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A visão de Deus

diante de um
casamento infeliz
David Kornfield

O número de casamentos infelizes está crescendo. O número de


divórcios reflete isso. Nos Estados Unidos, pesquisadores, como
Barna, indicam que a porcentagem de divórcios entre os que se
chamam evangélicos é igual a da população de forma geral. Uma
pesquisa Gallup indicou que 10% dos protestantes e 10% dos
católicos são divorciados e que 26% dos protestantes e 23% dos
católicos já foram divorciados em algum momento. Mais de um
milhão de crianças, nos Estados Unidos, sofrem o divórcio de seus
pais a cada ano e mais de 50% das que nascerão este ano
experimentarão o divórcio de seus pais antes de completarem 18
anos. (Veja o Relatório Executivo ao final deste artigo.)

Será que o Brasil seguirá esse rumo? Será que as igrejas evangélicas
andarão nesse caminho? Afirmamos categoricamente que Deus ama
os divorciados, que a igreja é um lugar seguro para eles, um lugar
agradável que lhes oferece esperança e um contexto apropriado para
restaurarem suas vidas. Ao mesmo tempo, se a igreja refletir a
sociedade de forma geral, quanto ao número de seus membros que
procuram o divórcio, temos que admitir que o evangelho perdeu seu
poder. A igreja precisa ser um lugar seguro, não apenas para os
divorciados, mas também para os que acreditam no casamento e
estão dispostos a lutar por um casamento saudável.

Por que o casamento é tão importante para Deus? Por que Ele
insiste que: “ o que Deus uniu, ninguém separe” (Mt 19.6)? Os
propósitos de Deus para o casamento incluem:

• Revelar a imagem e semelhança d’Ele e os Seus propósitos em nos


criar, abrindo um espaço para experimentarmos a comunhão que Ele
tem na Trindade (Gn 1.26, 27).

• Resolver a solidão que aflige o homem desde antes da queda (Gn


2.18).

• Dar a cada pessoa a oportunidade de formar uma nova família,


principalmente para aquele cuja família de origem era disfuncional
(Gn 2.24; Mt 19.5, 6; Ef 5.31).
• Celebrar, no ato sexual, uma intimidade não apenas física, mas
emocional e espiritual. Deus faz questão que esse ato expresse
verdadeiro amor, pureza e aliança (pacto), reservando-o, por essa
razão, para o casamento (Gn 2.24).

• Dar-nos alguém com quem podemos ser transparentes, autênticos,


sem experimentar vergonha (Gn 2.25). O desejo d’Ele é que
possamos amar e ser amados sem medo, porque o verdadeiro amor
expulsa o medo (1 Jo 4.18).

• Revelar a grandeza do amor de Cristo por nós como sua Noiva, a


Igreja (Ef 5.22-32). A história, de Gênesis a Apocalipse, enfatiza o
amor de Jesus por sua Noiva e nós recebemos o privilégio de ser um
espelho desse amor. Sua aliança, Sua fidelidade e Seus propósitos
eternos revelam-se no casamento.

Dessa forma, não devemos ficar surpresos ao saber que Satanás


empenha todos os seus esforços para acabar com casamentos
saudáveis, prejudicando a muitos, tornando essa união numa relação
intensamente infeliz para muitas pessoas. Se Deus, por Sua vez, não
fizesse um compromisso de aliança conosco no casamento, não
teríamos chances de nos aproximar dos Seus propósitos eternos. Um
casamento saudável é realmente glorioso! E um infeliz, pode tornar-
se num inferno, destruindo não apenas o casal, mas a família, e
espalhando essa herança negativa às gerações seguintes.

Débora e eu trabalhamos com restauração de vidas. Deus nos


permitiu fundar o ministério REVER (Restaurando Vidas, Equipando
Restauradores). Aprendemos que as dores das pessoas são reais e
devem ser levadas à sério para que sejam restauradas. Empatia,
chorar com os que choram e ajudá-los a desabafar, a liberar a dor e a
experimentar Jesus levando essa dor sobre si são partes
fundamentais na restauração de pessoas feridas. Ao mesmo tempo,
precisamos entender bem os propósitos de Deus no sofrimento e não
nos enganarmos em pensar que a felicidade das pessoas é o supremo
alvo da vida ou de nosso ministério.
Tenho conversado com muitas pessoas crentes que experimentam
diversos graus de abuso emocional em seus casamentos. Dizem não
agüentar mais. Querem, de qualquer forma, algum escape, alguma
saída. Isso é preocupante, pois cada um que se divorcia acaba
influenciando outros e, se continuar assim, haverá uma epidemia de
divórcio na igreja. Mas algo é ainda mais inquietante: perdemos a
visão de Deus para o casamento e não acreditamos quando Ele
comunica claramente Seu coração quanto a como agir em
casamentos infelizes. A Bíblia traduz o coração d’Ele nesse sentido em
quatro passagens, com os seguintes temas:

• Mal 2.10, 13-17 – Deus odeia o divórcio e a violência. • Mt 19.3-12


– Não devemos nos divorciar a não ser no caso de adultério. • 1 Co
7.1-17 – Bases bíblicas para o divórcio e novo casamento da parte
dos crentes. • 1 Pe 3.1-9 – Como tratar um cônjuge descrente.
Quando peço que pessoas infelizes leiam esses textos para ouvir a
Deus sobre sua situação, muitas simplesmente desprezam a
perspectiva bíblica e continuam focalizando a sua dor, seu sofrimento,
sua infelicidade.

O mundo, a carne e o diabo juntam-se para nos convencer de que


nossa felicidade é o que deve nortear nossas vidas. Esta crença, e os
espíritos atrás dela, enganam o mundo e querem enganar os santos.
A teoria do humanismo exalta o ser humano como um deus, ele é o
mais importante. O espírito do individualismo exalta o indivíduo e sua
realização pessoal. O hedonismo exalta o prazer e o “direito” de
orientar a vida pela busca a qualquer preço da felicidade.

Muitas pessoas que sofrem em seus casamentos estão desnorteadas;


focalizam mais sua dor que Cristo; preocupam-se mais com seu
sofrimento do que em serem fiéis a Ele. Em parte é compreensível,
porque quem sofre muito tende a perder a perspectiva sã e
equilibrada. O problema aprofunda-se quando os pastores destas
pessoas se perdem na dor delas também, apoiando-as na procura de
sua felicidade através do divórcio. Essa procura da felicidade perde
totalmente de vista as palavras de Jesus, quando disse: “Quem não
toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a
sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a
encontrará” (Mt 10.38, 39).
Precisamos lembrar que o sofrimento é parte natural do chamado
cristão. Somos bem-aventurados quando insultados, perseguidos e
caluniados por causa de Jesus (Mt 5.11). Paulo considerou tudo como
lixo, como perda, como esterco para poder realmente conhecer a
Cristo. Ele resume sua visão, dizendo: “Quero conhecer Cristo, o
poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos,
tornando-me como ele em sua morte” (Fp 3.10). Deus e a Bíblia
lidam seriamente com o assunto do sofrimento. Um livro inteiro da
Bíblia é dedicado ao sofrimento injusto (Jó), os Salmos expressam
com muita honestidade a dor e sofrimento do salmista; 1 Pedro foi
escrito especificamente para crentes que sofrem nas mais diversas
situações (na sociedade, no emprego e no casamento). Pedro ressalta
que Jesus é nosso exemplo de como enfrentar o sofrimento e que
devemos andar em Seus passos (1 Pe 2.21).

Todos sofremos, crentes e não-crentes, doenças, problemas


financeiros, morte de alguém querido, assalto, casamento difícil...
Como o cristão responde a esse sofrimento pode ou não refletir a
glória de Deus e o exemplo de nosso Senhor e Salvador. Caráter
forma-se na fornalha. Paulo considera que “os nossos sofrimentos
atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será
revelada” (Rm 8.18). Conheço poucas pessoas que têm sofrido
fisicamente tanto quanto minha filha, Karis, que, com uma doença
crônica, passou grande parte de sua vida com dor, internada em
hospitais e diversas vezes desenganada pelos médicos. Mas a glória
de Deus que vejo nela me emociona. Quem sofre no casamento tem
um convite para esse caminho de glória. Há também a opção de fugir
desse caminho estreito, trocando a glória de Deus por sua própria
felicidade.

Lembremos: felicidade e alegria não são sinônimos. Felicidade é


circunstancial, afetada por muitas coisas, como desemprego, dor,
conflitos e adversidade. Alegria é um fruto contínuo do Espírito (Gl
5.22, 23) e uma expressão fundamental do reino de Deus (Rm 14.7).
Saber a diferença e viver nessa alegria não é algo automático; é um
aprendizado. Paulo aprendeu a adaptar-se e contentar-se em “toda e
qualquer circunstância” através da graça de Deus que o fortalecia (Fp
4.11-13). Deus quer que tenhamos uma alegria que não dependa do
nosso cônjuge. Este não tem o poder de dominar nossos sentimentos.
Nós mesmos é que escolhemos e somos responsáveis por nossas
escolhas. Quando deixamos o nosso cônjuge ter um poder indevido
sobre nós, permitimos um tipo de idolatria em nossas vidas que gera
uma série de seqüelas, não só para nós, mas também para nossos
filhos.
Isso significa que Deus não se importa com nosso sofrimento, que Ele
não dá ouvidos ao nosso clamor? De maneira alguma! As Escrituras
nos falam constantemente do amor, da misericórdia e da compaixão
de Deus. É exatamente por causa do Seu imenso amor que Ele não
permite que adotemos práticas que irão nos prejudicar ainda mais. A
pergunta mais pertinente é se nós confiamos o suficiente n’Ele para
acreditar que os Seus mandamentos existem para nosso maior bem-
estar, e que o caminho da obediência é o caminho de bênção para nós
e para nossos filhos. Vejamos, rapidamente, o intuito das passagens
que falam da visão divina sobre como agirmos em casamentos
infelizes. Iniciemos por 1 Coríntios 7, que fala especificamente a
pessoas crentes casadas com descrentes. Aqui, Deus chama o
cônjuge cristão a olhar para o casamento à luz da eternidade. O alvo
não é ser realizado, alegre ou sentir-se bem. O alvo é a salvação do
cônjuge e a santificação dos filhos. Se o cristão procura o divórcio
quando o cônjuge não quer isso, o não-crente terá bastante razão
para sentir-se ferido, magoado e amargurado não apenas com o
cônjuge, mas também com o Deus dele (e com a igreja que apóia o
divórcio, se for o caso).

Quanto aos filhos, alguém pode até achar que eles viverão muito
melhor longe do cônjuge não-crente. Com certeza, se houver
violência no lar, uma separação temporária seria indicada. Mas os
efeitos negativos do divórcio nos filhos são bem documentados.
Também existe um impacto sério no mundo espiritual. Quando Paulo
fala que o cristão deve ficar casado para que os filhos sejam
santificados (1 Co 7.14), eu entendo que quando um cristão honra a
aliança de casamento, obedece a Deus e se comporta com fidelidade
e amor num contexto difícil, os filhos ganham uma herança espiritual
abençoada que de outra forma não poderiam adquirir. Se houver a
quebra da aliança, o afastamento dos planos de Deus, a procura de
sua própria felicidade acima de qualquer coisa, também será
transmitida uma herança no mundo espiritual para as crianças,
porém, amaldiçoada.

Meus pais e sogros tiveram casamentos bem difíceis. Sofreram muito.


Mas a herança que eu tenho e a visão que tenho do casamento, de
que ele permanece “até que a morte os separe”, fortalece-me
tremendamente nos momentos que eu também lido com dificuldades.
Passar esse legado para meus filhos é muito maior do que qualquer
dinheiro ou posses que poderíamos deixar. Não apenas meus filhos,
mas a igreja inteira e o mundo, com todo seu desespero, ganham
confiança e esperança de que um casamento saudável é possível.
Essa herança alcançará pessoas e gerações muito além da minha
família.

1 Coríntios 7 mostra-nos que existe um padrão de comportamento


mais elevado para o crente do que para o não-crente. O não-crente
não conhece Jesus, não tem o poder do Espírito Santo, não sente
obrigação alguma de evitar o que Deus odeia e não sente nenhuma
necessidade de obedecer à Palavra de Deus. Ele pode divorciar-se.
Paulo diz, porém, que o crente não pode (falaremos de uma exceção
que vejo quanto a isso). O crente não pensa primeiro em si mesmo.
O propósito de Deus ao criar o homem não é a sua auto-realização e
sim que ele O glorifique e desfrute do Pai pela eternidade. O cristão
pensa primeiro na glória de Deus e, em segundo lugar, conforme esta
passagem, nas conseqüências eternas para seu cônjuge e filhos.

Por incrível que pareça, nas passagens indicadas neste artigo, Jesus,
Paulo e Pedro não mencionam sobre a felicidade da pessoa num
casamento difícil. Também não mencionam o amor ou a falta do
mesmo. Ao falar de razões justificáveis para o divórcio, estes textos
tratam de comportamentos objetivos e visíveis: o adultério (Mt 19) e
o abandono (1 Co 7). Ainda que, em outro contexto, Jesus fale do
adultério que acontece no coração (Mt 5.27-30), em Mateus 19 e 1
Coríntios 7, Jesus e Paulo não estão falando de adultério ou de
abandono emocional. Falam de comportamentos objetivos e visíveis
que um tribunal de justiça reconheceria.

Jesus, Paulo e Pedro não fazem alusão de como uma pessoa não-
crente trata seu cônjuge. Não se referem ao abuso físico ou
emocional. O profeta Malaquias sim, indica que Deus odeia o divórcio
e a violência (2.16). Uma pessoa casada com um cônjuge violento
deve tomar as medidas necessárias para se proteger, colocando
limites saudáveis e afastando-se dele quando agir de forma violenta.
Tanto o livro Limites, de Cloud e Townsend (Editora Vida), como O
Amor Tem Que Ser Firme, de James Dobson (Mundo Cristão), dão
boas dicas nesse sentido.

Se alguém não consegue se proteger da violência de seu cônjuge,


crente ou não-crente, talvez precise separar-se. Infelizmente,
pessoas crentes também podem ser abusivas. Quase sem exceção,
abusadores foram vítimas de abuso no passado, provavelmente na
infância. A igreja e o cônjuge abusado precisam reconhecer isso e
procurar uma forma de tratamento para seus problemas. Ao mesmo
tempo, se o abusador for resistente a tratar-se, a prioridade é dar
apoio para que o cônjuge e os filhos não continuem a sofrer atos de
violência. A igreja nunca pode estipular que se submeter a qualquer
forma de violência seja parte do que significa ser “submisso” dentro
de um casamento. Se o abusador for membro da igreja, é preciso
confrontá-lo e corrigi-lo, seguindo os passos de Mateus 18.15-17 que
pode, na pior das hipóteses, chegar à disciplina máxima da igreja. Ela
deve ser um lugar seguro, onde pessoas abusadas podem falar a
verdade sobre suas vidas e seus relacionamentos e receber a
proteção e o apoio necessários.

Existem casos onde uma separação temporária ou até prolongada é


indicada. Mas já que Paulo deixa claro que não deve haver separação,
eu entendo que a mesma precisa ser feita sob a perspectiva de
reconciliação. O alvo da separação temporária é a restauração do
casamento. O motivo da separação é a proteção emocional e física da
pessoa abusada, visto que, na separação temporária, haverá maiores
chances de cura e crescimento da parte de ambos os cônjuges, para
que o casamento possa ser restaurado.

Quando um casamento é tão penoso a ponto de um cônjuge agir


como se fosse inimigo (sendo ele crente ou não), precisamos voltar
às palavras de Jesus sobre como tratar nossos inimigos (Mt 5.43-48;
Lc 6.27-36). Seja debaixo do mesmo teto ou separados, Ele nos
ensina pelo menos quatro atitudes em relação a esse cônjuge
“inimigo”:

1. Amá-lo. Este amor não é um sentimento romântico, mas uma


atitude de desejar o melhor para o outro, agindo segundo esse
desejo. Muitas pessoas em casamentos delicados queixam-se de que
perderam seu amor pelo cônjuge. O amor ágape indicado aqui vem
de Deus; não é natural a nós. Esse amor se perde apenas se
perdermos o vínculo com Deus. Se perdermos esse amor, nosso
problema é maior e diferente do que a falta de um sentimento
especial pelo nosso cônjuge.
2. Orar pela pessoa que nos maltrata, intercedendo por seu
arrependimento, para que ela caia em si, encontre a Jesus e O veja
em nós.

3. Fazer o bem para quem nos odeia. Uma expressão desse “bem”
pode ser insistir para que o cônjuge procure aconselhamento ou
passe por algum tratamento de restauração como uma condição de
continuarem juntos, ou de voltarem a morar juntos, se já estiverem
separados.

4. Abençoar quem nos amaldiçoa. Precisamos lembrar que pessoas


abusadas naturalmente abusam também. Pessoas feridas
naturalmente machucam outras. José do Egito, abusado por seus
irmãos, em sua dor, não percebeu que ele também os machucou
profundamente. Precisamos abençoar nosso cônjuge, pois, do
contrário, faremos mal para ele (veja 1 Pe 3.9).

Eu não tenho dúvida de que essas atitudes são impossíveis para


qualquer ser humano que dependa apenas de si mesmo. Precisamos
rogar que o Espírito Santo nos encha para amar como apenas Ele
pode. Ora, se até as dicas que Paulo dá para casamentos bons e
saudáveis, em Efésios (5.21-31), são baseadas na condição de
sermos cheios do Espírito (Ef 5.18), quanto mais num casamento
disfuncional ou abusador!

Paulo fala de submissão da esposa ao marido (Ef 5.22-24). Não é


uma submissão cega. Existem dois níveis de autoridade acima da
autoridade humana em nossas vidas: as Sagradas Escrituras e a
nossa consciência. Se, por exemplo, o marido quer forçar sua mulher
a fazer algo que ela entende ser contrário ao ensino bíblico ou contra
sua consciência, ela deve desobedecê-lo, ao mesmo tempo que
demonstra respeito e até aceita possíveis punições. (Veja o exemplo
de Pedro e João que, respeitosamente, desobedeceram os líderes
religiosos, em Atos 5.27-42, aceitando as conseqüências. Essa atitude
se tornou famosa através da “desobediência civil”, da parte de
grandes líderes, como Gandhi e Martin Luther King.)
Ser maltratado não é algo que necessariamente vai contra nossa
consciência. Pedro dá instruções claras e profundas a escravos
cristãos para se submeterem não apenas aos bons e amáveis chefes,
mas também aos maus. Ele elogia o suportar aflições injustas por
causa do nome de Cristo ou por fazer o bem. Chama-os a andar nos
passos de Jesus que “quando insultado, não revidava; quando sofria,
não fazia ameaças” (1 Pe 2.18-23a). Após descrever todo o contexto
do escravo e de como Jesus agüentou ser maltratado, Pedro inicia
tanto as instruções para a esposa, como para o marido no capítulo
seguinte, com as palavras “Do mesmo modo” (1 Pe 3.1, 7). Ele
orienta como agir quando somos maltratados pelo governo (1 Pe
2.13-17) ou no trabalho (1 Pe 2.18-21); essas orientações se aplicam
aos maus-tratos ou abuso no casamento. Ao mesmo tempo, como já
mencionado, isso tem seus limites. Se a saúde física, a vida da
pessoa ou a saúde emocional estiverem ameaçadas, uma separação
temporária seria indicada.

Retomando o ensino bíblico para casamentos em crise, Jesus enfatiza


que o que Deus uniu, ninguém deve separar (Mt 19.6). A aliança do
casamento se dá entre três pessoas: Deus, um homem e uma
mulher. Em primeiro lugar, divórcio vai contra a natureza de Deus,
contra o caráter d’Ele, contra demonstrar que somos parte de um
povo fiel que cumpre Sua palavra e mantém Sua aliança. Não deve
nos surpreender que Deus odeie o divórcio.

Quando o crente toma a iniciativa para se divorciar, age como um


não-crente, não acredita que Deus sabe melhor do que ele, não se
submete a obedecer Sua Palavra, escolhe fazer o que Deus odeia e,
provavelmente, afasta seu cônjuge ainda mais da presença do Deus
Eterno. Paulo ensina que, sendo paciente e perseverando no
casamento, poderemos ver uma de duas coisas: o cônjuge
arrepender-se ou arrebentar-se. No primeiro caso, salvamos nosso
cônjuge e o casamento e resgatamos algo imensuravelmente precioso
para nossos filhos. No segundo caso, se o não-crente optar por sair
do casamento ou adulterar, ele nos libera dessa aliança, dando-nos
até a opção de casar novamente (1 Co 7 e Mt 19).

O que fazer se o cônjuge não-crente ou abusador nunca se arrepende


e muda, mas permanece dentro do casamento? Isso talvez seja o
maior medo dos cristãos que sofrem em casamentos infelizes. Ainda
se for necessário se separarem por motivos de abuso, eles devem
continuar com as atitudes indicadas sobre nossos “inimigos”. Alguém
que está num estado prolongado de separação pode perguntar
“nunca poderei me casar de novo e ser feliz?” Eu entendo que Jesus
menciona esse assunto de forma indireta, em seu ensino em Mateus
19. Quando os discípulos acham que a visão de Jesus para o
casamento é pura utopia, ele responde: “Nem todos têm condições
de aceitar esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado. Alguns
são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos
homens; outros ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos
céus. Quem puder aceitar isso, aceite.” (vv. 11, 12).

Eu enxergo que alguns se fazem eunucos (celibato) por causa do


Reino, optando por não entrar na felicidade de um novo casamento
porque seus olhos estão fixos em Jesus e Seus propósitos eternos.
Aguardando a salvação do cônjuge, entregam suas vidas para Jesus
(incluindo suas vidas sexuais), agindo, assim, como verdadeiros
discípulos ou filhos de Deus. Isso implica evitar intimidade e qualquer
situação que possa levá-los a se envolver emocional ou fisicamente
com o sexo oposto. Se, por motivos da violência do cônjuge, um
cristão precisa ficar separado fisicamente dele, deve assumir a
atitude que Paulo relata no final de 1 Coríntios 7, sobre dedicar-se a
Jesus com toda sua energia e tempo, como se fosse solteiro. Ao
mesmo tempo, ele precisa ter o cuidado de não deixar o ministério
ser um motivo para se afastar das quatro atitudes já indicadas, sobre
como se relacionar com seus inimigos.

Seria um pecado a igreja ou um líder pastoral apenas apontar tudo


isso e dizer que vai orar pela pessoa que sofre num casamento
complicado. Fé sem obras é morta (veja Tg 2.14-17). A igreja precisa
oferecer diversas formas de ajuda para essa pessoa. As três
principais são:

1. Grupos familiares, um contexto onde a pessoa abusada pode


experimentar um lugar seguro, um ambiente familiar saudável e
aprender, se não sabe ainda, como relacionar-se de forma sadia.

2. Grupos de apoio compostos especificamente de pessoas com


problemas que não conseguem resolver. Aqui ela encontra
companheiros de jugo, um lugar onde pode ser realmente honesta,
transparente e autêntica em seus altos e baixos, e um contexto no
qual tratar seus próprios problemas emocionais. (Veja meus livros
Aprofundando a Cura Interior através de Grupos de Apoio, Volumes 1
e 2, Editora Sepal. Veja também o livro de Débora, Vítima,
Sobrevivente, Vencedor. Perspectivas sobre Abuso Sexual, Editora
Sepal, que orienta como montar um grupo de apoio para vítimas de
abuso.)

3. Casais apoiadores. Estudos feitos nos Estados Unidos (que são


citados no site, indicado no relatório ao final deste artigo)
demonstram que a porcentagem de divórcios caiu de forma marcante
e visível não apenas em uma igreja, mas em cidades inteiras, onde
casais saudáveis e capacitados adotaram e acompanharam casais
com dificuldades.

A igreja precisa acordar, erguer-se e ser eficaz em resgatar


casamentos em crise. Precisamos parar de oferecer apenas
“curativos” para pessoas que sofrem de câncer no seu casamento, e
dar apoio, esperança e formas práticas para que elas passem de
vítimas a sobreviventes e vencedoras. Quando um cristão se divorcia
do seu cônjuge, de alguma forma muito profunda, está comunicando
que falhou na relação mais fundamental de sua vida. Mas ele não
falhou sozinho. A igreja precisa reconhecer que também falhou ao
não dar o apoio, o conselho e a ajuda necessários.

Se a igreja oferecer tudo isso e o crente ainda decidir divorciar-se,


resta ainda um passo difícil do “amor que tem que ser firme”, um
passo que muitas igrejas hoje em dia não têm coragem ou
integridade para tomar. Quando uma pessoa decide violar consciente
e abertamente o ensino bíblico, os passos de confronto e disciplina
em Mateus 18.15-17 devem ser seguidos. Como podemos dizer que
levamos o casamento a sério se passamos a mão na cabeça de
pessoas que optam em, explicitamente, desobedecer o ensino bíblico
nesta área? Em nome de enxergá-las como vítimas, coitadas,
doloridas, feridas e não sei quantas outras coisas, apoiaremos a
desobediência explícita à Palavra de Deus? Se fizermos isso,
abandonamos tanto o amor verdadeiro, como a autoridade das
Escrituras. Desafio a igreja a erguer-se, tanto no consolo,
aconselhamento e apoio verdadeiro, como em defender o ensino e a
prática da visão bíblica do casamento.
Deus tem uma visão gloriosa da aliança do casamento que demonstra
Seu caráter e propósitos divinos. O cristão casado com uma pessoa
difícil ou abusadora precisa manter essa visão. Seu alvo deve ser
glorificar a Deus e amar seu cônjuge com a esperança de ver a sua
salvação e a salvação de seus filhos. A igreja deve apoiar de forma
palpável na procura de restauração de seu casamento, incluindo
ensino bíblico e disciplina, se for necessário. Se alguém precisa
separar-se para proteger-se da violência, isso deve ser um passo
temporário com vistas à restauração do casamento. Dentro ou fora
da mesma casa, devemos amar nosso cônjuge, orar por ele, fazer o
bem a ele e abençoá-lo. Nosso supremo alvo não é a nossa realização
ou felicidade, mas glorificar a Deus e desfrutar d’Ele para sempre.

Os Efeitos do Divórcio sobre América (The Effects of Divorce on


America), por Patrick F. Fagan and Robert Rector, encontrado na
internet em
http://www.lovegevity.com/marriage/whatsnew/hfedone1.html

Resumo Executivo do Relatório da Fundação Herança (The Heritage


Foundation)

A cada ano, mais de um milhão de crianças americanas sofrem o


divórcio de seus pais; além disso, metade das crianças que nascerão
este ano de pais que estão casados, irão vê-los divorciando-se antes
de completarem 18 anos. A evidência crescente nos jornais de
ciências sociais demonstra que os efeitos devastadores físicos,
emocionais e financeiros que o divórcio gera nas vidas destas
crianças continuarão na idade adulta e afetarão as gerações futuras.

Esses danos extensos incluem:

• Uma crescente freqüência de abusos de todos os tipos. Filhos de


pais divorciados demonstram mais problemas emocionais, de saúde e
de comportamento; envolvem-se mais em crimes e drogas, e têm
níveis maiores de suicídio.
• Crianças de famílias divorciadas têm mais dificuldade em ler,
escrever, soletrar e aprender matemática. Também têm maior
probabilidade de repetir o ano, de não completar o colégio e de não
completar a faculdade.

• Estas famílias que antes do divórcio não eram consideradas pobres


vêem sua renda cair até 50%. Quase 50% passam para a pobreza
após o divórcio.

• A sua vida religiosa, que tem sido ligada à saúde melhor,


casamentos mais duradouros e melhor qualidade de vida de família,
tende a cair depois do divórcio dos pais. Para maiores informações,
veja o livro de Archibald Hart, Ajudando os filhos a Sobreviverem ao
Divórcio, Mundo Cristão, 1996/1998.

Fonte: http://www.mapi-sepal.org.br/defferartCasamento.htm

Visite: www.sermao.com.br

1/12/2006 15:48:32ejesus.com.br

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