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Coordenação

Reinhard Hirtler

Tradução
Daniel Soares
Matheus Corrêa/Daniel Mesquita

Revisão e edição de texto


Daniel Soares/André Matias
Aline Monteiro

Capa
Priint Editora

Projeto Gráfico e Diagramação


Priint Editora

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sem permissão por escrito,
exceto para breves citações, com indicação da fonte.
Exceto em caso de indicação em contrário, todas as citações bíblicas foram
extraídas da Bíblia King James Atualizada, 2ª edição, da Sociedade Ibero-
Americana, ©. Todos os direitos reservados.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP-Brasil)


Hirtler, Reinhard
Livre: 21 dias para desfrutar a vitória sobre o pecado / Reinhard Hirtler
Goiânia: Priint Impressões Inteligentes, 2019
ISBN (em suporte de papel): 978-85-5963-078-7
1. Vida Cristã. 2. Espiritualidade I. Título

Reinhard Hirtler Publicações ©


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Sumário
PREFÁCIO - Primeira Edição
PREFÁCIO - Segunda Edição
PREFÁCIO - Terceira Edição
1. A diferença entre pecado e pecados
2. O que significa pecar
3. Vitória sobre o pecado
4. O poder da lei
5. Mortos para o pecado
6. As três obras da graça
7. Como lidar com a tentação
8. O poder de nossa mente
9. No início
10. A maravilhosa equidade da cruz
11. Obras mortas
12. Andando no espírito
13. Andando no espírito - continuação
14. Chaves importantes e úteis
15. Maturidade é um processo
16. Maturidade é um processo - continuação
17. A importância de nosso caráter
18. Vivendo pelo nosso interior
19. Nossa verdadeira identidade
20. Nossa verdadeira identidade – continuação
21. O poder da rendição
NOTA DE TRADUÇÃO - Primeira Edição
No ano de 2014, Reinhard e Debi em viagem pelo nordeste do
Brasil se depararam com a realidade das crianças em situação de
vulnerabilidade social. Desde então, movidos pelo coração de Deus,
resolveram dedicar suas vidas para mudar essa realidade.
Fundaram a Brasilian Kids Kare, uma ONG que tem como missão,
transformar a vida de crianças carentes e abandonadas do Brasil,
dando a elas valor, esperança e futuro, através de um encontro com
o amor de Deus.
Temos o propósito de construir 100 abrigos e creches no Brasil,
com o intuito de contribuir na mudança do destino e futuro dessa
nação. Também queremos inspirar e auxiliar outros a fazerem o
mesmo; entregar suas vidas e recursos para mudar o futuro dessas
crianças. Reinhard destina 100% da renda arrecadada com a venda
de seus livros para a construção, manutenção e abertura de novos
projetos no Brasil. Hoje temos abrigos, creches e projetos sociais
em alguns estados do nordeste Brasileiro.
Você pode conhecer nossos projetos através do site:
http://www.braziliankidskare.org
PREFÁCIO - PRIMEIRA EDIÇÃO
Muitos cristãos lutam contra diferentes comportamentos
pecaminosos e, por não conseguirem vencê-los, acabam frustrados.
Ao nascermos de novo, o espírito de nosso novo homem deseja
viver uma vida livre do pecado. Contudo, se vivemos em derrota, um
sentimento interno e doentio nasce em nós. Acredito que uma das
grandes razões de se viver em derrota é que não compreendemos
plenamente nem acreditamos no trabalho consumado da cruz de
Jesus Cristo. O sacrifício de Jesus é nossa única esperança. É
urgente compreendermos que o cristianismo não é uma religião
fundamentada em obras, mas, sim, na graça. A salvação é o
trabalho de Jesus Cristo em nossa vida e deve ser recebida,
unicamente, pela fé.
Do mesmo modo, viver em vitória sobre o pecado não é nada
além do trabalho de Jesus Cristo em nossa vida. Como Paulo disse
em Gálatas 3:3: “Estais tão enlouquecidos assim, a ponto de, tendo
começado pelo Espírito de Deus, estais desejando agora vos
aperfeiçoar por meio do mero esforço humano?” A salvação é o
começo de uma nova vida pela obra do Espírito Santo. Não
devemos, portanto, somente iniciar nossa vida cristã no Espírito,
mas continuamente temos que viver no Espírito. Nossas boas obras
são resultado da graça, mas se tentarmos fazer as boas obras
separadamente da graça de Deus, será o mesmo que ter começado
a vida cristã no Espírito e tê-la continuado na carne. Nesse caso, é
certo que o resultado será plena derrota.
REINHARD HIRTLER
PREFÁCIO - SEGUNDA EDIÇÃO
A primeira edição deste livro esgotou no ano de seu lançamento.
Acredito que isso aconteceu devido ao fato de este ser um anseio
da igreja hoje: como posso vencer, definitivamente, o pecado em
minha vida. O fato é que precisamos compreender e aceitar a obra
consumada da cruz, recebendo a graça de Deus sobre nós através
de Jesus Cristo.
Por causa deste anseio, fizemos esta edição, uma vez que ainda
há vários discípulos do Senhor desejando ler este livro. Apesar de
ser uma nova edição, não alteramos significativamente nem o texto
nem sua tradução. Todavia, aqui acrescentamos explicações sobre
Gálatas 5:17 e inserimos boas páginas ao capítulo 2.
Ainda, a figura posta na edição anterior estava em preto e branco
e, nesta edição, a colocamos a cores, para ilustrar com mais
precisão o modo como o cristão deve se posicionar contra
pensamentos indesejados. Ressaltamos que não houve alteração
na tradução, nem na organização dos capítulos.
No mais, cremos e esperamos que o Senhor continue usando
essa mensagem para fortalecer seus filhos contra as mentiras e
ciladas de Satanás. Que Deus abençoe a todos.
OS EDITORES
PREFÁCIO - TERCEIRA EDIÇÃO
Este livro abençoou muitas vidas por todo o mundo, e recebi
testemunhos que alegraram meu coração grandemente. Mas,
alguns anos após a publicação da primeira edição deste livro,
percebi que ainda há muitos equívocos quanto à vitória sobre o
pecado. Então, decidi escrever mais capítulos no intuito de criar
uma explanação mais clara quanto ao pecado e como romper desta
prisão para andar na liberdade para a qual fomos criados para viver.
Creio que este livro lhe dará a ferramenta para andar na vitória
pela qual Cristo pagou.
REINHARD HIRTLER
1
A DIFERENÇA ENTRE PECADO E PECADOS
A palavra “pecado” (singular) é usada com frequência no Novo
Testamento. Via de regra, refere-se à nossa natureza pecaminosa, e
não aos pecados que cometemos. Romanos 6:14 diz:
Porquanto o pecado não poderá exercer o domínio sobre
vós, pois não estais debaixo da Lei, mas debaixo da
graça!
Esse texto trata de nossa natureza pecaminosa. Quero deixar
claro que, neste livro, usarei a palavra “pecado” no singular sempre
que referir-me à nossa natureza pecaminosa; usarei a palavra
“pecados” no plural sempre que referir-me aos pecados que
cometemos em nossa vida diariamente.
Deus não perdoa nosso “pecado”. Essa pode ser uma afirmação
chocante para muitas pessoas, mas não se preocupem, deixe-me
explicar: uma vez que “pecado” é a nossa natureza pecaminosa,
responsável por nos levar a cometer “pecados”, ela não precisa ser
perdoada; na verdade, ela precisa ser completamente destruída.
Essa é a razão pela qual afirmei que Deus não perdoa o nosso
“pecado”, todavia, é claro, Ele perdoa todos os nossos “pecados”.
O “pecado” é a natureza que herdamos de Adão. Jesus não
morreu na cruz somente para perdoar os nossos “pecados”, mas Ele
morreu para destruir a natureza pecaminosa que nos leva a cometer
“pecados”.

A ÁRVORE
Nossa natureza pecaminosa é como uma árvore frutífera. Os
frutos são nossas ações pecaminosas. Frequentemente, como
cristãos, tentamos impedir que esses frutos pecaminosos sejam
produzidos na árvore de nossa vida. Nosso foco volta-se às nossas
ações pecaminosas, representadas pelos frutos. Constantemente,
tentamos impedi-los de frutificar, como se fosse possível. Do mesmo
modo, tentamos, sem alcançar sucesso algum, parar a frutificação
de nosso comportamento pecaminoso.
O que acabamos de mencionar ainda pode ser ilustrado por uma
árvore que produz frutos venenosos. Imagine-se querer impedir a
proliferação desses frutos; então, decide-se fazer uma operação
para retirá-los da árvore; isso seria um trabalho em vão, pois outros
frutos brotarão e crescerão. A retirada dos frutos de uma árvore não
impede sua frutificação. A tentativa de se retirar esses frutos é uma
batalha perdida, pois a árvore permanece viva e, por ser frutífera,
continuará a dar frutos. Nesse caso, o que se deve fazer é arrancar
a árvore pela raiz, pois enquanto a árvore tiver vida, continuará
produzindo frutos.
O mesmo acontece em relação aos comportamentos
pecaminosos em nossa vida. Se constantemente tentarmos nos
livrar dessas ações pecaminosas, escorregaremos da graça para as
obras. Agir dessa forma seria acreditar que remover os frutos da
árvore de nossa natureza pecaminosa, viva em nosso interior,
depende de nós. Isso é muito frustrante, pois enquanto essa árvore
estiver viva, seus frutos não vão parar de crescer,
independentemente de nosso esforço de nos livrarmos deles.
Se quisermos viver em vitória sobre nossos “pecados”, temos que
parar de tentar alcançar vitória sobre os nossos pecados! Posso
ouvir as pessoas gritando comigo: “como você pode dizer isso? É
claro que temos que tentar alcançar a vitória sobre os pecados!”
Absolutamente, não! Quando tentamos alcançar a vitória sobre
nossos comportamentos pecaminosos, o que fazemos, na verdade,
é nada além de tentar impedir o nascimento do fruto pecaminoso da
árvore. O que precisa ser feito, de fato, é destruir a árvore, bem
como suas raízes, para que, desse modo, ela não frutifique mais. Se
estivermos constantemente tentando produzir menos frutos de
nossas ações pecaminosas, a verdade é que já caímos na
religiosidade das obras. Precisamos entender que esse tipo de
crença caminha contra o poder da cruz, que é o centro do
cristianismo.
Isso significa que disciplina não é importante na vida cristã? É
claro que não significa isso! Lembremo-nos de que um dos atributos
do fruto do Espírito é o domínio próprio. Estou convicto de que uma
vida de disciplina é muito importante para alcançarmos o propósito
de Deus. Entretanto, a vida de disciplina não destruirá nossa
natureza pecaminosa. Foi a obra consumada da cruz1 que destruiu
o “pecado” em nós; só podemos nos apropriar dessa verdade pela
fé no trabalho da cruz, e não pela nossa auto-disciplina.
Os cristãos que tentam vencer o comportamento pecaminoso
através da auto-disciplina são, de fato, fariseus modernos2. Deus
não se agrada do farisaísmo, porque os fariseus eram focados em
suas boas obras e, por serem assim, destruíram a vida de muitas
pessoas. O problema de vencer o “pecado” com nossa auto-
disciplina está no fato de que as nossas obras nos deixam muito
orgulhosos; corremos sempre o risco de nos vangloriar de nosso
trabalho e, ao mesmo tempo, julgar aqueles que, porventura, não
alcançaram o nosso padrão.
Esse problema coopera contra a glória de Deus, pois uma vez
que damos toda glória para nós mesmos, não deixamos glória
nenhuma para Deus. As pessoas que sempre glorificam a si
mesmas por suas conquistas não acreditam, verdadeiramente, no
trabalho consumado da cruz. Eles até podem dizer que creem, mas
no fundo do coração, não estão convictos disso; por essa razão,
constantemente, procuram chamar atenção às suas próprias
conquistas.
A destruição de nossa natureza pecaminosa e a vitória sobre o
“pecado” devem ser um trabalho completo e pleno da graça, isento
de qualquer ajuda nossa. Se o trabalho da graça recebesse
qualquer ajuda nossa, não seria graça. A graça não pode ser obtida
pelo nosso trabalho; ela só pode ser recebida pela fé. Vejamos o
que nos diz Romanos 11:6:
Portanto, se é pela graça, já não o é mais pelas obras;
caso fosse, a graça deixaria de ser graça.
Há somente dois caminhos: graça ou obras, e eles não podem
ser misturados. Nessa questão não há espaço para nenhuma zona
acinzentada: ou será branca ou preta, tudo tem que ser claro, e não
há lugar para o oculto. Uma vez que nossa natureza pecaminosa é
o problema central, e não os pecados que cometemos, nosso foco
deve ser o trabalho consumado na cruz; em hipótese alguma
podemos contar com a possibilidade de haver nossa própria
habilidade de vencer o pecado. Precisamos viver em total confiança
no trabalho consumado da cruz. Caso queiramos vencer o pecado
em nossa vida através da auto-disciplina, não somente iremos
falhar, como, também, iremos desafiar a obra libertadora da cruz.

O LIVRO DE ROMANOS
Eu li o livro de Romanos e me atentei para cada passagem onde
as palavras pecado, pecados ou pecar foram mencionadas. Ao olhar
para o original grego, descobri que a palavra pecado como
substantivo aparece 40 vezes, enquanto, como verbo, aparece
apenas 7 vezes em 6 versos.
Vemos claramente que o problema ao qual o apóstolo Paulo se
refere nessa carta não é o de cristãos cometerem algum pecado,
pois, nesses seis versículos onde o verbo é usado, apenas uma vez
ele está se referindo a cristãos. Em Romanos 6:15, ele diz, “E então,
devemos pecar porque não estamos debaixo da Lei e sim da graça?
Claro que não!”. A mensagem clara no livro de Romanos é que
nossa natureza pecaminosa foi resolvida na cruz, portanto, os
cristãos não precisam mais pecar. Eu quero lembrá-lo de que,
quando o substantivo é usado, está se referindo à nossa natureza
pecaminosa, enquanto o verbo é usado para se referir ao pecado
que cometemos. É como se o pecado como substantivo fosse uma
árvore, e o pecado como verbo fosse o fruto.
Ao longo de muitos séculos, a igreja cometeu o erro de colocar o
foco no ato de pecar em vez de ensinar acerca do que aconteceu
com a natureza pecaminosa na cruz. É claro, não podemos tratar o
pecado levianamente, porque a Bíblia não o faz. Mas colocar o foco
em tentar não pecar, ignorando a verdade bíblica da morte da
natureza pecaminosa, é uma atitude superficial e religiosa que
somente nos conduzirá a um círculo vicioso, fazendo com que nos
sintamos frustrados e condenados. Quando nosso coração se
apegar ao que Paulo ensinou aos romanos, que nosso foco deve
estar no que aconteceu com nossa natureza pecaminosa (pecado
como substantivo), então o ato de cometer um pecado (verbo) será
vencido de maneira natural.

OLHANDO PARA A EVIDÊNCIA


Vamos ler atentamente todos os seis versículos nos quais o verbo
pecar é usado no livro de Romanos. Eu quero lembrá-lo de que
essas são as únicas vezes que Paulo faz isso ao longo de toda a
carta:
Romanos 2:12 – “Pois todos os que sem a Lei pecaram, sem a
Lei também perecerão; e todos os que pecarem sob a Lei, pela Lei
serão julgados.”
Romanos 3:23 – “Porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus.”
Romanos 5:12 – “Concluindo, da mesma forma como o pecado
ingressou no mundo por meio de um homem, e pelo pecado a
morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos,
porquanto todos pecaram.”
Romanos 5:14 – “No entanto, a morte reinou desde a época de
Adão até os dias de Moisés, mesmo sobre aqueles que não
cometeram pecado semelhante à desobediência de Adão, o qual
era uma prefiguração daquele que haveria de vir.”
Romanos 5:16 – “O dom, entretanto, não é como no caso em que
somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa,
para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para
a justificação.”
Romanos 6:15 – “E daí? Havemos de pecar porque não estamos
debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!”
Em cinco desses seis versículos, Paulo não está falando sobre
cristãos pecando, mas, sim, sobre aqueles que não são salvos. Isso
deixa muito evidente que o problema na vida cristã não é o ato de
pecar em si. A única vez que ele se refere a cristãos é em Romanos
6:15, onde diz: “De modo nenhum havemos de pecar”.
Vamos, agora, analisar as passagens onde Paulo usa a palavra
pecado como substantivo.
Romanos 6:5-7 – “Porque, se fomos unidos com ele na
semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na
semelhança da sua ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado
com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto
quem morreu está justificado do pecado.”
Em todas as três vezes que o apóstolo Paulo usa a palavra
pecado nessa passagem, ela aparece como substantivo, o que
significa que não é uma ação que praticamos. Ele expressa
claramente que o velho homem foi crucificado com Cristo para que a
natureza pecaminosa fosse destruída, o que resulta em liberdade da
escravidão ao pecado.

O PODER DA APROPRIAÇÃO PELA FÉ


Paulo conclui seu argumento no verso sete, ao dizer que aquele
que morreu foi liberto do pecado. Uma vez que isso está escrito no
passado e não no futuro, concluímos que não se trata de uma
promessa, mas de uma afirmação sobre algo que já aconteceu.
Qualquer coisa que já tenha acontecido mediante a obra
consumada da cruz só pode ser experimentada através da
apropriação pela fé.
A apropriação pela fé funciona de modo simples: a pessoa para
de pedir e começa a agradecer por aquilo que já foi dado ou
realizado, crendo e agindo de acordo com essa realidade. Enquanto
você continuar pedindo a Deus que lhe dê vitória sobre o pecado,
não experimentará dela. Não há mais nada que Deus possa fazer,
uma vez que Ele já fez o que era necessário ser feito. Você precisa
crer com todo o seu coração que aquilo que Deus diz é a verdade
absoluta.

A ORAÇÃO DE APROPRIAÇÃO PELA FÉ


Eu gostaria de conduzir você a uma oração de apropriação pela
fé. Onde quer que você esteja, apenas aquiete seu coração e repita
esta declaração:
Pai, que está no céu, eu te agradeço pelo sacrifício de teu filho,
Jesus. Eu creio que a obra da cruz é completa e é suficiente. Com
uma fé simples, eu declaro que minha natureza pecaminosa foi
destruída na cruz. Eu sou livre do poder do pecado, ele não me
controla mais. Eu te agradeço pela vida ressurreta de Jesus que
está em mim. Eu sou livre!
Repita essa oração constantemente, até que ela se torne uma
convicção em seu coração.

1 Em inglês, foi usada a expressão “the finished work of the


cross” que pode ser traduzida de duas formas em língua
portuguesa: tanto “a obra consumada da cruz” quanto “o trabalho
consumado da cruz”. Para evitar repetições desnecessárias em
nossa língua, optamos usar as duas possíveis formas em português.
Assim, mantemos o texto fiel ao original e, ao mesmo tempo,
evitamos trazer cansaço ao leitor pelo uso constante da mesma
expressão.

2 Digo isso, pois eu mesmo costumava ser um desses fariseus da


modernidade. Nota: o autor usará esse termo, constantemente, ao
longo deste livro. Sempre que for usado, esse termo fará referência
à religiosidade desenfreada no meio cristão atual.
2
O QUE SIGNIFICA PECAR
A palavra grega usada no Novo Testamento para “pecar” significa,
simplesmente, “errar o alvo”. Quando pecamos, erramos o alvo que
Deus estabeleceu. Ele havia estabelecido o alvo nos 10
mandamentos; Jesus, por sua vez, os ampliou, estabelecendo um
padrão mais alto, como podemos ver em Mateus 5:
Ouvistes o que foi dito aos antigos: “Não matarás; mas
quem assassinar estará sujeito a juízo.” Eu, porém, vos
digo que qualquer um que se irar contra seu irmão estará
sujeito a juízo. Também qualquer que disser ao seu
irmão: raca, será levado ao tribunal. E qualquer um que o
chamar de idiota estará sujeito ao fogo do inferno. Assim
sendo, se trouxeres a tua oferta ao altar e te lembrares
de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali
mesmo diante do altar a tua oferta, e primeiro vai
reconciliar-te com teu irmão, e depois volta e apresenta a
tua oferta. Entra em acordo com teu adversário enquanto
está ele a caminho do tribunal, para que não aconteça
que o adversário te entregue ao juiz, o juiz te entregue ao
carcereiro, e te joguem na cadeia. Com toda a certeza
afirmo que de maneira alguma sairás dali, enquanto não
pagares o último centavo. Ouvistes o que foi dito: “Não
cometerás adultério”. Eu, porém, vos digo, que qualquer
que olhar para uma mulher com intensão impura, em seu
coração, já cometeu adultério com ela.
Isso parece inalcançável. Nem mesmo olhar para uma mulher?
Chamar um irmão de bobo nos traz o perigo do fogo do inferno?
Veja o que nos diz Gálatas 5:19-21:
Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade
sexual, impureza e libertinagem; idolatrias e feitiçarias;
ódio, discórdia, ciúme, ira, egoísmo, dissensões, facções
e inveja; embriaguez, orgias e tudo quanto se pareça
com essas perversidades, contra as quais vos advirto,
como já vos preveni antes: os que praticam essas coisas
não herdarão o reino de Deus!
A Bíblia conclui esses versículos com uma forte advertência:
“aqueles que praticam tais coisas não herdarão o reino de Deus”.
Nesses versículos há sérios pecados mencionados, como: adultério
e idolatria. Contudo, ao mencionar esses pecados, Paulo também
acrescenta: discórdia, egoísmo e ira. Esses últimos pecados citados
não parecem tão sérios quanto o adultério e a fornicação. No
entanto, a Bíblia não estabelece nenhuma diferença entre eles. Se
desobedecermos o mandamento de Deus, que é andar em amor
para com Ele e para com todos os homens, teremos errado o alvo e,
portanto, pecamos.

A PERGUNTA IMPORTANTE
Quero desafiá-lo com uma pergunta importante. Se você
escrevesse os pecados que você tentou vencer quando foi salvo,
listados um por um (um debaixo do outro) e, depois, escrevesse na
frente de cada pecado: por que você tenta parar com esses
pecados? Será por medo ou por consequências vindas de Deus?
Será por medo de não ir para o céu? Ou será por medo de ser
rejeitado por Deus? Talvez você queira ser aceito por Deus tão
desesperadamente que isso o levou a pensar: se não vencer esses
pecados, Deus não me amará nem me aceitará livremente nem
inteiramente.
Todas essas razões são, absolutamente, terríveis e anti-bíblicas.
Somos simplesmente aceitos e amados por Jesus Cristo e
precisamos crer nEle. Pela fé, estamos em Cristo, e totalmente
desligados pela justiça de qualquer uma de nossas obras. Se não
crermos completamente nesta verdade de todo o nosso coração
nem estivermos convictos de que somos amados e aceitos
completamente, independentemente de nossos esforços e obras,
sempre lutaremos contra o pecado e, certamente, contra pecados
ocultos e secretos. Por que posso falar isso tão ousadamente?
Porque todas essas razões para se parar de pecar são terríveis e
sem nexo, elas não têm o poder de destruir o pecado em nós.

COMO A GRAÇA FUNCIONA


Vamos olhar o belo verso de Romanos 5:20-21:
Sobreveio, porém, a lei para que a ofensa abundasse;
mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;
para que, assim como o pecado veio a reinar na morte,
assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a
vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.
Em simples palavras, a lei veio para que pudéssemos ver o total
poder do pecado, porque deveríamos descobrir que precisamos de
Jesus Cristo e de seu sacrifício por nós unicamente. O versículo 21
diz que a graça reina pela justiça. A graça é, frequentemente, mal
compreendida como imerecido favor divino. Esta seria somente uma
parte da graça, mas não compreenderia sua total definição. A graça
é um poder divino sobrenatural para nos dar vitória em todas as
áreas de nossa vida, inclusive sobre o pecado. Se olharmos
atentamente o verso 21, veremos uma chave fundamental posta
nele: a graça somente funciona através da justiça. Se você não
acreditar inteiramente no fato de que você é justiça de Deus porque
Jesus cumpriu a lei e nos deu a sua justiça, independentemente de
nossas obras, então a graça não será capaz de trabalhar em sua
vida.
Você precisa rejeitar todo pensamento que tenta convencê-lo de
que qualquer justiça venha das coisas que você faz ou de seu
próprio esforço. Enquanto você crer, mesmo que seja pouco, que
qualquer de suas obras ou esforço lhe fará justo, você fará da graça,
que é o poder divino para lhe dar total vitória sobre o pecado,
totalmente ineficiente. Eu conheço essa terrível luta, pois também
vivia assim. Oh! Como o meu coração se alegra na verdade da
vitória da cruz e no fato de que a graça de Jesus Cristo é
completamente ativa para a minha vida.
Se você crer que o pecado é, de fato, o prazer que Deus odeia e
quer que você pare com ele imediatamente, você irá viver uma vida
terrível e imersa na mentira. O pecado não traz prazer; ele traz nada
além de destruição, dor, angústia e outras terríveis consequências.
Frequentemente, não enxergamos as consequências de nossos
pecados e, portanto, somos enganados e acreditamos que podemos
lidar bem com uma vida pecaminosa. O pecado endurece nosso
coração e nos rouba a confiança de nos aproximarmos de Deus
livremente como seus filhos amados.
Meu amigo, Deus não quer retirar nenhum prazer de você quando
Ele coloca seu alto padrão contra o pecado. A verdade é que Ele
quer remover a destruição de nós. Todas as vezes que pecamos,
nosso coração é afetado e se torna frio e duro. Temos que ser bem
honestos sobre o mal do pecado em nossa vida. Sou convicto de
que os crentes pecam por duas únicas razões: ou porque eles
desejam pecar ou porque não compreendem nem acreditam na obra
consumada da cruz. Quando olho para os meus mais de 45 anos de
vida cristã, o pecado nunca foi divertido nem agradável; esta é uma
grande mentira do inimigo.

DEUS PERDOA NOSSOS PECADOS


Eu gostaria de reforçar o que quero dizer pela diferença entre
“pecado” e “pecados”. Colocando essas diferenças em termos
gramaticais, podemos ligar a palavra “pecado” à natureza
pecaminosa, o que nos leva a compreendê-la na classe dos
substantivos. Já a palavra “pecados”, está ligada à ação de pecar, o
que nos leva a compreendê-la como verbo. Analogicamente, seria
como um lutador (substantivo) que luta (verbo). A razão pela qual o
lutador luta é, simplesmente, pelo fato de ele ser um lutador por
natureza. Igualmente em nossa vida; enquanto o nosso foco for
tentar não pecar, nunca alcançaremos a vitória. Isso acontece
porque o pecador sempre peca, em outras palavras, o substantivo
determina a ação do verbo. Para parar a ação do verbo, deve-se,
primeiramente, aniquilar o substantivo. Aplicando isso em nossa
vida espiritual, se quisermos parar nossa ação de pecar, nosso foco
não deve centrar-se no ato de pecar, mas na natureza pecaminosa.
Então, como podemos viver em vitória? A vitória vem no
momento em que lidarmos com nossa natureza pecaminosa;
quando arrancarmos o substantivo de nós, o verbo irá parar de
funcionar. Livres de nossa natureza pecaminosa, nosso ato de pecar
não terá lugar para se originar e acontecer. Essa é a razão pela qual
nosso foco precisa mudar, se quisermos viver uma vida em vitória. É
muito triste ver quantos cristãos vivem debaixo da Lei, e não
debaixo da graça. Eles leem a Bíblia e, depois, tentam parar suas
ações pecaminosas como se tivessem o poder de destruírem a
natureza pecaminosa em sua vida. Se quisermos ser capazes de
parar de pecar pela nossa própria força, qual seria, então, a razão
de Cristo ter sido crucificado?
Como lemos no livro de Gálatas, Paulo confronta o espírito
religioso severamente. Ele iniciou suas epístolas, em sua maioria,
elogiando as Igrejas para as quais escrevia. Entretanto, na epístola
aos gálatas, ele não começou no mesmo tom. Por quê? Porque
aquela Igreja havia caído da graça e da fé para abraçar as obras.
Paulo, então, deixou muito claro que não podemos começar nossa
vida cristã pelo Espírito e, nela, nos aperfeiçoar pela carne. Cada
esforço nosso de tentar vencer a natureza pecaminosa não passa
de um trabalho da carne que nos levará à frustração.

MOTIVOS DIFERENTES
Agora que nós entendemos o que significa pecado e aprendemos
acerca das motivações erradas para vencê-lo, quero lhe mostrar
dois motivos certos para vencermos o pecado. O primeiro é
entender as consequências de pecar.
Cada pecado que cometemos tem sua consequência. Alguns
pecados têm consequências imediatas, enquanto outros podem
permanecer sem nenhuma consequência por muito tempo. É muito
perigoso nos convencermos de que, porque não vemos
consequências de imediato, o pecado não tem tanta importância.
Podemos escolher nossas ações, mas não podemos escolher as
consequências delas.
Uma pessoa pode até cometer adultério, mesmo assim não será
punida por Deus, afinal, Cristo levou sobre Si toda punição pelos
pecados. Contudo, as consequências do pecado ainda podem ser
devastadoras. Além do risco de contrair doenças, pode-se perder a
família, causar uma gravidez indesejada e assim por diante.
Uma das consequências mais sérias do pecado é sua influência
negativa em nosso coração. Em Provérbios 4:23, lemos que
devemos guardar nosso coração com toda diligência, pois dele
procedem as fontes da vida. Nós não fomos criados para o pecado,
pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Jesus disse
algo poderoso que está registrado em Lucas 17:20-21: “Interrogado
pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes
respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem
dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de
vós”.
Jesus não disse isso a cristãos, mas aos fariseus que não eram
nem salvos. O reino de Deus está em cada fibra do ser humano.
Isso significa que cada vez que nós pecamos, não pecamos apenas
contra Deus, mas também contra nós mesmos. Uma vez que
entendermos que o pecado influencia nosso coração e a fonte de
vida que procede dele, seremos sábios ao nos afastar do pecado.
Há uma segunda consequência para o pecado que deveria
preocupar todos os cristãos: o pecado desagrada a Deus, aquele
que nos ama profundamente e pagou um preço tão alto para nos
comprar. Esta, sozinha, deveria ser razão suficiente para nós nunca
desagradarmos a Ele. Muitos cristãos me falam que a fé agrada a
Deus e nada mais importa, mas esta não é uma verdade bíblica. O
Novo Testamento nos ensina várias coisas que agradam ou
desagradam a Deus. Jesus, nosso maior exemplo, disse em João
8:29: “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só,
porque eu faço sempre o que lhe agrada”. Jesus não estava
falando acerca de fé, mas de um estilo de vida que Ele viveu e
coisas que Ele fez para Seu Pai.
3
VITÓRIA SOBRE O PECADO
O único modo pelo qual podemos viver em vitória sobre o pecado
é acreditar e receber nossa vitória pela fé. Somente pela
apropriação daquilo que Cristo fez por nós na cruz, conseguiremos
a vitória sobre todo o nosso comportamento pecaminoso. Basta
crermos na verdade da Bíblia claramente escrita em II Coríntios
5:17:
Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as
coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo.
No dia em que nascemos de novo e fomos salvos,
sobrenaturalmente, fomos criados, outra vez, novinhos em folha por
Deus. No momento em que experimentamos a alegria da salvação,
nossa velha natureza morreu na cruz e um novo “ser” foi criado. Se
não vivermos pela fé nesta verdade bíblica, a vitória nos será
impossível. Precisamos estar certos de que, do mesmo modo que a
fé na morte de Jesus na cruz trouxe perdão para os nossos
“pecados” e nos salvou, a fé no trabalho consumado da cruz nos
trará a vitória sobre nossa “natureza pecaminosa”. Éramos
incapazes de salvar a nós mesmos, como, também, somos
incapazes de vencer nossa natureza pecaminosa por nós mesmos.
Todas as bênçãos espirituais que nos pertencem por direito
somente se tornarão realidade em nossa vida se nos apropriarmos
delas pela fé. Como escrevi em meu livro “Fé”, muito
frequentemente, cremos que as circunstâncias e aquilo que
sentimos são a verdade; infelizmente, cremos mais nessas coisas
que na Palavra de Deus. Em vez de mudarmos esse modo de crer,
fundamentado nos sentimentos e nas circunstâncias, somos
tentados a agir exatamente como os gálatas agiram: eles iniciaram a
vida espiritual no Espírito e continuaram-na pelo esforço da carne.
O que acontece frequentemente é que tentamos vencer os
pecados em nossa vida lutando contra eles, em vez de obedecer à
Bíblia, crendo que nossa natureza pecaminosa foi destruída na cruz.
Quando agimos assim, operamos diretamente contra o poder da
cruz. Quando não vivemos pela fé no trabalho consumado da cruz,
constantemente, temos nosso foco em nosso comportamento
externo. É assim que nos tornamos religiosos: quando os frutos da
árvore venenosa continuam crescendo e crescendo, nos tornamos
incapazes de removê-los; portanto, mudamos de estratégia:
passamos a pintá-los, mesmo que sejam podres, iludindo-nos
quanto ao fato de que um pouco de tinta os fará de melhor
aparência.
Como religiosos, tentamos agir aparentemente bem quando
estamos em frente das pessoas, mesmo que o nosso coração não
tenha mudado; mesmo que permaneça em nós a velha natureza,
comportamo-nos como santos. Isso é hipocrisia, e Deus não deseja
que sejamos hipócritas. Ele não quer que os frutos ruins de nossa
vida tenham uma aparência um pouco melhor; Ele deseja que
creiamos no trabalho consumado da cruz para vivermos em vitória,
totalmente livres de nossa velha natureza pecaminosa. Em Gálatas
5:1 diz:
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! Portanto,
permanecei firmes e não vos sujeiteis outra vez a um
jugo de escravidão.
Quero que observemos que Paulo escreveu essa sentença no
passado; ele não disse “Cristo irá nos libertar”, mas escreveu:
“Cristo nos libertou”. Como pode ser que muitos de nós não
experimentamos essa liberdade? Creio que as principais razões de
muitos não experimentarmos essa verdade são: o fato de não
crermos que Cristo já nos libertou de nossa natureza pecaminosa e
o fato de não termos aprendido a permanecer firmes na liberdade
que Cristo nos deu.
Vale ressaltar que “permanecer” significa que,
independentemente das circunstâncias, sejam elas as mais terríveis
possíveis, de modo algum acreditaremos na mensagem que elas
querem nos trazer; “permanecer” significa crer na verdade da
Palavra de Deus acima de qualquer coisa. Vamos olhar o texto
escrito em Gálatas 5:24:
Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne,
com as suas paixões e os seus desejos.
A Bíblia faz essa afirmação como um fato, pois uma vez que
fomos salvos, pertencemos a Cristo e, portanto, é uma verdade
bíblica que as paixões e desejos da nossa carne foram crucificados.
Em nosso espírito há um desejo mais forte de seguir e obedecer a
Cristo do que de vivermos em nossas ações pecaminosas. A
destruição de nossa natureza pecaminosa é um caso encerrado3. O
que precisamos fazer é crer, receber e confessar em fé as
promessas de Deus.
Nossos esforços próprios nunca nos darão vitória sobre o
“pecado”. Compreendo que tudo isso parece muito simples e posso
imaginar que muitos estejam pensando: como posso experimentar
essa verdade em minha vida prática? Como autor, peço que você
permaneça lendo este livro e confie que, mesmo antes de terminá-
lo, você terá encontrado a resposta.

OS DOIS GRANDES PERIGOS


Enquanto aprendemos a viver a vitória da cruz, o inimigo nos
tentará a acreditar que já vencemos o poder do pecado em nossa
vida. Quando virmos que nossas ações e comportamentos
mudaram por causa de nossa fé na cruz, o diabo fará tudo que
puder para nos dizer o quão bons e o quão suficientes somos. Ele
vai tentar encher nossa mente com pensamentos de orgulho, nos
fazendo sentir melhor que os outros porque, agora, vivemos em
vitória.
Esse é um grande perigo, porque o orgulho sempre antecede à
queda. Precisamos resistir essa tentação e manter nosso foco na
graça e na obra consumada da cruz. Precisamos nos lembrar de
que toda a nossa vitória está na cruz, não em nosso esforço. Se
cedermos à tentação do orgulho nesse caminho de aprendizado
prático sobre a vitória da cruz, rapidamente, descobriremos o quão
fracos somos.
Quando vivemos na graça de Deus, nunca podemos julgar ou
criticar nossos irmãos em Cristo, pois sabemos e compreendemos
que a graça é tudo o que somos e tudo o que temos, e nunca nosso
esforço próprio. Os fariseus constantemente criticavam e julgavam
seus companheiros, porque criam que venciam seus
comportamentos errados por guardar a Lei ou outras regras
meramente humanas. Aqueles que criticam ou julgam o seu
próximo, de fato, não compreenderam nem creem, plenamente, na
graça nem no trabalho consumado da cruz.
Precisamos estar certos de que nossa única contribuição com
qualquer mudança ocorrida em nossa vida é o simples fato de
crermos na graça de Deus e na obra consumada da cruz. Vale
lembrar-nos de que mesmo a fé em Deus vem do próprio Deus.
Dessa forma, uma vez que compreendemos o trabalho consumado
da cruz, a bondade de Deus e o quanto Ele nos ama, ficaremos em
paz em toda e qualquer circunstância, pois teremos a certeza de
que nosso sucesso, nossa vitória e nosso progresso dependem
totalmente de Deus, não de nós.
A segunda grande tentação vem quando, porventura, caímos ou
falhamos. Daí, ouvimos a voz do inimigo dizer que não há vitória
completa sobre o pecado. É justamente esse o momento em que
muitos voltam à obra da carne e abandonam a graça pelo esforço
próprio. Agir dessa forma nos leva a um constante estado de
condenação.
Todavia, se compreendermos que nossa vitória completa está na
cruz, sempre voltaremos para ela, caso falharmos. Precisamos
aprender o que Paulo disse aos gálatas: permanecei firmes na
liberdade que Cristo nos libertou. O inimigo fará tudo o que puder
para nos colocar em um lugar onde o nosso foco esteja voltado para
nossa capacidade de vencer o pecado, porque ele sabe que essa é
uma receita para o fracasso. Quando tropeçamos e caímos por
causa da mudança de foco da cruz para o nosso esforço, o que nos
resta a fazer é, simplesmente, nos arrepender, receber o perdão e
voltar à cruz de Cristo.

A OBRA DA CRUZ
Deixei bem claro que é apenas pela fé na obra consumada da
cruz que nós podemos experimentar da vitória de Cristo. Entretanto,
fé sem obras ou ações é o que a Bíblia chama de fé morta. O que
nós, de fato, cremos não é medido pelo que dizemos crer, mas por
como agimos ou respondemos em situações difíceis. Como Paulo
nos fala, já que estamos mortos para o pecado, devemos agir em
conformidade com isso.
Há uma verdade simples, porém poderosa, que, quando aplicada,
ajudará você a andar em vitória sobre o pecado. Eu aprendi isso
com meu amigo John Hansen, que a chama de “quebrando o
triângulo da tentação”. Obviamente, esse triângulo possui três lados,
que chamaremos de pressão, oportunidade e racionalização.
Entendendo cada um e quebrando o ciclo desse triângulo, podemos
experimentar o poder da cruz.
O primeiro lado desse triângulo é chamado de pressão. Todos
nós sofremos pressão para pecar, mas esse não é o problema real.
Na verdade, o problema começa quando nos rendemos à pressão
em vez de vivermos por meio da obra consumada da cruz. A
pressão pode vir de várias fontes: pode ser interna, gerada por
nossas necessidades emocionais não satisfeitas, hábitos errados
que estabelecemos, vícios etc.; ou pode ser externa, vinda de
nossos parceiros, membros da família, autoridades, sociedade,
igreja, cultura etc.
Quando enfrentamos uma pressão para pecar e não quebramos
esse triângulo, mas permitimos que a pressão permaneça, a
oportunidade para pecar, que é o segundo lado do triângulo,
certamente aparece. Se nós ignorarmos ou relevarmos a pressão,
será mais difícil resistir à tentação quando a oportunidade aparecer.
É por isso que Jesus diz que aquele que olhar para uma mulher com
intenção impura no coração já cometeu adultério com ela.
Precisamos parar a tentação no início, caso contrário, quando a
oportunidade vier, embarcaremos nela.
Após cedermos à oportunidade de pecar, o terceiro lado do
triângulo aparece, e nós o chamamos de racionalização. Se
escolhermos racionalizar nosso comportamento pecaminoso,
seremos consumidos por ele e ficaremos presos no ciclo do
triângulo da tentação. De acordo com o dicionário, racionalização é
“o ato de justificar um comportamento ou atitude com razões
lógicas, mesmo sendo algo inapropriado”. Se nós acabarmos caindo
em pecado, precisamos evitar a todo custo a racionalização dele,
caso contrário, não andaremos em vitória. Muitas pessoas já
racionalizaram o pecado quando passaram por pressão.

EXEMPLO BÍBLICO
Há muitos exemplos bíblicos que nos mostram como esse
triângulo funciona na vida das pessoas, mas escolhi apenas um, de
um homem muito conhecido, registrado em Gênesis 39. É a história
de José e a esposa de Potifar, em que ele sofreu a pressão e teve a
oportunidade, mas se recusou a racionalizar quando confrontado
pela tentação, e por isso pôde andar vitoriosamente. Nos versos 8 a
10, lemos o seguinte: “Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu
senhor: Tem-me por mordomo o meu senhor e não sabe do que há
em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele
não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou,
senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha
maldade e pecaria contra Deus? Falando ela a José todos os dias, e
não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela”.
Lendo esses versos, podemos ver claramente o triângulo. José se
deparou com a pressão interna do desejo hormonal por sexo,
natural em todo jovem; sofreu a pressão externa de uma mulher de
influência e poder que queria dormir com ele; e teve a oportunidade
quando estava sozinho na casa com aquela mulher. Se ele tivesse
racionalizado o pecado com antecedência, certamente teria
sucumbido diante da tentação. A Bíblia relata que aquela mulher
tentou dormir com José todos os dias, mas ele nunca racionalizou
tal comportamento pecaminoso. A resposta que ele deu a ela
mostrou que ele quebrou o triângulo logo no início, quando a
pressão veio. Esse é o caminho para andar em vitória.

3 No original em inglês foi usada a expressão “done-deal” que


poderia ser traduzida literalmente por “negócio fechado”. Todavia,
optamos por traduzi-la por “caso encerrado” para garantir melhor o
modo como comumente essa expressão é empregada em
português. Nesse caso, consideramos a compreensão do leitor ao
texto.
4
O PODER DA LEI
Na minha opinião, Romanos 8 é um dos capítulos mais poderosos
de toda Bíblia. É um daqueles capítulos que todo cristão deveria
memorizar. Vamos olhar o início deste capítulo:
Portanto, agora não há nenhuma condenação para os
que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a
carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito
da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da
morte. Porquanto, aquilo que a Lei fora incapaz de
realizar por estar enfraquecida pela natureza
pecaminosa, Deus o fez, enviando seu próprio filho, à
semelhança do ser humano pecador, como oferta pelo
pecado. E, assim, condenou o pecado na carne.
O versículo primeiro começa com a verdade de que não há
condenação. Esta é uma verdade muito importante na vida de todo
crente. Para compreendermos esse versículo, precisamos ligá-lo
aos versículos postos no final do capítulo 7, pois neles Paulo explica
a miséria de se viver a vida debaixo da Lei.
Debaixo da Lei não há liberdade, não há perdão, há somente
condenação; mas em Cristo Jesus, fomos libertos de toda
condenação. Cristo Jesus pagou o preço e sofreu condenação no
exato momento em que Ele foi separado de Deus por ter se tornado
pecado em nosso lugar. Somos livres das consequências de nossos
pecados no passado, no presente e no futuro, porque estamos em
Cristo Jesus.
A maioria dos estudiosos concordam que esta última parte do
versículo primeiro em que se lê os que não andam segundo a carne,
mas de acordo com o Espírito não faz parte dos manuscritos
originais. Segundo eles, os versículos 1 e 2 deveriam estar escritos
assim: Há, portanto, agora, nenhuma condenação para aqueles que
estão em Cristo Jesus porque a lei do Espírito da vida em Cristo
Jesus me livrou da lei do pecado e da morte4.
Romanos 8:2,3 continua:
Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te
livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto, aquilo que
a Lei fora incapaz de realizar por estar enfraquecida pela
natureza pecaminosa, Deus o fez, enviando seu próprio
filho, à semelhança do ser humano pecador, como oferta
pelo pecado. E, assim, condenou o pecado na carne.
Para compreendermos esses versículos, precisamos entender o
que a palavra “lei” significa neles. A palavra “lei” não se refere à “Lei
de Moisés”, mas deve ser compreendida em seu aspecto geral,
como a compreendemos ao dizermos “lei da gravidade”. Mas, o que
é a “lei da gravidade”? Como ela funciona? Veja que se saltarmos
do topo de um edifício muito alto, a lei da gravidade nos puxará ao
chão e, certamente, morreremos. Essa “lei” é uma força que atrai os
corpos em direção ao centro da terra e, contra ela, não temos
controle algum. Vamos, então, olhar para esses versículos com essa
definição em mente. Vamos substituir a palavra “lei” pelas palavras
“força atraente5” e, repentinamente, observaremos que esses
versículos receberão um novo poder; diz: porque a força atraente do
Espírito da vida, em Cristo Jesus, te libertou da força atraente do
pecado e da morte.
Quando Jesus morreu na cruz e gritou: “Está consumado!”, sua
morte não somente trouxe perdão para os nossos pecados, mas,
também, destruiu a “força atraente” que controlava nossas ações
pecaminosas. Há duas forças atraentes tratadas no texto de
Romanos: uma é a força atraente do Espírito da vida em Cristo
Jesus; a outra é a força atraente do pecado e da morte. Se
rendermos nossa vida à força atraente do pecado, teremos a morte
como resultado dessa força aplicada sobre nós. Nenhum cristão
precisa viver debaixo da influência dessa força atraente, porque a
nova força atraente do Espírito e da vida em Cristo Jesus está,
agora, ativa em nosso espírito.
Observe que o versículo dois está escrito no passado. Ele diz que
a “força atraente” do Espírito da vida em Cristo Jesus nos livrou da
lei do pecado e da morte. Se a “força atraente” da vida em Cristo
Jesus, verdadeiramente, nos libertou da “força atraente” do pecado,
poderíamos perguntar: por que tantos cristãos lutam contra o
pecado?
Isso acontece porque eles tentam vencer o pecado em sua vida,
em vez de viver a vitória da cruz. Quando crermos que a árvore de
nossa natureza pecaminosa foi cortada, não mais produziremos
frutos ruins; isso será um resultado natural de nossa crença. Ao nos
rendermos a Cristo Jesus e ao trabalho consumado da cruz, essa
nova “força atraente” tomará o controle de nossa vida. O que temos
a fazer é não mais tentar vencer o pecado pela nossa força, mas,
pelo contrário, somente permitir que a força atraente do Espírito nos
leve em direção à vida de vitória em Cristo pela cruz.
Esse versículo não somente fala da lei (força atraente) do
Espírito, mas, ainda, fala do Espírito da vida em Cristo Jesus. O
verdadeiro poder reside nesta verdade maravilhosa que, através do
supremo trabalho da cruz, nossa vida é, agora, a vida do próprio
Jesus Cristo. A vitória dEle é nossa vitória. Uma vez que Ele
derrotou o pecado e não pecou, podemos viver a mesma vida de
vitória; não por causa de qualquer coisa que tenhamos feito ou que
ainda faremos, mas por causa daquilo que Ele fez. Agora a minha
vida está nEle e nEle não há pecado. É isso que significa estamos
em Cristo Jesus. Lembremo-nos de que Cristo se tornou pecado em
nosso lugar e nos tornamos justiça no lugar dEle. Precisamos crer
honestamente nesta verdade de II Coríntios 5:21:
Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta
por todos os nossos pecados, a fim que nEle nos
tornássemos justiça de Deus.

A SENTENÇA FOI DECLARADA


Na cruz, Deus decretou um veredito final contra a nossa natureza
pecaminosa. O que isso significa? Vamos imaginar que em nosso
país exista um juiz com autoridade suprema. Nenhuma de suas
decisões pode ser questionada nem alterada. Não há ninguém
superior a ele para que alguém possa recorrer de suas sentenças.
Imagine que um dia esse juiz decretou um veredito final e, por
ninguém poder alterá-lo, ele se transformou numa verdade universal
em nosso país.
O mundo espiritual não é diferente. Deus é esse juiz supremo e
não há absolutamente ninguém que possa mudar suas decisões. Na
cruz do Calvário, Ele sentenciou o fim de nossa natureza
pecaminosa. Agora, nada pode alterar essa verdade. A única coisa
que nos resta fazer é nos apropriar dela pela fé. À luz desse
entendimento, vamos olhar outra vez para Romanos 8:3,
Porquanto, aquilo que a Lei fora incapaz de realizar por
estar enfraquecida pela natureza pecaminosa, Deus o
fez, enviando seu próprio filho, à semelhança do ser
humano pecador, como oferta pelo pecado. E, assim,
condenou o pecado na carne.
A palavra “Lei” nesse versículo refere-se à Lei dada por Deus aos
homens. A Lei nunca poderia vencer o pecado na vida do homens
por causa da carne. A Lei era ruim? É claro que não. A Lei, na
verdade, era boa. O problema estava na carne, nossa natureza
pecaminosa, que constantemente nos levava ao pecado. Deus teve
a solução perfeita: em vez de remover sua Lei, Ele destruiu a
natureza pecaminosa que não podia obedecer a essa Lei divina.
No versículo três, Paulo continua: Ele condenou o pecado na
carne. Há duas coisas muito importantes nesta parte do versículo. A
primeira é a palavra “pecado”. A palavra “pecado” aqui está no
singular e se refere à nossa natureza pecaminosa, que nos leva a
cometer ações pecaminosas. Esse versículo não diz que Deus
perdoou nosso pecado, mas que Ele condenou o pecado na carne.
A segunda coisa que precisamos observar é que Deus condenou
nossa natureza pecaminosa. A palavra grega para condenar
significa fazer o julgamento contra alguma coisa. Deus, claramente,
afirma que através do trabalho consumado da cruz, Ele julgou e
sentenciou contra nossa natureza pecaminosa. Qual foi o
julgamento? O julgamento foi que não há mais “força atraente”
contra qualquer corpo que estiver em Cristo Jesus. Não há mais
autoridade legal da natureza pecaminosa em controlar a vida de
qualquer cristão. Deixe-me repetir: não vamos tentar vencer a
natureza pecaminosa ou as ações pecaminosas com nossas
próprias forças!. Vivamos na vitória do veredito de Deus na obra da
cruz contra nossa natureza pecaminosa.

LIBERDADE DA ESCRAVIDÃO
Quando a Bíblia fala sobre a libertação da “força atraente” do
pecado e da morte em Romanos 8, ela usa uma palavra grega muito
interessante para liberdade. Quero enfatizar o fato de que o
apóstolo Paulo escreveu este versículo no passado: “Ele te libertou”.
A afirmação vem escrita como um fato que aconteceu há quase dois
mil anos na cruz. A palavra grega usada como libertar era
comumente empregada para se tratar de escravos. Quando o dono
dava liberdade a um escravo, ele tinha que escrever uma certidão
de libertação, porque naquela cultura os escravos eram marcados e,
por causa da marca, eram sempre considerados escravos. Isso
acontecia para resguardar os donos em caso de fuga de qualquer
escravo, pois, por serem marcados, caso fugissem, eram
identificados facilmente e devolvidos à quem pertenciam.
Todavia, se um escravo tivesse uma certidão provando sua
libertação, ninguém tinha permissão para escravizá-lo novamente.
Em Romanos 8, a palavra escravizar empregada referia-se à nossa
situação de escravos. Entretanto, Cristo pagou nosso preço de
liberdade para, finalmente, termos o direito legal de sermos livres do
poder do pecado. Dessa forma, nem o pecado (natureza
pecaminosa) nem o diabo têm qualquer autoridade legal para nos
escravizar outra vez.
A pergunta é: em que acreditamos? Será que acreditamos termos
sido libertos do poder do pecado pelo simples fato de aceitar a obra
consumada da cruz? Ou, será que acreditamos ser preciso lutar
arduamente para não pecar?
A escravidão ainda era legal nos EUA no século XIX. Naquela
época, Abraham Lincoln era o presidente da república americana.
Ele assinou um documento legal em 1862 chamado de
“Proclamação Emancipatória”. Aquele documento legal declarou que
cada escravo tinha o direito à liberdade.
Contudo, ainda havia um problema: naquela época, os EUA
estavam em guerra civil6. Por causa dessa guerra, os escravos não
foram informados de suas liberdades legais, apesar de livres. A
grande maioria deles eram analfabetos e, portanto, não conseguiam
ler aquela notícia maravilhosa. A guerra civil americana terminou 3
anos depois da lei emancipatória, em abril de 1865. A maioria dos
escravos permanecia vivendo em escravidão mesmo estando livres
há mais de três anos. Eles eram livres, porém viviam como
escravos. A libertação dos escravos nos EUA tornou-se totalmente
realidade somente em 18 de dezembro de 1865, quando os
escravos agiram em liberdade deixando os seus senhores.
Isso é exatamente o que o diabo quer fazer conosco. Ele quer
nos levar a uma posição em que continuaremos vivendo em
cadeias, mesmo que nossa liberdade já tenha sido declarada legal.
Se não conhecemos nem compreendemos nosso direito de
liberdade ou se ainda não acreditamos nele, continuaremos
escravos do pecado, apesar de estarmos livres.
Se quisermos viver uma vida livre do pecado, temos somente
duas opções: uma delas é crer e abraçar a vitória da cruz em que
nossa natureza pecaminosa foi declarada sem poder. Se não
abraçarmos essa verdade completamente através da fé, nossa
única outra opção será lutar com todas as nossas forças contra
nossos comportamentos pecaminosos.
Essa luta é resultante da obra da carne e faz a graça se tornar
inoperante, absolutamente sem poder. Não crer na obra da cruz nos
coloca em um ciclo vicioso: desejar vencer o pecado, tentar vencer
o pecado, falhar, lutar contra a condenação e, depois, tentar tudo
novamente com mais esforço. A vida, dessa forma, é muito triste,
frustrante e cansativa. Muitos cristãos até desistiram dessa luta
aceitando que certos comportamentos pecaminosos nunca iriam
mudar em sua vida. Isso não deveria ser assim.

4 É importante salientar que a análise do autor foi feita em inglês,


fundamentada numa versão da Bíblia para o inglês. Ao apontar o
escrito original em confronto com a tradução lida, destacamos que
este confronto é feito a partir da versão em língua inglesa. Por isso,
podem ocorrer variações quando partimos para as versões em
língua portuguesa. Para validar o exposto pelo autor, neste capítulo,
usamos a tradução de João Ferreira de Almeida, revista e corrigida;
e, deixamos nesta nota a tradução palavra por palavra da versão
New King James conforme apresentada pelo autor: “Há entretanto
agora nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo
Jesus, que não andam de acordo com a carne, mas de acordo com
o Espírito.” Não deixemos de nos centrar no ponto central desta
análise que é o fato de não haver, em hipótese alguma, condenação
para aqueles que estão em Cristo Jesus.

5 O original em inglês traduziu o significado de “lei” pela


expressão “driving force”. A tradução literal seria “força que dirige”,
ou seja, uma espécie de força que direcionaria os corpos para a
direção em que ela fosse aplicada. Contudo, a tradução literal dessa
expressão deixaria lacunas em nosso entendimento na língua
portuguesa. Portanto, escolhemos usar “força atraente” para melhor
representar essa espécie de força que controlaria e levaria um corpo
à direção em que fosse aplicada. Poderíamos ter traduzido a
expressão por “força controladora”, mas julgamos correr o risco de
redundância e incoerência estilística.

6 A guerra civil americana consistiu na luta armada dos estados


do norte contra os estados do sul dos EUA.
5
MORTOS PARA O PECADO
O livro de Romanos contém alguns dos ensinos mais poderosos
em relação à libertação do pecado. Infelizmente, há várias
compreensões equivocadas em relação ao texto de Romanos e, por
tais equívocos, muitas vezes, esses ensinos não são aceitos como
verdade. Vamos dar uma olhada em Romanos 6:1 a 2,
Então, qual seria a conclusão? Devemos continuar
pecando a fim de que a graça seja ainda mais
ressaltada? De forma alguma! Nós que morremos para o
pecado, como seria possível desejar viver sob o seu
jugo.
É importante que entendamos o tempo verbal em que os
versículos estão escritos. Vamos observar que nós que morremos
para o pecado está escrito no passado. A Bíblia está repleta de
afirmações no passado. Um professor universitário me disse que
esse tempo verbal no passado indica que a ação dita na frase está
completamente acabada, e não há nada que possa ser acrescido à
tal ação. Então, compreendemos que a Bíblia afirma o que afirma:
nós morremos para o pecado. Isso significa que não há como
voltarmos à ação posta no passado e acrescentar a ela alguma
coisa. Mas, como muitos cristãos ainda não entendem o poder da
Nova Aliança nem o trabalho que a cruz fez em nossa vida; muitos
vivem a vida determinada por seu passado, ainda escravos do
pecado, em vez de viverem a realidade da obra consumada da cruz.
Nosso presente precisa ser determinado pelo passado da cruz, e
não pelo nosso próprio passado. Precisamos crer na afirmação do
fato de que morremos para o pecado há quase dois mil anos atrás.
Romanos 6:6 enfatiza esta verdade quando diz:
Pois temos conhecimento de que a nossa velha
humanidade em Adão foi crucificada com Ele, a fim de
que o corpo sujeito ao pecado fosse destruído, para que
nunca mais venhamos servir o pecado.
Outra vez deixo claro que não falo sobre uma esperança futura de
libertação, pois é fato que nossa velha e pecaminosa natureza
morreu por ter sido crucificada com Cristo Jesus. Quando Jesus
morreu na cruz, nossa natureza pecaminosa morreu com Ele
também. Precisamos entender essa verdade para vivermos livres.
Essa é a única maneira de viver em vitória sobre o pecado. Tentar
vencê-lo pelo esforço próprio somente nos causará frustrações.

LIBERDADE COMPLETA
No versículo 7 do capítulo 6, Paulo continua a argumentação
sobre a liberdade ao dizer:
Porquanto, todo aquele que morreu já foi justificado do
pecado.
Todos esses versículos são afirmações de um simples fato, de
algo que aconteceu no passado. O versículo 14 continua:
Porquanto o pecado não poderá exercer domínio sobre
vós, pois não estais debaixo da Lei, mas debaixo da
graça.
A única maneira de o pecado não ter controle sobre nossa vida é
se pararmos de viver debaixo da Lei. Sempre que tentamos viver
sob a Lei, o pecado tem poder e domínio sobre nós. Somente
podemos viver em vitória quando vivermos debaixo da graça, que
não é uma licença para pecarmos, mas o dom divino da liberdade
do pecado.
Nos versículos 17 e 18, Paulo continua a falar daquilo que a obra
da cruz conquistou no passado. Ele afirma: vocês eram escravos do
pecado e foram libertos7. Outra vez, Paulo não trata de algo que irá
acontecer quando formos para o céu, do modo como muitos cristãos
acreditam e pregam; ele fala de uma ação completa e totalmente
terminada no passado. O versículo 18 continua, e sendo libertos do
pecado, tornaram escravos da justiça8. Precisamos observar que a
palavra empregada é “pecado” no singular, e não a palavra pecados
no plural; isso significa que Paulo refere-se à nossa natureza
pecaminosa, da qual estamos completamente livres. Se voltarmos à
alegoria da árvore venenosa, podemos afirmar, categoricamente,
que ela já foi arrancada pela raiz e está completamente destruída.
Ao aprendermos a viver pela fé nesta verdade poderosa, a graça
fará toda a obra em nossa vida. Precisamos parar de lutar contra o
“pecado” e de tentar vencê-lo com o nosso esforço próprio, em vez
disso, precisamos viver a vitória da cruz.

A PASSAGEM FREQUENTEMENTE MAL COMPREENDIDA


Romanos 7:15-20 é uma passagem muito facilmente mal
compreendida; vamos a ela:
Pois não compreendo meu próprio modo de agir;
porquanto o que quero, isso não pratico; entretanto, o
que detesto, isso me entrego a fazer. Ora, e se faço o
que não desejo, tenho que admitir que a Lei é boa.
Nesse sentido, não sou mais eu quem determina o meu
agir, mas sim o pecado que habita em mim. Porque sei
que na minha pessoa, isto é, na minha carne, não reside
bem algum; porquanto, o desejar o bem está presente
em meu coração, contudo, não consigo realizá-lo. Pois o
que pratico não é o bem que almejo, mas o mal que não
quero realizar, esse eu sigo praticando. Ora, se faço o
que não quero, já não sou eu quem o realiza, mas o
pecado que reside em mim.
Já ouvi sermões sobre essa passagem em que os pregadores
explicavam o fato de que até o grande apóstolo Paulo lutava contra
seu comportamento pecaminoso, portanto, concluem, é igualmente
impossível para qualquer um de nós viver em vitória sobre o
pecado. Ainda instigam com perguntas como essa: Se o próprio
Paulo não pôde alcançar a vitória sobre o pecado, quanto mais
poderemos nós? Esse ensino claramente caminha em direção
contrária à doutrina da graça e ao trabalho consumado da cruz.
Sempre precisamos interpretar a Bíblia pela própria Bíblia, tomando
versículos individuais pelos seus contextos. Paulo claramente fala
que a natureza pecaminosa foi destruída em nossa vida. Paulo
afirma no versículo 18 que:
Porque sei que na minha pessoa, isto é, na minha carne,
não reside bem algum; porquanto, o desejar o bem está
presente em meu coração, contudo, não consigo realizá-
lo.
Quando faz a afirmação acima, Paulo não nos fala sobre a luta
que nós, enquanto cristãos, temos que passar à medida que
tentamos vencer o pecado. O contexto está muito claro; ele fala
sobre como nossa vida seria caso vivêssemos debaixo da “Lei”, não
debaixo da “graça”.
O que ele descreve nesses versículos não é a vida de vitória que
pertence a nós por direito por causa da cruz, mas ele fala da vida de
tentar obedecer à “Lei” pelo nosso esforço, sem a vitória que temos
em Cristo.
A verdade é que esses versículos descrevem a luta que milhões
de cristãos têm diariamente em todos os lugares deste mundo.
Aqueles que não vivem debaixo da graça, crendo de todo o coração
que a natureza pecaminosa foi derrotada em Cristo, tentam,
continuamente, vencer o pecado pelas suas próprias forças.
Se olharmos no início do capítulo 7, perceberemos claramente o
que Paulo diz entre os versículos 2 a 15. Basta lê-los para
compreendermos que ao falar da luta contra o pecado nos
versículos já citados, o apóstolo descreve o que seria a vida de
vitória sobre o pecado distante da graça de Jesus Cristo, vejamos:
Por exemplo, pela lei a mulher casada está ligada ao
marido enquanto ele vive; mas, se ele morrer, ela está
livre da lei do casamento. Por isso, se ela se casar com
outro homem, enquanto seu marido ainda estiver vivo,
será considerada adúltera. Mas se o marido morrer, ela
estará livre daquela lei, e mesmo que venha a se casar
com outro homem, não estará adulterando. Assim
também, vós, meus irmãos, morrestes quanto à lei
mediante o corpo de Cristo para pertencerdes a outro,
Àquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que
frutifiquemos para Deus. Pois quando éramos dominados
pela natureza pecaminosa, as paixões dos pecados,
instigadas pela própria Lei, agiam livremente em nosso
corpo, de maneira que dávamos frutos para a morte.
Mas, agora, fomos libertos da Lei, havendo morrido para
aquilo que nos aprisionava, para servimos de acordo com
a nova ministração do Espírito, não conforme a velha
forma da Lei escrita. Portanto, que concluiremos? A Lei é
pecado? De forma alguma! De fato, eu não teria como
saber o que é pecado, a não ser por intermédio da Lei.
Porquanto, na realidade, eu não haveria conhecido a
cobiça, se primeiro a Lei não tivesse dito: não cobiçarás.
Mas o pecado, aproveitando-se da ocasião dada pelo
mandamento, provocou em mim todo tipo de cobiça;
porque, onde não há Lei, o pecado está morto. Antes eu
vivia sem a Lei; mas quando veio o mandamento, o
pecado reviveu, e eu fui ferido de morte; e descobri que o
mandamento que era para vida, transformou- se em
morte para mim. Porquanto o pecado, valendo-se do
mandamento, iludiu-me, e por meio dele me matou. De
maneira que a Lei é santa, e o mandamento, santo, justo
e bom. Portanto, isso significa que o que era bom tornou-
se morte para mim? De forma alguma! Mas o pecado
para que se revelasse como pecado, produziu em mim a
morte por intermédio do que era bom; a fim de que, por
meio do mandamento, o pecado se demonstrasse
extremamente maligno. Porquanto é do nosso pleno
conhecimento de que a Lei é espiritual; eu, entretanto,
sou limitado pela carne, pois fui vendido como escravo
ao pecado.
Não precisamos mais ser dominados pelo pecado. Não
precisamos viver em derrota. Não precisamos mais cometer os
mesmos pecados antigos repetidamente. Por que não temos que
viver mais assim? Porque é um fato que a força atraente do Espírito
da vida de Jesus Cristo nos libertou. Nosso coração precisa abraçar
a verdade de que não há vitória sobre os pecados através de
nossos esforços próprios; tentar ser um cristão melhor não nos
levará à vitória. Precisamos parar de tentar vencer o pecado com
nossos próprios esforços e abraçar, definitivamente, a cruz de
Cristo.
Veja que Paulo mostra claramente como seria o estado do
homem tentando vencer o pecado em sua própria força com as
seguintes palavras:
Contudo, vejo uma outra lei agindo nos membros do meu
corpo, guerreando contra a lei da minha razão, tornando-
me prisioneiro da lei do pecado que atua em todos os
meus membros. Miserável ser humano que sou! Quem
me libertará deste corpo de morte? Graças a Deus, por
Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, eu mesmo
com a razão sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei
do pecado.
O versículo 24 mostra o choro no coração de muitos cristãos que
vivem em luta contra o pecado: Ó, miserável ser humano que sou!
Quem me libertará deste corpo de morte? Ele responde essa
pergunta no versículo 25 ao dizer: Graças a Deus, por Jesus Cristo,
nosso Senhor! Nesses versículos, Paulo descreve os cristãos que
tentam vencer o pecado por eles mesmos. Não podemos viver
Romanos capítulo 7, mas, pelo contrário, precisamos viver a
verdade de Romanos capítulo 8, pois nele Paulo nos mostra ter sido
liberto da lei do pecado e da morte. Paulo reforça essa ideia em
Romanos capítulo 8: 9 -12:
Vós, contudo, não estais debaixo do domínio da carne,
mas do Espírito, se é que de fato o Espírito de Deus
habita em vós. Todavia, se alguém não tem o Espírito de
Cristo, não pertence a Cristo. Porém, se Cristo está em
vós, o corpo está morto por causa do pecado, mas o
espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito
daquele que ressuscitou dos mortos a Jesus que habita
em vós, aquele que ressuscitou dos mortos a Cristo
Jesus igualmente vos dará vida a seus corpos mortais,
por intermédio do seu Espírito que habita em vós.
Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a
natureza carnal, para andarmos submissos a ela.
Agora, olhe o versículo 9 em que Paulo diz que não estamos na
carne, mas no Espírito, se é que de fato o Espírito de Deus habita
em nós. No momento em que nascemos de novo passamos a
receber o Espírito de Deus residindo em nós. Quando o Espírito de
Deus habita em nós, não vivemos mais segundo a carne. O único
modo de a carne ter domínio sobre nós é se não acreditarmos
nessa simples e poderosa verdade. Precisamos permitir que a graça
faça o seu trabalho em nossa vida. O apóstolo João concorda com o
apóstolo Paulo ao afirmar em I João 2:1 que:
Caros filhinhos, estas palavras vos escrevo para que não
pequeis. Se, entretanto, alguém pecar, temos advogado
junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;
Em outras palavras, João diz que é normal para os cristãos não
pecarem; o pecado é uma exceção. João usa palavras como: para
que não pequeis, mostrando que o poder do pecado em nossa vida
foi quebrado. Ele não diz quando você pecar mas diz se você pecar,
mostrando que essa é a exceção que poderia acontecer, mas que
não é a norma de que aconteça.

7 Há momentos em que o autor parafraseia a Bíblia e não a cita


com as exatas palavras postas no texto bíblico. Esse é um desses
momentos e, portanto, decidimos traduzir a paráfrase em vez de
citar o trecho bíblico integral. Por essa razão, essas paráfrases
soam como ditas numa linguagem atualizada.

8 Idem nota anterior.


6
AS TRÊS OBRAS DA GRAÇA
A Bíblia nos mostra três obras da graça. Elas são a justificação, a
glorificação e a santificação. A justificação é nossa completa justiça
diante de Deus. Isso significa que, quando Deus olha para nós, Ele
não vê pecado algum, sejam do passado, do presente ou do futuro.
II Coríntios 5:21 fala sobre isso de uma maneira muito poderosa:
Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta
por todos os nossos pecados, a fim de que nEle nos
tornássemos justiça de Deus.
Jesus, que nunca pecou e nunca teve uma natureza pecaminosa,
se tornou pecado por nós na cruz. Mas quando Jesus morreu na
cruz, uma mudança9 completa aconteceu: a perfeita natureza da
justiça de Jesus tornou-se minha natureza. Essa é uma verdade que
é difícil de ser compreendida com nossa mente natural. O diabo,
constantemente, quer nos retirar da graça e nos levar para a
religião. Não somos justos por causa de nossas ações justas; não
há nada de mais correto que façamos capaz de nos fazer justos.
Espero que nosso coração possa se apegar a essa maravilhosa
verdade.
Se fizéssemos a seguinte pergunta: o que deveríamos fazer para
nos tornar justos ou justificados? A resposta é muito clara: não há
nada que possamos fazer pela nossa justificação; tudo o que
precisamos é crer e recebê-la pela fé. A cruz e o trabalho de Jesus
em nosso favor é o centro do cristianismo. É justamente isso a
diferença entre o cristianismo e todas as outras religiões. Nós não
temos que fazer absolutamente nada para sermos justificados; a
única coisa que nos cabe é acreditar.
A primeira obra da graça, a justificação, acontece sem trabalho
algum de nossa parte. Na verdade, se tentarmos alcançá-la pelas
nossas obras, a justificação nos será absolutamente impossível.
Nossa obras nunca nos farão justos diante de Deus. Se nossas
obras pudessem nos justificar, não haveria necessidade alguma de
Cristo ter morrido por nós.
Agora, vamos à glorificação. O que podemos fazer para sermos
glorificados? A resposta é a mesma: absolutamente nada. A
glorificação é outra obra da cruz de Cristo. A Bíblia diz que já fomos
glorificados. Veja o que está escrito em Romanos 8:17:
Se somos filhos, então, também somos herdeiros;
herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se
realmente participamos dos seus sofrimentos para que,
da mesma maneira, participemos da sua glória.
A palavra “glorificado” significa ser totalmente aprovado. É um
trabalho da graça. Não importa o quão arduamente tentamos ser
aprovados por Deus, o fato é que nunca alcançaremos a glorificação
por meio de nossas obras ou pelo nosso esforço. Durante o
processo de crescimento natural, muitos de nós precisávamos
receber a aprovação de nossos pais naturais ou professores;
vivíamos nos esforçando para que fôssemos aprovados e os
agradássemos. Se tentarmos nos aproximar de Deus por esse
mesmo modo, estaremos desafiando a cruz, mesmo não tendo a
intenção de fazer isso. Chegar a Deus pelo nosso esforço seria
desconsiderar a obra da cruz. Nunca alcançaremos aprovação de
Deus por meio de nossas boas obras ou pelo nosso esforço.
Em 16 de outubro de 2005, estava em um período de oração
quando o Senhor falou profundamente em meu coração. Ele disse
que eu nunca conseguiria agradá-lO pelas minhas tentativas
exaustivas de satisfazê-lO; ainda completou que era meu Pai
celestial e que eu não precisava esconder as motivações de meu
coração e tentar agradá-lO para ser amado por Ele. Deus me disse
naquele dia que me amava e que me aceitava independentemente
de mim. Ele acrescentou que se agradava de minha fé, mas nunca
dos meus esforços em satisfazê-lO.
É uma ideia estranha saber que não podemos fazer nada por nós
mesmos com o fim de alcançar as duas primeiras obras da graça.
Contudo, ainda pensamos, com frequência, que nos é necessário o
esforço para termos a terceira obra da graça, que é a santificação.
Em grego, a palavra “santificação” significa ser completamente
santo e separado para Deus; ser purificado e conformado em
caráter à dedicação ao Senhor. Em outras palavras, nosso caráter é
exatamente o mesmo caráter que Jesus tinha. Mesmo nessa área,
não podemos dar uma mão para Deus, mas simplesmente permitir
que a graça faça seu trabalho em nossa vida.
O foco em nossa natureza pecaminosa nunca nos dará a vitória,
mas nos manterá em uma vida de escravidão. I Coríntios 1:2
enfatiza essa verdade ao dizer:
À Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados
em Cristo Jesus e convocados para serem santos,
juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o
Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e
nosso.
É importante notar que a Igreja em Corinto tinha muitos
problemas. Paulo fala de muitos comportamentos pecaminosos,
mas, mesmo assim, ele escreve para eles dizendo que são
santificados em Cristo Jesus. Como ele pode chamá-los de
santificados se ainda tinham tantos comportamentos pecaminosos?
Lembremo-nos de que a santificação é um trabalho da graça e não
de nossa obra. Do mesmo modo, nada daquilo que façamos ou não
façamos nos trará a justificação ou a glorificação; exatamente nada
daquilo que fizermos ou deixarmos de fazer nos santificará, pois o
que nos santifica, nos justifica ou nos glorifica é o trabalho
consumado da cruz. Jesus é a nossa santificação.
Para experimentarmos essa verdade em nosso coração,
precisamos abraçá-la e nela acreditar. Precisamos confessar
ousadamente em nossa vida aquilo que a Bíblia diz e não aquilo que
vemos, sentimos ou pensamos. Somos santificados em Jesus
Cristo.

EXPERIMENTANDO A REALIDADE DA VIDA EM VITÓRIA


SOBRE O PECADO
Deixe-me compartilhar passos práticos sobre como
experimentamos essa vitória sobre o pecado em nossa vida.
1) Temos que desejar a verdade. As pessoas que desejam a
verdade, geralmente, a encontram. Essas pessoas não ficam
ouvindo por ouvir; elas ouvem como se estivessem pesquisando ou
procurando algo. Um profundo desejo pela verdade é imperativo
para uma vida que deseja a vitória sobre o pecado. Nunca foi tão
fácil quanto hoje procurar pela verdade. Por causa da tecnologia,
nós temos uma incrível vantagem em relação a outros tempos.
Temos acesso a múltiplos livros, o que nos seria impossível caso
vivêssemos 50 anos atrás. Se apertarmos somente um botão,
milhares de livros podem ser guardados em nossos iPads, iPhones
e computadores. O “doutor” Google sabe todas as coisas! Nunca foi
tão fácil estudar a Bíblia como é hoje, devido às maravilhosas
possibilidades e ferramentas disponíveis. Mas precisamos,
verdadeiramente, desejar conhecer a verdade. Esse é o primeiro
passo para uma vida de vitória. Se orarmos, pesquisarmos e
estudarmos, o Espírito Santo nos guiará à verdade.
2) Precisamos conhecer a verdade. Desejar a verdade não é
suficiente; precisamos conhecê-la. Jesus disse conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará (João 8:32 - grifo do autor). Nós
somente seremos capazes de experimentar a vitória sobre o
pecado, se conhecermos e compreendermos a verdade do poder da
cruz. O pensamento religioso bagunçou nossa vida; muitos ficamos
desolados por causa do conhecimento errado ou pela total ausência
do conhecimento. Precisamos, portanto, estudar, ler e meditar sobre
a maravilhosa verdade da vitória de Cristo constantemente. Se
estivermos convencidos de que determinada coisa seja a verdade e,
posteriormente, descobrimos que não era, é certo que a destruição
nos será inevitável. Esse é um dos males do pensamento religioso.
Por exemplo, muitos de nós não conhecemos a verdade de que
Deus quer prover para nós e nos abençoar prosperando nossa vida
e, por isso, vivemos em pobreza, nunca cumprindo o propósito de
Deus para nós. Assim, para abandonarmos esse estilo de vida
religioso e doentio, precisamos conhecer a verdade.
3) Nós temos que acreditar na verdade. Desejar e conhecer
não é suficiente; nós temos que continuar em direção ao terceiro
passo que é acreditar na verdade. Podemos cansar de lutar a
batalha perdida contra o pecado em nossa vida, mas, mesmo assim,
todos nós queremos conhecer a verdade. Quando estudamos a
Bíblia, seja lendo ou ouvindo a Palavra de Deus, nossa única
escolha é crer nela como a verdade. Encontrei muitas pessoas, em
diferentes países, desejando conhecer a verdade, mas quando se
tratava de aplicá-la à sua vida diária, ninguém mais queria acreditar
que a Palavra de Deus era a verdade. O diabo fará qualquer coisa
que puder para nos impedir de acreditar na verdade em relação a
uma vida de vitória sobre o pecado. Há aproximadamente 35 anos,
tomei uma forte decisão em minha vida; decidi crer em tudo que
Deus disse em sua Palavra. Quando eu era jovem, escrevi essas
palavras em um cartaz e o pendurei bem de frente à minha cama.
“Deus disse isso, eu creio nisso e isso se aplica perfeitamente a
mim”. O único caminho de vencer o pecado em nossa vida é aplicar
fé10 na obra consumada da cruz.
Assim, desta maneira, considerai-vos mortos para o
pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.
Precisamos crer que estamos mortos para o pecado e que a firme
fé nessa verdade nos levará à vitória.
4) Precisamos parar as tentativas de não pecar. Eu
compreendo que essa afirmação soa tão errado para algumas
pessoas que muitos, certamente, a consideram perigosa; mas estou
plenamente convicto e creio na verdade da Palavra de Deus. Por
décadas, ando e sirvo ao Senhor no ministério e, durante esse
tempo, tenho aconselhado inúmeras pessoas desesperadas e
profundamente frustradas a lutarem contra os seus comportamentos
pecaminosos. A tentativa de parar tais comportamentos nunca
funcionou. Ainda afirmo que nem a psicologia secular tampouco a
psicologia cristã cooperam para mudar ou parar esses
comportamentos. Vamos deixar claro que se esses métodos
funcionassem, não haveria a necessidade de Cristo, da cruz nem da
graça; bastaria permanecermos debaixo da velha aliança e da Lei.
Por milhares de anos, pessoas que viveram debaixo da Lei se
esforçaram contra o pecado, mas não tiveram sucesso algum. Uma
das razões pela qual Cristo morreu foi a de nos libertar dessa
batalha sem esperança. Quando olho para minha própria vida,
percebo que a Lei, o legalismo e as tentativas de vencer o pecado
nunca me levaram à vitória, pelo contrário, somente cheguei à
derrota. Pare de tentar vencer o pecado com suas próprias forças e
comece a acreditar na verdade.
5) Precisamos nos sujeitar ao Espírito e abraçar a graça. Paulo
nos diz em Romanos 6:4 que fomos sepultados com Jesus através
do batismo na morte. E que assim como Jesus ressuscitou dos
mortos, pela glória de Deus Pai, também, ressuscitaremos e,
portanto, precisamos andar nessa novidade de vida. Veja que a
Bíblia não nos diz que deveríamos tentar parar de pecar; ela
simplesmente nos pede para andar em novidade de vida. Gálatas
5:25 nos diz que, se vivemos no Espírito, deveríamos, de igual
modo, andar no Espírito. Deus, em sua maravilhosa graça, colocou
o seu Espírito Santo em nós para, constantemente, ensinar o nosso
espírito como se deve viver. Somos nova criatura, e isso significa
que o nosso espírito humano foi criado, novamente, novinho em
folha. Então, o Espírito Santo nos guia em nossa nova vida. Assim,
ao nos sujeitarmos à maravilhosa graça do Senhor e nos
submetermos à liderança do Espírito Santo, podemos viver em
vitória perfeita, como Paulo expressou em Gálatas 5:16 ao dizer:
Vivei pelo Espírito, e de forma alguma satisfareis as vontades da
carne.

O PERIGO DO ORGULHO
O orgulho é como o mau hálito, todo mundo o percebe, exceto
aqueles que o têm. São as pessoas que caminham em humildade e
em completa dependência da graça de Deus que viverão em vitória
sobre o pecado. Tentar vencer o pecado em nossa própria força ou
auto-disciplina nos fará orgulhosos da suposta conquista, o que
infalivelmente nos transformará em fariseus da modernidade. Isso
nunca nos dará a verdadeira vitória, mas simplesmente nos fará
parecer melhores diante de outras pessoas. O fato é que nos
tornaremos o tipo de pessoa que finge querer uma coisa, enquanto,
na verdade, o coração deseja outra. Por exemplo, por causa de uma
teologia e de uma crença errada, fingimos não querer ser prósperos
financeiramente; mas, se olharmos nosso coração, perceberemos
que desejamos, de fato, receber mais e mais as bênçãos
financeiras. Isso é hipocrisia! Deus deseja que nossas ações e
coração estejam em perfeita unidade. Ele não quer que vivamos
com conflitos internos.
Uma vida de hipocrisia não somente produzirá orgulho em nós,
como, também, nos levará a ter um coração endurecido para com
as pessoas que julgamos serem mais fracas que nós. Isso nos fará
parecer bons cristãos em público, mas, quando estamos em
secreto, em nosso interior, lutamos contra hábitos pecaminosos que
ninguém conhece. Deus adverte contra o orgulho em Tiago 4:6
quando diz:
Todavia, Ele nos outorga graça ainda maior. Por isso,
declara a escritura: Deus se opõe aos arrogantes11 mas
concede graça aos humildes.
Se crermos que temos o poder para vencer o pecado em nossa
vida pelo nosso próprio esforço, caímos no orgulho. Se crermos
dessa forma, somos melhores que as gerações passadas e,
portanto, desafiamos a cruz e o sacrifício de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Todavia, se abraçarmos a vitória da cruz e vivermos uma vida em
que o pecado não nos controla, absolutamente, não teremos nada
em que nos orgulhar. O apóstolo Paulo compreendeu isso muito
bem. Ele sabia que não havia nada em que se orgulhar, a não ser
na cruz e no Senhor Jesus Cristo. O diabo ama nos levar ao
orgulho, porque ele conhece a Bíblia. Isso pode ser visto em Mateus
4, quando Jesus estava no deserto; ali o diabo citava a Bíblia para
Ele.
Satanás sabe que o orgulho nunca pode alcançar a vitória sobre
o pecado, por isso, ele tentará nos jogar numa armadilha cruel e
cíclica: primeiro, ele nos leva a tentar, arduamente, vencer o
pecado; depois, ele nos permite ter um pouco de sucesso nessa
batalha, pois sabe que logo nos sentiremos orgulhosos, pois, como
agimos com o nosso esforço, nos acharemos fortes; depois do
orgulho, vem a derrota triunfal, que nos leva, geralmente, de volta à
primeira fase do ciclo, que é tentar vencer o pecado e, dessa forma,
caímos em constantes e repetidas tentativas e fracassos. Há uma
bela passagem escrita em I Coríntios 1:27 a 31:
Pelo contrário, Deus escolheu justamente o que para o
mundo é insensatez para envergonhar os sábios, e
escolheu precisamente o que o mundo julga fraco para
ridicularizar o que é forte. Ele escolheu o que do ponto de
vista do mundo é insignificante, desprezado, e o que
nada é, para reduzir a nada o que é, com o objetivo de
que nenhuma pessoa se vanglorie perante Ele. Portanto,
vós sois dEle, em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós
sabedoria da parte de Deus, justiça, santificação e
redenção, a fim de que, como está escrito: aquele que se
gloria, glorie-se no Senhor.
Esses versículos nos mostram que Deus escolheu as coisas
fracas do mundo para envergonhar as que são poderosas. Por que
Deus fez assim? Eu me fiz a seguinte pergunta várias vezes: “Por
que Deus me escolheu para servi-lO?” Eu tinha muitas coisas contra
mim: família, incapacidades pessoais e uma terrível insegurança.
Somente a graça de Deus pôde me transformar no homem que sou
hoje. Há várias pessoas muito mais adequadamente educadas e
talentosas que eu. Mas Deus se alegra em usar as coisas fracas,
pois como nos diz o versículo 31, “aquele que se gloria, glorie-se no
Senhor”. Isto é a verdadeira humildade: andar em vitória sobre a
natureza pecaminosa pela fé na vitória da cruz. Viver assim fecha
todas as brechas para o orgulho de nossas conquistas.

9 A palavra usada em inglês foi “exchange” que é melhor


traduzida por “troca”. Todavia, é mais comum usarmos as palavras
“mudança”, “transformação”, ou ainda, “regeneração” para
explicarmos o que aconteceu com nossa natureza após
entregarmos nossa vida para Jesus. Portanto, para evitarmos entrar
em questões teológicas de significação, optamos pela mais simples
e usamos a palavra “mudança”.

10 Não quero trazer aqui um estudo extensivo sobre vida de fé,


mascaso você esteja interessado em estudar mais profundamente
sobreesse assunto, recomendo que leia o livro “Fé” que publiquei
por essamesma editora.

11 Mas Deus dá mais graça. Por isso, Deus resiste o orgulhoso,


mas dá graça ao humilde. (Nossa tradução do versículo usado no
original segundo a versão New King James, conforme usada pelo
autor). Fizemos essa tradução, pois nessa versão é usada a palavra
“orgulhoso” e não “arrogante” ou “soberbo”, como nas versões em
português.
7
COMO LIDAR COM A TENTAÇÃO
Se não compreendermos a natureza da tentação e como lidar
com ela, terminaremos em derrota. A verdadeira vitória não está em
ser livre da tentação, mas em andar no poder de Jesus para vencer
qualquer tipo de tentação. Uma passagem maravilhosa quanto à
tentação é encontrada em Tiago 1:12 a 15:
Feliz a pessoa que persevera na provação, porquanto,
após ter sido aprovada, receberá o prêmio da coroa da
vida, que Deus prometeu aos que o amam. Entretanto,
ninguém ao ser tentado deverá dizer: estou sendo
tentado por Deus. Ora, Deus não pode ser tentado pelo
mal, e a nenhuma pessoa tenta. Cada um, porém, é
tentado pelo próprio mal desejo, sendo por esse iludido e
arrastado. Em seguida, esse desejo, tendo concebido,
faz nascer o pecado, e o pecado, após ter se
consumado, gera a morte.
Para entendermos essa passagem precisamos olhá--la mais de
perto. O versículo 12 diz: “Feliz a pessoa que persevera na
provação12”. Um dos significados da palavra grega traduzida como
“suportar” no Novo Testamento é: “perseverar mesmo em situações
de azar e testes”. Ainda, “suportar” pode significar: “manter-se firme
com a fé em Cristo”. Esses significados são muito importantes
porque não somente significam esperar firmemente até a tentação
passar, mas, também, que devemos nos manter firmes com nossa
fé em Cristo. Portanto, “suportar tentações” não significa que
devemos fazer o melhor que pudermos para vencê-las através de
nossa força; mas significa que nas tentações mais difíceis e
pecaminosas de nossa vida, devemos nos focar e crer na vitória de
Jesus Cristo e em sua obra consumada na cruz.
Deixe-me falar isso de modo prático: quando somos tentados a
pecar e voltar às práticas que costumávamos ter antes de nos
tornarmos cristãos, não devemos reunir todas as nossas forças para
resistir a tentação; o que devemos fazer é nos agarrar à nossa fé
em Jesus Cristo e, no meio dessa tentação pecaminosa, declarar
ousadamente que Jesus já destruiu nossa natureza pecaminosa e,
por essa razão, nenhuma tentação tem o poder de nos vencer.
Então, regozijemo-nos e agradeçamos a Cristo pelo fato de esta
tentação não ter nenhum poder sobre nós, por causa da graça
estabelecida na obra vitoriosa da cruz em nossa vida.
Não vamos tentar derrotar ou vencer a tentação por nós mesmos,
somente permaneçamos em fé na obra da cruz, declarando nossa
vitória e agradecendo a Jesus por ter derrotado o pecado. Suportar
não significa esperar até que a tentação vá embora, mas significa
manter nosso foco no trabalho consumado da cruz.
O versículo 13 diz:
Entretanto, ninguém ao ser tentado deverá dizer: estou
sendo tentado por Deus. Ora, Deus não pode ser tentado
pelo mal, e a nenhuma pessoa tenta.
Este versículo claramente nos mostra que Deus não é o autor da
tentação. Já encontrei pessoas com uma teologia estranha:
acreditam que Deus nos coloca em tentação para nos testar ou nos
disciplinar.
As escrituras são claras ao mostrarem que Deus não faz isso.
Uma vez que Deus não é a origem de tentações, podemos nos
assegurar de que Ele está sempre do nosso lado,
independentemente da tentação que enfrentamos. O desejo de
Deus é que vivamos em vitória contra o pecado numa medida muito
maior que nosso desejo de caminhar em vitória. Ele nos provou isso
ao pagar tão alto preço, permitindo seu único e amado filho morrer
de morte brutal e dolorida por nós.
Tiago continua dizendo que “cada um, porém, é tentado pelo
próprio mau desejo, sendo por esse iludido e arrastado13”. A palavra
grega traduzida como “arrastado14” em língua portuguesa é usada
somente uma vez em toda a Bíblia. O seu significado é: “usar uma
isca para atrair um peixe ou arrastá-lo para fora de seu esconderijo”.
O diabo irá constantemente nos tentar pelos nossos desejos
pecaminosos a deixar nosso esconderijo.
O que é o nosso esconderijo? O nosso esconderijo é a cruz de
Jesus Cristo e sua vitória. O diabo sabe muito bem que enquanto
obedecermos a Palavra de Deus e mantivermos nosso foco na
vitória de Jesus Cristo, de maneira alguma, seremos vencidos,
mesmo passando pela mais forte tentação. Ele tenta nos seduzir e
nos retirar da simplicidade do Evangelho.
O principal objetivo de Satanás não é trazer para a nossa vida, a
tentação para pecarmos, mas, sim, no momento da tentação, nos
arrastar de Cristo15 e nos fazer acreditar que somos suficientemente
fortes para vencer o pecado.
Se o diabo for bem sucedido em sua estratégia de nos arrancar à
força de nossa vitória em Cristo, iremos, como cristãos, tentar
vencer a tentação pelas nossas forças. Se nos rendermos à
tentação, tentando obter a vitória pela obra de nossa carne,
progrediremos à próxima advertência dada por Tiago no versículo
15 do capítulo 1 que diz:
Em seguida, esse desejo, tendo concebido, faz nascer o
pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a
morte.
É interessante ver um movimento de progresso nesse texto. Se
não mantivermos nosso foco na vitória de Cristo, no meio da
tentação, seremos aliciados a lutarmos contra a tentação do pecado
em nossa própria força. Ao fazermos isso, nosso desejo concebe e
o pecado acontece.
A palavra grega que foi traduzida por “conceber”, em língua
portuguesa, é uma palavra interessante. Um de seus significados é
“levar um prisioneiro à prisão”. O diabo, através do pecado, quer
que sejamos seus prisioneiros. Nunca seremos prisioneiros do
pecado se verdadeiramente dependermos da vitória de Jesus
Cristo. Se vivermos na liberdade que Cristo nos libertou, o pecado
nunca controlará nem dominará nossa vida.
Vamos recapitular: Deus nunca nos tentará, mas, em vez disso,
no meio da tentação, Ele estará ao nosso lado, bem perto de nós. O
diabo irá usar desejos pecaminosos para nos arrastar da única
possibilidade de vitória sobre o pecado que é Jesus Cristo e sua
obra consumada na cruz. Se, nesses momentos de tentação
mantivermos nosso foco em Jesus, e não em nós mesmos,
viveremos uma vida de vitória sobre o pecado.

GRAÇA E VERDADE
Para vivermos uma vida de vitória sobre o pecado, precisamos
entender dois elementos: graça e verdade. João 1:14-17 ilustra isso
belamente:
E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Vimos a
sua glória, glória como a da Unigênito do Pai, cheio de
graça e verdade. João testemunha sobre Jesus e
exclama, dizendo: Este é aquele de quem eu disse: Ele,
o que vem depois de mim, tem a excelência, porquanto já
existia antes de mim. E da sua plenitude todos nós temos
recebido, graça sobre graça. Porquanto a lei foi dada por
intermédio de Moisés; mas a graça e a verdade vieram
através de Jesus Cristo.
No versículo 14, está escrito que Jesus era a Palavra que se
transformou em carne; Ele era cheio de graça e verdade. A graça
fala da Nova Aliança e a verdade fala da Lei. A Lei não tinha poder
de mudar ninguém. Não havia nada de errado com ela. De fato, a
Bíblia diz que a Lei era boa. O problema estava na natureza
pecaminosa do homem. A Lei era vazia da graça, por essa razão
ninguém era capaz de guardá-la. A graça é sempre definida como
favor imerecido de Deus. Isso é parcialmente verdade, mas não
expressa o significado integral de graça.
A graça é uma habilidade divina dada a nós para fazermos aquilo
que não poderíamos fazer por nós mesmos. A natureza da graça é
ser livre e imerecida, portanto, só pode ser recebida pela fé. Porque
não havia graça na lei, ninguém era capaz de guardá-la. A lei
simplesmente estabeleceu um padrão e nos mostrou como Deus
queria que vivêssemos, mas isso não nos deu habilidade alguma
para vivermos segundo o padrão estabelecido nem alcançar o estilo
de vida de Deus.
Em João 1:17 a Bíblia nos mostra um contraste entre a lei dada
por Moisés e Jesus Cristo. Está escrito: Porquanto a lei foi dada por
intermédio de Moisés; mas a graça e a verdade vieram através de
Jesus Cristo. O perdão de nossos pecados não é graça, como
muitos cristãos acreditam ser; o perdão de nossos pecados é
misericórdia. Deus, em sua misericórdia, não nos deu aquilo que
merecíamos, ou seja, o seu julgamento. Ele simplesmente poderia
ter nos perdoado os nossos pecados e nos fazer parar de existir
após a morte, em vez de nos levar a sofrer eternamente punição
pelos nossos pecados. Isso seria misericórdia, mas não seria graça.
A graça divina é a habilidade de viver em vitória sobre algo que
não poderíamos vencer por nós mesmos. Jesus era cheio de graça
e verdade. É interessante que existe um contraste entre a Lei dada
por Moisés, e a graça e verdade que vieram através de Jesus
Cristo. Como vimos anteriormente, quando Jesus veio, Ele não
destruiu o alto padrão da Lei, mas Ele o elevou ainda mais quando
disse coisas do tipo: Ouvistes o que foi dito: Não cometerás
adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer um que olhar para uma
mulher com intensão impura, em seu coração, já cometeu adultério
com ela.
Parece que Jesus tornou as coisas ainda mais difíceis quanto ao
viver em obediência a Deus. Debaixo da Velha Aliança era
impossível que as pessoas guardassem a Lei; então, veio Jesus e
elevou o padrão da Lei. Esta foi a verdade que Jesus trouxe.
Em comparação a Moisés, que somente trouxe a Lei (verdade),
Jesus foi completo em ambos, tanto na graça quanto na verdade.
Se não aceitarmos a verdade, que é o padrão de Deus para nossa
vida, nosso comportamento ficará sem Lei. Se compreendermos mal
a graça e pensarmos que ela é uma espécie de licença para pecar,
nunca iremos cumprir o propósito de Deus para a nossa vida. A
graça não é uma licença para pecar; é o poder para viver em vitória
sobre o pecado. A Lei sem a graça é destrutiva, contudo, a graça
retira o ferrão da Lei. A Lei sem a graça coloca um fardo que não
podemos carregar; porém, a graça carrega o fardo por nós.
Jesus foi uma bela expressão da combinação entre graça e
verdade. Em João 8, no episódio da mulher que foi pega em
adultério e levada para Ele, Jesus não desculpou o pecado dela,
mas Ele a perdoou. Ele ainda disse a ela para ir e não pecar mais
(graça e verdade). Através dos Evangelhos, vemos que Jesus foi a
expressão da graça e da verdade.
A razão pela qual havia um constante choque entre os fariseus e
Jesus era porque os fariseus tinham a verdade sem a graça,
enquanto Jesus era cheio de ambos: graça e verdade. A verdade
(Lei) sem a graça é destrutiva. A verdade sem a graça descobre16
nossas falhas e nos deixa sem esperança. A verdade sem a graça é
repleta de obrigações e deveres, mas a graça nos aponta o alvo e
nos habilita a alcançá-lo.
Quando entendemos a graça plenamente, não mais precisamos
temer a Lei, porque passamos a viver segundo uma única Lei que é
amar o Senhor nosso Deus com todo o nosso ser e amar todas as
pessoas também. É a graça de Deus que nos capacita a vivermos
uma vida assim. Encontrei muitos cristãos que entenderam mal a
graça, confundindo-a com a falta de Lei; essa compreensão
equivocada tem levado milhares ao pecado. Por causa disso, alguns
pregadores reagiram e começaram a ensinar a Lei, regras e coisas
do tipo outra vez. Esse é um tipo de resposta totalmente
equivocado.
O modo correto de responder às compreensões erradas da graça
é através do ensino de que a verdadeira natureza da graça é o
poder sobrenatural vindo da parte de Deus para vivermos em vitória
sobre o pecado.

12 “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação”. (tradução


nossa da versão New King James, como usada pelo autor). Abrimos
essa nota para todos perceberem o embasamento do autor ao falar
sobre a tentação. Ainda, justificamos o uso da versão King James
Atualizada em português no corpo desse texto, pois essa versão é a
que mais se aproxima à usada pelo autor no original em inglês; mas
não deixaremos de inserir notas quando julgarmos necessário o
acréscimo de observações quanto às traduções das diferentes
versões.

13 Nossa tradução literal desse versículo segundo a versão New


King James é: “cada um é tentado quando atraído pelo próprio
desejo e seduzidos”.

14 A versão New King James (inglês) traduz a palavra grega pelo


verbo frasal “drawn away”, que em português poderia ser traduzido
por “atraído”.

15 A palavra usada em inglês “draw away” é, na verdade, um


verbo frasal que seria melhor traduzido por “atrair”. No entanto,
traduzimos por “arrastar”, pois nessa situação esse verbo frasal teria
seu significado ampliado para “arrastar”, no sentido de que a
atração seria tão intensa, a ponto de arrastar à força a pessoa
atraída para sua direção. É como se o atraído fosse arrancado à
força pela atração.

16 O sentido da palavra descobrir, neste caso, é retirar a


cobertura ou retirar aquilo que protege.
8
O PODER DE NOSSA MENTE
Nossa mente é um campo de batalha que o diabo usará para
trazer tentações. Nossa mente controla nossas ações. Se
verdadeiramente quisermos ser transformados pela graça e pelo
poder de Deus, precisamos compreender sobre a importância de
nossa mente. Paulo nos ensina em Romanos 12:1,2 que nossa
mente exerce uma poderosa influência em nossos comportamentos,
vejamos:
Portanto, caros irmãos, rogos vos pelas misericórdias de
Deus, que apresenteis o vosso corpo como um sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional e não vos amoldeis ao sistema deste mundo,
mas sede transformados pela renovação das vossas
mentes, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.
Paulo nos fala no versículo 2 que podemos ser transformados
pela renovação de nossa mente. A palavra grega usada nesse texto,
traduzida em língua portuguesa por “transformada”, é a raiz (radical)
da palavra “metamorfose”. Quando crianças, aprendemos o
significado da palavra “metamorfose” na escola. O processo de uma
lagarta se transformar em borboleta é chamado de metamorfose. Se
olharmos para uma lagarta e a compararmos com uma borboleta,
encontraremos duas criaturas completamente diferentes. A lagarta
se arrasta no chão, enquanto a borboleta voa sem esforços pelo ar.
A maioria das pessoas amam borboletas, e muitos até ficam felizes
quando uma pousa sobre eles. Mas ninguém gostaria de ter uma
lagarta se arrastando em sua cabeça.
Por que gostaríamos de ter uma borboleta e não uma lagarta em
nossa cabeça? O fato é que a lagarta passo pelo processo de
metamorfose e se transforma em uma linda criatura. “Metamorfose”
é a palavra grega usada nesse contexto e traduzida, em língua
portuguesa, por “transformados”. O plano de Deus para nós não é
que pareçamos um tanto melhor, mas Ele deseja que sejamos
radicalmente transformados, ou seja, metamorfoseados à imagem
de Cristo (Romanos 8:29).
Deus não gosta de maquiagem espiritual para cobrir e fazer as
pessoas aparentemente melhores e mais agradáveis que são; Ele
quer que façamos uma cirurgia plástica espiritual que, em outras
palavras, seria uma total transformação.
Precisamos entender que não podemos fazer essa mudança em
nós mesmos por nós mesmos. Essa é uma mudança interna que irá
interferir e refletir diretamente em nosso comportamento exterior.
Essa mudança só pode ser alcançada, sem exceção, pela graça de
Deus e pela obra consumada da cruz. Nossa mente atua,
entretanto, em parte dessa mudança. Romanos 12:2 diz: “Sejam
transformados pela renovação de vossa mente”. Sem a renovação
de nossa mente, nossa vida não pode ser transformada.
Antes de sermos salvos, nossa mente havia sido programada e
influenciada por muitos diferentes fatores como: a educação que
recebemos em casa, na escola, em nossa cultura e em outros
tantos lugares. Geralmente, muitas dessas influências são
contrárias à Palavra de Deus. A menos que tenhamos crescido em
uma boa Igreja evangélica, que verdadeiramente compreende e
prega a graça da Nova Aliança, nossa mente foi contaminada e
influenciada pelo pensamento religioso.
Esse pensamento é tão contrário ao ensino do Novo Testamento
que, se nossa mente não for renovada, enfrentaremos lutas pelo
resto de nossa vida cristã e, continuamente, tentaremos nos tornar
melhores pessoas, em vez de deixar a graça nos transformar
radicalmente.
É importante observar nesse versículo que a palavra
“transformada”, na gramática grega, está escrita na voz passiva.
Isso é muito significante porque nos mostra claramente que não
somos nós quem nos mudamos, mas é esse poder metamorfósico
que assume o lugar, permitindo que nossa mente seja renovada. A
Bíblia tem muito a dizer sobre o poder de nossa mente. Romanos
8:5 diz:
Os que vivem segundo a carne tem a mente voltada para
as vontades da natureza carnal, entretanto, os que vivem
de acordo com o Espírito, tem a mente orientada para
satisfazer o que o Espírito deseja17. (Grifo do autor)
Nesse versículo, podemos ver que nossas ações seguem nossa
mente. Se programarmos nossa mente nas coisas da carne, nossas
ações obedecerão aos padrões programados em nossa mente. Há
outra verdade importante aqui: se programarmos nossa mente no
pensamento religioso, crendo que podemos vencer o pecado em
nossa vida pelo nosso esforço próprio, nossas ações seguirão tais
pensamentos. Uma vida repleta de frustrações, de lutas, de altos e
baixos, de avanços e retrocessos será o resultado de se ter uma
mente religiosa.
Deixe-me ilustrar sobre o poder de nossa mente com algumas
histórias reais. No ano de 1957, um homem chamado Sr. Wright
estava com câncer terminal. Em um procedimento médico
experimental, administraram nele uma droga irrelevante chamada
“Krebiosen”. Essa droga não tinha poder nenhum no tratamento de
câncer. Disseram ao Sr. Wright, todavia, que aquela droga era muito
poderosa e destruiria o tumor em seu corpo completamente. Assim
que ele tomou essa droga, o tumor encolheu como uma bola de
neve encolhe quando posta ao fogo. Tempos mais tarde, o Sr.
Wright descobriu que aquela droga não tinha absolutamente
nenhum valor, então, seu tumor voltou a crescer rapidamente.
Quando o médico disse para ele que tinham uma nova droga que
funcionaria garantidamente, o Sr. Wright desejou o novo tratamento.
O médico, então, nesse novo tratamento, injetou somente água no
paciente e o tumor encolheu novamente. Infelizmente, o Sr. Wright
descobriu que o novo remédio era água e o tumor voltou a crescer,
e ele morreu.
Essa história mostra o poder que nossa mente exerce em nossa
vida. Deixe-me contar outra história real. Esse foi um experimento
feito com três times de basquete.
O primeiro time treinava 5 horas por dia durante duas semanas.
Como parte do treino, eles tinham que fazer 100 arremessos livres
diariamente. Após as duas semanas, o time melhorou 1%.
O segundo time tinha que praticar por duas semanas também.
Mas, em vez de fazer 100 arremessos livres, eles precisavam focar
sua mente no jogo. Eles, também, melhoraram 1%.
O terceiro time, durante essas duas semanas, não teve um treino
sequer. Em vez de praticarem fisicamente, eles simplesmente
jogaram partidas na mente. Eles tinham que focar a mente nos
arremessos livres. Parte do experimento foi que, todos os dias, eles
tinham que concentrar a mente na vitória contra os outros times e,
mentalmente, celebrarem a vitória. Após duas semanas, o terceiro
time melhorou 4.5%.
Há estudos comprovando cientificamente que se ocuparmos
nossos pensamentos com vinganças ou com sentimentos de falta
de perdão, reações físicas acontecerão em nosso corpo. Se
permitimos que nossa mente se concentre na falta de perdão ou na
vingança, nossa pressão arterial pode subir, nossos músculos
podem tensionar e nosso sistema imunológico pode reagir
negativamente. Por outro lado, se pensarmos em perdoar aqueles
que nos machucaram ou nos maltrataram, nosso corpo responde
positivamente, proporcionado reações positivas em nossos sistemas
neurológico, cardiovascular e muscular. Estudos científicos também
nos mostram que visualizar determinadas ações estimulam áreas
específicas de nosso cérebro, como se fossem as ações
propriamente.
Deus nos criou e, portanto, Ele compreende o poder que nossa
mente pode exercer e influenciar nossas ações. É por essa razão
que Deus nos ensina que precisamos permitir que nossa mente seja
transformada para que, dessa forma, nossa vida também seja. Ao
permitirmos que a verdade da palavra de Deus transforme o modo
como pensamos, a graça de Deus, por si só, nos trará completa
transformação; entretanto, nunca conseguiremos tal façanha por
nós mesmos. O diabo também sabe que pode controlar nossa vida;
por essa razão, ele deseja controlar nossa mente. Efésios 2:1-3
explica isso claramente:
E Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas
vossas transgressões e pecados, nos quais andastes no
passado, conforme o curso desse sistema mundial, de
acordo com o príncipe do poder do ar, o espírito que
agora está atuando nos que vivem na desobediência.
Anteriormente, todos nós também caminhávamos entre
eles, buscando satisfazer as vontades da carne,
seguindo os desejos e pensamentos18; e éramos por
natureza destinados à ira.
Vamos olhar para algumas palavras chaves nesses versículos.
Paulo nos mostra que antes de sermos salvos, andávamos segundo
o curso deste mundo e do príncipe do ar. Este mundo é influenciado
pelo príncipe do ar, que é o diabo. Como ele influencia as pessoas?
Os versículos 2 e 3 nos respondem essa pergunta. Está escrito que
os espíritos malignos trabalham nos filhos da desobediência que
vivem segundo as paixões de sua carne, satisfazendo os desejos da
carne e da mente. Em outras palavras, Paulo diz que as pessoas
não salvas vivem em pecados e têm seus comportamentos
pecaminosos influenciados por forças demoníacas; tais forças
influenciam sua mente e, por conseguinte, suas ações. Se
entendermos essa verdade poderosa, submeteremos nossa mente
ao senhorio de Jesus e permitiremos que a graça influencie e
transforme nossa mente.
O texto de II Coríntios 11:3 enfatiza essa verdade. Nele, Paulo
fala aos coríntios que:
Entretanto, receio que, assim como a serpente enganou
Eva com sua astúcia, também a vossa mente seja de
alguma forma seduzida e se afaste da sincera e pura
devoção a Cristo19.
Paulo não está preocupado somente com o fato de o diabo
enganar a mente dos cristãos, apesar de ser algo perigoso; mas, a
grande preocupação do apóstolo estava no fato de a mente dos
cristãos em Corinto ter sido influenciada a ponto de os afastar da
simplicidade que está em Cristo.
O que é a simplicidade que está em Cristo? Isso é tão simples
que até mesmo muitos cristãos lutam para aceitar essa verdade. Em
poucas palavras, posso dizer que Deus deseja que sejamos
transformados e conformados à imagem de Jesus Cristo para
vivermos livres do controle e do poder do pecado; mas, mesmo
assim, Deus não espera que façamos isso. Precisamos nos lembrar
de que o Senhor espera que acreditemos plenamente naquilo que
Jesus Cristo fez na cruz por nós e que possamos abraçar essa
simples verdade com nosso coração totalmente aberto. Isso é a
simplicidade que está em Cristo. Cristo venceu o pecado e, agora,
podemos viver em sua vitória. Cristo destruiu nossa natureza
pecaminosa para vivermos como novas criaturas. Essa verdade
renovará nossa mente e transformará nosso comportamento.
Muitos cristãos têm problemas nessa área e lutam
constantemente para controlar sua mente. Seus comportamentos
externos são, frequentemente, diferentes daquilo que acontece em
sua mente. Já ouvi e orei por inúmeras pessoas que compartilharam
comigo a respeito do modo como pensavam e, portanto, me
procuravam pedindo ajuda e oração. O inimigo parecia ter o controle
da vida daquelas pessoas pelo domínio de sua mente.
Lembre-se de que nossas ações acompanham nossos
pensamentos. Frequentemente, ouvia dos que me procuravam o
quanto já tinham repreendido o inimigo, o quanto já tinham tentado
parar de ter pensamentos negativos, mas, absolutamente nada
parecia funcionar. Gostaria, portanto, de ilustrar isso que a Bíblia
ensina sobre nossa mente e seus pensamentos através da seguinte
gravura:
Vamos fazer o seguinte: por aproximadamente 30 segundos, olhe
atentamente para esta gravura. Olhe especialmente para o bumbum
vermelho deste macaco. Mantenha-se focado nessa gravura antes
de continuar a leitura do livro.
Depois dos 30 segundos, façamos o seguinte: vamos fechar
nossos olhos e, por 30 segundos, não pensemos, de modo nenhum,
neste bumbum vermelho. Depois dos 30 segundos, poderemos abrir
os olhos e voltar à leitura.
Abertos os olhos, deixe-me perguntar: Será que fomos capazes
de não pensar neste bumbum vermelho ou de não vê-lo em nossa
mente? Acho que quase todos me diriam: “Não!” O que estou
tentando ensinar através dessa ilustração? Esta é uma simples
verdade que muitos cristãos não entenderam ainda. Eles conhecem
o poder de sua mente, eles compreenderam que suas ações
acompanham sua mente, entretanto, constantemente, tentam parar
seus pensamentos errados, concentrando e se esforçando para não
pensar tais pensamentos. Esta é uma batalha perdida e totalmente
em desacordo com as escrituras. É exatamente isso que eu disse
no início deste livro sobre a bobeira que os gálatas fizeram:
começaram a andar no Espírito e acabaram por andar na carne.
Creio que é tempo de pararmos de tentar impedir nossos maus
pensamentos através de nosso esforço próprio.
Vamos voltar ao bumbum vermelho do macaco. Vamos tomar a
verdade bíblica em relação a lidar com nossa mente. Em vez de
tentar parar com nossos pensamentos negativos, que neste caso
são os pensamentos a respeito do bumbum vermelho do macaco,
como mudar o foco de nosso pensamento?
Façamos o seguinte: agora, vamos pensar em nosso bicho de
estimação favorito ou sobre nossas férias; ainda, podemos pensar
nos momentos mais incríveis que passamos com nossos amigos ou
com nossa família. Uma vez que decidimos o que pensar, vamos
fechar os olhos por mais 30 segundos e pensar nessas coisas, e
nada mais. Passados os 30 segundos, vamos abrir nossos olhos
novamente.
Então vejamos: nesses últimos 30 segundos, como foi nossa luta
para nos livrar da imagem do bumbum vermelho? Será que tivemos
que nos esforçar contra essa imagem ou foi fácil não tê-la em nossa
mente? Tenho feito essa experiência com muitas pessoas e, sempre
que lhe pedi para pensar noutra coisa, ninguém mais lutou contra a
imagem do bumbum vermelho. Por quê? Não precisamos lutar
contra a imagem ruim, porque agora pensamos noutra coisa. É
exatamente isso o que a Bíblia nos diz em Filipenses 4:8,
Concluindo, caros irmãos, absolutamente tudo o que for
verdadeiro, tudo o que for honesto, tudo o que for justo,
tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for
de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de
louvor, nisso pensai.
Foi assim que Deus nos criou. Vamos parar de tentar impedir os
pensamentos negativos. Em vez disso, deixemos nossa mente
alcançar a simplicidade que está em Cristo. Ao estarmos focados
em Cristo, na obra maravilhosa da cruz e no poder da graça da vida,
teremos vitória sobre nossa mente e, com certeza, ela será
renovada e poderosamente transformada.

17 Nossa tradução literal do versículo posto em inglês segundo a


versão New King James é: “Porque aqueles que vivem de acordo
com a carne programam sua mente para as coisas da carne, mas
aqueles que vivem de acordo com o Espírito, para as coisas do
Espírito”.

18 Na versão New King James em inglês diz: “... we all once


conducted ourselves in the lusts of our flesh, fulfilling the desires of
the flesh and of the mind ...” Decidimos traduzir esse trecho do
versículo, pois, nessa versão, a questão da mente, como tratada no
texto do pastor Reinhard Hirtler, está mais clara e mais evidente. Eis
nossa tradução literal: “...

Nós todos uma vez conduzimos a nós mesmos na paixão de


nossa carne, satisfazendo os desejos da carne e da mente ...”.

19 A versão New King James apresenta esse versículo com as


seguintes palavras: “Mas eu temo, de algum modo, como a serpente
enganou Eva com sua astúcia, sejam também sua mente
corrompidas da simplicidade que está em Cristo.” (Tradução literal
nossa).
9
NO INÍCIO
No início, quando Adão e Eva pecaram, eles fizeram três coisas
terríveis e intimamente ligadas ao modo como reagiram ao pecado.
Muitos cristãos, quando pecam, reagem do mesmo modo que Adão
e Eva fizeram. Deixo claro que esse modo de reagir é
completamente errado e se torna a resposta mais insensata que
podemos dar ao pecado ou ao comportamento pecaminoso em
nossa vida. Vamos ler o que a Bíblia nos diz em Gênesis 3:8-10:
Naquele dia, quando soprava a brisa vespertina, o
homem e sua mulher ouviram o som da movimentação
de Deus, que estava passeando pelo jardim, e
procuraram esconder-se da presença do Senhor, entre
as árvores do jardim. Mas o Senhor Deus convocou o
homem, indagando: “Onde é que estás?” O homem
declarou: “Ouvi o som do Teu caminhar no jardim e,
vendo que estava nu, tive receio; por essa razão me
escondi!20”
Quando o homem peca, a coisa mais errada a se fazer é correr
de Deus; por outro lado, a coisa mais correta a se fazer é correr
para Deus. Deus, sua graça e sua misericórdia são a nossa
esperança se caímos em pecado. A religião nos passa a ideia de
um Deus irado e, por essa razão, corremos dEle ao invés de
corrermos para Ele.
Tive uma experiência quando eu era jovem que impactou minha
vida poderosamente. Aconteceu que, ao agir errado, acabei
discutindo terrivelmente com um irmão em Cristo. Todavia, naquela
noite ainda, o Espírito Santo me mostrou e me convenceu de meu
erro. Contudo, o diabo encheu minha mente e meu coração de
condenação, culpa e vergonha. Como não conseguia dormir,
levantei-me e sentei-me numa cadeira, sentindo-me sem valor,
como se fosse um erro. Foi, então, que Deus me deu uma visão
poderosa: eu havia feito exatamente o que Adão e Eva fizeram; ao
invés de correr para Deus, me escondi dEle, porque estava me
sentindo desprezado e sem valor. Em minha visão, vi Deus, o Pai,
sentado no trono com seu poder e majestade. Ele olhou para mim
em minha falha e, sem dizer uma palavra, se abaixou e me pegou
no colo, com amor e ternura. Ali, em minha cadeira, naquela noite,
senti o amor e a graça de Deus sendo derramados sobre mim.
Comecei a chorar e não desejei estar em nenhum outro lugar,
somente na presença de Deus. Em Hebreus 4:14-16, a Bíblia nos
mostra a reação correta que precisamos ter quando caímos em
pecado.
Concluindo, tendo em vista que temos um grande sumo
sacerdote que foi capaz de adentrar os céus, Jesus, o
filho de Deus, mantenhamos com firmeza nossa
declaração pública de fé. Pois não temos um sumo
sacerdote que não seja capaz de compadecer-se de
nossas fraquezas, mas temos o Sacerdote Supremo que,
à nossa semelhança, foi tentado de todas as formas,
porém sem pecado algum. Portanto, acheguemo-nos
com toda a confiança ao trono da graça, para que
recebamos misericórdia e encontremos o poder que nos
socorre no momento da necessidade21.
Jesus é nossa única esperança. A religião, as pessoas, o esforço
próprio ou nossa tentativa de vencer o pecado nos deixarão vazios,
frustrados e desapontados. Precisamos chegar ousadamente ao
trono da graça. Não há razão para medo! Precisamos chegar em
total certeza da fé, acreditando que a cruz é a nossa única
esperança. Eu amo esse versículo, porque ele nos pede para
achegarmos corajosamente ao trono da graça e obtermos
misericórdia, encontrando graça no tempo da necessidade.
Deixe-me fazer uma pergunta: “Quando precisamos de graça e
de misericórdia? Certamente, não precisamos nem de graça nem de
misericórdia quando andamos perfeitamente e corretamente, sem
cometer qualquer tipo de pecado. Nós precisamos de graça e
misericórdia no tempo da necessidade. Precisamos da graça porque
ela é o único poder para vencermos o pecado em nossa vida. Que o
Senhor nos liberte do esforço próprio de ficar tentando vencer o
pecado.
Voltando para Adão e Eva, ainda podemos afirmar que eles
tentaram consertar suas próprias vidas. Em Gênesis 3:7 temos:
Então os olhos dos dois se abriram, e perceberam que
estavam nus; em seguida entrelaçaram folhas de figueira
e fizeram cintas para cobrir-se.
Em tipologia, na Bíblia, “folhas de figo” são usadas para significar
obra religiosa ou religiosidade. Quando Adão e Eva cobriram a
nudez de seu corpo com folhas de figo, tipologicamente, podemos
entender que a Bíblia ilustra o que pessoas em todo mundo ainda
fazem hoje; elas tentam cobrir pecados e nudez com suas obras
imbuídas na religiosidade. Não existe nenhuma boa obra capaz de
nos encobrir diante dos olhos de Deus, independentemente de
quantas ou de quão maravilhosas sejam.
Todavia, a tentação trabalha fortemente na natureza humana de
modo que o homem sempre atue na religiosidade. Parece haver
algo intrínseco à natureza humana que está sempre procurando
fazê-la parecer melhor do que ela realmente é; a natureza humana
procura fazer das boas obras uma espécie de maquiagem para as
obras ruins ou para cobrir a vergonha que sentimos.
Não importa o quanto oramos nem o quanto lemos a Bíblia; não
importa a quantia de dinheiro que ofertamos nem a frequência que
vamos às reuniões da Igreja; não importa quais nem quantas boas
obras fazemos, nenhuma dessas coisas conseguirá cobrir nossa
nudez aos olhos de Deus.
Quando o Senhor veio ao jardim do Éden, Ele não aceitou as
vestes que Adão e Eva fizeram para si. Deus matou um animal e Ele
próprio os cobriu. Que quadro maravilhoso é este! Ele foi justamente
elaborado no início da humanidade. Não há necessidade de
consertarmos nossa própria vida. Jesus Cristo morreu, derramou o
seu sangue e sua justiça tornou-se nossas vestes; ela cobre nossa
nudez.
O Espírito religioso irá nos atentar para andarmos nos caminhos
da hipocrisia; ele vai tentar nos fazer cobrir nossas falhas para
parecermos melhores pessoas diante de Deus e dos homens. Esse
plano não funcionou no Éden nem funciona hoje. Precisamos aceitar
e abraçar plenamente as vestes de Jesus para cobrir a vergonha de
nossa nudez!
Outra questão quanto a Eva foi o fato de ela ter tido uma
motivação errada para não pecar. Vejamos o que está escrito em
Gênesis 3:1-3:
A serpente era o mais astuto de todos os animas do
campo que Deus havia feito. E aconteceu que ela
questionou com a mulher: Então, foi isso mesmo que
Deus falou:22 “Vós não podeis comer nenhum dos frutos
das árvores do jardim?” Ao que declarou a mulher à
serpente: “nós podemos comer dos frutos das árvores do
jardim; mas do fruto da árvore que está no centro do
jardim, Deus disse: dele não comereis, nele não tocareis,
para que não morrais!”
Nessa passagem da escritura, Eva fundamentou seu argumento
quanto ao não comer o fruto por medo da punição de Deus, e não
no amor que ela tinha por seu criador, como deveria ser. Observe o
que Eva respondeu ao diabo; ela disse que não poderia nem comer
nem tocar o fruto da árvore no meio do jardim, pois, se fizesse isso,
morreria. Vale notar o modo como ela pensou; o que a motivava não
pecar era o medo de ser punida, e não o amor que ela tinha por
Deus.
Nós nunca venceremos o pecado por causa do medo de sermos
punidos; se essa for a razão de nossa obediência a Deus, o diabo
irá nos induzir a arquitetar um modo de pecar e, de algum modo,
buscaremos formas de nos livrar da punição. Assim, quando
pecamos e não enfrentamos consequências imediatas, somos
convencidos de que não foi tão ruim ou penoso como pensamos
que seria.
Nosso desejo de caminhar em vitória sobre o pecado nunca
deveria ser fundamentado em nosso medo de sofrer consequências,
mas deveríamos ter o amor como a base única de nossas ações.
Jesus disse: “Se você me amar, guardará os meus mandamentos”.
Como temos visto em milhares de anos de história da humanidade,
a lei e o medo de punição nunca funcionam, mas o amor de Deus
em nosso coração, certamente, funcionará.
Se olharmos em nossa volta e em nossa própria vida, veremos o
quanto o comportamento pecaminoso é destrutivo. Qualquer
comportamento pecaminoso traz terríveis consequências; a maioria
delas afetará as pessoas com quem vivemos, mas mesmo se não
afetar outras pessoas, afetará nosso coração.
nosso coração, que endurece e se afasta do amor de Deus, não
porque Ele se distancia de nós, mas porque nos distanciamos dele
pela nossa desobediência.
O prazer que as nossas ações pecaminosas trazem é curto e
passageiro. O desejo pecaminoso nunca pode ser saciado, porque
nossa natureza é sempre desejar mais, independentemente do
quanto conseguimos pecar. Deus quer que sejamos livres de nossas
ações pecaminosas, porque Ele nos ama tanto e vê os efeitos
terríveis do pecado em nosso coração, em nosso próximo e em
nosso relacionamento com Ele. Em Salmos 16:11 está escrito:
Tu me fizeste conhecer o caminho da vida, a plena
felicidade da tua presença e o eterno prazer de estar na
tua destra.
O verdadeiro prazer é encontrado na presença de Deus, na sua
destra. Quando o Senhor se torna nosso foco e quando começamos
a viver em sua verdadeira graça, que não é o perdão do pecado,
mas o poder de vencê-lo, nós não somente experimentamos o
prazer de sua presença manifesta, mas todas as coisas que Ele
provê para nós tornam-se, também, puro prazer.
Dinheiro, sexo, álcool, trabalho, comida, etc, todas essas coisas,
supostamente, nos trazem prazer. Todavia, o que determina à nossa
percepção se essas coisas são prazer ou corrente de escravidão é,
justamente, a nossa decisão de viver ou não pela graça.
Infelizmente, vidas são destruídas por causa dessas coisas que o
Senhor criou para nos gerar muito prazer. O sexo, por exemplo, não
é ruim. Ele foi criado por Deus e é maravilhoso! Ele nos dá grande
prazer. Contudo, o modo errado e pecaminoso de seu uso o faz
destrutivo. O sexo feito de modo e no tempo errado torna-se ruim. O
que deveria gerar prazer, transforma-se numa corrente de
escravidão.
No contexto do casamento entre um homem e uma mulher, o
sexo é um grande prazer! No contexto da lei do pecado, o sexo é
destrutivo. Do mesmo modo acontece com todas as outras coisas
mencionadas, como: a comida, o álcool, o dinheiro etc. Elas foram
criadas para nos dar prazer. Somente as pessoas que vivem pela
graça de Deus e em vitória sobre o pecado através da fé no trabalho
consumado da cruz, verdadeiramente, serão capazes de usufruir de
todas essas coisas. Somente pela graça podemos encontrar prazer
nas coisas que foram feitas para nos dar prazer. Fora da graça, tudo
o que Deus fez para o nosso deleite torna-se corrente de
escravidão.
Quando vivemos pela Lei, todas essas coisas que Deus criou
para usufruirmos em prazer se tornarão destrutivas. Deus quer nos
abençoar e nos prosperar; Ele nos deu todas essas coisas para
nossa alegria, diz a Bíblia. Viver pela Lei nos leva à derrota, e nunca
à vitória sobre o pecado.

20 Apesar de os versículos 8 e 9 estarem muito próximos quanto


às traduções em inglês e em português, o versículo 10 apresentou
uma sutil diferença que precisa ser assinalada. Por essa razão,
colocamos aqui a tradução literal do versículo 10 usado pela versão
New King James: “Então, Ele disse, “Ouvi sua voz no jardim e tive
medo, porque eu estava nu; e escondi a mim mesmo.” Observe que
a versão em português fala que o homem ouviu o caminhar de
Deus, enquanto a versão em inglês fala que o homem ouviu a voz
de Deus.

21 O versículo 16, segundo a versão New King James, seria


traduzido do inglês para o português literalmente da seguinte forma:
“Vamos portanto chegar ousadamente ao trono da graça, para
podermos obter misericórdia e encontrar graça para nos ajudar no
tempo da necessidade”.
22 Veja a tradução literal da versão inglesa New King James e
observe a diferença posta na fala da serpente: “Agora, a serpente
era o mais astuto de todos os animais do campo que o Senhor havia
feito. E ela disse para a mulher: Deus realmente disse: “Vocês não
podem comer de cada árvore do jardim?”
10
A MARAVILHOSA EQUIDADE DA CRUZ
Por mais de 30 anos tenho pregado contra um “evangelho” que
confere vantagens aos fortes e talentosos em relação aos fracos e
desprivilegiados. Este é o que chamo de evangelho da Lei, não da
graça.
Através do poder da cruz de Jesus e da maravilhosa graça de
Deus, todo homem é igual diante do Pai. Não importa o passado
que tivemos, não importa o quão abusados ou o quão rejeitados
fomos, não importa se fomos criados sem pais ou se viemos de uma
família maravilhosa, a verdade é que através da cruz somos iguais e
não há vantagens ou desvantagens para um e para outro. É isso
que chamo de maravilhosa equidade da cruz.
Em 18 de Janeiro de 2014, tive um encontro com Deus que
mudou minha vida totalmente. Durante 56 minutos, Deus falou
comigo claramente e em voz audível. Dentre tantas coisas, Ele
disse que se entristece quando seus filhos usam o passado como
uma desculpa de seus comportamentos no presente; esse tipo de
desculpa desafia o poder da cruz, o trabalho da graça e o alto preço
que Jesus, seu filho, pagou por nós para vivermos em vitória.
Ele me disse que não queria que seus filhos progredissem em
suas tentativas próprias de obterem vitória sobre o pecado, mas Ele
queria que aprendêssemos a viver na vitória de seu filho Jesus
Cristo. Qualquer progresso que fizermos por nós mesmos trará
glória para nós mesmos, e não para Deus que deseja toda glória
para Ele.
Nosso presente e futuro não estão definidos pelo nosso passado,
mas, sim, pelo simples fato de abraçarmos e crermos plenamente
na verdade do trabalho consumado da cruz. Um vez que o poder de
destruir o pecado em nossa vida não está em nossa força, mas
inteiramente na cruz, ninguém tem vantagem sobre o outro. Tanto
aqueles que cresceram em uma família maravilhosa quanto aqueles
que foram abusados em casa precisam abraçar a cruz, a graça e
viverem em vitória. Todos têm a habilidade de crer nessa simples
verdade do Evangelho.

A MISTURA DAS DUAS ALIANÇAS


Em nossa vida cristã, há um grande perigo em misturar a Velha
com a Nova Aliança. Isso tem me perturbado há anos. Essa mistura
acontece tão sutilmente que não pode ser detectada com facilidade,
especialmente porque isso é muito comum em grande parte do
corpo de Cristo.
Essa mistura se manifesta em diferentes maneiras. É bom nos
lembrarmos de que Jesus disse que não podemos colocar vinho
novo em odres velhos. Se fizermos isso, os odres velhos
arrebentarão e o vinho se perderá. O velho e o novo não podem ser
misturados. Uma das maneiras sutis de se misturar o velho e o novo
se dá no momento em que a Igreja permite que a mensagem do
Evangelho da salvação pela graça através da fé se dilua por causa
da pregação do “evangelho” de vencer o pecado através da nossa
própria força. Tal mistura sempre nos conduz ao legalismo, nos
transforma em fariseus da modernidade e nos deixa com um conflito
interno constante. Nossa nova natureza deseja viver em vitória e
obedecer a Deus, mas, porque misturamos a Velha com a Nova
Aliança, agora, tentamos fazer o desnecessário, como vencer o
pecado pelo nosso esforço próprio, uma vez que Jesus já fez tudo
na cruz por nós.
A mistura das alianças coloca o homem em uma posição
deplorável; por exemplo, uma pessoa que possui um determinado
vício e é salva pela fé em Jesus precisa andar em fé e na vitória que
Cristo já conquistou na cruz sobre a prisão dos vícios. Mas,
frequentemente, muitos acreditam que são salvos pela fé, no
entanto, pensam que o seu esforço próprio em lutar contra o vício os
levará à libertação.
O problema é que a natureza humana irá substituir um vício pelo
outro, porque não temos, absolutamente, nenhum poder sobre o
pecado nem sobre os vícios. Se quisermos ser bons cristãos e
vivermos sem a graça, vamos lutar arduamente e fazer de tudo para
vencer nossos vícios. Quando falhamos, simplesmente,
substituímos os vícios ruins pelos “vícios cristãos”, que são bem
aceitos por serem aparentemente bons. Tais vícios são conhecidos
como: trabalho, comida, café, internet, filmes, etc. Eu conheço muito
bem essa história, porque um dia fui um desses; eu era totalmente
viciado em trabalhar e, também, um excelente crente fariseu. Vamos
ser claros: o problema não é o que fazemos, mas o que nos motiva
a fazer o que fazemos.
Lemos muitos textos sobre como os cristãos deveriam se
comportar e, então, tentamos obedecê-los pela nossa própria força.
Isso tem enchido nossas Igrejas com cristãos que lutam
constantemente contra pecados e, por conseguinte, vivem em
derrota; essas pessoas tornam-se, por isso, fariseus, juízes de tudo
e de todos. Essas coisas precisam parar de existir em nosso meio.

JESUS JÁ VENCEU
Cada tentação que enfrentamos, Jesus também enfrentou. Ele foi
homem e foi tentado até vencer o pecado pela sua completa
dependência do Pai. A vitória de Jesus sobre o pecado não foi em
sua divindade, mas em sua completa dependência da graça.
Ele era cheio de graça e verdade, e isso significa que Ele não
somente deu da sua graça, mas, também, nos mostrou como viver
pela graça; vejamos o que nos diz Hebreus 4:15:
Pois não temos um sumo sacerdote que não seja capaz
de compadecer-se das nossas fraquezas, mas temos um
Sacerdote Supremo que, à nossa semelhança, foi
tentado de todas as formas, porém sem pecado algum.
Quando somos tentados, precisamos nos lembrar de que Jesus
passou pelas mesmas tentações e, ainda, as venceu; do mesmo
modo que Jesus venceu, podemos vencê-las pela graça.
Muitos dizem ter sido mais fácil para Jesus que para nós, porque
Jesus não tinha uma natureza pecaminosa, mas essa não seria a
melhor abordagem. A verdade é que Jesus poderia ter pecado, mas
Ele viveu em vitória sobre o pecado, porque Ele viveu pela graça,
que é a habilidade divina para fazer coisas que não podemos fazer
em nossa própria força.
Ao lermos os Evangelhos, cuidadosamente, encontraremos a
completa dependência de Jesus em seu Pai. Se Jesus pudesse
vencer o pecado de modo mais fácil que nós, como Ele poderia
dizer o que disse em João 14:12 sobre o fato de que nós faríamos
maiores obras que Ele se simplesmente crêssemos?
Do mesmo modo que Jesus Cristo não tinha uma natureza
pecaminosa e venceu o pecado pela graça de seu Pai, não temos
mais uma natureza pecaminosa, porque ela foi crucificada com
Cristo. O problema é nossa falta de fé nessa poderosa verdade. Se
nossa natureza pecaminosa foi verdadeiramente pregada na cruz e
rendida sem poder algum, então, também, como Jesus, podemos
vencê-la pela mesma graça que Jesus venceu.
Não precisamos vencer nossa natureza pecaminosa, precisamos,
unicamente, pela fé, nos apropriar da vitória de Jesus. É isso que a
Bíblia diz em Romanos 8:37: “Contudo, em todas as coisas somos
mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”. Nossa
vitória não está em nossa força, mas está na vitória de Cristo e
precisamos viver nela pela fé.

ESTÁ CONSUMADO SIGNIFICA ESTÁ CONSUMADO


Quando Jesus proferiu suas últimas palavras na cruz, Ele falou
algo muito sério. Em minha opinião, aquelas foram as palavras mais
importantes da Bíblia, registradas em João 19.30, onde Jesus disse
“Está consumado!”. Tudo o que lemos e estudamos na Bíblia deve
ser interpretado através dessas palavras, pois, sem elas, não temos
salvação, cura, bençãos e não temos futuro no céu. Quando Jesus
proferiu essas palavras, Ele declarou que sua obra era absoluta e
suficiente. Se aprendêssemos a ler tudo na Bíblia à luz dessas
palavras, não haveria mais espaço para justiça própria ou religião
em nossa vida. A única forma de nos relacionarmos com Deus é
através da obra consumada da cruz de Jesus Cristo.
Uma vez que a Nova Aliança depende somente de Deus e de seu
filho Jesus, ela é absoluta, pois os dois já cumpriram seus
respectivos papéis nessa aliança. Quando Jesus proclamou as
famosas palavras “Está consumado!’, o significado delas era
“totalmente completo, nada pode ser adicionado”. Se eu e você
adicionássemos nossas partes nessa aliança, ela não seria absoluta
porque, como sabemos, todos falhamos muitas vezes.
A expressão “Está consumado!”, no original grego, é somente
uma palavra, tetelestai, da raiz da palavra teleó. Ela era usada de
várias formas em tempos antigos, mas quero mencionar aqui alguns
usos que são importantes para nós.
Durante o período de batalha, um general ficava no topo de um
monte, onde ele podia observar todo o combate. Lembre-se, não
havia força aérea, tanques ou veículos militares naquele tempo; a
maioria das batalhas era travada com espadas, homem a homem.
Os soldados não podiam ver a batalha por completo, e só se
preocupavam em matar qualquer inimigo que se aproximasse deles.
Mas o general, que estava no topo do monte, via claramente quando
o inimigo era derrotado ou batia em retirada, e quando alcançavam
a vitória, ele gritava: “Está consumado!”. Naquele momento, os
soldados sabiam que havia acabado e tinham conquistado a vitória.
“Está consumado!” também era usado quando alguém fazia um
trato de negócios com um mercador e tinha uma grande dívida a ser
paga. Quando o último pagamento era feito, o mercador pegava a
conta e escrevia em grandes letras: “Está consumado!”. Isso
significava que a dívida havia sido completamente paga, não
havendo mais pagamentos pendentes.
Por último, quero mostrar o uso dessa afirmação em relação aos
prisioneiros. Quando um cidadão romano era condenado por um
crime, era jogado na prisão e, na porta da cela, penduravam uma
ficha contendo seu nome e uma lista com os crimes cometidos para
que todos os que passassem pudessem ver. Após cumprir toda a
sua sentença, ele comparecia novamente diante de um juiz com
aquele papel em mãos. O juiz, então, escrevia ali: “Está
consumado!”. O documento era entregue àquela pessoa e, caso
alguém a questionasse quanto a sua saída, tudo o que ela precisava
fazer era mostrar aquele documento para comprovar que estava
livre.
É vital entendermos a estrutura gramatical em que essa
expressão extremamente importante, “Está consumado!”, foi escrita.
Ela está no pretérito perfeito, na voz passiva. O tempo perfeito
indica que o progresso de uma ação foi concluído e o resultado
daquela ação está em andamento e com completo efeito. Isso
significa que enquanto você existir, sempre desfrutará do resultado
dessas palavras poderosas se você simplesmente tiver revelação e
apropriar-se delas pela fé
A voz passiva indica que o sujeito da sentença é quem sofre a
ação expressa pelo verbo. Paradoxalmente, Jesus, que foi o agente
da passiva, consumando toda a ação, sofreu o castigo e não fez
nada para se defender; na verdade, Ele foi o cordeiro perfeito que
foi morto sem abrir a boca. Imagine o quanto deve ter sido difícil
para Jesus! Sabendo que havia legiões de anjos à sua disposição
para defendê-lo e protegê-lo, ou ao menos aliviar um pouco a dor,
recusou-se a pegar qualquer atalho e permaneceu passivo.
Essa expressão, em sua forma gramatical, indica uma afirmação
de fatos ou uma real ocorrência na perspectiva do orador. Talvez
isso pareça uma lição de gramática sem importância para alguns
leitores, mas repito, essa informação é muito importante para
compreendermos o significado das palavras de Jesus. O que Jesus
disse foi que o preço por seu pecado foi totalmente pago, e isso é
um FATO consumado que ninguém pode mudar, nem mesmo você!
A batalha acabou, a vitória já foi conquistada e você agora pode
entrar no descanso de Deus com sua dívida totalmente paga. Sua
natureza pecaminosa foi destruída pela obra consumada por Jesus.
11
OBRAS MORTAS
Sempre que tentamos vencer qualquer comportamento
pecaminoso em nossa vida pela nossa própria força, abandonamos
a graça pelas obras. Isso é muito perigoso e destrutivo pelas
seguintes razões:
1) Nós nos enganamos ao mudar nosso comportamento externo
sem uma transformação de coração, que somente pode ser feita
pela graça de Deus. Podemos até ter mudado um comportamento,
todavia, por não termos feito isso pela fé no trabalho consumado da
cruz, de fato, este comportamento pecaminoso não foi vencido. O
que aconteceu foi simplesmente o seguinte: o pecado dentro de nós
foi suprimido, apagando um tipo de sua manifestação; entretanto,
como não foi vencido, ele se expressa de outras maneiras em nossa
vida.
Se o pecado não for tratado em sua raiz, ele sempre encontrará
uma expressão de si em nós. Essa é a razão pela qual nenhum
vício poderá ser tratado em sua raiz sem a fé na graça e no trabalho
consumado da cruz. Por exemplo, as pessoas que venceram o
alcoolismo pelo esforço próprio, mesmo com a ajuda de um grande
terapeuta, nunca serão livres pelo resto de sua vida. Eles não têm
outra escolha a não ser ficarem longe de qualquer tipo de álcool,
pois caso contrário, se tornam viciados outra vez. Como isso pode
ser verdadeira liberdade? O fato é que isso não é verdadeira
liberdade. O poder do pecado do vício não foi tratado com a fé na
graça e no trabalho consumado da cruz. De modo algum endosso
nem encorajo os cristãos a tratarem o álcool com leviandade. Pelo
contrário, eu promovo a verdadeira liberdade que inclui desfrutar o
álcool sem correr o risco de se tornar um viciado nem beber a ponto
de afetar nosso comportamento. Esta é a verdadeira liberdade.
Tenho visto isso acontecer centenas de vezes ao longo de meus
30 anos de ministério. As pessoas vencem um comportamento
pecaminoso pela sua própria força substituindo um pelo outro; retira-
se o que é secreto e proibido e, em seu lugar, coloca-se outro que é
aceito entre muitos cristãos religiosos. O verdadeiro cristianismo
está ligado ao coração transformado em novo, que é refletido
naturalmente e sem esforço na maneira em que vivemos.
Lembro-me de um dia com se fosse ontem. Eu pastoreava a
primeira Igreja que plantamos na Áustria, aproximadamente 25 anos
atrás. Pessoas viciadas em drogas, alcoólatras e muitos jovens com
terríveis comportamentos pecaminosos foram salvos e libertos pela
graça de Deus e vitória da cruz. Naquele dia, tínhamos culto e,
assim que entrei no prédio da Igreja, um homem alto e grande,
estando aproximadamente entre os seus 20 e 30 anos de idade,
talvez com cerca de 1.90 metro de altura e 120 quilogramas, parou
bem à minha frente. Ele me cumprimentou apertando minha mão e
me perguntou, com sua grossa voz, se o pastor daquela Igreja
estava ali. Assim que falei “sim, sou eu; e estou aqui”, ele disse que
um de seus amigos, ex-viciado em drogas, fora recentemente salvo
e, na alegria de sua libertação, disse a ele que eu, o pastor, poderia
libertá-lo de seu alcoolismo. Ele me explicou que era bem conhecido
na cidade por causa de seu problema e, por três vezes, havia
perdido sua carteira de motorista por dirigir alcoolizado.
Ele trabalhava nos correios no período da noite separando as
correspondências. Pelas manhãs, ele comprava dois litros de vinho
e os bebia de uma vez só; às vezes, adicionava licores ao vinho. Ele
ficava bêbado sete dias por semana e pensava que não havia
solução para ele. Esse havia sido o estilo de vida daquele homem
por muitos anos.
Eu disse a ele que não poderia libertá-lo, mas o poder da cruz e a
vitória de Jesus poderiam. Ao orar por ele, seu corpo inteiro
enrijeceu como uma tábua; ele se sacudiu para cima e para baixo,
como uma britadeira, por aproximadamente 15 minutos. Após a
oração, disse que estava livre e liberto por causa do poder da cruz e
da vitória de Jesus.
Depois do culto, fomos para um restaurante e pedi uma cerveja;
perguntei àquele homem se ele queria uma também. Ele me
respondeu que havia ouvido dizer que quando fosse liberto, nunca
mais poderia beber uma única cerveja por causa de sua história de
vício; caso bebesse, beberia até ficar bêbado, pois não teria domínio
sobre a bebida.
Eu expliquei a ele, outra vez, sobre o poder da verdadeira
liberdade que está em Cristo, na graça e na cruz; ainda deixei claro
que a Lei não tinha poder de libertá-lo. Então, desfrutamos de uma
bela cerveja juntos. Hoje, 25 anos depois, ainda somos bons
amigos; ele ama Jesus, bebe um bom vinho, uma boa cerveja e não
mais fica bêbado. Isso é graça, liberdade e vitória de meu Jesus.
Não recomendo que os alcoólatras saiam para beber
descuidadamente, todavia, eu me entristeço quando vejo Igrejas,
pastores, pregadores e líderes bem quistos que pregam a Lei em
vez da graça por causa de sua própria falta de fé. Isso vai trazer
cadeias, e não vitória. Infelizmente, ao desculparmos determinadas
coisas pela cultura, temos enfraquecido o poder do Evangelho. Se já
fomos viciados em álcool e lemos essas palavras ainda vivendo
debaixo da Lei, sem estarmos completamente abraçados à vitória
consumada da obra da cruz, poderemos voltar ao vício do álcool e
termos nossa vida destruída, caso voltemos a beber outra vez. A
liberdade vem através da fé na graça e no trabalho consumado de
meu Jesus.
É o fruto do Espírito que Deus quer ver produzido em nós; não o
nosso árduo trabalho para produzir frutos. Lembremo-nos de que o
fruto cresce naturalmente; tudo o que a árvore precisa fazer é
depender plenamente de todos os nutrientes e componentes
necessários para o crescimento que estão livremente disponíveis
pelas raízes e luz do sol. O processo de frutificação foi ordenado por
Deus e, portanto, é natural; todavia, não é natural que qualquer
árvore frutífera não produza frutos. Então, não é natural para
qualquer cristão não manifestar em si o fruto do Espírito, que é um
trabalho único da graça.
2) Nos tornamos fariseus da modernidade e temos a mania de
julgar. I Coríntios 4:5 diz:
Assim, nada julgueis antes da hora devida; aguardai até que
venha o Senhor, o qual não somente trará à luz o que está em
oculto nas trevas, mas igualmente manifestará as intenções dos
corações. Então, nesse momento, cada pessoa receberá de Deus a
sua recompensa.
Deus está à procura de nosso coração, não de nosso
comportamento externo. Quando era criança, fui criado em um
sistema religioso que foi muito destrutivo para mim. Entreguei minha
vida para Jesus quando tinha aproximadamente 8 anos de idade e,
desde então, desejei amar o Senhor e servi-lo intensamente.
Todavia, por causa do sistema religioso em que eu estava, tornei-me
um fariseu da modernidade.
Mas a graça maravilhosa de Deus mudou isso em meu coração.
Eu o louvarei, o amarei e o seguirei para sempre, não porque tenho
que, mas por causa da sua graça maravilhosa em minha vida. Se a
graça do Senhor estivesse ausente da minha vida, certamente,
ninguém desejaria estar próximo de mim hoje. Eu seria um pregador
duro, com zelo excessivo e muito religioso.
O que me faz ser o que sou é puramente a graça de Deus. O
farisaísmo é terrível, porque ele usa a Palavra de Deus, a Lei de
Deus e mesmo a verdade parcial de Deus, mas sem a graça. O
farisaísmo não confere nenhum poder para ninguém alcançar os
objetivos e os padrões estabelecidos por ele mesmo.
3) O farisaísmo nos levará a um dos dois caminhos seguintes, o
que irá depender da personalidade de cada um de nós. Ou
continuaremos a vida cristã lutando arduamente para
constantemente vencermos o pecado em nossa vida ou ele (o
farisaísmo) nos levará a uma posição de desistência, aceitando o
fato de estarmos estacionados em nossos problemas.
Ambos esses caminhos são ruins, porque o primeiro nos fará
duros de coração, orgulhos e prepotentes. Enquanto fariseus,
cremos que todos devem ser tão bons e fortes quantos somos.
Usamos de manipulação, da culpa e da pressão para controlar as
pessoas e seus comportamentos, mas isso nunca funciona; de
modo contrário, o farisaísmo leva todos à escravidão e à
dependência doentia de líderes.
O segundo caminho é igualmente ruim, porque ele nos leva a
desistir de nosso futuro. Uma vez que somos cristãos, continuamos
a ir à Igreja por aparência e, talvez, sirvamos a Deus exteriormente;
contudo, nosso coração está vazio e destruído. Não sentimos mais
a presença de Deus e a alegria está ausente em nós; até existimos,
mas não vivemos verdadeiramente como Deus gostaria de que
vivêssemos. Constantemente, precisamos de oração e
aconselhamento. Isso se torna um ciclo vicioso.
Esses caminhos não trazem a liberdade. Como já mencionamos,
Deus quer que sejamos livres, mas na verdadeira liberdade. Cristo
morreu pela nossa liberdade. Jesus disse que aquele a quem o
Filho liberta, este está realmente livre. Jesus não quer que vivamos
uma vida de escravidão a nada. Ele quer que vivamos acima das
circunstâncias. Nenhuma religião deste mundo oferece a verdadeira
liberdade; ela é somente alcançada em Jesus através de nossa fé
em sua graça e em seu trabalho consumado da cruz.
Entretanto, o diabo sabe que o coração do homem deseja
profundamente encontrar a Deus e ser livre como Deus é. Mas, por
ele desejar que o homem permaneça sob sua influência, sob seu
poder e sob seu controle, ele fará tudo o que puder para alcançar o
seu objetivo.
Creio que uma das principais estratégias do diabo é a escravidão
à religião, independentemente do tipo e da forma de religiosidade. A
religiosidade faz o coração do homem ter medo de se aproximar de
Deus e de experimentar a liberdade. O diabo quer a escravidão do
homem, e Deus deseja que sejamos livres. Nosso coração foi criado
para viver em alegria, leveza e para adorar ao Senhor livremente.
O problema desse tipo de “evangelho”, o da religiosidade, reside
no seguinte fato: as pessoas que foram completamente destruídas
pelo terrível passado que tiveram, não encontram qualquer tipo de
expectativa, de esperança ou de futuro para si. Entretanto, se
viermos de uma família maravilhosa, de um lar amoroso, estruturado
e se tivermos sido criados bem, temos como fazer nosso
comportamento externo parecer bem melhor que os dessas pessoas
com o coração destruído.
Mas veja que Deus olha para o nosso coração; Ele não está
interessado em ações que não venham do coração. Uma vez que
nosso futuro esteja definido pela cruz somente, precisamos
depender dela completamente, em todos os momentos de nossa
vida.
TEOLOGIA E REALIDADE
O fato de que nossa natureza pecaminosa morreu com Cristo e
que Ele nos providenciou uma vitória absoluta é uma verdade
Teológica. Podemos ter a melhor teologia, totalmente baseada nas
escrituras, sem termos nossa vida afetada por ela. Não é pelo fato
de nossa teologia ser perfeita que nossa experiência será, também,
perfeita; nossa teologia não garante nossa experiência. A história da
Igreja prova que pessoas que tiveram grande compreensão da
verdade bíblica perseguiram aqueles que caminhavam nas mesmas
verdades. Não é o que estudamos, o que aprendemos, o que
ouvimos e àquilo que dizemos amém que são importantes, mas,
sim, o que experimentamos em nossa vida diária; não pode haver
espaços entre nossa teologia e nossa realidade.
A Bíblia fala sobre esse assunto ao tratar sobre viver e caminhar,
como escrito em Gálatas 5:25:
Se vivemos pelo Espírito, andamos de igual modo sob a
direção do Espírito.
Viver no Espírito significa ser nascido de novo e estar vivo para o
Espírito de Deus; mas caminhar no Espírito significa experimentar o
poder da vitória da cruz em nossa vida diária. A palavra “caminhar”
é uma palavra comumente usada no Novo Testamento. Efésios 5:2
diz que devemos caminhar em amor como Cristo Jesus também nos
amou. Isso não significa que devemos somente compreender o
amor de Jesus, mas devemos caminhar, em prática, nesse amor e
amar como Deus ama. Em Colossenses 2:6 diz, “como vós
recebestes Jesus Cristo o Senhor, andai nEle”.
12
ANDANDO NO ESPÍRITO
Acredito que, neste momento do livro, já é clara a nossa
compreensão de que Deus não somente deseja que vivamos em
vitória sobre o pecado, mas, também, provê todas as coisas de que
precisamos para vivermos essa vida de vitória. Nossa vida diária
deve refletir o caráter de Jesus Cristo. Para isso, vamos ler Gálatas
5:13-25 e observar a diferença entre a obra da carne e o fruto do
Espírito:
Caros irmãos, fostes chamados para a liberdade.
Todavia, não useis da liberdade como desculpa para vos
franquear à carne; antes, sede servos uns dos outros
mediante o amor. Pois toda Lei se resume num só
mandamento, a saber: amarás o teu próximo como a ti
mesmo. Porém, se mordeis e devorais uns aos outros,
cuidado para não vos destruirdes mutuamente! Portanto,
vos afirmo: vivei pelo Espírito, e de forma alguma
satisfareis as vontades da carne! Porquanto a carne23
luta contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne. Eles se
opõem um ao outro, de modo que não conseguis fazer o
que quereis. Contudo, se sois guiados pelo Espírito já
não estais subjugados pela Lei. Ora, as obras da carne
são manifestas: imoralidade sexual, impureza e
libertinagem; idolatrias e feitiçarias; ódio, discórdia,
ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja;
embriaguez, orgias e tudo quanto se pareça com essas
perversidades, contra as quais vos advirto, como já vos
preveni antes: os que as praticam não herdarão o reino
de Deus! Entretanto, o fruto do Espírito é: amor, alegria,
paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão e domínio próprio. Contra essas virtudes não
há Lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a
carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se
vivemos pelo Espírito, andamos de igual modo sob a
direção do Espírito.
Se nossa vida reflete o fruto do Espírito, como apresentado pelos
versos 22 e 23, então refletimos a natureza de Jesus Cristo. Não
somente isso, mas contra tais coisas não há Lei. Estou certo de que
nós faremos a seguinte pergunta: “O que significa dizer que contra
essas virtudes não há Lei ?” Creio que isso significa o que a Bíblia
diz em Romanos 13:8, quando andamos em amor, cumprimos toda
Lei. Se nossa vida reflete o fruto do Espírito, não precisamos nos
preocupar com nenhuma lei, porque toda Lei é cumprida pelo amor.

COMPREENDENDO A GUERRA
Há uma guerra acontecendo em nossa vida diária; Ela está
descrita em Gálatas 5:17, que diz:
Porquanto a carne luta contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne. Eles se opõem um ao outro, de modo que
não conseguis fazer o que quereis.
O que é a carne? É comumente compreendido e crido que a
carne é a natureza pecaminosa carnal. Isso é parcialmente verdade.
Se acreditarmos que nossa natureza pecaminosa morreu com
Cristo, precisamos nos perguntar: como alguma coisa morta ainda
pode lutar?
Precisamos nos lembrar daquilo que Paulo escreveu aos gálatas,
povo que havia deixado de viver a vida no Espírito para viver na
religiosidade e no esforço próprio. Eles deixaram a fé no trabalho
consumado da cruz para terem a fé em suas próprias forças. Eles
acrescentaram suas próprias obras à vida da cruz. Eles começaram
no Espírito e continuaram na carne. Em Gálatas 3:3 está escrito:
Estais tão enlouquecidos assim, a ponto de, tendo
começado pelo Espírito de Deus, estar desejando agora
vos aperfeiçoar por meio do mero esforço humano24?
Se a carne sempre significasse nossa natureza carnal, então
Paulo estaria dizendo que os gálatas criam que poderiam ser
aperfeiçoados vivendo segundo sua natureza carnal pecaminosa. É
claro que isso não é verdade, tampouco é verdade que os crentes
nascidos de novo pensariam ou acreditariam em tal heresia; todo
cristão sabe que viver em pecado não nos leva à perfeição. Como
os gálatas continuaram sua vida cristã?
Como Paulo disse que eles continuaram na carne, obviamente,
ele não quis dizer que continuaram em sua natureza pecaminosa. O
que eles fizeram foi continuar a vida cristã pelas suas próprias
forças, acrescentando suas obras à graça. Sempre que cremos ou
pensamos que precisamos acrescentar nossa própria força ao
trabalho da cruz para nos ajudar a vencer o pecado, andamos na
carne.
Paulo disse que a carne luta25 contra o Espírito e o Espírito
contra a carne. A palavra “lust”, traduzida aqui por luta, é muito forte
no original grego; ela é usada dezesseis vezes no Novo Testamento.
Ela significa “ter um forte de desejo por algo”. Ao olharmos o
versículo 17 com mais atenção, veremos algo interessante;
podemos ver que o Espírito e a carne são contrários um ao outro.
Creio que, neste texto bíblico, a palavra “carne” não significa nossa
natureza carnal, mas, sim, tentar vencer o pecado em nossa própria
força. Considere que tentar vencer o pecado em nossa própria força
versus deixar o Espírito Santo nos dar a vitória na cruz são
contrários um ao outro; um é religião, o outro é verdadeiro
cristianismo, e o que os gálatas estavam fazendo era puramente
religiosidade.

UMA COMPREENSÃO MAIS PROFUNDA DA PALAVRA


CARNE
Quando a Bíblia fala sobre “carne”, em muitos casos, ela trata de
nossa natureza carnal. Contudo, através de um estudo mais próprio
quanto ao uso da palavra “carne” e seus significados, rapidamente,
descobriremos que esta palavra é amplamente usada no Novo
Testamento, e seu significado variará de acordo com o contexto em
que foi inserida.
Em Gálatas 5:17, a palavra “carne” não significa “nossa natureza
pecaminosa”. No contexto em que este versículo está inserido, a
palavra “carne” significa: “o esforço próprio em tentar derrotar o
pecado”. Sendo assim, “carne” significa, em Gálatas 5:17, vencer o
pecado com nossa própria força e fazer de nós mesmos justos
diante de Deus através daquilo que alcançamos pelo nosso esforço.
Para mostrar como a palavra “carne” é usada indistintamente26
no Novo Testamento, vamos olhar para uma de minhas escrituras
prediletas, que é Gálatas 2:20:
Fui crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E essa
nova vida que agora vivo no corpo27, vivo-a
exclusivamente pela fé no filho de Deus, que me amou e
se santificou por mim.
Se a palavra “carne” tivesse significado invariável e este fosse
“nossa natureza pecaminosa”, poderíamos entender que Paulo, ao
dizer: “a vida que agora vivo na carne”, estaria, de fato, dizendo: a
vida que agora vivo na natureza pecaminosa. Isso geraria uma
incoerência, pois no início do versículo o apóstolo havia afirmado:
“Já fui crucificado com Cristo”. Uma vez que a natureza pecaminosa
foi crucificada com Cristo, logo, Paulo não mais poderia dizer da
vida que agora vive na natureza pecaminosa. Contudo, ele afirmou
da vida que ele agora vive na “carne”. Sendo assim, é impossível,
semanticamente, a palavra “carne” significar “natureza pecaminosa”.
Neste versículo, temos uma das provas incontestáveis de que a
palavra “carne” é usada indistintamente no Novo Testamento. Ao
analisarmos o Novo Testamento, observamos que a palavra “carne”
é usada com diferentes sentidos, significados distintos e que nem
sempre se refere à natureza carnal.
Nossa maior luta individual não é contra nossa natureza carnal,
mas contra a tentação de vencer o pecado com nossa própria força.
Cada vez que enfrentamos tentações, temos que tomar a decisão
de nos apoiar completamente na vitória da Cristo.
Contudo, a crença de que precisamos lutar para vencer o pecado
em nossa vida a fim de ganhar a vitória pela derrota da carne tem se
tornado um hábito firme na vida de muitos cristãos; esta crença é
reforçada, através dos tempos, por ensinos demoníacos e pelo
pensamento religioso. Portanto, a maior batalha não é contra nossa
natureza pecaminosa, mas contra a tentação de vencer o pecado
por nós mesmos. Esta é a guerra descrita em Gálatas 5:17.
Se continuarmos firmes em nossa fé, rapidamente
estabeleceremos um novo e maravilhoso hábito de viver a vida em
total vitória pela cruz, e veremos o poder do pecado ser
completamente destruído em nossa vida. Isto é, verdadeiramente,
viver na graça do nosso maravilhoso e amoroso Senhor, que provê
todas as coisas para vivermos uma vida de vitória distintamente.
Ó! Quão glorioso é o amor e quão maravilhosa é a graça de
nosso Deus. Contudo, por as pessoas acreditarem que Gálatas 5:17
descreve a guerra entre a “natureza pecaminosa” e o “Espírito”, eles
têm lutado uma batalha perdida; creem que a vitória sempre
depende deles, e não da cruz. Eles creem que a vitória depende do
quanto alimentam o Espírito e do quanto não alimentam a “carne”.
Pessoas assim, acreditam que não alimentam a carne por não
assistirem filmes inapropriados, por não frequentarem lugares
errados, por não lerem livros comprometedores. Eles, ainda,
acreditam que alimentam o espírito por lerem a Bíblia e por orarem;
pensam ser, dessa forma, exímios cristãos, dignos de glória e de
honra, esquecendo-se de que toda glória e que toda honra devem
ser dadas a Deus e não a nós mesmos.
Nossa natureza carnal não precisa ficar esfomeada, ela
simplesmente precisa reconhecer que está morta e que foi
crucificada com Cristo. Então, será que apoio assistir filmes
pecaminosos ou frequentar lugares promíscuos? Claro que não.
Mas nenhuma dessas coisas pode nos levar à vitória sobre o
pecado. A razão pela qual estou morto para o pecado é a fé que
tenho na obra consumada da cruz. Portanto, não tenho nenhum
desejo de fazer qualquer coisa pecaminosa.
Ainda, gostaria de apresentar outras razões que acredito serem
evidências de que a palavra “carne” não significa natureza
pecaminosa em Gálatas 5:17:
1) A mensagem central da carta aos gálatas não é vida no
Espírito versus vida na natureza carnal. Gálatas trata da vida pela
graça em contraste com a vida pelas nossas próprias obras. Paulo
ensina, usando palavras muito fortes, que eles precisam seguir a
vida da graça e abandonar a vida baseada no esforço próprio. O
versículo 17, claramente, nos mostra que a luta enfrentada pelos
Gálatas era a luta da “carne” (esforço próprio de vencer o pecado)
contra o Espírito (vida da graça).
2) A real luta na vida dos cristãos não deve ser a luta da natureza
carnal versus o Espírito, mas deve ser o nosso próprio esforço em
vencer o pecado versus uma vida de fé. Cada religião no mundo é
baseada no esforço do homem. O cristianismo está completamente
em desacordo com isso, pois ele não se baseia em nosso esforço; o
cristianismo depende completamente da fé na graça de Deus. Uma
vez que abraçamos a graça, o pecado perde seu poder e não há
mais guerra. Acreditar que é necessário vivermos no meio da luta
permanente entre nossa natureza pecaminosa e o Espírito limita o
poder da cruz e faz os cristãos viverem uma vida miserável.
3) A mensagem do Novo Testamento é clara: há uma Nova
Aliança que depende da obra de Cristo e não de nossas próprias
obras. Muitas pessoas creem que Gálatas 5:17 descreve uma luta
constante entre nossa natureza pecaminosa e o Espírito. Essas
pessoas geralmente lutam contra hábitos pecaminosos em sua vida.
Como já vimos neste livro, a cruz já derrotou completamente nossa
natureza pecaminosa; ela foi morta com Cristo na cruz. Paulo, que
ensinou essa mensagem tão fortemente, não daria à natureza
carnal, crucificada em Cristo, tanto crédito quanto tem a carne como
descrita em Gálatas 5:17.
Vamos olhar para esse versículo outra vez: “porque a carne luta
contra o Espírito e o Espírito contra a carne. Eles se opõem um ao
outro, de modo que não conseguis fazer o que quereis”. Como
viveremos uma vida em que nosso espírito humano continuará a
fazer as coisas que não deseja fazer?
Nossa natureza carnal não tem o poder de vencer o Espírito; isso
seria uma tragédia para a vida cristã. Iríamos da vitória para a
derrota, da vitória para a derrota, da vitória para a derrota e assim
por diante. Nossa natureza carnal não tem tamanho poder. Portanto,
creio que a palavra “carne”, nesse versículo, significa o nosso
esforço próprio em vencer o pecado. Se eu fizer a escolha de não
viver pela graça, mas, sim, pela minha própria força, o espírito será
derrotado. O Espírito Santo pode, todavia, não violar o nosso livre-
arbítrio.
4) Se a “carne” significasse, nesse versículo, “natureza carnal”,
então, nossa natureza carnal seria mais poderosa que o Espírito.
Que religião miserável seria essa? Que esperança poderíamos ter?
Nossa vida inteira seria uma luta constante contra o pecado.
Viveríamos incertos quanto ao vencedor: seria a carne? Seria o
Espírito? Isso dependeria grandemente de nós e de nosso esforço.
Viveríamos numa batalha constante entre alimentar a carne e
alimentar o espírito. Nosso embate seria: se alimentarmos a carne,
perderemos a guerra; se não alimentarmos a carne, ou seja, se não
assistirmos televisão de espécie alguma, ou coisas do tipo, mas se
lermos a Bíblia e orarmos o dia inteiro, nosso espírito se fortalecerá
e venceremos a guerra. Então, se isso desse certo, deveríamos
todos nos tornar monges e freiras, nos trancando em um
monastério.
Que afronta à cruz é uma crença como essa; e, também, quanta
glória seria dada ao nosso esforço em não alimentar a carne e
alimentar o espírito! Ó! Queridos, vamos nos afastar de tão terrível
crença e acreditar, pela fé, no trabalho consumado da cruz, e não
em nosso esforço próprio, pois somente assim Deus será glorificado
por meio de nossa vitória.

23 A versão New King James em inglês escreve esse versículo


da seguinte forma: “For the flesh lusts against the Spirit and the
Spirit against the flesh”. A palavra “lust”, em inglês, pode ser tanto
empregada como um substantivo quanto como um verbo; já em
língua portuguesa, essa palavra é somente empregada como um
substantivo (concupiscência). Neste versículo de Gálatas, a versão
New King James usou “lust” como um verbo, para significar um forte
desejo por algo ou uma intensa necessidade de algo. Assim sendo,
caso fizéssemos a tradução literal dessa versão teríamos “Porque a
carne deseja intensamente contra o Espírito e o Espírito contra a
carne”. Deixamos essa nota, pois o autor usará este verbo para
explicar questões sobre guerra posteriormente. A versão King
James Atualizada optou por traduzir “lust” como “luta”, o que não
seria tradução propriamente, mas adaptação.
24 A versão New King James desse versículo traduzida ao pé da
letra seria: “Vocês estão tão loucos! Tendo começado no Espírito,
vocês agora têm sido feitos perfeitos pela carne?”. (Tradução
nossa).

25 A palavra usada em inglês traduzida aqui por “luta” é “lust”,


que não tem um correspondente apropriado em língua portuguesa
enquanto verbo. Qualquer análise da palavra “lust”, neste texto, será
transferida pela usada em português (luta), uma vez que essa é a
adaptação mais plausível para o contexto.

26 O autor usa esse termo para nos mostrar a capacidade que


determinadas palavras têm de variar o sentido, dependendo do local
ou contexto em que são empregadas. No caso, ele fala da palavra
“carne”, que não tem um significado único e inflexível. Ela pode
alterar semanticamente, dependendo do local em que foi
empregada.

27 A versão New King James traz a palavra “carne”, e não a


palavra corpo. A tradução literal desse versículo segundo a referida
tradução seria: “Já fui crucificado com Cristo; não mais eu quem
vive, mas Cristo vive em mim; e a vida que eu agora vivo na carne
vivo pela fé no filho de Deus, que me amou e deu a si mesmo por
mim”.
13
ANDANDO NO ESPÍRITO - CONTINUAÇÃO
Eu entendo que, para muitas pessoas, é difícil crer e aceitar que o
texto de Gálatas 5.17 não fala sobre nossa natureza carnal e
pecaminosa. Sei que é difícil desfazer agora aquilo que assumimos
como verdade e nos foi ensinado por muitos anos.
Tenho um grande amigo que trabalhou comigo na liderança de
um ministério na Áustria. Atualmente, ele trabalha como tradutor
bíblico, pois sabe 17 línguas e é fluente em grego e hebraico. Fiz a
ele muitas perguntas quanto ao significado de palavras nestes dois
idiomas, e algo que precisamos entender é que uma palavra no
hebraico, frequentemente, tem mais de um significado e só pode ser
entendida de acordo com o contexto no qual está inserida.
Por isso, mostrarei de forma clara que, quando a Bíblia usa a
palavra carne, nem sempre se refere a nossa natureza pecaminosa.
Algumas vezes, sim, outras, não. Já mencionei as razões pelas
quais eu não creio que a palavra carne, em Gálatas 5.17, signifique
a nossa natureza pecaminosa. Esta não é a nossa luta real. Nossa
verdadeira luta, como já mencionei, é andar no Espírito, o que
significa permitir que o Espírito nos dê a completa vitória da cruz
sem adicionar nosso esforço para vencer o pecado em nossa vida.
Vejamos alguns versículos que usam a palavra carne, onde ficará
claro que carne tem significados diferentes em variados contextos.
Em prol da clareza, somente usarei trechos da Escritura que usam a
mesma palavra grega (sarx) que aparece em Gálatas 5.17. Não
incluirei os versículos que usam palavras diferentes no grego, mas
foram traduzidas como carne em nossa Bíblia.
Ao ler esses versículos, gostaria que você substituísse a palavra
carne pela expressão natureza pecaminosa. Rapidamente, você
descobrirá que carne é usada de várias formas no Novo
Testamento. Para ajudá-lo, colocarei as palavras natureza
pecaminosa entre colchetes.
Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo”.
Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas!
Porque isto não lhe foi revelado por carne [natureza
pecaminosa] ou sangue, mas por meu Pai que está nos
céus. (Mateus 16.16,17)
É claro, a natureza pecaminosa nunca revelaria a Pedro que
Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à
sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne [natureza
pecaminosa]? Assim, eles já não são dois, mas sim uma
só carne [natureza pecaminosa]. Portanto, o que Deus
uniu, ninguém o separe”. (Mateus 19.5,6)
Se duas pessoas se casam, tornam-se uma só natureza
pecaminosa? Se você, cristão, casa-se com outro cristão, vocês
agora se tornam uma só natureza pecaminosa? Claro que não!
Vocês se tornam uma só unidade espiritual.
E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma
carne [natureza pecaminosa] se salvaria; mas por causa
dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. (Mateus
24.22)
Jesus está dizendo que, em prol dos eleitos, os dias seriam
abreviados porque, de outro modo, nenhuma carne seria salva. Os
eleitos não são aqueles com a natureza pecaminosa, aqui, carne
simplesmente representa a vida humana.
Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu
mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem
carne [natureza pecaminosa] nem ossos, como vedes
que eu tenho. (Lucas 24.39)
Se carne sempre significa natureza pecaminosa, então Lucas
24.39 descreve Jesus como alguém que tem natureza pecaminosa
depois de sua ressureição. Que absurdo isso seria!
E o Verbo se fez carne [natureza pecaminosa], e habitou
entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (João
1.14)
Esse versículo fala sobre a vinda de Jesus à Terra, sobre o Verbo
que se tornou carne. Jesus não tinha pecado enquanto andava aqui,
caso contrário, Ele nunca poderia ter nos salvado. O Verbo não se
tornou natureza pecaminosa quando andou pela Terra; Ele
simplesmente se tornou humano. Isso é o que a palavra carne
significa aqui. Somente na cruz ele se tornou pecado por nós.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer
deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a
minha carne [natureza pecaminosa], que eu darei pela
vida do mundo. (João 6.51)
Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo
que, se não comerdes a carne [natureza pecaminosa] do
Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não
tereis vida em vós mesmos. (João 6.53)
Jesus nos deu a natureza pecaminosa para comer?
A palavra grega para carne é usada 130 vezes no Novo
Testamento. Portanto, se você ainda tem dificuldade para crer que
ela é usada de diferentes formas, dependendo do contexto, quero
desafiá-lo a estudar cada uma dessas 130 ocorrências e, em breve,
você verá claramente que isso é verdade. Quanto a mim, estou
convencido de que o texto de Gálatas 5.17 não é uma referência a
nossa natureza pecaminosa.

QUEM É REAL PARA VOCÊ


Paulo disse que a batalha entre a carne e o Espírito continua até
o ponto de nós não fazermos as coisas que desejamos fazer. A
questão é: quem é esse “nós” de que Paulo fala?
Creio que ao usar a palavra “nós”, Paulo fala de nosso espírito
humano. O verdadeiro “nós” é o nosso espírito que deseja as coisas
corretas. Nosso espírito humano deseja andar em amor e em
obediência a Deus. Ao abraçarmos o trabalho consumado da cruz e
sua vitória, iremos fazer as coisas que nosso espírito realmente
deseja que façamos. Vamos ver nas escrituras para quem isso foi
escrito.
A Igreja da Galácia não lutava muito contra o comportamento
pecaminoso, mas havia abandonado a graça pela Lei. Eles haviam
acrescentado as obras à graça, o que nunca daria certo. Essa é a
razão pela qual enfrentavam aquela terrível luta. Era o esforço
próprio deles, tentando agradar a Deus, que lutava contra o Espírito
que vivia neles. Quando acrescentamos qualquer esforço de nossa
parte para vencermos a natureza pecaminosa, andamos na carne e,
portanto, nos tornamos incapazes de fazer as coisas que o nosso
“ser real” (nosso novo e recriado espírito) quer que façamos. Não
deve haver nenhum tipo de ajuda do nosso lado para vivermos em
vitória, precisamos somente da graça da cruz.
Devemos renunciar todo esforço próprio de tentar viver em vitória.
Também, a razão pela qual o Espírito não pode vencer o pecado por
nós quando vivemos na nossa própria força é pelo fato de o Espírito
nunca violar nosso livre-arbítrio. Nossa natureza carnal não encaixa
com o Espírito de Deus; seria como se o Espírito de Deus não fosse
suficientemente poderoso para derrotar nossa natureza carnal.
Contudo, o Espírito nunca irá contra aquilo que decidimos
primeiramente fazer, uma vez que Deus nos deu nosso livre-arbítrio
e nunca irá violá-lo. Se nós, entretanto, decidirmos que não iremos
viver em vitória da cruz, o Espírito de Deus não irá violar nossa
decisão. Vamos decidir acreditar completamente nessa vitória e,
dessa forma, não haverá mais guerra entre o Espírito e a carne.
Observe que II Coríntios 5:1-4 ilustra claramente quem realmente
somos:
Estamos certos de que, se esta nossa temporária
habitação terrena em que vivemos for destruída, temos
da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus,
não construída por mãos humanas. Enquanto estivermos
morando nessa tenda, gememos, almejando ser
revestidos da nossa morada celestial, portanto, se de
verdade estivermos vestidos, não seremos surpreendidos
sem roupa. Porque, enquanto estivermos residindo nesse
tabernáculo, murmuramos e somos angustiados, pois
não queremos ser despidos, mais sim revestidos da
nossa casa celestial, para que aquilo que é mortal seja
completamente absorvido pela vida.
Paulo descreve nosso corpo como uma casa terrena ou como
uma tenda. No versículo 4 ele continua, “Porque, enquanto
estivermos residindo nesse tabernáculo, murmuramos e somos
angustiados, pois não queremos ser despidos, mas sim revestidos
da nossa casa celestial, para que aquilo que é mortal seja
completamente absorvido pela vida”. Quando Paulo usa a palavra
“nós”, ele, obviamente, não está falando de nossos corpos, mas de
nosso espírito humano. Ele claramente diz, “Enquanto estivermos
morando nessa tenda”; então, pergunto: “será que posso sugerir
que o verdadeiro “nós” não seja nosso corpo, mas o espírito que
vive nele?” Voltando para Gálatas 5:17, em que a guerra entre a
carne e o Espírito é descrita, podemos ver que essa guerra continua
para não fazermos aquilo que desejamos. Quem é esse “nós”?
Certamente, não é o nosso corpo.
O verdadeiro “nós” é nosso espírito que vive dentro do nosso
corpo e que deseja, desesperadamente, expressar cada atributo do
fruto do Espírito. Saibamos que essa não é uma guerra difícil de ser
vencida, a única coisa que precisamos fazer é tentar parar de
vencer o pecado por nós mesmos e viver a vitória de Cristo. Para
isso, há somente duas opções: ou tentamos vencer o pecado em
nossa vida e viver frustradamente em derrota ou dependemos
completamente da vitória de Cristo por nós, vivendo totalmente
nessa vitória.

FÉ NA CRUCIFICAÇÃO
Ao lermos e estudarmos o Novo Testamento sempre
encontraremos essa simples verdade: Jesus Cristo e o seu trabalho
na cruz são suficientes.
Vários anos atrás, tive uma experiência com a morte. Meu
coração parou e fui para o céu. Jesus havia me dito em dois sonhos
anteriores a essa experiência que eu iria morrer. Depois do segundo
sonho, compartilhei-os com minha esposa que ficou muito triste; ela
continuamente me dizia o quanto precisava de mim. Quando morri e
entrei no céu, Jesus olhou em meus olhos e disse: “Eu lhe mostrarei
muitas coisas aqui no céu e, depois, vou dar duas escolhas para
você, que são: voltar à terra ou ficar no céu comigo para sempre”.
Meu primeiro pensamento foi: “preciso voltar, pois minha esposa
precisa de mim”. Quando esse pensamento estava em minha
mente, Jesus olhou para mim com um sorriso. Ao olhar para mim,
eu sabia perfeitamente o que Ele estava transmitindo. Quando meu
espírito se agarrou àquela verdade, senti-me envergonhado em
relação ao meu pensamento. Sem usar palavras, Jesus me disse:
“como você pode pensar que ela precisa mais de você que de
mim?”. “Ela tem a mim e, comigo, ela tem todas as coisas de que
precisa. Eu sou o provedor dela; eu sou Aquele que a cura; Eu sou
o Amante dela; Eu sou o Amigo mais íntimo que ela tem; Eu sou
tudo o que ela precisa”.
A cruz não somente perdoou os nossos pecados, mas nos
colocou de volta em um relacionamento com Deus; nela muito foi
feito por nós. Paulo compreendia o verdadeiro efeito da cruz muito
claramente. Ele disse que queria nada além de Cristo e do Cristo
crucificado (I Coríntios 2:2).
Na cruz, um poder transformador aconteceu: a natureza de Jesus
transformou-se em nossa natureza. Eu preciso ressaltar, outra vez,
que não devemos nos focar em nossos pecados ou em nossas
tentações em cometer pecado. Lembremo-nos de que nos
tornaremos aquilo em que nos focamos. Os pecados são as ações
pecaminosas, não nossa natureza pecaminosa. Uma vez que
compreendemos essa maravilhosa verdade sobre a completa vitória
em Jesus Cristo e em seu trabalho consumado na cruz, o inimigo
fará tudo o que puder para nos arrastar de volta à nossa vida de
derrota. Se ele não conseguir nos levar à dúvida quanto à essa
vitória, e se não conseguir nos levar a tentar vencer o pecado com
nossa própria força, ele tentará outra estratégia que geralmente lhe
confere sucesso.
O diabo tentará nos fazer focar em nossa vitória sobre os
“pecados”, enquanto devemos estar focados em nossa vitória sobre
o “pecado”. Deixe-me explicar isso: ele nos tentará a cometer
pecados, o que ele frequentemente faz. Ele tentou Eva a cometer
pecados, ele tentou Jesus a cometer pecados e ele ainda nos tenta
a cometer pecados.
Quando ele nos tenta e nós permanecemos firmes na vitória de
Cristo, ele tenta uma cartada final, uma vez que sua estratégia ainda
não conseguiu nos derrotar. O diabo nos fará focar na vitória sobre
os nossos “pecados”, retirando-nos do foco que deve ser nossa
vitória sobre o “pecado”.
Por exemplo, vamos supor que estejamos lutando contra a ira, o
ciúme e a ambição. Se nada funcionar, ele nos tentará a ficar
nervosos e, então, uma vez que cremos firmemente em nossa
vitória e nada do que ele fizer nos abalará, o diabo nos leva a focar
na vitória de Jesus sobre a nossa ira (pecados), e não na vitória de
Jesus sobre o “pecado”. Essa estratégia de mudança de foco é
perigosa, pois pode nos levar a cair.
Não podemos nos sujeitar a essa estratégia, porque tudo o que o
diabo irá fazer é continuar lançando tentações atrás de tentações
contra nós e, então, nos manterá constantemente ocupados, nos
fazendo crer em nossa vitória sobre essas tentações.
Em vez disso, precisamos permanecer crendo que o “pecado” já
foi completamente derrotado na cruz. Nas palavras da alegoria da
árvore e dos frutos, se nada funcionar, o diabo vai tentar fazer-nos
focar em nossa vitória sobre todo fruto podre. Quando ele nos tenta,
precisamos permanecer firmes e declarar: “diabo, a árvore está
morta, ela já foi destruída na cruz e nenhum fruto pode mais
crescer; eu sou a justiça de Deus e não vou me entreter com os
seus pensamentos nem ouvir você”. Então, devemos agradecer e
louvar a Jesus, nos focando na cruz do Calvário; isso irá nos
garantir a vitória.
14
CHAVES IMPORTANTES E ÚTEIS
Gostaria de compartilhar algumas chaves que me ajudaram,
tremendamente, por décadas em minha caminhada com Jesus. Não
gostaria de que fossem compreendidas como regras ou leis, mas,
sim, como coisas que me beneficiaram grandemente em minha
caminhada cristã. Tenho aplicado-as em minha vida inteira e elas
têm sido preciosas para mim.
Quero deixar claro que elas não são um “caminho” para se vencer
o pecado, uma vez que o pecado é derrotado pela fé na verdade,
que é a chave para a vitória. Estas coisas me ajudaram a caminhar
com Jesus e, por isso, gostaria de compartilhá-las aqui.
1) Nosso relacionamento com Jesus. Nós devemos nos
lembrar constantemente de que o cristianismo não é uma religião,
mas um relacionamento. Há 30 anos, em uma manhã, acordei após
ter falado muito alto comigo mesmo enquanto dormia. Eu falava a
mesma coisa repetidamente.
Somente depois de acordado, percebi minhas palavras: “obrigado
Deus por eu não ter uma religião, mas um relacionamento”. É muito
triste ver o cristianismo se transformar em uma religião.
Relacionamentos levam tempo para serem construídos; não há
atalhos. Nós precisamos cultivar nosso relacionamento com Jesus.
Ele é o nosso noivo; Ele é a nossa vitória e Ele é tudo o que iremos
precisar. Isso não tem nada a ver com legalismo ou religião. A Bíblia
diz que Cristo em nós é a esperança de glória. Ele mora dentro de
nós e não quer ser ignorado.
Ao cultivarmos um relacionamento pessoal com Jesus, não
haverá outra maneira de viver a não ser pela graça, porque Jesus é
cheio de graça e verdade. O apóstolo João referiu-se a si próprio
como o discípulo amado. Por que ele foi o único que fez essa
referência de si? Somente o Evangelho de João faz tal afirmação;
nenhum outro Evangelho fala tal coisa. Eu acredito que isso
aconteceu por causa do relacionamento íntimo que João tinha com
Jesus e, por causa dele, compreendeu o quanto Jesus o amava.
2) Oração. A oração acontece em todas as religiões; todas elas,
independentemente de quais sejam, oram. Eu amo Efésios 6:18 que
diz: “Orai no Espírito em todas as circunstâncias, com toda petição e
humilde insistente. Tendo isso em mente, vigiai com toda
perseverança na oração por todos os santos28”. Quando a Bíblia
fala “orai todas as orações”, ela quer dizer “orai todos os tipos de
oração”.
Cristãos de diferentes denominações oram diferentemente. Eu
pessoalmente penso ser muito triste o fato de muitos cristãos
conhecerem um só tipo de oração, uma vez que a Bíblia fala sobre
“todos os tipos de oração”. Se entendemos que a oração é uma
conversa e não uma comunicação de via única, nossa vida de
oração seria transformada.
Quando aprendemos a chegar diante de Deus em oração,
entendemos que Deus quer falar conosco, como também deseja, de
igual modo, nos ouvir. Um tipo de oração é a oração em línguas,
dada pelo Espírito Santo, conforme escrito em I Coríntios 14:4:
“Aquele que fala em línguas edifica a si próprio”. O significado da
palavra edificar, neste contexto, é: construir uma casa. Ao orarmos
diariamente na língua do Espírito, construímos um lugar maior para
Ele habitar e se expressar.
3) Louvor a Deus. A Bíblia tem muito a dizer sobre louvar a
Deus. O louvor a Deus não pode se restringir aos momentos em que
nós, enquanto cristãos, nos encontramos para nossas reuniões.
Deveria ser natural para todos os cristãos louvarem ao longo do dia.
Compreendo que a música é muito importante e tem um impacto
poderoso em nossa vida, mas se limitarmos o louvor à música,
teremos problemas.
O que falaríamos sobre os cristãos que são perseguidos e postos
em prisão por causa da fé? Eles não têm um CD player ou
instrumentos musicais; tudo o que têm são suas vozes. Quando
Paulo e Silas estavam na prisão, louvaram a Deus, e o Senhor lhes
respondeu com um terremoto, sacudindo a terra e libertando-os.
Eles não tinham um grupo de adoração e nenhum instrumento com
eles. Eles simplesmente fizeram o que já era parte do estilo de vida
deles. Efésios 5:18-20 diz:
E não vos embriagueis com vinho, que leva à
devassidão, mas deixai-vos encher pelo Espírito, falando
entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais,
cantando e louvando de coração ao Senhor, e
cotidianamente dando graças por tudo a Deus, o Pai, em
o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Há uma ligação direta entre ser cheio com o Espírito, como posto
no verso 18, e louvar a Deus, como posto nos versículos 19 e 20.
Quando aprendemos a dar graças a Deus por todas as coisas,
como o versículo 20 diz, e a louvá-lO em todo momento de nossa
vida, nosso louvor será uma expressão de Jesus Cristo.
4) A Palavra de Deus. A maioria dos cristãos compreendem a
importância da Bíblia e não discutiriam se ela é ou não a Palavra
inspirada de Deus. Nunca devemos abordar a Bíblia como mera
literatura ou texto informativo. A Palavra de Deus tem o poder de
transformar tudo em nossa vida. Não devemos ler a Bíblia como se
fosse nosso dever diário, mas devemos tê-la como a infalível
Palavra de Deus.
O Salmo 119:11 diz: “A sua palavra escondi em meu coração para
não pecar contra ela”. A maioria dos cristãos leem a Palavra de
Deus regularmente. Eu tenho uma profunda convicção de que o ato
e a frequência de se ler a Palavra de Deus, unicamente, não é o
mais importante, mas o modo como se lê a Bíblia, também, tem
grande relevância.
Nós precisamos aprender a meditar nas verdades da Palavra de
Deus e permitir que o Espírito Santo traga vida através dela a nós.
Salmos 4:4 diz: “Irai- -vos e não pequeis. Meditai em vosso coração,
em vossa cama, e acalmai-vos”. Eu nunca cesso de me assustar ao
ver a quantidade de cristãos que nunca aprenderam a arte de
meditarem na Palavra de Deus. Talvez eles pensem que a
meditação é um tipo de canto ou de mantra.
Nossa força não está no conhecimento da Palavra de Deus
isoladamente, mas, sim, no fato de nos apropriarmos da realidade
deste conhecimento e de permitir que a Palavra nos transforme. O
significado de “meditar” é: “mastigar repetidas vezes”, ou seja,
“ruminar em nossa mente”. Do mesmo modo, quando nos
alimentamos de comida natural, se não misturarmos a comida à
saliva para ser digerida, nenhum nutriente beneficiará nosso corpo.
A comida irá passar diretamente pelo corpo e terminará no vaso
sanitário sem deixar nenhum de seus nutrientes em nós.
Poderíamos até comer a comida mais nutritiva diariamente e, ainda,
morrer de fome ou de má nutrição. Eu tenho encontrado muitos
cristãos famintos espiritualmente, porque eles não têm aprendido a
meditar na verdade da Palavra de Deus.
5) As duas batidas de coração da vida cristã. Eu creio que do
mesmo modo que precisamos inspirar e expirar, do mesmo modo
que nosso coração deve bombear sangue em determinado ritmo, os
dois batimentos cardíacos de nossa vida cristã são quietude e
ativismo.
A maioria dos crentes que conheço pessoalmente não tem
problema com o ativismo. Se amamos Jesus, e se Ele conquistou
nosso coração, será nosso prazer servi-lo, bem como servir a sua
Igreja. Veremos a necessidade ao nosso redor e ficaremos felizes
em expressar a vida cristã através de nós.
É importante que não sejamos somente ativos para Jesus, mas
também é importante aprender sentados aos pés do Senhor
quietamente. A Bíblia nos conta a história das duas irmãs de Lázaro:
Marta e Maria. Enquanto Marta estava ocupada servindo a Jesus,
Maria estava, simplesmente, aos pés do Senhor, ouvindo o que Ele
dizia. Marta reclamou a Jesus que sua irmã não estava ativa
ajudando-a, mas estava quieta na presença dele.
Já ouvi muitos sermões sobre essa história, mas nenhum deles
me satisfez. A maioria dos sermões enfatizavam o que Jesus disse:
“Maria escolheu a melhor parte”, que é a quietude. Encontrei várias
pessoas dizendo que eles eram um tipo de pessoa semelhantes à
Marta, e outras várias pessoas dizendo que eram do tipo
semelhante à Maria. O que eles queriam dizer era que alguns
serviam ao Senhor ativamente e que outros eram inativos por
desejarem, unicamente, passar o tempo na presença do Senhor.
Eu não creio que devemos ser de um ou de outro tipo, mas
devemos ser de ambos os tipos ao mesmo tempo. Jesus sempre foi
ativo indo por todos os lados, pregando em todos os lugares,
curando os enfermos e salvando os pecadores. Mas, Ele também
passava horas a sós com o Pai.
Em Isaías 30:15 diz: “Com efeito, diz o Senhor, o Santo de Israel:
na conversão e no arrependimento está a vossa salvação; na
quietude e na confiança está a vossa força, contudo vós o
rejeitastes”. Nossa força para sermos ativos no serviço ao Senhor
não vem de nós mesmos, mas vem dos momentos em que ficamos
quietos e descansamos em sua presença.
6) Obediência à voz do Espírito Santo. A obediência é uma
chave importante na vida do cristão. Através das escrituras,
podemos ver que pela obediência o poder sobrenatural de Deus foi
liberado. O Espírito Santo vive dentro de nós e precisamos aprender
a ouvir sua voz e obedecê-la. Eu nunca conheci ninguém que foi
significativamente usado por Deus no sobrenatural sem ser testado,
antes, na área da obediência ao Espírito Santo29.
Vamos observar o primeiro milagre que Jesus realizou no
casamento de Caná. O vinho daquela festa havia acabado. Não se
bebe água em casamento judeu; o vinho é, portanto, muito
importante naquela cultura, como, também, em muitas outras.
Quando o vinho acabou, Jesus não transformou a água em vinho
simplesmente; Ele não enviou o vinho já transformado ao mestre de
cerimônia, o que seria muito fácil para os servos fazerem. Em vez
disso, Jesus pediu que se enchesse grandes potes com água e,
depois, levassem a água ao mestre de cerimônias para que ele
pudesse experimentá-la. Isso pareceu ridículo!
A reação normal dos servos seria: “Em hipótese alguma faremos
isso, pois entraremos em uma grande confusão”. Maria, a mãe de
Jesus, havia dito aos servos: “Qualquer coisa que Jesus disser a
vós, fazei”. Os servos estavam preparados para obedecerem, a
qualquer custo, a tudo aquilo que Jesus lhes pedisse para fazer.
Então pergunto: “quando a água foi transformada em vinho? E, por
que Jesus não a transformou antes de enviá-la ao mestre de
cerimônias?”
Creio que Jesus queria estabelecer um exemplo através do
primeiro milagre que Ele fez. Ele quis demonstrar a importância da
seguinte lição: a obediência libera o milagre. Como sabemos da
história, a água foi transformada em vinho somente depois de os
servos obedecerem a Jesus. Nunca podemos nos deixar esquecer
desta importante verdade: sempre obedecer rapidamente à voz do
Espírito Santo.

28 Esse versículo traduzido palavra por palavra da versão New


King James seria: “Ore sempre com todas orações e súplica no
Espírito, sendo atento a este fim com toda perseverança e súplica
por todos os santos”. (Tradução nossa).

29 Eu falo mais acuradamente sobre esse assunto no livro “Fé”,


publicado por esta editora.
15
MATURIDADE É UM PROCESSO
Precisamos entender que o amadurecimento cristão é um
processo diferente daquilo que chamamos de vitória sobre o
“pecado”. É necessário entendermos que em nosso novo
nascimento nos tornamos filhos de nosso Pai que está no céu e,
portanto, carregamos em nós o DNA dEle.
Como seus filhos, através da morte e da ressurreição de Jesus
Cristo, temos a natureza de Deus. Isso não significa que nós não
temos que crescer e amadurecer. O problema acontece quando não
compreendemos que a vitória sobre o pecado não é um processo.
No momento em que somos salvos, crendo de todo o nosso coração
que o pecado não tem domínio legal sobre nós, vivemos em
completa vitória sobre qualquer comportamento pecaminoso. A
maturidade espiritual é um processo, e não instantânea como é a
vitória sobre o pecado.
Acredito que muitos cristãos vivem em escravidão porque
confundem maturidade espiritual com a vitória sobre o pecado. Eles
são salvos e sua vida está repleta de regras e regulamentações que
acreditam serem a chave para ajudá-los a terem vitória. Viver pela
Lei nunca trará vitória sobre o pecado, por essa razão Deus fez uma
Nova Aliança conosco através de Jesus Cristo.
Aprender a ouvir a voz do nosso Pai, aprender as disciplinas
cristãs que são uma parte importante de nossa vida, nos tornar
estáveis e não vacilantes por qualquer tipo de problema são sinais
de maturidade. A maturidade, por si só, nunca nos dará vitória sobre
o “pecado”.
Apesar de a maturidade ser um processo, o tempo de duração
desse processo depende grandemente de nós. Décadas atrás,
aprendi essa lição preciosa para minha vida: a minha vida não é o
resultado daquilo que aconteceu comigo, e sim o resultado do modo
como reagi ao que aconteceu comigo. Se compreendermos essa
lição, todas as circunstâncias, dificuldades e lutas de nossa vida,
permitidas pelo Senhor, nos auxiliarão a alcançar maturidade
rapidamente; quanto mais rápido dermos a resposta correta ou
quanto antes nós reagirmos apropriadamente às circunstâncias,
tanto mais breve nós amadureceremos espiritualmente.
Nossa vida espiritual, quanto à maturidade, não se difere da
natural; do mesmo modo que pessoas podem ser imaturas aos 40
anos enquanto outras são maduras aos 20, no mundo espiritual a
maturidade também não obedece a ordem de tempo. Se
constantemente lutamos contra as circunstâncias, as pessoas e os
tratamentos de Deus conosco, logo entenderemos que não somos
maduros. À medida que aprendemos a reagir em humildade,
arrependimento, sem acusar ou culpar o outro, compreendendo que
pessoas ou circunstâncias não estão no controle da nossa vida, nós
amadurecemos espiritualmente. Deus usará para o nosso bem
todas as circunstâncias e tudo o que as pessoas fizerem contra nós,
se tão somente crermos e entendermos que ele é bem maior do que
todas elas.
Em Romanos 8:29, Deus nos diz que aqueles a quem Ele
escolheu, também predestinou para seremos conformados à
imagem de seu Filho. Este é o desejo do coração de Deus; que
todos nós reflitamos a imagem de Jesus Cristo.
Quando interagimos com as pessoas em nossa vida diária, elas
precisam ver Cristo em nós. Quando nossas ações, nossos
comportamentos e nossas escolhas se tornam mais parecidas com
Cristo, alcançamos a maturidade. Há muitas coisas que podemos
fazer e muitas escolhas que podemos decidir que não são pecado,
mas que, também, não se assemelham com Cristo. Para
aprendermos a agir e reagir em semelhança de Cristo, precisamos
aprender a ser maduros.
Quero enfatizar aqui que não estou falando de comportamentos
pecaminosos. Já lidamos com nossa natureza pecaminosa na cruz
e não precisamos deixá-la nos controlar. Vencer a natureza
pecaminosa é um simples ato de fé. Maturidade é o resultado de
uma resposta correta a todas as coisas que acontecem em nossa
vida. Se desejamos, verdadeiramente, compreender Romanos 8:29,
quando as escrituras nos falam que Deus nos predestinou para
sermos conformados à imagem de Jesus Cristo, precisamos olhar o
contexto em que este versículo foi escrito. O versículo anterior diz:
“E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles
que amam a Deus e são chamados de acordo com seu propósito.”
Se crermos, de fato, que se amamos a Deus, tudo o que acontecer
em nossa vida, mesmo as coisas ruins, as que não
compreendemos, precisam cooperar para o nosso bem, nós sempre
reagiremos às circunstâncias com o coração grato e exultante.
O que é “o bem” mencionado no versículo 28? O que entendemos
por “bem” e o que Deus define por “bem” pode ser muito diferente.
O “bem” para o qual todas as coisas precisam cooperar é que
sejamos conformados à imagem de Cristo, ou seja, o nosso caráter
irá refletir o dEle. Quero afirmar uma coisa que pode ser facilmente
mal compreendida, mas creio que o nosso caráter divino é mais
importante para Deus que para nosso sucesso.
Creio que Deus deseja nos prosperar, nos abençoar, nos curar e
nos usar. Todavia, se nosso foco estiver mais nessas coisas que em
nosso caráter, as mesmas coisas que deveriam servir para o nosso
bem, se transformarão em coisas para a nossa destruição.
Por exemplo, será que Deus quer abençoar seus filhos
financeiramente? Acredito que a Bíblia ensina claramente que sim.
A pobreza não é uma bênção, mas uma maldição.
Para ilustrar esse ponto de vista, vamos dar uma olhada em uma
pesquisa feita nos EUA. Eles estudaram a vida dos que ficaram
milionários com a Loteria. Em quase todos os casos, a abundância
financeira destruiu a vida e as famílias dos ganhadores. Muitos
jovens que tinham grande sucesso com música e com o mundo
cinematográfico tiveram sua vida destruída pela falta de caráter.
Dizer que o sucesso é errado seria uma conclusão incorreta. A
conclusão correta seria que o sucesso e a prosperidade sem o
caráter correto para tê-los seriam pura destruição.
Se voltarmos para Romanos 8:29 e compreendermos que fomos
predestinados, o que significa que fomos escolhidos por Deus para
refletirmos a imagem e o caráter de Jesus Cristo, precisamos ver
como está a questão de nossa maturidade. Essa maturidade
acontece em nossa vida quando aceitamos o versículo 28, crendo
que em todas as coisas e em todas as circunstâncias Deus irá
operar o bem de nos levar à maturidade, nos auxiliando a refletir o
caráter de Jesus.
Este processo não precisa durar para sempre, porque ele
depende de nossa resposta a Deus e das circunstâncias por Ele
permitidas. Quando as aceitamos com o coração agradecido, felizes
na bondade de Deus, as mesmas coisas que potencialmente
poderiam nos destruir, trazem a nós a maturidade espiritual.
Frequentemente, os cristãos usam toda a sua energia e orações
para mudarem as circunstâncias, em vez de permitirem que as
circunstâncias os mudem.
Nós não amadurecemos através de nosso conhecimento
intelectual nem pela compreensão das coisas, mas o
amadurecimento acontece através do modo pelo qual vivemos
nossa vida. Hebreus 5:14 diz:
Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm,
pela prática, as faculdades exercitadas para discernir
tanto o bem como o mal.
A palavra grega que foi traduzida para o português como “adulto”,
significa “maduro”. No original grego as palavras “pela prática”
significam “constância, uso repetitivo”. Como, então, amadurecemos
segundo as escrituras? Nosso amadurecimento acontece pelo uso
de nossos sentidos e, através dessa prática, aprendemos a discernir
o que é bom e o que é ruim. A maturidade não vem pelo ouvir o
melhor sermão ou o melhor ensino bíblico; mas vem pela nossa
resposta correta a Deus e às circunstâncias, praticando
constantemente a escolha de boas coisas.

USANDO NOSSOS TESTES


Muitos cristãos desperdiçam seus testes ao invés de usá-los.
Essa é uma lição importante que temos que aprender. Uma vez que
nos foi prometido que todas as coisas cooperarão para o nosso
bem, deve haver um propósito divino em todas as coisas pelas
quais passamos. É um sinal de grande maturidade achar o
“propósito redentor” em cada dificuldade que passamos. Eu,
particularmente, não gosto do ditado “Deus está no controle”, por
não acreditar que ele seja biblicamente correto. Deus nos deu o
controle de nossa própria vida, e muitas coisas pelas quais
passamos não têm relação alguma com Ele – geralmente, são
consequências de nossas próprias escolhas. Muitas vezes, pessoas
fazem coisas que nos prejudicam, e, em todas essas circunstâncias,
podemos estar certos de algo: mesmo não tendo nada a ver com a
causa delas, Deus ainda deseja usar essas situações. Apenas
pessoas maduras encontrarão um propósito divino em momentos
difíceis.
Para que possamos usar nossos testes, aqui estão sete atitudes
bem simples que precisamos entender e colocar em prática.
1. Erga seus olhos. Em momentos difíceis, precisamos erguer
nossos olhos acima de nós mesmos e de nossos problemas. Se
nós não fizermos isso, rapidamente nos veremos como vítimas.
Pessoas com uma mentalidade vitimista não conseguem
superar suas dificuldades e acabam se aprisionando. Um filho
de Deus nunca é vítima.
2. Nunca reclame dos seus problemas. Creia que Deus usa todas
as coisas para o seu bem. Muitas vezes, digo às pessoas que
eu consigo provar que elas não creem na Bíblia. Então eu cito
Romanos 8:28, que diz que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus e que são chamados segundo
o seu propósito, e pergunto se elas acreditam nisso. Quase
todas dizem que sim, entretanto, se elas acreditassem nessa
verdade, jamais voltariam a reclamar sobre coisa alguma. Na
verdade, elas se alegrariam em cada situação. Contudo, elas
admitem que ainda reclamam, o que prova que elas não creem
nessa parte da Bíblia.
3. Evite a autopiedade. Autopiedade é um dos sentimentos mais
perigosos que uma pessoa pode permitir em sua vida. Ao
abrirmos nosso coração para ela, ela se torna um redemoinho
que nos leva a um poço sem fundo. Eu acredito que essa
atitude tambémabre nosso coração e nossa mente para o
engano do inimigo. Odeie, evite e não tolere a autopiedade em
sua vida.
4. Entendendo o coração. Provérbios 4:23 diz que precisamos
guardar nosso coração com toda diligência, pois dele fluem as
fontes da vida. Geralmente, não estamos conscientes das
coisas que estão em nosso coração. Entretanto, precisamos
compreender a verdade simples de que nossa reação àquilo
que acontece conosco revela o que de fato está em nosso
coração. É muito fácil culpar os outros por nossas reações. Se
estamos dirigindo e, bruscamente, alguém entra em nossa
frente e nós reagimos com raiva, o verdadeiro problema não foi
o mau comportamento no trânsito da outra pessoa, mas sim
nossa reação a esse mau comportamento. Ele não foi a causa
da raiva em você, mas a raiva que já estava em seu coração foi
revelada. Ao entendermos isso, podemos usar nossos testes
para mudar nosso coração e nos tornarmos pessoas melhores.
5. Assuma a responsabilidade. Isto está conectado ao ponto 4.
Você não é responsável pelo que a vida joga em você, mas,
sim, pela maneira como você reage em cada situação. Como o
autor mundialmente famoso, Dale Carnegie, disse, “Quando a
vida te der limões, faça uma limonada”. Pessoas maduras
assumem a responsabilidade de suas próprias ações e não
culpam as circunstâncias nem outras pessoas por elas.
6. Aprenda a agir ao invés de reagir. Ao estabelecermos princípios
em nossa vida sob os quais agiremos, nós não teremos que
reagir ao que as pessoas fazem conosco nem às circunstâncias
difíceis. A vida de oração da maioria das pessoas é uma reação
aos problemas, e geralmente está carregada de preocupações
e desprovida de fé. Pessoas maduras estabelecem princípios
pelos quais vivem; assim, não importa o que aconteça, elas
agirão de acordo com os princípios estabelecidos ao invés de
reagirem a situações específicas.
7. Entenda como a fé cresce. Vamos olhar para 2
Tessalonicenses 1.3,4, “Irmãos, devemos sempre dar graças a
Deus por vocês; e isso é apropriado, porque a fé que vocês têm
cresce cada vez mais, e muito aumenta o amor que todos
vocês têm uns pelos outros. Por esta causa nos gloriamos em
vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé que
mostram em todas as perseguições e tribulações que vocês
estão suportando”. Paulo se gloria na fé deles que crescia
excessivamente. A pergunta é, como a fé deles crescia tão
fortemente? Todo cristão quer ser alguém com uma fé que
cresce cada dia mais, e esse versículo nos fala claramente o
que faz a fé crescer: a perseverança em todas as perseguições
e tribulações. A fé não cresce numa grande reunião quando
escutamos um pregador ungido. Ela cresce quando
aprendemos a romper e perseverar em meio aos momentos
difíceis em nossa vida.
16
MATURIDADE É UM PROCESSO -
CONTINUAÇÃO
UMA LIÇÃO ATRAVÉS DA VIDA DE PEDRO

Eu amo a vida do apóstolo Pedro, porque me identifico muito com


ele. Quando Jesus estava no Getsêmani, Ele se referiu
especificamente a Pedro dizendo-lhe para orar e vigiar para que não
caísse em tentação. Pedro ignorou o alerta de Jesus e adormeceu.
Mais tarde, vemos a conversa entre Jesus e Pedro em Lucas 22:31-
32, “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como
trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E
quando você se converter, fortaleça os seus irmãos”.
Eu acho incrível que Jesus, sabendo o que aconteceria com
Pedro, não orou por proteção para ele em meio às circunstâncias,
mas, sim, para que a fé de Pedro não viesse a falhar. Jesus poderia
ter orado para que essas circunstâncias difíceis nunca
acontecessem, mas não orou. Sabendo que Jesus só fazia o que
era da vontade do Pai, é óbvio que Deus queria que Ele fizesse
exatamente a oração que fez. O que eu mais gosto nessa conversa
é o final, quando Jesus disse, “E quando você se converter,
fortaleça seus irmãos”. No momento mais terrível da vida de Jesus,
não foi apenas Pedro quem fugiu e o abandonou, mas todos os
discípulos. Jesus viu um propósito de redenção nessa tribulação
pela qual Pedro tinha que passar. A ninguém foi dada a comissão de
fortalecer os irmãos, com exceção de Pedro. Jesus estava mais
preocupado com Pedro estar apto a usar essa experiência dolorosa
do que com a tribulação em si. A passagem a seguir nos mostra
claramente que cada um dos discípulos abandonou Jesus e fugiu:
“E naquele mesmo instante Jesus se dirige às multidões indagando-
lhes: ‘Lidero Eu algum tipo de rebelião, para que venham contra
mim com espadas e porretes e me prendam? Pois todos os dias
estive ensinando no templo e vós não me prendestes! Todavia,
esses fatos todos ocorreram em cumprimento às Escrituras dos
profetas’. E assim, todos os discípulos abandonaram a Jesus e
fugiram” (Mateus 26:55-56 - grifo do autor).
Pelo fato de Pedro ter passado por essa provação, ele agora
também entendia os outros discípulos. Ele era um homem
quebrado, que agora poderia fortalecer os outros, compartilhando
que ele também havia passado por aquela experiência dolorosa.
Este é um poderoso princípio espiritual, o fato de Deus sempre
querer usar nossos sofrimentos para ajudar a outros e trazer glória
para Si mesmo. Pessoas que passaram por uma depressão e
venceram têm uma autoridade especial para ministrar a outros que
estão passando por depressão. Por que Jesus não deu a João, o
discípulo a quem Jesus amava, a comissão de fortalecer os irmãos?
Eu creio que foi porque João nunca passou por uma provação tão
profunda quanto a de Pedro.
Em Marcos 16:1-7, vemos outra linda história de como Deus
sempre quer usar nossos testes:
Ao encerrar-se o sábado, Maria Madalena, Salomé e
Maria, mãe de Tiago, compraram especiarias aromáticas
para ungir o corpo de Jesus. Ao raiar do primeiro dia da
semana, elas caminharam até o sepulcro. E
questionavam umas às outras: ‘Quem poderá remover
para nós a grande pedra que fecha a entrada do
sepulcro?’ Contudo, ao se aproximarem do local, viram
que aquela enorme pedra, havia sido removida da
entrada. E, entrando no sepulcro, viram um jovem vestido
de túnica branca, assentado à direita, e ficaram muito
assustadas. ‘Não vos amedronteis’, disse ele. ‘Vós
buscais a Jesus, o Nazareno, que morreu na cruz. Pois
Ele foi ressuscitado! Não está mais aqui. Vede o lugar
onde o haviam depositado. Agora ide, dizei aos
discípulos dele e a Pedro que Ele está seguindo adiante
de vós para a Galileia. Lá vós o vereis, assim como Ele
vos predisse’.
Esse texto nos conta que as mulheres foram ao túmulo para ungir
o cadáver de Jesus, mas Ele não estava mais ali, pois havia
ressuscitado. No verso 7, foi dada às mulheres uma tarefa
específica de falar aos discípulos que Jesus havia ressuscitado,
mas acho fascinante que o único discípulo a ter seu nome
mencionado foi Pedro. Se Pedro era um dentre os doze apóstolos,
por que o anjo não falou apenas “vá e contem aos discípulos”? Eu
creio que isso está conectado ao coração e o propósito de Deus, de
sempre querer usar nossas provações. Foi Pedro quem negou
Jesus e, após passar por tal provação, pôde usá-la para fortalecer
os irmãos. O anjo reafirmou o propósito que Jesus tinha designado
para a vida de Pedro, o de ser usado poderosamente por Deus.
Quem, dentre os apóstolos, foi o primeiro a pregar a primeira
mensagem após a ascensão de Jesus ao céu? Pedro! A verdadeira
maturidade é encontrar o propósito redentor de Deus em meio às
nossas provações, crendo que Deus sempre usará cada uma delas.
Quando eu era criança, fui abusado sexualmente, o que causou
uma dor profunda em meu ser e tinha o potencial de destruir minha
vida. Era a vontade de Deus que eu fosse abusado? Nunca!
Entretanto, Deus já usou essa dolorosa provação pela qual passei
para dar a centenas de pessoas, que também foram abusadas, uma
esperança e um futuro. Quando elas escutam a história da graça de
Deus em minha provação, são encorajadas e também conseguem
crer na vitória de Deus em sua própria situação. Nossa maturidade
determinará se nossas provações causarão em nós amargura ou
melhora. Elas têm o poder de destruir ou redimir. Assim como
Satanás queria ter peneirado a vida de Pedro como trigo, mas Deus
transformou isso em algo bom, também há um duplo propósito para
cada provação que encaramos. O propósito do Diabo é sempre nos
manter no desespero, nos tornar amargurados e nos encher de
desesperança. O propósito de Deus é sempre usar tais provações
para ajudar a outros e promover o avanço do Reino.

UMA LIÇÃO ATRAVÉS DA VIDA DE PAULO


A primeira palavra que Paulo recebeu da parte de Deus depois de
convertido foi que ele teria que sofrer muito por causa do Nome de
Jesus. De fato, esse homem sofreu as perseguições mais intensas,
que ele mesmo descreve em 2 Corintios 1:8-10, “Irmãos, não
queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na
província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade
de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida. De
fato, já tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não
confiássemos em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscita os
mortos. Ele nos livrou e continuará nos livrando de tal perigo de
morte. Nele temos colocado a nossa esperança de que continuará a
livrar-nos”. Quando Paulo escreveu isso, ele estava fisicamente
quebrado, emocionalmente esgotado e espiritualmente testado.
É muito difícil imaginar a complicação, a dor e a confusão pelas
quais ele passou nesses momentos. Nos versos três e quatro, ele
mostra sua incrível maturidade: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda
consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para
que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos
consolar os que estão passando por tribulações”. A maturidade dele
é demonstrada de duas formas: primeiramente, ele não ficou de um
lado para o outro chorando, cheio de autopiedade, por causa das
dificuldades. Ele entendeu que era o próprio Deus quem o
confortava e que era a sua força. Eu amo as expressões usadas no
verso três, onde os substantivos substituem os adjetivos. Paulo não
diz: “O Pai misericordioso e o Deus consolador”, mas diz
especificamente, “O Pai das misericórdias e Deus de toda
consolação”. A palavra consolação no original grego significa se
aproximar colocando-se ao lado de alguém, encorajar e fortalecer.
Em segundo lugar, Paulo entendeu que Deus não apenas o
consolava para que ele se sentisse melhor ou para que ele contasse
boas histórias, mas sim para que ele pudesse usar sua experiência
para ajudar outras pessoas. No verso seis ele nos diz: “Se somos
atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se somos
consolados, é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência
para suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos
padecendo”. Paulo compreendeu que aquele consolo que Deus lhe
daria em momentos difíceis poderia ser transmitido a outras
pessoas que também estavam sendo afligidas. Eu amo a frase do
verso seis, onde Paulo não diz apenas que suas provações
poderiam trazer conforto a eles, mas que elas também concederiam
força para suportar o sofrimento. A palavra grega para ‘suportar’ fala
de uma característica de uma pessoa que não se desviou do
propósito determinado nem mesmo pelas maiores provações e
sofrimentos.
Resistência e ‘aderência’ são duas características que todo
cristão maduro vai ter. Eu já vi vários cristãos que tinham muitos
dons e talentos incríveis, mas sem resistência. Essas pessoas
nunca cumpriram seu destino nem o propósito de Deus em sua vida.
Paulo entendeu claramente que havia um propósito em suas
tribulações e sofrimentos que alcançaria algo além de sua própria
vida. Eles contribuíram com a formação de caráter em outros
cristãos.
É típico da natureza humana querer a vitória sem batalhar. Nós
amaríamos ganhar um prêmio sem ter que correr a corrida. Todos
querem um ótimo casamento, mas nem todos estão dispostos a
lutar por isso. E eu poderia continuar citando esses princípios
indefinidamente. Todo sofrimento doloroso pelo qual passamos pode
infeccionar ou cicatrizar, só depende de nós mesmos. Isso é algo
que me intriga desde o início de meu ministério: duas pessoas
passam por situações semelhantes, mas uma delas fica ferida
enquanto a outra sai vitoriosa. Quando aprendermos a nos tornar
filhos de Deus maduros, nossas feridas se tornarão cicatrizes; e
cicatrizes são os troféus da Sua Graça. Quando olho para minha
vida, vejo muitas cicatrizes. Cada uma delas conta uma história de
dor e provação que, pela Graça de Deus, eu venci. Eu posso olhar
para essas cicatrizes e me lembrar de que aquelas feridas tinham o
potencial de me levar à amargura e à raiva, mas, ao invés disso,
elas atestam a graça, a cura e a força de Deus. Essas cicatrizes
encorajaram muitos de meus irmãos e irmãs em Cristo que também
foram feridos.
17
A IMPORTÂNCIA DE NOSSO CARÁTER
Cada pessoa tem um caráter – o de algumas é bom, o de outras é
mau, e há aquelas que desenvolveram o caráter de Cristo. Muitas
das vitórias e sucessos em nossa vida têm a ver com nosso caráter.
A pergunta-chave então é: como o caráter é desenvolvido?
Frequentemente as pessoas têm uma compreensão errada de
que é Deus quem desenvolve nosso caráter, mas eu não encontro
base bíblica para isso. Se fosse biblicamente correto, por que
alguns filhos de Deus têm um caráter divino enquanto outros, não?
Isso significaria dizer que Deus opera na vida de alguns mais do que
na de outros. Nosso caráter é desenvolvido por nossas atitudes em
meio às circunstâncias que enfrentamos. Embora Deus possa
permitir ou até estar por trás de algumas delas, são nossas atitudes
nessas circunstâncias que, de fato, fazem que nosso caráter se
desenvolva.

CARÁTER X DONS E UNÇÃO


A igreja, por vezes, tem enfatizado os dons e a unção muito mais
do que o caráter, o que já levou muitos cristãos a ficarem
profundamente feridos e decepcionados. É comum irem atrás de
pessoas com “uma unção especial”, mas ignorarem seu caráter, e
isso pode gerar resultados devastadores tanto sobre o que possui
tal unção quanto nos que o buscam. Dons e unção vêm de Deus e
não têm nada a ver conosco. Caráter, por sua vez, é de total
responsabilidade nossa.
Nossa oração constante e o desejo de nosso coração devem ser
de que nossos dons e unção não sejam maiores do que nosso
caráter. Eu vi muitas vidas e ministérios sofrendo, sendo destruídos,
devastados, quando colocaram maior foco nos dons e unção do que
no desenvolvimento do caráter. Quantas pessoas, hoje, jejuam e
oram para que haja mais liberação de dons e unção, porém, poucas
o fazem com a motivação de se consagrarem e desenvolverem seu
caráter. Esse foco desequilibrado, cedo ou tarde, trará
consequências indesejadas.

COMO DESENVOLVER UM CARÁTER DIVINO


Dons são doados, mas o caráter é construído. Portanto, uma
pessoa precisa simplesmente de fé para receber e exercitar os dons
espirituais; o caráter, contudo, não é construído por fé, mas por
nossas atitudes na vida. Cada circunstância com a qual nos
deparamos desenvolverá nosso caráter para melhor, pior ou o
manterá como está. O desejo de se tornar mais como Cristo é um
ingrediente importante para o desenvolvimento do bom caráter. Seja
qual for a atitude que tomarmos frente às circunstâncias da vida, ela
afetará o resultado de nosso caráter.
Ação e reação são dois fatores que determinarão o quanto nossa
vida será bem-sucedida. Embora nossas ações sejam importantes
para nosso sucesso na vida, elas não constroem nosso caráter. O
que, de fato, constrói nosso caráter são as reações. Eu creio que
nossas reações diante das circunstâncias são mais importantes do
que nossas ações na vida. Muitas pessoas já destruíram suas
grandes ações através de suas reações erradas nos momentos
desafiadores. Nossa reação sempre vem de nossa atitude,
enquanto nossas ações vêm de nossas escolhas. Cada reação às
nossas circunstâncias serve de espelho de nosso coração, pois,
mediante nossa atitude, mostramos o que está escondido nele.
A palavra grega para caráter significa escrito, gravado. Por meio
de nossa atitude, nós escolhemos como reagiremos e, assim,
gravamos um caráter certo ou errado em nosso coração. Durante
décadas servindo a Deus, eu vi, incontáveis vezes, como um mau
caráter destruiu ministérios e o potencial dado por Deus.
Eu estou absolutamente convencido de que Deus deu a cada ser
humano a liberdade de escolha. Esse é um dos presentes mais
preciosos que recebemos. Muitas pessoas permanecem presas na
através da mentira demoníaca de que elas não estão no controle de
sua própria vida, então culpam o passado, outras pessoas ou as
circunstâncias por suas reações. Nós não somos responsáveis por
aquilo que acontece conosco nem pelo que os outros fazem a nós –
estas coisas estão além de nosso controle. Entretanto, nossa atitude
e reação diante do que fizeram ou aconteceu conosco são
responsabilidade nossa. Se não levarmos a sério tal
responsabilidade, nunca desenvolveremos um caráter divino.

TRÊS ATITUDES COM AS QUAIS NÃO PODEMOS ESCAPAR


Há três reações e atitudes erradas que são contraproducentes
para o desenvolvimento do bom caráter – e, por nos amar
profundamente e saber da importância de nosso caráter, nós não
escaparemos do tratamento de Deus com tais atitudes. Podemos
vê-las claramente logo no início da Bíblia, quando Adão pecou: ele
tentou fugir, esconder-se e, por fim, transferir a culpa.
Em Gênesis 3:9, vemos que Deus chamou Adão e lhe perguntou
onde ele estava. Adão disse que ouviu a voz de Deus no jardim,
ficou com medo porque estava nu e se escondeu. Primeiro, ele fugiu
de Deus, depois, tentou se esconder de Deus, que não aceitou
nenhuma dessas posturas. Duas reações erradas decorrentes de
uma escolha errada de Adão. Então, quando Deus o confrontou com
o pecado cometido, Adão teve a terceira atitude errada: transferiu a
culpa. No verso 12, ele diz, “Então, disse o homem: A mulher que
me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi”. Em outras
palavras, Adão estava culpando Deus que lhe deu a mulher que lhe
deu o fruto.
Com que frequência, ao nos depararmos com algum
acontecimento do qual não gostamos ou por termos feito escolhas
ruins, também respondemos com uma ou até com todas essas três
formas? O problema de reagirmos assim é que, por vezes, forçamos
para mudar nossas circunstâncias enquanto nosso caráter
permanece sem mudança, o que é trágico.
Na década de 50, um poderoso avivamento de cura surgiu nos
Estados Unidos, e cerca de cinquenta evangelistas que operavam
em dons de cura faziam parte desse movimento. Porém, muitos
deles terminaram de forma trágica por causa da falta de caráter que
destruiu seu poderoso dom e a unção debaixo da qual andavam.
Quero enfatizar mais uma vez que nossa atitude determina nossa
reação, que, por consequência, constrói nosso caráter. A
responsabilidade é inteiramente nossa.

APRENDENDO POR MEIO DE JESUS


Quando falamos sobre desenvolvimento de caráter através de
atitudes, Jesus precisa ser nosso modelo. Afinal de contas, não
deveríamos ser discípulos de homens, e sim do próprio Jesus
Cristo. Portanto, precisamos ver como Ele reagiu às circunstâncias
e às pessoas e imitá-lo. Filipenses 2:5-8 nos dá as chaves para
aprendermos através de Jesus a ter a atitude correta: “Tende em
vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois
ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o
ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma
de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido
em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente
até à morte e morte de cruz”.
No verso 5, lemos que devemos ter o mesmo sentimento ou
pensamento que Jesus teve. No original grego, a palavra traduzida
como sentimento tem uma implicação de interesse moral. De modo
simples, está falando sobre copiar a atitude que Jesus teve. Nessa
passagem, podemos ver Sua atitude, que descreve Seu caráter.
Há quatro coisas que precisamos aprender através de Jesus:
1. Ele não lutou por sua posição: “pois ele, subsistindo em forma
de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus” (v. 6).
Para muitos cristãos, essa frase parece ser difícil de entender.
Muitos comentaristas famosos da Bíblia concordam que o
significado dessa frase é que Ele não ficou segurando com
todas as suas forças a Sua posição de igualdade com relação a
Deus. Antes de Jesus vir à Terra para nos trazer salvação, Ele
estava no céu, equiparado a Deus. Ele não demandou tal
posição nem se apegou a ela; ao invés disso, ele se dispôs a
tomar a humilde forma de homem. Eu continuo ficando chocado
ao ver quantos cristãos insistem em ter uma posição. No meu
entendimento, esse pensamento posicional que temos na igreja
hoje nunca esteve no coração de Deus. Pastores não deveriam
manter uma posição, mas, sim, ter uma função para servir o
corpo de Cristo. Pessoas que demandam uma posição nunca
desenvolverão o caráter divino.
2. Ele voluntariamente abriu mão de Sua glória: “a si mesmo se
esvaziou” (v. 7). No original grego, esse texto significa
literalmente abrir mão da glória que Ele tinha com o Pai. O
verdadeiro caráter de Deus é construído por uma atitude de não
lutar por sua própria glória.
3. Ele se fez servo. No verso 7, Paulo continua dizendo que Ele
tomou a forma de um servo. Há duas palavras distintas para
servo na língua original da Bíblia, bem como na cultura hebraica
daquela época. Havia um tipo de servo que voluntariamente
desistia de seu direito de ser livre e se rendia à vontade de
outra pessoa. A palavra usada por Paulo nesse trecho tem esse
sentido. Ninguém forçou Jesus a se tornar um servo, ele se
voluntariou para ser um. Eu descobri que em todos os
evangelhos, Jesus só se referiu a si mesmo como Senhor uma
vez. Foi em João 13, quando ele pegou a toalha para lavar os
pés dos discípulos. Precisamos compreender que somos filhos
de Deus, com todos os direitos e privilégios decorrentes desta
filiação. Entretanto, pelo propósito do Reino de Deus,
precisamos nos tornar escravos de Cristo voluntariamente.
Fomos chamados para sermos servos e reis: servos de Deus e
das pessoas; reis sobre o diabo e suas obras. Nós governamos
com suprema autoridade acima do inimigo, mas servimos com
humildade a todas as pessoas.
4. Ele se humilhou e abraçou a morte. O verso 8 diz que Ele se
humilhou e se tornou obediente até à morte. Eu gostaria de
lembrá-lo de que estamos falando sobre desenvolver caráter
através de nossas atitudes diante das circunstâncias. A atitude
de Jesus foi de absoluta obediência ao Pai, até à morte. Bem
no fim, logo antes de Jesus ir para a cruz, Ele disse que poderia
ter chamado uma legião de anjos para salvá-lo, mas recusou-se
para que fosse obediente. Por vezes, quando sabemos o que
fazer, mas achamos que é desconfortável, preferimos tentar
receber outra palavra de Deus a obedecer àquilo que já
sabemos. Quando aprendermos a ser obedientes a Deus, sem
debater, desenvolveremos um caráter divino, tal qual Jesus
tem.
18
VIVENDO PELO NOSSO INTERIOR
Gostaria de começar este capítulo com uma verdade importante:
precisamos viver nossa vida pelo nosso interior, não pelo nosso
exterior. O que eu quero dizer é que não podemos vencer o pecado
em nossa vida por seguir e obedecer a um conjunto de regras.
Como vimos anteriormente, viver pela Lei nunca deu certo nem
nunca dará.
O propósito da Lei foi mostrar nossa necessidade desesperadora
de ter Jesus Cristo transformando, sobrenaturalmente, nossa velha
natureza pecaminosa em uma nova natureza santa. Do mesmo
modo que alcançamos a salvação somente pela fé, também é
verdade que somente receberemos e nos apropriaremos dessa
nova natureza pela fé.
Nossa obediência a Deus e amor por Ele, manifestos de modo
externo, devem ser expressões de nosso estado interior. O fato de
sermos salvos pela fé e depois tentar alcançar a vitória sobre os
nossos pecados pelo nosso esforço próprio não faz sentido algum.
Tudo é o trabalho da cruz. Se confundirmos santidade com o
guardar um conjunto de regras e regulamentações significa que não
compreendemos, realmente, o trabalho consumado da cruz.
Deixe-me contar um história que ilustra essa verdade sobre
regras que não nos fazem santos. Um pregador religioso visitou
uma igreja e pregou sobre santidade. Durante o sermão, ele
destacou o ponto de que a santidade deve ser alcançada pelo
guardar um conjunto de regras e de regulamentações. Ele continuou
dizendo coisas do tipo: “Crente não bebe álcool. Crente não fuma.
Crente não xinga; etc”. Depois do culto, ele almoçou com um dos
líderes da Igreja que era um fazendeiro. Terminado o almoço, o
fazendeiro disse ao pregador: “Eu quis que você viesse almoçar
comigo porque tenho uma coisa realmente maravilhosa para lhe
mostrar. Eu tenho um burro que é um crente exemplar, ele vive uma
vida de santidade.” O pregador ficou sem entender o que o
fazendeiro dizia. Ao caminharem pelo campo, o fazendeiro, então,
mostrou ao pregador o burro crente, e o pregador perguntou: “o que
faz deste burro um crente?” Ao que o fazendeiro respondeu: “ele
não é somente um crente, ele é um crente muito santo, porque ele
não bebe álcool, não fuma nem xinga.”
O que fazemos não faz de nós o que somos; mas o que somos
determina o que fazemos. Se vivemos nossa vida por regras e
regulamentações somadas às leis feitas pelos homens, nós iremos
definir o que somos por aquilo que fazemos. Mas este é o caminho
errado de se seguir, porque sempre que falharmos em não guardar
uma dessas regras, vamos crer que já não somos bons crentes. Por
outro lado, se somos definidos pela nova criatura que Deus criou em
nós e abraçarmos essa verdade pela fé, nossas ações,
automaticamente, seguirão o que somos.

A NOVA ALIANÇA
Uma vez que a vida debaixo da Lei, com suas regras e
regulamentações, não funcionou por causa de nossa natureza
pecaminosa, Deus precisou fazer algo novo. Ele fez uma Nova
Aliança com o seu povo, como escrito em Hebreus 10:16-17:
Este é o pacto que farei com eles depois daqueles dias,
diz o Senhor; porei as minhas leis em seus corações, e
as escreverei em seu entendimento; acrescenta: e não
me lembrarei mais de seus pecados e de suas
iniquidades.
A promessa da Nova Aliança é que, pelo Espírito Santo de Deus,
suas Leis estão dentro de nosso coração e não em um conjunto de
regras externas. Parece que é uma inclinação da natureza humana
preferir viver por um conjunto de regras a seguir o Espírito Santo.
Precisamos crer que a Bíblia é a absoluta verdade. Portanto,
quando a Bíblia diz que as leis de Deus estão, agora, dentro de
nosso coração, precisamos parar de viver pelas leis externas e
seguir, então, nosso coração.
Estou convencido de que a razão pela qual cristãos lutam contra
seus comportamentos pecaminosos é porque vivem debaixo da Lei
e não debaixo da graça. Constantemente, somos tentados a
obedecer às Leis de Deus e a vencer o pecado pelo nosso esforço
próprio. Isso nunca trará vitória sobre o pecado, porque desafia o
trabalho da cruz.
As pessoas me disseram que precisamos ter cuidado quando
falamos essas coisas, pois a Bíblia diz em Jeremias 17:9 que o
coração é enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente
perverso.
O argumento deles somente reforça o meu, creio que essas
pessoas vivem debaixo da Velha Aliança e não creem no trabalho
consumado da cruz. Quando o profeta Jeremias falou essas
palavras, ele as disse para pessoas ainda não regeneradas, para
aqueles que ainda não tinham o coração transformado e para
aqueles cuja natureza pecaminosa ainda não tinha sido morta.
Lembre-se de que a salvação, a vida da Nova Aliança e a vitória
sobre o pecado só podem ser vividas e experimentadas pela fé. Se
continuarmos crendo que nosso coração é perverso, e não nos
agarrarmos à cruz, crendo na graça, teremos exatamente o que
cremos. Entretanto, nunca seremos capazes de deixar o ciclo
vicioso de tentar vencer o pecado pela nossa própria força, o que
nos levará a experimentar a derrota e a frustração; então,
continuaremos tentando um tanto mais.
Isso é um jeito ruim de se viver a vida. E, pior que nos encontrar
presos nesse ciclo vicioso é fingirmos que as coisas estão bem; o
que nos leva a tentar equilibrar nosso comportamento ruim com
nosso comportamento bom. Se caímos nessa armadilha do diabo,
entramos naquilo que chamo de farisaísmo da modernidade.
É urgente lermos a Bíblia à luz da Nova Aliança; de outra forma,
não enxergaremos nada além de regras, regulamentações e um
padrão que não pode ser alcançado. Não veremos Deus como
alguém que seja amoroso, carinhoso, que gosta de nossa
companhia, que se deleita quando somos abençoados, prósperos e
quando andamos em vitória.
A Nova Aliança eleva o padrão porque derrotou nossa natureza
pecaminosa e libera graça para vivermos uma vida de vitória pela fé
sem o esforço próprio. Como disse anteriormente, a graça não é o
perdão do pecado, isso é misericórdia; mas a graça é a habilidade
sobrenatural, separada de nosso esforço para obedecer a Deus de
todo o nosso coração, mas simplesmente pela rendição e fé na obra
consumada da cruz. A graça só pode ser recebida pela fé.
Há muitos versículos no Novo Testamento que estabeleceram um
padrão bem mais alto que o Velho Testamento. Como podemos
viver dessa forma se nós não pudermos vê-los à luz da Nova
Aliança? Caso não os interpretemos à luz da Nova Aliança, iremos,
como disse anteriormente, ou nos transformar em fariseus
escondendo os pecados ou viver numa constante luta que trará uma
constante condenação à nossa vida.
Mesmo a crença errada e sutil que diz: “Eu não devo ganhar
vitória sobre o pecado em minha própria força, mas na força de
Deus”, é perigosa, porque, também, alimenta o orgulho. O diabo vai
nos tentar a “torcer” verdades, fazendo delas meias verdades, como
o caso de usarmos a força de Deus e nela acrescentar nosso
esforço. A vitória sobre o pecado não acontece pelo fato de nós o
vencermos através da força de Deus, mas está na nossa total
confiança na vitória completa de Cristo sobre nossa natureza
pecaminosa.
Se nós vencermos o pecado na força de Deus, outra vez o nosso
esforço e trabalho entraram em ação, mesmo sendo através da
força de Deus. Isso é um engano, pois coopera com o nosso
orgulho de usar a força de Deus para combater o pecado. O pecado
foi vencido e derrotado; nós não podemos fazer aquilo que já está
feito. A vitória sobre o “pecado” não pode ser alcançada até que a
vitória da cruz, que matou nossa natureza pecaminosa, seja
apropriada pela fé.
Quando somos tentados a pecar, precisamos abandonar todo
nosso esforço de vencer por nós mesmos. Não nos cabe nem dizer
a nós mesmos: “vou vencer na força de Deus”, mas, precisamos
somente dizer: “Jesus, eu agradeço pela sua vitória, eu agradeço
porque minha natureza pecaminosa está crucificada em Cristo e eu
não tenho mais a necessidade de vencer o pecado, porque o
Senhor já venceu tudo isso; continuarei andando no Espírito, crendo
na verdade da sua Palavra, dependendo inteiramente dela.
Obrigado porque até mesmo a fé para crer nessa verdade vem do
Senhor. Eu descanso na sua graça e no trabalho consumado da
cruz”. Isso deve se tornar nosso estilo de vida. Deus deve ser o
único a ser glorificado.

A FORÇA DELE
Finalmente, meus irmãos, sejam fortes no Senhor e na força do
seu poder (Efésios 6:10). Esse versículo impactou a minha vida
poderosamente em 1984. Eu era um jovem pastor na Áustria e,
guiado pelo Espírito de Deus, fiz um jejum de 30 dias sem comida
alguma, somente bebi água. Ao chegar próximo ao final desse
jejum, meu corpo estava muito fraco e muito frio, pois era inverno na
Áustria e as temperaturas abaixo de zero são congelantes.
Eu me lembro do momento em que estava no meu quarto orando,
com meu corpo enfrentando fortes dores e cólicas por causa do
longo tempo sem comida e sem outro líquido a não ser água. De tão
fraco, desejei interromper o jejum, quando, de repente, o Espírito
Santo me falou com uma voz quase audível, de tão forte. Tudo o
que Ele disse foi o versículo de Efésios 6:10: “Finalmente, meus
irmãos, sejam fortes no Senhor e na força do seu poder.” Então,
comecei a declarar em alta voz: “Senhor, sua força é a minha força,
eu a recebo pela fé. Eu renuncio a viver a vida em minha própria
força, eu recebo a sua força”. O poder de Deus veio em meu corpo
como uma descarga elétrica; fui cheio de uma força sobrenatural e,
facilmente, continuei o meu jejum.
Este versículo está escrito de uma forma maravilhosa na
gramática grega. Em grego, “Sejam fortes30” está escrito na voz
passiva, não na voz ativa. Sendo assim, aqui não está escrito
alguma coisa que devamos fazer; nós não temos que tentar ser
fortes; nem temos que tentar fazer de Deus a nossa força. Quando
vivemos em dependência do Senhor na Nova Aliança, Ele é nossa
força e descansamos nesta verdade. Toda luta para sermos fortes
acaba, e toda glória é dada a Ele.
Literalmente, esse versículo seria traduzido como: “Finalmente,
irmãos, sejam fortalecidos ou recebam força ...” Não há nada que
possamos fazer, pois é algo que recebemos, e somente recebemos
pela fé.
NENHUMA PUNIÇÃO A MAIS
A punição por todos os nossos pecados, passado, presente e
futuro foi colocada em Jesus, portanto, não pode ser colocada em
nós outra vez. Foi colocada em Jesus, mesmo que Ele não tenha
feito absolutamente nada de errado, mesmo que Ele não tenha
cometido nenhum pecado, ainda assim, Ele foi punido pelas nossas
falhas. Um vez que Ele foi punido, estamos livres. Através da fé em
Jesus, somos livres de qualquer punição de nossos pecados. Se
Deus fosse nos punir outra vez por qualquer pecado que
cometêssemos, Ele seria totalmente injusto. Como um Deus justo
puniria duas pessoas pelo mesmo pecado? Ele já puniu seu filho
inocente, Jesus Cristo, pelos pecados que nunca cometeu, então,
como Ele poderia nos punir outra vez pelos mesmos pecados? Meu
amigo, Deus não é injusto, Ele é perfeitamente justo.
Os cristãos confundem a lei de plantar e colher com a punição de
Deus. Esta é uma estratégia do diabo, que quer que vivamos em
derrota e medo de Deus. Mas não nos esqueçamos de que o
Senhor é por nós, é conosco e está sempre do nosso lado.
Se alguém comete adultério e tem um filho fora do casamento,
essa pessoa irá sofrer as consequências de suas escolhas, mas não
é uma punição de Deus. Mas, por estas consequências serem
provenientes da dor e da destruição que o pecado causa em nossa
vida, o diabo não quer que tenhamos a vitória que está em Cristo. O
objetivo dele é a nossa derrota e destruição. Que melhor maneira
existiria para alcançar o seu plano de destruição do que tentar nos
levar à crença de que Deus nos punirá sempre que pecarmos?
Crendo assim, não alcançamos vitória, pois como sabemos, o medo
é um motivador ruim e o diabo sempre fará o pecado mais atraente
para nós do que suas consequências; porém, é justamente no
momento em que sofrem as consequências dos pecados que as
pessoas os racionalizam.
É desejo do meu coração que, de certa forma, o Senhor possa
usar este livro para libertar as pessoas da escravidão da Lei e trazê-
las à liberdade do Evangelho. Portanto, mantenha-se firme na
liberdade para a qual Cristo nos libertou.
30 Em português, a forma passiva dessa frase não faz sentido e,
portanto, deve ser traduzida no imperativo afirmativo como está nos
textos bíblicos. Em tradução, nem sempre é possível respeitar a
gramática da língua original, pois a língua receptora, nem sempre,
possui as mesmas estruturas gramaticais, por isso, os tradutores
precisam fazer adaptações de estrutura como é o caso desse
versículo.
19
NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE
DNA CELESTIAL

Há muito tempo eu tive um sonho profético vívido. Eu estava numa


reunião com vários pastores, todos ocupados, falando sobre as
programações e empreendimentos de suas igrejas, quando um
homem entrou na reunião. Ele estava extremamente preocupado
com o que estava acontecendo na igreja e, principalmente, na vida
daqueles líderes. O homem continuou falando, aumentando
gradativamente de volume e intensidade, dizendo: “Estar nEle é o
que importa. Estar nEle é o mais importante”. Todos os pastores
apenas o ignoraram, porque pensavam que aquilo que estavam
fazendo era muito importante, afinal de contas, eles estavam
falando sobre a vida da igreja. Aquele homem ergueu sua voz até
começar a gritar: “Não são seus planos e calendários que importam,
mas estar nEle é a chave”. Os pastores continuaram ignorando-o, o
que o deixou profundamente triste, e, mesmo no sonho, eu sabia
que a tristeza daquele homem era a de Jesus. Nunca me esqueci
desse sonho, pois ele ficou gravado no profundo do meu ser. E
embora eu ainda esteja numa jornada por descobrir o que de fato
significa estar “nEle”, estou convencido de que, se a igreja
realmente entender essa verdade, andaremos na autoridade
celestial.
Paulo nos fala de uma verdade poderosa em 2 Coríntios 5:16,17:
Assim, de agora em diante, a ninguém mais
consideramos do ponto de vista meramente humano.
Ainda que outrora tivéssemos considerado a Cristo
assim, agora, contudo, já não o conhecemos mais desse
modo. Portanto, se alguém está em Cristo, é nova
criação; as coisas antigas já passaram, eis que tudo se
fez novo!
Deus deixa bem claro que, quando entramos em Cristo, tudo é
drasticamente mudado. Quando Deus diz que somos “nova criação”,
Ele não está falando sobre consertar algo em nós para que pareça
novo, como, infelizmente, é a ideia de muitos cristãos. Eles creem
que Deus pega sua vida antiga e, lentamente, após muitos anos,
com muito suor e lágrimas da nossa parte, certamente as coisas vão
melhorar. Entretanto, Deus não apenas diz que tudo se já se tornou
novo, Ele também diz que as coisas velhas já passaram.
Bem no início deste ano (2019), Deus me disse que o que temos
de mais importante a ser vencido é nosso DNA natural. Os cristãos
têm falado tanto acerca de ser vencedor, contudo, não me lembro
de alguém ter ensinado alguma coisa sobre como vencer nosso
DNA natural. Ao contrário, temos falado sobre como vencer nossos
problemas, nossas dificuldades financeiras, nossos hábitos
pecaminosos, mas nunca falamos sobre vencer nosso DNA natural.

ASSIM COMO JESUS


No momento em que somos colocados em Cristo, que é quando
nos convertemos, recebemos imediatamente um novo DNA. Não é
um DNA melhor, mas o DNA do próprio Jesus. O texto de João
12:23,24 ficou gravado em meu coração: “Jesus lhes respondeu:
“Chegou a hora em que o Filho do homem será glorificado. Em
verdade, em verdade vos asseguro que se o grão de trigo não cair
na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer
produzirá muito fruto”. Nesse contexto, vemos que Jesus está
falando de Si mesmo, preparando-se para morrer na cruz. Ele dá
um exemplo sobre o que acontece com um grão ao cair na terra,
pois, na verdade, o grão é apenas um símbolo dEle mesmo e do
que acontecerá quando Ele morrer. Precisamos entender a verdade
poderosa que Ele está nos ensinando nessa passagem; Jesus está
nos falando que se um grão de trigo não morrer, este permanecerá
solitário, mas, se morrer, produzirá muito fruto.
Acompanhe meu raciocínio até chegarmos à conclusão lógica
para a qual Jesus está nos conduzindo: quando um grão cai no solo,
ele produz muitos outros grãos. Se uma semente de tomate cair no
solo, não podemos esperar que nasçam pepinos, mas somente
tomates. Portanto, uma vez que Jesus estava falando de sua própria
morte, ele estava dizendo que, se não morresse, permaneceria
sozinho; haveria apenas um Jesus. Sendo assim, como ele já
morreu, sabemos que ele trouxe consigo muitos outros com o
mesmo DNA que morreu, a saber, o de Jesus.
Nós somos filhos de Deus assim como Jesus é, com o DNA
exatamente igual ao dele. Essa verdade é tão poderosa que pode
até soar como blasfêmia, mas acredite em mim, ela é
profundamente bíblica. Nós não somos Jesus, enquanto redentor do
mundo, mas somos nova criação da mesma espécie de Jesus. Nós
nascemos de sua semente divina, portanto, carregamos seu DNA.
Em Gálatas 3:16, lemos o seguinte: “Desse mesmo modo, as
promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A
Escritura não declara: ‘E aos seus descendentes’, como se referindo
a muitos, mas exclusivamente: ‘Ao seu descendente’, transmitindo a
informação de que se trata de uma só pessoa, isto é, Cristo”.
Quando Deus fala acerca do descendente de Abraão, ele não está
falando de descentes naturais, do povo de Israel, mas de Jesus
Cristo.
Em Gálatas 3:13-14, Paulo nos fala a respeito da bênção de
Abraão, que é Jesus Cristo: “Foi Cristo quem nos redimiu da
maldição da Lei quando, a si próprio se tornou maldição em nosso
lugar, pois como está escrito: “Maldito todo aquele que for
pendurado num madeiro”. Isso aconteceu para que a bênção de
Abraão chegasse também aos gentios em Jesus Cristo, a fim de
que recebêssemos a promessa do Espírito Santo pela fé”. Lembre-
se de que, no versículo que citamos anteriormente, a semente de
Abraão é Jesus. No verso 29 do mesmo capítulo, Paulo conclui seu
argumento dizendo:
E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão
e plenos herdeiros de acordo com a Promessa.
Fiz questão de conferir esse versículo com dois estudiosos do
grego para descobrir se, no texto original, a palavra “descendente”
está no singular ou plural, e está, de fato, no singular. De modo
simples, a semente de Abraão que é mencionada no verso 16 é
Jesus, mas, no verso 29, Paulo nos fala que somos a descendência
de Abraão, e explica isso no verso 26, quando diz: “Porquanto,
todos vós sois filhos de Deus por meio da fé que tendes em Cristo
Jesus”. Através da fé em Jesus Cristo, agora somos filhos de Deus
da mesma natureza de Jesus. Nenhum cristão tem que viver de
acordo com o próprio DNA natural, mas pode aprender a viver de
acordo com seu DNA celestial. Em um dos capítulos mais fortes de
toda a Bíblia, o capítulo oito de Romanos, Paulo diz o seguinte:
“Porquanto, aqueles que antecipadamente conheceu, também os
predestinou para serem semelhantes à imagem do seu Filho, a fim
de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (v. 29). Uma
vez que Ele é o primogênito, significa que somos irmãos dele, e, por
sermos irmãos, temos uma parte do DNA dele. Isso fica muito claro
quando olhamos para 1Coríntios 6:17: “Entretanto, aquele que se
une ao Senhor é um só espírito com Ele!”.
Se nós somos um espírito com o Senhor, isso quer dizer que nós
carregamos o mesmo DNA. Quando nosso coração se apegar a
essa verdade e começarmos a viver de acordo com ela, tudo
mudará drasticamente. Se buscarmos no texto original de 2Coríntios
5:17, onde diz que somos uma nova criação, veremos que a palavra
grega traduzida como “nova” nesse versículo significa sem
precedentes, algo que nunca existiu antes. Certa vez, ouvi um
pastor dizer que, como cristãos, nós fomos restaurados à forma
original de Adão antes do pecado, mas isso é biblicamente
incorreto. Jesus não “caiu no solo” até ter morrido na cruz, mas
apenas quando saiu daquela tumba é que ele trouxe uma nova
espécie de pessoas consigo, que agora carregam Seu DNA. Adão
foi criado por Deus, mas não foi nascido de Deus.

NOSSO VERDADEIRO “ EU”


Em João 3.6, lemos que: “O que é nascido da carne é carne; mas
o que nasce do Espírito é espírito”. Jesus está deixando bem claro
que há uma grande diferença entre aqueles que nasceram
naturalmente e aqueles que nasceram de novo. Ele não nos falou
que aquele que é nascido do Espírito tem um espírito, mas disse
claramente que “é espírito”. Isso implica no entendimento de que, no
momento em que nasce de novo e é salvo, você se torna uma
pessoa completamente nova. Agora, você é um espírito que habita
num corpo e tem uma alma. Seu verdadeiro “eu” agora é o seu ser
espiritual que tem a completa natureza, sabedoria, fé e recursos de
Deus armazenados dentro de você. Quando entendermos e crermos
plenamente nessa verdade, ela será uma chave transformadora.
Paulo deixa isso bem claro no contexto da passagem onde ele
afirma que nós somos nova criação em Cristo.
Vamos ler cuidadosamente a passagem de 2Coríntios 5:1-8. No
primeiro verso, vemos o seguinte: “Estamos certos de que, se esta
nossa temporária habitação terrena em que vivemos for destruída,
temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, não
construída por mãos humanas”. Paulo chama nosso corpo de
habitação terrena ou temporária. Ele não se refere ao nosso
verdadeiro ser como sendo o homem físico, mas, sim, como sendo
a habitação onde o verdadeiro “eu” vive. Se você morasse numa
casa e eu me referisse a ela dizendo o seu nome, você acharia
muito estranho. Você precisa da casa para não ficar sem moradia,
mas a casa não é você nem tem sua identidade.
Vamos tornar isso ainda mais claro imaginando o seguinte: o
governo decidiu construir uma rua nova, cujo trajeto estabelecido
passa exatamente onde sua casa está construída. Eles, então,
enviam-lhe uma notificação de que em sete meses sua casa será
destruída e você receberá uma nova casa num local diferente.
Nesse cenário, o que acontecerá é que o seu verdadeiro “eu”
simplesmente se mudará para uma nova casa em breve; você não
perderá sua identidade nem terá sua vida destruída.
Paulo se refere ao ser espiritual como sendo o nosso verdadeiro
“eu”, quando diz “Estamos certos...”. No verso dois, ele continua o
mesmo pensamento ao dizer: “Enquanto estivermos morando nessa
tenda, gememos, almejando ser revestidos da nossa morada
celestial”. Seu corpo geme pelo desejo de ter um novo corpo
espiritual? A resposta é claramente não. Nosso ser espiritual, o
nosso verdadeiro eu, tem um gemido interno, um anseio pela
eternidade.
Do verso 3 ao 8, nós vemos o mesmo argumento por diversas
vezes:
Porquanto, se de verdade estivermos vestidos, não
seremos surpreendidos sem roupa. Porque, enquanto
estivermos residindo nesse tabernáculo, murmuramos
e somos angustiados, pois não queremos ser despidos,
mas sim revestidos da nossa casa celestial, para que
aquilo que é mortal seja completamente absorvido pela
vida. Ora, foi Deus mesmo quem nos preparou para isso,
e concedeu-nos o Espírito como plena garantia do que
está por vir. Portanto, andamos sempre confiantes,
cientes de que enquanto presentes nesse corpo,
estamos distantes do Senhor. Pois vivemos por fé e não
pelo que nos é possível ver. Sendo assim, caminhamos
em confiança, e preferimos estar ausentes desse corpo
para estarmos completamente presentes com o Senhor.
No verso três, Paulo diz que, quando formos para o céu um dia,
estaremos vestidos e não seremos encontrados nus. Ele não está
falando acerca de nosso corpo ou de nossa carne como sendo
nosso verdadeiro eu, mas nosso ser espiritual. No verso quatro, ele
nos fala que nós, que estamos nesse tabernáculo, murmuramos e
estamos angustiados porque queremos ser revestidos. Nosso ser
espiritual anseia por se mudar para nosso tabernáculo eterno, ou
seja, nosso corpo glorificado.
No verso seis, Paulo mais uma vez deixa claro quem nós somos
de fato quando diz que, enquanto ainda estamos presentes nesse
corpo, estamos longe do Senhor. É importante notar aqui que ele
nunca usa o termo “nosso espírito”, mas simplesmente se refere a
ele falando “nós” e “nos”. Isso mostra claramente o cumprimento do
que Jesus disse, a saber “aquele que é nascido do Espírito é
espírito”.
Então, no verso 10, o apóstolo nos fala que temos que andar pela
fé e não por vista. Pessoas que vivem no natural nunca viverão em
vitória. O contexto de andar por fé e não por vista não é
generalizado, mas, sim, inserido em algo bem específico.
Precisamos crer que o nosso verdadeiro “eu” é nosso ser espiritual,
que tem tudo aquilo que Jesus tem. É o nosso novo DNA.

A IMPORTÂNCIA DE CONSIDERAR CORRETAMENTE


Ao nos voltarmos para a passagem com a qual começamos (2
Coríntios 5.16), precisamos aprender a aplicar essa verdade em
nossa vida.
Assim, de agora em diante, a ninguém mais
consideramos do ponto de vista meramente humano.
Ainda que outrora tivéssemos considerado a Cristo
assim, agora, contudo, já não o conhecemos mais desse
modo.
Depois de nos dizer quem somos de verdade, um ser espiritual
com o DNA celestial, Paulo agora nos fala sobre o que devemos
fazer. Ele nos alerta a não mais considerarmos ninguém de acordo
com a carne, nem a nós mesmos, nem aos outros, nem mesmo a
Cristo, o que é muito difícil para a maioria dos cristãos. Se eu lhe
dissesse que sou amigo do presidente e que levaria você para um
jantar na casa dele, como você reagiria? Todos ficariam animados
por poder jantar com alguém tão importante, o que mostra que
consideramos as pessoas de acordo com a carne. Se nós
entendêssemos que todo cristão nascido de novo carrega o mesmo
DNA que Jesus, não faríamos tais distinções. Paulo nos fala para
não considerarmos uma pessoa mais importante do que outra.
Considerar significa reconhecer ou decidir acreditar. Precisamos
reconhecer que nós mesmos somos uma nova criação com um DNA
celestial.

CORPO, ALMA E ESPÍRITO


Deus, em sua graciosidade, nos deu o livre arbítrio e o poder de
escolha. Quando cremos em nosso coração que o nosso verdadeiro
“eu” é nosso ser espiritual, poderemos, então, escolher quem estará
no comando de nossa vida. Se escolhermos viver pelo nosso
verdadeiro eu, nem nosso corpo tampouco nossa alma estará no
comando; eles apenas obedecerão às ordens e escolhas de nosso
verdadeiro “eu”. Assim, o ser espiritual se expressará através do
nosso corpo. Mas, se considerarmos a nós mesmos de acordo com
nossa carne, como se nosso verdadeiro eu fosse ou nossa alma,
que é nossa mente, vontade e emoções, ou nosso corpo, então
essas coisas nos controlarão. Muitos cristãos não vivem de acordo
com quem eles de fato são, mas conforme a percepção de quem
eles acham que são. A verdadeira chave para a vitória sobre o
pecado não é a mudança de comportamento, mas, sim, a atitude de
parar de considerar a nós mesmos segundo nossa carne e nos
considerarmos como sendo uma nova criação.
Seu verdadeiro “eu” é cheio do amor ágape, tem a fé de Deus,
autodisciplina e um desejo de agradar a Deus dentro de si. Quando
passar a considerar esse fato, você poderá aprender a expressar
tudo isso através da sua alma e do seu corpo. Algumas vezes, as
pessoas me falam que não querem ser hipócritas, mas autênticas e
honestas, na intenção de dizer que, se não se sentem de
determinada forma, elas querem ser sinceras e não simplesmente
fazer o que deveriam fazer. Quando vão a um culto e estão meio
depressivas ou acabaram de ter uma briga com o cônjuge ou filhos
e, portanto, sentem-se péssimas durante a reunião, acham que não
é autêntico se alegrar no Senhor e louvá-lo. Entretanto, isso é uma
verdade de acordo com a Bíblia. O seu verdadeiro “eu”, a nova
criação, seu ser espiritual, está se regozijando no meio desses
problemas. Se você responder àquilo que seu verdadeiro “eu”
deseja, que é louvar ao Senhor e se alegrar na Sua obra
consumada, seu corpo e sua alma corresponderão. Se você
escolher ignorar seu verdadeiro eu e simplesmente obedecer à sua
alma, a Bíblia não chama isso de viver autêntico, mas, sim, de andar
na carne.
20
NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE –
CONTINUAÇÃO

É vital que entendamos quem realmente somos. Nós sempre


agiremos de acordo com a identidade percebida. É comum haver
uma grande distância entre a identidade real de uma pessoa e a que
ela percebe ter. Nossa verdadeira identidade é quem Deus diz que
somos. Nossa identidade percebida pode estar baseada em nosso
passado, ou no que nossos pais, talvez nossos professores ou até
mesmo líderes de igreja disseram que éramos.
As crenças de nosso coração sempre estabelecerão limites em
nossa vida. Todas as pessoas foram criadas por Deus e por isso
carregam um grande potencial em si, mas o pecado destruiu isso
num nível altíssimo. Quando nos tornamos cristãos, Deus não
apenas restaurou nossa vida, mas nos fez nova criação. E, como já
vimos, essa nova criação agora carrega o potencial divino. Então,
por que será que tantos cristãos vivem com tantas barreiras que
constantemente os limitam? Porque essas barreiras foram
colocadas por meio de um sistema de crenças estabelecidas em
nosso coração. O que nosso coração percebe a respeito de nosso
valor próprio nos limitará ou nos libertará. Em nosso coração, tudo
está conectado. Ao entender isso, nós nos damos conta de que se
tivermos uma identidade errada, ela gerará uma autoimagem
errada, que, por sua vez, levará a um valor próprio errado e à falta
de autoconfiança. Portanto, podemos dizer que, nesse aspecto,
nosso único problema é a falta de identidade.
Deus nunca criou extrovertidos nem introvertidos. Essas
identidades são parte de nossa natureza caída que carregamos
para dentro de nossa nova vida em Cristo. Uma vez que fomos
criados à imagem de Deus e Ele não é extrovertido nem introvertido,
nós também não devemos nos esconder atrás dessas identidades
erradas. Deveríamos andar como filhos e filhas de Deus nesta terra,
demonstrando Sua natureza. Dependendo do nosso histórico
religioso, nós interpretamos nossas lutas através dessa falta de
identidade. Quando as coisas não seguem o rumo que
esperávamos, algumas pessoas acreditam que se jejuarmos mais,
orarmos mais, ofertarmos mais ou nos esforçarmos mais,
conseguiremos resolver nosso problema. Quanto dinheiro, tempo e
energia são gastos na tentativa de resolver essa falta de identidade!
Geralmente, fazemos isso inconscientemente e não por meio de
uma escolha deliberada. Se nosso problema interno for a falta de
identidade, não importa quanto de dinheiro, tempo ou energia
gastemos, o problema não será solucionado.

NOSSA HIERARQUIA INTERNA


Dentro de nosso coração há uma hierarquia formada por
identidade, autoimagem, valor próprio e autoconfiança. Pessoas
com uma autoimagem errada também sofrerão com relação ao valor
próprio e à autoconfiança. Esse problema só pode ser resolvido à
luz do que a Bíblia nos ensina, que é mudar a crença de nosso
coração e passarmos a nos ver como Deus nos vê. Precisamos
aprender a aplicar a obra consumada da cruz pela fé apenas
também nessa área. A religião tenta resolver esse problema
externamente, enquanto a cruz resolve internamente. Pessoas
religiosas tentam resolver o problema culpando outras pessoas ou
as circunstâncias, e isso se torna um ciclo vicioso. A verdade é que,
muitas vezes, não temos controle sobre nossas circunstâncias nem
sobre o que as pessoas fazem conosco. Quando pessoas ou
circunstâncias estão contra nós, é fácil entrar numa mentalidade de
vítima até ao ponto de culparmos a Deus.
A lei da semeadura e colheita sempre funcionará, mas,
infelizmente, muitos cristãos aplicam essa lei apenas nas finanças.
Na carta aos gálatas, Paulo nos ensina que essa lei não é apenas
aplicável nas finanças, mas em todas as áreas de nossa vida. Nós
sempre colheremos de acordo com a semente que plantamos,
mesmo que seja em nossos pensamentos, crenças ou atitudes. Se
você acreditar que é um fracasso, então de modo algum colherá
sucesso. Se você constantemente plantar pensamentos de derrota,
não conseguirá andar em vitória. Pessoas que não compreendem
como seu coração e a hierarquia interna funcionam, culpam a Deus
ou aos outros por aquilo que elas têm colhido. Em Eclesiastes 9:11,
lemos o seguinte: “Percebi ainda outra coisa debaixo do sol: Os
velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre
triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os
prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm
prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos”. Aqui, vemos
claramente que as oportunidades vêm para todos: todos os cristãos
têm o mesmo potencial para a grandeza e o sucesso. Não é Deus
quem restringe alguns e dá mais liberdade a outros. As crenças
erradas do coração é que estabelecem as limitações neles.

ONDE ESTÁ NOSSA IDENTIDADE?


O lugar em que nossa identidade se encontra será um grandioso
fator de nosso sucesso na vida. Para mim, é sempre muito chocante
ver como alguns cristãos vinculam identidade a pessoas nas quais
se espelham. Paulo nos falou claramente que não devemos fazer
isso, ao dizer para não considerarmos ninguém de acordo com a
carne. Muitos cristãos vinculam identidade a pessoas de acordo
com os dons, posição social, conquistas, diplomas, ministério ou
intelectualidade de alguém. Isso não é apenas terrivelmente errado,
mas também altamente perigoso, pois limitará sua própria vida e a
vida daqueles a quem eles vinculam sua falsa identidade.
Deixe-me explicar como isso acontece. Se alguém segue um
pregador talentoso, vinculando sua própria identidade a ele baseado
nesses dons, considerando-o um grande homem de Deus, e, por
algum acaso, esse pregador cai em algum tipo de pecado, o mundo
de ambos entra em colapso. Eu já vi muitos cristãos se afastarem
da igreja amargurados e decepcionados quando coisas assim
acontecem, sem se darem conta de que eles mesmos são os
verdadeiros culpados pela própria decepção. Se eles tivessem dado
à pessoa que caiu em pecado a mesma identidade que Deus dá a
ela, então a teriam visto como sendo nova criação em Cristo Jesus
ao invés de a verem como uma pessoa talentosa. As pessoas têm
vinculado a identidade dos outros ao que estes fazem, não a quem
são. Nós somos igualmente filhos de Deus e não há ninguém
inferior nem superior. Essa é nossa verdadeira identidade.

PASSADO E ORIGEM
Cada um de nós possui um passado e uma origem. Se nós
vivermos de acordo com nosso passado, teremos sempre uma
carência de identidade. Entretanto, uma vez que aprendermos a
viver de acordo com nossa origem, encontraremos nossa verdadeira
identidade. Nosso passado começou no momento de nossa
concepção, quando células masculinas se juntaram a células
femininas. Pessoas diferentes passam por experiências diferentes
na infância. Alguns tiveram uma infância maravilhosa, enquanto a
de outros foi péssima. Essas coisas estão conectadas ao nosso
passado, mas não à nossa origem. Nossa origem começou no
coração de Deus. Se você foi rejeitado por seus pais naturais, talvez
tenha sido concebido no pecado, ou teve um passado horrível,
então teve que conviver com uma terrível desvantagem, e a única
forma de quebrar esse ciclo é se afastando do seu passado e
abraçando sua origem.
Muito antes de nosso passado começar, nossa origem já havia
iniciado. Paulo nos fala o seguinte em Efésios 1.3-6:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas
regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu
nele antes da criação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos
predestinou para sermos adotados como filhos por meio
de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua
vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos
deu gratuitamente no Amado.
Eu lhe darei algumas chaves simples para ajudá-lo a estabelecer
sua identidade em sua origem e se afastar de seu passado.
Primeiramente, entenda e creia que você estava no coração de
Deus ainda antes da fundação do mundo. Isso significa que Deus já
havia escolhido você antes de seus pais existirem. Ele o conheceu,
amou e o escolheu a dedo.
Em segundo lugar, você não precisa mais ser definido por seu
passado. Ao invés disso, você pode escolher ser definido por sua
origem que está Deus.
A terceira chave é saber que o pecado destruiu sua origem e o
deixou apenas com seu passado, onde você encontraria sua
identidade. Isso foi o que aconteceu com todas as pessoas neste
mundo, porque todos nós pecamos um dia.
O quarto ponto: a cruz, plano genial de Deus, e a Nova Aliança já
lidaram com nosso passado e, de maneira sobrenatural, nos
conectaram com nossa origem. Se alguém está em Cristo, não
apenas é nova criatura, como também as coisas velhas (passado)
passaram e o novo (origem) foi criado.
Em quinto lugar, é somente pela apropriação pela fé que
experimentaremos da nossa verdadeira identidade. Nós nos
apropriamos de algo pela fé parando de pedir a Deus algo que ele já
fez; apenas agradecemos a ele, cremos e começamos a agir em
conformidade com isso. Precisamos parar de pedir a Deus que
conserte nosso passado e começar a agradecer a ele por nos ter
dado uma identidade completamente nova.
A sexta chave é entender que nosso coração geralmente está
cheio de memórias dolorosas do nosso passado. Mesmo que nosso
ser espiritual tenha sido criado completamente novo, essas
memórias dolorosas do passado por vezes nos assombram.
Consequentemente, nosso coração passa a acreditar numa falsa
identidade. Contudo, Deus nos deu a habilidade de reprogramar
nosso coração pela meditação e declaração da verdade de Sua
Palavra. Ao passarmos tempo meditando em quem nós somos de
fato em Cristo e declarando isso, as memórias dolorosas do nosso
coração, às quais vinculamos nossa identidade, serão apagadas e,
assim, fixaremos a nossa nova identidade em nosso coração.
Em sétimo e último lugar, precisamos compreender que se não
encontrarmos nossa verdadeira identidade em nossa origem, a
identidade de que somos amados e escolhidos por Deus, seremos
conduzidos a procurá-la em outro lugar, como por exemplo, no
dinheiro, família, sucesso ou até mesmo no ministério.

INTIMIDADE COM O ABBA


É impossível para aqueles que não possuem a identidade correta
viverem num relacionamento verdadeiro de intimidade com Deus.
Por isso, quero que olhemos para dois poderosos versículos das
cartas de Paulo:
Pois vocês não receberam um espírito que os escravize
para novamente temer, mas receberam o Espírito que os
adota como filhos, por meio do qual clamamos: ‘Aba,
Pai’” (Romanos 8.15);
“E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de
seu Filho aos seus corações, o qual clama: ‘Aba, Pai’”
(Gálatas 4.6).
Os manuscritos do Novo Testamento estão em grego, mas a
palavra Abba é do vocabulário aramaico. É uma expressão muito
forte, proibida de ser usada por escravos, e expressa intimidade
com o Pai. Paulo nos diz que o Espírito de Deus dentro de nosso
coração clama “Abba, Pai”, o que significa que, no mais profundo do
nosso ser, há um clamor por intimidade com Deus na figura de
nosso Pai. Contudo, jamais conseguiremos experimentar dessa
intimidade a não ser que aprendamos a aplicar alguns passos
práticos. Para isso, devemos abandonar toda e qualquer desculpa.
Muitas pessoas já me falaram que, por causa da terrível criação que
tiveram, elas nunca conseguem experimentar de Deus como nosso
Papai. Por isso é importante decidir perdoar livre e radicalmente
nosso pai terreno por qualquer coisa que ele tenha feito contra nós.
Isso, é claro, se aplica a qualquer figura de autoridade masculina
também. Precisamos lançar fora toda dor e ofensa que carregamos
em nosso coração. Precisamos rejeitar o espírito ou mentalidade de
órfão. Podemos simplesmente escolher e declarar: “Mesmo que eu
tenha sido rejeitado quando criança por meu pai natural, eu escolho
agora lançar fora essa rejeição em nome de Jesus. Isso não faz
mais parte da minha identidade”. Também precisamos aprender a
receber pela fé o amor e a aceitação de Deus, como nosso amado
Papai. Quando aprendermos a aplicar essas verdades simples,
rapidamente cresceremos em intimidade com o Senhor.
21
O PODER DA RENDIÇÃO
VITÓRIA PELA FÉ OU POR OBRAS?

Parece que o mundo cristão, muitas vezes, tem dois extremos


opostos nos quais as pessoas acreditam. Com relação à vitória
sobre o pecado não é diferente. Muitos cristãos tentam vencer o
pecado por meio de seu próprio esforço e nunca alcançam a vitória.
Com frequência, isso conduz a uma vida de constante batalha
repleta de derrota, desespero, culpa e condenação. Há também o
outro extremo, onde as pessoas falam muito sobre graça, mas que
ainda não a compreenderam de verdade. Esse extremo é,
geralmente, a resposta imediata contra a Lei e o legalismo. Essas
pessoas também não alcançam vitória sobre o pecado, entretanto,
rejeitam qualquer sentimento de culpa, vergonha e condenação que
qualquer pessoa normal sentiria ao pecar.
Nossa consciência é um guia dado por Deus que deveria nos
ajudar a permanecer no caminho certo. Veja o que Paulo nos ensina
em Romanos 6:1-14:
Que diremos então? Continuaremos pecando para que a
graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que
morremos para o pecado, como podemos continuar
vivendo nele? Ou vocês não sabem que todos nós, que
fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em
sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte
por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi
ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai,
também nós vivamos uma vida nova. Se dessa forma
fomos unidos a ele na semelhança da sua morte,
certamente o seremos também na semelhança da sua
ressurreição. Pois sabemos que o nosso velho homem
foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não mais sejamos escravos do pecado; pois
quem morreu, foi justificado do pecado. Ora, se
morremos com Cristo, cremos que também com ele
viveremos. Pois sabemos que, tendo sido ressuscitado
dos mortos, Cristo não pode morrer outra vez: a morte
não tem mais domínio sobre ele. Porque morrendo, ele
morreu para o pecado uma vez por todas; mas vivendo,
vive para Deus. Da mesma forma, considerem-se mortos
para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus.
Portanto, não permitam que o pecado continue
dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês
obedeçam aos seus desejos. Não ofereçam os membros
dos seus corpos ao pecado, como instrumentos de
injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou
da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus
corpos a ele, como instrumentos de justiça. Pois o
pecado não os dominará, porque vocês não estão
debaixo da lei, mas debaixo da graça.
Muitas vezes, o verso 14 tem sido citado fora de seu contexto e,
quando se faz isso, rouba-se do povo de Deus a vitória sobre o
pecado. A Bíblia precisa sempre ser compreendida e interpretada
em seu contexto. Nesse versículo, vemos que o pecado não terá
domínio sobre nós, porque não estamos debaixo da Lei, mas da
graça. Já encontrei inúmeras pessoas que citavam esse versículo e
até pregavam sobre ele, mas que, ainda assim, não conseguiam
colocá-lo em prática na própria vida. Isso significa que esse
versículo não é verdadeiro? Dentro de seu contexto, ele é; fora do
contexto, não é. Não é suficiente apenas crer e declarar que o
pecado não terá mais poder sobre nós por estarmos debaixo da
graça e não da lei.
É exatamente esse problema ao qual Paulo se refere na epístola
aos Romanos. O contexto do verso 14 pode ser encontrado no
verso 13, onde Paulo nos fala que não podemos apresentar nossos
membros como instrumentos de injustiça para pecar, mas que
devemos nos apresentar a Deus como quem saiu da morte para a
vida e, nossos membros, como instrumentos de justiça a Deus.
Então, ele continua mostrando, no verso 14, que, porque Cristo
destruiu nossa natureza pecaminosa na cruz, precisamos agora
escolher render os membros de nosso corpo à graça de Deus, que
nos permite viver de modo vitorioso.
Quando compartilho essa verdade com as pessoas, muitas
vezes, elas me respondem que isso é misturar obras com a graça.
Mas precisamos compreender que a Bíblia diferencia boas obras de
obras mortas. As obras mortas são: tentar vencer o pecado
mediante o esforço próprio, obedecendo à Lei. Entretanto, boas
obras são: por causa da obra consumada da cruz, podemos render
nosso corpo a Deus.
Paulo nos dá instruções claras nessa passagem sobre certas
coisas que precisamos fazer porque estamos debaixo da graça. A
primeira coisa que ele nos diz é que precisamos considerar a nós
mesmos como mortos para o pecado. Na linguagem original da
Bíblia, isso é escrito no tempo verbal presente e imperativo. Ou seja,
precisamos constantemente tomar a decisão de olhar para a cruz e
crer que fomos crucificados com Cristo. Então, Paulo continua nos
dizendo que precisamos nos considerar vivos para Deus em Cristo
Jesus. Considerar significa aceitar e crer nisso como um fato.
Após isso, ele nos dá passos muito práticos para seguirmos ao
dizer, “não permitam que o pecado continue dominando os seus
corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos”. O
significado original de dominar é exercer autoridade. Aqui nos é
falado que não podemos permitir que nosso corpo exerça
autoridade sobre nossas vontades. Nós temos autoridade e
capacidade dadas por Deus para escolher quem estará no controle
de nossa vida.

RENDIÇÃO É UMA ESCOLHA


Em Romanos 6.13, Paulo continua com instruções práticas e
claras. Ele nos fala duas coisas: primeiro, que não devemos ceder;
depois, que devemos ceder. Ceder significa se render ou conceder
autoridade. Esse trecho nos fala que não devemos ceder os
membros do nosso corpo ao pecado. Mas essa é apenas uma parte
da verdade. A segunda parte, tão importante quanto a primeira, é
que devemos ceder os membros do nosso corpo como instrumento
de justiça a nosso Deus.
É bom ter a prática de, todas as manhãs, fazer essa escolha
consciente e verbal de rendição. É sábio render diariamente nossos
olhos, nossos ouvidos, nossas mãos, nossos pés, nossa mente e
nosso coração ao Senhor. Deixe-me alertá-lo para o seguinte: o ato
de se render a Deus sem fé na obra consumada da cruz não passa
de obras mortas. Por outro lado, crer na obra consumada da cruz
sem render nosso corpo a Deus, nos conduzirá a uma vida de
pecado, encontrando desculpas por tais comportamentos.
Precisamos aceitar ambas as verdades.

DEIXE QUE A GRAÇA O ENSINE


Há um ensino poderoso acerca da graça que eu nunca ouvi
pregador da graça algum falar a respeito, mesmo estando
claramente escrito na Bíblia. Paulo fala a seu filho Tito, em Tito 2:11-
13:
Porquanto, a graça de Deus se manifestou salvadora
para todas as pessoas. Ela nos orienta a renunciar à
impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira
sensata, justa e piedosa nesta presente era, enquanto
aguardamos a bendita esperança: o glorioso retorno de
nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele, que se
entregou a si mesmo por nós para nos remir de toda
maldade e purificar para si um povo todo seu,
consagrado às boas obras.
Dizer que a graça não é nada além de favor imerecido de Deus é
reduzi-la a apenas um de seus aspectos. Apesar de ser favor
imerecido, a graça é muito mais do que apenas isso. A graça quer
nos ensinar constantemente a viver uma vida240 livre do pecado.
Porém, é preciso entender que podemos ter o melhor professor do
mundo, mas isso não faz de nós os melhores alunos. Só
aprenderemos à medida que permitirmos que o professor nos
ensine e passarmos a colocar os ensinamentos em prática.
Na passagem acima, Paulo se refere a algumas coisas muito
específicas que a graça deseja nos ensinar. Em primeiro lugar, ela
nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas. De
maneira prática, ele está nos falando que devemos permitir que a
graça nos ensine a falar “não” para os desejos mundanos. Ele
também nos fala que a graça está tentando nos ensinar a viver
sobriamente, ou seja, viver com autocontrole. Paulo, então, continua
a nos falar que se de fato entendemos e recebemos a graça, ela nos
ensinará a viver de uma maneira justa e piedosa. Pessoas que não
vivem de um modo que agrade a Deus nunca entenderam
verdadeiramente o real significado e o poder da graça.
Por fim, Paulo nos fala que a graça quer nos ensinar a ansiarmos
pelo retorno de Jesus. A graça está liberando um clamor em nosso
coração, que diz, “Maranata, ora vem, Senhor Jesus!”. Esse clamor
anda lado a lado com uma vida de vitória sobre o pecado. Enquanto
nosso coração clamar pelo retorno de nosso Salvador e Noivo, nós
desejaremos nos apropriar da vitória sobre o pecado em nossa vida.
Desejo e oro para que este livro o leve numa jornada que o
conduza a viver vitoriosamente sobre o pecado. Nunca perca de
vista a obra consumada da cruz nem nossa responsabilidade de
responder a ela.
NOTA DE TRADUÇÃO
A tradução deste livro foi um grande desafio. Ela caminhou pelos
trilhos da intraduzibilidade pela não correspondência fiel e integral
entre línguas.
Diria que essa tradução precisou se equilibrar num tripé
interessante. Em uma de suas pontas estava o original em inglês
que, por si só, teve suas particularidades e desafios. Em outra
ponta, estava a língua grega, que foi referida em momentos
decisivos do texto. Ainda, numa terceira ponta, a língua portuguesa
que foi o receptáculo final de tantas significações.
Todavia, ao longo desta construção, contamos com o auxílio do
autor. Em inúmeros momentos tivemos a presença dele para
aprovação de longos parágrafos intradiscursivos para diluir os
possíveis atropelos da tradução.
Com base na literalidade e fidelidade ao texto original, essa
tradução não deixou de considerar o leitor. Por causa de tantos
meandros, longas notas de rodapé foram inseridas. Elas são
fundamentais para a compreensão do texto e para retirar possíveis
dúvidas de seu entendimento.
Os parágrafos no original em inglês estão longos e obedecem a
uma pontuação peculiar do autor. Foi preciso alterar o estilo original,
reduzindo o tamanho dos parágrafos, porém aumentando sua
quantidade ao longo do texto.
Contudo, o conteúdo não foi alterado em absolutamente nada.
Procuramos deixar o mais fiel possível, com o fim de mantermos a
essência da mensagem poderosa escrita nesse livro. Sem dúvida,
esse material veio para somar e ampliar a visão de todos aqueles
que um dia fomos salvos pelo Senhor Jesus Cristo, para todos
andarmos vitoriosos na vitória da obra consumada da cruz.
DANIEL ALDO SOARES

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