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MATRÍCULA: 2020051138
Karl Popper em toda sua obra trata de dois eixos temáticos: a filosofia da
ciência, em que ele elabora o conceito de Racionalismo Crítico e a filosofia política, em
que ele desenvolve conceitos como o paradoxo da democracia e o paradoxo da
tolerância. O que proponho fazer nesse trabalho é analisar a confluência entre essas
duas temáticas e fazer uma síntese dela. Contudo, primeiramente, é fundamental
elucidar alguns conceitos da filosofia epistemológica de Popper para tornar a análise
mais clara.
Agora, partirei para a análise de um outro texto de Popper para poder seguir
para uma análise mais ampla da interface entre a filosofia da ciência e a filosofia
política do autor. Esse texto é: “As Origens do Conhecimento e da Ignorância”, que
introduz seu livro “Conjecturas e refutações: o progresso do conhecimento científico”.
Nesse texto, o autor se propõe a examinar o conflito entre racionalismo, de Descartes
e empirismo, de Bacon, Hume e Locke. A análise do filósofo inicialmente considera
não as divergências entre essas duas doutrinas (que são muitas), mas sim a
semelhança entre elas. Popper vai dizer que as duas doutrinas confluem em adotar
uma postura epistemológica otimista, em suas palavras. O que caracteriza essa
epistemologia otimista é que ambas consideram ser o conhecimento muito evidente
para o ser humano e ter uma fonte muito bem definida, a qual assim que descoberta
permite ao cientista ou ao filósofo desvendar os mais diversos mistérios do universo. A
maior divergência é somente quanto à fonte desse conhecimento. No caso de
Descartes, ela estaria na razão/ intelecção e no caso dos empiristas ela estaria na
experiência sensível. Essas abordagens, portanto, como expressa o autor, procuram
valer-se de uma validação do conhecimento a partir de sua origem. Então, para o
empirista, todo conhecimento provindo da experiência sensível seria verdadeiro e, no
caso do racionalista, assim seria para o conhecimento provindo do intelecto. Nota-se
que é gerada uma relação de autoridade para o conhecimento, o que, já introduzindo a
temática política, possibilita o autoritarismo, já que um grupo dominará essa verdade e
aquele que não a dominar - sendo que esta, supostamente, se mostra a ele tão
evidentemente – será suposto corrompido por preconceitos diversos que o impedem
de ver a verdade evidente, tornando a tolerância um tratamento inapropriado para o
detentor de tal crença. Assim, Popper propõe que não se procure por uma origem do
conhecimento, já que esta gera divinizações de cunho autoritário, mas sim, procure
colocar a prova os enunciados feitos, seja lá qual seja a origem deles. Afinal, se o
enunciado for refutado já se saberá ao menos que ele não pode ser verdadeiro sem
recorrer a qualquer tipo de imposição autoritária de uma ordem de conhecimento.
Essa postura, o filósofo ressalta, já tem tradição na filosofia e se encontra no Sócrates
da Apologia, do Teeteto, em Montaigne e Erasmo de Rotterdã.
Referências:
POPPER, Karl. “As origens do conhecimento e da ignorância”. Conjecturas e
refutações, trad. Sérgio Bath. Brasília: UNB, 1982.
FAVERSANI, Fábio. Popper, Ciência e História Antiga. Síntese Nova Fase, v. 25,n. 83,
527 – 550, 1998. Disponível em:
http://periodicos.faje.edu.br/index.php/Sintese/article/download/694/1120. Acesso em:
27 out. 2020.