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ed

PA U L O A D R I A N O M U N I Z G O U V Ê A

ACONSELHAMENTO AO
COMPULSIVO
S E X U A L
ACONSELHAMENTO AO
COMPULSIVO
S E X U A L

3ª Edição
Julho de 2019
PA U L O A D R I A N O M U N I Z G O U V Ê A

ACONSELHAMENTO AO
COMPULSIVO
S E X U A L

3ª Edição
Julho de 2019

www.sexosemcativeiro.com.br
Copyright © by Paulo Adriano Muniz Gouvêa, 2018
SEXO SEM CATIVEIRO – Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Terceira Edição – Julho de 2019
Diagramação: Raquel Serafim (@rakdesigner)
Capa: Thiago Habdiel Almeida da Silva
Revisão: 1. Mazi Macedo – Pastor, Sexólogo e Terapeuta Familiar;
2. Cláudio Alves de Souza – Pós-graduado em Inteligência Estratégica;
3. Ana Lia de Miranda e Martins – Procuradora de Justiça
Aposentada pelo Ministério Público do Estado de Rondônia;
4. Selma Lima Thomas – Missionária e Conselheira Cristã desde 1995,
Líder juntamente com seu esposo, Peter Thomas, da Base da JOCUM em Aquiraz/CE; e
5. Marcos Filipe Coelho Scipioni – Psicólogo, Especializado em Terapia Familiar Sistêmica

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da edição deste livro deve ser reproduzida
de forma alguma sem a autorização por escrito do autor, exceto em casos de citações
curtas em artigos ou resenhas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Sexo sem Cativeiro
Fortaleza, CE: Paulo Adriano Muniz Gouvêa, 2018.
192 páginas; 23 cm
ISBN 978-85-923173-0-0
1. Vida Cristã. 2. Viciados em Sexo - Recuperação. 4. Saúde Emocional. 5.Família.
6. Aconselhamento.
I. Gouvêa, Paulo Adriano Muniz. – II. Título
 CDD 200
 2ª Edição

Índice para Catálogo Sistemático


1. Religião – 200
Impressão e Acabamento
Exklusiva Gráfica e Editora

Distribuição e Vendas
Sexo sem Cativeiro
Loja Virtual: http://www.sexosemcativeiro.com.br
E-mail: atendimento@sexosemcativeiro.com.br
Fone: |55| 41 99676.9107 / 85 99865.7308
AQUELE QUE HABITA EM MIM

Aquele que perdoa incondicionalmente


habita em mim e me capacita a
perdoar incondicionalmente.

Aquele que venceu o pecado


habita em mim e me capacita a vencer o
pecado e viver a liberdade que há nEle.

Aquele que tem toda a


autoridade e poder, habita em mim, me
capacitando a fazer obras maiores do
que as que ele realizou.

Aquele que é o
filho amado do Deus vivo, o unigênito do Pai,
que passou a ser primogênito, habita
em mim, testificando que também sou
filho do Deus vivo.

Paulo Gouvêa
O que é nascido de Deus vence o
mundo; e esta é a vitória que vence
o mundo: a nossa fé.
I João 5.4
Índice
Prefácio .. ............................................................................................................ 13

Introdução . . ........................................................................................................ 17

Capítulo 1 – Os Cativos . . ................................................................................. 19

Capítulo 2 – O Cativeiro .................................................................................. 47

Capítulo 3 – O Comportamento Viciado.. ........................................................... 69

Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia .................................................... 91

Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos . . ................................................ 113

Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro . . ................................................................ 135

Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação.. ........................................................ 151

Conclusão –Vivendo em Vitória .......................................................................... 167

Apêndice – Dieta de recuperação ....................................................................... 171


Agradecimentos
A ti, meu redentor e salvador. Aquele que me tirou de tão densas
trevas e me trouxe para sua maravilhosa luz. Que meu coração se
conserve eternamente grato por tua presença tão real em minha
vida. Toda honra e gloria a ti. Ao meu Deus vivo, fiel e verdadeiro.
À minha Esposa, que não desistiu de mim e me apoia até
hoje em minha caminhada. Ela desprezou a vergonha e seguiu
firme em direção a uma alegria superior proposta por Deus.
Aos meus filhos Raissa Julie, Tales Calebe e Taissa Sofia, que
aceitaram nosso chamado e nos apoiam com tanto amor e graça.
Que Deus lhes recompense por sua paciência, renúncia e parceria.
A vocês meus mais sinceros amor, respeito e admiração.
Aos meus pais e minha irmã, por todo o carinho e investi-
mento em minha vida. O amor de vocês me constrange e me enco-
raja. Obrigado pelo seu perdão e por todo incentivo.
A todos os familiares, amigos, pastores e líderes que me
aceitaram, amaram, exortaram, contribuíram e incentivaram nes-
te projeto. Cada um de vocês faz parte desta caminhada e jamais
esquecerei de vocês.
A todos, minha gratidão, honra e respeito.
Prefácio
Quando fez o homem, Deus o dotou de capacidades especiais, uma
delas é a sexualidade - somos diferentes dos animais, pois estes
têm o sexo somente como agente de preservação da espécie, mas
nós, os seres humanos, fomos agraciados tanto para a multiplica-
ção quanto para o prazer e a intimidade.
O ato sexual é o agente de maior intimidade que dois huma-
nos podem ter um com o outro. Não há na criação algo mais pro-
fundo, tanto que o apóstolo Paulo em I Coríntios fala que é uma
ligação de corpo, alma e espírito. É a intimidade completa, mas
para que isso seja feito de forma plena e satisfatória, Deus colocou
parâmetros para que seguíssemos e o maior deles é a condição de
dar e experimentar esse prazer no âmbito do casamento, onde há
compromisso, serviço, submissão mútua e cuidado que é baseado
no amor, que se expressa no que é melhor para o outro e não para
si mesmo. Mas todos nós precisamos de ajuda nesse aspecto para
vivermos uma vida abundante de felicidade em nossa sexualida-
de; e ler um bom livro sobre o assunto é uma grande bênção.
Ultimamente temos sido abençoados com algumas boas li-
teraturas no meio cristão no Brasil. No momento em que a igreja
mais cresce, me parece que ela também mais se parece perdida
em termos de valores cristãos e conceitos bíblicos sobre a vida
humana, especialmente a sexualidade. Isso porque ela é formada
de pessoas de todas as camadas da sociedade. Uma sociedade
doente que vem para nosso meio buscando cura e liberdade das
prisões de seu próprio estilo de vida, mas que muitas vezes en-
contra em nosso meio comportamentos mais destrutivos ainda.
14 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Isso porque a igreja tem recebido e adotado conceitos da psicolo-


gia moderna e da mídia como sendo verdades absolutas e ao in-
vés de seguirmos os conselhos bíblicos, temos seguido conceitos
mundanos ­egoístas.
Vivemos um momento delicado para a igreja, onde meni-
nas são abusadas por pais, amigos e, pasmem todos, seus próprios
líderes espirituais. Parte da igreja tem simplesmente seguido o
modelo mundano de relacionamento e com isso, ao invés de se
tornar um meio de cura, tem se tornado uma fonte de ferida.
Quem trabalha com aconselhamento e dinâmica familiar,
sabe muito bem dos males que estão no meio da igreja. Mas gra-
ças a Deus que essa é só uma parte dela, pois a aquela que segue
a Palavra de Deus, que confia em Jesus e que acredita que a Bíblia
é nossa única regra de fé e pratica, tem sido fonte de restauração e
cuidado para os feridos. Deus tem levantado homens e mulheres
para curar e restaurar vidas e como resultado disso boas literatu-
ras tem surgido.
Este livro é um deles.
Conheço Paulo e sua esposa Railca há vários anos. Tive o
privilégio de participar um pouco da restauração de seu relacio-
namento conjugal e visto o Senhor usá-los para ser fonte de cura
para muitas outras famílias no seio da igreja. Para minha grata
surpresa, os dois escreveram livros como este que têm o potencial
de mostrar um caminho a seguir em meio as trevas que assolam
nossa nação e nossas igrejas com modelos errados no que se refere
a relações sexuais e ao sexo sadio.
Esse é um manual que vem de um conhecimento profundo
sobre os efeitos devastadores de uma vida sexual sem limites e
nos aponta um caminho muito melhor e mais sublime. Casados e
solteiros, bem como líderes cristãos acharão neste livro verdades
transformadoras e dicas específicas sobre sexo saudável e como se
proteger das armadilhas que estão disponíveis por todos os lados
numa cultura amante de si mesma e que precisa urgentemente
de ajuda e reconstrução. A desconstrução já está correndo o seu
 • 15

curso, mas livros como este são dados por Deus para desfazer esse
efeito e reconstruir nossas famílias e as vidas de nossos queridos
que são vítimas de uma cultura centralizada em si mesma.
Meu desejo é que este livro tenha caminho aberto a todas as
igrejas de nossa nação.
Sal Cutrim
Introdução
A maneira como vemos e pensamos o sexo determina se nossa condu-
ta sexual vai gerar vida e intimidade em nossos relacionamentos,
ou se colecionaremos uma infindável lista de desconhecidos em
nossas camas. Nossa forma de vestir, relacionar, comportar e com-
prar é profundamente influenciada pela maneira como vemos e
entendemos o sexo.
A nossa sociedade, infelizmente, tem caminhando rumo ao
que chamo de SEXO COM CATIVEIRO. Tornar o que deveria ser
privado e exclusivo em algo público e explícito, é a contramão do
que de fato é o sexo. O resultado é que mais pessoas estão se tor-
nando cativas de seus desejos sexuais e possivelmente perderão o
controle de suas vidas.
Tenho visto nos últimos anos o desespero de muitos homens
e mulheres que desejam abandonar o vício em sexo, mas não con-
seguem. Muitos lutam sozinhos há anos e sentem muita vergonha
para pedirem ajuda ou confessarem suas perversões sexuais. As
práticas podem ser das mais comuns às mais bizarras possíveis e
o desespero é não conseguirem abandoná-las.
Eu fui um deles. Sei o que estão sentindo e pelo que estão
passando. Até os 33 anos de idade, minha vida sexual foi impul-
sionada por mentiras e falsas crenças que me levaram a um des-
controle nesta área. Meu desejo sexual me governou e impulsio-
nou dia após dia a conhecer novas pessoas com o único objetivo
de saciar minha sede de mais sexo. Eu achava que vivia em liber-
dade quando na verdade estava preso num terrível cativeiro.
18 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

As mensagens sobre sexo que recebi em minha infância e


adolescência foram construindo em mim pseudoverdades que
levei para meus relacionamentos. Infelizmente, a compreensão
equivocada do que é o sexo me fez magoar pessoas, desumanizar
a forma como eu via as mulheres e, ao invés de trazer a vida abun-
dante e cheia de prazer que haviam prometido, só trouxe perdas
para meus relacionamentos, finanças, vida profissional e em mui-
tas outras áreas. Quase perdi minha esposa e filhos.
Foi quando comecei uma jornada de liberdade e cura na
área sexual que passei a ver o sexo como deve ser vivido. Descobri
que pode ser um instrumento poderoso de maturidade, fortaleci-
mento de caráter e intimidade. Pude experimentar finalmente a
plenitude que a vida sexual de um casal pode alcançar. Vivo essa
liberdade e quero compartilhar com todos. Conheci o SEXO SEM
CATIVEIRO.
Meu objetivo com este livro é mostrar o impacto avassala-
dor do falso sexo e trazer as mensagens verdadeiras sobre o sexo
como Deus criou, seu propósito, significado e seu lugar dentro do
relacionamento conjugal. Ao invés de mensagens que deformam
o caráter e a personalidade, que geram doenças emocionais e que
destroem a vida das pessoas, quero compartilhar mensagens de
amor e vida sobre o sexo que farão homens e mulheres mais for-
tes, casamentos poderosos, famílias como lugar de bênçãos e so-
ciedades sadias e saradas.
Venha mergulhar no universo do SEXO SEM CATIVEIRO.
É um direito seu conhecer e experimentar. Leia o livro até o final e
compartilhe com quantas pessoas você conhecer sobre o que está
escrito nele. Monte grupos de ensino, fale a verdade em todos os
lugares e viva uma vida de plenitude em seu casamento. Desejo a
todos uma boa leitura.
Capítulo 1 – Os Cativos
É muito difícil compartilhar o que está escrito neste capítulo. Sin-
ceramente não me orgulho em nada do que vivi e gostaria de vol-
tar no tempo e fazer um caminho diferente. Não posso, então uso
meu passado como um aprendizado para me lembrar de onde saí
e, sinceramente, para onde nunca mais pretendo voltar. Sei que
não posso mudar o passado, mas posso mudar o impacto dele
sobre a minha vida e a de outras pessoas.
As histórias que serão mencionadas aqui são breves rela-
tos sobre a vida de alguns que, como eu, foram prisioneiros na
sua sexualidade devido a falsas mensagens que receberam sobre
sexo. A promessa inicial dessas pseudoverdades era de um mun-
do de prazeres, que na verdade gerou abusadores, compulsivos,
vítimas, cativos e cativeiros. Usarei nomes fictícios para proteger
suas identidades. São pessoas de várias classes sociais que pra-
ticaram os mais diversos tipos de compulsão sexual. É só uma
pequena amostra do que realmente tem adoecido nossa sociedade
nesta área.
Minha história será a primeira delas, pois quero já de iní-
cio mostrar como entrei neste mundo de trevas e de prisão. Cada
passo e atitude errada me prendiam em algo que por puro engano
acreditava que podia controlar. Perdi o controle e quase perdi a
sanidade, saúde, família e vida. Estava dando tudo por prazeres
lascivos, o que é uma troca injusta, porém, vejo mais pessoas ca-
minhando em direção a este abismo.
Você verá que a lascívia e a luxúria cobram um alto preço,
jamais serão saciadas. Não há limites nem controle. Não é uma
20 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

relação onde se ganha. Se as mensagens erradas sobre a sexuali-


dade não pararem, distorções e disfunções serão, a cada geração,
mais bizarras em nossa sociedade. As mensagens equivocadas so-
bre sexo precisam ser substituídas pela verdade, caso contrário,
as perdas serão progressivamente maiores e o fim sempre será a
morte de sonhos, relacionamentos, famílias e pessoas.

Minha História
INFÂNCIA
Fui concebido fora de uma aliança de casamento. Meus pais
se conheceram ainda muito jovens e se envolveram sexualmente
sem um compromisso firmado. Estabeleceram uma união estável
motivada pela minha concepção, mas só oficializaram essa união
através do casamento civil quando eu já tinha 9 anos. Meu pai,
apesar de muito trabalhador, gostava de bebida e tinha problemas
com imoralidade sexual.
Minha única irmã nasceu um ano após mim. Morávamos
com nossos pais na mesma rua que nossos tios e avós por parte
de pai. Era uma família muito numerosa, aglutinada e bastante
disfuncional. Quando eu não estava em casa, ficava com meus
avós, onde tinha muita gente, entre idosos, adultos, adolescentes
e crianças. Havia pouquíssima informação saudável sobre sexua-
lidade. Infelizmente, aquilo que se compreendia e vivia sobre sexo
era altamente tóxico para qualquer pessoa, principalmente para
as crianças. Havia incesto, palavrões, alta troca de parceiros, bebe-
deiras, divórcios e até prostituição. Ficar exposto a este ambiente
foi altamente contaminador.
As conversas paralelas também eram bastante erotizadas.
As piadas e o ensino sexual despertavam uma curiosidade que
uma criança não está pronta para compreender. Tanto os homens
quanto as mulheres diziam que eu, como homem, deveria dedi-
car minha atenção a me relacionar com o máximo de mulheres
Capítulo 1 – Os Cativos • 21

que pudesse quando crescesse. Eu era incentivado a agarrar as


meninas com idade igual a minha. Pediam para que eu mostrasse
meu pênis e diziam que homem e mulher foram feitos para o ato
sexual. Fui ensinado que isso era o lado bom da vida. Não havia
limites para o prazer sexual e que o importante era ter mais sexo
e “ser feliz”.
O consumo de pornografia através de revistas e fitas cassete
era muito comum. Os adultos se reuniam para assistir e muito
cedo fui exposto à pornografia. Ter acesso àquele material des-
pertou uma curiosidade precoce que me levou a me tocar com
frequência e até tentar penetrar animais de estimação (uma gata e
um cachorro). Os pensamentos sobre sexo começaram a se tornar
mais constantes. Eu não tinha noção do que estava fazendo. Aqui-
lo me dava prazer, mesmo sem discernir corretamente o que era.
Quando eu tinha por volta dos 5 anos, uma mulher que es-
tava visitando a casa de meus avós, durante uma “brincadeira”,
baixou a calcinha enquanto eu assistia televisão e esfregou suas
partes íntimas em minha cabeça. As crianças correram dela e os
adultos que presenciavam a cena apenas riam. Fiquei parado sem
reação àquela cena e, como todos estavam rindo, continuei assis-
tindo televisão, mas meu coração acelerou. Assustado, me pergun-
tava o que seria aquilo. Também me lembro de, aos meus 8 anos,
um parente, em um ônibus lotado, ficou atrás de mim e esfregou
seu pênis em minhas nádegas. Reagi tentando me esquivar. Hoje
entendo que foi um abuso, pois essa atitude constitui um tipo de
perversão sexual chamada frotteurismo.
Lembro que um primo costumava cantar palavrões ou falar
obscenidades e os adultos apenas riam, o que o incentivava a con-
tinuar. As músicas, roupas e programações tinham um forte apelo
à sensualidade. A cultura do prazer sexual sem responsabilidade
imperava e criava uma distorção na forma como eu via e entendia
o sexo. Minha mãe até se esforçava para me proteger e orientar de
forma saudável, mas também tinha pouca informação. O material
ao qual eu era exposto e o que eu via era muito mais forte.
22 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Na rua onde eu morava, as crianças brincavam de beijar e


se acariciar. Naquela época, os adultos ficavam em frente às suas
casas vendo tudo. Ninguém intervia e diziam que era normal. A
mensagem sobre sexo era totalmente equivocada e destrutiva. As-
sim, entrei na adolescência já tendencioso a me tornar um abusa-
dor de mulheres.

JUVENTUDE
Na puberdade, passei a me masturbar compulsivamente.
Fiquei obcecado pelo corpo feminino e vivia procurando na rua,
na televisão, nas revistas e em qualquer lugar uma imagem fe-
minina desnudada para depois fantasiar em mais uma sessão de
masturbação. Não era difícil encontrar, pois minha cidade natal é
bastante quente e as mulheres sempre usaram roupas curtas e sen-
suais. Já não tinha mais controle dos meus olhos. As mulheres se
tornaram meros objetos do meu desejo e apenas uma escada para
o prazer sexual. Manipulação, mentira e dissimulação entraram
em meu repertório de conquista. A CULTURA DO VÍCIO estava
se instalando e ganhando força, pois todo e qualquer relaciona-
mento meu com as mulheres tinha o propósito de conseguir sexo.
Meu olhar e forma de relacionar haviam sido desumaniza-
dos. Desejava apenas me aproveitar das mulheres, ter o próximo
orgasmo. Era o que tinha aprendido quando criança e adolescen-
te. Eu acreditava e caminhava com naturalidade nesta mentira.
Até então, não havia computado nenhuma perda por causa do
meu comportamento. A meu ver, era prazeroso e queria aquilo.
Qualquer possibilidade de um relacionamento duradouro
foi roubada de mim. Algumas jovens até buscaram um relacio-
namento sério a ponto de se sujeitarem à minha manipulação.
Primeiro, as moças do bairro, em seguida, estranhas de uma noi-
te que eu encontrava nas danceterias e boates que frequentava.
Não demorou para também começar a frequentar os prostíbulos
da cidade onde eu morava. Orgias e troca de casais aconteceram
algumas vezes.
Capítulo 1 – Os Cativos • 23

A pornografia também fazia parte da minha rotina. Meu inte-


resse pessoal era a masturbação e “aprender novas posições para garan-
tir uma boa performance sexual” com as novas conquistas. ­Procurei na
pornografia o que ela jamais poderia me dar. Nunca era suficiente,
pois mal saia de uma relação sexual, já queria a próxima. Acabava
de me masturbar e meus olhos já cobiçavam uma nova situação
onde eu poderia ter outro orgasmo e minha vida ia sendo consumi-
da pelo meu apetite sexual que crescia cada vez mais.
Em minha roda de amigos, era questão de respeito: quanto
mais mulheres, maior o prestígio. Éramos incentivados a conquis-
tar o máximo de mulheres, havia até competição a cada final de
semana para superar o anterior. Assim, mais estranhas eram adi-
cionadas a minha lista e nem me lembrava o nome da maioria de-
las. Tive muitos relacionamentos sexuais e vivia empolgado com
isso. Quanto mais me envolvia, mais achava que era “normal”.
Haviam dito para mim que isso era ser “homem”. Nas boates e
festas rolava quase tudo. A bebida me encorajava e, no final, quase
sempre uma mulher ia para a cama comigo; às vezes conseguia
mais de uma rodada de sexo.
Estava indo mais fundo na pornografia, quanto mais assis-
tia, mais desejava. Nessa época, havia um jornal que todos os dias
trazia em sua capa a foto de uma mulher nua ou seminua. Cos-
tumava cortar estas imagens e fiz uma espécie de álbum. Desne-
cessário dizer que era para sessões de masturbação, até 6 vezes
por dia. Em frente à televisão, meu foco eram os programas que
sabia que teriam um forte apelo à sensualidade. Não era difícil en-
contrar, pois eram muitos e em canais abertos. As coisas estavam
saindo do controle, mas não me dava conta disso, pois até aquele
momento era tudo diversão.

FASE ADULTA
Quando comecei a trabalhar, meu salário era praticamente
todo voltado para a cultura do sexo. Bares, motéis, boates de stri-
p-tease, casas de massagem e de prostituição. Passei a ter condi-
24 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

ções de comprar revistas pornográficas e um celular, que estava


começando a virar febre. Com um celular e internet, ficou muito
mais fácil o acesso à pornografia. Na época, a navegação era via
WAP e me esforçava para ver algumas imagens em preto e bran-
co. Os acessos aos computadores das empresas abriram um novo
universo para mim e os intervalos de almoço eram recheados de
sites com imagens pornográficas. Era muito importante fazer ES-
CONDIDO, então comecei a criar hábitos para dissimular e escon-
der minha compulsão das pessoas. Era preciso mentir, esconder e
manipular.
Um dia, fiquei até mais tarde no trabalho e acessei mais de
mil sites pornográficos em apenas 4 horas. No dia seguinte, meu
gestor recebeu da área de TI a lista de todos os sites que eu ha-
via acessado. Passei um grande constrangimento, mas meu gestor
levou numa boa minha vacilada. A partir daquele momento, me
tornei mais cauteloso e manipulador.
Em meus relacionamentos pessoais com as mulheres, cos-
tumava ser egoísta, imaturo e irresponsável. Não interessava se a
mulher era casada ou não. Na verdade, elas não eram importan-
tes. Minha postura como compulsivo era apenas me aproveitar
delas, buscava apenas sexo e, quando cobravam compromisso, as
abandonava. Cheguei a ter um relacionamento de 4 anos com uma
garota, mas tinha várias outras ao mesmo tempo sem ela saber.

CASAMENTO
Em determinada empresa onde trabalhei, uma moça cha-
mou especial atenção logo de início. Quando a chamei para con-
versarmos, foi diferente. Ela contou ter passado por uma situa-
ção difícil no seu último relacionamento, inclusive já tinha uma
filhinha de apenas 2 anos. Algo em relação a ela e àquela criança
foi despertado em meu coração. Senti o desejo de protegê-las. Na
época, ainda estava mantendo aquele relacionamento de 4 anos,
mas estava bem desgastado. Então, decidi romper e pedir a moça
da empresa em namoro. Ela veio a se tornar minha esposa cerca
Capítulo 1 – Os Cativos • 25

de dois anos depois. Assumi a paternidade de sua filha. A partir


de então, eu tinha uma família.
Ela era diferente e através dela, conheci o verdadeiro amor,
porém, eu não havia conseguido me desvencilhar do falso amor e,
devido à minha infeliz formação na área sexual, não fui fiel a ela
durante o namoro, o noivado e nem depois de nos casarmos. Era
extremamente dissimulado e ainda carregava comigo todo lixo
que vivi na infância e juventude.
Minha esposa era realmente especial. Nunca foi permissi-
va com meus péssimos hábitos e não aceitava que eu trouxesse
para o nosso relacionamento íntimo os conceitos e impurezas que
aprendi em outros tempos. Isto foi extremamente importante,
pois se ela tivesse aceitado minhas propostas indecentes, não te-
nho ideia de onde iríamos parar. Seu posicionamento foi meu pri-
meiro contato com limites na área sexual. Através dela também,
conheci o evangelho, começando a sentir certo constrangimento
com o pecado secreto.
Durante determinado período, depois que ficamos noivos e
que recebi Jesus em meu coração, me mantive limpo. Depois que
nos casamos, fui fiel à minha esposa apenas durante pouco mais
de um ano. Em nosso segundo ano de casados, fomos forçados a
nos afastar devido a uma transferência de trabalho que ela não
pôde me acompanhar de imediato por faltar apenas um ano para
concluir sua faculdade. A empresa em que eu trabalhava se dispôs
a custear uma visita mensal a ela e nossa filha.
Aquele afastamento e toda a minha dificuldade na área se-
xual ainda não tratada, acabaram me levando a voltar a ter uma
vida de solteiro. Longe da minha esposa, deixei de ir à igreja e
voltei a frequentar prostíbulos. Depois que ela veio morar nova-
mente comigo, passei a ter uma vida dupla para manter vivo meu
vício em sexo. Quando eu era solteiro, fazia questão de ostentar
as mulheres para os amigos. O casamento me forçou a criar perso-
nagens, contar histórias, mudar os rituais, dissimular, manipular,
mentir e esconder. Passei a dedicar boa parte do meu tempo para
26 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

manter vivos personagens secundários. Cheguei a viver um per-


sonagem quando estava em casa, outro na igreja, outro no traba-
lho e outro na rua. Muitas faces para esconder meu mal caráter e
as minhas disfunções.
Em meus relacionamentos extraconjugais, cheguei a me en-
volver com uma mulher também casada que acabou engravidan-
do de mim e tendo a criança. Até desejei que não fosse adiante
com a gestação, mas ela acabou tendo o bebê. Sabendo que eu não
trocaria minha esposa por ela ainda que trouxesse à tona o nosso
caso, preferiu mentir para o seu marido dizendo-lhe estar grávida
dele, com receio de ser abandonada se lhe dissesse toda a verdade.
Nós éramos razoavelmente próximos, porém, nem ele e nem a
minha esposa desconfiavam do nosso caso.
Cheguei a ver o bebê uma única vez depois que nasceu. Ig-
norei completamente aquela criança, não me sentindo nem um
pouco emocionado. Isto me envergonhou bastante, depois que
compreendi o que havia feito, percebi o quanto fui egoísta e ima-
turo.
Aquele foi meu último caso extraconjugal e a situação aca-
bou me fazendo perceber o quanto estava sendo inconsequente.
Como não confessei o meu pecado, não consegui abandonar a
pornografia e continuava com uma compulsão sexual extrema, ao
ponto de procurar minha esposa várias vezes por dia.
Continuei a ver pornografia e me masturbar sempre que
tinha oportunidade. Minha performance profissional começou a
cair drasticamente. Durante as viagens a trabalho, por vezes nem
dormia. Costumava passar a noite consumindo material porno-
gráfico. Isso só me prejudicava, pois não conseguia manter a con-
centração no dia seguinte. Em casa, até mesmo em pequenas au-
sências de minha esposa, como quando ia ao mercado, também
caia no vício.
Havia perdido o controle e o preço para manter o vício es-
tava me deixando exausto. Muitas vezes me masturbei e vi por-
nografia chorando, pois não aguentava mais, mesmo assim, não
Capítulo 1 – Os Cativos • 27

conseguia parar. Sem saber de nada, minha esposa já não pare-


cia suportar toda aquela minha negligencia com ela e as crianças.
Além do nosso relacionamento pessoal, as finanças também esta-
vam sendo afetadas.
Nossa filha adolescente, a que eu havia assumido a pater-
nidade, também estava magoada comigo. Mudei bastante o tra-
tamento com ela desde seus 8 anos, quando tive aquela outra
filha fora do casamento. Também não lhe dei a atenção devida
no começo da sua adolescência, fase tão delicada. Minha esposa
tentava sozinha e desesperadamente fazer algo por nossa família,
o que, na verdade, dependia muito mais de mim. Ela, porém, in-
tercedia por nossa família e para que o temor de Deus estivesse
em meu coração.
Em casa, procurava minha esposa somente para sexo. Che-
gava a importuná-la até 3 vezes em um único dia. Ela não se ne-
gava, pois acreditava que eram demonstrações de amor por ela.
A verdade é que eu estava fora de controle, totalmente preso pelo
meu pecado e sem encontrar saída.
Na igreja, eu me fazia passar por um bom moço. Por dentro,
estava morrendo. Precisava de ajuda, mas tinha vergonha de ex-
por o meu pecado. Não queria contar a ninguém para não prejudi-
car minha reputação, mas também não suportava mais mantê-lo
escondido. Não conseguia vencer sozinho e sabia que precisava
de ajuda, porém, não conseguia confiar em ninguém.
Foram quase 4 anos dentro da igreja, depois do meu últi-
mo caso extraconjugal, agonizando com os meus pecados ocultos,
sem conseguir me livrar dessa compulsão. Era muito pesado car-
regar aquilo sozinho, mas eu tinha muita vergonha de comparti-
lhar. Chegou um momento em que eu já não tinha mais alegria na-
quela vida, estava tentando mesmo me livrar, sentia muita culpa
e remorso. Pensava que jamais poderia contar tudo o que já tinha
feito para alguém, principalmente para minha esposa.
No entanto, comecei a finalmente me envolver mais com
Deus pedindo-lhe que me ajudasse. Eu desejava mais de Deus,
28 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

no entanto, a culpa me acusava e impedia de ser constante nesta


busca por Ele. Tentava aliviar essa culpa vendo mais pornogra-
fia, o que só piorava a situação. Assim, o vício me corroeu até
que não suportei.
Numa determinada noite, em abril de 2012, chamei minha
esposa num quarto isolado no segundo andar da nossa casa e,
finalmente, comecei a confessar para ela meu desespero. Foi um
duro golpe para ela, que não imaginava o que eu vivia, mas para
mim foi um grande alívio poder romper a mordaça. Finalmente,
após 10 anos de relacionamento, consegui ser transparente com
ela. Experimentei o verdadeiro arrependimento, que é aquele que
nos leva a um posicionamento, uma mudança de direção.
Começou então entre nós um processo de restauração con-
jugal e, pela primeira vez na minha vida, experimentei algo dife-
rente no que diz respeito ao sexo: uma liberdade jamais imagina-
da, que é o efeito de se andar na luz. Eu não estava mais nas trevas
de modo que não me sentia mais compelido a ver pornografia.
Voltei a ter controle dos olhos e já não cobiçava outras mulheres
como antes.
A graça de Deus se derramou sobre mim, o que era muito
bom! Sentia que estava experimentando o que está escrito em I
João 1.9 que diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça”, e tam-
bém o que diz em Salmos 32.1-3: “Como é feliz aquele que tem suas
transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a
quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia! Enquanto
escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer”.
Não consegui contar tudo de uma vez para minha esposa
e foram quase dois anos confessando na medida em que eu e
ela éramos incomodados a fazer isso. Todo o meu passado foi
desnudado. Fiz o caminho de volta, pedindo perdão a muita
gente, inclusive me dispus a reconhecer a paternidade daquela
minha filha.
Capítulo 1 – Os Cativos • 29

Oramos durante um ano pedindo a Deus direção sobre


como fazermos isso. Decidimos procurar a mãe da criança e incen-
tiva-la a confessar ao seu marido sobre a criança. Somente depois
que ela fez isso, o procurei para pedir-lhe perdão e me dispus a
reconhecer a paternidade da minha filha. Ele, porém, não permi-
tiu. Havia recebido aquela filha no seu coração e nos pediu para
ficarmos longe, então o respeitamos. Hoje aquela criança está em
minhas orações e é listada por mim entre os meus filhos. Eu tam-
bém a recebi em meu coração como filha.
Assim, abandonei a cultura de vício na qual eu estava inse-
rido e a compulsão sexual se extinguiu. Passei a experimentar de
uma paz que jamais havia vivido. Comecei a jornada de cura, na
qual caminho até hoje, pois me procuro não voltar à velha vida.
Filipenses 3.13-14 diz: “​Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo al-
cançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás
ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo,
para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Todas às vezes que me percebo tentado a fazer algo do pas-
sado, procuro pessoas de confiança e presto contas. Tenho desfru-
tado diariamente da presença de Deus em um tempo de medita-
ção e oração. Invisto num relacionamento verdadeiro com minha
esposa e filhos. São principalmente essas coisas que têm me man-
tido em sobriedade e liberdade.
Depois de dois anos no meu processo de cura e também
de restauração do meu casamento, sentimos, eu e minha esposa,
um forte chamado de Deus para trabalharmos com cura e restau-
ração de outros homens e mulheres que se sentem aprisionados
pelo vício e a compulsão sexual, como também com restauração
de famílias, cumprindo o princípio revelado em II Coríntios 1.3-
4: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das
misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as
nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus,
possamos consolar os que estão passando por tribulações”. Este é o
principal motivo deste livro.
30 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A História de Outros
MARCOS, 29 ANOS
Marcos é pastor, casado há apenas 5 anos com uma linda
mulher que ele ama muito, mas jamais tinha vivido uma vida se-
xual satisfatória com sua esposa. O motivo foram situações que lhe
aconteceram em sua infância e adolescência que o aprisionava em
uma grande mentira. Quando criança, ele sofria muito bullying
por parte dos meninos da sua idade devido ao tamanho do seu
pênis, o que o deixava bastante envergonhado e constrangido.
Em sua adolescência, assíduo usuário de pornografia, teve
dois relacionamentos duradouros com duas moças diferentes e
que relataram estar insatisfeitas com a vida sexual que tinham
com ele. Segundo elas, o motivo da insatisfação era o tamanho de
seu pênis. Elas confessaram traições e o abandonaram alegando
este fato. Estes eventos trouxeram muito desequilíbrio para a for-
ma como ele pensava e vivia o sexo. Também o deixaram bastante
perturbado.
Pouco tempo depois, ele se converteu e entendeu seu cha-
mado como pastor. Partiu para o seminário e estava em uma boa
fase com Jesus. Lá conheceu sua esposa e seguiram o seminário
juntos até que se casaram. Após o casamento, um pensamento
atormentava a sua mente. Devido à vergonha das mensagens que
lhe foram comunicadas no passado, ele acreditava que jamais
conseguiria satisfazer sexualmente à sua esposa.
Apesar de ela jamais ter reclamado sobre isso com ele, vi-
via atormentado a tal ponto que sempre voltava à pornografia na
tentativa de aprender formas e técnicas no intuito de satisfazer a
esposa, o que era um grande engano. Quanto maior sua exposição
à pornografia, mais vergonha ele sentia do tamanho do seu órgão
sexual, pois se deparava com aqueles homens de pênis enormes
e a mentira crescia dentro dele. Nos filmes, as mulheres pareciam
satisfeitas. Ele acreditava que era um pênis grande que uma mu-
Capítulo 1 – Os Cativos • 31

lher buscava na relação sexual. Era o que todos os vídeos pare-


ciam lhe mostrar, então se tornou prisioneiro da sua mente, o que
lhe roubou nos 4 anos de casado, a chance de ter uma vida sexual
satisfatória com a esposa, chegando a imaginar que somente se
comprasse acessórios e vibradores poderia vir a satisfazê-la se-
xualmente.
Tudo isso o afundava cada vez mais na pornografia. Ele che-
gou a cogitar convidar homens de pênis grandes para fazer sexo
com sua esposa. Essas coisas apenas passaram em sua mente, ele
nunca compartilhou com ela, pois sabia que jamais aceitaria isso.
Toda situação o deixava constrangido e ele não conseguia
relaxar durante o ato sexual. Um dia ele me procurou para se
abrir. Sentia muita vergonha de se abrir com outras pessoas, mas
foi encorajado depois de assistir um seminário que ministrei sobre
sexualidade durante uma Escola da Família, na JOCUM – Jovens
com uma Missão, organização missionária onde sou voluntário.
Alguns meses depois tentamos vários contatos sem sucesso até
que, finalmente, conseguimos alinhar as agendas. Ele se abriu e
conseguiu confessar tudo o que estava preso e lhe angustiando
durante muito tempo. Ele chorava e parecia estar muito atormen-
tado com aquela situação.
Naquele momento, pude explicar para ele que isso na ver-
dade era apenas uma das muitas mentiras sobre o sexo que a Por-
nografia tenta incutir em nossas mentes. Sexo não tem nada a ver
com o tamanho do pênis ou com a performance sexual. Pude dar
orientações claras sobre o SEXO SEM CATIVEIRO. Naquele dia,
a mentira saiu de sua mente. Pedi que ele esquecesse tudo o que
havia aprendido sobre sexo até aquele momento, pois A PORNO-
GRAFIA SÓ ENSINA O QUE O SEXO NÃO É. Tudo nela é menti-
ra. (Vamos falar mais adiante, no capítulo 4 deste livro.)
Sua esposa estava viajando neste dia e chegaria dois dias
depois. Ele preparou uma grande surpresa para sua chegada. A
mentira havia caído, o que o deixou relaxado e confiante. Eles pu-
deram finalmente experimentar em seu casamento a maravilha
32 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

do sexo sem cativeiro. Sua esposa chorou emocionada no final da


relação sexual, disse que foi como se fosse a primeira vez que ti-
nham feito sexo após 4 anos de casados. Ele se sentiu realizado e
ambos experimentaram algo maravilhoso. Ele me escreveu uma
mensagem dizendo que o vinho novo havia se derramado em seu
casamento. Aquele homem foi livre da mentira e pode hoje expe-
rimentar a liberdade em sua mente para uma sexualidade saudá-
vel e cheia de vida com sua esposa.
Seu ministério estava interrompido. Após este evento, ele
foi novamente convidado a liderar uma igreja e se sentiu muito
confiante para fazer isso. Ele ainda não retornou ao ministério,
mas tenho certeza de que vai ajudar muitos outros homens a al-
cançar uma sexualidade saudável em seus casamentos. Até hoje
mantemos contato e ele declara sua alegria pela verdadeira liber-
dade que finalmente tem experimentado em sua vida conjugal.

RAQUEL, 28 ANOS
Quando Raquel tinha 13 anos, sua família possuía um ter-
reno com 3 sobrados. A família vivia em um e alugava os demais
para ajudar no sustento da casa. Um dos inquilinos era um pro-
fessor mais velho. Ela nunca simpatizou com ele, mas, sendo uma
criança, tinha que lidar com aquela situação. Um dia, notou um
comportamento estranho no professor. Do sobrado que ela vivia,
era possível ver quase todas as tardes o seu vizinho professor le-
var o filho de 4 anos do outro vizinho para a casa dele. A criança
sempre saia de lá com uma pipa ou doces.
Achando tudo aquilo muito suspeito, se ofereceu para lim-
par a casa do professor junto com sua mãe, que era paga para
organizar o sobrado do professor a cada 15 dias. Ali ela esbarrou
no computador deste homem. Ao observá-lo, viu que a tela saiu
do modo de stand by. O que ela viu foram várias fotos de crianças
nuas e fazendo sexo.
Sua reação foi de susto e muito medo, pois ela tinha uma
sobrinha de 5 anos que morava na casa deles. Ela continuou abrin-
Capítulo 1 – Os Cativos • 33

do as fotos e viu que ele tinha vídeos e muitas outras fotos. Ficou
apavorada ao sair daquele lugar. Contou para os pais que decidi-
ram nada fazer a respeito, pois se tratava de um inquilino que não
atrasava os pagamentos e eles não queriam perdê-lo.
Ela passou a vigiar sua sobrinha de 5 anos, mas percebeu
que o comportamento da criança não era mais o mesmo. Ela es-
tava retraída e triste, não era mais aquela criança livre e alegre de
antes. Então ficou furiosa suspeitando que o professor tinha algo a
ver com isso e várias vezes tentou fazer com que seus pais expul-
sassem aquele homem. Ela passou a ser hostil com ele, até que um
dia ele simplesmente sumiu e nunca mais foi visto.
Raquel sempre se sentiu culpada de que algo pudesse ter
acontecido com a sobrinha. Sua mãe foi morar no exterior pouco
tempo depois e Raquel a acompanhou. Neste outro país, teve sua
primeira experiência de namoro com um rapaz, que, infelizmente
não acabou bem. Raquel foi devastada por uma traição dele, que
até mesmo compareceu em uma festa da família acompanhado
de outra garota, expondo Raquel na frente de todos os seus fami-
liares e amigos. Ela se sentiu tão frustrada que passou a ter muita
raiva de todos os homens, no entanto, decidiu se comportar como
um. Cortou o cabelo, vestiu roupas masculinas e seguiu sua vida.
Quando fez 18 anos, seu irmão mais velho colocou uma
venda em seus olhos e a levou a um lugar de surpresa. Quando
ele retirou as vendas, ela estava dentro de um prostíbulo com ele e
naquele lugar ele disse que estava muito feliz por ter um “irmão”.
Pagou uma prostituta para ela e a liberou para uma transa. Em-
bora Raquel não tenha mantido relações com a prostituta naquela
noite, nunca mais deixou de frequentar o ambiente, que veio a se
tornar seu segundo lar. Daquele momento em diante, ela decidiu
seguir aquele estilo de vida. Não demorou para ela conhecer uma
mulher mais velha que a chamou para morar junto e lhe “ensi-
nou” tudo o que sabia sobre sexo e como “satisfazer sexualmente
uma mulher”. O relacionamento durou um tempo e esta mulher
juntamente com seu grupo transformou Raquel no que elas cha-
34 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mam de RASTREADORA. Seu papel nas festas e baladas era CA-


ÇAR mulheres, de preferência noivas e casadas para arrebata-las
para a homossexualidade.
O desafio de Raquel era atrair o máximo de mulheres pos-
síveis para este estilo de vida e ela se dedicou a isso com afinco.
Ela odiava os homens e queria que as mulheres não sofressem nas
mãos deles. Elas pagavam um quarto de hotel ao lado da balada,
Raquel rastreava e seduzia mulheres nas festas e levando-as para
o quarto para uma “sessão de prazeres”. Ela manipulava as mu-
lheres no sentido de dizer que homens não prestavam e, segundo
ela, muitos casamentos e noivados foram desfeitos. Ela dizia-se
salvadora daquelas mulheres, pois não sofreriam nas mãos dos
homens, seus inimigos.
Ela chegou a fazer sexo com até 9 mulheres por noite. Isso
ocorria todo final de semana de quinta a domingo. Era uma rotina
cansativa, mas ela estava determinada. Aquilo a estava consumin-
do, mas ela não tinha intenção de parar. As sessões de sexo eram
demoradas e eram muitos também seus relacionamentos.
Seu relacionamento com sua iniciadora na homossexuali-
dade acabou e ela seguiu namorando várias outras mulheres, até
que um dia conheceu a Cristo e começou a frequentar uma igreja.
Lá, porém, acabou sofrendo abuso espiritual por parte do pastor,
que, do púlpito, chegou a alertar os pais para que não deixassem
suas filhas se aproximarem dela e que as meninas a vissem como
um exemplo a não ser seguido. Foi muito constrangedor para ela.
Ainda assim, ela permaneceu naquela igreja.
Ela então ficou sabendo de um seminário sobre sexualidade
na JOCUM e decidiu se inscrever. Lá, durante as ministrações, o
ódio que ela tinha dos homens veio à tona e ela resolveu colocar
para fora tudo isso. Em uma das ministrações, expressou o quanto
se sentia culpada pelo possível abuso que sua sobrinha havia so-
frido. Foi quando ouviu de um dos ministradores que a culpa não
era dela, que com apenas 13 anos ela tinha feito tudo o que estava
ao seu alcance para evitar o abuso e proteger sua sobrinha. Sentiu
Capítulo 1 – Os Cativos • 35

finalmente paz e cura em seu coração e se liberou de um grande


peso que carregava por muito tempo.
O seminário continuou e ela passou pela segunda minis-
tração. Foi quando ela conseguiu contar diante de todos a sua
história. Em determinado momento, a liderança do seminário en-
tendeu que deveria colocar uma venda nos olhos dela e lhe fazer
uma surpresa. Decidiram lavar os pés de Raquel e colocar todos
os homens da sala diante dela para que, intercessoriamente, lhe
pedissem perdão pelos abusos dos homens. Quando a venda foi
tirada, ela se deparou com mais de 20 homens, inclusive eu, ajoe-
lhados diante dela. Começamos a lhe pedir perdão por todos os
abusos que havia sofrido por parte dos homens.
Foi impressionante como naquela sala havia professores,
pastores e vários outros homens que exerciam profissões seme-
lhantes à de seus abusadores. Um a um fomos nos identificando
com estes homens e lhe pedindo perdão. Ela chorava muito alto,
mas ao final daquele tempo, depois de termos lavado seus pés, ela
perdoou todos os homens que a haviam abusado no seu passa-
do, fazendo com que eles ficassem exatamente naquele lugar: no
­passado.
De repente, ela virou para todos nós e pediu perdão por to-
dos os casamentos e noivados que ela desfez. Por todo ódio que
carregava pelos homens e que naquele momento ela se arrepen-
dia de tudo o que havia feito. Foi maravilhoso ver aquele milagre
acontecendo.
O interessante é que, logo depois, ela continuou na base mis-
sionária para realizar outro seminário e nos primeiros dias, fratu-
rou o seu pé. Como o alojamento onde estava hospedada ficava
no segundo andar, precisava ser carregada por homens todos os
dias. Foi muito interessante naqueles momentos ela ser ajudada e
servida por aqueles que representavam seus inimigos no passado.
Hoje ela caminha em sua identidade sexual redimida, sua femini-
lidade está sendo restaurada e experimenta paz com os homens,
vivendo uma vida sem cativeiro.
36 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

AMANDA, 32 ANOS
A mãe de Amanda fugiu de casa com um amante quando
ela estava com 5 anos, levando apenas seu irmão mais novo e lhe
deixando para trás. Amanda foi abandonada com o pai, que era
alcoólatra e bastante omisso. Depois deste evento, segundo suas
próprias palavras, um inferno começou em sua vida, pois o pai
se mudou com ela para a casa dos seus avós. Seu pai saia cedo
para trabalhar e sempre voltava tarde devido às suas bebedeiras.
Eventualmente, ele nem voltava para casa. Essa situação deixava
Amanda vulnerável e o sentimento era de abandono tanto da mãe
quanto do pai. Um sentimento de desvalor.
Logo depois, começou uma dura sessão de abusos por parte
dos tios e do avô dela. Eles a deixavam sem comer muitas vezes,
lhe batiam quase todos os dias e também era constantemente abu-
sada sexualmente. Ela conta que quando o pai saia pela manhã,
ficava aterrorizada, sentindo muito medo e tentava se esconder. O
seu desejo era de que o pai a protegesse e a tirasse daquele lugar.
Queria muito saber porque a mãe escolheu o irmão e não ela para
levar consigo quando fugiu. Ela pensava que tinha feito alguma
coisa horrível para a mãe abandoná-la naquela situação. Chegou
um momento em que realmente desejou morrer. Se sentia suja,
dizia para si mesma que ninguém a amava. O avô e os tios a cha-
mavam de feia, diziam que ela não prestava e que merecia todas
aquelas agressões. Ela algumas vezes teve que ir buscar o pai no
bar. Isso tudo ocorreu dos seus 5 aos 11 anos.
Quando chegou na adolescência, conheceu na escola pes-
soas que a apresentaram às drogas e à bebida alcoólica. Ela sentia
um forte alívio das suas dores quando usava drogas ou bebia. Era
uma fuga daquela vida miserável. Cresceu e passou a não aceitar
mais os abusos da infância. Sentia ódio dos homens e daquele pe-
ríodo em diante, decidiu que eles não abusariam mais dela, ela é
que abusaria deles. Começou a se envolver com vários homens,
sempre com a intenção de “abusar deles”. Todo relacionamento,
mesmo que de algumas horas, era com a finalidade de fazer sexo.
Capítulo 1 – Os Cativos • 37

Em suas palavras, disse que chegava a transar com pelo menos 5


homens diferentes por noite. Não demorou para ir para a prosti-
tuição e se envolvia sempre com bandidos e traficantes.
Engravidou algumas vezes e fez abortos, casou, teve filhos,
divorciou e mergulhou na imoralidade sexual. O sexo era seu
companheiro de todos os dias. Foram muitos homens em vários
anos com esse estilo de vida. Bebia quase todos os dias, vivia na
noite e tentava esquecer aquele passado miserável. Um dia, ela foi
levada a uma igreja em sua cidade. Ela gostou das músicas e ficou
interessada no que aquele homem de paletó ficava falando sobre
Jesus. Não entendia o que era amor. Ficava se perguntando ao
final das mensagens: Como um homem seria capaz de dar a vida
por alguém como ela? Seria possível alguém realmente amá-la?
Quem era esse Jesus que falavam na igreja? Foi difícil de entender
e aceitar que ela era especial. Ela continuou com a vida que leva-
va, mas duas vezes por semana passou a frequentar a igreja. Algo
a chamava para lá. Era um lugar de paz para ela, que gostava das
músicas e do que o pastor falava.
Um dia, muito tocada por uma das ministrações, resolveu
aceitar o sacrifício de Jesus em sua vida recebendo-O em seu co-
ração. Abandonou seus hábitos noturnos e passou a frequentar
ainda mais os cultos na igreja. Lia a Bíblia e, apesar de não a enten-
der, passou a acreditar que para ela havia esperança e que alguém
muito especial era cheio de amor por ela, mesmo que ainda não
soubesse direito o que era o amor. Em sua mentalidade anterior, o
amor era o sexo, mas agora estava experimentando de um outro
amor, o verdadeiro amor, que é Deus.
Eu e minha esposa estivemos realizando um seminário em
sua igreja e tivemos o grande prazer de conhece-la. Ouvimos sua
história e choramos juntos. Ela teve a oportunidade de perdoar
o pai e todos os seus abusadores. Sua alma sentiu alívio, quando
finalmente percebeu um amor tão grande e constrangedor, com-
preendendo o perdão que recebeu de Deus. Também estendeu
perdão o que a fez finalmente experimentar a verdadeira liber-
38 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

dade. Ela é alguém muito especial para nós. Todas as vezes que
lembro de sua história, me emociono. Hoje ela está recomeçando
sua vida.

MAURÍCIO, 51 ANOS
Maurício é funcionário público federal. Já está aposentado
e nunca se casou. Em sua infância, sofreu dois abusos sexuais, de
um primo e, depois, de um vizinho. Com o segundo abuso, ele
ficou realmente perturbado e não conseguia dormir à noite. Con-
seguiu falar sobre este segundo abuso com seu pai, que tomou
as devidas providências junto ao pai do agressor, apesar de seu
relacionamento com seu pai ser muito formal e impessoal. Seu
pai supria financeiramente a família, mas não havia qualquer de-
monstração de afeto. As cobranças eram grandes e como Maurí-
cio tinha certa dificuldade em algumas matérias escolares, seu pai
reagia com muita rispidez e sem nenhum afeto.
Na adolescência, sem muita instrução sobre sexualidade,
começou a descobrir a masturbação e a pornografia. Embora, mes-
mo sem ser convertido, achasse aquilo tudo um erro. Mesmo na-
quela época, já havia um desejo de sair daquela situação. Maurício
converteu-se aos 17 anos, quando estava em uma escola federal de
ensino. Lá encontrou um excelente grupo para comunhão e aos
finais de semana frequentava a igreja. As marcas daqueles abu-
sos ficaram para trás, ele acreditava. Quando o curso terminou,
voltou para sua cidade e as lutas recomeçaram. Como ele é muito
tímido, tinha muita dificuldade em se aproximar e se relacionar
com as moças, encontrando na pornografia e masturbação o seu
refúgio, acreditando que aquilo seria passageiro e que quando se
casasse acabaria.
Os anos foram se passando e as dificuldades nos relaciona-
mentos se agravaram. Ele realmente achava tudo aquilo surreal,
pois todos os seus amigos cristãos estavam casando e ele nunca
tinha se relacionado com uma mulher. Começou a ser gerado ódio
por Deus em seu coração, pois acreditava que era culpa de Deus
Capítulo 1 – Os Cativos • 39

não conseguir uma mulher como seus amigos. Segundo ele, Deus
o estava castigando por seus pecados. Somente aos 24 anos teve
sua primeira namorada. Era cristã como ele e foram 6 meses em
que se esforçou para fazer tudo certo, porém, mesmo assim não
deu certo. Ele gostava muito dela, mas a moça rompeu o relacio-
namento.
Ao longo do tempo, outros relacionamentos vieram, porém
nenhum foi como o primeiro, em que se sentiu realmente apaixo-
nado. Ele aguardou até os 36 anos quando, revoltado com Deus,
perdeu a virgindade com uma prostituta de rua, que o convidou
para entrar num hotel. Embora constrangido com aquele ato, na
mesma noite, ainda teve relações com outra moça, que fazia pro-
grama na mesma rua. Isso despertou o desejo cada vez mais forte
por se relacionar com mulheres apenas para fazer sexo, sem en-
volvimento emocional.
Embora sabendo que aqueles atos estavam errados, não
conseguia se libertar. Frequentar bordéis e casas de massagens se
tornou rotina, embora nos finais de semana, a ida à igreja era re-
corrente. Virou um ciclo de confessar e voltar ao pecado.
Com a transferência do local de trabalho em 2009 para ou-
tro estado da federação, pensava que seus problemas nesta área
diminuiriam. Lá encontrou novos amigos, comunhão na igreja,
mas seus desejos continuaram fortes e os impulsos eram cada vez
maiores. Entrava em sites de acompanhantes, ligava para elas e
marcava encontros em motéis. Da mesma forma, sua rotina virou
a mesma que tinha na sua cidade natal.
Certa vez, conversou com uma terapeuta cristã que o con-
frontou com a seguinte pergunta que jamais saiu da cabeça dele: A
quem pensa que você engana? Você é um hipócrita, um religioso,
um fariseu.
Isso mexeu com a sua trajetória. Ele foi muito confrontado
e decidiu que precisava de ajuda para sair desse cativeiro. O mais
interessante neste processo, é que as moças das igrejas que mais
40 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

lhe interessavam eram exatamente as que tinham problema na


área sexual.
É lógico que não funcionou, pois nos encontros ou nos namo-
ros de curto prazo, havia muitos beijos, abraços e pouca conversa.
Gastou muito dinheiro com o vício sexual, pois não conseguia se
relacionar com as mulheres sem buscar a intimidade sexual.
Quando tentava conversar com as mulheres na igreja,
era como se sua mente ficasse confusa, ele só pensava em sexo.
Isso fazia com que ele corresse para os braços das garotas de
­programa.
Eu o conheci em um seminário sobre sexualidade da JOCUM
na cidade de Almirante Tamandaré no PR. Ele aceitou o convite
de um amigo e vinha apenas para passar um final de semana, mas
acabou ficando o restante do seminário. Foi muito interessante a
maneira como ele aceitou entrar no programa de recuperação. Seu
sonho é construir uma família, ter filhos e envelhecer ao lado de
alguém. Ele é tomado de uma grande culpa, mas a solidão o im-
pulsiona a voltar para esta cisterna rachada. Toda vez que uma
mulher o rejeita para um relacionamento sério, ele luta para não
voltar ao sexo com garotas de programa.
Ainda hoje ele luta contra isso. Atualmente está em um pro-
grama de recuperação que eu montei com alguns amigos e ele tem
ido muito bem. As recaídas são quase zero e o tenho encorajado a
superar a timidez e buscar um relacionamento saudável com uma
mulher com quem possa se casar. Ele conhece mulheres solteiras
que podem ser suas esposas. Tem orado e buscado em Deus di-
reção e acredito que logo terei boas notícias sobre Maurício. Ele
está indo muito bem e tem vencido a batalha diária contra o vício
de modo que torço para que consiga constituir uma linda família
em breve.
Capítulo 1 – Os Cativos • 41

PR LEANDRO, 30 ANOS
Leandro foi gerado fora de uma aliança de casamento, seus
pais não eram casados e aos 3 anos de idade seu pai os abando-
nou por outra mulher. Seu tio foi morar com eles para compensar
a perda da figura paterna. Quando ele fez cinco anos, sua mãe
conheceu aquele que seria seu padrasto. Mais uma vez ela não se
casou, os dois foram morar juntos sem a proteção de uma aliança
de casamento.
Leandro flagrou os dois fazendo sexo em duas ocasiões,
também viu seu padrasto agredindo sua mãe e a viu várias vezes
indo aos bordeis da cidade para trazê-lo para casa. A imoralida-
de sexual e conceitos errados estavam sendo comunicados para
Leandro através do que ele observava dentro de casa.
Ainda muito jovem, bem no início de sua adolescência foi
levado a uma igreja por sua tia e se encantou com o que viu. Logo
se envolveu com o trabalho dentro da igreja e havia decidido ser
pastor. Infelizmente, aos 14 anos, por influência de seu tio, conhe-
ceu a masturbação, que passou a ser frequente em sua vida. Pelo
menos uma vez por dia ele se masturbava escondido. Aos poucos
a masturbação foi ganhando espaço em sua vida e já não era sufi-
ciente. Foi quando a pornografia entrou em sua vida, ele fazia uso
dela como forma de estimular suas sessões de masturbação.
Quando começou a se relacionar com algumas moças, seu
comportamento era de avançar o sinal com elas. Ele conta que não
chegou a fazer sexo com nenhuma delas, mas os encontros eram
recheados de caricias e contatos maliciosos. Aos 18 anos, já na-
morando com sua atual esposa, ele teve sua primeira experiência
sexual fora de uma aliança de casamento, repetindo o que havia
acontecido com seu pai e sua mãe.
Poucos meses depois, ele começou a se relacionar sexual-
mente com outras mulheres. Todas com a consumação sexual,
as carícias para ele eram coisa do passado. Ele não contou a nin-
guém e pouco tempo depois, vivendo este cenário, foi consagrado
42 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

a evangelista e estava se preparando para ingressar na faculdade


de teologia. Ele passou a ter uma vida dupla.
Antes de casar, ele já estava totalmente envolvido com esta
vida de infidelidade à sua noiva. Aos 20 anos, quando foi realizar
uma entrevista de emprego em outra cidade, conheceu um bor-
del e pela primeira vez se deitou com uma prostituta. Dentro da
empresa de viagem em que trabalhava, se envolveu com várias
mulheres, sem consumar relação sexual, mas confessa que chegou
a viajar 1.500 km para encontrar uma passageira que havia conhe-
cido no terminal de embarque da empresa.
Aos 23 anos ele conseguiu iniciar a faculdade de teologia.
Havia marcado o casamento para o ano seguinte. Estava sozinho
na cidade grande por um ano. Ele mantinha sua vida dupla e acre-
ditava que quando casasse isso seria resolvido. Durante o primei-
ro ano da faculdade, conheceu várias mulheres e se envolveu com
algumas sexualmente. A masturbação e pornografia faziam parte
de seu dia a dia. Leandro tinha um segredo, o qual se esforçava
para manter oculto.
Quando finalmente casou-se, no processo de mudança para
uma casa com sua esposa, ela descobriu algumas cartas da jovem
que ele havia conhecido na rodoviária. Foi uma grande decepção
para ela, eles estavam casados havia apenas duas semanas e veio à
tona um grande baque. Ali ele teve oportunidade de abrir seu pas-
sado e procurar ajuda. Mas ele confessou apenas esta traição. Sua
vida dupla continuou em segredo e ele não foi honesto com ela.
Com a mentira, ele não procurou ajuda e continuou com a
vida dupla. Foram vários adultérios durante o tempo na faculda-
de teológica. Ele procurava em sites de encontro parceiras para o
sexo casual. Foram muitas durante os 3 primeiros anos de casa-
mento e fase final da faculdade. A poucos meses de sua consagra-
ção a pastor, mais um adultério dele foi descoberto. Mais uma vez
perdoado, ele não abriu o seu passado e não procurou ajuda.
Com a nomeação como pastor ao final da faculdade, ele acre-
ditava que agora estava livre e que podia seguir em frente. Logo
Capítulo 1 – Os Cativos • 43

foi nomeado para sua primeira igreja. Procurou fazer tudo correto
nos primeiros meses, se esforçava para fazer um bom trabalho.
Ele se esforçou muito para não trair sua esposa, mas continuou
fazendo uso de pornografia constantemente. Para ele era um es-
cape, uma forma de não trair sua esposa com outras mulheres. Os
pensamentos e desejos carnais começaram a voltar e ficavam cada
vez mais fortes. Ele estava perdendo o controle novamente.
Não demorou para ele, sob o pretexto de evangelizar algu-
mas mulheres que havia conhecido, iniciar conversas por aplica-
tivos de mensagens. Porém as conversas se tornavam cada vez
mais provocantes. Sua esposa descobriu as conversas, uma após a
outra. Foram várias e ele sempre prometia parar. Até que ele con-
fessou ao seu pastor líder que o apoiou. O problema é que Lean-
dro não estava arrependido. Como era pego constantemente, se
desculpava, porém, sentia mais remorso do que arrependimento.
Após essa conversa ele foi advertido que não voltasse àque-
la vida, mas ele não teve nenhum acompanhamento. Nenhuma
orientação ou programa para seguir. Não demorou para nova-
mente iniciar uma conversa com outra mulher da cidade. Mas esta
mulher começou a ameaçá-lo e por fim mostrou para sua esposa o
que ele estava fazendo. Foi a gota d´água, ele abriu toda sua histó-
ria, contou tudo o que fez, mostrou seu descontrole e suas falhas.
Finalmente pediu ajuda. Foi disciplinado no ministério, está afas-
tado dos púlpitos e voltou para sua cidade natal. Ele perdeu quase
tudo, mas seu bispo e alguns amigos continuam acreditando em
sua recuperação. Sua esposa também novamente o perdoou e está
com ele nesta caminhada. Apesar de duramente ferida e também
precisando de ajuda e acompanhamento.
Ele começou a fazer cursos na área de libertação e sexua-
lidade, foi em um destes cursos, o SOS Sexualidade na base da
JOCUM de Almirante Tamandaré no Paraná que nos conhecemos.
Logo fizemos amizade e até hoje eu o acompanho em nosso pro-
grama de recuperação. Ele está sem recaídas e está muito bem, se
sente recuperado e aos poucos está voltando ao ministério. Ele
44 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

escolheu permanecer no programa para jamais voltar para o lu-


gar de onde saiu. Presta contas e vive o princípio de andar na
luz. Recebeu o convite para liderar o ministério de jovens de uma
igreja e está sendo acompanhado pela liderança, está muito feliz e
finalmente experimentando de uma liberdade há muito desejada.
Sua primeira filha está prestes a nascer e está vivendo um renovo
em seu casamento.
Seu devocional com Deus está excelente, sua rotina de ora-
ção e comunhão com o Espirito Santo estão cada vez mais pro-
fundas. Deus está restaurando seu coração e no devido tempo ele
estará pronto para ser reestabelecido à sua função. Só que agora
sem vida dupla e sem mentiras e dissimulação. Ele sabe qual é seu
ponto fraco, ele sabe o que precisa fazer e do que ficar bem longe.
Espero de todo o coração que ele tenha aprendido a lição.
Há muitas outras histórias por aí. Nosso objetivo não é cho-
car ou ficar ganhando créditos em cima das histórias das pessoas.
O foco é mostrar que por trás da perversão e do cativeiro há uma
história de vida cheia de abusos e mentiras. A construção de um
vício precisa ser entendida através da história de vida daquela
pessoa. Normalmente pessoas com compulsões sexuais são julga-
das e discriminadas sem que antes compreendam como e porque
se tornaram assim. Como corpo de Cristo, precisamos compreen-
der a disfunção e a distorção, ajudando o compulsivo na descons-
trução de sua prisão.
Não quero colocá-los apenas como vítimas, pois nossas es-
colhas erradas diante do que aconteceu conosco nos colocou no
cativeiro. É hora de ver as histórias por trás dos rostos e ajudar
essas pessoas a sair de seus cativeiros e as próximas gerações a
não entrarem num abismo pior do que experimentamos.
É preciso criar um ambiente para que as pessoas confessem
seus pecados sem se sentirem condenadas. Eu fiquei 8 anos dentro
da igreja e não tinha coragem de me abrir e pedir ajuda. Estava
agonizando, mas as poucas pessoas que eu vi fazerem isso foram
escorraçadas de dentro da igreja. Há muito mais interesse em pu-
Capítulo 1 – Os Cativos • 45

nir, julgar e condenar do que ajudar e caminhar lado a lado. Para


a grande maioria, largar o vício é um processo, vai levar tempo e
exigir dedicação e discipulado. Muitos dos que condenam mais
ferozmente essas pessoas, estão cometendo as mesmas coisas e,
temendo serem descobertas, afastam essas pessoas ao invés de
ajudá-las. Romanos 2.1 diz: “Portanto, você, que julga os outros é in-
desculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto
que você, que julga, pratica as mesmas coisas”.
O corpo de Cristo precisa contribuir para que essa insani-
dade seja cessada. Basta que cada um abandone as críticas e jul-
gamentos, procure ajudar os cativos, caminhando lado a lado,
ajudando-os a saírem do cativeiro, como Jesus faz com cada um
de nós. Eu acredito na igreja de nossa nação como resposta para
o fim das mentiras que estão sendo disseminadas na sociedade.
Basta nos levantarmos e falarmos a verdade que liberta sobre o
sexo como Deus Planejou. Precisamos encarar que o problema da
imoralidade é algo que infelizmente tem infestado nossas famí-
lias, igrejas e púlpitos.
Enquanto não tratarmos situações de compulsão sexual
como um real desafio da igreja, jogando para debaixo do tapete
ou simplesmente excluindo pessoas com esse tipo de problema
do nosso meio sem ajudá-las na sua libertação, não estaremos
cumprindo a lei de Cristo, o que atrapalha nossa real comunhão
com Deus e traz juízo sobre a nação. Gálatas 6.1-2 diz: “Irmãos, se
alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais,
deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que
também não seja tentado. Levem os fardos pesados uns dos outros e, as-
sim, cumpram a lei de Cristo”.
Capítulo 2 – O Cativeiro
Neste capítulo e no próximo, pretendo abordar a dinâmica do vício
sexual: ciclo, cultura, comportamento e rituais, para que conse-
lheiros e/ou pessoas que estão lutando contra o vício sexual pos-
sam conhecer melhor a sua construção e o seu funcionamento. Es-
sas informações são imprescindíveis para que se inicie o processo
de recuperação com as bases corretas.
Compreender como funcionava toda a dinâmica do vício foi
importantíssimo para a retomada do controle da minha vida se-
xual. Muitos dos comportamentos são realizados quase que auto-
maticamente. Eu muitas vezes não compreendia como uma forte
excitação e desejo de fazer sexo me tomava “repentinamente”.
Em uma das edições do SOS Sexualidade, realizado na JO-
CUM – Jovens com uma Missão, organização missionária onde fui
ajudado e hoje sirvo como obreiro voluntário, pude ajudar a um
rapaz de 26 anos que estava fazendo um dos seminários conosco.
Ele estava fora de si e confessou que uma vontade terrível de fazer
sexo o tomou. Ele então baixou um aplicativo para sexo casual e
tentou encontrar alguém. Como já faz alguns anos que não sinto
isso, havia esquecido de como era a terrível sensação de perda
de controle.
A dependência sexual leva o dependente à perda do controle
de sua vontade chegando a um ponto de não conseguir mais con-
trolar seus impulsos e seus desejos sexuais. Esta perda é gradativa
à medida que ele mergulha na sua compulsão. Quanto mais ele
se entrega ao vício, menos controle ele terá do seu desejo sexual.
48 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

O Pastor Mark Laaser, autor do livro Curando as Feridas


do Vício Sexual, conta a história de outro pastor que é acompa-
nhado por ele. O homem lidera uma grande igreja em seu país,
onde é amado pelos membros e por sua família, no entanto, tem
uma vida dupla que o prende em uma grande vergonha. Muitas
vezes ele sente um impulso incontrolável de ir até um parque em
sua cidade, onde faz sexo com outros homens em rápidos encon-
tros, de no máximo 30 minutos. Na maioria das vezes, nenhuma
palavra é trocada. Depois, ele volta para seu gabinete se sentindo
vazio e desesperado, imaginando que a qualquer momento pode-
rá ser descoberto.1
Como Cristão, posso dizer que é desesperador ser viciado
em sexo. Tenho lidado com homens e mulheres nesta situação e o
que mais ouço é sobre o constrangimento e a vergonha de viver
este pecado. A saída que muitos procuram, inclusive foi o que eu
também fiz, é se esconder, manter oculto e tentar se livrar sozi-
nho, assim como fizeram Adão e Eva2 depois que comeram do
fruto proibido.
Há aqueles que desejam continuar neste pecado e para isso
precisam criar uma vida dupla no intuito de manter as pessoas
próximas o mais distante possível da verdade. Os dependentes
em sexo até se vangloriam desta sua habilidade em dissimular, e
o melhor disfarce geralmente é o uso da imagem de alguém acima
de qualquer suspeita. A aparência de religioso, casto e convicto
muitas vezes esconde as piores perversões sexuais. Uma hora isso
vem à tona como biblicamente já sabemos. Lucas 12.2 diz: “Não há
nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha
a ser conhecido”.
Aqueles que ainda não contabilizaram os prejuízos de uma
vida de imoralidade sexual, vão tentar manter as aparências. Mas
posso dizer claramente que a “conta do pecado” vai chegar e sa-
bemos qual é o preço que ele cobra. Romanos 6.23 diz: “Porque o

1
Laaser, Mark. Curando as Feridas do Vício Sexual. Editora Esperança. Página 23
2
Gênesis 2.6-8
Capítulo 2 – O Cativeiro • 49

salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna,


por Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Com o passar do tempo, a dependência sexual se torna
maior e mais evidente, ficando mais difícil de esconder. As histó-
rias inventadas se tornam cada vez mais mirabolantes, até mesmo
absurdas. Isso acontece porque mentira precisa ser lembrada, se-
não, aquele que a conta cai em contradição. Ouvi certa vez de um
dependente em recuperação a seguinte frase que confirma isso:
“Quem fala a verdade, não precisa lembrar...” No seu testemunho pes-
soal, expressou ser um grande alívio não precisar mais mentir.
Já ouvi de alguns que vieram se aconselhar comigo, a confis-
são de que sentem falta da vida dupla, mas entendem que devem
abandonar completamente a mentira para conseguirem entrar em
recuperação. Essas pessoas finalmente entenderam o que está em
I João 1.8-10: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos
a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de
toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de
Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
Uma pessoa que não é cristã, normalmente só vai procurar
ajuda quando estiver no fundo do poço, ou quando os prejuízos
estiverem acumulando. Fora isso, na cultura do mundo, não há
nada de errado em ter uma vida promíscua, o que é uma grande
mentira e muitos vão pagar com o fim de seus casamentos, ódio
dos filhos, perda do emprego, da saúde e, para um grande núme-
ro de pessoas, até mesmo da vida.
O filho pródigo3 se deu conta de que a vida com seu pai
era melhor do que aquela que ele vivia, mas precisou chegar ao
fundo do poço para perceber isso. Assim como na parábola do
filho pródigo, a vida de sexo irresponsável oferece no primeiro
momento uma euforia de prazeres e amizades, porém, em troca,
rouba tudo o que possuímos. Essa é a verdadeira face do pecado
sexual. O prazer momentâneo e passageiro é a distração dada por

3
Lucas 15.11-24
50 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

esse pecado fazendo-nos desviar os olhos de suas reais intenções,


que é tirar nossa riqueza, identidade de filho e nos jogar na lama,
entre porcos. Roubar-nos a vida.

2.1 OS NÍVEIS DO VÍCIO SEXUAL


Os olhos são a principal fonte que alimenta a cobiça, na
compulsão sexual não é diferente. Normalmente, no vício sexual,
perde-se o controle sobre os olhos que ficam cada vez mais insa-
ciáveis. Provérbios 27.20 confirma isso: “O Sheol e a Destruição são
insaciáveis, como insaciáveis são os olhos do homem”.
Os olhos do dependente sexual estão sempre “famintos” por
uma nova imagem, pessoa ou objeto para alimentar a sua cobiça.
A partir do momento em que o dependente encontra algo que o
estimule sexualmente, vai usar aquilo para impulsionar seus pen-
samentos e fantasias eróticas, o que só aumenta ainda mais sua
excitação e desejo sexual. Lembro-me de imaginar as mulheres
nuas enquanto eu conversava com elas. O nome para este com-
portamento está em 2 Pedro 2.14 que diz: ” Tendo os olhos cheios
de adultério, nunca param de pecar, iludem os instáveis e têm o coração
exercitado na ganância. Malditos!”.
É muito importante lembrar aqui que, aquele que vive pelo
que seus olhos cobiçam, acaba ficando sem eles. Sansão4 vivia em
função do que os seus olhos desejavam e acabou ficando cego e
morrendo com seus inimigos.
A fantasia começa a tomar conta da mente do compulsivo
sexual. No momento em que a fantasia está forte, a pessoa já está
fora de si e a excitação está no “controle” da situação. A mastur-
bação normalmente é o passo seguinte para aqueles que estão ini-
ciando neste vício. Este ciclo está presente no primeiro nível do
dependente sexual e JAMAIS VAI SACIAR a necessidade emocio-
nal e espiritual de sua alma.5

4
Juízes, capítulos 14 a 16
5
Laaser, Mark. Curando as Feridas do Vìcio Sexual. Editora Esperança. Página, página 36.
Capítulo 2 – O Cativeiro • 51

Figura 1 – Ciclo do 1º Nível do Vício Sexual

Aqueles que entram na primeira fase estão mergulhando em


um ambiente perigoso, sendo discipulados a entender que o sexo
é para a satisfação pessoal e não uma interação entre duas pes-
soas. Primeiro, se viciam em um sexo solitário e autossuficiente,
através da masturbação. Não são poucos os que depois avançam
para as relações virtuais e acabam chegando ao ponto de trocar as
relações naturais por essas.
Conheço homens casados que não se interessam mais por
sexo com suas esposas alegando que a masturbação e a porno-
grafia, ou ainda, o sexo virtual, sejam mais prazerosos para eles,
exatamente porque se habituaram ao prazer egoísta, que não o
conecta realmente a ninguém além de si mesmos.
Novamente, vemos a mentira do pecado sexual enganan-
do um grande número de pessoas e destruindo relacionamentos.
Jamais um prazer solitário poderá compensar a morte de um ca-
samento, podendo levar também à perda da família e a prejuízos
em várias outras áreas.
É um grande engano pensar que ao se casar aquele desejo
por se masturbar e ver pornografia vai passar. Eu casei e mesmo
assim continuei a me masturbar e ver pornografia compulsiva-
mente. Realmente oriento jovens a não entrarem neste engano.
52 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Entrar pode ser muito fácil, mas sair é extremamente difícil para
a grande maioria.
O vício em pornografia e masturbação pode trazer prejuízos
para ele nos seus relacionamentos. Se você conhece alguém que
está nesta fase comportamental, é melhor orientá-lo a procurar
ajuda (no lugar correto). Se não parar agora, o caminho de volta é
mais difícil.
Existem outros dois níveis do vício sexual. Além do primei-
ro explanado acima, os outros dois estão representados na figu-
ra abaixo:6

Figura 2 – Os três Níveis do Vício Sexual

Nosso cérebro funciona da mesma forma na dependência


sexual que noutros tipos de dependência. Ele libera neurotrans-
missores responsáveis por sensações de prazer, relaxamento e
outras boas sensações. O problema é que existe uma forma na-
tural para liberar estes neurotransmissores que é através de rela-
cionamentos saudáveis. Quando manipulamos a liberação destes
neurotransmissores, através de substâncias ou comportamentos,

6
Smith, Darv. Addiction Teaching. EACV. Escola de Aconselhamento ao Comportamento Vi-
ciado.
Capítulo 2 – O Cativeiro • 53

o cérebro libera esses neurotransmissores de forma não natural


e irregular.
Ao perceber isso, o próprio cérebro começa a se proteger,
fechando alguns dos canais de liberação dessas substâncias. Isso
fará com que a sensação de prazer a cada nova dose de sexo seja
menor. Infelizmente, com o passar do tempo o dependente vai
atrás de “uma dose maior”. É assim que começamos vendo por-
nografia mais “light” e podemos chegar a ver as mais pesadas e
bizarras. (Hardcore). Por isso uma pessoa pode começar usando
maconha e terminar na pedra de crack.

Cientistas estão percebendo agora que a exposição


contínua à pornografia causa no cérebro uma euforia artifi-
cial – algo que ele literalmente não pode suportar – e even-
tualmente o cérebro se exaure. O professor de anatomia e
fisiologia Gary Wilson observa que esse é o mesmo padrão
identificado quando há abuso de drogas: o cérebro fica des-
sensibilizado. Mais doses da droga ou drogas mais pesadas
são necessárias para atingir a mesma euforia, e a espiral
descendente começa. Wilson afirma que isso provoca mu-
danças significativas no cérebro – tanto para os viciados em
droga quanto para os usuários de pornografia.7

Figura 3 – Declínio do Êxtase de Prazer com um Vício

O Dr Darv Smith, médico psiquiatra cristão, mostrou em


uma de suas aulas na Escola de Aconselhamento ao Comporta-

7
Pr Nilberto Andrade Matos, missionário palestrante sobre Vícios
54 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mento Viciado desenvolvida por ele na Universidade das Nações,


os resultados de exames cerebrais feitos nos EUA de algumas pes-
soas com dependência química ou sexual. As imagens mostram
o que parecem ser buracos no cérebro, mas na verdade são áreas
inativas devido aos danos causados pelas substâncias e compor-
tamentos viciados. As imagens causaram um grande impacto em
mim e gostaria de compartilhar com você.
Primeiro vamos observar as fotos de um cérebro saudável:

Figura 4 – Imagens dos lados superior e inferior de um Cérebro Saudável

Agora vejamos a imagem de uma pessoa viciada em


­ ornografia:
p

Figura 5 – Imagens dos lados superior e inferior do Cérebro de um Viciado em Pornografia


Capítulo 2 – O Cativeiro • 55

Abaixo estão imagens de outros tipos de dependência:

Figura 6 – A esquerda, imagem superior do cérebro de um viciado em álcool e,


a direita, em heroína

Figura 7 – A direita, imagem superior do cérebro de um viciado em cocaína e,


à esquerda, em metanfetamina

Quanto maior o dano, mais a pessoa vai perdendo o con-


trole e a sanidade sobre sua vida. Dr Darv Smith explica que este
quadro é reversível em grande parte dos casos. Se a pessoa parar
de fazer uso do comportamento ou substância, o cérebro tem a
capacidade de se regenerar. Porém, dificilmente ele volta a estar
100% restaurado.
56 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

2.2 CULTURA DO VÍCIO SEXUAL


O vício sexual tem uma cultura, um estilo de vida próprio
para aqueles que vivem nele. É praticamente um estilo de vida à
parte que o dependente sexual vive. Deixar o vício sexual signi-
fica também abandonar toda a cultura que o alimenta e faz parte
deste estilo de vida. Para isso, é fundamental saber reconhecê-
-la, dar nomes e identificar cada componente dessa cultura. Os
­principais são:

• Vida Dupla - Faz parte da cultura do vício a mentira, a


dissimulação, o escondido, oculto entre outros. Esconder a
perversão muitas vezes dá um clímax de excitação para o
dependente sexual.
• Personagens - São necessários personagens para viver o ví-
cio. Eu mesmo vivia papéis diferentes dentro de casa, na
igreja, no trabalho e na vida noturna. Conheci pessoas que
criavam nomes fictícios, contas falsas em redes sociais, ves-
tiam fantasias, usavam roupas específicas, etc.
• Lugares - Existem lugares pré-determinados para os depen-
dentes sexuais. O Voyeur vai a lugares específicos, os pra-
ticantes de frotteurismo vão a lugares lotados em horário
de pico por exemplo. Mas há também os lugares virtuais
(chats, salas de bate papo, aplicativos, sites de vídeos por-
nográficos, entre outros).
• Pessoas – Sempre há pessoas que fazem parte de sua cul-
tura. Pode ser pessoas a quem não somos capazes de dizer
não quando nos propõem sexo, ou amigos que sempre estão
à disposição de nos acompanhar e empurrar para a prática
do sexo.
• Objetos – celular, revistas, computadores, vibradores, tele-
visão entre outros. São objetos que fazemos uso para ver
ou praticar o sexo. Um amigo meu confessou que não dava
conta de ter watstapp e celular com acesso à internet. Suas
Capítulo 2 – O Cativeiro • 57

recaídas sempre eram através do aplicativo e do uso do ce-


lular com internet. Eu mesmo fiquei alguns anos sem celular
com acesso a internet porque eu não dava conta.
• Comportamentos – Alguns hábitos realmente nos colo-
cam à beira do precipício. Acessar a internet sozinho, ir ao
shopping ou cinema sem companhia de pessoas realmente
interessadas em nossa recuperação. Conheci um rapaz que
não podia frequentar banheiros públicos sem procurar al-
guém para fazer sexo. Outro amigo gostava de jogar vôlei
de praia, mas todas as vezes que fazia isso se sentia excita-
do pelos homens que estavam lá e se alguém correspondia
aos olhares ele iria para um lugar fazer sexo com aquele ho-
mem. Sua decisão ao entrar em recuperação foi deixar de
jogar vôlei na praia e substituiu por tênis.
• Fantasia – Os dependentes têm incontáveis memórias e
fantasias adquiridas durante toda exposição que se lança-
ram na construção desta compulsão. Para interromper a
fantasia, é fundamental descobrir o motivo de a usarmos.
Segundo o Pastor Mark Laaser, as fantasias são sintomas da
condição emocional e espiritual do dependente. Este faz uso
das suas memórias quando está cansado, frustrado, ansioso
entre outras situações. Neste caso, a fantasia toma conta de
seus pensamentos, o anestesiando e o fazendo fugir da dor
e das pressões da vida.

Existem tipos de pessoas que nos atraem mais, mesmo que


em determinadas situações o dependente tope qualquer oportuni-
dade de tomar a próxima dose. Eu ia visitar amigos em um bairro
chamado Guamá. Todas as vezes que eu queria sair da rotina eu
me dirigia para lá. Eu realmente assumia um outro personagem
quando estava naquele local. Começava com as bebidas, em se-
guida as meninas chegavam. O clima esquentava e tudo podia
rolar. Se não conseguisse resolver ali com as garotas do bairro,
decidia ir a boates ou a casas de prostituição com os colegas.
58 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Esta cultura do vício impregna em nosso estilo de vida. Ela


faz parte do êxtase e de toda a dinâmica desta dependência. Em
meu processo de recuperação, foi fundamental dar nome a todo
comportamento, situação ou objeto que fazia parte da cultura de
vício que estava impregnada em mim. Feito isto, o próximo passo
foi ficar bem longe de tudo o que dizia respeito a essa cultura,
pois eu não dava conta de dizer não no início, então precisava me
proteger dela.
Gosto de utilizar uma imagem de uma pessoa a beira de um
precipício para ilustrar o que a cultura do vício representa para
o dependente sexual. Qualquer coisa que aconteça, ela está a um
passo de ter uma recaída e tomar a próxima “dose” de sexo. Mui-
tos destes comportamentos são automáticos e só depois de meu
processo de recuperação que pude prestar bastante atenção em
como eu me sabotava.

Figura 8 – À Beira do Precipício

Aqueles que vivem no “limite” do precipício, já estão re-


caídos. Basta vir a próxima crise ou “tempestade” em suas vidas
para que mergulhem fundo novamente no vício.
Capítulo 2 – O Cativeiro • 59

Somente quando pude compreender cada um destes com-


portamentos da cultura do vício, foi mais fácil abandoná-los. Ficar
longe deste estilo de vida significa ter uma vida longe do abismo.
Se algo der errado, aquilo que era usado para dar vazão ao vício
não está mais tão fácil de conseguir e vai ser mais difícil ter uma
recaída. Temos tempo de ligar para alguém pedindo ajuda ou do-
brar nosso joelho e pedir graça a Deus.
Um dos exemplos mais clássicos que conheci para ilustrar
o ensino, é de um homem que vou chamar aqui de Ronaldo. Ele
criou um personagem para viver sua cultura do vício. Esse perso-
nagem se chamava Felipe, para quem ele criou e-mail, facebook,
twitter etc. Ele é casado e procurava viver naturalmente como Ro-
naldo durante o dia e em frente aos seus conhecidos. Assim que
ele entrava em seu ciclo do vício, porém, assumia a identidade de
Felipe e, de um homem sensato e tranquilo como Ronaldo, tor-
nava-se extrovertido, libertino que gostava de encontros casuais
marcados pela Internet.
Como ele viajava bastante, era muito mais fácil trazer o Fe-
lipe para seus jogos sexuais. Quando o conheci, ele estava havia
um ano em recuperação. Ele chegou a falar que sentia falta do
Felipe, mas que ele precisava matá-lo e nunca mais trazê-lo à tona.
Ele precisou se livrar do Felipe e de toda a cultura do vício para
conseguir entrar em recuperação e sobriedade.

2.3 O CICLO DO VÍCIO


Existe um ciclo que todo dependente sexual utiliza para dar
vazão a seu desejo. Quando fui confrontado pelo Dr Darv em sua
aula durante a escola de comportamento viciado, vi realmente que
fazia muito sentido tudo aquilo. Ele mostrou que em Tg 1.14-15,
Deus nos ensina sobre o ciclo do vício: “Cada um, porém, é tentado
pela própria cobiça, sendo por este arrastado e seduzido. Então a cobiça,
tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado,
gera a morte.”
60 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

3. Ação compulsiva
Dá a luz o pecado

2. Ritual 4. Desespero
A concupiscência é O pecado consumado
concebida gera a morte

1. Preocupação
Cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência

Figura 9 – O Ciclo do Vício

O GATILHO
O processo é disparado pelo que eu chamo de gatilho. Algu-
ma cena, situação, pessoa, lugar ou emoção vai disparar o proces-
so do ciclo do vício. Quando eu ficava ansioso, irritado, frustrado
ou quando via alguma pessoa e imagem que me excitava, ficava
engatilhado. Normalmente o gatilho é emocional e o dependente
tenta “medicar” aquele sentimento com o sexo. É fundamental sa-
ber lidar com as emoções; quando tentamos fugir delas ou não sa-
bemos processá-las, viveremos verdadeiras “tempestades” dentro
de nós e o escape usado por muitos acaba sendo o sexo.
A partir do momento em que o gatilho é disparado, o com-
portamento do dependente sexual fica totalmente voltado para o
ciclo que o livro de Tiago descreve com tanta sabedoria.

A PRIMEIRA FASE É A PREPARAÇÃO


“Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça...”
A primeira fase é a preocupação que leva à preparação. O
dependente começa a sentir o desejo de dar vazão ao seu impulso
sexual. Seus pensamentos e comportamentos passam a ser “des-
governados” pela cobiça. A fantasia começa a preencher sua men-
te e a excitação fica muito forte. Ele começa a planejar uma forma
de ir para o local onde vai tomar sua próxima dose. Inventa histó-
rias em sua mente para contar às pessoas, cria personagens e tudo
Capítulo 2 – O Cativeiro • 61

o que ele se preocupa neste momento é em Como, Onde, e Com


Quem irá dar vazão àquele impulso.
A mente está repleta de pensamentos sobre sexo, os pensa-
mentos são tomados por ideias e planos visando organizar uma
forma de conseguir dar vazão àquele impulso. O corpo está em
estado elevado de excitação. A sensação muitas vezes é de que va-
mos “explodir” se aquilo não parar. A excitação é tão grande que
realmente ficamos sem controle.
Um Voyeur vai se preocupar em ir para um local onde pos-
sa olhar para pessoas com corpo exposto. Provadores de roupa
feminina, academias de ginástica, piscinas, praias etc. Um prati-
cante do Frotteurismo, vai se programar para ir a um metrô, trem
ou ônibus em horário de pico. Vai procurar uma lotação para ser
mais fácil usar de liberdades indecentes com as pessoas. Um es-
tuprador pode planejar ir a uma rua para atacar uma pessoa des-
protegida. Estes são apenas alguns exemplos do que pode ocorrer
na primeira fase do ciclo.

A SEGUNDA FASE É O RITUAL:


“...sendo por esta arrastado e seduzido”.
Quando o dependente tem em mente o que vai fazer, co-
meça a fase do ritual. Ele fala com as pessoas que precisa manter
afastadas (normalmente a família), conta as mentiras que decidiu
contar, faz as ligações que decidiu fazer, baixa aplicativos, se di-
rige para o local onde imaginou ser possível fazer sexo e fica à
espreita de sua vítima.
Existem rituais que duram anos como os de um pedófilo.
Assisti as aulas da Sargento Tânia Guerreiro que é especialista no
combate à pedofilia no Brasil. Ela compartilhou esta informação.
Existem rituais que são mais rápidos como as de um homem vi-
ciado em pornografia, dissimulando para ficar sozinho. Há vários
tipos e cada tipo de dependência demanda uma preparação e exe-
cução diferentes.
62 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Ritual é quando se coloca em prática o plano. Tanto na pre-


paração quanto no ritual ainda dá tempo de voltar. Pode-se retor-
nar sem consumar o fato, principalmente se a pessoa está afastada
da cultura do vício, pois não estando à beira do precipício, lhe
ocorrem breves momentos de sanidade que podem ser usados
para pedir ajuda ou realmente clamar a Deus.
Durante a fase do ritual, a execução do que foi preparado é
a maior preocupação do dependente sexual. Os personagens en-
tram em ação, é como se outra pessoa estivesse em nosso lugar.
Os objetos da cultura entram em cena as pessoas são acionadas e
a próxima recaída está muito perto de ocorrer.

A TERCEIRA FASE É A CONSUMAÇÃO DO ATO


“Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado...”
A partir daqui já é muito mais difícil voltar. O Ato está con-
sumado e infelizmente o dependente fez novamente uso do sexo
para compensar muitas vezes um déficit emocional. Mais um abu-
so foi consumado, mais alguém foi usado como escada de satisfa-
ção do outro.
Nesta fase, normalmente o compulsivo está sob o controle
de sua excitação. Ela em muitos casos é tão grande que chegado
este momento, nosso pensamento é tomado por um profundo de-
sejo de “aliviar” aquela cobiça. A outra pessoa é um mero objeto
sexual, estamos pensando em nós, em como experimentar aquela
migalha de prazer.

A QUARTA E ÚLTIMA FASE É O DESESPERO


“...e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte”.
Após ter cometido o ato, um vazio enorme se instala e um
verdadeiro desespero toma conta daqueles que realmente preten-
dem sair desse vício. Mais um fracasso aconteceu, mais uma recaí-
da e aquele rápido e momentâneo prazer sentido pelo sexo que foi
Capítulo 2 – O Cativeiro • 63

praticado já não está mais lá. Uma culpa terrível se instala e o peso
é absurdo sobre a consciência. Mais uma batalha perdida e uma
grande preocupação com o que fazer depois disso toma conta do
pensamento do compulsivo sexual.
Ninguém vai saber disso dizemos, não posso contar para
ninguém. Foi só dessa vez muitos falam. Um profundo desejo de
esconder toma conta do dependente. Uma vergonha atormenta
nossa mente e um desânimo muitas vezes abate. Como na maioria
dos casos trata-se de uma vida dupla, não temos coragem de abrir
esse fracasso.
Essa é a melhor hora para oferecer ajuda a alguém com este
problema. Ter alguém para ajudar no processo é um grande alívio.
O Coração do compulsivo nesta hora está vulnerável para que o
evangelho seja ministrado. O fardo sobre os ombros é terrível e
compreender a mensagem da Cruz vai ajudar muito.
Mas a realidade é que muitos não procuram ajuda, man-
tém seu pecado escondido e o peso é insuportável para carregar
sozinho. Para aliviar esta dor, muitos ficam engatilhados e vão
procurar a próxima dose, voltando à fase da preocupação e pre-
paração. O Ciclo tem novo início, tudo começa de novo e a pessoa
fica presa neste ciclo até que peça ajuda e se sujeite ao tratamento.
Tenho um amigo que aconselho que tem o habito de usar
aplicativos na internet para encontros casuais. Ele se sente pés-
simo quando tem uma recaída. Já conseguiu ficar 21 dias sem re-
caída, mas, infelizmente, ainda não se firmou a ponto de dar a
resposta certa para o problema. Ele tem sido resistente em seguir
a dieta de recuperação que combinamos juntos, mas tenho visto
uma boa progressão para ele. Para quem não conseguia se contro-
lar um único dia e chegou a fazê-lo por 3 semanas, com certeza
conseguirá se ver livre desta compulsão.
Vou continuar caminhando com ele e ajudando a sair dessa
prisão. O que me chama a atenção e me faz lembrar quando isso
ocorria comigo, é que ele fica fora de si quando está engatilhado.
Ele me liga pedindo ajuda e comenta que a excitação é enorme.
64 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Resistir àquilo é uma luta dura e difícil, quase insuportável. Sei


como é isso e posso garantir que é uma prisão horrível de s­ uportar.

2.3 TIPOS DE DEPENDÊNCIA SEXUAL


A definição de vicio sexual não depende do número de par-
ceiros, mas do motivo pelo qual os dependentes colocam em prá-
tica o comportamento sexual e se conseguem, ou não, interromper
esta prática. Usar o sexo para fugir de sentimentos e emoções, sem
que ele seja uma expressão de intimidade entre um casal, certa-
mente vai colocar o usuário em uma condição de compulsão.8
Isso significa que, mesmo que a pessoa seja casada e prati-
que sexo apenas com a sua esposa, se a sua motivação para o sexo
for equivocada, ele pode ser um compulsivo sexual. Eu era um
desses, cheguei a procurar minha esposa seis vezes em um dia e
muitas vezes mais de uma vez. Eu não dava a ela um tempo de
qualidade ou de intimidade, só desejava estar com ela para o sexo.
Entrar no primeiro nível sexual é um perigo, mas como o
sexo jamais pode saciar nossa sede emocional e espiritual, as doses
vão crescer e a compulsão leva muitos a práticas bizarras. Abaixo
vou descrever algumas. Normalmente se começa com algo bem
básico, mas muitos ultrapassam limites cada vez maiores, cons-
truindo hábitos sexuais muitas vezes doentios. Segue a lista com
várias perversões sexuais. 9

• Sexo Consensual - Busca de parceiros sexuais para satisfa-


ção pessoal. A motivação é o sexo e o prazer que pode ter
através deste contato. A outra pessoa é apenas um trampo-
lim para chegar o prazer sexual; A pessoa dificilmente vai
desenvolver maturidade para viver um relacionamento du-

8
Laaser, Mark. Curando as Feridas do Vício Sexual. Pág 38. Editora Esperança.
9
Dra Alice Koch e Dra Dayane da Rosa. https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/per-
versoes-sexuais-ou-parafilias e https://psicologosbrasil.wordpress.com/2012/11/30/per-
versao-sexual/
Capítulo 2 – O Cativeiro • 65

radouro e vai expor e estar exposta a uma série de doenças


sexualmente transmissíveis.
• Frotteurismo - É a atitude de um homem que para obter
prazer sexual, necessita tocar e esfregar seu pênis em outra
pessoa, completamente vestida, sem o consentimento dela,
excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso ocorre
mais comumente em locais onde há grande concentração de
pessoas, como metrôs, ônibus e outros meios de locomoção
públicos.
• Coprofilia - Também chamada coprolagnia, identifica a ex-
citação erótica motivada pelo cheiro ou contato com fezes.
• Urofilia - Também chamada urolagnia, é a variante da co-
profilia em relação à urina.
• Ninfomania - É a paixão intensa, de caráter mórbido. A mu-
lher não se satisfaz sexualmente com um só parceiro. Chega
até a sangrar os órgãos genitais, e não encontra o prazer sa-
tisfatório final.
• Necrofilia - É a compulsão de ter relações sexuais com ca-
dáveres devido a uma atração irresistível, principalmente
com mulheres recentemente sepultadas, não importando a
idade. Não conseguem resistir a tão asqueroso impulso.
• Exibicionismo - É quando a pessoa mostra seus genitais a
uma pessoa estranha, em geral em local público e a reação
desta pessoa a quem pegou de surpresa lhe desperta exci-
tação e prazer sexual, mas geralmente não existe qualquer
tentativa de uma atividade sexual com o estranho. As pes-
soas que abaixam as calças em sinal de protesto ou ataque a
preceitos morais não são exibicionistas, pois não fazem isso
com finalidade sexual.
• Vouyerismo - É quando alguém precisa observar pessoas,
quando elas estão se despindo, nuas ou no ato sexual, para
obter excitação e prazer sexual.
66 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

• Fetichismo - É quando a preferência sexual da pessoa está


voltada para objetos, tais como calcinhas, sutiãs, luvas ou
sapatos, sendo que a pessoa utiliza tais objetos para se mas-
turbar ou exige que a parceira sempre use o objeto em ques-
tão durante o ato sexual, caso contrário não conseguirá se
excitar até o climax.
• Masoquismo e Sadismo Sexual - Existe masoquismo quan-
do a pessoa tem necessidade de ser submetida a sofrimento,
físico ou emocional, para obter prazer sexual e o sadismo
é quando a pessoa tem necessidade de infligir sofrimento
(físico ou emocional) a um outro e disso decorre excitação
e prazer sexual. O mais comum ao se pensar em sadomaso-
quismo é associar o sofrimento a agressões físicas e torturas,
mas o sofrimento psicológico também pode ser considerado
forma de sadomasoquismo e consiste na humilhação que se
pode sentir ou impor.
• Hipoxfilia - Esta palavra significa literalmente “atração por
teor reduzido de oxigênio”. Esse tipo de perversão consis-
te em tentar intensificar o estímulo sexual pela privação
de oxigênio, seja através da utilização de um saco plástico
amarrado sobre a cabeça ou de alguma técnica de estrangu-
lamento.
• Pedofilia - Envolve pensamentos e fantasias eróticas repeti-
tivas ou atividade sexual com crianças menores de 13 anos
de idade. Está muito comumente associado a casos de inces-
to, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia envolve pessoas
da mesma família (pais/padrastos com os filhos e filhas).
Em geral o ato pedofílico consiste em toques, carícias geni-
tais e sexo oral, sendo a penetração menos comum. Hoje em
dia, com a expansão da internet, fotos de crianças têm sido
divulgadas na rede, sendo que olhar essas fotos, de forma
frequente e repetida, com finalidade de se excitar e mastur-
bar-se consiste em pedofilia (é crime).
Capítulo 2 – O Cativeiro • 67

• Fetichismo Trasvéstico - É caracterizado pela utilização de


roupas femininas por homens heterossexuais para se exci-
tarem, se masturbarem ou realizarem o ato sexual, sendo
que em situações não sexuais se vestem de forma normal.
Quando passam a se vestir como mulheres a maior parte do
tempo, pode haver um transtorno de gênero, tipo transe-
xualismo por baixo dessa atitude.
• Prostituição - Pratica sexual antiga. A pessoa paga pelo ser-
viço de outra para poder fazer uso de seu corpo. Geralmen-
te vazio de sentimentos e a finalidade apenas é chegar ao
orgasmo pagando por ele.
• Clismafilia - Refere-se à excitação erótica provocada pela
injeção de alguma substância no reto.
• Zoofilia - Também conhecida como bestialidade, é o sexo
feito com animais, que em alguns casos são até treinados
para isso.

Existem muitas outras práticas. Quando saímos daquilo que


foi programado por Deus, não praticamos o SEXO SEM CATIVEI-
RO, que é o sexo que Deus planejou, então não há limites para as
loucuras que o ser humano pode chegar. Já ouvi falar de pessoas
que faziam sexo com árvores, travesseiros, entre outras.
Um exemplo do que acabei de descrever, é a história de um
rapaz de apenas 21 anos, soropositivo, já usava fraldas geriátricas,
pois seu músculo do reto estava totalmente rompido. Um filho de
pastor de apenas 19 anos, também soropositivo, já havia praticado
todos os tipos de parafilia que descrevi acima. Buscar prazer fora
dos princípios de Deus vai gerar destruição e morte.
É preciso restaurar os alicerces da verdade de Deus sobre o
tema. Precisamos conhecer sobre o assunto a partir dos princípios
bíblicos e ensinar o povo e a sociedade sobre o que é correto na
questão sexual. Espero com este livro despertar uma geração de
líderes que vai compreender sobre o assunto e discipular esta na-
ção da forma adequada sobre este tema.
Capítulo 3 – O Comportamento
Viciado
Durante minha recuperação, particularmente encontrei pouca in-
formação sobre o tratamento de pessoas com compulsão na área
sexual. O material sobre dependentes químicos e alcoólicos sem-
pre foi mais abundante. Foi quando minha esposa não estava con-
seguindo sozinha vencer sua difícil tarefa de se recuperar de toda
as revelações que havia exposto a ela. Ela conhecia uma organi-
zação missionária desde sua adolescência e disse que estava indo
para lá buscar ajuda.
Essa organização, que hoje é um movimento mundial cha-
ma-se JOCUM – Jovens com uma missão, está presente em mais
de 170 países e são interdenominacionais e internacionais. Seu ob-
jetivo é equipar a igreja de cristo através de treinamentos em 08
áreas de influência da sociedade (Governo, Família, Igreja, Ciên-
cia e Tecnologia, Economia e Negócios, Educação, Comunicação e
Mídia e por fim Artes e Entretenimento). São cursos que eu nun-
ca tinha ouvido falar, mas eu estava disposto a tudo para manter
meu casamento e minha família. A minha experiência dentro da
JOCUM tem sido fantástica.
Disse então à minha esposa que não tinha ideia do que era
aquilo, mas deixei claro que iria para onde ela fosse com meus fi-
lhos. Quero deixar bem claro que ficar e lutar pelo meu casamento
e família foi fundamental no meu processo. Eu acredito que se
não tivesse tomado esta decisão, teria me afundado novamente no
vício e sinceramente nem sei se estaria vivo hoje.
70 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Eu e minha esposa deixamos nossa carreira profissional


e nos tornamos missionários em tempo integral. Começamos
a cursar a faculdade de Aconselhamento e Saúde, com foco na
área de FAMÍLIA, da University of the Nations (Universidade
das Nações), que tem sua sede na cidade de Kona, no Hawai e
pertence a JOCUM – Jovens com Uma Missão. A Jocum oferece
programas de treinamento em mais de 650 localidades diferentes
espalhadas por 180 países em 100 idiomas diferentes através des-
sa ­universidade global.
Eu e minha esposa estamos fazendo esta Faculdade no Bra-
sil e pretendemos fazer alguns de seus módulos em Worcester,
na África do Sul. Nosso objetivo é obtermos o máximo de conhe-
cimento sobre restauração familiar e nos capacitarmos a ajudar
homens e mulheres que vivem com dificuldades nesta área, prin-
cipalmente aqueles presos no vício e na compulsão sexual.
Todas as escolas foram importantes para mim, mas quero
neste capítulo abordar o que aprendi na EACV – Escola de Acon-
selhamento ao Comportamento Viciado, uma escola criada pelo
Dr Darv Smith e sua esposa Carol. Ele dedicou sua vida ao estudo
dos vícios e já soma mais de 50 anos de experiência dedicados a
esta especialidade. Os conceitos foram importantíssimos para que
eu me conhecesse e percebesse como essa compulsão foi construí-
da em minha vida. Passei a me conhecer melhor e todas as vezes
que tento me sabotar ou qualquer ritual começa a se desenvolver
eu já consigo parar antes que ele vá adiante.
Ao longo dos 50 anos de trabalho, o Dr Smith pôde mapear
algumas características comuns aos dependentes das mais diver-
sas áreas. Pretendo compartilhar o que aprendi nesse tempo, para
uma melhor compreensão dos vícios e da construção deles na
vida das pessoas. Aqui vou abordar apenas alguns conselhos im-
portantes sobre vício e na medida do possível, vou direcioná-los
para a área sexual. A escola é bastante abrangente e indico para
aqueles que pretendem trabalhar com aconselhamento na área de
vícios, com base em preceitos cristãos.
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 71

3.1 O QUE É VÍCIO?


Segundo o Dr Darv Smith, a definição básica para vícios é:
“Qualquer uso habitual ou compulsivo de uma substância ou comporta-
mento que resulte em problemas para a vida de alguém”.
A definição histórica para vício na Bíblia está em Provérbios
23.29-35 que diz: “De quem são os ais? De quem as tristezas? E as
brigas, de quem são? E os ferimentos desnecessários? De quem são os
olhos vermelhos? Dos que se demoram bebendo vinho, dos que andam
à procura de bebida misturada. Não se deixe atrair pelo vinho quando
está vermelho, quando cintila no copo e escorre suavemente! No fim, ele
morde como serpente e envenena como víbora. Seus olhos verão coisas es-
tranhas, e sua mente imaginará coisas distorcidas. Você será como quem
dorme no meio do mar, como quem se deita no alto das cordas do mastro.
E dirá: “Espancaram-me, mas eu nada senti! Bateram em mim, mas nem
percebi! Quando acordarei para que possa beber mais uma vez?”
Os versículos começam com as motivações de muitos alcoó-
licos; bebem para esquecer as dores, tristezas, brigas familiares.
Acabam gerando mais ferimentos desnecessários. Os ais, as dores,
as discussões pertencem àqueles que se demoram bebendo vinho.
Em seguida, os versículos mostram a armadilha e o engano sedu-
tor da bebida, uma falsa alegria que esconde um poço sem fim.
Depois vem as consequências para aqueles que se entregam ao ví-
cio, as alucinações e confusões causadas na mente do dependente,
enjoo, ressaca, dores de cabeça e muitos outros efeitos colaterais.
Por fim haverá a negação dos fatos, dos erros e do próprio vício,
fazendo com que o dependente volte para mergulhar novamente
em sua fuga.
Apesar de os versículos estarem falando do vício em álcool,
podemos aplicar os elementos a qualquer outro tipo de compul-
são. Quando olhamos para as motivações e consequências, prati-
camente o cenário se repete.
72 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

3.2 A ÁRVORE DOS VÍCIOS


Durante sua extensa pesquisa ao longo dos anos, o Doutor
Darv criou algo que me ajudou muito a compreender a construção
de minha dependência e serviu como um grande indicativo do
que eu haveria de fazer para desconstruir mentiras que ficaram
enraizadas em meu passado e que ainda carregava como pendên-
cias não resolvidas. Ele construiu a árvore dos vícios.

Figura 10 – A Árvore dos Vícios

Ao longo do tempo, após o tratamento de milhares de pes-


soas, ele pode perceber que suas histórias tinham várias caracte-
rísticas em comum. O foco era combater o vício, mas com o tempo
percebeu-se que o comportamento viciado era apenas o resultado
de uma série de outros fatores, que ao longo do tempo ele pôde
compreender melhor ao montar a árvore dos vícios. Era como se
os vícios fossem apenas os frutos de algo mais profundo e enrai-
zado na vida das pessoas. Como naquele texto que fala dos frutos
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 73

da carne. Romanos 6.21 diz: “Que fruto colheram então das coisas das
quais agora vocês se envergonham? O fim delas é a morte!”
Independentemente do tipo de dependência ou poli depen-
dência que a pessoa enfrentava, ele percebeu que o solo e as raízes
dos vícios eram muito similares. A dinâmica familiar era algo ex-
tremamente importante na construção dos vícios. Não quero aqui
tirar a responsabilidade das pessoas, mas um ambiente familiar
de hematomas é altamente tóxico e produz muitos abusos que, se
não tratados e colocados no devido lugar, acompanharão a pessoa
por muitos e muitos anos.

3.3. O SOLO DOS VÍCIOS


Em sua figura, ele mostra que o SOLO onde a árvore dos
vícios está plantada é o solo dos abusos. Ele descreve 4 tipos de
abuso como os mais frequentes na vida das pessoas que buscaram
tratamento com ele. São eles:

• Abuso Emocional – Ameaças, insultos, constrangimento


em público, monitoramento constante, culpar a pessoa por
tudo o que ocorre, mensagens de texto excessivas, mensa-
gens negativas sobre a pessoa, bullying, humilhação, intimi-
dação, isolamento ou perseguição.
• Abuso Sexual – Ações que forcem, coajam ou intimidem a
pessoa a fazer sexo ou a liberdades indecentes sem o seu
consentimento. Incestos, toques de cunho sexual, estupro,
assédio ou palavras de cunho sexual, etc.
• Abuso Físico – Todo e qualquer tipo de agressão física com
contato no corpo ou através de atitudes de truculência. Ex:
Arrastar alguém, socar, puxar o cabelo, arremessar algo
contra a pessoa etc.
• Abuso Espiritual – São mensagens erradas sobre Deus, sexo,
casamento e assuntos importantes para a vida das pessoas.
74 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Ele comenta que cada tipo de abuso possui aspectos passi-


vos e ativos. Segundo ele, o aconselhamento deve ser direcionado
para ajudar as pessoas a tratar e superar seus traumas e abusos
em paralelo ao tratamento contra os vícios em si. O Dr Pat Car-
nes fez um estudo com 1.000 pessoas que apresentam compulsão
na área sexual e pode constatar que 81% sofreram abuso sexual,
71% sofreram abuso emocional e 91% sofreram abuso físico. Po-
demos ver como o abuso é parte da construção desta disfunção na
­sexualidade.
O problema é que em muitas casas de recuperação, o foco é
tratar o comportamento viciado sem resolver estes abusos e trau-
mas que ainda estão presentes na vida dos dependentes. Ouvi cer-
to dia de alguém a seguinte frase: Passado só é passado quando
resolvido. Caso contrário, ele ainda é presente. Tratar o compor-
tamento viciado sem um trabalho efetivo nas emoções do depen-
dente é algo que vai muitas vezes apenas enxugar gelo; vi pessoas
sendo internadas várias vezes sem um resultado efetivo. Bastava
sair da casa de recuperação e no primeiro conflito ele volta a fazer
uso da substância ou comportamento.
Durante a experiência prática em uma casa de recuperação,
pude ver que eles eram extremamente organizados e seu progra-
ma era excepcional. A casa era muito bonita e a equipe muito bem
preparada. Foi para nós uma experiência incrível, porém os re-
sultados não eram bons. Os índices de recuperação eram quase
zero. Apesar de toda aquela equipe se dedicar muito para que o
modelo fosse cumprido, mesmo assim o indicador de recuperação
era extremamente baixo.
Aquilo realmente me incomodava e no dia a dia pude per-
ceber que o programa era incompleto. Tratava apenas o compor-
tamento e não resolvia cativeiros emocionais que aquelas pessoas
enfrentavam. Muitos relatavam que era muito difícil encarar de
“cara limpa” a CULPA do que tinha feito, a VERGONHA dos pre-
juízos que haviam causado para a família e das coisas que fize-
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 75

ram. Alguns diziam que era muito difícil vencer o MEDO do que
podia acontecer com ele depois de ter feito tanta coisa errada.
As perdas eram enormes para aqueles homens e mulheres
e seus olhos demonstravam profunda tristeza, vergonha, culpa e
todo tipo de prisão emocional que um ser humano podia viver.
Vi que em seus olhos faltava esperança e muitos acreditavam que
para a vida deles não tinha mais nada que pudesse ser feito.
Um dia tive a oportunidade de ministrar para o grupo sobre
a árvore dos vícios. Falei do solo e das raízes, comentei sobre os
abusos e disse que precisavam ser resolvidos. Aqueles homens e
mulheres começaram a confessar coisas que aconteceram em seu
passado que nunca haviam falado para ninguém. Abusos terrí-
veis e as emoções que estavam escondidas surgiram naquele lu-
gar. Eles puderam ter contato com a dor e associar aos abusos e
abusadores. Raiva, ódio, choro e muita angustia começou a saltar
de todos os cantos. Toda a dor de anos de silêncio veio à tona
quando a mordaça da vergonha foi retirada pela exposição da-
queles ­traumas.
Eu orei muito a Deus para fazer aquela ministração. Foi di-
fícil, mas ele me deu muita graça. É muito importante trabalhar o
caráter e o comportamento dos dependentes, mas as emoções de-
les precisam ser liberadas. É nessa hora que Deus e a Cruz de Cris-
to entram como parte fundamental para a cura do dependente.
Um dos acolhidos havia saído o final de semana e voltado naquele
dia. Sua saída foi terrível, pois ele havia encontrado na panifica-
dora de sua cidade a família do homem que ele havia assassinado.
Encontrar aquela mulher e suas crianças fez ele ter contato
com uma culpa que estava amortecida pelo tempo e que ele não
podia carregar sozinho. Ficou desesperado e envergonhado, sen-
tiu muita vontade de beber e usar drogas para esquecer aquele
episódio. Ele correu para a casa dele e se escondeu em seu quarto,
ficou lá todo o período de sua saída. Quando passou o final de
semana, ele voltou para a casa de recuperação e havia acabado
de chegar quando iniciei a ministração. Ele era o mais exaltado a
76 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

cada palavra minha. Ele falou que era impossível alguém ser per-
doado pelo o que ele fez. Foi quando disse que ele poderia colocar
aquela culpa na Cruz de Cristo, ele ficou mais furioso, disse que
nem Deus podia perdoá-lo.
Foi quando me ajoelhei diante dele e contei minha miséria.
Contei meus piores pecados durante o vício sexual e disse que
Jesus havia me perdoado. Eu também carregava uma culpa enor-
me, eu não suportava aquele peso, mas em Cristo encontrei alívio
para esse fardo. Mostrei para ele que eu também não entendia
como Deus podia me perdoar, mas eu encontrei graça nEle e toda
aquela culpa que eu carregava pôde ser retirada de mim e lançada
na cruz. Ele não falou mais nada e começou a chorar.
A casa de recuperação me falou que ele pediu ajuda depois
da ministração e que entendeu que precisava tratar aquela cul-
pa. Ele já havia recebido Jesus e congregava em uma igreja, mas
jamais tinham trabalhado esta culpa e era lá que Jesus queria che-
gar. Só Jesus para trazer alívio e cura para as emoções daquele
homem. Ninguém é curado de um trauma se a dor gerada por
ele não for associada ao evento. Muitos passam por abusos tão
terríveis que acabam esquecendo de abusos sofridos através da
dissociação entre o trauma e a dor gerada. Mas a dor emocional
gerada por eles está lá dentro.
Muitos outros me procuraram naquele dia, entenderam que
era importante perdoar, liberar perdão, se apegar a Cristo e se-
guir suas vidas. Os testemunhos foram maravilhosos e agradeço a
Deus, pois foi ele quem fez tudo naquela tarde. Eu apenas obede-
ci. Se alguma coisa realmente mudou na vida daqueles homens,
foi porque Deus estava lá agindo diretamente no coração de cada
um. Eles puderam se render e buscar ajuda. A cada confissão, a
cada testemunho vi os olhos daqueles homens brilhar novamente
de esperança. Para mim foi uma experiência extraordinária.
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 77

3.4 AS RAÍZES DOS VÍCIOS


Segundo o Dr Darv Smith, médico missionário, as raízes
dos vícios são as emoções. Os abusos têm efeito devastador nas
emoções humanas, fazendo com que o que deveria ser benção
e abundância em nossas vidas, entre em processo de descon-
trole e desordem. As maiores prisões dos seres humanos, são
em suas emoções.
Emoção é uma experiência subjetiva, associada a tempera-
mento, motivação e personalidade. É a resposta instintiva que te-
mos quando passamos pelas diversas situações de vida. Sem as
emoções as pessoas não percebem significado nos acontecimen-
tos. Elas mexem com nossa temperatura, órgãos internos, bati-
mentos cardíacos, boca seca, falta de ar, dor no peito, entre outros
efeitos no corpo.
As principais Raízes do vício são:10

• Vergonha - Esta é a principal raiz de todos os vícios. Nós


temos um profundo senso de vergonha quando vivencia-
mos abuso (trauma) pelos cuidadores principais. “Vergonha
é uma porta de entrada de sentimentos de indignidade, de
derrota, de inferioridade e alienação. Nenhum outro sen-
timento afeta tão profundamente quanto a vergonha. Ne-
nhum afeta tanto a identidade. Vergonha é sentido como
uma tormenta interior, uma doença da alma. É a experiência
mais marcante do ser”. G. Kaufman
• Culpa - Um profundo senso de culpa muitas vezes resulta
de vivenciar abuso das pessoas que amamos. Muitas vezes
sentimos que somos os causadores do abuso. A culpa diz
“Eu causei o abuso. Se eu tivesse agido diferente isso não
teria acontecido”. Isso geralmente acontece no abuso sexual.

10
Dr Darv Smith. Em aula ministrada na Escola de Aconselhamento ao Comportamento Vicia-
do, em Jocum Almirante Tamandaré/PR, Brasil, abril a junho de 2015.
78 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

• Medo - Esta raiz resulta do sentimento de não ser protegido


por aqueles que sentimos que deveríamos confiar em nos
proteger. Também pode vir de um medo constante de ser
ferido de alguma forma, fisicamente, emocionalmente ou
espiritualmente. Este medo cresce e pode nos levar a ficar
sempre com medo de desaprovação, crítica e rejeição das
pessoas à nossa volta.
• Solidão - Esta raiz pode vir de nunca vivenciar “vínculos”
com os cuidadores como recém-nascido. Então a criança
tem dificuldade de desenvolver intimidade ou confiança
nos relacionamentos.
• Ira - Uma criança sente ira especialmente quando ela é abu-
sada continuamente. Em nossa cultura geralmente não é
apropriado para a criança expressar raiva. Portanto, apren-
demos maneiras muito elaboradas para se esconder, não
“ter” ou “ficar com raiva”. Isto pode também resultar em
muitos problemas físicos.
• Luto – Esta raiz é desencadeada pela perda ou ameaça de
perda de uma pessoa significativa em nossa vida como um
pai. Isso muitas vezes está associado com outras raízes como
ira, culpa e vergonha.
• Fatores Hereditários - Este é o maior fator que contribui
para a maioria dos vícios. Os mesmos vícios muitas vezes
são executados na família como “pecados dos pais” que
passam de geração em geração. Quando olhamos para o
GENOGRAMA11 da pessoa, vemos uma série de repetições
dos mesmos vícios e pecados.

11
Genograma uma representação gráfica das relações e da história médica e psicológica de
uma família, com foco em uma pessoa, diferindo de uma simples árvore genealógica, pois
permite a visualização de padrões hereditários e fatores psicológicos que pontuam as re-
lações. Também pode ser uma ferramenta para mapeamento espiritual de uma pessoa no
aconselhamento, permitindo verificar comportamentos que tem sido padrão em pelo menos
quatro gerações, seja de bênçãos ou iniquidades geracionais.
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 79

As emoções são benéficas e nos ajudam a nos conectar com


o mundo à nossa volta. Elas nos protegem, fazem parte da nature-
za humana e uma pessoa saudável emocionalmente é aquela que
sabe identificar seus sentimentos e sabe lidar com suas emoções
de forma equilibrada e tirando proveito do que cada uma pode
nos oferecer. Uma pessoa que sabe processar cada momento de
sua vida em sintonia com suas emoções vive uma vida plena e
abundante. A maneira como respondemos às nossas emoções re-
vela se possuímos ou não saúde emocional.
Uma pessoa que está com desordem em suas emoções, não
sabe dar respostas saudáveis às suas interações e relacionamentos.
Ela não estará no controle e sim suas emoções (ou seja, descontro-
le total). Pode viver um abismo de morte e ter comportamentos
destrutivos para si e para as pessoas com quem convive.
Os relacionamentos são a principal fonte para nutrir ou
desequilibrar as emoções. A maneira como nos relacionamos é a
forma como absorveremos os modelos e as respostas comporta-
mentais para lidar com nossas emoções. Quando temos relaciona-
mentos férteis e saudáveis, é mais fácil construir saúde emocional.
O contrário também é altamente nocivo e pode causar um caos
emocional na pessoa que não souber lidar com hematomas gera-
dos em relacionamentos desequilibrados e doentes.
O que posso declarar aqui é que, com base no que tenho
ouvido nas salas de aconselhamento, um pai e uma mãe podem
ter um efeito devastador na vida de um filho. Vi muitos absurdos
em cada uma das histórias que me dispus a ouvir e chorar junto
com as pessoas que as relataram. Mas posso afirmar que um pai e
uma mãe podem ser um vale fértil na vida de um filho. Mas inde-
pendente do que fizeram com você, há escolha. É possível ter uma
vida livre e curada se fizermos uso da Cruz de Cristo. Podemos
escolher viver sem amargura e ressentimento. O pastor Marco de
Souza Borges (Coty), costuma falar que Jesus garantiu para nós o
DIREITO À RENÚNCIA.
80 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A Cruz é tanto para abusadores quanto para vítimas. Há


lugar para todos que decidem se arrepender e perdoar. Livrar-se
de uma culpa terrível ou uma dor insuportável. A cruz é o lugar
de troca de fardos com Cristo. Infelizmente, aqueles que decidem
não fazer uso desta dádiva de Deus, vão carregar em seus cora-
ções as marcas do abandono, rejeição, culpa, abusos e tudo o mais.
Uma dor aguda precisa rapidamente ser medicada.
A Dor emocional é a pior dor que existe, mas infelizmente
ela fica anos latejando dentro de nós sem que tenhamos a coragem
de nos abrir com alguém, de nos expor e falar de vários abusos que
passamos ou causamos a alguém. Como o motivo que gerou a dor
não é tratado e resolvido, muitos tiram suas vidas, outros procuram
no sexo, drogas e bebidas alivio para essas dores. É comum a dor
estar dissociada do evento que a causou, muitos anos de silêncio
causam isso. O trauma causa a dor e o silêncio agrava essa dor.
O que tenho ouvido das pessoas é que seu ambiente fami-
liar não é um lar. Sentem-se órfãos de pais vivos. Ouvi certa vez
a pregação do pastor Josué Gonçalves que filho não é perdido na
rua, filhos são perdidos dentro de casa primeiro. Quando o lar não
é um lugar de aconchego, segurança e aceitação, tudo o que este
filho quer é sumir dali na primeira oportunidade. Grande parte
de nossos adolescentes são facilmente arrebatados pelas propos-
tas de morte que o mundo lhes oferece. As famílias de nossa na-
ção não têm produzido filhos, infelizmente tem produzido órfãos.
Nossas emoções podem se tornar verdadeiras prisões.
É logico que este não é único fator que leva as pessoas ao
vício, mas certamente é aquele que mais prende a pessoa no vício.
Ela quer medicar sua dor ou culpa com novas doses.
Outros fatores que contribuem para a construção do com-
portamento viciado são: a cultura familiar e da sociedade em que
o indivíduo está inserido, transtornos mentais, a herança genética
e a influência que sofremos do meio e das pessoas que nos cercam.
Conheci um baterista de renome que era integrante de uma
banda que fez sucesso no passado. Ele dizia que sua vida dentro
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 81

de casa era tão ruim que não via a hora de sair de casa. Seu pai já
havia abandonado a família e seu relacionamento com os demais
era ruim. Ele tinha um dom para tocar música, rapidamente apren-
deu a tocar baixo e bateria e era muito bom. Ainda com 14 anos
ele foi convidado para tocar em uma banda. Lá ele era elogiado
e se sentia importante para seus “novos amigos”. Em casa era só
grito e discussão, já haviam perdido o coração deste filho dentro
de casa e ele encontrou um “lar” e uma nova “família” fora.
Em uma festa após um show, o vocalista da banda lhe apre-
sentou a maconha. Ele disse que foi a melhor sensação da vida
dele até aquele momento. Em seguida trouxeram uma fã para fi-
car com ele. Depois disso ele não queria outra vida. Disse que eles
é que eram sua família e pediu que a mãe lhe desse o documen-
to de emancipação pois ele iria viajar com sua nova família. Um
novo mundo de drogas e sexo se abriu para ele, que já não queria
mais saber de nada. Só daquela vida. Ele não queria saber da fa-
mília. Hoje ele está livre das drogas e visita igrejas dando o seu
testemunho. Sua história ilustra como o coração de um órfão pode
ser facilmente arrebanhado pelos “pais” das ruas.

3.5 A SEIVA QUE ALIMENTA OS VÍCIOS


Toda árvore possui uma seiva que é fundamental para a so-
brevivência do vegetal. A seiva bruta é aquela que é formada a par-
tir da absorção da solução encontrada no solo. Ela passa por todo
o corpo do vegetal e vai até as folhas, que devolvem com a seiva
elaborada, carregada de nutrientes para todo o corpo da ­árvore.12
Quero fazer um paralelo aqui e dizer que a Seiva que ali-
menta a árvore dos vícios é a seiva da orfandade. Vi muitos que
são órfãos de pais vivos. Amargura, ressentimento, falta de per-
dão entre outras coisas é o que uma seiva de orfandade carrega
para as folhas.

12
http://www.todabiologia.com/botanica/seiva.htm
82 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Certa vez durante o banho tive uma impressão em meu co-


ração. Ouvi a seguinte frase que quero parafrasear aqui:
“Toda orfandade natural não resolvida, vai gerar uma pa-
ternidade espiritual maligna. Toda paternidade natural afirmada
e resolvida, vai gerar uma paternidade espiritual divina”.
O Brasil precisa de homens maduros de verdade, casados
com o compromisso de prover em suas famílias não apenas di-
nheiro, mas segurança, amor, limites e tudo o que sua esposa e
filhos precisam. O homem que é casado com seu prazer e que
abusa, abandona, rejeita, agride, que é irresponsável com os com-
promissos e com suas responsabilidades, é o grande causador de
orfandade nessa nação. Os homens têm amadurecido em média
com 54 anos, isso realmente é um absurdo.13
As famílias desta nação estão clamando por homens respon-
sáveis, que não vão abandonar suas famílias, que têm domínio pró-
prio e que exercem sua liberdade dizendo não ao seu mau desejo.
Um homem livre de verdade não é aquele que diz sim ao seu mal
desejo, mas aquele que consegue dizer não, demonstrando que não
é controlado pelos seus impulsos. A mídia neste país tem bradado
em alta voz que devemos ser livres e fazer o que quisermos. Quero
afirmar aqui que isso não é liberdade, é libertinagem e escravidão.
Relacionamentos rápidos e focados no prazer que podemos obter
dos outros, jamais vão saciar nossa real necessidade emocional e
espiritual, exigindo das pessoas cada vez mais doses de prazer ca-
sual, que vão custar, em muitos casos, nossas próprias vidas.
Hoje minha aliança é com Deus e com minha família, pois
sou compromissado com as necessidades daqueles que Deus colo-
cou sob minha responsabilidade. Amadureci tarde, mas fico feliz
que tenha dado tempo de voltar e salvar o que para mim é o mais
precioso: minha esposa e meus filhos. Eles vão crescer sabendo que
tem um pai aqui na terra e outro no céu. Que são amados e que ja-
mais vou rejeitá-los. Uma coisa eu luto todos os dias para que eles
não tenham dúvida. Que são amados e que são meus filhos.

13
Asim Shahmalak, da Crown Clinic. Promotora do estudo feito junto a mil homens ­britânicos.
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 83

3.6 OS FRUTOS
Gálatas 5.16-21 diz “Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de
modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é
contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão
em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que dese-
jam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei.
Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e
libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo,
dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu
os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não
herdarão o Reino de Deus”.
Os vícios são apenas os frutos da árvore, são a forma que
muitos escolheram para “medicar” sua dor emocional, compor-
tamento que os impede de caminhar a maturidade e viver o me-
lhor desta terra em seus relacionamentos. Tal escolha os mantém
aprisionados e cada vez mais dependentes da “próxima dose”.
Seja ela de sexo, drogas, álcool, comida ou demais tipos de depen-
dência. Compreender esta dinâmica é fundamental no apoio às
pessoas que sofrem com qualquer tipo de dependência. O solo e
as raízes precisam ser trabalhadas e as carências devem ser cura-
das, para que o dependente tenha maior sucesso em seu processo
de recuperação e emancipação.
O capítulo 2 do livro já abordou toda a dinâmica sobre o
cativeiro do comportamento viciado.

3.7 A FUGA OSCILANTE


Outro assunto importante que gostaria de destacar é
uma abordagem do pastor Marcos de Souza Borges em seu li-
vro a Dinâmica da Personalidade.14 O movimento se chama a
FUGA ­OSCILANTE.

14
Borges, Marcos de Souza, A Dinâmica da Personalidade. Página 108
84 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Ser amado é um desejo genuíno do ser humano e que pro-


duz em nós um forte senso de sentido e propósito. Aqueles que
são rejeitados, abusados, abandonados lutam contra um forte sen-
so de autodesvalorização. Há um conceito equivocado sobre amor
que na verdade é sinônimo de concupiscência. Esta é o ato de con-
seguir prazer através de alguém, já o amor é o oposto disso. Amor
envolve dar e dividir a vida com alguém, aumentar o bem-estar e
engrandecer o outro.
O dependente não sabendo lidar com seus excessos emocio-
nais, busca um falso conforto na concupiscência na tentativa de
suprir sua carência, tal comportamento gera como resultado mais
concupiscência e ZERO de amor. Desta forma, o amor continua
ausente e a carência tende a aumentar e as rejeições se tornam
cada vez mais presentes. A concupiscência, aberta ou encoberta,
trará mais problemas e prejuízos emocionais à pessoa que escolhe
este caminho e aos que passarem por suas vidas.
Na figura abaixo, veremos a dinâmica deste movimento de
fuga oscilante que acaba tornando-se uma verdadeira prisão para
aqueles que lançam mão dele para fugir das rejeições:

Figura 11. Movimento da fuga oscilante.


Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 85

A linha A representa a rejeição que a pessoa sofreu de uma


figura de autoridade em sua vida, a emoção imediata que ela
sente é dor e sofrimento. Para fugir desta emoção a pessoa faz o
que a linha B representa, oscilando do sofrimento para o prazer
(­concupiscência), fazendo uso de um falso conforto (bebida, sexo,
álcool, etc...).
A tendência natural é que as pessoas tentem aliviar a dor
fugindo para algum tipo de prazer. Porém o prazer é temporá-
rio, e logo elas voltam para a dor que a rejeição produziu, come-
çando assim o mesmo ciclo novamente. A linha C é a eventual
volta da pessoa para a dor após o pico de prazer que vivenciou
em sua fuga. O compulsivo, por não ter maturidade para en-
frentar esta dor com as ferramentas que Cristo nos abençoou,
acaba voltando para o prazer temporário dos falsos confortos,
tornando claro na vida do dependente este movimento pendu-
lar de fuga oscilante.

3.8 - FAMÍLIA DE BENÇÃOS E FAMÍLIA DE HEMATOMAS


Quero falar brevemente sobre o ambiente familiar que gera
o dependente ou compulsivo. Vou abordar características de Fa-
mília de bênçãos x Família de Hematomas. Conhecer o ambiente
de onde viemos, mapear as disfunções e distorções ajuda muito
na compreensão de como a dependência foi construída.
O problema da maioria das pessoas não é o que fizeram com
elas e sim o que elas fazem com o que fizeram com elas.15 Particu-
larmente, prefiro a versão bíblica desta frase que está em 1 Pedro
2.23 que diz: “Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fa-
zia ameaças, mas entregava-se àquele que exerce plena justiça em seu
juízo”. Independente do seu ambiente familiar ou dos abusos que
a pessoa sofreu, Deus pode dar a ela tudo o que lhe foi roubado
no passado. É nisso que eu realmente acredito, mas infelizmente
não é o que a maioria das pessoas faz, por falta de conhecimento.

15
Jean Paul Sartrê.
86 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Como em Oséias 4.6 que diz: “Eis que o meu povo está sendo arruina-
do porque lhe falta conhecimento da Palavra”.
Mesmo assim é muito importante ressaltar duas dinâmicas
familiares muito comuns nos lares das pessoas. A seguir eu trago
uma tabela com a comparação do que Dr Darv chama de Família
de Bênçãos e de Família de Hematomas. A primeira é uma versão
do que seria a família em termos do evangelho e a outra é uma
baseada em suas experiências com os dependentes que ele tratou.
Normalmente estas características da família de hematomas estão
presentes nas histórias dos dependentes e compulsivos das mais
variadas espécies de vício.

Família de Hematomas e Família de bênçãos16


Orientadas por desempenho / Orientadas por pessoas
FAMÍLIA DE HEMATOMAS FAMÍLIA DE BÊNÇÃOS
Fechada para mudanças Aberta a mudanças
Todo mundo tem baixa autoestima Alta autoestima para todos
Defesa esconde sentimentos Defesas são apropriadas
Regras pouco claras ou Regras são claras e são flexíveis
regras rígidas
Os sentimentos são negados Os sentimentos expressos
apropriadamente
Comunicação é secreta, fechada e A comunicação é aberta, sem
altas ameaças ameaças
Não há resolução de conflito, não Admite-se fracassos e problemas
resolve problemas
Sem segurança Lugar seguro para se estar
Instabilidade e imprevisibilidade Confiável e previsível
As tarefas não são para a idade As tarefas são apropriadas para a
apropriada idade das crianças

16
EACV. Escola de Aconselhamento ao Comportamento Viciado. JOCUM
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 87

Além de trabalhar a recuperação do comportamento viciado


do dependente, é sempre muito eficiente trabalhar a construção
dos valores cristãos nas famílias que geraram este dependente. A
família de benção gera filhos saudáveis emocionalmente, já a de
hematomas gera órfãos e dependentes, se a pessoa não escolher
perdoar e seguir em frente diante de todos os abusos que sofreu.
Perdão é um DIREITO. Além de mandamento, ele é um dos
maiores direitos conquistados por Jesus naquela cruz. Não preci-
samos mais ficar presos em amargura, ressentimento, entre outros
males que a falta de perdão cria em nossos corações. Ele nos deu
esta chave, que faz um saneamento em nosso coração e alivia nos-
sa alma. Tirando o “lixo da alma”, as baratas e ratos vão embora.17
A história de Jabez na Bíblia revela alguém que não per-
mitiu que acontecimentos passados dominassem sua vida. Em 1
Crônicas 4.9-10, a Bíblia diz: “ Jabez foi o homem mais respeitado de
sua família. Sua mãe lhe deu o nome de Jabez, dizendo: “Com muitas do-
res o dei à luz”. Jabez orou ao Deus de Israel: “Ah, abençoa-me e aumenta
as minhas terras! Que a tua mão esteja comigo, guardando-me de males
e livrando-me de dores”. E Deus atendeu ao seu pedido”.
Jabez nasceu em um ambiente de dor, ele recebeu um nome
que significava “pesar, aflição, dor”. Havia uma “sentença” sobre
a vida dele que havia lhe deixado duas opções: aceitava que este
evento e o “rótulo” que ele recebeu de outras pessoas governas-
sem a sua vida sendo uma eterna vítima ou ele seria o protagonis-
ta do seu destino, saindo do lugar de vítima e vencendo o trauma
ou abuso que possa ter recebido.
Jabez escolheu não se vitimizar e sair do lugar de abuso e
trauma, não aceitando o nome e rótulo que recebeu das pessoas
de sua própria família. Ele preferiu buscar em Deus sua verda-
deira identidade, seu propósito e a verdade sobre si. Ele buscou a
face do Senhor e clamou por um destino diferente, ele sabia que
Deus podia lhe tirar a vergonha e os nomes dados pelos homens.

17
Borges, Marcus de Souza. Pastoreamento Inteligente.
88 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A Bíblia está nos ensinando com esta história, que não tendo
culpa dos abusos que sofremos, não precisamos carregar a dor
dos traumas sofridos. Isso só é possível se sairmos do lugar de
vitimização. A vítima deve sim processar a dor e o luto resultan-
tes destes eventos, deve lidar com cada sentimento produzido e
ressignificá-los no Senhor.
A vítima é aquela que não perdoa seus abusadores, que
aceita a identidade que eles impuseram a ela e não a que Deus
escolheu ao nos formar. A vítima guarda rancor, ódio, amargura,
ressentimento ou torna-se passiva. Deixa que sua vida seja gover-
nada pelos traumas e abusos que sofreu.
A pessoa que não se posiciona e não vence estas situações de
abuso, pode até mesmo se tornar manipuladora. Pois esta posição
normalmente comove as pessoas e as sensibiliza a dar a vítimas o
que elas precisam ou querem receber. Conheço hoje pessoas que
tiveram de fato uma infância muito complicada e difícil. Mas que,
claramente observo, usam seu passado difícil para manipular as
pessoas da família para receber presentes, fazer suas vontades e
conseguir o que deseja delas. Isso é manipulação e um dos peca-
dos mais graves que alguém pode cometer.
Precisamos vencer isso e superar os eventos adversos de
nossas vidas. Não podemos aceitar que nosso destino seja condu-
zido pelo passado mal resolvido. Devemos rejeitar a identidade
que nossos abusadores quiseram impor sobre nossas vidas. De-
vemos superar os eventos traumáticos e receber nossa verdadeira
identidade e destino que estão em Deus.
A maioria das vezes, o dependente está usando a substân-
cia ou comportamento para fugir destas situações, ele não quer
encarar suas frustações e medos. Isso é claramente mostrado em
Provérbios 31.6-7 que diz: “Dai o licor forte ao desfalecido, e o vinho
aos de ânimo amargo. Bebam, e esqueçam-se de sua necessidade, e de sua
miséria, não se lembrem mais”.
Capítulo 3 – O Comportamento Viciado • 89

Sair do lugar de vítima, é um passo fundamental para che-


garmos a nossa vitória contra o vício sexual. Nossa vida está em
Cristo e não nos abusos que sofremos.
Capítulo 4 – Desmascarando
a Pornografia
A pornografia tem uma influência maligna muito grande na cons-
trução do vício sexual. Muitos a acham inofensiva e estão cegos
para os impactos devastadores que ela pode causar na vida de um
indivíduo e até mesmo da comunidade onde ele está inserido.
Nos últimos anos, andei pesquisando muito sobre o tema
pornografia, porém, jamais encontrei uma definição que realmen-
te demonstrasse o real impacto dela sobre a vida sexual das pes-
soas e da sociedade. Na mídia o que geralmente escuto é que ela
é inofensiva e aquele que faz uso dela não está fazendo mal a nin-
guém, uma vez que está sozinho vendo vídeos, fotos e ninguém
se machuca. Posso garantir que isso não é verdade.
Dos 09 aos 33 anos de idade a pornografia sempre esteve
presente (de várias formas possíveis) em minha vida, distorcendo
completamente a forma como eu percebia o sexo. A cada ano, sua
influência ganhava mais espaço até chegar ao ponto de tomar meu
dinheiro, tempo e qualidade de vida. Tive impactos severos em
minha vida sexual porque as mensagens que ela passa sobre sexo
são totalmente equivocadas. Quando eu raramente ficava um ou
dois dias sem ter contato com material pornográfico, chegava a ter
dores de cabeça e ficar com as mãos trêmulas.
Livre do cativeiro, do qual desejo continuar afastado pelo
resto da vida, dedico-me hoje a trazer entendimento para as pes-
soas e sociedade sobre a verdadeira faceta e efeitos nocivos que a
pornografia exerce sobre aqueles que, lamentavelmente, entram
92 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

por suas portas largas. Se existe uma área onde nada se aprende
sobre sexo saudável é na pornografia. Infelizmente, com a internet
e com a febre dos celulares, ela avança em uma velocidade absur-
da e seus efeitos colaterais também.
É assim que eu defino pornografia:
Ferramenta de manipulação de massa para destruição
pessoal e social, através de uma desconstrução da sexualidade
saudável, substituindo por conceitos que deformam o caráter e
distorcem completamente a forma como a pessoa vê e pensa so-
bre o sexo.
Vejo como uma ferramenta de manipulação, pois um gru-
po pequeno consegue, com pouco investimento, manipular uma
grande massa, através de conceitos que servem a seus interesses
pessoais. Comunicar uma visão deturpada e errada sobre sexo,
adoece os indivíduos e a sociedade, tornando-a uma grande fonte
de lucro para este pequeno grupo.
Desconstruir uma sexualidade saudável é seu ponto de par-
tida. A pornografia constrói um caráter deformado na área sexual
das pessoas como veremos neste capítulo. O usuário fica exposto
a comportamentos que, sem dúvida, vão influenciar sua forma de
se relacionar sexualmente, pois a pornografia condiciona o usuá-
rio a buscar prazer de forma solitária e desconectada do cônjuge.
Seu alvo é destruir relacionamentos, criando uma cultura
de superficialidade nas interações humanas. Remove os vínculos
saudáveis e a intimidade, tornando as pessoas menos importantes
do que o ato ou atividade sexual.
Vamos ver a seguir as principais consequências do impacto
da Pornografia.

4.1 DESENVOLVE O HÁBITO DA AUTOSSATISFAÇÃO E ISOLAMENTO NA


RELAÇÃO SEXUAL
O usuário de pornografia se habitua em uma cultura sexual
de autossatisfação e isolamento. Ele se acostuma a focar no seu
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 93

prazer pessoal, pois não há ninguém com ele durante a mastur-


bação e as visualizações dos vídeos. O mais perigoso deste item é
que o usuário vai levar para seu relacionamento sexual esta mes-
ma cultura, ou seja, mesmo com outra pessoa no ato sexual, ele
estará sozinho, uma vez que foi assim que se habituou a fazer.
Durante o ato sexual é muito comum o usuário de porno-
grafia fantasiar que está com outra pessoa ou sente a necessidade
de ter qualquer tipo de estímulo para conseguir ter excitação an-
tes do sexo. Ele está desconectado da outra pessoa.

4.2 DESUMANIZA SUA FORMA DE SE RELACIONAR SEXUALMENTE


A pornografia desumaniza o ato sexual porque o usuário vai
estar focado em fazer sexo e a pessoa que estiver com ele será mera-
mente um objeto ou uma escada para alcançar o prazer. Não há co-
nexão alguma e muito menos intimidade. O usuário só está interes-
sado em repetir as cenas que viu nos filmes ou revistas e, na maioria
das vezes, sua mente vai estar fantasiando que ele está fazendo sexo
com os atores que viu no material pornográfico, em alguns momen-
tos até deixam escapar o nome de alguns durante a relação sexual.
Ele está apenas usando e abusando do seu p ­ arceiro (a).
O usuário desenvolve uma visão egoísta do sexo que o iso-
la mais das pessoas, afastando-o por vez de um relacionamento
duradouro e saudável. O relacionamento e a intimidade ficam
em segundo plano, o sexo assume um papel central na vida do
casal e esta pratica vai minar as possibilidades de sucesso deste
­relacionamento.

4.3 A PORNOGRAFIA NÃO ENSINA SOBRE SEXO, ELA ENSINA A LASCÍVIA


E AS FILIAS
A pornografia desconstrói tudo o que seria de fato sexo em
sua forma saudável. Ela, ao meu ver, ensina e comunica o anti-
-sexo, pois seus conceitos são infinitamente o oposto do que seria
94 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

o sexo sem cativeiro. A pornografia ensina a lascívia, a luxúria e


as filias que é o sexo com cativeiro. Há grande ênfase nos objetos
eróticos, fantasias sexuais, performance sexual e práticas não con-
vencionais de sexo.
O usuário é levado a crer que precisa praticar tais situações
para alcançar a felicidade no sexo. Tais práticas passam a ser o alvo
a ser alcançado e vivenciado pelo público consumidor. A curiosi-
dade é despertada e muitos vão mais fundo nas filias entendendo
e colocando suas expectativas em algo que só vai aumentar nossa
dependência. Nosso desejo mais genuíno é de intimidade com a
pessoa amada e não de objetos ou performances.
Tenta vender a imagem de que o periférico e externo é o
mais importante. Porém, isso, além de jamais saciar nossa sede
emocional, vai aprisionar aqueles que tomarem como verdade es-
tes conceitos. Esta falsa crença, faz com que o usuário se torne
mais dependente dos objetos, dos cenários e das performances
para se satisfazer.
Se o foco é o desempenho, então o usuário vai procurar “no-
vidades” para “aumentar o prazer”. Quanto mais a pessoa mer-
gulha neste conceito, mais cativa de novas práticas ela será e mais
longe ficará do que realmente é o sexo sem cativeiro.

4.4 TUDO NA PORNOGRAFIA É MENTIRA


É muito importante compreender que tudo em torno da
pornografia é mentira. As performances dos atores, os sons que
emitem, os diálogos realizados nos vídeos, os orgasmos femini-
nos, a forma que o sexo é executado, as mensagens subliminares
que são comunicadas, os cenários e tudo mais. Como as seções de
exposição do usuário são grandes e recorrentes, o conteúdo passa
a ser absorvido por seu cérebro como algo normal.
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 95

4.5 POTENCIALIZA O PRAZER MASCULINO EM DETRIMENTO DO FEMININO


O Clímax dos filmes é o domínio do homem sobre a mulher,
a maioria das vezes com agressividade exagerada e humilhação.
A ejaculação do homem normalmente finaliza as cenas e a perfor-
mance dele é muito valorizada, não há afeto nem intimidade, não
há diálogo saudável, há apenas uma troca de insultos de ambos
os lados.
Essas palavras dirigidas às mulheres durante a cena, cau-
sam impacto no usuário, pois ele passa a associar a figura femini-
na àquelas palavras. O consumidor de pornografia vai acreditar
naquilo devido a várias repetições e consumo do material. A men-
sagem que a pornografia quer passar para o usuário, é a de que a
mulher é apenas um objeto sexual, que gosta de ser dominada e
chamada de vadia. A repetição faz com que o usuário leve incons-
cientemente para seus relacionamentos essa mensagem. E isso vai
acabar com a vida sexual deste homem e de qualquer mulher que
se relacionar com ele.
Essa repetição nas visualizações, faz com que, no decorrer
do tempo, práticas consideradas abomináveis se tornem aceitá-
veis e comuns para seus usuários. O cérebro se acostuma com
aquilo e passa a considerar normal aquele comportamento que
em outros tempos a pessoa considerava inconcebível.

4.6 REMOVE A INTIMIDADE DOS RELACIONAMENTOS


Ensina que o sexo pode ser feito com estranhos, sem trocar
palavras e que todos podem ver e saber o que acontece na vida
sexual de cada um. Como os atores estão focados em sua atuação
no filme, faz as pessoas acreditarem que no sexo o que realmente
importa é a performance sexual, os movimentos que se deve fazer,
as posições mais mirabolantes e os objetos que se deve usar.
Tira o foco do ser humano e o transforma em mero fantoche
sexual. Os vínculos e a intimidade são removidos dos relaciona-
mentos; o que era para ser privado e exclusivo, se torna público e
96 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

explícito. O que era para ser desfrutado a dois é exposto a milha-


res de pessoas mediante a divulgação de vídeos nas redes sociais,
incutindo na mente da sociedade que o sexo deve ser aberto, que
todos devem saber o que acontece na vida de todos. Espalha uma
verdadeira armadilha para os desavisados, que vão pagar um alto
preço, pois forma abusadores, viciados e compulsivos.

4.7 C OMUNICA QUE SOMENTE O HOMEM COM UM PÊNIS GRANDE PODE


SATISFAZER UMA MULHER
Uma outra mentira que ela comunica é que o tamanho do
pênis do homem sempre será o que faz a diferença na hora de sa-
tisfazer uma mulher durante o ato sexual. Normalmente os atores
de filmes pornográficos são pessoas com pênis exagerados e fora
da média da maioria dos homens.
Esta mentira faz com que pessoas com pênis menores que o
dos atores se sintam rejeitadas e muitas deixem de se relacionar
com medo de serem ridicularizadas. As mensagens de bloqueio
são tão fortes que muitos ficam com sua vida sexual totalmente
comprometida. Já aconselhei homens com este sentimento e que
procuravam o isolamento, achando que jamais iriam satisfazer
uma mulher.
Com medo de serem envergonhados, se isolavam e mergu-
lhavam no universo pornográfico. O interessante é que isso afeta
muito mais os homens do que as mulheres. O tamanho do pênis
é um mito muito maior na cabeça dos homens do que na das mu-
lheres. Li uma entrevista de uma atriz pornô durante a pesquisa
para o livro e ela relatou que um dos desconfortos de gravar era
ter relação com homens com o pênis muito grande, pois a machu-
cava demais.
Quero deixar bem claro que não é o tamanho do pênis que
vai garantir satisfação sexual para sua parceira. Este é outro con-
ceito falso que ela tenta comunicar aos seus usuários.
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 97

A vagina é elástica e o tamanho muda de acordo com a ida-


de. “Na fase adulta, tem de 7 cm a 8 cm de comprimento, em re-
pouso. Durante a relação sexual, essa medida pode chegar a 12
cm a 16 cm de comprimento e 3 cm de largura” segundo a Dra
Flavia Fair Banks18. Portanto, não é um pênis enorme que vai fazer
a diferença em uma relação sexual. O livro de cantares mostra vá-
rias áreas de prazer para o casal e não devemos concentrar o sexo
apenas na penetração.
Há várias áreas de prazer feminino e o que os filmes porno-
gráficos querem nos manipular é o “culto ao pênis”. Concentran-
do o ato sexual na penetração e roubando os casais de conhecerem
melhor o corpo um do outro.

4.8 P ERDA DE INTERESSE EM RELACIONAMENTOS REAIS E DESCONEXÃO


COM A REALIDADE ACONTECEM COM UM PERCENTUAL
CONSIDERÁVEL DE USUÁRIOS
O sexo virtual causa grande impacto em nosso cérebro. Ele
também garante ao usuário pular várias etapas do relacionamen-
to e ir logo para o “prazer”. Muitos usuários perdem o interes-
se pelo sexo convencional e o substituem pelo virtual. Este é um
dos focos da pornografia, deixar o usuário sozinho. Lembro de
ficar horas acessando o conteúdo e sem ter interesse em falar com
outras pessoas. Estava sozinho e isolado, perdido e mergulhando
ainda mais fundo.
Não são poucos os casos em que o usuário perde a excita-
ção pelas relações sexuais naturais e as substitui pelas virtuais.
Li certa vez a história de um rapaz que se excitava nos primeiros
cinco minutos da relação sexual com uma mulher. E depois natu-
ralmente ele perdia o interesse pelo sexo convencional, em alguns
minutos ele não tinha qualquer ereção. Confessou que realmente
desejava a pornografia e o sexo virtual.

18
Flávia Fairbanks, membro da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado
de São Paulo)
98 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Alguns relataram que a satisfação sexual pela pornogra-


fia era melhor porque não precisavam se preocupar em seduzir
alguém, as vezes levar para jantar ou dançar, pagar um motel e
ainda ter que se preocupar com o prazer do outro. Na pornogra-
fia eles podiam ir direto ao ponto e chegar ao orgasmo sem um
monte de preocupações.

4.9 CONDICIONA O OLHAR PARA O APELO SEXUAL


Nos materiais pornográficos, existe uma ênfase em mos-
trar os órgãos genitais dos atores. Ao ser exposto excessivamente
a este tipo de conteúdo, o usuário condiciona seu olhar para os
outros com essa inclinação. Homens que olham para as mulheres
como se elas só tivessem bumbum, vagina e seios. Lançam grace-
jos indecentes e ofendem a dignidade das mulheres.
No livro do pastor Mark Laaser, Curando as Feridas do Ví-
cio Sexual, ele conta a história de um pastor muito respeitado em
sua cidade, que viajava semanalmente a outra cidade vizinha para
dar vazão a seus impulsos sexuais. Ele era viciado em pornografia
e em sua cidade conseguia dissimular muito bem a situação. Mas
na outra cidade, fazia uso de prostitutas e cada vez mais estava
afundado na pornografia. 19
Certo dia, ele estava chegando em seu carro na igreja onde
era o líder. E por acaso passou uma jovem com uma roupa mui-
to justa. Quando saiu do carro, esse pastor acompanhou com seu
olhar aquela moça até ela dobrar o quarteirão. Quando voltou seu
olhar para a igreja, o ministro de louvor estava diante dele obser-
vando sua conduta. Ele constrangido resolveu desconversar o as-
sunto. Porém, não demorou muito para ele deixar escapar alguns
palavrões em suas conversas informais e seu olhar o traiu diver-
sas vezes. Até que foi descoberto em sua mentira20. É puro engano

19
Mark Laaser. Curando as Feridas do Vício Sexual.
20
Mark Laaser. Curando as Feridas do Vício Sexual.
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 99

achar que podemos controlar a situação, os sinais vão aparecer


mais cedo ou mais tarde. É melhor procurar ajuda o quanto antes.
A Bíblia chama este comportamento de olhos de adultério21.
São pessoas que nas ruas, trabalho, em frente à televisão ou com-
putador buscam incessantemente a próxima imagem para dar va-
zão à sua cobiça. Seja onde for, seus olhos são condicionados a
focar partes íntimas das outras pessoas. Nesta fase, a pessoa está
perdendo o controle de sua vida.

4.10 A INSATISFAÇÃO NO COMPORTAMENTO SEXUAL DO CÔNJUGE


É INEVITÁVEL
Haverá comparações entre o corpo, a performance, as rou-
pas e tudo o que o usuário vê no material pornográfico e seu côn-
juge. O pior é que o referencial do que é correto para o usuário, o
padrão a ser alcançado para ele é o que ele vê no material porno-
gráfico. Ele acredita que a alegria está em conseguir reproduzir as
bizarrices do conteúdo pornográfico. Seus relacionamentos pas-
sam a ter um modelo de medidas e de performance, o que sufoca
seus cônjuges, obrigando-os a se enquadrar a suas exigências que
eles não serão capazes de atingir.
Isso significa que este relacionamento vai agonizar podendo
até mesmo vir ao rompimento. O usuário constantemente quer
trazer práticas assistidas nos vídeos para seu leito conjugal e quan-
do o parceiro não aceita, passa a lhe dirigir críticas e o usuário vai
tentar dar vazão aos seus desejos nas ruas, prostíbulos ou voltar
para o sexo virtual. O relacionamento nesta fase, já está um caos
e se nada for feito, será questão de tempo para o fim da relação
através do divórcio. O cônjuge não deve se sujeitar a isso, pois
a melhor forma de ajudar o compulsivo é não fazer parte de seus
impulsos e distorções na área sexual. Não aceite e não se sujeite
às suas bizarrices.

21
2 Pedro 2.14, Nova Versão Internacional
100 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

No auge do egoísmo, expomos nossos cônjuges a sérios da-


nos emocionais. Quando descobrem a compulsão de seu esposo
(a), muitos passam a se sentir insuficientes, começam a ser domi-
nados por sensações de traição, desconfiança, perda, entre outros.
A maioria não interfere, tenta se convencer que não é traição e
que não precisa fazer nada. Algumas dizem que é melhor que ele
fique no computador do que efetivamente com outra mulher. O
que muitas não sabem é que o coração do marido já está cheio de
cobiça por outras pessoas, biblicamente o adultério já aconteceu e,
na primeira oportunidade, o dependente de pornografia vai levar
alguém para cama.
Diante da exposição do problema, é importante que o côn-
juge do dependente sexual se posicione de forma a não participar
das propostas bizarras do outro. Não se admite passividade aqui,
o casamento está por um fio e algo precisa ser feito.
É insustentável um relacionamento onde as pessoas acredi-
tam que o sexo é a única forma de se relacionar. O Compulsivo pen-
sa em sexo o tempo inteiro, e sua rotina e relacionamentos vão girar
em torno de sua compulsão sexual. Lembro-me de querer estar com
minha esposa apenas para o sexo. Eu trabalhava, colocava dinheiro
em casa e não queria estar com os filhos. Queria levar minha esposa
para o quarto e fazer sexo constantemente. Eu não sabia me relacio-
nar com a família e não queria intimidade, o que acabava gerando
cada vez mais brigas e desgastavam o r­ elacionamento.
O Usuário está sob o domínio de seu desejo sexual e isso é
o que vai impulsionar seus relacionamentos, causando uma redu-
ção considerável nas implicações emocionais de suas relações. A
intimidade foi roubada do sexo, criando um cativeiro profundo e
um abismo cada vez mais difícil de sair.

4.11 AUMENTA INCIDÊNCIA DE SEXO PRÉ-MATRIMONIAL E EXTRACONJUGAL


A pornografia deforma o caráter, trazendo conceitos e va-
lores errados para os relacionamentos, tais como: Sexo fora do
casamento e muitas vezes sem compromisso nenhum, inclusive
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 101

com estranhos. Traz também a ideia de que duas pessoas que na-
moram precisam manter relações sexuais. A prática do sexo fora
do casamento aumenta o número de gravidez indesejada e, con-
sequentemente, a incidência de abortos, além de ocasionar muitas
doenças sexualmente transmissíveis, infidelidade conjugal, divór-
cios, perversões sexuais e até a morte de muitas pessoas.
Certa vez, eu estava a caminho de uma igreja onde iria mi-
nistrar pela manhã. Um casal de amigos nos levava para o local
do evento. No caminho, tivemos que parar em um posto de ga-
solina e percebemos uma grande movimentação naquele local.
Quando perguntamos ao frentista o que havia acontecido, ele nos
informou que um homem havia se enforcado naquela madrugada
depois de ter flagrado a esposa com outro homem em sua casa.
Não suportando a vergonha, tirou a própria vida. O pior é que o
frentista contava o fato com tom cômico e fazendo piada sobre o
assunto. É isso que o pecado gera: a morte.

4.12 A MULHER É A GRANDE VÍTIMA DA PORNOGRAFIA22


A mulher é quem mais perde com a pornografia. Abaixo,
descrevo alguns dos maiores impactos sofridos por elas através
da disseminação e do crescimento desta ferramenta de propaga-
ção de mentira.

4.12.1 A PORNOGRAFIA GERA UMA CULTURA DE HUMILHAÇÃO FEMININA


Na pornografia é construída uma visão distorcida sobre a
mulher no ato sexual. Normalmente nos filmes, revistas e conteú-
do pornográfico, a mulher aparece de forma totalmente passiva e
passa por grande humilhação nas cenas. Isto discipula os homens
a trata-las com desonra e desrespeito. Constrói-se uma imagem de
puro objeto sexual para o sexo feminino. A mensagem é que “elas
gostam de ser tratadas assim”.

22
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/estudo-mostra-que-pornografia-pode-pre-
judicar-o-cerebro
102 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A pornografia nos desumaniza no que diz respeito à mulher.


O usuário condiciona seu olhar para qualquer mulher ao mundo do
sexo. Qualquer tentativa de aproximação ou relacionamento tem por
objetivo o ato sexual e não a pessoa. A mulher não é vista como ser hu-
mano e sim como objeto sexual. Esse é um dos motivos pelo qual mui-
tas são assediadas em diversos lugares públicos em todo o mundo.

4.12.2 O HOMEM VICIADO EM PORNOGRAFIA DESENVOLVE UM PAPEL


SEXUAL AGRESSIVO FRENTE A MULHER.
É muito comum ver nos filmes e em materiais pornográ-
ficos, homens humilhando as mulheres ou fazendo movimentos
truculentos e agressivos. Isso discipula o usuário a acreditar que
as mulheres gostam de apanhar, de ser violentadas, de que o sexo
tem que ser à base de muita força e agressividade. Sabemos que
a mulher é mais emocional e sensível, sua dinâmica sexual é dife-
rente da do homem. A qualidade do relacionamento para a mulher
é um grande afrodisíaco para o ato sexual. A forma como ela entra
no clima, o ritual para lubrificação é diferente do homem. Percebo
que muitos materiais tentam tornar a sexualidade feminina como
a do homem. Penetrar uma mulher sem que ela esteja lubrificada
vai machucá-la e causar dor. É uma verdadeira violência.

4.12.3 MUITAS MULHERES SE SUICIDAM APÓS TEREM SUAS FOTOS


INTIMAS E SEUS VÍDEOS PUBLICADOS NA INTERNET.
O índice de suicídios tem crescido de forma alarmante nos
últimos anos, principalmente entre as jovens de 13 a 17 anos. A
mulher é altamente assediada para expor sua nudez. Depois que
isso ocorre, é muito comum o ex-namorado divulgar as fotos,
como vingança. As meninas não suportam e acabam se matando.
77% das vítimas de nude e sexting são mulheres.23

23
Safernet. http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/04/vitimas-de-nude-selfie-e-sex-
ting-na-internet-dobram-no-brasil-diz-ong.html
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 103

4.13 O IMPACTO DA PORNOGRAFIA NA GERAÇÃO ATUAL


A falta de conexão entre os pais analógicos e os filhos digi-
tais, associada a uma ferramenta que faz parte do dia a dia dos
jovens - a internet em banda larga - exponenciou o uso da por-
nografia como ferramenta de desenvolvimento sexual dessa ge-
ração. Isso tem distorcido conceitos sobre relacionamento e sexo,
afundando esta geração em um reflexo equivocado e distorcido
da realidade, deformando o caráter do jovem e a forma como se
relacionam sexualmente.
Aplicativos voltados para o sexo casual estão se multipli-
cando e tem recorde de downloads. Vejo “especialistas” ensinan-
do conceitos equivocados a respeito do tema e definindo-o como
sexo moderno. A maioria da população está acatando estas fal-
sas mensagens como o correto e introduzindo-as em seu estilo de
vida. Estão indo mais fundo naquilo que não é sexo, tornando-se
cativos de sua própria concupiscência.
Cada vez mais precoces e irresponsáveis, a atual geração
tem transformado a pornografia em seu tutorial sexual. Como não
conversam com seus pais sobre o assunto, ou os pais desconhe-
cem a forma saudável do sexo, estão mergulhados num abismo
de mentiras e luxúria. O risco é transformar a pornografia no sexo
convencional ou transformá-la na prática sexual de suas vidas.
Uma nova geração impessoal, casual, explícita e pública. Os
jovens não conhecem a intimidade e o particular, perderam a es-
sência e estão sendo roubados do verdadeiro sexo. Os danos são
enormes para indivíduos e sociedade.
A intimidade foi banida dos relacionamentos através do
Nude e sexting. Limites maiores são rompidos tornando o caminho
de volta do abismo mais difícil. A pornografia condiciona nossa
mente a padrões deploráveis e perigosos.
As distorções e disfunções que podemos observar ago-
ra, certamente não serão nem sombra do que veremos na gera-
ção que vier após esta. Cada informação equivocada sobre um
104 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

tema, vai produzir cativeiro e deformação em nossa humanidade.


Dar as costas para o que Deus ensina, é um caminho de morte
para o ­Homem.
A erotização da programação de televisão, teatros, cinemas
e mídia em geral, mostra que comportamentos inerentes à porno-
grafia, estão sendo cada vez mais absorvidos pela sociedade. A
Palavra de Deus, onde consta o conhecimento correto sobre o que
de fato é sexo, precisa ser ensinada.
A própria igreja brasileira disseminou no passado, mensa-
gens equivocadas sobre o sexo. Deus é o criador do sexo e se cami-
nharmos nos princípios bíblicos corretos, teremos uma sociedade
madura e saudável.
Muitos dos usuários que perdem o controle de suas vidas
para o vício, ficam horas assistindo ao material pornográfico sem
comer ou beber nada, chegam a ficar noites acordados sem ver o
tempo passar. Principalmente quando os prejuízos em sua vida se
tornam mais fortes.
A pessoa se apega ainda mais ao vício como forma de fu-
gir da realidade. Muitos ficam sem se concentrar em seu traba-
lho ou atividades sociais. Alguns param seu trabalho para se
masturbar nos banheiros das empresas. Isso acontecia comigo e
com muitos homens e mulheres com que tive contato durante os
­aconselhamentos.
O Ritual da pornografia leva ao isolamento social. A prisão é
tão grande, que tudo o que se deseja é ficar sozinho para consumir
mais e mais material. O sexo convencional deixa de ser atrativo
e o gosto pela pornografia fica ainda mais “Refinado”. Este ciclo
insano no qual entramos, deve ser parado. Precisamos falar da
verdade que liberta. A igreja brasileira tem a missão de influenciar
a sociedade com as mensagens corretas sobre sexo e sexualida-
de saudável.
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 105

DIAGNOSTICANDO UM VICIADO EM PORNOGRAFIA


Para saber se a pessoa é viciada em pornografia, sugiro a
utilização do seguinte diagnóstico:

• Preocupações com o uso/comportamento – A pessoa pensa


durante o dia em formas de ver pornografia. Tenta mani-
pular pessoas e procura lugares e situações para dar vazão
ao vício;
• Pouca capacidade para controlar o uso/comportamento
– Não tem controle sobre a situação. Quando vem o dese-
jo, não consegue controlar e procura uma forma de fazer
“uso da substância”. Não tem controle, pode ver a qualquer
hora, momento ou lugar;
• Desenvolvimento de tolerância - A tolerância à pornografia
ocorre com um consumo prolongado. As pessoas que fazem
uso regularmente resistem mais aos efeitos da pornografia e
precisam de mais tempo e mais vídeos e imagens para sen-
tir o mesmo efeito. Normalmente o usuário não se satisfaz
mais com o padrão que usava e parte para outras práticas.
Pode começar a ver vídeos de crianças, animais, sadomaso-
quismo, swing, etc.
• Crises de abstinência – Abstinência é o ato de se privar de
algo, em geral fazendo com que o indivíduo cesse um deter-
minado comportamento, como deixar de ver pornografia. A
crise de abstinência são sintomas mentais e físicos que ocor-
rem após a interrupção e diminuição do consumo de alguma
substância ou comportamento que causam d ­ ependência.
• Consequências sociais negativas – O usuário muitas vezes
só toma consciência do vício e pede ajuda quando começa a
somar prejuízos em sua vida. Como o usuário perde o con-
trole, vai perder dinheiro, o emprego, a família, a saúde e até
mesmo a vida.
106 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Se você apresenta estas características, precisa imediatamente


procurar ajuda. Certamente já desenvolveu o vício em pornografia
e os prejuízos já podem estar crescendo em sua vida conjugal, fi-
nanceira, profissional, espiritual e demais áreas. Você terá prejuízos
mais cedo ou mais tarde e quanto antes parar será ­melhor.

4.16 O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE PORNOGRAFIA


Não há um versículo que fale especificamente sobre porno-
grafia na Bíblia, mas ela se enquadra em muitos que mencionam
imoralidade sexual, pois é através da pornografia que os piores e
mais equivocados conceitos sobre sexo e sexualidade são comu-
nicados e disseminados. Há vários versículos que alertam sobre o
perigo da imoralidade sexual e seus efeitos. Alguns trazem clara-
mente instruções sobre o perigo de elementos presentes na porno-
grafia para a vida do indivíduo e da sociedade.
Mas vou começar mencionando um princípio em Genesis
2.25: “O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergo-
nha.” A única nudez que podemos contemplar é de nosso cônju-
ge. Se cumprirmos este princípio bíblico, não teremos vergonha e
gozaremos de uma vida sexual abundante em nosso casamento.
Sem prisão e sem nenhuma vergonha causada pela imoralidade
sexual. A pornografia é a quebra explicita deste princípio, pois ela
nos expõe a nudez de vários desconhecidos, gerando cobiça e en-
sinando o oposto do que Deus determinou no versículo acima.
Quando guardamos este princípio, vamos aumentar a intimidade
com nosso cônjuge e garantir a privacidade e a intimidade que o
sexo deve ter. Nossa excitação e nosso prazer está protegido den-
tro de uma aliança onde o próprio Deus é testemunha.
Uma outra verdade deste versículo, é que precisamos com-
preender que nossa vida sexual tem que estar na luz sem nada
escondido de nosso cônjuge. As fraquezas, os desafios e tentações
devem ser abertos entre o casal. Nada pode estar em trevas em
nossa vida sexual. Gozar desta proteção maravilhosa prometi-
da por Deus neste versículo, requer transparência e sinceridade.
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 107

Quando um dos cônjuges ou os dois escondem algo de sua sexua-


lidade, isto vai trazer destruição e desproteção espiritual para o
relacionamento e para a família.
Cabe aos dois e somente a eles o que é válido dentro de
sua intimidade sexual. Deus definiu os princípios e os funda-
mentos, mas o que o casal vai usufruir em seu leito, cabe apenas
aos dois determinar. Deus deu os limites onde podem caminhar,
fora isso, o casal deve esforçar-se para se conhecer e se tornar
especialista no corpo de cada um. Diálogo aberto e respeito pelo
outro são fundamentais nesta descoberta. Vejo muita gente dan-
do palpite equivocado e atrapalhando a vida dos casais. Deus
está deixando claro neste versículo que cabe aos dois determinar
o que é aceito ou não em sua intimidade. A Bíblia é o referencial,
mas a própria palavra dá bastante liberdade para que ambos se
conheçam na forma mais profunda e íntima que dois seres hu-
manos deveriam se conhecer.
Não deve haver segredos entre eles. Isso evidencia a impor-
tância do vínculo e do envolvimento emocional que o casal deve
investir para que seu casamento se torne cada vez mais forte e
abençoado. Afinal de contas, após o casamento, os dois são uma
só carne, isso requer um nível de compromisso profundo entre
eles para alcançar este padrão de cumplicidade.
Gênesis 2:18 diz: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o ho-
mem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele”. A mulher
não foi feita para ser o objeto sexual do homem, mas sua ajudado-
ra idônea. Ela está para o homem como uma igual. Ela se associa
à missão do homem. Ela merece ser amada, respeitada e honrada.
Os homens precisam cuidar das esposas como vaso mais frágil.
Sobre este particular, quero deixar claro que ser frágil, não tem
nada a ver com fraca. A fragilidade da mulher só reflete sua deli-
cadeza e a forma mais emocional dela em lidar com as questões
do dia a dia. Se tem algo que não vejo nas mulheres é fraqueza.
Conheço muitas mulheres e posso garantir que todas são muito
fortes e guerreiras. A mulher foi feita para andar lado a lado com o
108 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

homem. Não merece ser desonrada e tem todo o direto ao orgasmo


e ao prazer no sexo quanto seu marido. O dominante da relação
não deve ser um ou o outro, mas ambos devem juntos determinar
as posições, os toques, beijos e como o sexo deve ser praticado.
Infelizmente isso não acontece com a maioria delas. Exis-
tem culturas que o entendimento sobre sexo é tão deformado, que
mais de 200 milhões de mulheres24 já foram mutiladas sexualmen-
te para não sentir prazer. Isso é demoníaco e não vem de Deus.
Enquanto não compreendermos a mulher como imagem e seme-
lhança de Deus tanto quanto o homem, jamais teremos a revela-
ção completa do propósito de Deus para a humanidade.
Outro texto muito importante ligado ao assunto é Lucas
11.34-35 que diz: “Os olhos são a candeia do corpo. Quando os seus
olhos forem bons, igualmente todo o seu corpo estará cheio de luz. Mas
quando forem maus, igualmente o seu corpo estará cheio de trevas.
Portanto, cuidado para que a luz que está em seu interior não sejam
trevas”. A expressão “cheio de luz” deste versículo, está ligada à
palavra grega PHOTEINOS, que significa composto de luz, de
um caráter brilhante. Já a expressão “cheio de trevas” é a palavra
grega SKOTEINOS, que significa repleto de escuridão, coberto
de penumbra.
Nesse versículo podemos identificar claramente o impacto
da pornografia no caráter do ser humano. Os olhos são a porta
de entrada para luz ou para as trevas em nosso caráter. A cobiça
é um dos pecados mais originais da humanidade. A pornografia
desperta uma cobiça na área sexual que não podemos suportar. A
palavra de Deus nos ensina que nossos olhos devem estar volta-
dos para Jesus, autor e consumador de nossa fé.
Há um discipulado maligno por trás da pornografia. Como
vimos, o caráter e a personalidade do indivíduo são deformadas,
criando um abusador que vai devastar a vida das pessoas que es-
tiverem em seu caminho. Um indivíduo contaminado pela por-

24
http://www.bbc.com/portuguese/internacional/2016/05/160426_mutilacao_genital_de-
poimento_fn
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 109

nografia, pode produzir um impacto negativo enorme na vida de


muitas pessoas. Precisamos banir este câncer social para longe de
nossa nação.
No Brasil, um estupro acontece a cada 11 minutos25. Os da-
dos por si só já são alarmantes, mas estes são apenas aqueles casos
que são oficialmente registrados, onde a vítima presta queixa jun-
to a polícia. As autoridades do fórum de segurança pública acre-
ditam que pode ter ocorrido até 476 mil estupros em nossa nação
no ano de 2014. Isso significa que os números seriam de 1 estupro
a cada 54 segundos no Brasil. O estuprador é um consumidor de
pornografia. Não quero dizer que ela é a única responsável pela
formação de um estuprador. Mas ela tem seu papel cativo na cons-
trução de uma sexualidade doente e deformada. Coloquei estes
dados, que são reais, para mostrar o quanto a pornografia pode
deformar o caráter e perverter a personalidade de alguém.
A pornografia deforma princípios, valores e a verdade sobre
sexo e sexualidade. Nosso referencial deve ser Cristo sempre. Ele
é a estatura do varão perfeito. Quando olhamos para a pornogra-
fia, seremos roubados de algo bom e puro criado por Deus que
é o sexo. Satanás odeia o sexo e tudo aquilo que Deus fez para
ser bom, perfeito e agradável como parte da criação e propósito
para a humanidade. Na pornografia, nossos olhos estão voltados
para mentira, que vai nos levar a autodestruição. Precisamos ter
os olhos fitos em Jesus, autor e consumador de nossa fé.
Outro confronto direto vem do texto de Mateus 5:28: ​“Eu,
porém, vos digo: qualquer que OLHAR PARA UMA MULHER COM
INTENÇÃO IMPURA, no coração, JÁ ADULTEROU COM ELA”.
Ninguém que assiste a um vídeo pornográfico como hábito fica
alheio à cobiça. Todo usuário contempla o material pornográfico
com uma intenção impura em seu coração. O desejo toma conta
do usuário que começa a fantasiar estar naquela cena no lugar dos
atores e praticar o ato. Então todos os casados que fazem uso da

25
http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/n-oficial-de-estupros-cai-mas-brasil-ainda-
-tem-1-caso-cada-11-minutos.html
110 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

pornografia quebram sua aliança de casamento. A intenção é impu-


ra e o adultério foi cometido. Vai ser questão de tempo para que o
usuário consuma o ato de forma pessoal. Ele já quebrou o princípio
de não olhar para a nudez de outra pessoa que não seja seu cônjuge.
Um homem casado que assiste pornografia está adulteran-
do, pois o coração deste homem vai ficar cheio de desejos impu-
ros. Lembro-me de diversas vezes durante o ato sexual com minha
esposa, eu ficava pensando e imaginando as mulheres que havia
visto nos vídeos e revistas. Era com elas que eu estava transando,
pelo menos era o que eu fantasiava em minha mente. A fantasia
vai ficar maior e mais difícil de segurar. A próxima vítima que
aparecer na frente dele, vai se tornar meramente objeto de satisfa-
ção sexual. O solteiro está cometendo pecado também, pois está
cobiçando uma mulher que não é a dele. Isso também é quebra de
mandamento bíblico.
Mateus 5.29 diz: “Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-
-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo
ele lançado no inferno”. Este texto é o que se chama de santificação por
amputação. A pornografia nos leva a uma total falta de controle. Em
Provérbios 27.20 diz: “Como o inferno e a perdição nunca se fartam,
assim os olhos do homem nunca se satisfazem”. Aquele que se en-
trega à pornografia vai ser tomado pela cobiça e jamais se fartará,
se alimentando de todo lixo que existe no material pornográfico.
Satanás quer nos tirar do convívio de pessoas que amamos e
nos levar para o isolamento. Não pretendo levar o versículo para
o literal, mas vejo que amputação é ficar longe de situações que
vão fazer pecar. No último capítulo deste livro, vou descrever si-
tuações que vão deixar o usuário longe de situações de risco. Essa
amputação muitas vezes pode representar ficar sem internet em
casa, abandonar um celular moderno com acesso à internet, não
acessar internet sem a presença de outras pessoas, mudar o com-
putador de lugar ou até mesmo ficar sem computador.
A cobiça é o que alimenta o vício em pornografia. 1 Jo 2.16-
18 diz: Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o
Capítulo 4 – Desmascarando a Pornografia • 111

mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a
cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não
provém do pai, mas do mundo”.
Ao se deixar dominar pela cobiça, perde-se o controle to-
talmente e a comparação que faço é a seguinte: imagine alguém
que tem muita fome e pode comer toda a comida do mundo, po-
rém, tem um buraco no estômago que nunca se farta. Quanto mais
come, jamais se sente saciado. Nunca será o bastante. É isso que a
pornografia oferece. A cobiça (fome) aumenta, de modo que nun-
ca será saciada. Ela jamais vai satisfazer nossa necessidade de nu-
trição emocional.
Todo ser humano tem necessidades emocionais que preci-
sam ser nutridas através de relacionamentos saudáveis. Tentar
compensar esta necessidade com a pornografia vai levar à escra-
vidão. Romanos 6.16 diz: “Não sabem que, quando vocês se ofere-
cem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos
daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da
obediência que leva à justiça? “
Existe esperança. Em Marcos 8.25 está registrado um mila-
gre de Jesus ao curar um cego: “Mais uma vez, Jesus colocou as
mãos sobre os olhos do homem. Então seus olhos foram abertos,
e sua vista lhe foi restaurada, e ele via tudo claramente”. Acredito
que Jesus também pode curar de uma cegueira espiritual que a
pornografia pode causar, de modo a purificar nosso corpo, nossa
alma e renovar nosso espírito. Ele pode trazer paz aos nossos co-
rações e nos livrar da cegueira espiritual gerada pela pornografia,
santificando os nossos olhos e trazendo sua maravilhosa luz para
nossas vidas. Mas para isso, nossos olhos devem estar fitos nele,
que é o autor e consumador de nossa fé como está escrito em He-
breus 12.2: “Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por
tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos
atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança
a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e
consumador da nossa fé”.
Capítulo 5 – Brasil, uma
Nação de Escravos
Sabemos que o sexo é obra perfeita e pura da criação de Deus. É nEle
que encontramos a verdadeira essência do que é o sexo e qual seu
propósito dentro do relacionamento humano. Durante as pesqui-
sas que realizei para escrever este livro, tive contato com conceitos
equivocados e destrutivos sobre sexo que há anos vêm minando
nossa nação e nos últimos tempos vem ganhando mais espaço
frente a sociedade.
Um dos conceitos mais pervertidos é o da liberdade. Acre-
ditar que ser livre é fazer o que quiser e o que tiver vontade é um
grande engano. Um homem que vive segundo seus impulsos e
descontroles emocionais é prisioneiro destes. Sua vida está fora de
controle e sem governo.
Tal conceito, além de equivocado, fere o direito e a liberda-
de de outros, pois está empoderando o indivíduo a fazer o que
quiser na hora que desejar, sem limites. Focar no prazer indivi-
dual, vai afetar diretamente o coletivo. Essa mentira precisa ser
removida e combatida. O tipo de homem e mulher que internaliza
estas falsas crenças, torna-se destruidor de casamentos, famílias e
­relacionamentos.
Uma pessoa verdadeiramente livre é àquela que sujeita sua
vontade a Deus. Um homem que experimenta a liberdade descrita
na Bíblia, vive voluntariamente dentro dos limites que Deus nos
114 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

deu para gozarmos do lugar de domínio sobre a criação.26 Nós,


os que somos de Cristo, não vivemos segundo os sentimentos e
cobiças da carne, vivemos segundo seus mandamentos.27 Isso é ser
livre! Dizer não ao nosso mau desejo.
As mensagens equivocadas sobre o papel e função do ho-
mem, mulher, casamento e sexo, perverteram a maneira como
nosso povo vem vivenciando o ato sexual ao longo de nossos 500
anos de história. Minha proposta é rever alguns eventos que en-
raizaram em nossa sociedade estas falsas crenças, para que pos-
samos combater e eliminar essa mentalidade que nos escraviza.
É fundamental ressignificar a forma como o brasileiro vê e pensa
sobre o sexo.
Ao ter contato com as fontes de pesquisa, pude compreen-
der que muitas das mentiras que contaminam nossa sociedade
atualmente, foram construídas desde os primeiros anos de nossa
nação. São falsas crenças que acabam sendo passadas geracional-
mente. A cada novo ciclo, novas disfunções e distorções na sexua-
lidade do brasileiro são acrescentadas. Os sintomas sociais pioram
a cada “renovação” destas mentiras. Cada nova geração que toma
os falsos conceitos para sua vida e atividade sexual, provoca em
nossa nação mais um ciclo de reprovação.
É desafio de nossa geração obter este discernimento e ga-
rantir aos que vem após nós, a verdade e o propósito sobre sexo,
lhes dando a oportunidade de glorificar a Deus com sua sexuali-
dade. Precisamos purificar nossa cosmovisão e alinhá-la com a de
Deus. Somente desta forma e através desta renovação de mente,
vamos viver sua boa, perfeita e agradável vontade.

26
Gênesis 1.26-27
27
Pr Marcos de Souza Borges, As 4 Leis do Casamento.
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 115

5.1 OS COLONOS – SÉCULOS XVI A XVIII


Mary Del Priori28 fez um profundo trabalho de pesquisa so-
bre a história do sexo no Brasil, compilando parte dele em um
de seus livros Histórias Íntimas do Brasil. Este livro foi uma das
minhas principais fontes para o desenvolvimento deste capítulo.
Neste livro ela conta que, ao desembarcar em nossas terras,
os portugueses se depararam com as nativas totalmente despidas
e inocentes em sua nudez, enquanto na Europa Isabela de Castela
(1504) morria por conta de uma ferida que não queria mostrar
aos médicos, recebendo a extrema-unção debaixo dos cobertores
para não mostrar os pés. Aqui, as mulheres estavam naturalmente
despidas e bem-dispostas, provocando um furor nos patrícios que
eram em sua maioria “homens sem controle”.
As indígenas e sua nudez, tornam-nas alvo do desejo desen-
freado dos homens dalém mar. Elas eram vistas meramente como
objeto sexual daqueles que haviam chegado de Portugal. Estes
haviam deixado suas famílias na Europa e quando aqui aporta-
ram, envolveram-se sexualmente com as nativas. Foi num cenário
de adultério, fornicação e destruição familiar que os primeiros
brasileiros (resultado deste encontro) foram gerados. Começava o
estigma do filho bastardo.
Aqui enraizaram-se conceitos de mulher que expõe sua nu-
dez, submetendo-se a um jugo de sensualidade e de cobiça desen-
freada pelos homens. Outro conceito raiz é de homens com apetite
sexual desenfreado e egoísta, atraídos pela mulher com o princi-
pal e por vezes único fim, o sexo, afastando o envolvimento emo-
cional e criando vínculo meramente com o ato sexual. Homem
manipulador, compulsivo e sem domínio próprio.
Esse comportamento é o cenário ideal para a propagação e
proliferação do vício sexual. Tal estilo de vida irresponsável, mili-

28
Mary Lucy Murray Del Priore (Rio de Janeiro, 1952) é uma historiadora e professora brasi-
leira. Especialista em História do Brasil, Mary Del Priore concluiu o doutorado em História
Social na Universidade de São Paulo e pós-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Scien-
ces Sociales, na França.
116 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

ta contra o reino de Deus, pois é fator preponderante para a des-


truição e desconstrução familiar. Não gera filhos legítimos, apenas
bastardos e este comportamento adoece a sociedade.
Outro fator preponderante é o fato de que os colonos tive-
ram que lutar quase três séculos contra a precariedade. A higie-
ne das pessoas e das casas não era apropriada para a intimidade.
Muitas habitações eram precárias, sem portas ou fechaduras que
eram caríssimas na época. O interior das casas raramente era lim-
po, não havia banheiros e os penicos em vários cômodos ficavam
cheios de conteúdo fresco e quando esvaziados, eram lançados
nas ruas ou praias.
Não havia privacidade dentro de casa, pois os sons e a di-
ficuldade em fechar as portas podiam atrair olhares e ouvidos
curiosos para o quarto dos casais. Tal cenário fazia com que as
áreas externas como os matagais, praias e florestas fossem os lu-
gares preferidos dos casais. Fato que faz com que os primeiros
colonos tenham a preferência ao sexo FORA DE CASA.
Nesta mesma fase, um outro homem da época foi o ban-
deirante. Eles desbravavam o país, as vezes por anos atrás de ri-
quezas e de exploração dos povos indígenas. Eles saiam para as
viagens e deixavam suas famílias na cidade e ficavam anos sem
voltar. Muitos morriam durante as bandeiras.
Eles escravizavam ou matavam os homens e tomavam para
si as mulheres. Paulo Sergio do Carmo cita em seu livro Entre a
Luxúria e o Pudor, um comentário feito pelo Padre Juan Muniz
de Mantoya sobre as bandeiras de Raposo Tavares e Manoel Preto
quando invadiram as missões de Guaíra no Paraná. “Esses indi-
víduos quando chegaram aqui apanharam as mulheres mais belas não
importando se eram casadas, solteiras, batizadas, pagãs e encerravam-se
com elas num cubículo e passavam à noite tendo relações sexuais com
elas como um bode num curral.” (SIC)
Mais uma vez famílias sendo despedaçadas por conta da
cobiça destes homens e pelo impulso incontrolável pelo sexo. As
nativas eram abusadas e estupradas violentamente. Do colono ao
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 117

bandeirante, o homem “Brasileiro” demonstrava um comporta-


mento sexual devasso e irresponsável. Para este homem, o interes-
se pelo sexo feminino era o de total desrespeito e sua preocupação
era com seu prazer.
Além da mulher indígena, a mulher negra escrava foi víti-
ma de uma mentalidade doentia dos homens do período colonial,
pois era sistematicamente sujeitada a abusos físicos, emocionais
e sexuais. A fornicação e os pecados sexuais lhe eram atribuídos
com pontadas de racismo e desprezo. Recebia o rótulo de mulher
fácil, cujos homens podiam lhe expor diretamente suas vontades
e até mesmo exigir sexo sem rodeios ou galanteios.
Com exceção da mulher branca, as demais eram tidas no
imaginário colonial como meretrizes e amantes. Todas inferioriza-
das por sua condição sexual, servil e racial. A elas, eram dirigidas
palavras chulas e gracejos indecentes, enquanto que às Brancas,
dirigia-se palavras amorosas e elegantes. Eis as raízes do mito: Há
mulheres pra casar e as para farrear. Mais uma grande mentira e
injustiça em nossa nação.
A família era predominantemente patriarcal para as elites
agrárias, enquanto que nas camadas mais pobres, o que preva-
lecia era o concubinato, uniões informais e não legalizadas. Os
filhos ilegítimos eram a MARCA REGISTRADA.
A Mulher Branca da elite agrária era proibida de sair de casa,
estudar ou se expor. A única chance de um passeio era para o culto
dominical ou visitas à igreja para novenas, mas sempre acompa-
nhadas e observadas, vigiadas ao extremo. Seus casamentos eram
sem envolvimento emocional, apenas por interesses financeiros
de suas famílias. Elas eram praticamente vendidas como animais
no mercado matrimonial da época. Normalmente os casamentos
ocorriam quando ainda eram muito moças e até crianças.
Seu papel era cuidar do lar, dar filhos ao marido e ser res-
peitável aos olhos da sociedade. Ao casar, vestiam-se de preto e
ficavam reclusas ao seu lar. Tornavam-se amargas e sem amor. Os
118 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

maridos eram, em sua maioria, infiéis e até mesmo violentos, o


prazer feminino no sexo era reprimido e desconsiderado.
A igreja desta época, na figura dos padres jesuítas, lutava
para esconder a nudez e o que ela simbolizava. A lascívia, a luxú-
ria e pecados sexuais já eram assunto fortemente combatido pelos
religiosos. Padre Anchieta reclamava que além das mulheres in-
dígenas andarem peladas, elas não se negavam a ninguém. Aos
olhos da igreja, o sexo tinha apenas o propósito da procriação. Qualquer
motivação voltada ao prazer sexual era pecado e deveria ser combatido.
O Discurso da igreja católica na época, para atacar a imora-
lidade sexual, estava pautado na ameaça do inferno, punições e
castigos aos pecadores. Usavam pinturas nos livros e nas paredes
para mostrar demônios recebendo a alma dos que não andavam
segundo sua doutrina. Mas não havia ensino e orientação sexual
adequada para a população.
O sexo admitido e ensinado pela igreja era única e exclusi-
vamente para a procriação. As mensagens eram de que o sexo é
sujo e o prazer deveria ser controlado. As relações sexuais dentro
do sacramento eram breves e desprovidas de calor e refinamento.
As mensagens erradas que a igreja comunicou sobre sexo, remo-
veram o prazer sexual do matrimônio.
Era proibida a nudez dos cônjuges, haviam camisolas com
buracos nas áreas genitais para haver a penetração. Para a igreja
católica, toda relação sexual que não fosse com o intuito de pro-
criação, confundia-se com prostituição. A repressão era enorme.
Tal fato fez com que as igrejas se tornassem palco para os namoros
escondidos da época. Tornaram-se palco até mesmo de traições
conjugais.
Mal iluminadas, seus recantos e colunas ofereciam lugares
resguardados da curiosidade alheia. Dom Cristovão de Aguirre
escreveu em 1681 um manual português onde relata tais aconteci-
mentos. Lá ele diz: “A cópula entre casais na igreja tem especial mali-
cia de sacrilégio? Ainda que se faça ocultamente?”
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 119

Outro ponto que marcou o papel da igreja nos primeiros três


séculos de nossa nação foi o pecado sexual dos líderes. Marciana
Evangelha, denunciou em 1753 o padre Jesuíta José Cardoso por
lhe assediar inúmeras vezes no confessionário. Outro exemplo foi
do padre Francisco Xavier Tavares, que assediou a mulher casada
Maria Joaquina Assunção. Na ocasião a convidou para ter com ele
“alguns amores e se consentia que ele fosse a sua casa”.
A vigilância moral sobre os corpos e sexualidade conjugal,
sem a devida instrução, criou a dupla moral na sociedade. Em
casa, faziam filhos e o “trique – trique” enfadonho dentro do ca-
samento. Porém, nas ruas se entregavam à luxuria com amantes
e prostitutas e tinham isto como o “sexo bom”. Surge o mito do
“garanhão” ou frade, aquele que possuía várias mulheres e que
era festejado entre os amigos, enquanto, homens fiéis eram tidos
como errados.
Vejamos alguns versos escritos por Gregório de Matos em
relação ao sexo dentro do casamento e fora dele:

”O casado de enfadado
por não ter a quem lhe aplique
anda já tão desleixado
que inda depois de deitado
não faz senão o trique-trique”

“O amor é finalmente
um embaraço de pernas
uma união de barrigas
um breve tremor de artérias
uma confusão de bocas
uma batalha de veias
um rebuliço de ancas
quem diz outra coisa é besta”
120 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

O sexo matrimonial era visto como monótono e sem graça,


enquanto o sexo fora do casamento era visto como o que era bom e
divertido. Triste crença que até hoje vem deformando o caráter de
homens e mulheres, bem como destruindo casamentos e f­ amílias.

PERÍODO IMPERIAL – SÉCULO XIX


No Século XIX brilhou a estrela do Adultério.29 No período
anterior, as relações eram impositivas e de dominação, como a dos
senhores e as escravas. Neste período, no entanto, consolidam-se
as relações venais e por vezes até recheadas de sentimentos. O
mau exemplo vinha de cima, dos membros da realeza.
A primeira era Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon
y Bourbon que morava em um palácio distante de seu marido, D.
João VI. Vários foram seus casos amorosos, desde o comandante
da frota britânica Sydney Smith, passando por funcionários pú-
blicos e muitos outros. As filhas da rainha de apenas 10 anos já
seguiam os passos da mãe, segundo relatos da princesa Leopol-
dina, sua nora.
O filho D Pedro, tinha um apetite sexual descontrolado. Não
conhecia limites diante da família, muito menos dos maridos das
mulheres desejadas. Não importava a condição social, mucamas,
damas da corte, estrangeiras ou criadas. O Cônsul Espanhol da-
quela época, Delavant, acusava-o de ser “Variável em suas cone-
xões com o belo sexo”. Ainda segundo o mesmo, “um objeto dis-
tinto para cada semana, nenhuma conseguia fixar sua inclinação”.
Nessa época, ser libertino não significava apenas seduzir
todas, mas, sobretudo, não se deixar seduzir. O Imperador, era
viciado em sexo e fora de controle. Um tipo de homem e de líder
altamente tóxico para qualquer sociedade.
Alguns dos viajantes estrangeiros que estiveram por estas
bandas na primeira metade do século XIX, deixaram relatos sobre
o cotidiano sexual e excessos da vida do Povo Brasileiro naquela

29
Mari Del Priori, Histórias Intimas do Brasil, Editora Planeta. Pág 57.
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 121

época. O Inglês Alexander Caldcleugh dizia: “a moralidade rei-


nante no Rio de Janeiro se apresenta bem precária”. Já o Francês
Freycinet, reclamava dos vícios e da libertinagem escancarada,
onde “havia todo tipo de excessos”. Outro francês foi Arago, que
escreveu: “O Rio é uma cidade onde os vícios da Europa abunda-
vam”.
J.K.Tuckey diz: “as relações sexuais licenciosas talvez
igualem ao que sabemos que predominou no período mais dege-
nerado do Império Romano”. Já o Conde Suzanet, em 1825, des-
creve que a mulher brasileira casava muito cedo, tinha seu corpo
transformado pelos primeiros partos, perdia sua formosura. Os
maridos, logo apressavam-se para substituí-las por escravas ou
mulatas como suas amantes. Era comum ver estas mulheres, mui-
to jovens, cercadas por 8 ou 10 filhos, dos quais apenas 2 eram
seus, os demais eram de seu marido em suas aventuras. Filhos
legítimos e bastardos educados juntos.
A escravidão fortalecia a imoralidade sexual dos brasileiros,
sendo o casamento, repelido pela maioria, que o considerava um
laço incômodo e um encargo inútil. Havia distritos inteiros onde
existiam apenas duas ou três famílias constituídas. Os demais, vi-
viam em concubinato com mulheres brancas ou mulatas.
Havia um alto nível de violência doméstica nas relações
conjugais. Não apenas a física pelos castigos ou brutalidade das
surras e açoites, mas também, através do abandono, mal querer e
desprezo por parte dos maridos. Era comum homens com boa po-
sição social e com recursos financeiros, constituírem mais de uma
família. As moças jovens sem recursos, que não haviam consegui-
do casamento no restrito mercado matrimonial, viam nos homens
mais velhos e casados, a chance de serem cuidadas e supridas.
Sujeitavam-se à condição de segunda ou terceira esposa do “se-
nhor juiz”.
Neste cenário, as prostitutas entram em cena como algo
necessário aos olhos da sociedade da segunda metade do século
XIX. A própria igreja católica da época permitia o ofício, desde
122 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

que fosse realizado sem prazer e para evitar a pobreza extrema.


Enquanto as mulheres cuidavam dos filhos, da casa e frequen-
tavam a igreja, os homens bebiam, fumavam e ficavam com as
­prostitutas.
Em 1845, Dr Lassance Cunha fez um estudo, classificando
a atividade do meretrício em 3 categorias. As aristocratas ou de
sobrado, as de sobradinho ou de rótula e a escória. Os grandes
cabarés estavam sendo criados e frequentados pelos “homens po-
derosos” da sociedade, que eram casados.
No romance de José de Alencar, Lucíola, de 1862, é descrito
o pensamento da época sobre uma crença altamente destrutiva.
Em um diálogo entre Paulo e Sá sobre Lúcia:
“— Quem é esta senhora? Perguntei a Sá.
— Não é Senhora, Paulo! É uma mulher Bonita.”
Esta afirmação de Sá, dizendo que Lúcia não era senhora, a
desqualifica moral e socialmente. Mas quando a classifica como
mulher bonita, está revelando que, na mentalidade da época, a be-
leza e o prazer só eram possíveis de encontrar fora do casamento,
nas mulheres perdidas. Mais uma das falsas crenças que precisa-
mos, como igreja remover de nossa sociedade.
Vejamos um trecho do livro Casa Grande & Senzala de Gil-
berto Freyre: “Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam
juntas. O Brasil, entretanto, parece ter-se sifilizado antes de se haver
civilizado. A contaminação da sífilis em massa ocorreria nas senzalas,
mas não que o negro já viesse contaminado. Foram os senhores das ca-
sas-grandes que contaminaram as negras das senzalas. Por muito tempo
dominou no Brasil a crença de que para um sifilítico não há melhor depu-
rativo que uma negrinha virgem”. (SIC)
Atribuía-se às prostitutas a culpa do problema, porém o ho-
mem devasso da época era o principal propagador da doença. Ele
adquiria a sífilis na zona de prostituição, mas passava para sua
esposa em casa, suas amantes e para as escravas de sua proprie-
dade. Há uma identidade de devassidão sobre o homem brasileiro
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 123

que causou e ainda causa grandes feridas em várias áreas de nos-


sa sociedade.
Era mais fácil culpar e tratar o problema da ótica das
prostitutas, uma vez que os homens da época eram muito pres-
tigiados devido suas posses e posições hierárquicas e sociais.30
Atuando apenas de um lado dos vetores, fica mais difícil contro-
lar a ­epidemia.
A pornografia em forma de romance para homens começa a
ser introduzida na segunda metade do século XIX. Brochuras com
inúmeras gravuras e estampas, com textos eróticos que impeliam
os homens para a masturbação. Estas leituras, aos olhos dos médi-
cos da época, despertavam “curiosidades terríveis”.
O desenvolvimento tecnológico permitiu a grande expan-
são da fotografia mas com ela, as revistas para homens ganharam
imagens reais ao invés de gravuras. Normalmente as atrizes eram
recrutadas em bordéis. Devido a este procedimento, a pornografia
ganhou escala e passou a ser consumida pelo grande público.
A invenção da câmera 35mm, Leica compacta, permitia que
os negativos fossem reduzidos e reproduzidos posteriormente. Já
o mutescope, que surgiu na Inglaterra nos primeiros anos do sé-
culo XX, permitiu aos produtores de pornografia exibir pequenos
filmes através de uma sequência de fotos.
O filme pornográfico mais antigo que se tem notícia é o es-
cudo de ouro ou o albergue, gravado na França em 1908. No Brasil
a revista Rio Nu foi um dos grandes disseminadores de material
pornográfico. Entre os anos de 1900 e 1916, eles inundaram nosso
solo com piadas de duplo sentido, Charges, imagens, etc.
O Século XIX é descrito pela historiadora Mary Del Priori
como o século hipócrita. Segundo suas próprias palavras “Século
Hipócrita que reprimiu o sexo, mas foi por ele obcecado. Que vigiava a
nudez, mas olhava pelo buraco da fechadura. Que impunha regras ao
casal, mas liberava os bordéis”. Sociedade que definia dois tipos de

30
Sergio Carrara, Antropólogo Professor do Instituto de Medicina Social da UERJ.
124 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mulher: “A respeitável, feita para o casamento, que não se amava, e que


se fazia filhos. E a prostituta, com quem tudo era permitido e se dividiam
as alegrias eróticas vedadas, por educação, às esposas”.
Na mentalidade da época, o sexo estava dividido em dois: O
sexo legítimo de união legal, focado na procriação e o sexo ilegí-
timo e proibido advindo dos adultérios e prostituição. Os bordéis
tinham a função de aprisionar os desejos dos homens da época na
iniciação dos jovens ou para que os homens pudessem dar vazão
aos seus impulsos sexuais e fantasias.
Uma mentalidade altamente destrutiva, roubando o prazer
sexual conjugal e entregando-o a meretrizes. Mentiras que vigo-
ram em nossa sociedade há muito tempo e precisam ser removi-
das. Um dos grandes causadores deste mal foi a maneira inade-
quada como a igreja brasileira atuou na época, outro ponto foi
a rebelião escancarada de alguns veículos de comunicação, que
passaram a divulgar em massa conceitos de luxúria e lascívia,
conforme os relatos dos historiadores.

REPÚBLICA – SÉCULO XIX ATÉ 1960


As mudanças políticas e econômicas da época, trouxeram
também muitas transformações na maneira como o povo via o
corpo e o sexo. Os longos vestidos com espartilhos, começaram
a ser substituídos paulatinamente por roupas mais leves, com o
fim de dançar, praticar esportes ou atuar31. Multiplicavam-se os
ginásios e os esportes passavam a ser incentivados.
A mídia, a partir deste ponto, ganha força na construção de
novos conceitos. O “ser moderno” estava associado a ser brasilei-
ro. Os veículos de comunicação passam a ter cada vez mais força
em suas mensagens e no que a sociedade deveria pensar, vestir e
consumir.
Com a chegada da Lingerie, a mídia passou a explorar o
corpo feminino como algo comercial, ideal para a venda e comér-

31
Mari Del Priori, Histórias Íntimas do Brasil, Editora Planeta, Pág 106
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 125

cio de produtos. A mulher do Séc XX era diferente das anteriores.


Estava determinada a cuidar de seu corpo e corrigir as pequenas
imperfeições.
O Corpo passa a ser tratado como objeto estético e fonte de
desejo e não mais como fonte de pecado carnal ou santuário. Os
casais começam em sua maioria a ser formados por afinidade e
amor e não mais por interesse das famílias.
No teatro nacional, entre os anos 1880 e 1910, a figura mas-
culina era o foco principal. Nada de nudez ou menções escancara-
das sobre sexo. Apenas piadas que insinuavam sexo e sexualida-
de, mas dentro da moral e bons costumes.
Já na primeira fase do teatro de revista, a nudez feminina
começa a ser exposta, ainda timidamente através de decotes re-
servados, meias grossas cor da pele e com fantasias que cobriam
o corpo. Logo em seguida, os enredos e piadas ficaram para trás.
Agora a exaltação no palco era para as danças, música e sensuali-
dade das “coristas”.
Tais eventos mantiveram vivos o mito brasileiro das mulhe-
res seminuas e homens totalmente embevecidos por sua beleza. A
nudez feminina é exposta e idolatrada. As vedetes ganham cada
vez mais espaço nos teatros e impregnam conceitos equivocados
sobre sexo e sexualidade na mente de homens e mulheres.
A indústria americana de Hollywood impunha o discurso
da transformação do corpo feminino em objeto de desejo fetichis-
ta. Mas na mesma proporção que a mídia, o teatro e os veículos de
comunicação expunham o corpo feminino e as informações sobre
sexo eram precárias e equivocadas. As mulheres, em sua grande
maioria, chegavam em seus casamentos sem nenhuma informação
sobre sexo. Por outro lado, os homens chegavam em seu matrimô-
nio com uma mentalidade totalmente contaminada e pervertida
pelos envolvimentos com prostitutas e material pornográfico.
Falar sobre sexo ainda era segredo dentro das famílias. A se-
xualidade individual era vivida em silêncio ou com culpa. A edu-
cação sexual era tabu devido ao silêncio dos pais, mas isso não
126 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

tirava a curiosidade dos jovens, que procuravam saciar sua curio-


sidade de forma autônoma. Lamentavelmente com os p ­ iores ma-
teriais possíveis e recheados de mitos e inverdades sobre o tema.
Durante o governo Vargas, há um pacto do estado com a
igreja que procurou restaurar valores importantes na socieda-
de, baseada na ética cristã da valorização da família. No Estado
Novo, valorizou-se a ideia da coesão social necessária para forta-
lecer a pátria. Este apelo implicava a definição de um modelo que
­expurgaria todas as ameaças à ordem: Imoralidade, sensualidade
e ­indolência.
Essa parceria com o governo manteve forte o moralismo nas
famílias e uma forte pressão sobre a mulher. O homem continuava
devasso, mas a mulher deveria se guardar virgem para o casa-
mento. Em meados do século XX continuava-se a acreditar que
o destino natural das mulheres era ser mãe e dona de casa. Ha-
viam regras para o namoro mais sério. O rapaz buscava a moça
na frente de casa e a trazia de volta, não podendo entrar caso ela
morasse sozinha. O homem sempre pagava a conta e a “moça de
família” não podia se dar a conversas picantes e deveria ser firme
aos avanços do pretendente. O que mais contava não era o desejo
ou impulsos e sim a aparência e as regras.
Algumas literaturas da época, muito comuns às moças
como O Cruzeiro, Jornal das Moças, Revista Claudia, Revista Querida
entre outras, eram das poucas opções de entretenimento para as
jovens e mulheres da época. O interessante é que os artigos eram
escritos por homens, uma vez que as mulheres ainda não estavam
inseridas no mercado de trabalho. Os temas eram quase sempre
voltados para a manutenção da felicidade conjugal e o ponto de
vista masculino sobre como as mulheres deveriam agir.32
O ideal do casamento feliz, segundo estas publicações, era
baseado na forma como elas deveriam se comportar dentro e fora
do espaço doméstico. Mas aos rapazes, conforme conta Paulo

32
http://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/revistas-femininas-nos-anos-50-e-60-a-
-mulher-no-mundo-machista.html
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 127

Sergio do Carmo em seu Livro Entre a Luxúria e o Pudor, os ho-


mens iniciavam sua vida sexual com a masturbação, depois com
as empregadas domésticas de suas residências e ou nas zonas
de ­meretrício.
Tinha-se horror a homem virgem e as relações sexuais com
várias mulheres não era apenas permitida, como frequentemente
desejadas, nas palavras da historiadora Mary Del Priori em seu
Livro Histórias Íntimas do Brasil. Os rapazes eram incentivados a
procurar as “galinhas ou biscates”, sinônimos para as mulheres
fáceis. Mary ainda conta que havia o pavor dos aproveitadores,
que “abusavam da ingenuidade feminina e, ao partir, deixaria os cora-
ções partidos e pior, a honra em pedaços”.
Havia uma forte pressão sobre a mulher como aquela que
tem maior responsabilidade na felicidade conjugal. A revista Cru-
zeiro de abril de 1960 publicou que “A natureza dotou o espírito fe-
minino de certas qualidades sem as quais nenhuma espécie de sociedade
matrimonial poderia sobreviver bem”.
Havia uma grande ameaça sobre as esposas, que era a se-
paração. Como a maioria das mulheres de classes média e alta
dependiam do seu provedor, as separadas ou desquitadas eram
malvistas. E era corriqueiro que as mulheres suportassem as esca-
padas e infidelidade dos maridos.

A REVOLUÇÃO SEXUAL NO BRASIL


Entre os anos 60 e 70 eclodiram eventos significativos
para a chamada revolução sexual no Brasil. Vários foram os
eventos que provocaram mudanças no pensamento sexual da
sociedade Brasileira.
A democratização da beleza foi instituída com o crescimen-
to de produtos, academias e consultórios de cirurgia plástica.
O ­direito ao prazer tornou-se uma norma.33

33
Mari Del Priori, Histórias Íntimas do Brasil, Editora Planeta, Pág 175
128 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A pílula anticoncepcional abre uma nova perspectiva para


as mulheres. As músicas cantadas pelos jovens eram carregadas
de rebeldia e confronto aos valores e padrões da época. Os pala-
vrões antes proibidos, invadiram o linguajar dos jovens e o teatro.
As músicas da jovem guarda cantavam a rebeldia “Pode vir quente
que estou fervendo” e “eu sei que eu sou, bonita e gostosa”.
As relações no cotidiano dos casais começaram a mudar. Os
“Avanços e carinhos mais quentes” passaram a aquecer os relacio-
namentos da nova geração. O beijo de língua, antes escandaloso,
passou a ser sinônimo de paixão.
A moda minissaia despia as coxas e os biquínis pequenos e
as sungas enchiam as praias de corpos descobertos. As mulheres
começavam a enfrentar as regras sociais a e familiares. Os mari-
dos não eram mais “donos” das esposas. Quando acabava o amor,
se separavam e outros escolhiam o caminho dos “casos”, sendo
o adultério feminino uma saída para aquelas que não desejavam
romper o casamento.
No pano de fundo o Golpe Militar de 1964, com um plano
de aceleração econômica que provocou a migração de muitos para
as cidades grandes. O crediário abriu as portas para as famílias
adquirirem seus bens de consumo e isso alavancou a venda de
Televisão que saiu de um total de 9,5% dos lares brasileiros em
1960 para 40% em 1970.
Os motéis se multiplicavam, as capas de discos passavam a
vir com fotos de mulheres em trajes sensuais ou biquínis. O vídeo
cassete abriu portas para a locação dos filmes pornográficos assis-
tidos dentro de casa. A música, literatura e cinema exibiam a “in-
timidade dos casais”. Esse é um dos grandes sofismas de hoje, pois
algo que é público, jamais pode ser íntimo. Revistas da década de
70 passaram a abordar questões sexuais mais abertamente. A pu-
blicidade erotizava comportamentos, sendo os veículos de massa
a principal fonte de comunicação destas mudanças.
Inúmeros artigos da revista Ele & Ela, criada em 1969, tra-
tam o fim do casamento, o fim da família, a revolução sexual, a
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 129

liberação das mulheres e uso de drogas. Neste novo contexto, as


mulheres passaram a lutar por direitos como os de ir ao mercado
de trabalho, mais participação social entre outros. O movimen-
to Feminista ganha força nos EUA e Europa e aos poucos invade
nossas terras.
Em dezembro de 1971, no hospital Oswaldo Cruz em São
Paulo, o cirurgião plástico Roberto Farina havia feito a primeira
cirurgia de mudança de sexo no cidadão chamado Valdir Noguei-
ra, que passou a chamar-se Valdirene. O Médico tornou público o
feito em um congresso médico sendo posteriormente processado
e condenado em primeira instância a 2 anos de prisão por “práti-
cas de lesões corporais de natureza”. Mas a turma da 5ª Câmara
do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo o absolveu do cri-
me. Em 1997 estas cirurgias foram regulamentadas pelo Conselho
Federal de Medicina e em 2008 o governo oficializou no SUS as
chamadas “cirurgias de redesignação sexual”.
Em 1979 o Brasil assinou a Convenção contra o Tráfico de
Pessoas e Exploração da Prostituição. A atividade não era consi-
derada ilegal, mas o tráfico de pessoas e o lenocínio eram, como
consta nos artigos 227 e 231 do Código Penal Brasileiro.
Nos anos 70, as pornochanchadas explodiam nos cinemas.
Na rua do Triunfo, instalou-se uma indústria que respondia por
40% dos filmes nacionais. O enredo dos filmes e a qualidade das
filmagens era o menos importante, o que mais se valorizava eram
as cenas de sensualidade, os filmes estavam recheadas de rela-
cionamentos extraconjugais e aventuras sexuais. Os títulos dos
filmes e os cartazes continham cenas altamente erotizadas. O pro-
pósito era entreter o público com a famosa política do Pão e Circo
para controlar e distrair as massas.
Os filmes comercializavam a imagem do homem garanhão e
aventureiro e das mulheres bem resolvidas e independentes, rom-
pendo os padrões. As histórias faziam as pessoas rir do marido
traído, da infidelidade conjugal e a ridicularização do casamento,
130 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

mensagens subliminares que deformavam ainda mais o caráter já


corrompido de seus usuários.
Foi então que em 1980 os veículos de comunicação reagiram
duramente ao filme O último tango em Paris. O então presidente
João Figueiredo determinou que o governo deixasse de financiar
filmes ou peças obscenas. Em março de 1982 o presidente Figuei-
redo fez um pronunciamento sobre esta escalada do obsceno e
pornográfico na nação. A televisão e os anúncios também se tor-
naram alvo deste basta ante o franco avanço da pornografia.
Outro fato marcante da década de 80 é que os veículos de
comunicação começavam a falar de uma nova família com os fi-
lhos do divórcio. Segundo o IBGE, entre os anos de 1980 e 1985
o número de divórcios cresceu de 29.000 para 76.000. Estimou-se
segundo a média de filhos por casal da época, que poderiam ser
44.000 filhos de pais divorciados.
Uma pesquisa realizada na PUC de São Paulo entre 1967 e
1974, fez uma pergunta para um universo de 10.000 filhos de pais
separados se eles haviam gostado que seus pais haviam se sepa-
rado. Não houve resposta positiva, no máximo ouviram um “foi
um mal necessário”.
As famílias se formavam com cada cônjuge trazendo seus
filhos do relacionamento anterior e se uniam todos na mesma
casa. Situação similar à da antiga família patriarcal, onde o casa-
rão concentrava filhos legítimos com bastardos, só que com uma
roupagem diferente, eram filhos legítimos com novos pais. Novos
personagens eram inseridos na família. Madrasta, padrasto, meio-
-irmão, entre outros.
Em 1987 foi realizado o I Encontro Nacional de Prostitutas,
que ocorreu no Rio de Janeiro. A luta era pelo reconhecimento
da profissão e a estratégia escolhida foi a criação e legalização de
associações nos diversos estados brasileiros. A Rede Nacional de
Profissionais do sexo foi criada dois anos depois no II Encontro
Nacional de Prostitutas.
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 131

Nesta mesma década o primeiro caso de AIDS no Brasil foi


noticiado. Isso caiu como uma bomba para os “avanços” daqueles
que se lançavam ao prazer desenfreado. Nos primeiros anos da
década de 80 o assunto era grave e aterrorizante.
No final da década, os doentes de AIDS ficavam em pa-
vilhões e os profissionais que faziam enfermagem ficavam com
medo dos pacientes. O impacto da doença fez muitos repen-
sarem seus hábitos sexuais, estilo de vida e princípios morais.
A virgindade e fidelidade conjugal voltaram a ser discutidos e
­considerados.
Mas na década de 1990, a informação sobre a doença e a
pressão por soluções governamentais para investir em tratamento
aos soropositivos, fizeram frente aos argumentos da igreja sobre a
doença e o comportamento dos afetados, por um discurso médico
e científico.
Em 1995 uma em cada cinco famílias eram lideradas por
mulheres, resultado de mudanças nas tradições e no aumento do
divórcio. As mulheres preferiam tal situação a passar pelas misé-
rias e sofrimentos de cônjuges violentos.
Em 2003 o Deputado Federal Fernando Gabeira apresentou
o projeto de lei PL 98/2003, tendo em vista o reconhecimento da
profissão dos profissionais do sexo, sendo que o mesmo encontra-
-se arquivado atualmente. A atividade entrou na lista de Classifi-
cação Brasileira de Ocupações em 2002 com o código 5198.
Na década de 2000 em diante, a internet e os celulares cau-
sam uma explosão de mensagens equivocadas sobre sexo. A por-
nografia rompe barreiras e invade as telas de computadores e ce-
lulares com informação sexual doentia. As novelas e os portais
de notícias são infestados de cenas de nudez e sexo. As mulhe-
res frutas ganharam um assustador espaço em todas as mídias,
as dançarinas sensuais de axé quase nuas passam conceitos de
sensualidade irresponsável. As salas de bate papo sexuais viram
fonte para encontros secretos.
132 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

As músicas e danças com apelo sexual ganham força no ce-


nário nacional. Os jovens estão impregnados por um falso sexo.
A desconexão com os pais cria um caminho aberto para que os
jovens procurem conhecer sobre sexo nos piores locais possíveis.
As redes sociais caíram no gosto popular, sendo as fotos carrega-
das de sensualidade são as que mais ganham compartilhamentos
e curtidas. O nude e sexting viram moda entre os jovens e aquilo
que deveria ser privado e exclusivo, passa a ser público e ­explicito.
Há conceitos antigos que a cada nova geração vem manten-
do seu caminho de destruição. Mensagens equivocadas sobre ho-
mens, mulheres e sexo vem deformando nosso caráter e acabando
com nossos relacionamentos desde os primeiros anos de nossa
nação. Precisamos parar com este ciclo insano agora. Creio que a
igreja tem o papel de comunicar valores sobre sexualidade, sexo,
hombridade e feminilidade adequados aos conceitos bíblicos.
A verdade sobre sexo precisa ser ensinada em nossas casas,
nas igrejas brasileiras e na sociedade. Este bom ensino vai dar às
pessoas e sociedade condições de refutar o mau ensino que vem
sendo disseminado na nação há muitos anos como vimos. Preci-
samos deste discernimento para desconstruir as mentiras e enga-
nos criados desde o início em nossa nação e fazer o caminho de
volta, acertar a direção e o rumo que tomamos e seguir na dire-
ção correta. A conclusão que chego diante deste breve relato é que
nosso povo jamais conheceu a sexualidade saudável. Temos sido
roubados de geração em geração de uma vida sexual saudável e
sem cativeiro. Um sistema equivocado está implantado nas raízes
desta nação e precisa acabar por meio da verdade do evangelho.
Este movimento começa com o posicionamento dos homens
Brasileiros. Desde os colonos até a atualidade, um grupo muito
grande de homens tem agido de forma equivocada dentro dos
relacionamentos. Homens infiéis, violentos e irresponsáveis são o
câncer desta nação, que precisa de homens com o coração dedica-
do a Deus, à família e ao propósito para o qual foram chamados.
Capítulo 5 – Brasil, uma Nação de Escravos • 133

As principais revoluções no comportamento das mulheres


e dos filhos foi um basta a este homem sem compromisso com a
família, que oprimia e não era um bom pai e marido. Precisamos
de homens fieis, que lutem por suas famílias, esposas e filhos. Que
sejam provedores não só de recursos financeiros, mas de seguran-
ça, amor, direção e limites na família.
Capitulo 6 – O Sexo
Sem Cativeiro
O Sexo sem Cativeiro é aquele que foi criado e planejado por Deus
desde o princípio. Foi feito antes do pecado entrar no mundo e
tem propósitos claros e definidos por Ele. O que vou compartilhar
neste capítulo não é nenhuma novidade ou algo que acabou de
ser criado. Eu apenas tive a graça de compreender, através dEle, o
que já existe desde a fundação do mundo.
Um dos propósitos mais originais de Deus para a humani-
dade é o relacionamento. Não fomos criados para viver sozinhos.
Em Gênesis 2.18 está escrito: “Não é bom que o homem esteja
só...”, o que deixa claro que somos seres relacionais e fomos feitos
para os relacionamentos.
Outro propósito importante é que fomos feitos para viver
em família. Gênesis 2.24 diz: “Por essa razão, o homem deixará
pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só car-
ne”. Nós nascemos dentro de uma família e só nos desligamos
dela, segundo o projeto de Deus, para constituirmos a nossa pró-
pria família através de uma aliança de casamento.

6.1 O AMBIENTE PARA O SEXO


Antes de criar os seres viventes, Deus criou o habitat para
cada espécie. Neste lugar onde cada ser deveria habitar, o Criador
preparou tudo o que cada ser vivo precisava para sua sobrevi-
vência e multiplicação. Para nós, seres humanos, Deus preparou
136 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

um LAR dentro de uma família como nosso habitat. Se existe um


lugar de benção para cada um de nós, este lugar é a família, se-
gundo o coração de nosso Senhor.
Deus sempre desejou que nascêssemos em lares que seguem
seus princípios e verdade. Porque é principalmente na família que
deveríamos viver e experimentar a natureza e o caráter de Deus.
A família deve ser o melhor lugar de discipulado para nós: um lar
acolhedor, funcionando como um habitat perfeito para o desen-
volvimento do ser humano até alcançar a maturidade necessária
para formar a sua própria família. Se tem algo que faz parte do
plano original de Deus para cada um de nós é a família como este
lugar de vida, através de relacionamentos saudáveis.
A força de uma família é o matrimônio. Quanto mais forte
for o relacionamento dos pais, mais nutridos emocionalmente e
espiritualmente serão os filhos. Quando o casal está unido, a famí-
lia vai comunicar à próxima geração o caráter de Deus. É no seio
familiar que nossa personalidade e nosso caráter absorvem o que
é o amor, misericórdia, fidelidade, honra, perdão, reconciliação e
demais características do caráter de Deus.
Quando a família é saudável, seus frutos serão FILHOS
MADUROS e prontos para levar geracionalmente a mensagem
do evangelho como um estilo de vida. Quando, porém, o sistema
familiar é doentio, o resultado serão filhos órfãos de pais vivos:
pessoas imaturas emocionalmente e despreparadas para cons-
truir sua própria família. É preciso resgatar os princípios e vere-
das antigas para colocar novamente o homem no curso correto de
sua vida.
No versículo seguinte, Gênesis 2.25, diz: “O homem e sua
mulher viviam nus, e não sentiam vergonha”. Aqui vários prin-
cípios se revelam de forma maravilhosa. Esta sequência me faz
compreender o coração de Deus no que diz respeito ao sexo para
a humanidade. Quero comentá-los agora.
Em primeiro lugar, o sexo foi criado para ser vivido ape-
nas dentro de uma aliança de casamento. Hoje vivemos grandes
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 137

problemas em nossa sociedade devido à conduta irresponsável de


muitos que têm vivido o oposto desta verdade bíblica. O sexo não
foi feito para ser praticado entre estranhos, mas sim por pessoas
que se conhecem e que possuem um compromisso sólido um com
o outro.
Somos seres emocionais e feitos para o relacionamento, de
modo que nossas emoções são nutridas ou ficam em desordem
através daquilo que damos ou recebemos em nossos relaciona-
mentos. Para viver o sexo sem cativeiro é fundamental investir na
qualidade da vida Conjugal. A vida de um casal não deve estar
centralizada, muito menos resumida em sua atividade sexual. O
Sexo é periférico e a qualidade do sexo é consequência de muitos
fatores dentro deste relacionamento.
O sexo fora de uma aliança é altamente nocivo contra o pla-
no de Deus, pois vai militar contra a família e a saúde das pessoas,
causando diversas desordens sociais e emocionais nos indivíduos
que vivem a mentira do sexo irresponsável. Doenças, abortos,
traições, abusos e muitas outras consequências tóxicas vão se de-
sencadear na vida das pessoas que escolherem este estilo de vida
sexual desequilibrado e fora do propósito de Deus.
As famílias que forem geradas dentro destas desordens, di-
ficilmente vão proporcionar aos seus integrantes a nutrição emo-
cional e espiritual necessária à sua saúde e maturidade. Pois será
um ambiente de morte relacional e vai comunicar ao caráter da
próxima geração infidelidade, desonra, justiça própria e ódio en-
tre outros sentimentos nocivos.

6.2 OS PRINCÍPIOS OU ETAPAS QUE DEVEM OCORRER ANTES DO SEXO


É importante caminhar em alguns princípios que farão o re-
lacionamento frutífero. O primeiro princípio é a INTEGRIDADE.
Se dentro de um relacionamento, ambos caminham de forma ínte-
gra, este princípio vai fazer crescer outro, que é a CONFIANÇA. A
integridade é o solo fértil onde a confiança cresce e se estabelece.
Sem confiança, um relacionamento não se sustenta.
138 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

A partir do momento que o relacionamento se solidifica em


INTEGRIDADE e CONFIANÇA, estará pronto para o próximo
passo, o casamento, que vai caminhar para outro princípio impor-
tante, a INTIMIDADE. Gênesis 2.25 diz: “O homem e sua mulher
viviam nus, e não sentiam vergonha”. O versículo fala deste ambiente
propício para que um relacionamento cresça e atinja o seu pro-
pósito. Neste versículo Deus nos mostra o ambiente e ressalta a
importância destes princípios. Não deve existir nada encoberto,
nenhuma mentira entre o casal antes de se casarem, e por isso
estarão prontos para a união dos seus corpos através do sexo, em
total INTIMIDADE, que virá para gerar uma união de almas e não
apenas de corpos.
Quando finalmente o casal chegar a esta etapa, seguindo a
esta ordem: INTEGRIDADE, CONFIANÇA e INTIMIDADE, será
impossível não FRUTIFICAR. A frutificação é o último estágio
que vem como consequência natural destes outros.
Quando um relacionamento é frutífero, estamos saciados
em nossas emoções e o sexo será realizado da maneira correta.
Muitos estão casados com verdadeiros estranhos. Não cumpriram
as etapas de integridade e confiança antes da intimidade sexual.
Não se deram a conhecer durante o namoro e o noivado nas suas
emoções, muitos já partiram direto para o sexo desde o namoro,
se entregando à luxúria nos primeiros dias da relação, ficando pri-
sioneiros de seus impulsos.
Se não mudarem de atitude, estão fadados a fracassar rela-
cionalmente. Essa tem sido a realidade de muitos casamentos. É
hora de refletir e mudar. Gênesis 2.25 fala de nudez, que significa
transparência total. Ela deve começar no namoro através do des-
nude da alma e se consolidar depois do casamento através da nu-
dez dos corpos com a primeira relação sexual. Depois falarei sobre
o tema. Lamentavelmente, o que mais acontece é que as pessoas
procuram esconder sua podridão de alma e já desnudam o cor-
po no namoro e noivado, praticando o sexo. Quando resolvem se
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 139

aliançar em matrimonio, a verdade sobre o caráter do outro vem à


tona, causando decepção e desilusão, abalando o relacionamento.
Vejo cada vez mais estranhos se aliançando e mesmo depois
de casados a dissimulação continuando. Sem integridade, não
haverá confiança, sem confiança não se construirá intimidade de
corpo e alma e sem intimidade não haverá frutificação. O resulta-
do disso será a morte do relacionamento.
Vimos em capítulos anteriores que muitos compulsivos
usam o sexo como fuga ou alívio para suas emoções, gerando um
cativeiro e morte. Quando investimos em responsabilidade e com-
promisso com a pessoa com a qual nos aliançamos, teremos um
relacionamento estável e nossas emoções certamente estarão em
equilíbrio. Este é o estado ideal para o sexo. O Sexo vem como
consequência de um relacionamento sólido e frutífero. Nossas
emoções estarão supridas antes do sexo, que virá a ser algo real-
mente extraordinário entre o casal.

6.3 A ESSÊNCIA DO SEXO CONJUGAL


Posso afirmar o que vivo hoje, depois de experimentar a res-
tauração da minha sexualidade. Mesmo depois de ter praticado
tanta luxúria e lascívia, nada se compara ao que experimento em
meu casamento hoje. O sexo é bom porque é com a minha esposa,
alguém com quem consegui finalmente me envolver emocional-
mente. É por causa dela e não do meu desejo sexual, performan-
ces, posições, brinquedos ou jogos sexuais. O sexo não foi feito
para ser satisfeito com coisas externas, o sexo sem cativeiro é de
dentro para fora. Eu não pratico mais o sexo como forma de fuga
ou alívio, eu pratico sexo porque estou suprido emocionalmente e
faço isso com a pessoa mais especial que existe para mim.
Quem tenta buscar satisfação sexual usando brinquedos,
jogos sexuais, posições novas ou algum tipo de loucura que os
homens inventam por aí, vai ser prisioneiro destas coisas e nunca
será suficiente. Estará preso às novidades e invenções, este dis-
curso só interessa ao mercado de brinquedos e acessórios sexuais.
140 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Vejo todos os dias notícias de práticas absurdas e bizarras às


quais as pessoas têm se entregado. Separar o sexo dos sentimentos
e praticá-lo com estranhos é um grande engano. Colocar a intimi-
dade sexual antes da intimidade emocional é um grande erro.
Deus planejou o sexo para vir depois da intimidade emocional.
Eu me deleito no corpo da minha esposa. Eu a amo e tenho
hoje um compromisso real com ela. Não estou com ela só para re-
ceber prazer e sim para construir com ela projetos e sonhos. Quero
formar FILHOS MADUROS para a sociedade. O propósito de um
homem e uma mulher juntos não é o sexo. Muitos têm casado
com a motivação equivocada. O sexo não sustenta casamento e
relacionamento nenhum pode resistir apenas por causa do sexo.
Investir na qualidade do relacionamento é fundamental. Ter um
relacionamento frutífero e satisfatório demanda investimento,
maturidade e um bom caráter.
Neste cenário, com a pessoa que se ama e que realmente se
está compromissado, é gerado um relacionamento frutífero, em
que o sexo é uma verdadeira explosão de prazer. Em Gênesis 2.25
também entendo e pratico outro princípio importante. Deus está
ensinando que o marido deve ser especialista apenas no corpo da
sua esposa e vice-versa.
Eu não preciso praticar com outras pessoas ou procurar re-
vistas e filmes sobre o assunto para ser especialista em sexo. Basta
que eu me dedique a conhecer e explorar o corpo do meu cônjuge
e que eu me permita ser conhecido por ela. Hoje posso declarar
que conheço o corpo de minha esposa e ela o meu. Sabemos o que
gostamos e o que nos dá prazer. Já combinamos o que é valido em
nosso relacionamento sexual e o que não entra de jeito nenhum.
Sei tocá-la, acariciar seu corpo e falar as palavras que ela
gosta de ouvir. Também já definimos as posições que nos propor-
cionam mais prazer mútuo. Nosso diálogo sobre isso é aberto e
fantástico. Posso finalmente dizer que a conheço sexualmente e
ela a mim. O nosso foco no sexo é dar prazer um ao outro. Eu
não preciso me preocupar com minha satisfação sexual, pois ela
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 141

está focada nisso e meu objetivo é garantir que ela tenha prazer. O
Sexo não é um ato egoísta e centrado no prazer individual.
Não havia mais ninguém segundo Gênesis 2.25 com o ho-
mem e a mulher além de Deus. Isso me leva a crer que a intimi-
dade sexual de um casal não deve ser definida por ninguém de
fora e sim entre os dois, dentro dos princípios e verdades de Deus
revelados nas Escrituras.
Quero convidar você a ser um especialista no corpo apenas
de seu cônjuge e se permitir ser conhecido por ele. Já li e ouvi em
muitos lugares que as pessoas desistem de seus casamentos por-
que o sexo com seu cônjuge esfriou. O que ocorreu na verdade é
que o relacionamento esfriou, devido à falta da verdadeira intimi-
dade, numa dinâmica de transparência em que existe integridade
e confiança, sem que haja nada do que se envergonharem. Muitas
vezes, os dois permanecem dois desconhecidos, não desnudaram
ainda suas almas. O que deve sustentar um relacionamento con-
jugal é o amor verdadeiro, a fidelidade, a hombridade, o bom ca-
ráter, a honestidade, o respeito, a honra etc.

6.4 TORNANDO-SE UMA SÓ CARNE


Quando em Gênesis 2.24 diz: “Por essa razão, o homem deixa-
rá pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”,
mostra que um dos propósitos do matrimônio é de que ambos se
tornem uma só carne. Para mim fala de cumplicidade e intimida-
de, fala de um relacionamento sólido e frutífero em que ambos se
conhecem, se amam e se respeitam, lutando para melhorar sua
postura dentro da relação. Pessoas devem se aliançar com pessoas
e não com seus desejos de prazer. A geração em que vivemos está
mais voltada para seus prazeres pessoais e egoístas, o que é refle-
xo de sua imaturidade.
Tornar-se uma só carne é um processo e não um passe de
mágica. Os dois não se tornam uma só carne porque colocaram
uma aliança no dedo. Se tornam um só no dia a dia, à medida que
142 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

ambos amadurecem e alinham seus objetivos pessoais, propósi-


tos, prioridades, missões etc.
O casamento é a melhor ferramenta para a maturidade
criada por Deus para a humanidade. Lutero dizia que um ano de
casamento o santificou mais do que dez anos de monastério34. O
matrimônio é a maior ferramenta de santificação criada por Deus,
pois o casamento monogâmico desafia o caráter humano. O Pior
de um em uma atitude, pode despertar uma reação onde o pior do
outro se manifesta.
São nossas “impurezas” de caráter vindo à tona. Isso acon-
tece para que sejamos santificados e alcancemos a maturidade e
não para que o matrimônio acabe. É um processo similar ao que
é feito pelo ourives com o ouro. Ele esquenta o metal para que as
impurezas venham à tona e SEJAM REMOVIDAS.
Deuteronômio 8.2 diz: “Lembre-se de como o Senhor, o seu
Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes
quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer
suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não”. O
deserto é um lugar de prova, quando somos tentados, rejeitados,
confrontados e humilhados, reagimos de forma a mostrar o que
realmente existe em nossos corações. O matrimônio faz isso co-
nosco também, o processo de se unir a outra pessoa é desafiador,
mas é muito gratificante quando superamos as dificuldades, ama-
durecemos e nos santificamos com este processo. Quando aban-
donarmos o orgulho e as demais impurezas da imaturidade de
nossos corações, vamos finalmente gozar de uma aliança de casa-
mento como Deus espera.
Outro princípio importante de Gênesis 2.25 é que a intimi-
dade sexual do casal deve ser algo privado, íntimo e particular.
Não deve ser explicito nem público como a mídia quer que pense-
mos. Hoje as pessoas têm tornado cada vez mais explícito e públi-
co o que deve ser exclusivo e restrito.

34
Pr Marcos de Souza Borges – As 4 Leis do Matrimônio
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 143

O sexo não deve ser feito ou visto por estranhos. Não é para
ser praticado sem um compromisso alinhado, onde não existe res-
ponsabilidade. A sociedade está cheia de pessoas que não tem re-
conhecida a paternidade de seus pais, que sequer sabem quem ele
é, porque tem muito irresponsável fazendo sexo sem os princípios
corretos. Sexo sem cativeiro é fruto de pura intimidade, cumplici-
dade e responsabilidade.
Hoje sou um homem livre que finalmente compreende estas
verdades e as pratica. Não preciso mais de sexo todo dia e toda
hora. Minha mente hoje é cheia de bons pensamentos e voltei a ter
o controle sobre ela. Amadureci e vivo um relacionamento abun-
dante. Isso é resultado de um trabalho juntamente com o Espírito
Santo, pois não sou mais governado pelas minhas emoções, mas
pelo Espírito Santo. Glória a Deus por isso.

6.5 O SEXO SAUDÁVEL


Não é muito difícil conhecer o sexo saudável; é só praticar
tudo ao contrário do que a mídia, a pornografia e muitos “profis-
sionais” dizem por aí. Tem muita gente que não entende de sexo
“aconselhando” casais e os absurdos são enormes. Se desejamos
compreender sobre nossa natureza e sobre o que faz parte de nos-
sa vida, devemos voltar nossos olhos e corações para Deus e para
o que Ele ensina sobre isso na sua Palavra.
Insisto em dizer que sexo deve ser intimidade e não pro-
miscuidade. Sexo deve ser consequência de um relacionamento
de qualidade entre o marido e a esposa. A intimidade emocional
vem antes da intimidade sexual. Isso acalma a alma e faz com
que se possa experimentar um nível de satisfação sexual maior do
que qualquer outra experimentada quando se viveu na lascívia.
É dessa forma que Deus fez e criou o sexo e esta verdade precisa
ser dita.
A maioria das pessoas busca no sexo uma forma de suprir
suas necessidades emocionais, de se acalmar, relaxar dentre outros
motivos. Mas posso garantir que o sexo jamais dará algo que ele
144 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

não foi preparado para dar. A intimidade emocional proveniente


de um relacionamento onde há fidelidade, compromisso, respeito,
honra e integridade, é o que vai construir um habitat ideal para
nossa saúde emocional.
Um relacionamento seguro, em que ambos estão interessa-
dos mais na satisfação do outro antes da própria satisfação, cria
um ambiente propício para o sexo sem cativeiro. A presença da
pessoa mais importante de sua vida é o que vai tornar o sexo entre
o casal algo extraordinário. ESSE É O SEXO SEM CATIVEIRO,
QUE NÃO NOS FARÁ CATIVOS, MAS NOS FARÁ LIVRES DE
VERDADE. Ao final do ato sexual entre marido e mulher, os dois
serão tomados por um profundo estado de paz e saciedade.

6.6 AS NECESSIDADES DE UMA MULHER


A qualidade do relacionamento é o afrodisíaco para a mu-
lher. Se tem algo que é o ponto fraco de uma esposa, é a falta de se-
gurança do amor do seu marido por ela. A mulher tem um senso
de singularidade35, ela precisa se sentir única. É muito importante
para ela ter um homem que supre suas necessidades naturais e
emocionais. Não é raro vermos mulheres lindíssimas casadas com
homens feios fisicamente. O motivo é que estes homens as fazem
se sentir seguras e supridas nas suas emoções.
As atitudes do marido precisam afirmá-la como única para
ele. Precisa estar muito claro para ela que ele a ama e em seu cora-
ção não há lugar para mais ninguém. Ela precisa se sentir a mulher
mais especial do mundo para seu marido e que também sua dedi-
cação e seu esforço é para agradá-la. É importante que seu marido
a cada dia reafirme o seu amor por ela com palavras e atitudes.
Homens, se sua mulher se sente segura do seu amor e su-
prida em suas necessidades emocionais, físicas, espirituais e ma-
teriais, vocês sempre terão um jardim fértil para o sexo. Uma mu-
lher segura do amor do marido é um dos melhores presentes que

35
Nancy Corbett e Edwin Louis Cole, Mulher Única, Editora UDF
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 145

um homem pode ter. Ela lhe proporcionará um sexo maravilhoso


e um lar edificado.
Normalmente os homens são menos emocionais e mais di-
retos, sendo tendenciosos a serem grosseiros e impacientes com
sua esposa, o que a fere e a machuca muito, fechando as portas
do seu coração para ele e criando um péssimo ambiente para o
sexo saudável. O homem, por ser mais forte fisicamente que a mu-
lher, deve protegê-la, cuidar dela e dos seus filhos, não abusar ou
ameaçar sua integridade.
Hoje, eu conheço mais a minha esposa e sei bem o que ela
espera de mim, de como gosta de ser tratada. Dedico boa parte
do tempo para que ela se sinta amada e cuidada. É muito bom
vê-la feliz e realizada, adoro vê-la sorrir. Hoje eu sinto um imenso
prazer na companhia dela. Antes, eu só a procurava para o sexo e
nem queria conversar, não tinha a menor paciência para ouvi-la,
quando uma grande satisfação de uma mulher está em ser ouvida
por seu esposo.
Perdi muito tempo sem experimentar de um relacionamen-
to de verdade com minha esposa. Não a supri emocionalmente
de modo que cheguei a ouvi-la me dizer uma vez que sentiu um
certo prazer em conversar com outro homem, isso porque eu não
conversava com ela. Hoje reconheço o quanto é fantástica e temos
boas conversas. Ela é uma mulher incrível, com quem desejo pas-
sar o resto da minha vida.

6.7 A EXCITAÇÃO FEMININA


A dinâmica da excitação feminina é diferente da masculina.
A mulher leva mais tempo para se excitar e estar pronta para a
penetração. O homem normalmente fica excitado ao olhar o corpo
da esposa. Ela precisa se sentir importante e não um objeto sexual.
Existem homens que usam a mulher como mero “instrumento se-
xual”. São brutos e querem rapidamente usar o pênis, ejacular e
virar para o lado e dormir.
146 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Essa experiência tem sido uma realidade para muitas mu-


lheres. Acredito que a maioria tem sido tratada desta forma por
seus maridos e parceiros. Nos aconselhamentos temos visto esta
situação ser cada vez mais corriqueira e muitas relatam que evi-
tam o sexo com o marido porque as mesmas não “se divertem”,
de modo que o sexo se tornou um fardo para elas. Muitas sentem
dor física e emocional ao invés de prazer, se sentindo usadas
pelos maridos.
Sexo é uma experiência muito mais emocional para a mu-
lher do que física. As atitudes do marido comunicam muita coisa
para a mulher. Se o marido vem para cima dela apenas com a in-
tenção de fazer sexo, ela se sente péssima. O marido precisa deixar
claro que a procura porque ela é especial, que o sexo entre eles é
bom por causa dela, que ela é o que importa e não o sexo em si.
Muitas vezes, quando percebo que minha esposa não está
bem e não está pronta para o sexo, procuro ouvi-la e compreender
o que está acontecendo. Ela se sente especial e às vezes aquele
momento termina numa relação sexual maravilhosa, porque veio
como resultado de uma intimidade de alma primeiro. Noutros
momentos, apenas dormimos abraçados e em paz.

6.8 O ATO SEXUAL EM SI


Há uma supervalorização do pênis por parte dos homens.
Isso precisa mudar. O pênis deve ser a última coisa que conta no
ato sexual. O livro de Cantares na Bíblia mostra com grande ri-
queza de detalhes que o sexo é um ritual fantástico entre o mari-
do e a mulher. Devemos explorar todos os sentidos do corpo nos
valendo do paladar, do olfato, do tato, da visão e da audição para
aumentar o prazer sexual com o cônjuge.
Usar o toque correto vai deixar a esposa preparadíssima
para o sexo. Explorar o corpo um do outro é uma brincadeira mui-
to boa. Um bom perfume ajuda bastante. Eu particularmente sou
fascinado pelo cheiro de minha esposa. Usem e abusem de pala-
vras que afirmem seu amor pelo seu cônjuge e capriche no visual
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 147

para agradar os olhos. Deve-se explorar mais os sentidos para dei-


xar o sexo ainda mais divertido e prazeroso. Tudo combinado com
o cônjuge e sempre respeitando seus limites.
Antes eu só sentia prazer no sexo, hoje posso dizer que a
companhia da minha esposa vale mais do que todo o sexo do
mundo. Ela é uma grande parceira e amiga. Em nossa cama, ve-
mos filmes juntos, conversamos, oramos e somos verdadeiros
amigos. O Sexo ocorre com uma excelente frequência mesmo de-
pois de tantos anos de casados.
Não há problema nenhum em sua esposa conduzi-lo no ato
sexual. Isso não significa que ela sabe mais de sexo do que você.
Ela é a pessoa que mais conhece o corpo dela e precisa conduzi-lo
a conhecer também. Neste processo de toque, de carícias, de bei-
jos, de palavras e de posições que são confortáveis para ela, assim
como as que não são, desenvolverão no casamento um diálogo
aberto e sincero sobre sexo.
Minha esposa me ensinou a tocá-la da maneira que ela gos-
ta. Me mostrou como gosta de ser beijada e acariciada. Sei as po-
sições que não a incomodam e que a fazem sentir mais prazer.
Somos cada vez mais íntimos em nosso ato sexual por isso. Tive
que esquecer todo o lixo que tinha aprendido lá fora. Começamos
do zero e não me arrependo. Quero encorajar os casados a investir
nesta verdade.
Adaptei uma frase de Gary Chapman, conselheiro cristão
de casais há mais de 30 anos, de seu livro Fazer Amor. A lascívia
é o encontro de dois corpos. O sexo sem cativeiro é o encontro de
duas almas. Quando o sexo surge como resultado do amor e fide-
lidade, ele se torna uma experiência profundamente emocional
e um fator de união entre duas pessoas, já quando o ato sexual
é encarado como nada além da satisfação das necessidades bio-
lógicas, nunca se tornará uma experiência definitiva em termos
de realização.36

36
Chapman, Gary. FAZER AMOR. Pág 07
148 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Separar o sexo do compromisso é um grande engano que


o homem está cometendo. As consequências serão piores a cada
geração. Quando o sexo é realizado como resultado do amor, o
casal será conduzido a níveis maiores de satisfação.37 Os dois se
tornarão parceiros na dimensão da alma. Fazer sexo sem um vín-
culo de amor sólido, gera ressentimento e, mais tarde, hostilidade.
Quero enfatizar três fases importantes para que o ato sexual
do casal seja uma experiência maravilhosa para ambos. Chamo
estas fases de Pré Sexo, Ato Sexual e Pós Sexo. Vou comentá-las
separadamente.

O PRÉ SEXO
Antes do ato sexual, é muito importante tomar alguns cui-
dados. Eu procurava sexo todas as vezes que estava ENGATI-
LHADO, ou seja, procurava pelos motivos errados. Ainda hoje
acontecem situações que me deixam desta forma. Minha esposa
já me conhece tão bem que quando a procuro da maneira erra-
da e fora do combinado, ela já sabe que estou ali pelos motivos
errados. Então ela faz algumas perguntas e me ajuda a processar
aquele gatilho.
Usar o sexo como compensação emocional é vício. Neste es-
tado, eu a procuraria apenas pelo sexo e certamente estaria focado
em meu prazer e em dar vazão àquele impulso. Então, parar para
compreender o que causou o gatilho me ajuda a reduzir a ansie-
dade e a resolver o fato que gerou aquela excitação.
A motivação para o sexo deve ser estar na companhia do
cônjuge e ter uma experiência de intimidade com ele. O casal deve
ter um lugar reservado, de modo que seja um lugar somente deles.
Não é bom, por exemplo, que os filhos, ainda que bem pequenos,
durmam no mesmo ambiente de intimidade do casal. Além disso,
a cama do casal deve ser considerada como um altar de intimida-
de dos dois e tratada como um lugar sagrado, somente do casal.

37
Chapman, Gary. FAZER AMOR. Página 08
Capitulo 6 – O Sexo Sem Cativeiro • 149

Ao se iniciar o ritual do sexo que os dois combinaram, exa-


minem como está o relacionamento. Se não está bom, é importan-
te resolver as pendências e se acertar. Uma reconciliação é algo
extremamente excitante e prazeroso.
Nesta fase do pré sexo, os dois devem se preparar para a
intimidade. Desligar celulares, colocar as crianças para dormir em
seus devidos dormitórios, tomar um bom banho, preparar a cama,
criar um ambiente acolhedor é o ideal. Mostrar preocupação com
estas coisas é algo que dá bastante ânimo. Caprichar nesta pre-
paração é algo que abre caminho para uma boa intimidade. Na
verdade, esta preparação deve começar desde muito antes, atra-
vés da forma de tratar o seu cônjuge desde o começo do dia. Se a
esposa estiver feliz com a forma que foi tratada pelo marido du-
rante o dia, estará muito mais disposta para o sexo. O marido, por
sua vez, precisa se sentir admirado e respeitado pela esposa para
desejar sua companhia mais do que qualquer outra coisa.
Às vezes passar aquele dia mandando mensagens de cari-
nho, de saudade, de afeto e de cuidado é muito bom. O coração
dos dois deve estar preparado e aberto para a intimidade. Quero
ressaltar que estas práticas devem ser algo constante na vida do
casal, não apenas com a intenção de fazer sexo. Mas o dia da inti-
midade deve ser algo perfeito. Não é dia de pisar na bola.

O ATO SEXUAL
Com base no que você conhece do seu cônjuge, inicie o ato
sexual da forma como você sabe que ele vai gostar. Dedique um
tempo especial à caricias e aos toques, não tenham pressa e aos
homens recomendo se dedicar a deixar suas esposas preparadas
para a penetração, que deve ser uma das últimas atividades a ser
realizada no ato sexual.
Explorem o corpo um do outro, conheça a intimidade do
seu cônjuge, use as palavras certas, seja equilibrado e invista no
prazer do outro; quem pratica isso, certamente receberá de volta e
muitas vezes de forma dobrada.
150 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Dedique um tempo especial ao toque, se o cônjuge gostar


faça uso de massagens, paladar, tato, olfato, visão e audição po-
dem e devem ser altamente explorados. Aproveite o momento e
deleite-se com aquilo que nosso Deus preparou para os casados.
Quanto mais os dois se conhecerem, melhor será o ato se-
xual e isso os deixará ainda mais íntimos e fortes, isso vai dei-
xá-los realizados e seu casamento estará blindado do lixo que a
imoralidade sexual pode oferecer. O Livro de Cantares na Bíblia é
uma fonte preciosa sobre a intimidade sexual do casal.

O PÓS SEXO
É muito comum nesta fase alguns deixarem a desejar. De-
pois do ato sexual, é muito importante ficar um pouco mais na
cama antes do banho. A esposa normalmente aguarda palavras de
afirmação, por exemplo, de como ela estava maravilhosa naquele
momento e que a experiência foi fantástica. Dedique um tempo a
afirmar seu amor por ela. Ela precisa se sentir segura de que foi
procurada para o sexo porque é amada e importante.
Se o marido após o orgasmo simplesmente vira e dorme,
ou se levanta e sai para tomar banho e volta para a cama sem fa-
lar nada, gera uma sensação péssima na mulher, ela se sente um
objeto sexual, que não é importante para o marido, que ele só se
interessa por ela na hora do sexo. É necessário um cuidado todo
especial com a esposa ao final da relação sexual, por isso, fique
atento e aplique os princípios corretos, afinal de contas, você deve
conhecê-la e saber o que é importante para ela.
Vale a pena dedicar tempo fazendo-a sentir-se segura de
que é a pessoa mais importante da sua vida. Seguir este princípio
ajuda muito a deixar a esposa sempre pronta para a intimidade
sexual e feliz com o marido.
Capítulo 7 – Prevenção e
Recuperação
Quero abordar neste capitulo alguns princípios importantes para
que conselheiros e aconselhados consigam seguir e adquirir bons
resultados em seu processo de recuperação. Meu desejo é deixar
esta ferramenta importante nas mãos da igreja brasileira para que
ela tenha cada vez mais capacitação e preparo para ajudar homens
e mulheres como eu. São milhares nos bancos das igrejas e muitos
nos púlpitos sofrendo calados da dependência sexual.
Fiz um compêndio do que entendi de melhor em vários pro-
gramas de recuperação que pude observar e estudar nos últimos
anos. Aquilo que apliquei em minha vida e vem dando certo, isto
gostaria de compartilhar com você. Tenho aplicado estes princí-
pios nos grupos de recuperação que lidero ou dos quais sou men-
tor. As pessoas que tem conseguido seguir os passos tem ficado
longe de recaídas e a cada dia estão mais fortes no controle de suas
vontades novamente. O que posso dizer a vocês é que é possível
sair do descontrole que o vício sexual causa.
Nenhum programa, porém, substitui Deus neste processo.
Ele é e sempre será aquele que faz toda a diferença na vida de
qualquer pessoa. Para mim, não existe recuperação sem Deus.
Este programa trabalha em duas frentes importantes na recupera-
ção do dependente. Mudança de Comportamento e Intimidade
com Deus.
152 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

7.1 MUDANÇA DE COMPORTAMENTO


• O Comportamento Viciado – Nesta fase é muito importante
mapear o histórico, trazer à luz todos os pecados cometidos
no passado, mapear a cultura do vício, os rituais, as pessoas
e lugares que o colocam em situação de risco, os gatilhos e
demais pontos relacionados ao comportamento que se de-
seja abandonar.
• Nova Vida – Desenvolver novos hábitos e rotinas saudá-
veis para substituir as antigas práticas que se deseja aban-
donar. Uma dieta de recuperação a ser seguida e fazer com
que se experimente o melhor da vida de forma equilibrada
e ­saudável.

Esta primeira parte ajuda muito a ficar longe de situações


de risco. É uma forma que se for seguida com disciplina man-
tém o dependente longe da antiga vida. Ajuda muito a não ter
recaída e nos dá tempo para trabalhar o caráter e o discipulado
da pessoa. Em situações de crise, é muito importante estar longe
do ­precipício.
O comportamento viciado e as recaídas precisam parar com
a máxima urgência. O ciclo do vício precisa ser suspenso e garan-
tir que o dependente não fique voltando ao vômito ou a lama. Por
este motivo esta primeira parte é fundamental no tratamento.

7.2 INTIMIDADE COM DEUS


A segunda parte do tratamento é executada concomitante
com a primeira. Elas são realizadas juntas como veremos logo a
seguir. Algo que fez e continua exercendo forte impacto em meu
processo de recuperação é que pude conhecer Deus através de
sua palavra. Nos primeiros 8 anos frequentando a igreja, não lia
a Bíblia em meu dia a dia e muito menos havia me habituado a
orar. Não tinha relacionamento com Deus a não ser nos momen-
tos em que eu estava na igreja. No máximo quando eu colocava
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 153

um louvor no carro ou em casa. Dedicava pouco tempo a leitura


bíblica e entendo porque depois de muitos anos eu ainda não o
conhecia e minha fé esfriara depois do que muitos chamam de
primeiro amor.
Em 2012 foi quando iniciei a leitura bíblica como rotina, pas-
sei a, todos os dias, meditar na palavra de Deus. Fiquei encanta-
do e me apaixonei por Deus. Ele realmente ganhou meu coração.
Quanto mais o conhecia, mais ficava admirado com a sabedoria
dEle. Eu não acreditava nos pastores que diziam que Deus fala-
va com eles, pois eu mesmo não tinha nenhuma experiência des-
ta natureza.
A partir do momento em que resolvi ter uma vida de leitu-
ra da palavra, muita coisa realmente começou a mudar. Durante
o dia comecei a ter pensamentos que explicavam aquilo que eu
tinha lido pela manhã e não havia entendido. Ficava maravilha-
do e dizia: Uau!!! Entendi. Só depois que fui entender que ali era
Deus falando comigo e eu tendo as primeiras experiências com o
Espírito Santo.
Em 2013, quando fiz a ETED (Escola de Treinamento e Disci-
pulado) da JOCUM, foi que aprendi alguns princípios para medi-
tação, que me ajudaram muito e aceleraram meu processo de rela-
cionamento com a Palavra. Ali entrou na minha veia que deveria
transformar a meditação bíblica em um estilo de vida.
A proposta do tratamento é levar ao dependente a necessi-
dade de ter uma vida de relacionamento com Deus através da pa-
lavra. Não existe avivamento sem “Reabibliamento”. Quero trazer
esta consciência de que isto deve fazer parte da vida do Cristão.
Vou ser sincero, acredito que um percentual muito pequeno de
cristãos tem a leitura bíblica e a oração como prática habitual. Vejo
isto nos aconselhamentos e nos grupos.
Segue abaixo o detalhamento de cada etapa para o aconse-
lhamento ao compulsivo em sexo:
154 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

PRIMEIRO PRINCÍPIO – CONFISSÃO


A recuperação começa, a partir do momento que o depen-
dente reconhece que tem um problema na área sexual, que perdeu
o controle sobre sua vida e que precisa de ajuda. Só quando este
primeiro passo é dado é que a recuperação pode realmente co-
meçar. Já aconselhei muitos homens que me procuraram dizendo
que tudo está sob controle e que podem parar a hora que deseja-
rem. Eu nem continuo a conversa. Se a pessoa não reconhece que
tem um problema e que está perdendo o controle de sua vida, não
podemos, como conselheiros, ir adiante.
Reconhecer e confessar é fundamental no início do proces-
so. Para mim a confissão não tem apenas um efeito espiritual, ela
também é o reconhecimento de que há um problema e através da
confissão a pessoa está pedindo ajuda. Por isso, eu acredito que
apenas confessar e deixar a história para lá não resolve. A confis-
são traz à luz uma área de descontrole na vida da pessoa e a partir
deste momento ela está pedindo ajuda e principalmente acompa-
nhamento para aquela área da vida dela.
Vejo muita gente confessando erros, os líderes fazem uma
oração e acreditam que tudo está resolvido. Quero deixar claro
que acredito no poder da oração do justo. Mas é fundamental
caminhar com as pessoas para que elas alcancem a maturidade.
Discipulado, células, igreja para mim são lugares preparados por
Deus para não andarmos sozinhos. Deus não nos fez para andar-
mos sozinhos e precisamos uns dos outros para confessarmos
nossos pecados e orarmos uns pelos outros para sermos curados.
Ninguém anda na luz sozinho.
Outro ponto importante é o desejo de abandonar a velha
vida. A pessoa tem que querer sair. Procurar ajuda e reconhecer
que este estilo de vida não é correto e que precisa abandoná-lo. Já
tive que deixar de caminhar com algumas pessoas que, vi clara-
mente, não desejavam sair deste estilo de vida.
Tudo deve vir à luz. Procure alguém de sua confiança e tra-
ga à luz toda sua luta. Confesse e abra o coração. Muitas vezes há
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 155

uma mordaça absurda de vergonha que nos impede de confessar.


Se a pessoa é casada, seu pecado deve ser confessado ao cônjuge.
De preferência com a presença dos líderes da pessoa. Um duro
processo de reconciliação começa a partir daí. Não é a confissão
que acaba com o casamento, é o pecado que se cometeu. Se há algo
que pode salvar o casamento é a confissão. Deus pode agir po-
derosamente. Porém, deve-se ter muita paciência com o cônjuge
traído. Minha esposa escreveu um livro que mostra bem o outro
lado da história. O nome é CURANDO A DOR DA TRAIÇÃO
NO CASAMENTO. Eu recomendo a leitura.
Eu não conheço ninguém que saiu deste estilo de vida sem
confessar seu pecado secreto. Este é o primeiro passo e quero dei-
xar bem claro que Deus esquadrinha nossos pensamentos e nosso
coração. Não confessar é temor a homens, pois Deus está vendo
tudo. Confessar é temor a Deus e reconhecer sua soberania. É um
pedido a ele para agir em nossas vidas.

SEGUNDO PRINCÍPIO – CONTAR A HISTÓRIA DE SUA VIDA.


Neste livro, começo falando sobre a história de algumas
pessoas, inclusive da minha. É fundamental o dependente com-
preender, em cada etapa da sua história, a construção do vício. As
escolhas erradas e os principais abusadores e vítimas que fizeram
parte da construção da disfunção sexual. Olhar para nosso teste-
munho pessoal traz uma reflexão chave sobre as escolhas erradas,
sobre pessoas que precisamos perdoar e sobre vítimas a quem
precisamos, se possível, pedir perdão.
Quando parei para refletir sobre todo o meu contexto fa-
miliar, sobre cada etapa da minha vida, comecei a me ajudar, até
hoje, a não voltar a cometer os erros que me foram tão prejudiciais
no passado. Hoje olho para minha vida antiga sem ressentimento,
amargura ou culpa. Consigo encarar abusos que sofri e os que
cometi sem o descontrole emocional de antes. Consigo enfrentar
cada fase, olhar para o passado e compreender que ele está resol-
vido e que não me incomoda mais. Houve situações que, confesso,
156 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

eu preferia esquecer. Mas isso é um grande engano. Precisamos


lidar com os fatos e resolvê-los em Cristo. Tempo não cura nada, o
que cura é a Cruz de Cristo.
Se a pessoa não coloca na cruz de Cristo as ofensas e pe-
cados, fatalmente vai carrega-los no coração e isto vai alimentar
uma amargura e ressentimento insuportáveis. A situação vai virar
uma grande prisão emocional, podendo alimentar o vínculo vi-
ciante. Tudo o que Jesus conseguiu para nós naquela cruz está à
nossa disposição e não podemos abrir mão de nada.
É muito importante que este processo ocorra na dependên-
cia de Deus e através da vida de um conselheiro experiente e ma-
duro na fé. Alguém que vai levar a pessoa a Cristo e conduzi-lo
neste processo em graça e sabedoria. A pessoa errada e o proces-
so errado podem ser mais danosos do que qualquer outra coisa.
Chegam a travar a pessoa completamente, ao ponto de prejudicar
todo o trabalho de recuperação. Nem por força ou violência, mas pelo
meu espírito diz o Senhor.(Zc 4.6)
Tristemente, muita gente usa os símbolos e rituais do evan-
gelho como amuletos. A Bíblia traz uma série de tipologias e o im-
portante não é o objeto ou ritual, e sim a mensagem que cada um
carrega. Muitos pegaram a cruz e a colocaram no peito, nas pare-
des e tatuaram em seu corpo, mas não entendem a sua mensagem.
Precisamos olhar com sabedoria para a mensagem por traz
de cada ritual e símbolo bíblico, trazer o princípio para nossas
vidas e praticá-lo. O evangelho promove transformação em nós,
o conhecimento bíblico sem uma transformação pessoal se chama
religião e religiosidade. Quero deixar claro que os maiores per-
seguidores do evangelho, foram sempre os Religiosos e a Reli-
gião. Evangelho não é religião; Jesus mandou fazer discípulos e
não ­religiosos.
O melhor remédio para a cura dos abusos e traumas é a
cruz de Cristo. Lugar de perdão, reconciliação, confissão, inter-
cessão, rendição, obediência, renúncia de direitos e amor. Temos
o direito a estas coisas e interagir em Cristo, através do princípio
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 157

correto, vai trazer a cura e a liberdade que tanto desejamos. Vale


lembrar que nós definiremos a medida de justiça que será usada
contra nós no dia do juízo de Deus. A palavra diz: Não julgue
e não será julgado, perdoe e será perdoado, não condene e não
será ­condenado.

TERCEIRO PRINCÍPIO: INVENTÁRIO MORAL


Essa é uma das fases mais importantes do processo de recu-
peração. É hora de parar e refletir sobre o comportamento viciado
e toda a cultura do vício. Quando conseguirmos mapear os gati-
lhos, o ciclo do vício que praticamos e toda a cultura do vício que
usamos para dar vazão ao vício sexual, começaremos a controlar
melhor os impulsos.
Esse passo tem sido muito importante, pois ainda existem
dias maus, dias de crise e ansiedade. Como já conheço meus ri-
tuais, gatilhos e a cultura do vício, quando entro neles, consigo
tomar consciência de que uma recaída se aproxima, então encerro
o ciclo no momento da tomada de consciência, antes que seja tar-
de demais.
Posso pedir ajuda, ligar para alguém ou dobrar o joelho e
orar. O Espírito Santo é alguém muito presente em minha vida e
sei que posso contar com ele sempre que precisar. Isso tem sido
importantíssimo para mim e ter essa humildade diante de minha
fraqueza faz com que a graça de Deus permaneça sobre mim.
No inventário deve constar os gatilhos, o ciclo do vício e a
cultura do vício. Apesar de já tê-los descrito em capítulos anterio-
res, quero dar novamente um breve resumo de cada um.

a) Gatilhos – Não saber lidar com as emoções e tentar fugir de-


las, situações, pessoas e lugares que quando somos confron-
tados disparam uma excitação, fantasia, impulso ou desejo
de entrar no ciclo do vício sexual.
158 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

b) Ciclo do vício – É o processo no qual todo viciado entra para


dar vazão ao vício. Em meu caso, depois de engatilhado, a
primeira coisa que acontece comigo é vir pensamentos se-
xuais e fantasias em minha mente. Se eu não parar no mo-
mento em que estes pensamentos começam a surgir, eu cor-
ro um certo risco de começar a planejar uma forma de dar
vazão àquele impulso.
c) Cultura – É todo o contexto onde o compulsivo sexual entra
para dar vazão ao seu impulso. Na cultura do vício existem
pessoas, lugares, comportamentos, personagens e objetos
usados pelo compulsivo para viver sua compulsão. Algo
fundamental no processo de recuperação é garantir que o
compulsivo fique longe da cultura do vício. Se o dependen-
te entra em recuperação e não abandona a cultura, ele cer-
tamente vai viver a beira do precipício. Ficar longe de tudo
isso vai garantir uma maior segurança para a pessoa que
está buscando sua recuperação.

QUARTO PRINCÍPIO – MEDITAÇÃO E ORAÇÃO


O compulsivo sexual normalmente tem várias distorções
sobre a maneira como pensa e vive sua sexualidade. São várias
mensagens e comportamentos equivocados que precisam ser des-
construídos e uma nova mentalidade deve ser construída de for-
ma saudável. Deus é o grande parceiro deste processo. Conhecer,
compreender e viver os princípios do evangelho são fundamen-
tais neste processo de recuperação do vício sexual.
É fundamental uma rotina de meditação bíblica diária, que
deve se tornar um hábito saudável a seguir. Para meu processo
de recuperação, foi muito importante adquirir esse hábito. Mais
alguns cuidados devem ser recomendados. Como falei anterior-
mente, evangelho não é religião. Essa diferença fica latente quan-
do criamos este hábito. A grande dificuldade para muitos é querer
compreender os princípios e a verdade do evangelho com a mente
e os valores humanos.
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 159

Essa é uma das razões de nossa nação ser infestada de reli-


giosos e de religião. O evangelho de Cristo não é religião. Muitos
ficam pelo caminho porque querem compreender a Bíblia a partir
de sua cobiça e vaidade. Os valores e pensamentos de Deus são
diferentes dos nossos valores e pensamentos. Em 1 Coríntios 2,
o Apóstolo fala da importância de compreendermos a verdade
bíblica a partir da intervenção do Espírito Santo. Lá ele fala da
importância de termos a mente de Cristo. Nada de Deus se com-
preende naturalmente e sim espiritualmente. Essa compreensão
vem a partir de um mergulho na palavra de Deus e de uma de-
pendência total do Espirito Santo.
Ninguém deveria ler a Bíblia para tirar um sermão ou men-
sagem para os outros. A Bíblia deveria ser lida para tirarmos lições
e ensinos para nossas vidas. Se assim fizermos, jamais deixaremos
de ter o que pregar, ensinar e o que falar. O melhor é que nossas
mensagens passariam a ser como as de Jesus, com Autoridade. Fa-
laríamos do que vivemos, do que temos e do que experimentamos
de Deus e em Deus.
Vejo líderes preocupados em ler a Bíblia para adquirir co-
nhecimento, ansiosos em fazer grandes obras, em juntar um gran-
de rebanho ou grande templo. Isso me lembra o texto de Marta e
Maria. Uma desejava de todo o coração servir a Deus da melhor
forma possível. Ficou ansiosa e trabalhava para lhe oferecer o me-
lhor, só que da forma que pensava. A outra, se dedicou a se rela-
cionar profundamente com ele, experimentar a sua presença e o
seu ensino.
Antes de servir a Deus, de fazer qualquer coisa para Ele, de-
vemos investir em nosso relacionamento pessoal com Ele. Assim,
as pregações fluirão, o serviço ministerial acontecerá e daremos
às pessoas aquilo que d’Ele recebemos. Em Ezequiel 44, o pastor
Luciano Subirá me fez entender que o maior privilégio de um sa-
cerdote não é ministrar às pessoas na igreja ou em qualquer outro
lugar, isso já é uma grande alegria para nós. Porém, este capitulo
160 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

é esclarecedor ao revelar que a maior honra de um sacerdote é


ministrar diante de Deus. Leia e você entenderá.
Certo dia, em um destes momentos de ministração, pude
compreender que o evangelho não é uma questão de conhecimen-
to e sim, primeiramente, uma questão de relacionamento com
Deus. Se ministramos na presença de Deus, se estamos dedicados
a nos relacionarmos com Ele como fez Maria e não Marta, sempre
teremos d’Ele o que deseja de nós, antes de comunicarmos aos ou-
tros o que Ele quer deles. Deus quer cuidar primeiramente de nós
e depois seremos canal de Deus na vida das pessoas.
Quero realmente encorajar todo cristão a uma vida devo-
cional, uma vida de oração pois isso é adoração a Deus. É o que
vai fortalecer nosso espírito e estaremos mais preparados para as
batalhas do dia a dia.

QUINTO PRINCÍPIO – ANDAR NA LUZ E PRESTAR CONTAS


Uma das maiores características do viciado em sexo é sua
dissimulação e tentativa de manter o vício em oculto. O melhor
princípio bíblico para isso é viver um estilo de vida novo, andan-
do na luz. Confessar suas tentações, recaídas e dificuldades. Que-
ro ressaltar novamente que ninguém anda na luz sozinho. É fun-
damental ter um discipulador para quem se deve prestar contas
de todas as crises, gatilhos e dificuldades.
Sugiro uma prestação de contas, a princípio, semanal e à
medida que o dependente avançar em sua recuperação, o pode-
rá fazê-lo a cada 15 dias e até mensal. Isso vai depender de sua
evolução e, principalmente da sua sinceridade. Para que o depen-
dente confie no discipulador, é fundamental que a postura deste
seja de compaixão, misericórdia e de alguém realmente disposto
a ajudar. Nada de condenação e acusação. Normalmente o que
tenho ouvido nos aconselhamentos é que as pessoas que procu-
ram ajuda encontram líderes que pioram mais a situação. Fazem
o dependente que está confessando sua dificuldade se sentir mais
culpado e péssimo.
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 161

A intenção é ajudar o dependente a adquirir uma postura


nova frente ao vício. Ao invés de esconder e manipular, ele vai
manter sua vida aberta e precisa de alguém que compreenda como
ele se sente e pensa. O conselheiro deve ser maduro e não deve ter
a intenção de mudar ninguém. A melhor forma de abençoar um
dependente de sexo é emprestar o seu ouvido. É um alívio enorme
ter alguém para confessar e abrir as tentações. Isso ajuda a evitar
as recaídas.
Para os conselheiros, recomendo não tentar mudar o depen-
dente. É um processo natural e ele vai amadurecer de acordo com
a sua sinceridade e entrega ao processo. Lembro de ter guardado
para mim, durante 8 anos dentro da igreja, o meu problema. Não
tinha coragem de confessar e de abrir. Os poucos que vi confes-
sando foram bastante humilhados por seus líderes na igreja. Con-
sidero que precisamos criar um ambiente mais acolhedor para ho-
mens e mulheres com este problema.
Um dos meus amigos do Rio de Janeiro abriu para seu líder
de célula sobre sua luta contra a homossexualidade e uma recente
recaída, a reação do discipulador foi de muito julgamento e colo-
cou uma culpa absurda sobre este homem. Ele por muito pouco
não desistiu da igreja. Tive que insistir muito para que ele não
abandonasse seu processo. Ele procurou ajuda e foi muito julgado
e condenado. Ele chegou a me mostrar um áudio deste discipula-
dor falando absurdos, desejando que ele morresse e dizendo que
para ele não tinha mais jeito, que ele iria para o inferno.
Não vi Jesus adotando esta postura na Bíblia. As únicas ve-
zes que ele se dirigia de forma dura não era para os pecadores,
mas aos religiosos fariseus e mestres da lei. Jesus odeia hipocri-
sia e dissimulação. Mas quando alguém o procurava confessan-
do seus pecados, a postura do mestre era muito diferente da que
tenho visto em muitos lugares. Precisamos dar especial atenção à
situação. Cabe ao conselheiro levar a pessoa a Cristo. João Batista
tinha esta natureza, vemos no primeiro capítulo do evangelho de
João que João Batista sabia reconhecer quem era Jesus e apontava
162 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

aos seus discípulos quem ele era. João não retinha as pessoas com
ele, as encaminhava para Jesus. Esse é o nosso papel como conse-
lheiro; precisamos de mais pessoas como João Batista.

SEXTO PRINCÍPIO – DESENVOLVER NOVOS HÁBITOS


Na vida de um compulsivo sexual, o tempo gasto para pen-
sar em sexo e dar vazão ao vício é muito grande. O comportamento
do dependente é direcionado para esta prática. São muitas horas
vendo vídeos, preparando a nova “dose”, planejando m ­ entiras.
Essa cultura como já falamos, além de abandonada, precisa
ser substituída por novos hábitos saudáveis. O vício nos rouba
tanto que esquecemos de sentir prazer em outras coisas. É como
se apenas no sexo pudéssemos sentir prazer e alegria. Abandonar
esta cultura vai nos levar a experimentar novamente prazer e ale-
gria em outras atividades.
Lembro-me de conversar com alguns dependentes e muitos
relatavam que perdiam o interesse em se alimentar, tomar banho,
ficar com a família. Seu interesse era usar drogas, fazer sexo ou
beber. Quando entravam em recuperação, muitos diziam que era
muito bom sentir novamente o prazer de um banho, uma boa re-
feição à mesa com a família, um passeio no parque entre outras
atividades.
Sugiro neste princípio alguns novos hábitos:

• Cuidado com o corpo (evitar exaustão, obesidade, dormir


bem, etc...)
• Cuidado com a alimentação
• Fazer parte de grupos (células, igrejas, grupos de apoio etc)
• Praticar esportes
• Investir em tempo de qualidade com a família
• Desenvolver o hábito da leitura
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 163

• Montar planos e projetos (viagens, esportes radicais, reali-


zar sonhos antigos, estudar etc...)

Podemos ter uma vida excelente, cheia de realizações se de-


dicarmos nosso tempo a atividades saudáveis. Quero encorajar
você a viver um mundo livre em sua sexualidade.

SÉTIMO PRINCÍPIO – TER PESSOAS PARA QUEM LIGAR NAS CRISES PARA
PEDIR AJUDA E EVITAR RECAÍDAS
É fundamental, principalmente no início do processo de re-
cuperação, ter pelo menos 3 pessoas que você pode contar nas ho-
ras de crise e de gatilho. No início do processo o dependente tem a
consciência de que precisa abandonar o comportamento viciado.
Porém ele ainda não aprendeu a fazer isso e precisa de apoio e
ajuda. Um verdadeiro caos se forma em sua rotina no dia a dia.
Ele muitas vezes ainda está sob o controle de sua excitação e seu
corpo chega a doer para fazer sexo ou se masturbar novamente.
As primeiras semanas são terríveis e dá muita vontade de
desistir. Se não tivermos ajuda nestas horas, as recaídas se tornam
muito frequentes. É uma verdadeira luta entre o corpo e o Espíri-
to. Mas se formos humildes para pedir ajuda nas horas de crise,
vamos conseguir superar. Passado o primeiro mês, as coisas ficam
mais tranquilas. Mas mesmo que o dependente esteja há muitos
anos sem recaída, é fundamental seguir este processo. Ter pessoas
caminhando conosco vai fazer toda a diferença.

OITAVO PRINCÍPIO – FAZER REPARAÇÕES


A caminhada do compulsivo em sexo é cheia de pessoas que
foram meros objetos sexuais. Muitas pessoas são manipuladas,
enganadas e depois descartadas pelo dependente em sexo. Muita
gente sai machucada e ferida pelo egoísmo e irresponsabilidade
dele. Eu tive que fazer o caminho de volta com muita gente. Deus
164 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

me conduziu neste processo. Me arrependo muito do que fiz para


conseguir ter prazer e realmente usei várias mulheres como esca-
pe para minha compulsão. Muita mentira e dissimulação.
Este processo é delicado e deve ser feito com muita sabe-
doria. Aqui o conselheiro tem novamente um papel importante,
ajudando neste processo de reparação. Reflita muito, peça a dire-
ção e o tempo certo de Deus para realizar o conserto. Mas, sem-
pre que possível, faça-o. É impossível restituir um adultério ou
abuso. Nesta hora só a graça de Deus para ajudar. É necessário
muita humildade, quebrantamento e arrependimento por parte
do ­dependente.

DIETA DE RECUPERAÇÃO
Resumindo tudo, podemos chamar este processo de Dieta
de Recuperação. Este termo ouvi pela primeira vez na EACV –
Escola de Aconselhamento ao Comportamento Viciado. O Conse-
lheiro deve ajudar o dependente a seguir cada princípio e organi-
zá-los em um documento para que seja seguido à risca.
Como falei, não tem nenhuma novidade e a maioria dos
princípios tirei de vários lugares que experimentei e estudei. Só os
coloquei em uma ordem que me ajudou bastante e tirei o melhor
de cada programa para ajudar aqueles que não tem nenhuma ex-
periência com o aconselhamento a compulsivos sexuais.
Você pode seguir este programa ou melhorá-lo. Eu realmen-
te gostaria de ver esta área aperfeiçoada em nossa nação pois mui-
tos nem sabem por onde começar. Eu sinceramente espero que
muitos homens e mulheres que procuravam até hoje ajuda nesta
área, encontrem uma esperança de tratamento, como eu encontrei
e muitos que caminham comigo encontraram.
Reúna amigos, sua célula e sua igreja. Monte grupos e ini-
ciem o processo de recuperação. Treinem, capacitem pessoas e
multipliquem conselheiros capazes de ajudar quem sofre com este
problema. Estou aberto a sugestões e mudanças. Só não aceito de-
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 165

bates teóricos e controvérsias tolas que não levam a nada. Quero


trabalhar com quem quer mudar a história de nossa nação. Levar
cativos à liberdade em Cristo. Um país com pessoas santificadas
e maduras em sua vida sexual. No apêndice, coloco o modelo de
dieta de recuperação a ser seguido.
Conclusão –Vivendo
em Vitória
Entrei em recuperação em abril de 2012, quando comecei a andar na
luz e escolhi me sujeitar ao tratamento de Deus, amando sua
correção. Foi muito importante, nos anos seguintes, me dedicar
a estudar e compreender a construção da compulsão sexual em
minha vida. Tal dedicação, acendeu em meu coração o chamado
para ajudar outros no seu processo de restauração.
Desde que confessei meu pecado com arrependimento ge-
nuíno, passei a não mais estar debaixo do domínio do vício sexual
e experimentei da graça salvadora e redentora de nosso Senhor
Jesus Cristo de uma maneira muito especial (Salmos 32.1-5). Essa
graça me constrange, pois é uma forma de justiça que eu não co-
nhecia, tampouco compreendia.
O perdão de Deus é algo que confronta o ser humano em
seu orgulho, pois a justiça do homem se baseia em vingança e
punição, enquanto o padrão da justiça de Deus é a graça, fun-
damentada no amor puro e genuíno que vem dEle. Ele se move
em função desse amor (João 3.16), que é a força mais poderosa
do universo! Quando entendemos e recebemos esse amor, uma
verdadeira transformação acontece. Toda culpa, medo, cegueira
e pecado são destronados de nossas vidas ao deixarmos o amor
ágape ser derramado sobre nós.
Nossa obediência deve ser fruto de nosso amor pelo Pai
(João 14.21-23) e não algo imposto ou exigido, como pensavam
168 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

os fariseus. A paz que excede todo entendimento (Filipenses 4.7)


vem de uma certeza inabalável de que somos amados por Deus
(Efésios 3.16-19) e que podemos confiar nEle de todo o coração.
O amor deve existir dentro de um relacionamento e ser o
centro de qualquer interação humana. Em João 15.12, Jesus diz:
“O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei”.
Quando o amor não está centralizado em uma relação, algo peri-
férico passa a ser central e compromete essa união. Se um relacio-
namento não estiver fundamentado no amor, se torna frágil e fa-
dado ao fracasso, causando dor emocional em seus participantes.
Em Genesis 2.18, Deus diz que não é bom que o homem
esteja só, deixando claro que somos seres gregários e que a vida
abundante prometida por Ele está em relacionamentos funda-
mentados no amor. Deus nos garante pela sua Palavra que pode-
mos receber Seu amor incondicional através uns dos outros, pois
a essência da vida é estarmos conectados uns com os outros em
amor (1 João 4.7-12).
Precisamos aprender a olhar para os relacionamentos do
ponto de vista de Deus; casamentos, famílias e amizades foram
feitos para durar e frutificar. O propósito é que cada um de nós
represente o amor de Deus na vida das pessoas ao nosso redor,
como acontece na família do céu, entre Pai, Filho e Espírito Santo
(João 17.21-22).
Deus se move na terra através de alianças e deseja que se-
jamos seus imitadores. A maior expressão de saúde emocional é
a capacidade de amar incondicionalmente, com compromisso e
responsabilidade, exatamente como Deus ama. Sermos imagem e
semelhança de Deus é o que nos torna humanos e essa humanida-
de está em expressarmos misericórdia, compaixão, longanimida-
de, pureza, dentre outros dos vários atributos do caráter de Deus,
em nossos relacionamentos. O que nos torna menos humanos se
chama pecado, que é o falso amor, a quebra do mandamento e o
que adoece a sociedade.
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 169

Durante os aconselhamentos que realizamos, ouvimos


como relacionamentos doentios abrem feridas emocionais pro-
fundas. Abusos, traumas e rejeições tem feito pessoas perderem
a fé uns nos outros e, muitas vezes, no próprio Deus. Uma pessoa
que foi abandonada por seu pai, por exemplo, tende a ter dificul-
dade em acreditar no amor paterno de Deus sobre sua vida. Al-
guém que passou por severas privações em sua infância, pode não
conseguir acreditar na provisão de Deus. Mas assim como somos
feridos através de relacionamentos adoecidos, somos curados em
relacionamentos saudáveis, onde podemos experimentar a verda-
de e o amor de Deus.
Pessoas tem me perguntado o que eu faço para viver em
vitória contra o vício sexual e a vida mundana, e uma das chaves
é justamente investir nos relacionamentos que contribuem para
o nosso crescimento pessoal e espiritual. Tenho dedicado tempo
no lugar secreto com Deus e priorizado estar com minha esposa
e filhos, entendendo que, principalmente nestes relacionamentos,
experimento um pedaço do céu na terra.
O amor de Deus por mim e o meu por Ele e minha família,
são o que me mantém longe do vício sexual e me levam a expe-
rimentar uma vida de vitória. Alguns relacionamentos importan-
tes ainda podem estar abalados por causa do meu passado, mas
tenho fé de que serão restaurados e, no que depende de mim, já
tenho paz com todos (Romanos 12.18).
Outra chave importante é que não há vitória contra o pe-
cado sem o exercício do perdão como estilo de vida. Um coração
perdoador é a melhor defesa que temos contra um mundo cheio
de rejeições. Quando entendemos e recebemos a graça de Deus
em nossas vidas, devemos transbordar e superabundar essa mes-
ma graça sobre os que nos ofenderam.
Quando nossa dor é a única coisa que conseguimos enxer-
gar, a visão e a compreensão da verdade que liberta fica compro-
metida. É preciso entender que a dor é apenas um sintoma. Jesus
certa vez perguntou a um homem, paralítico por mais de 38 anos,
170 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

se ele queria ser curado (João 5.5-6). Desejar a cura é imprescindí-


vel para nos remover do lugar de paralisia. Aquele que sara está
à sua disposição, assim como estava para curar aquele paralítico.
Em muitos casos, porém, será como um processo cirúrgico.
É preciso deixar que Deus, assim como um cirurgião, abra e trate
a ferida, nos levando a lidar com os eventos que nos causaram
dor, para remover tudo aquilo que nos paralisou. Ele irá então
fechar esta ferida para cicatrização, tornando estes eventos apenas
lembranças, sem dor (Isaías 30.26; Oséias 6.1). Perdoar os que nos
feriram é chave neste processo cirúrgico.
Toda a Bíblia expressa o compromisso e o empenho de Deus
em resgatar o homem do engano do pecado e leva-lo a uma vida
rica de amor em sua presença. Conforme Efésios 1.17-18, oro para
que os olhos do coração de todos os homens sejam iluminados e
passem a enxergar a verdade de Deus; para que tenham ouvidos
para ouvir e entender a Sua Palavra (Êxodo 15.26), corações de
carne que sintam este amor (Ezequiel 11.19) e mentes transforma-
das, capazes de discernir, experimentar e comprovar a boa perfeita
e agradável vontade de Deus para a humanidade (Romanos 12.2).
Para maiores informações, eventos e seminários, entre em
contato conosco através do site: www.sexosemcativeiro.com.br
Apêndice
Dieta de Recuperação
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 173

PRIMEIRO PRINCÍPIO – VOCÊ LUTA CONTRA QUE TIPO DE DEPENDÊNCIA?


174 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

SEGUNDO PRINCÍPIO – CONTE A SUA HISTÓRIA


Infância

Adolescência:
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 175

Fase Adulta
176 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

TERCEIRO PRINCÍPIO – INVENTÁRIO MORAL


Quais são os seus gatilhos?

Quem são as pessoas das quais você deve manter distância?


Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 177

Quais os hábitos que você deve abandonar?

Quais os lugares que você deve deixar de frequentar?

Quais objetos você deve jogar fora ou evitar?


178 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Por quais motivos você fantasia?

Outras observações:
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 179

QUARTO PRINCÍPIO – INTIMIDADE COM DEUS


Adquira um caderno para ser utilizado em todas as medi-
tações para registro do que Deus tem compartilhado com você no
seu tempo com Ele. Deve-se ler a Bíblia de preferência em sequên-
cia. Escolha um livro e leia um capítulo por dia. Depois da Leitura,
escreva no caderno o que Deus lhe ensinou durante a meditação.
Quero sugerir alguns princípios que aprendi na JOCUM
para seu tempo de meditação. Para aqueles que já tem o hábito
de meditar, fiquem livres para fazer como se sentirem melhor, po-
rém, aqueles que ainda não desenvolveram esta prática, podem
seguir o modelo sugerido abaixo para começar.

PRINCÍPIOS PARA MEDITAÇÃO


1 – Versículo Chave – O versículo que mais chamou sua atenção
2 – Lição Principal – Qual a principal lição aprendida na m
­ editação
3 – Promessa de Deus para sua vida – Extrair uma promessa de
Deus para sua vida do texto que foi lido.
4 – Condição para a promessa – Discernir a condição pedida no
texto para se alcançar a promessa.
5 – Pecado a confessar ou a evitar – Alguns dias o texto vai nos
confrontar em algum pecado ou vai nos advertir sobre algo
que devemos evitar.
6 – Atributo do Caráter de Deus – Deus se revela através das
escrituras. Podemos conhecê-lo mais e os textos bíblicos sem-
pre revelam algo relacionado ao caráter de Deus que devemos
copiar e reproduzir.
7 – Aplicação pessoal – Quando lemos a Bíblia, nossa motivação
é buscar ensino para nossa vida. Não adianta ler para ensinar
aos outros. Devemos buscar ensinamento para nós primei-
ramente. Em Esdras 7.9-10 diz que Ele Estudou a palavra de
Deus, praticou e só depois ensinou. Acredito que esta deve ser
a ordem correta no ensino bíblico. Tudo o que observarmos na
meditação, deve ter aplicação em nossa vida pessoal.
180 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

QUINTO PRINCÍPIO – ANDAR NA LUZ E PRESTAR CONTAS

Nome do Discipulador: ___________________________________


________________________________________________________

Dia da Prestação de Contas: _______________________________

Telefone do Discipulador:__________________________________

No dia da Prestação de contas é fundamental abordar:

• Como seus olhos se comportaram esta semana?


• Passou por alguma situação difícil?
• Teve alguma Recaída?
• Está com dificuldade para seguir a dieta de recuperação?
• Quais foram as principais dificuldades da semana?
• Quais foram os pontos positivos da semana?
• Como tem sido o seu tempo com Deus?

Essas são perguntas importantes para o acompanhamento,


mas o conselheiro fica à vontade para seguir seu próprio roteiro,
sempre adaptado à pessoa que está sendo aconselhada. Quero res-
saltar que, para os casos de recaída e dificuldades, é muito impor-
tante fazer o compulsivo parar e pensar sobre suas falhas, de modo
a identificar quando a recaída começou e em que baixou a guar-
da. Refletir sobre as falhas e enxergar as brechas ajuda a prevenir
próximas recaídas. O Conselheiro aqui é mais um facilitador. Não
precisa ter as respostas, precisa apenas saber fazer boas perguntas.
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 181

Sempre que uma das pessoas que eu acompanho tem uma


recaída, eu o ajudo no processo de reflexão sobre as brechas que
possa ter dado e sobre sua negligência com a dieta de recuperação,
pois uma recaída sempre começa quando o aconselhado abando-
na as prioridades do tratamento. Normalmente, deixam de medi-
tar e orar, depois começam a entrar aos poucos na cultura do vício
e, em seguida, ficam engatilhados e não pedem ajuda.
Com essa consciência, eles passam a ser mais vigilantes e se
comprometem a seguir com mais disciplina a dieta de ­recuperação.
182 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

SEXTO PRINCÍPIO – DESENVOLVER NOVOS HÁBITOS


Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 183

SÉTIMO PRINCÍPIO – TER PESSOAS PARA LIGAR NA CRISE PARA PEDIR


AJUDA E EVITAR RECAÍDA
Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Telefone: ________________________________________________
184 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

OITAVO PRINCÍPIO – REPARAÇÕES


Quem são as pessoas que eu preciso pedir perdão e, se possível,
reparar os erros que cometi?

Nome: __________________________________________________
Motivo: _________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Reparação Necessária: ____________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Motivo: _________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Reparação Necessária: ____________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Capítulo 7 – Prevenção e Recuperação • 185

Nome: __________________________________________________
Motivo: _________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Reparação Necessária: ____________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Motivo: _________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Reparação Necessária: ____________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
186 • Sexo sem cativeiro | Paulo Adriano Muniz Gouvêa

Nome: __________________________________________________
Motivo: _________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Reparação Necessária: ____________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________

Nome: __________________________________________________
Motivo: _________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Reparação Necessária: ____________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
Semeando no Reino
“Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também
lhes suprirá e aumentará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça.
Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos
em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em
ação de graças a Deus”. — II Coríntios 9.10-11

Eu e minha esposa, Railca, tivemos um chamado específico para dedicar-


mos nosso tempo integral à Missão. Nosso trabalho está voltado para
cura e restauração de relacionamentos feridos, casamentos e famí-
lias, principalmente aqueles afetados por distorções na sexualidade.
Fomos chamados a reconstruir velhas ruínas e a restaurar alicerces
antigos, a reparar muros, restaurar ruas e moradias (Isaías 58.12).
Você pode se tornar um parceiro neste ministério ficando na
retaguarda, suprindo as necessidades daqueles que estão no campo
de batalha através de sua contribuição com o nosso chamado.

Opções de contribuição:
( ) Oferta Única
( ) Oferta Mensal
( ) Oferta Eventual

Depósito Bancário:
PAULO ADRIANO MUNIZ GOUVEA
CPF 605.409.312-68
Banco Itaú – Agência 9313 – Conta 08405-6
Banco do Brasil – Agência 2925-4 – Conta 33485-5

RAILCA FREIRE GOUVEA


CPF 616.839.903-82
Banco Bradesco – Agência 2101 – Conta 1615-2

Você também pode ser uma coluna através da sua intercessão


por este trabalho. Deus abençoe ricamente sua vida e família.
Sugestão de Leitura

O IMPACTO PESSOAL E SOCIAL DA PORNOGRAFIA


Autor: Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Páginas: 192

Série SEXO SEM CATIVEIRO


www.sexosemcativeiro.com.br
Sugestão de Leitura

DEUS É BOM?
Autor: Tales Cabele Freire Gouvêa
Colaboração: Railca Freire Gouvêa
Páginas: 24

www.sexosemcativeiro.com.br
Sugestão de Leitura

CURANDO A DOR DA TRAIÇÃO NO CASAMENTO


Autora: Railca Freire Gouvêa
Páginas: 192

www.sexosemcativeiro.com.br
www.sexosemcativeiro.com.br
“Esse é um manual que vem de um conhecimento profundo sobre os efei-
tos devastadores de uma vida sexual sem limites e nos aponta um caminho
muito melhor e mais sublime. Casados e solteiros, bem como lideres cristãos
acharão neste livro verdades transformadoras e dicas especificas sobre sexo
saudável e como se proteger das armadilhas que estão disponíveis por to-
dos os lados numa cultura amante de si mesma e que precisa urgentemente
de ajuda e reconstrução. A desconstrução já está correndo o seu curso, mas
livros como este são dados por Deus para desfazer esse efeito e reconstruir
nossas famílias e as vidas de nossos queridos que são vítimas de uma cultu-
ra centralizada em si mesma”.
Sal Cutrim – Lider da Jocum Monte das Águias

“Esta obra é diferenciada pelo seu conteúdo relevante e pelo testemunho


impactante de alguém que chega no fundo do poço da imoralidade sexual,
mas que entendeu o que são redenção, compaixão, amor e graça de Deus. A
sexualidade é uma das coisas mais sublimes que Deus criou, porém, o nosso
corpo é Templo de Deus e não uma mera mercadoria que está exposta na
vitrine para que todos vejam e consumam. Foi muito bom passear pelas pá-
ginas deste livro. Pois quando pensamos que tudo está perdido, Deus vem e
coloca diante de nós uma folha em branco para que seja reescrita uma nova
história. Espero que este material abençoe sua vida poderosamente”.
Mazi Macedo – Pastor, Sexólogo e Terapeuta Familiar

“Meu objetivo com este livro é trazer as mensagens verdadeiras sobre o


sexo, seu propósito, seu significado e seu lugar dentro do relacionamento
conjugal. Ao invés de mensagens que deformam o caráter e a personali-
dade, que geram doenças emocionais e que destroem a vida das pessoas,
quero compartilhar mensagens de amor e vida sobre o sexo que farão ho-
mens e mulheres mais fortes, casamentos poderosos, famílias como lugar
de benção e sociedades sadias e saradas.”
O autor

ISBN 978-85-923173-0-0

www.sexosemcativeiro.com.br

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