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“ Nós podemos, como outros já tem feito, caracterizar a psicologia como a ciência do futuro,
ou seja, como a ciência a qual pertence o futuro - mais do que qualquer outra ciência teórica,
… à qual todas elas estarão subordinadas. ”
Franz Brentano
Parte 1 - Biografia
Brentano, até aqui, já deixou claro que o representar presume um representado, para qual se
direciona. No entanto, ainda não fica esclarecido a questão da transcendência ou imanência do
objeto representado - o conteúdo do representar está na mente ou fora dela ? Essa questão
quanto ao fenômeno psíquico foi respondida por ele da seguinte forma :
Isso quer dizer que assim como o fenômeno psíquico, o objeto - que nada mais é que o
fenômeno físico - é imanente, ou seja está na própria mente, justamente por sua inexistência
intencional ( in - dentro + existência / in- para - tencional = direcionada), ou seja sua presença
no ato intencionado. Contudo ,não basta apenas dizer que o objeto é “intraexistente”, mas é
preciso comprovar a sua realidade na consciência, seu “status ontológico (PERES, p.34). Ora,
assim como Locke, Brentano afirma que uma sensação “ só existe se existe no e para o sujeito
que a sente… como algo que é para a consciência” (PERES, p.35), sendo que a coisa física,
de onde emana o fenômeno físico, não é objetivamente dotada desta propriedade (a qualidade
secundária de Locke).
Em outro livro postumamente publicado, Psicologia descritiva, ele afirma que o estímulo
não é o que vemos, mas os seus efeitos em nossa mente. O que, em contraposição aos
empiristas, ele afirma não significar a imanência do conteúdo em si, enquanto estado anímico,
mas expressa que é ele um modo do ato, que,por excelência é intramental, e assim, por ser
objeto deste mesmo ato, também é ele abstrato. Uma possível analogia seria analisar os
objetos materiais e formais de uma ciência. A geografia, por exemplo, tem por objeto material
a superfície da terra, e por objeto formal a descrição de seus elementos ( grafia), enquanto a
geologia, apesar de ter o mesmo objeto material, tem por objeto formal a compreensão dos
elementos da crosta terrestre. O estímulo físico, assim como o objeto material, é um dado da
realidade, mas o ato de representar e o estudo do objeto material), juntamente ao objeto
intencional, análogo ao objeto formal ( o modo como se estuda o objeto) são entes mentais (
ou lógicos no caso das ciências).Essa percepção interna, como chama Brentano, é uma
coconsciência que toma noção do estímulo dando-lhe forma, sendo depois objeto da
consciência no ato. Mas o objeto, ao contrário dos atos, não é real, pois é uma abstração
gerada pelo estímulo, sendo efeito e não efetivo. O estímulo se direciona à consciência através
do objeto intencional e a consciência se direciona ao estímulo neste.
Portanto, se o objeto imanente é apenas a forma de acesso, o intermédio, ao objeto real,
sendo seu signo, a psicologia deve focar naquilo que é realmente psíquico, o ato de
representar, em detrimento daquilo que ou está fora da mente, ou não vem da mesma - o
estímulo e o conteúdo, respectivamente. Diz-se então que Brentano delimita o campo da
psicologia ao estudo dos fenômenos ditos psíquicos, marcados por sua realidade,
intencionalidade e posse de objetos irreais aos quais tendem. Destes três pontos, apenas a
intencionalidade resistiu às controvérsias que seus alunos apontaram, tendo o próprio
Brentano abandonado a imanência do objeto intencional em 1905, como aponta Boer (1978,
p.10).
Em Psicologia descritiva, uma reunião póstuma de algumas de suas aulas entre os anos de
1885 e 1890, além de reiterar o que havia exposto em Psicologia do ponto de vista empírico
ele divide o campo da psicologia - a ciência da vida interior da alma captada pela percepção
interior - em duas ciências correlatas :
II - Psicognética ( a origem psíquica) : que procura “a descrição das condições causais a que
os fenômenos particulares estão sujeitos” ( BRENTANNO,2002, p.3).
A primeira é fundamento para a outra, pois é preciso primeiro descrever o fenômeno, para
que se possa encontrar suas causas. Essa investigação causal não é uma psicologia mista, já
que é preciso se entender os mecanismos físicos que geram os estímulos, sendo então
psicofísica, enquanto que a psicognose é psicologia propriamente dita, sendo livre de qualquer
noção extramental anterior para cumprir seu com objetivo. Além disso, ela é a base para
qualquer esforço epistemológico, ético e estético, devido a respectiva correlação entre essas
áreas e as três classes de fenômenos psicológicos : o representar, o julgar e o querer/sentir. É a
partir desta noção de psicognose brentaniana, que a fenomenologia nasce, na figura do seu
pupilo Husserl.
Referências:
● BOER, T. D. The development of Husserl's thought. The Hague/Boston: Nijhoft, 1978.
● BRENTANO, F. C. Psychologie vom empirischen Standpunkt: Leipzig: Ver- lag von Duncker:
Humblot, 1874. Disponível em shttps://archive.org/ details/psychologievome02brengoog>. Aceso
em: 4abr. 2015. Descriptive Psychology. New York: Routledge, 202.
● PERES, S. P., Franz Brentano em História da Psicologia Fenomenológica/ Marina Massimi(org)-
São Paulo : Edições Loyola, 2019