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Reinhard Hirtler
Tradução
Daniel Soares
Matheus Corrêa/Daniel Mesquita
Capa
Priint Editora
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sem permissão por escrito,
exceto para breves citações, com indicação da fonte.
Exceto em caso de indicação em contrário, todas as citações bíblicas foram
extraídas da Bíblia King James Atualizada, 2ª edição, da Sociedade Ibero-
Americana, ©. Todos os direitos reservados.
A ÁRVORE
Nossa natureza pecaminosa é como uma árvore frutífera. Os
frutos são nossas ações pecaminosas. Frequentemente, como
cristãos, tentamos impedir que esses frutos pecaminosos sejam
produzidos na árvore de nossa vida. Nosso foco volta-se às nossas
ações pecaminosas, representadas pelos frutos. Constantemente,
tentamos impedi-los de frutificar, como se fosse possível. Do mesmo
modo, tentamos, sem alcançar sucesso algum, parar a frutificação
de nosso comportamento pecaminoso.
O que acabamos de mencionar ainda pode ser ilustrado por uma
árvore que produz frutos venenosos. Imagine-se querer impedir a
proliferação desses frutos; então, decide-se fazer uma operação
para retirá-los da árvore; isso seria um trabalho em vão, pois outros
frutos brotarão e crescerão. A retirada dos frutos de uma árvore não
impede sua frutificação. A tentativa de se retirar esses frutos é uma
batalha perdida, pois a árvore permanece viva e, por ser frutífera,
continuará a dar frutos. Nesse caso, o que se deve fazer é arrancar
a árvore pela raiz, pois enquanto a árvore tiver vida, continuará
produzindo frutos.
O mesmo acontece em relação aos comportamentos
pecaminosos em nossa vida. Se constantemente tentarmos nos
livrar dessas ações pecaminosas, escorregaremos da graça para as
obras. Agir dessa forma seria acreditar que remover os frutos da
árvore de nossa natureza pecaminosa, viva em nosso interior,
depende de nós. Isso é muito frustrante, pois enquanto essa árvore
estiver viva, seus frutos não vão parar de crescer,
independentemente de nosso esforço de nos livrarmos deles.
Se quisermos viver em vitória sobre nossos “pecados”, temos que
parar de tentar alcançar vitória sobre os nossos pecados! Posso
ouvir as pessoas gritando comigo: “como você pode dizer isso? É
claro que temos que tentar alcançar a vitória sobre os pecados!”
Absolutamente, não! Quando tentamos alcançar a vitória sobre
nossos comportamentos pecaminosos, o que fazemos, na verdade,
é nada além de tentar impedir o nascimento do fruto pecaminoso da
árvore. O que precisa ser feito, de fato, é destruir a árvore, bem
como suas raízes, para que, desse modo, ela não frutifique mais. Se
estivermos constantemente tentando produzir menos frutos de
nossas ações pecaminosas, a verdade é que já caímos na
religiosidade das obras. Precisamos entender que esse tipo de
crença caminha contra o poder da cruz, que é o centro do
cristianismo.
Isso significa que disciplina não é importante na vida cristã? É
claro que não significa isso! Lembremo-nos de que um dos atributos
do fruto do Espírito é o domínio próprio. Estou convicto de que uma
vida de disciplina é muito importante para alcançarmos o propósito
de Deus. Entretanto, a vida de disciplina não destruirá nossa
natureza pecaminosa. Foi a obra consumada da cruz1 que destruiu
o “pecado” em nós; só podemos nos apropriar dessa verdade pela
fé no trabalho da cruz, e não pela nossa auto-disciplina.
Os cristãos que tentam vencer o comportamento pecaminoso
através da auto-disciplina são, de fato, fariseus modernos2. Deus
não se agrada do farisaísmo, porque os fariseus eram focados em
suas boas obras e, por serem assim, destruíram a vida de muitas
pessoas. O problema de vencer o “pecado” com nossa auto-
disciplina está no fato de que as nossas obras nos deixam muito
orgulhosos; corremos sempre o risco de nos vangloriar de nosso
trabalho e, ao mesmo tempo, julgar aqueles que, porventura, não
alcançaram o nosso padrão.
Esse problema coopera contra a glória de Deus, pois uma vez
que damos toda glória para nós mesmos, não deixamos glória
nenhuma para Deus. As pessoas que sempre glorificam a si
mesmas por suas conquistas não acreditam, verdadeiramente, no
trabalho consumado da cruz. Eles até podem dizer que creem, mas
no fundo do coração, não estão convictos disso; por essa razão,
constantemente, procuram chamar atenção às suas próprias
conquistas.
A destruição de nossa natureza pecaminosa e a vitória sobre o
“pecado” devem ser um trabalho completo e pleno da graça, isento
de qualquer ajuda nossa. Se o trabalho da graça recebesse
qualquer ajuda nossa, não seria graça. A graça não pode ser obtida
pelo nosso trabalho; ela só pode ser recebida pela fé. Vejamos o
que nos diz Romanos 11:6:
Portanto, se é pela graça, já não o é mais pelas obras;
caso fosse, a graça deixaria de ser graça.
Há somente dois caminhos: graça ou obras, e eles não podem
ser misturados. Nessa questão não há espaço para nenhuma zona
acinzentada: ou será branca ou preta, tudo tem que ser claro, e não
há lugar para o oculto. Uma vez que nossa natureza pecaminosa é
o problema central, e não os pecados que cometemos, nosso foco
deve ser o trabalho consumado na cruz; em hipótese alguma
podemos contar com a possibilidade de haver nossa própria
habilidade de vencer o pecado. Precisamos viver em total confiança
no trabalho consumado da cruz. Caso queiramos vencer o pecado
em nossa vida através da auto-disciplina, não somente iremos
falhar, como, também, iremos desafiar a obra libertadora da cruz.
O LIVRO DE ROMANOS
Eu li o livro de Romanos e me atentei para cada passagem onde
as palavras pecado, pecados ou pecar foram mencionadas. Ao olhar
para o original grego, descobri que a palavra pecado como
substantivo aparece 40 vezes, enquanto, como verbo, aparece
apenas 7 vezes em 6 versos.
Vemos claramente que o problema ao qual o apóstolo Paulo se
refere nessa carta não é o de cristãos cometerem algum pecado,
pois, nesses seis versículos onde o verbo é usado, apenas uma vez
ele está se referindo a cristãos. Em Romanos 6:15, ele diz, “E então,
devemos pecar porque não estamos debaixo da Lei e sim da graça?
Claro que não!”. A mensagem clara no livro de Romanos é que
nossa natureza pecaminosa foi resolvida na cruz, portanto, os
cristãos não precisam mais pecar. Eu quero lembrá-lo de que,
quando o substantivo é usado, está se referindo à nossa natureza
pecaminosa, enquanto o verbo é usado para se referir ao pecado
que cometemos. É como se o pecado como substantivo fosse uma
árvore, e o pecado como verbo fosse o fruto.
Ao longo de muitos séculos, a igreja cometeu o erro de colocar o
foco no ato de pecar em vez de ensinar acerca do que aconteceu
com a natureza pecaminosa na cruz. É claro, não podemos tratar o
pecado levianamente, porque a Bíblia não o faz. Mas colocar o foco
em tentar não pecar, ignorando a verdade bíblica da morte da
natureza pecaminosa, é uma atitude superficial e religiosa que
somente nos conduzirá a um círculo vicioso, fazendo com que nos
sintamos frustrados e condenados. Quando nosso coração se
apegar ao que Paulo ensinou aos romanos, que nosso foco deve
estar no que aconteceu com nossa natureza pecaminosa (pecado
como substantivo), então o ato de cometer um pecado (verbo) será
vencido de maneira natural.
A PERGUNTA IMPORTANTE
Quero desafiá-lo com uma pergunta importante. Se você
escrevesse os pecados que você tentou vencer quando foi salvo,
listados um por um (um debaixo do outro) e, depois, escrevesse na
frente de cada pecado: por que você tenta parar com esses
pecados? Será por medo ou por consequências vindas de Deus?
Será por medo de não ir para o céu? Ou será por medo de ser
rejeitado por Deus? Talvez você queira ser aceito por Deus tão
desesperadamente que isso o levou a pensar: se não vencer esses
pecados, Deus não me amará nem me aceitará livremente nem
inteiramente.
Todas essas razões são, absolutamente, terríveis e anti-bíblicas.
Somos simplesmente aceitos e amados por Jesus Cristo e
precisamos crer nEle. Pela fé, estamos em Cristo, e totalmente
desligados pela justiça de qualquer uma de nossas obras. Se não
crermos completamente nesta verdade de todo o nosso coração
nem estivermos convictos de que somos amados e aceitos
completamente, independentemente de nossos esforços e obras,
sempre lutaremos contra o pecado e, certamente, contra pecados
ocultos e secretos. Por que posso falar isso tão ousadamente?
Porque todas essas razões para se parar de pecar são terríveis e
sem nexo, elas não têm o poder de destruir o pecado em nós.
MOTIVOS DIFERENTES
Agora que nós entendemos o que significa pecado e aprendemos
acerca das motivações erradas para vencê-lo, quero lhe mostrar
dois motivos certos para vencermos o pecado. O primeiro é
entender as consequências de pecar.
Cada pecado que cometemos tem sua consequência. Alguns
pecados têm consequências imediatas, enquanto outros podem
permanecer sem nenhuma consequência por muito tempo. É muito
perigoso nos convencermos de que, porque não vemos
consequências de imediato, o pecado não tem tanta importância.
Podemos escolher nossas ações, mas não podemos escolher as
consequências delas.
Uma pessoa pode até cometer adultério, mesmo assim não será
punida por Deus, afinal, Cristo levou sobre Si toda punição pelos
pecados. Contudo, as consequências do pecado ainda podem ser
devastadoras. Além do risco de contrair doenças, pode-se perder a
família, causar uma gravidez indesejada e assim por diante.
Uma das consequências mais sérias do pecado é sua influência
negativa em nosso coração. Em Provérbios 4:23, lemos que
devemos guardar nosso coração com toda diligência, pois dele
procedem as fontes da vida. Nós não fomos criados para o pecado,
pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Jesus disse
algo poderoso que está registrado em Lucas 17:20-21: “Interrogado
pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes
respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem
dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de
vós”.
Jesus não disse isso a cristãos, mas aos fariseus que não eram
nem salvos. O reino de Deus está em cada fibra do ser humano.
Isso significa que cada vez que nós pecamos, não pecamos apenas
contra Deus, mas também contra nós mesmos. Uma vez que
entendermos que o pecado influencia nosso coração e a fonte de
vida que procede dele, seremos sábios ao nos afastar do pecado.
Há uma segunda consequência para o pecado que deveria
preocupar todos os cristãos: o pecado desagrada a Deus, aquele
que nos ama profundamente e pagou um preço tão alto para nos
comprar. Esta, sozinha, deveria ser razão suficiente para nós nunca
desagradarmos a Ele. Muitos cristãos me falam que a fé agrada a
Deus e nada mais importa, mas esta não é uma verdade bíblica. O
Novo Testamento nos ensina várias coisas que agradam ou
desagradam a Deus. Jesus, nosso maior exemplo, disse em João
8:29: “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só,
porque eu faço sempre o que lhe agrada”. Jesus não estava
falando acerca de fé, mas de um estilo de vida que Ele viveu e
coisas que Ele fez para Seu Pai.
3
VITÓRIA SOBRE O PECADO
O único modo pelo qual podemos viver em vitória sobre o pecado
é acreditar e receber nossa vitória pela fé. Somente pela
apropriação daquilo que Cristo fez por nós na cruz, conseguiremos
a vitória sobre todo o nosso comportamento pecaminoso. Basta
crermos na verdade da Bíblia claramente escrita em II Coríntios
5:17:
Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as
coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo.
No dia em que nascemos de novo e fomos salvos,
sobrenaturalmente, fomos criados, outra vez, novinhos em folha por
Deus. No momento em que experimentamos a alegria da salvação,
nossa velha natureza morreu na cruz e um novo “ser” foi criado. Se
não vivermos pela fé nesta verdade bíblica, a vitória nos será
impossível. Precisamos estar certos de que, do mesmo modo que a
fé na morte de Jesus na cruz trouxe perdão para os nossos
“pecados” e nos salvou, a fé no trabalho consumado da cruz nos
trará a vitória sobre nossa “natureza pecaminosa”. Éramos
incapazes de salvar a nós mesmos, como, também, somos
incapazes de vencer nossa natureza pecaminosa por nós mesmos.
Todas as bênçãos espirituais que nos pertencem por direito
somente se tornarão realidade em nossa vida se nos apropriarmos
delas pela fé. Como escrevi em meu livro “Fé”, muito
frequentemente, cremos que as circunstâncias e aquilo que
sentimos são a verdade; infelizmente, cremos mais nessas coisas
que na Palavra de Deus. Em vez de mudarmos esse modo de crer,
fundamentado nos sentimentos e nas circunstâncias, somos
tentados a agir exatamente como os gálatas agiram: eles iniciaram a
vida espiritual no Espírito e continuaram-na pelo esforço da carne.
O que acontece frequentemente é que tentamos vencer os
pecados em nossa vida lutando contra eles, em vez de obedecer à
Bíblia, crendo que nossa natureza pecaminosa foi destruída na cruz.
Quando agimos assim, operamos diretamente contra o poder da
cruz. Quando não vivemos pela fé no trabalho consumado da cruz,
constantemente, temos nosso foco em nosso comportamento
externo. É assim que nos tornamos religiosos: quando os frutos da
árvore venenosa continuam crescendo e crescendo, nos tornamos
incapazes de removê-los; portanto, mudamos de estratégia:
passamos a pintá-los, mesmo que sejam podres, iludindo-nos
quanto ao fato de que um pouco de tinta os fará de melhor
aparência.
Como religiosos, tentamos agir aparentemente bem quando
estamos em frente das pessoas, mesmo que o nosso coração não
tenha mudado; mesmo que permaneça em nós a velha natureza,
comportamo-nos como santos. Isso é hipocrisia, e Deus não deseja
que sejamos hipócritas. Ele não quer que os frutos ruins de nossa
vida tenham uma aparência um pouco melhor; Ele deseja que
creiamos no trabalho consumado da cruz para vivermos em vitória,
totalmente livres de nossa velha natureza pecaminosa. Em Gálatas
5:1 diz:
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! Portanto,
permanecei firmes e não vos sujeiteis outra vez a um
jugo de escravidão.
Quero que observemos que Paulo escreveu essa sentença no
passado; ele não disse “Cristo irá nos libertar”, mas escreveu:
“Cristo nos libertou”. Como pode ser que muitos de nós não
experimentamos essa liberdade? Creio que as principais razões de
muitos não experimentarmos essa verdade são: o fato de não
crermos que Cristo já nos libertou de nossa natureza pecaminosa e
o fato de não termos aprendido a permanecer firmes na liberdade
que Cristo nos deu.
Vale ressaltar que “permanecer” significa que,
independentemente das circunstâncias, sejam elas as mais terríveis
possíveis, de modo algum acreditaremos na mensagem que elas
querem nos trazer; “permanecer” significa crer na verdade da
Palavra de Deus acima de qualquer coisa. Vamos olhar o texto
escrito em Gálatas 5:24:
Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne,
com as suas paixões e os seus desejos.
A Bíblia faz essa afirmação como um fato, pois uma vez que
fomos salvos, pertencemos a Cristo e, portanto, é uma verdade
bíblica que as paixões e desejos da nossa carne foram crucificados.
Em nosso espírito há um desejo mais forte de seguir e obedecer a
Cristo do que de vivermos em nossas ações pecaminosas. A
destruição de nossa natureza pecaminosa é um caso encerrado3. O
que precisamos fazer é crer, receber e confessar em fé as
promessas de Deus.
Nossos esforços próprios nunca nos darão vitória sobre o
“pecado”. Compreendo que tudo isso parece muito simples e posso
imaginar que muitos estejam pensando: como posso experimentar
essa verdade em minha vida prática? Como autor, peço que você
permaneça lendo este livro e confie que, mesmo antes de terminá-
lo, você terá encontrado a resposta.
A OBRA DA CRUZ
Deixei bem claro que é apenas pela fé na obra consumada da
cruz que nós podemos experimentar da vitória de Cristo. Entretanto,
fé sem obras ou ações é o que a Bíblia chama de fé morta. O que
nós, de fato, cremos não é medido pelo que dizemos crer, mas por
como agimos ou respondemos em situações difíceis. Como Paulo
nos fala, já que estamos mortos para o pecado, devemos agir em
conformidade com isso.
Há uma verdade simples, porém poderosa, que, quando aplicada,
ajudará você a andar em vitória sobre o pecado. Eu aprendi isso
com meu amigo John Hansen, que a chama de “quebrando o
triângulo da tentação”. Obviamente, esse triângulo possui três lados,
que chamaremos de pressão, oportunidade e racionalização.
Entendendo cada um e quebrando o ciclo desse triângulo, podemos
experimentar o poder da cruz.
O primeiro lado desse triângulo é chamado de pressão. Todos
nós sofremos pressão para pecar, mas esse não é o problema real.
Na verdade, o problema começa quando nos rendemos à pressão
em vez de vivermos por meio da obra consumada da cruz. A
pressão pode vir de várias fontes: pode ser interna, gerada por
nossas necessidades emocionais não satisfeitas, hábitos errados
que estabelecemos, vícios etc.; ou pode ser externa, vinda de
nossos parceiros, membros da família, autoridades, sociedade,
igreja, cultura etc.
Quando enfrentamos uma pressão para pecar e não quebramos
esse triângulo, mas permitimos que a pressão permaneça, a
oportunidade para pecar, que é o segundo lado do triângulo,
certamente aparece. Se nós ignorarmos ou relevarmos a pressão,
será mais difícil resistir à tentação quando a oportunidade aparecer.
É por isso que Jesus diz que aquele que olhar para uma mulher com
intenção impura no coração já cometeu adultério com ela.
Precisamos parar a tentação no início, caso contrário, quando a
oportunidade vier, embarcaremos nela.
Após cedermos à oportunidade de pecar, o terceiro lado do
triângulo aparece, e nós o chamamos de racionalização. Se
escolhermos racionalizar nosso comportamento pecaminoso,
seremos consumidos por ele e ficaremos presos no ciclo do
triângulo da tentação. De acordo com o dicionário, racionalização é
“o ato de justificar um comportamento ou atitude com razões
lógicas, mesmo sendo algo inapropriado”. Se nós acabarmos caindo
em pecado, precisamos evitar a todo custo a racionalização dele,
caso contrário, não andaremos em vitória. Muitas pessoas já
racionalizaram o pecado quando passaram por pressão.
EXEMPLO BÍBLICO
Há muitos exemplos bíblicos que nos mostram como esse
triângulo funciona na vida das pessoas, mas escolhi apenas um, de
um homem muito conhecido, registrado em Gênesis 39. É a história
de José e a esposa de Potifar, em que ele sofreu a pressão e teve a
oportunidade, mas se recusou a racionalizar quando confrontado
pela tentação, e por isso pôde andar vitoriosamente. Nos versos 8 a
10, lemos o seguinte: “Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu
senhor: Tem-me por mordomo o meu senhor e não sabe do que há
em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele
não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou,
senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha
maldade e pecaria contra Deus? Falando ela a José todos os dias, e
não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela”.
Lendo esses versos, podemos ver claramente o triângulo. José se
deparou com a pressão interna do desejo hormonal por sexo,
natural em todo jovem; sofreu a pressão externa de uma mulher de
influência e poder que queria dormir com ele; e teve a oportunidade
quando estava sozinho na casa com aquela mulher. Se ele tivesse
racionalizado o pecado com antecedência, certamente teria
sucumbido diante da tentação. A Bíblia relata que aquela mulher
tentou dormir com José todos os dias, mas ele nunca racionalizou
tal comportamento pecaminoso. A resposta que ele deu a ela
mostrou que ele quebrou o triângulo logo no início, quando a
pressão veio. Esse é o caminho para andar em vitória.
LIBERDADE DA ESCRAVIDÃO
Quando a Bíblia fala sobre a libertação da “força atraente” do
pecado e da morte em Romanos 8, ela usa uma palavra grega muito
interessante para liberdade. Quero enfatizar o fato de que o
apóstolo Paulo escreveu este versículo no passado: “Ele te libertou”.
A afirmação vem escrita como um fato que aconteceu há quase dois
mil anos na cruz. A palavra grega usada como libertar era
comumente empregada para se tratar de escravos. Quando o dono
dava liberdade a um escravo, ele tinha que escrever uma certidão
de libertação, porque naquela cultura os escravos eram marcados e,
por causa da marca, eram sempre considerados escravos. Isso
acontecia para resguardar os donos em caso de fuga de qualquer
escravo, pois, por serem marcados, caso fugissem, eram
identificados facilmente e devolvidos à quem pertenciam.
Todavia, se um escravo tivesse uma certidão provando sua
libertação, ninguém tinha permissão para escravizá-lo novamente.
Em Romanos 8, a palavra escravizar empregada referia-se à nossa
situação de escravos. Entretanto, Cristo pagou nosso preço de
liberdade para, finalmente, termos o direito legal de sermos livres do
poder do pecado. Dessa forma, nem o pecado (natureza
pecaminosa) nem o diabo têm qualquer autoridade legal para nos
escravizar outra vez.
A pergunta é: em que acreditamos? Será que acreditamos termos
sido libertos do poder do pecado pelo simples fato de aceitar a obra
consumada da cruz? Ou, será que acreditamos ser preciso lutar
arduamente para não pecar?
A escravidão ainda era legal nos EUA no século XIX. Naquela
época, Abraham Lincoln era o presidente da república americana.
Ele assinou um documento legal em 1862 chamado de
“Proclamação Emancipatória”. Aquele documento legal declarou que
cada escravo tinha o direito à liberdade.
Contudo, ainda havia um problema: naquela época, os EUA
estavam em guerra civil6. Por causa dessa guerra, os escravos não
foram informados de suas liberdades legais, apesar de livres. A
grande maioria deles eram analfabetos e, portanto, não conseguiam
ler aquela notícia maravilhosa. A guerra civil americana terminou 3
anos depois da lei emancipatória, em abril de 1865. A maioria dos
escravos permanecia vivendo em escravidão mesmo estando livres
há mais de três anos. Eles eram livres, porém viviam como
escravos. A libertação dos escravos nos EUA tornou-se totalmente
realidade somente em 18 de dezembro de 1865, quando os
escravos agiram em liberdade deixando os seus senhores.
Isso é exatamente o que o diabo quer fazer conosco. Ele quer
nos levar a uma posição em que continuaremos vivendo em
cadeias, mesmo que nossa liberdade já tenha sido declarada legal.
Se não conhecemos nem compreendemos nosso direito de
liberdade ou se ainda não acreditamos nele, continuaremos
escravos do pecado, apesar de estarmos livres.
Se quisermos viver uma vida livre do pecado, temos somente
duas opções: uma delas é crer e abraçar a vitória da cruz em que
nossa natureza pecaminosa foi declarada sem poder. Se não
abraçarmos essa verdade completamente através da fé, nossa
única outra opção será lutar com todas as nossas forças contra
nossos comportamentos pecaminosos.
Essa luta é resultante da obra da carne e faz a graça se tornar
inoperante, absolutamente sem poder. Não crer na obra da cruz nos
coloca em um ciclo vicioso: desejar vencer o pecado, tentar vencer
o pecado, falhar, lutar contra a condenação e, depois, tentar tudo
novamente com mais esforço. A vida, dessa forma, é muito triste,
frustrante e cansativa. Muitos cristãos até desistiram dessa luta
aceitando que certos comportamentos pecaminosos nunca iriam
mudar em sua vida. Isso não deveria ser assim.
LIBERDADE COMPLETA
No versículo 7 do capítulo 6, Paulo continua a argumentação
sobre a liberdade ao dizer:
Porquanto, todo aquele que morreu já foi justificado do
pecado.
Todos esses versículos são afirmações de um simples fato, de
algo que aconteceu no passado. O versículo 14 continua:
Porquanto o pecado não poderá exercer domínio sobre
vós, pois não estais debaixo da Lei, mas debaixo da
graça.
A única maneira de o pecado não ter controle sobre nossa vida é
se pararmos de viver debaixo da Lei. Sempre que tentamos viver
sob a Lei, o pecado tem poder e domínio sobre nós. Somente
podemos viver em vitória quando vivermos debaixo da graça, que
não é uma licença para pecarmos, mas o dom divino da liberdade
do pecado.
Nos versículos 17 e 18, Paulo continua a falar daquilo que a obra
da cruz conquistou no passado. Ele afirma: vocês eram escravos do
pecado e foram libertos7. Outra vez, Paulo não trata de algo que irá
acontecer quando formos para o céu, do modo como muitos cristãos
acreditam e pregam; ele fala de uma ação completa e totalmente
terminada no passado. O versículo 18 continua, e sendo libertos do
pecado, tornaram escravos da justiça8. Precisamos observar que a
palavra empregada é “pecado” no singular, e não a palavra pecados
no plural; isso significa que Paulo refere-se à nossa natureza
pecaminosa, da qual estamos completamente livres. Se voltarmos à
alegoria da árvore venenosa, podemos afirmar, categoricamente,
que ela já foi arrancada pela raiz e está completamente destruída.
Ao aprendermos a viver pela fé nesta verdade poderosa, a graça
fará toda a obra em nossa vida. Precisamos parar de lutar contra o
“pecado” e de tentar vencê-lo com o nosso esforço próprio, em vez
disso, precisamos viver a vitória da cruz.
O PERIGO DO ORGULHO
O orgulho é como o mau hálito, todo mundo o percebe, exceto
aqueles que o têm. São as pessoas que caminham em humildade e
em completa dependência da graça de Deus que viverão em vitória
sobre o pecado. Tentar vencer o pecado em nossa própria força ou
auto-disciplina nos fará orgulhosos da suposta conquista, o que
infalivelmente nos transformará em fariseus da modernidade. Isso
nunca nos dará a verdadeira vitória, mas simplesmente nos fará
parecer melhores diante de outras pessoas. O fato é que nos
tornaremos o tipo de pessoa que finge querer uma coisa, enquanto,
na verdade, o coração deseja outra. Por exemplo, por causa de uma
teologia e de uma crença errada, fingimos não querer ser prósperos
financeiramente; mas, se olharmos nosso coração, perceberemos
que desejamos, de fato, receber mais e mais as bênçãos
financeiras. Isso é hipocrisia! Deus deseja que nossas ações e
coração estejam em perfeita unidade. Ele não quer que vivamos
com conflitos internos.
Uma vida de hipocrisia não somente produzirá orgulho em nós,
como, também, nos levará a ter um coração endurecido para com
as pessoas que julgamos serem mais fracas que nós. Isso nos fará
parecer bons cristãos em público, mas, quando estamos em
secreto, em nosso interior, lutamos contra hábitos pecaminosos que
ninguém conhece. Deus adverte contra o orgulho em Tiago 4:6
quando diz:
Todavia, Ele nos outorga graça ainda maior. Por isso,
declara a escritura: Deus se opõe aos arrogantes11 mas
concede graça aos humildes.
Se crermos que temos o poder para vencer o pecado em nossa
vida pelo nosso próprio esforço, caímos no orgulho. Se crermos
dessa forma, somos melhores que as gerações passadas e,
portanto, desafiamos a cruz e o sacrifício de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Todavia, se abraçarmos a vitória da cruz e vivermos uma vida em
que o pecado não nos controla, absolutamente, não teremos nada
em que nos orgulhar. O apóstolo Paulo compreendeu isso muito
bem. Ele sabia que não havia nada em que se orgulhar, a não ser
na cruz e no Senhor Jesus Cristo. O diabo ama nos levar ao
orgulho, porque ele conhece a Bíblia. Isso pode ser visto em Mateus
4, quando Jesus estava no deserto; ali o diabo citava a Bíblia para
Ele.
Satanás sabe que o orgulho nunca pode alcançar a vitória sobre
o pecado, por isso, ele tentará nos jogar numa armadilha cruel e
cíclica: primeiro, ele nos leva a tentar, arduamente, vencer o
pecado; depois, ele nos permite ter um pouco de sucesso nessa
batalha, pois sabe que logo nos sentiremos orgulhosos, pois, como
agimos com o nosso esforço, nos acharemos fortes; depois do
orgulho, vem a derrota triunfal, que nos leva, geralmente, de volta à
primeira fase do ciclo, que é tentar vencer o pecado e, dessa forma,
caímos em constantes e repetidas tentativas e fracassos. Há uma
bela passagem escrita em I Coríntios 1:27 a 31:
Pelo contrário, Deus escolheu justamente o que para o
mundo é insensatez para envergonhar os sábios, e
escolheu precisamente o que o mundo julga fraco para
ridicularizar o que é forte. Ele escolheu o que do ponto de
vista do mundo é insignificante, desprezado, e o que
nada é, para reduzir a nada o que é, com o objetivo de
que nenhuma pessoa se vanglorie perante Ele. Portanto,
vós sois dEle, em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós
sabedoria da parte de Deus, justiça, santificação e
redenção, a fim de que, como está escrito: aquele que se
gloria, glorie-se no Senhor.
Esses versículos nos mostram que Deus escolheu as coisas
fracas do mundo para envergonhar as que são poderosas. Por que
Deus fez assim? Eu me fiz a seguinte pergunta várias vezes: “Por
que Deus me escolheu para servi-lO?” Eu tinha muitas coisas contra
mim: família, incapacidades pessoais e uma terrível insegurança.
Somente a graça de Deus pôde me transformar no homem que sou
hoje. Há várias pessoas muito mais adequadamente educadas e
talentosas que eu. Mas Deus se alegra em usar as coisas fracas,
pois como nos diz o versículo 31, “aquele que se gloria, glorie-se no
Senhor”. Isto é a verdadeira humildade: andar em vitória sobre a
natureza pecaminosa pela fé na vitória da cruz. Viver assim fecha
todas as brechas para o orgulho de nossas conquistas.
GRAÇA E VERDADE
Para vivermos uma vida de vitória sobre o pecado, precisamos
entender dois elementos: graça e verdade. João 1:14-17 ilustra isso
belamente:
E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Vimos a
sua glória, glória como a da Unigênito do Pai, cheio de
graça e verdade. João testemunha sobre Jesus e
exclama, dizendo: Este é aquele de quem eu disse: Ele,
o que vem depois de mim, tem a excelência, porquanto já
existia antes de mim. E da sua plenitude todos nós temos
recebido, graça sobre graça. Porquanto a lei foi dada por
intermédio de Moisés; mas a graça e a verdade vieram
através de Jesus Cristo.
No versículo 14, está escrito que Jesus era a Palavra que se
transformou em carne; Ele era cheio de graça e verdade. A graça
fala da Nova Aliança e a verdade fala da Lei. A Lei não tinha poder
de mudar ninguém. Não havia nada de errado com ela. De fato, a
Bíblia diz que a Lei era boa. O problema estava na natureza
pecaminosa do homem. A Lei era vazia da graça, por essa razão
ninguém era capaz de guardá-la. A graça é sempre definida como
favor imerecido de Deus. Isso é parcialmente verdade, mas não
expressa o significado integral de graça.
A graça é uma habilidade divina dada a nós para fazermos aquilo
que não poderíamos fazer por nós mesmos. A natureza da graça é
ser livre e imerecida, portanto, só pode ser recebida pela fé. Porque
não havia graça na lei, ninguém era capaz de guardá-la. A lei
simplesmente estabeleceu um padrão e nos mostrou como Deus
queria que vivêssemos, mas isso não nos deu habilidade alguma
para vivermos segundo o padrão estabelecido nem alcançar o estilo
de vida de Deus.
Em João 1:17 a Bíblia nos mostra um contraste entre a lei dada
por Moisés e Jesus Cristo. Está escrito: Porquanto a lei foi dada por
intermédio de Moisés; mas a graça e a verdade vieram através de
Jesus Cristo. O perdão de nossos pecados não é graça, como
muitos cristãos acreditam ser; o perdão de nossos pecados é
misericórdia. Deus, em sua misericórdia, não nos deu aquilo que
merecíamos, ou seja, o seu julgamento. Ele simplesmente poderia
ter nos perdoado os nossos pecados e nos fazer parar de existir
após a morte, em vez de nos levar a sofrer eternamente punição
pelos nossos pecados. Isso seria misericórdia, mas não seria graça.
A graça divina é a habilidade de viver em vitória sobre algo que
não poderíamos vencer por nós mesmos. Jesus era cheio de graça
e verdade. É interessante que existe um contraste entre a Lei dada
por Moisés, e a graça e verdade que vieram através de Jesus
Cristo. Como vimos anteriormente, quando Jesus veio, Ele não
destruiu o alto padrão da Lei, mas Ele o elevou ainda mais quando
disse coisas do tipo: Ouvistes o que foi dito: Não cometerás
adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer um que olhar para uma
mulher com intensão impura, em seu coração, já cometeu adultério
com ela.
Parece que Jesus tornou as coisas ainda mais difíceis quanto ao
viver em obediência a Deus. Debaixo da Velha Aliança era
impossível que as pessoas guardassem a Lei; então, veio Jesus e
elevou o padrão da Lei. Esta foi a verdade que Jesus trouxe.
Em comparação a Moisés, que somente trouxe a Lei (verdade),
Jesus foi completo em ambos, tanto na graça quanto na verdade.
Se não aceitarmos a verdade, que é o padrão de Deus para nossa
vida, nosso comportamento ficará sem Lei. Se compreendermos mal
a graça e pensarmos que ela é uma espécie de licença para pecar,
nunca iremos cumprir o propósito de Deus para a nossa vida. A
graça não é uma licença para pecar; é o poder para viver em vitória
sobre o pecado. A Lei sem a graça é destrutiva, contudo, a graça
retira o ferrão da Lei. A Lei sem a graça coloca um fardo que não
podemos carregar; porém, a graça carrega o fardo por nós.
Jesus foi uma bela expressão da combinação entre graça e
verdade. Em João 8, no episódio da mulher que foi pega em
adultério e levada para Ele, Jesus não desculpou o pecado dela,
mas Ele a perdoou. Ele ainda disse a ela para ir e não pecar mais
(graça e verdade). Através dos Evangelhos, vemos que Jesus foi a
expressão da graça e da verdade.
A razão pela qual havia um constante choque entre os fariseus e
Jesus era porque os fariseus tinham a verdade sem a graça,
enquanto Jesus era cheio de ambos: graça e verdade. A verdade
(Lei) sem a graça é destrutiva. A verdade sem a graça descobre16
nossas falhas e nos deixa sem esperança. A verdade sem a graça é
repleta de obrigações e deveres, mas a graça nos aponta o alvo e
nos habilita a alcançá-lo.
Quando entendemos a graça plenamente, não mais precisamos
temer a Lei, porque passamos a viver segundo uma única Lei que é
amar o Senhor nosso Deus com todo o nosso ser e amar todas as
pessoas também. É a graça de Deus que nos capacita a vivermos
uma vida assim. Encontrei muitos cristãos que entenderam mal a
graça, confundindo-a com a falta de Lei; essa compreensão
equivocada tem levado milhares ao pecado. Por causa disso, alguns
pregadores reagiram e começaram a ensinar a Lei, regras e coisas
do tipo outra vez. Esse é um tipo de resposta totalmente
equivocado.
O modo correto de responder às compreensões erradas da graça
é através do ensino de que a verdadeira natureza da graça é o
poder sobrenatural vindo da parte de Deus para vivermos em vitória
sobre o pecado.
JESUS JÁ VENCEU
Cada tentação que enfrentamos, Jesus também enfrentou. Ele foi
homem e foi tentado até vencer o pecado pela sua completa
dependência do Pai. A vitória de Jesus sobre o pecado não foi em
sua divindade, mas em sua completa dependência da graça.
Ele era cheio de graça e verdade, e isso significa que Ele não
somente deu da sua graça, mas, também, nos mostrou como viver
pela graça; vejamos o que nos diz Hebreus 4:15:
Pois não temos um sumo sacerdote que não seja capaz
de compadecer-se das nossas fraquezas, mas temos um
Sacerdote Supremo que, à nossa semelhança, foi
tentado de todas as formas, porém sem pecado algum.
Quando somos tentados, precisamos nos lembrar de que Jesus
passou pelas mesmas tentações e, ainda, as venceu; do mesmo
modo que Jesus venceu, podemos vencê-las pela graça.
Muitos dizem ter sido mais fácil para Jesus que para nós, porque
Jesus não tinha uma natureza pecaminosa, mas essa não seria a
melhor abordagem. A verdade é que Jesus poderia ter pecado, mas
Ele viveu em vitória sobre o pecado, porque Ele viveu pela graça,
que é a habilidade divina para fazer coisas que não podemos fazer
em nossa própria força.
Ao lermos os Evangelhos, cuidadosamente, encontraremos a
completa dependência de Jesus em seu Pai. Se Jesus pudesse
vencer o pecado de modo mais fácil que nós, como Ele poderia
dizer o que disse em João 14:12 sobre o fato de que nós faríamos
maiores obras que Ele se simplesmente crêssemos?
Do mesmo modo que Jesus Cristo não tinha uma natureza
pecaminosa e venceu o pecado pela graça de seu Pai, não temos
mais uma natureza pecaminosa, porque ela foi crucificada com
Cristo. O problema é nossa falta de fé nessa poderosa verdade. Se
nossa natureza pecaminosa foi verdadeiramente pregada na cruz e
rendida sem poder algum, então, também, como Jesus, podemos
vencê-la pela mesma graça que Jesus venceu.
Não precisamos vencer nossa natureza pecaminosa, precisamos,
unicamente, pela fé, nos apropriar da vitória de Jesus. É isso que a
Bíblia diz em Romanos 8:37: “Contudo, em todas as coisas somos
mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”. Nossa
vitória não está em nossa força, mas está na vitória de Cristo e
precisamos viver nela pela fé.
COMPREENDENDO A GUERRA
Há uma guerra acontecendo em nossa vida diária; Ela está
descrita em Gálatas 5:17, que diz:
Porquanto a carne luta contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne. Eles se opõem um ao outro, de modo que
não conseguis fazer o que quereis.
O que é a carne? É comumente compreendido e crido que a
carne é a natureza pecaminosa carnal. Isso é parcialmente verdade.
Se acreditarmos que nossa natureza pecaminosa morreu com
Cristo, precisamos nos perguntar: como alguma coisa morta ainda
pode lutar?
Precisamos nos lembrar daquilo que Paulo escreveu aos gálatas,
povo que havia deixado de viver a vida no Espírito para viver na
religiosidade e no esforço próprio. Eles deixaram a fé no trabalho
consumado da cruz para terem a fé em suas próprias forças. Eles
acrescentaram suas próprias obras à vida da cruz. Eles começaram
no Espírito e continuaram na carne. Em Gálatas 3:3 está escrito:
Estais tão enlouquecidos assim, a ponto de, tendo
começado pelo Espírito de Deus, estar desejando agora
vos aperfeiçoar por meio do mero esforço humano24?
Se a carne sempre significasse nossa natureza carnal, então
Paulo estaria dizendo que os gálatas criam que poderiam ser
aperfeiçoados vivendo segundo sua natureza carnal pecaminosa. É
claro que isso não é verdade, tampouco é verdade que os crentes
nascidos de novo pensariam ou acreditariam em tal heresia; todo
cristão sabe que viver em pecado não nos leva à perfeição. Como
os gálatas continuaram sua vida cristã?
Como Paulo disse que eles continuaram na carne, obviamente,
ele não quis dizer que continuaram em sua natureza pecaminosa. O
que eles fizeram foi continuar a vida cristã pelas suas próprias
forças, acrescentando suas obras à graça. Sempre que cremos ou
pensamos que precisamos acrescentar nossa própria força ao
trabalho da cruz para nos ajudar a vencer o pecado, andamos na
carne.
Paulo disse que a carne luta25 contra o Espírito e o Espírito
contra a carne. A palavra “lust”, traduzida aqui por luta, é muito forte
no original grego; ela é usada dezesseis vezes no Novo Testamento.
Ela significa “ter um forte de desejo por algo”. Ao olharmos o
versículo 17 com mais atenção, veremos algo interessante;
podemos ver que o Espírito e a carne são contrários um ao outro.
Creio que, neste texto bíblico, a palavra “carne” não significa nossa
natureza carnal, mas, sim, tentar vencer o pecado em nossa própria
força. Considere que tentar vencer o pecado em nossa própria força
versus deixar o Espírito Santo nos dar a vitória na cruz são
contrários um ao outro; um é religião, o outro é verdadeiro
cristianismo, e o que os gálatas estavam fazendo era puramente
religiosidade.
FÉ NA CRUCIFICAÇÃO
Ao lermos e estudarmos o Novo Testamento sempre
encontraremos essa simples verdade: Jesus Cristo e o seu trabalho
na cruz são suficientes.
Vários anos atrás, tive uma experiência com a morte. Meu
coração parou e fui para o céu. Jesus havia me dito em dois sonhos
anteriores a essa experiência que eu iria morrer. Depois do segundo
sonho, compartilhei-os com minha esposa que ficou muito triste; ela
continuamente me dizia o quanto precisava de mim. Quando morri e
entrei no céu, Jesus olhou em meus olhos e disse: “Eu lhe mostrarei
muitas coisas aqui no céu e, depois, vou dar duas escolhas para
você, que são: voltar à terra ou ficar no céu comigo para sempre”.
Meu primeiro pensamento foi: “preciso voltar, pois minha esposa
precisa de mim”. Quando esse pensamento estava em minha
mente, Jesus olhou para mim com um sorriso. Ao olhar para mim,
eu sabia perfeitamente o que Ele estava transmitindo. Quando meu
espírito se agarrou àquela verdade, senti-me envergonhado em
relação ao meu pensamento. Sem usar palavras, Jesus me disse:
“como você pode pensar que ela precisa mais de você que de
mim?”. “Ela tem a mim e, comigo, ela tem todas as coisas de que
precisa. Eu sou o provedor dela; eu sou Aquele que a cura; Eu sou
o Amante dela; Eu sou o Amigo mais íntimo que ela tem; Eu sou
tudo o que ela precisa”.
A cruz não somente perdoou os nossos pecados, mas nos
colocou de volta em um relacionamento com Deus; nela muito foi
feito por nós. Paulo compreendia o verdadeiro efeito da cruz muito
claramente. Ele disse que queria nada além de Cristo e do Cristo
crucificado (I Coríntios 2:2).
Na cruz, um poder transformador aconteceu: a natureza de Jesus
transformou-se em nossa natureza. Eu preciso ressaltar, outra vez,
que não devemos nos focar em nossos pecados ou em nossas
tentações em cometer pecado. Lembremo-nos de que nos
tornaremos aquilo em que nos focamos. Os pecados são as ações
pecaminosas, não nossa natureza pecaminosa. Uma vez que
compreendemos essa maravilhosa verdade sobre a completa vitória
em Jesus Cristo e em seu trabalho consumado na cruz, o inimigo
fará tudo o que puder para nos arrastar de volta à nossa vida de
derrota. Se ele não conseguir nos levar à dúvida quanto à essa
vitória, e se não conseguir nos levar a tentar vencer o pecado com
nossa própria força, ele tentará outra estratégia que geralmente lhe
confere sucesso.
O diabo tentará nos fazer focar em nossa vitória sobre os
“pecados”, enquanto devemos estar focados em nossa vitória sobre
o “pecado”. Deixe-me explicar isso: ele nos tentará a cometer
pecados, o que ele frequentemente faz. Ele tentou Eva a cometer
pecados, ele tentou Jesus a cometer pecados e ele ainda nos tenta
a cometer pecados.
Quando ele nos tenta e nós permanecemos firmes na vitória de
Cristo, ele tenta uma cartada final, uma vez que sua estratégia ainda
não conseguiu nos derrotar. O diabo nos fará focar na vitória sobre
os nossos “pecados”, retirando-nos do foco que deve ser nossa
vitória sobre o “pecado”.
Por exemplo, vamos supor que estejamos lutando contra a ira, o
ciúme e a ambição. Se nada funcionar, ele nos tentará a ficar
nervosos e, então, uma vez que cremos firmemente em nossa
vitória e nada do que ele fizer nos abalará, o diabo nos leva a focar
na vitória de Jesus sobre a nossa ira (pecados), e não na vitória de
Jesus sobre o “pecado”. Essa estratégia de mudança de foco é
perigosa, pois pode nos levar a cair.
Não podemos nos sujeitar a essa estratégia, porque tudo o que o
diabo irá fazer é continuar lançando tentações atrás de tentações
contra nós e, então, nos manterá constantemente ocupados, nos
fazendo crer em nossa vitória sobre essas tentações.
Em vez disso, precisamos permanecer crendo que o “pecado” já
foi completamente derrotado na cruz. Nas palavras da alegoria da
árvore e dos frutos, se nada funcionar, o diabo vai tentar fazer-nos
focar em nossa vitória sobre todo fruto podre. Quando ele nos tenta,
precisamos permanecer firmes e declarar: “diabo, a árvore está
morta, ela já foi destruída na cruz e nenhum fruto pode mais
crescer; eu sou a justiça de Deus e não vou me entreter com os
seus pensamentos nem ouvir você”. Então, devemos agradecer e
louvar a Jesus, nos focando na cruz do Calvário; isso irá nos
garantir a vitória.
14
CHAVES IMPORTANTES E ÚTEIS
Gostaria de compartilhar algumas chaves que me ajudaram,
tremendamente, por décadas em minha caminhada com Jesus. Não
gostaria de que fossem compreendidas como regras ou leis, mas,
sim, como coisas que me beneficiaram grandemente em minha
caminhada cristã. Tenho aplicado-as em minha vida inteira e elas
têm sido preciosas para mim.
Quero deixar claro que elas não são um “caminho” para se vencer
o pecado, uma vez que o pecado é derrotado pela fé na verdade,
que é a chave para a vitória. Estas coisas me ajudaram a caminhar
com Jesus e, por isso, gostaria de compartilhá-las aqui.
1) Nosso relacionamento com Jesus. Nós devemos nos
lembrar constantemente de que o cristianismo não é uma religião,
mas um relacionamento. Há 30 anos, em uma manhã, acordei após
ter falado muito alto comigo mesmo enquanto dormia. Eu falava a
mesma coisa repetidamente.
Somente depois de acordado, percebi minhas palavras: “obrigado
Deus por eu não ter uma religião, mas um relacionamento”. É muito
triste ver o cristianismo se transformar em uma religião.
Relacionamentos levam tempo para serem construídos; não há
atalhos. Nós precisamos cultivar nosso relacionamento com Jesus.
Ele é o nosso noivo; Ele é a nossa vitória e Ele é tudo o que iremos
precisar. Isso não tem nada a ver com legalismo ou religião. A Bíblia
diz que Cristo em nós é a esperança de glória. Ele mora dentro de
nós e não quer ser ignorado.
Ao cultivarmos um relacionamento pessoal com Jesus, não
haverá outra maneira de viver a não ser pela graça, porque Jesus é
cheio de graça e verdade. O apóstolo João referiu-se a si próprio
como o discípulo amado. Por que ele foi o único que fez essa
referência de si? Somente o Evangelho de João faz tal afirmação;
nenhum outro Evangelho fala tal coisa. Eu acredito que isso
aconteceu por causa do relacionamento íntimo que João tinha com
Jesus e, por causa dele, compreendeu o quanto Jesus o amava.
2) Oração. A oração acontece em todas as religiões; todas elas,
independentemente de quais sejam, oram. Eu amo Efésios 6:18 que
diz: “Orai no Espírito em todas as circunstâncias, com toda petição e
humilde insistente. Tendo isso em mente, vigiai com toda
perseverança na oração por todos os santos28”. Quando a Bíblia
fala “orai todas as orações”, ela quer dizer “orai todos os tipos de
oração”.
Cristãos de diferentes denominações oram diferentemente. Eu
pessoalmente penso ser muito triste o fato de muitos cristãos
conhecerem um só tipo de oração, uma vez que a Bíblia fala sobre
“todos os tipos de oração”. Se entendemos que a oração é uma
conversa e não uma comunicação de via única, nossa vida de
oração seria transformada.
Quando aprendemos a chegar diante de Deus em oração,
entendemos que Deus quer falar conosco, como também deseja, de
igual modo, nos ouvir. Um tipo de oração é a oração em línguas,
dada pelo Espírito Santo, conforme escrito em I Coríntios 14:4:
“Aquele que fala em línguas edifica a si próprio”. O significado da
palavra edificar, neste contexto, é: construir uma casa. Ao orarmos
diariamente na língua do Espírito, construímos um lugar maior para
Ele habitar e se expressar.
3) Louvor a Deus. A Bíblia tem muito a dizer sobre louvar a
Deus. O louvor a Deus não pode se restringir aos momentos em que
nós, enquanto cristãos, nos encontramos para nossas reuniões.
Deveria ser natural para todos os cristãos louvarem ao longo do dia.
Compreendo que a música é muito importante e tem um impacto
poderoso em nossa vida, mas se limitarmos o louvor à música,
teremos problemas.
O que falaríamos sobre os cristãos que são perseguidos e postos
em prisão por causa da fé? Eles não têm um CD player ou
instrumentos musicais; tudo o que têm são suas vozes. Quando
Paulo e Silas estavam na prisão, louvaram a Deus, e o Senhor lhes
respondeu com um terremoto, sacudindo a terra e libertando-os.
Eles não tinham um grupo de adoração e nenhum instrumento com
eles. Eles simplesmente fizeram o que já era parte do estilo de vida
deles. Efésios 5:18-20 diz:
E não vos embriagueis com vinho, que leva à
devassidão, mas deixai-vos encher pelo Espírito, falando
entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais,
cantando e louvando de coração ao Senhor, e
cotidianamente dando graças por tudo a Deus, o Pai, em
o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Há uma ligação direta entre ser cheio com o Espírito, como posto
no verso 18, e louvar a Deus, como posto nos versículos 19 e 20.
Quando aprendemos a dar graças a Deus por todas as coisas,
como o versículo 20 diz, e a louvá-lO em todo momento de nossa
vida, nosso louvor será uma expressão de Jesus Cristo.
4) A Palavra de Deus. A maioria dos cristãos compreendem a
importância da Bíblia e não discutiriam se ela é ou não a Palavra
inspirada de Deus. Nunca devemos abordar a Bíblia como mera
literatura ou texto informativo. A Palavra de Deus tem o poder de
transformar tudo em nossa vida. Não devemos ler a Bíblia como se
fosse nosso dever diário, mas devemos tê-la como a infalível
Palavra de Deus.
O Salmo 119:11 diz: “A sua palavra escondi em meu coração para
não pecar contra ela”. A maioria dos cristãos leem a Palavra de
Deus regularmente. Eu tenho uma profunda convicção de que o ato
e a frequência de se ler a Palavra de Deus, unicamente, não é o
mais importante, mas o modo como se lê a Bíblia, também, tem
grande relevância.
Nós precisamos aprender a meditar nas verdades da Palavra de
Deus e permitir que o Espírito Santo traga vida através dela a nós.
Salmos 4:4 diz: “Irai- -vos e não pequeis. Meditai em vosso coração,
em vossa cama, e acalmai-vos”. Eu nunca cesso de me assustar ao
ver a quantidade de cristãos que nunca aprenderam a arte de
meditarem na Palavra de Deus. Talvez eles pensem que a
meditação é um tipo de canto ou de mantra.
Nossa força não está no conhecimento da Palavra de Deus
isoladamente, mas, sim, no fato de nos apropriarmos da realidade
deste conhecimento e de permitir que a Palavra nos transforme. O
significado de “meditar” é: “mastigar repetidas vezes”, ou seja,
“ruminar em nossa mente”. Do mesmo modo, quando nos
alimentamos de comida natural, se não misturarmos a comida à
saliva para ser digerida, nenhum nutriente beneficiará nosso corpo.
A comida irá passar diretamente pelo corpo e terminará no vaso
sanitário sem deixar nenhum de seus nutrientes em nós.
Poderíamos até comer a comida mais nutritiva diariamente e, ainda,
morrer de fome ou de má nutrição. Eu tenho encontrado muitos
cristãos famintos espiritualmente, porque eles não têm aprendido a
meditar na verdade da Palavra de Deus.
5) As duas batidas de coração da vida cristã. Eu creio que do
mesmo modo que precisamos inspirar e expirar, do mesmo modo
que nosso coração deve bombear sangue em determinado ritmo, os
dois batimentos cardíacos de nossa vida cristã são quietude e
ativismo.
A maioria dos crentes que conheço pessoalmente não tem
problema com o ativismo. Se amamos Jesus, e se Ele conquistou
nosso coração, será nosso prazer servi-lo, bem como servir a sua
Igreja. Veremos a necessidade ao nosso redor e ficaremos felizes
em expressar a vida cristã através de nós.
É importante que não sejamos somente ativos para Jesus, mas
também é importante aprender sentados aos pés do Senhor
quietamente. A Bíblia nos conta a história das duas irmãs de Lázaro:
Marta e Maria. Enquanto Marta estava ocupada servindo a Jesus,
Maria estava, simplesmente, aos pés do Senhor, ouvindo o que Ele
dizia. Marta reclamou a Jesus que sua irmã não estava ativa
ajudando-a, mas estava quieta na presença dele.
Já ouvi muitos sermões sobre essa história, mas nenhum deles
me satisfez. A maioria dos sermões enfatizavam o que Jesus disse:
“Maria escolheu a melhor parte”, que é a quietude. Encontrei várias
pessoas dizendo que eles eram um tipo de pessoa semelhantes à
Marta, e outras várias pessoas dizendo que eram do tipo
semelhante à Maria. O que eles queriam dizer era que alguns
serviam ao Senhor ativamente e que outros eram inativos por
desejarem, unicamente, passar o tempo na presença do Senhor.
Eu não creio que devemos ser de um ou de outro tipo, mas
devemos ser de ambos os tipos ao mesmo tempo. Jesus sempre foi
ativo indo por todos os lados, pregando em todos os lugares,
curando os enfermos e salvando os pecadores. Mas, Ele também
passava horas a sós com o Pai.
Em Isaías 30:15 diz: “Com efeito, diz o Senhor, o Santo de Israel:
na conversão e no arrependimento está a vossa salvação; na
quietude e na confiança está a vossa força, contudo vós o
rejeitastes”. Nossa força para sermos ativos no serviço ao Senhor
não vem de nós mesmos, mas vem dos momentos em que ficamos
quietos e descansamos em sua presença.
6) Obediência à voz do Espírito Santo. A obediência é uma
chave importante na vida do cristão. Através das escrituras,
podemos ver que pela obediência o poder sobrenatural de Deus foi
liberado. O Espírito Santo vive dentro de nós e precisamos aprender
a ouvir sua voz e obedecê-la. Eu nunca conheci ninguém que foi
significativamente usado por Deus no sobrenatural sem ser testado,
antes, na área da obediência ao Espírito Santo29.
Vamos observar o primeiro milagre que Jesus realizou no
casamento de Caná. O vinho daquela festa havia acabado. Não se
bebe água em casamento judeu; o vinho é, portanto, muito
importante naquela cultura, como, também, em muitas outras.
Quando o vinho acabou, Jesus não transformou a água em vinho
simplesmente; Ele não enviou o vinho já transformado ao mestre de
cerimônia, o que seria muito fácil para os servos fazerem. Em vez
disso, Jesus pediu que se enchesse grandes potes com água e,
depois, levassem a água ao mestre de cerimônias para que ele
pudesse experimentá-la. Isso pareceu ridículo!
A reação normal dos servos seria: “Em hipótese alguma faremos
isso, pois entraremos em uma grande confusão”. Maria, a mãe de
Jesus, havia dito aos servos: “Qualquer coisa que Jesus disser a
vós, fazei”. Os servos estavam preparados para obedecerem, a
qualquer custo, a tudo aquilo que Jesus lhes pedisse para fazer.
Então pergunto: “quando a água foi transformada em vinho? E, por
que Jesus não a transformou antes de enviá-la ao mestre de
cerimônias?”
Creio que Jesus queria estabelecer um exemplo através do
primeiro milagre que Ele fez. Ele quis demonstrar a importância da
seguinte lição: a obediência libera o milagre. Como sabemos da
história, a água foi transformada em vinho somente depois de os
servos obedecerem a Jesus. Nunca podemos nos deixar esquecer
desta importante verdade: sempre obedecer rapidamente à voz do
Espírito Santo.
A NOVA ALIANÇA
Uma vez que a vida debaixo da Lei, com suas regras e
regulamentações, não funcionou por causa de nossa natureza
pecaminosa, Deus precisou fazer algo novo. Ele fez uma Nova
Aliança com o seu povo, como escrito em Hebreus 10:16-17:
Este é o pacto que farei com eles depois daqueles dias,
diz o Senhor; porei as minhas leis em seus corações, e
as escreverei em seu entendimento; acrescenta: e não
me lembrarei mais de seus pecados e de suas
iniquidades.
A promessa da Nova Aliança é que, pelo Espírito Santo de Deus,
suas Leis estão dentro de nosso coração e não em um conjunto de
regras externas. Parece que é uma inclinação da natureza humana
preferir viver por um conjunto de regras a seguir o Espírito Santo.
Precisamos crer que a Bíblia é a absoluta verdade. Portanto,
quando a Bíblia diz que as leis de Deus estão, agora, dentro de
nosso coração, precisamos parar de viver pelas leis externas e
seguir, então, nosso coração.
Estou convencido de que a razão pela qual cristãos lutam contra
seus comportamentos pecaminosos é porque vivem debaixo da Lei
e não debaixo da graça. Constantemente, somos tentados a
obedecer às Leis de Deus e a vencer o pecado pelo nosso esforço
próprio. Isso nunca trará vitória sobre o pecado, porque desafia o
trabalho da cruz.
As pessoas me disseram que precisamos ter cuidado quando
falamos essas coisas, pois a Bíblia diz em Jeremias 17:9 que o
coração é enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente
perverso.
O argumento deles somente reforça o meu, creio que essas
pessoas vivem debaixo da Velha Aliança e não creem no trabalho
consumado da cruz. Quando o profeta Jeremias falou essas
palavras, ele as disse para pessoas ainda não regeneradas, para
aqueles que ainda não tinham o coração transformado e para
aqueles cuja natureza pecaminosa ainda não tinha sido morta.
Lembre-se de que a salvação, a vida da Nova Aliança e a vitória
sobre o pecado só podem ser vividas e experimentadas pela fé. Se
continuarmos crendo que nosso coração é perverso, e não nos
agarrarmos à cruz, crendo na graça, teremos exatamente o que
cremos. Entretanto, nunca seremos capazes de deixar o ciclo
vicioso de tentar vencer o pecado pela nossa própria força, o que
nos levará a experimentar a derrota e a frustração; então,
continuaremos tentando um tanto mais.
Isso é um jeito ruim de se viver a vida. E, pior que nos encontrar
presos nesse ciclo vicioso é fingirmos que as coisas estão bem; o
que nos leva a tentar equilibrar nosso comportamento ruim com
nosso comportamento bom. Se caímos nessa armadilha do diabo,
entramos naquilo que chamo de farisaísmo da modernidade.
É urgente lermos a Bíblia à luz da Nova Aliança; de outra forma,
não enxergaremos nada além de regras, regulamentações e um
padrão que não pode ser alcançado. Não veremos Deus como
alguém que seja amoroso, carinhoso, que gosta de nossa
companhia, que se deleita quando somos abençoados, prósperos e
quando andamos em vitória.
A Nova Aliança eleva o padrão porque derrotou nossa natureza
pecaminosa e libera graça para vivermos uma vida de vitória pela fé
sem o esforço próprio. Como disse anteriormente, a graça não é o
perdão do pecado, isso é misericórdia; mas a graça é a habilidade
sobrenatural, separada de nosso esforço para obedecer a Deus de
todo o nosso coração, mas simplesmente pela rendição e fé na obra
consumada da cruz. A graça só pode ser recebida pela fé.
Há muitos versículos no Novo Testamento que estabeleceram um
padrão bem mais alto que o Velho Testamento. Como podemos
viver dessa forma se nós não pudermos vê-los à luz da Nova
Aliança? Caso não os interpretemos à luz da Nova Aliança, iremos,
como disse anteriormente, ou nos transformar em fariseus
escondendo os pecados ou viver numa constante luta que trará uma
constante condenação à nossa vida.
Mesmo a crença errada e sutil que diz: “Eu não devo ganhar
vitória sobre o pecado em minha própria força, mas na força de
Deus”, é perigosa, porque, também, alimenta o orgulho. O diabo vai
nos tentar a “torcer” verdades, fazendo delas meias verdades, como
o caso de usarmos a força de Deus e nela acrescentar nosso
esforço. A vitória sobre o pecado não acontece pelo fato de nós o
vencermos através da força de Deus, mas está na nossa total
confiança na vitória completa de Cristo sobre nossa natureza
pecaminosa.
Se nós vencermos o pecado na força de Deus, outra vez o nosso
esforço e trabalho entraram em ação, mesmo sendo através da
força de Deus. Isso é um engano, pois coopera com o nosso
orgulho de usar a força de Deus para combater o pecado. O pecado
foi vencido e derrotado; nós não podemos fazer aquilo que já está
feito. A vitória sobre o “pecado” não pode ser alcançada até que a
vitória da cruz, que matou nossa natureza pecaminosa, seja
apropriada pela fé.
Quando somos tentados a pecar, precisamos abandonar todo
nosso esforço de vencer por nós mesmos. Não nos cabe nem dizer
a nós mesmos: “vou vencer na força de Deus”, mas, precisamos
somente dizer: “Jesus, eu agradeço pela sua vitória, eu agradeço
porque minha natureza pecaminosa está crucificada em Cristo e eu
não tenho mais a necessidade de vencer o pecado, porque o
Senhor já venceu tudo isso; continuarei andando no Espírito, crendo
na verdade da sua Palavra, dependendo inteiramente dela.
Obrigado porque até mesmo a fé para crer nessa verdade vem do
Senhor. Eu descanso na sua graça e no trabalho consumado da
cruz”. Isso deve se tornar nosso estilo de vida. Deus deve ser o
único a ser glorificado.
A FORÇA DELE
Finalmente, meus irmãos, sejam fortes no Senhor e na força do
seu poder (Efésios 6:10). Esse versículo impactou a minha vida
poderosamente em 1984. Eu era um jovem pastor na Áustria e,
guiado pelo Espírito de Deus, fiz um jejum de 30 dias sem comida
alguma, somente bebi água. Ao chegar próximo ao final desse
jejum, meu corpo estava muito fraco e muito frio, pois era inverno na
Áustria e as temperaturas abaixo de zero são congelantes.
Eu me lembro do momento em que estava no meu quarto orando,
com meu corpo enfrentando fortes dores e cólicas por causa do
longo tempo sem comida e sem outro líquido a não ser água. De tão
fraco, desejei interromper o jejum, quando, de repente, o Espírito
Santo me falou com uma voz quase audível, de tão forte. Tudo o
que Ele disse foi o versículo de Efésios 6:10: “Finalmente, meus
irmãos, sejam fortes no Senhor e na força do seu poder.” Então,
comecei a declarar em alta voz: “Senhor, sua força é a minha força,
eu a recebo pela fé. Eu renuncio a viver a vida em minha própria
força, eu recebo a sua força”. O poder de Deus veio em meu corpo
como uma descarga elétrica; fui cheio de uma força sobrenatural e,
facilmente, continuei o meu jejum.
Este versículo está escrito de uma forma maravilhosa na
gramática grega. Em grego, “Sejam fortes30” está escrito na voz
passiva, não na voz ativa. Sendo assim, aqui não está escrito
alguma coisa que devamos fazer; nós não temos que tentar ser
fortes; nem temos que tentar fazer de Deus a nossa força. Quando
vivemos em dependência do Senhor na Nova Aliança, Ele é nossa
força e descansamos nesta verdade. Toda luta para sermos fortes
acaba, e toda glória é dada a Ele.
Literalmente, esse versículo seria traduzido como: “Finalmente,
irmãos, sejam fortalecidos ou recebam força ...” Não há nada que
possamos fazer, pois é algo que recebemos, e somente recebemos
pela fé.
NENHUMA PUNIÇÃO A MAIS
A punição por todos os nossos pecados, passado, presente e
futuro foi colocada em Jesus, portanto, não pode ser colocada em
nós outra vez. Foi colocada em Jesus, mesmo que Ele não tenha
feito absolutamente nada de errado, mesmo que Ele não tenha
cometido nenhum pecado, ainda assim, Ele foi punido pelas nossas
falhas. Um vez que Ele foi punido, estamos livres. Através da fé em
Jesus, somos livres de qualquer punição de nossos pecados. Se
Deus fosse nos punir outra vez por qualquer pecado que
cometêssemos, Ele seria totalmente injusto. Como um Deus justo
puniria duas pessoas pelo mesmo pecado? Ele já puniu seu filho
inocente, Jesus Cristo, pelos pecados que nunca cometeu, então,
como Ele poderia nos punir outra vez pelos mesmos pecados? Meu
amigo, Deus não é injusto, Ele é perfeitamente justo.
Os cristãos confundem a lei de plantar e colher com a punição de
Deus. Esta é uma estratégia do diabo, que quer que vivamos em
derrota e medo de Deus. Mas não nos esqueçamos de que o
Senhor é por nós, é conosco e está sempre do nosso lado.
Se alguém comete adultério e tem um filho fora do casamento,
essa pessoa irá sofrer as consequências de suas escolhas, mas não
é uma punição de Deus. Mas, por estas consequências serem
provenientes da dor e da destruição que o pecado causa em nossa
vida, o diabo não quer que tenhamos a vitória que está em Cristo. O
objetivo dele é a nossa derrota e destruição. Que melhor maneira
existiria para alcançar o seu plano de destruição do que tentar nos
levar à crença de que Deus nos punirá sempre que pecarmos?
Crendo assim, não alcançamos vitória, pois como sabemos, o medo
é um motivador ruim e o diabo sempre fará o pecado mais atraente
para nós do que suas consequências; porém, é justamente no
momento em que sofrem as consequências dos pecados que as
pessoas os racionalizam.
É desejo do meu coração que, de certa forma, o Senhor possa
usar este livro para libertar as pessoas da escravidão da Lei e trazê-
las à liberdade do Evangelho. Portanto, mantenha-se firme na
liberdade para a qual Cristo nos libertou.
30 Em português, a forma passiva dessa frase não faz sentido e,
portanto, deve ser traduzida no imperativo afirmativo como está nos
textos bíblicos. Em tradução, nem sempre é possível respeitar a
gramática da língua original, pois a língua receptora, nem sempre,
possui as mesmas estruturas gramaticais, por isso, os tradutores
precisam fazer adaptações de estrutura como é o caso desse
versículo.
19
NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE
DNA CELESTIAL
PASSADO E ORIGEM
Cada um de nós possui um passado e uma origem. Se nós
vivermos de acordo com nosso passado, teremos sempre uma
carência de identidade. Entretanto, uma vez que aprendermos a
viver de acordo com nossa origem, encontraremos nossa verdadeira
identidade. Nosso passado começou no momento de nossa
concepção, quando células masculinas se juntaram a células
femininas. Pessoas diferentes passam por experiências diferentes
na infância. Alguns tiveram uma infância maravilhosa, enquanto a
de outros foi péssima. Essas coisas estão conectadas ao nosso
passado, mas não à nossa origem. Nossa origem começou no
coração de Deus. Se você foi rejeitado por seus pais naturais, talvez
tenha sido concebido no pecado, ou teve um passado horrível,
então teve que conviver com uma terrível desvantagem, e a única
forma de quebrar esse ciclo é se afastando do seu passado e
abraçando sua origem.
Muito antes de nosso passado começar, nossa origem já havia
iniciado. Paulo nos fala o seguinte em Efésios 1.3-6:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas
regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu
nele antes da criação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos
predestinou para sermos adotados como filhos por meio
de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua
vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos
deu gratuitamente no Amado.
Eu lhe darei algumas chaves simples para ajudá-lo a estabelecer
sua identidade em sua origem e se afastar de seu passado.
Primeiramente, entenda e creia que você estava no coração de
Deus ainda antes da fundação do mundo. Isso significa que Deus já
havia escolhido você antes de seus pais existirem. Ele o conheceu,
amou e o escolheu a dedo.
Em segundo lugar, você não precisa mais ser definido por seu
passado. Ao invés disso, você pode escolher ser definido por sua
origem que está Deus.
A terceira chave é saber que o pecado destruiu sua origem e o
deixou apenas com seu passado, onde você encontraria sua
identidade. Isso foi o que aconteceu com todas as pessoas neste
mundo, porque todos nós pecamos um dia.
O quarto ponto: a cruz, plano genial de Deus, e a Nova Aliança já
lidaram com nosso passado e, de maneira sobrenatural, nos
conectaram com nossa origem. Se alguém está em Cristo, não
apenas é nova criatura, como também as coisas velhas (passado)
passaram e o novo (origem) foi criado.
Em quinto lugar, é somente pela apropriação pela fé que
experimentaremos da nossa verdadeira identidade. Nós nos
apropriamos de algo pela fé parando de pedir a Deus algo que ele já
fez; apenas agradecemos a ele, cremos e começamos a agir em
conformidade com isso. Precisamos parar de pedir a Deus que
conserte nosso passado e começar a agradecer a ele por nos ter
dado uma identidade completamente nova.
A sexta chave é entender que nosso coração geralmente está
cheio de memórias dolorosas do nosso passado. Mesmo que nosso
ser espiritual tenha sido criado completamente novo, essas
memórias dolorosas do passado por vezes nos assombram.
Consequentemente, nosso coração passa a acreditar numa falsa
identidade. Contudo, Deus nos deu a habilidade de reprogramar
nosso coração pela meditação e declaração da verdade de Sua
Palavra. Ao passarmos tempo meditando em quem nós somos de
fato em Cristo e declarando isso, as memórias dolorosas do nosso
coração, às quais vinculamos nossa identidade, serão apagadas e,
assim, fixaremos a nossa nova identidade em nosso coração.
Em sétimo e último lugar, precisamos compreender que se não
encontrarmos nossa verdadeira identidade em nossa origem, a
identidade de que somos amados e escolhidos por Deus, seremos
conduzidos a procurá-la em outro lugar, como por exemplo, no
dinheiro, família, sucesso ou até mesmo no ministério.