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Histórico e contextualização das

abordagens fenomenológicas,
existenciais e humanistas

MSc. Priscila Torres


Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

A Psicologia desenvolveu-se, no decorrer de sua história,


fundamentando-se em correntes de pensamento e teorias filosóficas.

Somos uma ciência humana!

Durante esse percurso, o qual se inicia ainda nas primeiras matrizes


mecanicistas, vão surgindo diferentes maneiras de se conceber o homem e de
praticar tal ciência.
A matriz mecanicista diz respeito a relações de causalidade, isto é, visam analisar os fenômenos
psicológicos a partir de suas causas e efeitos (FIGUEIREDO, 2003).
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Com o avanço do pensamento científico, evoluem-se as visões de mundo e


a Psicologia foi sendo marcada pelas contribuições de importantes pensadores
fenomenológicos e existenciais que cruzaram seu caminho.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

A Fenomenologia e o
Existencialismo, bem como o
movimento Humanista, introduziram
um novo modo de se conhecer e
trabalhar com o ser humano.
Origens históricas
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Ao longo dos séculos XVIII e XIX, as transformações desencadeadas a partir da


Revolução Industrial — que reformulou não apenas os modos de produção, mas
também as relações e o olhar sobre si do humano — estabeleceram novos
paradigmas científicos e filosóficos.

Paradigma: é um modelo ou padrão a


seguir. Etimologicamente, este termo tem
origem no grego paradeigma que significa
modelo ou padrão.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Durante o século XX, aconteceram vários eventos que transformaram


profundamente a experiência humana e seu modo de vida.
As experiências desencadeadas pelas grandes guerras, pelos anseios revolucionários
soviéticos e pelo surgimento de novos Estados abriram espaço para questionamentos em
relação às estruturas sociais, morais e políticas, bem como para uma profunda
desconfiança diante dos saberes científicos absolutos que foram anunciados ao longo da
modernidade.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

A fenomenologia se apresenta como uma resposta alternativa às concepções:


materialistas e idealistas, que dominaram o pensamento filosófico durante o século
XIX, tais como o idealismo do neokantismo e o positivismo de Auguste Comte.

Os neokantianos defendiam uma O positivismo defendia que a realidade só


historicidade da consciência e a realidade poderia ser compreendida por meio do
única do pensamento como fundamento saber científico, independente da
para ciência. compreensão humana.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Crise de fundamento da ciência moderna:

➔ não há como provar que somente o pensamento seja a realidade da consciência,


como queria o idealismo;

➔ o pensamento científico não é algo dado, imutável e independente da


compreensão humana;

➔ a metafísica passa a ser repensada como abertura para o conhecimento e


sentido existencial da realidade.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Antes da crise de fundamento que teve início ao fim do século XX, a


verdade “absoluta” determinada pelo conhecimento científico já era
questionada:

➔ Friedrich Nietzsche (1844–1900) foi um dos pensadores que tiveram


um papel importante no questionamento acerca da totalidade do
conhecimento científico e racional;
➔ Para Nietzsche (2007), a ciência deve cumprir esse papel limitador
frente aos anseios humanos, ou cairíamos em entusiasmo e
perspectivismo desmedidos.
Psicologia e a Fenomenologia

Influências filosóficas:

➔ As origens da psicologia remontam à obra de Aristóteles (322 a.C.);


➔ Aristóteles considera a alma o princípio que define todos os seres vivos, e
distingue no homem três tipos de alma: a vegetativa, a animal e a propriamente
racional (Nous). A primeira é compartilhada com todos os seres vivos e a
segunda é compartilhada por todos os animais, sendo unicamente a terceira
própria ou específica do ser humano.
Psicologia e a Fenomenologia

Influências filosóficas:

➔ Descartes (1650), nega a teoria tripartite aristotélica da alma, no qual se


estabelece um corte absoluto entre o homem e os animais, que passam a ser
considerados meras máquinas;
➔ Descartes também defende a decisiva tese de que alma e corpo são substâncias
diferentes e que, enquanto a essência do corpo é a extensão, a essência da alma
é o pensar, o cogito.
Psicologia e a Fenomenologia

Influências filosóficas:

➔ Kant (1804), tomando como ponto de partida o Faktum da mecânica newtoniana,


assume a independência da ciência em relação à filosofia e nega a possibilidade
da metafisica enquanto ciência, ou seja, a possibilidade de um saber não
empírico de existências.
Psicologia e a Fenomenologia

Influências filosóficas:

➔ Os filósofos Dilthey (1911) e Brentano (1917) partem da negação do


pressuposto indiscutido de Kant;
➔ Dilthey e Brentano introduzem a ideia de uma psicologia cujo objetivo não é o
estabelecimento de leis causais, mas propriamente estruturais.
Psicologia e a Fenomenologia

Influências filosóficas:

➔ Dilthey tem por objetivo principal questionar o modelo monista de ciência, propondo em seu lugar
um pluralismo epistemológico, segundo o qual existem dois tipos de ciências essencialmente
diferentes:
◆ as ciências da natureza, cujo objetivo é explicar, ou seja, estabelecer leis (genético-causais);
◆ e as ciências do espírito, como a história, cujo objetivo é compreender, ou seja, captar uma
significação.

A psicologia descritiva tem como objetivo servir de fundamento às ciências do espírito.


Psicologia e a Fenomenologia

Influências filosóficas:

➔ O objetivo de Brentano era estabelecer as bases de uma psicologia como ciência


autônoma e empírica, isto é, delimitada tanto em relação à fisiologia quanto à
metafísica, e que pudesse inclusive constituir a antessala necessária de uma
psicofisiologia;
➔ A psicologia como ciência empírica autônoma, diferente da ciência da natureza,
considera que há dois tipos de fenômenos, a saber, fenômenos físicos e fenômenos
psíquicos.
➔ Para distinguir entre
fenômenos psíquicos e físicos
e, em consequência, para
Franz Brentano estabelecer o objeto da
psicologia, Brentano introduz
o decisivo conceito de
Contribuições à fenomenologia “intencionalidade”;
➔ Todo fenômeno psíquico
caracteriza-se por possuir em
si algo como objeto, sendo que,
pelo contrário, todo fenômeno
físico carece dessa
propriedade.
O termo “intencionalidade” é de crucial
importância: todo fenômeno psíquico é
caracterizado por aquilo que os escolásticos da
Idade Média chamavam de in-existência (ou

Franz Brentano existência em, dentro de) intencional de um


objeto na consciência, ou o que poderíamos
chamar de referência (Beziehung) a um
conteúdo, ou, ainda, de direcionamento

Contribuições à fenomenologia (Richtung) a um objeto. Aqui, “in-existência


intencional” significa, literalmente, a existência
de uma ‘intentio’ dentro do que pretende ser,
como se encaixado nele. Ou seja, referência a
um objeto é, portanto, a característica decisiva e
indispensável do psíquico: na representação
(Vorstellung), algo é representado; no
julgamento, algo é confirmado ou rejeitado; no
desejo, desejamos algo ou alguém etc
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Foi com Edmund Husserl (1859–1938) que a fenomenologia se


estabeleceu:

Ao fim do século XIX, o jovem Husserl, entusiasmado com


seus estudos em matemática, astronomia e filosofia, começou a
assistir os cursos do filósofo Franz Brentano e a pensar a noção de
intencionalidade por meio dos fenômenos psíquicos e físicos.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectiva Fenomenológica:

➔ O termo fenomenologia significa estudo dos fenômenos, daquilo que aparece à


consciência, buscando explorá-lo;

➔ O enfoque fenomenológico compreende o humano enquanto ser no mundo, na


situação de estar lançado sendo presente e presença.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectiva Fenomenológica:

➔ Seria a descrição dos fenômenos como eles são na intencionalidade da


consciência, rejeitando, assim, o elementarismo, o naturalismo. Ou seja, seria a
busca pelo fenômeno que se constitui na interação do objeto com a consciência:
subjetividade versus objetividade.
➔ O objeto só passa a se constituir como tal quando reconhecido e representado
na consciência. Sem essa correlação não poderia haver objeto nem tão pouco
consciência
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Fenomenologia é um esforço, uma tentativa de clarificação da realidade humana. É uma abertura


à experiência, à vivência integral do mundo. É a busca do fenômeno, daquilo que surge por si só,
daquilo que aparece, que se revela. Fenomenologia é ir às coisas mesmas, descobri-las tais quais
se apresentam aos meus sentidos, tais quais eu as percebo. Mas é um ir em busca aliado à minha
própria experiência subjetiva concreta. É um olhar e ver, não apenas uma colocação diante de
algo. É participação, envolvimento. Assim sendo, a Fenomenologia toma-se um modo de existir, de
se colocar no mundo, de fazer parte deste mundo. Neste contexto, temos o ser humano também
como um fenômeno (HOLANDA, 1997, p. 37).
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectiva Existencial:

Com Martin Heidegger, a fenomenologia ganha


novas preocupações e novos conceitos. Tendo estudado
teologia, Heidegger se interessou pela hermenêutica,
palavra originária do grego “hermeneia” que significa
“interpretação” ou “interpretar”, ou seja, tornar algo
compreensível (NASCIMENTO, 2005).
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectiva Existencial:

O Existencialismo surge, então, como uma corrente filosófica na qual o homem é


visto como ser-no-mundo. O homem passa a ser valorizado como um indivíduo que
tem sua própria subjetividade, liberdade e responsabilidade por suas escolhas.
Segundo Figueiredo (1998, p. 179), “a influência da fenomenologia sobre a
psicologia entendida como ciência compreensiva foi em grande parte mediada pelas
doutrinas existencialistas”
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectiva Existencial:

➔ Os principais pensadores existencialistas são Sören Kierkegaard, Friedrich


Nietzsche, Martin Heidegger e Jean Paul Sartre. Não se pode, no entanto, deixar
de citar Buber e Binswanger que também contribuíram com suas idéias e
pensamentos existencialistas.
➔ Kierkegaard (1813-1855),
considerado por alguns estudiosos o
pioneiro do Existencialismo, é talvez
Sören Kierkegaard o pensador de maior destaque na
corrente existencialista devido à sua
influência sobre todos os filósofos
fenomenólogos-existenciais.

➔ Para ele, “todo conhecimento deve


ligar-se inapelavelmente à
existência, à subjetividade, nunca ao
abstrato, ao racional, pois se assim
proceder fracassará no intento de
penetrar no sentido profundo das
coisas, logo, de atingir a verdade”
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectiva Existencial:

Sartre (1905-1980), um dos pensadores mais importantes


do século passado, tendo sido um destacado influente do
Existencialismo e também um contribuinte para o
Humanismo, considerando sua forma de compreender o
homem.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectivas humanistas:

➔ O Humanismo, de fato, surgiu com o apogeu do Cristianismo e os novos olhares que o


Renascimento foi dando ao homem na arte, na religião e na literatura. Segundo Bühler
(1975), é no Renascimento que se dá o apogeu do Humanismo com o
desenvolvimento da liberdade de pensamento.
➔ O movimento Humanista veio resgatar valores humanos esquecidos e reconstruir um
novo foco ao homem enquanto ser concreto, singular, repleto de valores e
potencialidades.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectivas humanistas:

➔ Entre os pensadores humanistas mais importantes, destacam-se os psicólogos


americanos Carl Rogers (1902-1987) e Abraham Maslow (1908-1970), os quais
contribuíram enormemente com suas teorias, principalmente com suas crenças
na potencialidade do homem e na tendência humana de crescer e atualizar-se.
Perspectivas Fenomenológicas, Existenciais e Humanistas

Perspectivas humanistas:

Para Rogers, os indivíduos possuem dentro de si os recursos


para a auto-compreensão, modificação de seus auto-conceitos, de
suas atitudes e de seus comportamentos. Cada ser humano possui a
tendência ao crescimento, amadurecimento e atualização (Rogers,
1994). O conceito de tendência atualizante de Rogers é uma das
expressões mais importantes na Psicologia Humanista.
As psicoterapias
fenomenológico-existenciais
As psicoterapias fenomenológico-existenciais

A Psicologia, influenciada pelos pensamentos da Fenomenologia, do


Existencialismo e do Humanismo foi modificando gradualmente, e de forma bastante
significativa, a sua maneira de perceber e lidar com o homem.
Muitos psicoterapeutas foram tocados pelos conceitos do movimento
Fenomenológico existencial e pelos valores advindos do Humanismo, o que
influenciou as novas formas de relacionamento terapeuta-cliente, dando origem,
assim, às Psicoterapias Fenomenológico-existenciais.
As psicoterapias fenomenológico-existenciais

Dentre as principais e mais conhecidas abordagens terapêuticas dentro dessa


perspectiva fenomenológico-existencial encontram-se:

➔ a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP);


➔ a Gestalt-terapia;
➔ a Logoterapia;
➔ Daseinsanálise;
➔ Psicodrama;
As psicoterapias fenomenológico-existenciais

➔ A Psicoterapia Existencial funda-se no “cuidado”, enquanto


“ser-no-mundo-com-o-outro”, e não em interpretações apriorísticas ou explicações
casuais sobre a realidade vivencial do paciente. (...)

➔ A preocupação do terapeuta fenomenológico-existencial, além de tentar


compreender melhor a pessoa do cliente, é também a de levá-lo a uma
autocompreensão que o permita ressignificar seu futuro, podendo assim aceitar a
responsabilidade que acompanha a liberdade de conduzir sua própria vida.
As psicoterapias fenomenológico-existenciais

As Psicoterapias Fenomenológico-Existenciais constituem suas teorias e formas


de atuação embasadas nos princípios da empatia, autenticidade, respeito e crença
na potencialidade humana.
Princípios estes que tiveram origem nos fundamentos da Fenomenologia, do
Existencialismo e do movimento Humanista.

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