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Quando a Vida Nos Deve Algo

Eurípedes Mendes
LIDANDO COM AS CARÊNCIAS
Eurípedes Mendes de Souza Filho
Editora Jocum Brasil
Todos os Direitos Reservados

PRODUÇÃO EDITORIAL
EDIÇÃO, IMPRESSÃO AUTOR

E ACABAMENTO Eurípedes Mendes


Publicado no Brasil COORDENAÇÃO EDITORIAL

por Editora Jocum Nilce Sousa


Brasil, em 2018 EDIÇÃO

Regiane Ibernon Prates


DISTRIBUIÇÃO E VENDAS CORREÇÃO E REVISÃO FINAL

Rita Cássia
CAPA, DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Eurípedes Mendes

2ª Edição em Agosto de 2018


5.000 exemplares
160 Páginas | 145,0 x 21,0

Editora Jocum Brasil ISBN 978-85-60363-49-0


www.editorajocum.com.br 1. CRISTIANISMO
+55 41 3657-2708 2. TEOLOGIA

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Quando a Vida Nos Deve Algo

Eurípedes Mendes

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SUMÁRIO

Prefácio 01 09
Prefácio 02 11
Agradecimentos 15
Dedicatória 17

INTRODUÇÃO – A PERDA
DA AFETIVIDADE 19

CAPÍTULO 1 - O MAIOR
PODER DA TERRA 33
Para ser curado, é preciso ter atitude
Lidamos com a vida a partir das carências

CAPÍTULO 2 – CARÊNCIA
VERSUS DOM 47
Agimos de acordo com a nossa fome
A consciência perdida
O que era crédito virou débito

CAPÍTULO 3 – O PROBLEMA
DOS CRENTES É A BÊNÇÃO 61
A diferença entre revelar e provar
Em Jesus, somos cheios

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CAPÍTULO 4 – A MULHER DO POÇO 75
O balde da samaritana
O trapo de imundícia
Quem não é sede é fonte
Deixando o cântaro

CAPÍTULO 5 – CONSCIÊNCIA DO DOM


OU ESCRAVIDÃO DA CARÊNCIA 91
Um breve relato de minha história
Golpes mortais

CAPÍTULO 6 – TOMANDO
UMA GRANDE DECISÃO 103
Conhecendo a vontade do Pai

CAPÍTULO 7 – JESUS CANCELOU


A ESCRITA DE DÍVIDA 111
Rasgando as promissórias
Esquecendo o passado

CAPÍTULO 8 – CONHECENDO UMA


NOVA IDENTIDADE EM CRISTO 131
A nossa herança no Senhor
O domínio sobre as nossas necessidades
As tentativas frustrantes de aceitação
E se eu pecar
Disciplinados e não condenados

CARACTERÍSTICAS DE PESSOAS CARENTES 153

BIBLIOGRAFIA 154

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“Ao grande amor da minha vida, meu pai...”

“Pai, eu não faço questão de ser tudo


Eu só não quero e não vou ficar mudo
Pra falar de amor pra você...”
Fabio Correa Ayrosa Galvao

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PREFÁCIO 01

EURÍPEDES É MEU COMPANHEIRO FIEL, amigo e


inspiração. O que mais me impressiona em meu esposo é a
sua capacidade em Deus de sempre acreditar que é possível
recomeçar em qualquer situação. Conhecemo-nos em
outubro de 2007, quando vivíamos um tempo de muita
restauração. Eu estava dando os meus primeiros passos
depois de ter saído de um relacionamento que me trouxe
várias feridas e ele estava recomeçando a vida após doloridos
dois anos de cura.
Quando começamos o nosso namoro, o Senhor me disse:
“Cuide bem do meu príncipe, que está vindo de um longo
deserto”.
Como sou grata a Deus pelo presente que me deu em ter
Eurípedes como esposo, a melhor escolha que o Senhor
poderia ter feito por mim. Estar com ele é viver sem rotinas,
ter novos sonhos e se doar ao próximo. Aprendi com o meu
marido a ser proativa, a me expressar melhor e,
principalmente, a ser esposa.
Tenho o maior prazer em servi-lo. O meu desejo é o de
sempre ser sua ajudadora de verdade e contribuir com o
que o Senhor colocar em seu coração. Por isso, tenho a
alegria de ver este seu primeiro livro sendo lançado. Sei que
o que está escrito aqui fala de sua história e suas convicções.

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Tudo o que ele viveu foi necessário para que se tornasse o
homem que Deus quer que seja.
E sou grata por fazer parte de sua nova e única história.

Hosana Mendes

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PREFÁCIO 02

É COM MUITA ALEGRIA que faço o prefácio deste livro.


O Pr Euripedes Mendes é um amigo, colega e colaborador
de ministério que faz parte desta nova geração de líderes
que tem trabalhado eficientemente em prol da saúde e da
qualidade do crescimento da Igreja. Este livro traduz um
pouco da eficiência do seu ministério e traz uma rica
contribuição para todos aqueles que cuidam de pessoas.
Carência emocional é um aspecto central na maioria dos
casos de aconselhamento e determina o grau de defasagem
entre uma personalidade funcional e uma personalidade
disfuncional. A tendência é suprir um déficit emocional com
um crédito de concupiscência e incontinência. Esta dinâmica
pode tornar-se viciante. Mas é importante entendermos que
a carência cumpre um papel devastador, tendo não apenas
causas, mas também consequências muito graves.
A epidemia de famílias fragmentadas está adoecendo a
nossa sociedade. Uma criança sem o referencial e a proteção
de “pais casados” fica perigosamente vulnerável a variadas
formas de abuso, inclusive de caráter sexual, que tendem a
sistematizar, gerando a passividade. A passividade pode ser
definida pela incapacidade de reagir, pela inércia da vontade
mediante situações abusivas, onde a pessoa se acomoda ao
absurdo que sofre e que mutila a sua autoestima.

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Os episódios de abuso cavam fundo na alma das crianças
produzindo insegurança crônica e sofrimento mental. Aqui
nasce a carência que é um gatilho para muitas psicopatias,
dentre elas a “hiperatividade infantil” que acaba evoluindo
para um quadro de “ansiedade patológica”. A ansiedade até
um certo ponto é necessária e produtiva, mas pode tornar-
se descontrolada, altamente viciante, ativando um stress
interno em uma ação continua que fadiga a alma. A fadiga
tende a construir um quadro depressivo, onde a pessoa fica
vitima não apenas da descrença como da desistência
generalizada em relação ao seu estado emocional.
Este desgaste pode produzir um esfolamento
psicoemocional tão grande que transforma-se em um quadro
de “síndrome do pânico”. O pânico pode ser entendido como
uma situação generalizada de hipersensibilidade onde a
pessoa perdeu a “pele emocional”. Qualquer esbarrãozinho
é uma sensação apavorante.
Se não houver uma intervenção inteligente que viabiliza
um processo serio de reeducação, esta “dinâmica da inércia”
pode deixar lesões permanentes na alma humana. Porém, um
aconselhamento fundamentado na sabedoria da cruz pode
sempre produzir resultados sólidos.
Bom, esta resumida abordagem é apenas um modelo,
uma linha de ação que pode ajudar você a entender alguns
quadros onde a carência afetiva torna-se um combustível, o
combustível da dor, do sentimento de rejeição e insegurança,
do sofrimento mental crônico. Ao “crucificar” a carência

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deixamos de alimentar este processo e a saúde emocional
pode ser restabelecida.
Tenho certeza que o conteúdo deste livro não apenas vai
ajudar a muitos de forma prática a enfrentar as raízes e as
consequências da carência, como também irá
ferramentalizar outros a ajudar os que precisam. Certamente
esta leitura será muito produtiva.

Marcos de Souza Borges (Coty)


Escritor, Conferencista Internacional e Diretor
Jovens Com Uma Missão Almirante Tamandaré-PR

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AGRADECIMENTOS

Agradeço de todo o meu coração ao pastor Marcos de Souza


Borges (Coty), por ter acreditado e investido em minha
restauração e ministério. Tive o privilégio de poder trabalhar
ao seu lado e conhecer seu caráter, generosidade e testemunho
de homem de Deus. Obrigado por seus ensinamentos e
exortações em amor. Agradeço ao pastor Paulo Borges Júnior,
com quem, por mais de 20 anos tenho aprendido. Muitos dos
seus ensinamentos estão neste livro.

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DEDICATÓRIA

DEDICO ESTE LIVRO À MINHA AMADA ESPOSA


Hosana. Ela representa o início de uma nova história em minha
vida. Foi com quem descobri o homem em Deus que sou e o
que significa ser um verdadeiro esposo, pai e homem de Deus.
Ao meu querido pai. Em vida, tentei ao máximo aproveitar
alguns poucos dias ao seu lado. Aos meus filhos João Pedro,
Sarah e Júlia Mendes, que os amo incondicionalmente. Ao
meu grande amigo Roney, sua esposa Bruna e suas filhas.
Dedico este livro às minhas irmãs Juliana, Luciana e
Eudislana Mendes, as tragédias da vida nunca poderão nos
separar.
Dedico à minha querida sogra Cláudia Maria, à minha
linda cunhada Sâmia Cristina, o Bil, o Edu e a Mica, a Gisele
e a Vó Maria da Conceição. Ao meu primeiro pastor,
Denílson Pires, que me ensinou o amor a Deus e às Escrituras
e aos meus pastores, amigos e irmãos da Igreja Centro
Mundial da Adoração em Goiânia-Go.
Dedico este livro a minha amiga Elisama Cintra que me
deu uma ordem para eu vir para Almirante Tamandaré e ao
Vitor Maciel que me presenteou com o Livro a Face Oculta
do Amor. Dedico também a minha amiga Daniela Xavier
que presenciou os meus primeiros passos na direção da
restauração. Dedico cada palavra deste livro a todos os meus

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verdadeiros amigos, nome por nome, escritos para sempre
em meu coração.
E por fim, dedico este livro ao grande amigo, líder e
inspiração de amor ao chamado, Carlos Silva, fundador de
Jocum Goiânia.

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INTRODUÇÃO

“Um adulto saudável é uma pessoa


emocionalmente e mentalmente
amadurecia. Mas infelizmente não é
isso que acontece. Sempre estamos com
a sensação que alguma coisa nos falta”.

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A PERDA DA
AFETIVIDADE

NO MOMENTO EM QUE NASCEMOS nossa


maturidade emocional começa a ser construída. A construção
de toda a maturidade emocional começa no momento em
que nascemos. Todos nós, em diferentes medidas, sentimos
necessidade de alguma coisa. Sempre temos a impressão de
que algo nos está faltando. E isso acontece desde o nosso
nascimento. Estávamos no útero materno, aconchegados e
com toda uma sensação de plenitude, aconchego e proteção.
Quando viemos ao mundo, a primeira experiência que tivemos
foi a de romper com este lugar de segurança.
Esta ruptura gerou em nossas vidas uma sensação de
desemparo. Só voltamos a nos encontrar de novo com aquela
condição de plenitude vivida no útero em um outro momento,
ao estar no colo da nossa mãe, sendo amamentados por ela.
Ao nascer, portanto, precisamos de colo, proteção,
aconchego, atenção, toque, alimento, afirmação, afetividade,
amor e cuidado. E é a figura dos pais que deve (ou deveria),

17
Lidando Com As Carências

nos fazer viver, durante os primeiros anos de nascidos, a


mesma sensação que tínhamos no útero. O fato é que,
infelizmente, por conta de tantos abandonos, ausências e
incompletudes que a vida nos apresenta, todas essas
necessidades deixam um vazio terrível dentro de nós e nos
levando a tentativa frustrada de preencher isso de uma forma
ou de outra.
A mãe e o pai são os nossos primeiros focos de amor, desejo,
satisfação e completude. Na medida em que vamos crescendo,
estes sentimentos deveriam amadurecer junto conosco. Um
adulto saudável é uma pessoa amadurecida emocionalmente,
fisicamente e mentalmente. Mas, infelizmente, nem sempre é
isso o que acontece. Rotineiramente, temos a sensação de que
alguma coisa nos falta e de que não estamos plenamente
resolvidos com a vida.
Nos dias de hoje, mais do que em qualquer época,
vivemos mudanças, que estão afetando diretamente a nossa
maturidade emocional. As relações estão a cada dia, mais
desconectadas umas das outras. Os casamentos não são mais
sólidos como eram alguns anos atrás. As amizades são
extremamente superficiais e descartáveis. As relações
afetivas são frágeis e, por essa razão, estamos
profundamente adoecidos em nossos sentimentos. Ou seja,
a cada dia mais vulneráveis afetivamente. Quando
atendemos pessoas nos aconselhamentos, percebemos que
muitos dos problemas que encontramos estão ligados
principalmente à solidão na infância. Todos têm uma única

18
A PERDA DA AFETIVIDADE

fala: “O meu pai era vivo, porém completamente ausente”.


Uma dura verdade que temos que encarar é que a família
atualmente não é mais prioridade. Este lugar passou a ser
ocupado pela carreira profissional.
As crianças estão indo cada vez mais cedo para a escola. E
este comportamento está produzindo sérios e doentios
sentimentos. Somos uma sociedade onde os pais dão a vida
para o crescimento de uma empresa, mas, infelizmente, estão
perdendo os laços de afetividade com os seus filhos. É como
se dissessem (e muitos o dizem mesmo): “Dá trabalho criá-los.
Então, vamos jogá-los nas escolas”.
Outras pessoas estão assumindo as funções do pai e da
mãe. Por conta da correria do mercado de trabalho e das
graduações que nunca têm fim, os filhos estão sendo
“abandonados” nas creches e escolas ou entregues na mão do
Estado. Quando estão em casa, o tempo é tomado pelos
avanços tecnológicos, como jogos, internet, celulares, e-mails,
entre outros.
Observa-se que as creches e as escolas não estão aptas parta
substituir de forma alguma o ambiente familiar. Basicamente,
aqueles que se ocupam no cuidado e na formação dos nossos
filhos estão tão perdidos em seus valores quanto nós, pais.
Além do mais, quando o convívio em família é retirado de
uma criança, os efeitos da separação produzem sérios defeitos
no caráter dela.
Como já disse, as crianças vão para escola nos dias de hoje
cada vez mais cedo, com 2 anos ou menos. Existem escolas

19
Lidando Com As Carências

que as recebem ainda mais nova. Certa vez, eu e minha esposa


ministrávamos em uma igreja, e logo após o término do culto
um casal se aproximou de nós para nos cumprimentar. A
mulher estava com um bebê recém-nascido no colo, e depois
de alguns minutos de conversa ela disse a seguinte frase: “Não
vejo a hora do bebê começar a ficar mais independente para que
possa voltar a trabalhar.” E geralmente esta afirmação vem
acompanhada pela convicção que a decisão mais coerente a
se tomar e colocar o filho em uma escola ou creche.
Não estou dizendo que nossos filhos não devem ir para
escola; realmente a escola é um espaço importante para
estímulos educativos e sociais. Mas desde que isso seja feito
no tempo certo na vida da criança.
Há trinta anos, um estudioso do desenvolvimento infantil,
Leo Kanner da Child Psychiatry, dividiu a socialização infantil
em três etapas:

• SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA: Até os 2 anos, quando a


criança aprende a reconhecer e a educar suas necessidades
fisiológicas (vontade de fazer xixi, sede e fome.)

• SOCIALIZAÇÃO FAMILIAR: Até 5 a 6 anos, a única


necessidade que a criança precisa aprende a conviver é com o
pai, a mãe, irmão e os demais membros da família. Tanto o
pai quanto a mãe cumprem um papel fundamental na
formação da maturidade emocional e da identidade sexual
da criança.

20
A PERDA DA AFETIVIDADE

• SOCIALIZAÇÃO COMUNITÁRIA: a partir dos


6 anos, quando a criança começa, eu deveria começar a
vida escolar.

Infelizmente, a Socialização Comunitária está cada vez


mais precoce. Crianças estão tendo contato social sem lançar
os fundamentos da socialização e da educação familiar. O
ambiente social escolar substituiu o ambiente familiar, e pior,
os jogos, a internet, e as mídias sociais também fizeram isso.
Vivemos tudo, menos família. Tudo está fora de ordem:
primeiro deveria ser o indivíduo, depois a família, e por último
a sociedade.
Hoje, as crianças e os jovens não sabem mais estabelecer
valores e limites claros entre família e escola, principalmente
quando os pais acham que a responsabilidade da educação
dos filhos é da escola.
Algo que precisamos de uma vez por todas entender é que
a educação dos filhos na escola é completamente diferente da
educação familiar. O que uma criança deveria aprender no
convívio escolar é completamente diferente do que se deveria
aprender na família. Educação escolar não substitui a educação
na família. Uma complementa a outra, mas não substitui a
outra. Não se pode delegar à escola a parte da educação familiar.
A escola nunca deve absorver a educação familiar, pois a função
da escola é preparar socialmente o indivíduo para convívio
profissional.
A escola não é responsável pela formação do caráter de

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Lidando Com As Carências

uma criança, mas ela é o complemento dessa educação. Por


mais que uma escola ou até mesmo uma igreja propicie um
clima familiar à criança, ainda assim é uma escola e uma
igreja. Quando digo igreja, estou me referindo à instituição
religiosa. Digo isso porque sou cristão, e este comportamento
também acontece nos templos cristãos. Pais responsabilizam
os padres, as freiras, os pastores e educadores cristãos pela
educação religiosa dos seus filhos. É preciso entender que fé
não se aprende na igreja, fé se aprende em casa. O pastor
Coty sempre diz em suas ministrações: “O único evangelho
que os nossos filhos leem é nossa própria vida.”
A ausência de convívio familiar geram adultos doentes
emocionalmente. Relacionamentos primários, com pais, irmãos,
avós e primos, é que vão ditar as primeiras regras do afeto, e a
falta dessas interações podem gerar muita carência que, em um
primeiro momento, pode parecer irreparável.
Crianças precisam sentir que pertencem a uma família, e
não a um grupo de amigos, colegas ou até mesmo uma igreja.
Quando mostramos com nossa própria vida, que o lugar mais
seguro de se viver é a família, nossos filhos vão carregar essa
segurança dentro de si para onde forem, inclusive em seus
primeiros passos na escola.
Crianças que crescem sabendo que pertencem a uma
família possuem um sentimento de segurança e de
pertencimento que as defende de ser adotadas por um
abusador, um traficante, um bando de delinquentes ou até
mesmo um fanático de qualquer espécie. Crianças inseguras

22
A PERDA DA AFETIVIDADE

em seus primeiros relacionamentos se tornam adultos


inseguros e controladores e a própria vida vai se encarregando
de mostrar o quanto elas são doentes emocionalmente.
Infelizmente, estamos a cada dia perdendo o significando da
força dos laços familiares. O que mais nos acompanha por
toda a nossa vida são os vínculos afetivos familiares, ou até
mesmo a falta deles.
Finalizei a produção deste livro em dezembro de 2014,
bem nos últimos meses da gestação da minha esposa. É
maravilhoso acompanhar as mudanças que acontecem em
seu corpo por conta da chegada do nascimento da nossa bebê.
Quando uma mulher está chegando à fase final da gestação,
o bico do seio escurece por uma razão simples e maravilhosa:
o bebê ao nascer, ainda com dificuldades de focalizar as
imagens, consegue enxergar o bico do seio por contraste com
a pele, e se levando ao seio, ele suga-o imediatamente por
reflexo. Todo o corpo muda para que o bebê se desenvolva
saudavelmente. Por que digo isso? Porque infelizmente a
maioria dos pais de hoje não querem mudar seus
comportamentos, suas agendas e suas vidas para oferecerem
aos filhos um ambiente que os torne adultos saudáveis por
toda a vida. Certa vez li: “Leite alimenta o corpo, a afetividade
familiar alimenta e fortalece a alma”. Não sabemos mais nos
relacionar. Sabemos consumir e o fazemos por conta de muita
ausência afetiva. Nas minhas viagens por vários locais do
Brasil, quando fico hospedado nas casas, e percebo que, em
boa parte das famílias onde os pais são extremamente

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Lidando Com As Carências

ausentes, os filhos são exageradamente abastecidos de


brinquedos e jogos. Todo este comportamento é resultado de
uma tentativa frustrada de substituir a afetividade relacional
que deveria existir no lar.
E este consumismo traz implicações na mudança de
atitudes e nas relações interpessoais. Passamos a ser indivíduos
vazios, sem sentimento de pertencimento, sem vínculos
afetivos que nos unam a outras pessoas. E ficamos fragilizados,
expostos a todo tipo de crise sentimental. Quando entramos
na fase adulta, toda esta carência afetiva tende a ser
preenchida pela imoralidade. Imaginamos que todo este
sentimento de vazio só pode resolvido se estivermos com um
parceiro ou parceira. Não é à toa que existe muita gente que
"não consegue ficar sozinha". E por conta disso, acabamos
por entrar às cegas em relacionamentos que se transformam
fardos terríveis. Nos vemos envolvidos com pessoas adoecidas
sentimentalmente, ciumentas, possessivas, inseguras,
exploradoras, insensíveis, desrespeitosas, com uma
personalidade muito distante daquilo que pretendíamos ter
ao nosso lado. E por medo da solidão, na ilusão de que estar
com alguém estaremos a salvo da carência, não nos damos
conta de que continuamos esvaziados de afeto, mendigando
(por meio da imoralidade), amor, cuidado, toque e atenção.
Por que temos atualmente tantas pessoas buscando sexo
sem consciência de aliança e princípios? Isso acontece porque
a afetividade, que deveria ser aprendida com os pais e com
a convivência em família, infelizmente, foi substituída pela

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A PERDA DA AFETIVIDADE

atividade profissional, desempenho e metas. Pais estão 100%


envolvidos em suas atividades profissionais e filhos estão
vivendo 100% em suas atividades sociais.
Vivemos por anos em nossas casas sem, no entanto,
desenvolver laços afetivos, o que nos prejudica
profundamente. Acabamos desenvolvendo algo terrível em
nossa alma, o que tenho insistentemente chamado de
“carência” e que acredito ser um dos maiores poderes da terra.
Ao ouvir pessoas de diferentes contextos e realidades, os
problemas são diversos, mas, na maioria dos atendimentos, o
que mais encontramos são as carências afetivas.
Quando falamos de síndrome do pânico, fibromialgia
(dores pelo corpo), depressão, homossexualidade, vício sexual,
pornografia, é preciso entender que muitos destes problemas
estão ligados diretamente às carências afetivas. Ao contrário
do que muita gente pensa, carência não é coisa de mulher – e
menos ainda de “mulherzinha”: pode atingir tanto homens
quanto mulheres, com uma facilidade destrutiva.
Anos atrás, havia a conhecida “repressão sexual”, que não
existe mais. Hoje, há a “liberdade sexual”, o que traz outros
tipos de sintomas na sociedade. Essa liberdade sexual acaba
se tornando, paradoxalmente, uma prisão para nossa alma,
uma prisão em nossas próprias necessidades. Ela é fruto de
uma prisão nas necessidades. Na tentativa de suprir o que
nos faltou em casa, viramos escravos de nós mesmos.
Este comportamento também produz o que podemos dar
o nome de “síndrome do excesso”. Hoje, tudo se resume em

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Lidando Com As Carências

três palavras: consumo, excesso e descarte. Consumimos além


do necessário para esquecer a dor da ausência de afetividade
e descartamos porque não aprendemos em casa sobre vínculos
afetivos, isto é, amor, compromisso, fidelidade e sacrifício.
Consumimos brinquedos, jogos, comida, tecnologia, roupas
e pessoas. Isso tudo se chama carência, o que culmina em
variadas práticas adoecidas, como obesidade, anorexia, insônia,
vício sexual, compulsão por compras ou por alimentos,
necessidade de colecionar algo e relacionamentos diversos. Faz-
se de tudo na tentativa frustrada de compensar as necessidades
afetivas. Quanto mais carentes somos, mais vulneráveis
estamos a todo tipo de ataques.
Eu já atendi vários casos de pessoas que não conseguiam
entender porque eram tão fracas diante de certos tipos de
sentimentos doentios. Em nossa base missionária, conheci uma
jovem que já havia se envolvido com mais de cinco homens
casados em sua Igreja. Ela mesma dizia: “Não consigo entender
o porquê, toda vez que tenho uma amizade com esse tipo de pessoa,
acabo me envolvendo sexualmente”.
É importante dizer que nenhum problema de carência
afetiva justifica tal prática, mas as explica. Uma pessoa
fragilizada emocionalmente não está isenta da culpa de um
adultério, de uma fornicação ou de uma parafilia (variação nas
fontes de prazer sexual, principalmente com objetos), mas o
seu comportamento, repito, pode ser explicado. Quando
ouvimos a história desta moça, por exemplo, descobrimos o
quanto foi profundamente abandonada pelo pai em sua

26
A PERDA DA AFETIVIDADE

infância e isso produziu sérias feridas emocionais em sua alma.


Certa vez, ela conheceu um rapaz em uma confraternização
em nossa base missionária. Depois de duas horas conversando
com ele, chegou chorando na minha sala e disse: “Eurípedes,
me ajude. Ore comigo, porque estou completamente apaixonada
por alguém que conheci há poucas horas”.
Você consegue imaginar o tamanho da carência dessa
moça? Ela se apaixonou por uma pessoa depois de duas horas
de conversa.
Surge, então, a pergunta: “Como podemos resolver tais
carências? Como fazemos para ficar livres deste sentimento?
Será que se trata de uma necessidade que precisa ser suprida? É
o que pretendo responder neste livro.

27
27
CAPÍTULO 1

“Cuidado com as carências, elas


têm um poder terrível de te
fazer enxergar amor, respeito e
afeto onde não há”.

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O MAIOR PODER
DA TERRA
A CARÊNCIA AFETIVA É UM ASSUNTO que, se eu
pudesse escolher, ministraria por toda a minha vida. Além de
ser algo sobre o qual Deus, particularmente, falou ao meu
coração através do seu Espírito Santo, faz parte do meu
testemunho de cura e restauração. E, com muito
discernimento, compartilho as minhas experiências.
A mensagem que trago neste livro confronta alguns
conceitos equivocados e traz um outro sentido da maneira
como nos relacionamos com as pessoas e com Deus. Ela aponta
uma medida de desconstrução de valores, mas também foca
no entendimento de reconstrução.
No decorrer desta obra, você perceberá que temos muitos
conceitos errados em nós mesmos. Talvez, você chegue até o
ponto de pensar: “Meu Deus, então está tudo errado!”.
Infelizmente, muito do que temos em nosso interior influencia
profundamente o nosso relacionamento com o Senhor.
Eu entendo que a carência é, sem dúvida, um dos maiores
poderes da terra. Por conta dela, tomamos as piores atitudes e
somos capazes de cometer tudo quanto é tipo de loucuras.

29
29
Lidando Com As Carências

Porém, é necessário estabelecer um conceito para esse termo. A


primeira coisa que precisamos entender é que não estamos
falando da necessidade de ser atendido por outra pessoa, objeto
ou mesmo por Deus. Carência é, na verdade, uma enfermidade
da alma, que deve, urgentemente, ser tratada e curada.
Portanto, a carência não é algo a ser suprido. É, na
verdade, uma doença que precisa ser curada e tratada como
tal! Esta enfermidade nos leva a tomar as piores decisões na
vida. Por conta dela é que, por exemplo, muitas pessoas se
casam errado, fazem compromissos equivocados e escolhas
inadequadas. São decisões que as conduzem a caminhos
totalmente desfavorecidos.
A carência tem o poder de controlar e escravizar muitas
pessoas. Quantos maridos já não abandonaram os seus lares,
esposas e filhos? Quantos não largaram os seus empregos e
ministérios? Muitos, inclusive, já tiraram a própria vida.
Infelizmente, as igrejas estão cheias de casos assim. Alguns
de nós, que já conhecemos a Jesus e deveríamos ter as nossas
emoções curadas, ainda passamos por desconfortos causados
por esta doença na alma.
Não há dúvidas de que a nossa carência tem um poder
terrível de determinar as piores escolhas, que influenciarão
toda a nossa vida emocional. Ela é responsável, por vezes,
em levar alguém a nem conseguir raciocinar em uma
situação de crise emocional. Há pessoas que, em um estado
de nervosismo ou de contrariedade, têm atitudes
extremamente insanas.

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O MAIOR PODER DA TERRA

Posso falar com respaldo deste assunto, pois sou um


homem muito nervoso. Todos os dias, preciso pregar e
ministrar sobre o controle nas emoções para mim mesmo. Eu
sou uma pessoa dependente do Espírito Santo e necessito
submeter as minhas atitudes aos frutos dEle . Pela graça de
Deus, a minha esposa me ajuda muito nessa área. O Senhor
a colocou na minha vida para me ensinar a ter o equilíbrio
que preciso.
Quando acontecem situações de nervosismo extremo e
perdemos a noção do quanto podemos magoar alguém ou
promover um ambiente constrangedor, temos a mania de
dizer: “Perdoe-me. Eu estava fora de mim!”. Na verdade, é
exatamente o contrário. Nós estávamos exatamente “em
nós mesmos”.
Quando nos descontrolamos, estamos no estado mais sincero
do nosso caráter. Quando amamos o próximo, cuidamos uns
dos outros, perdoamos os nossos inimigos e caminhamos mais
algumas milhas, aí sim, estamos “fora de nós”.
Todo o nosso controle vem do Senhor. Ao fazermos coisas
contrárias à nossa natureza, manifestamos a vida de Deus.
Isso porque é somente nos submetendo a Ele que conseguimos
a libertação de nós mesmos. E, se existe algo que precisamos
entender é que as carências são o pior ambiente para quem
deseja ter este controle do Espírito Santo. Enquanto não as
abandonarmos e não nos submetermos ao tratamento,
continuaremos em um ciclo de reprovação.
Toda carência tem a capacidade terrível de nos conduzir

31
Lidando Com As Carências

a atitudes extremas e com consequências desastrosas. Ela


nos leva a correr atrás de tudo, até daquilo que não é nobre.
Costumo dizer que se trata de um “cio” no ser humano.
Um animal neste estado não tem nenhuma consciência do
que está fazendo. O cheiro desperta o seu instinto e ele vai à
procura do que quer. O carente é exatamente assim. O
carente não é orientado por sua consciência, mas por suas
necessidades.

PARA SER CURADO, É PRECISO TER ATITUDE


Certa vez, uma pessoa nos procurou em Curitiba e
marcamos de encontrá-la em sua casa. Ela era muito abastada
financeiramente e o seu marido era um empresário bem-
sucedido. Naquele dia, falou muito, contando todas as
desgraças que vivia, as certezas das traições conjugais que
vinha sofrendo e toda a perversão sexual que via. O seu
casamento estava totalmente destruído e a caminho de um
divórcio. Os seus filhos sofriam com a ausência paterna.
Olhando para a família, não sabíamos quem era o mais
doente, se o homem ou a mulher. Então, eu e a minha esposa
sugerimos que ela parasse tudo e fizesse um curso conosco
sobre essa área. As justificativas para não atender a sugestão
foram muitas, como a transferência da escola das crianças e
a faculdade que estava fazendo. Nada podia ser parado ou
interrompido naquele momento.
Diferente de uma família que chegou ao meu escritório em
janeiro de 2012. Um dos pastores que havia em nossa base, o Pr.

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O MAIOR PODER DA TERRA

Marcos Moura, me apresentou o Waldir e sua esposa Lúcia com


seus dois filhos. O Waldir era sócio de motéis em sua cidade,
mas logo após sua conversão ele decidiu vender sua parte e investir
por dois anos na saúde espiritual e emocional da sua família. Ele
entendia que, pelo fato de sua família ter vivido por anos neste
ambiente de muita imoralidade, isso gerou profundos traumas
em seus filhos e sua esposa. Era necessário ele parar tudo e curar
sua família. Waldir ficou por dois anos fazendo vários cursos em
nossa base. Ele entendeu o quanto sua família estava doente.
Imagine comigo: Quando alguém vai ao médico e
descobre, por exemplo, que tem um tumor do tamanho de
uma laranja nos pulmões, qual é a sua atitude? Com certeza,
é se submeter, o mais rápido possível, ao tratamento. Se esta
pessoa fosse alguém que estivesse no meio de um curso
universitário e tentasse negociar com o médico um tempo para
que concluísse os seus estudos, o que o profissional diria?
Quando alguém descobre que há uma enfermidade séria
no corpo, precisa parar todos os seus projetos atuais e adiar
os seus sonhos para poder se cuidar. Na verdade, o relato de
quem já passou por isso é que, quando se descobre um câncer,
nada na vida faz mais sentido. Tudo o que estiver sendo feito
tem que ser paralisado. É um caso de vida ou morte.
A carência pode ser comparada a um câncer que, se não
for tratado com toda seriedade, leva à morte. Mas as pessoas
camuflam, escondem e fingem que o problema não existe e,
aos poucos, ela vai consumindo a vida. Ainda que se escondam
os sintomas, uma hora ou outra eles irão aparecer.

33
Lidando Com As Carências

Conheço homens e mulheres que se esforçam para mudar


as suas atitudes, mas não conseguem, pois esta é muito mais
uma questão de cura do que de boa vontade na hora das crises.
Se as pessoas tivessem consciência de que o que possuem em
sua alma é um câncer chamado carência, elas parariam tudo
na vida e se submeteriam aos processos para vencer isso.
Eu e a minha esposa trabalhamos por um bom tempo com
o discipulado de aspirantes ao ministério de aconselhamento
e discipulado. Quando conseguimos formar uma boa equipe
de obreiros, passamos para eles a função e nos dedicamos ao
acompanhamento de quem trabalhava conosco. Ainda não
tínhamos nenhum casal, até que chegou um e que desejava
ser restaurado. Na nossa caminhada, percebemos que quem
quer mudança precisa de atitudes e não necessariamente de
desejos, ou expectativas de mudança.
É uma verdade: Desejo não muda ninguém. Todos os anos,
vejo várias pessoas desejando ter outro caráter, transformar o
casamento, parar de beber, se santificar a Deus. Mas, como
já disse, não é o fato de querer tais coisas que provoca
mudanças em alguém. São as atitudes que fazem a diferença.
Foi isso que acometeu no coração do Waldir e sua esposa, eles
tiveram atitude para parar tudo e investir em sua família.
No dia a dia, percebo as pessoas tentando maquiar,
enganar e burlar a direção que receberam sobre suas
carências. Algumas até fazem o incorreto às escondidas.
Recebem orientações sobre o que fazer com o seu problema,
mas, ao invés de dar respostas ao que foi indicado, começam

34
O MAIOR PODER DA TERRA

a dar justificativas. Falam que têm o desejo de mudança, mas


não têm as atitudes que levarão a isso.
O fato é que muitas pessoas não estão arrependidas do
que fizeram de errado no seu passado. Até possuem o desejo
de mudar, mas as ações não condizem com a transformação
necessária. Estando decepcionadas consigo mesmas, falam
que se empenharão na mudança, mas, em seguida, começam
os argumentos que as levam ao contrário disso.
As primeiras coisas que o Senhor deseja encontrar na vida
de alguém são disposição e atitudes para mudança. Lembra-
se de quando Deus chegou a Abraão? Se analisarmos o texto,
veremos que, antes de prometer a ele um filho, mandou que
saísse de sua terra e do meio de sua parentela. O Pai quer que
estejamos dispostos a sair de um lugar para ir para outro. Em
Gênesis 12:1-4 está escrito: “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-
te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra
que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação e abençoar-te-
ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e
em ti serão benditas todas as famílias da terra. Assim, partiu
Abrão como o Senhor lhe tinha dito e foi Ló com ele; e era Abrão
da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã."
Abraão obedeceu à direção que recebeu e somente no
capítulo 15 de Gênesis, depois que anos haviam se passado,
é que Deus prometeu a ele um filho. O Senhor sabe daquilo
que necessitamos e conhece os nossos desejos mais íntimos.
Mas, para Ele, o importante é se temos disposição de viver

35
Lidando Com As Carências

a sua vontade primeiramente e se nos agradamos disso.


Assim aconteceu com o patriarca, que recebeu os projetos
do Pai. Somente mais adiante é que foi gerado o seu
descendente. Veja também o que diz em Gênesis 15:1-6
“Depois destas coisas, veio a palavra do Senhor a Abrão em
visão, dizendo: Não temas, Abrão. Eu sou o teu escudo, o teu
grandíssimo galardão. Então, disse Abrão: Senhor Deus, que
me hás de dar, pois ando sem filhos e o mordomo da minha
casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: Eis que não
me tens dado filhos e eis que um nascido na minha casa será o
meu herdeiro. E eis que veio a Palavra do Senhor a ele dizendo:
Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas
sair, este será o teu herdeiro. Então, o levou fora e disse: Olha
agora para os céus e conta as estrelas, se as podes contar. E
disse-lhe: Assim será a tua descendência. E creu ele no Senhor
e imputou-lhe isto por justiça.”
Há muitos argumentos para não entrarmos em um
processo de mudança. Existem várias pessoas que desprezam
a possibilidade de sair de um lugar e ir para outro, para fazer
um curso ou um seminário, por exemplo. No pensamento
delas, não há necessidade disso. A justificativa é que o mesmo
Deus opera onde estivermos, o que é verdade. O Senhor é
extremamente poderoso para fazer tudo. Porém, muitas vezes,
o que falta a quem pensa assim, é se dispor.
A palavra “disposição” tem em si um sentido muito claro,
que é “mudar de posição”, “se deslocar”. Quando alguém se
dispõe a sair de sua casa ou de sua cidade para aprender algo

36
O MAIOR PODER DA TERRA

que possa ajudá-lo nas suas fraquezas e limitações, já


demonstra um sinal de que está disposto. Ir em busca de
conceitos que mexerão com o seu modo de pensar sobre os
problemas é uma atitude de quem quer viver mudanças. Antes
de Deus fazer um milagre em nossas vidas, Ele quer ver se é
isso o que queremos.

O VALOR DOS PROCESSOS

LIDAMOS COM A VIDA A PARTIR DAS CARÊNCIAS


Quando comparo a carência a um câncer, estou
afirmando que as pessoas não sabem e não têm noção do
quanto estão doentes, nem do quanto a cura é necessária.
Mas falar disso no meio de uma geração que foi formada
para avaliar a vida a partir das suas próprias necessidades
afetivas não é fácil. Não analisamos o que vivemos
segundo a consciência transformada por Deus. Lidamos
com aquilo que gira ao nosso redor de acordo com o que
precisamos.
Segundo Filipenses, o homem fez das suas carências e
necessidades o seu próprio deus. Vejamos Filipenses 3:18 e
19: “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse e agora
também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo
fim é a perdição; cujo Deus é o ventre e cuja glória é para confusão
deles, que só pensam nas coisas terrenas.”
Aliás, a Bíblia tem um livro para falar que a humanidade
está escrava da sua própria vaidade. Eclesiastes 1:14

37
Lidando Com As Carências

diz:“Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol e


eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.”
Quando comecei a ministrar o seminário completo sobre
sexualidade, eu trabalhava 21 dias sobre temáticas como
complexidades de famílias, crises de traumas, medos e abusos.
Porém, com o passar do tempo, fui percebendo que as pessoas
desenvolviam um sentimento de vitimização. Elas passavam
a se sentir atingidas pela vida. E percebi que a minha
abordagem precisava mudar.
Entendi em Deus que, para tratar do assunto sexualidade,
seria preciso construir um pensamento. Essa construção se
dá a partir de uma consciência transformada de que nós, por
natureza, somos depravados e doentes. E o nome da doença
é pecado. Por exemplo, se você cuidar de uma criança, der
todo amor, cuidado, boa referência e atenção que precisa,
ainda assim, existirá no interior da mesma uma voz clamando
a falta de alguém que ela nem conhece.
A carência é o trampolim para o pecado. Ela é o resultado
de medos, abandonos e tudo de ruim que já se sofreu na vida.
De alguma forma, tentamos compensar esse desespero interno
com pessoas ou coisas. Nada mais é do que um vazio que,
por vezes, fica no coração e aí está a explicação da busca de
alguém para preenchê-lo.
Infelizmente, as nossas igrejas estão cheias de pessoas que
agem dessa forma. Há um número grande de líderes dentro
das comunidades evangélicas que sofrem da doença chamada
carência. Usam o ministério ou a posição para que consigam

38
O MAIOR PODER DA TERRA

ou tentem preencher algo que lhes falte. O carente ama ter


outros “debaixo” da sua liderança.
Recentemente, descobri, na minha própria experiência, o
quanto somos enganados com o que tenho chamado de
“blindagem da liderança”. Penso que todo líder deveria, depois
de um tempo, deixar o posto por pelo menos dois anos.
Comecei a ver que tal título nos blinda de ver certas carências
que ainda não foram curadas em nossas vidas.
Controle, insegurança, manipulação e abusos, muitas
vezes, são bem protegidos pela posição que ocupamos.
Conheço alguns líderes que entram em crise apenas com a
possibilidade de não serem mais obedecidos, honrados e
respeitados. Há aqueles que, só de pensar em deixar o posto,
se desviam e abandonam até mesmo a própria esposa. São
pessoas que só conseguem estar bem com Deus e com a vida
se estiverem liderando, aconselhando ou a frente de alguma
coisa. O carente ama ser líder.
Um dos homens mais seguros e curados na questão das
carências que já conheci como líder foi o pastor Marcos de
Souza Borges, o Coty, com quem trabalho há alguns anos. A
cada dia, fico mais impressionado do quanto é resolvido em
relação ao assunto. Certa vez, alguém ministrava em nossa
base missionária e trazia algumas mensagens contrárias aos
seus ensinamentos. Imediatamente, levei a situação a ele, que
me disse: “Quem disse que todos têm que pensar igual a mim?
É necessário que haja opiniões diferentes”.
É impressionante a forma com que líderes seguros e

39
Lidando Com As Carências

curados podem ser usados por Deus. Por outro lado, é


insuportável ver pessoas inseguras liderando. Eu,
particularmente, tenho muita dificuldade de lidar com este
tipo de liderança. A insegurança é uma das principais
características do líder carente. Pessoas inseguras odeiam
alguém que se aproxima com novas ideias, porque tem a
carência de ser obedecido por seu “ liderados”.

40
CAPÍTULO 2

“Quando a carência supera a razão,


as escolhas tornam-se desilusões”.

41
CARÊNCIA
VERSUS DOM

EXISTE UMA FORMA DE LIDAR CONSIGO MESMO


que precisa ser confrontada. Há uma disposição mental
implantada na vida da maioria dos cristãos, que se configura
a partir das carências, necessidades e desejos. Fazemos isso
inconscientemente, sem percebermos. Os relacionamentos são
construídos a partir dessa ótica de valores tão distorcidos,
assim como os ministérios que também são reerguidos com
os mesmos fundamentos débeis. E uma série de decisões são
tomadas a partir da mesma ótica.
Há um anseio terrível de encontrarmos, em uma posição,
um ministério ou uma pessoa, a grande resposta para as
nossas carências. No meio dos cristãos, existe um jargão que
diz: “Deus é do tamanho do vazio do seu coração!”. Em outras
palavras, estamos dizendo que o Senhor se encaixa nas nossas
necessidades. Imagine se eu dissesse que na minha residência
tem um ‘espacinho’ que cabe você. Ou se, quando pedi a
minha esposa em casamento, tivesse dito que na minha casa

42
Lidando Com As Carências

havia um quartinho que ela iria ocupar. Creio que um espaço


vazio não é o que o Senhor deseja. Ele não quer ocupar um
lugar em nós. Ele quer transformar o nosso coração. Portanto,
o nosso caráter que necessita ser mudado. A nossa mentalidade
deve ser moldada pelos valores do Reino de Deus. A forma de
avaliar a vida requer mudanças.
Como seres humanos, desejamos algumas coisas que, se
outras pessoas soubessem, até duvidariam de que somos
crentes. Temos desejos carnais em relação à sexualidade ou
ainda desejos de vingança, entre outros. Mas tudo isso não
pode passar de vontades, que devem ser subjugadas aos
valores do Reino de Deus.
Não podemos ser escravos da mágoa, mas nos valer da
nossa consciência de Deus. Também não devemos viver
amarrados ao que nos fizeram de mau, ao sentimento negativo
em relação a um amigo que nos decepcionou ou qualquer
coisa assim. Precisamos nos submeter às verdades e aos valores
do Senhor que foram implantados em nós. Em Hebreus 12:15
diz: “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus e
de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe e por
ela muitos se contaminem.”
Necessitamos entender que conversão não é mudar os
lugares que se frequentava ou os hábitos de final de semana.
É, na verdade, uma mudança na maneira de pensar. É ter a
consciência de que os valores são outros. Eles foram
estabelecidos por Deus e nos resguardam de nós mesmos, dos
nossos sentimentos egoístas e carentes.

43
CARÊNCIA VERSUS DOM

AGIMOS DE ACORDO COM A NOSSA FOME


Para falar de carência, é preciso tocar nesse assunto de
forma profunda. Indo à raiz do problema, descobrimos que
vemos a Deus de maneira errada e fazemos uma leitura
incorreta do Seu caráter. Dentro de nós, há uma informação
que nos leva, enquanto cristãos à maior crise que vivemos em
nosso meio. É o que chamo de “carência versus dom”.
Muitas pessoas não têm consciência da bênção de Deus
sobre as suas vidas e muito menos o que da parte d’Ele foi
liberado para sua vida. Sabemos, ao contrário, sobre nossas
necessidades e da nossa fome. Fome de amor, afeto, toque,
afirmação, cuidado, elogios, etc.
Todas às vezes que chegamos à presença do Senhor,
falamos de algo que desejamos, como se Ele não soubesse do
que realmente precisamos. Acabamos por nos lançar em
campanhas para conseguir algo de Deus. Falamos por 40 dias
a Deus do que precisamos. Tentamos convencer a Deus, com
orações e jejuns, a respeito das nossas carências. É como se
Ele não soubesse as necessidades que temos. Essa é a realidade
de muitos cristãos. Gastamos mais tempo falando de nós
mesmos do que conhecendo o coração do Pai a respeito da
nossa vida.
Quantas pessoas não entram pelas portas de nossas Igrejas
em busca de outra maneira de ler a vida? Mas, ao conviverem
conosco, descobrem que corremos atrás das mesmas coisas
que elas. Quando chegam ao nosso meio, veem que também
vivemos a busca por suprir as nossas carências.

44
Lidando Com As Carências

Trabalho com seminários de restauração na área sexual e


há um público determinado que os procura. Mas imagine se
essas programações fossem para dar algo às pessoas ou se
resolvêssemos os seus problemas, com receitas para sair deles.
Com certeza, o número de participantes iria quadruplicar. O
que fazemos, contudo, é estimular os participantes a se
posicionarem no Senhor e descobrirem o que Ele tem para as
suas vidas. E isso só se alcança no próprio Deus.
No exercício do ministério, percebi que muitas pessoas que
pedem aconselhamento esperam que, ao final, haja uma
resposta para o que estão passando. Elas citam todos os seus
problemas e desejam que eu indique uma solução. Pode-se
dizer tranquilamente que muitas pessoas não querem uma
orientação sobre como sair da dificuldade. Mas esperam uma
receita instantânea para resolver uma situação que levou um
tempo para ser construída, às vezes, anos. Confundimos o
poder de Deus com ações mágicas que repentinamente
solucionem problemas. O Senhor até pode fazer assim, mas
Ele se preocupa em mudar o nosso coração, para não
voltarmos às velhas práticas que nos levam a circunstâncias
desastrosas. Em Romanos 6:6 esta escrito:”Sabendo isto que o
nosso homem velho foi com Ele crucificado, para que o corpo do
pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.”

A CONSCIÊNCIA PERDIDA
Os cristãos de hoje têm consciência de suas carências,
mas não de seu dom. Para que se entenda isso, precisamos

45
CARÊNCIA VERSUS DOMA

ilustrar a essência do que Deus fez na vida do primeiro


homem.
Adão foi o início e o modelo do que seria toda a humanidade
aqui na terra. A ideia é que, da mesma forma que o Senhor fez
com ele, faria conosco. Vejamos o que está escrito Gênesis 1:28:
“E Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos,
enchei a terra e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre
as aves dos céus e sobre todo o animal que se move sobre a terra.”
A primeira atitude de Deus para com Adão foi abençoá-
lo. Em seguida, deu uma direção a ele. O trabalho do homem
seria multiplicar a bênção que já havia recebido. Tudo que
ele fosse fazer, frutificar e encher a terra, faria pela consciência
do que já havia sido dado pelo Senhor.
O conceito de abençoar é ter algo e dar para o outro. Então,
Deus abençoou o homem com o tudo o que tinha. E vamos
imaginar o que o Senhor deu para Adão. O que a palavra
fala sobre o Pai? É amor? É paz? É bondade? É felicidade? É
vida? Com certeza, são atributos que compõem o que Ele é e
existem muitos outros que não mencionamos.
O homem precisaria, então, frutificar, multiplicar e encher
a terra com amor, paz, bondade, felicidade, vida e muitas
outras qualidades, recebidas, de antemão, da parte de Deus.
Adão não precisava se ocupar em receber a bênção, uma vez
que já era abençoado. A bênção não era o objetivo da sua
vida, ele tinha a consciência do que o Senhor havia liberado
para ele. O seu desafio era como manifestar, através do seu
modo de vida, a bênção que ele já havia recebido.

46
Lidando Com As Carências

Ao encontrar a mulher que Deus havia lhe dado, Adão


deveria viabilizar amor, paz, felicidade e outros atributos
que já possuía. Ele não estava atrás de algo a receber. Do
contrário, ao conviver com a sua esposa, daria a ela toda a
manifestação das bênçãos recebidas do Senhor. Confira o
que está escrito em Gênesis 2:23 e 24 “E disse Adão: Esta é
agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será
chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto,
deixará o homem o seu pai e a sua mãe, apegar-se-á à sua mulher
e serão ambos uma carne.”
Nunca conseguiremos mudar, corrigir ou até realizar coisa
alguma a partir do que está nós faltando, mas pela consciência
daquilo que conhecemos e já recebemos de Deus, o seu dom.
Em 2010, me empenhei em fazer uma viagem à Angola,
na África. Como todo missionário da Jocum (Jovens com uma
Missão), não temos salário. Então, saí pelo Brasil
compartilhando o meu chamado com os irmãos, para levantar
o sustento. Quando temos um propósito e um desafio,
precisamos divulgar aquilo que acreditamos ser de Deus para
as nossas vidas. Eu precisava de R$ 50 mil para poder viajar
com uma equipe de 10 pessoas. Em um mês, conseguimos o
dinheiro que precisávamos.
Ao alcançar aquilo em tão pouco tempo, vi que, quando
Deus nos pede para fazer algo, Ele envia os recursos.
Acreditamos , nos empenhamos e o Senhor viabilizou o
sustento. Durante essa campanha, ao pregar em determinada
Igreja, um irmão me procurou logo que terminei o sermão. Ele

47
CARÊNCIA VERSUS DOM

disse que o Espírito Santo o incomodou para me abençoar e,


em seguida, me deu um cheque. Havíamos sido abençoados
com o valor de R$ 1 mil.
No dia seguinte, estava na fila do banco para descontar
aquele valor. A caixa pegou o cheque, olhou para mim e fez
uma ligação. Eu gelei e comecei a pensar que poderia haver
algum problema. Em seguida, ela passou o documento que
apresentei na máquina. Isso era um sinal de que estava tudo
tranquilo. Então, recebi a quantia e fui embora daquela
agência.
Mas o que quero ilustrar com isso é o fato de que, para
receber a quantia escrita (destinada) no cheque, foi preciso
que a pessoa que o emitiu tivesse reserva. Só consegui receber
aquele dinheiro porque quem ofereceu tinha o que dar. Se
não tivesse um conteúdo, um depósito na conta, eu não
conseguiria sacar.
Da mesma forma, quando Eva se aproximava de Adão, podia
sacar amor, paz, bondade e outros. A ideia é que no homem havia
um depósito, um conteúdo, que permitia à mulher receber aquilo
que ele tinha. O conceito da bênção é assim. A consciência de ser
abençoado é saber que Deus colocou algo dentro de nós que
permite que os outros possam buscar.
Mas, infelizmente, o que há nas pessoas, inclusive nos
cristãos, é um depósito de cobranças. E isso destrói qualquer
relacionamento. Acabamos nos aproximamos dos outros sem
a consciência de que Deus já nos abençoou e temos tudo o
que precisamos. Sentimo-nos vazios e queremos encontrar

48
Lidando Com As Carências

alguém para preencher esse espaço, suprindo as nossas


necessidades afetivas.

O QUE ERA CRÉDITO VIROU DÉBITO


Usando uma linguagem figurativa para os sentimentos
como amor, paz, bondade e outros , quero denominá-los como
créditos. Estes eram exatamente os depósitos que o homem
deveria viabilizar para a sua esposa. Mas, quando ele pecou,
perdeu a consciência do dom e passou a viver pela necessidade
das cobranças, ou seja, as carências. Toda cobrança é uma
carência disfarçada.
Veja bem. Adão não pecou com uma segunda mulher. Ele
não estava em uma briga com um vizinho endemoninhado,
que começou a disputar território. Ou sequer perdeu a cabeça
com a esposa, tendo sido violento. O erro do primeiro homem
foi comer uma fruta. Você já imaginou que pecado mais bobo
e ridículo?
Mas precisamos entender que o pecado de Adão não foi
o ato de comer, mas o fato de não acreditar no que Deus
falou a ele, aceitando outras palavras, tentadoras, como
verdades para a sua vida. A fruta mordida era apenas um
sinal para que todos vissem que os seus pensamentos em
relação à Palavra do Senhor já tinham mudado. Veja em
Gênesis 3:1-6 “Ora, a serpente era mais astuta que todas as
alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse
à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore
do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores

49
CARÊNCIA VERSUS DOM

do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio


do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis,
para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher:
Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em
que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos e sereis como Deus,
sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era
boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para
dar entendimento; tomou do seu fruto, comeu e deu também a
seu marido. E ele comeu com ela.”
Vemos que, quando a serpente lançou a dúvida para a
mulher, já sabia que dentro dela não havia uma convicção do
que Deus tinha dito. Tampouco havia em Adão ao comer
aquele fruto. O homem não pecou por comer, mas pela falta
de consciência dos propósitos que já haviam sido estabelecidos
pelo Pai para ele e sua família. Entendemos, então, que cair,
se desviar e estar em pecado são condições muito além de
uma mudança de comportamento. Isso tem a ver com a mente.
É interessante que se compreenda que estar fora dos
propósitos de Deus é uma perda da consciência e somente a
genuína conversão trará a mudança de mente. Podemos ser
crentes, ir à Igreja regularmente e cantar músicas sem sermos
mudados. Portanto, se diante das bifurcações da vida, do
reconhecimento do pecado, dos desafios de nos humilharmos
e dependermos do Senhor, decidirmos agir como quem nunca
conheceu a Jesus, estamos buscando apenas ser salvos,
alimentando o nosso próprio ventre.
A queda da humanidade fez isso, alterando os valores

50
Lidando Com As Carências

já estabelecidos. Deus falou a Adão para que frutificasse.


Satanás, por sua vez, indicou que este comesse do fruto,
um fruto específico que afrontava a vontade de Deus.
E nq ua nt o a Pa lav r a d o S e nho r f o i “ F r u ti f i qu e e
multiplique. Seja alimento para quem precisar!”, o Diabo
o orientou que se alimentasse e enchesse o próprio ventre.
De alguma forma, depois da queda, tudo o que era crédito
e consciência na vida do homem passou a ser débito, gerando
um pensamento que diz: “A vida me deve alguma coisa”.
A partir disso, toda a humanidade passou a se comportar
como se a vida lhe devesse. Relacionamo-nos exigindo que nos
seja dado amor. Pedimos, com os nossos atos, que nos deem
paz. Suplicamos para que sejam bondosos conosco. Culpamos
as pessoas por tudo o que não temos. Responsabilizamos a
outrem pela nossa felicidade. Colocamos no outro o sentido da
nossa existência.
Ao pecar, o homem substituiu a convicção da bênção
recebida pela expectativa da bênção a ser recebida, preferindo
algo que ainda viria. Esse é o problema da maioria dos crentes
hoje. As pessoas não procuram as Igrejas para ter a consciência
do dom de Deus. Muita gente busca é alcançar algo, suprir
expectativas ali.
A maioria dos nossos projetos e ideais de vida estão muito
mais fundamentados em uma espera por algo que ainda
iremos receber do que em uma consciência daquilo que já
temos de Deus. Muitos de nós estamos frustrados,
principalmente porque confundimos expectativa com fé. A

51
CARÊNCIA VERSUS DOM

primeira é a percepção de uma necessidade e a segunda é a


convicção de algo que o Senhor comunicou ao nosso coração.
Em Hebreus 11:1 diz: “Ora, a fé é a certeza daquilo que
esperamos e a prova das coisas que não vemos.”
Alguns chegam a dizer: “Temos que tomar cuidado para
não gerar falsas expectativas nas pessoas”. A minha pergunta
é: Será que existem as verdadeiras?
Toda expectativa é falsa, porque não é proveniente de algo
que Deus comunicou ao coração. Não nasceu fruto de uma
consciência gerada pelo Senhor, mas pela percepção de uma
necessidade, uma falta ou uma carência.
Quando esperamos em algo ou em alguém, com certeza,
podemos nos frustrar, porque a véspera da frustração é a
expectativa.
Desde a queda, tudo virou uma dívida, uma cobrança.
Somente em Cristo podemos resgatar a consciência das coisas
como elas deviam estar. Por mais estranho que pareça, nem
mesmo no Senhor temos que esperar o que quer que seja. A
maioria dos nossos projetos e ideais de vida estão muito mais
fundamentados em uma espera por algo que ainda iremos
receber do que em uma consciência daquilo que já temos de
Deus. Muitos de nós estamos frustrados, principalmente
porque confundimos expectativa com fé. A primeira é a
percepção de uma necessidade e a segunda é a convicção de
algo que o Senhor comunicou ao nosso coração. Em Hebreus
11:1 diz: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova
das coisas que não vemos.”

52
Lidando Com As Carências

A pergunta que se faz necessária é: Aquilo que fazemos e


realizamos na vida é fruto de fé ou de necessidades e carências?
Veja qual deve ser o posicionamento dos cristãos, segundo a
Bíblia. Hebreus 10:38 diz: “Mas o justo viverá pela fé.”
O carente é perito em cobrar os outros o tempo todo.
Reivindica atenção sempre. Podemos compará-lo a um polvo.
Gruda e pede que lhe deem mais e mais. São as necessidades
afetivas que provocam esse terrível ambiente de cobrança.
Particularmente, tenho dificuldades de lidar com pessoas com
tal comportamento, uma vez que, no meu caso, foi um desafio
terrível ser liberto das carências. Esmurro o meu corpo para
que por elas não seja vencido. Em 1 Coríntios 9:27 diz: “Mas
esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de
ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.”

53
CAPÍTULO 3

“A maior lacuna na vida de alguém


são suas carências, só o amor de Deus
preenche esse vazio”.

54
O PROBLEMA
DOS CRENTES
É A BÊNÇÃO
A BÊNÇÃO NÃO É ALGO QUE TEMOS QUE ALCANÇAR
como filhos de Deus. Ela é o que precisamos manifestar como
filhos d’Ele. No exato momento em que nos convertemos o
Senhor colocou dentro de nós o seu dom. O problema é que,
na grande maioria dos casos, só temos consciência do que
queremos receber e não do que podemos dar.
Um tempo depois que cheguei à família da minha esposa,
a minha sogra me perguntou qual foi a impressão que tive.
Respondi que nenhuma, pois não estava no meio deles para
pedir nada. Tinha o entendimento de que Deus havia liberado
algo na minha vida para viabilizar àquelas pessoas. Até então,
ninguém da casa tinha consciência missionária. Hoje, boa parte
está em Missões.
Um casamento restaurado são duas pessoas que se
encontram para que viabilizem, de maneira mútua, aquilo que
o Senhor colocou dentro delas. Em outras palavras, o noivo

55
Lidando Com As Carências

deveria falar para a noiva, no altar: “Esteja pronta para ver um


homem de Deus na sua vida!”. E, como mulher, ela deveria fazer
o mesmo.
Mas um grande problema é que muitos se casam com uma
carência terrível dentro da alma. Então, começam as cobranças
no outro em relação a tudo o que a sua própria história ficou
lhe devendo. Há pessoas que praticamente têm escrito na testa:
“Por favor, me supra, me dê atenção, me ame e me pague aquilo
que a minha vida me deve!”.
Certa vez, conversei com uma mulher cujo marido amava
tartarugas, periquitos, cachorros, passarinhos e tudo quanto
era tipo de animal. Então, os bichos começaram a morrer com
uma coloração muito branca. O homem não entendia o que
estava acontecendo. Mas aquela esposa confessou que, todos
os dias, misturava produtos de limpeza com água e colocava
na língua deles. Fazia isso por não suportar a ideia do esposo
dar atenção para as criações e não para ela.
Conheci gente que quebrou um tijolo na cabeça do
namorado por conta de atraso em um encontro. O carente tem
esses comportamentos. Ninguém pode magoá-lo, mesmo que
seja sem querer. Ele atribui as suas frustrações aos pais, aos
irmãos e à vida. Entra nos relacionamentos para administrar
dívidas. O próximo, seja um cônjuge ou um amigo, é envolvido
em uma dinâmica de proibições e cobranças, impostas por um
passado do qual não tem culpa.
E, se um carente encontra com alguém igual a ele, então
passamos a ter duas pessoas com um monte de cobranças.

56
O PROBLEMA DOS CRENTES É A BÊNÇÃO

Entram, então, em um casamento para cobrar um do outro,


ou seja, já começam com um saldo devedor. Como a vida, os
pais, os amigos, o ex-namorado, o ex-cônjuge e tantos mais
ficaram lhes devendo, é preciso encontrar outro insano para
pagar essas dívidas.

A DIFERENÇA ENTRE REVELAR E PROVAR


Observa-se que a pessoa carente precisa o tempo todo,
provar que é alguma coisa. Mas os filhos de Deus, conscientes
da obra da cruz, devem apenas manifestar aquilo que Ele já
fez. A nossa motivação não é tentar provar o que somos, mas
revelar o dom que o Senhor colocou em nós. Cristo não fez
nada para se afirmar. Tudo o que fez foi para revelar o que
aprendeu com o Pai. Veja o que está escrito em João 5:19 “Mas
Jesus respondeu e disse-lhes: Na verdade, na verdade, vos digo que
o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se não vir fazer
o Pai; porque tudo quanto Ele faz, o Filho o faz igualmente.”
Após a queda, o homem não fazia mais nada para revelar
aquilo que recebeu de Deus. Ele passou a ser motivado pelo
desejo e pela expectativa de alcançar do Senhor alguma coisa.
Antes, era viabilizador, fornecedor e abençoador. Depois,
passou a ser um consumidor de tudo.
Deixamos de ser doadores para sermos receptores. Para
ilustrar melhor o assunto, apresentarei o exemplo de Jesus no
deserto. Vejamos Mateus 4:1-4:“Então, foi conduzido Jesus pelo
Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado
quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. Chegando-se a

57
Lidando Com As Carências

Ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas


pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está
escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que
sai da boca de Deus.”
O tentador sugeriu a Cristo que este provasse que era filho
de Deus, materializando o pão que saciaria a sua fome. Preste
atenção: O Diabo se apresentou para tentar Jesus nas suas
necessidades. Havia uma falta de algo naquele momento em
que Satanás apareceu. O que você mais tem desejado?
Cuidado com a sua fome. O inimigo oferece o que tanto
queremos. Tenha cautela com os seus apetites e naquilo em
que eles estão mais aguçados.
Tenho falado algo que, por vezes, escandaliza algumas
pessoas, mas é um fato. Sabemos que o Diabo é o deus desse
mundo, assim como o dinheiro. A maioria de nós também
reconhece que o nosso Deus é eterno e soberano. Mas Paulo
citou um deus que poucos conhecem o ventre. Leia a grande
verdade contida em Filipenses 3:18 e 19: “Porque muitos há,
dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando,
que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo
Deus é o ventre e cuja glória é para confusão deles, que só pensam
nas coisas terrenas.”
Imorais, ímpios e assassinos são contrários a Cristo, vivem
em oposição aos seus valores. O texto nos mostra que a pessoa
da qual Paulo estava falando, assim como os casos que acabei
de citar, também vivia como um inimigo, ou seja, esse sujeito
deveria se comportar como um amigo, mas não estava se

58
O PROBLEMA DOS CRENTES É A BÊNÇÃO

posicionando corretamente. Ao invés de servir a Deus com


integridade, vivia para satisfazer o seu estômago. Muitos crentes
agem dessa forma, achando que estão servindo ao Senhor,
quando servem aos seus desejos e às suas carências.
Existe algo curioso sobre a serpente, que foi sentenciada a se
rastejar sobre o seu próprio ventre. Em Gênesis 3:14 diz: “Então,
o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita
serás mais que toda a fera e mais que todos os animais do campo;
sobre o teu ventre andarás e pó comerás todos os dias da tua vida.”
Uma coisa é fato: Se os nossos desejos nos dominarem,
seremos escravos deles. É isso o que significa a expressão “se
rastejar sobre o próprio ventre”, que, nas Escrituras, tem um
sentido de desejo e concupiscência. A serpente não é apenas
símbolo de tentação. Acredito que, quando mencionada no livro
de Gênesis, se refere à natureza do homem. Na verdade, aquele
animal que aparece no Éden não era o próprio Satanás. Este
apenas o possuiu.
Vejamos ainda uma exclamação feita pelo salmista em
Salmos 58:3 e 4: “Desviam-se os ímpios desde a madre; andam
errados desde que nascem, proferindo mentiras. Têm veneno
semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que
tapa os ouvidos.”
E Jesus chamou os fariseus e religiosos da época de raça de
víboras, serpentes venenosas. Mateus 23:33 diz: “Serpentes, raça
de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”
O que seria o ventre mencionado em Gênesis, que lemos
anteriormente? Em Filipenses 3:19, também já citado, vemos a

59
Lidando Com As Carências

descrição “cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre”. O homem


fez das suas próprias carências e necessidades o seu Deus.
Precisamos, com urgência, analisar as nossas motivações em
servir a Deus. Isso para não cairmos no erro de pensar que o
estamos servindo, quando, na verdade, servimos às nossas
próprias carências e necessidades. Não podemos confundir o
suprimento de nossas fomes e ansiedades pessoais com a obra
divina. Infelizmente, o senhor da vida de muita gente é o
estômago. Em 1 Coríntios 15:19 está escrito: “Se é somente para
esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todos os homens,
somos os mais dignos de compaixão.”
A Bíblia não está falando de uma esperança em magias,
em orixás, em ídolos, no outro ou em nós mesmos. A Palavra
aponta uma expectativa em Cristo que se limita apenas aos
nossos desejos caprichos e necessidades. Não significa que Deus
não esteja interessado neles. Vejamos o que diz Filipenses 4:6 a
esse respeito: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as
vossas necessidades sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela
oração e súplica, com ação de graças”.
Estou me referindo a pessoas que buscam a Deus apenas
para satisfazer as suas necessidades. Muito mais do que ter os
nossos problemas resolvidos, o que precisamos é conhecer o
coração do Senhor e o que Ele quer nos ensinar na situação em
que estivermos passando. Entretanto, na maioria das vezes em
que vamos à presença do Pai, o fazemos somente para falar de
nós mesmos. Somos os mais dignos de misericórdias, os mais
infelizes de todos os homens, conforme a própria Bíblia.

60
O PROBLEMA DOS CRENTES É A BÊNÇÃO

Nós precisamos ir ao Senhor para conhecer o que está no


coração d’Ele para as nossas vidas. Quando oramos e
derramamos as nossas súplicas a respeito de tudo o que estamos
necessitando, na verdade, estamos tentando convencê-lo do que
fazer. É como se estivéssemos dizendo que Deus não está
sabendo como agir conosco.
Algumas pessoas apresentam ao Senhor uma lista
completa do que querem ou esperam que Ele faça. Apontam
o homem ou a mulher que gostariam de ter ao seu lado ou
ainda a profissão, o emprego e o salário que almejam. Outros
imaginam que podem fazer algum tipo de barganha com
Deus, que, é claro, não se move dessa maneira. Mas há quem
chegue ao ponto de fazer ofertas financeiras, acreditando que
dessa maneira a bênção seja liberada logo ou “mais rápida”.
A nossa carência é tão grande que tentamos usar uma
oferta para comprar a Deus. Na verdade, ela deveria ser a
consciência de uma obra que precisa ser feita e, para tanto,
necessita de recursos financeiros. O que é ofertado jamais
deveria tentar ser um instrumento de barganha entre o homem
e o Senhor, em uma perspectiva de liberar a bênção ou ainda
qualquer outro motivo.
Algum tempo atrás, eu vi uma fotografia na internet que
continha uma frase de efeito. A imagem ilustrava um coelho
rodeado de milhares de cenouras. No rodapé, estava escrito:
“Deus vai te abençoar de uma maneira tão grande que você vai
se assustar com o tamanho da bênção”. Quando mostro esse
slide nos seminários, as pessoas começam a glorificar e gritar

61
Lidando Com As Carências

“Aleluia”. Passei, então, a pedir para não fazerem isso. Aquela


imagem dizia que o tamanho da bênção era um mar de fome.
Infelizmente, é isso o que levamos à presença de Deus. O que
parece é que somos animais com uma vara amarrada nas costas
e na ponta há uma cenoura. Andamos sempre em direção
àquele alimento, sendo guiados pela nossa própria carência.
Para certas pessoas, isso se chama fé. Alguns chegam a dizer
que esse posicionamento move a mão de Deus. Pessoalmente
falando, se assim o fosse, certamente, Ele já estaria paralítico
ou teria a mão mirrada.
A fé não move Deus. A fé move as nossas vidas na direção
d’Ele. Ela não o muda, assim como a nossa oração também
não tem esse poder, mesmo porque Ele é imutável. Não
podemos ir à Sua presença para tentar convencê-lo de melhorar
as nossas situações. O desafio não é ficar falando, todos os dias,
uma ladainha nos ouvidos do Senhor, para que saiba o que
precisamos. O que é necessário é conhecer o seu coração, a sua
vontade e os seus planos para nós.
A Bíblia declara que Deus é imutável. N’Ele, não há nem
sombra, nem variação de mudança. Não sei de onde o homem
inventou que o Senhor muda. Quantas vezes não somos
incentivados a fazer campanhas de oração e jejuns para mudá-
lo? Na verdade, sempre que nos relacionamos com o Pai deveria
ser para que nós mesmos sejamos transformados. Tiago 1:17 diz:
“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai
das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação.”
Mas, no cotidiano da Igreja, achamos que isso é vida cristã,

62
O PROBLEMA DOS CRENTES É A BÊNÇÃO

ficar apresentando aos céus as nossas necessidades e o tempo


todo. Como naquela imagem, nos comportamos como coelhos
doidos em um mar de fome. Acabamos nos tornamos doentes
, malucos para que Deus preencha o vazio que há em nós. E é
por isso que chamo essa condição de “crise da bênção”.
Agora, imagine esse comportamento que temos com Deus
aplicado a todos os nossos relacionamentos. Pense nas dinâmicas
que temos no casamento, nas amizades, na vida de Igreja, no
ministério, no trabalho. Em certas áreas, muitos têm vivido
um verdadeiro desastre.
E isso tudo acontece porque a nossa forma original de pensar
foi alterada pelo pecado. Imagine todas as vezes que nos
aproximamos do Senhor ou das pessoas cobrando que
preencham um vazio e uma fome. E se existe algo que mata
qualquer relacionamento são as cobranças. As cobranças das
carências não preenchidas pela vida.
EM JESUS, SOMOS CHEIOS
“Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os
céus, a fim de encher todas as coisas.” Efésios 4:10
Ao ler esse versículo, fui pesquisar a origem da palavra
“encher” e descobri que vem do latim “implere”, ou seja, “em
pleno” ou “fazer cheio”. Ela tem várias traduções e uma é
“conteúdo”. Então, o que Deus fez com o homem foi colocar
nele esse conteúdo, sua bênção. O termo de que estou falando
ainda significa depósito, contêiner, contente, contentamento,
completo, dom.
Diante dessa palavra, precisamos entender que a vida não

63
Lidando Com As Carências

nos deve nada. Ao receber a Cristo, passamos a ser morada do


Espirito Santo. Deixamos de ser indivíduos vazios e nos
tornamos depósitos das bênçãos de Deus. Temos que viver
sabendo que aquilo que precisamos, já encontramos em Cristo.
Ele foi levantado para encher tudo em todos. Colossenses 3:11
diz: “Mas Cristo é tudo e em todos.”
É tempo, portanto, de dar um basta na prática de cobrar
das pessoas aquilo que a vida teria ficado devendo. É preciso
abandonar a pressão emocional que exercemos sobre os outros
por atenção, afirmação ou qualquer comportamento que exija
que as nossas necessidades afetivas sejam atendidas. Paulo foi
claro 2 Coríntios 12:9: “A minha graça te basta, porque o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei
nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.”
Por que sempre apresento as carências como sendo o grande
problema na vida da maioria dos crentes? Porque sei o quanto
elas têm o poder de descontrolar as emoções e nos escravizar.
Quando uma pessoa emocionalmente fragilizada encontra
outra nas mesmas condições, ambas ficam completamente
reféns das suas necessidades afetivas. Na verdade, nunca
deveríamos tomar uma decisão ou mesmo começar um
relacionamento sem que essas pendências estivessem resolvidas
em Deus.
Falo isso porque a carência é o ambiente perfeito para a
erotização das relações. Existem mulheres traídas pelos esposos
e que, ao encontrarem com uma outra , profundamente
decepcionada com a figura masculina, acabam desenvolvendo

64
O PROBLEMA DOS CRENTES É A BÊNÇÃO

uma dependência emocional fundamentada em uma


necessidade afetiva. Existem alguns casos de mulheres que
mesmo sem qualquer histórico anterior de homossexualidade,
em função dos impactos das carências, elas acabam se
envolvendo sexualmente. Na maioria das vezes, quando as
pessoas entram em relações afetivas baseadas em carências, o
contato acaba sendo erotizado. Toda a dinâmica relacional que
não passa pela consciência de que um é viabilizador de bênçãos
para o outro termina em cobranças. Não é de se admirar que o
mundo inteiro esteja repleto de relacionamentos doentes e
desconfortáveis.

65
CAPÍTULO 4

“A carência é nossa inimiga número


um. Você já parou para pensar nas
besteiras que faz por carência?”.

66
A MULHER
DO POÇO

Para que possamos entender melhor o tema que tratamos


anteriormente, é importante a leitura do texto que relata o encontro
de Jesus com a mulher samaritana. Ela ilustra exatamente uma
pessoa altamente carente. É um excelente exemplo registrado na
Bíblia do assunto de que estamos falando. O relato esta em João
4:5-30: “Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da
herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava ali a fonte de
Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da
fonte. Era isto quase à hora sexta. Veio uma mulher de Samaria tirar
água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Porque os seus discípulos tinham
ido à cidade comprar comida. Disse-lhe, pois, a mulher samaritana:
Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher
samaritana? (Porque os judeus não se comunicam com os
samaritanos). Jesus respondeu e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de
Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias e Ele te
daria água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a
tirar e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior do

67
Lidando Com As Carências

que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele e os
seus filhos e o seu gado? Jesus respondeu e disse-lhe: Qualquer que
beber desta água tornará a ter sede. Mas aquele que beber da água que
Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele
uma fonte de água que salte para a vida eterna. Disse-lhe a mulher:
Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede e não venha
aqui tirá-la. Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá. A
mulher respondeu e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste
bem: Não tenho marido; Porque tiveste cinco maridos e o que agora
tens não é teu marido; isto disseste com verdade. Disse-lhe a mulher:
Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte e vós
dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus:
Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte, nem em
Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos
o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e
agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito
e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é
Espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em
verdade. A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o
Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu
o sou, Eu que falo contigo. E nisto vieram os seus discípulos e
maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia,
nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela? Deixou,
pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito.
Porventura não é este o Cristo? Saíram, pois, da cidade, e foram ter
com Ele.”

68
A MULHER DO POÇO

A mulher samaritana tinha uma crise relacional. Imagine


como isso a afetava. Ela não se sentia parte da vida, nem da
família, nem da sociedade. Todos os dias, encontro pessoas
assim. Somos afetados por um pai que traiu a mãe, por um
abandono paterno ou materno, pelo término de algum namoro
ou casamento. E todas essas coisas vão gerando carência dentro
de nós, causando uma necessidade desesperadora de ter alguém
para nos suprir.
O relato dessa mulher é o quadro de quem tinha uma crise
relacional com todos em sua volta. Além de tudo, ela carregava o
estigma de que os samaritanos não se davam com os judeus. Isso
não se parece com algumas situações de hoje? Quantas orações
não são levadas a Deus para lhe contar que não estamos nos dando
bem com o pai, a mãe, a família, os amigos ou o cônjuge?
Mas algo no meio desse texto nos dá um motivo tremendo
para glorificar ao Senhor. Em outras palavras, Jesus respondeu:
“Se soubesses quem está lhe pedindo água...”. Ele estava dando a
cura para vida dela. Preste atenção nisso e que o Espírito Santo
traga luz e entendimento sobre nós nessa revelação, pois a única
necessidade real que temos é o dom que vem do alto e a presença
de Cristo em nossas vidas.
Muito provavelmente, se a situação da samaritana fosse nos
dias de hoje, chegaríamos a Jesus e pediríamos que, pelo amor
de Deus, resolvesse o problema dela com os judeus. Indo mais
além, possivelmente, faríamos um mapeamento espiritual de
sua vida. Então, chamaríamos todos os moradores de Sicar e
faríamos um ato profético para aquela mulher se reconciliar

69
Lidando Com As Carências

com todo mundo. Nas situações que envolviam a sua vida


prática, mediríamos o poço e daríamos um jeito de ser mais
fácil a retirada de água. Essa é a nossa tendência, a de tentar
resolver tudo.
Mas Jesus sabia que nada disso adiantaria. O que ela
precisava saber era do dom de Deus sobre a sua vida. Se a
samaritana soubesse disso, tudo estaria resolvido. O Senhor
não quer resolver os nossos problemas. Quer resolver o nosso
coração. Ele não quer nos dar um cônjuge, nem um balde para
pegar água, nem uma nova cidade para morarmos. O seu
desejo é comunicar em nós o seu dom, que é o seu amor, a sua
plenitude e a sua vida. Não quer mudar apenas as nossas
circunstâncias, mas a nós mesmos.
Tendo a consciência desse dom sobre as nossas vidas,
resolveremos tudo, sem precisar ficar exigindo que Deus
solucione as nossas crises, que, muito provavelmente, foram
criadas por nós mesmos. Como cristãos, temos um problema
sério. Gastamos muito tempo contando para Ele as nossas
situações, mas não buscamos conhecer o seu coração sobre essas
coisas. Deveríamos orar dizendo que Ele é Senhor sobre nós e é
a esperança da glória. Colossenses 1:27 diz: “Aos quais Deus
quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério
entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória.’’
Voltando ao encontro no poço, após Jesus ter dito à mulher
que, se conhecesse o dom de Deus, seria saciada, ela lhe deu
um argumento: “Senhor, tu não tem com o que tirar água e o
poço é fundo.” Em outras palavras, estava lhe dizendo que o

70
A MULHER DO POÇO

seu problema era muito maior do que parecia, muito mais


profundo. Havia nela uma carência sem fim, o que, no seu
entendimento, Ele não poderia resolver.
No nosso cotidiano, fazemos o mesmo. Agimos como se Deus
não soubesse o que é uma esposa ser abandonada pelo marido.
Oramos como se Ele não tivesse noção de como é uma mulher
de 35 anos viver sozinha ou como é um homem com um desejo
que não cessa e não muda nunca. Constantemente, pedimos
para o Senhor mudar as circunstâncias à nossa volta, quando o
que precisa ser mudado está dentro de nós.
Continuando a conversa com Jesus, a mulher do poço
falou: “Acaso, você é maior que o nosso pai Jacó, que nos deu esse
poço?”. Do seu jeito, ela estava dizendo a Cristo: “Alguém já
tentou resolver o meu problema. Você acha que é melhor do que
essa pessoa?”.
Da mesma forma, muitos crentes têm se comportado nos dias
de hoje. E isso explica as constantes mudanças de Igrejas, de líderes,
de pastores, de terapeutas. Estamos sempre em busca de alguém
que resolva as nossas pendências. É somente quando nos
encontramos com Cristo que conseguimos ter a percepção do que
Ele realmente deseja para as nossas vidas.

O BALDE DA SAMARITANA
No diálogo, Jesus falou que quem bebesse daquela água
comum voltaria a ter sede. Segundo a Palavra de Deus, a
mulher possuía um cântaro, uma espécie de balde. É importante
ilustrar que esse objeto representava as carências daquela

71
Lidando Com As Carências

mulher samaritana. Já o poço indicava o lugar aonde ela ia


sempre suprir as suas necessidades.
Cada um de nós sabe onde são os poços em que vivemos
indo com baldes de carências a serem supridas. Tal como aquela
mulher, nos habituamos a ir e voltar desses lugares. Porém, Jesus
afirmou que, em relação às águas que não suprem, teríamos
sede novamente. Nunca nos sentiremos saciados. Trata-se de uma
afirmação do próprio Cristo. Leia João 4:13 “Jesus respondeu e
disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede.”
No meu testemunho particular, experimentei isso. Não
conseguia passar mais de um mês com uma moça sem levá-la
para a imoralidade. Sou de Igreja evangélica desde os oito anos
de idade, mas, até os 33 anos, vivi práticas imorais com quem
quer que fosse que me envolvesse.
Esse poço é fundo. Eu sei bem disso. Muitas vezes, há pessoas
que vivem amarradas em uma vida de carências. O interessante é
que, quando viajo, percebo algumas coisas ao meu redor. Por
exemplo, em um voo ou em uma viagem de ônibus de uma capital
até a cidade de destino, vejo mulheres se aproximando e, pelo
comportamento, é quase que visível um letreiro na testa dizendo:
“Por favor, me possua! Por favor, me dê carinho!”.
Hoje, eu já aprendi a beber a água da vida. Posso viajar e me
hospedar em um quarto de hotel com vários canais de pornografia
e, por conta das minhas carências curadas, consigo ter forças em
Deus para não acessá-los. Veja João 4:14 “Mas aquele que beber da
água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se
fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.”

72
A MULHER DO POÇO

Se existe algo que líder precisa ser é curado em suas


carências. É preciso ser sadio para lidar com esse assunto.
Infelizmente, nos dias de hoje, o que mais se vê são pessoas
mal resolvidas e tentando resolver o problema dos outros. São
pastores, líderes e conselheiros, tomados de carências, se
envolvendo entre si e transformando as vidas atendidas em
um estado pior do que era antes.
Na base, onde eu e a minha esposa trabalhamos, já tratamos
várias pessoas que chegaram doentes nessa área nas Igrejas e
foram recebidas por líderes também enfermos emocionalmente
e que se envolveram sexualmente com elas. É por isso que
discordo da frase que diz que “todo mundo tem o líder que
merece”. Elas não mereciam isso.
Como já comentei, são pessoas doentes tentando resolver o
problema dos outros. Há muita gente deixando para depois o
que precisa ser resolvido em Deus agora. Entenda de uma vez
por todas, em nome de Jesus: O Senhor não queria resolver o
problema daquela samaritana, não queria arrumar as situações
em volta dela. Queria era curá-la.
Não precisamos ser ajustados ou melhorados. Necessitamos
é que sejamos transformados por Deus. Muitas vezes, estamos
podres por conta das nossas carências. E, toda vez que tentamos
resolver isso com sexo, comida ou ministério, além de destruirmos
a nossa vida, acabamos destruindo a de outras pessoas também.
Uma coisa é inegável e perceptível: O carente ama
discipular. Mas é preciso entender que ministério não é lugar
de pessoas mal resolvidas, que estão procurando se encontrar

73
Lidando Com As Carências

no que fazem. É lugar de quem já teve as suas carências


resolvidas em Deus. Nunca tente se encontrar em um
casamento ou na obra. Decida se resolver primeiro no Senhor
antes de envolver outras pessoas na sua vida.
Inúmeras orações e incontáveis súplicas têm sido feitas
pedindo a Deus para que este resolva problemas. São petições,
por exemplo, para que Ele envie um rapaz adequado para se
casar ou uma futura esposa certa. Preste atenção: Uma pessoa
carente pode até ter o homem ou a mulher correta para a sua
vida. Mas, com o passar do tempo, a carência muito
provavelmente destruirá esse sonho.

O TRAPO DE IMUNDÍCIA
Nas minhas meditações na Bíblia, sempre achei que a
expressão “trapo de imundícia” fosse o absorvente das mulheres
do Antigo Testamento. Mas descobri que não. Na verdade, era
um pano limpo que a pessoa leprosa colocava envolvendo as suas
feridas e encobrindo a doença. Ele era embebido em perfume e
enrolado, por exemplo, na mão doente, disfarçando o mau cheiro
e a aparência. Com o tempo, os líquidos da lepra contaminavam
o pano, que ficava imundo. Isto está registrado em Isaías 64:6
“Mas todos nós somos como o imundo e todas as nossas justiças
como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha e as
nossas iniquidades como um vento nos arrebatam”.
Da mesma forma, vejo muitos cristãos disfarçando as suas
doenças. Alguns têm consciência dos seus problemas e se dão
conta de que estão no pecado da imoralidade e da fornicação.

74
A MULHER DO POÇO

Cansados de seus caminhos errados dentro da Igreja, decidem


se casar. E até acham quem os queira. Como aquele pedaço de
tecido limpo que depois é contaminado, a pessoa fica bem até a
sua próxima fome, até que destrói o outro e o contamina. Conheço
moças de bem que se casaram com homens doentes e que
acabaram com a sua própria vida.
Por outro lado, existe também o fato de que pessoas doentes
atraem outras acometidas pela mesma doença. Recebo inúmeras
reclamações de maridos em relação às suas esposas e vice-versa.
Então, argumento ao homem que aquela mulher foi tirada da
sua costela. Falo também a ela que faz parte da mesma carne e
do mesmo osso dele. É exatamente a carência de quem reclama
que “transformou” o cônjuge naquilo de que se queixa”. Quem
quer ter um marido ou uma mulher curada, precisa ser curado
primeiro. Na minha experiência pessoal e no exercício do meu
ministério, posso afirmar o que estou falando. Quem é solteiro,
mas está enfermo, ainda precisa se curar. Caso não o faça e,
estando doente, decida pedir uma moça para que seja a sua
esposa, o que sairá dele é doença! Mas, se você for alguém
resolvido e sarado, sabe o que sairá de você? Uma pessoa
resolvida e sarada! Falo isso com a autoridade de quem já errou
muito na vida.

QUEM NÃO É SEDE É FONTE


“Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede,
porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que
salte para a vida eterna.” João 4:14

75
Lidando Com As Carências

Normalmente, ao reservamos água em caixas ou cisternas,


o processo de retirada se dá com um balde. Quando fazemos
isso, o nível vai baixando. Todas as vezes que retiramos, a
quantidade do líquido diminui. Isso explica porque vivemos
com a sensação de que as pessoas roubam as coisas de nossas
vidas. A maioria de nós é apenas um reservatório, sem ter
aprendido ainda a ser uma fonte.
Mas, se por acaso colocássemos um balde ou uma caixa
grande em uma fonte, ainda assim, mesmo que constantemente
tirássemos líquidos dela, jamais faltaria água. E, se alguém
decidisse encher um caminhão pipa ou mesmo represá-la, ainda
assim, não faltaria o bem que fornece. Quem se sente roubado
ainda não é fonte, mas é um poço de carência. Quando somos
supridores, temos o que dar o tempo todo. Mas, se não somos,
sempre iremos querer receber.
A minha pergunta é: Você é fome ou pão? Você é sede ou
água? Para responder, é preciso olhar para nossas próprias
atitudes. É necessário analisar as decisões tomadas e a dinâmica
dos relacionamentos. Como anda o nível de cobrança quanto
àqueles que convivem mais próximos? Como estão os
sentimentos em relação a quem fez parte do passado? Como o
que aconteceu lá atrás está no seu coração?
Na conversa com a mulher do poço, Jesus a confrontou com
a dinâmica que estava vivendo. Sabia que ela tinha uma vida
fora dos valores de Deus para ela, e que o que ela estava vivendo
não era a primeira vez. O nosso comportamento denuncia se
somos fonte ou se somos sede. A samaritana teve vários maridos,

76
A MULHER DO POÇO

assim como outras pessoas possuem vários casamentos, passam


por vários relacionamentos, buscam várias Igrejas, entram e
saem de vários empregos, além de outras tantas atitudes que
nunca bastam.
Quando eu era mais jovem, chegava às Igrejas e a primeira
coisa que fazia era eleger umas cinco mães para mim. Era tão
carente que eu só conseguira agir dessa forma. Vivia de casa
em casa, em uma necessidade terrível de que as pessoas me
cuidassem. Sempre ansiava que me dessem atenção e isso
nunca se acabava, mesmo que elas dessem.
Costumo dizer que somos a geração “Olha pra mim”. E só
pra mim. Independente da multidão. Pedimos a Deus que nos
atenda. Repetidas vezes, clamamos que nos supra. Por conta
dessa postura, é possível dizer que Ele se parece muito mais
com um ‘marido’ em nossas vidas do que o Judeu de Nazaré.
A nossa maneira de louvar nas igrejas denuncia a carência
que temos. As letras das músicas falam do poder que o Senhor
possui para resolver as nossas necessidades. Oramos abrindo
mão dos nossos sonhos e de tudo em nossa vida, mas, em
seguida, tornamos a falar no que precisamos ser restituídos.
E, se fazemos isso, é porque temos a sensação de que o passado
ficou nos devendo. Hoje, vemos mais pessoas cobrando de
Deus por conta de uma história mal resolvida do que
desejando viver o novo d’Ele. Eu, particularmente, não quero
nada com o meu passado. Não preciso ser restituído de nada.
Não devemos nos lembrar de nenhuma dívida, pois foi assim que
Jesus agiu conosco. Paulo também propôs que nos esquecêssemos

77
Lidando Com As Carências

daquilo que ficou para trás e avançássemos. Filipenses 3:13 e 14


está escrito: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado;
mas uma coisa faço, que é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o
alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”
Certa vez, caminhando com um amigo, o pastor Mirinaldo
Bezerra, vi um jipe e expressei a ele que sempre tive vontade de ter
um. Prontamente, me respondeu: “Tem nada. Isso é coisa de menino
que você ainda carrega aí dentro!”. Pensei no que ouvi e concluí que
era verdade. Dali em diante, não quis mais aquele carro.
Em outra experiência, conversando com a minha grande
amiga Jacqueline, a ouvia chorar compulsivamente. Ela me
contou que estava triste, pois se lembrou de um compromisso
que fez com todos os seus amigos. Eles prometeram que, um
dia, iriam para os Estados Unidos estudar Inglês e, daquela
turma, era a única que ainda não tinha ido. Então, a orientei
que parasse de pensar nas experiências do passado e começasse
a viver o novo de Deus para a sua vida.
Aprendi com a Hosana, minha esposa, algo tremendo.
Quando começamos a namorar, ela me pediu que não quisesse
viver nesse relacionamento algo que não tinha conseguido com
outra pessoa. Falou categoricamente: “Não queira viver comigo o
que você não viveu com outra pessoa, viva a nossa história!”. E estava
certa. A vida não tem que nos pagar nada. Esqueça o seu passado
e caminhe naquilo que Deus tem para você!
Não importa o que tenhamos vivido antes. Seja adultério,
imoralidade, vergonha, irresponsabilidade, medo, aborto ou o que

78
A MULHER DO POÇO

for, ficou lá atrás. Hoje, somos novas criaturas. Precisamos entender


isso. Só podemos caminhar para frente deixando toda a bagagem
do pecado que carregávamos. Isso porque o passado tem um poder
terrível de nos paralisar diante do novo que precisamos viver em
Deus. Vou tratar isso melhor no último capítulo do livro. 2 Coríntios
5:17 diz: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”
Existem pessoas que não vivem o novo de Deus, pois não
querem se desvincular das bagagens. Eu poderia fica na minha
cidade, vivendo enfiado em pornografia, sem nunca experimentar
o que de melhor o meu Pai celestial tinha para mim. Mas entendi
que, para viver a vontade d’Ele, precisava romper violentamente
com o meu passado. Lucas 5:37 está escrito: “E ninguém deita
vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os
odres e entornar-se-á o vinho e os odres se estragarão.”

DEIXANDO O CÂNTARO
“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro.” João 4:28
Segundo as Escrituras, no momento em que Jesus se revelou
como o Messias e a mulher entendeu isso, abandonou o seu
cântaro. Ou seja, largou as suas carências. Ao compartilhar na
cidade de sua experiência, relatou que havia encontrado um
homem. Porém, ela havia passado a vida inteira falando que já
havia achado um. Penso que, entre as pessoas que ouviam a
samaritana, muitos poderiam dizer: “De novo?”, “Ela está com
um novo marido?”.
Mas não foi isso o que aconteceu. Pela primeira vez, viram

79
Lidando Com As Carências

que não se tratava de mais um encontro fruto das suas carências,


mas do dom de Deus fluindo através dela. Veja o que João 4:14
diz: “Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá
sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água
que salte para a vida eterna.”
Depois da experiência que a mulher samaritana teve e
compartilhou, todos foram ao encontro de Cristo. Veja o que
diz João 4:30:“Saíram, pois, da cidade, e foram ter com Ele.”
O interessante é que os discípulos já haviam estado em Sicar,
para comprar comida. Ninguém trouxe uma pessoa para ver
o Mestre até então. Porém, uma única mulher movimentou
uma cidade para se encontrar com Cristo. Ela falava de um rio
que fluía. Em João 7:38 diz: “Quem crê em mim, como diz a
Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.”
Quando as pessoas não acreditam em nós é porque só nos
ouvem falar de carências e cobranças. É preciso falar do dom
que o Senhor deu à nossa vida. É preciso manifestar a bênção
d’Ele em nós.

80
CAPÍTULO 5

"A solidão cria seres imaginários para


suprir sua carência. E, se não perceber a
tempo esse estado de morbidez, pode-se
ingressar num mundo irreal, que te
consumirá."

81
CONSCIÊNCIA
DO DOM OU
ESCRAVIDÃO DAS
CARÊNCIAS
O DOM DE DEUS É O AMOR que Ele derrama sobre as
nossas vidas. É isso o que nos cura. Se aquela mulher já o
conhecesse, não estaria mais indo atrás do poço. Se tivesse
consciência da bênção do Senhor, havia abandonado o seu
balde há mais tempo. O quanto de fome, faltas, carências e
necessidades ainda dominam a nossa vida? Colossenses 2:13
e 14 esta escrito:“Quando vocês estavam mortos em pecados e
na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente
com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões e cancelou a
escrita de dívida, que consistia em ordenanças e que nos era
contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz.”
Durante boa parte da minha vida, eu fui muito carente.
Minha mãe nos deixou e fui morar com minha avó com
apenas um ano e três meses de idade. Só a conheci aos 21

82
Lidando Com As Carências

anos, quando decidi por isso. A primeira vez que abracei o


meu pai foi entre a grade de um presídio. Ele era alguém
extremamente violento e me espancava muitas vezes. Tenho
o corpo todo marcado de cicatrizes.
Tenho poucas memórias boas do meu pai. E só Deus sabe
o quanto queria ter lembranças de afetos e momentos bons,
mas, infelizmente, não é assim. Praticamente tudo de que me
lembro dele é ligado a surras, espancamentos, castigos e
abusos de poder. Além de me bater, arremessava objetos em
minha direção, caso eu falasse ou fizesse algo errado. Só o
Senhor sabe o quanto isso me afetou como pessoa.
Durante muito tempo, caminhei com muitas mágoas,
revoltas, rebeldias e deformidades terríveis de caráter. Hoje
tenho mais de 40 anos, mas, até os meus 33 anos, eu era
alguém insuportável de conviver e feria as pessoas. Nos
primeiros 23 anos da minha vida, fui muito machucado e,
pelos próximos 10 anos, passaria a fugir de tudo e de todos,
especialmente de Deus.
Pensava que, fugindo de um lado para o outro, conseguiria
esquecer tudo o que fizeram de errado comigo e também
aquilo que eu estava fazendo de errado com as pessoas. Porém,
o mal estava dentro de mim. A raiva, o ódio e o abandono
estavam no meu coração. E aquilo de que tentamos fugir vem
junto com a gente. Essas coisas passam a ter um poder terrível
sobre as nossas vidas. Temos que aprender a enfrentar e a
lidar com as dores e carências.
Até onde vai a minha memória em relação à adolescência

83
CONSCIÊNCIA DO DOM OU ESCRAVIDÃO DAS CARÊNCIAS

e à juventude, posso dizer que o meu plano era sair, deixar a


minha casa. Aliás, foi o meu objetivo por muitos anos. E isso
acabou gerando em mim uma característica de fugir, fugir e
fugir. Tudo em minha vida se resumia em me esquivar de
algo. Temos um terrível engano de achar que, só porque
evitamos alguma coisa, ficamos livres dela. Porém, sem o
confronto, não enfrentamos o problema e nunca nos livramos.
Toda vitória passa pelo enfrentamento.

UM BREVE RELATO DE MINHA HISTÓRIA


Eu não fui uma criança ou um adolescente fácil de lidar.
Sempre fui péssimo em matemática. Costumava me dar bem
em outras áreas, mas não nos cálculos. Todos os dias, às duas
horas da tarde, o meu pai me trancava em um quartinho,
para que estudasse a tabuada, pois sempre levava bomba na
escola. Não conseguia aprender. Dentro de mim, havia uma
rebelião terrível, pronta a explodir.
Passado o tempo determinado para que eu estudasse, o
meu pai me tirava do quarto e escrevia algumas equações
em um papel – o mesmo usado para enrolar os produtos
que os clientes compravam em seu armazém, já que,
antigamente, não havia sacolas plásticas para esse fim.
Como eu não sabia, nem entendia nada em relação àquelas
tarefas de Matemática, apanhava muito. Para cada questão
não respondida era uma surra.
Uma vez, quando eu estava na segunda série primária,
um amigo de escola desenhou no meu caderno verde xadrez.

84
Lidando Com As Carências

Ele fez uma imagem pornográfica. Ao chegar à minha casa,


tomei uma cintada nas costas e o meu pai determinou que eu
engolisse aquela capa. Caso contrário, tomaria mais cinco
golpes semelhantes. Resultado: Tive que comer aquilo.
Facilmente, perdi o interesse por estudar. Fui expulso da
escola, pois ninguém me suportava. Explodia a diretoria e
banheiros e colocava fogo na biblioteca. Na sala de aula, havia
professoras que só entravam depois que eu saísse. Sei que
tinha um comportamento terrível. E, por esses e outros
motivos, abandonei os estudos na oitava série do ensino
fundamental e nunca mais voltei. Passei a odiar essas coisas,
especialmente a matemática. Até hoje, tenho muitas
dificuldades com números.
De toda forma, o que quero dizer é que eu não tinha boas
lembranças do meu pai. Não tenho uma recordação dele
fazendo carinho em mim. E isso demorou anos para ser
curado. Ainda carrego cicatrizes na alma destes
espancamentos. Não feridas, apenas cicatrizes. Tudo o que
guardo na memória da minha infância em relação a ele são
surras, humilhações e muita rejeição. Com toda essa história,
você consegue imaginar a dívida que eu tinha com a vida?
A minha mãe deixou a família para trás, exatamente por
não ter suportado a vida conturbada ao lado do meu pai.
Éramos três irmãos, deixados para morar com a avó. Eu era
o caçula, com um ano e três meses. Não entendia nada do
que estava acontecendo. Aos seis anos, perdi a minha avó para
a morte e, algum tempo depois, a minha madrasta também

85
CONSCIÊNCIA DO DOM OU ESCRAVIDÃO DAS CARÊNCIAS

foi embora. Fez isso porque não conseguia mais viver com
ele, que, na época, era caminhoneiro e sumia na estrada por
muitos meses.
A segunda esposa do meu pai tinha que cuidar de quatro
crianças e fazia isso completamente sozinha, dentro de casa.
Imagine uma pessoa tão jovem, com um filho nos braços e
outro na barriga, mais os três filhos do primeiro casamento
do marido. Ela vivia debaixo de muita pressão. Um dia, vendo
a placa de um caminhão da sua cidade de origem, pediu
carona, arrumou as suas coisas e foi embora. Com oito anos
de idade, eu fiquei com os meus três irmãos. Mais uma vez,
senti a dor de uma mulher me deixando.
Então, os meus irmãos procuraram uma tia nossa e me
deixaram com ela. Corri para um quarto da casa, fui para
trás de alguns pneus de caminhão, sentei no chão e chorei
muito. Estava me sentindo sozinho, abandonado mais uma
vez, sem a minha mãe, sem o meu pai, sem a minha avó e
agora sem a mulher que pensei que iria cuidar de mim, a
minha madrasta. Odiei meu pai, odiei minha madrasta e odiei
minha vida. Muitas anos seriam necessários para eu sair
emocionalmente deste quarto.
Foi somente aos 33 anos que me lembrei daquela cena,
dos sentimentos de abandono e das palavras que falei naquele
dia: “Eu odeio o meu pai e não gosto de nenhuma mulher!”.
Desde aquele dia na minha infância, a minha vida foi odiar
o meu pai, fugir de autoridade e não valorizar as mulheres.
Eu e os meus irmãos, Adilsom e André, vivemos com tios por

86
Lidando Com As Carências

algum tempo. Nunca me esqueci de uma noite, depois de um


longo dia de trabalho vendendo pão de queijo nas ruas de
Goiânia (GO). Nós três sentamos no chão e comemos um
pacote inteiro de bolacha champanhe. Até hoje, gosto de
comer isso só para lembrar-me deste momento quando
estávamos juntos. Aprendi cedo a conviver com as rupturas,
o abandono, a vida em casa de parentes, as despedidas, as
fortes perdas e as abundantes lágrimas. Depois de alguns anos,
a segunda esposa do meu pai retornou com as minhas três
irmãs. De novo, estávamos todos juntos. Mas, mesmo vendo
a minha família unida, contávamos com pouca presença
paterna e uma infinidade de sentimentos de dor, confusão e
raiva. Então, uma vontade louca de fugir de casa começou a
nascer dentro de mim.
Quando fiz 8 anos de idade, a minha prima Leila me
convidou para ir em uma Igreja evangélica. Como sou grato
por este convite! Aquele lugar se tornou um refúgio para mim.
Nunca vou me esquecer do primeiro homem de Deus que
conheci, o pastor Denílson Pires da Igreja Cristã Evangélica.
Acredito que muitos dos valores que ficaram impressos na
minha vida até hoje foram gerados por ele.
Quando fiz 18 anos, a vontade louca de sair de casa ficou
mais latente. Fui tentar a vida em Uberlândia (MG), para
trabalhar já como desenhista na afiliada do SBT na cidade.
Era uma oportunidade que não poderia passar sem que eu a
aproveitasse. E Deus foi me dando graça na profissão.
Nessa fase, conheci a Igreja Cristã Sal da Terra. A partir

87
CONSCIÊNCIA DO DOM OU ESCRAVIDÃO DAS CARÊNCIAS

daí, começaram a aparecer algumas flores e frutos naquela


estrada, entremeados de espinhos. Conheci o segundo homem
de Deus que se tornou uma referência e uma voz em minha
alma, o pastor Paulo Borges Júnior.
Na minha confusão de jovem, errei e tropecei várias vezes.
Mas, como um filho pródigo, sempre voltava para a casa do Pai,
quebrantado. Caminhava em passos lentos, até que, procurando
me estabilizar em Cristo, mais uma vez, fui surpreendido pelos
golpes da vida. Mais perdas estavam por vir.

GOLPES MORTAIS
“Oripinho, o nosso pai matou o nosso irmão”. Esta foi a
frase que ouvi de Adilsom, pelo telefone, em uma manhã de
1995. É um dia difícil de esquecer. Mas estava ali, diante de
mim, a irremediável sentença. O meu pai, em uma briga,
assassinou o meu irmão a facadas e foi preso. Fui para a cidade
onde vivi a minha infância. Cheguei ao presídio e logo me
levaram para a cela onde ele estava. As grades geladas daquela
prisão se intrometiam no nosso abraço. Choramos muito.
Muitos sentimentos orbitavam em minha alma.
Foram meses de agonia, advogados, família mais destruída
do que já era, julgamento e sentença. Mesmo com uma
referência paterna distante, escolhi não abandonar o meu pai
no momento mais difícil da sua vida. Talvez ali, comecei a
aprender a amá-lo e a desistir de toda a raiva e o ódio que
tinha dele. Mas muitas coisas ainda tinham que ser resolvidas
dentro de meu ser.

88
Lidando Com As Carências

Você consegue imaginar o tanto de dívidas que eu tinha


dentro de mim? É dessa maneira que lemos o mundo, como
se a vida estivesse nos devendo. Todas as vezes que aqueles
que deveriam nos amar, nos cuidar, nos proteger ou nos
afirmar não fazem isso, nos sentimos roubados. É como se
providenciássemos uma promissória, uma cédula de dívida,
onde escrevemos o nome das pessoas que não cumpriram o
seu papel, dobramos e guardamos no bolso, o que acontece
repetidas vezes.
Durante toda uma existência, há quem faça um pacote
com todos os débitos que existem contra a sua pessoa e guarde
isso na bagagem. Certo dia, porém, encontra alguém e tudo
o que temos para oferecer é o que está nos bolsos. Acontece
que o outro também tem um monte de cédulas de dívidas
guardadas. Os dois começam um relacionamento e se casam.
A vida em comum se torna uma cobrança eterna e um mar
de infelicidade. Como resultado, o caso acaba parando em
um fórum de divórcio. No meu caso específico, foi isso o que
aconteceu. Eu me tornei alguém extremamente rebelde. Não
me submetia a ninguém. A vida me devia, o que me levou a
uma revolta até mesmo contra a Igreja. Cheguei a liderar
movimentos de combate a ela. Hoje, tenho dificuldades com
pessoas assim. Sei que preciso ser mais paciente. Mas, se tenho
aversão à rebeldia, é porque sei exatamente o estrago que ela
provoca. Leia 1 Samuel 15:23: “Pois a rebeldia é como o pecado
da feitiçaria e a arrogância como o mal da idolatria.”
Aqueles que se acham os melhores da Igreja, na verdade e

89
CONSCIÊNCIA DO DOM OU ESCRAVIDÃO DAS CARÊNCIAS

na profundidade, representam um bando de cobradores de


promissórias. São os que, muitas vezes, estão envolvidos com
a fornicação e com outros pecados de imoralidades. Nada
está bom. Rebelam-se com tudo e com todos. Não conseguem
desenvolver relacionamentos com as outras pessoas, a não
ser com quem também seja assim. Com o passar do tempo,
nem mesmo se suportam e se separam.
Conheço a conversa dos rebeldes. Sempre querem uma
Igreja verdadeira, com um Espírito Santo que domine e não
aceitam um pastor que mande. Então, fazem um grupo de
separação, saem e abrem uma nova comunidade. Depois,
tudo isso vira algo sem sentido e nem eles aguentam andar
uns com os outros. Sei do que estou falando.
Voltando a falar da minha carência, decidi que precisava
me casar. Conheci uma menina bem jovem e lhe disse o que
pretendia. A sua mãe não concordava, pois a moça era bem
mais nova do que eu. Para não ser abandonado, imaginei
que a única maneira de não ser deixado seria engravidá-la e
foi o que fiz. Decidi que faria o que pudesse para não perdê-
la. Ela era tudo o que eu precisava. Grávida de mim, ela jamais
me abandonaria. Dura ilusão.
Não sabia o quanto a minha alma era doente. As minhas
carências estavam muito bem escondidas dentro de mim. A
qualquer momento, isso iria eclodir ao lado de alguém. E,
aos 20 e poucos anos, imaginei que precisava de uma mulher.
Na verdade, queria um trapo para disfarçar a minha lepra.
Com o tempo, aquele relacionamento foi contaminado pela

90
Lidando Com As Carências

minha própria carência. No convívio, a moça não aguentou


o doente que tinha dentro de casa. Eu não tinha o que oferecer
e a minha vida era cobrar. Ela iria me deixar e foi exatamente
isso o que aconteceu. Depois de um ano juntos, não suportou
conviver comigo e foi embora.
Então, vivi outro golpe forte de desilusão em meu recém-
construído relacionamento. Mais uma ruptura iria acontecer
em minha história. Aquela moça pediu o divórcio e levou o
meu filho, que tinha menos de dois anos de idade. As minhas
carências a fizeram tomar essa decisão. Com isso, ela foi a
encarnação de tudo o que vivi na minha infância. Eu não
conseguia trabalhar. A minha vida era chorar e fugir para
garotas de programa; chorar e me prostituir; chorar e praticar
imoralidades; chorar e ter perversões sexuais. E só.
Certa vez, o meu filho estava passando as férias comigo e
eu estava muito carente, doente na alma. Deixando o menino
dormindo, peguei o carro e fui atrás de uma garota de
programa, que levei para casa. Ao chegar, não tive coragem de
entrar no quarto e fiz o que tinha que fazer no banheiro. Depois,
estava tão arrasado com o meu comportamento que nem dei
conta de levá-la. Solicitei um mototáxi, que a levou embora.
Naquele dia, chorei muito. Lembro-me de olhar para o
espelho, chorar e pedir a Deus que curasse a minha vida. Já
não aguentava tanta carência. A verdade é que não são apenas
as outras pessoas que não suportam conviver com um carente.
Ele também não aguenta uma história de tantos vazios e de
tentativas de compensações.

91
CAPÍTULO 6

“Carência nos faz tão doentes que


confundimosuma "curtida" ou uma
"solicitação de amizade" com pedido
de casamento”.

92
TOMANDO UMA
GRANDE DECISÃO

DEPOIS QUE PERDI AQUELE RELACIONAMENTO,


entrei em dois anos em depressão. Foram tempos difíceis de
administrar. Chorava alto. Certa vez, comprei uma passagem
e fui para a casa de um grande amigo, o Roney, e chorei por
três dias e três noites sem parar. Ele ficou do meu lado, me
abraçou, orou pela minha vida e me ouviu.
Eu estava totalmente mergulhado no ódio e nos seus
aliados. Havia muita revolta e ressentimento. A minha miséria
culpava a todos, à vida e a mim mesmo. Não tinha forças
para perdoar, nem para ver a minha alma tão enferma.
Afundei-me mais na prostituição. Veja Salmos 42:7: “Um
abismo chama outro abismo”.
Parei a minha vida por quase dois anos. Ainda não havia
aprendido que o perdão não muda em quase nada o passado,
mas que pode abrir um novo caminho para um futuro.
Naqueles dias, algo aconteceu e isso mudaria a minha

93
Lidando Com As Carências

história. Conheci uma pessoa, cujo nome era Vitor. Ele era
um missionário da Jocum de Goiânia e havia me dado o livro
chamado “A Face Oculta do Amor” (Editora Jocum), de autoria
do pastor Coty, de quem nunca tinha ouvido falar. Comecei a
leitura e percebi o quanto era doente. Chorei por horas.
Pequenos gestos podem causar revoluções profundas. Esta
literatura ajudou a me reencontrar com a possibilidade de
crer contra a esperança, assim como foi com Abraão. Romanos
4:18 diz: “Em esperança, creu contra a esperança.”
Não havia mais como eu mudar aquela sequência de
abandonos, rupturas, raivas, ódio e dívidas na vida. Mas havia
um caminho para superar isso. Quando terminei de ler o livro,
eu estava sentado em um banco de um ponto de ônibus e
tomei a decisão pela mudança. Eu iria atrás de cura.
Desde aquele momento, tomei uma atitude em relação a
todas as minhas angústias. Decidi que queria ser curado. E
sabia que só conseguiria enfrentando as minhas emoções e
parando de fugir delas. Fiz conforme o texto bíblico que cita
um homem que vendeu o que tinha e comprou um terreno
para desenterrar um tesouro. Eu também vendi tudo e fui
para a Jocum. Escolhi em Deus enfrentar os meus pecados, os
meus erros, o meu divórcio, a minha dor, a minha culpa, as
minhas perdas, as minhas rupturas, o meu ódio, a minha
rebeldia e, principalmente, as minhas carências. Mateus 13:44
diz: “Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro
escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo
gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo.”

94
TOMANDO UMA GRANDE DECISÃO

Então, fui para a Jocum Almirante Tamandaré, no Paraná,


para desenterrar um tesouro. Entregaria tudo nas mãos do
Pai, para que Ele fizesse a sua vontade em minha vida. Mesmo
nos casos em que nos sentimos pessoas completamente
imprestáveis e inúteis, temos que aprender a dar a Deus até
mesmo aquilo que não temos.
Gostamos de oferecer ao Senhor o que temos. Sempre
queremos dar talentos, dinheiro, tudo o que temos, mas
existem momentos em que é preciso apresentar também o
que não somos e o que não temos. É necessário entender que
Ele não ficará surpreso conosco. Ele sempre conheceu a nossa
história, tanto no passado, quanto no presente e o futuro
também. Às vezes, pensamos que Deus nos chamou e, depois,
se arrependeu da burrada que teria cometido.
Preste bastante atenção: Se a sua vida está completamente
destruída, se o seu passado e o seu presente não têm sentido e
o seu futuro muito menos, é preciso que entenda que Jesus
veio ao mundo para resgatar tudo. É necessário que se aproprie
do que Ele fez. Não estou dizendo que quem se converte a
Cristo não sofre mais tristezas, deposições, frustrações e
traições. Não é isso. Mas estou afirmando que, quando
conhecemos a Deus verdadeiramente, a nossa história muda.
A maneira que lidamos com a vida muda.
E essa mudança faz com que a vida passe a ter sentido.
Por outro lado, nem tudo o que se vive precisa de ter respostas,
nem mesmo mágoas, frustrações, decepções e abandonos.
Muitas coisas na minha vida ficaram sem resposta e não me

95
Lidando Com As Carências

sinto frustrado com isso. Você não é refém das circunstâncias,


mas o é de uma consciência de que Deus está no controle de
tudo. Recentemente ouvi de um amigo: “Nós perdemos o
controle, mas Deus não”. O apóstolo Paulo vivenciou essa
experiência quando pediu para que o Senhor o livrasse do
polêmico espinho na carne. 2 Coríntios 12:7-9 está escrito:
“Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas
revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de
Satanás, para me atormentar. Três vezes roguei ao Senhor que o
tirasse de mim. Mas ele me disse: Minha graça é suficiente para
você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, eu
me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para
que o poder de Cristo repouse em mim.”
A questão, ao analisarmos o texto, não é saber qual era o
espinho na carne de Paulo, mas é entender o que Deus nos
ensina sobre dependência, mesmo em relação àquilo que Ele
não quer mudar. Existem erros que cometi em minha vida
que nunca vão mudar. As consequências destes erros vão me
acompanhar por toda a vida. Muitas vezes, desejamos que
sejam mudadas as circunstâncias, problemas extremamente
desconfortáveis e aquelas coisas que nos incomodam e até
nos envergonham. Porém, o nosso desafio é depender do
Senhor totalmente, sabendo que Ele é o que nos basta.
Quem conhece bem a minha vida sabe que, infelizmente,
por erros meus, passei por um traumático divórcio. Por quase
dois anos, eu chorava copiosamente, pedindo a Deus que
restaurasse aquele relacionamento. O orgulho, o peso da

96
TOMANDO UMA GRANDE DECISÃO

culpa, a idolatria de sentimentos e a sensação de abandono


me paralisaram por vários anos.
Acordava nas madrugadas, fazia campanhas, chorava,
gritava para o Senhor e para o mundo, pedindo de volta aquele
relacionamento. Um dia, Ele falou comigo: “Eu basto em sua
vida!”. Isso foi como uma bomba dentro de mim. Tudo o que
eu chamava de amor por aquela mulher, na verdade, era pura
carência e somente Deus poderia trazer cura. Quando perdi
este relacionamento, passei praticamente dois anos vivendo de
culpa, raiva, depressão e pena de mim mesmo. Mas um dos
primeiros passos rumo à restauração foi entender que Deus
bastava em minha vida e somente isso poderia me fazer levantar
daquela condição de prostrado. Precisava continuar a viver. 2
Coríntios 12:9 diz:“Mas Ele me disse: Minha graça é suficiente
para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza."
A segunda decisão mais importante de nossas vidas é
justamente essa: Em Deus, deixar o passado para trás. Não é
possível viver o que o Senhor tem para nós se não estivermos
dispostos a deixar, no seu devido lugar, o que já passou. Esta
é uma postura essencial nos processos de cura. Sem tal atitude,
é impossível experimentar a restauração.
Quando o Senhor deu início aos processos de cura em
minha história, fui levado a fazer uma escolha: Viver me
lamentando do passado ou deixá-lo para trás. Nesse período,
senti o próprio Deus gerando um desespero no meu interior,
para que fosse curado das minhas carências. Enfrentei todos
aqueles sentimentos e fui confrontado. Estando diante de uma

97
Lidando Com As Carências

grande decisão, optei por esquecer tudo o que tinha vivido


antes. Então, comecei uma nova vida. Isso só foi possível
porque decidi seguir em frente.

CONHECENDO A VONTADE DO PAI


Infelizmente, fiz muita coisa errada antes da minha
restauração. Eu não tive um bom começo em praticamente
nada do que fazia. Tudo girava em torno de mentiras,
manipulação e muita impureza sexual. Esses erros se
transformaram em raiva, culpa, amargura e vergonha diante
das pessoas e principalmente de Deus.
Os pecados em minha vida eram frutos de muito ódio e
cobrança por tudo o que não tive. Todos me deviam e eu
cobrava em forma de carência. Tamanho era o vazio dentro
de mim e o desejo de ser suprido nas pessoas que era como se
eu dissesse, o tempo todo: “Por favor, me amem, me aceitem!”.
Decidi, então, parar com tudo e deixar o sofrimento para
trás. À medida que eu seguia a vida, o pecado, a vergonha, as
carências e as cobranças iam ficando mais distantes. A cada dia,
o conhecimento da vontade de Deus ia se instalando
profundamente dentro do meu ser. Ao lançar fora o meu passado
e decidir viver uma nova história, optei também por parar de
cobrar as pessoas daquilo que só o Senhor poderia me dar.

98
CAPÍTULO 7

“A carência é uma força poderosa, capaz de criar


ilusões poderosas, e a maior das ilusões é acreditar
que algo pode preenche-la.”

99
JESUS CANCELOU
A ESCRITA
DE DÍVIDA

TUDO ESTAVA MORTO NO MEU INTERIOR QUANDO


cheguei à base da Jocum de Almirante Tamandaré. A sensação
que tinha era que o meu próprio corpo estava sendo velado.
Parecia uma grande loucura. Era difícil de acreditar que um
morto-vivo poderia ter vontade de viver, mas Deus estava me
mostrando um caminho excelente! Estava me restaurando.
Passei dois meses em uma nova Eted (Escola de Treinamento e
Discipulado) e fiz também a Eifol (Escola Integral para
Formação de Libertadores).
Vivi um período de restauração. Muitas vezes, desci no
laguinho nos fundos da base para chorar e me render aos pés
do Senhor. Ali, queimei inúmeras “promissórias de débitos” que
a vida tinha comigo: “O meu pai não me deve nada”; “A minha
mãe não me deve nada”; “A mãe do meu filho não me deve nada”;

100
Lidando Com As Carências

“A vida não me deve nada”. Mais adiante, falarei melhor sobre


esse momento. O processo de cura durou pelo menos um ano.
Então, como se estivesse sendo lapidado, entrei em um
intenso processo de aprendizado. Tive de encarar os meus erros,
não mais como vítima, mas como quem escolhia a maneira
certa de agir. Comecei a ver em minha própria carne como são
dolorosas as feridas dos meus piores defeitos. Como um homem
adulto, passei a assumir as consequências dos meus atos e das
minhas escolhas. Tive que aprender a deixar as coisas de menino.
“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como
menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem,
deixei para trás as coisas de menino.” 1 Coríntios 13:11
Por cinco meses, eu sentei em uma cadeira para estudar.
Fui ministrado e confrontado. Chorei por todos os meus
pecados. Chorei por toda a raiva que sentia, por toda a culpa,
pela dor de viver longe do meu filho, pois via a minha história
se repetindo nele. Era necessário que isso acontecesse.
Em uma ministração na Eifol, Deus falou profundamente
comigo e, de uma forma definitiva, arrancou todas as raízes
relacionadas ao abandono. Eu me vi como uma criança dentro
do quarto, abandonada, como aconteceu muitas vezes na vida.
Ali, trancado, dizia: “Não saio daqui nunca mais. A minha mãe
me abandonou. A minha avó morreu. A minha madrasta me deixou
e tive um relacionamento frustrado”.
Estava como uma criança fugindo de Deus. E eu vi Jesus
entrando no quarto, me tirando dali e dizendo que eu não
estava sozinho. “Por isso, não tema, pois estou com você; não

101
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei. Eu


o segurarei com a minha mão direita vitoriosa.” Isaías 41:10
Em certa ocasião, o Senhor falou comigo: “Ou você é Pedro
ou Judas!”. Ambos falharam, meteram os pés pelas mãos e
fizeram errado. Mas, em um determinado momento, tomaram
caminhos diferentes. Judas buscou culpados. Ele pegou o preço
da traição e foi ao encontro dos que o haviam subornado,
passando no rosto deles que eram responsáveis pelo seu erro.
Aqueles homens apenas reforçaram a culpa do discípulo. Tudo
o que lhe restou foi uma forca. “Então, Judas, o que traíra (a
Jesus), vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta
moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo:
Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que
nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas
de prata, retirou-se e foi se enforcar.” Mateus 27:3-5
O Senhor ainda falou comigo: “Ou você coloca a culpa nos
seus pais, nos seus familiares e em todos, ou você toma o caminho
de Pedro”. Depois de negar a Jesus, este foi se ocupar com a
única coisa que sabia que era pescar. Algumas pessoas analisam
esse comportamento de forma negativa, mas eu não. É como
se Deus me perguntasse o que havia sobrado da minha vida e
tudo que tinha nas mãos era aquele livro, “A Face Oculta do
Amor”. Senti liberalidade para ir atrás do curso na Jocum.
Voltando à pescaria de Pedro, a Bíblia relata que ele estava
jogando a rede quando ouviu uma orientação para que a
lançasse para o outro lado. Ora, ele deve ter reconhecido aquela
voz. Sabia que Jesus tinha ido ao seu encontro. Imagino que se

102
Lidando Com As Carências

lançou ao mar e deu braçadas, como nós quando queremos


nos encontrar com Ele. João 21:5 a 7 mostra este acontecimento:
“Ele lhes perguntou: Filhos, vocês têm algo para comer? Não,
responderam eles. Ele disse: Lancem a rede do lado direito do barco
e vocês encontrarão. Eles a lançaram e não conseguiam recolher a
rede, tal era a quantidade de peixes. O discípulo a quem Jesus
amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo-o dizer
isso, vestiu a capa, pois a havia tirado e lançou-se ao mar.”
Já na praia, Jesus servia um peixe. O Mestre se aproximou
de Pedro e perguntou: “Tu me amas?”. É claro que o discípulo
respondeu de maneira afirmativa. O Senhor, então, em outras
palavras, lhe disse: “Então, pare de se ocupar com as suas carências
e cuide das minhas ovelhas!”.
E foi exatamente o que Deus fez comigo. A partir daquele
dia, a minha vida mudou. Eu não me sinto mais abandonado.
Sou filho de Deus. Sou pão. Sou resposta.
“Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro:
Simão, filho de João, você me ama realmente mais do que estes?
Disse ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse Jesus: Cuide
dos meus cordeiros. Novamente, Jesus disse: Simão, filho de
João, você realmente me ama? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu
sabes que te amo. Disse Jesus: Pastoreie as minhas ovelhas. Pela
terceira vez, Ele lhe disse: Simão, filho de João, você me ama?
Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira
vez ‘Você me ama?’ e lhe disse: Senhor, tu sabes todas as coisas
e sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Cuide das minhas ovelhas.”
João 21:15-17

103
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

Com certeza sua história deve ser bem mais difícil que a
minha. Certa vez, ouvi de uma grande amiga, a Dra. Deuza
Avelar: “Cada um tem uma estrutura de lidar com as feridas e
traumas da vida. O que é dor para alguns, não é dor para outros.
Cada um de nós sofremos várias experiências dolorosas ou até
traumáticas, mas cada um reage de uma forma”.
Muitos carregam profundas feridas emocionais. Assim como
eu, talvez você tenha sofrido muitos abandonos na infância.
Sofreu com um relacionamento extremamente doentio. Com
toda certeza até mesmo você não consegue se perdoar por
tantas “burradas” que cometeu na vida. Vários acontecimentos
traumáticos transformaram sua alma em uma grande ferida e
tudo isso que você viveu limita toda a sua liberdade, maturidade
e santidade. Anos de muitas experiências de dor, erros, traições
e abandono marcaram profundamente sua vida. Com isso, você
não consegue lidar com a vida e com as pessoas sem que seja
no campo das carências. Você carrega na alma um fardo
pesadíssimo de mágoas e dores do passado. Como eu sempre
digo: “a vida te deve algo”.
Algo que você precisa entender e aceitar é que muitas destas
carências dominam profundamente sua vida e suas escolhas.
A maioria das pessoas que conheço, não conseguem enxergar
o quanto elas são controladas por suas carências. E por que
elas são controladas por suas carências? Porque, por mais difícil
que seja você aceitar, você não consegue e nunca conseguirá
ter controle sobre suas carências. Como já disse no início do
livro, a carência não é um sentimento a ser suprida, carência é

104
Lidando Com As Carências

uma enfermidade da alma que precisa ser curada. Você pode


imediatamente encarar o fato que está doente emocionalmente
e buscar atitudes que o vão levar a cura.
Entenda , você se tornou viciado em se comportar e lidar
com as pessoas a partir das suas carências. E você precisa
enfrentar esta realidade.
Alguns cristãos que conheço dizem que lidar com questões
de traumas, feridas emocionais, abandonos e evento do passado
não é importante. Eu particularmente discordo disso. A maioria
das pessoas que sofreram grandes traumas e aprenderam a
revolvê-los em Cristo sabem como o passado pode ser
devastador para a realidade do tempo presente. Deixar o
passado para trás não significa apenas esquecê-lo, mas sim
enfrentá-lo.
Pessoas extremamente carentes possuem profundas feridas
na alma. Muitos, como já disse, sofreram muita rejeição e falta
de afirmação. São pessoas que parecem estar presas em algum
momento da vida, e permanecem ali, por anos.
Inconscientemente estão tentando encontrar o que se perderam
no passado.

RASGANDO AS PROMISSÓRIAS
Atualmente, prego essa mensagem pelo menos duas vezes
ao mês e sempre me emociono com ela. Cheguei a perguntar
ao Senhor o motivo pelo qual eu choro tanto. Ele me respondeu
que as pessoas são muito endurecidas e que o meu
quebrantamento pode quebrantá-las também.

105
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

Choro porque é a minha história e foi difícil ver todo o meu


pecado, toda a minha ira e toda a cobrança que tinha da vida.
Eu era vazio, com uma fome muito grande dentro de mim.
Queria “comer”, devorar tudo para satisfazer esse buraco. Só
que aquilo que comi me contaminou muito mais e despertou
uma raiva maior ainda. Mas, certo dia, Jesus me deu o seguinte
versículo em 2 Coríntios 12:9: “Cancelou a escrita de dívida, que
consistia em ordenanças e que nos era contrária. Ele a removeu,
pregando-a na cruz.”
Como falei anteriormente, na base da Jocum, há um lago,
onde eu me encontrava muitas vezes. Lá, escrevia em um papel
o que aconteceu na minha história. Citava o que a minha mãe
e o meu pai haviam feito, todos os abandonos, a separação que
vivi e também os meus comportamentos errados. Anotava tudo
o que a vida ficou me devendo e declarava que ninguém me
devia mais nada.
Então, rasgava aqueles papéis que eu mesmo denominei
de “promissórias”, dizendo que Jesus havia anulado as
minhas dívidas e, então, seria o que eu faria em relação às
falhas dos outros.
E assim eu seguia, até que o ato não se restringia mais
àquelas “promissórias” rasgadas. Um dia, levei uma mala de
tantas coisas que carregava. Em outra oportunidade, levei o
meu filho para lá e lhe falei tudo o que havia feito na vida. Pedi
perdão pelo fato dele não viver em um lar onde os pais são
casados. E também por tê-lo gerado fora da aliança do
casamento. Contei toda a minha história e o quanto errei com

106
Lidando Com As Carências

Deus, com a sua mãe e com ele também. De vez em quando,


ainda encontro umas notinhas no meu bolso. Por exemplo,
como todo marido, quero cobrar da esposa. Daí, preciso me
lembrar que não tenho nenhum problema com ela.
Aliás, as nossas pendências não são com as pessoas. No caso
de Caim e Abel, o primeiro, mais velho, matou o outro, mais
novo, porque havia sido rejeitado pelo Senhor. Descontou no
seu irmão aquilo que ele só poderia resolver em Deus. Veja o
que Gênesis 4:8 diz: “E falou Caim com o seu irmão Abel; e
sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o
seu irmão Abel e o matou.”
Temos que aprender a resolver as nossas dores com o Senhor.
É com Ele que precisamos rasgar as “promissórias” acumuladas.
E, quando encontrarmos uma notinha guardada, temos que orar
e declarar que não somos mais cobradores das pessoas. Uma
outra versão da Bíblia para Colossenses 2:14, que citamos antes,
diz que “Jesus rasgou toda cédula de dívida que era contra nós”
Eu acredito que o Senhor fez isso para que não existam
mais cobranças de nossa parte em relação ao passado. A vida
não nos deve nada. É preciso entender a profundidade de que
Jesus já pagou na cruz tudo o que havia para pagar. Não há
mais dívida nossa para com o pecado, mas também não há
mais débitos de nada e de ninguém para conosco. Mas
precisamos entender melhor isto.

ENFRENTANDO O PASSADO
É interessante ressaltar que o maior impedimento observado

107
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

no processo de cura e maturidade na vida das pessoas é o fato


que as mesmas, não querem romper com o passado.
Uma das primeiras coisas que Deus faz quando entramos
no processo de cura e restauração é trazer a luz o que está
escondido. Por isso, precisamos confiar que aquilo que Deus
está trazendo para a superfície para ser enfrentado, é necessário.
O enfrentamento é uma das principais posturas no processo
de restauração. Quando fugimos do que precisa ser enfrentado,
abortamos os processos de Deus. Acredito que a resposta para
as áreas ocultas em nossas vidas encontra-se no Salmo 139-23
a 24: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e
conhece os meus pensamentos. Vê se em minha conduta algo te
ofende e dirige-me pelo caminho eterno”. Só Deus é capaz de
trazer a luz os lugares mais escondidos dentro de nós. Lugares
que, possivelmente nem mesmo nós temos conhecimento.
Quando pedimos para Deus examinar nosso próprio coração,
ele trará luz às áreas escuras do nosso passado.
Você pode então perguntar: “Como posso então ficar livres das
minhas carências e principalmente do meu passado que tanto me
aprisiona?” Existem basicamente duas maneiras. Em primeiro
lugar: Pare de acreditar que você é fruto daquilo que fizeram com
você no passado. Pare de ser um subproduto do seu passado e seja
o produto da obra de Cristo. Busque saber o que seja a obra de
Cristo na cruz por sua vida. Quando eu sei o que Deus fez por
mim eu sei o que Ele quer fazer através de mim.
Eu só conseguirei ficar livre das minhas carências e do meu
passado se eu entender definitivamente quem eu sou como nova

108
Lidando Com As Carências

criatura e que meu passado precisa ficar para trás. Eu


particularmente sofri muitos traumas verbais do meu pai. Ele
dizia: “Você não serve pra nada” e “Tudo que você coloca a mão
estraga.” Certa vez ele também me disse: “Eu queria é receber a
notícia que você morreu.” É claro que ele não falava isso de
coração. Quando ele era tomado de muita ira, ele não sabia o
que dizia, mas eu, dentro de mim acreditava que isso era a
verdade sobre mim.
Escutar de alguém que amamos que não valemos nada nos
faz ser pessoas profundamente desacreditadas em relação a
nós mesmos. Nossa autoestima é completamente destruída.
Pessoas que são abusadas verbalmente, emocionalmente e
sexualmente pelos seus pais possuem um valor próprio
completamente deformado.
Muitos lutam com a pergunta: “Por que Deus me deu essa
família? E onde ele estava quando eu passava por isso?” Entenda,
pare de se pensar sobre o seu passado e os acontecimentos dele,
ou até mesmo onde Deus estava. Busque entender o que Ele
está fazendo em sua vida agora e o quanto Ele deseja que você
seja livre do passado. Tudo que Deus mais deseja é que você O
conheça hoje. Conhecer a verdade é isso: crer nas boas novas
de que Jesus veio para libertar os cativos. Este é o primeiro
passo que temos que dar em direção a cura: Esqueça seu
passado e busque saber o que Deus diz sobre você. Em João
8:32 diz: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
O segundo passo é perdoar os que te feriram. Não há
possibilidade de viver uma nova vida em Cristo sem essa

109
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

consciência: Em tudo Deus requer o perdão. A base da nossa


relação com Deus é: amor, aceitação e perdão e da mesma
forma a nossa relação com os outros devem estar com esse
mesmo espírito.
Lembre-se que perdoar não é esquecer. Quando tentamos
perdoar alguém por meio de um esforço em esquecer o que
fizeram de errado em nossas vidas, geralmente falhamos. Sim,
você deve deixá-la livre. Se a pessoa que lhe magoou, nunca
mudar com você, estenda misericórdia, e deixe o assunto nas
mãos de Deus.
Perdoar implica também tomar a decisão de viver com as
consequências dos erros que as pessoas cometeram em nossa
vida. Muitos erros que outros cometeram conosco, na realidade,
teremos que aprender a conviver com as consequências, e
mesmo assim devemos perdoá-los. Precisamos aprender
escolher entre viver com a amargura e dívida com a vida, ou
em paz e perdão, decidindo não usar das carências para
compensar todo o nosso passado de dor, raiva e rejeição.
Você pode dizer: “Mas como eu posso perdoar tal pessoa?
Ninguém pode mudar o meu passado de dor e ódio que existe.”
Sim, a dor é real. Ninguém pode perdoar outra pessoa sem
reconhecer a dor e o ódio que existem. Mas até que você perdoe,
a situação continuará lhe incomodando, até que você decida se
desligar do passado. Desejar deixar o passado para trás, bem
como as dívidas que acumularem em nossa vida é decidir andar
pelo único caminho do recomeço na vida: o perdão.
Lembra das promissórias de dívidas que mencionei ,

110
Lidando Com As Carências

anteriormente? Ou vivemos com as dívidas do passado ou com


a consciência do perdão que Deus nos pede para viabilizar para
as pessoas. Quais são as suas dívidas? Que débitos você tem
carregado no bolso?
Submeta toda a sua dor, raiva, ódio, culpa e carências à
cruz de Cristo, pois ali é o lugar onde tudo já foi pago. Leia de
novo: Colossenses 2:14 “Cristo cancelou a cédula de dívida,
que era contra nós. Ele cancelou tudo, removendo-a na cruz ’’.
Se possível, pare agora a leitura deste livro, ore a Deus e
peça que Ele lhe mostre quantas dívidas a vida acumulou em
sua alma. Faça uma lista de todas as suas cobranças. Talvez
você ainda carregue dívidas. Dívidas de abandono paterno e
materno. Dívidas de um relacionamento perdido, um erro do
passado, uma gravidez não planejada, abusos, decisões erradas
na vida e traições. Liste ponto por ponto. Escreva nome por
nome das pessoas que lhe magoaram. Explique em cada frase
toda a sua rejeição, dor, falta de amor e referência. Toda injustiça,
abuso físico, emocional e sexual, traição e abandono.
Enfrente a dor que você tenta esconder dentro de você. Talvez
será necessário você até mesmo gritar. Anote o que sente em
relação a todo abandono que você sofreu na vida. Lembre-se,
não é pecado reconhecer e pôr para fora a dor e a raiva que
existem dentro de você. É necessário que você seja sincero com
tudo o que existe em seu coração só assim, haverá cura.
Decida perdoar. Perdoar é uma crise de vontade. Uma
decisão consciente de deixar a outra pessoa livre. Quando você
deixa uma pessoa livre, o passado também começa a te deixar.

111
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

Depois que você terminar esta lista, leve-a a Deus e ore da


seguinte maneira: “Eu renuncio meu passado de abandono, dor,
ódio e rejeição. Eu decido em meu coração não cobrar das pessoas
tudo aquilo que a vida ficou me devendo. A vida não me deve
nada. Meu passado não me deve nada”.
Procure um lugar onde você pode ficar a sós e rasgue todas
estas cobranças. Não espere que esta decisão de renunciar seu
passado resultará em grandes mudanças nas pessoas. A
mudança tem que ser em você. É você quem precisar mudar
por conta das inúmeras carências que se instalaram em sua alma.

UMA NOVA PERSPECTIVA DE VIDA


Quando eu entendi estes princípios eu comecei a vida em
uma perspectiva diferente. Meu desafio era me adaptar a uma
vida nova. Sem Cristo, acabamos ficando viciados em nós
mesmos. Precisaria aprender a viver plenamente a liberdade
da cruz. E orava para ter isso de maneira integral e abundante.
Comecei a sonhar com uma esposa e uma nova família.
Certa vez, perguntei ao pastor Coty:
- O que faz o relacionamento ser de Deus?
E a resposta foi simples:
- A sua capacidade de abrir mão do relacionamento. Deus
queria trabalhar esse princípio na sua vida. Isso era a prova de
fogo para alguém que estava aprendendo a lidar com perdas.
Então, Deus, que é soberano e dirige a história, conduziu
uma filha d’Ele até mim. Era alguém muito especial e
maravilhosamente linda. Era a graça do Senhor sobre mim.

112
Lidando Com As Carências

Estou falando de Hosana, uma mulher que se deixava (e se


deixa) ser usada e que também aprendeu a lidar com os débitos
da vida e com as suas próprias frustrações e perdas. Era ela
segundo o coração de Deus.
“Pois quem jamais conheceu a mente do Senhor? Ou quem se
fez seu conselheiro?” Romanos 11:34
Aquela mulher tocou a minha alma. De uma maneira que
eu não entendo e jamais entenderei, pois algo em mim alcançou
o seu coração também. De repente, ela abriu mão de ser ímpar
para ser par. Deixou os seus sonhos para abraçar os meus sonhos
e por fim, juntos alcançarmos os nossos sonhos.
Depois de um bom tempo de restauração, começamos um
namoro. Durante um ano, vi Hosana por apenas quatro vezes
e nos casamos com uma convicção inabalável. Um dia,
perguntei a Deus sobre a razão de ter uma esposa tão
maravilhosa. E a resposta foi: “Porque essa mulher Eu tirei de
dentro de você, um homem curado e restaurado”. Agora, o
caminho era aprender a lidar com este novo agir do Senhor.
Certa vez, alguém me disse que eu o ajudei a se posicionar,
a ter Cristo como alvo e a possuir um caráter alicerçado nos
valores e princípios do reino de Deus. Ao olhar para a minha
vida, vejo a Palavra do Senhor viva, palpável nos versos de
Paulo em 2 Coríntios 6:1-10: “E nós, cooperando também com
ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão.
Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E socorri-te no dia da
salvação. Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o
nosso ministério não seja censurado. Antes, como ministros de

113
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo, na muita paciência,


nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas
prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na
pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito
Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de
Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda, por honra e
por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores e sendo
verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como
morrendo e eis que vivemos; como castigados e não mortos; como
contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo
a muitos; como nada tendo e possuindo tudo.”
Viver o que eu vivi é como o princípio de ser um pão. Fui
moído, triturado e amassado para poder chegar para uma
pessoa e dizer: “Entendo o que você está passando. Já passei por
isso”. Jesus era um homem de dores. Entendo que ser refeito
por Deus é saber o que é perder e o que é recomeçar n’Ele. Eu
sei o que é ser abandonado e viver no pecado, mas sobre a
minha vida impera uma Palavra: “Mas, onde o pecado abundou,
superabundou a graça.” Romanos 5:20
Após todos estes processos que vivi, não importava mais o
que eu tinha feito de errado, nem em relação à vida, nem quanto
a mim mesmo. E também não merecia mais importância o
quão injusta a minha história pode ser sido foi comigo. Não
podemos fazer nada para mudar o nosso passado, a não ser
deixá-lo para trás. Por outro lado, está em nossas mãos permitir
Deus construir algo dentro de nós para mudar radicalmente o
nosso futuro.

114
Lidando Com As Carências

Como já disse várias vezes, uma das coisas que aprendi nos
processos de cura foi esquecer o meu passado. E este esquecimento
é um exercício diário. O Diabo te ataca terrivelmente naquilo que
já foi fraqueza. Mas aprenda a disciplina mental de não considerar
estas acusações. Aprenda a se defender com as armas que o Senhor
te deu, como a fé, para sempre que for necessário recomeçar. Crer
é ter consciência da sua cura em Deus. “Tomando sobretudo o escudo
da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do
Maligno.” Efésios 6:16
Acredite: É possível recomeçar quantas vezes forem
necessárias em Deus. Todos nós já fomos feridos na vida de
alguma maneira. Trata-se de uma realidade incontestável em
toda a humanidade. E um dos grandes desafios que temos é o
de superar a dor e o trauma causados por estas situações. Se
existe algo que Satanás usa para nos paralisar são as feridas
emocionais.
Alguém já disse que “o maior inimigo de todo cristão são as
suas feridas emocionais.” Eu concordo, pois isso tem um poder
terrível de nos vitimizar e de nos fazer odiar, culpar e cobrar
das pessoas tudo de errado que nos fizeram. Temos que tomar
uma decisão voluntária de parar de apontar e esperar dos outros
aquilo que só Deus pode fazer por nós.
Em Cristo, tudo foi perdoado! Não há nada a pagar! Não
existe uma única dívida! Ninguém deve nada! E, se devemos
alguma coisa, é o amor!
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que
vos ameis uns aos outros.” Romanos 13:8

115
JESUS CANCELOU A ESCRITA DE DÍVIDA

Somente pelo conhecimento deste que é o dom de Deus


que podemos ser íntimos d’Ele. Essa é a essência da vida cristã,
sem a qual somos vazios e carentes. Todas as nossas ações não
são para viabilizar ou ter acesso ao amor do Senhor, mas é
exatamente isso o que nos possibilita manifestar o que temos
recebido. “E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o
entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.”
Efésios 3:19
O nosso maior desafio é sermos sensíveis ao Espirito Santo,
buscando, dia após dia, manter um coração disposto e
compromissado com a sua vontade e, assim, revelando às
pessoas o dom de Deus em nós.
Todo o nosso esforço deve girar em torno do compromisso
com o Reino de amor, perdão e virtudes do Senhor, para que os
outros possam ser alcançados. Mais do que simples obras, temos
um dom de reproduzir, multiplicar e frutificar pessoas que
possam conhecer a Deus, assim como nós. A vontade d’Ele é
que tenhamos filhos e discípulos que o conheçam.
Há um entendimento bíblico de que aquele que diz estar no
Senhor, mas não der frutos, será cortado. E isso não pelo fato de
ser infrutífero, mas rebelde. Não frutificar n’Ele é rebeldia. Os
filhos de Deus têm o maior poder da terra, que é amar.
"Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo
ramo que, estando em mim, não dá fruto, Ele corta; e todo que dá
fruto, Ele poda, para que dê mais fruto ainda.” João 15:1 e 2
Devemos, a cada dia, desenvolver a nossa vocação, crendo
no que o Senhor diz que somos, ou seja, seus filhos. Precisamos

116
Lidando Com As Carências

nos entregar a essa revelação com total empenho de obedecer


e de nos submeter ao chamado, cumprindo o destino
estabelecido por Ele, desde a eternidade. É necessário que ecoe
do nosso interior o seguinte entendimento: “Eu nasci de Deus,
sou de Deus e volto para Deus”.
Decida se empenhar em conhecer o dom do Senhor para
você, que é o amor. Entenda a maravilhosa graça de viver para
Ele e por Ele. E principalmente: Conheça a vontade divina para
a sua vida, fazendo Deus conhecido a todos os seus amigos e
familiares. Entregue-se à tremenda experiência de ser recriado
pelo Supremo Criador. O que Ele deseja é recriar os nossos
valores, os nossos pensamentos, as nossas emoções e toda a
nossa história. É preciso acreditar, porque isso é possível! “Pois
d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas.” Romanos 11:36

117
CAPÍTULO 8

“A carência é uma espécie de avião em queda,


mas que a gente tem a ilusão que um
dia vai se estabilizar”.

118
CONHECENDO UMA
NOVA IDENTIDADE
ESPIRITUAL

AO DISCIPULAR, COMECEI A DISCERNIR o quanto


muitos cristãos estão profundamente feridos nas emoções e
vivendo uma total crise de identidade. Desde então, tenho
focado o meu ministério na restauração, capacitação e
aconselhamento na sexualidade. Além disso, tive a
oportunidade de coordenar, por cinco anos, uma Eted1 – Escola
de Treinamento e Discipulado, onde pude desenvolver muito
no que diz respeito ao discipulado, não somente na Jocum, mas
em Igrejas e seminários.
Como já disse o foco dos meus contatos com as pessoas de
várias Igrejas do Brasil tem sido expor a realidade dos
constantes ataques de imoralidade em suas vidas, por conta
suas carências não curadas, que são frutos de muita ausência
familiar. Somos uma geração onde os pais não sabem mais

119
Lidando Com As Carências

produzir uma identidade de homens e mulheres em seus filhos.


Quase todas as crianças, jovens e adolescentes estão em uma
profunda crise e sendo terrivelmente atacados em relação à
área afetiva.
Satanás sabe que, se uma família não consegue gerar em
seus membros uma identidade saudável, fica fácil para ele
enganar a mente das pessoas com qualquer outra mentira. E,
se conseguir impedir que você saiba o que é ser um homem
ou mulher, pode também destruir a sua convicção da filiação
em Deus. Se não sabemos o que significa ser filho de um pai
e de uma mãe, dificilmente saberemos o significado de ser
um filho de Deus.
Estou, a cada dia, convencido de que todas as crises que
enfrentamos na vida estão fundamentadas em três equívocos
principais:

1. Quando os nossos princípios e valores sobre a família


estão deformados, isso afeta profundamente todas as
áreas da nossa vida;

2. Uma compreensão errada sobre a identidade e a


função do homem e da mulher nos impede de viver a
plenitude dos relacionamentos;

3. Boa parte do nosso conhecimento sobre quem seja


Deus, vida cristã e a nossa identidade em Cristo está
fundamentada em mentiras.

120
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

Este é o meu primeiro livro, baseado em minha própria


experiência de restauração em Cristo, bem como nos encontros
de discipulado que vivi junto com irmãos e amigos que Deus
me fez conhecer nos meus sete anos de ministério. Tudo o que
aprendi neste período se resume da seguinte forma: Antes de
você poder verdadeiramente ser livre do seu passado e viver
em plenitude o que o Senhor planejou, precisa empenhar as
suas forças e todo o seu entendimento para discernir quem você
é em Jesus. Esta é a base da vida cristã, a verdadeira identidade
n’Ele. Eu só consigo ficar livre de minhas dores quando eu bebo
da água da vida. Foi exatamente isso que aconteceu com a
mulher do poço.
Você precisa saber quem é no Senhor e como viver por fé. É
necessário ter uma mentalidade de filho de Deus e caminhar a
partir desta consciência. Destrua em sua vida qualquer
possibilidade de prosseguir de maneira independente do Pai.
Quando falo de mente de Cristo, estou falando sobre aprender
a controlar as emoções, a crucificar suas carências e a
permanecer livre dos traumas emocionais do passado.
Sem um encontro real com a pessoa de Cristo não há
possibilidade de cura.
Outro fato que precisamos entender é que não existe uma
cura instantânea para as nossas carências. O que existe é um
processo. Não que você não possa, em Cristo Jesus, se tornar
livre de um dia para o outro de suas feridas, carências e traumas.
N’Ele, tudo é possível. Mas, via de regra, a maneira como Deus
nos sara tem muito mais a ver com sequências de renúncia,

121
Lidando Com As Carências

quebrantamento, perdão, restituição e enfrentamento do que


com um momento em que tudo mude em um estalar de dedos.
Não é dessa forma, instantaneamente, que as coisas
funcionam. Somos viciados em suprir as nossas carências.
Abandonar essa condição leva tempo, requer muita
dependência de Deus. E isso também faz parte do processo.
Quantas vezes nos sentimos assim, encurralados em nós
mesmos. A sensação é de completa impotência. Fazer mais uma
escola, um curso de cura e de libertação, ler mais um livro sobre
restauração, tudo parece não funcionar conosco em relação aos
nossos traumas, feridas e carências. A impressão é que não
chegaremos naquilo que Deus nos chamou para ser.
Entenda: Ser curado e restaurado pelo Senhor é resultado
de uma mudança diária de pensar a respeito de nós mesmos,
da vida e das pessoas. E isso não acontece de um dia para o
outro. Pede um despojamento de muitas coisas que aprendemos
de forma errada sobre Deus, a vida e nós mesmos.
A nossa identidade em Cristo é produto de tempo, renovação
de mente, pressões, disciplinas, provas, tribulações, muito
conhecimento da Palavra de Deus, um entendimento da
identidade no Senhor e a presença do Espírito Santo nas nossas
vidas. Romanos 12:2 diz: “Não se amoldem ao padrão deste
mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para
que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus.”
O pastor Paulo Borges Júnior, da Igreja Sal da Terra, sempre
diz: “Aquilo que você é determina o que você faz”. Não é o nosso

122
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

comportamento que define a nossa atitude, mas o contrário.


Comportamento é algo que podemos até fazer mecanicamente,
desprovido de convicção. Alguém pode até ter um
comportamento cristão, mas seus valores ainda não foram
transformados. Já atitude é diferente de comportamento.
Atitude nasce a partir de uma consciência transformada, uma
mudança de mente.
Tudo o que fazemos e realizamos está baseado no
entendimento de quem realmente somos, especialmente
quando falamos da nossa verdadeira identidade como filhos
de Deus.
Talvez, você se pergunte: “Se a nossa identidade em Cristo é
a chave para sermos livres das carências, por que tantos cristãos
que conheço têm dificuldades com feridas e traumas emocionais e
imaturidade?”. Porque fomos terrivelmente enganados pelo
Diabo. O entendimento de quem somos no Senhor foi distorcido
por ele mesmo, o pai dos mentirosos.
“Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira.” João 8:44
Quando Deus começou um processo de restauração em
minha vida, a minha amiga Daniela Xavier me disse algo:
“Eurípedes, você tem uma facilidade enorme de acreditar em
mentiras”. Se conhecemos realmente quem o Senhor é, a nossa
identidade é radicalmente mudada. Acredito que o fator mais
determinante na saúde e liberdade, tanto emocional como
espiritual, está em saber quem realmente somos n’Ele e deixar
se completar a obra de Cristo em nossas vidas.

123
Lidando Com As Carências

Conheço muitos irmãos e amigos que lutam diariamente


contra a pornografia, os vícios em drogas e tantas outras coisas.
Eu, particularmente, também tenho as minhas batalhas. Você
leu sobre a minha história. Sempre sou atacado terrivelmente
por Satanás em achar que não sou bem-vindo no meio das
pessoas, que elas não me suportam e estão sempre fingindo
que me amam. Estas são as mentiras do inimigo em minha
mente. E isso acontece constantemente.
Qual é a minha maior luta? A de me sentir rejeitado pelos
outros. Esta é a maior mentira que sempre acreditei na vida.
Onde isso começou? Nos meus abandonos em família. Quando
não entendia quem realmente era no Senhor, permitia que as
acusações do Diabo prejudicassem a minha percepção de quem
eu deveria ser n’Ele. Ao invés de deixar que a minha identidade
de filho de Deus influenciasse o meu comportamento, permitia,
pelo contrário, que a ideia de alguém rejeitado abalasse quem
eu era. É isso o que chamo de carência.
A maior inimiga da nossa identidade é a carência, que indica
a necessidade de querer se encaixar em um mundo que não
nos aceita. Sempre seremos rejeitados, seja como amigos,
esposos, pais, líderes, anciãos ou o que for. A vida sempre deverá
permitir isso, de uma forma ou de outra. Pessoas vão nos trair
e a única possibilidade de lidarmos com estas rejeições é
entendermos quem somos em Deus.
Infelizmente, sempre caímos nesta armadilha. É um
problema que atinge muitos de nós. Fracassamos em relação
às nossas carências e nos vemos como derrotados. E isso nos

124
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

faz fracassar mais e mais. Acabamos nos entregando às nossas


necessidades afetivas e, por essa razão, nos consideramos mais
carentes ainda.
Acreditamos que somos aquilo que a nossa carne grita: “Você
é um carente. Viva para suprir isso!”. Somos enganados a
acreditar que as nossas carências definem a nossa identidade.
Esta crença nos lança em um salto mortal de imoralidades,
pornografias, culpas e letargia espiritual. Depois de muitas
derrotas, aceitamos que somos assim e dessa maneira
continuaremos para sempre. E desistimos.

A NOSSA HERANÇA NO SENHOR


“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados.” Efésios 2:1
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para
serem conforme a imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o
primogênito entre muitos irmãos.” Romanos 8:29
Para todo cristão, permanecer espiritualmente vivo é estar
unido com Deus por meio de Jesus. No momento em que Adão
pecou, toda a raça humana se desconectou d’Ele. A redenção
em Cristo visa justamente destruir a barreira que nos separava
do Senhor e das pessoas. O plano é trazer de volta para Ele a
união que o primeiro homem desfrutava quando foi criado. E
essa condição que passamos ou voltamos a ter com o Pai, através
do Filho, é o princípio da nossa identidade.
“Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse,
muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da

125
Lidando Com As Carências

justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.” Romanos 5:17


Quando as Escrituras dizem, em Gênesis, que Adão deveria
dominar sobre todos as criaturas da terra e do céu, foi
estabelecido um propósito eterno que deveria ter sido colocado
em prática, o de domínio. O primeiro homem deveria dominar
sobre tudo o que havia, inclusive sobre Satanás. Mas,
infelizmente, este tomou o controle da terra por meio da mentira.
E se tornou o dominador deste mundo.
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, sobre as aves
dos céus, sobre o gado, sobre toda a terra e sobre todo o réptil que se
move sobre a terra.” Gênesis 1:26
“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o
poder do Maligno.” 1 João 5:19
Será que Jesus não veio justamente para conquistar um
domínio que Adão havia perdido? E será que o Senhor não
entregou este privilégio a todo cristão? A cada dia, tenho acredito
que a resposta é “sim”, porque isso faz parte da nossa herança
n’Ele. Satanás não pode mais comandar as nossas vidas. Por
conta da posição em que fomos colocados por Deus, temos a
mesma autoridade que Cristo teve, o que nos faz dominar sobre
tudo, inclusive sobre as nossas carências, emoções e culpas.

O DOMÍNIO SOBRE AS NOSSAS NECESSIDADES


Adão não só tinha um papel de autoridade sobre a criação,
mas também desfrutava da realidade e do sentimento de estar
suprido em tudo. Todas as suas necessidades eram satisfeitas

126
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

no Pai. Não havia nada que faltasse no jardim. Ele tinha como
se alimentar e o suficiente para atender toda a criação que
estava sob o seu domínio. Poderia comer da árvore da vida e
viver para sempre diante de Deus.
“E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável
à vista e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim
e a árvore do conhecimento do bem e do mal.” Gênesis 2:9
Talvez você tenha pensado: “Será que Adão não se sentiu
sozinho no Éden? Será que ele não teve uma necessidade?”. A
resposta é positiva e a solidão que teve não foi fruto de carência
e culpa, mas de um atributo divino. Não era resultado de rejeição
ou até mesmo um vazio de algo que perdeu. Havia era uma
necessidade de expressar de forma visível o que já havia dentro
de si, a sua mulher.
Estar em Cristo é ter a provisão que necessitamos. Tal
afirmação tem a ver com a herança que temos no Senhor. Temos
as suas riquezas em nós. Ele é a nossa promessa, a nossa fonte
inesgotável de vida e a própria liberdade. Ele é a Água da Vida
que nos cura da sede pelo pecado.
Quando falamos de estarmos resolvidos em nossas
carências, falamos também de uma consciência segura de que
pertencemos a Deus. Somos sua feitura, criados n’Ele, a sua
herança. Sabemos que toda a nossa história, nossa vida e as
nossas obras foram criadas no Senhor, antes da fundação do
mundo, para que andássemos n’Ele.
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança.” Gênesis 1:26

127
Lidando Com As Carências

“Porque Deus nos escolheu nEle antes da criação do mundo,


para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.” Efésios 1:4
O verdadeiro sentido de vivermos neste mundo somente é
encontrado quando entendemos que pertencemos ao Senhor.
E a conversão é justamente voltar para o lugar de onde nós
nunca deveríamos ter saído, ou seja, de Deus. Por outro lado, a
essência do pecado fala da independência d’Ele e da escravidão
das carências.
Entendo que um dos principais resultados da queda é o
fato de que nos tornamos - como várias vezes disse neste livro -
consumidos na cobrança de algo que acreditamos que as
pessoas e a vida nos devem. Isso é um grito que demora para
se calar nas nossas almas.
Quando Caim levou uma oferta a Deus e, por algum motivo,
esta não foi aceita, ele ficou irado e deprimido. E por quê?
Porque foi rejeitado pelo Senhor. É a partir deste acontecimento
que começamos a ver como tratamos as pessoas. Aquele rapaz
não se irou porque fez algo errado, mas porque tinha certeza
de que agiu certo, embora não tenho agido. É como se o Pai
tivesse a obrigação de aceitar o que foi ofertado.
“O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não
aceitou Caim e sua oferta. Por isso, Caim se enfureceu e o seu
rosto se transtornou.” Gênesis 4:4 e 5
Boa parte das crises relacionais que enfrentamos na vida
está ligada ao fato de que sempre achamos que as pessoas têm
a obrigação de fazer por nós aquilo que fizemos de certo para
elas. E quando isso não acontece, de alguma forma, as

128
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

assassinamos. Eu pergunto: O problema de Caim era com o


Pai celeste ou com Abel? Então, por que assassinou o seu
familiar? Fez isso exatamente porque não poderia atingir o
Criador. Dentro dele, é como se tivesse dito: “Já que não posso
matar Deus, mato o meu irmão”.
“E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando
eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o
matou.” Gênesis 4:8
Por que cobramos das pessoas? Por que achamos que elas
são culpadas de tanta coisa que nos faltou na vida? No final
das contas, se formos realmente verdadeiros, quem gostaríamos
de culpar? A Deus ou aos outros?

AS TENTATIVAS FRUSTRANTES DE ACEITAÇÃO


Voltando a Adão, basicamente toda a aceitação de Deus
que este vivia no Éden foi transformada em rejeição. Todo o
sentimento de pertencimento deu lugar a dívidas e
cobranças. Antes da queda, o homem contava com a
consciência de pertencer a alguém. A sua necessidade de ser
do Pai foi completamente realizada na intimidade que tinha
com Ele todos os dias. Até o pecado chegar, aquele primeiro
casal a habitar o jardim desfrutava de um entendimento de
satisfação plena.
Todas as nossas carências são tentativas frustrantes de nos
sentirmos aceitos, porque alguém nos rejeita. E isso começou
lá no Éden. A pergunta é a seguinte: Será que buscaremos, a
todo custo, a satisfação das nossas necessidades no sexo, no

129
Lidando Com As Carências

dinheiro, no patrimônio, no ministério, na carne, no diabo ou


permitiremos que Deus nos cure e nos satisfaça segundo as
suas riquezas e glórias, nos suprindo em Cristo Jesus?
“Mas Ele me disse: Minha graça é suficiente para você, pois o
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." 2 Coríntios 12:9
Ter uma postura de mudar a forma de pensar e tomar
posse das heranças dos santos em Cristo são questões de
identidade e maturidade. Quanto mais desistimos de nós
mesmos e nos apropriamos do que Jesus tem para a nossa
vida, mais poderemos crescer e amadurecer. E isso fala de
desistir do velho homem, o Adão.
De acordo com Jesus, o único jeito de sermos justos com o
nosso Criador e capazes de ver e entrar no Reino de Deus é
nascer de novo. E este novo nascimento somente é possível no
próprio Cristo, porque este nasceu vivo espiritualmente. A única
possibilidade de também nos tornarmos assim é nos unindo a
Ele, que foi concebido pelo Espírito Santo.
“Em resposta, Jesus declarou: "Digo-lhe a verdade: Ninguém
pode ver o reino de Deus se não nascer de novo." João 3:3
Estar unido a Cristo é experimentar o novo nascimento. Não
está se falando apenas de recebê-lo, mas ser como Ele é. Não é
estar com Jesus, mas estar em Jesus. O cristão não apenas é aquele
que recebe o perdão dos seus pecados ou até mesmo a promessa
de ir para o céu. Ser alguém que nasceu de novo é receber uma
nova natureza, uma nova identidade e uma nova herança. É
viver toda a plenitude de vida que só se encontra no Senhor.
Assim, nos tornamos também filhos de Deus, criações divinas,

130
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

cidadãos do céu. “Não se surpreenda pelo fato de Eu ter dito: É


necessário que vocês nasçam de novo. O vento sopra onde quer. Você
o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim
acontece com todos os nascidos do Espírito." João 3:7 e 8
O nascer de novo é uma transformação em algo que não
existe em nós, mas que só é possível no Senhor. Quando isso
acontece, nos tornamos família d’Ele. E compreender essa nossa
nova identidade e a herança que passamos a ter como filhos de
Deus é absolutamente essencial para o sucesso em nossa vida
cristã.
O principal motivo de tantas derrotas que passamos está
ligado diretamente ao fato de não compreendermos o que
realmente significa ser e viver como um filho de Deus. E, quando
não nos vemos assim, também não caminhamos como
deveríamos. Mas, se virmos a nós mesmos nessa condição de
filiação, tendo nos tornado um com Ele, após recebermos a
Cristo e estando vivos espiritualmente, começaremos a obter
vitória sobre as nossas carências, feridas e traumas.
Depois que conhecemos a Deus e ao seu Filho Jesus, a
verdade mais importante que temos que conhecer é a condição
de também sermos filhos.
“Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome,
deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus.” João 1:12
Será que realmente nos consideramos vivos em Cristo e
completos n’Ele? Será que entendemos a totalidade do que é
ser um filho de Deus? Qual é nossa verdadeira identidade depois
que nascemos de novo?

131
Lidando Com As Carências

O Senhor providenciou uma nova maneira de viver e lidar


com tudo na nossa vida. Nós passamos a ser a sua família.
Como filhos legítimos, recebemos uma nova identidade e um
novo nome. Não somos mais carentes. E também não somos
órfãos. Tendo recebido a filiação em Deus, somos portadores
da vida, do amor e do dom n’Ele. Somos fontes de suas riquezas
e de sua natureza, assim como Jesus, o primogênito, o é. Agora,
não precisamos lutar ou reivindicar a nossa herança, pois a
temos por direito, como privilégio dos santos, mediante a Graça.
“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: Que
fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso, o
mundo não nos conhece, porque não o conheceu. Amados, agora
somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de
ser, mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos
semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é.” 1 João 3:1 e 2
Eu tenho meditado muito nestes versículos. E, depois de
vários anos como cristão, estou mudando a minha maneira de
pensar e de me ver como tal. Uma pergunta que não para de
gritar em minha mente é: “Como posso viver como filho de Deus
agora?”. Creio que a primeira resposta para esta indagação é
parando de viver pelas carências e decidindo viver pelo dom
que o Senhor compartilhou em nossas vidas.
Precisamos, de uma vez por todas, nos relacionar com Deus
entendendo que Ele é um Pai amoroso. Esta é a verdade essencial
e fundamental de nossa identidade espiritual. Não estou falando
de sermos pastores, profetas, mestres, evangelistas ou apóstolos.
Isso são funções. Mas o que nos identifica é a condição de filhos.

132
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

“E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas,


outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com o
fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o
corpo de Cristo seja edificado.” Efésios 4:11 e 12
Aliás, somente quem tem a identidade de filho de Deus é
que pode verdadeiramente exercer alguma das funções citadas
acima. Por exemplo, um pastor que não tenha a consciência
da filiação pode, por causa das suas carências, se transformar
em um lobo. Um profeta, sem entender isso, vira alguém
amargurado. Um mestre pode entrar em soberba. Um
evangelista pode concluir que só ele trabalha no Reino. E um
apóstolo pode acabar por se achar um semideus.
“Filho do homem, profetize contra os pastores de Israel;
profetize e diga-lhes: Assim diz o Soberano Senhor: Ai dos pastores
de Israel que só cuidam de si mesmos! Acaso os pastores não
deveriam cuidar do rebanho?” Ezequiel 34:2
A verdadeira cura para as nossas vidas não está no
entendimento da nossa função no corpo de Cristo. Tudo isso é
importante e faz parte da vida cristã, mas o que nos transforma,
nos livra das nossas carências e nos sara dos nossos medos e
traumas é a compreensão clara e inabalável de que somos filhos
de Deus. Fomos criados à sua imagem e segundo a sua
semelhança. Temos uma referência, um modelo. Somos do
Senhor, viemos d’Ele e é para Ele que voltamos. “E disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.”
Gênesis 1:26
Todas as nossas funções no corpo de Cristo não têm como

133
Lidando Com As Carências

motivação sermos aceitos por Deus. Não o servimos para sermos


amados, pois já o somos. Aliás, a essência da vida cristã em
plenitude é sabermos e cremos nisso. É tendo essa clareza que
oferecemos o nosso serviço.
Satanás sempre tenta nos convencer de que não somos
aceitos por Deus e de que o seu amor é algo impossível de se
viver. Sempre nos faz acreditar que será impossível que vivamos
livres de nossas carências e que não temos realmente valor
algum para o Senhor. Acreditar nestas mentiras é se encerrado
em uma vida derrotada e infrutífera.
Por outro lado, crer na verdade de Deus sobre a nossa
identidade e o seu amor é a verdadeira libertação de que
precisamos. A chave para as nossas carências é a compreensão
sobre quem realmente somos em Cristo Jesus. “Estai, pois, firmes
na liberdade com que Cristo nos libertou.” Gálatas 5:1
Você é um filho de Deus, justificado e aceito. Não importa o
que fizeram contigo no passado. Se foi traído, rejeitado,
abusado, ferido ou traumatizado, procure saber diariamente
quem você é no Senhor e quais são as suas promessas como
filho. Acredite nelas e as pratique. Saiba, com todo o seu coração,
o que Ele diz a seu respeito. Assim, a sua vida, a cada dia, se
tornará aquilo que decidir acreditar.

E SE EU PECAR?
Depois de ter aceito e compreendido todas estas verdades,
eventualmente, você poderia fazer alguns questionamentos,
como, por exemplo: “O que acontece com o meu relacionamento

134
com o Senhor e com a minha identidade quando peco?”. Ou ainda:
“O meu fracasso e queda são determinantes na aceitação de
Deus?”. Permita-me responder trazendo algumas indagações:
Qual é o nome do seu pai aqui neste mundo? Você tem apenas
o sobrenome dele ou o seu sangue circula em suas veias?
Agora, proponho uma reflexão a partir de novas perguntas:
Existe algo que possa mudar geneticamente este parentesco
sanguíneo? Se você não quisesse ser de sua família, o seu querer
mudaria a sua filiação? Se fosse a um cartório e alterasse o seu
sobrenome ou se fosse expulso de casa e deserdado pelo seu
pai, você deixaria de ser filho?
A resposta, evidentemente, é negativa. Você tem o sangue
dele e isso não pode ser mudado. Então, nada do que você faça
na vida mudará o fato de que tem um pai neste mundo.
Como você mesmo leu em minha história, muitas coisas
que eu e o meu pai vivemos juntos afetou profundamente a
nossa relação. E não foi somente no meu caso que isso aconteceu.
O meu irmão mais velho, o Adilsom, ficou por mais de 10 anos
sem conversar com ele, por conta do assassinato que já narrei.
Em função da tragédia que houve na família, o relacionamento
entre os dois foi tristemente interrompido.
É claro que eu também sofri muito. Tanto os meus erros
quanto os do meu pai nos fizeram distanciar um do outro. Mas,
mesmo assim, nada mudou no que somos um para o outro. Eu
continuei sendo o seu filho e ele sempre continuou sendo meu
pai. A questão do nosso parentesco está para sempre decidida.
Não foi o comportamento bom ou mau que determinou isso,

135
Lidando Com As Carências

mas o sangue correndo nas nossas veias. No que diz respeito


ao relacionamento com o Senhor, isso produziu em mim o novo
nascimento e me tornei membro da família do Deus. Ele passou
a ser o meu Pai e eu, o seu filho. Assim, desfruto de uma união
eterna com Ele, por meio do sangue de Jesus. Há algo em meu
comportamento que possa mudar isso? Impossível. Nada pode
alterar essa ligação. Em Romanos, as escrituras dão uma boa
explicação neste sentido. Vejamos:
“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou
angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou
espada?” Romanos 8:35
“Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por
meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem
morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o
futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade,
nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do
amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Romanos
8:37-39
Eu sou filho de Deus por meio do novo nascimento. A minha
união com Ele foi e sempre será por meio de sua graça e não
por minhas obras. Não fiz nada para alcançar esta filiação e
não tenho que fazer nada para continuar nela. O meu
parentesco com o Senhor foi decidido para sempre no momento
em que Ele me escolheu livremente em seu coração.
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé e isto não vem
de vocês. É dom de Deus; não por obras, para que ninguém se
glorie.” Efésios 2:8 e 9

136
CONHECENDO UMA NOVA IDENTIDADE EM CRISTO

DISCIPLINADOS E NÃO CONDENADOS


A única coisa que precisamos entender é que podemos nos
distanciar de Deus na comunhão. Quando a harmonia com o
nosso Pai celeste é prejudicada, por conta da desobediência, do
pecado e da rebeldia, o resultado é que as nossas vidas se tornam
miseráveis e oprimidas. Entretanto, a união que temos com
Ele, essa jamais corre perigo, porque o que nos une não é aquilo
que fazemos de certo ou de errado, mas o sangue de Cristo.
Você acha possível o seu pai terreno te condenar por uma
falha cometida? Com certeza, não. Quando um filho comete
algum pecado, erro ou rebeldia, o pai entende que ele precisa
ser disciplinado, mas não condenado. É justamente o que o
escritor de Hebreus tratou no capítulo 12:
Qual é a minha maior luta? A de me sentir rejeitado pelos
outros. Esta é a maior mentira que sempre acreditei na vida.
Onde isso começou? Nos meus abandonos em família. Quando
não entendia quem realmente era no Senhor, permitia que as
acusações do Diabo prejudicassem a minha percepção de quem
eu deveria ser n’Ele. Ao invés de deixar que a minha identidade
de filho de Deus influenciasse o meu comportamento, permitia,
pelo contrário, que a ideia de alguém rejeitado abalasse quem
eu era. É isso o que chamo de carência.
Os nossos esforços são para que sejamos filhos obedientes e
para que, por meio desta postura, possamos desfrutar em
plenitude da vida aqui na terra. Portanto, diferente da forma
como muitos pensam e agem, a obediência, que deve ser diária,
nem de longe tem a ver com uma moeda que possa nos fazer

137
Lidando Com As Carências

comprar a salvação. Mesmo porque esta já nos foi dada pelo


sangue de Cristo.
O nosso parentesco com Deus é fruto do que Cristo fez e
não daquilo que eu faço. Aliás, não há nada que possamos fazer
para nos unir a Ele. Nós fomos transformados em seus filhos
para sempre. E ponto final. O nosso único esforço deve ser no
sentido de como manter a harmonia com o Pai, por meio da
obediência, temor e diligência.
“Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande
amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo,
quando ainda estávamos mortos em transgressões - pela graça
vocês são salvos.” Efésios 2:4 e 5
Você não é um pecador tentando ser santo. É um santo que
evita pecar. Então, caminhe em fé e na convicção de que é filho
de Deus e alguém espiritualmente vivo, que nasceu de novo e
pertence verdadeiramente à família do Senhor. E, por conta da
filiação garantida na sua vida pelo sangue derramado na cruz,
deverá herdar das promessas em Cristo Jesus.
Assim sendo, a vida não te deve nada. Viva pelo dom de
Deus liberado para a sua vida e não pelas carências que tanto
gritam em sua alma. Esta é a minha fé e é nisso que eu acredito.

138
CARACTERÍSTICAS
DE PESSOAS CARENTES
• Seus relacionamentos são marcados por muita
imoralidade sexual. Ao se sentirem seguros (falsa segurança),
em um relacionamento, se entregam sexualmente com muita
facilidade;
• São escravo de masturbação, pornografia e na maioria
das vezes suas amizades são constantemente herotizadas.
• Costumam cobrar, atenção, afeto e carinho a qualquer custo;
• Sempre tratam pessoas e grupos com uma certa
intimidade descontrolada.
• Seus relacionamentos são governados por muita
dependência emocional;
• Com muita rapidez, elegem pessoas como se fossem sua
própria família, mas diante de uma frustração relacional, são
tomadas rapidamente por aversão e ódio;
• Possuem um hábito de encontrar culpados para tudo;
• São extremamente prestativos e disponíveis, mas no final, toda
esta prestatividade e disposição se torna uma cobrança adoecida;
• Pequenos imprevistos relacionais se tornam grandes
tragédias na vida;
• Enfrentam uma dificuldade excarcerada em se colocar
no lugar do outro;
• Tem dificuldades de perdoar, remoendo situações

139
passadas; principalmente por sua autoestima e autoconfiança
serem adoecidas;
• Competitividade em excesso, seja no trabalho ou na vida
espiritual e pessoal;
• A maioria possuem comportamentos infantilizados em
todas as áreas da vida.

BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada. Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original. Traduzida em


Português por João Ferreira de Almeida. Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. Sociedade Bíblica Internacional.
Vitória Sobre a Escuridão. Neil T. Andersom – Editora Bom Pastor.
Quem Ama Educa. Içami Tiba – Integrare Editora
A Face Culta do Amor. Marcos de Souza Borges – Editora Jocum
A Alegria de Viver. Paulo Borges Júnior – Editora Candeias

140
Somos uma federação de igrejas aliançadas na fé e prática do Evangelho Vivo
de Cristo, revelado nas Escrituras do novo e velho testamento, segundo a unção
eficaz do Espírito Santo, para transformação do homem, da família e da sociedade;
estimulando a unidade na consciência de identidade e propósito e equipando para a
vida por meio de princípios e valores que servem como fundamentos para uma livre
ação metodológica.

IGREJA
EXPRESSÃO DA MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS

A Igreja é a comunidade dos que vivem da fé de que Jesus é o Cristo – O Filho do


Deus Vivo. É o complemento e extensão de Cristo na Terra e se expressa em diferentes
formas.

SANTIFICAÇÃO
PELA PALAVRA DE DEUS E PELA ORAÇÃO
A Palavra de Deus é o que fundamenta a identidade e natureza da Igreja, e a Oração é a
expressão ativa de sua função intercessora. Estes são os elementos usados pelo Espírito Santo
para transmitir o caráter de Cristo ao homem, salvando-o da sua velha natureza e
transformando-o a fim de que possa experimentar a vontade de Deus.

UNIDADE
BASE DE VIDA
É a natureza do Corpo de Cristo, que tem muitos membros, mas uma só Mente:
a mente de Cristo, o Cabeça; e um só Espírito: o Espírito Santo. Unidade é o desafio
no qual devemos nos empenhar. Sem Unidade não há expressão plena do que seja a
vida da Igreja.

141
RELACIONAMENTO
BASE FUNCIONAL
A essência da Igreja é o relacionamento, e o Amor a sua maturidade. A devoção
isolada, individualista, que não reconheça as pessoas a sua volta é engano. Qualquer
tentativa de serviço a Deus, que não signifique serviço às pessoas, é falsa.

FRUTIFICAÇÃO
PARA A GLÓRIA DE DEUS
Deus nos abençoou com uma identidade frutífera – qualidade, e por
isso ordena que nos multipliquemos – quantidade. Só há plena frutificação
onde há uma genuína convicção da identidade. A Terra se encherá da glória
de Deus pela manifestação e multiplicação dos Seus filhos e filhas.

TESTEMUNHO
EM BOAS OBRAS
Boa obra é todo trabalho gerado pela certeza de que todas as nossas
necessidades já foram supridas em Cristo Jesus: o dom de Deus, e por isso
temos o privilégio de repartir esse dom.

EQUIDADE
MANIFESTAÇÃO DA JUSTIÇA DE DEUS NA TERRA
É o princípio pelo qual o Verbo se fez Carne, materializando em atitudes
e substância, o amor que confessamos a Deus e ao próximo.

GOVERNO
EXERCIDO NA FORMA DE CONSELHO
O governo da igreja deve ser exercido em conselho, buscando-se a
maior diversidade de características possível entre os conselheiros. O
conselho deve ser caracterizado pela regularidade de sua agenda relacional
e administrativa, sempre num ambiente de profunda fundamentação bíblica
e oração, esforçando-se pela preservação de um espírito cordial e honrado.
Qualquer ministério, departamento, visão, projeto ou atividade pode
ser desenvolvido e administrado por um conselho.

142
A JOCUM – Jovens Com Uma Missão – é um movimento
internacional de cristãos de várias denominações dedicadas a
apresentar Jesus pessoalmente, a esta geração, utilizando todas
as formas possíveis para cumprir essa tarefa, treinando e
equipando cristão para realizarem a Grande Comissão. Como
cidadãos do Reino de Deus, somos chamados para amar, adorar,
e obedecer ao Senhor Jesus Cristo, amando e servindo Seu Corpo
– a Igreja – e levando Seus ensinos a todos da Terra bem como
ajudar o perdido e o necessitado. Hoje, a estamos em mais de
180 países e conta com cerda de 18.000 obreiros de tempo
integral, distribuídos em vários ministérios. Atuamos em três
áreas: TREINAMENTO, EVANGELISMOS E MISERICÓRDIA.

OS VALORES FUNDAMENTAIS
DE JOVENS COM UMA MISSÃO

Jovens Com Uma Missão (JOCUM) reconhece a Bíblia como


a palavra de Deus e, com a inspiração do Espírito Santo ela é o
ponto referencial e autoridade suprema para todos os aspectos de
nossas vidas e ministérios. Baseada na verdade de Deus, quem
Ele é e Sua iniciativa de salvação, as seguintes respostas da parte
da JOCUM são fortemente encorajadas:

143
ADORAÇÃO

Somos chamados a louvar e adorar a Deus e a Ele somente


Santidade: Somos chamados a viver vidas santas e justas, que
exemplificam a natureza do nosso Deus.

TESTEMUNHO

Somos chamados a testemunhar sobre o Evangelho de Jesus


Cristo àqueles que não O conhecem.

ORAÇÃO

Nós somos chamados a praticar a oração intercessória pelos


povos e por aquilo que esteja no coração de Deus, incluindo
posicionarmos contra o mal em todas as suas formas.

COMUNHÃO

Somos chamados a nos comprometer com a Igreja, tanto em


sua expressão de cuidado local como em sua expressão de
multiplicação móvel.
Os Valores Fundamentais de Jovens Com Uma Missão são a
expressão de nossas crenças básicas, unidas a diretrizes específicas
dadas por Deus desde que JOCUM foi criada em 1960. Eles foram
registrados aqui para passarmos às próximas gerações aquilo que
Deus tem enfatizado para nós. Estas crenças e valores que
compartilhamos são os princípios que guiaram o crescimento no
passado e que guiarão o crescimento no futuro de nossa Missão.
Alguns deles são compartilhados por todos cristãos em todo lugar,
outros são distintos de Jovens Com Uma Missão. A combinação destas
crenças e valores compõem as características singulares da família de

144
JOCUM – é o nosso “DNA”. São valores que guardamos com muito
carinho, pois determinam quem somos, como vivemos e como
tomamos decisões. Esses valores são:

1. Conhecer a Deus
2. Fazê-Lo Conhecido
3 . Ouvir a Voz De Deus
4. Praticar Adoração e Oração Intercessória
5. Ser Visionária
6. Defender Os Jovens
7. Ter Uma Estrutura Ampla e Descentralizada
8. Ser Internacional e Interdenominacional
9. Ter Uma Cosmovisão Bíblica
10. Trabalhar Em Equipes
11. Líder Servo
12. Primeiro Fazer, Depois Ensinar
13. Ser Orientada Por Relacionamentos
14. Valorizar o Indivíduo
15. Valorizar Famílias
16. Sustento Baseado Em Relacionamentos
17. Praticar Hospitalidade
18. Comunicar Com Integridade

145
CONTATO PARA SEMINÁRIOS E MINISTRAÇÕES COM

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