mente humana, ou Deus, ao criar o cérebro
humano, capacitou o homem com um recurso especial para poder
contatar com ele, e vice-versa? Pode-se concluir que a capacidade de
crer ou religiosidade ou natureza espiritual do ser humano é algo colo-
cado por Deus no interior do homem, talvez no seu cérebro, mas a re-
ligião, ou seja, o modo como o homem busca a Deus é uma criação
pessoal ou social do cérebro humano.
O homem é um ser religioso por natureza, pois, independen-
temente de ter um espírito ou não, o homem já nasce neurologica-
mente preparado para crer, mas a forma “como crê” e “em que crê”
dependem essencialmente das influências culturais que recebe.

Conclusão: O psicoteólogo deve ser um construtor de pon-


tes entre o psicólogo e o teólogo

No ambiente cristão é comum que alguns líderes se posicionem


abertamente contra o uso da psicologia como instrumento de terapia
e até mesmo de aconselhamento pastoral. Muitos se posicionam as-
sim por zelo à obra de Deus, mas é um zelo ignorante, pois desconhe-
cem a origem histórica da psicologia, suas técnicas e recursos disponí-
veis. Outros se posicionam assim por antipatia gratuita e se esquecem
de que também eles utilizam outros recursos técnicos que a ciência
moderna lhes coloca à disposição.
Assim como o pregador usa os recursos técnicos da homilética
para ser mais incisivo e convincente na pregação da mensagem bíblica,
e o teólogo e/ou ensinador bíblico usa os recursos técnicos da herme-

42 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Fundamentos de psicoteologia: O que é psicoteologia?

nêutica em sua pesquisa para melhor conhecer e ensinar a Bíblia, e


nenhum dos dois menospreza a ação Espírito Santo pelo fato de esta-
rem se utilizando da homilética ou hermenêutica, do mesmo modo o
conselheiro cristão pode e deve utilizar os recursos científicos da psi-
coteologia na prática do aconselhamento. Por que tantos líderes cris-
tãos radicais são contra a psicoteologia, mas não renunciam à homilé-
tica e da hermenêutica na sua prática de púlpito? Os radicalismos só
servem para prejudicar as pessoas que os radicais alegam estar ser-
vindo.
Pelo fato de ser um psicólogo (mesmo que informal) e ao
mesmo tempo um teólogo (mesmo que informal), o psicoteólogo deve
ser sempre um construtor de pontes entre o psicólogo e o teólogo, e
não um construtor de muros.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 43


Módulo 3:
Homem como ser psicossomático e
espiritual

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e


as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para
que com ele te importes? E o filho do homem, para que com
ele te preocupes? (Salmo 8.3-4 NVI)

No “Módulo 2. Introdução à Psicoteologia” procurou-se apre-


sentar ao público leigo em psicoteologia e ao público crítico da psico-
teologia uma introdução geral ao assunto, a fim de que conheçam o
que a psicoteologia se propõe a estudar. Neste momento será abor-
dado o foco da psicoteologia propriamente dito, que é o estudo do
homem, destacando-se os seguintes pontos:
1. Anatomia e funções do SNC: O cérebro é uma máquina de
pensar. Antes de se abordar os elementos constituintes da personali-
dade humana, é importante conhecer o sistema nervoso do homem
para saber como o cérebro pensa, o que faz com que o homem seja
um “ser psicossomático” e que os elementos da personalidade huma-
na, na realidade, atuam diretamente no sistema nervoso.
2. A mente: Como o cérebro pensa: O homem é o foco princi-
pal da psicoteologia, e como tal deve ser visto nos seus aspectos orgâ-
nico, psicológico, social e espiritual, como um todo e não como partes
isoladas. Por outro lado, o cérebro humano é muito mais que um ór-
gão (ou seria melhor dizer, um conjunto de diversos órgãos interliga-

44 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem como ser psicossomático e espiritual
dos), pois o desempenho de todos os aspectos mencionados acima
ocorre em diversos processos mentais que ocorrem no cérebro, uma
máquina de pensar, que determina todos os comportamentos do indi-
víduo e também seu perfil de personalidade.
3. Antropologia bíblica: Tricotomia, dicotomia e monismo.
Também é importante destacar que o ser humano, quando analisado
pela antropologia bíblica, pode ser visto como uma trindade, ou uma
dualidade ou um monismo. Essas três visões podem estar certas ou er-
radas – isso depende da óptica de quem analisa o assunto, mas uma
coisa é certa: o ser humano é muito mais que apenas algo material,
pois dentro desse corpo humano habita alguém feito à imagem e se-
melhança de Deus.
4. Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem in-
terior. Antes de se estudar os elementos constituintes da personalida-
de humana, é necessário reforçar o conceito de alma e conceituar vá-
rios termos sinônimos que na realidade apenas reforçam diferentes
aspectos da alma, e todos serão utilizados indistintamente neste tra-
balho.
5. Neuroteologia: A relação entre fé e o cérebro humano. Com
o advento das neurociências, da última década do século 20 em dian-
te, dando origem à neuroteologia, conceitos como a noção de Deus, a
existência de toda uma esfera espiritual e o conhecimento da experi-
ência mística do homem, sofreram uma verdadeira revolução científi-
ca, de tal modo que a neuroteologia tem muito contribuído para a psi-
coteologia, e vice-versa, e ambas funcionam como ciências gêmeas.

Estudar o homem à luz da psicoteologia é sempre uma surpre-


sa e aqui valem as palavras de Davi: “Quando contemplo os teus céus,
obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que
é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para
que com ele te preocupes?” (Salmo 8.3-4 NVI). A resposta para tais
perguntas é simples, pois está implícita nas próprias perguntas: o ho-
mem é a coroa da criação de Deus, pois foi criado à própria imagem e
semelhança de Deus (Gn 1.26) e, mais que isso, o homem na sua tota-
lidade é o foco do plano salvador de Deus (1Ts 5.23).
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 45
4. Homem psicossomático:
Alma e os aspectos do homem interior

Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao to-


car uma alma humana seja apenas outra alma humana. (Carl
Gustav Jung, 1875-1961)

Uma vez abordados os aspectos envolvendo a antropologia bí-


blica, o passo seguinte é começar a estudar os elementos constituintes
da personalidade humana, mas antes de se fazer isso é necessário
primeiramente reforçar o conceito de alma e conceituar vários termos
sinônimos que na realidade apenas reforçam diferentes aspectos da
alma, e todos serão utilizados indistintamente.

4.1. Alma: O verdadeiro homem interior

Já foi dito que a palavra alma vem do latim anima e significa


“animado ou dotado de movimento, algo vivo”, o sentido é de movi-
mento ou vida ao corpo, portanto alma é a vida do corpo. Em grego,
alma é psychḗ (ψυχή) e significa: (1) alma, vida, sopro da vida, expira-
ção; (2) ser vivo, pessoa; (3) mente, entendimento, conhecimento; (4)
consciência; e (5) sentimento, inclinação, caráter. De psychḗ vem a pa-
lavra psicologia – a ciência que estuda a alma, estuda o homem como
ser biopsicossocial e autoconsciente (dotado de personalidade e cons-
ciente de si mesmo).
Já foi dito também que cada pessoa é individualmente uma
alma, ou seja, o homem não possui alma, mas é uma alma, dotada

46 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

de um corpo e um espírito. Em resumo, a palavra alma se refere à “vi-


da, ao ser vivo”, não como vida biológica, mas “vida consciente, vida
do verdadeiro homem interior, de personalidade do indivíduo”.
Diante do exposto deve-se considerar que quando o termo al-
ma é usado com sentido de personalidade, obviamente essa palavra
não está restrita apenas à alma propriamente dita, e sim a toda parte
imaterial do homem, que abrange também o seu espírito, e até mes-
mo seu corpo, uma vez que esses três elementos são inseparáveis,
como diz Moisés: “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da
terra (o corpo) e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida (o espírito), e
o homem passou a ser alma vivente (passou a ser uma alma)” (Gêne-
sis 2.7 ARC).

4.2. Diferentes aspectos (sinônimos) para a alma

De imediato, pela conceituação apresentada para alma já é


possível ver que o termo personalidade é um sinônimo de alma, bem
como outros termos como: comportamento, temperamento, caráter,
mente e intelecto, consciência, psiquismo, e ego e self (Fig. 3.4.2).

1- Personalidade
Personalidade é o que a pessoa é, ou, pelo menos, o que ela
aparenta ser para si mesma e para as demais pessoas com as quais
convive.
Na Grécia antiga, os atores de teatro utilizavam uma máscara
chamada de prósopon (= face, figura, olhar ou aspecto), a qual repre-
sentava alguém, que poderia ser humano, divino ou mitológico. Os
romanos chamavam tal máscara de personalis, termo que significa “o
que é próprio ou característico de uma pessoa ou persona” (per = pelo,
através + sona = som), visto que, em princípio, uma pessoa era alguém
com capacidade de falar, e daquela máscara vinha som (a voz do ator
que a usava), pois ela era de cera ou argila, e, portanto, não mudava
sua feição, mas tinha um orifício ao redor da boca, de onde saia o som
que caracterizava a pessoa representada. De persona veio a palavra
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 47
Homem como ser psicossomático e espiritual

pessoa; e de personalis vieram as palavras personagem e personalida-


de. Quando os atores se apresentavam sem máscaras, dizia-se que
eles estavam sine cerus, ou “sem cera”, de onde veio a palavra since-
ro.

Fig. 3.4.2. Alma e seus diferentes aspectos (sinônimos).

Tentar apresentar uma conceituação mais técnica de persona-


lidade é uma tarefa um pouco mais complexa, pois personalidade é o
conjunto integrado de:
1) Aspectos biológicos: físico, orgânico e neurológico;
2) Aspectos psíquicos: instintos, emoções, percepções sensori-
ais, cognições e vontade;

48 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

3) Aspectos socioculturais: familiares, educacionais e do ambi-


ente sociocultural;
4) Aspectos espirituais: crenças e valores; e
5) Aspectos comportamentais (manifestos e latentes).
A combinação desses aspectos constitui o total das caracterís-
ticas peculiares de cada indivíduo, as quais servem para identificá-lo
(identidade) e diferenciá-lo (individualidade) das demais pessoas.

Fig. 3.4.2.1. Componentes psicológicos da personalidade humana.

Quanto aos aspectos psíquicos, personalidade é o conjunto


complexo de: instintos (impulsos, pulsões ou necessidades humanas;
reações fisiológicas comportamentais e padrões fixos de ações,); emo-
ções (emoções primárias e emoções secundárias ou sentimentos);
sentidos e percepções (exterocepção, interocepção e propriocepção);
cognições e intelecto (processos mentais e esquemas mentais); e von-
tade ou volição (associação, seleção, decisão, motivação, exterioriza-
ção de personalidade, liderança; hábitos, ações e reações). Ver Fig.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 49


Homem como ser psicossomático e espiritual

3.4.2.1.
A personalidade é resultante de (1) tendências inatas (fatores
genéticos), (2) influências socioculturais (fatores sociogenéticos) e (3)
experiências existenciais particulares do próprio indivíduo ao longo da
sua vida (fatores ontogenéticos). A pessoa ao nascer já traz consigo
traços endógenos de personalidade, porém eles se formarão e desen-
volverão de acordo com as influências socioculturais e diversos outros
fatores exógenos, portanto a personalidade de uma pessoa sempre é
considerada em função do ambiente “social, cultural, econômico e
histórico (temporal)” onde ela vive e se relaciona.
Do nascer ao morrer, e ao longo de toda a vida, a personalida-
de está em constante processo de formação e desenvolvimento, sen-
do, ao mesmo tempo, estável e dinâmica. A personalidade é relativa-
mente estável, pois depois de formados os seus princípios gerais, o
que ocorre por volta dos 6 anos de vida, tais princípios mudam “muito
pouco e muito lentamente” ao longo da vida; mas a personalidade
também é dinâmica, pois depende de alterações neurobiológicas e
mudanças exógenas causadas pelo ambiente, sobre os quais a pessoa
nunca tem pleno controle.1

2- Comportamento
Como foi abordado acima, a personalidade determina as carac-
terísticas individuais e que, por sua vez, determinam o comportamen-
to. Entende-se por comportamento o conjunto das manifestações ex-
ternas da personalidade e que podem, ou não, ser observadas atra-
vés de atos, palavras, pensamentos, percepções, emoções, intenções
etc. Comportamento é tudo aquilo que pode ser observado da pessoa,
analisado e julgado por um observador. Normalmente todo compor-
tamento é resultante de estímulos ambientais que atuam sobre a pes-
soa.

1 Posteriormente será abordado que a personalidade de uma pessoa


“sempre” é considerada em função do “ambiente social, cultural, econômico
e histórico (temporal)” onde ela vive e se relaciona.

50 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

A personalidade é o padrão característico do comportamento


de um indivíduo. Os outros veem esse padrão de comportamento co-
mo personalidade, ao passo que o indivíduo o considera o seu eu. Os
padrões de comportamento da personalidade resultam de uma com-
plexa interação da estrutura do corpo (incluindo a aparência e os fato-
res internos) e das experiências passadas, que foram instrumentais na
modelação de motivos, predisposições emocionais e outros hábitos
importantes... (EDWARDS, 1995, p. 301).

3- Temperamento
A palavra temperamento vem do latim temperamentum, deri-
vada do verbo temperare, e significa equilíbrio, tempero, mistura pro-
porcional ou balanceada. Originalmente o termo foi empregado para
designar a forma, intensidade e rapidez com que as reações emocio-
nais ocorriam, e ainda ocorrem.
Atualmente o termo temperamento é utilizado para se referir
ao modo como todos os atributos da personalidade ficam depois de
eliciados por fatores externos, tais como nacionalidade, raça, sexo, ní-
vel socioeconômico e cultural, religião, idade etc. Por exemplo, todos
têm emoções (como alegria), mas inegavelmente o brasileiro tem um
temperamento muito mais alegre e expansivo que o alemão. Todos
têm emoções e intelecto, mas de modo geral a mulher se mostra mui-
to mais emotiva que o homem, enquanto o homem normalmente se
mostra muito mais frio e racional que a mulher, ou seja, de modo ge-
ral as mulheres são mais temperamentais que os homens. Pessoas de
formação religiosa, em geral, se mostram mais controladas que outras
sem tal formação. A idade faz com que as pessoas sejam mais comedi-
das e prudentes, e assim por diante. Em outras palavras, existem di-
versos fatores que interferem no temperamento humano.

4- Caráter
Caráter é aquilo que caracteriza os “padrões morais” de uma
pessoa. Tais padrões morais são considerados e avaliados em função
dos padrões sociais onde essa pessoa vive.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 51


Homem como ser psicossomático e espiritual

Por caráter, em psicologia, entende-se principalmente um cer-


to tipo de conduta que possa ser tida como certa ou errada por se en-
quadrar ou deixar de ser enquadrada nos padrões de comportamento
socialmente aceitos. O caráter se compõe de vários traços. Basta re-
cordar os adjetivos da língua portuguesa para vermos que uma boa
parte deles revela traços de caráter: bondoso, perverso, amigo, afável,
caridoso, honesto etc. O caráter representa o conjunto desses traços,
que pode ser designado como certo ou errado de um ponto de vista
social. Assim: honesto, desonesto, afável, indelicado, correto, perseve-
rante, inconstante e trabalhador revelam traços de caráter porque são
socialmente aceitos ou repudiados, e são tidos como certos ou erra-
dos (TELES, 1995, p. 199).

5- Mente e intelecto
O termo mente vem do latim: mens = pensamento, intelecto,
entendimento, imaginação; espírito, alma; vontade, disposição, inten-
ção. De modo geral tal palavra abrange os processos mentais conscien-
te e inconsciente, os esquemas mentais, a linguagem etc., mas tam-
bém pode ser usado para designar a alma e a própria personalidade da
pessoa. “A mente, com frequência, é usada como sinônimo da alma
imaterial, ou, então, é considerada como uma propriedade ou atributo
da alma” (CHAMPLIN, 2002, vol. 5, p. 393).
A mente habita no corpo, mas é distinta do corpo (dualismo
corpo e mente), e designa todo o psiquismo humano.
As experiências de quase morte (EQM) têm demonstrado que a
mente continua existindo mesmo após a morte física da pessoa.
O termo intelecto vem do latim: inter ou intus = por dentro, en-
tre + llectu = leitura, e significa: discernimento, compreensão, raciocí-
nio, reflexão etc. Intelecto é a capacidade que a mente tem de inter-
pretar as percepções que recebe do seu meio ambiente, bem como o
que ela conhece de si mesma.
O termo inteligência (do latim: inter ou intus + legere = esco-
lher, separar) significa discernir, compreender, entender etc. É a capa-
cidade que a mente tem de aprender e compreender as percepções

52 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

do meio ambiente, usando para isso o raciocínio lógico, o intelecto.

6- Consciência
A palavra consciência vem do latim: con = com, o que acompa-
nha, está junto + scientia = ciência, conhecimento, intelecto. É o atri-
buto que acompanha ou que está ao lado do conhecimento ou intelec-
to humano, mas transcende ao mesmo. Consciência é a capacidade
que a pessoa tem de conhecer seu mundo exterior (exterocepção),
conhecer seu estado interior (interocepção) e principalmente conhe-
cer seu mundo interior (propriocepção ou capacidade de considerar a
si mesma). Pelas ciências naturais e pelo intelecto humano, a pessoa
adquire conhecimento de seu mundo, de seu ambiente natural e soci-
al; pela consciência adquire conhecimento de si mesma e se identifica
como ser humano e como indivíduo. A palavra consciência é empre-
gada com diversos significados:
• Conhecimento de alguma coisa, de algo ou alguém; p.ex.: “ele
tem consciência do que está acontecendo” ou “ele tem consci-
ência da presença de tal pessoa”.
• Conhecimento ambiental e circunstancial; p.ex.: “ele é consci-
ente do seu ambiente e da sua condição social” ou “ele tem
consciência da situação”.
• Conhecimento ou ciência de suas responsabilidades; p.ex.: “ele
tem consciência de dever e compromissos”.
• Conhecimento ou domínio de uma área de atividade; p.ex.:
“ele tem consciência de todos os detalhes de sua profissão”.
• Ter responsabilidades com relação a um grupo social; p.ex.:
“ele tem consciência de sua empresa” ou “nosso país precisa
de pessoas de consciência para exercer o governo”.
• Capacidade de julgamento; p.ex.: “ele tem plena consciência
dos fatos e pode opinar sobre o assunto”.
• Estar acordado, desperto; p.ex.: “ele voltou à consciência após
um estado de desmaio”.
• Propriocepção ou estar ciente do que acontece consigo mes-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 53


Homem como ser psicossomático e espiritual

mo; p.ex.: “ele tem consciência de sua enfermidade e do que


acontece com seu corpo”.
• Capacidade de autojulgamento; p.ex.: “minha consciência me
diz que estou certo”.
• Estar em estado de controle de suas faculdades mentais; p.ex.:
“ele é plenamente consciente ou tem plena consciência” (tem
domínio de suas faculdades).
• Ter valores morais elevados; p.ex.: “ele tem consciência do que
é certo e errado”.
• Ser uma pessoa sem compromisso morais, sem escrúpulos;
p.ex.: “pessoas de consciência cauterizada” ou “sua consciência
está à venda a quem paga mais”.

Veja dois outros exemplos curiosos do emprego da palavra


consciência. Em inglês existem algumas palavras utilizadas para falar
consciência: conscience, conciousness e awareness. As duas primeiras
têm basicamente o mesmo significado de consciência, conhecimento,
percepção; alma e espírito; ou seja, os sentidos que estão sendo aqui
abordados. Já awareness significa consciência como uma qualidade no
sentido de se conscientizar de algo, de ter conhecimento ou informa-
ção sobre algo que já estava presente, mas não se tinha conhecimento
disso; também pode ser uma espécie de conhecimento antecipatório.
Por exemplo: uma pessoa resolve comprar um carro e foi orientada a
comprar o carro X, mas nunca reparou a existência desse tipo rodando
nas ruas, e uma vez que foi orientada a comprar o carro X, passa a re-
parar o quanto a existência dele é comum – foi conscientizada de algo
que existia, mas nunca reparou. Outro exemplo: alguém vai andando
na rua e pensando em uma pessoa chamada Ana, a qual está desapa-
recida há vários meses, e ao dobrar uma esquina dá de cara com a
pessoa que antes estava apenas pensando. No segundo exemplo, o
conhecimento antecipatório é estatisticamente casual, pois em quan-
tas outras pessoas esse alguém pensou e nunca se encontrou com
elas, ou em quantas outras pessoas não pensou, mas se encontrou
com elas do mesmo jeito.

54 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

Muitas outras aplicações podem ser dadas à palavra consciên-


cia, mas em sentido mais restrito aqui estão sendo empregados dois
significados que de alguma maneira podem abranger todos significa-
dos citados acima:
• Autoconsciência ou consciência de si mesmo. Tal palavra de-
signa não apenas a consciência que a pessoa tem de si mesma
e como se julga ou se considera, mas também sua consciência
de tempo, lugar, ambiente, circunstância, capacidades e habili-
dades etc.
• Consciência moral. Abrange a consciência de valores morais
(principalmente de bom, belo e justo), transcendentais (que
envolve valores religiosos), responsabilidades etc.

Na realidade a consciência e bem mais ampla, pois abrange to-


das as atividades mentais conscientes, e também as semiconscientes e
inconscientes; ou seja, a inconsciência faz parte da consciência (no seu
sentido mais amplo), embora os atos e pensamentos inconscientes se-
jam bem mais numerosos que os conscientes (na proporção de 93 a
97% para 3 a 7%). A consciência não é mais uma das atividades men-
tais, ao contrário, é o sustentáculo e o integrador de todas as ativida-
des mentais e, justamente pelo fato de ser o integrador das atividades
mentais, a consciência caracteriza os perfis de personalidade da pes-
soa, pois a consciência, no seu sentido mais abrangente, é a própria
personalidade.

7- Psiquismo
É o conjunto hipotético altamente complexo de características
psicológicas conscientes e inconscientes de um indivíduo, resultantes
da evolução de diferentes processos mentais em função dos relacio-
namentos sociais desse indivíduo.
Psiquismo é um termo mais limitado ao ambiente psicanalítico,
mas não aparece na literatura dos pais da psicanálise, como Freud,
sendo um conceito mais característico de Wilfred Ruprecht Bion
(1897-1979). Para Bion, o psiquismo se forma a partir da energia libi-
dinal de prazer e desprazer do bebê no seu histórico de relacionamen-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 55
Homem como ser psicossomático e espiritual

to com as demais pessoas.


Em resumo, psiquismo é um termo psicanalítico para designar
os mesmos elementos da personalidade, com ênfase no aspecto ener-
gético desses elementos, os quais são mais relacionados ao início do
desenvolvimento infantil, mas que marcarão toda a existência do indi-
víduo.

8- Ego e self
O ego. Em grego, ἐγώ significa simplesmente eu (pronome
pessoal). Na filosofia grega, o termo ego passou significar a consciên-
cia que a pessoa tem de si mesma, isto é, seus pensamentos, lembran-
ças, sentimentos, percepções sensoriais etc. Para os filósofos gregos, o
ego era o mesmo que consciência ou mente. Na psicanálise, na psico-
logia e até mesmo na linguagem coloquial moderna o termo passou a
designar a pessoa consciente ou a concepção que a pessoa tem ou faz
a respeito de si mesma, sua consciência. Para Freud (Sigmund Freud,
1856-1939), ego é a sede da consciência.
O termo adquiriu notoriedade com Freud em 1923 na elabora-
ção da sua segunda teoria do aparelho psíquico, ou segunda tópica,
onde ele aborda as instâncias (níveis) da tríplice divisão da mente: o id,
o ego e o superego. A teoria freudiana sobre o assunto é muito ampla
e foge do escopo desse trabalho, mas em linhas gerais:
• O id (latim = isso) designa a parte inconsciente da mente, onde
estão as pulsões do indivíduo e também os fatos recalcados e
resistentes etc. No id predomina a busca do prazer.
• O ego (grego = eu) designa a parte consciente, onde predomina
a busca da realidade. É um conjunto de funções conscientes
(pensamento, memória, percepção, linguagem etc.), mas tam-
bém é um conjunto de representações de outras funções que
se processam no inconsciente (símbolos, identificações, meca-
nismos de defesa etc.).
• O superego ou supraego (acima do ego) designa a parte cons-
ciente e inconsciente do indivíduo que o leva a criar ou se
submeter a leis, regras, normas de caráter moral. É a voz da
consciência, o seu legislador moral, juiz e censor (proibidor)
56 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

das transgressões. Aqui predomina o sentimento de vergonha


e culpa.

A teoria freudiana a respeito do id, ego e superego, apesar de


ser popularmente conhecida, não tem grande aceitação psicológica fo-
ra dos arraiais psicanalíticos pelo fato de não ter uma base científica
sólida, mas quase todos concordam que realmente a mente tem sua
parte consciente, semiconsciente e inconsciente, mas diferem de
Freud porque ele cria em um inconsciente dinâmico, enquanto a psi-
cologia científica trabalha mais com um inconsciente cognitivo.
Freud empregou o termo inconsciente dinâmico porque, mes-
mo seu conteúdo estando afastado da consciência, seus pensamentos,
representações e demais operações mentais podem se manifestar no
consciente.
Por outro lado, o conceito de inconsciente cognitivo ou novo
inconsciente é bem mais amplo:

O novo inconsciente refere-se a um amplo espectro de fenômenos


orquestrados silenciosamente por nosso cérebro, envolve uma
enorme gama de processamento inconsciente que opera
quando, por exemplo, nos lembramos de eventos ou falamos
utilizando corretamente as regras gramaticais, quando nos
apaixonamos ou mesmo quando analisamos aspectos do mun-
do físico através de nossos sistemas sensoriais. O inconsciente
freudiano ou dinâmico é um lugar sóbrio e misterioso, povoado
por pulsões e memórias emocionalmente carregadas. O novo
inconsciente não tem essa conotação restritiva, sendo um con-
ceito bem mais abrangente do que o dinâmico – refere-se à
maior parte do que o cérebro faz em cada momento de nossas
vidas (CALLEGARO, 2011, pág. 31).

A partir do conceito freudiano do ego, surgiu o conceito do self,


que tem mais aceitação psicológica.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 57


Homem como ser psicossomático e espiritual

O self. inglês: self = si mesmo, eu, a própria pessoa; personali-


dade, caráter; natureza. É o centro da personalidade e ordenador de
todos os processos psíquicos.
Inicialmente para Freud e seus primeiros seguidores de língua
inglesa, o termo self era usado simplesmente como sinônimo de ego,
mas em 1947 Heinz Hartmann (1984-1970), austríaco naturalizado
americano, deu-lhe um significado bem mais amplo que o ego freudi-
ano. Para ele, o ego continuou a designar uma instância psíquica, mas
o self passou a designar a imagem que a pessoa tem de si mesma, ou
seja, sua personalidade total, abrangendo o id, o ego, o superego e a
imagem do seu próprio corpo físico e, posteriormente, também incor-
porou o lado espiritual do homem.
Em 1960, o britânico Donald Woods Winnicott (1896-1971) fez
uma distinção entre dois tipos de self: o verdadeiro e o falso.
• O self verdadeiro (ou autêntico) expressa os gostos pessoais
que se formam desde o início da infância na vida de todas as
pessoas.
• O falso self (inautêntico ou ilusório) nada tem a ver com uma
pessoa falsa, mas designa os padrões impostos à criança pela
mãe e seu ambiente social, como uma forma de proteção do
self verdadeiro. Por isso também é chamado de falso self pro-
tetivo. Muitas vezes o falso self acaba se impondo sobre o self
verdadeiro como uma forma da criança buscar o amor e apro-
vação dos pais – o falso self positivo. Outras vezes a pessoa
pode se opor aos valores familiares e sociais criando um falso
self negativo.

Além de Winnicott, outro psicanalista que muito contribui para


a divulgação do conceito de self foi o americano Heinz Kohut (1913-
81), criador da psicologia do self. Uma vez que a psicologia entende a
consciência ou personalidade com um sentido bem mais amplo, o
conceito de self tem mais aceitação entre as diferentes correntes psi-
cológicas que o conceito freudiano de ego. Além disso, o conceito de
self está mais relacionado ao conceito de inconsciente cognitivo que
as ideias de Freud.

58 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Homem psicossomático: Alma e os aspectos do homem interior

Conclusão: Diferentes termos para os mesmos elementos

Como foi dito inicialmente, todos os termos aqui empregados


nada mais são que diferentes maneiras para designarem a mesma al-
ma humana, porém usando uma linguagem menos religiosa e mais
técnica, com ênfase a aspectos específicos do mesmo indivíduo. Em
momento oportuno todos esses termos serão abordados novamente
com alguns detalhes complementares.
É importante considerar que todos os conselheiros e terapeu-
tas lidam com pessoas, seres complexos em suas características resul-
tantes de experiências muito particulares e subjetivas. O importante é
que os conselheiros e terapeutas também entendam que são igual-
mente seres complexos e subjetivos, por isso Carl Gustav Jung (1875-
1961) diz: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao
tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 59


Módulo 4:
Componentes da
personalidade humana

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e


as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para
que com ele te importes? E o filho do homem, para que com
ele te preocupes? (Salmo 8.3-4 NVI)

No módulo anterior o homem foi apresentado como um ser


psicossomático e espiritual. O foco da psicoteologia é justamente o es-
tudo do homem, em suas dimensões orgânica, psicológica, social e es-
piritual. Neste módulo será abordado o estudo do homem na sua di-
mensão psicológica e sua relação direta com a dimensão orgânica, on-
de são destacados os seguintes pontos:
1. Humor, afetos e temperamento 1: Os instintos, pulsões e
impulsos, reações fisiológicas comportamentais e padrões fixos de
ação. No estudo dos componentes da personalidade humana serão
abordados primeiramente os humores, ou mais especificamente os
instintos, os responsáveis pela manutenção da vida e pela maioria dos
comportamentos humanos, tanto comportamentos bons como ruins,
os “anjos e demônios interiores” que todas as pessoas têm de carre-
gar.
2. Humor, afetos e temperamentos 2: As emoções e os senti-
mentos (emoções secundárias). As emoções e os sentimentos são re-
ações aos estímulos provocados pelo ambiente, e influenciam direta-

60 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Componentes da personalidade humana

mente a capacidade de tomada de decisões e a motivação para mu-


dança de vida. Quando uma pessoa busca ajuda de um terapeuta ou
conselheiro, normalmente ela não o faz por causa de algum problema
que esteja enfrentando, mas, sim, por causa do estado emocional que
tal problema lhe acarreta, e por causa da sua dificuldade ou incapaci-
dade em lidar com essa emoção desagradável.
3. Sentidos e percepções: As janelas e portas da alma. Outro
componente da personalidade humana é constituído pelos sentidos e
percepções. Pelos sentidos as pessoas recebem informações do meio
ambiente, mas elas percebem o ambiente como ele realmente é, ou
como elas estão previamente preparadas para percebê-lo?
4. Cognições e intelecto: Processos mentais conscientes e in-
conscientes. As cognições são a parte mais importante da personali-
dade, pois, apesar na maior parte das atividades mentais serem pro-
cessos inconsciente, eles são altamente determinantes da personali-
dade e do comportamento humano. Por tudo isso, compreende-se por
que uma das atividades mais importantes que a pessoa pode desen-
volver é o acesso ao seu inconsciente.
5. Volição ou vontade: Escolhas, atitudes, motivações, hábi-
tos, ações e reações. A volição ou vontade é o quinto componente
formador da personalidade humana. Vontade ou volição é a capacida-
de que a pessoa tem de examinar as diferentes situações que se apre-
sentam, analisar as possibilidades, fazer escolhas, tomar uma atitude
ou decisão e executar uma ação, reação ou comportamento em decor-
rência da escolha feita. Muitas decisões da alma podem se tornar há-
bitos, mas para muitas pessoas a própria capacidade de decisão já é
um hábito em si mesmo.
Os cinco componentes básicos da personalidade humana po-
dem ser vistos na Fig. 4.
Os instintos (pulsões e impulsos, reações fisiológicas compor-
tamentais e padrões fixos de ação), as emoções e sentimentos, os sen-
tidos e percepções, as cognições (intelecto e processos mentais) e a
volição ou vontade (escolhas, atitudes, motivações, hábitos, ações e
reações) são os componentes da personalidade humana, e tais conhe-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 61
Componentes da personalidade humana

cimentos são necessários para se compreender o foco principal da psi-


coteologia, que é o estudo e a melhoria do ser humano. Estudar o ho-
mem à luz da psicoteologia é sempre uma surpresa e aqui valem as pa-
lavras de Davi: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para
que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te pre-
ocupes?” (Salmo 8.3-4 NVI).

Fig. 4. Componentes psicológicos da personalidade humana.

62 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


2. Humor, afeto e temperamento 2:
As emoções e os sentimentos

Há momentos na vida em que se deveria calar e deixar que o


silêncio falasse ao coração, pois há sentimentos que a lingua-
gem não expressa, e há emoções que as palavras não sabem
traduzir. (Jacques Prévert)

As emoções e os sentimentos são reações aos estímulos provo-


cados pelo ambiente, e influenciam diretamente a capacidade de to-
mada de decisões e a motivação para mudança de vida.

Fig. 4.2. Componentes da personalidade humana:


As emoções e os sentimentos.

63 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Componentes da personalidade humana

Como foi dito, o capítulo anterior tratou a respeito dos humo-


res, mas mais especificamente a respeito dos instintos, pulsões e im-
pulsos, reações fisiológicas comportamentais e os padrões fixos de
ação. Agora ainda serão tratados os demais humores: as emoções e os
sentimentos (Fig. 4.2).

2.1. Conceituando emoções e sentimentos

A palavra emoção vem do verbo latino emovere, sendo ex =


para fora + movere = mover, movimentar, mudar e remover; impulsio-
nar, lançar e agitar. Portanto emoção é algo que se move ou impulsi-
ona para fora da pessoa, ou a impulsiona a uma ação externa. Uma
conceituação mais técnica seria: emoções (no plural) são processos
mentais avaliativos, normalmente inconscientes, mas com profundas
alterações nos processos cognitivos conscientes e inconscientes, e
que também predispõem a pessoa a diferentes reações comporta-
mentais e orgânicas manifestas exteriormente. São processos avalia-
tivos porque levam a pessoa a avaliar os estímulos ambientais e tomar
decisões sem que a avaliação racional tenha sido devidamente elabo-
rada.
A palavra sentimento vem do latim sentimentum, sendo senti-
re = sentir, sensação + sufixo -mentum que designa ação ou resultado
de alguma ação. Sentimento é uma percepção, compreensão ou opi-
nião normalmente decorrente de uma emoção. Enquanto a emoção é
um processo mental geralmente inconsciente, o sentimento é a per-
cepção consciente (pensamento) dessa emoção. Quase toda emoção
pode chegar a ser percebida como sentimento, desde que haja um
processo de atenção sobre a emoção; mas nem todo sentimento tem
sua origem necessariamente em alguma emoção, pois vários proces-
sos cognitivos conscientes e também inconscientes podem igualmente
gerar sentimentos.
Essa diferenciação entre emoção e sentimento é muito impor-
tante na prática clínica terapêutica e no aconselhamento, pois a pes-
soa em atendimento traz a queixa de que está sofrendo em função de

64 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

uma emoção, e normalmente não consegue descrevê-la. Quando o


conselheiro a ajuda a verbalizar tal emoção, transformando-a em um
sentimento (pensamento), na realidade a pessoa estará fazendo com
que algo inconsciente (emoção) se transforme em algo consciente
(sentimento), ou seja: emoção → pensamento → sentimento. O cami-
nho inverso (pensamento → sentimento → emoção) também pode
ser feito, isto é, a pessoa pode transformar seus pensamentos em sen-
timentos, e os sentimentos criados por pensamentos podem modificar
emoções existentes ou manifestar novas emoções. Esses dois proces-
sos serão o vistos posteriormente.
A principal finalidade das emoções é levar a pessoa a tomar
uma decisão e reagir de maneira imediata a algum estímulo ambien-
tal, por exemplo: se alguém vai andando pela rua e repentinamente vê
um cachorro rottweiler enorme vindo ameaçadoramente em sua dire-
ção, antes mesmo de compreender o que está ocorrendo, a pessoa é
tomada pelo “medo inconsciente”, e este medo a fará fugir do perigo
imediato. Sem emoções, as pessoas não sobreviveriam por muito
tempo. O principal centro controlador do medo está no tálamo. Ratos
em laboratório podem ter seu tálamo inibido, e quando colocados jun-
to a um gato faminto, não fogem do perigo que o felino representa e,
consequentemente, tornam-se presas fáceis do predador.
Existem 4 reações típicas associadas aos estímulos emocionais:
1) Reações emocionais propriamente ditas. As emoções são
necessárias como instrumentos de adaptação às variações do meio
ambiente. A incapacidade de se adaptar às variações ambientais (ina-
daptação ambiental) gera estresse, e o estresse traumático e/ou pro-
longado (mesmo que não seja traumático) pode evoluir para reações
emocionais, tais como: depressão, ansiedade, fobias, histeria, pânico e
muitos outros transtornos psíquicos. Paralelas ou em decorrência des-
ses processos emocionais, além das reações emocionais, há as reações
orgânicas, cognitivas e comportamentais.
2) Reações orgânicas. Participam do equilíbrio (homeostase)
ou desequilíbrio orgânico. O desequilíbrio provoca reações psicosso-
máticas e muitos outros sintomas. Devido ao efeito psicossomático

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 65


Componentes da personalidade humana

das emoções, é comum as pessoas se utilizarem de termos referentes


ao corpo para descreverem a emoção sentida, por exemplo, diante do
medo, a pessoa pode dizer que sente um vazio no estômago, dor no
peito ou formigamento no braço.
3) Reações cognitivas. Atribuem significado aos fatos, têm for-
te ação sobre a “memória permanente” ou memória emocional etc. As
emoções não só atribuem valores diferentes ao entendimento e inter-
pretação dos fatos, como também todas as recordações mais marcan-
tes na memória são revestidas de forte conotação emocional.
4) Reações comportamentais. Levam a pessoa a tomar deci-
sões imediatas, determinam ações e reações etc., por exemplo, a fuga
diante do perigo ou o choro incontrolável quando triste.

2.2. Diferentes emoções humanas

Todas as emoções são correlatas e muitas vezes inseparáveis


ou indistinguíveis, mas apenas para efeito didático elas podem ser
agrupadas em emoções primárias, emoções básicas e emoções secun-
dárias.

1- Emoções primárias
1) As emoções primárias são genéticas, portanto são inatas e
herdadas.
2) São biológicas, isto é, o centro delas está no sistema límbico,
giro do cíngulo e amídalas; e além de terem um ou mais centros bioló-
gicos, podem produzir, e normalmente produzem, efeitos fisiológicos.
3) São pré-organizadas, ou seja, já nascemos predispostos a
elas na sua forma natural, mas elas podem ser moldadas e condicio-
nadas em função do ambiente sociocultural onde a pessoa vive.
4) São experenciadas ainda na infância – o medo e a satisfação
já se manifestam no 5º mês de gravidez, quando a criança está no úte-
ro da mãe. Outras emoções só se manifestam quando a criança vai se

66 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

desenvolvendo, mas a capacidade de tê-las vem por herança filogené-


tica.

2- Emoções básicas
Entre as emoções primárias existem 4 que são consideradas
básicas, ou “primárias das primárias”: medo, felicidade (satisfação),
alívio e frustração. São consideradas básicas porque: (1) podem ser
identificadas ainda na vida intrauterina; e (2) em maior ou menor in-
tensidade, podem ser identificadas em todas as outras emoções:
• Se alguém espera algo bom, e esse algo bom acontece, a pes-
soa sente felicidade.
• Se espera algo bom, e esse algo bom não acontece, sente frus-
tração.
• Se espera algo mau, e esse algo mau acontece, sente medo.
• Se espera algo mau, e esse algo mau não acontece, sente alí-
vio.

Os termos “bom” e “mau” empregados acima não indicam juí-


zo de valores, mas apenas algo desejável (reforçador positivo) e algo
indesejável (aversivo ou reforçador negativo).
Já foi dito que o medo se manifesta no 5º mês de gravidez,
ainda no útero da mãe. Isso também vale para a satisfação. Após o
parto, até o 3º mês, o nenê possui comportamentos basicamente ins-
tintivos (inatos), mas já manifesta as 4 emoções básicas. Ele se sente
feliz (satisfeito) em estar com a mãe e sentir seu calor, e ser amamen-
tado; sente medo quando é deixado sozinho e chora; sente alívio
quando chora de fome e é amamentado; sente frustração quando
chora esperando carinho ou o seio, e isso não acontece.
Do 3º ao 11º mês, o nenê vive um período conhecido como fa-
se do desenvolvimento emocional, quando várias emoções primárias
se tornam nítidas, como: ira, tristeza e prazer antes do 6º mês; inte-
resse e surpresa a partir do 7º mês. Outras emoções primárias se ma-
nifestam um pouco mais tarde, como: a partir de um ano e meio, a
vergonha, desprezo e nojo; e a partir de 2 anos e meio, a culpa.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 67


Componentes da personalidade humana

3- Emoções secundárias ou sentimentos


Também são chamadas de emoções complexas:
1) Não são genéticas, portanto não são inatas, sendo adquiri-
das e desenvolvidas ao longo da vida:
a) Podem ser resultantes da potencialização de uma emoção
primária, por exemplo: o pânico é o exagero do medo; a
vingança é exagero da ira etc.;
b) Podem ser resultantes da junção de duas ou mais emoções
primárias (por exemplo: depressão = medo + tristeza), ou
emoções primárias e secundárias (por exemplo: apatia =
desprezo + frustração);
c) Podem ser resultantes da junção de alguma emoção com ins-
tinto e padrões socioculturais, por exemplo: amor = felicida-
de + prazer + interesse + padrão sociocultural + pertenci-
mento (instinto).
2) São biológicas, isto é, os centros das mesmas são o sistema
límbico, o córtex pré-frontal (parte mediana do córtex frontal) e o sis-
tema somatossensorial (córtex parietal e temporal); e, assim como as
emoções primárias, as secundárias também podem produzir efeitos fi-
siológicos diversos.
3) São adquiridas e moldadas essencialmente por influência do
ambiente sociocultural (herança sociogenética).
4) São experenciadas principalmente na vida adulta, embora
sua formação possa ser identificada nos primeiros anos de vida da cri-
ança.
As emoções secundárias podem ser chamadas de positivas
(quando geram comportamentos ou reações socialmente adaptativas
ou funcionais) ou negativas (comportamentos ou reações desadapta-
tivas ou disfuncionais), ou seja, todas são reações aos estímulos ambi-
entais, mas podem fazer com que a pessoa se adapte ou não ao ambi-
ente eliciador que provocou tais reações.
Na Tab. 4.2.2 há uma relação das emoções humanas mais co-
muns.

68 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

Em outro momento serão abordados os sentimentos causado-


res de transtornos de humor, os quais são conhecidos como tríade ne-
gativa: desamor, desvalor e desamparo. No momento eles apenas es-
tão listados na Tab. 4.2.2.

Tab. 4.2.2. Emoções BÁSICAS, primárias e secundárias.

Emoções
Emoções secundárias Emoções secundárias Tríade ne-
BÁSICAS e
positivas negativas gativa
primárias
insegurança, hesitação,
respeito, reverência, an- ansiedade (neg.), angús-
1- MEDO desamparo
siedade (pos.) tia, susto, depressão, fo-
bia, pânico
intolerância, ódio, agres-
justiça, tolerância, bene- 2- raiva ou
sividade, crueldade, vin- desamor
volência ira gança
mágoa, amargura, abati-
mento, aflição, melanco- Desampa-
conforto emocional 3- tristeza
lia, depressão, remorso, ro
dor emocional
mágoa, amargura, abati-
pesar, arrependimento 4- culpa mento, tédio, remorso, desamparo
aflição
arrependimento, tolerân- insegurança, humilhação, desvalor
5- vergonha
cia, timidez, humildade inferioridade desamparo
dedicação, devoção, al- cobiça, excitação, inferio-
6- inveja desvalor
truísmo ridade
cobiça, excitação, des-
confiança, intranquilida- desamor
zelo, amor 7- ciúme
de, insegurança, inferio- desvalor
ridade
desprezo, orgulho, arro-
8- desinte- desamparo
empatia, simpatia gância, escárnio, apatia,
resse desamor
rebeldia
insegurança, humilhação,
benevolência, luto (pos.) 9- perda desamparo
inferioridade, luto (neg.)
dó, compaixão, dedicação 10- nojo asco, repulsa, aversão desamparo
11- FRUS- apatia, desânimo, decep- desvalor,
mansidão
TRAÇÃO ção, desgosto desamparo

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 69


Componentes da personalidade humana

calma, tranquilidade, pa-


12- ALÍVIO tensão, decepção desamparo
ciência
expectativa, excitação, susto, alvoroço (neg.), desvalor
13- surpresa
alvoroço (pos.) aborrecimento desamparo
empatia, simpatia, confi-
14- interes-
ança, dedicação, miseri- ciúme, inveja, cobiça, ex- desvalor
se ou curio-
córdia, amor, ansiedade, citação desamparo
expectativa, zelo sidade
confiança, satisfação, 15- aceita- cobiça, insatisfação, in- desvalor
gratidão ção gratidão desamparo
alegria, contentamento, desamor
16- prazer abrasamento, desprazer
gratidão, bondade, amor desvalor
prazer, contentamento, desamor
17- alegria tristeza, excitação
gratidão, bondade, amor desvalor
confiança, expectativa, desamor
excitação, cobiça, des-
ansiedade, zelo, dedica- 18- amor desvalor
confiança
ção, devoção desamparo
conforto, calma, tranqui- insatisfação, desconforto, desamor
19- satisfa-
lidade, gratidão, confian- ingratidão, intranquilida- desvalor
ça, amor
ção de desamparo
desamor
satisfação, amor, expec- 20- FELICI- infelicidade, insatisfação,
desvalor
tativa, ansiedade DADE intranquilidade
desamparo

Algumas explicações sobre a Tab. 4.2.2:


1) Na segunda coluna estão as emoções primárias (incluindo as
BÁSICAS). Tais emoções estão numeradas apenas para indicar sua po-
sição desde as emoções mais primitivas (1, 2, 3...) até as mais elabora-
das (..., 18, 19, 20).
2) Não há concordância entre os vários autores sobre quais são
realmente as emoções primárias. A maioria concorda com 8: medo,
raiva, tristeza, nojo, surpresa, curiosidade, aceitação e alegria. No
filme “Divertida mente” (2015), sucesso de público da Disney e da Pi-
xar, apenas 5 são listadas: medo, raiva, tristeza, nojo e alegria. Na se-
gunda coluna estão todas as emoções de maior aceitação como primá-
rias.
3) A maioria dos autores não considera o amor como uma
emoção primária, e sim como uma emoção secundária resultante da

70 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

mescla de diversas emoções diferentes e fatores socioculturais (amor


= felicidade + prazer + interesse + padrão sociocultural + instinto de
pertencimento). Se amor for retirado dessa coluna, as emoções primá-
rias ficam reduzidas a 19.
4) Na primeira coluna estão as emoções secundárias conside-
radas socialmente positivas (adaptativas ou funcionais).
5) Na terceira coluna estão as emoções secundárias considera-
das socialmente negativas (desadaptativas ou disfuncionais).
6) Algumas emoções secundárias estão associadas a diferentes
emoções primárias, o que indica que tal emoção é a junção de diferen-
tes emoções, por exemplo: depressão = medo + tristeza.
7) Na quarta coluna são apontadas as relações entre as emo-
ções secundárias negativas e a tríade negativa (os 3 des-: desamor,
desvalor e desamparo). São os sentimentos negativos que constituem
as crenças nucleares.

2.4. Emoções e suas manifestações corporais

De todos os processos mentais, os que mais apresentam mani-


festações psicossomáticas são as emoções. Devido a isso, é comum as
pessoas se utilizarem de termos referentes ao corpo para descreve-
rem a emoção sentida, por exemplo, diante do medo, a pessoa pode
dizer que sente um vazio no estômago, ou um formigamento no braço
ou aperto no peito. Outros exemplos de manifestações psicossomáti-
cas são: suor, rigidez muscular, evacuação e micção involuntária, vô-
mito, vertigem, sensação de vazio, pressão ou dor no estômago, intes-
tinos, pulmão, coração, rins, cabeça etc. Em casos mais graves: infarto,
estresse, úlcera, bronquite etc. Porém, nem sempre as manifestações
psicossomáticas são facilmente notadas por um observador externo.
Além dos efeitos psicossomáticos, as emoções podem ser iden-
tificadas pela linguagem corporal. Sorrisos nos lábios, olhos arregala-
dos, descontração do corpo, movimento dos braços e mãos e voz de-
sembaraçada podem indicar um estado de felicidade. Por outro lado,

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 71


Componentes da personalidade humana

lábios contraídos, olhos fixos, corpo tenso, braços semierguidos, mãos


fechadas e voz firme podem indicar um estado de ira. A linguagem
corporal normalmente é observada em alguns pontos básicos:
• Expressão facial: principalmente nos olhos (pálpebras arrega-
ladas ou semicerradas, pupilas dilatadas ou contraídas, olhar fi-
xo ou evasivo, lacrimejamento, contração muscular próxima
dos olhos etc.); na boca (lábios abertos, rígidos, trêmulos etc.);
dentes à mostra; testa (contraída) etc.
• Na fala: inflexão de voz, timbre, hesitação etc.
• Movimento de mãos: mãos à mostra, abertas, cerradas, fláci-
das, trêmulas etc. Movimentos de mãos sobre o rosto, como se
estivesse tampando os olhos, boca ou ouvidos podem indicar
tentativas de dissimular o que vê, fala e ouve.
• Movimento das pernas e direcionamentos dos pés indicando
uma saída ou fuga.

As emoções exercem alto poder de contágio, pois modificam o


ambiente ao redor e induzem as pessoas próximas a idêntico estado
emocional. Esse contágio chama-se empatia. Se alguém estiver em um
ambiente com pessoas alegres e comunicativas, possivelmente se sen-
tirá igualmente alegre. Por outro lado, se o ambiente é de tristeza e
choro também a pessoa sentirá profunda comoção. Mais que simples
indução ambiental, parece haver uma verdadeira comunicação psico-
lógica entre as pessoas, conhecida como “contratransferência resso-
nante”, um assunto muito importante, mas que por falta de espaço
não será abordada neste trabalho.2

2
É uma forma de contratransferência consciente, objetiva e mais diretiva
e criativa que as demais formas de reações contratransferenciais. Em todo
aconselhamento ou atendimento terapêutico, a atitude do conselheiro ou
terapeuta sempre deveria ser de neutralidade e de distanciamento ético em
relação ao analisado, a fim de não comprometer a eficácia do seu trabalho.
Assim o terapeuta não poderia se colocar na condição de salvador, professor,
aliado, amigo, moralista, catequista, conselheiro etc., mas na prática nem
72 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

No atendimento clínico, o contato visual entre o conselheiro e


o aconselhado é muito importante, pois através da linguagem corporal
será possível ver e ouvir aquilo que a pessoa não está falando com a
boca, mas, sim, projetando inconsciente através de seu corpo para o
ambiente onde ela se encontra.

2.5. As emoções estão na alma

A respeito das emoções e sentimentos humanos há várias cita-


ções bíblicas. O mais curioso é que a Bíblia atribui tais processos à al-
ma humana, outras vezes os atribui a alguns órgãos do corpo (coração,
rins, entranhas, olhos etc.) como manifestações psicossomáticas. Por
exemplo:
• Tristeza (Mt 26.38; Mc 14.34) e seus sinônimos: aflição (Lv
16.29; Jz 10.16; Jó 19.2; Is 58.3; Jr 4.19; 2Pe 2.8); angústia (Jz
16.16; 2Sm 4.9; 1Rs 1.29; Jó 30.25; Sl 88.3); amargura (Jó 3.20;
7.11; 10.1; Is 38.15); aborrecimento (Is 1.14; Jr 14.19; 2Sm 5.8;
1Sm 30.6; 2Rs 4.21); abatimento (Sl 42.5).
• Irritação: Zc 11.8
• Alegria: Sl 86.4; Is 61.10
• Amor: Gn 34.3; 44.30; 1Sm 18.1; Ct 1.7

É importante lembrar que se Deus é o criador da alma humana,


então ele é o autor de todas as emoções e, portanto, nenhuma delas é
pecado. Todas são boas, necessárias e úteis para a adaptação ambien-
tal, o erro não está na emoção em si, mas na intensidade e direciona-
mento delas, e no fato de elas dominarem completamente a vontade
humana. Por exemplo:
• Ira não é pecado. Efésios 4.26: “Quando vocês ficarem irados,
não pequem”. Ver também Êx 32.22; Rm 12.19.

sempre predomina essa isenção, e muitas vezes é exatamente isso o que o


terapeuta está fazendo.
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 73
Componentes da personalidade humana

• Ódio não é pecado. Salmo 45.7: Deus “ama a justiça e odeia a


iniquidade”. Ver também Hb 1.8-9; Ml 2.16.
• Orgulho não é pecado. 2 Coríntios 10.17: “Quem se gloriar [or-
gulhar], glorie-se no Senhor”. Ver também Sl 44.8; 1Co 1.31.
• Ciúme não é pecado. Romanos 11.14: “na esperança de que de
alguma forma possa provocar ciúmes em meu próprio povo e
salvar alguns deles”. Paulo desejava que os judeus sentissem
“ciúme ou inveja santa” da salvação concedida aos gentios. Ver
ainda Sl 44.9; Jr 9.22.

As emoções e os sentimentos não são ruins, mas o modo como


são exercitados pode ser ruim. Por exemplo: a ira não é pecado quan-
do motivada por zelo ao Senhor, mas passa a ser pecado quando al-
guém se irar contra algum irmão; do mesmo modo o ódio, a vingança,
o orgulho, o ciúme etc. Por outro lado, até mesmo as emoções repu-
tadas por mais nobres passam a ser pecado quando exercitadas de
maneira inadequada:
• Amor. Passa a ser pecado se a pessoa amar os prazeres do
mundo. 1 João 2.15: “Não amem o mundo nem o que nele há.
Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”.
• Alegria. Passa ser pecado quando alguém se alegra com a des-
graça do justo. Miquéias 7.8: “Não se alegre a minha inimiga
com a minha desgraça”. Ver também Pv 17.5; Jr 15.17; Lm
2.17.

2.6. Características gerais de pessoas altamente emotivas

Algumas pessoas têm a tendência de maneira mais marcante


de colocar suas emoções e sentimentos em nível mais elevado que os
demais atributos da alma humana; algumas vão mais além ainda,
caindo nos transtornos de humor, isto é, ainda que involuntariamente
elas exageram no uso das emoções a ponto de perderem o controle
nas reações aos estímulos do seu meio ambiente.

74 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

Características gerais e comportamentais das pessoas alta-


mente emocionais
As características que se seguem são bem generalizadas entre
as pessoas altamente emocionais e sentimentais, mas obviamente tu-
do isso varia em quantidade e intensidade de pessoa para pessoa.

1) São pessoas que tendem a dois extremos, ou tendem à an-


siedade ou tendem à depressão. Em qualquer dos dois extremos são
pessoas medrosas dominadas pelo pessimismo. Por outro lado:
• Seu pessimismo pode ser disfarçado por uma alegria aparente,
mas vazia.
• São pessoas com dificuldades em lidar com perdas e perdão
para si mesmas e para as demais pessoas.

2) São pessoas de modo geral muito inteligentes. Por outro


lado:
• Tais pessoas colocam seus sentimentos acima da razão, o que
prejudica tremendamente a tomada de decisões de maneira
lógica e racional.
• Normalmente não sabem controlar as emoções, transforman-
do-as em sentimentos, a fim de manter controle sobre eles.
• Suas emoções podem gerar dificuldades de adaptação ambien-
tal ao invés de servirem para a adaptação dessas pessoas ao
mesmo, principalmente quando tal ambiente é bastante aver-
sivo.

3) Geralmente são pessoas altruístas e empáticas, e conse-


guem realmente se colocar no lugar das outras pessoas e sentir o que
elas sentem. Por outro lado:
• Geralmente são pessoas de forte carência afetiva e sentem
constante necessidade de apoio emocional.
• Ao ajudar alguém, na realidade tais pessoas estão buscando
ajuda para si mesmas.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 75


Componentes da personalidade humana

4) São pessoas bastante sociais e altamente sociáveis. Por ou-


tro lado:
• São pessoas que gostam de sempre ser o centro das atenções.
• Usam as emoções como forma de manipulação e controle,
mesmo que nem sempre façam isso intencionalmente.

5) Normalmente são pessoas que gostam de motivar as outras


pessoas. Por outro lado:
• São pessoas que têm dificuldade de lidar com suas próprias
emoções e sua falta de motivação.

6) São líderes naturais, quando são carismáticos. Por outro la-


do:
• São pessoas que falham na sua liderança justamente pela falta
de controle de suas emoções.

7) Normalmente são pessoas que aparentam ser altamente


espirituais. Por outro lado:
• Essa espiritualidade geralmente é apenas aparente porque
confunde emocionalismo com espiritualidade.

Comorbidades3 mais comuns em pessoas altamente emocio-


nais
Em outro momento serão estudadas as psicopatologias e os
transtornos de personalidade. No momento só interessa identificar as
alterações mais comuns em pessoas altamente emocionais e senti-
mentais.

Psicopatologia.4 As psicopatologias mais típicas em pessoas al-


tamente emocionais são:

3
Associação simultânea de diversas psicopatologias e/ou transtornos de
personalidade.
4
Psicopatologia é área da psiquiatria, neurologia e psicologia que estuda
os estados psíquicos nos quais ocorre alguma forma de sofrimento mental
76 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

• Estresse crônico. Também são comuns os surtos de estresse


agudo.
• Transtornos depressivos diversos
• Transtornos fóbicos diversos (medos)
• Transtornos emocionais de comportamento: enurese, enco-
prese, taquifenia etc.
• TAB – transtorno afetivo bipolar
• TOC – transtorno obsessivo compulsivo
• Ingestão de bebidas e drogas

Transtornos de personalidade ou psicopatias.5 Os transtornos


de personalidade mais típicos em pessoas altamente emocionais e
sentimentais são:
• Personalidade ansiosa
• Personalidade neurótica
• Personalidade dependente
• Personalidade psicoinfantil
• Personalidade histriônica
• Personalidade obsessiva
• Personalidade fanática

(sofrimentos cognitivo, emocional, social e/ou espiritual), ou seja, a psicopa-


tologia estuda os transtornos mentais, isto é, tudo aquilo que estatistica-
mente se desvia da média geral da população – da média esperada pela raci-
onalidade, e considerada como comportamento normal, socialmente aceitá-
vel, não desviante.
5
Transtornos de personalidade ou psicopatias são comportamentos ina-
tos, disfuncionais e permanentes em relação ao ambiente, a ponto de impe-
dir o convívio social de maneira funcional, mas não chegam a preencher os
critérios para um transtorno mental ou psicopatologia. No passado os trans-
tornos de personalidade já foram chamados de insanidade moral, monoma-
nia moral, ego patológico, transtorno de caráter, neurose de caráter, psico-
patia de caráter etc.
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 77
Componentes da personalidade humana

• Personalidade passivo-agressiva etc.

Exemplos bíblicos de pessoas altamente emocionais


Os “emotivos” típicos são pessoas que não dominam suas
emoções. Os mais importantes citados na Bíblia são: os profetas Moi-
sés, Elias e Jeremias (quase todos os profetas apresentam fortes traços
emocionais), João Batista e os apóstolos Pedro e João Evangelista.
Outros emotivos são mencionados na Bíblia, mas sua emotivi-
dade era uma característica secundária, pois outros aspectos da per-
sonalidade eram mais marcantes em suas vidas. Entre esses podem
ser citados: os reis Davi, Salomão e Ezequias, o profeta Jonas, o após-
tolo Paulo (que já foi listado também como altamente instintivo).
Lembrando que todos esses também eram emotivos, mas não eram
emotivos típicos.

2.7. O domínio próprio ou temperança

Os instintos, impulsos ou pulsões juntamente com as emoções


e sentimentos, constituem os humores e afetos, os responsáveis dire-
tos pela adaptação do animal ao seu meio ambiente e pela sobrevi-
vência do indivíduo e da espécie, e isso também vale para o ser huma-
no. Pelo fato dos humores: (1) serem geralmente inconscientes e ex-
trapolarem a racionalidade; (2) pela tendência da alma em abusar de
seus atributos em geral; e (3) porque muitas vezes as pessoas criam o
próprio descontrole, isto é, o descontrole está no mindset (mentalida-
de), ou seja, o conjunto ou sistema de crenças, valores, objetivos, re-
gras, pré-conceitos etc., que a pessoa cria para si mesma. Devido a tu-
do isso, os humores são muito difíceis de serem devidamente contro-
lados, levando a pessoa a comportamentos exagerados, hábitos noci-
vos, vícios, manias, compulsões etc., que dificultam à adaptação ambi-
ental, geram problemas de relacionamentos e também podem ocasio-
nar enfermidades psicossomáticas diversas.

78 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

Aristóteles (384-322 a.C.), o principal dos filósofos gregos dizia:


“Considero mais valente aquele que vence seus desejos do que aquele
que vence seus inimigos; pois a vitória mais difícil é a vitória sobre si
mesmo”. Por outro lado, o rei Salomão afirmou: “Como a cidade derri-
bada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio
próprio” (Provérbios 25.28).
O controle de tais comportamentos disfuncionais é chamado
de domínio próprio ou temperança. É a habilidade que todos deveriam
desenvolver, independente de religião, idade, sexo, raça, nível socioe-
conômico e cultural, profissão etc. O apóstolo Paulo afirma: “Mas o
fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência (ou loganimidade),
amabilidade (ou benignidade), bondade, fidelidade, mansidão e domí-
nio próprio (ou temperança). Contra essas coisas não há lei” (Gálatas
5.22-23). Ou seja, o controle dos comportamentos disfuncionais deve
sempre existir em qualquer forma de sociedade humana, independen-
temente do fato de seus membros serem ou não cristãos, mas infeliz-
mente o analfabetismo emocional é um problema sempre presente.

Analfabetismo emocional

Em 1970 o psicoterapeuta americano Claude Michel Steiner


(1935-2017) criou o termo analfabetismo emocional para designar a
falta de domínio próprio ou falta de temperança (o termo está sendo
utilizado para designar humores ou afetos em geral). O analfabeto
emocional por não conhecer suas emoções então não consegue ter
domínio sobre elas e, pior que isso, é controlado por elas: “as emoções
que você não controla controlam você”. E ao se tornar refém de suas
emoções, o analfabeto emocional não tem limites em suas ações e re-
ações, e age por impulso e sem controle.
Ainda para Steiner, o analfabetismo emocional não é apenas a
incapacidade da pessoa compreender e gerenciar suas próprias emo-
ções, mas também a incapacidade de entender e aceitar as emoções
dos outros – é uma pessoa sem empatia.
Assim como uma criança pequena não é alfabetizada, o analfa-
beto emocional é uma pessoa que nunca teve suas emoções controla-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 79
Componentes da personalidade humana

das e disciplinadas principalmente na segunda infância (de 2,5 a 6,5


anos), são verdadeiras crianças emocionais.

Características do analfabetismo emocional

O analfabeto emocional se caracteriza principalmente por:


• Não é capaz de identificar as emoções ou sentimentos que sen-
te, sendo dominada pelo medo e pessimismo, pela ira e res-
sentimentos, pela tristeza e angústia, pelo vitimismo e culpa.
• Reage impulsivamente quando se sente vítima ou agredida. O
grande problema é que sempre se sente vítima, injustiçada e
com direitos egocêntricos.
• É extremamente apegado ao passado, quando não se sente ví-
tima então se sente culpada.
• É exagerado e desproporcional com tudo aquilo que a afeta.
• Não mede suas palavras e arranja problemas para si mesmo no
relacionamento com os outros. Comete verdadeiro “sincericí-
dio” social devido a sua total falta de tato em lidar com as de-
mais pessoas.
• Toma decisões apenas pelas emoções, sem considerar as con-
sequências imediatas e futuras de suas ações.
• Não leva em consideração as emoções das outras pessoas e
não consegue ser empático e nem simpático, nem tampouco
se preocupa com isso.
• Nunca aceita um “não” como resposta.
• Diante das adversidades e frustrações não consegue simples-
mente virar a página e seguir em frente.

Aprenda a controlar suas emoções

O analfabeto emocional pode ser educado emocionalmente,


mas esse é um trabalho difícil e demorado principalmente porque a

80 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

pessoa precisa estar conscientizada de sua condição e, mais que isso,


precisa estar disposta a investir na sua mudança. Veja alguns cuidados
nos quais a pessoa deve investir:
1) Autoconsciência emocional. Precisa aprender a identificar as
emoções que dominam sua vida na maior parte do tempo, e ter em
mente que precisará lutar constantemente contra elas. Será uma luta
sem tréguas contra inimigos com os quais não será possível acordos e
diálogos.
2) Consciência da realidade ambiental. Mais que reações aos
estímulos ambientais, as emoções são defesas automáticas, nem sem-
pre inconscientes. Isso significa que tais emoções são vistas como pro-
teção contra as adversidades ambientais, mesmo que não haja real-
mente alguma adversidade no ambiente.
3) Autocontrole emocional. A pessoa deve focar no controle da
emoção, e não na emoção propriamente dita. É preciso quebrar o pa-
drão negativo: tente ressignificar o que está sentindo e tente substitu-
ir a emoção negativa por um sentimento positivo. Tenha em mente
que é possível controlar suas próprias emoções e só você pode fazer
isso com suas emoções.
4) Tente evitar situações negativas imediatas; tente fugir de si-
tuações negativas em andamento, mas se tiver de enfrentar, então lu-
te para vencer, mesmo sabendo que poderá perder. Aprenda a lidar
com perdas e frustações (que também são emoções).
Os 7 “fs” das adversidades da vida: forewarn ou forearm (pre-
venir, precaver), fence (evitar), flee ou fly (fugir, voar), fight (lu-
tar), forfeiture (perder, confiscar), foil (frustrar) e freeze (con-
gelar, entregar-se à morte).
5) Tenha foco no futuro: Tente analisar quais serão as conse-
quências posteriores de suas ações agora.
6) Pratique a empatia e a interatividade emocional: Tente sen-
tir o que os outros estão sentindo e interagir emocionalmente com
eles.
7) Peça ajuda a um terapeuta, conselheiro ou mesmo a um
amigo capacitado para que o alertem sobre seus comportamentos in-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 81
Componentes da personalidade humana

tempestivos e o ajudem a lidar com suas emoções.


8) Tenha fé em Deus: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, con-
fia nele, e o mais ele fará” (Salmo 37.4). “Confia os teus caminhos ao
SENHOR, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado”
(Salmo 22.22).
9) Automotivação emocional. Lembre-se: O controle das emo-
ções exige muito treino e tempo. “A cura sempre é um processo, não
um evento”.
Sobre tudo isso vale ressaltar:

A alfabetização emocional exige que as pessoas entendam


seus próprios estados emocionais e os dos outros; apren-
dendo a gerir as suas emoções e empatia… A alfabetização
emocional é tanto um processo de desenvolvimento indivi-
dual como uma atividade coletiva, é tanto a construção de si
mesmo como a construção de um grupo, de modo que os
sentimentos próprios de bem-estar emocional cresçam com
os dos outros, e não às suas custas. A alfabetização emocio-
nal envolve o estabelecimento de conexões entre pessoas e
o trabalho com suas diferenças e semelhanças, para admi-
nistrar a ambiguidade e a contradição. É um processo di-
nâmico através do qual a pessoa se desenvolve emocional-
mente e envolve cultura e empoderamento. (Brian
Matthews – www. pensarcontemporaneo.com / analfabe-
tismo-emocional-emocoes-que-voce-nao-controla-
controlam-voce/).

Conclusão: Lidando com emoções negativas

As emoções existem para nos levar à ação, mas quem age por
impulso sempre tem mais a perder que a ganhar.
Toda pessoa carrega dentro de si impulsos, emoções, percep-
ções, pensamentos e vontades, a respeito dos quais não ousaria falar
publicamente porque isso lhe causaria muita vergonha e constrangi-
82 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Humor, afetos e temperamento 2: As emoções e os sentimentos

mento, são seus “demônios interiores”. No entanto, por mais cons-


trangedores que sejam, eles são normais, frequentes, não trazem mui-
tas consequências negativas e, na realidade, são uma projeção do que
realmente a pessoa é. O grande problema de tais impulsos, emoções,
percepções, pensamentos e vontades é o que fazer com eles, isto é, se
não forem devidamente administrados e controlados causarão danos
para a própria pessoa e prejudicarão seus relacionamentos sociais.
As emoções são necessárias e indispensáveis como instrumen-
tos de adaptação e reação às variações do meio ambiente. Quando
uma pessoa apresenta dificuldade de adaptação isso gera o estresse;
se o estresse não for tratado pode evoluir para uma depressão ou an-
siedade, e daí para fobias, histeria, pânico e diversos transtornos de
humor.
Todos os psicoterapeutas, conselheiros e motivadores pessoal
sabem que a emoção é o principal fator a ser trabalhado para levar
uma pessoa a mudar de comportamento, tomar atitudes ou fazer coi-
sas que normalmente estariam além de sua capacidade pessoal.
A esmagadora maioria das queixas que as pessoas trazem para
aconselhamento não é diretamente relacionada a algum problema ex-
terno enfrentado, mas, sim, como elas reagem internamente a esses
problemas, isto é, como suas emoções são dominadas por alguma
forma de medo, raiva, tristeza, vergonha, culpa etc.
O descontrole das emoções começa a se formar ainda na infân-
cia como uma forma de defesa ante os sofrimentos, ameaças, pres-
sões ambientais etc. Uma vez que tais emoções disfuncionais se de-
senvolvem, eles criam esquemas mentais que levam a pessoa ao so-
frimento e descontrole mental e emocional, e à desadaptação ao con-
vívio social normal. O problema aparente apenas colocou à mostra al-
go que a pessoa antes não enxergava, mas que já estava ali presente.
As emoções não são boas e nem ruins, são apenas comporta-
mentos inerentes ao próprio ser humano, mas podem se tornar ruins
em função da intensidade de seus efeitos sobre o indivíduo. Portanto
o maior obstáculo que a pessoa enfrenta não é a existência ou não de
alguma forma negativa de emoção, mas sim a forma como a pessoa
consegue ter controle sobre elas. Alguém disse: “Há momentos na vi-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 83
Componentes da personalidade humana

da em que se deveria calar e deixar que o silêncio falasse ao coração,


pois há sentimentos que a linguagem não expressa, e há emoções que
as palavras não sabem traduzir” (Jacques Prévert).

84 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do perfil emocional e sentimental

Nome: ____________________________________________________
Idade: ________ Data: ____ /____ /____

Indique o valor para cada item, que descreve o quanto cada compor-
tamento é característico em sua vida. Considere também o quanto as
pessoas com as quais convive atribuem a você tais comportamentos.
0 – não se aplica a você nem mesmo um pouco.
1 – aplica-se a você algumas vezes.
2 – aplica-se a você frequentemente, mas não sempre.
3 – aplica-se a você a maior parte do tempo, ou todo o tempo.

Quesito avaliado Valor


1 Você é uma pessoa com forte carga emocional. Pode ser uma
pessoa com tendência negativa (como depressão ou seu opos-
to: a ansiedade), ou ao contrário ser sempre alegre e de bem
com a vida.
2 Considera-se inteligente e/ou é visto pelas demais pessoas
como sendo muito inteligente.
3 Sempre dá muita importância ao modo como se sente em rela-
ção a algum assunto ou problema.
4 Geralmente é persuadido por algo que tenha forte apelo emo-
cional.
5 Geralmente é empático e harmonioso, e consegue se colocar
no lugar das outras pessoas e sentir o que elas sentem.
6 Geralmente é compassivo e perdoador com relação aos outros
7 É uma pessoa bastante sociável, mesmo que prefira ficar sozi-
nho.
8 Para agradar aos outros acaba ignorando algumas pequenas

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 85


Inventário de avaliação do perfil emocional e sentimental

falhas que eles cometem.


9 Geralmente é um bom líder ou pessoa de evidência em tudo
que faz.
10 Geralmente consegue motivar as outras pessoas, desde coisas
pequenas e insignificantes, até mesmo em coisas de grande
importância.
A Total de pontos em A (itens 1 a 10)
11 Geralmente coloca seu estado emocional e sentimentos acima
da razão, o que prejudica tremendamente a tomada de deci-
sões de maneira lógica e racional.
12 Não sabe controlar as emoções, transformando-as em senti-
mentos.
13 Suas emoções e sentimentos podem gerar dificuldades de
adaptação ambiental ao invés de servirem para a adaptação ao
mesmo.
14 Sente constante necessidade de apoio emocional, de apoio pa-
ra seus atos e de empurrão motivacional dos outros para agir
de maneira eficaz.
15 Gosta de ser o centro das atenções e ser apreciado, mesmo
quando dá a impressão de querer fugir das demais pessoas.
16 Usa suas emoções como forma de manipulação e controle,
mesmo que nem sempre faça isso intencionalmente.
17 Quando pessimista, seu pessimismo muitas vezes pode estar
disfarçado por uma alegria aparente, mas vazia.
18 Muitas vezes causa estresse nas pessoas com quem convive,
embora nunca consiga ver isso.
19 Geralmente não é espiritual ou dado a práticas espirituais.
B Total de pontos em B (itens 11 a 19)
Total geral de pontos A + B (itens 1 a 19)

Avaliação geral da pessoa emocional sentimental


total de pontos marcados X 10
F= = valor relativo (decimal)
57

86 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do perfil emocional e sentimental

Emoções e sentimentos

F= =
57

• Para 0 ≤ F ≤ 2,5: Seu comportamento não se caracteriza pela pre-


dominância de reações emocionais ou sentimentais.
• Para 2,5 < F ≤ 5,0: As reações emocionais e sentimentais são visí-
veis em seu comportamento, mas não são dominantes em sua
personalidade.
• Para 5,0 < F ≤ 7,5: As reações emocionais e sentimentais são ca-
racterísticas em seu comportamento e dominantes em sua perso-
nalidade.
• Para 7,5 < F ≤ 10,0: As reações emocionais e sentimentais são do-
minantes em seu comportamento e em sua personalidade. Você é
uma pessoa predominantemente emotiva.
• Para 5,0 < F < 10,0: a pessoa é considerada de perfil emotivo.
• Para 0 < F < 5,0: a pessoa é considerada de perfil não emotivo.

De todos os perfis de pessoas, as emocionais geralmente são as


mais fáceis de se conviver (desde que não sejam extremamente de-
pressivas ou extremamente ansiosas). O grande problema dessas pes-
soas é que são dirigidas mais pelas emoções que pela razão, então seu
estado de humor pode ser sempre uma incógnita nem sempre agradá-
vel. Obviamente isso varia muito de pessoa para pessoa.
Em complemento a esse pequeno teste, faça os inventários de
estresse, ansiedade e depressão apresentados no “Módulo 06. Análise
do comportamento disfuncional”.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 87


Módulo 5:
Processo de formação
da personalidade humana

SENHOR, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me as-


sento e quando me levanto; de longe penetras os meus pen-
samentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conhe-
ces todos os meus caminhos. Ainda a palavra não me chegou à
língua, e tu, SENHOR, já a conheces todas. Tu me cercas por
trás e por diante e sobre mim pões a mão. Tal conhecimento é
maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, e não o
posso atingir. (Salmo 139.1-6 ARA)

Na segunda parte desse trabalho foi dado destaque aos ele-


mentos que constituem a personalidade humana: (1) instintos, pul-
sões e impulsos, reações fisiológicas comportamentais e padrões fixos
de ação; (2) emoções e sentimentos; (3) sentidos e percepções; (4)
cognições e processos mentais; e (5) volição ou vontade, escolhas, ati-
tudes, motivações, hábitos, ações e reações.
Esses 5 elementos toda pessoa já traz em seu código genético,
no entanto eles são condicionados, doutrinados e formatados ao lon-
go da vida. Agora nesta parte, o destaque será como esses elementos
são condicionados para formarem a personalidade de cada pessoa e,
mais que isso, como são condicionados para formarem os diferentes
perfis de personalidade.

88 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Processo de formação da personalidade humana

1. Introdução à sociologia e à psicossociologia: O homem


sempre é um produto social. O homem é um ser biológico, psicológi-
co, social e espiritual. Quanto ao processo de formação da sua perso-
nalidade pode-se afirmar que o homem é essencialmente um ser soci-
al, e para entender seus padrões de personalidade e seus comporta-
mentos é necessário entender os padrões dos grupos sociais do qual
faz parte e as leis que regem a vida de cada um desses grupo, pois os
grupos ajudarão a determinar em cada indivíduo sua personalidade,
seu temperamento, seu caráter, seu modo de pensar e sentir, sua
consciência, seu comportamento e todos os demais aspectos positivos
e funcionais que caracterizarão seu jeito de ser e o adaptarão a viver
nos seus respectivos ambientes. Em outras palavras, é impossível co-
nhecer plenamente uma pessoa sem conhecer os grupos sociais do
qual faz parte, dos quais recebe suas influências e sobre os quais tam-
bém exerce alguma forma de influência.
2. Desenvolvimento humano 1: A personalidade em evolução.
Personalidade é resultante de tendências inatas (fatores filogenéti-
cos), influências condicionantes socioculturais (fatores sociogenéticos)
e experiências existenciais particulares do próprio indivíduo ao longo
da sua vida (fatores ontogenéticos), mas o mais importante é conside-
rar que a personalidade de uma pessoa sempre é considerada em fun-
ção do ambiente “social, cultural, econômico e histórico (temporal)”
onde ela vive e se relaciona.
3. Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais. A psico-
teologia clínica pode lançar mão de diversas concepções teóricas, sen-
do a terapia cognitiva comportamental apenas uma delas, sendo ou-
tras muito utilizadas a psicanálise e a psicologia analítica. A importân-
cia da terapia cognitiva para a psicoteologia se baseia principalmente
no seu conceito de esquemas mentais. Os esquemas mentais disfunci-
onais explicam as características de comportamento e de personalida-
de das pessoas.
4. Desenvolvimento humano 2: Formação da personalidade e
da individualidade. É fácil observar a evolução física de uma pessoa, o
difícil é observar o desenvolvimento da sua alma ou personalidade, is-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 89


Processo de formação da personalidade humana

to é, como os elementos constituintes da mesma são condicionados


ao longo das diferentes fases do desenvolvimento humano. Também é
importante conhecer quais os fatores condicionantes dos elementos
constituintes da personalidade.
5. Teoria da personalidade: Os tipos psicológicos. Desde que a
psicologia passou a ser uma ciência, em 1879, um dos focos do estudo
da personalidade humana tem sido criação de um sistema de classifi-
cação dos diferentes perfis padrões de personalidades. Na realidade,
surgiram várias teorias diferentes sobre o assunto e diversos sistemas
de classificação, mas aqui será destacado apenas a teoria dos perfis
psicológicos estabelecido por Jung, Katharine e Isabel Briggs.
Teoria da personalidade: Inventário simplificado de avaliação
tipológica. Em continuação ao assunto relacionado aos perfis da per-
sonalidade será apresentado um “Inventário simplificado de avaliação
tipológica”, onde o leitor poderá identificar seu próprio perfil psicoló-
gico ou o perfil de seu interlocutor.
6. Teoria da personalidade: Perfis tipológicos segundo Jung e
Briggs. Por fim, o leitor poderá ler um resumo de cada dos perfis psi-
cológicos aqui estudados. Lembrando que isso é apenas uma introdu-
ção ao assunto, e não um esgotamento do assunto.
É importante ressaltar que o que será tratado nesse módulo
são os perfis psicológicos considerados normais, ficando o estudo dos
esquemas mentais disfuncionais, das psicopatologias e dos transtor-
nos de personalidade para o módulo seguinte.

90 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


3. Terapia cognitiva:
Conceito de esquemas mentais

Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim


da vida não se desviará dele (Provérbios 22.6 NTLH).

Toda psicoterapia precisa de uma fundamentação teórica psi-


cológica que constitua sua base científica. A psicoteologia clínica, além
da teologia, pode lançar mão de diversas concepções teóricas, sendo a
TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) apenas uma delas, e essa é a
base teórica adotada neste trabalho.
A importância da terapia cognitiva para a psicoteologia se ba-
seia em 3 conceitos importantes: (1) É uma abordagem teórica e práti-
ca terapêutica moderna, com maior embasamento científico que as
abordagens tradicionais, como a psicanálise e a junguiana. (2) Seu
conceito de mudança de vida muito se assemelha à mudança decor-
rente da salvação (mudança soteriológica). (3) Seu conceito de es-
quemas mentais desadaptativos (velha natureza) e adaptativos (nova
natureza) estão de acordo com o objetivo terapêutico.
Neste capítulo, o foco está nesse terceiro ponto, o conceito de
formação dos esquemas mentais, especificamente os esquemas men-
tais adaptativos ou funcionais, ficando os esquemas mentais desadap-
tativos ou disfuncionais para o módulo 6.
Para se entender o conceito de esquemas mentais primeira-
mente é necessário que se conheça o fundamento do esquema cogni-
tivo. É perfeitamente possível entender o conceito de esquema cogni-
tivo sem se preocupar com o conceito de esquemas mentais, mas é
quase impossível entender como se formam os esquemas mentais

Gilson A. Pinho “Ajudar pessoas a ajudar pessoas” 91


Processo de formação da personalidade humana

sem se entender o conceito de esquema cognitivo. E dentro da psico-


teologia há uma relação direta entre esquemas mentais e a conversão
como elemento de transformação de vida, ou transformação de es-
quemas mentais.

3.1. Relação entre a terapia cognitiva e a teologia

Toda psicoterapia, seja ela teológica ou não, precisa de uma


fundamentação teórica psicológica que constitua sua base científica e
sua orientação à prática terapêutica. A psicoteologia, além do emba-
samento psicológico, precisa igualmente do embasamento teológico
devido às suas peculiaridades de ação.
A finalidade da abordagem psicológica adotada é ajudar o es-
tudioso ou o terapeuta e conselheiro a: (1) construir seu raciocínio du-
rante o atendimento; e (2) fornecer-lhe algumas técnicas de como agir
para que seu trabalho seja eficaz, eficiente e efetivo.
Até a década de 1980, as principais fundamentações teóricas
utilizadas na psicoteologia eram principalmente a psicanálise freudia-
na (de Sigmund Freud, 1856-1939) e a psicologia analítica junguiana
(de Karl Gustav Jung, 1875-1961). Ambas tinham seu foco no inconsci-
ente (Freud) ou no subconsciente (Jung), considerado pelos respecti-
vos teóricos como o principal motivador das ações humanas, inclusive
dos comportamentos alterados e das psicopatologias.
Apesar do muito que contribuíram para a psicoteologia, ambas
as teorias apresentavam, e ainda apresentam, falhas quando o foco é
voltado para o atendimento psicoteológico. A psicanálise freudiana
peca pela sua postura geralmente “ateísta” e até mesmo “antiteísta”,
o que sempre deu margem a muitas críticas por parte dos conselheiros
cristãos; enquanto a psicologia junguiana peca pelo oposto, isto é, por
causa do seu excesso de “misticismo”, o que também sempre deu
margem a muitas críticas por parte dos conselheiros cristãos. Mesmo
assim, essas duas abordagens ainda são bem difundidas na prática psi-
coteológica atual e no aconselhamento pastoral.

92 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

Nos anos finais séc. 20, graças ao desenvolvimento das neuro-


ciências, novas abordagens psicológicas ganharam grande aceitação
dentro da psicoteologia, tais como: a Terapia Cognitivo Comportamen-
tal (TCC) e a psicologia positiva. Especificamente nesse trabalho, como
já foi dito, está sendo adotada a conceituação cognitivista, e isso ocor-
re por 4 motivos:
1) A TCC é uma abordagem moderna e com mais embasamento
técnico-científico que a psicanálise e a psicologia junguiana.
2) A TCC valoriza a experiência espiritual da pessoa, e não a me-
nospreza como geralmente fazem a psicanálise e o comporta-
mentalismo de Skinner.
3) O conceito de mudança de vida na TCC está de acordo com a
visão soteriológica da Bíblia (assunto que será abordado no
“Módulo 07. Psicoteologia aplicada em atendimento clínico
breve”).
4) O conceito de esquemas mentais da TCC talvez seja o que mais
encontra similaridade com a teologia paulina exposta princi-
palmente nas epístolas aos Romanos e aos Gálatas.

Embora o conceito de esquemas mentais não tenha surgido


com a TCC, pois é muito anterior a ela, foi na TCC que esse conceito
adquiriu grande importância científica.
No capítulo de “Introdução à psicologia”, no “Módulo 02. In-
trodução à Psicoteologia”, foi abordado que a psicologia cognitiva es-
tuda os processos mentais determinantes do comportamento huma-
no. No capítulo sobre “Cognições e intelecto”, do “Módulo 04. Com-
ponentes da personalidade humana”, foi apresentado que entre os
processos mentais estão: cognição (conhecimento), memória, imagi-
nação, raciocínio, atenção, percepção, representação de conhecimen-
to, criatividade, capacidade de resolução de problemas, esquemas
mentais etc. As alterações comportamentais (reações desadaptativas
ou disfuncionais) geralmente são causadas por alterações nos proces-
sos mentais. Como prática terapêutica, a terapia cognitivista busca a
“reestruturação cognitiva” ou alterações dos esquemas mentais, como
forma de tratamento e correção dos comportamentos desadaptativos.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 93


Processo de formação da personalidade humana

3.2. Conceituação cognitivista de esquemas mentais, cren-


ças condicionais e nucleares

A psicologia cognitiva surgiu na década de 1960, graças princi-


palmente aos trabalhos de Aaron Temkin Beck (n. 1921), a partir dos
conceitos comportamentalistas de Burrhus Frederic Skinner (1904-90),
criador do behaviorismo radical (1945). Ao contrário de Skinner que
ignorava os fenômenos mentais internos e interpretava os comporta-
mentos humanos como sendo resultantes apenas dos estímulos ambi-
entais, Beck já aceitava a existência dos fenômenos mentais internos e
entendia que além dos estímulos ambientais externos, tais processos
mentais internos eram tão ou mais importantes que os estímulos ex-
ternos.

1- S-R: Estímulo e Resposta

Para Skinner todo estímulo (S) externo produzido pelo ambien-


te induz a uma resposta ou reação (R) comportamental, que pode ser
um reflexo incondicionado (comportamento incondicionado), isto é,
um comportamento inato adquirido por herança genética, ou um re-
flexo condicionado (comportamento condicionado), isto é, um com-
portamento adquirido principalmente por influência sociocultural. Ver
Fig. 5.3.2.1a.

Fig. 5.3.2.1a. Esquema cognitivo-comportamental básico.

Os reflexos incondicionados são diretamente relacionados, mas


não apenas isso, aos instintos (impulsos e pulsões, que Skinner cha-
mava de reações fisiológicas comportamentais e padrões fixos de
ação) e também às emoções. Tais reflexos são genéticos e indepen-
dem da vontade humana, e geralmente são inconscientes ou semi-
conscientes. Por exemplo: uma luz forte nos olhos fará com que as
94 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

pupilas se contraiam; um barulho forte e inesperado faz com que a


pessoa leve um susto; a visão de um animal bravo e faminto vindo em
sua direção faz com que a pessoa de imediato queira fugir etc.
Os reflexos condicionados, por outro lado, não são genéticos,
mas aprendidos principalmente em função do ambiente sociocultural,
e geralmente são conscientes ou semiconscientes. Por exemplo: sentir
fome e querer comer é um reflexo incondicionado, mas marcar horá-
rios para as refeições, o que comer, se vai comer usando garfo, palitos
ou outro instrumento qualquer são comportamentos adquiridos. Em
função disso, se uma pessoa olhar para o relógio e ver que está na ho-
ra do almoço, ela dirá que está com fome mesmo que tenha feito um
lanche a pouco tempo e procurará um lugar para comer, e escolherá o
que e como comer, ou seja, tais comportamentos são reflexos condi-
cionados.
É importante destacar que muitas vezes uma resposta a um es-
tímulo pode funcionar como estímulo para outra resposta. Por exem-
plo: Maria e Pedro são namorados, e Pedro telefona para Maria avi-
sando que irá em sua casa em alguns minutos (estímulo 1), Maria cor-
re para se arrumar a fim de receber Pedro (resposta 1). Ao se arrumar
(resposta 1 = estímulo 2) percebe que Pedro gosta mais de seu vestido
azul, então ela troca a roupa que estava colocando e veste a roupa
azul (resposta 2). Ao colocar a roupa azul (resposta 2 = estímulo 3) vê
que ele combina mais com uma blusa branca e não com a blusa rosa
que pretendia colocar, então ela tira a blusa rosa e coloca a branca
(reposta 3), e assim sucessivamente.
Skinner entendia que o estímulo sempre era decorrente do
ambiente externo da pessoa. O ambiente externo (AE) poderia se refe-
rir ao ambiente sociocultural, mas também à circunstância e à situação
de momento, e ainda poderia ser o ambiente físico.
O ambiente externo (AE) gera um estímulo (S). Os estímulos
podem ser dos mais diversos tipos, mas Skinner os agrupava princi-
palmente em estímulos físicos (luz forte, som alto etc.) e socioculturais
(costumes, normas culturais, problemas de relacionamentos, adapta-
ção ao ambiente etc.). O tipo de estímulo, sua intensidade (força), o

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 95


Processo de formação da personalidade humana

momento (ocasião) e o tempo (duração) em que ele é aplicado, bem


como sua repetição são fatores que determinam o tipo de resposta.
As respostas (R) podem ser as mais variadas, mas para efeito
didático são classificadas em 4 grupos: reações fisiológicas (RFs); rea-
ções instintivas, emocionais e sentimentais, classificadas genericamen-
te como reações emocionais (RE); reações cognitivas (RCg) e reações
comportamentais (RCp). Posteriormente (no módulo 7) será explicado
o porquê desses 4 grupos de reações. Assim o gráfico fica um pouco
mais complexo (Fig. 5.3.2.1b).

Fig. 5.3.2.1b. Esquema cognitivo-comportamental básico.

Voltando a história de Pedro e Maria. Pedro elogia (EA) sua


namorada Maria pela roupa que ela está usando. Maria pensa “ele me
ama” (RCg), ela fica feliz (RE), seus olhos brilham (RFs), ela abraça o
namorado, agradece o elogio e passa a ser mais interessada no namo-
ro (RCp), sempre procurando se mostrar mais e mais bonita para rece-
ber novos elogios, e se sentir cada vez mais amada.

2- S-R-C: Estímulo, Resposta e Consequência

O estímulo (S) gera uma resposta ou reação (R), também cha-


mada de comportamento respondente, pois é uma resposta ao estí-

96 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

mulo. Se o estímulo é repetitivo, a resposta também será repetitiva,


tendendo a se perenizar, e pode gerar uma consequência (C). A res-
posta pode causar uma situação de desconforto (desequilibração), que
obrigará a pessoa a buscar alguma forma de atenuar o desconforto ou
vai assimilar a nova condição criada (assimilação) e, uma vez assimila-
da, volta à condição de equilíbrio de estado (equilibração), até que no-
va resposta cause outro desequilíbrio, e assim sucessivamente. Com
isso ocorre o processo de aprendizagem, como queria Thorndike (ver
capítulo “Teorias motivacionais”, no “Módulo 07. Psicoteologia aplica-
da em atendimento clínicos breves”).
Outras vezes, para resolver o problema do desequilíbrio, a pes-
soa pode criar alguma estratégia compensatória (EC) a fim de atenuar
o desequilíbrio. As ECs são técnicas mentais, emocionais e comporta-
mentais que a pessoa cria para lidar com os problemas causados pelos
seus relacionamentos sociais. Elas não resolvem problemas, mas per-
mitem que a pessoa conviva com eles. As ECs são dezenas, talvez cen-
tenas, entre elas estão: neutralização; controle de impulsos; compul-
sões (falta de controle de impulsos); rituais, repetições e verificações;
distrair-se, não pensar, ou pensar em outra coisa; perguntas; atenção
seletiva; vigiar pensamentos etc.
O grande lance de Skinner foi entender que a própria resposta
(R) ao estímulo (S) poderia servir de estímulo reforçador ou punidor da
resposta (consequência: C), independentemente de haver ou não no-
vos estímulos externos, ou seja, a resposta passa a ser um comporta-
mento aprendido e/ou autogerado – com isso ocorre o comportamen-
to operante, que é sempre um aprendizado. A consequência (C) pode
reforçar ou extinguir um comportamento ou resposta, de tal modo
que a resposta possa ser realimentada e ser realizada independente
de continuar ocorrendo ou não o estímulo (E) que gerou a resposta
(R). Em função disso, Skinner criou os conceitos de reforço positivo
(Rf+), reforço negativo (Rf-), punição positiva (P+) e punição negativa
(P-). É importante observar que os conceitos reforço, punição, positivo
e negativo não expressam uma ideia de juízo de valores, e sim um
conceito de motivação para mudança (Fig. 5.3.2.2).

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 97


Processo de formação da personalidade humana

Fig. 5.3.2.2. Esquema cognitivo-comportamental básico.

O reforço sempre visa reforçar um comportamento para que


ele continue ocorrendo (perpetuar o comportamento aprendido). O
reforço positivo (Rf+) acrescenta um estímulo reforçador (recompen-
sa). O reforço negativo (Rf-) retira um estímulo aversivo (punidor).
A punição sempre visa atenuar e extinguir um comportamento
para que ele não mais ocorra. A punição positiva (P+) acrescenta um
estímulo aversivo (punidor). A punição negativa (P-) retira um estímulo
reforçador (recompensador).
Para que tais conceitos possam ser compreendidos de modo
mais claro, veja os exemplos envolvendo Pedro e Maria novamente:
1) Maria, anteriormente pouco preocupada quanto à sua apre-
sentação pessoal, resolve se arrumar antes de encontrar seu namora-
do Pedro. O rapaz elogia (reforço positivo: Rf+) o modo como Maria
está arrumada, com isso ela tenderá a repetir o modo de se arrumar
antes dos encontros. Observe que um estímulo reforçador foi acres-
centado (reforço positivo), que a leva a mudar: antes era pouco preo-
cupada com sua aparência, e agora passa se arrumar com frequência a
fim de receber elogios com mais frequência.
2) Outra situação, totalmente diferente da anterior. Maria, an-
teriormente pouco preocupada quanto à sua apresentação pessoal era
constantemente criticada pelo namorado Pedro. Então ela se arruma

98 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

antes de encontrá-lo, e Pedro não a critica (reforço negativo: Rf-), com


isso ela tenderá a repetir o modo de se arrumar antes dos encontros.
Observe que neste caso um estímulo aversivo foi retirado, a crítica (re-
forço negativo), que a leva a mudar: antes era pouco preocupada com
sua aparência, e agora passa a se cuidar frequentemente a fim de evi-
tar novas críticas do namorado.
Observe que os dois primeiros casos listados acima servem pa-
ra reforçar um comportamento: “arrumação pessoal”, e tal compor-
tamento passa a ser repetido com mais frequência. No reforço positi-
vo (o termo positivo não tem conotação de valor, mas sim de acres-
centar algo) um elogio é acrescentado (estímulo reforçador = elogio).
No reforço negativo (que também não tem conotação de valor, mas
sim de retirar algo) uma crítica foi retirada ou deixou de ser feita (es-
tímulo aversivo punidor = crítica).
3) Outra situação a ser considerada. Maria, anteriormente bas-
tante cuidadosa quanto à aparência pessoal, arruma-se para se encon-
trar com seu namorado Pedro, e o rapaz critica (punição positiva: P+)
o modo como está arrumada, com isso ela tenderá a não mais se ar-
rumar antes dos encontros. Observe que um estímulo aversivo foi
acrescentado (estímulo positivo), que a leva a mudar: antes era preo-
cupada com sua aparência, e agora passa não se cuidar, pois seu com-
portamento foi criticado.
4) Uma última situação a ser considerada. Maria, anteriormen-
te bastante cuidadosa quanto à sua aparência pessoal e constante-
mente elogiada pelo namorado Pedro, arruma-se para encontrá-lo, e o
rapaz não a elogia (punição negativa: P-), com isso ela tenderá a não
mais se arrumar, pois entende que sua arrumação não foi agradável
ao namorado. Observe que um estímulo reforçador (elogio) foi retira-
do, que a leva a mudar: antes era preocupada com sua aparência, e
agora passa a não se arrumar porque não foi devidamente reconheci-
da em seu esforço.
Observe que nos dois últimos casos houve uma extinção do
comportamento: sua “arrumação pessoal” deixa de ser feita ou foi ex-
tinta. A extinção aconteceu porque foi acrescentado um estímulo
aversivo punidor (punição positiva = acrescentada a crítica), ou porque

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 99


Processo de formação da personalidade humana

foi retirado um estímulo reforçador (punição negativa = retirado o


elogio).
Observe com atenção que nos quatro casos os termos positivo
e negativo significam acrescentar algo ou retirar algo, e não têm o sig-
nificado de juízo de valores. Resumindo: reveja a Tab. 5.3.2.2.

Tab. 5.3.2.2. Efeitos do reforço e punição sobre a motivação.

Reforço Reforço Punição Punição


positivo negativo positiva negativa
Rf+ Rf- P+ P-
Compor- Ambos reforçam o comporta- Ambos extinguem o comporta-
tamento mento para que continue a mento para que não mais ocor-
ocorrer. ra.
Estímulo Acrescenta Retira um es- Acrescenta Retira um es-
um estímulo tímulo aversi- um estímulo tímulo refor-
reforçador vo (punidor) aversivo (pu- çador (recom-
(recompensa) nidor) pensador)
Motiva- Ocorre reco- Não há crítica Ocorre crítica Não há reco-
ção nhecimento nhecimento

3- Mudando do comportamentalismo de Skinner para o


cognitivismo de Beck

As ideias de Thorndike e Skinner associam a motivação ou


comportamento aos estímulos ambientais externos (AE). Se não hou-
ver uma alteração ambiental não há estímulos para mudanças, e as
mudanças só ocorrem em função de um estímulo ambiental, ou seja,
as pessoas só desejarão mudanças em suas vidas se ocorrer algo que
as incomode (desequilibração).
A grande falha das ideias de Thorndike e Skinner é que ambos
minimizavam a importância de fatores internos, tais como: necessida-
des pessoais, crenças e valores, vontade e intenções. Por isso, várias

100 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

outras teorias surgiram que ampliaram muito o conceito original de


Skinner, entre as quais está a psicologia cognitiva.
A psicologia cognitiva substituiu o termo estímulo (S) por even-
to ativador (EA) e entendeu que o evento ativador não dependia ape-
nas do ambiente externo (AE), mas também do ambiente interno (AI)
da pessoa, ambiente esse constituído de operações mentais e fisioló-
gicas, tais como: um pensamento (processo mental); uma emoção
(instintos, emoção e sentimento); algo neurológico ou algo orgânico
(uma sensação física, uma doença etc.). Ver Fig. 5.3.2.3.

Fig. 5.3.2.3. Esquema cognitivo-comportamental básico.

Com isso, o evento ativador (EA), além do caráter físico e soci-


ocultural, também pode ser orgânico (dor, fome, desconforto etc.);
um pensamento; uma emoção ou sentimento; algo espiritual etc., mas
vale dizer que o tipo de estímulo, a intensidade (força) do mesmo, o
momento (ocasião) e o tempo (duração) em que ele é aplicado, bem
como a repetição dele continuam a determinar o tipo de resposta. As
respostas, para efeito didático, também continuam a ser agrupadas
em reações fisiológicas (RFs), emocionais (RE), cognitivas (RCg) e com-
portamentais (RCp).

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 101


Processo de formação da personalidade humana

4- Esquemas mentais (EM)

O grande lance da psicologia cognitiva foi entender que além


de estímulos causados pelo ambiente interno, a resposta não depende
apenas do evento ativador (EA), mas também, e principalmente, de
operações mentais internas conhecidas por esquemas mentais (EM) e,
mais que isso, os esquemas mentais não são genéticos, mas sim com-
portamentos aprendidos decorrentes de estímulos reforçadores e pu-
nitivos.
Esquemas mentais são padrões fixos (pouco variáveis) de pen-
samentos, emoções, comportamentos e reações fisiológicas. Funcio-
nam como verdadeiros filtros para os eventos ativadores. Os padrões
dos esquemas mentais é que determinarão as respostas aos eventos
ativadores recebidos.
Os eventos ativadores (EA) são interpretados pela pessoa que
os recebe de acordo com os esquemas mentais (EM) previamente
formados em sua mente. Assim, diante de tais eventos ativadores e de
acordo com seus esquemas mentais prévios, a pessoa apresentará re-
ações ou respostas (R) diversas, quer sejam boas (adaptativas ou fun-
cionais) ou ruins (desadaptativas ou disfuncionais) (Fig. 5.3.2.4).

Fig. 5.3.2.4. Esquema cognitivo-comportamental básico.

102 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

5- Pensamentos automáticos (PA)

Os esquemas mentais não são necessariamente inconscientes,


mas geralmente são automáticos, e, por isso, normalmente não são
percebidos pela pessoa não treinada, mas com um pouco de conheci-
mento e treinamento eles podem ser percebidos pelos pensamentos
automáticos (PA).
Os pensamentos automáticos brotam quase que inconsciente-
mente ante aos eventos ativadores, mas não chegam a um estado
pleno de consciência, ficando na semiconsciência. Os pensamentos au-
tomáticos não determinam a natureza das respostas aos eventos ati-
vadores, mas são diretamente relacionados a elas, como se as estives-
sem determinando (Fig. 5.3.2.5).

Fig. 5.3.2.5. Esquema cognitivo-comportamental básico.

Os pensamentos automáticos ocorrem em média 20 por minu-


to na pessoa normal, ou pelo menos nas pessoas que não padecem de
pensamentos acelerados (superam em muito a 20) e nas pessoas com
pensamentos fixos (raramente chegam a 20). Eles surgem do inconsci-
ente ou subconsciente, mas logo se diluem, voltando ao inconsciente
e caindo no esquecimento, surgindo outro pensamento automático, e
outro, e assim sucessivamente. Se a pessoa verbalizar um pensamento

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 103


Processo de formação da personalidade humana

automático quando surge ou começar a meditar em cima dele, então


ele sai do semiconsciente e passa para o consciente.
A análise dos pensamentos automáticos é uma forma de se
penetrar no inconsciente da pessoa, mas não é a única forma para is-
so.6
Os pensamentos automáticos, e os esquemas mentais em sua
totalidade, são determinados pelas crenças condicionais (CC) ou cren-
ças intermediárias (CI), as quais, por sua vez, são determinadas pelas
crenças nucleares (CN).

6- Crenças condicionais (CC) ou crenças intermediárias


(CI)

As crenças condicionais (CC) ou crenças intermediárias (CI) são


impostas sobre a pessoa ou criadas pela própria pessoa. De qualquer
modo são formadas ao longo da vida, sendo aceitas como verdades
quase que absolutas pela pessoa e, por isso, sua validade raramente é
contestada. São aplicadas de maneira generalizada aos mais diversos
estímulos ativadores, fazendo com que eles sejam percebidos e inter-
pretados de acordo com aquilo que a pessoa crê como verdade (Fig.
5.3.2.6).
As crenças condicionais são constituídas de:
• Regras sociais: impostas pela família e pelo ambiente sociocul-
tural onde a pessoa vive.
• Autorregras: regras que a pessoa cria e as autoimpõe, e acha
que os outros também deveriam cumpri-las, o que normalmen-
te não acontece.
• Expectativas: o que se espera de si mesma, do mundo e do fu-
turo.
• Suposições: como acha que as coisas são ou acontecem.

6
Ver item “Como acessar o inconsciente das pessoas”, no capítulo “Cog-
nições e intelecto”, do “Módulo 04. Componentes da personalidade huma-
na”).
104 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

Fig. 5.3.2.6. Esquema cognitivo-comportamental básico.

• Crenças: tanto religiosas, como crenças de vida sem conotação


espiritual.
• Valores: normalmente com conotação religiosa, moral e ética.
• Preconceitos: julgamentos que se mantêm, mesmo que as evi-
dências digam que eles não têm fundamento;
• Pré-conceitos: conhecimentos ou julgamentos prévios que a
pessoa tem a respeito de algo, e não questiona se isso real-
mente é verdadeiro ou não;
• Mecanismos de defesa do ego (MDEs): Operações mentais e
comportamentais criadas pelo ego a fim de se proteger e redu-
zir as tensões (angústias) provocadas pela ação agressiva do
ambiente externo.
• Imagens mentais diversas etc.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 105


Processo de formação da personalidade humana

7- Crenças nucleares (CN) ou crenças centrais

As crenças nucleares (CN), também chamadas de crenças cen-


trais, são entendimentos, percepções e julgamentos que as pessoas
têm a respeito de si mesmas, a respeito do mundo e a respeito do fu-
turo, determinando o modo como agem com relação a esses três as-
pectos.

Fig. 5.3.2.7. Esquema cognitivo-comportamental básico.

Do mesmo modo que as crenças condicionais, as crenças nu-


cleares podem ser formadas ao longo da vida (em geral de maneira
bem traumática ou cronificada), mas na maioria das vezes surgem nos
primeiros momentos do desenvolvimento infantil (na primeira e se-
gunda infância). São mais rígidas que as crenças condicionais, pois são

106 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

consideradas como verdades absolutas, cristalizadas e rígidas, e, por


isso, sua validade não está sujeita a contestações. Felizmente muitas,
talvez a maioria, das crenças nucleares são positivas e servem para fa-
cilitar a vida das pessoas.
Nem toda crença nuclear é disfuncional, ou seja, as crenças dis-
funcionais ou desadaptativas são aquelas que impedem, ou pelo me-
nos dificultam muito, a adaptação da pessoa ao seu meio ambiente e
ao convívio social, e causam alguma forma de sofrimento físico, men-
tal, emocional, social, espiritual ou existencial. Porém toda crença dis-
funcional ou desadaptativas é uma crença nuclear, ou pelo menos
tem sua origem em alguma crença nuclear prévia. As crenças nuclea-
res disfuncionais são constituídas basicamente de fortes sentimentos
de desamor, desvalor e desamparo (os 3 des-), os quais são conheci-
dos como tríade negativa. Outras vezes, à essa família é acrescentado
o sentimento de desprazer (tétrade negativa) e até mesmo desespe-
rança. Ver Fig. 5.3.2.7.

8- Fatores determinantes dos esquemas mentais

Como foi dito, os esquemas mentais não são genéticos, mas


sim comportamentos aprendidos por estímulos reforçadores ou puni-
dores. Os esquemas mentais são formados ao longo de toda vida da
pessoa, mas as crenças nucleares normalmente se formam quando a
pessoa ainda é criança.
Os fatores determinantes dos esquemas mentais e principal-
mente das crenças nucleares têm sua origem em:
1) Fatores biológicos, como: herança filogenética (é o único fa-
tor de origem genética), alterações orgânicas e doenças, que podem
ser genéticas, ou adquiridas, ou desenvolvidas.
2) Fatores sociogenéticos, como: influência da família, dos
grupos sociais diversos, educação, crenças (incluindo as crenças religi-
osas), regras, leis e normas sociais etc.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 107


Processo de formação da personalidade humana

3) Fatores ontogenéticos resultantes das experiências pesso-


ais, como: experiências de infância, experiências traumáticas em qual-
quer idade, hábitos contínuos, vícios, manias etc.
Os fatores sociogenéticos são geralmente mais significativos
que os fatores biológicos e ontogenéticos porque eles alteram os fato-
res biológicos e mudam a visão de mundo da pessoa com relação aos
fatores ontogenéticos.

Fig. 5.3.2.8a. Esquema cognitivo-comportamental básico.

108 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

É importante lembrar que os esquemas mentais originalmente


se formam como respostas aos estímulos ambientais. Na Fig. 5.3.2.8a
é possível ver o esquema cognitivista com destaque aos elementos
formadores dos esquemas mentais.
Antes que alguém diga que o esquema cognitivo é muito com-
plexo para ser entendido, a Fig. 5.3.2.8b mostra que ele é bem simples
se os dados explicativos forem eliminados da forma gráfica.

Fig. 5.3.2.8b. Esquema cognitivo-comportamental.

Repetindo os exemplos já apresentados antes para que o leitor


possa compreender os termos empregados na conceituação cognitiva:
1) Pedro elogia (EA) sua namorada Maria pela roupa nova que
ela está usando. Maria pensa “ele me ama” (RCg), ela fica feliz (RE),
seus olhos brilham (RFs), ela abraça o namorado, agradece o elogio e
passa a ser mais interessada no namoro (RCp), sempre procurando se
mostrar bonita para receber novos elogios e se sentir cada vez mais
amada. É possível imaginar que Maria tenha sido criada numa família
onde reina amor e compreensão. Com isso, ela desenvolveu a crença
nuclear (CN) de que é uma pessoa de muitos valores pessoais. Ao se
arrumar para o namorado, ela tem a expectativa (CC) de que o agrada-
rá. A maioria dos seus esquemas mentais (EM) é positiva a respeito de

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 109


Processo de formação da personalidade humana

si mesma, e o elogio do namorado é uma forma de confirmação de sua


autoestima.
2) Supondo-se agora que Maria tenha sido humilhada pela mãe
que sempre a chamou de infeliz, isso desenvolverá nela uma CN de
baixa autoestima e uma depressão crônica, e seu esquema mental
(EM) é de rejeição. Ao se arrumar para o namorado, ela já está supon-
do (CC) que ele não gostará da roupa. Ao receber o elogio (EA), ela
pensa “ele está debochando de mim” ou “ele está ironizando” (RCg),
ela se sente deprimida (RE), pode ter alguma alteração orgânica, como
falta de ar, por exemplo (RFs), chora e se retira da presença do namo-
rado e não mais quer vê-lo (RCp). Como consequência, o namorado a
abandona, e isso fará com que ela se sinta mais deprimida ainda.

3.3. Como os esquemas mentais se formam?

O conceito de esquemas mentais foi formulado pelo filósofo e


teólogo alemão Immanuel Kant (1724-1804), em 1787, para designar
um conjunto de estruturas mentais estereotipadas e simbólicas, pré-
organizadas na mente do indivíduo, sendo que qualquer situação que
esteja ocorrendo com essa pessoa é automaticamente associada aos
seus modelos mentais. Em outras palavras, os esquemas mentais são
padrões de representações mentais automáticas que levam a pessoa
a pensar, sentir, agir etc., diante de um estímulo externo ou interno,
de acordo com esses padrões. Por exemplo: um mesmo estímulo, co-
mo a voz de alguém, quando ouvida simultaneamente por duas pes-
soas diferentes, pode produzir comportamentos distintos em ambas
porque as experiências individuais de cada uma farão com que elas in-
terpretem essa voz com significados diferentes. Para uma pessoa,
aquela voz pode trazer uma lembrança agradável e, consequentemen-
te, ela busca se identificar com quem falou. Para outra pessoa, a voz
pode trazer uma lembrança de medo e, consequentemente, ela busca
fugir do local.
A criança não nasce com esquemas mentais pré-definidos, mas
vai formando novos esquemas ao longo da vida, como também vai

110 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

ampliando, adaptando e alterando os esquemas formados anterior-


mente, à medida que seu sistema nervoso se desenvolve, e de acordo
com o aprendizado das informações que recebe de seu ambiente soci-
al. Uma vez formados, os esquemas mentais tornam-se bastante rígi-
dos, pouco flexíveis e difíceis (mas não impossíveis) de serem altera-
dos, pois não constituem apenas conhecimentos adquiridos (cogni-
ção), mas, sim, verdadeiros modos automatizados de seu cérebro ope-
rar.

1- Linguagem e pensamento

O aprendizado da linguagem e do pensamento serve de ilustra-


ção para se entender o conceito de esquema mental e como ele se
forma.
Uma criança ao nascer, já tem suas cordas vocais formadas
(emite som ao chorar, e é atendida quando isso acontece), mas é in-
capaz de falar porque ainda não tem memória auditiva (área de Wer-
nicke, no lobo temporal) e também porque a área responsável pela fa-
la (área de Broca, no lobo frontal, normalmente no hemisfério cere-
bral esquerdo) ainda não estão formadas. Conforme a criança vai se
desenvolvendo, ela aprende a identificar sons e se vira para a fonte
desse som.
Com o passar do tempo, primeiramente a criança emite alguns
sons monossilábicos vocálicos (a, ã, e, é, o, ó...), e antes mesmo de
completar um ano, por imitação do que ouve, passa a emitir monossí-
labos consonantais (mãe, não, vó etc.), depois os dissílabos (mama,
mamá, nenê, bebê, papá, vovó etc.) e logo aprende a associar essas
palavras a pessoas ou objetos próximos, ou seja, primeiramente ela
aprende nomes (substantivos). É importante observar que a fala é um
treinamento muscular da língua e boca, e o curioso é que nessa mes-
ma época a criança também domina a habilidade de manipular obje-
tos, ficar em pé, caminhar etc. Em outras palavras, linguagem e habili-
dade motora estão intimamente associadas.
Conforme o lobo frontal da criança gradativamente vai se for-
mando, ela vai aprendendo a pensar, normalmente através de ima-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 111
Processo de formação da personalidade humana

gens mentais (ela já sonha), mas seus pensamentos nada têm a ver
com linguagem, e vice-versa: “ela pensa sem falar, e fala sem pensar”.
Entre 2 anos e 2 anos e meio, seu pensamento e linguagem se
cruzam, ou se encontram. A partir daí, a criança aprende a manifestar
exteriormente o que pensa através da fala, e sua interação com o
mundo aumenta consideravelmente. Nessa mesma época, ela começa
a aprender conceitos não concretos – primeiramente são os verbos:
mamá (mamar), bebê (beber), papá (papar) etc. Logo a seguir, passa a
formar frases e aprende a regra básica da formação do pensamento
em português: sujeito + verbo + predicado, por exemplo: “nenê qué
mamá”, ou seja, a criança passa a dominar a linguagem e o pensamen-
to. Na realidade seu cérebro passa a funcionar assim – o pensamento
passa a ser expresso principalmente através da linguagem, e não ape-
nas através de imagens.
Daí para frente é só uma questão de tempo para a criança am-
pliar seu vocabulário, assimilar adjetivos (qualidade), advérbios (inten-
sidade da ação) etc. Antes dos 6 anos, ela já terá assimilado os concei-
tos de certo e errado, de valores morais e crenças – tudo isso através
do que assimila das pessoas com as quais convive mais diretamente.
Por volta dos 6 anos, ela adquire a linguagem simbólica visual e já
pode ser alfabetizada. Por volta dos 14 a 16 anos, terá domínio de seu
raciocínio abstrato. Por volta dos 20 a 21 anos, seu sistema nervoso já
estará totalmente formado, embora o cérebro humano nunca deixe
de aprender, mesmo quando a pessoa envelhece. Até no momento da
morte, o processo de aprendizagem não cessa.
O pensamento é um conjunto de símbolos mentais memoriza-
dos ao longo da vida – a memória é a principal forma de pensamento,
sem memória as outras atividades mentais ficam extremamente limi-
tadas. A linguagem falada é um conjunto de símbolos sonoros que
representam os símbolos mentais, e ajudam a pessoa a se comunicar e
viver em sociedade. A linguagem escrita é um conjunto de símbolos
gráficos que representam símbolos sonoros que, por sua vez, repre-
sentam símbolos mentais, ou seja, a escrita é símbolo de símbolo (fala)
de símbolo (pensamento). O domínio da escrita tem uma influência
poderosa na execução das atividades conscientes da pessoa, bem co-

112 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

mo, pode ser utilizada como instrumento psicoterápico, como será


abordado posteriormente (Módulo 07. Psicoteologia aplicada em
atendimento clínico breve).

2- Linguagem e pensamento se autoconstroem

Sobre o pensamento e a linguagem oral e escrita, alguns pon-


tos devem ser destacados:

1) O pensamento é a atividade mental mais característica do


ser humano
Algo que nenhuma outra espécie animal consegue com a mes-
ma amplitude. Mas nem sempre o pensamento é consciente e racio-
nal, aliás, a maior parte dos pensamentos está no nível do inconscien-
te, por isso é tão difícil de manter o foco do pensamento quando a
pessoa não o exterioriza na forma de linguagem. Tente reparar quan-
tos pensamentos brotam automaticamente (pensamentos automáti-
cos – PA) em sua mente por minuto – são aproximadamente 20 por
minuto, e isso pode facilmente levá-lo à divagação.

2) Mais que exteriorização do pensamento, a linguagem é a


forma do cérebro humano funcionar
Uma pessoa por imitação e repetição aprende a falar portu-
guês, seu idioma materno; e porque fala português, pensa em portu-
guês; e porque pensa em português, fala português; e assim por dian-
te – uma ação alimenta a outra.
Se a pessoa quiser aprender inglês, mas se continuar pensando
da forma como pensa em português, jamais conseguirá dominar o in-
glês, pois esse idioma tem outra forma de construção do pensamento,
isso pode ser visto facilmente na estrutura gramatical de cada língua.
Para dominar o inglês, a pessoa precisa aprender a pensar em inglês.
Quando alguém, que só sabe falar português, resolve aprender espa-
nhol ou italiano, não verá muita diferença na estrutura do pensamen-
to, visto que esses idiomas têm sua estrutura gramatical originária no

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 113


Processo de formação da personalidade humana

latim, assim como o português, mas se a pessoa quiser aprender gre-


go, hebraico ou árabe, verá que a diferença não está apenas no voca-
bulário, mas também na forma e na estrutura do pensamento. Se qui-
ser aprender híndi, chinês ou japonês verá que a estrutura do pensa-
mento é mais diferenciada ainda.

3) A linguagem é um poderoso sistema de comunicação socio-


cultural
A linguagem permite às pessoas interagir, trocar informações e
experiências, e, o mais importante, comunicar fatos, ideias, crenças,
valores, sentimentos, conceitos abstratos (como a noção de tempo e
espaço) etc., desde que o emissor e o receptor utilizem a mesma lin-
guagem (mesmo conjunto de símbolos mentais). Sem a linguagem, a
humanidade jamais teria atingido o desenvolvimento cultural e tecno-
lógico em que chegou – o homem jamais teria pisado na lua.

4) A “linguagem escrita” é a forma mais consciente e racional


de fazer com que os pensamentos se exteriorizem
Ao escrever, a pessoa consegue dar forma aos seus pensamen-
tos e sentimentos, tirando-os do mais profundo inconsciente para o
mais pleno consciente, pois se utilizará de um conjunto de símbolos
(gráficos) que representa símbolos (orais) que representa símbolos
(mentais).
Além dos símbolos que representam sons, existem outros sím-
bolos (acentuação e pontuação, por exemplo) que não representam
sons, mas alteram o sentido, e até mesmo o significado, da palavra es-
crita. Na linguagem escrita as pessoas ainda tomam cuidado com a
grafia correta, regência, concordância e outras regras gramaticais que
passam despercebidas na linguagem falada. Tudo isso serve para mos-
trar como a linguagem escrita exige altíssimo grau de consciência e ra-
cionalidade.

114 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Terapia cognitiva: Conceito de esquemas mentais

5) A linguagem é uma das formas mais importantes da pessoa


conseguir direcionar os próprios pensamentos
Mais que a exteriorização do pensamento ou um sistema de
comunicação interpessoal, a linguagem ajuda a evitar a divagação. Se
a pessoa apenas pensar, tem a tendência de dispersar suas ideias em
meio aos pensamentos automáticos (PA) que surgem. Somente pesso-
as muito disciplinadas (filósofos, cientistas, investigadores, escritores
etc.) conseguem manter os pensamentos focados por muito tempo
sem verbalizá-los. Existem transtornos mentais (como a hiperativida-
de) que dificultam o foco, outros (como o transtorno obsessivo-
compulsivo – TOC) fixam o foco em detalhes desnecessários, consu-
mindo muito tempo e energia.

6) A exteriorização e a interiorização de pensamentos


Quando a pessoa consegue expressar oralmente ou por escrito
o que pensa e o que sente, ela não apenas “direciona seus pensamen-
tos para fora” e evita a divagação, mantendo o foco, mas, mais que is-
so, automaticamente vai atribuindo novas significações ao que pensa
ou sente (ressignificação), principalmente em relação às suas experi-
ências e saberes já adquiridos. Com isso, a pessoa gradativamente
consegue reelaborar ou “redirecionar seus pensamentos para dentro”,
até que ocorra o insight ou iluminação, quando sua visão de si mes-
ma, sua visão de mundo e sua visão de futuro são profundamente al-
teradas.
O insight é resultante de todo um longo, lento e gradual pro-
cesso chamado elaboração, mas não é sua conclusão, e, sim, uma par-
te do processo. Por isso, na terapia é muito importante que a pessoa
seja ajudada e incentivada a “pensar no que pensa e sente” e a ex-
pressar o que pensa e o que sente. Ela precisa falar.
Há ainda outro fator a considerar, quando uma pessoa fala ou
escreve, ela pode estar introjetando novos pensamentos, sentimen-
tos, percepções e outros processos mentais em sua cabeça, de modo
que possam alterar pensamentos, sentimentos, percepções e outros
esquemas mentais anteriormente estabelecidos.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 115


Processo de formação da personalidade humana

Conclusão: A importância dos esquemas mentais na vida


das pessoas

Toda psicoterapia precisa de uma fundamentação teórica psi-


cológica que constitua sua base científica. A psicoteologia clínica, além
da teologia, pode lançar mão de diversas concepções teóricas, sendo a
terapia cognitiva comportamental apenas uma delas. A importância da
terapia cognitiva para a psicoteologia está basicamente no seu concei-
to de mudança de vida, que muito se assemelha à mudança decorren-
te da salvação, e ao seu conceito de esquemas mentais desadaptativos
(velha natureza) e adaptativos (nova natureza).
É importante que se conheçam: (1) os principais conceitos do
esquema cognitivo-comportamental; e (2) entender como se formam
os esquemas mentais (entender a formação da linguagem e pensa-
mento é o melhor exemplo para isso).
É possível mudar um esquema mental, mas este é um trabalho
difícil e normalmente bastante demorado. O mais interessante seria
que as pessoas só formassem esquemas adaptativos, principalmente
na infância, pois eles marcarão todas as áreas de sua existência e nor-
malmente acompanharão tais pessoas até o fim de seus dias. Aqui ca-
bem as palavras de Salomão: “Eduque a criança no caminho em que
deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele” (Provérbios 22.6
NTLH).

116 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Módulo 6:
Análise do
comportamento disfuncional

E [Jesus] dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.


Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os
maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a
blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos esses males vêm de
dentro e contaminam o homem. (Marcos 7.20-23 ARA)

O “Módulo 04. Componentes da personalidade humana” pro-


curou mostrar que os 5 elementos formadores da personalidade fa-
zem parte da bagagem genética que toda pessoa já traz consigo ao
nascer. O “Módulo 05. Processo de formação da personalidade huma-
na” procurou mostrar que tais elementos serão condicionados, dou-
trinados e formatados ao longo da vida, de modo que a herança gené-
tica (filogenética) e o condicionamento (sociogenético) podem dar ori-
gem a esquemas mentais e uma personalidade estruturada e sadia. No
módulo 06 o objetivo é mostrar que também podem dar origem a es-
quemas mentais completamente disfuncionais, os quais muitas vezes
resultarão em psicopatologias diversas e transtornos de personalida-
de.
1. Terapia do esquema: Conceito de esquemas mentais dis-
funcionais. A psicoteologia clínica pode lançar mão de diversas con-
cepções teóricas, sendo a terapia cognitiva comportamental e sua va-
riante, a terapia do esquema de Young, são apenas duas delas. A im-
Gilson A. Pinho “Ajudar pessoas a ajudar pessoas” 117
Análise do comportamento disfuncional

portância da terapia cognitiva para a psicoteologia se baseia princi-


palmente no seu conceito de esquemas mentais desadaptativos ou
disfuncionais (velha natureza) e adaptativos (nova natureza). Os es-
quemas mentais disfuncionais explicam a origem de muitas alterações
de comportamentos, psicopatologias e transtornos de personalidade.
2. Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamen-
to. Objetivo aqui é apresentar algumas das psicopatologias mais co-
muns no ambiente social e no interior das diversas igrejas cristãs e ou-
tras religiões, isto é, aquelas patologias normalmente relacionadas ao
ambiente religioso, pois muitas vezes a distinção entre uma psicopato-
logia e uma manifestação espiritual maligna é uma linha muito tênue
ou de contornos nem sempre claramente definidos.
Inventários de avaliação de estresse, ansiedade e depressão.
Em continuação ao assunto relacionado às psicopatologias são apre-
sentados 4 inventários que permitem ao leitor avaliar seu nível de es-
tresse, de ansiedade, de depressão e transtorno misto de depressão e
ansiedade.
3. Psicopatologia 2: Transtornos de personalidade. Pessoas
doentes ou más por natureza? Ainda dentro da análise dos compor-
tamentos disfuncionais é muito importante entender os transtornos
de personalidade. Esse é um assunto controverso entre os estudiosos,
pois é difícil dizer se isso realmente se trata de alguma patologia ou se
tais pessoas são más por natureza e, mais que isso, se elas têm consci-
ência de seu comportamento e da perturbação que causam no ambi-
ente onde vivem.

É importante ressaltar que o que será tratado nesse módulo 06


são os perfis psicológicos considerados anormais, disfuncionais ou de-
sadaptativos, ou seja, tudo aquilo que dificulta o convívio social do seu
portador, e causa desconforto às pessoas que convivem com aqueles
que têm algum tipo de transtorno de personalidade.

118 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


2. Psicopatologia 1
Transtornos mentais e de comportamento

Muitos supostos casos de possessão demoníaca observados


nas igrejas atualmente, e ao longo de toda história, na realida-
de são manifestações de surtos psicóticos, e não possessões
verdadeiras. É até possível que muitos exemplos de possessões
mencionados na Bíblia tenham sido casos de psicoses. Isso de
maneira alguma significa que não existem manifestações espi-
rituais verdadeiras, tanto de origem divina como de origem
demoníaca, e muitas vezes a distinção entre uma psicopatolo-
gia e uma manifestação espiritual é uma linha muito tênue ou
de contornos não definidos, mas o fato é que Jesus e o apósto-
lo Paulo consideravam as entidades espirituais como seres re-
ais, e as operações espirituais como um fato.

Objetivo aqui não é apresentar um estudo detalhado de todas


as psicopatologias, nem mesmo as principais ou mais comuns entre
elas. O objetivo é apresentar, sim, algumas das psicopatologias mais
comuns no ambiente social e principalmente no interior das diversas
igrejas cristãs e até mesmo de outras religiões.
É importante destacar que tais patologias podem ter origem
biológica, psicológica, social e não apenas espiritual. Muitas dessas pa-
tologias são geralmente, e erroneamente, mas preconceituosamente,
rotuladas como manifestações demoníacas. Isso de maneira alguma
significa que não existem manifestações espirituais verdadeiras, tanto
de origem divina como de origem demoníaca, e muitas vezes a distin-
ção entre uma psicopatologia e uma manifestação espiritual é uma li-
nha muito tênue ou de contornos não definidos.

Gilson A. Pinho “Ajudar pessoas a ajudar pessoas” 119


Análise do comportamento disfuncional

Em resumo: O que é psicopatologia? Como se identifica uma


psicopatologia? Quais são as principais? Muitas outras questões pode-
riam ser levantadas pertinentes ao assunto que agora se inicia, mas
bastam essas por enquanto.

2.1. Conceituação de psicopatologia

A palavra psicopatologia vem do grego: psychḗ = alma, vida,


pessoa, alento; entendimento, conhecimento; sentimento, inclinação +
páthos = sofrimento, enfermidade, doença, infortúnio, aflição, afec-
ção, tristeza; estado alterado da alma; prova, experiência, aconteci-
mento + ología = ensino, doutrina, estudo, tratado, narrativa, conhe-
cimento. Assim, psicopatologia significa literalmente estudo das doen-
ças da alma, ou seja, das doenças cuja causa não é necessariamente
associada a alguma alteração orgânica (biológica), mas que podem ter
efeitos e sintomas orgânicos. Neste caso diz-se que ocorre alguma
manifestação psicossomática (psychḗ + sȏma = corpo, órgão, matéria,
coisa tocável etc.).
Em sentido mais técnico, psicopatologia é o estudo dos esta-
dos psíquicos nos quais ocorre alguma forma de sofrimento mental
(sofrimentos cognitivo, emocional, social, espiritual e existencial). Em
sentido mais amplo, a psicopatologia estuda os transtornos mentais,
isto é, tudo aquilo que estatisticamente se desvia da média geral da
população, ou seja, da média esperada pela racionalidade, e conside-
rada como comportamento normal, socialmente aceitável, não desvi-
ante.
A psicopatologia busca seu embasamento científico na psiquia-
tria, neurologia, neurociências, psicofisiologia, medicina geral, psicolo-
gia, biologia, psicofarmacologia, e até mesmo (e principalmente) nas
ciências humanas, como: sociologia, antropologia, filosofia, linguística,
história e religião, visto que o principal efeito das psicopatologias é o
modo como elas afetam o convívio social da pessoa que as possui.
Como prática clínica, a psicopatologia é campo de trabalho da psiquia-
tria, psicologia e psicanálise.

120 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

Como foi dito acima, a psicopatologia é focada no conceito de


comportamento normal, ou socialmente aceitável – “normal” é aquilo
que se espera encontrar como regra geral em uma população. Logo o
conceito de normalidade pode variar entre diferentes grupos popula-
cionais, pois “normal” é um conceito altamente cultural; e também va-
ria com o tempo histórico, portanto é um conceito temporal. Tudo que
for desviante desse padrão sociocultural e temporal é considerado pa-
tológico (doentio).

O que caracteriza uma psicopatologia?


No aspecto pessoal, diz-se que alguém tem alguma psicopato-
logia quando passa a apresentar:
1) Um comportamento “significativamente diferente” daquele
que a pessoa tinha no seu passado – há uma alteração comportamen-
tal nítida.
2) Esse novo comportamento “causa sofrimento” (ou risco de
sofrimento, dor, morte, deficiência física ou mental e perda importan-
te de liberdade) à própria pessoa afetada, aos seus familiares e às pes-
soas com as quais ela se relaciona diretamente.
3) É um comportamento socialmente incompatível e disfuncio-
nal, pois “compromete a funcionalidade” da vida familiar, social, pro-
fissional, educacional etc., da pessoa afetada.
4) Tal comportamento é persistente (constante) ou recorrente
(acontecem pelo menos dois episódios anuais) – um comportamento
anormal por curto período ou sem recorrência não caracteriza uma
psicopatologia, por mais grave que tenha sido esse episódio isolado.
5) Por mais que a pessoa queira controlar esse comportamento
disfuncional “manifesto”, os comportamentos “latentes” estão além
da sua vontade e controle, e podem se apresentar a qualquer momen-
to.

O critério diagnóstico de uma psicopatologia


Não existem exames laboratoriais que permitem estudar o psi-
quismo das pessoas e nem detectar a maioria das patologias psíquicas.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 121


Análise do comportamento disfuncional

Assim, a identificação das psicopatologias é feita pela expressão verbal


do próprio portador e pela observação criteriosa dos comportamentos
manifestos e latentes do portador. Uma vez que não há exames labo-
ratoriais que permitam diagnosticar as psicopatologias, o critério diag-
nóstico é definido por um conjunto específico de sintomas que se ma-
nifestam de maneira permanente. Tais sintomas são definidos na CID-
107 ou no DSM-IV TR8, e para o diagnóstico são exigidos pelo menos 4
sintomas simultâneos e permanentes.9
Outro ponto muito importante na análise das psicopatologias
não é apenas conhecer os sintomas para “identificar” as patologias e
“como” a mesma ocorrem, o mais importante é saber “por que” e “em
que circunstância” ocorrem. Isso é muito importante, pois a maioria
das psicopatologias não tem causa orgânica (não é possível o reducio-
nismo científico ou reducionismo orgânico), ou seja, a causa é funcio-
nal (ou melhor, disfuncional), portanto é imprescindível conhecer:
• O histórico de vida do portador;
• As circunstâncias ambientais em que o fenômeno ocorre;
• As circunstâncias temporais;

7
CID-10 = Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde, 10ª revisão, 2007, ou ICD-10 = International Sta-
tistical Classification of Deseases and Related Health Problems, 10th revision,
2007. A CID-10 é o padrão adotado pela OMS (Organização Mundial da Saú-
de), sendo de uso muito frequente no Brasil.
8
DSM-IV TR = Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,
Versão IV, Texto Revisado, de 2000, ou Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders, Version IV, Revised Text, 2000. O DSM-IV TR é o padrão
adotado pela APA (Associação Americana de Psiquiatria), sendo de uso mais
frequente nos Estados Unidos. O trabalho aqui apresentado foi elaborado
em cima do DSM-IV, mas já existe o DSM-V, porém com relação a que será
aqui abordado, não há diferenças significativas entre DSM-IV e DSM-V.
9
É importante ressaltar que qualquer diagnóstico psicopatológico só po-
de ser feito por profissional habilitado: médico ou psicólogo. Nem mesmo o
psicanalista (que não tenha formação em medicina ou psicologia) pode apre-
sentar um diagnóstico de psicopatologia.

122 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

• As condições favoráveis ao desenvolvimento da doença, ou


condições nas quais elas deveriam se desenvolver, mas isso
não ocorre; e
• Compreender os significados que a pessoa portadora atribui ao
seu mundo objetal.10

Ou seja, é necessário um entendimento global da pessoa, pois


a doença não existe isoladamente fora da pessoa e, sim, dentro dela.
Como se diz: “Não existe doença, existe doente”, pois cada caso é um
caso.

2.2. Fatores determinantes dos transtornos mentais e


comportamentais

Etiologia é o estudo das causas de uma determinada enfermi-


dade (gr.: aítia = causa, origem, motivo + ología). Os psiquiatras sem-
pre buscaram uma explicação biológica (orgânica ou genética) para os
transtornos mentais e comportamentais; os psicólogos humanistas e
psicanalistas buscam uma explicação psicológica (no psiquismo); os
psicólogos comportamentalistas e sociológicos buscam uma explica-
ção no ambiente sociocultural (estímulos ambientais); e os religiosos
há séculos buscam uma explicação no transcendente (não necessari-
amente no mundo espiritual). Quem está com a razão?
Na realidade há fatores causais, fatores determinantes, fatores
desencadeadores e fatores agravantes dos transtornos mentais e
comportamentais, e eles normalmente não aparecem isolados, pois
são resultantes da interação de fatores biológicos, psicológicos, socio-
ambientais e até mesmo espirituais. Uma observação meticulosa des-

10
Relação objetal é a relação que a pessoa estabelece com qualquer objeto signi-
ficativo de seu mundo psicológico. Esse objeto pode ser um objeto físico propria-
mente dito, mas geralmente é uma outra pessoa, uma circunstância, um pensamen-
to, sentimento, comportamento ou qualquer outro fenômeno de alto valor psicoló-
gico.
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 123
Análise do comportamento disfuncional

ses fatores e da interação entre eles contribuem não só para compre-


ender a origem e evolução dos transtornos mentais e comportamen-
tais, mas principalmente para erradicar a ignorância e os sofrimentos
infringidos aos infelizes portadores de transtornos mentais graves.

Para explicar um comportamento confuso, as pessoas anti-


gamente pensavam que forças estranhas – o movimento
das estrelas, poderes divinos ou espíritos malignos – esta-
vam atuando. “O demônio o fez ser assim” – você poderia
ter dito se vivesse na Idade Média. A cura estaria em livrar-
se da força do demônio – seja apaziguando os grandes po-
deres, seja exorcizando o demônio. Até os dois últimos sé-
culos, as pessoas “loucas” eram enjauladas como animais
em um zoológico, ou recebiam “terapias” apropriadas para
o demônio: eram espancadas, queimadas ou castradas. Em
outros tempos, a terapia incluía extrair os dentes, retirar
parte dos intestinos ou cauterizar o clitóris. Algumas pesso-
as consideram que os “loucos” haviam tido seu sangue reti-
rado e substituído por sangue de animais. (MYERS, 2006, pp.
451-452)

Em 1948 foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS), a


qual na ocasião definiu saúde como “um estado completo de bem es-
tar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença e enfer-
midade”. Este conceito formulado pela OMS apresenta a visão do ho-
mem como ser biopsicossocial (biológico + psicológico + social). Em
1983, o conceito de saúde da OMS foi alterado e ampliado para “um
estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e social, e não
apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Embora o conceito
formulado pela OMS esteja sujeito a muitas discussões, o fato é que
ele representou uma mudança de paradigma não apenas no conceito
de saúde nos aspectos biopsicossocial, mas pelo fato de incluir espiri-
tualidade, pois esses quatro fatores interagem mutuamente e o resul-
tado é o estado dinâmico de saúde ou insanidade do indivíduo.

124 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

1- Fatores biológicos

Entre os fatores biológicos ou orgânicos determinantes dos


transtornos mentais e comportamentais estão incluídos a herança ge-
nética, doenças adquiridas, idade e sexo, pois tais fatores realmente
podem provocar alterações neurais, tanto orgânicas como funcionais.

a) Herança genética como fator predisponente às psicopato-


logias
Dois pontos importantes comprovam a origem genética de
muitos transtornos mentais e comportamentais:
O primeiro, é que por séculos se tem observado a incidência de
determinados transtornos em algumas famílias, geração após geração,
mesmo que haja algum período de interrupção entre uma geração e
outra, voltando a doença a eclodir em gerações posteriores. Tal ponto
reforça o conceito de herança genética, mas gera dois problemas de-
correntes da ignorância: (1) Para alguns, isso se deve a “maldições fa-
miliares” quando, na realidade, são apenas heranças genéticas. (2)
Como as pessoas herdam mais genes da mãe que do pai (50% dos ge-
nes nucleares de cada genitor + 100% dos genes mitocondriais da
mãe), então as doenças genéticas são mais comuns na linhagem ma-
terna, o que por séculos levou as pessoas na sua ignorância a associa-
rem as mulheres a pactos demoníacos, e muitas pagaram com a pró-
pria vida o fato de seus filhos nascerem ou apresentarem alguma pa-
tologia, em especial alguma psicopatologia.
Um segundo ponto que serve para confirmar a origem genética
de muitos transtornos mentais e comportamentais é que estudos com
gêmeos monozigóticos (com mesmo patrimônio genético), mesmo
quando criados separadamente (em diferentes ambientes sociocultu-
rais), mostram que eles têm a tendência de desenvolver os mesmos
tipos de transtornos orgânicos e psíquicos, além de várias característi-
cas de personalidade.
O mapeamento genético permite identificar muitos genes que
predispõem as pessoas para determinadas enfermidades, mas é im-
portante destacar que: (1) é preciso a existência de múltiplos genes de
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 125
Análise do comportamento disfuncional

risco para que uma patologia possa se manifestar, pois muitas patolo-
gias se devem a genes recessivos; e (2) apenas 14% das pessoas com
predisposição genética para determinada patologia a desenvolverão
de fato, pois é preciso algum fator ambiental que sirva de gatilho para
a mesma (fator desencadeante) – entre os fatores ambientais estão:
“exposição a substâncias psicoativas no estado fetal, até a desnutri-
ção, infecção, perturbação do ambiente familiar, abandono, isolamen-
to e trauma” (BALLONE, 2008).

b) Outros fatores orgânicos predisponentes às psicopatologias


Além da herança genética, outros fatores podem gerar alguma
alteração orgânica e, consequentemente, alguma forma de psicopato-
logia, por exemplo:
• Doenças não psíquicas podem causar sintomas psíquicos, co-
mo: demências, delírios e alucinações. Algumas dessas patolo-
gias são: (1) doenças de origem genética (Alzheimer, síndromes
de Pick, Creutzfeldt-Jakob e Huntington, mal de Parkinson etc.);
(2) doenças adquiridas ou desenvolvidas (meningite viral, HIV,
sífilis, arteriosclerose etc.); (3) contaminação por chumbo e ar-
sênio; e (4) a dependência a drogas psicoativas (álcool, cocaína,
crack, LSD etc.).
• Alterações fisiológicas disfuncionais da química cerebral, co-
mo o desequilíbrio dos neurotransmissores acetilcolina, dopa-
mina, noradrenalina, serotonina, GABA, endorfina e outros. Por
exemplo, a baixa concentração de serotonina pode ser a causa
de uma crise de esquizofrenia ou de depressão.
• O fator sexo também é importante porque muitas psicopatolo-
gias são mais comuns em mulheres que em homens (por
exemplo: as síndromes depressivas), enquanto outras são mais
comuns em homens (as síndromes ansiosas).
• Traumas e ferimentos. São comuns os relatos de alterações
mentais e de personalidade decorrentes de traumas cerebrais,
concussões, perfurações encefálicas causadas por tiros, estilha-
ços e objetos penetrantes.

126 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

• A idade avançada pode produzir as tristemente famosas psico-


ses senis.
Em quaisquer dos casos acima citados podem ocorrer interrup-
ções funcionais em áreas específicas do cérebro, alterações nas comu-
nicações neurais, falhas sinápticas, falhas de processamento neural, al-
terações de níveis proteicos etc., por exemplo:
• A esquizofrenia muitas vezes é decorrente de alterações na
comunicação neural e no processamento incorreto das infor-
mações em diversos pontos específicos do cérebro, sendo que
essas alterações vão ocorrendo ao longo do desenvolvimento
das células e tecidos do sistema nervoso, principalmente na
adolescência e no início da velhice.
• A depressão não é decorrente de alterações anatômicas, mas,
sim, devido às variações de respostas dos circuitos neurais, po-
rém essas variações podem ser associadas à localização ou a
níveis proteicos em pontos específicos da região límbica, córtex
frontal etc.
• A dependência a drogas psicoativas é decorrente da atividade
sináptica mal adaptativa ao uso prolongado das drogas.

Nem sempre as causas biológicas de uma psicopatologia po-


dem ser devidamente sanadas, mas em geral este é um dos primeiros
pontos a ser considerado diante de uma psicopatologia. Nesse aspecto
é muito importante a figura do psiquiatra e/ou neurologista, pois cabe
a eles a administração de drogas para a correção ou controle dos pro-
blemas de natureza orgânica.

2- Fatores psicológicos

Vários fatores psicológicos podem dar origem a transtornos


mentais e de comportamento, ou pelo menos servem de desencadea-
dores ou agravantes. Entre os fatores psicológicos estão:

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 127


Análise do comportamento disfuncional

a) O relacionamento com os pais e cuidadores na infância


O cuidado, atenção, estimulação e emoções saudáveis recebi-
das dos seus cuidadores (mãe, pai, babá, avós, irmãos etc.) fazem com
que a criança crie vínculos saudáveis, desenvolva emoções estáveis,
linguagem e capacidade cognitiva. Tais efeitos positivos interferirão de
maneira saudável não somente na vida pessoal, como também nos re-
lacionamentos que ela vier a estabelecer ao longo de sua vida.
Por outro lado, a falta ou perda dos pais, o cuidado disfuncio-
nal (descuidado), o ambiente aversivo etc. podem causar instabilidade
emocional, doenças graves, comportamentos de confronto, déficit in-
telectual etc. A criança privada de cuidado e afeto adequados tem
mais probabilidade de desenvolver transtornos mentais e comporta-
mentais não só durante a infância, mas até mesmo em fases bem
avançadas de sua vida, como na velhice.

b) Padrões familiares inadequados e patológicos


São padrões que a criança acaba por internalizar e imitar, tais
como: pais que vivem em brigas constantes; pais alcoólatras, drogados
ou sem padrões morais adequados; pais que submetem a criança a
torturas físicas e emocionais; pais dominadores, superprotetores, au-
sentes ou que não sabem impor limites; educação altamente repres-
sora etc.
O tipo de criação recebida e experiências passadas (principal-
mente na infância e adolescência) determinam o padrão de compor-
tamento dessa pessoa, não só na infância, mas também na vida adul-
ta.

c) Os estímulos ambientais podem produzir comportamentos


desejáveis e indesejáveis
Todas as pessoas, em especial as crianças, têm mais tendência
a adquirir e praticar comportamentos que são recompensados, e me-
nos tendência de adquirir e praticar comportamentos que são ignora-
dos ou punidos (conceitos de Reforço e Punição, ver cap. 15). Para a
psicologia comportamentalista, os transtornos mentais e de compor-

128 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

tamento são pensamentos e comportamentos mal adaptativos apren-


didos.
Muitos casos de ansiedade, depressão, fobias, pânico, histeria
e, até mesmo, esquizofrenia são adquiridos não por herança genética,
mas, sim, por aprendizagem, isto é, pelo fato de se conviver com por-
tadores de tais patologias, a pessoa pode se comportar de maneira
idêntica a ponto de se identificar como portadora da mesma patolo-
gia. Muitas vezes isso se deve a um caso de modelagem, mas outras
vezes pode ser interpretado como uma forma de adaptação ao ambi-
ente onde a pessoa vive, ou até mesmo devido a uma relação transfe-
rencial.11

d) Dificuldade de adaptação a uma ocorrência estressante ou


a um ambiente estressante
Alguns tipos de transtornos, em especial a ansiedade e a de-
pressão, podem ocorrer em consequência da dificuldade ou incapaci-
dade da pessoa de se adaptar a fatores estressantes intensos ou pro-
longados (mesmo que não sejam tão intensos).
Inegavelmente os estímulos ambientais são altamente deter-
minantes dos comportamentos, tanto os funcionais como os disfunci-
onais, mas atribuir somente ao ambiente a origem de tais comporta-
mentos e transtornos, como faz a psicologia comportamentalista, é al-
go muito parcial, pois vários outros fatores devem interagir com o am-
biente.

11
Transferência, reação transferencial, processo transferencial ou fenô-
meno transferencial é o direcionamento de um sentimento que o analisado
(pessoa subordinada) tem por uma pessoa real, que “foi”, ou “é”, significati-
va em sua vida, e exerce ou exerceu alguma forma de autoridade sobre a
pessoa subordinada, sendo que esse sentimento é agora deslocado (direcio-
nado) para outra pessoa, que neste caso é o analista ou outra pessoa de au-
toridade. O analisado projeta no analista uma figura idealizada que corres-
ponde às suas expectativas emocionais tanto positivas, como negativas.
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 129
Análise do comportamento disfuncional

e) Outros fatores psicológicos predisponentes às psicopatolo-


gias
• Prática de maus hábitos e vícios, normalmente associados a
alguma forma de prazer, por exemplo: o uso de drogas é um
modo de a pessoa fugir de seus problemas pessoais e ambien-
tais, e lhe dá uma sensação de prazer, mas a longo ou a curto
prazo, a pessoa pode ser incapacitada a viver sem o uso das
drogas (dependência).
• Situação traumática incontrolável, como: acidentes, catástro-
fes, sequestros, atentados etc.
• Situação de estresse prolongado, como: caso de guerra, ambi-
ente social de alta violência e criminalidade, sofrimento físico
ou psicológico persistente, pressão exagerada no local de servi-
ço etc.
• Percepção e memórias ligadas ao humor, em especial a senti-
mentos dolorosos.
A maioria das causas das doenças mentais é de origem psicoló-
gica, portanto cabe ao terapeuta (psiquiatra, psicólogo, conselheiro
etc.) ajudar a pessoa a reavaliar suas condições cognitivas e emocio-
nais, e conduzi-la ao processo de ressignificação de suas experiências
passadas.

3- Fatores socioculturais

Os padrões sociais e culturais podem servir de fatores causais,


desencadeadores ou agravantes de transtornos mentais e comporta-
mentais, mas isso não vale como regra incontestável, pois pessoas di-
ferentes estão sujeitas aos mesmos fatores e nem por isso desenvol-
verão as mesmas patologias, ou talvez não desenvolvam patologia al-
guma. Portanto tais padrões nem sempre são causais. Também se de-
ve levar em consideração a capacidade de resiliência de cada indivíduo
(cap. 30, item 2), o que fará com que cada um reaja de maneira dife-
rente ante aos mesmos fatores estressores.
Entre os fatores socioculturais podem ser destacados:
130 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

a) Urbanização descontrolada
As pessoas deixam os campos e migram para as cidades em
busca de melhores condições de vida, mas a urbanização descontrola-
da dificulta a assimilação dos novos moradores por falta ou reduzido
apoio social. Tais pessoas:
• Acabam perdendo seus vínculos familiares originais e nem
sempre criam novos vínculos na cidade aonde chegam;
• Enfrentam o problema da distância entre a moradia e o local
de trabalho, congestionamento de tráfego, poluição do meio
ambiente etc.;
• Não encontram as condições favoráveis de vida e acabam se
envolvendo com a pobreza, criminalidade e violência, prostitui-
ção, uso de bebidas e drogas etc.; e
• Encontram um ambiente econômico fortemente baseado no
dinheiro e no “ter”, e não no “ser”, onde a tendência é a des-
personalização e a perda ou abrandamento de determinados
valores morais.

Tais condições de vida levam as pessoas ao estresse crônico


(prolongado), depressão e ansiedade. Muitas chegam ao suicídio pela
falta de visão ou de objetivos na vida.

b) A pobreza material e existencial


Pobreza não é apenas a falta de dinheiro para suprir as neces-
sidades materiais, mas também a falta de apoio social, a falta de re-
cursos educacionais e, principalmente a inexistência de uma perspec-
tiva de melhora. Embora os transtornos mentais e comportamentais
possam estar presentes em todas as camadas sociais, econômicas e
educacionais, é no ambiente de pobreza existencial onde tais trans-
tornos são mais frequentes, originados pela falta de condições dignas
de vida e agravados pela falta de recursos financeiros e educacionais
para tratar os portadores de tais patologias.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 131


Análise do comportamento disfuncional

c) O racismo e o preconceito social


O preconceito racial e étnico está diretamente relacionado com
a origem, agravamento e perpetuação de transtornos mentais e com-
portamentais. A sociologia e a psiquiatria concordam que nas socieda-
des onde o racismo é dominante, os casos de depressão e ansiedade
são maiores que em sociedades onde isso não é relevante.

d) A discriminação da mulher
De modo geral as mulheres apresentam mais casos de trans-
tornos mentais e comportamentais que os homens. Obviamente que o
fator genético e orgânico deve ser considerado, mas a mulher enfren-
ta algumas situações agravantes que as predispõem mais a tais trans-
tornos:
• Sobre as mulheres recai a maior parte das atividades familia-
res, pois elas são esposas, mães, cuidadoras da casa, educado-
ras dos filhos etc., e esse tipo de trabalho não tem pagamento,
não tem férias e nem perspectiva de abrandamento no futuro.
• As mulheres estão trabalhando fora e constituem metade da
mão de obra no mercado de trabalho, mas (a) ganham menos
que os homens, (b) quando chegam em casa ainda têm toda a
sobrecarga de trabalho doméstico a realizar, e (c) muitas são as
únicas sustentadoras da família.
• A violência contra as mulheres, tanto no sentido físico, sexual,
moral etc., e isso ocorre nos mais diversos ambientes sociais e
econômicos.

Talvez esses fatores possam explicar porque as mulheres apre-


sentam mais transtornos mentais e comportamentais que os homens
e porque são elas as maiores usuárias das drogas viciantes receitadas
legalmente por psiquiatras.
Ao se definir alguma anormalidade tomando-se por base as
normas sociais e a capacidade de adaptação do indivíduo, comete-se o
erro de “juízo de valores”, isto é, parte-se do princípio de que as nor-
mas estabelecidas pela sociedade são corretas e quem não se adapta a
elas é anormal, porém qualquer estudo sociológico, mesmo que su-
132 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

perficial, mostra que as normas sociais são variáveis de uma sociedade


para outra, e dentro de uma mesma sociedade variam ao longo do
tempo. Por exemplo: até 1973 o homossexualismo era considerado
uma doença, hoje não é mais; até pouco tempo atrás, o fumo era algo
socialmente “chique”, hoje é um vício intolerável e, até mesmo, uma
doença a ser tratada.

4- Fatores espirituais

Fatores espirituais não significam necessariamente algo ligado


ao mundo espiritual, pois geralmente indicam valores transcendentais,
isto é, valores que extrapolam ao mundo físico e ao ambiente socio-
cultural, no entanto, quase sempre a religião e as práticas a ela relaci-
onadas são vistas como formas de manifestação sociocultural, e não
como manifestações espirituais verdadeiras.

a) A religião como fator cultural predisponente aos transtor-


nos psíquicos
De modo geral as práticas religiosas e a fé são positivas, pois in-
terferem na formação da personalidade das pessoas, nos seus hábitos
de vida e, principalmente, porque lhes dão um sentido, objetivo e
perspectiva de vida, no presente e no futuro. Mas, é fato que nem
sempre a religião é benéfica para as pessoas que a praticam e pode
conduzi-las a gravíssimos transtornos mentais e comportamentais.
O sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974), que migrou pa-
ra o Brasil em 1938, dedicou-se ao estudo das religiões brasileiras, em
especial aos cultos afro-brasileiros e das igrejas pentecostais. Seu foco
estava em analisar como as práticas religiosas podem afetar positiva-
mente ou negativamente o estado de saúde mental de seus pratican-
tes:

Bastide (1967) deu particular atenção à influência das seitas


religiosas sobre os transtornos mentais. Para ele, há seitas
que desempenham papel positivo de proteção em relação
aos transtornos mentais, outras, entretanto, intensificam
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 133
Análise do comportamento disfuncional

[...] os conflitos psíquicos entre o desejo de perfeição abso-


luta e os instintos, mais particularmente o instinto sexual.
Aqui, possivelmente Bastide se referiu a pequenas igrejas
evangélicas, pentecostais, com seu pietismo e moralismo
estrito. Ao analisar outro grupo de pequenas seitas, que ele
denominou “seitas urbanas e esotéricas” [...] ele disse que
tais seitas chamam para seu seio: “[...] todos os ansiosos e
deprimidos, os grandes vencidos da sociedade industrial;
elas (tais seitas) constituem verdadeiros caldos de cultura
dos transtornos psiquiátricos, os quais elas exaltam, en-
quanto as igrejas os controlavam e reprimiam” [...] Interes-
sante em Bastide é a forma como ele salientou a variabili-
dade dos tipos de vida religiosa e a multiplicidade de efeitos
sobre a saúde e os transtornos mentais. Para ele, havia tipos
de vidas e experiências religiosas que nos aproximam dos
distúrbios mentais enquanto outros nos afastam dele; [...]
há uma vida religiosa que é regressiva e patológica, existe
outra que é progressiva e formadora de personalidades sa-
dias [...] Bastide defendeu que o espírito comunitário, a dis-
ciplina das igrejas e o controle da vida afetiva do homem
podem prover, via religião, uma vida mais sadia às popula-
ções. (DALGALARRONDO, 2007)

Paulo Dalgalarrondo, psiquiatra e professor de psicopatologia


da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, é autor de diver-
sos artigos científicos e livros, entre os quais vale citar “Religião, psi-
copatologia e saúde mental” (2008), no qual aborda a natureza espiri-
tualista dos transtornos mentais e o modo como a religiosidade inter-
fere na formação da personalidade das pessoas, tanto de maneira
saudável, como também de maneira não saudável.
Para Dalgalarrondo as manifestações carismáticas e espiritua-
listas em determinadas igrejas, especialmente as pentecostais, devem
ser encaradas como características culturais desses grupos e não como
algo patológico, a não ser em casos de exageros e fanatismos. Tais
manifestações são positivas, pois dão coesão ao grupo e ainda servem

134 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

como forma de levar as pessoas a uma identificação simbiótica que


lhes permite crescer dentro de padrões sadios e, até mesmo, exercem
poder curador físico, mental e espiritual sobre os enfermos. No entan-
to, muitas pretensas manifestações espirituais chegam próximas de
histeria coletiva, e outras são, na realidade, manifestações de alguma
forma de psicose, em especial a esquizofrenia. Muitos pacientes psi-
quiátricos estão assim, em parte, devido à religiosidade que praticam;
outros só obtêm “cura” através de alguma linha religiosa que venham
a assumir.
O Prof. Francisco Lotufo Neto (1997), da USP, lista os principais
argumentos apresentados por aqueles que afirmam que a religião é
prejudicial para a saúde das pessoas:
• Gera níveis patológicos de culpa.
• Cria ansiedade e medo através de crenças punitivas (por exem-
plo: inferno, pecado original etc.).
• Promove o autodenegrir-se e diminui a autoestima, através de
crenças que desvalorizam “nossa natureza fundamental”.
• Impede a autodeterminação e a sensação de controle interno,
sendo um obstáculo para o crescimento pessoal e o funciona-
mento autônomo.
• Inibe a expressão de sensações sexuais e abre o caminho para
o desajuste sexual.
• Estabelece a base para a repressão da raiva.
• Favorece a dependência, o conformismo e a sugestionabilida-
de, com o desenvolvimento da confiança em forças exteriores.
• Cria a paranoia com a ideia de que forças malévolas ameaçam
nossa integridade moral.
• Encoraja a visão de que o mundo é dividido entre “santos” e
“pecadores”, o que aumenta a intolerância e a hostilidade em
relação “aos de fora”.
• Interfere no pensamento racional e crítico.

Dois exemplos típicos de psicopatologias que podem se mani-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 135


Análise do comportamento disfuncional

festar em ambiente religioso são a histeria coletiva e o surto psicótico.

1) Histeria coletiva. A histeria é um transtorno neurológico


funcional caracterizado pela alta instabilidade ou falta de controle
emocional, no qual vários conflitos interiores da pessoa podem se ma-
nifestar exteriormente, através de pânico, fobias, depressão, ansieda-
de e vários outros tipos de sintomas psíquicos, comportamentais e or-
gânicos. Uma das características mais marcantes da histeria é seu alto
poder de sugestão (contágio emocional) levando outras pessoas
(emocionalmente sensíveis) a manifestar os mesmos sintomas já pre-
sentes em alguém com surto histérico.
Uma análise psicológica das pessoas histéricas mostra que em
sua maioria são portadoras de personalidade histriônica, isto é, são
exageradas (alta teatralidade), altamente sugestionáveis, carentes de
atenção etc.
Durante milênios, a histeria, em especial a histeria coletiva, foi
considerada uma forma de manifestação maligna, e muitas pessoas
histéricas, em sua maioria mulheres, acabaram condenadas à fogueira,
prisão, ostracismo sob a alegação de que eram bruxas ou estavam
possessas por demônios. Em outras culturas, as histéricas eram hon-
radas e elevadas à condição de porta-vozes (profetas) de seus deuses.
Não é difícil identificar manifestações histéricas coletivas em
meio aos chamados cultos altamente espirituais. Um exemplo bíblico
disso é encontrado em Saul e seus mensageiros, que quando em meio
aos profetas, também profetizavam (1Sm 19.20-24).

2) Alterações psicóticas. Psicoses são alterações psíquicas de


origem funcional e/ou orgânica, onde a pessoa perde a noção de rea-
lidade e passa a apresentar profundas alterações sensoriais e percep-
tivas. Dentre as psicoses está a esquizofrenia paranoide, o mais co-
nhecido dos transtornos psicóticos. Na Bíblia, o rei Saul é o exemplo
típico de uma pessoa psicótica e paranoide.
Nos momentos de surto, as pessoas psicóticas passam por pro-
fundo estado alterado de consciência onde são comuns alucinações,
delírios, transes religiosos e despersonalização (sensação de posses-

136 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

são, tanto boa como ruim).


Já nos tempos bíblicos era comum os profetas serem chamados
de loucos (2Rs 9.11; Ez 13.3). Muitas pessoas que se apresentam como
profetas, na realidade estão em surto psicótico com alucinações, delí-
rios, transe e despersonalização. Elas não apenas falam o que veem e
ouvem, como também passam por transformações drásticas de per-
sonalidade. São comuns nas igrejas as pessoas reconhecidas como
profetas, mas que são usuárias de antidepressivos, estabilizadores de
humor, antipsicóticos e vários outros medicamentos psicoativos.
Quando fazem uso regular desses medicamentos, elas dificilmente
manifestam seus dotes espirituais; mas quando negligenciam na medi-
cação, passam a manifestar uma espiritualidade exagerada. Isso de
maneira alguma significa que não haja manifestações espirituais legí-
timas.

b) Manifestações espirituais malignas


Muitos casos de possessão demoníaca observados nas igrejas
atualmente, e ao longo de toda história, na realidade são manifesta-
ções de surtos psicóticos, e não possessões verdadeiras. É até possível
que muitos exemplos de possessões mencionados na Bíblia tenham
sido casos de psicoses, mas o fato é que Jesus considerava as entida-
des espirituais como seres reais. Paulo não apenas endossava essa
ideia, como até fez uma classificação dos seres espirituais (Ef 6.12).
Para a psiquiatria e psicopatologia não existem seres demonía-
cos, e os casos de possessão são apenas surtos psicóticos de desper-
sonalização e/ou múltipla personalidade. Mas existem situações em
que a aceitação dessa ideia não faz sentido para os próprios profissio-
nais da área e não podem ser explicadas pela psiquiatria ou psicopato-
logia:

Apesar de que a maioria dos psicólogos tenha eliminado a


realidade da possessão demoníaca por parte de entidades
espirituais separadas, muitos deles têm chegado a reconhe-
cer a realidade dessas possessões, mediante sua própria ex-
periência diária. Nos casos de múltipla personalidade, a

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 137


Análise do comportamento disfuncional

maior parte dos mesmos pode ser explicada mediante a su-


posição de que houve a fragmentação da personalidade.
Ocasionalmente, porém, a suposta fragmentação é mais
que isso: trata-se de alguma entidade separada verdadeira,
com um campo de memória separado, e, com frequência,
dotado do conhecimento do que se acha no depósito cere-
bral da pessoa possuída. A primeira tarefa de um curador
consiste em distinguir essa identidade, fazendo-a identificar-
se, a fim de que deixe de ocultar-se sob a máscara da frag-
mentação da personalidade (CHAMPLIN, 2002, vol. 2, p. 52).

Uma forma (não muito segura) de diferenciar um surto psicóti-


co de uma possessão é que a pessoa psicótica, apesar de seu compor-
tamento exagerado, normalmente demonstra temor a Deus e busca
“libertação” mesmo quando crê que esteja possessa; enquanto a pes-
soa realmente possessa normalmente apresenta um comportamento
blasfemador, imoral e de afronta a Deus. Outro ponto, e o mais impor-
tante a considerar, é que a pessoa possessa jamais admite a encarna-
ção de Cristo (1Jo 4.2).
É comum, quando uma pessoa passa por uma situação de pos-
sessão, que ela venha a apresentar enfermidades diversas, mas é bom
lembrar que nem todo caso de possessão gera enfermidade orgânica,
e nem toda enfermidade orgânica é de origem demoníaca. Jesus já fa-
zia essa distinção (Mt 8.16), ao mencionar os termos doenças (com
causas não orgânicas) e enfermidades (com causas orgânicas).
Outra característica marcante de uma pessoa possessa é que
ela pode apresentar dons de elocução, como se vê em Mc 1.21-25.
Outro exemplo disso está em At 16.16-18 – quando Paulo chega a Fili-
pos, ali havia uma moça possessa a qual anunciava Paulo e Silas como
servos do Deus Altíssimo, e ainda acrescenta que eles anunciavam o
caminho da salvação. Uma vez que Paulo expulsa o demônio, termina
a elocução da moça. Esses exemplos mostram ser possível que muitas
pessoas que se apresentam na igreja como cheias do “espírito” po-
dem, na realidade, estar cheias de outros tipos de espíritos. Por isso é
tão importante que o dom de discernimento de espíritos (1Co 12.10;

138 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

1Jo 4.1) também se faça presente nessas reuniões aparentemente tão


espirituais.

2.3. Classificação dos transtornos mentais

Tanto a CID-10 como o DSM-IV TR classificam as psicopatologi-


as tomando por base os sintomas das doenças (a sintomatologia).
Os dois manuais são ateóricos, isto é, não são vinculados a ne-
nhuma escola psiquiátrica ou psicológica específica, o que permite que
os sistemas de classificação adotados por ambos sejam utilizados por
profissionais da saúde de todas as áreas, independente da escola a
qual pertençam. Por ser mais didático, o sistema adotado pela CID-10
é exposto resumidamente na Tab. 6.2.3.

Tab. 6.2.3. Principais transtornos mentais e de comportamento


segundo o CID-10

Grupos dos trans- Tipos de transtor-


Transtornos específicos
tornos nos
1. Transtornos Demências Demências produzidas pelas do-
mentais de ori- enças de Alzheimer, vascular,
gem orgânica, in- Pick, Creutzfeldt-Jakob, Hunting-
clusive os sinto- ton, Parkinson e causadas pelo
máticos HIV.
Síndrome anestésica (não alcoólica ou por drogas psi-
coativas)
Delirium (não alcoólico ou por drogas psicoativas)
Transtornos men- Alucinose, catatonia, delírio,
tais causados por transtorno de humor, transtorno
lesão e disfunção de ansiedade, transtorno dissoci-
cerebral ativo, astenia e transtorno cogni-
tivo.
Transtornos de Transtorno de personalidade, sín-
personalidade e drome pós-encefálica, síndrome

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 139


Análise do comportamento disfuncional

comportamento pós-concussional.
causados por do-
ença, lesão e dis-
função cerebral
2. Transtornos Transtornos causados pelo uso de álcool, opioides, ca-
mentais e com- nabinoides, sedativos e hipnóticos, cocaína, estimulan-
portamentais de- tes e cafeína, alucinógenos, tabaco, solventes e outras
vido ao uso de drogas voláteis, medicamentos psicoativos.
substâncias psi-
coativas
3. Esquizofrenia, Transtornos psicó- Com ou sem sintomas esquizofrê-
transtornos es- ticos agudos e nicos
quizotípicos e transitórios
transtornos deli- Esquizofrenia Esquizofrenia paranoide, hebe-
rantes frênica, catatônica, depressiva,
residual e simples.
Transtorno esquizotípico (ver transtorno de personali-
dade no cap. seguinte)
Transtornos delirantes persistentes
Transtornos esqui- Maníaco, depressivo e misto.
zoafetivos
4. Transtornos do Transtornos de- Episódios depressivos, depressão
humor ou trans- pressivos recorrente etc.
tornos afetivos Transtornos per- Ciclotimia, distimia etc.
sistentes de humor
Transtorno afetivo Hipomaníaco, maníaco, depressi-
bipolar (TAB) vo e misto.
Transtorno episó- Hipomania, mania não psicótica e
dico maníaco mania psicótica.
5. Transtornos Reação a estresse grave e transtornos de ajustamento
neuróticos, trans- Transtornos ansio- Pânico, ansiedade, e misto de an-
tornos relaciona- sos siedade e depressão.
dos com o estres- Transtornos fóbi- Agorafobia, sociofobia e fobias
se e transtornos co-ansiosos específicas.
somatoformes
Transtornos disso- Motor (movimento), estupor,
ciativos ou trans- convulsão, anestesia, amnésia,

140 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

tornos conversivos fuga, transe e possessão, perso-


nalidade múltipla.
Transtorno obses- Pensamentos obsessivos, atos
sivo-compulsivo compulsivos e mistos.
(TOC)
Transtornos soma- Somatização, hipocondria e dolo-
toformes roso.
Outros transtornos Neurastenia e despersonalização-
neuróticos desrealização
6. Síndromes Transtornos ali- Anorexia, bulimia, hiperfagia e
comportamentais mentares vômitos associados.
associadas a dis- Transtornos não Insônia, hipersonia, sonambulis-
túrbios fisiológi- orgânicos do sono mo, terrores noturnos e pesade-
cos e a fatores fí- los.
sicos Disfunção sexual Falta ou perda do desejo, aversão
sem causa orgânica sexual, disfunção orgâsmica, eja-
culação precoce, vaginismo, dis-
pauremia, impulso sexual excessi-
vo etc.
Transtorno mental puerperal
Uso de substâncias Antidepressivos, laxantes, analgé-
que não causam sicos, antiácidos, vitaminas, este-
dependência roides e hormônios, ervas folcló-
ricas.
7. Transtorno de Transtornos de Jogo patológico, piromania, clep-
personalidade e hábitos e impulsos tomania, tricotilomania etc.
do comporta- Transtornos de Transexualismo, transvestismo
mento do adulto identidade sexual etc.
Transtornos de Fetichismo, exibicionismo, voyeu-
preferência sexu- rismo, pedofilia, sadomasoquismo
ais etc.
Transtornos asso- Transtorno de maturação sexual,
ciados ao desen- egodistônico, transtorno de rela-
volvimento e ori- cionamento sexual, homossexua-
entação sexuais lidade, bissexualidade etc.
Transtornos espe- Paranoide, esquizoide, antissocial,

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 141


Análise do comportamento disfuncional

cíficos de persona- impulsivo, borderline, histriônica,


lidade anancástica, ansiosa, dependente
etc. (ver transtorno de personali-
dade no cap. seguinte).
8. Retardo men- Leve, moderado, grave e profundo.
tal
9. Transtornos do Transtornos do desenvolvimento da fala e linguagem
desenvolvimento Transtornos do desenvolvimento das habilidades esco-
psicológico lares
Transtornos do desenvolvimento da função motora
Transtornos invasi- Autismo, síndrome de Rett, sín-
vos do desenvol- drome de Aspeger etc.
vimento
10. Transtornos Transtornos hipercinéticos
do comporta- Transtornos de Conduta disfuncional, desafiado-
mento e trans- conduta ra etc.
tornos emocio- Transtornos emo- Depressão infantil, ansiedade de
nais que apare- cionais com início separação, fóbico, rivalidade en-
cem habitual- na infância tre irmãos etc.
mente na infân-
Transtornos de Mutismo, reativo de vinculação,
cia e adolescência
funcionamento so- vinculação com desinibição etc.
cial
Transtornos de ti- Tique motor, tique vocal etc.
que
Transtornos emo- Enurese, encoprese, transtorno
cionais e de com- de alimentação, pica, movimento
portamento estereotipado, gagueira (tarta-
mudez), fala desordenada (taqui-
femia) etc.

Principais transtornos mentais e comportamentais


Como o foco desse trabalho é o ambiente religioso, apenas al-
guns dos transtornos listados acima merecerão uma consideração
maior, primeiramente, porque são muito comuns no ambiente ecle-
siástico, e, em segundo lugar, porque muitas vezes são equivocada-
mente confundidos com manifestações demoníacas:
142 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

• Transtornos neuróticos: reação ao estresse, ansiedade, fobias,


transtornos dissociativos (histerias), TOC, alterações somato-
formes, neurastenia e despersonalização (todos no item 5 da
tabela anterior).
• Transtornos de humor: depressão (e outros transtornos asso-
ciados) e TAB (item 4).
• Transtornos psicóticos: transtornos psicóticos agudos e transi-
tórios, esquizofrenia e outros transtornos relacionados (item
3).
• Transtornos de personalidade e do comportamento de adulto:
hábitos e impulsos; de identidade, preferência e orientação se-
xual; e transtornos de personalidade (item 7).
• Transtornos causados pelo uso de drogas psicoativas (item 2).

2.4. Transtornos neuróticos ou psiconeuróticos

A palavra neurose vem do gr.: neûron = nervo + osis = ação. Em


princípio, as neuroses também chamadas de reações neuróticas ou
psiconeuroses são os comportamentos normais de qualquer indivíduo
sadio, porém algumas pessoas podem ser “exageradamente normais”
e apresentar alterações funcionais sérias, quanto à intensidade ou
quanto ao tempo, a ponto de produzirem sofrimento e prejuízo na sua
maneira de viver. Isso caracteriza um transtorno neurótico.
Os transtornos neuróticos são os distúrbios emocionais e com-
portamentais mais comuns. Todas as pessoas, mesmo as que aparen-
tam ser completamente sadias, apresentam alguma forma de neurose
em maior ou menor grau de gravidade e podem apresentar um ou
mais surtos ao longo da vida, sem que isso signifique que a pessoa so-
fra de algum transtorno neurótico. Só a ansiedade atinge cerca de 33%
da população mundial, as fobias atingem 1%. “Já se calculou que cerca
de metade das pessoas que recorrem a médicos queixando-se de males
físicos sofrem, comprovadamente, de neuroses...” (BUTCHER, 1971, p.
39).

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 143


Análise do comportamento disfuncional

As neuroses se caracterizam por:


1) A pessoa mantém a integridade de seu self, isto é, de modo
geral as neuroses não causam desorganização da personalidade (a
pessoa continua tendo consciência de tempo, de espaço e de si mes-
ma) e nem a levam a perder sua capacidade de juízo crítico e de adap-
tação à realidade, mas o neurótico apresenta atitudes e comporta-
mentos deformados e exagerados em relação a si mesmo, em relação
às outras pessoas, e em relação ao ambiente onde vive. O neurótico
não nega a realidade, mas a “ignora”, como se assim a pessoa estives-
se “se protegendo”.
2) A pessoa apresenta alterações emocionais. Todas as diver-
sas formas de neuroses se caracterizam pelo medo, ansiedade, de-
pressão e complexo de inferioridade.
• O medo (pode ser a causa ou consequência da própria ansie-
dade) faz com que a pessoa se sinta hostilizada e procure se
defender de suas ansiedades e medos, lançando mão de diver-
sos mecanismos de defesa, e são justamente essas defesas que
levam a pessoa a um comportamento alterado.
• A ansiedade (ou angústia) é a característica mais comum das
neuroses e pode levar a pessoa a crises agudas com diversas
manifestações emocionais e psicossomáticas. Na ansiedade a
pessoa sofre por antecipação, isto é, até diante da possibilida-
de de uma ameaça, mesmo que tal ameaça jamais venha a se
concretizar.
• Sentimentos depressivos. A pessoa assume uma atitude pes-
simista em tudo quanto venha a fazer, falar, pensar, desejar,
envolver-se etc. A pessoa vive em função das experiências pas-
sadas. Enquanto a ansiedade faz a pessoa sofrer por antecipa-
ção, a depressão faz a pessoa sofrer por se manter no passado
sombrio.
• O complexo de inferioridade (resultante do medo, ansiedade e
depressão) impede a pessoa de estabelecer relações interpes-
soais satisfatórias. Conviver com um neurótico é um desafio
tão grande que leva qualquer pessoa a também apresentar um

144 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

comportamento neurótico.
• Outras alterações, nem sempre presentes: ideias com tendên-
cia obsessivas, teatralidade, fraqueza física e mental generali-
zada, alterações sensoriais etc.
3) Em geral as neuroses apresentam efeitos psicossomáticos
diversos, tais como: palpitações cardíacas, taquicardia ou bradicardia,
alteração na pressão arterial, dificuldades respiratórias, transpiração
excessiva, tremores etc. Tais manifestações psicossomáticas das neu-
roses diferem das reações psicofisiológicas pelo fato de que não che-
gam a constituir doenças específicas, permanecendo na condição de
sintomas de neuroses.
4) Ocasião da ocorrência. Com exceção das reações fóbicas
que podem se manifestar desde a mais tenra idade (neurose infantil),
todas as demais neuroses normalmente só se manifestam após a pu-
berdade, embora certos indícios do comportamento infantil possam
prever uma futura neurose. Toda neurose tem sua origem no relacio-
namento da criança com sua mãe ou outras pessoas significativas
ainda na primeira ou segunda infância.
5) A pessoa neurótica raramente necessita de internação hos-
pitalar, desde que use normalmente os medicamentos prescritos e,
apesar de suas limitações emocionais e dificuldades de relacionamen-
tos, consegue conviver em família e em sociedade, e continua a traba-
lhar normalmente e a exercer suas atividades profissionais.
6) O colapso neurótico (ataque) é uma crise emocional grave e
incapacitante que exige maiores cuidados assistenciais. Ocorre quando
a pessoa se vê incapaz de lidar com os problemas do dia a dia; em
momentos de profunda fadiga física, emocional e intelectual; sendo
antecedido por situações ambientais que se assemelham aos temores
dos anos de infância.

O colapso neurótico, que resulta da incapacidade de um in-


divíduo para enfrentar a tensão da vida, acarreta o desen-
volvimento de sintomas agudos e incapacitadores. O colap-
so neurótico, se bem que, por vezes, se manifeste súbita e

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 145


Análise do comportamento disfuncional

inexplicavelmente, só ocorre numa personalidade já neuró-


tica; é produto de um longo processo de desenvolvimento
(BUTCHER, 1971, p. 41).

Em função de seus sintomas, as reações neuróticas são classifi-


cadas em: ansiedade, fobias e pânico; transtornos dissociativos ou his-
terias; transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e neurastenia. Entre as
reações neuróticas estão também incluídos: o estresse; os transtornos
alimentares (anorexia e bulemia); e os transtornos não orgânicos do
sono devido a fatores emocionais. Por falta de espaço, aqui só serão
abordados os transtornos neuróticos mais comuns.

1- Reação a estresse grave e transtornos de ajustamento


ou adaptação

O estresse (stress) é também chamado de reação situacional


ou traumática à tensão, ou ainda transtorno de ajustamento ou
adaptação às alterações ambientais. Pode ser desencadeado por uma
situação súbita (por exemplo: um assalto, acidente, perda de emprego
ou de alguém significativo etc.) ou por situações conflitantes contínuas
e seguidas, mesmo que não sejam tão intensas ou traumáticas (por
exemplo: conflitos em uma família disfuncional).
O termo estresse designa vários tipos de distúrbios resultantes
da resposta adaptativa que a pessoa apresenta a uma ameaça real do
ambiente onde vive. Se a ameaça abrandar ou deixar de existir, os sin-
tomas causados regridem, normalmente sem deixar outras sequelas.
Se a resposta adaptativa estiver muito além da capacidade da pessoa
em se moldar à ameaça ou saber administrá-la, ela pode evoluir para
uma depressão, ou um colapso neurótico (histeria, transtorno somato-
forme, ansiedade etc.) ou, até mesmo, uma psicose.
Os sintomas mais comuns do estresse são:
• Irritabilidade.
• Distúrbio do sono e do apetite.
• Dificuldade na concentração e diminuição da memória.
146 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

• Queda no rendimento pessoal, estudantil, profissional etc.


• Preocupação exagerada com relação a situações triviais.
• Sensação de impotência.
• Perda da libido e da importância sexual na vida da pessoa.

Na terceira idade, as situações estressantes podem levar a:


• Alterações cardiovasculares e/ou hipertensão arterial, com di-
versas consequências, às vezes graves, como o infarto do mio-
cárdio, doenças gástricas e intestinais.
• Distúrbios psicológicos variados, como depressão ou agitação.
• Pode agravar uma doença que estava equilibrada, como o dia-
betes, por exemplo.

2- Transtornos ansiosos

Toda neurose tem um forte componente de ansiedade e fobia,


sendo a fobia geralmente decorrente da própria ansiedade, mas nor-
malmente ambas são consequências de situações de estresse e de-
pressão. Por outro lado, a ansiedade e a fobia, se não devidamente
tratadas, podem evoluir para um transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC) ou para um surto psicótico.
Os principais transtornos ansiosos são a TAG, o pânico e os
transtornos mistos.

a) Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)


Em geral o TAG é desencadeado por: (1) aborrecimentos e so-
frimentos prolongados; (2) perdas significativas, como: perda de pes-
soa importante, preocupação excessiva com dinheiro, perda da saúde,
segurança etc.; ou (3) falta de adaptação a novas condições de vida
como, por exemplo, à aposentadoria para o idoso. Em alguns casos a
pessoa simplesmente não consegue identificar nenhum fator desen-
cadeador. Os principais sintomas da TAG são:
Alterações comportamentais
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 147
Análise do comportamento disfuncional

• Tendência a não se preocupar consigo mesmo, assim a pessoa


cai para o desleixo e à falta de preocupação com a aparência,
higiene pessoal etc.
• O comportamento é modificado em função das características
ligadas à personalidade, assim podem ocorrer manifestações
agressivas, depressão etc., e algumas vezes pode haver atitu-
des que se confundem com a demência.
Alterações cognitivas
• O pensamento fica difícil, pois: (1) apresenta preocupação fixa
com um determinado assunto, geralmente pouco significativo,
em detrimento de tudo em volta; (2) dificuldade de concentra-
ção; (3) perda acentuada da memória; e (4) sensação de vazio
na cabeça.
Alterações emocionais
• Impaciência.
• Em casos mais extremos pode haver nervosismo persistente e
injustificado.
• Medo frequente e injustificado de que a pessoa ou um de seus
parentes próximo irá ficar doente ou sofrer um acidente.
Alterações fisiológicas
• Insônia.
• Tensão muscular, podendo ocorrer dores musculares princi-
palmente nas costas e nuca.
• Frequentemente ocorrem tremores nas mãos.
• Palpitações.
• Sudorese.
• Tonturas.
• Desconforto epigástrico.

A ansiedade e suas manifestações são muito frequentes e po-


dem se confundir com inúmeras doenças, por exemplo: é comum a
pessoa confundir crise de ansiedade com a iminência de um ataque
148 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

cardíaco.

b) Transtorno de pânico ou ansiedade paroxística episódica


Caracteriza-se por ataques recorrentes de ansiedade grave
(ataques de pânico). Tais ataques podem ocorrer diante de uma situa-
ção ou circunstância específica, como também sem que haja qualquer
fator desencadeador, isto é, os ataques são totalmente imprevisíveis.
No caso do pânico se manifestar em função de uma crise depressiva,
deve-se considerar que o mal é a depressão, e o pânico é um dos seus
sintomas.
Além dos sintomas gerais de uma TAG, os principais sintomas
do pânico são:
• Ocorrência brutal de palpitação e dores torácicas.
• Sensação de asfixia.
• Tonturas.
• Sentimentos de irrealidade (despersonalização ou desrealiza-
ção).
• Medo de morrer, de perder o autocontrole ou de ficar louco.

c) Transtorno misto de ansiedade e depressão


A pessoa apresenta ao mesmo tempo sintomas ansiosos e sin-
tomas depressivos, sem predominância nítida de uns ou de outros, e
sem que a intensidade de uns ou de outros seja suficiente para justifi-
car um diagnóstico isolado.
Obs.: Ver neste mesmo capítulo o tópico sobre depressão para
identificar os principais sintomas depressivos.

3- Transtornos fóbico-ansiosos

São transtornos onde a ansiedade e o medo são desencadea-


dos por situações específicas, as quais na verdade não apresentam
nenhum perigo real. Tais situações são exageradamente evitadas ou
suportadas, quando possível, com grande temor. A simples evocação
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 149
Análise do comportamento disfuncional

de uma situação fóbica já é suficiente para desencadear uma fobia an-


siosa antecipatória.
Os sintomas mais comuns das fobias ansiosas são:
• Medo exagerado e incontrolável de morrer, de perda do auto-
controle ou de ficar louco.
• Palpitações.
• Impressão de desmaio.
• Comportamento de evitação e fuga.
• Insônia.
• Sudorese.
• Sensação de asfixia.
• Desconforto epigástrico.
Os transtornos fóbico-ansiosos mais frequentes são:

a) Sociofobia ou fobia social


Medo de ser exposto à observação das demais pessoas, pois
sente medo de ser criticado ou humilhado publicamente. Isso leva a
evitar situações sociais, mesmo as de caráter privado ou familiar. Os
sociofóbicos são pessoas de acentuada perda da autoestima.
Normalmente a sociofobia evolui de um mal já estabelecido,
como o estresse social ou ansiedade crônica, e, por outro lado, tende
a evoluir principalmente para o ataque de pânico e a agorafobia.
Os sintomas típicos da sociofobia são:
• Rubor.
• Temor das mãos.
• Náuseas.
• Desejo urgente de urinar.

A pessoa está convencida que tais manifestações constituem


seu problema primário, e até os culpa por sua evitação social, mas na
realidade tais manifestações fisiológicas são apenas sintomas de uma

150 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

situação psicológica mais complexa.

b) Agorafobia
É o medo de multidões e de locais com muitas pessoas, como
mercados, lojas e outros locais públicos. A pessoa sente medo de sair
de casa, medo de viajar sozinha em trem, ônibus, avião etc. A agora-
fobia normalmente se manifesta após um episódio de pânico, de fobia
social, depressivo ou obsessivo. Devido ao comportamento de evita-
ção constante é comum os agorafóbicos não apresentarem ansiedade
exagerada, mas quando a evitação não é possível, a ansiedade o leva
ao comportamento de fuga. Os sintomas típicos da agorafobia são ba-
sicamente os mesmos da sociofobia.

c) Fobias específicas
São fobias limitadas a situações específicas, como a determina-
dos locais, condições ambientais, meios de transportes (em especial
avião e navios), animais, ingestão de determinados alimentos, cuida-
dos odontológicos, ver sangue ou ferimentos etc., embora a situação
desencadeante seja algo completamente inofensivo. As fobias especí-
ficas podem evoluir rapidamente para o pânico, sociofobia e agorafo-
bia.
As fobias específicas são centenas, algumas mais comuns são:
• Acrofobia: medo de altura e lugares altos.
• Agorafobia ou oclofobia: de multidões.
• Aicmofobia: medo de agulhas e objetos pontiagudos.
• Algofobia: medo de sentir dor.
• Aracnofobia: medo de aranhas.
• Automatofobia: medo de ventríloquos, bonecas, estátuas de
cera, bonecos e animais eletrônicos.
• Barofobia: medo da gravidade, medo de cair.
• Belanofobia: medo de injeções.
• Bibliofobia: medo de livros.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 151


Análise do comportamento disfuncional

• Claustrofobia: medo de lugares fechados, como quartos e ele-


vadores.
• Criptofobia: medo de lugares e espaços pequenos.
• Dismorfobia: medo de que seu corpo é anormal, feio ou desa-
gradável.
• Emetofobia: medo de vomitar.
• Eridrofobia: medo de suor.
• Eritrofobia: medo de ficar ruborizada.
• Escofobia ou nictalofobia: medo da noite.
• Hematofobia: medo de sangue e ferimentos.
• Lissofobia ou manifobia: medo de ficar louco, medo de loucos.
• Loquiofobia: medo do parto.
• Lutrafobia: medo dos outros.
• Manifobia ou lissofobia: medo de ficar louco, medo de loucos.
• Microfobia: medo de micróbios e germes.
• Necrofobia: medo dos mortos e de cemitérios
• Nictalofobia ou escotofobia: medo da noite.
• Nosofobia: medo de contrair alguma doença grave.
• Oclofobia: medo de multidões. É o mesmo que agorafobia.
• Ombrofobia: medo da chuva, medo de tomar banho de chuva.
• Quenanfobia: medo de escuridão e lugares escuros.
• Sitiofobia: medo de comer.
• Tanatofobia: medo da morte e de morrer.
• Zoofobia: medo de animais, em especial cobras, ratos, aranhas
e insetos, cães e gatos.

Também são comuns as fobais relacionadas ao sexo, como:


• Agrafobia ou contreitofobia: medo de sofrer abuso sexual.
• Androfobia: medo de homem.
• Coitofobia ou sexofobia: medo do ato sexual.

152 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

• Colpofobia: medo de vagina (homem).


• Contreitofobia ou agrafobia: medo de sofrer abuso sexual.
• Disabiliofobia: medo de se despir.
• Erotofobia: medo de tudo relacionado ao sexo, medo até de
falar de sexo.
• Falofobia ou itifalofobia: medo do pênis.
• Genofobia: aversão sexual, medo do ato sexual e de se relacio-
nar com sexo oposto.
• Gimnofobia ou nudofobia: medo de nudez, de estar nu.
• Ginecofobia ou ginofobia: medo de mulher.
• Ginofobia ou ginecofobia: medo de mulher.
• Hedonofobia: medo de sentir prazer.
• Itifalofobia ou falofobia: medo do pênis.
• Medomaculofobia: medo de não manter a ereção (homem).
• Medortofobia: medo de pênis ereto.
• Ninfofobia: medo do sexo (mulher).
• Nudofobia ou gimnofobia: medo de nudez, de estar nu.
• Sexofobia ou coitofobia: medo do ato sexual.
• Venustrofobia: medo de mulher bonita.

4- Transtornos dissociativos ou conversivos (histeria)

Os transtornos dissociativos se caracterizam pela perda parcial


ou total das funções normais de integração das lembranças, da consci-
ência, da identidade e das sensações imediatas, e também do controle
dos movimentos corporais.
Os transtornos dissociativos estão associados a alguma forma
de estresse psicológico, e surgem e evoluem bruscamente, mas ten-
dem a desaparecer após algumas semanas ou meses após o aconteci-
mento traumático que os provocou. Nos casos de problemas ou difi-
culdades insolúveis, os transtornos podem evoluir para uma condição

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 153


Análise do comportamento disfuncional

crônica, com paralisias (perdas de movimentos) e anestesias (perdas


de sensações) parciais ou totais do corpo, embora os exames médicos
não encontrem nenhum transtorno físico que justifique tais efeitos.
Uma análise psicológica das pessoas histéricas mostra que em
sua maioria são portadoras de personalidade histriônica, isto é, são
exageradas (alta teatralidade), altamente sugestionáveis, carentes de
atenção etc.
Durante milênios, a histeria, em especial a histeria coletiva, foi
considerada uma forma de manifestação maligna, e muitas pessoas
histéricas, em sua maioria mulheres, acabaram condenadas à fogueira,
prisão, ostracismo sob a alegação de que eram bruxas ou estavam
possessas por demônios. Em outras culturas, as histéricas eram hon-
radas e elevadas à condição de porta-vozes (profetas) de seus deuses.
Os principais sintomas dos transtornos dissociativos são:
• Alta instabilidade ou falta de controle emocional, no qual vá-
rios conflitos interiores da pessoa podem se manifestar exteri-
ormente, através de pânico, fobias, depressão, ansiedade etc.
• Transtornos psicossomáticos, como: paralisias parciais ou to-
tais; anestesias parciais ou totais; cegueira, surdez, mudez,
vômitos, soluços etc.
• Comportamentos bizarros, como: comportamentos obsessivos
(repetitivos), tiques, contorcionismos, alterações de voz etc.
• Alto poder de sugestão (contágio emocional), isto é, pessoas
emocionalmente sensíveis manifestam os mesmos sintomas e
comportamentos presentes em outras pessoas. São comuns os
casos de histerias coletivas.

Dependendo dos sintomas apresentados, os transtornos disso-


ciativos podem ser classificados em:
a) Transtornos dissociativos do movimento. Ocorre a perda da
capacidade de mover uma parte ou a totalidade de um membro ou vá-
rios membros. Pode haver semelhança com quaisquer variedades de
ataxia (incapacidade de coordenação dos movimentos voluntários),
apraxia (incapacidade de realizar alguns movimentos específicos, sem

154 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

que haja realmente alguma forma de paralisia), acinesia (imobilidade


ou ausência total ou parcial de movimentos), afonia (perda da fala de-
vido à lesão nos órgãos fonadores), disartria (dificuldade de articula-
ção da fala por danos neurológicos nos centros fonadores), discinesia
(perturbação dos movimentos, que se tornam limitados ou insuficien-
tes), convulsões ou paralisia.
b) Estupor dissociativo. Ocorre a diminuição ou a ausência dos
movimentos voluntários e da reatividade normal a estímulos externos,
como luz, ruído, tato etc., mas os exames clínicos não identificam uma
causa física para o fato.
c) Convulsões dissociativas. Os movimentos podem se asseme-
lhar aos de uma crise epilética, mas a mordedura de língua, os feri-
mentos por queda e a incontinência de urina são raros. Além disso, a
pessoa não perde a consciência, embora algumas vezes possa apre-
sentar um estado de estupor ou transe.
d) Anestesia e perda sensorial dissociativas. Pode ocorrer a
perda da sensibilidade em áreas específicas do corpo, ou a perda da
sensibilidade a alguma forma de estímulo, ficando as demais formas
inalteradas. A perda de sensibilidade pode ser acompanhada de pares-
tesias (sensação de formigamento, picada ou queimadura em alguma
parte do corpo). As perdas da visão e da audição, quando ocorrem, ra-
ramente são totais.
e) Amnésia dissociativa. A característica essencial é a perda da
memória de acontecimentos importantes recentes relacionados aos
eventos traumáticos, tais como acidentes ou lutos imprevistos. Geral-
mente tais amnésias são parciais e seletivas.
f) Fuga dissociativa. É uma amnésia dissociativa completa e
generalizada. Sua ocorrência é muito rara e limitada no tempo. Apesar
da perda das memórias, o comportamento da pessoa parece perfei-
tamente normal para observadores leigos.
g) Estados de transe e de possessão. Ocorre a perda transitória
da consciência de sua própria identidade, mas com a conservação da
consciência do meio ambiente. A pessoa se sente em estado transcen-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 155


Análise do comportamento disfuncional

dente (transe) ou possuída por alguma entidade maligna, por mortos


ou por animais, e passa a ter um comportamento condizente com o
que crê a respeito do suposto ser possuidor.
Obs.: Devem ser incluídos somente os estados de aparente
transe involuntário e não desejado, e excluídas as situações admitidas
no contexto cultural ou religioso da pessoa.
h) Transtorno de personalidade múltipla. A pessoa apresenta
duas ou mais personalidades distintas, sendo que somente uma delas
se manifesta de cada vez. Essa mudança de personalidades ocorre de
maneira brusca, e normalmente após algum evento dramático, estres-
sante ou em uma sessão de psicoterapia. Cada personalidade é com-
pleta, isto é, possui suas próprias memórias, comportamentos e prefe-
rências, e pode variar radicalmente da própria personalidade da pes-
soa antes da crise dissociativa. Embora uma personalidade seja domi-
nante sobre as outras, nenhuma delas tem acesso às memórias das
demais.

5- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

O TOC se caracteriza essencialmente por apresentar ideias ob-


sessivas e/ou por comportamentos compulsivos recorrentes.
As ideias obsessivas são pensamentos, representações ou im-
pulsos repetitivos, estereotipados e desprazerosos que perturbam a
pessoa. Ela tem consciência de que tais ideias são seus próprios pen-
samentos, mas são alheios à sua vontade. A pessoa tenta se livrar ou
resistir a tais ideias, mas não consegue, e quanto mais se esforça mais
manifesta os pensamentos obsessivos.
Os comportamentos e os rituais compulsivos são gestos e ativi-
dades repetitivas, estereotipadas e desprazerosos. A pessoa sabe que
tais comportamentos são absurdos e inúteis, e não levam a coisa al-
guma, mas não consegue controlar seu impulso de realizá-los. Para
ela, tais comportamentos têm por finalidade prevenir algum evento
danoso que ela teme ocorrer, embora saiba que isso seja improvável.
O TOC quase sempre acompanha alguma crise de ansiedade ou

156 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicopatologia 1: Transtornos mentais e de comportamento

depressão, e essa ansiedade se agrava conforme a pessoa tenta resis-


tir aos pensamentos obsessivos e aos comportamentos compulsivos.
De acordo com suas características peculiares, o TOC pode ser:
a) TOC com predominância de ideias ou de ruminações obses-
sivas. Tais como ideias para agir ou fazer algo; hesitações interminá-
veis entre as opções e escolhas de algo, incapacidade de tomar deci-
sões banais necessárias à vida cotidiana; pensamentos fixos sobre de-
terminados assuntos (pecado, morte, inferno etc.).
b) TOC com predominância de comportamentos compulsivos
(rituais obsessivos). Atos compulsivos ligados à limpeza (lavar as mãos
repetidamente, tomar banhos seguidos etc.); verificações repetidas
para evitar a ocorrência de uma situação perigosa (trancar portas, ve-
rificar saídas de gás etc.); desejo excessivo de ordem (organizar armá-
rios, objetos etc.); fazer todas as coisas sempre do mesmo jeito (ritua-
lismo) etc.
c) Transtornos mistos de pensamentos obsessivos e compor-
tamentos compulsivos. Na maioria das vezes a pessoa apresenta am-
bas as situações, mas com leve predomínio de uma.

Conclusão: Transtornos mentais ou operações demonía-


cas?

Objetivo aqui não foi apresentar um estudo detalhado de todas


as psicopatologias, nem mesmo as principais ou mais comuns entre
elas. O objetivo foi apresentar, sim, algumas das psicopatologias mais
comuns no ambiente social e no interior das diversas igrejas cristãs e
outras religiões. Isso ocorre em parte porque pessoas com tais patolo-
gias, após buscarem apoio médico, muitas vezes sem sucesso, como
último recurso buscam na religião a solução para seus problemas.
Também ocorre porque infelizmente muitas práticas religiosas são de-
letérias e mais prejudicam que ajudam pessoas com sensibilidade a
tais patologias – existem religiões e igrejas que são verdadeiras “fábri-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 157


Análise do comportamento disfuncional

cas de doidos”.
É importante destacar que tais patologias podem ter origem
biológica, psicológica, social e não apenas espiritual. Muitas dessas pa-
tologias são geralmente, e erroneamente, mas preconceituosamente,
rotuladas como manifestações demoníacas.
Diante da presença de tais psicopatologias é comum que mui-
tos líderes espirituais bem intencionados, mas ignorantes quanto ao
assunto, cometam três erros básicos: (1) fiquem lutando contra de-
mônios e se sentem derrotados porque não conseguem a libertação
do pobre escravo de Satanás; (2) pior ainda é que atrasam e dificultam
o tratamento médico especializado que deveria ser prestado imedia-
tamente ao doente; e (3) o que é muito pior, continuam estigmatizan-
do e discriminando de maneira preconceituosa a pessoa, como sendo
um depósito de demônios, quando, na realidade, é uma infeliz porta-
dora de algum tipo de transtorno mental ou comportamental, a qual
já sofre pela patologia que tem, e ainda sofre pela discriminação e
preconceito que é obrigada a enfrentar.
Por outro lado, muitas manifestações consideradas carismáti-
cas e espirituais dentro das igrejas nada mais são que surtos psicóticos
com fortes componentes culturais do ambiente evangélico e, por isso,
são confundidas como manifestações espirituais.
Os líderes cristãos, leigos em psicopatologia, com certeza não
identificarão tais fenômenos, nem são obrigados a isso, mas os que
conseguem identificar conseguem também dar melhor apoio psicoló-
gico e espiritual às ovelhas do seu rebanho.
Isso de maneira alguma significa que não existem manifesta-
ções espirituais verdadeiras, tanto de origem divina como de origem
demoníaca, e muitas vezes a distinção entre uma psicopatologia e
uma manifestação espiritual é uma linha muito tênue ou de contornos
não definidos. Em qualquer dos casos, o que importa é sempre condu-
zir a pessoa a aceitar ou manter sua fé em Jesus, buscar servir a Deus
da melhor maneira possível e, principalmente, utilizar suas crenças e
práticas religiosas como fator de cura psicológica e não como mais um
fator causador ou agravante de alguma psicopatologia.

158 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do nível de estresse

Nome: ____________________________________________________
Idade: ________ Data: ____ /____ /____
Indique o valor para cada item, que descreve o quanto você experimentou
cada sintoma na última semana.
0 – quando não se aplica a você nem mesmo um pouco.
1 – quando se aplica a você algumas vezes.
2 – quando se aplica a você frequentemente, mas não sempre.
3 – quando se aplica a você a maior parte do tempo, ou todo o tempo.

Quesito avaliado Valor


1 Cansaço permanente.
2 Dificuldade em pegar no sono ou para dormir (insônia).
3 Palpitações (batimentos cardíacos acelerados).
4 Alterações cardiovasculares e/ou hipertensão arterial.
5 Sensação de que está na iminência de um infarto do mi-
ocárdio.
6 Transpiração ou sudorese (não devido ao calor).
7 Dificuldade de engolir (sensação de bola na garganta).
8 Perda de apetite.
9 Problemas gástricos.
10 Alterações intestinais, geralmente diarreias frequentes.
11 Sensação de que alguma doença pré-existente (por
exemplo: diabetes) está prestes a ter uma crise.
12 Perda da libido ou da motivação sexual.
Fs Total de pontos em Fs (itens 1 a 12)
13 Sensação de inquietação e impaciência.
14 Medo injustificado.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 159


Inventário de avaliação do nível de estresse

15 Irritabilidade por motivos banais.


16 Sensação constante de impotência.
17 Sensação constante de tristeza ou depressão.
E Total de pontos em E (itens 13 a 17)
18 Dificuldade de concentração.
19 Diminuição ou perdas da memória.
20 Preocupação frequente com determinados assuntos tri-
viais.
21 Pensamentos agitados que se misturam e se confundem.
Cg Total de pontos em Cg (itens 18 a 21)
22 Sentindo-se tenso ou agitado.
23 Incapacidade de relaxar.
24 Facilmente assustado ou em estado de alerta.
25 Comportamento agressivo ou total falta de agressivida-
de.
26 Discussões frequentes com pessoas próximas.
27 Queda no rendimento pessoal, estudantil, profissional
etc.
28 Dificuldade de adaptação a mudanças recentes (moradia
ou cidade; local, tipo ou turno de trabalho; aposentado-
ria etc.).
29 Perdas significativas recentes (morte de pessoa próxima,
divórcio, emprego, status, dinheiro etc.).
30 Dívidas, as quais não tem condições de pagar.
31 Passou recentemente ou está passando por enfermida-
de grave, ferimentos, acidentes etc.
32 Passou recentemente ou está passando por problemas
policiais ou judiciários.
Cp Total de pontos em Cp (itens 22 a 32)
33 Está na iminência de passar por algum dos problemas lis-
tados nos itens 28 a 32.
34 Sente-se incapaz de lidar com dificuldades futuras.

160 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do nível de estresse

35 Preocupação excessiva ao assumir compromissos futu-


ros.
36 Expectativa negativa ou falta de expectativa quanto ao
futuro.
Ft Total de pontos em Ft (itens 33 a 36)
S Total geral de pontos para o estresse (itens 1 a 36)
Total geral de pontos em cada grupo para o estresse
Fs E Cg Cp Ft

Avaliação geral do nível de estresse

total de pontos X 10 = valor relati-


S=
108 vo (decimal)

S= =
108

Reações fisiológicas ao estresse

total de pontos Fs X 10 = valor relati-


Fs =
36 vo (decimal)

Fs = =
36

Reações emocionais ao estresse


total de pontos E X 10 = valor relati-
E=
15 vo (decimal)

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 161


Inventário de avaliação do nível de estresse

E= =
15

Reações cognitivas ao estresse


total de pontos E X 10 = valor relati-
Cg =
12 vo (decimal)

Cg = =
12

Reações comportamentais ao estresse


total de pontos Cp X 10 = valor relati-
Cp =
33 vo (decimal)

Cp = =
33

Expectativas futuras negativas quanto ao estresse


total de pontos Ft X 10 = valor relati-
Ft =
12 vo (decimal)

Ft = =
12

• Para 0 ≤ S, Fs, E, Cg, Cp, Ft ≤ 2,5: quadro normal de estresse nos


quesitos avaliados.
• Para 2,5 < S, Fs, E, Cg, Cp, Ft ≤ 5,0: quadro anormal de estresse,
mas que não interfere muito no desempenho pessoal do envolvi-
do nos quesitos avaliados.
• Para 5,0 < S, Fs, E, Cg, Cp, Ft ≤ 7,5: quadro bastante afetado de es-
tresse, e que interfere muito no desempenho pessoal do envolvi-
do nos quesitos avaliados.

162 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do nível de estresse

• Para 7,5 < S ≤ 10,0: quadro grave de estresse nos quesitos avalia-
dos, e o tratamento precisa do apoio de medicamentos psiquiátri-
cos.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 163


Inventário de avaliação do nível de ansiedade

Nome: ____________________________________________________
Idade: ________ Data: ____ /____ /____
Indique o valor para cada item, que descreve o quanto você experi-
mentou cada sintoma na última semana.
0 – quando não se aplica a você nem mesmo um pouco.
1 – quando se aplica a você algumas vezes.
2 – quando se aplica a você frequentemente, mas não sempre.
3 – quando se aplica a você a maior parte do tempo, ou todo o tempo.

Quesito avaliado Valor


1 Insônia.
2 Cansaço fácil.
3 Tontura, vertigem.
4 Tremores, espasmos musculares, principalmente nas
mãos.
5 Tensão muscular, dores musculares principalmente nas
costas e nuca.
6 Respiração superficial ou sensação de asfixia.
7 Palpitações (batimentos cardíacos acelerados).
8 Transpiração ou sudorese (não devido ao calor).
9 Rubores (calores) ou calafrios.
10 Dificuldade de engolir (sensação de bola na garganta).
11 Boca seca.
12 Problemas estomacais.
13 Diarreias frequentes.
14 Náusea.

164 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do nível de ansiedade

15 Urinação frequente.
Fs Total de pontos em Fs (itens 1 a 15)
16 Inquietação e impaciência.
17 Nervosismo persistente e injustificado.
18 Irritabilidade por motivos banais.
19 Medo frequente e injustificado de que você ou alguém
próximo ficará doente ou sofrerá algum acidente.
20 Medo de morrer, de perder o autocontrole ou de ficar
louco.
E Total de pontos em E (itens 16 a 20)
21 Sensação de vazio na cabeça.
22 Dificuldade de concentração.
23 Perda acentuada da memória.
24 Preocupação frequente com determinado assunto.
25 Pensamentos frequentes de perigo.
Cg Total de pontos em Cg (itens 21 a 25)
26 Sentindo-se tenso ou excitado.
27 Incapacidade de relaxar.
28 Dificuldade em pegar no sono ou dificuldade para dor-
mir.
29 Facilmente assustado.
30 Evita ou foge de lugares onde possa ficar ansioso.
31 Evita ou foge de lugares fechados ou com muita gente.
32 Deixa de se preocupar com a aparência, higiene pessoal
etc.
33 Desinteresse por coisas que antes achava interessante.
34 Comportamento agressivo.
35 Comportamentos bizarros, repetitivos, tiques, contorci-
onismos, alterações de voz etc.
Cp Total de pontos em Cp (itens 26 a 35)
36 Sente-se incapaz de lidar com dificuldades futuras.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 165


Inventário de avaliação do nível de ansiedade

37 Vive na expectativa de que algo terrível irá acontecer.


38 Preocupação excessiva ao assumir compromissos futu-
ros.
39 Expectativa negativa ou falta de expectativa quanto ao
futuro.
40 Constantemente procura evitar ou fugir das pessoas.
Ft Total de pontos em Ft (itens 36 a 40)
A Total geral de pontos para a ansiedade (itens 1 a 40)
Total geral de pontos em cada grupo para a ansiedade
Fs E Cg Cp Ft

Avaliação geral do nível de ansiedade

total de pontos X 10 = valor relati-


A=
120 vo (decimal)

A= =
120

Reações fisiológicas à ansiedade

total de pontos Fs X 10 = valor relati-


Fs =
45 vo (decimal)

Fs = =
45

Reações emocionais à ansiedade


total de pontos E X 10 = valor relati-
E=
15 vo (decimal)

166 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Inventário de avaliação do nível de ansiedade

E= =
15

Reações cognitivas à ansiedade


total de pontos E X 10 = valor relati-
Cg =
15 vo (decimal)

Cg = =
15

Reações comportamentais à ansiedade


total de pontos Cp X 10 = valor relati-
Cp =
30 vo (decimal)

Cp = =
30

Expectativas futuras negativas quanto à ansiedade


total de pontos Ft X 10 = valor relati-
Ft =
15 vo (decimal)

Ft = =
15

• Para 0 ≤ A, Fs, E, Cg, Cp, Ft ≤ 2,5: quadro normal de ansiedade nos


quesitos avaliados.
• Para 2,5 < A, Fs, E, Cg, Cp, Ft ≤ 5,0: quadro anormal de ansiedade,
mas que não interfere muito no desempenho pessoal do envolvi-
do nos quesitos avaliados.
• Para 5,0 < A, Fs, E, Cg, Cp, Ft ≤ 7,5: quadro bastante afetado de
ansiedade, e que interfere muito no desempenho pessoal do en-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 167


Inventário de avaliação do nível de ansiedade

volvido nos quesitos avaliados.


• Para 7,5 < A ≤ 10,0: quadro grave de ansiedade nos quesitos avali-
ados, e o tratamento precisa do apoio de medicamentos psiquiá-
tricos.

168 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Módulo 7:
Psicoteologia aplicada
em atendimento clínico breve

Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao to-


car uma alma humana seja apenas outra alma humana. (Carl
Gustav Jung, 1875-1961)

Neste módulo será apresentado um modelo clínico de atendi-


mento breve psicoteológico, fundamentado na psicologia e na teolo-
gia. A fundamentação psicológica será a TCC – Terapia Cognitivo-
Comportamental, embora qualquer outra abordagem psicológica pos-
sa ser utilizada. A fundamentação teológica será principalmente em
cima da doutrina da salvação e na ética cristã.
Diante disso podem surgir três questionamentos:
1) Em que a terapia psicoteológica difere de um atendimento
terapêutico psicológico convencional? No aspecto técnico, a terapia
psicoteológica não difere muito do atendimento psicológico convenci-
onal, principalmente da TCC, focada na “pessoa do problema e não no
problema da pessoa”, e utiliza todo o rigor terapêutico e procedimen-
tos da abordagem adotada para provocar mudanças na pessoa que
procura ajuda terapêutica; mas ao contrário das terapias psicológicas
convencionais, a terapia psicoteológica foca na fé em Deus e na confi-
ança da ajuda divina para que tais mudanças possam ocorrer, incenti-
vando a pessoa à vida espiritual e transcendental, porém cuidando pa-
ra não ser uma forma de proselitismo ou de conversão forçada da pes-
soa em atendimento.
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 169
Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

2) Em que a terapia psicoteológica difere de um atendimento


terapêutico psicológico convencional? No aspecto espiritual, a terapia
psicoteológica não difere muito do aconselhamento pastoral conven-
cional, sempre buscando o conforto e o crescimento espiritual e exis-
tencial da pessoa em atendimento; mas ao contrário do aconselha-
mento pastoral convencional, a terapia psicoteológica foca na doutri-
na da salvação e na ética cristã, não apenas para conduzir a pessoa à
salvação e à uma vida cristã sadia, mas mais que isso, utiliza a doutrina
da salvação como modelo de mudança de vida e a aplica para todas as
demais mudanças que a pessoa precisará implementar em sua própria
vida e nos seus relacionamentos.
3)Em que a terapia psicoteológica é mais vantajosa que a tera-
pia psicológica e o aconselhamento pastoral convencionais? Aqui é
preciso destacar dois aspectos:
a) O terapeuta psicoteológico normalmente é alguém que tem
algum conhecimento de psicologia (ou é um psicólogo, embora isso
não seja imprescindível) e algum conhecimento de teologia (ou é um
teólogo, embora isso também não seja imprescindível), mas não está
satisfeito nem com o atendimento psicológico convencional e nem
com o atendimento pastoral convencional porque acha que o primeiro
falha no aspecto espiritual e o segundo falha no aspecto técnico.
b) O público-alvo da terapia psicoteológica normalmente é
constituído de pessoas evangélicas e simpatizantes – pessoas que por
diversos motivos normalmente não procurariam um terapeuta que
não fosse evangélico, principalmente se souber que ele é antiteísta e
antirreligioso, primeiramente porque acha que o terapeuta secular
não tem bagagem para compreender os problemas espirituais pelos
quais a pessoa está passando; e, em segundo lugar, porque não quer
comentar com pessoas leigas os problemas que possam envolver sua
igreja, a fim de não causar escândalos à obra do Senhor. O público-
alvo também pode ser constituído de pessoas não evangélicas, mas
que buscam preencher seu vazio na alma, e não necessariamente bus-
car terapia para algum problema relacional específico que esteja en-
frentando no momento.

170 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

Uma vez esclarecido o porquê da terapia psicoteológica, é im-


portante destacar que esta é a parte mais importante desse trabalho,
não só por causa do modelo psicoterapêutico apresentado, mas tam-
bém porque faz uso de tudo que foi estudado até agora, e também o
que ainda será estudado nos módulos seguintes.
A sequência apresentada dos 7 passos e algumas técnicas psi-
coterapêuticas servem para qualquer abordagem terapêutica adotada,
e não apenas para a terapia cognitivo comportamental ou para a tera-
pia psicoteológica. Seu objetivo é servir de diretriz para que o conse-
lheiro tenha um procedimento sequencial a ser aplicado na prática clí-
nica. Isso facilita muito o desenvolvimento do seu trabalho.
Os assuntos agora abordados são:
1. Psicoteologia aplicada: Modelo psicoteológico de atuação
clínica breve. Será apresentado um modelo clínico breve de aconse-
lhamento terapêutico psicoteológico composto de 7 passos para dire-
cionar e orientar o atendimento por parte do terapeuta e conselheiro.
2. Terapia psicoteológica – Passo 1: Acolher e confortar a pes-
soa atendida. Em qualquer abordagem psicoterapêutica, e isso tam-
bém vale para a terapia psicoteológica clínica, todos os terapeutas
concordam que a primeira finalidade do aconselhamento é acolher e
confortar a pessoa que busca ajuda. É importante lembrar que o prin-
cipal instrumento de trabalho do bom terapeuta é o próprio terapeu-
ta. A pessoas normalmente não buscam um terapeuta em função da
sua abordagem ou especialização profissional, mas sim em função do
modo como atende e se relaciona com as pessoas que o procuram.
3. Terapia psicoteológica – Passo 2: Acolher a queixa e compi-
lar dados da pessoa atendida. Em meio a essa fala inicial do aconse-
lhamento, cabe ao conselheiro identificar quais são as queixas e de-
mandas manifestas e latentes do aconselhado, bem como colher da-
dos de sua história de vida. Em função disso, o conselheiro começará a
fazer uma análise presente, pregressa (passado) e prospectiva (futuro)
do aconselhado.
4. Terapia psicoteológica – Passo 3: Identificação e análise da
situação problema. De posse das informações colhidas sobre a pessoa
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 171
Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

atendida e sobre as queixas e demandas que a levaram a buscar acon-


selhamento, o conselheiro deve fazer a identificação das diferentes si-
tuações problema e, a seguir, ambos em comum acordo, devem esco-
lher uma situação problema específica que deverá ou poderá ser inici-
almente trabalhada.
5. Soteriologia: Os processos de conversão e salvação. Para a
terapia psicoteológica, um dos pontos mais importantes, ou talvez o
mais importante, é a compreensão do processo da salvação, e dentro
dele em especial o processo da conversão, pois este serve de base pa-
ra todas as demais “mudanças” que a pessoa pode empreender em
sua vida, em seus problemas pessoais e, principalmente, em seus es-
quemas mentais disfuncionais.
6. Terapia psicoteológica – Passo 4: Processo interventivo:
Trabalhar a situação problema e a pessoa problema. Agora começam
as atividades mais demoradas, mais difíceis e mais importantes de to-
do o processo, quando o conselheiro passa a intervir, ou seja, traba-
lhar com a situação problema e com a pessoa problema. Agora é o
momento em que o terapeuta vai ter de lançar mão de toda sua fun-
damentação teórica (uma abordagem psicológica) que constitua sua
base científica, e sua fundamentação teológica, pois seu atendimento
tem caráter espiritual. O grande problema não é o conselheiro conhe-
cer suas fundamentações, mas saber como utilizá-las para alcançar os
objetivos da terapia ou aconselhamento.
7. Teorias motivacionais: Motivação para mudança de vida.
Antes de se passar para o passo 5 é necessário que se faça uma pe-
quena pausa para que o leitor conheça algumas teorias motivacionais,
mas somente aquelas diretamente relacionadas com a mudança de vi-
da. Embora várias teorias motivacionais possam ser aplicadas a mu-
danças pessoais, somente quatro serão abordadas: (1) teoria do estí-
mulo ambiental, (2) teoria da hierarquia das necessidades, (3) teoria
das crenças e valores, e (4) teoria das intenções e vontade. Embora
tais teorias sejam muito utilizadas em ambientes organizacionais, a ên-
fase aqui estará na importância da motivação para a mudança de vida,
pois em última análise, é isso p que toda terapia busca.

172 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

8. Terapia psicoteológica – Passo 5: Processo interventivo:


Compromisso e processo de mudança. Toda psicoterapia, indepen-
dente da abordagem que se adote, e isso também vale para a psicote-
ologia, visa ajudar a pessoa no seu “compromisso de mudança” e no
“processo de mudança” propriamente dito, isto é, a pessoa deve iden-
tificar se realmente deseja mudar o que é necessário mudar; analisar
se tem recursos internos e externos para efetuar as mudanças neces-
sárias; assumir uma postura de mudança; e iniciar as mudanças neces-
sárias.
9. Terapia psicoteológica – Passo 6: Avaliação do autocontro-
le. Após o fim do passo 5, se a pessoa respondeu bem ao tratamento,
então pode ser preparada e direcionada para receber alta. Nesse caso
torna-se necessário verificar se o trabalho realizado foi eficaz, eficien-
te e efetivo, e isso é feito através da avaliação do autocontrole, que é
desdobrada em 3 atividades distintas: a autoterapia, o teste de reali-
dade e a socioterapia ou alterterapia.
10. Terapia psicoteológica – Passo 7: Alta terapêutica e
acompanhamento. Se o aconselhado atingiu os objetivos propostos
inicialmente na terapia e se sente preparado para caminhar com suas
próprias pernas, então ele está pronto para receber alta ou liberação
do atendimento terapêutico. A alta não é apenas o fim do atendimen-
to e liberação da pessoa em atendimento, ao contrário é um processo
importante, que pode ser um pouco longo, é parte imprescindível de
todo o processo psicoterapêutico.
11. Conclusão da terapia psicoteológica. A finalidade desse
trabalho é abordar um modelo de atendimento psicoterapêutico clíni-
co breve fundamentado na psicologia e na teologia (atendimento psi-
coteológico), apresentando um modelo sequencial de atendimento
clínico, a fim de orientar os terapeutas e conselheiros cristãos no mi-
nistério de aconselhamento terapêutico.

A finalidade desse trabalho é abordar um modelo de atendi-


mento psicoterapêutico clínico breve fundamentado na psicologia e na
teologia (atendimento psicoteológico), apresentando um modelo se-
quencial de atendimento clínico, a fim de orientar os conselheiros cris-
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 173
Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

tãos no ministério de aconselhamento terapêutico. Este é “um” mode-


lo de atendimento, não é o “único” modelo teórico. É fundamentado
na TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental, embora outros modelos
psicoteológicos possam se fundamentar na psicanálise, psicologia ana-
lítica junguiana, psicologia existencial, comportamental, transpessoal
etc.
Tenha certeza de que o entendimento do que está aqui contido
servirá não apenas para iniciantes da arte psicoterapêutica, mas até
mesmo para profissionais antigos e bem experientes na prática clínica.
E o mais importante, será útil para a vida pessoal do leitor, e para a vi-
da ministerial daquele que faz do aconselhamento um ministério de
vida.
O que vem pela frente é um desafio até mesmo para o tera-
peuta mais experiente em sua profissão. Boa leitura!

174 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


1. Psicoteologia aplicada: Modelo psicoteoló-
gico de atuação clínica breve

Se a pessoa sabe aonde quer chegar, cuidará em tomar o cami-


nho correto e se utilizará dos meios e instrumentos mais ade-
quados. Este é o objetivo do modelo apresentado – apontar
um caminho coerente e alguns instrumentos úteis para a cami-
nhada. Quando a pessoa não sabe aonde quer chegar, qual-
quer caminho serve, mas com certeza ela também não chegará
a lugar algum.

O que será apresentado a partir deste capítulo é um modelo


clínico(1)
breve(2) de aconselhamento(3) terapêutico(4) psicoteológico(5).
Veja os 5 pontos destacados nessa proposição:
(1) É um modelo clínico que consta de 7 passos práticos como
sequência orientativa de atendimento (Fig. 7.1.1) com destaque para o
aspecto psicoeducativo. O enfoque que será dado será psicoteológico,
mas o modelo apresentado com seus 7 passos serve para qualquer ou-
tra abordagem psicológica, com ou sem qualquer cunho teológico.
(2) É atendimento breve, pois se estende entre 10 a 20 sessões
apenas, em média são 12 sessões, mas que podem ser reduzidas a
pouquíssimas sessões de acordo com as circunstâncias e disponibili-
dade de tempo, ou se estender para 30, ou 40 ou mais sessões. A fixa-
ção de um tempo definido para o término dos atendimentos tem um
efeito psicológico muito grande para os aconselhados, pois eles terão
um objetivo a alcançar em um tempo definido, e se esforçarão para
tal.
(3) É aconselhamento, mas difere muito de um aconselhamen-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 175


Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

to pastoral. O termo aconselhamento é utilizado aqui como sinônimo


de psicoterapia.
(4) É terapêutico porque visa ajudar a pessoa em atendimento
a tratar seus problemas pessoais, mentais, emocionais, comportamen-
tais, sociais, existenciais, espirituais etc.
(5) É psicoteológico porque é focado na teologia (mais especifi-
camente na teologia pastoral) e na psicologia clínica (mais especifica-
mente na TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental), mas principal-
mente porque olha para o homem como um todo: um ser biológico,
psicológico, social e espiritual.

1.1. Modelo de 7 passos de atuação clínica da terapia psi-


coteológica

Os 7 passos de atendimento são organizados para um aconse-


lhamento médio que se estenderá entre 10 e 20 sessões, mas a tera-
pia pode ser abreviado ou pode se alongar por mais sessões se neces-
sário:
Passo 1: Acolher e confortar a pessoa atendida. Normalmente
se limitará a apenas uma parte da primeira sessão.
Passo 2: Acolher a queixa e compilar dados sobre a pessoa
atendida. Pode se estender por 1 a 4 sessões, ou até mais se necessá-
rio. Obviamente que vários fatores, entre os quais está a disponibili-
dade de tempo, determinarão a duração e a profundidade de todo o
aconselhamento, inclusive do passo 2. Não é conveniente que esse
passo se estenda por muito tempo para que não fique focado apenas
no passado; nem é conveniente que dure pouco tempo, pois assim
não será possível um perfeito entendimento do contexto da queixa
apresentada.
Passo 3: Identificação e análise da situação problema. Nor-
malmente será embutido no passo 2, ou pode ser possível separar
uma sessão especificamente para esse passo. Sua duração é muito va-
riável, pois “cada caso é um caso”, isto é, as especificidades são bas-

176 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicoteologia aplicada: Modelo psicoteológico de atuação clínica breve

tante variáveis.

Fig. 7.1.1. Os 7 passos do modelo clínico da terapia psicoteológica.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 177


Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

Passo 4: Processo interventivo: Trabalhando a situação pro-


blema e a pessoa problema. Normalmente é o passo mais longo, po-
dendo se estender por 6 sessões ou mais. Obviamente que vários fato-
res, entre os quais estão as necessidades peculiares do processo inter-
ventivo, determinarão a duração e a profundidade de todo o aconse-
lhamento.
Passo 5: O compromisso e o processo de mudança. Normal-
mente será embutido no passo 4, mas, se necessário, algumas sessões
poderão ser separadas como reforço para o passo 5. Isso depende es-
sencialmente da motivação da pessoa em empreender as mudanças
necessárias em sua vida e em seu ambiente.
Passo 6: Análise do autocontrole. Normalmente terá duração
de 1 a 4 sessões, mais ou menos. A diferença é que agora as sessões
serão mais espaçadas, isto é, se até o passo 5 as sessões eram sema-
nais, no passo 6 as sessões poderão ser a cada duas semanas, por
exemplo.
Passo 7: Alta terapêutica e acompanhamento (follow-up).
Não tem uma duração específica, mas normalmente estende-se de 1 a
3 sessões, podendo ser uma por mês, e, depois, uma sessão semestral
se necessário.

1.2. Por que o modelo de atendimento é chamado de bre-


ve?

O modelo adotado é chamado de breve por 3 motivos básicos:


1) O modelo adotado se estende entre 10 a 20 sessões apenas,
mas o normal são 12 sessões, até mesmo bem menos que isso. Este
período de 12 sessões foi definido em função de que nos “atendimen-
tos psicológicos” cobertos por planos de saúde, tais entidades só co-
brem em média 12 atendimentos anuais.
2) Por ser breve, é um modelo focado no tratamento de uma
situação problema específica ou de situações problemas que tenham
pontos em comum. Isso será melhor entendido no estudo dos passos

178 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicoteologia aplicada: Modelo psicoteológico de atuação clínica breve

2 e 3.
3) O atendimento claramente terá um término pré-fixado para
seu término, embora este tempo de duração não seja rigidamente es-
tabelecido. A fixação de um tempo para o término dos atendimentos
tem um efeito psicológico muito grande para os aconselhados, pois
eles terão um objetivo a alcançar em um tempo definido, e se esforça-
rão para tal.
Se os atendimentos não tiverem um tempo definido de térmi-
no raramente os aconselhados chegarão até o fim e receberão alta da
terapia, pois a grande maioria (aproximadamente 60%) simplesmente
abandonará o processo ao longo do caminho. A experiência prática
clínica ensina que:
1) Se os atendimentos se estenderem além de 20 sessões, no
máximo 10% dos aconselhados que vieram para a primeira sessão
continuarão por mais esse tempo. Como será explicado posteriormen-
te, dependendo do grau de comprometimento da pessoa aconselhada,
esse tipo de atendimento muitas vezes se faz realmente necessário.
2) Se os atendimentos se estenderem entre 13 e 20 sessões,
em média de 20 a 30 % dos aconselhados da primeira sessão comple-
tarão esse tempo. A vantagem desse número de sessões está no fato
de que os 7 passos podem ser aplicados sem grandes dificuldades.
3) Se os atendimentos se estenderem entre 5 e 12 sessões, a
porcentagem dos que atingem o fim pode chegar a algo pouco acima
de 50% dos aconselhados da primeira sessão. Quanto menor for o
número de sessões disponíveis, os passos 6 e 7 acabarão sendo supri-
midos, e os passos 2 a 5 precisarão ser reduzidos em sua duração.
4) Por outro lado, apenas 15% dos aconselhados da primeira
sessão estabelecem que concordariam com no máximo 4 atendimen-
tos. Desses que aceitam esse número de atendimentos, a maioria
(13%) realmente comparece aos 4 atendimentos. Com 4 atendimen-
tos, o máximo que se consegue atingir é até o passo 3, dando-se pre-
ferência para maior desenvolvimento do passo 2.
5) No máximo 10% das pessoas só aceitam vir a um único
atendimento, e não adianta insistir que voltem para outras sessões

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 179


Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

porque não retornarão.

A duração real dos atendimentos e a profundidade com que


eles serão desenvolvidos dependem de vários fatores, tais como:
• Disponibilidade de tempo por parte do aconselhado;
• Gravidade do problema (comprometimento) apresentado pelo
aconselhado;
• Experiência clínica do conselheiro;
• Nível da relação terapêutica estabelecida entre conselheiro e
aconselhado;
• Peculiaridades do processo interventivo;
• Compromisso de mudança por parte do aconselhado etc.

Portanto, é até possível estabelecer um tempo aproximado de


duração dos atendimentos, mas é impossível saber quem realmente
chegará à conclusão do mesmo e, o mais importante, a uma conclusão
realmente eficaz.

1.3. Principais técnicas e procedimentos clínicos

Antes de iniciar o passo 1, é conveniente apresentar uma lista-


gem (apenas para conhecimento prévio) das principais técnicas e ou-
tros procedimentos clínicos aqui abordados (Tab. 7.1.3).
Para efeito didático, técnicas específicas foram associadas ao
longo dos 7 passos, mas a relação não está esgotada, pois existem
muitas outras técnicas que não foram aqui listadas, e as que aqui es-
tão anotadas podem ser associadas a outros passos, conforme a ne-
cessidade.

180 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Psicoteologia aplicada: Modelo psicoteológico de atuação clínica breve

Tab. 7.1.3. Relação dos passos e técnicas psicoterapêuticas

Técnicas e outros procedimentos clí-


Passos
nicos
Passo 1: Acolher e confortar Rapport e procedimentos para a pri-
a pessoa atendida meira entrevista
Modelo simplificado de prontuário
Passo 2: Acolher a queixa e Anamnese
compilar dados sobre a pes- Técnicas de interrogação que ajudam
soa atendida na reconstrução do passado
Passo 3: Identificação e aná- Identificação de situações problema
lise da situação problema Técnica das similaridades para esco-
lha da situação problemas
Passo 4: Processo interventi- Psicoeducação
vo: Trabalhar a situação pro- Auto-observação
blema e a pessoa problema Autoconceito
Autogoverno
Similaridade com a conversão
Questionamento socrático
Flecha descendente
Criação de autorregras
Passo 5: Compromisso e pro- Técnica motivacional
cesso de mudança Reestruturação cognitiva
Registro de pensamentos disfuncio-
nais – RPD
Acertar as contas com o passado
Passo 6: Avaliação do auto- Autoterapia
controle Teste de realidade
Socioterapia e alterterapia
Passo 7: Alta terapêutica e Alta terapêutica
acompanhamento (follow- Compromisso de acompanhamento
up)

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 181


Psicoteologia aplicada em atendimento clínico breve

Conclusão: Por que um modelo de atendimento clínico?

O mais importante do aconselhamento não são as técnicas


aplicadas – elas são importantes, mas o conselheiro é muito mais que
um simples aplicador de técnicas. O que mais importa no aconselha-
mento é a relação terapêutica construída entre o conselheiro e o
aconselhado, e para que isso seja feito de maneira mais eficiente, a
observância da sequência dos passos constitui uma ferramenta extre-
mamente útil. É isso que será abordado a partir do próximo capítulo.
Se a pessoa sabe aonde quer chegar, cuidará em tomar o cami-
nho correto e se utilizará dos meios e instrumentos mais adequados.
Este é o objetivo do modelo apresentado – apontar um caminho coe-
rente e os instrumentos úteis para a caminhada. Quando a pessoa não
sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve, mas com certeza ela
também não chegará a lugar algum.

182 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Módulo 8:
Práticas psicoteológicas

Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso traba-


lho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois
servistes e ainda servis aos santos. (Hebreus 6.10 ARA)

A psicoteologia tem três objetivos básicos:


1) O estudo dos fenômenos espirituais sob a óptica científica,
isto é, com mais rigor técnico.
2) O estudo da alma humana como elo entre o corpo e o espíri-
to, e como fator de saúde global.
3) Utilizar princípios terapêuticos fundamentados na psicologia
e na teologia, mas com maior rigor técnico-científico, para tratar os
problemas psicossomáticos, afetivos, emocionais, cognitivos, sociais,
espirituais e existenciais do ser humano.
Quando se fala em práticas psicoteológicas primeiramente é
preciso considerar os três objetivos listados acima. Em segundo lugar,
também é preciso considerar as duas ações principais da psicoteolo-
gia:
1) Ser essencialmente psicoeducação, isto é, mais que simples
ensino, ela busca apresentar princípios para a vida das pessoas.
2) Sempre atuar para promover de saúde física (orgânica),
mental (emocional e cognitiva), social e espiritual. Esta segunda ação é
coincidente com o objetivo 3 listado anteriormente.
Em função dos 3 objetivos e das 2 ações da psicoteologia, em
especial o objetivo 3 e a ação 2, é possível considerar vários tipos de

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 183


Práticas psicoteológicas

práticas, aplicações ou empregos da psicoteologia, como:


1. Aconselhamento pessoal (individual).
2. Gerenciamento de conflito (grupal).
3. Desenvolvimento e medição da vida de qualidade e da felicida-
de.
4. Psicoterapia em grupo de apoio espiritual.12
5. Superação de crise existencial
6. Prevenção ao suicídio
7. Estímulo à prática da oração
8. Controle da autossabotagem.13
9. Desenvolvimento da autoestima.14
10. Administração das emoções e cura emocional.15
11. Controle de vícios, manias e hábitos nocivos.16
12. Saúde física, mental, emocional, social, espiritual e existen-
cial.17
13. Libertação e cura espiritual.
14. Crescimento e fortalecimento espiritual.
E muitas outras práticas terapêuticas psicoteológicas poderiam
ser abordadas nesse trabalho, mas as listadas acima são o suficiente
para se ver o enorme campo de trabalho que há para o psicoteólogo
atuar. E no presente módulo apenas as 3 primeiras serão abordadas.
No “Módulo 07. Psicoteologia aplicada em atendimento clínico
breve” foi apresentado um modelo clínico de psicoterapia, porém nem
sempre será possível a realização de um atendimento com o rigor téc-

12
Ver “Módulo 11. Grupoterapia em psicoteologia”.
13
Ver “Módulo 09. Práticas clínicas individuais”.
14
Idem.
15
Idem.
16
Idem.
17
Ver “Módulo 15. Contribuições teológicas, religiosas e espirituais à psi-
coteologia.

184 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Práticas psicoteológicas

nico ali mencionado, mas práticas mais simples ou mais elaboradas,


conformes necessidades específicas da pessoa em atendimento, pode-
rão ser requeridas, como: aconselhamento pessoal e gerenciamento
de conflito.
1. Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal. A ativi-
dade pastoral constantemente implica em aconselhamento pessoal. O
conselheiro lidará com problemas de forte conotação emocional, cog-
nitiva ou comportamental para seu aconselhado. Tais problemas nor-
malmente serão decorrentes de relacionamentos abusivos e/ou difi-
culdades de adaptação ambiental. A maior dificuldade para o conse-
lheiro é que muitas vezes ele mesmo se verá envolvidos em problemas
para os quais é consultado por outra pessoa para um aconselhamento.
2. Prática psicoteológica 2: Gerenciamento de conflitos. Em
todos os grupos sociais e comunidades existem conflitos. Quanto mais
tempo o grupo existir, mais emoções e sentimentos estarão envolvi-
dos, e quanto mais emoções e sentimentos envolvidos, mais choques
de personalidade e de opiniões poderão ocorrer. Quanto mais pessoas
houver em um grupo, maiores serão os relacionamentos interpessoais,
e mais problemas de relacionamentos se manifestarão. Tais problemas
relacionais podem rapidamente se transformar em conflitos, e daí
chegar até em afrontas e agressões.
3. Vida de qualidade e felicidade: O que todos desejam e bus-
cam. Felicidade é um estado durável de satisfação, bem-estar e equilí-
brio físico, mental, emocional, social, espiritual e existencial. Faz parte
da natureza humana a busca da felicidade, é algo que vai muito além
da alegria ou do prazer, é algo transcendental, quase que uma dádiva
divina. As doenças podem causar infelicidade, mas “nem sempre” a in-
felicidade causa doenças, porém mesmo quando não causa doenças, a
infelicidade pode ser o fator desencadeador ou agravante de doenças
em pessoas com algum quadro patológico prévio. Tanto a felicidade
como a infelicidade estão diretamente relacionadas com a qualidade
de vida das pessoas e principalmente a vida de qualidade.
4. IAVQF – Inventário de Avaliação da Vida de Qualidade e da
Felicidade. Se for possível medir o nível da felicidade de uma pessoa e tam-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 185


Práticas psicoteológicas

bém medir sua qualidade de vida será fácil observar uma relação direta entre
ambas. O IAQVF permite a medição da qualidade de vida e da felicidade a
fim de analisar a relação disso com possíveis patologias e comportamentos
disfuncionais que a pessoa pode desenvolver.
5. Crise existencial: A falta de sentido de vida. Crise significa
ação ou faculdade de separar, distinguir; luta, litígio, processo; deci-
são, juízo, sentença; resultado, desenlace. Quando aplicada ao desen-
volvimento da vida ou existência de uma pessoa, então ocorre uma
crise existencial, ou seja, um período que desiquilibra a pessoa, que a
enche de dúvidas e incertezas, pode ser um período muito perigoso,
mas também é uma época em que a pessoa precisa tomar decisões e
buscar uma solução para o problema que a aflige. Embora normal-
mente a crise existencial seja vista de maneira muito negativa, ela
também pode ter um lado positivo ao promover um avanço significati-
vo para o autoconhecimento, levando a pessoa a uma vida de equilí-
brio e crescimento nas mais diversas áreas de sua vida, principalmente
no crescimento pessoal, na tomada de decisões e no redirecionamen-
to profissional.
Em módulos específicos informados anteriormente serão abor-
dadas outras práticas psicoteológicas.

186 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


1. Prática psicoteológica 1: Aconselhamento
pessoal

Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração


perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Ao contrário,
encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo
que se chama “hoje”, de modo que nenhum de vocês seja en-
durecido pelo engano do pecado, pois passamos a ser partici-
pantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim
à confiança que tivemos no princípio. Por isso que se diz: “Se
hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como
na rebelião”. (Hebreus 3.12-15 NVI)

Aconselhar é uma arte ou uma técnica? Aconselhar é um dom


divino ou uma habilidade natural? Aconselhar é uma atividade profis-
sional ou um ministério? Aconselhar é uma análise do próximo ou uma
análise de si mesmo? A resposta para todas essas perguntas pode ser
um “sim”, mas é um “sim” que precisa ser bem explicado para evitar
mal-entendidos.
As atividades terapêutica e pastoral constantemente implicam
em aconselhamento pessoal, mas esse tipo de atividade não é limita-
do apenas ao pastor, nem mesmo a um profissional terapeuta, pois
qualquer pessoa poderá em algum momento estar envolvido em
aconselhamento sério, ético e realmente construtivo.
Lembrando que o termo aconselhamento é utilizado aqui com
o sentido técnico, isto é, como uma forma de terapia, e não simples-
mente um aconselhamento pastoral tradicional. Na realidade este ca-
pítulo que trata do aconselhamento pessoal é um resumo geral ou
uma condensação de todo o “Módulo 07. Psicoteologia aplicada em

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 187


Práticas psicoteológicas

atendimento clínico breve”.

1.1. A tarefa de aconselhamento pessoal

O conselheiro lidará com problemas de forte conotação emoci-


onal, cognitiva ou comportamental para seu aconselhado. Tais pro-
blemas normalmente serão decorrentes de relacionamentos abusivos
ou dificuldades de adaptação ambiental. A maior dificuldade para o
conselheiro é que muitas vezes ele mesmo se verá envolvido em pro-
blemas para os quais é consultado por outra pessoa para um aconse-
lhamento, e quem sabe ele mesmo se verá obrigado a buscar aconse-
lhamento para si.

1- O local e momento certo para o aconselhamento


pessoal

Dentro do possível, o aconselhamento pessoal no ambiente


eclesiástico não deve ser feito durante as reuniões formais da igreja
(culto, escola dominical, comemorações, reuniões de pequenos grupos
etc.) e nem no mesmo dia logo após tais reuniões, por 4 motivos prin-
cipais:
1) Para não expor publicamente a pessoa que pede aconse-
lhamento, visto que nessas reuniões há uma quantidade muito grande
de pessoas presentes na igreja.
2) Para que não haja dedicação exclusiva a alguém, em detri-
mento aos demais presentes, as quais também cobram atenção por
parte do conselheiro.
3) Porque o problema a ser tratado é geralmente de natureza
particular e os demais presentes podem não ter nada a ver com isso, e
nem devem ser envolvidos.
4) Porque o problema a ser tratado pode ser de natureza parti-
cular, mas pode também envolver outras pessoas, as quais não devem

188 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal

e não querem ser expostas publicamente em função do aconselha-


mento que está sendo feito.
No entanto, é preciso considerar que podem existir situações
em que o conselheiro deverá aproveitar o momento de tais reuniões
para o exercício de sua atividade de aconselhamento. Em outras situa-
ções será até mesmo inevitável que assim aconteça. Mas se for possí-
vel evitar que isso ocorra nas reuniões formais da igreja, então que se-
ja evitado.

2- Alguns procedimentos éticos e técnicos por parte do


conselheiro

Paulo diz: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso


respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhe-
cimento, aptos para vos admoestar uns aos outros.” (Romanos 15.14
ARA).
Diante do exposto anteriormente, em todo aconselhamento
pastoral alguns aspectos devem ser considerados:

Procedimentos prévios do conselheiro


• O conselheiro deve ter maturidade, como: maturidade pessoal
e experiência de vida; maturidade para não se deixar manipular
pela pessoa em aconselhamento ou pelas circunstâncias; matu-
ridade espiritual; maturidade ao expressar suas opiniões, con-
clusões e julgamentos que venha a efetuar.
• O conselheiro deve ter um estilo de vida compatível com o tra-
balho que pretende realizar (Mt 5.37). Deve viver o que prega,
o que ensina e o que aconselha a outra pessoa.
• O conselheiro deve zelar por um relacionamento íntimo com
Deus através da leitura da Palavra de Deus (Sl 1.1-2), da oração
(1Tm 2.1) e do cultivo da sua vida devocional particular (Rm
12.1-2).
• O conselheiro deve estar consciente da sua autoridade espiri-

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 189


Práticas psicoteológicas

tual como discípulo de Jesus (Mt 28.18-20).

Procedimentos durante o aconselhamento


• O aconselhamento é sempre uma relação de amor. O conse-
lheiro deve sentir amor pelo que faz e amor pelas pessoas em
aconselhamento, e não ver seu trabalho de conselheiro como
uma obrigação ou um fardo (Jo 15.12-15).
• O conselheiro deve ser humilde. Deve ser humilde para reco-
nhecer seus limites no próprio trabalho de aconselhamento;
humilde para se colocar na dependência de Deus (1Pe 5.6); e
humilde com o objetivo de jamais humilhar a pessoa a quem
presta aconselhamento (1Pe 2.17).
• O conselheiro deve ser um bom ouvinte, não apenas da pessoa
a quem aconselha (Tg 1.19), mas também sensível à voz do Es-
pírito Santo (Hb 3.7-8).
• Quanto às anotações do atendimento:
• Para um aconselhamento que se limitará a apenas um ou no
máximo dois atendimentos raramente o conselheiro preci-
sará fazer anotações do que está sendo tratado, embora tal-
vez seja importante ter anotado a data de agendamento.
• Para todo aconselhamento um pouco mais longo, o uso de
anotações por parte do conselheiro é importante para o
acompanhamento do caso. Lembre-se: nunca confie apenas
em sua memória.
• Cuidado com a segurança de suas anotações e de qualquer
dado que tenha colhido da pessoa em atendimento.
• Nunca passe essas anotações a qualquer outra pessoa,
mesmo que seja outro conselheiro que dará continuidade
ao aconselhamento para a pessoa que você atendeu.
• A não ser em casos realmente justificáveis, jamais utilize es-
sas informações fora do processo de aconselhamento.
• No encontro seguinte:
• Sempre recapitule os pontos principais tratados no encontro
190 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal

anterior.
• Sempre questione o que mudou desde o encontro anterior.
• Caso tenha passado alguma tarefa para o aconselhado fazer
em casa, não se esqueça de verificar se ele realmente cum-
priu tal obrigação.

3- O que o conselheiro deve saber para aconselhar de


maneira eficaz

Os líderes de uma comunidade eclesiástica, de pequeno grupo,


de grupo terapêutico ou conselheiro cristão devem ter em mente que
sempre vão lidar com pessoas. Todas as pessoas têm problemas, al-
guns grandes, outros pequenos; alguns reais, outros imaginários. Para
quem está de fora pode ser um problema insignificante, mas para
quem o tem, geralmente é um grande problema. Portanto, como líder
e/ou conselheiro, esteja pronto a servir de para-choque, pois cedo ou
tarde irá se defrontar com eles. Mas, o mais importante, é que a pes-
soa que o procurou seja acolhida e confortada, e saia do aconselha-
mento sempre edificada e encorajada. O encorajamento ocorre quan-
do os temores e medos são tratados com empatia e amor. Uma das
principais tarefas do líder é trazer palavras de encorajamento e amor
às pessoas emocionalmente envolvidas nos problemas. De qualquer
modo, o conselheiro deve ter em mente alguns aspectos importantes.
O que se segue é um resumo geral da atividade de conselheiro:
1) Evite dar conselhos sem que o tenham pedido, evitando ser
invasivo na vida das pessoas; porém se ver que a pessoa está tomando
um rumo que possa ter consequências negativas no futuro, não hesite
em intervir enquanto é tempo, mas que o faça com prudência, muito
tato e sabedoria, mesmo que a pessoa não tenha pedido sua interven-
ção.
2) Em todas as circunstâncias seja sempre pronto para ouvir e
tardio para falar (Pv 10.19; 12.18; 13.3; 15.23, 28; Ef 4.29; Tg 1.19). É
possível encorajar alguém mais ouvindo que falando precipitadamen-
te. Lembre-se que se a pessoa o procurou é porque tem necessidade
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 191
Práticas psicoteológicas

de falar, então deixe que ela fale.


3) Saiba ouvir de verdade. Isso significa prestar atenção real-
mente no que a pessoa diz, deixando de lado o que você está fazendo,
evitando que seus pensamentos fiquem divagando e, principalmente,
não se precipitando em preparar previamente respostas a perguntas
que ainda não foram feitas, e talvez nunca venham a ser feitas. Ouça o
que a pessoa fala com sua boca, e também o que a pessoa “fala” com
seus gestos e sinais.
4) Incentive a pessoa a falar. Procure saber o que aconteceu,
por que aconteceu, onde aconteceu e como aconteceu, mas princi-
palmente tente captar seus sentimentos. Lembre-se que o foco do
aconselhamento não é o problema da pessoa, mas a pessoa do pro-
blema.
5) Cuidados com as perguntas que não devem ser feitas:
a) Nunca faça perguntas começadas com “Por que...?” Uma
criança se habitua desde pequena a ouvir da mãe: “Por que
você fez isso ou aquilo?” Tal pergunta não é um questiona-
mento, mas, sim, uma repreensão, e quando adulta essa
pessoa continua com tal conceito no seu inconsciente. Subs-
titua essa pergunta por outras como: “Qual o motivo de vo-
cê ter feito isso ou aquilo? Como foi realmente que isso ou
aquilo aconteceu?”
b) Nunca faça perguntas começadas por “não”, como: “Você
não acha que tal coisa poderia acontecer?” A pergunta ne-
gativa já induz a pessoa a uma resposta negativa ou a buscar
uma justificativa para o fato que está sendo apresentado na
pergunta. Substitua essa pergunta por: “O que você acha
que poderia acontecer em função disso ou daquilo?”
c) Nunca faça pergunta que traga a resposta embutida em si
mesma, como: “O que você fez motivou seu marido a agir
como agiu?” Substitua essa pergunta por outras, como: “A
que você atribui o fato de seu marido ter agido como agiu?”
d) Nunca faça perguntas que possam ser respondidas com um
simples “sim” ou “não”, com uma afirmação ou uma nega-
192 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal

ção, como: “Você concorda com o que ele fez?” Substitua


essa pergunta por outras, como: “Qual sua opinião sobre o
que ele fez?”
e) Se possível, substitua a pergunta direta por uma indireta,
por exemplo, ao invés de dizer: “Por que isso aconteceu?”
Diga: “Explique os motivos de tal fato ter acontecido” ou
“Esclareça melhor para mim tal fato...”.
f) E o mais importante: Sempre que possível não faça pergunta
alguma, substitua-a por uma pontuação, ou seja, quando a
pessoa falar algo que precise de explicações, repita o que
ela falou, com a mesma entonação, mas deixe a conclusão
em aberto, por exemplo, a pessoa diz: “Depois de tudo que
Lucas fez, sinto vontade de esganá-lo” Pontue: “Vontade de
esganá-lo!?...”
6) Evite dar conselhos sem pleno conhecimento de causa do
que está acontecendo. Não responda sem antes ter questionado ou
investigado de fato as questões, as circunstâncias e as pessoas envol-
vidas (se possível todas as partes). Conselhos rápidos muitas vezes ig-
noram o problema real, outras vezes geram problemas que antes não
existiam.
7) Seja sensível aos sentimentos alheios. Ao aconselhar, não
use frases como: “você não devia se sentir assim”, ou “isso não foi na-
da” ou outras semelhantes. A questão é que é assim que a pessoa se
sente, e é preciso ouvir com cuidado para descobrir as causas e lhe
oferecer o remédio correto.
8) Seja gentil no seu modo de falar. Não use sarcasmo e nem
críticas desnecessárias. Nunca se descontrole emocionalmente. Lem-
bre-se de que as palavras podem machucar mais que uma espada en-
fiada na carne.
9) Evite os conselhos que parecem ser soluções milagrosas e
instantâneas para todos os tipos de problemas, pois tais soluções
simplesmente não existem, e se existissem aquela pessoa nem teria
ido procurar você.

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 193


Práticas psicoteológicas

10) Antes de emitir qualquer juízo tenha em mente 4 pontos


básicos:
a) Sempre reconheça os méritos das pessoas envolvidas. Evite
antipatias pessoais e preconceitos negativos. Todos têm
qualidades, não existe o pecador e o errado absoluto em to-
do problema. Apenas ouça fatos e não seus próprios juízos
prévios.
b) Não procure defender e nem justificar os erros de ninguém.
Evite simpatias pessoais e preconceitos positivos. Todos po-
dem ter alguma parcela de culpa e o inocente absoluto tal-
vez não exista. Apenas ouça fatos e não seus próprios juízos
prévios.
c) Tenha empatia, isto é, coloque-se no lugar da pessoa envol-
vida. Em seu lugar e nas mesmas circunstâncias você faria a
mesma coisa? Se você achar que é o perfeito absoluto e que
jamais cometeria os mesmos erros, é bem provável que vo-
cê seja inapto a opinar sobre o problema em questão.
d) Quando for dar conselhos; (1) apresente o problema de ma-
neira clara; (2) mostre qual o nível de responsabilidades da
pessoa envolvida; (3) não tome partido de nenhum dos la-
dos; (4) tenha um parâmetro de conduta estabelecido na
Bíblia e na justiça, mesmo que isso possa representar um ju-
ízo contra si mesmo.
11) Apresente:
a) Soluções quando possíveis ao problema, mas nunca tome
uma decisão pela pessoa em aconselhamento com relação
ao seu problema. O problema é dela e cabe a ela tomar de-
cisões com relação ao seu problema.
b) Discuta possíveis opções de ações a serem desenvolvidas.
c) Procure descobrir opções para o caso de a solução não ser
bem recebida ou não se mostrar satisfatória.
d) Se nada for possível procure pelo menos ser simpático ou
empático, e “orar e chorar” com a pessoa que sofre, se for o
caso.
194 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho
Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal

12) Fale somente a verdade, por mais que ela possa ser dura e
até ser algo contra você mesmo, mas fale a verdade com amor (Ef
4.15, 25). Porém considere se é realmente preciso que se fale essa
verdade, pois mesmo a verdade pode causar mais danos que soluções.
13) Tenha em mente que ao aconselhar outra pessoa, o conse-
lheiro é responsável pelo processo e não pelos resultados, portanto
não espere uma solução rápida e perfeita. Muitas vezes nem ao me-
nos espere uma solução. Ela poderá não vir ou nem existir.
14) Lembre-se sempre que as pessoas estarão mais dispostas
a seguir seus exemplos que seguir seus conselhos.

1.2. Confrontar e amar são ideias opostas ou ideias com-


plementares?

Quando se defronta com um problema de relacionamento,


muitas vezes é conveniente que se minimize ou até se ignore o pro-
blema, outras vezes será preciso confrontá-lo frente a frente na busca
de uma solução.
Quando o assunto não merece muita atenção, o melhor é igno-
rá-lo, mas quando ele é importante e pode se desdobrar em proble-
mas maiores no futuro, não se pode simplesmente ignorá-lo. Por ou-
tro lado, se uma confrontação não trará a solução adequada talvez se-
ja melhor evitá-la. A confrontação só será útil se realmente servir para
a busca de uma solução satisfatória. O importante é que em qualquer
situação prevaleça o amor. Philip Melanchthcen (1497-1560) dizia:
“Unidade no essencial, tolerância no secundário, amor em tudo”.
Algumas pessoas acham que (1) quem ama verdadeiramente
não confronta, para não ferir os sentimentos do amado; (2) outros
acham que em um confronto eficaz o amor deve ser desconsiderado,
pois numa situação de confronto, qualquer manifestação de amor po-
derá ser entendida como falsidade ou fraqueza.
As duas argumentações estão incorretas, pois confrontação e

Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 195


Práticas psicoteológicas

amor devem estar juntos, a fim de promoverem o equilíbrio e apro-


fundarem relacionamentos genuínos. Quem ama verdadeiramente
quer o melhor do próximo e o seu crescimento, mesmo nas situações
de conflito. Quem confronta verdadeiramente quer soluções válidas e
justas. Portanto o amor genuíno permite a confrontação verdadeira.
Assim na busca da verdade, o amor e a confrontação não são ideias
opostas, mas complementares. “Muitas pessoas não têm em suas vi-
das quem as ame o bastante para lhes dizer a verdade”.
Confrontar não é desacatar ou ficar fazendo acusações; con-
frontar é mostrar o erro cometido e suas implicações. Confrontar não
é ser indulgente com o erro, mas sim ser cuidadoso com suas palavras
de tal modo que produza edificação, e não sentimento de derrota.

A confrontação envolve a indicação do pecado na vida de um


auxiliado, mas não é limitada a isso. Podemos confrontar o au-
xiliado com seu comportamento inconsistente (“Você diz que
ama a sua esposa, mas a trata mal”; “Alega gosta de esportes,
mas nunca participa”) ou com seu comportamento de autoder-
rota (“Quer ter sucesso, mas estabelece alvos tão elevados que
tem certeza de que fracassará”) ou com sua tendência a evitar
as questões difíceis (“Você diz que quer crescer espiritualmen-
te, mas cada vez que surge esta questão difícil, você muda de
assunto”).
A confrontação é uma tarefa difícil. Deve ser feita de modo su-
ave, e sem julgar (Gl 6.1; Mt 7.1), mas o ajudador deve ter co-
ragem suficiente para desafiar a resistência aberta ou passiva
de um auxiliado que talvez não queira enfrentar a realidade do
pecado ou da inconsistência em sua vida. Lembre-se de que a
tarefa do ajudador não é condenar, mas, sim, ajudar, não des-
pertar problemas, mas, sim, curar. Às vezes, no entanto, a cura
deve ser precedida por cirurgia dolorosa. Reconheça, portanto,
que o auxiliado pode se sentir ameaçado quando é confronta-
do. O ajudador, portanto, deve dar apoio mesmo enquanto
confronta, e deve dar ampla oportunidade para o auxiliado
responder à confrontação ou mediante a expressão das suas

196 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


Prática psicoteológica 1: Aconselhamento pessoal

reações ou mediante a alteração do seu comportamento...


(COLLINS, 2002, págs. 48-49).

1.3. O perdão e a administração da perda

No aconselhamento muitas vezes o conselheiro deve atuar


como um gerenciador de conflito entre partes beligerantes, e uma das
principais atividades para o gerenciador de conflito é levar as pessoas
à prática do perdão.

Conclusão: O desafio do aconselhamento pessoal

Um dos maiores erros que as igrejas e os crentes em geral co-


metem é partir do princípio de que uma vez que a pessoa se converta,
automaticamente é livrada de todos seus antigos vícios, manias, defei-
tos de caráter, transtornos emocionais etc.
Muitas líderes e conselheiros religiosos sabem que todo crente
vive uma luta constante contra o pecado, e por isso começaram a criar
algum sistema de apoio psicológico e espiritual, e de libertação emo-
cional, mental, comportamental, social, existencial e espiritual, através
do aconselhamento psicoteológico pessoal.
Aconselhar pode ser uma arte, pode ser uma técnica, mas prin-
cipalmente é um ministério. O conselheiro deve ter em mente que ele
não é solucionador de problema da pessoa, mas sim orientador da
pessoa do problema. O conselheiro está ali para oferecer um ombro
amigo para ajudar a pessoa a se transformar na melhor pessoa que ela
mesmo pode ser. O conselheiro deve funcionar como uma espécie de
superego18 auxiliar para a pessoa que busca aconselhamento, mas não

18
O superego ou supraego (acima do ego) designa a parte consciente e
inconsciente do indivíduo que o leva a criar ou se submeter a leis, regras,
normas de caráter moral. É a voz da consciência, o seu legislador moral, juiz
Gilson A. Pinho “Informar, Formar, Transformar” 197
Práticas psicoteológicas

um superego acusador e repressivo, e sim um superego revelador e


edificador. Um superego que não aprisiona, mas liberta a pessoa de si
mesma.
Para o conselheiro, todo aconselhamento é sempre um desa-
fio, onde uma vez começado nem sempre é possível prever o resulta-
do, mas se for feito com técnica e ética é possível trabalhar na busca
de um resultado eficaz, eficiente e também efetivo na vida de quem
buscou o aconselhamento.

e censor (proibidor) das transgressões. Aqui predomina o sentimento de ver-


gonha e culpa.

198 “Informar, Formar, Transformar” Gilson A. Pinho


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