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CURANDO A DOR DA
Traição no Casamento
A descoberta | Por que tudo isso? | O caminho do Renovo | Deus também age na dor
CURANDO A DOR DA
Traição no Casamento
A descoberta | Por que tudo isso? | O caminho do Renovo | Deus também age na dor

1ª Edição Ampliada
Julho de 2019
RAILCA FREIRE GOUVÊA

1ª Edição Ampliada
Julho de 2019

CURANDO A DOR DA
Traição no Casamento
A descoberta | Por que tudo isso? | O caminho do Renovo | Deus também age na dor
Copyright © by Paulo Adriano Muniz Gouvêa, 2017
CURANDO A DOR DA TRAIÇÃO NO CASAMENTO – Railca Freire Gouvêa
Primeira Edição Ampliada – Julho de 2019
Diagramação: Raquel Serafim (@rakdesigner)
Capa: Thiago Habdiel Almeida da Silva
Revisão Final: 1. Ana Lia de Miranda e Martins – Procuradora de Justiça
Aposentada pelo Ministério Público do Estado de Rondônia e
2. Selma Lima Thomas – Missionária e Conselheira Cristã desde 1995,
Líder juntamente com seu esposo Peter Thomas, da Base da JOCUM em Aquiraz/CE

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da edição deste livro deve ser reproduzida
de forma alguma sem a autorização por escrito da autora, exceto em casos de citações
curtas em artigos ou resenhas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Railca Freire Gouvêa
Curando a Dor da Traição no Casamento
Sousa, PB: Paulo Adriano Muniz Gouvêa, 2019
192 páginas; 23 cm
ISBN 978-85-923173-1-7
1. Vida Cristã. 2. Casamento. 3. Sexo. 4. Saúde Emocional. 5. Família. 6. Aconselhamento
I. Gouvêa, Railca Freire. – II. Título

 CDD 200
 1ª Edição

Índice para Catálogo Sistemático


1. Religião – 200

Impressão e Acabamento
Exklusiva Gráfica e Editora

Distribuição e Vendas
Sexo sem Cativeiro
Loja Virtual: http://www.sexosemcativeiro.com.br
E-mail: atendimento@sexosemcativeiro.com.br
Fone: |55| 41 99676.9107 / 85 99865.7308
Ao único e poderoso
Deus, que me mostrou um
caminho na dor e acalmou a
tempestade em meu coração.
AGRADECIMENTOS
Tenho muitos a quem agradecer. Primeiramente a este Deus e Pai
que me ama incondicionalmente e não desiste de mim.
Depois, ao meu amado esposo, que hoje tem sido um gran-
de parceiro e me encoraja a permanecer firme na caminhada.
Aos meus queridos e preciosos filhos, que tiveram muita pa-
ciência comigo durante minha restauração e são os segundos a afir-
marem a minha singularidade como mulher, sendo também mãe.
Aos tantos amigos e familiares, parceiros de ministério, que
acreditam no nosso chamado e investem em nós em todos os senti-
dos, nos encorajando, intercedendo por nós e até mesmo financei-
ramente, como mantenedores, desde quando ainda estávamos no
nosso processo de cura, restauração e capacitação para o ministério.
À minha querida e paciente terapeuta familiar, Antoniela
Yara, que me ajudou a lidar com tudo que me aconteceu, coisas
difíceis e dolorosas.
Às esposas que permitiram que eu mencionasse partes de
suas histórias (suas identidades foram preservadas) e confiaram
em mim em tempos tão tenebrosos, dividindo comigo suas dores.
Aos meus líderes e às minhas discipuladoras, tanto das Es-
colas de JOCUM (Jovens com uma Missão), quanto da Igreja.
À minha linda amiga africana, Isilda Bato Ana, que esteve
hospedada em nossa casa quando escrevia este livro e muito me
encorajou a finalizá-lo. À Dra Ana Lia e à Selma Thomas, respon-
sáveis pela revisão e melhoria do texto em vários trechos.
Finalmente, àqueles que nos apoiam na publicação deste
livro, especialmente ao meu amado irmão Tancredo Luís, por
todo apoio em todo tempo, eu só posso expressar a minha imen-
sa ­gratidão.
ÍNDICE
PREFÁCIO. .................................................................................................................. 11
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 13

– PARTE I –
A descoberta

Capítulo 1: Nunca imaginei.... ........................................................................................ 17


Capítulo 2: Ele contou voluntariamente ou foi descoberto?............................................ 29
Capítulo 3: Lidando com a desilusão............................................................................... 37
Capítulo 4: Preciso de ajuda!. ...................................................................................... 49
Capítulo 5: O Divórcio seria a Solução?......................................................................... 57

– PARTE II –
Por que tudo isso?

Capítulo 6: A História Familiar..................................................................................... 71


Capítulo 7: A Geração em que Vivemos........................................................................... 81
Capítulo 8: As Consequências do Pecado Sexual. ............................................................ 85

– PARTE III –
O caminho do renovo

Capítulo 9: A Nossa Necessidade de Amor.................................................................... 111


Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação...................................................................... 123
Capítulo 11: A Importância do Amor e do Respeito. ........................................................ 139
Capítulo 12: Restaurando o Relacionamento................................................................ 147

– PARTE IV –
Deus também age na dor
Devocional Diário por Trinta Dias. .............................................................................. 157
PREFÁCIO
Tenho o prazer de escrever sobre este livro por duas razões princi-
pais: a primeira porque conheço a Railca e acompanhei seu pro-
cesso de restauração, bem como de seu marido Paulo.
Lembro bem do dia em que eles vieram pedir que tivesse
um tempo com eles. Já os conhecia, pois estavam fazendo a es-
cola de treinamento na base da JOCUM onde eu sou líder, mas
nunca havia conversado com os dois. Depois de muito tempo
eles simplesmente apareceram e pediram ajuda. Foi então que
conheci mais a fundo seu dilema matrimonial e pude ver o Se-
nhor transformar tudo em pouco tempo. Não que eu ache que
fui responsável por nada disso, mas tive o privilégio de testemu-
nhar esse processo.
A segunda razão é porque logo que comecei a ler amei o
livro e então decidi que seria melhor dar para um casal que estava
passando pelo mesmo processo que eles quando os conheci, casal
este que eu também estava acompanhando no momento. Foi en-
tão que pensei: Este livro é maravilhoso e quem precisa ler antes
mesmo de mim, são meus amigos que estou ajudando. Chamei a
esposa e lhe recomendei que lesse o livro e depois me dissesse o
que ela pensava. Claro que depois de ler rapidamente, ela pediu
para termos uma conversa sobre o livro e suas impressões foram
fantásticas. Ela achou esperança e foi muito confrontada com suas
próprias atitudes em relação ao seu casamento, além de ter reno-
vado dentro dela a esperança de dias melhores.
Railca fala com propriedade e quase que como uma auto-
biografia sobre restauração familiar. Isso traz autoridade às suas
palavras, além de ser tremendamente sábia no que escreve. É um
livro livre dos preceitos religiosos sobre o assunto e uma aborda-
gem sincera, bíblica e transparente sobre relacionamentos fami-
liares. Às vezes leio livros sobre casamento onde os autores são
radicais a ponto de ignorar o que a Bíblia fala sobre divórcio, afir-
12 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

mando que em nenhum trecho dela se permite isso - Railca não


tem medo de ser fiel à Bíblia e ignorar os conceitos religiosos de
muitos, mas franca e fielmente nos mostra um caminho real e al-
cançável a todos os que passam pela tragédia da traição e quebra
da confiança no relacionamento.
Estou esperançoso de que este livro venha preencher algo
que falta na literatura cristã e que será uma grande benção para
restaurar vidas quebradas e relacionamentos que parecem sem es-
perança. Digo isso porque, mesmo antes de lê-lo, tive a satisfação
de ver este material sendo usado para ajudar a restaurar relaciona-
mentos. É meu privilégio poder apresentar algo tão maravilhoso.

Sal Cutrim
Curitiba - Primavera 2016
INTRODUÇÃO
“A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do
Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes”.
— Salmos 19.7

Depois de mais de três anos num processo de cura e restauração do


meu casamento, buscando entender tudo que havia se passado e
lidando com os escombros da queda do meu “castelo de areia”,
mas, principalmente, quando compreendi que não sou a única
esposa que passou por isso, fui impulsionada a escrever sobre o
assunto para que esposas que acabaram de se deparar com o mes-
mo problema possam ter alguma ajuda através da experiência de
outra mulher com uma situação s­ emelhante.
Lembro de que, quando entrei em agonia, ler o livro1 da es-
posa de um ex-compulsivo sexual, hoje líder de um ministério2 de
cura e restauração da sexualidade nos EUA, me ajudou bastante
a lidar com minha dor. No seu livro, ela respondeu a 53 cartas de
outras mulheres com situações semelhantes ou mesmo piores do
que a minha. Eu poderia simplesmente recomendá-lo, mas enten-
di que era necessário de alguma forma mencionar todas as etapas
do processo pelo qual eu mesma passei. A leitura daquele livro foi
só o começo. Quero ajudar você não somente no seu começo, mas
de alguma forma conduzi-la a cumprir todas as etapas necessárias
para obter cura, restauração das suas emoções, da sua alegria, da
sua fé e, quem sabe, do seu casamento.
Fé. Esta talvez seja a chave principal. Por isso a convido a
analisar como está a sua fé depois de tudo que possa ter passado.
Você perdeu a fé em Deus? Em si mesma? No seu cônjuge?

1
Gallagher, Kathy. Quando o Pecado Secreto Dele Despedaça o Seu Coração.
2
Pure Life Ministries (www.purelifeministries.org) Cuidados residenciais, aconselhamento
por telefone e materiais de ensino bíblico para homens com dependências sexuais.
14 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Eu não perdi a minha fé em Deus, mas confesso que ela


sofreu um grande abalo mas depois foi fortalecida. Quanto à fé
em mim mesma, acho que perdi. Não acreditava que ia conseguir
superar a dor e a decepção e hoje me alegro com o que Deus fez
em mim. Quanto à fé no meu cônjuge, essa é que se foi mesmo. E
agora? O que aconteceu?
Podemos descobrir juntas, mas é preciso que saiba antes de
tudo que há alguém que deseja caminhar com você em direção à
sua cura. Seu nome é JESUS. Ele também está sofrendo com você
a sua dor e é o único que pode lhe dar alívio. Por isso, Ele estará
a todo tempo sendo citado na caminhada porque o Caminho é
Ele (João 14.6). Porque sem Ele, nada podemos fazer (João 15.5).
Se eu não reconhecesse isso, provavelmente seria mais uma es-
posa ferida, sem cura, amargurada, talvez divorciada por causa
do meu orgulho ferido, correndo o risco de viver uma decepção
após outra, porque não teria deixado JESUS me conduzir até a
cura. Então convide JESUS a ajudá-la agora mesmo no seu pro-
cesso, pois este é o primeiro grande passo para a cura. No total,
vou pontuar pelo menos três grandes passos importantes na ca-
minhada para a sua restauração.
Se tiver uma nuvem negra sobre o seu casamento e você
achar que não irá subsistir depois desta grande tempestade, cha-
me JESUS para agir. Com apenas uma palavra Ele pode acalmar a
tempestade (Mateus 8.24-26). Somente Ele pode criar um caminho
em meio às trevas e abrir os seus olhos para enxergar este cami-
nho, conduzindo você para um novo tempo: a bonança.
– PARTE I –
A descoberta
05 de maio de 2000 - Nascimento de Raissa Julie

03 de abril de 2004 – Meu casamento com o meu amado


1
Nunca imaginei...

“Meu povo foi destruído por falta de conhecimento...”


— Oséias 4.6a

Você imaginou que o sexo pudesse vir a se tornar, em algumas situa-


ções, algo tão ofensivo e destruidor? Eu não.
Gostaria de começar aqui contando a minha própria histó-
ria enquanto trago alguns conceitos importantes para a constru-
ção de uma sexualidade saudável.
Quando criança, entre meus quatro e sete anos pelo que me
lembro, fui violada, molestada por um conhecido da família. Ele
costumava me sentar em seu colo e me tocar de forma indevida
ao visitar a casa dos meus pais. O abuso só parou quando nos
mudamos daquela cidade. Infelizmente, devido àquela violação,
desenvolvi cedo demais estímulos sexuais, passando a me mas-
turbar compulsivamente quando criança. Sem ter a menor noção
do que estava fazendo, costumava pressionar um lençol ou toalha
entre as minhas pernas.
Neste ponto, gostaria de enfatizar que uma criança quando
se masturba não tem ideia de sexualidade, apenas está se desco-
brindo e tendo sensações prazerosas. Isso, porém, não deve ser
incentivado, ao contrário, é preciso chamar a criança em amor,
distraí-la com outra atividade e procurar conversar com ela sobre
o que estava fazendo, explicando que não é bom que repita, tudo
isso, porém, com muita tranquilidade.
Não é bom que se use de hostilidade quando se quer orien-
tar uma criança nestas questões, mas é preciso corrigi-la em amor
através do ensino. Explique à criança que tocar em suas partes
18 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

íntimas pode machucá-la ou contaminar o local, mas também in-


vestigue o porquê de ela estar fazendo isso. Pergunte, por exem-
plo, se alguém já a tocou ali. Diga à criança que estas partes do seu
corpo são apenas dela. Abuso sexual em meu país é crime e deve
ser denunciado! O fato dela tocar nestas partes íntimas não indica
necessariamente que ela está sendo estimulada por alguém, mas é
preciso investigar. Determinados programas de televisão, vídeos
na internet ou mesmo alguma literatura que a criança tenha aces-
so também podem ser os responsáveis por estes estímulos. É con-
siderado natural, em determinada fase da infância, a criança se
descobrir. O que não é natural nem deve ser considerado normal
é a prática da masturbação frequente por esta criança e de uma
forma compulsiva.
Não recomendo muita conversa sobre sexo com a criança até
para não gerar curiosidade fora do tempo, no entanto, sempre que
ela perguntar sobre o assunto, aproveite para instruí-la de forma
correta, respeitando sua linguagem, pois privar uma criança de
informações corretas sobre sexo poderá levá-la a ser ensinada de
forma equivocada pela mídia ou por pessoas mal-intencionadas.
Não falar sobre sexualidade com uma criança ou falar de-
turpando a imagem correta do sexo, quando ela perguntar sobre o
assunto, pode gerar diversos transtornos na sua sexualidade mais
tarde, principalmente na adolescência, em que seus hormônios es-
tarão aflorados. Nesta fase, muita orientação e conversa sobre o
assunto por parte dos pais ou cuidadores é necessária. As crianças
e adolescentes precisam ser instruídas sobre este assunto, na lin-
guagem deles, mas sem comprometer a informação. Não é bom,
no entanto, dar apelidos infantis e bobos aos órgãos genitais, pois
os pedófilos costumam fazer isso como forma de induzir crianças
a se permitirem ser tocadas ali.
A criança ainda bem pequena precisa aprender, através de
seus pais ou cuidadores, o nome correto dos seus genitais: vagi-
na para as meninas e pênis para os meninos. No devido tempo,
quando a criança perguntar, diga a ela a função dos mesmos. Ex-
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 1 : Nunca imaginei... • 19

plique que têm uma função muito especial para ser exercida no
casamento, gerando amor e intimidade entre o casal e, inclusive,
gerando vida, pois é através dos órgãos sexuais que os bebês são
providenciados numa interação entre o pai e a mãe.
Eu costumava explicar para os meus filhos ainda pequenos
que o papai colocou uma sementinha dentro de mim para que eles
fossem gerados ali, quando me perguntavam sobre como foram pa-
rar na minha barriga ao verem fotos minha grávida deles. Quando
tive que explicar sobre a função dos órgãos sexuais, que incluem
seus genitais, foi mais fácil dizer que as sementinhas que fazem os
bebês são enviadas pelo pênis do homem e que é através da vagina
da mulher que estas sementinhas são inseridas em sua barriga.
A criança também deve ser orientada desde muito cedo a
não permitir que alguém toque em seus genitais e que ela mesma
deve evitar tocar, exceto na realização da sua higiene pessoal, o
que poderá evitar a prática da masturbação e o abuso sexual. Os
transtornos psíquicos emocionais de um abuso sexual são terrí-
veis, principalmente, em crianças. O que for possível fazer, para
evitar este tipo de abuso, deve ser feito.
É preciso salientar, no entanto, que toda criança precisa de
afeto manifesto através de toques saudáveis como o abraço, o afago
da mãe, a brincadeira de luta com o pai, o beijo na chegada e na
despedida, etc. Meninos e meninas que são tocados de forma sau-
dável por seus pais ou cuidadores através do carinho no dia a dia,
se tornam menos suscetíveis e vulneráveis a toques maliciosos por
parte de pessoas mal-intencionadas. Além disso, crianças que cres-
cem sem toques saudáveis de afeto podem desenvolver uma busca
incessante por este afeto através de uma compulsão sexual.
A masturbação, assim como a pornografia, não deve ser in-
centivada ou estimulada na infância e nem na adolescência por-
que não é saudável para a plenitude da sexualidade mais tarde,
podendo, inclusive, desviar o praticante dessa conduta da orien-
tação salutar de que o sexo deve acontecer somente entre um casal
na sua intimidade e privacidade, dentro de uma aliança de casa-
20 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

mento, de modo que não deve ser praticado sozinho e nem visto
por outras pessoas.
Já ouvimos, em sessões de aconselhamento, relatos de ho-
mens e mulheres que só conseguem chegar ao orgasmo se mas-
turbando ou vendo pornografia ou que estas situações são mais
prazerosas do que estar com os seus cônjuges. Geralmente, isso
ocorre devido à prática compulsiva da masturbação e/ou da por-
nografia antes ou até mesmo no casamento, o que gera na intimi-
dade do casal muitos transtornos, além de distorções diversas na
sexualidade do indivíduo que tem ou já teve essa prática.
Crianças também precisam ser instruídas de que o sexo não
é algo sujo ou impuro quando realizado dentro do casamento,
mas que deve ser uma experiência emocionante e saudável para
o casal. Muitas mulheres relatam que se sentem travadas na sua
sexualidade por terem sido ensinadas equivocadamente sobre o
sexo para evitar que se tornassem promíscuas, porém, estas mu-
lheres não conseguem ter uma vida sexual saudável devido à
mensagem deturpada que receberam sobre o sexo, de que seria
algo errado de se praticar, mesmo no casamento.
Voltando à minha história, aos 10 anos conheci ao Senhor
e aos 15 tive uma experiência com o Espírito Santo, passando a
achar que estava curada de toda e qualquer dor emocional, se-
quela ou prática relacionada à violação que sofri quando criança,
pois passei a entender o sexo como algo privado, íntimo e como
expressão de amor, carinho e cumplicidade entre um casal após
o casamento.
Lendo, porém, um livro3 sobre o tema abuso sexual, depois
que passei pela frustração da dor dos adultérios que sofri por
parte de meu marido, entendi que ficaram sim em mim sequelas
daquele abuso que sofri quando criança, pois eu não conseguia
me negar ao sexo, mesmo sem estar com vontade, se eu estivesse
envolvida emocionalmente.

3
Diane Mandt Langberg, Abuso Sexual – Aconselhando Vítimas.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 1 : Nunca imaginei... • 21

Quem viveu situações de abuso sexual como eu, seja na ten-


ra idade ou já na fase adulta, principalmente quando ocorreu de
forma profunda e sistemática, que não foi o meu caso, dependen-
do também da proximidade familiar do abusador, pode passar
a conceber o sexo como algo destruidor, se não tratar de forma
devida o trauma sofrido. Isso ocorre porque sofreu, além de fisi-
camente, nas suas emoções a dor do abuso, podendo ter desen-
volvido a falta de controle sobre o próprio corpo no que tange
à sexualidade.
Esta falta de controle na sexualidade poderá levar a pessoa
a uma compulsão sexual ou a diversos desvios e transtornos nesta
área. No meu caso, eu não conseguia impor certos limites devidos,
de modo a me permitir facilmente ser induzida a uma relação se-
xual, mesmo contra minha vontade. Mas também existem casos
que a pessoa abusada passa a ter total aversão ao sexo ou medos
e bloqueios nesta área.
Tive minha primeira relação sexual aos dezenove anos com
um namorado que até então só conhecia virtualmente, embora
fôssemos da mesma igreja, mas em cidades diferentes. Fui sedu-
zida e levada à prática sexual facilmente por ele, na primeira vez
que nos encontramos pessoalmente, pois eu já estava totalmente
envolvida emocionalmente com ele. Lembro de não ter nenhuma
vontade e de me sentir muito constrangida quando ele me levou
a um motel, pois eu sabia que não era certo mantermos relações
sexuais sem estarmos casados, mas não consegui dizer não.
Não foram muitas vezes que tivemos relações sexuais por-
que tivemos um namoro à distância. Como eu não estava habi-
tuada, nem planejava termos relações sexuais quando íamos nos
encontrar, sequer me protegia. Lembro-me de algumas vezes ser
induzida a ter relações sexuais com ele sem estar de acordo, pois
até conseguia lhe dizer que não queria e tentava explicar-lhe como
me sentia e o que achava de tudo aquilo, mas no final ele sempre
conseguia me levar ao ato sexual.
22 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Hoje compreendo que fui seduzida e abusada, mesmo não


tendo sido utilizada força física por parte do meu abusador, uma
vez que estas são características de um relacionamento abusivo, em
que uma ou ambas as partes só querem abusar do corpo do outro,
não tendo compromisso nenhum com o parceiro sexual. Ele me fez
falsas promessas para me levar a ter relações sexuais com ele, che-
gou a dizer que ia se casar comigo. Eu me sentia muito mal após
cada relação sexual, pois queria verdadeiramente ter uma vida de
santidade e sabia que estava em pecado. Isso tudo durou dois anos.
Aos vinte e um anos, acabei engravidando. Para mim não
foi problema, até vi como uma solução, pois pensei: ‘agora ele vai se
casar comigo e tudo vai se acertar’, no entanto, não foi isso o que acon-
teceu. Ele rejeitou a gravidez, a mim e o relacionamento ­acabou.
Ele queria que eu fizesse um aborto, todavia tomei a decisão
de levar a gravidez adiante, ainda que sozinha e arcar com as con-
sequências. Meu pecado oculto foi exposto, minha filha nasceu
sem uma família devidamente constituída, sem o pai presente,
decepcionei aos meus próprios pais e também aos meus líderes
espirituais, amigos e irmãos que acreditavam que eu tinha uma
vida íntegra e reta. Precisei suspender por um tempo a faculda-
de, até mesmo mudar de profissão e sofri a dor do abandono e
da ­rejeição.
Sei bem como é a dor do abandono, de ser mãe solteira.
­Graças a Deus, pude contar com a ajuda dos meus pais, pois ape-
sar de muito decepcionados comigo, não me abandonaram, mas
foi muito difícil e gerou muitos conflitos na minha família de ori-
gem. Isso marcou a minha história.
Graças a Deus também, eu não contraí qualquer doença ve-
nérea que muitas vezes são incuráveis e graças a Deus também,
a minha filha nasceu saudável e linda. Ela veio como um consolo
para mim naquela situação em que eu mesma havia me colocado.
O sexo entre seres humanos foi criado por Deus para ser a
mais alta expressão de amor, cumplicidade, compromisso e cui-
dado, por isso foi constituído para ser praticado somente entre
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 1 : Nunca imaginei... • 23

um homem e uma mulher, aliançados pelo compromisso do casa-


mento, para constituir uma família, ainda que não gere filhos, mas
para unir o casal, tornando-os um só. Filhos devem ser gerados
somente depois deste compromisso, desta aliança que é o casa-
mento entre um homem e uma mulher.
Gênesis 2.24 diz o seguinte: “Por essa razão, o homem deixará
pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só car-
ne”. Esta expressão “eles se tornarão uma só carne” que está na
parte final do versículo diz respeito justamente à sexualidade do
casal, que só deve ocorrer depois de deixarem seus pais e se uni-
rem, como está na primeira parte do versículo, ou seja, depois que
se casarem.
Fora do casamento, existe uma série de consequências que
o sexo entre duas pessoas pode ocasionar: prostituição, que é o
uso e a exploração do corpo de outro; abuso, quando não ocor-
re de forma totalmente consensual mesmo entre pessoas adultas;
gravidez não planejada, que ocorre muito entre jovens, ou em
relações extraconjugais e que pode levar a um aborto ou ao nasci-
mento de filhos não desejados, outras vezes bastardos, por vezes
não reconhecidos e nem assistidos pelo pai, quando não pela pró-
pria mãe; doenças venéreas, que até podem levar a morte, além
de sérios danos emocionais, gerando pessoas descompromissadas
nos seus relacionamentos, ou feridas nas suas emoções. Dedicarei
mais adiante, na segunda parte deste livro, um capítulo que trará
instruções sobre como lidar com algumas destas consequências.
Voltando à minha história, quando conheci meu marido,
minha filha já tinha dois anos. Todos na minha família de origem
ficaram preocupados e receosos de que eu pudesse sofrer uma
nova decepção amorosa, contudo eu, facilmente, acreditei no
“amor” de novo.
Ele se tornou cristão somente quando já estávamos noivos.
Quanto a mim, ainda era alguém que acreditava muito nas pes-
soas. Apesar de ter sido molestada na tenra idade e de ter sofrido
24 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

uma grande decepção amorosa antes de conhecer meu esposo, eu


ainda acreditava no amor conjugal e sonhava com o casamento.
Infelizmente, acabei me sujeitando novamente a um namo-
ro impuro, exatamente como antes. Aquilo me fazia muito mal.
Na minha inocência ou ingenuidade, também por causa da pou-
ca experiência e da carência emocional que eu tinha, eu acreditei
nas boas intenções do meu novo namorado, que veio a se tornar
meu marido. Tentei fazer diferente deixando claro para ele como
me sentia e que precisávamos nos casar se quisesse ter relações
sexuais comigo sem me deixar mal depois, mas mesmo assim,
ocasionalmente mantínhamos relações sexuais sem estarmos
­casados ainda.
Ele me pediu em casamento cerca de um ano após nos co-
nhecermos. Era tudo que eu sonhava. Nós finalmente nos casa-
mos quando minha filha já ia fazer quatro anos. Ele assumiu a
paternidade dela uma vez que seu pai biológico não mantinha
contato frequente conosco e nem lhe dava assistência alguma,
tento apenas registrado a criança por insistência minha, mas meu
esposo ingressou com o processo judicial de adoção e se tornou
legalmente o pai da nossa Raissa Julie.
Nesta mesma época, frequentávamos a igreja regularmente.
Eu já tinha alguma experiência com Deus e meu esposo também,
mas ele apenas estava começando sua caminhada com Cristo.
Nosso relacionamento como casal, apesar de desentendi-
mentos normais que podem ocorrer entre duas pessoas natural-
mente diferentes, era bom. Ele demonstrava bastante carinho e
cuidado comigo e também com minha filha, já sua filha adotiva.
No que diz respeito à nossa intimidade sexual, eu também
achava que nos dávamos muito bem. Até achava a frequência
que ele me procurava grande, mas não tinha muita experiência
para dizer que era anormal. Além disso, éramos jovens, eu achava
“normal”. Inclusive, o fato de me procurar com muita frequência
quando estava em casa, me fazia pensar que ele era muito apaixo-
nado por mim, que era algo legal entre nós. Nunca imaginei que
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 1 : Nunca imaginei... • 25

fosse um indício de um vício, de uma doença, de uma disfunção,


de uma compulsão sexual.
Eu sempre me sujeitei ao desejo dele, nunca me neguei ao
sexo entre nós, mesmo quando não tinha vontade. Até coloquei
alguns limites, como não praticarmos atividades sexuais que eu
considerava fora dos meus padrões morais. Ele chegou a me pro-
por vermos juntos pornografia para estimular ainda mais nossa
relação, o que não aceitei e ele respeitou, dentre outras práticas da
intimidade. Contudo, nunca associei estas propostas a um indício
de disfunção sexual ou compulsão.
É preciso entender antes de tudo que o sexo é um assunto
também espiritual e que, se foi praticado de forma violenta ou
ilícita, é uma violação não somente ao corpo, mas principalmente
à alma, às emoções.
Sexo como Deus planejou para o ser humano não é algo
que acontece somente no corpo de forma instintiva ou para re-
produção, como ocorre com outros animais. O ser humano possui
alma e espírito além do seu corpo físico (I Tessalonicenses 5.23),
de modo que a relação sexual entre seres humanos não é algo ape-
nas natural, para satisfação, reprodução, ou resposta a um instinto
animal. Trata-se de algo muito mais profundo, pois deve envolver
ternura, além de compromisso e consentimento, ou seja, entre um
homem e uma mulher, dentro de uma aliança de casamento e de
forma carinhosa e consensual, como demonstração profunda de
afeto e ternura. Fora deste contexto, não será sexo, mas apenas
lascívia, abuso ou luxúria e prostituição.
Ainda que dentro de uma aliança de casamento, se o sexo
ocorrer sem estes elementos, ternura, compromisso e consenti-
mento, que indicam respeito pelo relacionamento, a relação se-
xual entre o casal se torna algo meramente mecânico e altamente
destruidor, um abuso do corpo do outro. E quando praticado so-
zinho, que é o caso da masturbação, também traz diversos danos
para o desenvolvimento das emoções, gerando compulsão e vício,
26 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

além de ter influência espiritual maligna, porque o sexo não foi


feito para se realizar a sós.
Infelizmente, só compreendi tudo isso depois de entender
que o que o meu marido praticava comigo era lascívia e não sexo
como Deus planejou. Eu achava que ele também tinha o mesmo
compromisso que eu tinha com ele, tanto antes quanto depois de
casarmos, no entanto não era isso o que ocorria. Também devido à
frequência que tínhamos relações sexuais, nunca imaginei que ele
tivesse necessidade de ver pornografia na minha ausência, ainda
que curta, e se masturbar ou estar com outra mulher.
Na verdade, eu soube, depois de um tempo, que ele via por-
nografia e se masturbava quando viajava a trabalho e ficávamos
longe por alguns dias pois, por muitas vezes, ele chegou em casa
com seu órgão sexual machucado e quando eu perguntava o que
houve, me explicava que era porque sentia necessidade e se esti-
mulava no banho e me convencia de que isso era “normal” e na-
tural para todo homem. Eu não gostava disso e cheguei a criticá-lo
por tal comportamento, mas não achei que fosse algo descontrola-
do, que fizesse até mesmo quando estava em casa, pois depois me
confessou que bastava eu não estar presente por alguns instantes,
se sentisse vontade, fazia isso.
Também não imaginava que ele pensava em sexo quase que
o tempo todo e vivesse em função disso. Eu não sabia de nada,
embora houvesse alguns indícios. Eu não tinha orientação, nem
conhecimento suficiente deste assunto para identificar uma com-
pulsão ou disfunção sexual apesar dos indícios. Ele era um vicia-
do sexual e eu nem imaginava que isso pudesse existir...
Algumas vezes meu esposo voltava para casa tarde e não
me dava muitas explicações. Mesmo assim eu não imaginava coi-
sas. Não era ciumenta. Acreditava em qualquer explicação que me
desse, principalmente quando envolvia seu trabalho ou familia-
res. O fato é que durante o namoro e o noivado, que ficamos a
maior parte do tempo distante, ele me traiu várias vezes. E depois
de casados, em mais de três ocasiões.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 1 : Nunca imaginei... • 27

Suas traições ocorreram durante nosso namoro, noivado e


nos primeiros 4 anos de casamento, mas só veio à tona mais 4
anos depois. Certa noite, quando já estávamos com 8 anos de ca-
sados, sentindo-se constrangido pelo Senhor e sem controle do
seu próprio desejo sexual, meu esposo resolveu me pedir ajuda,
entendendo que eu deveria ser a primeira pessoa a saber do seu
problema porque era a segunda mais afetada pelo seu vício. A
primeira pessoa afetada era ele mesmo, depois eu, por ser sua es-
posa. Logicamente havia afetado outras pessoas também, como
todas as mulheres com as quais se envolveu e seus maridos e fi-
lhos, quando se tratava de mulheres também casadas.
Eu não tinha qualquer experiência, nunca havia lido sobre o
assunto porque achava que não precisava e também não era curio-
sa nesta área. Quase posso dizer que tudo que aprendi sobre sexo,
antes disso tudo vir à tona, foi com ele, meu marido, infelizmente
de uma forma bem distorcida, o resto, aprendi de forma equivo-
cada também através da mídia e dos modelos errados que temos
visto como normais no mundo. Provavelmente por isso, nunca
imaginei que meu esposo tivesse problemas nesta área...
Talvez você se identifique com alguns de meus relatos, ob-
servando em seu marido comportamentos semelhantes e também
não tenha feito mau juízo, ou nunca fez até que veio à tona a in-
fidelidade dele, então, gostaria de encorajá-la a ler mais sobre o
tema compulsão sexual, pois em Oséias 4.6 está escrito: “Meu povo
foi destruído por falta de conhecimento...”
É preciso conhecermos o assunto para aprendermos a lidar
com questões relacionadas a ele, seja na nossa própria vida ou no
aconselhamento pastoral e ministerial.
O objetivo deste livro não é tanto trazer conhecimento sobre
o assunto vício sexual, mas ajudar as esposas vítimas da compul-
são sexual de seus maridos a lidar com a ferida tão dolorosa gera-
da pela traição.
Por enquanto, é preciso entender e aceitar que a exposição
do que estava oculto, já é o conhecimento básico necessário para
28 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

que se inicie o processo de cura. É como o diagnóstico médico de


uma enfermidade que precisa ser tratada. Enquanto o ­diagnóstico
não vem, o tratamento não pode ser prescrito ou iniciado e, mui-
tas vezes, para um diagnóstico completo, se faz necessária uma
investigação mais incisiva, um entendimento mais profundo do
que está acontecendo e é justamente sobre um conhecimento bási-
co necessário para entender a construção do vício sexual e a cura
de ambos os envolvidos, tanto do viciado quanto das pessoas afe-
tadas ao seu redor, que iremos discorrer mais adiante.
2
Ele contou voluntariamente
ou foi descoberto?

“Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto


que não venha a ser conhecido”. — Lucas 12.2

Há uma grande diferença entre se expor voluntariamente ou ser


exposto ou descoberto. A confissão voluntária, de forma que-
brantada, indica ser fruto do verdadeiro arrependimento.
A ­exposição acidental é um recurso de Deus para levar o homem
ao ­arrependimento.
Logo que me casei, eu costumava orar muito para que meu
esposo e eu nos entendêssemos melhor no que diz respeito ao rei-
no de Deus. Pedia que ele tivesse temor do Senhor e desejasse fa-
zer a obra de Deus comigo, servindo na igreja local como obreiro
também. Ele, porém, resistia bastante e houve uma época em que
comecei a insistir um pouco mais com ele e também em oração.
Lembro de pedir muito a Deus que colocasse em nossos
corações mais temor do Senhor. Em novembro de 2011, Deus me
deu uma palavra maravilhosa a nosso respeito. O Senhor me
prometeu que nos daria um só pensamento e uma só conduta
acerca do nosso ministério nos dando muito temor e nos firman-
do num propósito dEle (Jeremias 38.39-41). Firmemente me ape-
guei a esta palavra.
Cerca de 5 meses depois, no dia 6 de abril de 2012, depois
de eu insistir bastante com meu esposo que me ajudasse numa
campanha de evangelismo para um evento missionário em nos-
sa cidade, ele me chamou num quarto e me confessou os vários
30 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

adultérios, só que com uma contrição de espírito e uma demons-


tração tão sincera de arrependimento que me deixaram constran-
gida, além de surpresa e decepcionada, me explicando que por
isso não se sentia digno de servir na igreja como obreiro ou de sair
evangelizando pessoas.
Ele me contou voluntariamente. Acho que isso tornou as
coisas muito mais fáceis para mim e para ele também. A sua atitu-
de, a maneira como me contou ajudou na minha decisão de per-
doá-lo e continuar a caminhada com ele, mas não foi fácil. Ho-
nestamente, pensei durante mais de dois anos em me divorciar
dele. Não conseguia mais sentir alegria naquele casamento. Mas
lembrar de como tudo viera à tona, voluntariamente da parte dele
e com um pedido de perdão genuíno, além da disposição para ser
transparente e mudar, me faziam pensar que eu não tinha mais
esse direito ao divórcio, que não podia ser egoísta e não pensar
nos nossos filhos e na nossa família.
Procurei diligentemente qual seria a boa, perfeita e agradá-
vel vontade de Deus para nós (Romanos 12.2) e entendi que era
não só perdoar, mas continuar nossa jornada juntos e eu deve-
ria me esforçar para agradar a Deus e fazer sua vontade, que era
o melhor de Deus para mim. Eu só conseguia pensar que Deus
odeia o divórcio (Malaquias 2.16) e eu não queria entristecer o
Senhor, por pura dureza de coração, por causa do meu orgulho
ferido, uma vez que meu marido estava arrependido e disposto a
mudar, além disso, agir diferente disso só me destruiria.
Em Provérbios 28.13 está escrito: “Quem esconde os seus peca-
dos não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra miseri-
córdia”. Deus me fez entender que esta palavra estava se cumprin-
do na vida do meu esposo, que alcançara Sua misericórdia, e se
Deus, que é Santo o perdoou e o recebeu de braços abertos, quem
era eu para rejeitá-lo? Então comecei o meu processo de perdão
e reconciliação, que começa primeiro no nosso espírito e no nos-
so racional, como uma decisão e, depois, deve ser dito e repetido
sempre que necessário, por último ele, finalmente, vai alcançar a
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 2: Ele contou voluntariamente ou foi descoberto? • 31

nossa alma, as nossas emoções e vem para o nosso coração. É um


processo, pode levar anos... O meu levou mais de quatro anos.
Precisei muitas e muitas vezes ouvir o pedido de perdão
do meu esposo, de novo e de novo. Contar e recontar as histórias
entre nós e, por vezes, foi necessário investigar detalhes, verificar
as consequências, consertar coisas... Ele principalmente precisou
fazer caminho de volta, pedir perdão também a outras pessoas
que foram afetadas por seu comportamento. Precisei muitas vezes
expressar com palavras que o perdoava para que o perdão tam-
bém se tornasse de coração, caso contrário, me sentia atormentada
pelas lembranças e pensamentos.
Em Mateus 18.23-35, Jesus conta a parábola de um Rei que
acertou contas com seus servos e perdoou uma enorme dívida de
um deles que, ao sair da presença do bondoso Rei encontrou um
conservo que lhe devia uma quantia irrisória comparada à que
acabara de ser perdoada, mas que não teve a mesma misericórdia,
mandando prendê-lo até que lhe pagasse a dívida. Seus outros
conservos vendo isso contaram ao Rei que mandou que o chamas-
sem de volta. Veja o que diz em Mateus 18.32-35: “Então o senhor
chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque
você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo
como eu tive de você?’ Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até
que pagasse tudo o que devia. ‘Assim também lhes fará meu Pai celestial,
se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão’. ” Então eu me
lembrava da maravilhosa graça de Deus que experimentei e que
eu também devia oferecer graça, ainda que não fosse fácil.
Em Hebreus 12.15 está um alerta: “Cuidem que ninguém se ex-
clua da graça de Deus; que nenhuma raiz de amargura brote e cause per-
turbação, contaminando muitos”. Esta é a grande cilada de satanás
para tentar nos privar da graça de Deus, nos fazer cair em armadi-
lhas de ofensas e deixar brotar em nossos corações raízes de amar-
gura, como um veneno que nos contamina e ainda é c­ ontagiosa.
Meu esposo me feriu, mas também foi agente de cura na
nossa caminhada porque a maneira quebrantada como se com-
32 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

portou, reconhecendo o seu erro, disposto a fazer reparações, foi


muito importante para a restauração do nosso casamento, a nossa
reconciliação, além do meu perdão. Lembro que ele leu alguns
livros para mim, como o citado na introdução, o que também o
ajudou a entender a devastação em que deixou o meu coração.
Se o seu cônjuge não lhe contou voluntariamente, mas foi
exposto, ou até lhe contou, mas de forma hostil, falando de pro-
pósito para ferir você ainda mais, ou até mesmo a abandonou,
eu sinto muito. Posso imaginar o quão mais difícil é para você
tudo isso. Mas gostaria de encorajá-la a não desistir da sua cura e
restauração, porque o próprio Deus será o seu marido e vai con-
duzi-la à paz novamente. O Senhor, o seu Deus, em Isaías 54.4-6
diz o seguinte a você: “Não tenha medo; você não sofrerá vergonha.
Não tema o constrangimento; você não será humilhada. Você esquecerá
a vergonha de sua juventude e não se lembrará mais da humilhação de
sua viuvez. Pois o seu Criador é o seu marido, o Senhor dos Exércitos é o
seu nome, o Santo de Israel é seu Redentor; ele é chamado o Deus de toda
a terra. O Senhor chamará você de volta como se você fosse uma mulher
abandonada e aflita de espírito, uma mulher que se casou nova, apenas
para ser rejeitada”, diz o seu Deus”.
Posso mesmo imaginar como é difícil para você, principal-
mente se não percebe da parte do seu cônjuge arrependimento,
nenhuma intenção de mudar e reconquistar a sua confiança. Nes-
tes casos, é preciso tomar cuidado para não se submeter a uma
situação de opressão. Você não é obrigada a tolerar esse tipo de
comportamento. O próprio Deus, quando se trata da infidelidade
do seu povo, de Israel e Judá, cujo relacionamento era constan-
temente comparado a um casamento, confronta o povo e o cha-
ma ao arrependimento. Existe um caminho de renúncia aqui. É
preciso se posicionar, deixando claro que não concorda e nem irá
tolerar o comportamento sexual compulsivo de seu cônjuge, mas
que está disposta a perdoar e batalhar pela reconciliação de vocês
mediante a disposição dele de se arrepender, mudar suas atitu-
des, buscar ajuda se necessária, o que geralmente o é por se tratar
de um vício, para que seja dado um basta neste comportamento,
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 2: Ele contou voluntariamente ou foi descoberto? • 33

pois ele afeta diretamente o relacionamento íntimo de vocês, sem


o qual, vocês deixam de ser um casal.
O posicionamento do cônjuge cujo esposo ou esposa tem
problemas na sexualidade é fundamental até para o processo de
cura e restauração da sexualidade do seu parceiro. Quando falo
posicionamento é até mesmo a disposição de realmente sair do
relacionamento se o outro não decide mudar. O apóstolo Paulo
em I Coríntios 7.10-13 diz: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas
o Senhor, que a mulher não se separe do marido ​(se, porém, ela vier a
separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o
marido não se aparte de sua mulher. ​Aos mais digo eu, não o Senhor: se
algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele,
não a abandone; ​e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em
viver com ela, não deixe o marido”. Este consentimento de que fala
está relacionado à disposição de cumprir os votos de fidelidade e
cumplicidade no relacionamento, ainda que não seja cristão. Mais
adiante falaremos mais sobre o divórcio que certamente não é so-
lução, quero, porém, deixar claro que, em determinadas situações,
se não houver o risco de perder a família, o cônjuge com proble-
mas na sexualidade não vai se dispor a buscar ajuda e mudança.
Ao longo da minha caminhada nestes últimos três anos e já
trabalhando com aconselhamento de esposas com vivências se-
melhantes à minha, fora e dentro da missão, ou mesmo na igreja,
me deparei com diversas situações. Em alguns casos semelhan-
tes, houve o agravante do abandono e do divórcio. Os maridos
com problemas na sexualidade não estavam arrependidos, nem
dispostos a mudar e buscar a reconciliação com suas esposas.
Ao contrário, optaram por ficar com suas amantes. Não foi fácil
para estas esposas que até demonstraram disposição em receber
seus maridos de volta caso se arrependessem. Elas lhes deram
oportunidades para tal, porém, os mesmos estavam obstinados
na decisão que tomaram de deixarem os seus lares. Mas foi ma-
ravilhoso ver como Deus agiu em favor destas mulheres de fé
que hoje ainda vivem situações difíceis por causa do divórcio,
muitas com filhos que foram demais afetados pela decisão pater-
34 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

na. Quando, porém, essas mulheres olham para trás, para tudo
o que Deus fez e ainda está fazendo em suas vidas após o aban-
dono de seus maridos, como o Senhor as tem sustentado, não só
financeiramente, mas também em suas emoções, lhes fazendo
crescer e amadurecer, até mesmo se desenvolverem profissional-
mente, como mães, como mulheres e como tem sido Ele mesmo,
o Senhor, seus maridos, carinhoso e cuidadoso, pouco a pouco,
lhes restituindo de tudo aquilo que foram roubadas e até mes-
mo da admiração dos seus ex-maridos, já divorciados delas, mas
que hoje reconhecem as mulheres valorosas que abandonaram e
provavelmente se a­ rrependem.
Noutras situações, as esposas descobriram e forçaram a con-
fissão dos esposos. Até onde soubemos, não estavam sendo fáceis
seus processos de cura pessoal e restauração do casamento, por-
que não conseguiam descansar e esperar no Senhor. Quanto aos
seus esposos, também não pareciam genuinamente arrependidos
e dispostos a mudar e recuperar a confiança das esposas. É preciso
entender que isso não é um trabalho para ser feito por apenas um,
quando se deseja permanecer junto. Ambos têm que colaborar.
Um com a disposição de se quebrantar e mudar e o outro de per-
doar e de continuar junto na caminhada, sem acusações no futuro.
Além disso, não temos o poder de mudar o outro. É preciso
deixar que o outro trabalhe a sua própria mudança, com a ajuda
do Espírito Santo e cuidarmos nós de examinarmo-nos a nós mes-
mos e permitirmos que o Senhor também nos transforme no que
precisarmos melhorar no nosso relacionamento com nosso cônju-
ge. Somente a nossa própria mudança poderá ajudar na mudança
do outro. Precisamos tomar cuidado para não querermos ser o
“espírito santo” na vida do outro. Nós não mudamos ninguém,
mas a nós mesmos.
Ainda em outras situações, Deus foi maravilhoso agindo na
restauração que, mesmo depois de anos de divórcio e separação,
casais se casaram novamente! Em alguns casos, não chegando a
se divorciarem, os maridos voltaram para as famílias e pediram
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 2: Ele contou voluntariamente ou foi descoberto? • 35

as esposas de novo em casamento e fizeram novas festas de casa-


mento, renovando suas alianças.
Em outros casos, as esposas é que foram infiéis e Deus res-
taurou o casamento porque ambos, esposas e maridos, se sujeita-
ram a Deus e permitiram que trabalhasse em seus corações, tra-
zendo cura e restauração.
Também ouvimos histórias em que ambos foram infiéis um
com o outro na sua aliança de casamento, mas ao se sujeitarem a
Deus, foi possível restaurar o relacionamento, para a glória de Deus!
Tiago 4.4-10 diz o seguinte: “Adúlteros, vocês não sabem que a
amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do
mundo faz-se inimigo de Deus. Ou vocês acham que é sem razão que a
Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes?
Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz as Escrituras “Deus se
opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. Portanto, subme-
tam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se
de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e
vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. Entristeçam-se,
lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza.
Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará”.
Este é o grande segredo e o segundo passo para a cura: Sub-
meter-se a Deus! (Tiago 4.7) E também se sujeitem um ao outro,
marido e mulher, por temor a Cristo (Efésios 5.21), se desejarem a
restauração do casamento.
3
Lidando com a desilusão...

“Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida não passa de um sopro;


meus olhos jamais tornarão a ver a felicidade”. — Jó 7.7

Por que é tão difícil e dolorosa a traição?


A mulher, quando formada por Deus a partir do homem e
para o homem, foi feita de modo especial e único, justamente para
ser única. Deus não fez para Adão duas ou mais mulheres. Fez
apenas uma. Assim como existia apenas um homem para Eva.
Para o ser humano, especialmente para a mulher, a singu-
laridade é algo muito importante. Sentir-se única, a escolhida, é
uma necessidade emocional da mulher. Quando seu senso de sin-
gularidade é afetado pela revelação de um adultério, ainda mais
quando se trata de vários, é muito doloroso e prejudicial para suas
emoções. Afeta profundamente seu relacionamento consigo mes-
ma e com os outros ao seu redor. Mexe com sua autoestima, pois é
um abuso emocional terrível na sua alma, um trauma. Se ela já foi
uma mulher que sofreu outros traumas em sua singularidade, na
sua formação, na sua infância principalmente, isso pode ser ainda
mais difícil e doloroso.
Por muitas vezes, durante o nosso processo de perdão e re-
conciliação, eu disse ao meu marido que não acreditava mais que
conseguiria ser feliz, principalmente com ele novamente. Cheguei
a desejar morrer. Também lhe disse que preferia que ele tivesse
morrido a ter feito isso com o nosso “amor”. Eu me lembro de
logo no começo, no nosso primeiro ano de restauração, precisar
de muito aconselhamento, principalmente de ser ouvida. Ele me
confessava algo, eu me recuperava e logo depois vinham mais re-
38 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

velações. Ficava muito irada e revoltada. “Gostaria de nunca ter lhe


conhecido!”, costumava dizer, “Não fosse pelos nossos filhos”.
Precisei também de ajuda terapêutica. Procurei e me sujeitei
a esta ajuda. Inclusive, começamos a fazer terapia de casal e no
nosso processo isto foi fundamental. Se achar que também preci-
sa de ajuda terapêutica, procure, dê preferência a um ­profissional
cristão, que não despreze os princípios bíblicos e o caráter de Deus.
No nosso caso, teve um grande agravante. Meu esposo me
revelou ter tido um relacionamento com a esposa de um amigo
nosso em comum. Eu também a tinha como minha amiga. Eles
já tinham uma filhinha que costumava brincar com os nossos fi-
lhos quando os conhecemos. Meu esposo a engravidou e depois
disse para ela que não assumiria a criança, que mesmo que ela
trouxesse o caso deles à tona, não ficaria com ela, faria tudo para
salvar o nosso casamento. Então ela, não vendo outra saída, fingiu
estar grávida do marido dela mesma, que inocentemente assumiu
a criança como se fosse dele.
Eu também não sabia de nada. Quatro anos se passaram e
toda a história veio à tona quando meu marido me contou. Eu
conhecia a criança, cheguei a colocá-la no colo quando bebê e me
lembro de realmente tê-la achado muito parecida com meu espo-
so, mas ele e o nosso amigo eram parecidos, têm o mesmo tipo,
então, não desconfiei de nada. Só havia visto a criança uma única
vez, e depois nos mudamos daquela cidade. Fomos morar em ou-
tro Estado, bem distante.
Quando meu esposo me contou toda aquela situação, fiquei
muito brava. Ele havia recebido como filha a minha filha, cujo ge-
nitor era outro homem, mas não fora capaz de assumir a própria
filha, gerada com outra mulher, casada com outro homem, es-
tando ele já casado comigo! Quanta decepção! Quanta desilusão!
Meu herói havia se tornado um grande traidor! Traiu a mim, sua
esposa; ao seu amigo; abandonou grávida outra mulher e também
abandonou a sua própria filha, sangue do seu sangue.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 3: Lidando com a desilusão... • 39

Lidar com isso foi muito difícil para mim e eu não ia ser
cúmplice nesta história. Passamos quase um ano orando e pedin-
do a Deus direção de como fazermos para consertar as coisas, se
é que tinha conserto. Primeiro conversamos por telefone com a
esposa, para que ela mesma confessasse ao marido. Sabíamos por
experiência própria que seria mais fácil ele perdoá-la se ela mes-
ma lhe contasse, e com o coração sinceramente quebrantado e ar-
rependido, então a orientamos a proceder assim. Um dia depois
que ela contou ao seu marido, muito indignado e decepcionado,
ele aceitou falar comigo. Tentei acalmá-lo. Depois meu esposo
também falou com ele e o ouviu falar indignadamente. Meu espo-
so se dispôs a finalmente assumir a criança, mas ele não aceitou,
disse já ter se apegado à criança, que era sua filha afetivamente e
preferiu que as coisas permanecessem assim. Nós respeitamos a
sua decisão. Foi realmente muito nobre por parte daquele homem
decidir criar aquela criança como sua filha legítima.
Acho que pelo meu relato se pode imaginar o tamanho da
minha decepção e frustração com o meu esposo. Eu disse para
Deus que só queria meu casamento se fosse totalmente restaurado
e para um propósito nEle e para Ele. E desde então começamos
a trabalhar com restauração de outros casamentos. Romanos 8.28
diz: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles
que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”.
Também está escrito em II Coríntios 1.3-4: “Bendito seja o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda
consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que,
com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão
passando por tribulações”.
Tive também que aprender a lidar com a vergonha desta
história toda, de tudo o que aconteceu, de ter sido traída e ainda
permanecer casada com o homem que fez isso comigo e o medo
de ser considerada tola por permanecer neste casamento, de mui-
tas vezes ter que contar esta história para que servisse de testemu-
nho... e também não acreditava que teria alegria de novo em meu
casamento. Então o Senhor me deu mais uma palavra em Hebreus
40 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

12.1-3: “Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão
grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha
e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que
nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da
nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz,
desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.
Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si
mesmo, para que vocês não se cansem nem se desanimem”. Aqui Ele me
ensinou a lidar com a vergonha desprezando-a e também recebi a
promessa de ter a minha alegria no casamento de volta!
Mas o mais poderoso desta palavra foi lembrar que Jesus
passou por coisas muito piores por minha causa, por amor de
mim, para me salvar, Ele suportou a cruz, a vergonha da cruz,
a dor da cruz e Ele, seu exemplo, deve me ajudar a não cansar e
nem desanimar na carreira que me está proposta de trabalhar com
restauração de famílias, a começar pela minha própria família!
Algo também que foi necessário trabalhar em meu coração
foi a questão da minha responsabilidade sobre tudo o que acon-
teceu. É óbvio que a culpa pelo adultério não é do cônjuge traí-
do! Mas eu tinha alguma responsabilidade sim sobre tudo o que
houve comigo. Primeiro, não tomei o devido cuidado de procurar
conhecer bem o caráter do meu marido antes de me casar com
ele. Segundo, não busquei o conselho de Deus e dos meus líderes
quando o conheci e desprezei os alertas de meus pais sobre cuidar
para não me decepcionar novamente, além disso, não prezei pela
pureza sexual durante nosso namoro e noivado. No que diz res-
peito às atitudes do meu esposo de não ser honesto comigo, não
tenho culpa ou responsabilidade alguma.
Muitas esposas acham que podem evitar que seus maridos
“pulem a cerca” ou acham que quando eles fazem isso é porque
elas de alguma maneira contribuíram para isso, e passam a se
preocupar excessivamente com sua própria aparência física ou se
tornam possessivas e ciumentas. Mas não adianta. Isso pode até
piorar as coisas. Ainda que a esposa seja a mulher mais linda do
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 3: Lidando com a desilusão... • 41

mundo, extremamente prendada e temente a Deus, se o marido


tiver problemas de ordem sexual e fraqueza de caráter, ou uma
carência emocional desequilibrada, irá se envolver com imorali-
dade sexual. Então, quero que fique em paz sabendo que nada
do que você possa ter feito contra seu marido justifica ele feri-la
com pecados desta ordem, além disso, cada um de nós responde-
remos por nós mesmos diante do tribunal de Cristo (II Coríntios
5.10) e cada um é tentado pelo seu próprio mal desejo (Tiago 1.14).
Jamais a atitude errada de um servirá como justificativa pela res-
posta errada de outrem. Já dizia o pensador, “O importante não é
aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que
os outros fizeram de nós”. 4 Nossa resposta ao que nos fazem deve
ser sempre o perdão, qualquer coisa diferente disso é vingança.
Romanos 12.19 diz: “Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem
com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’,
diz o Senhor”. Precisamos aprender a entregar toda injustiça pela
qual passemos para aquele que julga retamente, tal como Jesus
fez. “Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças,
mas entregava-se àquele que julga com justiça”. I Pedro 1.23.
Houve situações em meu casamento em que foi necessário
passarmos um tempo longe. Por exemplo, um ano depois de casa-
dos ele foi transferido pela empresa em que trabalhava para outra
cidade e faltava apenas alguns meses para eu terminar minha fa-
culdade, então, concordamos que eu iria depois com minha filha,
até porque a empresa se dispôs a custear uma visita mensal do
meu esposo à família. Seu primeiro adultério depois que nos casa-
mos ocorreu neste período de afastamento. Houve quem dissesse
que seu lapso ocorreu devido a distância em que estávamos, mas
eu me mantive fiel apesar da distância, ou seja, não é a distância
entre duas pessoas que as fará serem desleais umas com as ou-
tras. Além disso, ele já havia sido infiel quando namorávamos e
estávamos noivos, o que indica que o motivo real estava na sua

4
Jean Paul Sartrê.
42 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

fraqueza de caráter, compulsão e vício sexual, além da carência


emocional desequilibrada e da sua falta de temor de Deus.
Muitos cônjuges passam por situações de não poderem ter
relações sexuais por motivos de saúde ou afastamentos necessá-
rios, como foi o nosso caso. Estas situações podem até dar mar-
gem para tentações, mas as Escrituras nos garantem que não vem
sobre nós nenhuma tentação acima do que podemos suportar, an-
tes Deus é fiel e nos dá o escape (I Coríntios 10.13). Nosso escape
era justamente o encontro mensal custeado pela empresa.
Em meu processo de perdão, precisei também lidar com o
meu orgulho ferido, com o meu EU que não queria ficar mais ao
lado de um homem que me decepcionou tão profundamente. En-
tão o Senhor pacientemente me deu muitas outras palavras como
a que está em Mateus 16.24 “Então Jesus disse aos seus discípulos: “Se
alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me”. Afinal, Ele transformou a minha cruz num fardo leve e
suave, num marido transformado e regenerado pelo Seu precioso
sangue e me convidou a aprender dEle que é manso e HUMILDE
de coração. Depois vamos falar mais sobre o perigo do orgulho na
restauração do casamento.
Foi essencial para minha recuperação entregar toda esta dor,
frustração e desilusão ao Senhor, aprendendo a cuidar de mim,
deixando que Deus cuidasse das minhas emoções e restaurasse o
meu coração, sem focar em mudar ou transformar o meu esposo,
mas focar na minha própria recuperação.
Durante minha caminhada de cura, tive a oportunidade
de acompanhar algumas mulheres com situações semelhantes. A
seguir, transcrevi mensagens que enviei a uma esposa que havia
acabado de descobrir a vida dupla do marido. Ele foi descoberto,
não lhe contou voluntariamente.
Uma amiga nossa em comum lhe deu meu contato e ela me
contou como estava se sentindo destruída, porém, ao invés de se
preocupar consigo mesma e buscar ajuda para si, estava tentando
salvar o marido. É preciso entender que não é assim que vamos
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 3: Lidando com a desilusão... • 43

vencer. Precisamos cuidar de nós mesmas num momento como


este. Com relação ao outro, podemos ajudar apenas intercedendo
e o entregando a Deus e confiando que, se veio à luz, é para curar.
Para preservar sua identidade, dei-lhe um nome fictício
aqui e não transcrevi seu desabafo, apenas a minha resposta.

Se lançando aos Pés de Jesus

Olá Lígia, graça e paz do nosso amado Pai...


Que as consolações do Espírito Santo estejam com você
neste momento tão difícil. Eu lamento pela sua dor... conheço-a
bem. Mas quero encorajá-la e animá-la afirmando que vai ces-
sar. Não será de um dia para a noite, mas cada dia se tornará
menos intensa até que não doerá mais e você experimentará o
renovo do Senhor.
Tenho uma história parecida com a sua... Há 4 anos,
quando estava com 8 anos de casada e também com 3 filhos,
meu esposo me confessou múltiplos adultérios, desde o nosso
namoro até 4 anos depois que nos casamos e, inclusive, a exis-
tência de uma filha gerada no seu último relacionamento ex-
traconjugal com uma amiga nossa em comum. Filha essa cujo
marido dessa nossa amiga assumiu como se fosse dele porque
também fora enganado...
Durante os 2 anos seguintes após esta confissão, agonizei
assim como está agora, porque por mais que conhecêssemos o
Senhor, eu desde a minha infância e meu marido desde o nosso
noivado, ele ainda não tinha experimentado a verdadeira con-
versão em Cristo Jesus, que consiste em matar o velho homem e
dar lugar ao novo homem, e passar a ter atitudes semelhantes às
de Cristo... Eu me vi sem saber como perdoar meu marido como
Cristo perdoa, e meu esposo sem saber como vencer sua lascívia
e vício sexual...
O que posso lhe dizer por enquanto Lígia é que é tempo
de se lançar aos pés de Jesus e clamar por misericórdia e conhe-
44 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

cimento para conseguir vencer esta tempestade... Trazer à luz


tudo que ainda estiver em oculto é o primeiro e grande passo da
parte de seu esposo, porém é também necessário que esteja arre-
pendido e verdadeiramente disposto a mudar... isso poderá tor-
nar necessário mudar radicalmente o estilo de vida, se ele estiver
disposto a realmente continuar casado com você e preservar a
família de vocês.... É muito importante que você se posicione,
deixando claro para seu esposo que não mais tolerará este tipo de
desonra em seu casamento, para o próprio bem e recuperação do
seu esposo... Ele precisa saber que corre o risco de perder a você
e aos filhos caso não decida mudar...
A compulsão sexual é um vício e precisa ser tratada como
tal... Oração e jejum não vão resolver se seu esposo não decidir
sair da cultura do vício, renovando seus hábitos e sua mente com
a meditação diária na Palavra de Deus e uma busca intensa pela
restauração de seu caráter em Cristo Jesus. Como vê, depende
muito mais de ação e força de vontade por parte dele...
Quanto a você, tem que cuidar de você mesma agora, não
se sujeitando a uma situação de opressão. Você não pode ajudar
seu marido. Somente Deus e seu próprio marido podem. Você
pode colaborar apenas estando disposta a perdoar, perdão este que
somente Deus poderá ajudá-la a conceder. Interceda por seu es-
poso no sentido de que ele esteja disposto a se deixar ser tratado.
Hoje o meu marido é um ministro de Deus e ajuda ho-
mens e mulheres com dificuldades na sexualidade... Se seu espo-
so quiser, ele poderá ajudá-lo. Mas a premissa é seu marido que-
rer ajuda... Ele mesmo deve procurar o Paulo se quiser... apenas
passe o contato para ele.
Gostaria de lhe recomendar a leitura do livro de Kathy
Gallagher: Quando o Pecado Secreto dele Despedaça o seu Cora-
ção. Estarei orando por você. Precisando, estou à sua disposição.

 Com carinho, Railca.


– PARTE I – A descoberta | Capítulo 3: Lidando com a desilusão... • 45

Naquela mesma semana, seu esposo continuou confessando-lhe


mais situações e ela novamente me procurou muito decepciona-
da. Deus estava trabalhando, trazendo tudo à luz. Para o mari-
do, estava sendo libertador, mas para a esposa, muito doloroso.
Porém, ela continuava focada na recuperação do seu marido, em
tratar o vício sexual e os desvios de caráter dele, descuidando-se
de si mesma, sem dormir, nem mesmo comer direito, o que até é
natural em dias de tristeza, mas é preciso reagir.
Ela também tinha dúvidas sobre a intimidade como casal,
porque isso certamente também é afetado. Mas é preciso com-
preender que entre o casal, o sexo é abençoado por Deus e deve
uni-los cada vez mais, de modo que, no processo de cura e recu-
peração do casamento, dentro dos limites emocionais exigidos é
claro, é bom que o casal continue tendo intimidade sexual. Então,
lhe respondi:

Aprendendo a Descansar e Confiar no Senhor

Oi Lígia...
Procure se acalmar, entregar tudo ao Senhor e descan-
sar... você já está lendo o livro que lhe recomendei? Esqueça um
pouco o seu esposo e foque em sua própria recuperação agora...
Deixe que Deus cuidará dele e confie...
Você é totalmente impotente com relação ao seu marido
então não adianta tentar mudá-lo... Cuide de você mesma. Está
ferida e precisa se recuperar desta tão grande decepção...
Por favor, medite em Hebreus 12.1-15 e entre no descanso
do Senhor, que é Cristo, meditando depois também em Hebreus
4.1-13... Não queira ser o Espírito Santo na vida do seu esposo...
Enquanto estiver fazendo isso, poderá estar atrapalhando o tra-
balho de Deus nele ao invés de ajudando...
Descanse no Pai sabendo que cuidará de tudo. De você e
dele. Foque agora em você mesma, na cura e restauração do seu
coração... procure se alimentar e dormir melhor... Confie no Se-
46 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

nhor de todo o seu coração e não no seu próprio entendimento...


Faça o que está em Provérbios 3.5-6.
Seu esposo falou sim com o meu pedindo ajuda, e Paulo,
meu marido, se dispôs a ajudar, mas está respeitando o tempo
e o modo de Deus, e também a disposição do seu marido de se
deixar ajudar. A única coisa que você pode fazer agora por seu
esposo é pedir a Deus que quebrante seu coração para que se
deixe ajudar e que ele dê frutos do verdadeiro arrependimento.
Se isso não acontecer, você precisa estar disposta a dar um basta
no relacionamento de vocês. Se ele não se tratar, não se arrepen-
der de coração e abandonar a compulsão sexual, você não deve
continuar com ele.
Sobre vocês terem relações sexuais agora, respeite seus
limites. Mas se você desejar, é importante que mantenham con-
tato sexual sim, porque isto aproxima vocês, os une, como deve
ser no relacionamento conjugal, dentro do casamento, mas só
faça se se sentir bem.
 Beijos. Estamos orando por vocês.
Railca

Manter relações sexuais durante o processo de cura e restauração


do casamento é de extrema importância, pois a relação sexual en-
tre um casal aliançado pelo casamento, ou seja, debaixo da benção
de Deus, é algo poderoso no mundo espiritual que une o casal e
o fortalece. No Novo Testamento (Efésios 5.22), o relacionamento
da igreja com Cristo é comparado a um casamento e o momento
mais íntimo e santo neste relacionamento são as cerimônias de
santa ceia do Senhor, que têm a finalidade de nos fazer lembrar
do ato de Jesus na cruz que nos firmou numa nova aliança com
Ele (I Coríntios 11.24-25), aliança de sangue para nos salvar e nos
reconciliar com o Pai.
Da mesma maneira, o ato sexual entre o casal é o momento
mais íntimo entre eles para lhes fazer lembrar da aliança de san-
gue que tem um com o outro, renovando-a e fortalecendo este vín-
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 3: Lidando com a desilusão... • 47

culo entre os dois. A cama do casal é o lugar santo deste relacio-


namento, e deve ser como um altar de consagração do casamento
a Deus, conservado puro (Hebreus 13.4). É bom que o casal possa
estar orando e consagrando sempre este lugar para que tenham
plena comunhão como casal.
Apenas alguns dias se passaram e Lígia ainda estava se des-
cuidando de si mesma. É muito importante o cuidado de si mesma
quando se passa por uma decepção com o pecado sexual de seu
companheiro. Lígia me procurou novamente dizendo que até mes-
mo seu marido já havia notado seu estado e comentado que estava
preocupado e se sentindo culpado. Então, mais uma vez respondi
sobre a importância de cuidar de si neste momento tão difícil. Veja:

O Cuidado Consigo Mesma

Olá Lígia!
Sobre seu esposo já estar observando seu estado e estar
constrangido com tudo, é um fruto do verdadeiro arrependimen-
to... Graças a Deus por isso! Mas é preciso que reaja para saúde
do seu corpo e emoções. Procure realmente se alimentar melhor
e dormir também.
Também a aconselho a se arrumar. Você já é linda por
natureza, vejo pelas suas fotografias, então basta se esforçar um
pouquinho para ficar maravilhosa! Isto inclusive vai ajudar no
seu senso de singularidade, de única para Deus e também para o
seu marido! Você é ÚNICA! Princesa preciosa do Pai e a rainha
do seu esposo! Ele finalmente vai respeitar isso agora! Então se
arrume, fique mais linda ainda! Vai até deixa-lo com ciúmes e
fazê-lo voltar a admirar e desejar cada vez mais você...
Alegre-se pelo que Deus está fazendo! Ele está resgatando
um homem das trevas para sua maravilhosa luz! Há festa no céu!

 Beijinho, Railca.
48 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

É claro que é muito difícil num momento como este uma esposa
se arrumar, principalmente se está vivendo seu luto, sua perda,
sua dor, que são necessários no processo de perdão. Quando esta
tristeza não vem, pode ser sinal de orgulho e falta de perdão, de
se estar sufocando a dor, o que não é saudável e pode levar a uma
situação de amargura. Mas também não pode ser uma tristeza que
persiste por muito tempo, porque pode virar uma depressão ou
algo mais sério ainda, trazendo enfermidades para o corpo, além
de sérios desgastes para as emoções.
Contudo, numa situação em que o cônjuge adúltero está
demonstrando verdadeiro arrependimento e disposição de mu-
dar, levante os seus olhos e veja o que Deus está fazendo. Ele está
restaurando o seu casamento, tornando-os, você e seu esposo, fi-
nalmente cúmplices de um amor que anda em verdade e transpa-
rência. Seu esposo está finalmente se desnudando diante de você,
uma nudez na sua alma, se dando a conhecer a você de verdade,
como deve ser entre um casal desde o princípio.
Em Gênesis 2.25 diz: “O homem e sua mulher viviam nus, e não
sentiam vergonha”. Acredito que esta nudez não se refere apenas ao
corpo físico, mas principalmente a nudez de alma. Homem e mu-
lher não tinham vergonha de mostrarem a sua essência um para o
outro, seus medos e dificuldades. Este é o plano original de Deus
para o casamento e o leito sem mácula, um relacionamento em
que não existem motivos para sentirem vergonha, porque tudo já
está exposto.
4
Preciso de ajuda!

“O caminho do insensato parece-lhe justo, mas o sábio ouve


os conselhos”. — Provérbios 12.15

Numa situação delicada em nossas vidas, às vezes é muito difícil


reconhecermos que precisamos de ajuda e admitirmos que não
conseguimos sozinhos. Lembro-me de demorar a reconhecer que
precisava de ajuda para perdoar, mas quando finalmente reconhe-
ci, fui muito ajudada, principalmente por meu próprio marido.
Durante um ano tentamos sozinhos, com aconselhamen-
tos muito eventuais de nosso pastor e de um casal que conhe-
cemos na época, em uma base da JOCUM – Jovens como uma
Missão, uma organização missionária presente em mais de 170
países do mundo.
Nossa filha Raissa Julie já iniciava sua adolescência nesse
período e foi a mais afetada pelo desgaste que estava ocorrendo
em nosso relacionamento conjugal. Ela começou a dar algum tra-
balho na escola. Seu rendimento escolar não caiu, mas seu com-
portamento se tornou bastante agressivo e desrespeitoso com a
equipe pedagógica da escola. Como era aluna antiga, eles logo no-
taram que havia algo de errado e mandaram nos chamar para ten-
tar entender o que estava acontecendo com a nossa Raissa Julie.
Fomos então orientados pela sua pedagoga a procurar aju-
da terapêutica para ela. Quando começamos a levá-la, a terapeuta
disse que nós também deveríamos buscar ajuda e nos indicou a
terapia de casais. Começamos a fazer terapia também, isso quase
2 anos depois de tentarmos vencer praticamente sozinhos toda
aquela situação.
50 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Nesta mesma época, decidimos fazer parte da JOCUM por-


que entendemos que Deus daria um novo sentido para o nosso ca-
samento. Decidimos fazer juntos a Faculdade de Aconselhamento
e Saúde na Universidade das Nações, cujos campus no Brasil ficam
localizados nas diversas bases da JOCUM, praticamente em todas
as capitais e também em algumas cidades do interior de cada Es-
tado do Brasil.
Nosso foco de cura e treinamento é na área de influência da
sociedade que é a família, como missionários em tempo integral.
Isso tudo veio para mim como resposta àquelas minhas orações
em que pedia que meu esposo também tivesse o desejo de servir
ao Senhor como obreiro em sua grande seara.
Assim, continuamos com o nosso próprio processo de Cura
e Restauração de nossas almas e do nosso casamento e também
de preparo para o Ministério com Restauração de Famílias, en-
tendendo que com a mesma consolação que recebemos em nossa
tribulação, deveríamos consolar os que passam por lutas seme-
lhantes, conforme está escrito em II Coríntios 1.3-4.
Deus nos deu também uma palavra sobre isso em Oséias
6.1-3: “Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despedaçou, mas nos
trará cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas. Depois de dois dias
ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia nos restaurará, para que
vivamos em sua presença. Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por co-
nhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como
as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra”.
O Senhor nos convidou a conhecermos mais dEle, a nos
esforçarmos mesmo para conhecê-lo, e nos prometeu cura e res-
tauração a partir disso. Recomendo que também busque conhecer
mais o Senhor, o seu Deus. Esforce-se para isso.
Na JOCUM, onde fomos tratados por Deus, além de treina-
dos e capacitados para o ministério, primeiramente se é convida-
do a passar pelo seu próprio processo de cura e restauração, de
aprendizado e prática, para só depois se tornar apto para ensinar,
conforme Esdras 7.10: “Pois Esdras tinha decidido dedicar-se a estudar
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 4 : Preciso de ajuda! • 51

a Lei do Senhor e a praticá-la, e a ensinar os seus decretos e mandamentos


aos israelitas”.
Reconhecer que eu precisava de ajuda e buscar esta ajuda
foi o terceiro grande passo para o meu processo de cura e restau-
ração e também para encontrar a ajuda de que eu tanto precisava.
O Senhor espera que peçamos a sua ajuda e aceitemos ser
ajudados por Ele. Tudo o que deseja é que nos deixemos ser cura-
dos por Ele e a única coisa que pode nos impedir de buscar ajuda
é o orgulho. Precisamos estar alertas quanto a isso porque o nosso
orgulho poderá se tornar a nossa ruína.
Quando estava fazendo uma das escolas na JOCUM, par-
te da grade curricular da Faculdade de Aconselhamento e Saúde,
Deus me levou a examinar em minha vida até que ponto eu estava
sendo orgulhosa no meu processo de cura e restauração, apesar
de já passados quase três anos ainda havia grandes resistências
em mim para a reconciliação plena com meu esposo.
Até mesmo fisicamente eu estava sofrendo com enfermida-
des, o meu corpo estava refletindo isso.
Naquela época, estava fazendo vários exames médicos por-
que havia uma situação em meu útero que médico nenhum con-
seguia diagnosticar. Sentia dores terríveis no meu período e num
determinado mês, eu senti até mesmo fora do período menstrual.
Cheguei a ir à emergência ginecológica de 2 a 3 vezes por semana
e tomava diversas medicações, mas nada se resolvia. Isso tudo, já
mais de três anos após começar nosso processo de cura e restau-
ração e quando já até estávamos trabalhando com o Ministério de
Restauração de Famílias.
Em uma determinada noite, naquele mês de visita hospi-
talar semanal, eu senti que não voltaria com vida e insisti na mi-
nha internação. Sentia dores terríveis. Era uma noite de sexta-feira
quando lá cheguei e na madrugada do sábado a médica plantonis-
ta disse que não me deixaria sair dali sem descobrir o que eu tinha
e me submeteu, então, a diversos exames de sangue, até mesmo
de gravidez ectópica (uma gravidez que se desenvolve fora do
52 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

colo do útero, geralmente numa trompa de falópio) que não ofe-


receram qualquer laudo conclusivo. A médica também solicitou
uma ecografia, que só foi feita na noite de sábado e tampouco
indicou qualquer anomalia. O médico que realizou o exame em
mim ficou impressionado e se dispôs a abrir meu abdômen, se eu
quisesse, para averiguar o que ocorria. Então pedi que passasse
algum outro exame, que fosse mais preciso, para não me abrirem
sem uma informação mais assertiva, foi quando ele solicitou uma
tomografia computadorizada do meu abdômen para o dia seguin-
te e finalmente me internaram.
Já era quase madrugada de domingo quando me interna-
ram e eu gemia de dor naquele hospital, mesmo medicada. Minha
pressão estava baixíssima, mas eu não tinha febre. Meu esposo foi
para casa porque estava ali comigo desde sexta à noite e as crian-
ças tinham ficado sozinhas em casa com uma amiga que estáva-
mos hospedando havia apenas 3 dias. Orei ao Senhor clamando
por misericórdia, que se quisesse, podia me levar, mas que não me
deixasse morrer com alguma pendência em meu coração.
Somente na tarde do domingo fui levada para o exame. Es-
tava utilizando o serviço público de saúde do meu país, que é
bastante precário, pois como missionária, fazendo um serviço vo-
luntário, não tinha muitos recursos.
Pouco tempo depois que realizei aquele exame, me busca-
ram na enfermaria do hospital onde estava alojada, para uma ci-
rurgia de urgência, porque o exame constatou que meu abdômen
estava tomado de secreção. O diagnóstico inicial era apendicite,
porém, ao abrirem meu abdômen, viram meu ovário esquerdo
com um abcesso estourado, era um cisto roto e não havia mais
como salvar o ovário e a trompa esquerda. Eles também retiraram
o apêndice, por precaução, porque havia secreção por todos os
órgãos, que precisaram ser lavados. Abriram-me uma ferida de
quase 15 centímetros, contornando meu umbigo, até a pelve.
Quando acordei na madrugada de segunda-feira e soube
o que havia acontecido, eles diziam no hospital que eu não teria
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 4 : Preciso de ajuda! • 53

passado daquela noite se não tivesse sido operada. Vi o tamanho


da ferida em meu abdômen e me lembrei da Palavra em Oséias
6.1. Aquela ferida fora aberta para retirarem de dentro de mim
algo que estava me destruindo em silêncio e era fatal. Aquilo
também era o que estava acontecendo em meu casamento. Eu
não sabia, mas meu casamento estava morrendo e Deus agora
estava nos salvando e nos dando uma nova vida, um novo casa-
mento e eu precisava me alegrar por isso, porque a imoralidade
sexual de meu marido antes estava destruindo nosso casamento
e agora, a minha decepção mal resolvida em meu coração estava
me m­ atando!
Eu estava no meio do prático da Escola de Aconselhamen-
to ao Comportamento Viciado, em JOCUM, quando tudo isso
aconteceu. E foi justamente no teórico desta escola, um ano an-
tes, que Deus havia ministrado muito ao meu coração sobre a
necessidade de matar o meu orgulho ferido, que insistia em me
deixar decepcionada e não ver o que Deus estava fazendo, me
dando um novo casamento.
A narração bíblica é recheada de histórias onde a queda e
destruição de homens foi precedida por manifestações de orgu-
lho. Em seu livro O PODER DA HUMILDADE, Steve Gallagher5
exemplifica a história do rei Uzias registrada em II Crônicas 26.16-
21. Temos também a história de Nabucodonosor registrada em
Daniel 4. E o que levou estes reis tão respeitáveis a se tornarem
“infiéis” diante do Senhor, ao ponto de serem levados a cair das
alturas do poder e da glória humana e, um deles ser forçado a vi-
ver o resto de sua vida como um velho solitário, condenado a uma
casa de leprosos e o outro, a passar um tempo como um animal
irracional? O ORGULHO.

As escrituras não deixam dúvidas da posição de


Deus em relação ao orgulho. Salomão diz que ter “olhos alti-

5
Steve Gallagher é o Presidente do Pure Life Ministries. Ele é um escritor prolífico, sendo o
autor de 12 livros, incluindo o best-seller No Altar da Idolatria Sexual.
54 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

vos” é uma abominação ao Senhor (Provérbios 6.17). Isaías


escreveu que, quando o Senhor se manifesta, “...a arrogância
do homem será humilhada e o orgulho dos homens será abati-
do; só o Senhor será exaltado naquele dia” (Isaias 2.17). Jesus
disse que “quem a si mesmo se exaltar será humilhado” (Ma-
teus 23.12). Tiago disse que “Deus se opõe aos orgulhosos.”
(Tiago 4.6 - NVI). Em Salmos, o próprio Deus disse “Não
vou tolerar o homem de olhos arrogantes e de coração orgulhoso”.
(­Salmos 101.5b - NVI).6

Steve Gallagher continua sua narrativa dizendo que “o con-


ceito de auto exaltação forma a base para uma definição de orgulho: Ter
um conceito exagerado de sua própria importância e uma preocupação
egoísta com seus próprios direitos. É a atitude que diz: ‘Sou mais im-
portante que você e, se necessário, irei promover minha causa e proteger
meus direitos em detrimento dos seus’”.
E conclui dizendo que “O orgulho é o princípio governamental
do inferno e do mundo não-redimido que está sob sua influência”.
Outro ministro de Deus certa vez escreveu:

O orgulho foi o pecado que transformou Satanás,


um anjo ungido, em um ser maligno e amaldiçoado. Sa-
tanás conhece melhor que ninguém o poder destruidor do
orgulho. Seria de se estranhar, então, que ele utilizasse isso
para envenenar os cristãos? Seu propósito se torna mais fá-
cil quando o coração do homem já apresenta uma tendên-
cia natural para isso.7

O Reino de Deus, porém, é o oposto. Governado por um


cordeiro sem mácula, que Se permitiu ser sacrificado em favor dos
outros, “manso e humilde de coração” (Mateus 11.29). A mentalidade

6
Steve Gallagher. O Poder da Humildade. Página 13
7
William Gurnall. The Christian in Complete Armour, Vol. 1, The Banner of Trust, Carlisle,
PA, 1988.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 4 : Preciso de ajuda! • 55

que deve direcionar os que seguem a Jesus é a de humildade, mas


o orgulho é tão sutil que muitos pensam que não possuem. Na
realidade, quanto mais orgulho temos, menos consciente somos
da presença dele.
Pedro admoesta aos cristãos da igreja primitiva: “Portanto,
humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele os exalte no
devido tempo”. I Pedro 5.6
Há uma grande relação do orgulho com os vícios. Steve Gal-
lagher escreve o seguinte:

A vida é uma longa jornada, feita por milhões de


decisões diárias. A caminhada de uma pessoa pode ser al-
terada a qualquer momento, mas quanto mais avançamos
em uma determinada direção, mais inclinados estaremos a
permanecer nela. Assim como um vício de drogas ou ati-
vidade sexual, o orgulho pode dominar de tal forma uma
pessoa que é capaz de ditar todo o curso de sua vida. Isso,
por sua vez, o coloca em um ciclo vicioso que se tornará
cada vez mais difícil de ser quebrado.8

Ele também diz que “o orgulho é a solução do maligno para


a dor emocional” e que “quanto mais alguém se entrega ao orgulho,
mais o orgulho irá exigir dele”, o que são características de um vício.
Fiquei impressionada com esta definição de orgulho, totalmente
nova para mim: o orgulho como um vício. Achava que o orgulho
fosse um sentimento e que o mesmo inclusive estivesse presente
em todo viciado, no entanto, esta nova abordagem me leva a crer
que, assim como muitos outros vícios se tornam periféricos de um
vício dominante, também é o orgulho, e talvez este seja um dos
principais vícios dominantes
Pude perceber como o orgulho pode me cegar quanto à mi-
nha verdadeira condição espiritual e distorcer minha perspectiva

8
Steve Gallagher. O Poder da Humildade. Página 29.
56 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

de mim mesma e dos outros, e como também pode me impedir de


ter um relacionamento íntimo com Deus.
É somente quando desisto de defender meu ego que o or-
gulho pode ser trabalhado e Jesus pode ser glorificado em minha
vida, através desta arma poderosa que é a humildade. Ele mesmo
disse: “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou
manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas
almas”. (Mateus 11.29 – NVI)
Ele também afirmou: “Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o Reino dos céus”. (Mateus 5.3 – NVI)
Então decidi, a partir dali, olhar meu esposo com amor, não
mais com decepção e a mim mesma com misericórdia, porque me
dei conta do quão miserável e frágil também sou, de modo que
posso ter minha vida e fé levadas, se não aprender a mansidão e
humildade de coração do mestre.
5
O Divórcio seria a Solução?

“’Eu odeio o divórcio’, diz o Senhor, o Deus de Israel, ‘e também


odeio homem que se cobre de violência como se cobre de roupas’,
diz o Senhor dos Exércitos. Por isso, tenham bom senso; não
sejam infiéis”. ­­— Malaquias 2.16

Deus sonhou com a família, quando planejou o homem e o formou


conforme Genesis 1.27-28b: “Criou Deus o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e
lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! ’”
Deus não planejou o divórcio, que é sinônimo de projeto
de família frustrado e Deus não planejou a família para ser um
projeto frustrado.
Segundo este versículo em Malaquias 2.16, citado no início
deste capítulo, para Deus só existem dois motivos plausíveis para
o divórcio: a infidelidade e a violência.
São do caráter de Deus o compromisso e a fidelidade, além
do afeto e respeito pela integridade física do outro, pois Deus criou
o homem e a mulher, o casamento, para ser uma aliança de amor,
afeto, lealdade, fidelidade: um compromisso de amor. Quando
um dos cônjuges descumpre o seu voto, o outro tem a liberdade
de decidir o que fazer, pois a aliança foi quebrada. Isaías 50.1 diz o
seguinte: “Assim diz o Senhor: Onde está a certidão de divórcio de sua
mãe com a qual eu a mandei embora? A qual de meus credores eu vendi
vocês? Por causa de seus pecados vocês foram vendidos; por causa das
transgressões de vocês sua mãe foi mandada embora”. E Jeremias 3.8:
“Viu também que dei à infiel Israel uma certidão de divórcio e a mandei
embora, por causa de todos os seus adultérios. Entretanto, a sua irmã
58 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Judá, a traidora, também se prostituiu, sem temor algum”. Nestes tex-


tos vemos que o próprio Deus se divorciou de suas esposas infiéis,
porque não houve disposição de arrependerem-se e se voltarem
para ele com compromisso de amor e fidelidade.
O que fazer agora, depois de vir à tona a infidelidade conju-
gal? O divórcio seria uma opção ou mesmo a solução?

5.1 O DIREITO AO DIVÓRCIO


Ninguém está obrigado a se subjugar a uma relação ou
casamento onde não há, de ambas as partes, o compromisso de
amor e respeito, porém, como na história de Oséias9 e da relação
de Deus com o seu povo no antigo testamento, não deve ocorrer o
divórcio por falta de misericórdia, mas somente pela falta do arre-
pendimento, que significa mudança de atitude por parte daquele
que estiver sendo desleal ou violento, ou seja, só há uma chance
de evitar o divórcio, é quando o cônjuge que quebrou o seu voto
verdadeiramente se arrepende e busca o perdão e a reconciliação.
Para tanto, ele deve também reconhecer que precisará reconquis-
tar o amor e a confiança do outro. A renovação dos seus votos. E
este talvez seja o maior desafio.
Jesus, no novo testamento, enfatiza a questão do perdão.
Mas é interessante notar que para que haja a reconciliação, se faz
necessário o arrependimento e abandono da prática errada pela
parte ofensora. Em Mateus 18.15-17 Ele diz “Se o seu irmão pecar
contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você
ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois
outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento
de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja;
e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publi-
cano. Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido
ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado

9
Profeta da história antiga de Israel cuja vida familiar é contada no livro de Oséias, na Bíblia
Sagrada, como exemplo vivo da relação de Deus com seu povo naquela época, em que o
povo estava se prostituindo com outros deuses.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 5 : O Divórcio seria a Solução? • 59

no céu”. Ou seja, se o outro não está disposto a se arrepender, o


relacionamento pode ser desligado aqui na terra e assim também
o será no céu.
O perdão é uma ordenança de Deus, mas a reconciliação,
ou seja, voltar a tratar o outro como antes, está condicionada ao
arrependimento do ofensor.
Este texto se refere a qualquer tipo de pecado, erro ou ofen-
sa. E “tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado no
céu”, se refere também ao casamento.
Mais especificamente sobre o divórcio, Jesus se posicionou
em várias ocasiões e em duas disse: Mateus 5.31-32: “Foi dito:
‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de di-
vórcio’, mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher,
exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem
se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério”. E outra
vez em Mateus 19.4-9: “Ele respondeu: Vocês não leram que, no princí-
pio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem
deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só
carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o
que Deus uniu, ninguém separe. Perguntaram eles: ‘Então, por que Moi-
sés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora?
’ Jesus respondeu: Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas
mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim
desde o princípio. Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua
mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher,
estará cometendo adultério”.
Jesus deixa claro que o divórcio não pode acontecer por
qualquer ofensa e também que Deus jamais planejou o divórcio.
Trata-se de uma última alternativa quando não há arrependi-
mento e, portanto, a reconciliação. Mas o perdão, ainda que não
haja a reconciliação, é necessário, pois sempre devemos estar
prontos a perdoar e como dito antes, traz cura e restauração para
quem foi ofendido, independentemente do arrependimento do
outro ou não.
60 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Quando Jesus diz “Moisés permitiu que vocês se divorciassem


de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês”, está se refe-
rindo tanto à dureza de coração em não se arrepender do pecado,
quanto à dureza de coração de não querer perdoar a ofensa, ou
seja, do orgulho ferido. Porém, infelizmente, o que vemos mais
hoje em dia é a falta do verdadeiro arrependimento dos ofensores,
pois dificilmente alguém verdadeiramente arrependido não con-
segue o perdão.
O Apóstolo Paulo também fala sobre este assunto em I Co-
ríntios 7.10-16: “Aos casados dou este mandamento, não eu, mas o Se-
nhor: Que a esposa não se separe do seu marido. Mas, se o fizer, que
permaneça sem se casar ou, então, reconcilie-se com o seu marido. E o
marido não se divorcie da sua mulher. Aos outros, eu mesmo digo isto,
não o Senhor: Se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe a viver
com ele, não se divorcie dela. E, se uma mulher tem marido descrente, e
ele se dispõe a viver com ela, não se divorcie dele. Pois o marido descrente
é santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por
meio do marido. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas ago-
ra são santos. Todavia, se o descrente se separar, que se separe. Em tais
casos, o irmão ou a irmã não fica debaixo de servidão; Deus nos chamou
para vivermos em paz. Você, mulher, como sabe se salvará seu marido?
Ou você, marido, como sabe se salvará sua mulher?”
Mais uma vez se confirma que quem quer viver em santi-
dade, não está obrigado a permanecer com quem está em pecado,
ou seja, se seu cônjuge, crente ou não crente, está em pecado se-
xual, em prostituição e adultério, cometendo imoralidade sexual,
você é livre para separar-se dele, caso ele não esteja disposto a se
arrepender e mudar, até porque há um risco de que este atrapalhe
a sua comunhão com Deus, como diz o texto. Deus deseja que
vivamos em paz e não angustiados. Agora se seu cônjuge, ainda
que não crente, tem aliança, compromisso com você e não vive em
pecado sexual, você o santifica e as chances de ele crer no Senhor
são enormes!
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 5 : O Divórcio seria a Solução? • 61

5.2 OS DEVERES CONJUGAIS


O Apóstolo Paulo em I Coríntios 7.3-5 fala algo importante
sobre os deveres conjugais, ou seja, a relação sexual do casal no
casamento, que eu gostaria de enfatizar. O texto bíblico diz: “Aos
casados dou este mandamento, não eu, mas o Senhor: O marido deve
cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma
forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade
sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido
não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se
recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo
tempo, para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que
Satanás não os tente por não terem domínio próprio”.
Trazer a relação sexual simplesmente desta maneira parece
impô-la como uma obrigação, no entanto, acredito que este texto
está nas Escrituras como forma de combater situações cujos mari-
dos ou esposas estejam negligenciando seus cônjuges nesta ques-
tão, como também para combater situações em que o sexo entre
o casal esteja sendo utilizado como forma de manipulação, para
se obter algo em troca, o que seria prostituição, ou a negação do
sexo como forma de punir o outro. Este texto das Escrituras, vem
desaprovar este tipo de comportamento.
Porém, muitos maridos ou até mesmo esposas e doutrinas
de algumas igrejas tem interpretado mal este texto, utilizando-
-o muitas vezes para forçar os cônjuges a terem relações sexuais
mesmo não estando em condições físicas e/ou emocionais. É pre-
ciso entender que Paulo escreveu isto para evitar manipulação,
ou seja, que por qualquer motivo se negue a ter relações sexuais
com o cônjuge. O sexo dentro do casamento é a maior expressão
de amor e afetividade, é o momento mais íntimo e profundo do
relacionamento, pois o fortalece, por isso Paulo recomenda que
não se recusem um ao outro por motivos banais, até porque, ele
também alerta, o inimigo vai se aproveitar de toda e qualquer si-
tuação para separar o casal, visto que o casamento é algo santo
diante de Deus.
62 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

O Apóstolo Paulo também diz em Efésio 5.21-30 sobre como


deve ser o tratamento entre os cônjuges: “Sujeitem-se uns aos ou-
tros, por temor a Cristo. Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido,
como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo
é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim
como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo
sujeitas a seus maridos. Maridos, ame cada um à sua mulher, assim como
Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a pu-
rificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si
mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante,
mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar cada
um à sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama
a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo,
antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois
somos membros do seu corpo”.
É importante notar como este texto começa: “Sujeitem-se uns
aos outros, por temor a Cristo”. Ou seja, não é só a mulher que deve
se sujeitar, mas ambos um ao outro, por temor a Cristo. É claro
que o marido é o cabeça, o líder, mas o modelo de liderança do
Reino de Deus é o da liderança que serve, que ama, que protege.
Veja como Jesus liderou os seus discípulos. Toda mulher diante de
uma liderança que a faça se sentir amada, provida e protegida, vai
se submeter fácil e naturalmente, porque não se sentirá oprimida,
mas suprida e segura, física e emocionalmente. A mulher precisa
se sentir segura do amor e lealdade de seu marido.
Se o marido deseja ter relações sexuais com sua esposa à
noite, precisa entender que desde a manhã daquele dia deve cor-
tejá-la, tratá-la com muito amor e carinho, pois o que desperta
o desejo sexual na mulher são estas coisas. Da mesma maneira
a esposa, se deseja que o marido a procure a noite, durante o
dia deve dar-lhe sinais claros de que ele tem todo o seu respeito
e admiração.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 5 : O Divórcio seria a Solução? • 63

5.3 OS FILHOS DIANTE DA CRISE CONJUGAL


Em Malaquias 2.15, o motivo que Deus dá para odiar o di-
vórcio é porque o Senhor desejava uma descendência consagrada,
santa: “Não foi o Senhor que os fez um só? Em corpo e em espírito eles
lhe pertencem. E por que um só? Porque ele desejava uma descen-
dência consagrada. Portanto, tenham cuidado: Ninguém seja infiel à
mulher da sua mocidade”. Toda história de abuso sexual ou imo-
ralidade sexual dos filhos tem por trás problemas também nesta
área por parte dos pais, muitas vezes ainda ocultos. Se você deseja
santificar a sua descendência, tenha o cuidado de andar em san-
tidade, principalmente no que diz respeito à imoralidade sexual.
É interessante notar que o Apóstolo Paulo também fala
sobre filhos santos em I Coríntios 7.14: “Pois o marido descrente é
­santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por
meio do marido. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas ago-
ra são santos”.
Os filhos são as principais vítimas do divórcio. Imagine a fa-
mília como uma árvore. Os cônjuges seriam as sementes que plan-
tadas deram frutos. Onde as sementes são plantadas juntas? No
solo. O que elas formam? As raízes da família. Quando o casal se
separa, a raiz é destruída e os frutos, portanto, são ­comprometidos.
As crianças, os jovens ou até mesmo os já adultos que viven-
ciam a separação dos seus pais ainda, que tardia, sofrem perdas
terríveis, de identidade, de referência. É uma grande decepção,
que pode trazer terríveis consequências.
Estudos mostram que a grande maioria dos delinquentes,
das pessoas com distúrbios de caráter ou com problemas emo-
cionais gravíssimos são advindas de famílias desestruturadas.
Muitas vezes os pais até permaneceram juntos, mas perderam
o respeito mútuo, não tinham mais aliança um com o outro, ou
essa pessoa sofreu abusos no seio familiar, sejam de ordem física,
emocional ou até mesmo sexual. Por isso a importância de preser-
varmos a família, pois é o alvo de Satanás para destruir vidas em
64 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

cadeia, uma vez que um filho abusado, muito provavelmente se


tornará um pai abusador.
Além disso, histórias de divórcio tendem a se repetir na fa-
mília. Uma ferramenta que pode ajudar a observar se o divórcio
faz parte da história de uma família é o genograma, que nada mais
é que “a representação gráfica da família. Nele são representados
os diferentes membros da família, o padrão de relacionamento
entre eles e as suas principais morbidades. (...) Enfim, é um dia-
grama no qual está representada a estrutura familiar. A demons-
tração gráfica da situação permite que o indivíduo pare e reflita
sobre a dinâmica familiar, os problemas mais comuns que a afli-
gem e o enfrentamento do problema pelos membros da família”10.
Quando observamos o genograma de uma família cujos pais ou
avós se divorciaram, é comum ver os filhos e netos se divorciarem
também. Falaremos mais sobre genograma no capítulo a seguir.
A Revista Veja publicou em sua edição 1679 de 13 de dezem-
bro de 2000, entrevista com a terapeuta americana Judith S. Wal-
lerstein,11 que afirma que a separação dos pais faz muito mal às
crianças e deixa uma marca que elas carregarão pelo resto da vida.
Durante 25 anos, ouviu os relatos das experiências de 131 filhos de
pais separados. A maioria dos casos foi acompanhada da infância
à idade adulta. Judith comparou as trajetórias de seus entrevista-
dos com as de integrantes de famílias intactas e chegou à conclu-
são de que, ao contrário do que pregam os arautos da “nova famí-
lia”, o divórcio faz mal, sim, a crianças e jovens. Ser filho de um
casal que se separou, segundo ela, é um problema que nunca cessa
de existir. O resultado de seu trabalho está no livro The Unexpec-
ted Legacy of Divorce (A Inesperada Herança do Divórcio), em
coautoria com Julia M. Lewis e Sandra Blakeslee.

10
https://virtual.ufms.br/objetos/Genograma/6.html
11
Judith Wallerstein (27 de dezembro de 1921 - 18 de junho de 2012) foi uma psicóloga e
pesquisadora que criou um estudo de 25 anos sobre os efeitos do divórcio sobre as crianças
envolvidas. Ela recebeu uma série de prêmios proeminentes e honras e escreveu 4 dos livros
mais vendidos.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 5 : O Divórcio seria a Solução? • 65

Segundo a pesquisa de Judith S. Wallerstein, “a adolescên-


cia começa mais cedo para filhos de famílias que sofreram um
processo de separação. No caso das meninas, a iniciação sexual
costuma ocorrer antes do recomendável. Boa parte das crianças
passa a ocupar-se dos problemas da mãe e, algumas vezes, dos
conflitos do pai. Não raro, elas têm de desenvolver por conta pró-
pria seus conceitos de moralidade. Os mais velhos tendem a cui-
dar dos irmãos mais novos, como se fossem adultos. Está provado
também que filhos de casais separados sofrem mais de depressão
e apresentam mais dificuldade de aprendizado que os provenien-
tes de famílias intactas”.
E ela continua: “Para uma criança, a vida pós-divórcio é in-
crivelmente difícil. Ela se sente abandonada, marginalizada. (...)
não é um exagero dizer que a separação dos pais é uma marca, um
estigma, que as crianças carregarão por toda a vida”.

Por mais que haja diferenças de caso para caso, a ver-


dade é que não existe separação sem danos, perdas e triste-
za. Em geral, o que ocorre é que um dos dois – o marido ou
a mulher – quer o divórcio e o outro não. É ilusão imaginar
um casal sentado calmamente à mesa da cozinha, manten-
do uma conversa civilizada do tipo: “Cometemos um erro
e devemos nos separar”. Isso nunca, jamais acontece. E
mais: as duas partes não encerram seus conflitos na Justiça.
Sentimentos de amor e ódio não deixam de existir com a
assinatura da papelada. Esse quadro de desgaste contínuo,
não importa o grau, fere indelevelmente as crianças. É certo
que há pais que tentam preservar ao máximo seus filhos do
sofrimento de uma separação. Mas também é verdade que
a decisão de “não brigar na frente das crianças” tem suas
limitações. Evitar discussões não as protege dos efeitos de
longo prazo do divórcio, que aparecem na vida adulta”.
“A maioria dos filhos do divórcio – vamos chamá-los
dessa forma – atribui à separação dos pais grande parte de
66 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

seus insucessos nos relacionamentos. A imagem negativa


do casamento leva muitos a fazer péssimas escolhas de
parceiros ou a fugir de compromissos. Cerca de 40% não
consegue casar-se quando atinge a idade adulta. Há um
contingente enorme de homens e mulheres na faixa dos 30
anos que, traumatizados com a experiência de seus pais,
vivem sozinhos. Isso não significa, evidentemente, que eles
não valorizem o amor, a fidelidade e o companheirismo.
Apenas têm dificuldade em lidar com seus sentimentos e
traduzi-los na construção de uma vida a dois. O dado pa-
radoxal é que, apesar de tudo, o desejo de um casamento
duradouro permanece irremovível. Nenhum dos adultos
ouvidos por mim aceita a ideia de que o matrimônio é uma
instituição falida”.12

Quando perguntada se as crianças se sentem culpadas pelo


divórcio dos pais, Judith responde que “sim, especialmente quan-
do são pequenas. Em geral, elas pensam que, se não existissem,
seus pais não estariam brigando. Para os pais, é difícil minimizar
o sentimento de culpa dos filhos. Ainda mais porque o homem e
a mulher que vivem o tumulto de uma separação não têm equilí-
brio e disponibilidade suficientes para dar conta do que as crian-
ças estão sentindo”.
Ela também afirma que vale a pena permanecer juntos pelos
filhos. Diz que “muitos casais optam por ficar juntos para criar
melhor seus filhos. E não há mal nenhum nisso. Eles têm os mes-
mos problemas de infelicidade conjugal dos que resolvem se di-
vorciar. Só que são capazes de superar esses obstáculos. A recom-
pensa é que seus filhos crescem de forma infinitamente melhor e
se tornam adultos mais seguros, mais preparados para enfrentar
as vicissitudes da vida”.
Mas diz que, “evidentemente, há casamentos que não po-
dem e nem devem ser mantidos, sob pena de prejudicar ainda

12
Revista Veja, edição 1679 de 13 de dezembro de 2000.
– PARTE I – A descoberta | Capítulo 5 : O Divórcio seria a Solução? • 67

mais as crianças. Especialmente em casos de violência familiar ou


nos quais uma das partes se sente explorada ou humilhada pelo
outro. O que critico é a “cultura do divórcio”. Está muito fácil se
separar hoje em dia. Problemas comezinhos servem de pretex-
to para que se dê o fora de um relacionamento. A opinião que
prevalece na sociedade moderna é a de que podemos a qualquer
hora refazer nossas trajetórias conjugais. Ocorre que, na pressa
de melhorar nossa vida, não nos perguntamos como isso afeta
as crianças que concebemos. Os filhos do divórcio não se sentem
melhores porque papai e mamãe começaram a ter uma vida amo-
rosa mais satisfatória com outros parceiros. Outro mito é imagi-
nar que a separação é uma crise temporária, cujos efeitos são a
da separação. Trata-se de uma crise de longo prazo e, em alguns
casos, ­interminável”.
Sobre o que os pais podem fazer para proteger seus filhos,
Judith fala que “antes de mais nada, pai e mãe têm de perceber
que seus filhos precisarão de enorme ajuda para enfrentar as eta-
pas que virão. A melhor proteção que eles podem dar, no primeiro
momento, é não discutir na frente das crianças. Muitos dos que bri-
gam na hora da separação continuam brigando depois dela. Há o
divórcio legal, mas não o emocional, social e financeiro. Superada
essa fase inicial (o que, repito, nem sempre ocorre), é comum que
homem e mulher comecem a buscar novos companheiros. Nesse
instante, porém, muitos continuam a não dar a devida atenção
aos filhos, preocupados que estão com a própria felicidade e por
achar que o pior já passou. É um tremendo erro. Quando papai e
mamãe arrumam namorado, cai por terra a esperança infantil de
que um dia eles poderão voltar a ficar juntos. O choque causado
por tal constatação é terrível. Por isso, é preciso sempre proceder
com cuidado. Outro aspecto que deve ser levado em conta é a im-
posição de dias e horários para que as crianças vejam seus pais”.
Ela encerra dizendo que “é uma bobagem imaginar que, só
porque há vários coleguinhas de seu filho passando pelo mesmo
sofrimento, isso reduz o dele. Costumo comparar essa situação à
da mulher que perde seu marido. Não importa que a vizinha tam-
68 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

bém seja viúva. Esse fato não a faz sentir-se melhor. A experiência
do divórcio é dolorosa e irreparável para qualquer criança”.
Em outra reportagem, o portal da Internet UOL publicou
que “a delinquência juvenil está relacionada à escola e à família,
diz estudo”. Mais do que as condições socioeconômicas, a falta de
interação entre pais e filhos, a existência de parentes com proble-
mas psicopatológicos e os problemas escolares são fatores deter-
minantes para a inserção dos jovens no mundo do crime. Esta é
a conclusão a que chegou a psicóloga Maria Delfina Farias Dias,
após realizar seu trabalho de mestrado apresentado à Universida-
de Federal de São Paulo (Unifesp).
“Os dados apontam que 35% dos infratores possuem algum
tipo de problema familiar. No grupo de não-infratores apenas
8,7% apresentam o mesmo distúrbio. ‘Há, principalmente, uma
grande quantidade de famílias mono parentais entre os adoles-
centes que cometeram crimes’, afirma Maria Delfina”.
O divórcio não deixa de ser uma opção por pior que seja,
mas nunca será solução para um conflito entre um casal, pelo con-
trário, será causa de muitas outras situações na família, principal-
mente nos filhos, mas com certeza também nos cônjuges divorcia-
dos que jamais serão os mesmos depois de uma frustração como
é um divórcio, por isso deve ser evitado o tanto quanto possível.
Para encerrar esta primeira parte do livro gostaria de dizer
que descobrir o pecado secreto do meu esposo foi devastador e
me fez pensar muitas vezes no divórcio, mesmo depois de entrar
no nosso processo de cura e restauração de casamento. No entan-
to, entender o porquê de toda aquela situação e descobrir como
Deus esperava que eu reagisse diante de tudo, de modo a crescer
e amadurecer no relacionamento com Ele e também com meu es-
poso e filhos, foi muito intenso e maravilhoso. E esta será a abor-
dagem nas próximas partes deste livro.
– PARTE II –
Por que tudo isso?
A chegada do Tales Calebe, em 2006, e da Taissa Sofia, em 2007

Já na Missão, durante a Escola Ministerial da Família na JOCUM em 2014


6
A História Familiar

“O Senhor é muito paciente e grande em fidelidade, e perdoa


a iniquidade e a rebelião, se bem que não deixa o pecado sem
punição, e castiga os filhos pela iniquidade dos pais até a
terceira e quarta geração”. — Números 14.18

Quando nascemos de novo no espírito, ao recebermos Jesus em nosso


coração, é instantânea a nova vida no nosso espírito e eu imagina-
va que espiritualmente falando estava tudo resolvido. Vida nova,
um novo começo. Mas ao observarmos o nosso desenvolvimento
espiritual, vemos que não é bem assim. Em nossa carne, ainda há
o velho homem que precisa ser morto. O apóstolo Paulo em Efé-
sios 4.22-24 diz o seguinte: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês
foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos
enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo
homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade pro-
veniente da verdade”. Ou seja, os antigos hábitos precisam dar lugar
aos novos, sendo necessário andarmos em novidade de vida, o que
não é instantâneo, porque não é fácil abandonar as velhas obras.
O apóstolo Paulo fala de uma luta da carne contra o espírito
pela nossa alma. Em Romanos 7.5-6 diz: “Pois quando éramos con-
trolados pela carne, as paixões pecaminosas despertadas pela Lei atuavam
em nosso corpo, de forma que dávamos fruto para a morte. Mas agora,
morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da Lei,
para que sirvamos conforme o novo modo do Espírito, e não segundo a
velha forma da Lei escrita”. Então sim, passamos a perceber as obras
da carne muito mais facilmente e a nos incomodarmos, constran-
germos quando percebemos que estamos agindo na carne.
72 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Outra vez Paulo diz em Romanos 8.3-9: “Porque, aquilo que


a Lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne, Deus o
fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador, como
oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a fim de que as
justas exigências da Lei fossem plenamente satisfeitas em nós, que não
vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Quem vive segundo
a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem vive de
acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja.
A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida
e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete
à Lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode
agradar a Deus. Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas
do Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém
não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo”. O que demonstra,
mais uma vez, que se nascemos de novo em nosso espírito verda-
deiramente, temos o ímpeto para esta mudança em nós, do velho
para o novo homem, ainda que seja difícil.
Mas o que quero trazer entendimento agora é a questão dos
hábitos que aprendemos com a convivência familiar, que muitas
vezes vão passando de geração em geração e não temos a cons-
ciência de como estão impregnados na nossa maneira de viver e
nos parecem muitas vezes naturais. O apóstolo Pedro diz o se-
guinte em I Pedro 1.17-20: “Uma vez que vocês chamam Pai aquele
que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se com temor du-
rante a jornada terrena de vocês. Pois vocês sabem que não foi por meio
de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da
sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas
pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem
defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos
tempos em favor de vocês”.
Como dito anteriormente, existe uma ferramenta muito in-
teressante chamada Genograma que pode ajudar você a construir
a sua história familiar num diagrama e verificar que vãs maneiras
de viver ou iniquidades geracionais tem estado presentes na sua
história familiar insistindo em repetir-se de geração em geração,
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 6 : A História Familiar • 73

inclusive já tendo atingido você ou até mesmo seus filhos. Você


tem hoje a oportunidade de dar um basta e colocar na cruz, cla-
mar pelo sangue de Jesus para purificar a sua geração. Algumas
atitudes, porém, se fazem necessárias para que se faça cessar a
repetição e sua geração vindoura não seja mais afetada.
O Pr. Marcos de Souza Borges (Coty), diz em seu livro PAS-
TOREAMENTO INTELIGENTE - O Padrão de Aconselhamento na
LIBERTAÇÃO, acerca deste assunto:

Carregamos a benção e a maldição dos nossos an-


tepassados. Isso pode parecer estranho, mas é verdade.
Pelo fato de lermos a Bíblia com a nossa cosmovisão oci-
dentalizada, acabamos ignorando a lei da herança. Como
ocidentais, adotamos uma visão individualista da vida. A
lei da herança não exerce um significado relevante. Parece
estranho o pecado de alguém produzir uma consequência
nas sucessivas gerações. Isso se ajusta com o nosso contex-
to cultural. Porém, a cultura não está acima das Escrituras.
Ao nos depararmos com as tantas genealogias exis-
tentes na Bíblia, podemos avaliar o grau de importância
que Israel aprendeu a dar à herança e às suas raízes. As
raízes de uma pessoa revelam também as raízes de seus
problemas. Raízes por natureza ficam enterradas e por isso
estão sempre bem escondidas.
Essa ignorância em relação à nossa herança fa-
miliar é sintomática. As iniquidades não redimidas dos
nossos pais autorizam uma influência maligna de nature-
za correspondente sobre as nossas vidas e relacionamen-
tos. Ao ­ignorar esse fato, passamos a conviver com uma
­série ­de ­infortúnios.13

13
Marcos de Souza Borges (Coty) - Pastoreamento Inteligente – O Padrão de Aconselhamento
na Libertação. Página 136.
74 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Ele também diz em seu livro O AVIVAMENTO DO ODRE


NOVO, Um Guia de Cura e Restauração da Família:

Um entendimento sobre mapeamento hereditário é


fundamental para nos colocarmos na brecha pela nossa fa-
mília através da intercessão profética e do arrependimento
por identificação. O intercessor que restaura os lugares an-
tigamente assolados de geração em geração precisa funda-
mentalmente investigar a história familiar.14

Em Provérbios 26.2 diz: “Como o pássaro que foge, como a an-


dorinha no seu voo, assim, a maldição sem causa não se cumpre”. Enten-
demos que, no mundo espiritual, existe uma legalidade dada para
que as gerações estejam sendo visitadas com um castigo. Sendo
assim, é preciso confessarmos intercessoriamente os pecados das
nossas gerações anteriores, como fizeram Neemias15 e Daniel16 ao
intercederem pelo seu povo, clamando a Deus para que cessas-
se o período de cativeiro, de exílio em nações estrangeiras, que
veio como punição de Deus ao povo, pelos pecados de idolatria
de ­Israel e Judá.
Num genograma você pode observar pontos fortes na sua
linhagem familiar, que podemos chamar de bênçãos geracionais.
Elas precisam ser reconhecidas e reafirmadas, para que continuem
na sua geração. Também poderão ser observados pontos negati-
vos, que podemos chamar de iniquidades geracionais, situações
ruins que vem se repetindo de geração em geração. É preciso, no
entanto, entender aqui que a herança espiritual maligna não é
uma sentença, mas torna a geração vulnerável, pois a lei da res-
ponsabilidade, de cada um decidir ceder ou não a uma tentação
ou influência ruim prevalece, pois há ênfase maior no livre arbí-

14
Marcos de Souza Borges (Coty), O AVIVAMENTO DO ODRE NOVO, Um Guia de Cura e
Restauração da Família. Páginas 69
15
Neemias 1.5-9
16
Daniel 9.16
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 6 : A História Familiar • 75

trio - a responsabilidade de cada um decidir dar ou não vazão ao


pecado, andar ou não em obediência, fazendo cessar a maldição.
Podem ocorrer situações de abusos físicos, sexuais e/ou
emocionais, divórcios, doenças genéticas, distúrbio na sexualida-
de (compulsão sexual, homossexualidade, pedofilia etc.), filhos
bastardos (gerados fora da aliança de casamento), vícios (como
alcoolismo ou abusos de outras substâncias químicas), histórias
de aborto, infertilidade, mortes precoces, criminalidade, dentre
outras situações. Aqui é importante se posicionar no intuito de
romper, no mundo espiritual, a legalidade que foi dada através
de pecados de antepassados para que as histórias não continuem
se repetindo. Isto só pode ser feito através da confissão interces-
sória e do pedido genuíno de perdão destes pecados dos seus an-
tepassados, ainda que já estejam mortos, pois a remissão destes
pecados trará benefício às gerações vindouras, ainda que não sur-
ta mais efeito algum sobre os transgressores já falecidos, como fi-
zeram Neemias e Daniel que clamaram pela misericórdia de Deus
e por sua nação.
O genograma consiste em construir uma árvore genealógica
de sua família incluindo pelo menos quatro gerações. Por exem-
plo, se você é casado e já tem filhos, pode fazer a partir de seus
avós, se já tem netos, basta a partir de seus pais. Os homens serão
representados por quadrados e as mulheres por círculos.
Os relacionamentos serão representados por linhas que os
ligarão no diagrama. Linhas contínuas representarão laços fami-
liares como casamento e paternidade ou filiação.
Quando não houve casamento, apenas um relacionamento
que gerou filhos, ainda que união estável, a linha deve ser ponti-
lhada e quando houver relacionamentos rompidos como o divór-
cio, há uma quebra na linha e se houve o casamento e o relaciona-
mento entre os dois é forte e saudável, pode ser representado por
uma linha dupla. Observe a legenda a seguir.
76 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Figura 1 – Legenda para ligações num Genograma

Observe o meu genograma a seguir e depois tente construir


o seu. Encoraje o seu cônjuge a fazer o mesmo, assim poderão
observar os dois genogramas para uma melhor compreensão de
situações que possam estar atingindo a geração de vocês, que po-
dem estar vindo da linhagem familiar tanto de um como do outro,
ou ainda de ambas as linhagens geracionais.
No meu genograma você poderá observar que em minha
história familiar, tanto da minha parte familiar como da de meu
esposo, não há história de divórcios de nossos avós e pais. Acre-
dito que isto, a benção de casamentos duradouros na minha li-
nhagem anterior, alcançou a mim, de modo que, apesar de toda a
situação, meu casamento não culminou num divórcio. Em contra-
partida, na minha linhagem anterior, há muitas histórias de mu-
lheres vítimas de adultérios e de homens adúlteros e do lado de
meu esposo, quando observamos o genograma dele, há muitas
histórias de imoralidade sexual, prostituição e maridos que tam-
bém traíram suas esposas, ou seja, as mesmas iniquidades gera-
cionais que acabaram nos atingindo.
Geralmente, situações de imoralidade sexual dos pais, em
oculto, levam os filhos a se envolverem com imoralidade sexual
de forma exposta ou a serem vítimas de abusos sexuais, ainda
que crianças, inocentes. Mas podemos fazer estas iniquidades
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 6 : A História Familiar • 77

geracionais cessarem em nossa geração de modo a não mais atin-


girem nossos filhos e netos, através da confissão intercessória
dos pecados dos nossos antepassados, assim como Neemias e
Daniel fizeram, mas, principalmente, através do nosso arrepen-
dimento genuíno e da decisão de fazer parar aqui o mal através
da nossa obediência. Temos a oportunidade de abençoar nossa
descendência com a nossa obediência hoje. É claro que caberá
aos nossos filhos e descendentes a responsabilidade de também
andar em obediência, mas a influência espiritual maligna não
mais agirá sobre eles.
Veja meu genograma a seguir.
78 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Figura 2 – Exemplo de Genograma


– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 6 : A História Familiar • 79

Outro entendimento que foi importante compreendermos


para santificarmos o nosso casamento foi acerca das quatro bên-
çãos, relacionadas às esferas de autoridade estabelecidas por
Deus, que funcionam como alicerces espirituais que irão definir o
sucesso do casamento17:

• A benção dos Pais (família de origem) – quando não houve


essa benção ou aprovação da família, é preciso voltar e pedir
a benção e perdão pela rebeldia quando for o caso, pois o
casamento se resume a emancipação, ou seja, na autorização
dos pais para deixá-los, em honra, debaixo de sua benção
para assumir diante de Deus uma aliança com o cônjuge até
que a morte os separe;
• A benção Sacerdotal (Igreja) – o conselho dos líderes e pas-
tores é essencial para confirmação de um passo tão impor-
tante que é o casamento. Qualquer advertência neste sen-
tido precisa ser levada a sério. Também pode se referir à
cerimônia religiosa;
• A benção Judicial (Estado) – diz respeito ao casamento ci-
vil, em que se cumpre o dever civil e bíblico de se submeter
as autoridades instituídas por Deus. A união sem o casa-
mento civil estabelece uma situação espiritual ilegítima em
relação à aliança que deve ser o casamento;
• A benção Sexual (aliança e pureza sexual) – é estabelecida
pela pureza e fidelidade conjugal. Diz respeito ao se guar-
dar para intimidade sexual somente após o cumprimento
de todas as etapas anteriores. Inclusive fala também da vir-
gindade de ambos. Quando isso não ocorreu, é preciso redi-
mir a sexualidade através da confissão mútua e pedido de
perdão a Deus e um ao outro, ainda que seu cônjuge tenha
sido seu único parceiro sexual, se houve relações antes do
casamento, é preciso redimir. Também foi adultério contra

17
Marcos de Souza Borges (Coty), O AVIVAMENTO DO ODRE NOVO, Um Guia de Cura e
Restauração da Família. Páginas 89 e 90.
80 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

o seu cônjuge se manteve relações sexuais com outros antes


mesmo de se conhecerem, pois cada um deveria ter se guar-
dado para o seu cônjuge para a partir do casamento.

Gostaria de recomendar a leitura do livro O AVIVAMENTO


DO ODRE NOVO, Um Guia de Cura e Restauração da Família, do
Pr. Marcos de Souza Borges (Coty) e ainda PASTOREAMENTO
INTELIGENTE, O Padrão de Aconselhamento na LIBERTAÇÃO, do
mesmo autor, para melhor compreensão destes assuntos, tanto so-
bre como um pecado ou legalidade pode repercutir na geração e o
que fazer para que cessem as consequências advindas do mesmo,
quanto sobre os alicerces do casamento.
7
A Geração em que V ivemos

“Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta


geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará
dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos”.
— Marcos 8.38

Vivemos hoje numa geração em geral adúltera e pecadora, corrup-


ta e sem compromisso nenhum com Deus. Inclusive, existe uma
parcela enorme de cristãos ateus, dentro da igreja que se diz cris-
tã no mundo inteiro, pessoas que estão todos os domingos num
culto, mas que não creem verdadeiramente neste Deus durante a
semana e vivem uma vida sem temor algum no seu dia-a-dia. Isso
acontece porque vivem um cristianismo superficial, sem profun-
didade, sem busca pelo conhecimento pleno de Deus e relaciona-
mento íntimo com sua Palavra através de um devocional diário e
do discipulado cristão.
Em João 8.31-32 está escrito: “Disse Jesus aos judeus que ha-
viam crido nele: Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verda-
deiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os
libertará”. É interessante que Jesus dirige estas palavras aos Judeus
que criam nele, ou seja, aos cristãos judeus que já o seguiam. O que
significa que somos nós, os cristãos, que precisamos aprender a
verdadeiramente sermos discípulos, não só na igreja no domingo,
mas durante a semana em todas as nossas atividades seculares,
principalmente em nossa casa, no nosso relacionamento familiar.
É com muita tristeza em nossos corações que constatamos
uma igreja doente, muitas vezes na sua própria liderança, com
problemas seríssimos de caráter e um dos principais deles está
82 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

na sexualidade corrompida, dentro de casamentos muitas vezes


apenas de fachada e fora dos casamentos, entre os jovens cris-
tãos solteiros.
Não se tem tido o cuidado de ser uma igreja verdadeira inse-
rida num mundo de corrupções. Antes, infelizmente, tem-se per-
mitido que as corrupções do mundo adentrem no seio da igreja.
Isso acontece, principalmente, quando pessoas não abandonam
as obras da carne ao receberem Jesus, ou seja, não se despem do
velho homem e se revestem do novo de modo que, muitas vezes,
se tornam tropeço para aqueles que já estão na igreja ainda firmes.
É preciso termos a coragem de verdadeiramente sermos luz
neste mundo sem luz, e não virmos a ser mais trevas ainda.
Em Hebreus 13.4 diz: “O casamento deve ser honrado por todos;
o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúl-
teros”, porém, nesta geração, o casamento tem perdido o seu valor
e o seu lugar digno de honra, como diz em outras traduções.
Durante muito tempo, este “leito conjugal” foi considera-
do “sem graça”, cuja única finalidade era reprodução. Os homens
eram orientados, pelo clero dominante e pela medicina, que o pra-
zer sexual deveria ocorrer fora de casa. A esposa viveu sob a pre-
missa de que era honrada por ter o título de esposa e não por ter
seu marido dentro de casa.18 Atualmente, em nossa geração, com a
revolução sexual e os movimentos feministas dos últimos séculos,
a mulher até recuperou seu lugar de igual ao homem no direito
de ter sua satisfação sexual também garantida. Porém, a que pre-
ço? Agora ela é tachada de promíscua se vive de qualquer forma
parecida ou semelhante ao homem e não mudou muito dentro
do casamento a ideia de que com a esposa não tem tanta “graça”,
quando, na verdade, é somente no casamento que um homem e
uma mulher podem experimentar a plenitude na sexualidade,
exatamente porque sexo precisa acontecer além do corpo, tam-
bém na esfera da alma e do espírito e isto somente pode ocorrer
de forma plena e abençoada dentro de uma aliança genuína que é

18
Mari Del Priori, HISTÓRIAS ÍNTIMAS
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 7 : A Geração em que Vivemos • 83

o casamento, fora disto, trata-se de aliança iníqua de almas. Fala-


remos mais sobre isso no próximo capítulo.
O que vemos, no entanto, é que muitas vezes, mesmo no
casamento, a relação sexual tem acontecido somente no corpo por
parte de um ou mesmo de ambos os cônjuges. Não há esta afi-
nidade na alma e no espírito, nem a transparência e intimidade
necessárias, com lealdade e interesse no prazer mútuo, em que
se busca principalmente a satisfação do outro em primeiro lugar.
A ideia de virgindade para o casamento ser considerada
premissa apenas para a mulher ainda perdura, de modo que a
maioria dos homens tem vindo para o relacionamento conjugal
com diversas experiências distorcidas da verdade de Deus sobre
o sexo e assim continua enorme o número de mulheres que se ca-
sam virgens e, mesmo depois de anos de casada, expressam que
nunca experimentaram o genuíno prazer sexual. Muitos maridos
não entendem. Consideram-se experientes, mas se encontram
frustrados com a ideia de que ainda não conseguiram satisfazer
suas esposas.
O problema é que estes homens não estão preocupados
em se tornarem experientes somente no corpo de suas esposas,
que é totalmente diferente de qualquer outra mulher, além do
que a satisfação sexual da mulher está muito mais relacionada a
sua segurança emocional do que ao toque ou performance cor-
poral. Mesmo as mulheres que se dizem satisfeitas sexualmente,
muitas vezes expressam um vazio na alma, porque seus mari-
dos ainda não foram capazes de suprir justamente esta necessi-
dade ­emocional.
É claro que podem existir outros fatores. Mulheres que fo-
ram vítimas de abuso sexual ou que passaram por situações de-
licadas na saúde ou mesmo situações de perda ou frustração que
possam estar acontecendo no momento, poderão experimentar
dificuldades no seu prazer sexual. Inclusive homens também
podem ter disfunções sexuais de ordens diversas, relacionadas à
saúde física e/ou emocional.
84 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Mas o que é preciso entender aqui é que a intimidade do


casal vai muito além do corpo, do contato sexual. Está muito mais
relacionada ao interesse de fazer o outro feliz na sua essência e
plenitude, ou seja, em seu corpo, alma e espírito.
Vivemos numa geração de culto ao EU, em que a satisfação
pessoal e individual, ainda que com dano para o outro, é o que
importa. Homem e mulher não têm se tornado um só quando se
casam, como deveria ser desde o princípio. O que temos ouvido
em nossos atendimentos e aconselhamentos são muito mais histó-
rias de casamentos fermentados de abusos, inclusive sexuais, e de
cônjuges feridos no âmago das suas emoções por causa da indivi-
dualidade e do egoísmo por parte do outro e não mais tolerados
em seus casamentos.
É preciso nos levantarmos com a bandeira dos princípios de
Deus de volta para a família e para o relacionamento conjugal, em
que há uma liderança que serve, ama e protege por parte do ma-
rido, e uma submissão voluntária e gentil, que respeita e admira o
marido, por parte da esposa. Princípios estes que levarão marido
e mulher a se interessarem mais pela felicidade e satisfação do
cônjuge antes mesmo da sua própria felicidade e satisfação, levan-
do-os a experimentar o plano original de Deus para o relaciona-
mento conjugal, em que ambos se satisfazem mutuamente e são
interdependentes. É nisto que consiste o verdadeiro amor.
8
As Consequências do
Pecado Sexual

“Se alguém pecar, fazendo o que é proibido em qualquer dos


mandamentos do Senhor, ainda que não o saiba, será culpado e
sofrerá as consequências da sua iniquidade.” — Levítico 5.17

Todo pecado, principalmente de imoralidade sexual, pode gerar da-


nos por vezes irreversíveis, ainda que haja o perdão. O apóstolo
Paulo adverte em I Coríntios 6.18: “Fujam da imoralidade sexual.
Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas
quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo“. Como já lis-
tados no primeiro capítulo, pode ocorrer uma série de transtornos
ou consequências advindas da imoralidade sexual: prostituição,
abuso, gravidez indesejada, doenças venéreas, e inclusive, trans-
tornos financeiros, além de danos emocionais e da formação de
pessoas descompromissadas e de caráter duvidoso.
Gostaria de abordar algumas consequências e trazer orien-
tações sobre como lidar com elas.

8.1 DOENÇAS VENÉREAS


Doenças venéreas dizem respeito a infecções sexualmente
transmissíveis. São doenças infecciosas transmitidas essencialmen-
te (porém não de forma exclusiva) pelo contato sexual. Uma das
grandes questões da medicina em nosso tempo é prevenir ou mes-
mo tratar esse tipo de doença, mas a resposta é simples: está na
virgindade até o casamento e na fidelidade conjugal após o mesmo.
86 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Muitas vezes, o cônjuge traído acaba sendo afetado pela in-


fidelidade de seu companheiro através de enfermidades por ele
adquiridas por causa da sua promiscuidade sexual, uma vez que
lhe transmite essas enfermidades na intimidade marital.
Infelizmente, esta é uma das consequências que o pecado
sexual no casamento pode ocasionar, e pode atingir não somente
o transgressor, mas o seu cônjuge também.
Não são muito raros relatos de esposas em nossos atendi-
mentos que estão passando por tratamentos de doenças venéreas
por causa da infidelidade dos maridos.
Quando vem à tona a revelação de casos extraconjugais,
um dos primeiros cuidados que se deve tomar é de que ambos os
cônjuges procurem fazer exames médicos para verificar se houve
enfermidades adquiridas por causa do pecado sexual, para que se
possa começar a tratá-las imediatamente.
Há situações irreversíveis e altamente danosas para o cônju-
ge traído, que lhe podem custar a vida, como ser contaminado por
SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida) causada
pelo vírus HIV, cuja principal forma de contaminação é através de
relações sexuais. Principalmente homossexuais têm sido vítimas de
alguns tipos de doenças sexualmente transmissíveis, mas isso é pre-
visto na Bíblia em Romanos 1.27: “Da mesma forma, os homens também
abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de pai-
xão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com
homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão”
Meu marido recebeu para aconselhamento jovens que ad-
quiriram SIDA ainda na adolescência, por causa de sua iniciação
sexual precoce e o envolvimento com práticas sexuais com diver-
sos parceiros e sem nenhum tipo de cuidado ou precaução.
Em todo caso, é preciso exercer o perdão com o cônjuge que
lhe causou a enfermidade. É lamentável que inocentes acabem
sendo afetados pelo pecado de outrem, mas Salmos 37.39 nos ga-
rante que “Do Senhor vem a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza na
hora da adversidade”.
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 87

8.2 HUMILHAÇÃO, DESONRA E PROBLEMAS DE ORDEM FAMILIAR


Está escrito em Provérbios 6.32-33: “Mas o homem que
comete adultério não tem juízo; todo aquele que assim procede a si
mesmo se destrói. Sofrerá ferimentos e vergonha, e a sua humilhação
jamais se apagará”.
Existe um caso famoso nas Escrituras sobre adultério: Davi
com Bate-Seba, esposa de Urias. É interessante observar como
Davi sofreu consequências de seu ato em sua própria vida mas
também toda a família foi afetada (II Samuel 12.11-18). Para co-
meçar, ele perdeu seu primeiro filho com Bate-Seba, não havendo
nada que pudesse ser feito para salvar a criança, o que nos diz
que existe uma sentença de morte sobre pessoas envolvidas com
imoralidade sexual, seja em sua própria vida ou de pessoas muito
próximas e queridas. Posteriormente, seu filho Amnon violentou
a própria irmã (II Samuel 13); incesto e abuso sexual se instalaram
no seio da família de Davi. Mais tarde, Absalão, também filho de
Davi, tomando as dores da irmã que sofreu o abuso, por não ter
visto uma atitude do pai no sentido de punir o irmão abusador,
o matou e depois conspirou contra o reinado do próprio pai (II
Samuel 17). Foram cerca de 13 anos que Davi padeceu como con-
sequência de seu pecado com Bate-Seba, uma mulher casada.
O profeta Natã, quando foi confrontar Davi acerca de seu
pecado com Bate-Seba, o alertou de que suas mulheres seriam
tomadas em plena luz do dia (II Samuel 12.11), também como
consequência de seu pecado e aconteceu que seu filho Absalão,
depois de lhe tomar o reino, tomou também algumas de suas mu-
lheres e manteve relações sexuais com elas a vista de todo o povo
(II ­Samuel 16.22).
Ouvimos também muitos relatos de pais cujos filhos estão
envolvidos em situações de imoralidade sexual, inclusive homos-
sexualidade e perversão sexual, em que estes pais acabam confes-
sando que também estiveram por muito tempo envolvidos com
este tipo de prática, só que em oculto, o que também confirma que
88 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

aquilo que o pai faz em oculto, os filhos farão de forma exposta,


como no caso de Davi e seu filho Absalão.
É comum em aconselhamentos a pessoas vítimas de abuso
sexual, principalmente na infância, relatos de que seus pais esta-
vam envolvidos com imoralidade sexual na mesma época em que
sofreram os abusos, o que também demonstra que esta é uma con-
sequência do pecado sexual envolvendo os filhos, que passam a fi-
car numa situação de vulnerabilidade para sofrer abusos sexuais.
Somente o arrependimento genuíno destas práticas por par-
te dos pais e a remissão destas situações pelo sangue de Jesus, po-
dem livrar a família de ser afetada com consequências como estas.
Lembrando que, ainda que haja o perdão, algumas situações são
irreversíveis e altamente danosas, como situações de abuso sexual
entre irmãos ou mesmo dos pais contra seus próprios filhos. É pre-
ciso muita graça de Deus para a família superar situações assim.

8.3 FILHOS BASTARDOS


Uma outra possível consequência do pecado sexual é a
concepção de filhos bastardos, ou seja, filhos gerados entre um
homem e uma mulher não aliançados pelo casamento e que, por
vezes, sequer têm a intenção de formar uma família. Mesmo aque-
las situações cujos pais acabam se casando após a concepção da
criança, não deixa de estar sobre esta criança a maldição de filho
bastardo, que precisa ser redimida. Isso acontece muito com os
primeiros filhos de muitos relacionamentos, sendo necessário os
pais, após se casarem, orarem pedindo perdão pelas circunstân-
cias em que esta criança foi concebida, trazendo-a para dentro da
aliança de casamento.
Toda criança concebida numa relação sexual fora de uma
aliança legítima de alma, ou seja, fora do casamento, é fruto de um
pacto de sangue envolvendo imoralidade sexual, uma aliança iní-
qua, sendo assim, esta criança será vítima de uma “perseguição”
desde a sua concepção basicamente em três aspectos, segundo o
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 89

Pr Marcos de Souza Borges (Coty)19: emocional, sexual e muitas vezes


homossexual. Ouvimos histórias de crianças bem pequenas que não
foram vítimas de abuso sexual mas têm comportamentos de imora-
lidade sexual, masturbação e lascívia muito evidentes, justamente
porque foram concebidas em situações de imoralidade sexual.
Também são geralmente observadas em crianças geradas
nestas circunstâncias rejeição e segregamento – a marginalização,
pois ela nunca se sente parte e tende a se apartar. “São os solitários
no meio da multidão, independentemente do meio em que estejam. Essa
criança cresce com um profundo sentimento de inadequação. Perseguida
por este espírito, torna-se irritada e rebelde. Não se sente parte da famí-
lia, não consegue se encaixar na igreja, fica à margem na escola. Vê a si
mesma como alguém inferior e rejeitado. Insegurança e carência passam
a ser o eixo de sua vida emocional. Uma estranha e constante dificuldade
de se ajustar em qualquer ambiente é imposta”, diz o Pr Coty.
Isto porque Deuteronômio 23.2 diz: “Quem nasceu de união
ilícita não poderá entrar na assembleia do Senhor, como também os seus
descendentes, até a décima geração”, o que podemos chamar de jugo
de bastardia. Jesus, porém, tomou sobre si esta maldição da lei e a
redimiu na cruz, sendo assim possível o filho bastardo experimen-
tar da liberdade deste jugo (Gálatas 3.13). O próprio Jesus, conce-
bido pelo Espírito Santo quando Maria ainda era virgem, noiva de
José, pode ter sido tratado como um filho bastardo. Percebemos
pela narrativa bíblica nos evangelhos que a honra de Maria foi de-
sacreditada e José intentou deixa-la em secreto (Mateus 1.18-25).
Ele, porém, foi instruído em sonho pelo Anjo Gabriel, que lhe con-
tou acerca da origem de Jesus, e casou-se com Maria. José não só
fez isso, mas também recebeu a Jesus como um filho e o protegeu.
Minha primeira filha, Raissa Julie, foi concebida nestas cir-
cunstâncias, ou seja, fora de uma aliança de casamento. Meu es-
poso, ao se casar comigo, entrou com um processo na justiça para
assumir a paternidade dela, o que lhe foi concedida. Ela, porém,

19
Marcos de Souza Borges (Coty), O AVIVAMENTO DO ODRE NOVO, Um Guia de Cura e
Restauração da Família. Páginas 88 a 93.
90 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

luta contra estes sentimentos de inadequação e dificuldade de se


ajustar aos ambientes. Procuramos sempre orientá-la e intercede-
mos por ela em oração para que seja fortalecida e possa vencer
estas situações.
Seu pai biológico a abandonou, não nos dando mais notí-
cias. Meu esposo, Paulo, a assumiu afetiva e financeiramente de
bom grado e tem sido um bom pai para ela, porém sabemos que
existe uma lacuna dentro dela acerca de seu pai biológico. Situa-
ções como estas precisam ser tratadas às claras, então, nossa filha
sabe de tudo. Toda criança tem o direito de saber a sua história
e origem, quem são os seus pais biológicos, mesmo em situações
de adoção.
Meu esposo também acabou gerando uma filha bastarda
em um de seus relacionamentos extraconjugais, como já falado
anteriormente. A princípio, ele não deu importância a esta crian-
ça, rejeitando-a completamente. Porém, quando se iniciou a res-
tauração da sua sexualidade, do seu caráter e também do nosso
casamento, procuramos fazer o que era certo acerca desta criança.
Seu convívio com ela, no entanto, foi impedido como relatei no
primeiro capítulo. Temos também intercedido em oração por ela
sabendo das questões espirituais envolvidas.
Gostaria de salientar aqui a importância de que, nestes ca-
sos de filhos gerados em casos extraconjugais, na medida do pos-
sível, o convívio do pai com a criança bastarda não seja impedido,
pois a presença do pai poderá estar ajudando essas crianças nas
suas dificuldades emocionais, espirituais e sexuais, além do mais,
toda criança tem o direito de ser assistida pelo pai que a concebeu,
emocional e financeiramente falando, independentemente das cir-
cunstâncias em que foi gerada, pois ela não tem culpa alguma do
que possa ter ocorrido. E se você tem um enteado, trate-o como
a um filho, pois o filho do seu cônjuge deve ser considerado seu
filho também, assim como José o fez com Jesus.
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 91

8.4 PROBLEMAS FINANCEIROS


É comum ouvirmos também de casais que passaram pela
dor do adultério e de pessoas envolvidas com imoralidade sexual
relatos de que as finanças não andam bem.
A indústria do sexo em nossa geração é um mercado bilio-
nário de modo que, quando se está envolvido com imoralidade
sexual, fatalmente as finanças estarão envolvidas.
Todo dinheiro investido neste tipo de pecado é como uma
oferta oferecida no altar da imoralidade sexual, por isso as fi-
nanças da família são afetadas. Não só pelo gasto em si dos re-
cursos, mas uma maldição estará sobre aquela casa de modo
que não prosperará.
Em Provérbios 28.13 diz: “Quem esconde os seus pecados não
prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia”.
Pecados sexuais costumam ser mantidos em segredo, escondidos.
Quando meu esposo tomou finalmente a decisão de trazer
à luz seu pecado, lembro-me de nosso pastor estar pregando in-
sistentemente este texto durante aquelas últimas semanas. Eram
raros os cultos em que não mencionava esta passagem bíblica.
Nós passávamos por um aperto financeiro terrível, nada
que tentávamos realizar dava certo. Estávamos, inclusive, dis-
cutindo bastante por causa de situações nas nossas finanças.
Houve uma noite que, ao retornarmos da Igreja num destes
cultos cujo texto foi mencionado, eu questionei meu esposo se
havia algo em oculto, algum pecado dele escondido que preci-
sasse me confessar que justificasse o estado das nossas finanças.
Ele ficou tão irritado com minha pergunta que sua reação foi
bater fortemente no volante enquanto dirigia e gritar: “Eu nunca
te traí! Nunca te traí! ”. Tomei um grande susto e acreditei. No
entanto, pouco tempo depois, ele me confessou toda a verdade,
entendendo que estávamos sendo sim afetados na nossa pros-
peridade em todas as áreas, inclusive financeira, por causa do
seu pecado sexual encoberto. No entanto, mesmo quando hou-
92 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

ve esta confissão de pecados na área sexual, as finanças não me-


lhoraram muito, ao contrário, pareciam que estavam piorando
cada vez mais.
Quando finalmente compreendemos o quão grave é esta
questão de oferecer oferta no altar da imoralidade sexual ao se fi-
nanciar a indústria do sexo, adquirindo ou dando audiência a ma-
terial pornográfico, ou mesmo gastando em casas de massagem e
prostituição, entendemos que era preciso também se arrepender
e confessar este pecado para redimir as nossas finanças, pois no
mundo espiritual isto acarreta sérias consequências para as finan-
ças da família, podendo levar a uma bancarrota.
Ouvimos a história de um casal cujo marido chegou a até
mesmo alugar uma casa para seus encontros extraconjugais, den-
tre outros gastos exorbitantes com seu vício sexual. Mesmo de-
pois de trazer tudo a luz, de devolver o imóvel e parar com os
gastos nesta área, as finanças ainda não melhoram. Enquanto este
pedido de perdão pelas ofertas oferecidas e consagradas no altar
da imoralidade sexual não for feito, as finanças da família conti-
nuarão consagradas ao mundo das trevas. É preciso redimir estas
finanças pelo sangue de Jesus através da confissão deste pecado e
da renúncia desta consagração maligna, trazendo purificação des-
ta injustiça cometida.
Em nosso caso, nós entendemos em Deus de nos lançarmos
no ministério em tempo integral e abandonamos nossas carreiras
profissionais. Eu era profissional da área contábil e meu esposo
administrador de empresas e funcionário de um banco renomado
em nosso país, o que deveria nos proporcionar uma boa condição
financeira, mas nunca conseguíamos desfrutar desta boa condição,
e quando resolvemos nos lançar no ministério como missionários,
a princípio, achávamos que as dificuldades continuavam porque
mudamos o nosso estilo de vida ao nos tornarmos voluntários
não remunerados pela missão, vivendo de ofertas de pessoas que
acreditavam em nosso chamado ministerial. Mas era muito difícil
levantarmos recursos e sermos abençoados por ofertas e mantene-
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 93

dores assíduos. Por vezes, chegamos a passar necessidades mes-


mo trabalhando para o Reino.
Somente depois que consagramos nossas finanças a Deus,
pedimos que nos perdoasse de toda oferta oferecida em altares que
não eram de bênçãos e que nos livrasse de toda consequência em
nossa vida financeira por causa destes atos, é que começamos a ex-
perimentar uma nova perspectiva financeira em nosso m ­ inistério.
Devido aos muitos relatos de casais que atendemos com si-
tuações de imoralidade sexual, que também estavam tendo difi-
culdades nas suas finanças, achei que era importante trazer, ainda
que pequena, uma abordagem sobre este assunto, porém, existem
muitos outros fatores que podem estar comprometendo as finan-
ças da família, como a avareza, negócios ilícitos, má administra-
ção financeira, retenção de dízimos e ofertas, dentre outros. É pre-
ciso fazer um autoexame e buscar a direção de Deus para saber as
possíveis causas de um caos financeiro.
Comumente na Bíblia há relatos de dificuldades na prospe-
ridade do povo de Deus relacionadas a todo tipo de pecado, como
idolatria, prostituição, quebra de alianças etc.. Mas quero abordar
rapidamente um motivo que é muito grave e também está relacio-
nado à imoralidade sexual: o aborto.
Além de ser um crime de sangue quando provocado, pois
se trata de um homicídio, está relacionado a uma prática antiga
de oferecimento da vida dos filhos a um deus pagão, Moloque.
Levítico 18.21 diz: “Não entregue os seus filhos para serem sacrificados
a Moloque. Não profanem o nome do seu Deus. Eu sou o Senhor”.
A prática do aborto pela mulher e o consentimento de um
homem até mesmo financiando um aborto, podem trazer conse-
quências terríveis para a família. Em um de seus livros, o pastor
Marcos de Souza Borges (Coty) diz o seguinte:

“...O aborto pode ser espiritualmente definido como


o assassinato da descendência. Além de trazer um legado
de morte, depressão e destruição sobre a posteridade, tam-
94 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

bém enclausura a pessoa em uma situação crônica de es-


terilidade em diversas áreas da vida. Endemoniza o útero.
“O sucesso profissional, financeiro, espiritual, senti-
mental etc.. é sempre abortado de forma traumaticamente
surpreendente. Muitas enfermidades relacionadas ao apa-
relho reprodutor começam a frequentar a vida de pessoa.
Planos e projetos começam a sofrer um processo crônico de
frustração. Quando a pessoa pensa que vai dar tudo cer-
to, aquilo inesperadamente morre. Nunca termina o que
começa. O espírito de morte prevalece destruindo a ferti-
lidade, interrompendo a geração de frutos e impedindo a
realização pessoal sob vários aspectos.
“(Para obter informações mais detalhadas sobre este
tópico ver capítulo 4 do livro “O Avivamento do Odre Novo”
e capítulo 5 do livro “Raízes da Depressão” de Marcos de
Souza Borges).”20

Se você chegou a cometer um aborto ou seu marido incen-


tivou algum em seus relacionamentos antigos ou extraconjugais,
é importante também tratar as questões espirituais que estes atos
podem estar acarretando na vida de vocês.

8.5 A CONFIANÇA QUEBRADA


A confiança é um sentimento base para todo e qualquer re-
lacionamento, principalmente no casamento. Na verdade, a con-
fiança é uma perna da mesa de quatro pernas que sustentam um
casamento. As outras três são: amor, respeito e lealdade. Mais
adiante falaremos sobre a importância do amor e do respeito.
Quando uma mesa perde uma de suas pernas, certamen-
te perde seu equilíbrio. E como fazer para restaurar a confiança
­quebrada?

20
Marcos de Souza Borges (Coty) - Pastoreamento Inteligente – O Padrão de Aconselhamento
na Libertação. Página 164
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 95

A confiança é um sentimento que não depende muito de


quem o sente, mas muito mais do outro, a quem o sentimento é
dirigido. Ela é conquistada pelo outro e leva tempo para ser cons-
truída. É preciso experiências juntos para ela ser edificada.
Gosto de comparar a confiança em um relacionamento, seja
de amizade, no trabalho, ou mesmo familiar e, principalmente, no
casamento, com uma árvore, que não cresce de um dia para a noi-
te quando plantada. Até mesmo filhos pequenos podem perder
a confiança em seus pais. Pais também podem perder a confian-
ça em seus filhos. A confiança entre irmãos também muitas vezes
pode ser abalada. Num relacionamento conjugal, pode ser ainda
mais frágil.
Muitas pessoas entram em seus casamentos já com expe-
riências ruins de confiança durante a construção do relaciona-
mento, mas parece não perderem a fé de que a outra pessoa fará
diferente no casamento. Por isso, acredito que confiança e fé não
sejam a mesma coisa, apesar de estarem bem relacionadas. He-
breus 11.1 diz: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova
das coisas que não vemos”. Através deste texto, entendo que fé diz
respeito a coisas que ainda não existem materialmente falando
na nossa experiência pessoal, mas vivemos como se já existissem,
porque acreditamos que podemos experimentar. Já a confiança,
acredito que diga respeito a algo que já temos experimentado dia-
-a-dia e que até mesmo fortalece a nossa fé. Muitos parecem se
casar acreditando que um dia poderão confiar, ou seja, tendo fé e
não confiança.
A fé vem a partir do conhecimento, do ouvir falar. Roma-
nos 10.17 diz: “Consequentemente, a fé vem por ouvir a mensagem, e a
mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo”. Eu posso ter fé em
Deus, em tudo que está escrito na Bíblia acerca dEle e no que Ele
realizou na vida de todas as pessoas lá mencionadas e em todos os
milagres lá relacionados, mas ainda não ter crescido em confiança
nEle, pois a minha confiança em Deus cresce com o meu relacio-
namento pessoal com Ele, dentro deste conhecimento, que gera a
96 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

minha fé, mas a partir das minhas experiências pessoais com Ele,
do que eu vir Deus fazer em minha própria vida. Isso é crescer em
confiança em Deus e consequentemente em fé.
Já a lealdade, por sua vez, tem a ver com fidelidade, uma
das outras pernas bases do relacionamento conjugal. Diz respeito
ao meu compromisso com o outro, sem que dependa tanto do ou-
tro, o que seria justamente ter fé no outro. É quando me mantenho
fiel, mesmo quando ninguém está olhando, ainda que sofrendo
algum dano. É esta capacidade de ser fiel ao outro sob quaisquer
circunstâncias, de ser leal em qualquer situação, de modo que a
confiança do outro em mim é alimentada. Numa quebra de con-
fiança no casamento, permanecer com quem a quebrou significa
extrema lealdade aos votos conjugais.
Como a confiança não depende tanto de quem a sente, mas
muito mais do relacionamento e experiências com o outro, a úni-
ca chance de restauração é exatamente o exercício da fé, ou seja, da
lealdade e fidelidade ao outro, mas principalmente da disposição do
outro de restaurar essa confiança perdida. É um trabalho em conjun-
to, mas que dependerá muito mais de quem quebrou a confiança.
Existem casos, porém, em que a confiança foi quebrada por
outros, e então passamos a desconfiar de todos. Por exemplo: al-
guém que sofreu a dor da traição e do abandono num relaciona-
mento anterior tem a tendência a não conseguir tão facilmente
confiar num novo relacionamento. É preciso, nestes casos, traba-
lhar a questão da associação do relacionamento atual com as ex-
periências anteriores.
A única maneira de gerar um relacionamento de mútua con-
fiança entre os envolvidos é a transparência, ou seja, a disposição
de ser totalmente honesto sobre o seu passado expondo todas as
suas dificuldades com relacionamentos anteriores. É importante
expor tudo, inclusive situações de abuso, sejam sofridos ou cau-
sados a outros. A pessoa que vai se relacionar com você tem o di-
reito de decidir se aceita ou não começar um relacionamento com
alguém que já cometeu algum delito. Descobrir algo deste tipo
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 97

depois do relacionamento iniciado pode tornar a restauração da


confiança mais difícil ainda.
Honestamente, em nosso processo de cura e restauração,
mesmo meu marido se dispondo a restaurar essa confiança perdi-
da, eu não conseguia acreditar, ter fé de que ele conseguiria fazer
isso. Não tinha fé de que eu conseguiria voltar a confiar nele, mas
aprendi a ter fé naquilo que Deus me falava através de sua Pala-
vra e assim trazer à existência esta confiança perdida, me manten-
do fiel e leal, dentro do nosso relacionamento.
Deus então ministrou muito meu coração a este respeito e
me deu uma Palavra a qual me apeguei e consegui exercer a fé
tão necessária para que meu marido também tivesse esperança
de reconquistar a minha confiança. Jó 14.7-9 diz “Para a árvore pelo
menos há esperança: se é cortada, torna a brotar, e os seus renovos vin-
gam. Suas raízes poderão envelhecer no solo e seu tronco morrer no chão;
ainda assim, com o cheiro de água ela brotará e dará ramos como se fosse
muda plantada”. Esta foi a Palavra a qual me apeguei. Como vejo
a confiança como uma árvore e eu sabia que, no nosso caso, havia
sido arrancada pela raiz, entendi que ao cheiro das águas, que é o
Espírito de Deus, iria voltar a brotar e poderia até mesmo ter seu
processo de crescimento acelerado por Deus. Assim aconteceu.
Quando meu esposo abandonou sua cultura de vício, pas-
sou a meditar diariamente na Palavra de Deus e a se dedicar mais
a mim e aos nossos filhos e, principalmente, a cumprir tudo o que
estávamos aprendendo sobre hombridade, paternidade, liderança
na família e a como amar a sua esposa como Cristo amou a Igreja,
se entregando por ela (Efésios 5.25), comecei a crescer em confian-
ça nele novamente.
Ele deixou sua carreira profissional para se curar e ser res-
taurado, entendendo em Deus que precisava também fazer algo a
respeito deste assunto no que tange a outros casamentos afetados
pelo vício sexual. Começou também a trabalhar com os jovens na
prevenção, me chamando para começarmos a nos preparar para o
ministério de cura e restauração de famílias, o que Deus também já
98 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

falava fortemente ao meu coração. Então, comecei a ver esta con-


fiança, baseada em Deus, ser reconstruída, além de experimentar
uma restituição de Deus da admiração e respeito pelo meu marido.
Hoje eu estou ciente das dificuldades do meu esposo e en-
tendo que ele precisa vigiar na área sexual, mas vê-lo andar na
luz, admitindo sua fraqueza e se fortalecendo no Senhor para ven-
cê-la, me dá a segurança neste Deus de que posso confiar nova-
mente. Algumas de suas atitudes do andar na luz tem sido: me
fazer me sentir segura do seu amor e lealdade, não ficar em qual-
quer ambiente sozinho com outra mulher, nem mesmo dar caro-
na sozinho no carro para outra mulher, não aconselhar mulheres
sem estar acompanhado de mais alguém, de preferência eu, me
manter informada de toda e qualquer tentativa de aproximação
de alguma mulher de forma suspeita etc..
Acredito que vale a pena confiar neste Deus que cura e res-
taura, que faz com que todas as coisas contribuam para o nos-
so bem no final (Romanos 8.28), então eu encorajo você a não se
deixar abater e a não pensar em desistir só porque já não con-
fia em seu cônjuge, principalmente se ele está disposto a recu-
perar sua confiança perdida e tem lhe dado frutos do verdadei-
ro ­arrependimento.
E quando a confiança em outras áreas, não somente nesta
relacionada à sexualidade, também foi quebrada? Podemos em
todo e qualquer caso aplicar o mesmo princípio.
Meu marido, antes de perder a minha confiança no que diz
respeito à sexualidade, já a havia perdido em muitas áreas. Havia
muito tempo que ele não fazia eu me sentir a pessoa mais impor-
tante da sua vida; também com relação às crianças, na sua pater-
nidade, ele era muito relapso e negligente; e nas finanças, dentre
outras áreas, pois mesmo em situações simples de compromisso
comigo e as crianças, ele costumava falhar. Por exemplo: ele to-
mava muitas decisões financeiras sem me comunicar ou, quando
comunicava, não considerava a minha opinião a respeito, o que
nos ocasionou muitos prejuízos financeiros.
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 99

A primeira vez mais séria que me lembro foi com relação


à nossa festa de casamento, da qual tivemos que abrir mão. Ha-
víamos planejado juntos uma pequena comemoração, ainda que
simples. Faltando apenas um mês, quando eu ia entregar os con-
vites, ele decidiu mudar os planos para o dinheiro que seria usa-
do para a festa transferindo-o para um familiar que inventou na
época uma urgência, e depois de um tempo nos confessou que era
mentira. Ali não me senti prioridade para o meu noivo em relação
ao seu familiar e também sofremos uma considerável perda finan-
ceira e emocional, afinal era nossa festa de casamento. Mas era
uma situação inventada que envolvia ameaça de morte, então eu
cedi sem muita resistência e fizemos apenas um almoço em famí-
lia, depois do casamento civil com a benção de um pastor auxiliar
da nossa igreja.
Mais tarde, ainda em nosso primeiro ano de casados, havía-
mos começado a pagar um consórcio imobiliário e, novamente,
por orientação deste mesmo familiar, meu esposo decidiu parar
de pagar o consórcio, o que eu não concordei... Em muitas outras
ocasiões nos prejudicou financeiramente mudando planos que
havíamos feito juntos, por causa da interferência desta mesma
pessoa. Em Gênesis 2.24 diz: “Por essa razão, o homem deixará pai e
mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”. Isto sig-
nifica que ninguém, nenhum familiar, nem mesmo a mãe ou o pai,
deve ser mais importante que o seu cônjuge.
Ouvimos muitas histórias em nossos aconselhamentos de
casais acerca de conflitos envolvendo sogros justamente porque
um dos cônjuges não tem deixado seu pai e sua mãe para se unir
ao seu marido ou a sua esposa. Ouvir a opinião dos pais quando
se vai tomar uma difícil decisão para a família não deixa de ser
importante, mas a opinião do cônjuge deve ser mais importante.
Perceber que a opinião de outros era mais considerada do que a
minha era algo que me machucava bastante e gerava conflito em
meu casamento.
100 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

É imprescindível que o marido e a esposa entendam o quan-


to é importante o exercício da lealdade no relacionamento para
que a confiança, em nenhuma área, venha a ser abalada.
A profissão e o trabalho do meu esposo também sempre es-
tavam antes de mim e dos nossos filhos, de modo que ele deixava
de participar de momentos importantes da família por qualquer
motivo que envolvesse seu trabalho. Ele chegou a perder visitas
pastorais à nossa casa, mesmo planejadas e agendadas, aniversá-
rios meus e de nossos filhos, não esteve presente na minha colação
de grau na Universidade quando me formei, também me deixou
sozinha no hospital quando nossos filhos nasceram, mandando
estranhos ficarem comigo etc.. Eu me sentia pouco ou nada im-
portante para ele.
Inclusive já na missão, exercendo o ministério, ainda houve
ocasiões em que meu esposo marcou algo comigo e por causa de
algum compromisso ministerial de última hora, desmarcou em
cima da hora comigo, considerando os outros mais importantes
do que o nosso relacionamento. É importante entender a priorida-
de aqui. Deus deve sim estar em primeiro lugar, no que tange ao
relacionamento íntimo e pessoal com Ele, mas em seguida, deve
vir o cônjuge, juntamente com os filhos, ou seja, a família e só de-
pois trabalho ou mesmo o ministério, quando o trabalho envolve
ministério, como é o nosso caso. Hoje, meu esposo entende isso e
tem sido bem diferente agora. Tim Keller21 disse certa vez: “Ne-
nhum ministério é mais importante que sua esposa”.
Pouco a pouco, em suas novas atitudes, diferentes das ante-
riores, meu esposo reconquistou a minha confiança de modo que
estou crescendo novamente em confiança nele, assim como uma
árvore pode voltar a brotar e crescer depois de arrancada.

21
Timothy J. Keller (nascido em 1950) é um pastor americano, teólogo e apologista cristão. Ele
é mais conhecido como o pastor fundador da Igreja Presbiterária Redentora em Nova York.
É o autor dos livros mais vendidos do New York Times: A Razão para Deus: Crença na Era
do Ceticismo; O Deus Prodigal: Recuperando O Coração da Fé Cristã, e Oração: Experimen-
tando Impulso e Intimidade com Deus.
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 101

8.6 O LEITO CONJUGAL CONTAMINADO


Hebreus 13.4 diz o seguinte: “O casamento deve ser honrado
por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais
e os adúlteros”.
Mesmo antes de conhecermos o nosso cônjuge, devemos fi-
delidade a ele, por isso a importância de manter a pureza sexual
até o casamento e se guardar apenas para o seu futuro cônjuge.
Mas também é necessário manter a pureza sexual após o casamen-
to, não contaminando o leito com relações extraconjugais ou com
práticas imorais ainda que com o cônjuge.
Abaixo há uma lista de algumas práticas imorais na área
sexual que contaminam o leito conjugal. A pornografia, a mas-
turbação e a fantasia constituem o primeiro nível da imoralidade
sexual e podem entrar de forma muito sutil também no casamen-
to. Entrar no primeiro nível da imoralidade sexual é um perigo
porque o sexo jamais pode saciar a sede emocional e espiritual. As
doses tenderão a crescer e poderá virar um vício, uma compulsão
sexual, o que poderá levar o casal a práticas bizarras, principal-
mente quando um dos cônjuges já experimentou algumas delas
antes de se casar. Adiante segue a descrição de algumas práticas
imorais ou até mesmo bizarras. Normalmente se começa com algo
bem básico, mas muitos ultrapassam limites cada vez maiores.22

• Sexo Consensual mas em busca apenas do próprio prazer


- A motivação é o sexo e o prazer que pode ter através do
contato com o outro. A outra pessoa é apenas um trampolim
para chegar ao prazer sexual;
• Frotteurismo - É a atitude de um homem que para obter
prazer sexual, necessita tocar e esfregar seu pênis em outra
pessoa, completamente vestida, sem o consentimento dela,
excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso ocorre
22
Dra Alice Koch e Dra Dayane da Rosa. https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/per-
versoes-sexuais-ou-parafilias e https://psicologosbrasil.wordpress.com/2012/11/30/per-
versao-sexual/
102 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

mais comumente em locais onde há grande concentração


de pessoas, como metrôs, ônibus e outros meios de loco-
moção públicos.
• Coprofilia - Também chamada coprolagnia, identifica a ex-
citação erótica motivada pelo cheiro ou contato com fezes.
• Urofilia - Também chamada urolagnia, é a variante da co-
profilia em relação à urina.
• Ninfomania - É a paixão intensa, de caráter mórbido. A mu-
lher não se satisfaz sexualmente com um só parceiro. Chega
até a sangrar os órgãos genitais e não encontra o prazer sa-
tisfatório final.
• Necrofilia - É a compulsão de ter relações sexuais com ca-
dáveres devido a uma atração irresistível, principalmente
com mulheres recentemente sepultadas, não importando a
idade. Não conseguem resistir a tão asqueroso impulso.
• Exibicionismo - É quando a pessoa mostra seus genitais a
uma pessoa estranha, em geral em local público e a reação
desta pessoa a quem pegou de surpresa lhe desperta exci-
tação e prazer sexual, mas geralmente não existe qualquer
tentativa de uma atividade sexual com o estranho. As pes-
soas que abaixam as calças em sinal de protesto ou ataque a
preceitos morais não são exibicionistas, pois não fazem isso
com finalidade sexual.
• Vouyerismo - É quando alguém precisa observar pessoas
que não suspeitam estarem sendo observadas, quando elas
estão se despindo, nuas ou no ato sexual, para obter excita-
ção e prazer sexual.
• Fetichismo - É quando a preferência sexual da pessoa está
voltada para objetos, tais como calcinhas, sutiãs, luvas ou
sapatos, sendo que a pessoa utiliza tais objetos para se mas-
turbar ou exige que a parceira sempre use o objeto em ques-
tão durante o ato sexual, caso contrário não conseguirá se
excitar e realizar o ato sexual.
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 103

• Masoquismo e Sadismo Sexual - Existe masoquismo quan-


do a pessoa tem necessidade de ser submetida a sofrimento,
físico ou emocional, para obter prazer sexual e o sadismo
é quando a pessoa tem necessidade de infligir sofrimento
(físico ou emocional) a um outro, e disso decorre excitação
e prazer sexual. O mais comum ao se pensar em sadomaso-
quismo é associar o sofrimento a agressões físicas e torturas,
mas o sofrimento psicológico também pode ser considerado
forma de sadomasoquismo e consiste na humilhação que se
pode sentir ou impor. Atos sadomasoquistas só serão con-
siderados parafilias quando forem repetitivos e exclusivos,
sendo que quando eles ocorrem ocasionalmente, dentro de
um relacionamento sexual normal, são apenas formas alter-
nativas de prazer, e não uma perversão.
• Hipoxfilia - Esta palavra significa literalmente “atração por
teor reduzido de oxigênio”. Esse tipo de perversão consiste
em tentar intensificar o estímulo sexual pela privação de oxi-
gênio, seja através da utilização de um saco plástico amarra-
do sobre a cabeça ou de alguma técnica de ­estrangulamento.
• Pedofilia - Envolve pensamentos e fantasias eróticas repeti-
tivas ou atividade sexual com crianças menores de 13 anos
de idade. Está muito comumente associado a casos de inces-
to, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia envolve pessoas
da mesma família (pais/padrastos com os filhos e filhas).
Em geral o ato pedofílico consiste em toques, carícias geni-
tais e sexo oral, sendo a penetração menos comum. Hoje em
dia, com a expansão da internet, fotos de crianças têm sido
divulgadas na rede, sendo que olhar essas fotos, de forma
frequente e repetida, com finalidade de se excitar e mastur-
bar-se consiste em pedofilia.
• Fetichismo Trasvéstico - É caracterizado pela utilização de
roupas femininas por homens heterossexuais para se exci-
tarem, se masturbarem ou realizarem o ato sexual, sendo
que em situações não sexuais se vestem de forma normal.
104 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Quando passam a se vestir como mulheres a maior parte


do tempo, pode haver um transtorno de gênero, tipo tran-
sexualismo por baixo dessa atitude. É importante ressaltar
que o fetichismo transvéstico também só é diagnosticado
como uma parafilia quando é feito de forma repetitiva e ex-
clusiva para obter prazer sexual.
• Prostituição - Pratica antiga de praticar sexo. A pessoa paga
pelo serviço de outra para poder fazer uso de seu corpo.
Geralmente vazio de sentimentos e a finalidade apenas é
chegar ao orgasmo pagando por ele.
• Clismafilia - Refere-se à excitação erótica provocada pela
injeção de alguma substância no reto.
• Zoofilia - Também conhecida como bestialismo, é o sexo feito
com animais, que em alguns casos são até treinados para isso.

Além das práticas listadas acima, gostaria de também men-


cionar a prática do suingue, que é a troca de casais e as orgias, que
é quando mais pessoas são colocadas na cama do casal. A pureza
sexual só é mantida dentro do casamento quando o sexo é reali-
zado regularmente apenas entre os cônjuges, sem lascívia, mas se
importando com a satisfação íntima mútua.
I Coríntios 6.15-16 diz: “Vocês não sabem que os seus corpos são
membros de Cristo? Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a uma
prostituta? De modo nenhum! Vocês não sabem que aquele que se une
a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: “Os dois
serão uma só carne”. Este texto confirma que a relação sexual é o
que torna um homem e uma mulher uma só carne, portanto, é o
que concretiza uma aliança. Somente dentro do casamento o sexo
gera uma aliança genuína entre duas pessoas. E o que ocorre no
mundo espiritual quando pessoas não casadas mantem relações
sexuais? Elas constituem alianças iníquas.
O termo aliança é utilizado para designar pactos ou uniões e
no mundo espiritual tem um significado muito importante. Alian-
ças geralmente são seladas com um sinal exterior. No mundo es-
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 105

piritual, são seladas com sangue. A nova aliança de Deus com os


homens foi selada com o próprio sangue de Jesus, vertido na cruz,
conforme Hebreus 9.15 que diz: “Por essa razão, Cristo é o mediador
de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da
herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões co-
metidas sob a primeira aliança”, e a antiga aliança também foi sancio-
nada com sangue, uma vez que eram exigidos ofertas e sacrifícios
pelos pecados, desde a saída do homem do Édem. Hebreus 9.18
confirma: “Por isso, nem a primeira aliança foi sancionada sem sangue”.
A primeira relação sexual entre um homem e uma mulher
deve selar uma aliança de sangue entre eles, por isso o hímen na
mulher se rompe na sua primeira relação sexual.
Em seu livro O Porquê do Hímen, Shelia Cooley explica:

“O derramamento de sangue da ruptura do hímen é


plano divino para um marido e uma mulher entrarem em
uma aliança de sangue um com o outro, e é a primícia do
seu casamento. O desejo de Deus é que os dois se unam na
relação sexual pela primeira vez, permanecendo à sombra
do Altíssimo”.23

Mesmo depois do rompimento do hímem, sempre que um


homem e uma mulher, aliançados ou não pelo casamento, man-
tém relações sexuais, é como se estivessem fazendo ou renovando
sua aliança, firmando ou reafirmando um pacto entre eles, pois
durante a relação sexual existe uma troca de fluídos sanguíneos.
Uma aliança iníqua de almas é feita quando um homem e
uma mulher, fora do casamento, ou duas pessoas do mesmo sexo,
ou até mesmo uma pessoa e um animal, têm relações sexuais. O
sexo é algo altamente espiritual, não acontecendo somente no cor-
po, como já discorremos anteriormente, sendo assim, quando uma
pessoa mantém relações sexuais com vários parceiros e até mesmo
animais, está conectando sua alma a cada um deles e vice e versa.

23
Shelia Cooley, O Porquê do Hímen. Página 27
106 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Neste ponto, gostaria de salientar a importância de serem


quebradas todas as ligações de almas que ocorreram fora da alian-
ça do casamento, mesmo quando ocorreram antes de conhecer o
seu cônjuge, pois, estas alianças podem trazer para a cama do ca-
sal influências espirituais malignas, contaminando o leito conju-
gal, atrapalhando o bom relacionamento íntimo do casal, como
frigidez na mulher, falta de desejo e prazer do homem com a es-
posa, lembranças de parceiros anteriores durante o ato sexual do
casal, desejos lascivos, apenas pelo corpo do outro no sentido de
satisfação própria e não de satisfação mútua, dentre outros.
É preciso fazer uma relação de todas as pessoas, inclusive
animais, com as quais já se teve relações sexuais. No caso de ocor-
ridos divórcios, também devem ser rompidas as alianças com os
cônjuges anteriores, e declarar, através da oração, renúncia a estas
alianças, destruindo-as no mundo espiritual, se desligando de cada
uma dessas pessoas ou animais, tomando para si o que ficou neles
e pertencem a você, e devolvendo a eles o que possa estar em você
que lhes pertence no mundo espiritual. Quando for o caso, é bom
também devolver ou destruir objetos e fotografias que possam ge-
rar alguma ligação física e/ou emocional com aquelas pessoas ou
animais, clamando pelo sangue de Jesus, para que sejam rompidas
e cessadas todas e quaisquer influências espirituais malignas que
estas alianças possam estar trazendo para o leito conjugal.
Jesus deve ser o autor de uma nova aliança entre você e seu
marido, como está em Hebreus 9.15: ”Por essa razão, Cristo é o me-
diador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a pro-
messa da herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas trans-
gressões cometidas sob a primeira aliança”. A partir de então, você e
seu cônjuge devem cumprir a recomendação que está em Hebreus
13.4: “O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conser-
vado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros”.
Para um entendimento mais profundo e minucioso sobre
este assunto, recomendo a leitura do livro Até Quando Esperar –
O Mistério da Virgindade, de Shelia Cooley.
– PARTE II – Por que tudo isso? | Capítulo 8 : As Consequências do Pecado Sexual • 107

Partiremos agora para a terceira parte do livro em que va-


mos falar sobre o que eu e meu marido temos aprendido como
casal, e que nos ajuda a experimentarmos finalmente de um casa-
mento à maneira de Deus, como Ele planejou, na sua essência, na
nossa comunicação e na nossa intimidade.
– PARTE III –
O caminho do renovo
Nas Escolas de JOCUM já trabalhando como obreiros em 2015

À esquerda, dia 17 de abril de 2016, quando fui internada para cirurgia de


urgência... Demais fotos, em Missões no Brasil e nos EUA.
9
A Nossa Necessidade
de Amor

“Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a


liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam
uns aos outros mediante o amor”. — Gálatas 5.13

Costumamos pensar que estamos comunicando o nosso amor por


nossos familiares, sejam nossos pais, irmãos, cônjuge ou filhos,
de forma a fazê-los sentirem-se verdadeiramente amados, até
nos darmos conta de que eles não estão se sentindo amados por
nós. E quando existem conflitos e pedimos desculpas ou ten-
tamos explicar, também pensamos que ficou resolvido, porém,
numa outra ocasião, aquela situação vem de novo à tona e não
conseguimos entender.
Após ler As Cinco Linguagens do Amor e As Cinco Lingua-
gens do Perdão, de Gary Chapman, pude compreender o porquê
de isso acontecer. Trata-se de um entendimento maravilhoso e li-
bertador sobre como aprender a identificar e a falar a linguagem
do amor e a linguagem do perdão das pessoas mais próximas de
nós e assim conseguirmos realmente comunicar o nosso amor e
resolver também nossos conflitos de maneira eficaz. Geralmen-
te pensamos que estamos nos comunicando de forma eficaz até
percebermos que o outro não nos entende e que também não o
entendemos, apesar de falarmos o mesmo idioma. Temos a sen-
sação nítida de falarmos linguagens diferentes e é justamente
isso o que acontece.
112 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

O fato é que, apesar de falarmos o mesmo idioma no nosso


convívio familiar, ou mesmo na escola, faculdade e/ou trabalho, a
história de vida e a personalidade de cada um faz com que tenha
sua própria linguagem nas suas emoções, por vezes muito dife-
rente da nossa.
Vamos discorrer um pouco sobre estas linguagens emocio-
nais, do amor e do perdão, para buscarmos uma comunicação efi-
ciente e, ao crescermos neste entendimento, podermos aplicá-lo
no nosso dia-a-dia, melhorando os nossos relacionamentos, nos
tornando até mesmo capazes de restaurar relacionamentos em cri-
se ou que até mesmo foram rompidos.
Neste capítulo falarei mais das linguagens do amor.
Todos nós precisamos do amor. Deus é amor e há em cada
um de nós essa profunda necessidade dEle, do amor. Desde a nos-
sa formação no ventre, necessitamos sentir que somos amados e a
falta disso pode causar um profundo sentimento de rejeição, ain-
da que inconsciente.
Durante a infância, precisamos nos sentir amados por nos-
sos pais ao cuidarem de nós na higiene pessoal, na nutrição, nos
toques, ou na atenção a nós dispensada na hora de nos ensinar
para, assim, crescermos saudáveis. Na adolescência, se torna ain-
da mais necessário nos sentirmos amados por nossos familiares,
pois é também nesta fase que ocorre o despertar da sexualidade
que só vai se desenvolver de forma saudável se não houver em
nós uma carência acima do normal de sermos amados. Porém,
muitas vezes, não nos sentimos amados, mesmo quando tivemos
todo esse cuidado e atenção dos nossos pais durante o período
gestacional, infância e adolescência.
Gary Chapman, em seu livro As Cinco Linguagens do Amor,
afirma que “O problema é que não levamos em conta uma verdade fun-
damental: as pessoas falam diferentes linguagens do amor”.24 Assim
como existem grandes grupos de idiomas e vários dialetos na lin-

24
Gary Chapman. As Cinco Linguagens do Amor. Páginas 6.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 9: A Nossa Necessidade de Amor • 113

guística, o mesmo acontece no âmbito do amor. Gary Chapman


explica o seguinte:

Minha conclusão, após vinte anos de aconselhamen-


to conjugal, é que existem, basicamente, cinco linguagens
do amor. Em linguística, um idioma pode ter inúmeros dia-
letos e variações.
Semelhantemente, com as cinco linguagens emocio-
nais básicas do amor, também há vários dialetos. Eles se
encontram nos artigos das revistas, tais como: “Dez For-
mas de Demonstrar Amor à Sua Esposa”; “Vinte Maneiras
de Segurar Seu Marido em Casa”; ou “365 Expressões do
Amor Conjugal”. Não há dez, vinte, ou 365 linguagens bá-
sicas do amor. Em minha opinião, há somente cinco. No en-
tanto, pode haver inúmeros dialetos. O número de formas
de se expressar amor através da linguagem do amor é limi-
tado apenas pela imaginação das pessoas. O importante é
falar a mesma linguagem do amor de seu cônjuge. 25

Amor não está relacionado à paixão. O Dr Scott Peck afirma


que a paixão “é um componente instintivo e geneticamente determina-
do do comportamento de acasalamento. Em outras palavras, um colapso
temporário das reservas do ego que constituem o apaixonar-se; é uma
reação estereotipada do ser humano a uma configuração de tendências
sexuais internas e estimulações sexuais externas, as quais se designam
ao crescimento da probabilidade da união e elo sexual, tendo em vista a
perpetuação da espécie”.26
Gary Chapman complementa dizendo que “o amor verda-
deiro não começa enquanto a experiência da paixão não tiver seguido
seu curso”.27

25
Idem. Páginas 7.
26
Idem. Página 19.
27
Idem. Página 20.
114 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Vou agora abordar brevemente cada uma das cinco lin-


guagens do amor para que possamos compreendê-las melhor e
aprender a identificar e a falar a linguagem do amor e do per-
dão das pessoas que mais amamos em nossas vidas de modo a
comunicarmos verdadeiramente nosso amor a elas. No capítulo
seguinte, em que vou falar sobre perdão e reconciliação, abordarei
as linguagens do perdão.

AS LINGUAGENS DO AMOR
Vamos chamar o espaço vazio em nós que necessita ser
abastecido por amor de “tanque emocional”.
Em seu livro, Gary Chapman explica que quando o “tan-
que emocional” de uma pessoa está cheio e ela se sente segura do
amor daqueles que ela ama, o mundo todo fica mais claro e ela
caminha para atingir o mais alto potencial de sua vida. Porém,
quando este “reservatório” está vazio e ela se sente usada e não
amada, o mundo todo parecerá escuro e não conseguirá utilizar
seu potencial de vida. Existem cinco principais linguagens emo-
cionais do amor. Costumamos sentir e comunicar amor através
das cinco, porém sempre uma ou duas delas serão mais fortes e
evidentes para nós.

9.1 PALAVRAS DE AFIRMAÇÃO


Palavras de Afirmação são uma das linguagens básicas do
amor. Uma forma de se expressar o amor emocional é utilizar pa-
lavras que edificam. Salomão escreveu em Provérbios 18.21 que
“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do
seu fruto”; e em Provérbios 12.25 que “A ansiedade no coração do ho-
mem o abate, mas a boa palavra o alegra”. Elogios verbais e palavras
de apreciação são poderosos comunicadores do amor.
Há muitas formas de se dizer palavras de afirmação, entre
elas, escrevê-las. Um bilhete, carta ou e-mail, são muito poderosos
como forma de expressar amor a alguém cuja principal linguagem
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 9: A Nossa Necessidade de Amor • 115

do amor seja palavras de afirmação, pois frases escritas têm a van-


tagem de serem lidas várias vezes. Outra coisa que se pode fazer é
pronunciar palavras de afirmação de forma indireta, ou seja, dizer
algo positivo sobre alguém, mesmo na sua ausência.
Há vários tipos, ou dialetos, de Palavras de Afirmação como:

• Palavras encorajadoras - Encorajamento nos leva a ver o


mundo da perspectiva do outro, comunica: “Eu sei. Eu me
preocupo. Estou do seu lado. Como posso ajudá-lo? ” É uma
forma de dizer que acreditamos em suas habilidades.
• Palavras bondosas - Tem a ver com a forma através da qual
nos expressamos. Uma mesma sentença pode ter dois dife-
rentes significados, dependendo de como ela é apresenta-
da. Algumas vezes nossas palavras dizem uma coisa, mas o
tom de voz afirma outra completamente diferente.
• Palavras Humildes - O amor faz solicitações, não impo-
sições. A forma como expressamos esses desejos é muito
importante. Se os colocamos como ordens, eliminamos as
possibilidades da intimidade e afugentamos nosso familiar.
Um pedido cria uma oportunidade de se expressar amor, ao
passo que uma ordem sufoca essa possibilidade.
• Dialetos Diversos - Há diversas outras formas de expres-
sarmos nosso amor com palavras. A gratidão ou o reconhe-
cimento de alguma coisa que alguém faz de bom é mais
uma delas.

Para aqueles cuja linguagem principal do amor seja pala-


vras de afirmação, as palavras contrárias, como críticas, desde-
nho, abusos verbais, são altamente nocivas, por isso devemos to-
mar muito cuidado com o que falamos a essas pessoas.
116 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

9.2 QUALIDADE DE TEMPO


Qualidade de tempo tem a ver com o focalizar a atenção.
Quando um pai está sentado no chão e brinca com um brinquedo
com o seu filho, sua atenção deve estar focalizada na criança e
não no brinquedo. Naquele momento, por mais breve que seja,
enquanto durar, eles estão juntos. Se, no entanto, o pai fala ao tele-
fone enquanto brinca com o filho, sua atenção está dividida.
Há maridos e esposas, pais e filhos achando que gastam
tempo juntos, mas simplesmente estão ficando próximos. Muitas
vezes eles estão no mesmo ambiente, ao mesmo tempo, mas não
estão juntos. Um marido que assiste a uma sessão de esportes na
televisão enquanto conversa com a esposa não lhe concede “Qua-
lidade de Tempo”, pois não lhe dá total atenção.
Gary Chapman afirma o seguinte:

Dedicar “Qualidade de Tempo” não significa olhar


nos olhos um do outro o tempo todo. Quer dizer fazer
coisas juntos e conceder atenção total a quem está conos-
co. A atividade com a qual nos envolvemos é secundária.
A importância é emocional e refere-se à atenção total que
concedemos e recebemos. A atividade em si é um veículo
que proporciona o sentimento da interação. O que é im-
portante no fato do pai chutar a bola para o filho de dois
anos, não é a atividade em si, mas as emoções suscitadas
entre os dois.28

A linguagem da “Qualidade de Tempo” também possui vá-


rios dialetos. Um dos mais utilizados é a conversa de qualidade,
onde, num diálogo acolhedor, duas pessoas compartilham expe-
riências, pensamentos, emoções e desejos, de forma amigável e
em um contexto sem interrupções. A maioria das pessoas que re-

28
Gary Chapman. As Cinco Linguagens do Amor. Página 28.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 9: A Nossa Necessidade de Amor • 117

clamam que seus cônjuges não conversam, raramente tem com ele
um diálogo mais íntimo.
Conversa de qualidade é bem diferente da primeira lingua-
gem do amor. Palavras de afirmação focalizam o que afirmamos,
ao passo que conversa de qualidade focaliza o que ouvimos. Se
externo meu amor por você através da “Qualidade de Tempo” e
gastamos esse tempo juntos, significa que o propósito estará em
ouvir atentamente o que o outro diz. Fazemos perguntas, não por
obrigação, mas com o desejo genuíno de entender os pensamen-
tos, sentimentos e desejos do outro.
Aprender a ouvir pode ser tão difícil quanto estudar uma
língua estrangeira, porém, se quisermos comunicar o amor, pre-
cisamos aprender a ouvir. Isso é especialmente importante, se a
primeira linguagem de seu familiar for “Qualidade de Tempo”
e se o dialeto dele for conversa de qualidade. Veja algumas dicas
para a escuta ativa:

1. Olhe nos olhos, pois assim você comunica que o outro real-
mente recebe sua total atenção.
2. Não faça outra coisa enquanto ouve. Se estiver envolvido
noutra atividade e não puder desviar a atenção imediata-
mente, peça-lhe para aguardá-lo um pouco, até que você
conclua o que está fazendo, para que você possa dedicar-lhe
total atenção.
3. “Escute” o sentimento. Procure discernir o tipo de emoção
que o outro sente no momento. Quando achar que desco-
briu, confirme. Por exemplo: “Tenho a impressão que você
está desapontado por eu ter esquecido de...”.
4. Observe a linguagem corporal. Punhos cerrados, mãos trê-
mulas, lágrimas, cenho franzido e expressão dos olhos for-
necem pistas do que o outro sente. Algumas vezes, a lingua-
gem verbal diz uma coisa, enquanto a corporal afirma outra.
5. Recuse interrupções. Pesquisas recentes indicam que, em
média, as pessoas ouvem apenas 17 segundos antes de in-
118 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

terromperem para inserir na conversa as próprias ideias. Se


você dedicar sua total atenção enquanto o outro fala, evitará
defender-se a fim de fazer acusações ou mesmo, dogmatica-
mente, evidenciar sua posição. O objetivo é perceber os sen-
timentos e pensamentos do outro. A intenção é compreen-
der o outro.

Uma conversa de qualidade requer não somente considera-


ção ao ouvir, mas também disposição em se expor. A transparên-
cia traz intimidade. Costumamos tomar nossas decisões baseados
em nossos pensamentos e emoções. Nem todos estão desconecta-
dos de suas emoções, mas quando o assunto vem à tona, todos são
afetados por sua maneira específica de ser.
Na linguagem básica do amor “Qualidade de Tempo” há
outro dialeto que se chama atividades de qualidade. Podem ser
cultivar um jardim, fazer compras, colecionar antiguidades, ou-
vir música, fazer piqueniques, caminhar ou lavar o carro etc., que
possibilitam o armazenamento de um banco de memórias, de oca-
siões das quais sempre vamos nos lembrar.
Quando estivermos com alguém que amamos, devemos
dedicar nossa total atenção à pessoa, pois se estivermos juntos,
porém dedicando nossa atenção a outra coisa e sua principal lin-
guagem do amor for qualidade de tempo, ela pode passar a evitar
a nossa companhia por sentir que é vazia de nossa real atenção.

9.3 RECEBER PRESENTES


Há pessoas que gostam de ganhar presentes e só assim
se sentem amadas. Neste quesito, não importa o presente em
si, mas o receber presentes. Gary Chapman explica o seguinte
sobre presentes:

“Existem presentes de todos os tamanhos, cores e


formatos. Alguns são caros, outros baratos. Para aquela
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 9: A Nossa Necessidade de Amor • 119

pessoa cuja primeira linguagem do amor é receber presen-


tes, o preço pouco contará, a menos que haja uma enorme
discrepância entre o que se deu e o que se poderia oferecer.
Se um marido milionário concede regularmente à sua es-
posa presentes de somente um dólar, ela poderá questionar
se aquela é realmente uma expressão de amor. Por outro
lado, quando as finanças da família são reduzidas, um pre-
sente de um dólar significará tanto quanto um outro de um
milhão de dólares”.29

Se você quer se tornar um presenteador eficaz, deve mudar


sua atitude em relação ao dinheiro. Precisamos aprender a econo-
mizar e gastar nosso dinheiro sabiamente. Se você não tem pro-
blema com gastar, não terá dificuldades em comprar presentes.
Porém, se for tipo “mão fechada”, experimentará uma resistência
emocional à ideia de gastar seu dinheiro como expressão de amor.
Mas se descobrir que a primeira linguagem do amor de seu filho
ou cônjuge é “Receber Presentes” vai perceber que comprar pre-
sentes para ele é um grande investimento.
Você investirá em seu relacionamento e encherá o “tanque
emocional” de seu familiar. Com o “tanque cheio”, ele correspon-
derá ao seu amor emocional em uma linguagem que você por cer-
to entenderá.
A sua presença ou o presente de si mesmo é um tipo de pre-
sente que é intangível e às vezes fala mais alto do que qualquer
objeto que você possa ter nas mãos. Estar ao lado de seu familiar
quando ele precisa de você pode ser um presente inestimável. Por
isso, não devemos magoar quem amamos, nos ausentando dele
em momentos de dificuldades.

29
Gary Chapman. As Cinco Linguagens do Amor. Página 50.
120 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

9.4 FORMAS DE SERVIR


Jesus ilustrou o amor nesta linguagem de forma profunda
quando lavou os pés dos discípulos. Naquela cultura, onde as
pessoas usavam sandálias e caminhavam por estradas poeirentas,
era costume os servos lavarem os pés dos convidados que chega-
vam. Depois daquela simples expressão de amor, o Filho de Deus
encorajou seus discípulos a seguirem seu exemplo. Anteriormen-
te, Jesus dissera que, em seu Reino, os que desejavam ser grandes
deveriam ser servos um dos outros. Na maioria das sociedades
existentes, o maior reina sobre o menor, mas Cristo disse que os
que quisessem ser grandes, deveriam servir aos outros.
O aprendizado da linguagem do amor “Atitudes de Servi-
ço” implica analisarmos como podemos ajudar ou servir ao nosso
familiar da melhor maneira possível, principalmente quando esta
é sua principal linguagem de amor.
Uma esposa cuja principal linguagem do amor é essa, pode
se sentir muito amada por seu marido quando este lhe ajuda nos
afazeres domésticos ou no cuidado com as crianças. O marido,
por sua vez, pode se sentir muito amado quando observa o ca-
pricho da esposa na cozinha ou na organização da casa. O filho
também pode se sentir muito amado quando os pais o ajudam a
fazer suas tarefas escolares, ou o envolvem em atividades do lar.

9.5 TOQUE FÍSICO


O toque físico é outra forma de se comunicar amor. Bebês
que são tomados nos braços, beijados e abraçados desenvolvem
uma vida emocional mais saudável do que os que são deixados
durante um longo período de tempo sem contato físico.
Jesus certa vez disse: “Deixai vir a mim os pequeninos, não
os embaraceis, porque dos tais é o Reino dos Céus. Em verdade
vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança,
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 9: A Nossa Necessidade de Amor • 121

de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços


e impondo-lhes as mãos, as abençoava”.30
Gary Chapman, porém, alerta para o seguinte:

O toque físico pode iniciar ou terminar um relacio-


namento. Pode comunicar ódio ou amor. A pessoa cuja pri-
meira linguagem do amor é “Toque Físico” receberá uma
mensagem que irá muito além das palavras “Eu odeio
você” ou “Eu amo você”. Uma tapa no rosto é algo difí-
cil para qualquer criança enfrentar, mas para aquela que
possuir o “Toque Físico” como primeira linguagem do
amor, será devastador. Um abraço afetivo comunica amor a
qualquer criança, mas aquela que possuir o “Toque Físico”
como primeira linguagem do amor, desfrutará de forma
mais intensa aquele gesto, sentindo-se amada e segura. A
mesma atitude é válida para os adultos.
No casamento, o toque de amor existe em várias for-
mas. Levando-se em conta que os receptores ao toque se lo-
calizam por todo o corpo, um afago amoroso em qualquer
parte pode comunicar amor a seu cônjuge. Isso não significa
que todos os toques sejam iguais. Seu cônjuge apreciará a al-
guns mais do que a outros. Seu melhor professor, sem dúvida
alguma, será seu (sua) próprio (a) esposo (a). Afinal de con-
tas, ele (ela) é a quem você demonstrará amor. Ele (ela) sabe
exatamente o tipo de toque que mais lhe agrada. Não insista
em tocá-la (o) de seu jeito e em seu tempo. Aprenda a falar
o dialeto dele (dela), pois alguns toques podem ser conside-
rados desconfortáveis ou irritantes. A insistência em praticar
tais atos pode comunicar o oposto ao amor. Talvez afirme
que você não é sensível às necessidades dele (dela) e não se
importa com a sua percepção de prazer. Não caia no erro de
achar que o que lhe traz prazer também trará a seu cônjuge.31

30
Bíblia Sagrada, Revista e Atualizada, Marcos 10.14-16
31
Gary Chapman. As Cinco Linguagens do Amor. Páginas 72 e 73.
122 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Seu desafio agora será identificar a sua própria linguagem


do amor principal e a de seu cônjuge. Se forem linguagens dife-
rentes, precisará aprender a comunicar seu amor por seu cônjuge
na linguagem do amor dele e conversar com ele sobre a sua, no
sentido de ele também passar a comunicar de maneira mais eficaz
amor por você, de modo que mantenham cheios os “tanques emo-
cionais” de ambos.
10
O Perdão e a Reconciliação

“Então mandaram um recado a José, dizendo: Antes de morrer,


teu pai nos ordenou que te disséssemos o seguinte: “Peço-lhe
que perdoe os erros e pecados de seus irmãos que o trataram
com tanta maldade! ” Agora, pois, perdoa os pecados dos servos
do Deus do teu pai. Quando recebeu o recado, José chorou”.
— Genesis 50.16-17

Para começar este capítulo, gostaria de explicar a diferença entre


o perdão e a reconciliação.
Muitos costumam dizer que a restauração do casamento,
ou de qualquer outro relacionamento, começa com o perdão, mas
acredito que o perdão não será suficiente para começar a restau-
ração de um relacionamento, pois por mais que a parte ofendida
perdoe, se a ofensora não estiver arrependida e disposta a mudar
para manter o relacionamento, nunca haverá a reconciliação. É
claro que também não adianta que o ofensor esteja arrependido,
disposto a mudar, se não for perdoado, pois por mais que o rela-
cionamento continue, nunca mais será o mesmo sem que haja o
perdão genuíno, de coração.
Quando observamos a história de José32, vemos uma linda
história de perdão e de reconciliação. Não foi fácil para José per-
doar seus irmãos por tê-lo quase matado e, por fim, tê-lo vendido
como escravo. Por muitas vezes no texto, podemos perceber a di-
ficuldade de José ao reencontrá-los. Havia um misto de emoções.
Ele costumava chorar muito e não se revelou para eles imediata-
mente. Uma hora queria puni-los, outra hora abençoá-los. O que

32
Genesis, capítulos 37 a 50
124 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

a gente observa é uma profunda necessidade de José de saber se


seus irmãos estavam verdadeiramente arrependidos do que lhe
haviam feito. Somente quando teve certeza absoluta disto, se re-
velou para eles.
Conheço várias histórias de casamentos que não culmina-
ram num divórcio, mas que continuaram só nas aparências e mui-
tas vezes nem nisso. Somente a morte os separou fisicamente, mas
emocionalmente já estavam separados havia muitos anos porque
não existia perdão e/ou arrependimento genuíno por parte de
uma ou de ambas as partes.
Também ouvimos muitas histórias de relacionamentos en-
tre familiares, como irmãos, só em ocasiões especiais porque algo
aconteceu entre eles e nunca houve o verdadeiro perdão.
Na cruz, Jesus conquistou muita coisa para os seus e acredi-
to que a principal delas foi o poder para perdoarmos pecados me-
diante o Espírito Santo que habita em nós (João 20.22-23) e também
de sermos perdoados e nos reconciliarmos, primeiramente com
Deus, mas também uns com os outros (Efésios 2.14-16), inclusive
Ele nos confiou o ministério da reconciliação (II Coríntios 5.18-19).
Em Mateus 6.14-15, logo após ensinar o modelo de oração
conhecido como Pai Nosso, Jesus explica que há uma condição
para recebermos o perdão de Deus, que é se também oferece-
mos perdão.
Perdoar dói. É uma renúncia. Como a própria palavra diz,
trata-se de uma grande perda: PERDÃO. Vejam quão grande
renúncia Deus teve que fazer para perdoar a humanidade: seu
­próprio filho.
Em Mateus 9.5-7 Jesus pergunta o que é mais fácil fazer, per-
doar pecados ou curar um enfermo? Entendo aqui que Ele diz que
também não é fácil perdoar. Ele prova ali que tem autoridade para
perdoar pecados e divide conosco esta autoridade. Ele disse que
faríamos obras até mesmo maiores que as dEle, exercendo nEle
esta autoridade, inclusive para perdoar pecados.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 125

Em Mateus 18, a partir do versículo 15, Jesus também vai


falar de perdão. Aliás, este foi o assunto que Jesus mais ensinou,
pois perdão significa oferecer Graça, que é o padrão de justiça de
Deus. Neste texto especificamente, Jesus ensina que, quando não
perdoamos e não nos reconciliamos com nosso ofensor ou alguém
a quem tenhamos ofendido, não podemos ofertar a Deus. Tam-
bém fala do perdão incondicional, que devemos perdoar sempre,
tantas vezes quantas forem necessárias. Fala que o perdão abre
cadeias tanto em nossas vidas quanto na do outro e que quando
perdoamos na terra aquilo também é perdoado nos céus.
Se você tem lutado para perdoar, se tem deixado Deus tra-
balhar em seu coração para a cura, para o perdão, é preciso en-
tender que o perdão é um processo, que possui fases. O pastor
Marcos de Souza Borges (Coty)33 diz em um de seus livros, e que
eu concordo, o que o perdão não é:

• Não é um sentimento, é uma escolha;


• Não é uma sugestão, é um mandamento;
• Não depende do ofensor, é unilateral;
• Não significa esquecer;
• Não significa fingir que não está ferido;
• Não nos obriga a estabelecer a amizade.

O Pr Coty explica que o perdão é um processo com fases


e que “é fundamental entendermos o processo do perdão. Essa
compreensão pode ser algo decisivo na batalha interior que uma
pessoa ferida pode enfrentar”, depois relaciona as fases do per-
dão. São elas: indiferença, raiva, conflito, frustração, aceitação,
paz, memória cicatrizada e, finalmente, bom humor, exatamente
nesta ordem. O Pr Coty também diz que “o bom humor é o sintoma
de memória curada em relação ao que se experimentou. Alguns chegam

33
Marcos de Souza Borges (Coty) - Pastoreamento Inteligente – O Padrão de Aconselhamento
na Libertação. Páginas 190 a 191.
126 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

a fazer piada da situação vivida. O bom humor é, simplesmente, a menor


distância entre duas pessoas”.
Tenho entendido que, para haver reconciliação, é preciso
que haja um movimento de ambas as partes: do ofensor no senti-
do de se retratar e, muitas vezes, restituir na medida do possível; e
do ofendido no sentido de perdoar, agindo com este favor imere-
cido que é oferecer graça, um padrão de justiça do Reino de Deus,
muitas vezes inexplicável para o homem.
Gary Chapman, antropólogo, pastor e conselheiro de rela-
cionamentos há mais de 30 anos, autor de 27 livros e cinco séries
de Vídeo, em seu livro As Cinco Linguagens do Perdão, explica
que a necessidade de pedir perdão permeia todo tipo de relaciona-
mento: casamentos, criação de filhos, relacionamento entre fami-
liares, entre amigos e mesmo em relações de trabalho e ministério.
Quando não se toma a iniciativa de pedir desculpas, surge a raiva
e o anseio por justiça na pessoa ofendida. O perdão verdadeiro e
a reconciliação ocorrem mais quando alguém toma a iniciativa de
pedir desculpas.
O cristão é instruído a perdoar como Deus perdoa e a Bíblia
afirma em I João 1.9 que apenas se confessarmos os nossos peca-
dos, Deus os perdoa. Nada nas Escrituras indica que o Senhor se
reconcilia com pessoas que não confessam e nem se arrependem
de seus pecados. Porém, o conceito perdão incondicional existe
e deve ser incentivado pelo bem daquele que perdoa, o que tam-
bém gera benefício para o responsável pela ofensa, pois poderá in-
fluenciá-lo ao arrependimento. O que é importante entender aqui
é que, quando não há um pedido de desculpas, ainda que haja o
perdão, não existe a reconciliação.
O perdão e a reconciliação genuínos só ocorrem quando o
ofensor se dispõe a pedir perdão e o outro a perdoar. Assim, a bar-
reira criada pela ofensa cometida é removida e se abre o caminho
da restauração gradativa da confiança. Se o relacionamento era
terno e íntimo antes do conflito, é possível recuperar esse amor.
Se as pessoas envolvidas eram apenas conhecidas, sem vínculos
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 127

de amizade, o relacionamento pode evoluir e se tornar mais forte


ainda, por meio do processo dinâmico do perdão.
O perdão é unilateral, ou seja, deve partir apenas do que foi
ferido, independentemente do arrependimento ou não do outro e
vem para a própria cura e restauração da pessoa ferida, ou seja,
deve ser incondicional. Não é fácil oferecer perdão que é pura
graça e vem de Deus. O verdadeiro perdão é conseguido com a
ajuda de Deus e é quando entregamos a vingança a Ele, deixando
que Ele julgue o outro e assim liberamos a pessoa daquela dívida,
como também fomos liberados por Deus, deixando que o próprio
Deus lide com aquela pessoa. Muitas vezes, quando perdoamos,
liberamos aquela pessoa até mesmo para ser alcançada por Deus
para sua salvação. Romanos 12.19-21 diz: “Amados, nunca procu-
rem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a
vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor. Ao contrário: “Se o seu inimigo
tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso,
você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. Não se deixem vencer
pelo mal, mas vençam o mal com o bem”. O perdão serve para nos
trazer paz e, quem sabe, levar o outro a refletir sobre o que fez, se
arrepender e buscar reconciliação com o outro.
A reconciliação, então, é bilateral. Somente é possível quando
o ofensor e a vítima estão dispostos a restaurar o relacionamento.
Quando a reconciliação acontece, muitas vezes o relacionamento
se torna melhor do que antes, porque é fortalecido, tendo subsisti-
do a uma prova de fogo. É manifesto entre as partes o amor incon-
dicional, ágape, que vem do Deus da reconciliação. II Co 5.18-19
diz: “Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por
meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus
em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta
os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação”.
Apesar da reconciliação, a lembrança do ocorrido poderá
ser inevitável, mas deverá servir para que não se esqueçam do
que foram capazes de superar. Para um, como lição de amor, pelo
tanto que foi perdoado, gerando gratidão por parte do que foi
128 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

perdoado e, para o que perdoou, será prova de sua resiliência e


força para superar situações difíceis e se tornar mais semelhante a
Cristo, que tem um coração perdoador. Além disso, a experiência
torna o relacionamento mais fortalecido e os levará a ajudar ou-
tros com situações semelhantes. Muitas vezes os feridos, depois
de curados por Deus, se tornam curandeiros de Deus, o que é um
lindo ministério.

AS LINGUAGENS DO PERDÃO
Quando nos dispomos a aprender a linguagem do perdão
do outro e entender a nossa própria linguagem do perdão, no
processo do perdão se torna muito mais fácil receber o perdão e
conceder o perdão. Sem um pedido de perdão, o cristão é encora-
jado a entregar a ofensa à justiça de Deus e ficar com o prejuízo,
permitindo que o Senhor aplaque sua ira, para que possa gozar de
uma liberdade que só o perdão oferece.
Sobre as cinco linguagens do perdão, em seu livro escrito
com a também conselheira conjugal Jennifer M. Thomas, Gary
Chapman diz o seguinte:

O que a maioria de nós espera de um pedido de des-


culpas é sinceridade. Queremos que seja um apelo autên-
tico, mas como podemos ter certeza disso? É aí que reside
o problema. A prova de sinceridade difere de uma pessoa
para outra. O que determinado indivíduo considera ato de
sinceridade não vale necessariamente para o outro.
Nossa pesquisa nos levou à conclusão de que exis-
tem cinco elementos básicos no processo do perdão, que
chamamos de cinco linguagens.
Para a maioria das pessoas, uma ou duas dessas
linguagens traduzem melhor a sinceridade do que as de-
mais. Na hora de pedir perdão, não é preciso incluir todas
as cinco linguagens no processo. Para que esse pedido seja
aceito, é necessário falar com sinceridade a linguagem (ou
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 129

as linguagens) que a pessoa ofendida assimila melhor. Aí,


ele (ou ela) considerará o pedido genuíno e provavelmente
o aceitará.34

A compreensão e a aplicação das cinco linguagens do per-


dão podem potencializar os relacionamentos. A seguir, uma pe-
quena explanação sobre cada uma delas.

10.1 MANIFESTAÇÃO DE ARREPENDIMENTO


Manifestar o arrependimento é uma forma de alguém
mostrar à pessoa ofendida que tem consciência da culpa, da ver-
gonha e da dor causadas pelo comportamento inadequado. O
pedido de perdão deve ser gerado no arrependimento. Um pedi-
do de perdão sem o arrependimento é vazio. O arrependimento
se concentra naquilo que se fez de errado e na decisão de não
mais fazer aquilo.
Para algumas pessoas, perceber a manifestação genuína de
arrependimento funciona como a mais poderosa linguagem do
perdão. É o que as convence de que o pedido é sincero. Ao ouvi-
rem o outro expressar que sente muito por toda dor que causou,
se dispõem a perdoar.

10.2 ACEITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE


Quando aceitamos a responsabilidade pelo nosso erro, reco-
nhecemos que o que fizemos foi errado, sem transmitir a culpa dis-
so para ninguém, expressamos isso de forma evidente: “Eu E­ rrei”.
Muitas pessoas têm dificuldades para perdoar porque o
ofensor, ao pedir desculpas, ressalva os motivos pelos quais co-
meteu a ofensa ou transfere a responsabilidade para outros, não
assumindo a culpa por seu próprio erro. Isso não é aceitar a res-
ponsabilidade pelo erro.

34
Gary Chapman e Jennifer M. Thomas. As Cinco Linguagens do Perdão. Página 13.
130 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

10.3 COMPENSAÇÃO DO PREJUÍZO


O conceito de indenização reparatória se baseia no senso
comum de que, se um erro é cometido, alguém precisa pagar
por ele. Pessoas que estão na cadeia, “pagam sua dívida com a
sociedade” naquele lugar. A ideia de indenização reparatória vai
além e declara: “Você tem uma dívida com a pessoa que ofendeu
e precisa compensá-la”.
Oferecer restituição é uma forma de equilibrar a balança da
justiça. Qualquer sofrimento ou ofensa impõe algum tipo de per-
da à vítima. Ela pode sofrer um prejuízo na autoestima, no respei-
to próprio ou mesmo uma perda tangível.
A Bíblia fala de restituição. Zaqueu, ao se converter, decla-
rou publicamente, diante do Senhor, que restituiria aos que rou-
bou, quatro vezes mais o valor roubado.
Para algumas pessoas é muito importante, num pedido de
perdão, haver a declaração do compromisso de reparação, de res-
tituição daquilo em que foram prejudicadas. Há casos em que isso
é impossível, como o ato criminoso que envolve um assassinato
ou estupro, ou mesmo o adultério. Nem o assassino ou o estupra-
dor, nem o adúltero pode devolver à vítima (ou aos membros da
família dela) aquilo que lhe tomou. Nesses casos, a “reparação”
pode incluir, por exemplo, um pedido sincero de desculpas e o
compromisso pessoal de ajudar jovens, prevenindo-os sobre os
riscos de cometer os mesmos atos ilícitos.
A compensação vai além da manifestação de arrependimen-
to e disposição de pedir perdão e retratar-se. Ela pode demandar
a reposição ou a restauração daquilo que foi tirado de alguém,
como danos provocados em um carro, um relógio quebrado ou
mesmo uma reputação comprometida.

10.4 ARREPENDIMENTO GENUÍNO


O arrependimento genuíno é aquele que expressa decisão
de se esforçar para mudar de atitude, de não mais cometer aque-
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 131

le erro deliberadamente, de desenvolver um plano de mudanças.


Muitos pedidos de desculpas não são suficientes para restaurar o
relacionamento porque falta um plano, um compromisso e esfor-
ço para fazer mudanças efetivas.
A diferença aqui para a linguagem do perdão Manifestação
de Arrependimento está nas atitudes depois do pedido de perdão,
consistindo num genuíno esforço para não cometer novamente
aquela mesma ofensa.

10.5 PEDIDO DE PERDÃO, SEM EXIGIR O MESMO


Pedir perdão mostra que você está disposto a colocar o futu-
ro do relacionamento nas mãos da pessoa ofendida. Você admitiu
que errou; demonstrou arrependimento; se prontificou a reparar
os danos e agora está dizendo: “Por favor, me perdoe”. Você sabe
que não pode dar a resposta no lugar da outra pessoa. Trata-se de
uma prerrogativa exclusiva daquele que foi ofendido ou preju-
dicado: perdoar ou não. E o futuro do relacionamento reside jus-
tamente nessa decisão. Com isso, o controle da situação não está
mais em nossas mãos, o que, para algumas pessoas, é muito difícil
de conceber.
Não podemos exigir o perdão, pois assim deixamos de com-
preender sua natureza. Perdão significa, em essência, optar por
abrir mão do castigo e por trazer de volta ao convívio a pessoa
que cometeu o erro. É desconsiderar a ofensa, de maneira que a
confiança seja restabelecida. O perdão significa: “Eu prezo nos-
so relacionamento. Por causa disso, escolho aceitar seu pedido de
perdão e abrir mão de meu direito de exigir justiça”. É um presen-
te, e quando exigimos um presente, ele deixa de sê-lo.
Precisamos compreender que, ao pedir para ser perdoa-
do, nosso pedido não é insignificante. Conceder perdão terá um
custo alto para a pessoa ofendida ou prejudicada. Para perdoar
você, ela terá de abrir mão de seu desejo de ver a consumação da
justiça. Precisará abrir mão de seu sofrimento e sua raiva, bem
como do constrangimento e da humilhação pelos quais precisou
132 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

passar. Deverá superar os sentimentos de rejeição e traição. Em


alguns casos, terá de conviver com as consequências do erro que
você cometeu.
Por causa do alto preço do perdão, não podemos esperar que
a pessoa ofendida nos desculpe imediatamente. Caso se trate de
uma ofensa leve e nosso pedido de desculpas seja apresentado na
principal linguagem do perdão da pessoa prejudicada, é possível
que ela conceda o perdão de imediato. Mas se o dano foi grande e
recorrente, levará tempo para que a parte ofendida processe o pe-
dido de perdão, principalmente se a linguagem do perdão dessa
pessoa for compensação ou arrependimento genuíno. Leva tempo
para ver se há necessidade de oferecer alguma compensação ou
para mudarmos comportamentos nocivos. A pessoa prejudicada
deve ter convicção da sua sinceridade. É preciso que tenhamos
paciência e o compromisso de reconquistar a confiança do outro.

ESTUDOS DE CASOS - AS LINGUAGENS DO AMOR E DO PERDÃO


NOS RELACIONAMENTOS, INCLUSIVE COM DEUS
Foi muito interessante investigar e identificar a linguagem
do amor e do perdão principais de cada um dos meus filhos e
do meu cônjuge em várias situações. A família é mesmo o me-
lhor laboratório para entender e melhorar os relacionamentos. Na
prática, há uma dinâmica nas linguagens das emoções. Às vezes,
somos “poliglotas” emocionais, falamos mais de uma linguagem
emocional. O segredo é, na dúvida, usar todas as linguagens prin-
cipais do amor e do perdão, afinal, querendo ou não, todas são
importantes e Deus nos fala através das cinco linguagens do amor.
Deus nos afirma constantemente através da Sua Palavra;
nos dedica tempo de qualidade quando fala conosco através da
nossa meditação e quando nos ouve em oração; nos presenteia
todos os dias e até nos deu Jesus, seu único Filho, para que pudés-
semos ser salvos; também nos serve, apesar de ser Ele o Senhor; e
Ele nos toca de diversas maneiras todos os dias.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 133

Quando aconselhamos pessoas, também observamos como


elas dão sinais claros de quais são suas principais linguagens de
amor e de perdão.
Eu e Paulo estamos casados há mais de uma década e temos
três filhos, duas meninas e um menino. Nossa primeira filha já é
uma adolescente e a outra é a caçula. O menino é o do meio e é
bem expressivo em muitos aspectos. É interessante observar como
cada um manifesta amor.
A Raissa Julie, adolescente, geralmente fica chateada se não
lhe damos atenção total quando ela fala conosco. Sua linguagem
de amor principal é qualidade de tempo. Ela também gosta muito
de dar e receber presentes.
O Tales Calebe tem 11 anos e aprecia muito ser tocado. Gosta
de nos abraçar demoradamente e de brincar de modo a ser tocado
com alguma frequência. Ele também aprecia ouvir-nos lhe dizer
o quanto é especial, bonito, inteligente e amado. Suas principais
linguagens de amor são toque e palavras de afirmação.
Já a nossa caçula, Taissa Sofia, de 9 anos, constantemente
nos dirige palavras doces e afirma o quanto somos amados e im-
portantes para ela e sempre espera, como retorno, palavras seme-
lhantes. Sua linguagem de amor principal é claramente palavras
de afirmação.
Quando se trata de pedir perdão, observamos que Raissa
Julie parece não achar suficiente pedir desculpas, ela quer que
mudemos de atitude, ela precisa ver que realmente estamos arre-
pendidos e dispostos a mudar. Sua principal linguagem do per-
dão é o arrependimento genuíno.
O Tales Calebe, parece se contentar com o pedido de des-
culpas, mas se cometemos novamente o mesmo erro fica bastante
irritado e nos questiona se realmente estamos arrependidos. Sua
linguagem do perdão é a manifestação de arrependimento.
Taissa Sofia gosta que a restituamos daquilo que a prejudi-
camos. Se a prejudicamos de alguma forma, quer que a compen-
semos. Sua linguagem do perdão é a compensação do prejuízo.
134 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Quanto ao meu relacionamento conjugal, observo que meu


esposo, Paulo, não recebe bem palavras negativas ou críticas e
aprecia muito quando lhe dirigimos elogios e agradecimentos ou
reconhecimento. Segundo ele, isto faz com que produza mais e se
esforce para melhorar ainda mais. Ele também é muito de abraçar
e tocar. Suas principais linguagens de amor são palavras de afir-
mação e toque, nesta ordem.
Quanto à sua linguagem principal do perdão, deseja que
admitamos o nosso erro, sem transferir nossa responsabilidade
para outrem, principalmente para ele mesmo. Sua linguagem do
perdão é a aceitação da responsabilidade.
Também acho que minha principal linguagem do amor são
palavras de afirmação. Constantemente estou tentando falar coi-
sas boas para as pessoas e, sou péssima receptora de críticas.
Já a minha linguagem do perdão é, com certeza, compen-
sação do prejuízo. Tenho um senso de justiça muito apurado e
só consigo aceitar o arrependimento do outro quando ele se dis-
põe a fazer algo para restituir ou me compensar pelo dano que
me ­causou.
Eu e meu esposo somos um casal restaurado e nossa recon-
ciliação só se deu após termos esta compreensão das cinco lingua-
gens do amor e do perdão e as aplicarmos no nosso processo de
perdão e reconciliação.
Gostaria agora de compartilhar três casos de famílias bem
diferentes que tivemos a oportunidade de acompanhar.
No primeiro deles, observamos que o marido tem dificul-
dades de ter mais intimidade e aproximação com a esposa porque
ela é uma pessoa muito crítica, só lhe dirige palavras duras. Sua
linguagem de amor principal é palavras de afirmação e, como sua
esposa só o trata assim, ele não consegue se sentir amado por ela e
nem lhe demonstrar amor, apesar de ela ser muito dedicada a ele
nas atitudes de serviço, que, aliás, é sua principal linguagem do
amor. Por causa deste conflito, ele não a ajuda e ela reclama dele o
tempo todo. Eles não se entendem. Eles também não conseguem
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 135

se perdoar mutuamente porque ela espera arrependimento genuí-


no da parte dele, enquanto ele espera que ela pare de criticá-lo.
Na segunda família, infelizmente houve uma ruptura. O
marido saiu de casa e acabaram se divorciando. Tudo indica que
sua principal linguagem do amor é toque físico e a de sua esposa,
qualidade de tempo. Ele não lhe dedicava tempo de qualidade,
mas queria ser constantemente acariciado e ela que, por sua vez,
não se sentindo amada, negava-lhe o carinho. Infelizmente, ele
acabou caindo em adultério várias vezes. É claro que seu pecado
sexual tem a ver com sua própria compulsão sexual e fraqueza de
caráter e não com o comportamento da esposa. Eles até tentaram
uma reconciliação, porém ele não demonstrou arrependimento
genuíno, não tendo disposição de mudar e ela também não conse-
guiu demonstrar-lhe carinho porque não via nele a disposição de
reconquistar seu amor e confiança.
Na terceira família, a mãe é dedicada aos filhos e disposta a
perdoar o companheiro de mais de duas décadas, que nunca assu-
miu a família, apesar de aparecer em casa eventualmente. Não são
casados legalmente e ela leva sobre si a responsabilidade finan-
ceira e afetiva dos quatro filhos. Ele é dependente químico e não
demonstra nenhuma disposição para abandonar o vício. Ele sente
que os filhos e a esposa já não têm expectativas nem confiança
nele, mas não se esforça para reconquistar estas coisas. Não vendo
nele arrependimento genuíno, a companheira e os filhos já não são
tão receptivos com ele em casa. Sua principal linguagem de amor
são palavras de afirmação, mas acaba recebendo da esposa e fi-
lhos muita crítica por causa do seu próprio comportamento. Ele
costuma ser muito carinhoso com os filhos, mas quando recebe as
críticas ou cobranças verbais, vai embora de casa e demora dias
para aparecer novamente.
É incrível como, quando pedimos para estes casais obser-
varem as atitudes um do outro, de acordo com o conceito das
linguagens do amor e do perdão e também pedimos para se es-
forçarem para falar as linguagens emocionais uns dos outros, o
136 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

relacionamento familiar parece melhorar, porém, eles têm muitas


dificuldades de perseverar, porque esperam muito mais do outro
quando nosso grande desafio deve ser fazer a nossa parte, inde-
pendentemente da atitude do outro. Tem sido difícil fazê-los com-
preender que se apenas um se comprometer a agir diferente, o
outro vai corresponder, mais cedo ou mais tarde. O segredo é não
desistir e fazer tudo sob a direção do Espírito Santo.
Quando paramos para refletir, as linguagens do amor e do
perdão fazem todo sentido. O próprio Deus manifestou e mani-
festa o seu grande amor por nós através das cinco linguagens do
amor e deseja que sejamos seus imitadores em tudo, e nos ensina
com seu exemplo como devemos nos relacionar com nossa ­família.
Através da sua Palavra, Ele também deixa claro que o per-
dão é a chave para a reconciliação. Pedidos sinceros de perdão
são como um presente que se oferece à pessoa que os recebe, as-
sim como a graça é um presente que recebemos do Pai e devemos
oferecer àqueles que nos ofendem. Os pedidos de perdão são a
melhor forma de comunicarmos a mensagem de que nos importa-
mos com o relacionamento e o sentimento do outro.
Precisamos ter um coração quebrantado, um espírito hu-
milde, se quisermos nos aproximar de Deus. Assim também pre-
cisamos agir com aqueles com quem nos relacionamos todos os
dias, os nossos familiares, amigos e irmãos. Este entendimento
foi maravilhoso em todos os aspectos para o meu relacionamento
familiar. Quero sempre procurar identificar e falar as linguagens
do amor e do perdão com meus filhos e meu esposo para que eu
possa amá-los na linguagem do amor específica de cada um deles
e, quando eu errar, quero estar pronta para pedir como também
conceder perdão, na linguagem do perdão individual de cada um
deles, alcançando a reconciliação e ensinando as crianças, com o
meu exemplo, a procederem da mesma maneira.
O entendimento das linguagens das emoções, que falam
de amor e perdão, é para todos os relacionamentos, dentro e fora
da família. O que podemos observar é que quando começamos a
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 10: O Perdão e a Reconciliação • 137

praticar algo em nossa casa, em nossa família, naturalmente esse


comportamento vai se manifestar nos nossos relacionamentos ex-
trafamiliares e, mudando valores da família, mudam-se valores
na sociedade.
Particularmente, gosto de pensar na aplicação das lingua-
gens do amor e do perdão também nos ambientes de trabalho.
Acredito que a produtividade das pessoas pode ser extremamente
estimulada quando há saúde no seu relacionamento com o patrão
ou empregado, e entre colegas de trabalho ou parceiros de mi-
nistério etc., portanto, recomendo a aplicação destes princípios a
todos os públicos e ambientes, especialmente para a família.
11
A Importância do Amor
e do Respeito

“Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si


mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito”. — Efésios 5:33

Amor e respeito são as outras “pernas” de sustentação de um casa-


mento. Quando meu esposo e eu já estávamos bem avançados no
nosso processo de cura e restauração do casamento, tivemos um
entendimento poderoso sobre o amor e o respeito na relação en-
tre marido e mulher, que está sendo extremamente importante na
nossa caminhada.
Já tínhamos percebido o quanto a comunicação entre nós
ainda era ruim e precisava funcionar melhor, então investimos
tempo e dedicação na leitura de muitos livros como os das lingua-
gens do amor e do perdão mencionados anteriormente, além das
várias sessões de terapia familiar.
Outro livro que nos ajudou bastante foi “Amor, o que ela mais
deseja, e Respeito, o que ele mais precisa”, de Emerson Eggerichs,
mais um conselheiro de casais com uma vasta e longa experiência.
Veja o que ele diz sobre seu livro:

Escrevi este livro por causa de um desespero que


se transformou em inspiração. Como pastor, eu aconse-
lhava casais, mas não conseguia resolver seus problemas.
O principal problema que ouvia das esposas era: “Ele não
me ama”. As esposas são feitas para amar, querem amar
e esperam amor. Muitos maridos deixam de fazer a en-
140 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

trega. Mas conforme continuei a estudar as Escrituras e a


aconselhar casais, finalmente enxerguei a outra parte da
equação. Os maridos não diziam o mesmo, mas pensa-
vam: “Ela não me respeita”. Os maridos são feitos para
serem respeitados, querem respeito, e esperam respeito.
Muitas esposas deixam de entregar isso. O resultado é
que metade dos casamentos termina numa vara de famí-
lia (e incluímos aí os casais evangélicos). Enquanto lutava
com a questão, finalmente enxerguei uma conexão: sem o
amor dele, ela reage sem respeito; sem o respeito dela, ele
reage sem amor. A sequência se sucede. Chamo isso de Ci-
clo Insano — a insensatez conjugal que mantém milhares
de casais em suas presas(...).35

Meu marido e eu ainda não tínhamos percebido o por-


quê que, depois de caminharmos tanto no nosso processo, ainda
acabávamos tendo conflitos um com o outro por motivos pe-
quenos e banais. Foi então que, finalmente compreendemos que
nossos conflitos ocorriam geralmente quando alguma atitude
dele fazia com que eu não me sentisse amada, e eu respondia
imediatamente com profundo desrespeito, ou então o contrá-
rio, quando ele se sentia desrespeitado por mim, respondia com
atitudes de desamor para comigo, o que gerava entre nós um
conflito sem a menor necessidade. É o que Emerson Eggerichs
chama de Ciclo Insano.
Ele afirma que amor e respeito são necessidades básicas,
sem as quais, um casal entra no Ciclo Insano muito fácil. Veja:

Entrar no Ciclo Insano é muito fácil. Reconhecer que


você está no Ciclo Insano e aprender como evitar que ele
gire fora de controle é possível se marido e mulher apren-
derem como satisfazer as necessidades básicas de amor e
respeito um do outro. É comum me perguntarem: “Como

35
Eggerichs, Emerson. Amor e Respeito. Página 16.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 11 : A Importância do Amor e do Respeito • 141

você pode ter certeza de que a necessidade básica da espo-


sa é sentir-se amada e a do marido é sentir-se respeitado? ”.
Minha resposta vem em duas partes.
Primeiramente, minha experiência como conselheiro
e como marido confirma essa verdade. A esposa é aque-
la que pergunta: “Meu marido me ama tanto quanto eu o
amo? ”. Ela sabe que o ama, mas às vezes fica pensando se
ele a ama com a mesma intensidade. Desse modo, quan-
do ele faz alguma coisa desamorosa, ela em geral reage de
maneira negativa. Na opinião dela, ele precisa mudar e ser
um homem mais sensível e carinhoso. Infelizmente, a abor-
dagem normal da esposa é reclamar e criticar para, assim,
motivar seu marido a tornar-se mais amoroso. Essa abor-
dagem em geral é tão bem-sucedida quanto tentar vender
luvas de boxe para madre Teresa de Calcutá.
No entanto, não é comum o marido fazer a pergunta:
“Será que minha esposa me ama tanto quanto eu a amo?
”. Por que não? Porque ele está seguro do amor dela. Cos-
tumo perguntar aos maridos: “Sua esposa o ama? ”. Eles
respondem: “Sim, é claro”. Mas então pergunto: “Ela gosta
de você? ”. E a resposta que surge normalmente é “não”.
Em muitos casos, o desgosto da esposa é interpreta-
do pelo marido como desrespeito e até mesmo crítica. Na
opinião dele, ela mudou, deixando de ser aquela mulher
admiradora e que a tudo aprovava quando eles eram na-
morados. Agora, ela não aprova e faz questão de que ele
saiba disso. Desse modo, o marido decide motivar sua es-
posa a ser mais respeitosa por meio de atitudes desamoro-
sas. Isso em geral faz tanto sucesso quanto tentar vender
geladeira para esquimó.36

36
Eggerichs, Emerson. Amor e Respeito. Páginas 26 a 28.
142 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

“A Conexão entre Amor e Respeito está claramente baseada nas


Escrituras, mas a ameaça é tão constante que a conexão pode ser prejudi-
cada ou até mesmo rompida”, Emerson Eggerichs afirma. E continua:

Ainda mais convincente é aquilo que Efésios 5:33 en-


sina sobre a necessidade básica que a mulher tem de amor e
a necessidade básica que o homem tem de respeito: o mari-
do deve amar sua esposa como ama a si mesmo, e a esposa
deve respeitar seu marido. Será possível ser mais claro que
isso? Paulo não está fazendo uma sugestão, ele está pro-
clamando um mandamento do próprio Deus. Além disso,
a palavra grega que Paulo usa para amor neste versículo é
ágape, que significa amor incondicional. Todo o fraseado
do restante da passagem dá uma forte indicação de que o
marido deve receber respeito incondicional. Os cônjuges
cristãos não devem ler esse versículo como se ele estivesse
dizendo: “Marido, ame sua esposa de maneira incondicio-
nal e esposa, respeite seu marido somente se ele conquistar
e merecer respeito”. Como diz o velho ditado, o que vale
para um, vale para o outro. Nesse versículo, respeito pelo
marido é tão importante quanto amor pela esposa.37

Então ele mostra o segredo para sair do Ciclo Insano e en-


trar no que ele chama de Ciclo Energético e Ciclo Recompensador,
que é quando um dos cônjuges ou mesmo os dois decidem fazer
parar o Ciclo Insano da falta de amor e de respeito dos dois ao
agirem com o espírito contrário: a esposa passando a responder às
atitudes de falta de amor por parte do marido com respeito incon-
dicional, incentivando-o assim a lhe responder com atitudes de
amor e vice versa, pois, o marido pode também decidir responder
as atitudes de desrespeito da esposa com atitudes de amor incon-
dicional, estimulando-a a lhe responder com respeito da próxima
vez. Veja as figuras:

37
Eggerichs, Emerson. Amor e Respeito. Páginas 26 a 28.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 11 : A Importância do Amor e do Respeito • 143

Figura 3 – Os Ciclos do Amor e Respeito

Emerson Eggerichs reconhece que agir com um espírito


contrário não é fácil, o que me faz lembrar da recomendação de
Jesus, no Sermão da Montanha (Mateus 5.39), de dar a outra face
ao ofensor que lhe ferir numa face. É no mínimo ir contra a in-
tuição, como uma atitude de fé, porque não é garantia de que o
outro vai mudar sua atitude. Além disso, não dá vontade de res-
ponder com respeito à falta de amor do marido, como também
para o marido não é fácil responder com amor à falta de respeito
da esposa. Mas veja:

Há outro autor das Escrituras que segue a linha de


Paulo sobre essa questão de respeito pelo marido. O após-
tolo Pedro escreveu às esposas dizendo que, se o marido
for desobediente à Palavra de Deus, que ele “seja ganho
sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, obser-
vando a conduta honesta e respeitosa de vocês” (I Pe 3:1-2,
ênfase minha). Está bem claro que Pedro fala de respeito
incondicional. Os maridos que ele menciona são tanto cris-
tãos carnais quanto não-crentes que desobedecem à Pa-
lavra, ou seja, a Jesus Cristo. Deus não se alegra com um
homem como este e tal homem não “merece” o respeito
de sua esposa. Mas Pedro não está pedindo que as esposas
sintam respeito, ele está ordenando que elas mostrem um
comportamento respeitoso. Não se trata de o marido mere-
cer respeito, a questão é a esposa estar disposta a tratar seu
marido de maneira respeitosa sem estabelecer condições.
144 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Fazer uma coisa quando você realmente não sente


vontade alguma de fazê-la é no mínimo ir contra a intuição.
Portanto, essa passagem deve ser seguida pela fé. Deus or-
denou que as esposas respeitassem os maridos como mé-
todo de ganhar os maridos para ele. À medida que abre
seu espírito para Deus, o marido reabre seu espírito para
a esposa. Nenhum marido sente afeição por uma esposa
que aparenta ter críticas quanto a quem ele é como ser hu-
mano. A chave para criar no marido profundos sentimen-
tos de amor para com sua esposa é mostrar a ele respei-
to ­incondicional.38

O objetivo aqui não é transcrever o livro, mas fiz questão de


trazer na íntegra algumas partes porque considero este conceito e
entendimento, básicos para a restauração do relacionamento ma-
rido e mulher. Recomendo a leitura completa do livro de Emerson
Eggerichs juntamente com seu cônjuge.
Não foi muito difícil identificar o Ciclo Insano girando em
meu relacionamento conjugal. Eventualmente, me peguei agindo
com desrespeito para com meu marido sempre que ele tinha algu-
ma atitude que me fazia sentir desamor da sua parte. Ele costu-
mava ter muita dificuldade para lembrar-se de datas importantes,
como nosso aniversário de casamento e também do meu próprio
aniversário. Eventualmente, marcava compromisso comigo e fa-
lhava no dia porque acabava marcando com outra pessoa na mes-
ma data e horário, como se aquela pessoa fosse mais importante
do que eu na sua vida.
Não muito raramente, ele costumava não me priorizar, nem
às crianças, com relação ao seu trabalho e, depois, até mesmo com
relação ao ministério e minhas respostas a estes seus comporta-
mentos geralmente eram desrespeitosas. Eu costumava questio-
ná-lo e demonstrar bastante insatisfação de forma bem hostil. Isso
só o afastava cada vez mais de mim e das crianças.

38
Eggerichs, Emerson. Amor e Respeito. Páginas 26 a 28.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 11 : A Importância do Amor e do Respeito • 145

Quando finalmente compreendi esta dinâmica do amor e


do respeito no relacionamento conjugal e aprendi a demonstrar a
minha insatisfação de forma a não desrespeitá-lo, sem deixar de
lhe dizer como eu me sentia diante de suas atitudes de desamor,
muita coisa mudou. Meu esposo também compreendeu que preci-
sava me fazer ter certeza e segurança do seu amor por mim, e que,
inclusive, isso me faria respeitá-lo cada vez mais.
Perceberam o Ciclo Insano girando em meu casamento?
Meu marido, ao se sentir desrespeitado por mim, acabava não de-
sejando mesmo estar comigo e esperava ansioso qualquer opor-
tunidade de estar com pessoas que o faziam se sentir respeitado,
e eu, ao me sentir não amada, de novo reagia com desrespeito,
de modo que continuávamos nos ferindo e minando o nosso re-
lacionamento íntimo. Acredito que isto inclusive o impulsionou
no passado cada vez mais para o seu vício sexual, porque outras
mulheres pareciam lhe tratar melhor do que eu.
Quando finalmente compreendi a Palavra que está em
I ­Pedro 3.1-2: “Do mesmo modo, mulheres, sujeitem-se a seus maridos,
a fim de que, se alguns deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem
palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta hones-
ta e respeitosa de vocês”, tenho procurado agir com respeito quando
meu marido age com atitudes de desamor para comigo, mesmo
sem ele merecer, e procurado tratá-lo bem estando a sós com ele,
mas principalmente diante de outras pessoas, de modo que se
cumpra esta palavra de ganhá-lo sem palavras, pelo meu procedi-
mento e pela minha atitude respeitosa e agradável, fazendo assim
cessar o Ciclo Insano entre nós de modo que entremos no Ciclo
Recompensador, em que eu o trato com respeito incondicional, ou
seja, independente da atitude de desamor dele.
Ele também tem sido bem mais amoroso para comigo, de
modo que quando ajo com desrespeito, se pergunta primeiro se
me fez não me sentir amada antes de eu me comportar assim.
Desta forma, temos feito girar também entre nós o Ciclo Ener-
gético, em que o meu respeito incondicional por ele motiva o
146 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

seu amor incondicional por mim e que me motiva a respeitá-lo


cada v
­ ez mais.
Não é fácil fazer isso, mas não existe outra saída. Alguém
tem que ceder e que seja aquele que ama mais Jesus e está dis-
posto a se submeter a Sua Palavra primeiro. É preciso o exercício
diário do perdão, como respondido por Jesus a Pedro em Mateus
18.21-22: “Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor,
quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra
mim? Até sete vezes? “ Jesus respondeu: “Eu lhe digo: não até sete,
mas até setenta vezes sete...”.
12
Restaurando o Relacionamento

“O ódio provoca dissensão, mas o amor cobre todos os pecados”.


— Provérbios 10.12

Até aqui, acredito que foi possível entender que a restauração do


casamento após uma situação de traição conjugal só acontece com
um trabalho em conjunto dos cônjuges, com a ajuda do Espírito
Santo, onde a sujeição a Deus e um ao outro é necessária. Nisto
consiste o amor, que será precursor da caminhada para o perdão
e a reconciliação.
Escombros existem. É como um edifício que ruiu e caiu. É
preciso começar tudo de novo, mas não tem mais como se come-
çar do zero. O que é possível fazer é construir este edifício nova-
mente, como os judeus reconstruíram os muros de Jerusalém39.
Em Isaías 61.4 diz assim: “Eles reconstruirão as velhas ruínas
e restaurarão os antigos escombros; renovarão as cidades arruinadas que
têm sido devastadas de geração em geração”. Para mim é muito pode-
roso este texto. Entendi que, apesar de toda a dor, estava tendo a
oportunidade de construir uma estrutura no meu relacionamento
conjugal ainda mais forte, e o melhor, com todo conhecimento de
Deus adquirido e experiência, tivemos a oportunidade de aben-
çoar a nossa geração futura, para que não haja mais histórias de
adultério e fornicação, de imoralidade sexual na nossa descendên-
cia. É claro que isso dependerá mais da decisão de cada um de
nossos descendentes de continuar em obediência.

39
História contada no livro de Neemias, Bíblia Sagrada.
148 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

Fiz questão de colocar nos capítulos que antecedem a este,


referências de conteúdo de literaturas que nos trouxeram o co-
nhecimento necessário para melhorarmos a nossa comunicação e
relacionamento porque, infelizmente, não havíamos ainda apren-
dido a nos relacionar à maneira de Deus. Sujeição um ao outro,
amor expressado em atitudes que verdadeiramente comunicam
ao outro nosso amor, além do respeito mútuo na maneira de tra-
tar e de falar, andar em lealdade e em transparência, na luz como
Deus está, são atitudes imprescindíveis para termos comunhão
com Ele e uns com os outros40.
Seu cônjuge, abaixo de Deus, é claro, deve ser e sentir-se a
pessoa mais importante em sua vida! Afinal, ele agora é parte de
você, pois os dois tornaram-se um ao se casarem.
Como compartilhei, eu não acreditava que conseguiria ser
feliz de novo com o meu esposo depois de tudo, mas hoje posso
dizer, sou ainda mais feliz e realizada do que antes de passarmos
pelo nosso processo de restauração. A glória desta última casa está
sendo muito maior do que a primeira (Ageu 2.9).
Eu sempre soube que seria impossível meu esposo me res-
tituir ou compensar o que havia feito, mas nunca duvidei de que
Deus poderia e Ele tem me restituído!
No final de 2016, eu estava trabalhando como obreira na Escola
de Fundamentos Ministeriais de Aconselhamento e fui desafiada a
liderar uma equipe de prático da Escola, numa viagem, por pelo me-
nos 2 meses, para ministrar em Igrejas brasileiras nos Estados Unidos.
Considerei a proposta realmente um desafio e muito improvável que
eu pudesse ir. Paulo, meu esposo, estava fazendo esta escola como
aluno e estava na equipe que eu deveria liderar. Nós não tínhamos
finanças para tal viagem e tínhamos dois de nossos filhos ainda pe-
quenos e em idade escolar. Levá-los poderia prejudicá-los na escola e
também nos limitar no trabalho ministerial devido aos cuidados que
precisaríamos ter com eles. Além disso, estávamos com 11 parcelas do
financiamento de nossa casa, adquirido antes de entramos na missão,

40
I João 1.7
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 12 : Restaurando o Relacionamento • 149

em atraso, correndo o risco de sermos despejados do imóvel. Não tí-


nhamos vistos para os EUA nem falávamos inglês. Eram muitas as
nossas limitações para realizarmos a viagem missionária.
No entanto, Deus começou a nos dar sinais claros de que
era isto o que Ele queria que nós fizéssemos. Primeiro, enviou-nos
as finanças através de um de nossos mantenedores eventuais, que
nos telefonou e disse que Deus o havia mandado nos entregar uma
quantia considerável em dólar: US$3,000.00. A quantia chegou em
nossas mãos numa lata de biscoitos cuja tampa continha a imagem
da Estátua da Liberdade, símbolo dos EUA, em alto relevo. O va-
lor era suficiente para os gastos com a viagem de nós dois, o que
incluía: despesas com vistos, passagens aéreas, estadia e alimenta-
ção. Incialmente, pensamos em converter este valor para a moeda
do nosso país e tentar negociar a dívida do financiamento do nosso
imóvel, porém, o valor correspondia a apenas metade do que pre-
cisávamos para regularizar o contrato e o nosso mantenedor que
nos enviou a oferta ligou novamente deixando bem claro que Deus
havia lhe dito que deveríamos utilizar o valor para a missão. Sen-
do assim, decidimos providenciar os vistos para a viagem.
Começamos então a dar os passos necessários para a rea-
lização da viagem. Demos entrada no processo de retirada dos
vistos para nós e nossos filhos pequenos, porque não sabíamos
se deveríamos deixá-los ou levá-los conosco. Éramos um total de
12 missionários na equipe, apenas um já possuía o visto. Antes
de tentarmos os nossos vistos, 2 outros missionários da equipe
tiveram seus vistos negados pelo consulado americano, mas os
nossos foram milagrosamente aprovados. Depois de nós, outros
3 missionários tiveram seus vistos negados e um outro, sequer
havia conseguido emitir seu passaporte. Formamos no final uma
equipe de apenas 6.
Logo após conseguirmos nossos vistos, fomos até o banco
que financiou o nosso imóvel para sabermos se poderíamos nos
ausentar. Tínhamos o receio de deixar as crianças no imóvel sob
os cuidados de uma missionária angolana amiga nossa, que está-
150 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

vamos hospedando já havia 7 meses, e chegar um oficial de justiça


pedindo que saíssem do imóvel, sem que estivéssemos presentes
para resolver a situação. Quando chegamos lá, fomos informados
de que o imóvel já havia sido tomado pelo banco e aquele nosso
receio poderia mesmo ocorrer a qualquer momento. Perdemos a
nossa casa. Ficamos sem teto, sem chão.
Naquela hora, quase desistimos da viagem. Precisávamos
resolver aquela situação: onde iríamos morar? O que deveríamos
fazer? Porém, Deus nos fazia sentir uma paz extraordinária e nos
ministrou sobre não termos perdido a casa, mas semeado ela para
o seu Reino e de que íamos colher os frutos daquela semeadura.
O Senhor nos confortou também com aquela palavra que está em
Mateus 19.29: “E todos os que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs,
pai, mãe, filhos ou campos, por minha causa, receberão cem vezes mais e
herdarão a vida eterna”. Fomos, assim, desafiados a não desistirmos
e contatamos nossos familiares. Minha mãe aceitou ficar com nos-
sos filhos em nossa ausência. Decidimos então desocupar a casa.
Seguimos adiante. Distribuímos nossos móveis entre os
missionários da missão, desocupamos a casa, vendemos o nosso
carro, levamos as crianças para a casa de minha mãe em Fortale-
za/CE, cidade localizada em outra região do nosso país, onde os
matriculamos na Escola e, então, prosseguimos em missão para
os Estados Unidos com os outros 4 missionários que conseguiram
também ser aprovados no processo de solicitação de vistos para a
nossa entrada naquele país.
Lá tivemos a oportunidade de servir em uma igreja brasileira
com a equipe. Foi possível perceber como as famílias oriundas do
nosso país, residentes nos Estados Unidos, estavam sendo atacadas
e tendo muitos casamentos destruídos. Deus nos mostrou a urgente
necessidade de estarmos mesmo à Sua disposição para irmos onde
quer que Ele nos quisesse enviar para discipular famílias. É preciso
voltar ao Plano Original de Deus para as Famílias na Terra, o que
estávamos aprendendo a viver em nossa própria casa.
O fato de não levarmos as crianças nos deu, a mim e ao meu
esposo, a oportunidade de vivermos um tempo focado no nosso
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 12 : Restaurando o Relacionamento • 151

próprio relacionamento como casal e experimentarmos de um re-


novo do Senhor em nosso casamento que Ele já havia prometido.
Depois dos dois meses com a equipe de JOCUM, havíamos
proposto em nosso coração ficarmos mais um mês naquela nação
e visitarmos o Pure Life Ministries, onde poderíamos aprender
mais sobre restauração da sexualidade, com a intenção de termos
no Brasil um projeto semelhante ao deles, de cura e restauração da
sexualidade e suporte às famílias afetadas pelo vício sexual.
Nosso aniversário de casamento é todo dia 3 de abril e a equi-
pe de JOCUM nos deixou no dia 29 de março. Alugamos, então, um
carro para nos descolarmos de Orlando/Fl, onde havíamos trabalha-
do aqueles dois meses, até o Estado de Kentucky, na localidade de
Willianstown, condado de Pendenton, onde fica a sede do Pure Life
Ministries, cuja a equipe se dispôs a nos receber por duas semanas,
inclusive nos ofereceram hospedagem e material para treinamento.
Meu esposo, então, teve a ideia de me levar, durante o per-
curso, a uma cidadezinha localizada na Carolina do Norte, cha-
mada Rodanthe, porque alguns anos antes havíamos assistido
a um filme gravado nesta cidade e tínhamos desejado conhecer
juntos aquele lugar. Para mim foi uma grande surpresa e alegria!
Amanhecemos o dia do nosso aniversário de casamento ali e, para
deixar tudo ainda mais romântico, catando conchinhas, Paulo pe-
diu a Deus que lhe fizesse achar uma pérola para me presentear
neste dia especial... Achamos!!!
O mais maravilhoso foi depois estudarmos o processo de
formação de uma pérola e descobrirmos o significado real daqui-
lo. Pérolas são produtos da dor da ostra, resultados da entrada de
uma substância estranha ou indesejável no seu interior, como um
parasita ou um grão de areia. Nossa pérola foi analisada pelo la-
boratório de Biologia Marinha da Universidade Federal do Ceará,
onde foi constatado que se trata de uma pérola produzida por um
eustrombus gigas, uma espécie muito grande de caramujo marinho
popularmente conhecido como concha-rainha.
Uma pérola de caramujo é uma concreção calcária não-na-
carada, mas sua formação, assim como da pérola de uma ostra co-
152 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

mum, se dá da mesma maneira. Quando um corpo estranho pene-


tra no animal, suas células começam a trabalhar cobrindo-o com
camadas e mais camadas de nácar ou desta concreção calcária no
caso deste caramujo, no intuito de proteger o interior indefeso do
animal. Como resultado, uma linda pérola vai se formando.
Uma ostra que não foi ferida de modo algum produz pérolas,
sendo assim, a pérola é uma ferida cicatrizada. Entendemos que
Deus estava nos dizendo que minha ferida fora cicatrizada e que
estou sendo restituída de tudo que foi roubado nos meus primeiros
anos de casamento. Além disso, Deus nos disse muitas outras coi-
sas através da nossa pérola! Suas características são muito peculia-
res. Por exemplo, o eustrombus gigas tem uma coloração rosada no
seu interior e raramente produz uma pérola branca como a nossa.
O branco representa pureza e paz, o que nos fez entender que Deus
purificou nosso leito conjugal e estabeleceu a paz no nosso casa-
mento. Outra característica é o fato de nossa pérola ser uma esfera
totalmente simétrica, o que representa a obra perfeita que Deus fez
em nós! Como se não bastasse, nossa pérola tem exatos 13mm de
diâmetro e nós fizemos 13 anos de casados na data em que a encon-
tramos! Outro detalhe interessante é que nossa pérola não possui
brilho próprio, ela é fosca, porque é um concreto calcário. Para mos-
trar toda sua beleza e detalhes, ela depende de iluminação externa,
o que nos faz lembrar que nossa história de restauração não tem
brilho nem beleza alguma de nós mesmos, mas apenas daquele que
nos restaurou, a Luz do Mundo: JESUS.
O tempo no Pure Life Ministries, em Kentucky, também foi
recheado de surpresas de Deus para a nossa comunhão como casal.
Em seguida, seguimos para Connecticut, Estado ao Nordes-
te dos EUA, onde havíamos sido convidados para ministrar numa
igreja brasileira e, também no percurso até lá, Deus nos levou a visi-
tar lugares que nunca planejamos, sequer sonhamos em visitar jun-
tos, como o Lake Erie, fronteira dos Estados Unidos com o ­Canadá,
e também as Cataratas do Niágara. Foi como uma lua de mel pro-
porcionada pelo próprio Pai, um renovo do nosso casamento.
– PARTE III – O caminho do renovo | Capítulo 12 : Restaurando o Relacionamento • 153

Voltamos para o Brasil com o nosso relacionamento fortaleci-


do pelo Senhor e uma plena convicção de que Ele está nos dirigindo
mesmo para um propósito nEle, de que vale a pena todas as renún-
cias que temos feito e perdas que possamos estar tendo para que ca-
samentos sejam restaurados para a glória dEle, assim como o nosso
foi, através do nosso testemunho e trabalho para discipular famílias.
Vale a pena todo e qualquer esforço para que um casamento
seja como Deus planejou, em que o marido governa bem o seu lar
comunicando o amor, a segurança e a proteção necessários para que
sua esposa naturalmente se submeta a ele e edifique o seu lar jus-
tamente porque se sente segura do amor do seu marido. Os filhos
neste ambiente se sentirão seguros e crescerão fortes, para também
produzirem casamentos fortes e abençoados, como Deus planejou.
Não é fácil a caminhada porque é necessário desconstruir
muitas vezes o nosso aprendizado anterior sobre como se relacionar
para então construir esta nova maneira de se relacionar, no Senhor.
Não difame seu cônjuge. Honre-o diante de todos. Se há
algo no comportamento dele que desagrada, procure-o em par-
ticular e converse com delicadeza sobre isso, dizendo como você
se sente quando ele age assim e não o acusando de agir daquela
maneira para ofender você de propósito. Provavelmente ele nem
imagina que sua atitude lhe deixa triste.
Não desista de você mesma se achar que não consegue con-
fiar de novo ou amá-lo como antes. O relacionamento de vocês
poderá até mesmo vir a se tornar melhor do que antes, porque
agora estão na luz e somente na luz podemos ter comunhão, que
significa intimidade de verdade.
Seu cônjuge provavelmente ainda está no processo dele, de
cura e restauração do vício sexual, por isso tenha paciência com
ele. Não é fácil se desvencilhar disso. Chega a ser pior que o vício
em drogas como a heroína. Você precisa, no entanto, descansar
em Deus, intercedendo por ele, se está arrependido e disposto a
mudar, reafirmando seu amor por ele apesar de tudo, pois a sua
atitude de ficar com ele é amor, demonstra que você o ama ainda
154 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

que sinta ou ache que não. Não associe tanto o seu sentimento que
agora pode ser de grande decepção a falta de amor. Este sentimen-
to de dor e decepção vai mudar com a ajuda do Espírito Santo.
Logo no comecinho do meu processo, bem na semana que
meu marido começou a me confessar tudo, Deus me deu esta Pa-
lavra em II Coríntios 2.5-8: ”Se alguém tem causado tristeza, não o tem
causado apenas a mim, mas também, em parte, para eu não ser demasia-
damente severo, a todos vocês. A punição que lhe foi imposta pela maioria
é suficiente. Agora, pelo contrário, vocês devem perdoar-lhe e consolá-lo,
para que ele não seja dominado por excessiva tristeza. Portanto, eu lhes
recomendo que reafirmem o amor que têm por ele”.
A princípio, eu não entendi direito como, no meu estado, eu
poderia consolá-lo e porque ele precisava de consolo, mas quando co-
mecei a entender a devastação que o vício sexual pode causar numa
pessoa, vi o quanto meu marido também precisava de misericórdia
e consolo. Seu cônjuge precisa conseguir também se perdoar e ter
certeza do seu perdão e do perdão de Deus, o que irá ajudá-lo a não
desistir da sua dura jornada de cura e restauração da sexualidade.
Seu papel no processo dele deve ser de intercessora, não de
conselheira. Você pode até ser aquela para quem ele presta contas
de suas tentações e possíveis recaídas, mas somente se achar que
consegue suportar, senão, deixe que o discipulador e conselheiro
dele faça isso. Certamente essa pessoa o orientará a lhe pedir per-
dão, sempre que for algo que você precise também saber.
Confie em Deus e foque no seu próprio processo de cura e
restauração. Saber mais sobre o que é o vício sexual talvez a ajude
a compreender melhor as dificuldades de seu cônjuge. Recomen-
do, inclusive para melhorar o relacionamento conjugal e íntimo
de vocês, a leitura do livro de meu esposo, Paulo Adriano Muniz
Gouvêa, cujo título é SEXO SEM CATIVEIRO.
Você não está sozinha, lembre-se sempre disso, pois o Se-
nhor é contigo e Ele diz hoje a você em Josué 1.9: “Não fui eu que
lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois
o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”.
– PARTE IV –
Deus também age na dor
Prático da FMA em Orlando/FL, USA. À direita, caixa em que veio o
recurso para a viagem.

3 de abril de 2017, nosso aniversário de 13 anos de Casados. Fotos em


Rodanthe/NC, USA e a pérola que o Senhor nos fez encontrar como um presente
para mim neste dia especial.

No Pure Life Ministries, com Steve e Kathy Gallagher, fundadores do ministério.


Em Missão em Danbury/CT, USA, abril de 2017
Devocional Diário
por Trinta Dias
“Cada coração conhece a sua própria amargura,
e não há quem possa partilhar sua alegria”.
— Provérbios 14.10

Nesta parte do livro, gostaria de propor que você mesma escreva


aqui o que tem experimentado com Deus, neste tempo de dor e
decepção que possa estar passando, mas também de cura e res-
tauração. Proponho que, pelo menos durante 30 dias, esteja medi-
tando nos versículos aqui expostos e escrevendo o que Deus fala
ao seu coração ao lê-los. Mas faça depois disso um hábito, pois a
meditação diária na Palavra a fará crescer em intimidade e conhe-
cimento de Deus e é o que Ele deseja e espera de você.
Jó é um grande exemplo de alguém que cresceu e ama-
dureceu no seu relacionamento com Deus durante um período
extremamente difícil em sua vida. Posteriormente, declarou em
Jó 42.5: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os
meus olhos te viram”.
Tenho certeza de que até aqui o Senhor já falou muito ao seu
coração, aproveite para registrar o que Ele tem dito pessoalmente a
você. Sua cura e restauração deve ser construída por você mesma,
numa caminhada diária com Deus, então, não pare em um mês.
Faça mesmo da sua meditação diária na Palavra um hábito
que a abençoará de sobremaneira e veja o agir de Deus em você,
de consolação em seu coração neste tempo de dor e depois expe-
rimente do Renovo do Senhor!
158 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 1 - OS PENSAMENTOS DE DEUS AO SEU RESPEITO


“Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês,
nem os seus caminhos são os meus caminhos”, declara o Senhor.
Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os
meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os
meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos”.
— Isaías 55.8-9
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 159

DIA 2 – O AMOR LEAL DE DEUS


“Porque imenso é o seu amor leal por nós, e a
fidelidade do Senhor dura para sempre. Aleluia”! — Salmos 117.2
160 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 3 – A FIDELIDADE DO SENHOR A VOCÊ


“Embora os montes sejam sacudidos e as colinas sejam removidas,
ainda assim a minha fidelidade para com você não será abalada,
nem será removida a minha aliança de paz, diz o Senhor, que tem
compaixão de você”. — Isaías 54.10
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 161

DIA 4 – A IMPORTÂNCIA DO TEMOR DO SENHOR


“O temor do senhor é o princípio da sabedoria; todos os que
cumprem os seus preceitos revelam bom senso. Ele será louvado
para sempre! ” —Salmos 111.10
162 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 5 – A QUEM DEVEMOS TEMER


“Eu lhes digo, meus amigos: não tenham medo dos que matam
o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu lhes mostrarei a
quem vocês devem temer: temam aquele que, depois de matar o
corpo, tem poder para lançar no inferno. Sim, eu lhes digo, esse
vocês devem temer”. — Lucas 12.4-5
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 163

DIA 6 – VOCÊ É O TESOURO PESSOAL DE DEUS


“Hoje vocês declararam que o Senhor é o seu Deus e que vocês
andarão nos seus caminhos, que guardarão os seus decretos, os seus
mandamentos e as suas ordenanças, e que vocês lhe obedecerão.
E hoje o Senhor declarou que vocês são o seu povo, o seu tesouro
pessoal, conforme ele prometeu, e que vocês terão que guardar todos
os seus mandamentos”. — Deuteronômio 38.17-18
164 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 7 – ONDE ESTÁ O SEU TESOURO?


“Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a
ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas
acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem
não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois
onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”.
— Mateus 6.19-21
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 165

DIA 8 – É PRECISO ANDAR NA LUZ


“Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas
trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos
na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros,
e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado! ”
— I João 1.6-7
166 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 9 – ELE É UM DEUS DE RECONCILIAÇÃO


“Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo
por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja,
que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não
levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem
da reconciliação”. — II Coríntios 5.18-19
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 167

DIA 10 – ELE É A NOSSA PAZ


“Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a
barreira, o muro de inimizade, anulando em seu corpo a Lei dos
mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em
si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar
com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele
destruiu a inimizade”. — Efésios 2.14-15
168 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 11 – O SENHOR TE SUSTERÁ


“Entregue suas preocupações ao Senhor, e ele o susterá; jamais
permitirá que o justo venha a cair”. — Salmos 55.22
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 169

DIA 12 – DEUS É PERDOADOR


“O Senhor é muito paciente e grande em fidelidade, e perdoa a
iniquidade e a rebelião, se bem que não deixa o pecado sem punição,
e castiga os filhos pela iniquidade dos pais até a terceira e quarta
geração”. — Números 14.18
170 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 13 – TAMBÉM DEVEMOS PERDOAR


“Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial
também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai
celestial não lhes perdoará a ofensa”. — Mateus 6.14.15
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 171

DIA 14 – É PRECISO MEDITAR NA PALAVRA


“Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar
nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que
nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será
bem-sucedido”. — Josué 1.8
172 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 15 – TAMBÉM É PRECISO SER FORTE E CORAJOSO


“Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore,
nem desanime, pois, o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde
você andar”. — Josué 1.9
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 173

DIA 16 – O SENHOR OUVE A SUA ORAÇÃO E SÚPLICA


“Porque o Senhor reconstruirá Sião e se manifestará na glória que
ele tem. Responderá à oração dos desamparados; as suas súplicas
não desprezará”. — Salmos 102.16.17
174 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 17 – NÃO FIQUE ANSIOSO, ORE


“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela
oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus
pedidos a Deus”. — Filipenses 4.6
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 175

DIA 18 – PEÇA, BUSQUE E BATA


“Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta
lhes será aberta”. — Mateus 7.7
176 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 19 – BUSQUE AO SENHOR


“Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo; clamem por ele
enquanto está perto”. — Isaías 55.6
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 177

DIA 20 – FUJA DA IMORALIDADE SEXUAL


“Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade
sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça;
pois essas coisas não são próprias para os santos”. — Efésios 5.3
178 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 21 – O SENHOR A RENOVARÁ


“O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele
se regozijará em você; com o seu amor a renovará, ele se regozijará
em você com brados de alegria”. ­— Sofonias 3.17
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 179

DIA 22 – A PAZ DE DEUS VIRÁ


“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o
coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”. — Filipenses 4.7
180 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 23 – VOCÊ CONHECERÁ O AMOR DE CRISTO


“Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça
no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito, para
que Cristo habite no coração de vocês mediante a fé; e oro para
que, estando arraigados e alicerçados em amor, vocês possam,
juntamente com todos os santos, compreender a largura, o
comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios
de toda a plenitude de Deus”. — Efésios 3.16-18
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 181

DIA 24 – VALE A PENA MANTER-SE PURO


“Mas os justos se manterão firme em seus caminhos, e os homens
de mãos puras se tornarão cada vez mais fortes”. — Jó 17.9
182 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 25 – MÃOS LIMPAS E CORAÇÃO PURO


“Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no
seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro,
que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos. Ele receberá
bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador lhe fará justiça”.
— Salmos 24.3-5
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 183

DIA 26 – ENTRE NO DESCANSO EM DEUS: JESUS


“Assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus;
pois todo aquele que entra no descanso de Deus, também descansa
das suas obras, como Deus descansou das suas”. — Hebreus 4.9-10
184 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 27 – CONTINUE BUSCANDO O CONHECIMENTO A DEUS


“Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo
como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas
de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra”.
— Oséias 6.3
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 185

DIA 28 – CONTINUE EXERCENDO A PACIÊNCIA...


“O fim das coisas é melhor do que o seu início, e o paciente é melhor
que o orgulhoso”. — Eclesiastes 7.8
186 • Curando a Dor da Traição no Casamento | Railca Freire Gouvêa

DIA 29 – O SENHOR É TEU MARIDO


“Pois o seu Criador é o seu marido, o Senhor dos Exércitos é o seu
nome, o Santo de Israel é seu Redentor; ele é chamado o Deus de
toda a terra”. — Isaías 54.5
– PARTE IV – Deus também age na dor | Devocional Diário por Trinta Dias • 187

DIA 30 – DEUS ESTÁ FAZENDO NOVAS TODAS AS COISAS


“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As
coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! ”
— II Coríntios 5.17
Semeando no Reino
“Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também
lhes suprirá e aumentará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça.
Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos
em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em
ação de graças a Deus”. — II Coríntios 9.10-11

Eu e meu esposo, Paulo, tivemos um chamado específico para dedicar-


mos nosso tempo integral à Missão. Nosso trabalho está voltado para
cura e restauração de relacionamentos feridos, casamentos e famí-
lias, principalmente aqueles afetados por distorções na sexualidade.
Fomos chamados a reconstruir velhas ruínas e a restaurar alicerces
antigos, a reparar muros, restaurar ruas e moradias (Isaías 58.12).
Você pode se tornar um parceiro neste ministério ficando na
retaguarda, suprindo as necessidades daqueles que estão no campo
de batalha através de sua contribuição com o nosso chamado.

Opções de contribuição:
( ) Oferta Única
( ) Oferta Mensal
( ) Oferta Eventual

Depósito Bancário:
PAULO ADRIANO MUNIZ GOUVEA
CPF 605.409.312-68
Banco Itaú – Agência 9313 – Conta 08405-6
Banco do Brasil – Agência 2925-4 – Conta 33485-5

RAILCA FREIRE GOUVEA


CPF 616.839.903-82
Banco Bradesco – Agência 2101 – Conta 1615-2

Você também pode ser uma coluna através da sua intercessão


por este trabalho. Deus abençoe ricamente sua vida e família.
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CURANDO A DOR DEUS É BOM?


DA TRAIÇÃO NO Autor: Tales Cabele Freire
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Autora: Railca Freire Gouvêa Colaboração: Railca Freire
Páginas: 192 Gouvêa
Páginas: 24

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“Railca fala com propriedade e quase que como uma autobiografia sobre
restauração familiar. Isso traz autoridade às suas palavras, além de ser tre-
mendamente sábia no que escreve. É um livro livre dos preceitos religiosos
sobre o assunto e uma abordagem sincera, bíblica e transparente sobre re-
lacionamentos familiares.”
Sal Cutrim – Lider da Jocum Monte das Águias

Depois de mais de três anos num processo de cura e restauração do meu


casamento, buscando entender tudo que havia se passado e lidando com
os escombros da queda do meu ‘castelo de areia’, mas, principalmente,
quando compreendi que não sou a única esposa que passou por isso, fui
impulsionada a escrever sobre o assunto para que esposas que acabaram
de se deparar com o mesmo problema possam ter alguma ajuda através da
experiência de outra mulher com uma situação semelhante(...) Quero aju-
dar você não somente no seu começo, mas de alguma forma conduzi-la a
cumprir todas as etapas necessárias para obter cura, restauração das suas
emoções, da sua alegria, da sua fé e, quem sabe, do seu casamento.

A DESCOBERTA – Você imaginou que o sexo pudesse vir a se tornar, em algu-


mas situações, algo tão ofensivo e destruidor? Eu não.
POR QUE TUDO ISSO? – Quando nascemos de novo no espírito ao recebermos
Jesus em nosso coração, é instantânea a nova vida no nosso espírito, e eu
imaginava que, espiritualmente falando, estava tudo resolvido...
O CAMINHO DO RENOVO – Escombros existem. É como um edifício que ruiu e
caiu. É preciso começar tudo de novo, mas não tem mais como se come-
çar do zero.
DEUS TAMBÉM AGE NA DOR – Jó é um grande exemplo de alguém que cresceu
e amadureceu no seu relacionamento com Deus durante um período extre-
mamente difícil em sua vida.
A autora

ISBN 978-85-923172-1-7

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