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O autora

Copydesk: Victor Enrique Pizaro


RevisOo: Cannen Í. S. C~sta
Capa: :Pi"nky Waine~
Texto de c~pa: Pedro de Luna

Dados Internacionais de Cátalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileir~ do Livro, SP, Brasil) Índice
Grossi, EsthéÍ' Pillar.
Didática da alfabetização / Esther Pillar Grossi. - Rio de Je.~eiro:
Paz e Terra, 1990.
Conteúdo: v. 1. Didática do nlvel pré-silábico - v. 2. Didática do nlvel silábico. -
v. 3. Didática do nível alfabético. Apresentação getal............................................................ 1
l. Alfabetização 2. Alfabetização (Pré-escola)· .Prefácio de Barbara Freitag .................................... : . . . ..... ... . 9
I. Titulo Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
90--0765 CDD-372.21 Bases teóricas da proposta de alfabetização do GEEMP A .. . .. . . . 25 •
-372.41 Didática do n,ivel pré-silábico .............................. ; ............... ·30
-372.4140981 Alguns materiais e fichas didáticas para o nível pré-silápico .. . . . . 63
Índices para catálogo sistemático:
1. Alfabetização: Pré-escola: Educação 372.21
2. Alfabetização: Ensino de 1.ºGrau 372.41 °'
3. Brasil: Alfabetização: Projetos: Ensino de 1. 0 grau 372.4140981

1.1 edição: l.0 semestre 1990

EDITORA PAZ E TERRAS/A


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2004
Impresso no Brasil I Printtd in Brazi/
Apresentação. geral

O êxito de suas aplicações por professoras criativas, desde Ron-


dônia até o Rio Grande do Sul, com resultados cada vez mais anima-
d'ores, nos encoraja·e nos impulsiona a tornar ainda mais conhecidas
as Didáticas dos níveis pré~silábico, silábico e alfabético~ aparecidas
já há algum tempo, publicadas pelo GEEMPA (Grupo de Estudos so-
bre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação).
Os prefácios de Barbara Freitag, Madalena Freire e Sara Pain, em •.
cada uma das Didáticas, avalizam e reforçam nossas convicções, pela
competência de cada uma delas.
Da nossa parte, tanto nos trabalhos do GEEMPA, onde continua-
mos as pesquisas de alfabetização e aprendizagem, como na Secretaria
Municipal de Educação de Porto Alegre desde 1~ de janeiro do cor-
rente ano, temos a oportunidade de avançar na compreensão. do que
se passa na cabeça de nossos alunos, enquanto aprendem a ler e a es-
crever. Testemunha isso o que acabamos de apresentar em Alfabetiza-
ção: uma questão popular, publicação que nasceu a partir dás inúme-
ras perguntas dirigidas a Emilia Ferreir9-, quando, a 12 de julho deste
ano, ela proferiu uma palestra a 14 mil professores reunidos em um
ginásio de esportes·em Porto Alegre.
Neste texto apresentamos urna noção muito nova que emerge da
continuação de nossos estudos. Trata-se da noção de zona proximal
no processo de alfabetização, a qual amplia de muito a noção de nível
psicogenético na escrita ou na leitura.
Em primeiro lugar, reforçamos o que já acenávamos nas três
Didáticas, de que não há simultaneidade entre os processos de aquisi-
ção da leitura e da escrita, enquanto eles se dão. Justamente a com-
preensão de que a leitura e escrita são duas ações inversas representa
uma culminância na caminhada da alfabetização. Por outro lado,
mesmo considerando a escrita (ou a leitura em separado), pode-se
estar em níveis diferentes se se tratar de unidades lingüísticas diferen-
tes.
Acresce-se a esta realidade o fato de que a associação entre sons
e letras é uma problemática paralela à compreensão de como as letras

--
se articulam para produzir a escrita e propiciar a leitura de palavras, A zona proximal na aprendizagem de M.J. no mês de setembro
frases e textos. de ·1989 podia ser representada pela região espacial do quadro abaixo.
A combinatória das performdnces dos alÚnos nestes três eixos por
· · onde se qá a alfabetização - escrita, a ]eitura e a associação entre a.s
letras e sons - é que caracteriza o que passamos a chamar de zona
· proximal.nesta aprendizagem. · -
O quadro a seguir "expressa Úaficamente o que acabamos de ex-
plicar.
ESQUEMA. DE ORDEM PARCIAL QUE EXPLICA A ALFABETIZAÇÃO r~
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A combinatória dos desempenhos de M.J. é muito rara, parqué·


ele apresentou uma escrita silábica de palavras, enquanto pré-silábica
na .frase, mas mostrou-se alfabético na leitura do seu próprio nome,
bem como de outras palavras e uma frase. No entanto, era pré-silábica
para ler textos, e na associação entre letras e sons demonstrou algumas
Para·exemplificar concretamente como isto se pàssa, tomemos os respostas intrigantes, tais como a de identificar U como H de tatu, G
casos de M.J. e de 1. como J de gato, J como J de Marcos.

2 3
Estudando as respostas de M.J., foi possívt;l estabelecer certas có°@ A escrita do nome próprio e de quatro palavras e uma frase
relações com algumas de su~s pm~cterísticas pessÓais que conduziram
a professora.a programar ir;i~!=rvenções didáticas especiais para ele.
Por outro lado, 1. tem um conjunto muito mais homogêneo de
respostas que o de M.J.

1
~..,,.,.s oa e..se9'1i..veR~ C.O..,TOU AS ~1'~B"s NOS
~•1:10~.
1
r
;..

Leitura do nome

Israel, que escreve seu nome de memória corretamente, associa a


segmentos escritos do seu nome segmentos parciais do seu próprio no-
me falado (Isra; EI). Lê silabicamente - IS (Isra).
Faz a exigência da conservação da ordem das letras, para que seja
o seu nome, mas não tem a exigêncja do sentido esquerda-direita para
a sua validade escrita.

Os elementos para esta caracterização dos dois alunos através de


observações em sala de àula, bem como do conjunto das tarefas sobre Produção e leitura de uma história
os três eixos em torno dos quais gira a alfabetização, são descritos em
A/fabetização: uma questão popular. . Mui.to prontamente, ditou a sua história, como segue:
Segue-se a descrição dos resultados obtidos por 1.

4 5
Ele não faz nenhuma associação entre letras escritas e sílabas orais.
Esta "leitura" revela novamente que sua co'ncepção na leitura de
e~ \Jtol A~,a«TAMltlf'O Pã. ~e ,4tJt>ARE.S. p~lavrás é. pré,silábica II.
"' o "U.&.Al>OR EN1~\J · t.IO A1',\~AM'-"'1'0
~v \Jt'\ &ARlJL.1'fÂD VAM t IJAAA f Israel é, portanto, silábico na escrita de palavras e de uma
AI .'cu VOO OUMR r'E5'~ SuAACO. frase e pré-silábico II, tanto na leitura de palavras como de tex-
to. Entretanto, na leitura de seu nome dá indícios de leitura silá-
~i:. 'BAM"A ALTURA l. VOU 'TOMAR UM bica, e isto faz coerência com o fato de que é necessária para ele
POUQV\N\.\O PE t<ouA·· NÃO 'POl>E. 5t:.'R UM a conservação da ordem das letras para que seja o seu nome.
54PO t VAMOS TODO MIJNDO TOCA~ l>eDRA
Hfl~ 1T1RClV · Q ·~RAF.U..0 CAl\I 1'01>0 a Israel e o conhecimento das letras
A?A'ltTAMEWfO, O &.>.f'O MORRe.\J •
Ele conhece os nomes de doze letras, a saber: A, E, B, I, J, L,
Que,eROU A 1>eRNA E 'OtSSE: ~\JNCA
M, O, S, T, V, X.
MAIS f~ N'E.S51t A'PA~AME)JTO Sabe também ao menos uma palavra que comece por cada uma
l:l'E'5SA AL.'T'URA. • delas.
As letras B, C, D, F, P, Q, R, U e Z não são por ele denominadas,
mas conhece alguma palavra que comece por elas, em geral uma só.
As letras H e N, ele não sabe nem o nome nem qualquer palavra
que inicie por elas. Perguntado se com elas não se escreve, ele respon-
deu: "Se escreve, sim! Eu é que não sei qual".
Após escrevê-la, foi lida todinha para ele. Aí então lhe foi passa- Para a letra I, a do seu nome, ele citou as quatro palavras seguin~
do o texto recém-escrito e lido, para que ele fizesse a sua leitura. Ele tes: Israel, Igor, Iscócia, Iscoteiro.
a fez, vinculando as palávras de sua história, as quais ele sabia de me- Para a letra V, citou Vera, Vanessa e a outra Vanessa também.
mória, linha por linha no texto escrito. Quer dizer, não.lhe era evidente que dois nomes iguais foneticamente
Por este fato, vê-se que Israel não é pré-silábico I na leitura do tivessem a mesma primeira letra, uma vez que pertenciam a duas me-
texto, porque não fez nenhuma referência à necessidade de desenho ninas não iguais. ·
para poder lê-lo.
Outrossim, não é silábico, porque não fez a sua leitura associan- •••
do cada sílaba oral a uma letra do texto. Neste caso, sempre sobra tex-
to escrito após a leitura. E isto não sucedeu com Israel. Ele terminou Vê-se que a noção de zona proximal, por ser muito mais ampla
sua pseudoleitura no final do texto escrito. que a noção de nível psicogenético, é muito mais personalizante dos
progressos de cada aluno que uma classificação que tome por base a
performance na escrita ou na leitura de uma só das unidades lingüísti-
Leitura de palavras isoladas cas.
Propor-se uma caracterização bem pessoal de cada aluno não im;:
Após a leitura de sua história, foram-lhe apresentadas as mesmas plica que o ensino deva ser individualizado para ser eficiente. Muito
quatro palavras da tarefa escrita para ver se as "lia". pelo contrário, aprende-se em interação com os outros, e a riqueza das
- Para BOLA, ele lf\U SAPO trocas, numa turma que tenha por volta de trinta alunos, não é só acei-
.:. Para BOLITA, leu APARTAMENTO tável, mas desejável. Entretanto, conhecendo-se cada vez mais profun-
- Para BICICLETA, leu .. : O ZELADOR ENTROU DENTRO DELE damente como se constrói a aprendizagem da leitura e da escrita, me-
- Para SOL, leu UAU lhor se pode planejar e organizar os trabalhos de aula. É o que vem
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i 1

acontecendo com IJ1Uitos pro{~.~sores pelo Brasil afora, que estão cons-
truindo a ca4.a ~11º l,lma confiança· bem fundamentada de poder alfa-
betizar todos os alunos de uma turma, em escolas d.as periferias urba-
. nas,''compostas por crianças Ql.'Í'l~ndas d.e fanú)ias das classes'popula-
res. Muito 'particularmente, vi/.le ci,t~ Vera Ma.nz~nar~s, nossa com-
. panheira do GE,EMP A, que ganhou o prêmio "1 S de outubro - Alfa- Prefácio
betização·, um desafio nacional", <lo Ministério da Educação, P,Or sua
ousadia, ·competência e eficácia na regência .de três turmas de alunos
muito pobres, cujos resultados quantitativos foram de 750/o, 1000/o e
100% resP,eçtivamente, aliados à excelência da qualida4e da alfabeti-
zação produzida. ' · · .
Na certeza ele que no Brasil n~q há mais recuo no direcionamento O lançamento da trilogia de Esther Pillar Orossi.Didática do nível
da alfaoetização; a partir das q~scobertas'c,le Emilia Ferreiro, associa- pré-silábico, Didática do nível silábico e Didática do nível alfabético
das à antropologia pedagógica eminentemente engajada de Paulo Freire pela Paz e Terra não poderia ser mais oportuno. Primeiro, porque neste
e ao esforço de grup'os como p (JEEM:P A, q~e fazem a transposição ano de 1989-o GEEMPA (Grupo de Estudos _sobre Educação, Meto-
didática destas iqéiás, nos congratulamos e nos congraçamos com to- dologia de Pesquisa e Ação), de Porto Àlêgre, criado por Esther e sua
dos aqueles' que est~o comprometidos.com a luta fascinante para alfa- equipe, completa uma década de pesquisas sistemáticas e de trabalho
betizar no menor espaço de tempo possível o maior número de irmãos de alfabetização junto às classes populares: Ségtii'ido, porque a coor-
bnlsH~iros. denadora desse grupo de trabalho acrescentará, neste e nos próximos
anos, às suas funções de pesquisadora, psicopedagoga, matemática e
Porto Alegre, outubro de 1989. escritora a função política de seçretária de Educação do município de
Porto Alegre. Encerra com a trilogia uma etapa significativa de sua
vida profissional, abrindo uma nova, bastante promissora.
O pedido de Esther, de prefaciar o primeiro volume da trilogia
- Madalena Freire e Sara Pain se encarregarão dos prefácios para· as
outras duas Didáticas-, formulado bem antes da vitória eleitoral do
PT em Porto Alegre, alcançou-me em um ll!Omento igualmente opor-
tuno. Estou mergulhada em uma pesquisa bastante abrangente sobre
Psicogênese e pedagogia - a apropriaçáo de Piaget pela prática esco-
lar. O tema foi inicialmente tratado em um curso de pós-graduação
que ministrei na Universidade Livre de Berlim (1988-89), ameaçando
transformar-se agora em um grande "tratado" sobre as experiências
1 práticas desenvolvidas na Europa, nos EUA, na Austrália e na Améri-
ca Latina, com base nos princípios do estruturalismo genético.
Nesses esforços de apropriação do pensamento de Piaget e cola-
boradores na prática escolar, a experiência do GEEMP A assume uma
posição de destaque. Trata-se de uma experiência bem-sucedida, cien-
tificamente fundamentada, politicamente engajada eduradoura. -
Em primeiro lugar, com efeito, o GEEMPA vem obtendo, graças
à seriedade de sua proposta de alfabetização, um rendimento extraor-
dinário: as taxas de reprovação oscilam entre 5 e 2% (comparadas aos
50 ou até mesmo 60% considerados "normais" nas escolas ortodoxas),
com o pequeno pbrmenor de que as crianças egressas das primeiras sé-
ries do GEEMP A sabem efetivamente ler e escrever. O GEEMP A não

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se contenta com os critérios desenvolvidos pelas Secretarias de Educa- nocêntrico" da teoria construtivista de Piaget, considerando-a espe-
ção para decidir ou não sobre o êxito da alfabetização, pois está essen- cialmente prejudicial se aplicada indiscriminadamente em sociedades
cialmente preocupado com o desenvolvimento de estruturas c.:>gnitivas dependentes. Mas o tÇ>m cético não vem somente dos opositores de Pia-
.que permitam à criança conhecer o mundo, construindo-o, inventando- get; nas próprias fileiras piagetianas, Coll (1986) adverte contra o uso
º• refazendo-o permanentemente. Em segundo lugar, este esforço pe- precipitado da teoria psicogenética em sala de aula.
1.
. dagógico está amplamente calcado em pesquisas sistemáticas sobre a O êxito do GEEMP A em alfabetizar crianças das classes popula-
psicogênese de cada criança, a fim de assegurar a cada uma delas o res, baseado em Piaget e nos "pós-piagetiarios", refuta esse pessimis-
desdobramento pleno de suas competências intelectuais. Ein térceiro mo, demonstrando a eficácia da proposta, apesar das condições sócio-
lugar, o engajamento político do GEEMPA se evidencia no fato de econômicas e psicopedagógicas adversas em que vivem as crianças gaú-
que sua proposta pedagógico-didática se volta para as classes popula- chas alfabetizadas.
res, ou seja, para a população infantil da periferia urbana de Po.rto Quanto ao segundo critério, o do· embasamento científico, certa-
Alegre que convive com a pobreza, o desemprego, o abandono por parte mente encontraremos milhares de estudos de orientação piagetiana vol-
das autoridades políticas. Em quarto lugar, a experiência do GEEM- tados para a educação e o aprendizado. Já se constituíram verdadeiras
P A não é nenhum "fogo de palha" como tantos outros .. Em vez de bibliotecas repletas com esses estudos na Europa e na América, o que
buscar fórmulas milagrosas e instantâneas de alfabetização para os- facilmente.pode ser comprovado examinando-se o rico acervo dos Ar-
tentar estatísticas de um falso êxito, optou pelo trabalho persistente, chives Jean Piaget em Genebra ou de qualquer biblioteca universitá-
cotidiano, minucioso, bem fundamentado que agora·já dura uma dé- ria, de Berlim a Harvard: Mas em todas essas pesquisas, teses, traba-
cada. Neste sentido, o trabalho do GEEMPA é único no mundo. lhos e publicações destaca-se o interesse puramente científico ou aca-
. Não há exagero nessa afirmação se levarmos em conta que é bem dêmico. Estuda.:se o aprendizado em seus aspectos puramente cogniti-
possível encontrar inúmeros projetos qüe reúnam uma ou até duas des- vos, não havendo, contudo - na maior parte dos casos - a preocu-
sas características, mas não tenho conhecimento de nenhum outro que pação de aplicar resultados obtidos a uma prática pedagógica ou de
reúna as quatro, simultaneamente, tirar conseqüências práticas das elucubrações teóricas. (Vide os seis com-
Comecemos com uma revisão de alguns projetos que tenham tido pêndios ~e Piagetian Research, editados por. Modgil e Modgil, 1976;
sucesso em introduzir os princípios psicogenéticos em sala de aula. Os ou as vánas coletâneas de Piagetian cross-cultural Psychology, orga-
mais conhecidos ci::rtamente são os de Furth e Wachs (19"4), Kamii nizadas por Dasen e colegas, 1974, 1977, 1980.) Mesmo os trabalhos
(1979), Karr,iii e De Vries (1973, 1981), Kamii e De Clarck (1985) nos de Emilia Ferreiro, do Centro de Investigaciones y Estudios Avanza-
:.11
Estados Unidos, acompanhados de um severo controle científico. Ne-' dos, na cidade do México, que se dizem "trabalhos científicos" com
í nhum desses projetos, contudo, teve duração de mais de dois a três implicações para a alfabetiZação, não e.sclarecem tais implicações.
1\
anos e nenhum deles voltava-se especialmente para as crianças das clas- Coube efetivamente ao GEEMP A 'Concretizar na prática pedagó-
ses populares (os slums americanos). gica o construtivis~o genético de Piaget, em geral, e a teoria da escrita
Para a maioria dos cientistas americanos contemporâneos tais pro- de Ferreiro, em especial. Nisso o grupo talvez pudesse aproveitar ou-
jetos tiveram uma validade temporária, na época de sua realização, mas tras experiências, como as de Furth e Wachs, Kamii e De Vries é mui-
estavam mais a serviço de um modismo que se revelou efêmero (Pia- tos outros, mas o grupo de Esther Grossi foi o primeiro a integrar e
get: re-discovered), que de um genuíno interesse político e prático de transpor para a didática da alfabetização os ensinamentos de Emilia
alterar a fundo a realidade educacional americana. Nada mais revela- Ferreiro, decorrentes do estudo da concepção da escrita nas crianças
1
l dor que o tom cético de muitos autores reunidos em Modgil e Modgil: em idade de escolarização.
r Piaget: Conse!Jsuúmd Controversy (1982). Furth e Wachs (1974), que t-:1uitos leitores já estarão impacientes com minha argumentação,
.estavam realmente interessados em dar continuidade à sua "School for que&t.1onando-se por que, até agora, eu não fiz referência às experiên-
1 Thinking", apontam (depois de dois anos) para as dificuldades cria- cias especificamente brasileiras, inspiradas em Jean Piaget. Neste coii-
{

das pelas autoridades edUCl!.cionais, pelos professores e até mesmo pais te?CtO merecem destaque especial os trabalhos. de Lauro de Oliveira Li-
de alunos, mais interessados na rotina de um sistema educacional tra- ma, do Centro Experimental e Educacional Jean Piaget, no Riô de Ja-
dicional, mesmo. que ruim, que numa proposta inovadora. O ceticis- neiro. Merece o respeito de todos o batalhador por uma educação pia-
mo em relação à "Piaget in the classroom" não pára aí. Críticos com getiana no Brasil, desde o seu monumental esboço de uma didática es-
a perspicácia de uma Buck-Morss (1982) advertem contra o "bias et- colar para a escola secundária brasileira (1962), calcada nos ensinamen-

to 11
tos .da Escola de Genebra, e pioneira no mundo. Taf!tO o Centro Expe- O GEEMPA é efetivamente- sui generis em sua atuação,
rimental g~11nto il Escola Ch1,we do Tamanho não resistem, contudo, considerando-se a premissa, aqui introduzida, da simultaneidade em
a uma comparação com o trabalho d~ pEEMP A em pe.lo menos .dois um mesmo projeto das quatro características ou critérios acima men-
aspectos fund.amentais: o liPrenqizado promovido por Lauro e sua equi- ·: >:···
cionados: do êxito pedagógico, da fundamentação científica, do enga-
. pe nãos~ qestina às "classes populares"' e não incorpora a teoria. da jamento político pelas classes populares (para falarmos nos termos do
linguagem escrit!l, elaborada p9r Emília Ferreiro. A primeira escolà GEEMPA) e da.duração da experiência.
piaged(!.na no Br\lsil beneficiou as farnílias capazes de pagar pelo eµsi- Para efetivamente defender esse título de "experiência sui gene-
no inovaaor da Chave do Tamanho, apesar de não haver nenhuma in- ris" no campo da pesquisa e prática piagetianas t~lvez fosse necess.ário
tenç~o discriminatória de classes por parte do seu fundador (Oliveira introduzir ainda um último critério, o da integração de todos os fato-
Lima e Oliveira Lima, 19~3). . · res envolvidos no processo de aprendizado. Pois há uma infinidade de
O coµiprometiménto com as class.es populares é por sua vez a tô- experiências e tentativas isoladas de transpor para a prática educacio-
nica q9~ trabàllios de Orly Man.tovani de Assis (1977, Ã979), realiza- nal aspectos isolados do construtivismo genético. Basta lembrar ape-.
dos em c;ampinas e em algumas das grandes capitais brasileiras, in- nas dois: o do ensino da matemáticà (Aebli, 1954) e o da educação moral
cluindo a capital fe~eral; mas o esforço desse grupo de trabalho apre- · (Kohlberg, 1982). Outros exemplos poderiam ser multiplicados.
senta outras ljmitações que nijo resistem a uma comparação com o Esther Grossi _não se contentou com a aplicação de Piaget e cola-
GEEMPA. Os trabalhos realizados por Orly, com ênfase em crianças boradores -ão campo da matemática, área de sua especialização e de
das classes populares da faixa etária do pré-escolar, procuram concre- seu interesse acadêmico. Foi esse o tema de sua tese de doutorado, de-
ti;zar seÚ engajam~1!f O político através de uma prática que entra em cho- fendida em Paris (1985), e para a qual originalmente o Grupo de Tra-
1 q\le com alguns pressupostos básicos da teoria psicogenética. A cons- balho por ela coordenado tinha sido criado como Grupo"de Estudos
i tatação qas d~fasagens existentes entre crianças di:\S classes populares sobre o Ensino da Matemática de Porto Alegre (GEEMPA) em 1972.
e das c;lasses médias e altas levou a equipe de Campinas a buscar uma Percebendo a necessidade de uma abordagem mais ampla; na base, e
acelernção da psisogfnese, por vias d.a estimulação aq-ibiental, a fim com a grande massa das populações marginalizadas, o GEEMPA foi
1 de instrµrnen,t~li.z!1r .a.s crianças de modo que iniciem, em p~ de igual-
~' dade (cognitivamellte falando), sua alfabetização segundo os métodos
"refuncionalizado" com o seu nome atual, em 1979, ocupando-seba-
sicamente com os processos de aprendizado das classes populares em
tradicionais em uso. Em vez de alterar a qidática para que esta se adapte
fase de alfabetização.
ao nível psicogenétic;o qas c;rianças, Mant.ovani de Assis optou p(;!la al-
A necessidade dessa abordagem ampla, integrada, da problemáti-
ternativa 4e conqip,i9n1,tr as estruturas cognitivas de modo que estejam
ca da construção do conhecimento em crianças desprivilegiâdas, certa-
"adequadas,,.aos requisitos ofi~i1,tis ao iniciar-se a alfabetização. A in~
tenção é louvável, mas os efeitos certamente não são tão eficazes quanto mente foi percebida por Esther Grossi. no curso de um processo de
o procedimento do GEEMPA. Como o grupo de Campinas não insti- aprendizad" pelo qual ela própria passO:u, em su.a experiência com os
tucionalizou a pesquisa piagetianà para acompanhar a sua prática, o pequenos alunos das favelas, ou vilas, de Porto Alegre. Em sua trilo-
projeto de estimulação pré-escolar de Campinas não atende ao nosso gia ela nos apresenta as etapas e dificuldades desse aprendizado.
segundo critério de comparação, o da fundamentação científica dos Aspectos isolados de seu trabalho vinham sucessivamente sendo
trabalhos didático-pedagógicos. publicados em revistas educacionais de renome como os Cadernos de
Pcider{amos busc;ar.uma comparação do GEEMPA com pelo me- Pesquisa, de São Paulo, a Revista Brasileira de Estudos.Pedagógicos,
nos três equipes de pesquisa, que há algum tempo vêm se dedicando LEIA e outras mais. Vários livros de sua autoria ou de suas colegas
à pesquisa piagetiana em classes populares: o casal Carragher e Car- do GEEMP A vêm sendo lançados pela Editora Kuarup. Inúmeros gru-
J ragher e sua equipe em Recife, os trabalhos de Freitag e suas equipes, pos de trabalho dentro e fora do Rio Grande do Sul vêm discutindo
'i a experiência didático-pedagógica de Esther Grossi e sua equipe, na
i1 realizados em Sãó Paulo e Brasília, e as pesquisas realizadas sob orien-
tação de Chiarottino .em São Paulo. A todos esses trabalhos são co~ expectativa de incorporá-la em projetos de alfabetização regionaliza-
muns a pesquisa piagetiana e o engajamento político em favor das clas- dos. Foi assim, por sinal, que conheci Esther Grossi no INEP/MEC
ses populares. Algumas dessas equipes inclusive atuam no campo por em Brasília. Em debates e publicações fora do Brasil, Esther vem au-
um período comparavelmente tão longo quanto a equipe de Esther mentando o, círculo de seus admiradores. Com a publicação, pela Paz
Grossi, mas nenhuma das três atende ao primeiro critério: o da eficá- e Terra, das peças-chaves de seu trabalho de mais de dez anos, sua ex-
cia pedagógica dos trabalhos realizados. · · periência pedag6'~ica, o esforço de teorização e o produto de seu en-

12 13
volvimento político se tornam agora aces~íveis a um público bem mais plo mais puro: E, finalmente, a escrita alfabética, da qual. o alf~beto
amplo, incluindo pesquisadores, educadores e políticos; Témos todos fenício, posteriormente adaptado pelos gregos e romanos, e o mais co-
a ganhar com a experiência do GEEMP.A e as. reflexões teóricas e prá- nhecido entre nós, e um dos melhores exemplos. Há culturas~ como
ticas ·de Esther Grossi sobre essa experiência. · a. 'escandinava, que desenvolveram sucessivamente diferentes tipos de
Se a~é agora falei do GEEMP A, em geral, procurando inserir essa escritas alfabéticas, desde a rúnica antiga (a partir do século III d.C.)
experiência em um contexto mais amplo, foi intencionalmente; uma até a rúnica posterior (a partir do século IX) e a latina (a partir do sé-
· intenção declarada por mim e aprovada por Esther. Achei que o pre- culo XIV). Outras, como os hieroglifos egípcios, reúnem ·as três f9r-
fácio à trilogia apresentada não po;deria restringir-se a um comentário mas de representação da linguagem nos documentos e nas gravaçoes
sobre a didática do nível pré-silábico. Exigiria a reflexão do trabalho que chegaram até nós, a pictográfica, a silábica e a alfabética. Evolu-
como um todo. Justamente por isso, os textos ora apresentados por ção semelhante pode ser verificada no campo da representação e do
Esther são inseparáveis dos trabalhos do GEEMP A, da equipe que o cálculo numérico (cf. Damerow e Lefevre, 1984).
concretizou, das professoras que alfabetizaram, dos alunos que forne- Esther e sua equipe observaram inclusive que a separação por es-
ceram o material. Não quero minimizar os esforços do grupo, mas en- tágios ou niveis claramente definidos é mais um instrumento teórico
quanto coordenadora da equipe, Esther representa a "alma" do GEEM- que uma realidade empírica. Nas crian~as examina~as verifi~ou-se, c<:>n-
p A. O grupo poderá agora provar a sua autonomia relàtiva em face firmando os achados de Emitia Ferreiro. que existem vános estágios
de sua idealizadora, durante o período em que ela estiver às voltas com intermediários e ainda a simultaneidade de dois ou três "estágios" -
-a Secretaria de Educação. Certamente ela procurará generalizar os efei- por vezes no pólo da leitura, por vezes no da escrita.
tos positivos de sua experiência de alfabetização, mas também é certo Não vou entrar em outros pormenores sobre a didática do nível
que os trabalhos nq GEEMPA, os membros da equipe, os alunos sen- pré-silábico, sugerindo ao leitor mergulhar no próprio texto da auto~
tirão falta da presença diária de sua alma mater. ra. Sugiro ainda que o leitor não pare por aí e acompanhe Esther ate
É a prova de fogo do projeto, a prova de fogo de Esther, a ~i as últimas páginas do terceiro compêndio.
de fogo de uma proposta socializa.nte mais ambiciosa: uma adm~ Porque, afinal, toda trilogia étambém um tríptico. Cada elemen-
tração municipal do PT bem-sucedida. to é parte integrante e indispensável da obra, perdendo sua "aura",
Contudo, ao deixar a "trilogia" como um "fio de Ariadne", ca- quando arrancado do todo.
paz de conduzir o professor autônomo para fora do labirinto dó caos
educacional brasileiro, Esther fornece um equipamento sólido para a Barbara Freitag
aventura da alfabetização. A trilogia procura dar conta de três está- Copenhague, 20 de janeiro- de 1989
gios decisivos da criança durante a aquisição da linguagem escrita, a
saber: o estágio pré-silábico, em que a criança ainda não estabelece uma
relação necess.ária entre a linguagem falada e as diferentes formas de
sua representação, acreditando que "se escreve com desenhos" (tese
da escrita figurativa); o estágio silábico, em que as incoerências com
as hipóteses do estágio anterior são percebidas, surgindo uma nova teo-
ria - a de que para cada sílaba é necessário ter pelo menos uma letra
(em geral, uma vogal); e, finalmente, o estágio alfabético, em que a
hipótese anterior é novamente reformulada, surgindo agora a hipótese
coerente de uma correspondência relativa entre fonema e letra. A psi-
!: cogêriese infantil parece refazer, em cada criança, a sociogênese da es-
. crita vivida pela humanidade em vários períodos históricos. As primeiras
formas de representação do mundo foram figurativas. E algumas for-
mas de escrita permaneceram fixadas na forma pictográfica, como por
exemplo a escrita chinesa, com qs seus quatro mil anos de idade. Em
outra fase do desenvolvimento da humanidade, surge a escrita silábi-
ca, da qual talvez a escrita miceniana (o chamado linear B) seja o exem-

14 15
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17
16

,,
até um determinad·o momento. Não são as estruturas que déterminam a
aprendizagem, mas sim a aprendizagem é substancialmente a organiza-
ção de estruturas. Outrossim, estas estruturas não são abstratas e gerais,
desvinculadas de conteúdos científicos específicos. Ao contrário, ases-
truturas se constroem no bojo de situações concretas, sempre ligadas
a aspectos da realidade qlie_se situam num certo campo científico. As-
Apresentação sim, didaticamente, o que é fecundo não é a pura e simples determina-
ção do nível onde se situa cada aluno, mas o conhecimento das condi-
ções que propiciam a organização das relações que caracterizam cada nível.
Um terceiro aspecto que vimos esclarecendo cada vez melhor é o
da independência ou desvinculação das trajetórias para ler e pata es-
Desde 1985, quando apareceu pela primeira vez esta Didática do n(~ crever, como dois galhos de uma árvore, os quais se alimentam da mes-
vel pré-silábico, novos conhecimentos sobre a psicogênese da alfabetiza- ma seiva, mas crescem em duas direções, guardando certa autonomia.
ção foram construídos. Cumpre enriquecer esta nova edição com al- As trajetórias são constituídas dos seguintes passos:
guns destes conhecimentos diretamente vinculados com o nível pré-silábico.
O primeiro deles diz respeito à compreensão de que há dois níyeis intermediário 1 intermediário 2 intermediário 3
pré-silábicos, denominados PS 11 (pré-silábico 1) e PS 2 (pré-silábico 2). PS! 1 l PS2 12 S 13 A
Isto porque o desenvolvimento do processo de alfabetização tem dois pré-silábico 1 pré-silábico 2 silábico alfabético
patamares bem nítidos - um, no qual os sujeitos julgam que se escre-
ve com desenhos,· isto é, a grafia deve conter os traços figurativos dac
Mostramos, a seguir, seis exemplos de desempenhos na aplicação
quilo que se escreve - e outro, no qual se usam sinais gráficos,
da prova das quatro palavras e de uma frase, tipicamente pré-silábicos.
abandonando-se no traçado aspectos figurativos do que se quer escre-
Vemos o Claudiomiro (7 anos), que "escreveu" gato, cavalo, borbole-
ver. Porém, estes aspectos figurativos permanecem indiretamt:nte pre-
ta, cão e o gato bebe leite, somente com desenhos, o que caracteriza
sentes no nível PS 2, na medida em que o sujeito, ao escrever com le- o nível pré-silábico 1, como dito acima. No mesmo nível; apresenta-se
- tras, números ou assemelhados, condiciona a quantidade deles, o seu o desempenho de Jaime (6a 8m).
tamanho, a sua posição ... a características figurais do ente cuja pala- Nos desempenhos de Anderson e José Carlos, vê-se a m_escla en-
vra que lhe está associada é escrita. Por exemplo, como me disse Rita tre o uso de desenhos e de sinais gráficos, para se expressar por escri-
(8a lm), que "casa" tem seis letras e "casinha'', três, porque é pequena. to, enquanto que Luís Paulo e Luís Gustavo usam somente sinais grá-
O segundo aspecto relevante a apresentar é a presença de níveis ficos, aparentados com letras. Há ainda o caso de Norberto, que es-
intermediários no processo de alfabetização entre cada dois níveis prin- creveu somente com letras bem definidas. Anderson e José Carlos já
cipais, ein particular entre os dois pré-silábicos. são pré-silábicos 2, apenas com um resquício ao pré-silábico 1, como
Os níveis intermediários são inerentes à existência de níveis. Eles uma modalidade de se reequili}?rar, ou seja, reencontrar o trilho perdi-
representam a maneira de passar de um deles a outro de maior com- do no nível intermediário.
plexidade. Isto é, eles são o momento da rupturà das relações entre Os comportamentos dos alunos no nível intermediário costumam
os diversos elementos que sustentaram o pensamento até então. Estar ser de recusa total ou parcial de produzir algo eserito, dizendo que não
num nível intermediário significa estar em conflito, gerado,no fato de sabem escrever, afirmando que com des~nho não se escreve ..
a pessoa se dar conta da impossibilidade de resolver os problemas que Quando um sujeito faz sinais gráficos com desenhos junto a eles,
enfrenta. É a tomada de consciência de incoerências entre suas hipóte- já superou o conflito. Ele saiu do impasse, sabe que desenho não é es·
ses e os dados da realidade. crita, e o acrescenta às letras ou quaisquer outros traçados sem cono-
"Aprende-se resolvendo problemas", a partir de cálculos relacio- tação figurativa do que está sendo escrito em desenho.
nais organizados com os recursos disponíveis na inteligência, isto é, Muitas vezes, nesse momento, junto à frase não há mais desenho,
o conjunto de ·invariantes operatórias já construídas e os sistemas de o que indica nitidamente a possibilidade de só escrever com sinais grá-
representação do sujeito. Mas, sobretudo, aprende-se resolvendo o pro- ficos, não figurativos, o que será um rp.omento importante do nível
blema da insuficiência das estruturas que sus.tentaram o pensamento pré-silábico 2.

18 19
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22 23
Eases teóricqs da proposta
de alfabetização do GEEMPA
as>l
. caJ,i.
É importantíssimo salientar que a proposta do GEEMP A para ál-
fabetizar crianças de classes populares parte de paradigmas muito 4i-
e ferentes daqueles que servem de base ao ensino atual. Trata-se, por-
tanto, de UIJ.J.a autêntica revolução que não é fácil de realizar. Por exem-
plo, as didáticas dos níveis pré-silábico e silábico não se constituem
somente de novas e diferentes atividades para tentar produzir alfabeti-
V\OIJ\,S\~ zação, substituindo direta e paralelamente o que se vem fazendo até
hoje nas escolas. Com efeito, não se trata de substituir a cartilha por
uma série de outros exercícios que o professor deva criar um pouco
5 mais proximamente da realid,ade de seus alunos. Há parâmetros fun-
damentalmente distintos nas concepções que orientam esta nova pro-
posta didática. Neste sentido, é mais importal}te explicitar esses parâ-
metros do que descrever formas de atuação na sala de aula.
Estas formas devem ser compatíveis com os parâmetros e serão
criadas pelos professores no confronto concreto de sua responsabili-
dade de fazer aprender uma tµrma de alunos e com a base teórica que
embasa suas concepções de aprendizagem. De nada serve instrumen-
tar professores para uma certa prática q~ando eles não estão senhores
da teoria que a embasa.
Assim, Lino de Macedo, em seu artigo "Construtivismo eApren-
1 dizagem da Escrita'', adverte que a aplicação das idéias de Emilia Fer-
reiro, no ensino, implica necessariamente que elas se compatibilizem
com uma certa teoria da aprendizagem, no caso, o construtivismo. Sem
isso, a aplicação carece de garantia de eficácia. Completamos as afir-
mações de Lino, dizendo que utilizar a proposta do GEEMPA, que
tem por base os estudos de Emília Ferreiro, tem que se compatibilizar
com o quadro mais amplo do construtivismo, tal como proposto pela·
teoria de Piaget, como uma hipótese epistemológica para a prática pe-
dagógica. A proposta didática do GEEMPA associada a outras teo-
rias de aprendizagem, que não a do construtivismo, não faz sentido
e, provavelmente, não vai dar certo.
Aliás, não pode dar certo porque será como tentar misturar água
e azeite, cujas densidades diferentes não combinam. Vai restar mais

24 25

,.
uma vez para o aluno malabarista (que não são todos) encontrar o seu nética do ser humano,. o que caracteriza geneticamente o indivíduo.
caminho no labirinto incm:rente do contexto escolar. Isto assumirá enorme Estas quatro instâncias que explicam, a nível individual, ·a cons-
gravidade quando se trata de alfabetizar crianças de classes populares. trução dqs conhecimentos estão inseridas num contexto sócio-cultural
É importante enfatizar que não faz sentido tentar associar o uso sem o qual não há captação de "ensenhas", *material essencial do de-
das cartilhas, ou as grandes linhas dos métodos tradicionais de alfabe- senvolvimento ou da aprendizagem cognitiva, pois segundo Sara Pain,
tização, com a prática da proposta de alfabetização do GEEMP A. Há . "todo conhecimento é conhecimento do outro".
nisso unia contradição interna, porque as cartilhas não consid.eram a Sem nos determos, por ora, nesta inserção do indivíduo num con-
peculiar· lógica do desenvolvimento cognitivo do aluno, apoiando-se texto sócio-cultural como elemento essencial para a aprendizagem, as-
tão-somente na lógica do sistema de escrita a ensinar. sinalamos entretanto seu papel relevante e voltamos à análise das qua-
No e.ntanto, o contrário é viávd, isto é, para alguém que CO!llpreen- tro instâncias que funcionam a nível individual na aprendizagem.
deu o eixo da proposta do GEEMPA é. possível seledonar hora e lugar Duas outras vertentes definem a proposta didática do GEEMPA,
1. a saber:
. para inserir certas atividades·do ensino tradicional - aquelas que não
contiverem em sua essência o vezo de que se aprende por imitação do - a determinação da modalidade de funcionamento de cada uma
modelo correto, por associações de idéias, de percepções ou de movi- destas instâncias;
mentos, do simples para o complexo ... que são alguns dos falsos pres- - a dinâmica das suas interligações.
supostos do empirismo que domina a prática escolar corrente. . Vamos analisar as três vertentes simultaneamente, como segue.
A explicitação dos parâmetros, que estão na base da proposta di- A determinação das instâncias teve uma história ·singular ao lon-
dática do GEEMP A, será tanto mais esclarecedora quanto mais ela es- go dos. tempos, coerente, aliás, com a forma como se constroem os co-
tiver inserida na história de sua determinação, incluindo idas e vindas, nhecimentos, istq é, dialeticamente. Aqueles que tentaram explicar a
polarizações, exageros, etc. construção do saber oscilaram entre valorizar uma destas instâncias e
Vamos fazer hoje um esboço desta explicitação, consciente de que o extremo de excluir as demais. Fazendo um esquema simplista desta
ela carece da profundidade e do rigor que seria desejável. Fazemo-lo, história, podemos dizer que houve época em que se acreditava que a
no entanto, porque julgamos que mesmo com certas lacunas ele pode formação dos conhecimentos era de exclusiva responsabilidade da in-
ser útil para produzir questionamentos e reflexão. teligência, sendo a inteligência uma entidade supracorporal, indepen-
A primeira vertente que distingue a proposta didática do GEEM- dente e soberana na esfera das idéias.
p A é a da determinação das instâncias que interferem na aprendiza- O funcionamento da inteligência, por sua vez, era visto oscilando
gem. Dizemos que várias instâncias interagem, a nível individual, na entre dois pólos extremos - ora tudo nela vinha pré-formado etratava-
construção dos conhecimentos. São elas: se somente de transformar em "ato" aquilo que já estava inato dentro
- a instância lógica; dela como "potência", ora tudo tinha que vir de fora, através da in-
- a instância simbólica ou dramática; formação verbal de outrem e, portanto, tendo como base do seu fun-
- a instância do corpo; cionamento a palavra. Nesta seguq,da alternativa, a inteligência era co-
- a instância do organismo. mo uma "tábula rasa" onde se iriam imprimir os caracteres.
Definimos a instância lógica como a que dá conta daquilo que é A inclusão da percepção como elemento necessário para a inteli-
comumente chamado de inteligência e que se ocupa da aquisição dos gência é já uma inserção do corpo no funcionamento dos esquemas
conhecimentos da realidade objetiva. · de pensamento. A modalidade de atuação da percepção.torna-se um
A estrutura simbólica ou dramática, comumente chamada de in- elemento explicativo de como funciona a inteligência. Uma destas mo-
consciente, é a instância da organi:zação da realidade subjetiva de cada âalidades é a de que as coisas percebidas entram para a estrutura inte-
pessoa, daquilo que caracteriza o mundo interior de cada um de nós, ligente da pessoa pela fixação imediata de imagens perceptivas. Os· sen-
dos nossos desejos. tidos garantem inteiramente a inteligênçia, sendo clássica a frase ''tU-
o
O corpo é lugar onde se realizam as percepções, os movimentos do o que está na inteligência passou pelos sentidos".
e os afetos, que se interiorizam para o funcionamento tanto da estru-
tura lógica co"mo da simbólica~
..
•As "ensenhas" são unidadenle conhecimento que são captadas p.elo aprendiz quando
O organismo funciona como um aparelho· regisfrador, é a maté- ein
ele está processo de aprendizagem. O conhecimento não pode ser adquirido em blo-
ria-prima sobre a qual vai se construir o corpo. É a potencialidade ge- co como um todo.

26 27
-Em segundo lugar, as crianças ele classes populares chegam à es-
cola com uma bagagem de conhecimentos muito diferente daquela que
i trazem as crianças de classes alta e média, no tocante à alfabetização,
1
:i embora seus potenciais cognitivos se equivalham. A ausência quase com-
r pleta de experiências com materiais e atos de leitura e de escrita nas
! Didát(ca do, n{vel pré-silábico famílias de classes. populares, no período de 2 a 6 anos das crianças,
:1 não lhes possibilita avançar no mesmo ritmo que crianças de classes
li mais favorecidas na trajetória da psicogênese-.
:j Esta segunda justificativa de inadequação da proposta escolar só
nos foi possível detectar e compreender graças aos estudos de Emília
Ferreiro sobre a psicogênese da alfabetização, os quais são relativa-
Introdução mente recentes, mas suficientemente fundamentados.
Emilia Ferreiro estuda esse assunto desde 1974, pesquisando-o com
A Didá(i<.;a qo nível pré-silábico, que ora apresentamos, é fruto. uma grande equipe em Buenos Aires até 1976, continuando-o a seguir
de sete anos ele experimentação e de reflexão da equipe de pesquisa do em Genebra e no México; vem coletando dados de uma população mui-
Grupo de Estudos sobre Educação - Metodologia de Pesquisa e Ação to representativa de sujeitos de todas as classes sociais, oriundas inclu-
(GEEM~ A), sobre a alfabetização de crianças de classes populares. sive de vários países, tais como EUA, Espanha, Israel e Brasil, através
O núcl~q c~ntrnl qesta pesquisa é o insucesso escolar de crianças de outros pesquisadores neles ra.dicados. O núcleo das pesquisas de Emí-
das periferias urbanas na 1 ~ série do 1? grau - problema crucial da lia Ferreiro se situa num lugar intermediário.entre a teoria de Jean Piaget
'11 educação prasilt:;ira. e a sala de aula. Emilia insiste em afirmar que ela não construiu ne-
O trabalho de campo deste estudo foi precedido pelo estabeleci- nhum método de alfabetização, mas que estuda o processo que per-
! mento de um clima de confiança entre lideranças e comunidade da fa- correm aqueles que se apropriam da leitura e da escrita, procurando
vela, onde ele se iniciou, com a equipe de pesquisadores. Essa é uma desvelar os mistérios da história pré-escolar desse processo.
condição prévia indispensável para a obtenção de dados válidos, quando A aplicação em escolas dessas conquistas sobre o processo de al-
um estudo científico se faz por pesquisadores que não pertencem à mes- fabetização constilui outro campo de pesquisa que é a didática da al-
ma classe social <;los pesquisandos. · · fabetização. Sobre os elementos fornecidos pelos estudos de Emilia Fer-
Surpreendeu-n,os ·a constatação de que essas crianças não apresen- reiro pode ser construído um método para alfabetizar. O GEEMPA
11 tam traços de desnutrição capazes de justificar seu insucesso escolar, preferiu e prefere trabalhar em torno #·um problema mais amplo do
pois seus desempenhos em provas cognitivas e perceptivo-motoras se que a determinação de um método de alfabetização, optando por cons-
1 revelaram equivalentes aos de crianças de classt;s zjta e média. A des- truir uma proposta didática.
nutrição que assola as classes populares não permite que a grande maio- * * Entendemos por proposta didática um conjunto de atividades cu-
ria de crianças por ela atingida logre sobreviver até os 7 anos. ja validade se mede por sua eficácia em produzir conheciip.entos por
parte da população a que se destina. Esse conjunto de atividades é o
Então, como justificar o fracasso dessas crianças na escola? resultado de um sistema de inter-relações entre elementos que subja-
zem necessariamente à sua elaboração. Entre esses elementos, estão o
Dois fatos conduzem à conclusão de que esse fracasso se justifica seu posicionamento político, a sua fundamentação psicológic<l da apren-
por uma inadequação da proposta escolar. · dizagem - epistemológica, cognitiva e afetiva -, a sua definição de
Primeiramente, porque essa escola, reprovando em massa alunos contexto didático-pedagógico e a determinação de um conjunto de con-
de classes populares, sobretudo nas l ~s séries, provoca a internalização teúdos de conhecimentos.
do estigma de sua incapacidade de vencer nas aprendizagens escolares. Disso decorre um ponto essencial - uma proposta didática é muito
Esse ~stigma é, portanto, determinado a partir da experiência real mais do que uma receita. Ela exige entre outros pré~requisitos a sua
e repetida do insucesso na. escola, e só poderá ser eliminado pelo seu recri~ção a cada vez que é aplicada, .como todô ato pedagógico verda-
antídoto real - a experiência concreta de sucesso. deiro. Traça princípios apoiada na prática concreta de muitas experi-
mentações confrontadas com dados teóricos que as expliquem. No nos-
30
31
A inclusão da percepção foi seguida pela inclusão dos movimen- · aprender a ler e escrever depende do desenvolvimento percepto-
tos como matéria-prima para o funcionamento da· inteligência. motor;
Descobriu-se. que a.ação motriz tinha grande responsabilidade na or- - a alfabetização é função da maturação orgânica.
ganização do pensamento. Aliás, pode-se dizer: tinha a inteira e total . Estas afirmações se vinculam às instâncias de que falamos acima,
responsàbilidade. a saber:
. São exclusivismos como estes que caracterizam os avanços expli-
cativos do conhecimento da realidade. Ao se descobrir o papel cio mo- ·

•'l"'"" !ó;i" ----------a """'"" ''lólka


vimento, da ação motriz, vinculada ou não às percepções, esqueceu-se
de quase todo o resto.
Entretanto, as idéias de Freud e ae seus seguidores apareceram no
palco destas teorizações. Descobriu-se 'a importância· do afetivo, do.âm-
bito dos desejos, estruturado na esfera familiar e vinculado à dimen-
são inconsciente. Em educação, um dos efeitos destas descobertas foi
o de julgar-se que a inteligência depende do afetivo, que a saúde emo-• o corpo e - - - - - - - - - - - - - - - - . . ; o organismo
cional é que garante o bom funcionamento intelectual. Pelo menos,
quando um aluno não aprende, isto é, nos casos de dificuldade de apren-
dizagem, a solução mais comum é tratá-lo do ponto de vista emocio-
nal, imputando, portanto, aos problemas de aprendizagem causas afe-
tivas, ou seja, procurando estas causas na sua dramática familiar. Nesta
linha de explicação se situa atitude corrente entre os professores, que
se eximem de responsabilidades quan,do os seus alunos não aprendem,
· quando sabem que tal ou qual aluno tem pais separados, mães super-
protetoras, pais âlcoólatras, ou até prejulgam que o fato de a mãe tra-
balhar fora caracteriza o abandono do filho.
Suas convicções não se abalam, mesmo quando muitos .outros dos
seus alunos, apesar de viverem situações semelhantes em casa, logram
sucesso nas suas aprendizagens.
Por outro lado, das descobertas psicanalíticas derivou uma outra
:: conseqüência educacional: o que mais interessa na aprendizagem é a
relação afetiva do professor para com o aluno, chegando-se a afirmar
que mais do que tudo um professor deve amar os seus alunos.
Até aqui, procuramos assinalar como particularmente inadequa-
da a polarização, em termos absolutos, de uma destas instâncias como
fonte única e exclusiva da construção do saber. Justamente o que hoje
se considera é a interação entre estes campos: a estrutura lógiea, a es·
trutura simbólica, o corpo e o organismo como responsáveis pela aqui-
sição dos conhecimentos. É na interação destas quatro instâncias que
se baseia a proposta de alfabetização do GEEMPA. Daí que o GEEM-
P A se recusa a considerar cada uma das afirmações que se seguem,
como sendo isoladamente a explicação do que se passa no processo de
alfabetização: .
~ ler é uma operação lógica;
- a alfabetização é uma relação de amor;

28 29
Lembro de um!l menina com 2 anos e meio que estava na sala on- · logramos, em 1984, alfabetizar 97% dos alunos de três classes experi-
de eu lia um livro. Quando virei uma página, ela me· perguntou: mentais do nosso projeto, em três vilas da perifei-ia de Porto Alegre.
, "-·O que tu estás faze~do?". . Nessa metodologia, o aluno vivencia, ao chegar à e.scola no mês de mar-
Eu, aútomaticamenté, respondi: . ço, todas as letras, qualquer palavra e qualquer texto. Isto é, deseja-
"---. Estou lendo". · · mos criar para ele um ambiente semelhante àquele que comumente
Ela achegou-sé ao livro, v:irou outra página e me disse: ·crianças de classes alta e média têm no seu ambiente familiar, isto por-.
· "-·Eu também". : · que esse aluno vive a circunstância específica de unia família onde po-
Ess~ fato ilustra como atos de leitµra provocam questionamentos de haver analfabetos ou alfabetizados com poucos anos de escoladza-
nas cri<:mças, JAUito antes de elas entrarem na escola. ção, onde materiais e atos de leitura e escrita são muitíssimo escassos.
Com efeito, nós procuramos criar um ambiente semelhante· ao vi-
l)ijerença na evolução das concepções sobre ler e éscrever de acordo venciado por alunos vindos de classes alta e média. Perseguimos a ace-
com q classe social dos alunos leração desse processo, recuperando vivências que não puderam ser fei-
tas em família ao longo de vários anos. Nesse sentido, nossa proposta
Esse tipo de experiência e as respostas mais ou menos adequadas visa a atacar intencionalmente as concepções que os alunps estão apre-
dos actul~os podem propiciar a evolução das concepções das crianças • sentando no nível pré-silábico, causando-lhes conflito e propiciando,
a respeito d() q~e ~ ler e escrever. ~m classes alta e média, em função .a partir dessa problematização, a passagem para o nível silábic;o. Para
da maior l?rese~ç~ de mat.er.iais e ato.s de l~itur.a e qe escrita, é muito isso é que são concebidas as atividades didáticas desse níveL
mais f*c;il gue as crianças reali;zem essa evolução e, via de regra, os
aluno.s oriundos desse ambiente c;hega!Jl à escola com uma bagagem Uma tentativa de ensinar cores
de conhecimc:mtos para a alf!lbe~izaçijo diversa da bagagem das crian-
' 1 ças pr~u1;1das P,~ classe~ popµlares. E&tas, iii~s01e> que sejam, qem desen- Os primeiros passos de uma aprendizagem não podem ser imedia-
volvidas em v.ários campos de exp~riência, estijo, a respeito da leitura tamente os de sistematização de conhecimentos inexistentes. Uma ten-
tativa de ensinar as cores a um grupo de crianças~ bem ilustrativa des-
l e da escrita, em níveis bem menos avflnçados do que seu& colegas das
escolas dos centros de cidades, freqüentadas por crianças de meios in-
telectualmente mais desenvolvidos. .
sa afirmação. Em 1967, defrontamo-nos, numa favela de Porto Ale-
gre, com uma classe de alunos de l ~ série, entre. 7 e 9 anos, que não
Elas requerem, por isso, uma proposta didática diferente, que vá ao distinguiam cores. A constatação mais mobilizante desse fato se deu
encontro do seu n(y~I de compreensiio desse conteúdo.específico. É is- para nós ao usarmos nessa classe, as barrinhas em cores, de Cu1senaire. *
'\ to que o GE~M:P;\. vem fazendo ao longo dos seus seis a1ws de pesqui- O alunos adoraram o material trai:ido. Ouviu-se, inclusive, a ex-
•1 clamação seguinte: ..
sa e ação em torno cjo problema crucial do insucesso escolar em I ~ sé-
. 1
rie de alunos das periferias das qi4ades. Uma das características mar- " - Que bênção são estas madeirinhas! ". ·
cantes de uma proposta didática para alfabetização de crianças de classes Após mais de trinta minutos de jogo livre com as barrinhas, em
1 ·.
· populares é a de que ela deve atentar para este dado fundamental: a que os alunos fizeram inúmeras construções e dr~matizações, eu arris-
1
quase totalidade desses alunos inicia a 1~ série no nível pré-silábico .. quei solicitar: ,
.Os dados pr~cisos do GEEMPA revelam que 9~% d()s alunos que até " - Vocês podem me dar uma barrinha como esta?" - mos-
agora alfabetizamos nos chegaram nesse nível, mesmo entre os repetentes. trando-lhes sucessivamente cada barrinha.
. Êles mostravam aleatoriamente qualquer cor. Eu fiz um grande
Crianças pré-silábicas não podem.iniciar a 1~ série pelos métodos
empenho em me fazer compreender, explicc:mdo qÚe estava pedindo uma
habituais de alfabetização, os quais podem não atrapaihar alunos
silábico-alfabéticos. · barrinha da mesma cor e do mesmo tamanho da' que eu mostrava. E
nada! Fiquei desolada e desafiada. Eu nunca tinha visto semelhante
coisa. Meus filhos e· sobrinhos, bem como os ·alunos das escolas em
Proposta do GEEMPA para alfabetizar alunos das clas~es populares que lecionávamos, :por volta dos 3 anos já identificavam várias cores.
Po.r tudo isso é que propomos uma metodologia bem determina-
!· • As barrinhas em cores de Cuisenaire são um conjunto de b'arrinhas·coloridas de ma-

da para a alfabetização de crianças das classes populares, com a qual deira. em dez tamanhos, associadas a dez cores diferentes ..
l
. 34
1 35

- .'.
so caso, trata-se de uma elaboração tipicamente brasileira ou tipica-
de elementos que, somente no fim da sua evolução, podem ser isoJá-
mente latino-americana, onde teoria e dados empíricos foram retraba-
j dos sob forma individual". Da mesma forma; a corresporrdência·entre
lhados em função de nossa. própria realidade.
~ons e letras escritas nã() se apresenta JiO foício do processo; Nesse iní-
Em Didát.ica do nível pré-silábico, apresentamos uma parte da pro-
cio, as crianças não vislúmbram que'ilescrita tem a ver corq a pronún-
posta did.ática do GEEMPA para alfa'betizandos em escolas de perife-
. 'ria urbana. · · cia das partes de cada palavra;
. ·Importa esclàrecer que, nas ~assas expe~imentaçÕes, a proposta
didáticà é conduzida por um: professor unidocente que se ocupa de to- Questões tlpicas do nlvel pré-silábico
. das as disciplinas.
?. · Esta pesquisa do GEEMPA contou ao longo dos seus sete anos
As crfanças fazem idéias muito interessantes e constroem hipóte-
com inúmeros colaboradores que são indiretamente to-autores do con- ses' ·em torno de questões como as que seguem:
teúdo deste texto. Representando todos eles, citamos aqueles que nes-, O que e onde se lê? Lê-se nas imagens (desenhos, fotos ... ) ou se
te momento estiveram muito próximos da sua redação: Norma Mar- lê nas letras? Pode-se ler em letras não acompanhadas por imagens?
zola, Analice Dutra Pillar, Maria Celeste Machado Koch, Maria Júlia Antes que a criança compreenda a possibilidade de que as letras
Berta Canibal, Regina Maria Aver Parenza. possam ter algum. vínculo com a expressão de alguma realidade, isto
é, que as letras possam dizer algo, ela faz experiências de ler a r_ealida-
.de em desenhos, gravuras e fotos, ou seja, em imagens gráficas. Ela
A didática do nível pré-silábico* associa às imagens a capacidade de expressar aspectos do real e nem •
suspeita que com um conjunto de risquinhos se possa fazer o mesmo.
· · A didática do nível pré-silábico se caracteriza pela criação de um A criança segue no seu processo perguntando coisas como:
ambiente rico de materiais e de atos de leitura e de escrita, à semelhan- "-Lê-se tudo o que está escrito? Escreve-se tudo o que se lê?".
ça do·ambiente que é vivenciado por crianças das classes alta e média Isto é, leitura e escrita estão intrinsecamente vinculadas ou elas
.. 1
no seu meio familiar. Via de regra, esse ambiente compreende muitos guardam certa independência?
materiais escritos, bem como muitas oportunidades de assistir. a atos Que condições devem ser preenchidas, qúanto ao tipo de letras que
cie leitura e de escrita. Outrossim, nessa experiência com os materiais devem aparecer ou quanto ao número de letras, para que coisas escri-
escritos não há seleção e ordenação de letras ou palavras para viven- tas possàm ser lidas? .
ciar. Muito ao contrário, as crianças tomam contacto com todas as le- Sabe-se que as crianças, na fase pré-silábica, fazem a esse respeito
J 1 tras e com qualquer palavra, simultaneamente.· Os estudos de Emilia diversas conjecturas, tais como: . ,
1'
Ferreiro mostram como, durante essas experiências, as crii;mças avan- . Para se poder ler algo, deve haver bastante letras (no mínimo três).
.i Para se poder.ler, não pode haver duas letras iguais, uma ao lado
çam no processo que prepara a alfabetização bem antes de entrarem
I.
1
na escola. Elas têm ocasião de resolver um bom número de problemas
a propósito d.o que significa ler e escrever, pois, como Emilia, nós pen-
da outra.
Satisfeitas essas condições, o que se lê? Lêem-se palavras? Quais
samos que alfabetizar-se é muito mais do que manejar a correspon- palavras? Lêem-se só substantivos? Lêem-se também verbos, adjeti-
dência entre sons e letras escritas. vos, advérbios, pronomes, artigos, etc.?
Como diz Wallon, ** "o engano do associacionismo*** é o de qu'e- Lêem-se frases?
ner explicar a vida psíquica nos seus primórdios através do isolamento ) Letras e números são a mesma coisa? Afinal, contam-se histórias
e os números servem para contar.
·'j',O pré o primeiro dos quatro níveis definidos por Emllia Ferreiro na psicogê- Escrevem-se coisas diferentes em suportes diferentes?
. nese da .ão. Segue anexo o artigo ".Psicogênese da alfabetização - lJma tra- Por exemplo, antes de saber ler nó sentido escolar, unia criança de
jétória si em que E. Grossxi retoma a teoria de Emitia Ferreiro à luz de sua clàsse médià ou alta já sabe distinguir a natureza de um texto de acprdo
· própria p gógica. · com o seu suporte. Ela sabe o que costuma aparecer num jornal, o que
•• Henri Wa . 79-1962), psicólogo francês, autor de obra muito importante tam-
. bém sobre o ·desenvolvimento da inteligência. · contém uma carta, como são os textos num livro de histórias, etc .
*** Associacionismo: doutrina que reduz todas as operações da vida mental à associa- Uma criança que vê pessoas lendo e escrevendo tem ocasião de
ção de idéia·s ou de representações (Stewart Mill, Taine). se pôr questões a respeito desses atos.

32 33
i 1

1!
l~ ( Nessa época, trabalhávamos no Instituto de Educação num curso de
especialização sobre Metodologia da Matemática e planejamos, no cur-
o seu próprio nome. Não se trata de uma memorização direta da cor-
respondência da letra ao seu som, pela repetição dessa informação por
so, como enfrentar o'desaf.io da aprendizagem das cores por aquelas parte de alguém que ensina. Essa aprendizagem é muito mais comple-
crianças. Acrescentemos à vivênci~ das barrinhas em aula o fato se- xa e passa pelos meandros da se dabilidade e da afetividade. As crian-
guinte: ao terminar a aula, um dos meninos me convidou para ir .co- Ças falam da sua letra, isto é, da letra do seu nome (referindo-se à sua
nhecer uin irmãozinho novo que tinha l;lCabado de nascer. Ao me diri- inicial) e passam por um período em que pensam ser essa letra só sua,
gir à casl;l do nenê, observei que na,quela vila não havia cores. As casas · a sua identidade. Descobrir que há outras pessoas, cujos nomes ini-
feitas de.caixotes de gela.deiras da '.'Admira.l" eram da cor da madeira. ciam por ela, também é um momento não só importante·mas que exige
Não havia m;nhµma árvore na vila, as roupas já eram desbotadas e renúncia. Associar letras a nomes que lhes são significativos constitui
nossos alunos nunca ~aíam da vila, sendo qlle a maioria deles não co- o caminho inicial para o reconhecimento, tanto morfológico como so-
nhecia o centro qe Pq~to Alegre, que não era longe· dali. Compreendi noro, das letras. O conjunto de nomes aos quais normalmente cada
por que eles nã.o reconheciam as cores - faltavam-lhes experiêndas criança assada suas iniciais será tanto mais significativo quanto mais
variadas das cores. Então, como ensiná-las? Pesquisamos junto às pro- pessoal. Com o objetivo de nos aproximar o mais possível desse ideal
fessoras do Jardim da Infância do Instituto de Educação como elas de significação é que criamos o "tesouro" de cada aluno na sala de
trabalhavam cores com seus alunos. Elas nos relataram que faziam uma aula, nesta nossa proposta didática. O "tesouro" consta de uma caixa
sistematização, em que q1da semana era reservada a uma cor, ou seja, onde cada aluno tem escritos os nomes de pessoas, de animais ou de
em cada semana elas inundavam os alunos com uma só cor. Faziam objetos que lhe são mais importantes. A professora dispõe de um cer-
um painel n'a parede com todo tipo de objetos daquela cor. Pintavam to tempo para que periodicamente cada aluno lhe fale das palavras que
e desenhavam so'mente com el.a ... Inspirados nessa experi~ncia, usa- ele quer pôr no seu tesouro. O tesouro, sendo seu, pode ser consultado
mos todas as suas atividades e ainda tentamos aperfeiçoá-las. Inventa-
quando ele precisar para saber como se escrevem aquelas palavras, po-
mos 1.1ns óç~los da, c,or qe c;aqa seman~ que cada altino portava, e a
de copiá-las, pesquisá-las. As professoras solicitam que cada um sepa-
Dinorab* 11os escreveu lin.dos versinhos sopre cada cor, que foram de-
corados e recitaqos pelos alunos nas respectivas semanas. re, no seu tesouro, as palavras que começam por uma determinada le-
Dolorosamente constatamos, ao final de três meses, que os alu- tra, ou que con,têm o número de letras de algumas palavras, que sepa-
nos continuavam sem distinguir as cores. Avaliando nosso fracasso, rem a.~ palavras que começam pela sua letra, etc. Várias atividades são
l 1 demo-nos conta· do erro na pedagogia adotada. Como sistematizar an- propostas com as palavras do "tesouro", as quais são individuais pa-
): ra cada criança.
tes que os alunos tivessem tido a oportunidade de estabelecer certos
pontos de referência, a partir de um universo rico de todas as cores?
Tínhamos, ao contrário, que inundá-los inicialmente com todas asco- Tipos de análises de palavras no nívdpré-si/ábico
res simultaneamente. Quando eles estivessem reconhecendo, mesmo que
precariamente, várias delas, seria talvez necessário fazer uma sistema- A didática específica do nível pré-silábico, sendo rica e variada, se
tização. N~o antes. Seguimos essa orientação e deu certo. Em dois me- pauta pela ausência de análises silábicas. As palavras são analisadas
ses, os alunos lograram reconhecer as cores. de outros pontos de vista que não o silábico. Entre eles, o número de
letras, as letras iniciais ou finais, a ordem das letras, o tamanho e a
Tesouro - conjunto de palavras significativas de cada criança posição da palavra, etc. Paralelamente, interessa-nos, neste período, que
as crianças memorizem como se es.crevem algumas palavras, mesmo
· 1
Transpondo para a alfabetização, é o que se passa com as letras. que elas não compreendam ainda o mecanisnio da vinculação com a pro-
Ensiná-las uma a uma, como as cores, para crianças que não as viven- núncia de ·suas partes. A memorização dessas palavras vai ser fonte de
ciaram antes, é inútil. Além do mais, sabe-se que as crianças não co- conflito quando os alunos estiverem silábicos, e isso enriquece o proces&~.
meçam pela distinção de letras isoladas. Elas as distinguem primeira- Neste nível, trabalhamos intensamente os nomes dos alunos da clas-
mente na qualidade de iniciais de nomes de pessoas ou de palavras que se.. Primeiramente, com certa, solenidade, a cada um deles é entregue
lhes são muito significativas. Entre essas palavras. figura normalmente um crachá com o seu nome: 'f!odos os dias, os crachás voltam a ser
1
distribuídos sob as mais diversas modalidades. Entre elas, citamos:
11.
• Dinorah Luz do Prado, escritora de livros infantis, aluna desse curso no Instituto de - dizer o nome do aluno e mostrar o c~achá;
Educação. · - deixá-los sobre uma mesa para que cada aluno identifique o seu;

36 37
- pedir que um aluno os distribua; Trata-se de propiciar aos alunos um trabalho ativo de manipula-
- dar dicas sobre o nome escrito em cada cráchá para que a clas- ção das letras pela proposição de problemas adequados para que suas
se o identifique; por exemplo, é um nome que começa por Te tem cin- características, amalgamadas inicialmente, se decantem e se separem.
oo letr~. · . Sabemos que isso não se realiza pela via simples da percepção, mas
Os nomes dos alunos podem ser o suporte de muitas outras ativi- requer a combinação simultânea de atividades motoras, de formação
dades didáticas, tais como: bingo de letras, bingo das iniciais e bingo de imagens, b.em como de articulações verbais. O trabalho inicial dos
dos·nomes, formação de conjuntos, associação de nomes às iniciais atra- · alunos com alfabetos pode até girar em torno de atributos alheios à
vés de dominós, etc.* forma das letras, tais como ater-se à sua cor ou à sua espessura, asso-
A didática da palavra no nível pré-silábico compreende três gran- ciada à possibilidade de com elas fazer montagens. ·
des tipos de atividades, a saber:
- a memorização global de palavras, muito especialmente o pró- Aspectos topológicos no traçado das letras
l ' prio nome do aluno;
- a vinculação do objeto ou da figura com a palavra escrita; Antes de se preocuparem com a forma das letras, os alunos se in-
1
- análises não-silábicas. . teressam por suas propriedades topológicas, tais como ter ou não ter
A informação a respeito da associação entre objetos e seus nomes uma parte fechad~. Por exemplo, o B tem dois interiores, enquanto
é atividade rica para a alfabetização. Ela porém não deve ser feita de o T não possui nenhum; o A, o R, o D, o O, o Q, o P possuem um
forma repetitiva e limitada a poucos objetos. Não é a repetição que interior. Propor questões a esse respeito é uma maneira de preparar
produz aprendizagem. É o estabelecimento de múltiplas relações que os alunos para analisarem depois a forma das letras. A articulação das
gera conhecimento. partes das letras é também um aspecto topológico. Por exemplo, quais
letras se podem construir com um só pedaço de barbante e para. quais
Dois tipos de letras e muitos conjuntos de alfabetos são nec.essários dois ou mais? Veja-se: o D, o O, o L, o M, o N são
letras que posso construir com um só calcar de lápis, o que correspon-
Em função desse mesmo argumento, optamos pelo uso simultâ· de a poder construí-las com um só pedaço de barbante. Entretanto,
neo de dois tipos oe letras quando apresentamos palavras ou textos aos o H, o T, o F, o E, o Q, etc. são impossíveis de construir com um úni-
alunos. Nosso intuito não é o de que os alunos escrevam nos dois tipos co pedaço de fio, porque não são constituídos de um só segmento. Ou-
de letras - as maiúsculas de imprensa e a cursiva. Trata-se, com efei·· tra análise possível é a de quantas pontas (no sentido de último ponto
to, de propiciar duas representações de uma mesma realidade que per- de um segmento aberto) uma letra possui. OH e o X possue_m quatro
mitam uma maior mobilidade cognitiva dos significantes e do signifi- pontas, mas a estrutura topológica de ambos difere porque o X é cons-
cado em questão, o que ajuda e não entrava o tratamento dos elemen- tituído de dois traços, enquanto o H poi~ui três. Estamos explicitando
tos que interferem para ler e escrever. aspectos que são tratados pelas crianças, ao menos implicitamente, na
Sendo as letras os elementos básicos da escrita, o aluno precisa sua busca de discriminações das letras.
se familiarizar o mais amplamente com elas. Além do seu aparecimen- Uma vez que aspectos topológicos entram na análise das letras,
to na escrita de palavras, frases e textos, costumamos enriquecer o am- mas também porque sabemos que elas fazem parte das preocupações
biente da e aula com muitos alfabetos feitos de diversos mate- cognitivas de crianças dessa idade, vale a pena propor atividades em
riais - ' jco, papelão, lixa, feltro, arame ... - e em diver- torno das noções de aberto e fechado, dentro e fora, assim como de
sos tamanh as. região no plano e no espaço. Inclusive, a utilizaÇão da prova de repro-
O trabalho com letras, além da busca do estabelecimento da cor- dução de traçados, montada e utilizada pelo GEEMPA há muitos anos,
respondência com sons, tem também um objetivo de ord.em espacial, é um auxiliar eficaz na caracterização do desenvolvimento dos alunos
isto é, o de conduzir os alunos à invariância das suas·formas. O aluno do ponto de vista da estruturação espacial a partir de aspectos topoló-
deve conseguir fixar-se nas propriedades mais gerais do traçado das gicos aqui levantados.* ·
letras, independentizando-se de variações secundárias, como o seu ta- Enfatizamos, com esta abordagem, a primazia da ação do aluno
manho ou a posição nas palavras.
* A de.scrição da prova da reprodução de traçados, bem como os critérios para a sua
*Veja sobre isso, no Relatório do GEEMPA de 1982, intitulado "Alfabetização em Classe avaliação, apareceram em Aprendizagem em classe popular, GEEMPA, 1980, em edi-
Popular", o capítulo "Conjunto de atividades utilizando o~ nomes dos alunos. ção esgotada. Nova edição está no prelo.

t·, 38 39
i 1
'.Se repete e as modificações que ele encerra em si mesmo, como em
na caracterização das letras, a qual vem integrada aos ~spectos sociais
e ~fetivos de que falamos antes.
Queremos dizer que a análise da forma da letra não precede a sua
: associação ~inicial de palavras significativas pari;\ a criança. O proces-
l so é v~yj~o comple.x,~Il\ente na s.i.mu,l~aQeid.~d~ de vários ,as~ectos. Ccm-
trariamente ao que os professores podem penslj.r a respeito .do reco- .
nhecime~to <;las letras, isto é, de qí.le só funciona a \issqc;iação percep-
tiva, há; com efeito, um longo trábaiho de classificação com análises Seriação das letras nas palavras
e sínteses
·'.' •\'
de
,'
diversos
!
pontos
• l
de vistlj. para que esse reconl\ec;imento se dê.
' ' , ' '• ! '\;

Outrossim, o tratamento da ordem das letras numa palavra é um


componente básico do sistema da escrita. Fazer trabalhar as relações
· A posiçijo arbitrada das letras de ordem total, que estruturam as palavras, é uma exigência para pro-
duzir uma boa alfabetização com boa qualidade lógica.
Nl!- 1,1lflj.betização, dar-se conta da invariância da forma das letras Porém,. não se.rá só o trabalho específico com a ordem das letras
se choca com a necessidade de usá-las sempre numa posição determi- o mais eficaz parâã compreensão ampla da problemática da seriação.
nada. Embora R e 'AJ sejam a mesma letril, convencionamos que só A ordem temporal dos dias da semana, acessível à compreensão dos
vale escrevê-la na primeira posição. Trata-se de uma restrição que se alunos na faixa da alfabetização, deve ser trabalhada de maneira mo-

"iit:W~
acrescenta e mesmo se contrapõe à invariância da forma das letras. Con- tivadora. Costumamos associar a cada dia da semana uma posição do
trariamente ao que uma pedagogia as'sociacionista crê, não é o uso fi-

~por ~.•~pio,
xo da letra na ~ua posição l;lrbitrad~ que melhpr c011duz os alunos a
; 1
: 1 privileg.~ar e~s.~ posição. CoQl efeito, se eles trab\ilharem expressamen-
' te as letras nas suas mais variadas posições por meio de rotações e si-
1 n:ietrjjis, est~feqlO~ J;>rOpÍCil;ll,l,dO \iS "pndições de identificação de uma
!j ':. delas. Por isso, Sl;lgerimos a construção de séries com letras e outros
objetos baseados nesses tipos de tr;msforrnações geométricas, incluindo-
se as transformações projetivas que tratam de tamanhos de uma mes- 2~ 3~ 4~ 5~ · 6~ · sábad9 domingo
ma forma.
Os alunos devem continuar a série até o fim de· cada linha de acor- Código para os dias da semana
do com o padrão básico apresentado:
Pareceria que ~omplicamos inventando um novo código como in-

1 RRR RRR termediário, ao invés de fazer memorizar muito simplesmente a ordem


dos nomes dos dias da semana. No entanto, para tornar um conheci-

'I'
1·:
'! Bm Bcn mento susceptível de ser aprendido, necessita-se complexificar o real
para que o aspecto da realidade concernida se transforme num proble-
ma acessível à compreensão do sujeito que aprende. Ora, associar à
8 8 seqüência inelidível dos dias urna certa unidade de medida que é a se-
mana, composta de sete dias que se sucedem, é algo que emana de ll!Il
A !> '\/ <I... A ser inteligente, sendo uma associação arbitrária que faz parte do âmbi-
to. da cultura. Estamos em fl\ce de uma relação do tipo lógico e não
., de urna relação de causa e efeito que pode, por exemplo, ser observada
l; Vê-se.que, com essas atividades, a criança treina o traçado das le- nas ciências naturais. A ordem dos nomes associados aos dias da se-
tras mas não dé forma mecânica, po·r uma simples tarefa de execução mana é de natureza semelhante ao código da língua escrita, ao menos
perceptivo-motora. Ela faz um treinamento, résoivendo ao mesmo tem- na sua origem arbitrária determinada pela cultura. Por isso, trabalhar
po um problema inteligente, qual seja1 o de deséobrir o padrão que
40 41

!
a ordem dos dias da semana tem ligação com a alfabetização, embora a vivenciar e a superar o nível pré-silábico, assim como os. demais ní-
se trate .de um conteúdo aparentemente bem diferente dela. veis de alfabetização, é dependent'e de todo o conjunto de situações
que se vive na escola. Ou seja: a proposta didática comporta.todos es-
Organizaçãó temporal das atividades .em aula s~s aspectos. ·

Não só a seqüência dos dias da semana é importante ser trabalha- Vinculação de texto escrito com discurso oral
da ·do ppnto de vista da ordem temporal, mas toda a organização tem-·
poral dos trabalhos em aula dev:e também contribuir para isso. No nível pré-silábico dá-se a macrointerpretação da escrita, isto
A presença de uma rotina básica sempre respeitada é fator impor- é, a iniciação às vinculações entre texto escrito e discurso oral. É a ho-
tante de organização temporal dos alun·os. Inicia-se essa rotina pela ra de desc·obrir que não só o desenho representa aspectos da realidad~,
duração do tempo de trabalho, isto é, pela estabilidade das horas de mas a coisa escrita também, mesmo sem saber em detalhes como isso
começar e terminar a aula. Nós não exigimos a pontualidade dos alu- se faz. É portanto imperativo que não limitemos o ensino neste nível
nos só por u111a questão de criação de bom hábito social, mas porque ao tratamento só de letras ou palavras, mas estejam incluídas frases
isso se insere também na organização de sua inteligência. Uma manhã e·textos, pois uma frase tem um sentido histórico que palavras e letras
ou uma tarde de trabalho escolar deve ter uma certa estrutura tempo- isoladas não têm. ·
ral básica. Por exemplo, ter um momento mais ou menos fixo para A leitura e a escrita de histórias, a partir de desenhos das próprias
a merenda, assim como fixar o intervalo de tempo para que os alunos crianças, são atividades deste nivel.
realizem essa atividade, que é também essencialmente didática. A se- A leitura de histórias requer uma série de cuidados que vão desde
mana deve também ter uma certa estruturação com certas atividades a sua escolha até a sua aplicação em outras tarefas didáticas.
determinadas para alguns ou todos os dias. Como se pode querer que Na escolha das histórias entram dois critérios básicos: o seu con-
os alunos aprendam os nomes dos dias da semana, o que é uma forma teúdo e a estrutura da narração.
de diferenciá-los, se eles não têm pontos de referência que os discrimi- Nesta faixa de idade. a determinação do momento de contar his-
nem na sua prática? Acrescente-se a essa problemática o fato de que. tória e a acomodação dos alunos, que pode ser a de se sentarem bem
nas classes populares, nem o sábado e o domingo são dias marcados próximos ao professor, são aspectos também relevantes, porque não
pelo descanso, para os adultos, pois fazer extras nesses dias ou fazer se trata de ouvir simplesmente uma história, mas de explorá-la sob vá-
1 ! biscates para acrescentar mais alguma entrada de dinheiro à família rios aspectos, inclusive encadeando-a em outras atividades didáticas.
é fato corriqueiro. Com isso, queremos enfatizar a importância ainda Ao lado da forma de utilização didática de leitura de histórias,
1 maior, se se tratar de um trabalho com alunos de classes populares, outro aspecto a considerar é a regularida.de com que se deve contá-las,
de se estruturar muito bem o tempo escolar. a fim de que haja um aproveitamento adequado dessa situação didáti-
ca. Por outro ladof ouvir. histórias pode ser, para algumas crianças,·
Organização do espaço na aula uma fuga da realidade, apassivando-se ou alienando-se no enfrenta-
mento do real. Essas crianças precisam ser ajudadas para que as histó-
Se falamos de tempo, é imperioso falar também de espaço. O am- rias possam ser um momento de elaboração de seu mundo interior e
biente físico da sala de aula e da escola é por si só fator de organização de liberação para se confrontarem melhor com a realiqade.
para os alunos. Uma sala de aula com carteiras enfileiradas é um reca- A criação de histórias pelas crianças é uma modalidade rica para
do eloqüente do tipo de relação que se espera ver estabelecida numa vincular texto escrito e discurso oral. A criação de histórias pode ser
classe. Se colocamos os alunos por grupos, o recado já ·é bem outro. sugerida a partir de desenhos das crianças ou de uma de suas vivências
Se algumas vezes fazemos um grande círculo com as carteiras ou se relatadas em aula. Uma vez, por exemplo, deu-se uma grande tormen·
os alunos ouvem histórias sentados no chão, bem próximos ao profes- ta na vila Santo Operário, onde tínhamos uma classe de alfabetização.
sor, é pqrque temos certas intenções a respeito das relações que espe- Os alunos chegaram no dia seguinte à sede da Associação dos Mora-
1 ramos ver estabelecidas em aula. · dores, onde funcionava nossa aula, ainda sob o impacto daquela expe-
A organização e a distribuição dos materiais didáticos são outros riência. Gravamos os depoimentos de cada aluno e depois os transcre-
fatores de auxílio ou de empecilho à estruturaç.ão da inteligência dos ·vemos, mimeografando-os em várias meias-folhas de papel ofício, com
alunos. Vê-se que o êxito do trabalho docente para ajudar os alunos as quais foi montadÓ um livro intitulado "A·Tormenta na Vila Santo

42 43
Operário". Cada aluno recebeu um livrinho, que foi lido e relido em · cuJações do que se pensa com o que se escreve., superando critérios ca-
aula, e muitos Çeles i.lustra~am cada página do livro com um desenho racterísticos do pensamento intuitivo.
alusivo. Os t_extos cJo livro foram a base de -muitas tarefas didáticas, No nível pré-silábico, as categorias lingüísticas (letras, palavra, frase,
tais como rep_assar a inicial de seu nome cada vez que ela aparecia no texto) não são da:ramente definidas. Seus significados são amalgama-
texto, ver quanias vezes a palavra tormenta estava escrita no livro -co- dós e, por isso, é necessário trabalhá-los todos simultaneamente, para
piar fras.es no caderno, etc. ' que o aluno se familiarize com eles e comece a esboçar a sua distinção.
· Escrever e receber cartas constituem também experiências impor- · Uma criança, no nível pré-silábico, não pode ser conduzida a aná-
tantes no nível pré-silábico, pois se servir de recursos gráficos para se lises silábicas, porque, sendo incapaz c!e compreendê-las, perde a-lógi-
comunicar com alguém a dist~ncia ajuda a compreender o significado ca do ensino, julgando que na escola não se trata de compreender as
da escri.ta COIIllJ forma de transmitir sentime~tos e notícias. Aprovei- lições mas de adivinhar o que o professor quer ensinar. Isto poderá
t.ai;nos o major número de situações pqssível para propiciar a troca de . ser desastroso para o resto de sua vida escolar.
• 1 ,. •' ., ' • "
cartas, tais como: · Fatos como os que se seguem ilustram bem o nível pré-silábico:
- escrever a algum colega que vem faltando à aula; Adriana escreve seu nome e suspira dizendo:
- e.scn:ver a toda a classe, se o professor tem necessidade de fal- "-Eu queria tanto escrever também o nome da outra Adriana
tar ao trabalho; aqui da aula!! Mas. eu não sei como ele é".
- mandar recados aos pais, etc. Marcelo Rosa, um belo dia, protesta violentamente:
A transc;riçiio de cantos e brincad.eiras e a subseqüente exploraÇão " - Professora, o Marcelo Aidos está escrevendo o meu nome,
didática desses textos são fonte de compreensão da vinculação escri- dizer;ido que é o nome dele!" (nessa época eles só escreviam o prenome).
ta/ discurso oral. Geralmente as crianças sabem de cor cantos ou dra- Mateus, também indignado, diz que sua mãe faz algo horrível. Es-
matizam de memória brincadeiras infantis, como "mamãe, quero do- creve o nome dela como o dele, mas ainda troca as letras de lugar. O
i ce, PaP,ai ,nij.o quer m.e dar". Escrev!!r o conjµrto de f~ases da brinca- nome da mãe dele é Teima.
!J
J,.
., deira em aula e trabalhar o texto que lhes e familiar são um elemento Através dessas histórias vividas em nossa experiência, transpare-
de associação do escrito .com o oral. Da mesma forma, podem ser usa- cem idéias típicas das concepções dos alunos dest~ nível: a vinculação
das histórias infantis. com a pronúncia não entra na conta da escrita.; cada pessoa tem um
Elabo~.ar t~~tos com a contribuição dos alunos e explorá-los em nome diferente da outra; a ordem e a qu.alidade das letras não são ain-
aula são um recurso didático deste período. Pede-se aos alunos que díi fundamentais para que distingam uma palavra da outra; duas pala-
repitam cada frase após a sua leitura; Pede-se depois que repitam o vras podem ser pensadas como sendo a mesma, porque possuem cer-
texto de cor. Vê-se que não se trata de uma verdadeira leitura, mas tas letras iguais.
de uma memorização. No entanto, essa atividade serve para vincular
.. idéias faladas e frases escritas. O texto deve ser escrito no quadro ou
.' em cartazes, bem como mimeografado para ser distribuído aos alunos .
Esquema da Didática do Nível Pré-Silábico
Pede-se então que cada aluno identifique e conte quantas vezes a letra (somente quanto á leitura e à escrita)
da inicial do seu nome aparece no texto. Isto leva o aluno a dar-se con-
ta de que um texto é composto de letras. Pedimos também que identi- - associação palavra X objeto (imagem)
fiquem palavras, que apresentamos à classe em tiras de papel. - memorização global de palavras significativas
- análise da constituição das palavras quanto à sua inicial,
Palavras
Síntese das caracteri'sticas do nível pré-silábico . { sua letra final, número de letras, ordem das letras e natu-
reza das letras .
Em síntese, o nível pré-silábico se caracteriza pela caminhada em
. análise dos aspectos gráficos - topológicos, de forma,
dois grandes trilhos paralelos: um deles é o do reconhecimento de que ·de posição - em dois tipos de letras, cujo objetivo é atin-
letras desempenham um papel na escrita, e o outro é o da compreen- gir a invariância de suas formas
são ampla·da vinculação do discurso oral com o texto escrito. A didá- Letras · introdução dos aspectos sonoros através das iniciais de
tica no nível pré·-silábico visa, entre outras coisas, que a criança distin- { palavras significativas
ga imagem de texto, letras de números, e que estabeleça as macrovin- - distinção entre letras e números ·

44 45

1
inculação discurso oral com · cias que conduzem à conservação. Sabe~se, entretanto, que, embora

D
exto escrito não sendo uma condição suficiente para atingir a conservação de quan-
- aspectos semânticos · distinção entre imagem e tidade discreta, recitar os numerais de cor na sua ordem. e saber
scrita cotrespondê-los a·conjuntos, de acordo com a quantidade dos seus ele-
reconhecimento dos suportes mentos pode desempenhar uma função coadjuvante da conservação.
Textos diferentes de textos distintos
Por tudo isso, concluímos que o trabalho com números e numerais,
(frases) . reconhecimento das letras.
como constituintes do texto
no nível pré-silábico, será de utilidade para os alunos.
- aspectos gráficós análise da distribuição espa- Nesse sentido sugerimos atividades tais como:
cial clo texto e da orientação · - incluir, nos conjuntos de alfabetos postos à disposição dos alu-
da frase nos, algarismos de O a 9, e, assim como se deve encorajar as crianças
a produzir palavras com as letras, deve-se proceder da mesma forma
. Nt'vel pré-silábico e matemática para que produzam números. Ainda mais: o professor deve ler tanto
as pseudopalavras que eles produzem, isto é, seqüência de letras, co-
A didática do nível pré-silábico, muito além de atividades exclusi- mo as seqüências de números. Nós o fazemos, por exemplo, para A
vas em liguagem, encerra atividades em outras disciplinas, começando M J E I O R X L , lendo ao aluno aemejeiorxisele. Certificamos a crian-
pela matemática. · ça de que qualquer ordenação de letras pode produzir uma palavra,
Já nos referimos às atividades de classificação, de seriação de e mesmo que ela não seja de nossa língua usual. Quanto aos números,
correspondências, que têm· caráter nitidamente matemático, porque não há nenhuma dificuldade para lê-los, pois quanto maior for a quan-
trata-se do estabelecimento de relações, e a "matemática é a ciência tidade de algarismos que eles colocam em série, mais impressionante
das relações". Portanto, faz-se matemática sempre que se estabelece- lhes parece a nossa leitura. Por exemplo, se uma criança ordena:
rem relações de tipo lógico, mesmo que não se maneje cqm números 871109635.
ou outros elementos consagradamente tidos como entes matemáticos. a nossa leitu ru do que ela proquziu, ou seja, oitocentos e setenta
No entanto, há um lugar importante para a abordagem dos núme- e um milhões, cento e nove mil, seiscentos e trinta e cinco, deixa-a sur-
ros na integração da matemática com a alfabetização. Iniciemos pelo que presa e orgulhosa. Muitas vezes elas nos perguntam: "Puxa, fui eu que
diz respeito ao seu papel de símbolo. Os numerais são, como as letras, fiz este número?".
formas de escrever. O numeral é um ideograma,·isto é, ele representa Trata-se de oportunizar que as crianças escrevam à vontade, tres-
enquanto símbolo uma idéia, sem necessidade de se articular a partir loucadamente, palavras e números e que lhes demos guarida no mun-
da pronúncia para expressar algo. O número 8 representa a quantida- do da leitura, isto é, que as leiamos aos ·alunos;
de oito, sem que o símbolo se articule à pronúncia da palavra. Apren- -incentivar a contagem oral nas mi,tis variadas circunstâncias;
der a distinguir, a reconhecer e a escrever os números, por serem dife- -fazer trabalhar a associação de conjuntos de objetos e seus nú-
rentes das letras, é uma atividade enriquecedora da experiência da es- meros (entre eles está o conjunto das letras em palavras, assim como
crita. Por isso, já vale a pena trabalhá-los simultaneamente à alfabetização. o das palavras numa frase).
No entanto, há outro aspecto de vinculação, que é ainda mais pro- O dominó de números é interessante de ser usado para a aborda-
fundo, entre o trabalho com números e a leitura e escrita. É que a con- gem dos números, assim como variados jogos com dados e bingos de
servação da quantidade discreta, objetivo principal do trabalho com números, os quais às vezes não podem passar de 20, ou nem mesmo
número cardinal, só é alcançada, segundo Piaget, através da síntese chegar até lá, neste nível.
das operações mentais de classificação, de seriação e de correspondên- O uso de material de Cuisenaire é também de muitíssima utilidade
cia entre objetos. Trata-se de uma síntese que tem muito em comum como forma de propor problemas relativos aos números.
\, com a síntese que se deve fazer também para reunir, no sist.ema de.es- As relações de parte e todo, trabalhadas em quebra-cabeças, em~·
crita, vários elementos inicialmente amalgamados, tais como: letras, bora mais particularmente vinculadas aos níveis silábico e álfabético,
iiil sílabas, palavras, frases, textos, as ações de ler e de escrever e as diver- já podem ser abordadas desde o nível pré-silábico porque, junto com
sas hipóteses construídas durante os níveis pré-silábico e silábico. elas, se propõe o exercício das rotações e translações, para poder acer-
Enfatizamos, portanto, que nosso objetivo central no trabalho com tar o lugar e a posição dos elementos do quebra-cabeças. Esse mesmo
números é que ós alunos atinjam a conservação da quantidade discre- exercício pode ser proposto na formação de figuras com as peças do
ta, isto é, façam a síntese de classificações, se·riações e correspondên- Tangram. O estudo de forma e de posição das partes de um quebra-
46 o
47
cabeças pode ter a ver com o estudo da forma e da posição das letras. ·ca - ele compreende melhor a si mesmo. A busca de individualização
A ação de n;partir os elementos de um conjuntó 1 tão familiar e para esses alunos é meta importante da proposta, uma vez que eles fa-
necessária à~ crianças mesmo fora da escola, tem um papel importante zem parte de uma classe social que o sistema procura marginalizar e
no contexto _do nível pré-silábico. Trata-se de considerar aqui partes massificar, dificultando-lhes a individuação.
de um todo, não mais contínuo como resultado da montagem de um · As atividades de teatro são propostas a partir da seguinte suges-
qt1ebni-cabeças, mas de l;lm conjunto discreto, isto é, em que cada ele- tão do professor: "Hoje vamos fazer teatro!". Cada um escolhe o que
mento ~ uma unidade espacial em si. Sabe-se hoje que a repartição de quer fazer. O professor escreve no quadro o nome de cada aluno e,
elememos de um çonjunto é uma;ação primitiva básica para a constru- ao lado, o personagem que ele escolheu para representar. Roupas e sa-
ção das operações aritméticas, considerada mesmo por alguns como patos, bem como bolsas, óculos, colares, etc., podem ser postos à dis-
uma ação mais primitiva qo que·a adição e a subtração, baseadas em posição dos alunos para que os utilizem na atividade. As crianças for-
ações de reunir oµ retirar. ', · mam subgrupos que trabalham simultaneamente cada um deles numa
. A i9~Ja. çie sí~bolo, acentuadamente trabalhada nos numerais, é temática própria. Após a aula (que pode durar de 30 a 45 minutos),
básica para a alfabetização. Ela não é, porém, vivenciada em matemá- o professor solicita que os alunos relatem o que aconteceu nos diver-
tica somente nas questões numéricas. sos. grupos. Uma vez por semana essa proposta é feita à classe. Pouco
Len;ibramos que há muita,s brincacj(:iras infantis que encerram ni- a pouco, os subgrupos começam a interagir seguindo a tendência de
tidamente a noção de símbolo e que podem e devem ser feitas na aula organizar mõmeritos ·em que muitos ou todos os alunos participem de
ou no recreio, numa classe de 1 ~ s~rie. Entre elas, citemos: rei X rai- uma mesma temática. Em geral, são as situações familiares e os mode-
[' nha; meu pai matou l)m porco, que parte tu queres?; diabo rengo· mi- los propostos pela televisão os temas centrais dessas primeiras ativida-
des de teatro. As temáticas que·vão surgindo servem de sugestão ao
nha di.reitl,l está <;Jesocupada, qt1em quer que ocupt;? '
professor para oferecer mais elementos de vestimenta e "cenário", tais
: !:. como papelão ou tá.buas para construção de paredes, caixas para o ar-
Nlvel pré-silábico e teatro
mário, balanças para o armazém, etc. Trata-se de propiciar um con-
'1•.''! texto favorávêl às atividades de dramatização, através das quais as crianças
."
r Nesta linha de preocupações, as atividades de teatru, expressão ou
vão se organizando, ao mesmo tempo que organizam parte de sua com-
·~ jogos cjramáticos têm lugarimportante na nossa proposta didática. Sendo
o centro dessas atividades "o faz-de-conta", ou seja, o representar um
preensão da realidade. A eventual sugestão de uma temática, de um
espaço ou de um episódio, para produzir uma ação dramática, pode
personagem, trata-se 4e uma prática muito útil para a vivência da idéia também auxiliar as crianças a evoluir no desenvolvimento de sua ex-
!' de s~ll\bolo. O que é escrito é.um substit~to de objetos, de ações, de pressão por este meio, sendo essa evolução o objetivo das atividades
li
!t sentimentos, cje fMos, de quahliades, cje circunstâncias, etc., e precisa escolares de teatro.
ser entencli~o como tal, isto é, necessita guardar a distância devida dos
. entes que representa para que possa ter estabilidade e funcionalidade Nlvel pré-silábico e a_rtes plásticas
Quando os l,l!unos não dissoc:iam '*ªs. de pessqas cujos nome~
' !il iniciam por elas, Sl)cedem coisas como a seguinte: Janaína atira a letras As atividades em artes plásticas desempenham função relevante
no chão, dizendo: "Não trabalho com ela, porque''estou de mal com a
'il
'\·
Sandra". Isto é, S não é uma letra representativa de muitas palavras e inde-
pendente delas; para Janaína, ela está acoplada a um significado particular.
no nível pré-silábico. Em primeiro lugar, porque a criança, neste ní•
vel, não distingue texto ou palavra de imagem. Nesse particular áinda
\~ é mais acentuada a necessidade da prática de atividades de artes plásti-
!!,.r• O teatro, porém, leva muito além do manejo de símbolos. Ele tem cas com alunos oriundos de classes populares, por não terem eles tido
qualidades organizativas da realidade como um todo, apoiado basica- oportunidade de manusear (como as crianças de clásses média e alta)
mente sobre a di.mensão temporal, pois as dramatizações se vivenciam livros, revistas, etc., em que texto e imagem estão associados. .
num tempo, guardando a distância que o sistema de fazer-de-conta (sig- Por isso, no nível pré-silábico, as atividades de artes plásticas de-:
nificantes) lhe assegura. , · · vem centrar-se na prática regular do desenho e da pintura, ou seja, das
Reputamos que as atividades regulares de teatro numa classe de represi:mtações sobre o plano. Mas não só. Nas nossas experimenta-
1 ~ série poderão ter efeito positivo sobre a alfabetização, também por ções foram também importantes, neste nível, os trabalhos com costu-
seus efeitos indiyidualizantes sobre as crianças. Esse efeito individuali- ra e com madeira.
zante se produz porque, quando alguém dramatiza ser outra pessoa, É conhecido que o desenvolvimento com expressão plástica é fa-
busca compreender esta outra pessoa; porém, é o inverso que se verifi- vorecido pela sua prática regular, mas esta será tanto mais eficaz quanto

48 49
1

mais o professor planejá-la, criando o contexto em que ela se realiza Trata-se, também, de uma tentativa de aproximar a leitura e a es-
(técnicas, ~ateriais específicos), a partir da caracteriz~ção da etapa de crita de suas possibilidades de transformação da realidade, a partir da
desenvolvimento em que se encontra cada aluno, a fim de propiciar criação de cada um, comparando-as com outras atividades criativas fa-
seu progresso. miliares às crianças. . ·
. Os· alunos de nossas classes experimentais costumam chegar à p sé- · É preciso estabelecer esses vínculos para que o desenho e as de-
ne_ n~ f~se da garatuja ou do pré-esquema. Parece-nos desejável que eles mais atividades de artes plásticas sejam um incentivo à alfabetização,
consigam todos che~ar ao pré-esqut,ima, vivenciando-o plenamente no nível evitando o riscci de que possam ser um refúgio para alunos hábeis nes-
te campo e que nele se alienem para fugir de eventuais dificuldades de
~ pré-silábico. Dizemos isto porque nesta fase a criança fecha a forma isto
~- é.• consegue consider~r m;ia parte do espaço como um elemento signlfica- assimilação do sistema de escrita.
~
.
. t1vo. Esse fato nos mclma a formular a hipótese de que a escrita do

~. seu próprio nome também poderá vir a ter para eta o sentido de uma Nível pré-silábico e educação física
,
representação. Por outro lado, o desenho assume melhor a dim~nsão
representativa do que a garatuja, porque as crianças já pensam antes A educação física, enquanto disciplina do corpo nas suas dimen-
o q~e q;ier~m desenhar pa;a depois executar o que pensaram. Na ga- sões de equilíbrio, força, resistência e velocidade, tem como centro o
ratuja, e apos ~erem produz~d~ ~lgo que elas associam algum significado . movimento, tal qual a dança. Tem, porém, uma conotação específica,
.º encammhamento d1dat1co para oportunizar a passagem da ga- isto é, à itistrümentâção do corpo para o exercício diário de atividades
como a marcha, a corrida e todas as outras exigências do fazer cotidia-
ratuja ao pré-~squema prevê que se dê mais atenção aos que estão.me-
no~ des~nvolv1dos; que se lhes enriqueça ao máximo as ofertas de ma- no, como levantar pesos e executar movimentos necessários ao con-
tenal (t1~os e tamanhos de papel, bem como lápis de cera, giz, carvão, junto de atividades que a rotina nos impõe. A educação física tem, con-
can~ta h1drocor, etc.), e que se esteja atento às suas reações e manifes- tudo, uma função ainda mais específica, ou seja, a instrumentação da
taçoes para propor-lhes perguntas adequadas ou sugerir -'!ies a troca prática de esportes no aperfeiçoamento dessas performances.
ou a permanência de um material. Na educação física, a criança· aprende a se servir do seu corpo,
Pedir algumas vezes às crianças que contem a história do seu de- a fazer com ele coisas interessantes - como virar cambalhota, saltar
senho pode ser útil na fase da garatuja, no sentido de fazê-las analisar e correr cada vez melhor, pôr seus movimentos a serviço de atividades
em detalhes as suas produções. dirigidas pelas regras de um jogo (futebol, caçador, vôlei). Conseguir
O contato entre os alunos enquanto trabalham conduz a uma in- fazer isso deve dar ao aluno confiança na sua capacidade de coordenar
!; teração. que p~opicia análises e reflexões sobre suas produções, de for- seu corpo na direção que seu desejo lhe indica.
ma mmto mais natural do que quando há intervenção de um adulto. Uma pessoa que tem essas funções corporais em forma pode ter
Esse co?ta~o é facili~ado pela org.anização dos alunos em pequenos gru- melhores condições de desempenho co~nitivo. Não há, entretanto, uma
r pos estave1s, a partir de uma eleição de líderes, dentro de uma técnica relação de causa e efeito entre ambas. E necessário algo especificamente
1· trabalhada e estudada pelo GEEMP A há mais de dez anos. integrador para que- essas áreas se apóiem.
A costura e a construção com madeiras eram muito significativas Na nossa prática, vivenciamos situações como a que descrevemos
p~ra os alunos de 1982, em função das vivências de suas famílias recém- a seguir:
vmdas para a vila S~nto Operário.' em fase intensa de construção de Em nossas duas primeiras experiências de alfabetização, realiza-
sua~ casas com m~de1ra e onde mmtas mães de família costuravam pa-· das na vila Santo Operário, dispúnhamos de três bicicletas que colocá-
ra s1, para seus filhos e para seus maridos. vamos à disposição dos alunos duas vezes por semana. Nenhum dos
Pareceu-nos oportuno vincular o trabalho em costura e madeira nossos alunos tinha tido oportunidade de andar de bicicleta e todos
com a alfabetização, conversando com os alunos mais ou menos no imaginavam que não havia mistério para consegui-lo - era só montar
~
1i tom que segue. "Quando costuramos, transformamos os retalhos com e sair. Na primeira vez em que experimentavam fazê-lo, recusavam qual~.
'P agulha e linha em bonecos, em roupas, em bolas, etc. O mesmo acon- quer ajuda para sustentar a bicicleta. E era aquela decepção diante do
!I tece com madeiras quando v?cês constroem carros, móveis, revólve- toQI.bo, que se seguia de imediato. A convicção de que ia ser muito fá-
ij: res, etc. Com as letras ª.gente também pode construir coisas que são cil se transformava no temor de que não conseguiriam jamais. Passa-
as palavras, as.~rases e livros. Uma boneca ou uma bola são brinque- ram a aceitar ajuda para segurar a bicicleta e, gradativamente, iam ex-
'.i perimentando a possibilidade de equilíbrio e domínio. Quando final-
·í
:
dos com os quais vamos li.os divertir. Um livro-ou uma revistinha se-
i rão também distrações, formas· de brincar." mente conseguiam superar o impasse e logravam andar, a alegria era

50 51
li
!l
enorme. Aproveitávamos aquele momento de grande euforia para vin-
cular a alfabetização com essa vitória. Essa vinculação foi sugerida por · guém que imobiliza seu corpo, que o ignora con:io m7io de conhecer
e de se manifestar, perde uma via fecunda de ennquec1mento pessoal.
Valdocir, quando exclamou: "Eu achava quase impossível conseguir ·..
andar de bicicleta e consegui! Acho q~e vou também conseguir apren- o mesmo se pod~rá dizer de qu~ri não usa sua· vo:e seu c~rpo para
der a I!!r !". · drámatizar ou para cantar. Ignorar recursos, que sao naturais e pode-
Nó entanto, em classes populares, a educação física assume para rosos meios de comunicação, é bloquear vias ricas de captação e com-
o alfabetizador um intere~se part,ícular, em função de que esses alunos - preensãcfâa realidade. Nesse sentido, o canto e a exploração da paisa-
têm, vfa de regra, bom desemp~nho físico. Contrariamente ao que é gem sonora, dos sons e dos ritmos são atividades corriqueiras effi' nos-
insinuado ou sugerido na orientação ~qs professores dessa disciplina, sas experimentações. . , . .
isto é, de que essas crianças mal alimentadas não podem ser muito exi- A dança espontânea em forma de baile, ao som de musicas vana-
gidas na ed1;1cação física, nossa experiência nos fornece outros dados. das como samba, rock e músicas regionais, bem como as danças fol-
No'ssos alunos apn:;sentaip uma boa resistência nos exercícios físicos, clóricas gauchescas, foram oportunizadas com freqüência em nossas
além de apresentarem uma boa performance em equilíbrio, força e ve- salas de aula.
Essas atividades eram propostas com o objetivo precípuo de levar
locidade. Por tudo isso, pensamos que a educação física é uma via im-
todos os alunos a se expressarem dessas formas, e não só os que já
portante de acesso às potencialic,lades desses alunos, reforçando a sua
autoconfiança, 0; que pode indiretamente vir em socorro da alfabetiza- vinham de casa· com essas performances.
ção, já que nessa área seu li1T1iar de expectativas é b.aixo. ·
· Porém, a ed1.1cação física só poderá ajudar todos os alunos se eles Nível pré-silábico e televisão
forem vis(os cada um individ,uahnente no tocante às perspectivas do
seu desenvolvimento. Isto é, cada ah,mo tem que experimentar progres- A TV está presente em mais de 70% das casas nas vilas em que
sos em sua capac:ic!ade fí~iRª· O professor cjeve ter conhecimento do trabalhamos; televisão é uma das poucas formas de contato dessas crian-
prqc;~sso c,lc; desenvqlvimento e de formas concretas de avaliar os alu- ças com a linguagem escrita, uma vez que livros, jorn~is.' revistas, ca:-
nos, a fim de perseg1;1ir esse progresso indi.vi~ual. Com a bicicleta, ao tas etc. não têm uma presença marcante no seu cotidiano. A TV e,
menos um ponto da evolução é bem claro - conseguir usá-la. Esse po;tanto para esses alunos, u~ veículo quase inédito do mundo escri~
·1 0 , diant~ do qual eles passam quatro horas diárias, em ~édia.
ponto foi perseguidp ·até que todos o tivessem atingido.
Acrescentemos que, em educação física, estão involucrados compor- "A alfabetização supõe, necessariamente, a reestruturaçao ?~uma
linguagem através do código.da-eserita. Observa-se que o exerc1c1~ S_?-
tamentos que fazem apelo diretamente·aos aspectos cognitivos, como,
bre vários códigos que, no caso, caracterizam a linguag~m da telev~sa?
por exemplo, a compreensão de regras, especialmente em jogos com-
- o das imagens móveis seqüenciadas, o .s.onoro, o escrito - constltUJ-
1 plexos como futebol. É uma de nossas metas detenpinar a psicogênese
'1 .. se numa importante fonte de aprendizagem.
i.
1 da aprendizagem, em crianças de cl.asses populares, das regras do fute- Goodman mostra que as crianças desenham, escrevem e fal~m,
"\1
:i
bol - esporte caracteristicamente nac;ional, tão a gosto dos brasileiros.
indo e vindo entre variados sistemas de símbolos." (Ana Marta 1':1eir~,
. it
ii Outrossim, as atividades de jogos com competjção em educação
"Televisão", Relatório da Pesquisa do GEEMPA sobre Alfabet1zaçao
física levam as crianças a ter que enfrentar a perda. Esse enfrentamen-
li
i; to acaba por elevar o seu limiar de frustração, o que é particularmente
em Classes Populares, 1983.)
,ji Esses três fatos nos levam a introduzir atividades envolvendo a
importante 110 pro.cesso de alfabetização. Este, com efeito, inclui ne-
rll televisão em nossa proposta didática. A elaboração de "filmes" de pa- .
cessariamente a capacidade de aceitar que uma hipótese carinhosamente
11
pel, a gravação de sons para esses filmes, a elaboração ~e mensa~~~s
:1 elaborada não é válida, isto é, que é preciso abandoná~la para criar
através de slides (feitos pelos próprios alunos), a produçao de not1cia-
'li:l uma nova, o que exige a superação de uma frustração.

rios, as atividades de leitura e éscrita sobre o que se passa na tela d<!·
TV ou nela aparece escrito, as conv~rsas sobr~ os pr~gramas de TV
li
: :1
. Dança e.música no n(vel pré-silábico
for:am algumas ocasiões em que a criança se vm desafiada a abando-
:i nar o lugar de espectadora passiva e assumir uma postura de presença
A dança é a síntese entre· a forma e q movimento realizada pelo
mais ativa e até crítica, face à TV. .
li corpo. Uma bba maneira de captar as fornia.s que nos rodeiam é
Contudo as coisas escritas que aparecem na TV e que poderiam
'I apropriar-se, pelo movimento, das formas do ·nosso próprio corpo. AI-
ser fonte de r;flexão, para o desenvolvimento da psicogênese da alfa-
:i
52'
;!/ 53
ir
'!
betização, seguem o mesmo ritmo veloz de todo.o. té~to .televisivo, L ·tcriza·, neste caso, por uma seqüência de níveis de concepção dos sujei-
i
tornando-o efêmero. Para que certas crianças possam.aproveitar as coi- tos que aprendem. Esses níveis são ligados a uma hierarquia de proce-
sas escritas que aparecem no vídeo, é necessário um trabalho de reedi.t- dimentos, de noções e de representações, determinada pelas proprie-
caÇão do s·ujeito que vê a televisão, no sentido de fazê-lo menos passi~ dades das relações e das operações em jçigo. .
vo e mais atento. · Dizemos que um nível é constituído por um conjunto de condu-
. O conhecimento do funcionamento da TV, de com.o se organizam tas, determinado pela forma como o sujeito vivencia os problemas num
e se levam ao ar os programas, de como se.. fazem os filmes, etc. sãci momento do processo de aprendizagem. No conjunto de coµdutas, há
formas de modificar a postura dos sujeitos diante do aparelho de TV, _uma "organização típica das noções, das propriedades, das relações
desmitificando esse meio de comunicação. Lembramos que essa miti- ., e das operações, dos significantes e dos algoritmos postos explícita ou
ficação tem conotações ainda mais específicas em classes populares, '. implicitamente em ação" (Esther Pillar Grossi, Psychogenése et Ap-
como revela a história que se segue.; . ·. prentissage du Concept de Multiple, p. 16). *
Participei uma vez de um programa de televisão sobre nosso tra- . Emilia Ferreiro define quatro níveis na psicogênese da alfabetiza-
balho de pesquisa. Como 75% das famílias de vila possuem aparelhos ção, a saber: pré-silábico, silábico .. silábico-alfabético e alfabético (Aná-
de TV, algumas crianças me viram no vídeo. No dia seguinte, quando lisis de las perturbaciones en el Proceso de Apréndizaje de la Lecto-
nos encontramos na aula, uma das meninas, entusiasmada, me disse: escrita, Rase~ .. 2, SEP-OEA, México, 1982).
" - Ontem eu vi uma mulher igualzinha a tu na televisão".
Eu lhe perguntei:
" - Será que não era eu?". Ntveis principais e intermediários
Mas ela me contestou com segurança:
" - Não, porque gente como nós não apai'-ece na televisão". Com base na nossa prática, preferimos considerar três níveis prin-
cipais e dois níveis intermediários, entendendo por nível intermediário
A merenda
• A idéia de nível de concepção na psicogênese encerra necessariamente a noção de es-
trutura. Sem dar uma definição de estrutura, o que não seria útil, dada a sua complexi-
.. P.or fi1:1, ,u~a breve palavra sobre a merenda. Ela é para nós uma dade que exige uma aprendizagem elaborada e longa, assinalemos apenas que·, num ní-
~t1v1dade d1dat1c.a entre todas as outras. Uma atividade cheia de signi- vel de concepção da psicogênese de um campo conceituai, muitos elementos estão im-
ficados. Por meto dela, podemos transmitir muito do que pensamos bricados. Trata-se de uma forma específica de como esses elementos se organizam na
s~bre os nossos alunos de classes populares. Por exemplo, que eles não cabeça do sujeito em cada etapa do processo. Esses elementos comportam noçqes, o que
chamaríamos de conhecimentos elementares, que se assemelham a conceitos de nature-
sao g:nte _como nós, porque a eles "empurramos~' alimentos de soja, za simples que nascem de campos conceituais e os cc;mstituem. As noções não são neces-
que ~ao sao da nossa cultura;. cheios de pressa, damos de comer a eles, sariamente idéias elaboradas e abstratas, mas conhedmentos intuitivos, sintéticos e não
de pe, em .c~n.ecas feias, todas previamente servidas; para isso, na por- inteiramente precisos.
ta do refeltono da escola, eles devem fazer fila, como se esta ou outra As noções se distinguêm dos conceitos porque estes são representações mentais ge-
neralizadas e abstratas de um objeto de conhecimento. Os conceitos em geral são imbri-
merenda não pudesse ser servida nas salas de aula, socialmente, em cados uns nos outros, constituindo.os campos conceituais que, por outro lado, são asso-
torno de mesas cobertas por toalhas, mesmo que simples, comungan- ciados, via de regra, a aspectos estruturais do conhecimento.
do uns com os outros a alegria de uma refeição humana e civilizada. Entre as noções se estabelecem relações binárias ou ternárias que gozam ou não de
Se ela fosse assim, demonstraríamos concretamente que eles são gente certas propriedades. A determinação precisa de algumas propr.iedades é o que caracteri-
za uma estrutura. Entre as propriedades de uma relação binária citemos a transitivida-
como n~s, desejante (e não faminta), suspirante, ofegante, lancinante, de, em que se decide, por exemplo, a igualdade entre A e C, se A = B e B = C. Entre
como disse o poeta. · as propriedades de uma relação ternária citemos a comutatividade, em que, se é verdade
que "a" e "b" (nesta ordem) se ligam a "c", é também verdade para "b" e "a", como
na multiplicação 3 x 6 = 18, em que 6 x 3 é também igual a 18. ·
.•· Anexo Significantes são os elementos, em especial as palavras, que servem para represen-
tar um significado, o qual pode ser, por sua vez, uma noção, um conceito, uma relação
Psicogênese da alfabetização uma trajetória singular ou mesmo um algoritmo. Algoritmo é um encadeamento de ações necessárias à execu-
ção de uma tarefa. Dizemos que utilizamos um algoritmo quando, diante de u.m proble-
. Quando aiguém. se alfabetiza, percorre uma longa. trajetória à qual ma a resolver ou de uma tarefa a realizar, dispomos de uma seqüência de passos que
certamente nos conduzem à sua solução ou à sua realização. Num nível de concepção,
e dado o nome de ps1cogênese da alfabetização. A psicogênese se carac- . todos esses elementos estão presente·s e se organizam de um modo particular.

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certos momentos precisos do processo que se caracterizam pela evidência a nível dos aspectos gráficos da forma e da função das letras ou núme-
1
de cont,radições nas condutas do sujeito, as quais perqem a estabilida- ros.
de do nível anterior e ainda não se org'anizam de acordo com o nível Podemos dizer que algumas das idéias veiculadas, no nível pré-
se&uinte. Sa~ os' momentos privilegiacjos, mé:lS d~fíceis, de desequilíbrio silàbico, são as seguintes:
e conflito, que só s~o superados por ~ma nova organização dos ele- "Está escrito o que eu desejei escrever";
mentos em jogo, numa estrutura qualitativament.e superior' à anterior. "Escrita sem imagem não dá para ler, é pura letra";
Didatiçamente, os níveis in~ermediários constituem momentos-chave "Só se escrevem substantivos. Verbos e outras palavras não têm
o
do proc~sso de a~rendizagem. É quando alunp percebe que seus es- consistência para que se as escreva";
quemas são inc,apazes de fazer frente ao conjunto de problemas que "Letras ou sílabas não se repetem numa mesma palavra. Isto nao
ele é capaz de se formular nesse momento. Via de regra, os alunos têm fica bem";
tendência a aba11donar a arena.do seu có9fli~o por um certo tempo, "Só se lêem palavras com três letras ou mais";
·porque lhes é penoso dar-se coQta dessa lacuna cognitiva; Seria impor- "Letra e número são a mesma coisa, são sinais parecidos";
tante que os professores percebessem essa problemática, para dar ·ao "A escrita das palavras não é estável. Numa frase ou num texto
aluno o incentivo adequado. Soqretudo, é importante compreender que o código pode mudar'';
os alunos não se engajam com a mesma intensidade nas tarefas escola- "Basta-ter a inicial para caracterizar uma palavra";
res, quando vivenciam um nível intermedi~rio. Acrescentem-se à difi- "A ordem das letras na palavra não é importante. Basta que este-
culÇade de engajar-se durante os p.íveis intermediários as regressões mui- jam todas elas".
tas vezes acentuadas que os acompanham, as quais podem confundir o
o
professor, julganÇp alµno muito mais aquém de suas possibilidades. Nível intermediário I
Se o professor expressar essas suas impressões, o aluno pode se desen-
corajar sem ra.zão e ter maiores dificuldades para superar este nível. A consciência, mesmo difusa, da ligação entre pronúncia e escrita
Fre~te à.s nossas const.atações, parece-nos mais adequado, como é o fator deslanchador da entrada no nível intermediário 1. Como con-
anunciamos antes, considerar três níveis principais (pré-silábico, silá- ciliar este dado novo - que a escrita se vincula com a pronúncia das
bico e alfabético) e dois níveis intermediários: intermediário I (entre partes da palavra - com as concepções elaboradas no nível pré-silábico?
o pré-silábico e o silábico) e o intermediário II (entre o silábico e o al- Esse novo dado é muito mais restritivo relativamente àquelas idéias.
f~bético). Essa problemática produz condutas típicas, como, por exemplo, aspa-
lavras começam a ter certa estabilidade. Ao aplicar a prova das quatro
Nível pré-silábico palavras e de uma frase,* os alunos do nível intermediário 1 julgam
que a palavra dissílaba que já foi escrita·e que entra na frase deve se·
Em grandes linhas, no nível pré-sUábico os S\_ljeitos que aprende~ conservar como antes. Enquanto estiverem inteiramente pré-silábicos,
têm uma visão sincrética dos elementos da alfabetização. Letr.as po- a palavra não tem necessidade de possuir estabilidade, ela pode variar
dem est.ar associadas a palavras inteiras, portanto representam um en- ao sabor das circunstâncias.
te global, por exemplo, quando eles se referem à "minha letra", isto Isso diz respeito somente a palavras não memorizadas globalmen-
é, à letra do seu nome. Por outro lado, uma página inteira de letras te, como o próprio nome da criança, ou a outras palavras que ela teve
pode corresponder a uma só palavra. Não há discriminação das unida- oportunidade e interesse em gravar como um conjunto de letras e não
; ' . des.lingüísticas e sobretudo há completa aµsência de vinculaçâo entre apoiada numa teoria sobre a sua junção, mesmo estando no nível pré-
a pronúncia das partes de uma palavra ou de uma frase e sua escrita. sihíbico. Essas palavras, neste nível, têm uma estabilidade exterior e
Os problemas que o sujeito se coloca neste nível, a respeito da alfabe- independente da estruturação do sistema da escrita na cabeça da crian-
tização, se reférem a amplos interrogantes sobre como se representam ça. Dizemos que essa estabilidade é exterior porque ela repousa na au~:·
graficamente aspectos da realidade elaborados pelo pensamento ver- toridade de alguém que assegura à criança que a palavra deve ser escri-
bal. Ele começa a se questionar sobre o significado dos sinais escritos
- estes risquinhos sobre o papel, isto é, o que representa a escrita. * A prova da escrita de quatro palavras e uma frase foi elaborada por Emitia Ferreiro
Ainda lhes é obscuro como se estabelece a corre,spondência entre escri- e é descrita no fascículo 1 de A nálisis de las perturbaciones en el proceso de aprf!ndizaje
de la lecto-escrita, editado pela Direción General de Educación Especial, SEP-OEA, Mé-
ta e pens.amento. Suas dúvidas ·podem se situar a nível ~emântico, ou xico, 1982.

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"''

ta com tais letras e em tal ordenação, sem que ela compreenda o por- Uma ordem desta natureza é chamada de ordem parcial, porque
quê. . há uma ordem enfre certas noções, mas não entre todas, como no es-
.No nívelintermediário 1, a escrita começa a se desvincular da ima- quema acima."*
gem e os números podem se distinguir das letras, isto é, as concepções .· A caracterização de cada nível não é estanque e perfeitamente de-
do nível ·pré-silábiccl' vão sendo questionadas à luz da idéia da vincula- finida, porque há noções que se formam simultaneamente sem filiação
ção. pronúncia com escrita. Com efeito, a possível vinculação - pro- entre elas e há problemas que perpassam vários níveis. Por esses fatos,
núncia X escrita - introduz para :o sujeito que está caminhando para · a seqüência dos níveis de concepção não se apresenta como uma or-
a leitura e a escrita uma complicação difícil de ser resolvida. dem total, tendo, isso sim, a riqueza de uma ordem parcial. Neste ca-
Isso é o cerne do drama do nível intermediário I (li). Como so, a ordem parcial tem maior complexidade do que se tratássemos de
resolvê-lo? uma ordem linear ou total. Disso decorre que ensinar não é acrescen-
tar tranqüilamente mais um tijolo numa parede, pois estamos frente
Nível sildbico a uma dinâmica muito mais complexa, que não é nem vista nem previ-
sível inteiramente de fora para dentro.
Uma criança, no nível pré-silábico, já pode conhecer muitos ou
A hipótese de que a cada sílaba corresponde uma letra é uma for-
todos o.s son~ de let~as, porque ela os associa à inicial das palavras e
ma que se apresenta muito plausível à criança para resolver esse im-
por esse intermédio pode se assenhorear dessa correspondência. Por
passe. É isso que define o nível silábico. Para nele se instalar perfeita-
outro lado, um aluno pode estar no nível silábico sem atentar para o
mente, o sujeito necessita vencer muitas barreiras, como se depreende
som convencional das letras. Ele pode pronunciar.uma palavra e asso-
das idéias que ele tinha no nível pré-silábico e que foram questionadas
ciar a cada sílaba qualquer letra. Pode começar a juntar letras para
no nível 1. Uma das principais é a do número mínimo de letras para
formar palavras sem preocupação com seus sons específicos. ·
qu.e :Ias possam constituir uma palavra. Pela hipótese silábica, devem Vê-se daí que o conhecimento da correspondência letra a som per-
ex1st1r palavras com duas e até com uma letra (as dissílabas e as mo- passa mais de um nível. Ele não é típico de um nível ou de outro, es-
nossíla.bas). Isto é conflitante, mas a força da vinculação - pronúncia tando presente em vários. Este é um exemplo que explica a ausência
X escnta - pode fazer vencer essas barreiras. de ordem total numa aprendizagem. Trata-se de um aspecto que é pa-
''A ordem de complexidade crescente das noções adquiridas pela ralelo ao da junção de letras no nosso sistema de escrita, os quais dida-
criança na psicogênese da alfabetização não é aliás uma ordem total ticamente se apresentam como problemas concomitantes.
ou linear' no senti.do em·que a criança deveria necessariamente adqui- No nível siláhico, começa a se esboçar a necessidade de uma certa
rir a noção A, depois a noção B, depois a noção C, etc. ordem das letras na palavra. Essa ordem, entretanto, não tem- o rigor
do nível alfabético, pois acontece por vezt:s que os alunos, utilizando
A--B-+ c- D--E-F ... só uma letra para cada sílaba, se defrontam com tão poucas letras (1,
2, 3) e apõem outras àquelas. Essa aposição pode ser simplesmente alea-
A ordem de complexidade na psicogênese é uma ordem parcial ou tória, para que a palavra tenha mais letras, mesmo que essa exigência
com diversos ramos, porque noções A e B, por exemplo, pÓdem muito se choque com a hipótese silábica. É interessante citar um fato referi-
bem ser adquiridas indiferentemente numa ordem ou noutra, ou simul- do por Teima Weisz, de que tendo uma criança escrito silabicamente
taneamente, sendo prévias à aquisição de uma outra noção C. a palavra "cavalo" o fez com "CAL" mas acrescentou outras letras:
CALELEI. Ao lê-la, passou o dedo por baixo somente das três primei-
ras e finalizou a leitura. Perguntada: "Então, por que estas outras le-
tras?", a criança respondeu mais ou menos assim: "Gente grande é
que pode responder a isto! Eles sempre botam mais letras do que pre-:·
cisa para confundir as crianças" .
. Ocorre t;imbém com freqüência os alunos escreverem "sp" para
a palavra "sopa" e, ao se darem conta de que há tão poucas letras,

•Adaptação de L 'Enfant, la Mathématique et la Réa/ité, Gérard Vergnauci, Berna, Pe-


ter Lang, 1981.

58 59-
repronunciarem a palavra e acrescentarem as vogais "oa", tendo ao · solv~r o problema da escrita, mas esta não é socializável, isto é, outros
final "spoa". não podem ler o que se escreveu, e nem para o próprio escrevente ela
No nível silábico costuma também ocorr.er que, quando lhe é pro- é discriminadora das palavras. Por exemplo, "sp" pode representar
posto escrevér uma frase, o aluno utiliza uma letra para cada palavra, simultaneamente ;_ sapo, sepo, sopa, sapé, etc.
em vez qe uma letra para cada sílaba, como o faz já para palavras iso- · Com isso, mostramos que mesmo a forma mais discriminadora
ladas. ESse fato mostra como as categorias lingüísticas ainda não es- de utilizar a hipótese silábica, isto é, servir-se das consoantes de cada
tão ·claramente definidas, exatamc:nte porque elas não têm estabilida- · sílaba, ainda não permite a leitura de uma palavra supostamente escri-
de. Por outro 111do, o aluno do nív,el sil~bico é um sujeÍto que resolveu ta. Esse problema se agrava ainda mais se são as vogais que entram
temporariamente o problema da escrita, mas que vai se defrontar mais nas sílabas, pois a combinatória das consoantes é muito mais numerosa.
cec,lo ou mais tarde co.m o problema da leitura. Cito o menino Gustavo "O a" pode ser ·
(de 5 ~nos), cujo processo de ~lfabetização era seguido por uma das sopa
a:Jum,1.s da 2~ ~µrn;rn d.P Cµrso sobre Alfobetização em Classe Popúlar, lona
que o GEEMPA realiza a nível c;le pós-graduação. Gustavo escrevia coma
muitas palavras "silabicamen_te". Ela aprovava sua escrita, sabendo-o mola
no nível silábico. Mas ele voltava a ela, intrigado: "'A minha mãe não cola
o
conseg~e ler que ~u ~screvo! ". Ele passou a 'se exprimir assim: "Eu fofa
vou escrever as pal11vras, mas depois não dá para ler". É uma consta- fora Obs.: Há também os casos em que os sujeitos mes-
taçijo revc:ladora de um passo importantís~imo no processo da alfabe- rola clam consoantes e vogais no seu exercício de hipó-
tização, qual seja o da vinculação - leitµra-escrita - até então inde- etc. tese silábica.
pendentes. Saber escrever mas não poder ler o que foi escrito é fator Se falarmos rio caso em que as crianças não consideram o valor .
gerador do conflito de passagem para o nível intermediário II. sonoro convencional das letras, a dificuldade de ler o que é produzido
durante o nível silábico é ainda muito maior.
Nlvel intermediário II No mome~t.o da superaç~o da hipótese silábica, a necessidade do
conhecimento !to valor sonoro convencional de algumas letras se tor-
Neste momento, quando a criança entra em conflito, pevdendo a na quase imperiosa, sob pena de o processo de leitura e escrita não po-
confiança que lhe advinha da certeza nos seus esquemas anteriores·, mui- der. avançar adequadamente.
tas vezes ela regride para condutas do nível intermediário 1, desolando Trata-se, didaticamente, do ponto crítico em que não conhecer o
um professor c.lesavisado. Tantas vezes ouvimos afirmações do tipo: valor sonoro convencional de pelo menos certas letras básicas emperra
"Eu não sei o que acontece com Fulano. Ele desaprendeu tudo. Está a continuidade do processo, isto é, ele se torna patológico no sentido
como meses atrás". de que não pode ser socializado.
Trata-se da catástrofe do conflito em que ele se encontra, mas do
qual poderá sair para um nível mais elevado. A catástrofe pode fazê-lo Nível· alfabético
regredir para o nível intermediário 1, porque para superar o nível silá-
bico ele deve negá-lo e, negando-o, se ainda não tem um substituto, Neste momento, deve haver uma estruturação dos vários elemen-
só pode fazê-lo retornando ao pré-silábico. Por outro lado, o desequi- tos que compõem o sistema de escrita. Não pode haver mais desenvol-
líbrio em que ele se encontra se assemelha ao desequilíbrio que ele vi- vimento independente e desordenado de alguns deles. Trata-se de co-
veu naquele primeiro nível intermediário. nhecer o valor sonoro convencional de todas ou de algumas letras, bem
A experiência dessa instabilidade é difícil de ser vivida, tanto pelo como de saber como juntá-las para que constituam as sílabas. Lem-:-
aluno como pelo professor. Mas somente ela permite a passagem pára bramos aqui como se defendeu, equivocadamente, o prefeito de uma
o nível alfabético. cidade do interior do Rio Grande do Sul, acusado de ser analfabeto:
O nível intermediário II é o cenário da superação da hipótese silá- "Analfabeto eu não sou, pois conheço todas as letras. Só que quem
bica (a de que a cada sílaba corresponde uma letra), isto é, da entrada as 'acolhera' (combina) é minha filha".
no nível alfabético. O aluno é levado a essa superação pela inconsis- Neste momento, há necessidade de distinguir basicamente algu-
tência da hipótese silábica para produzir leitura. A hipótese parece re- mas unidades Jingüísticas, tais como: letras, sílabas e frases.

60 61

-
É interessante, porém, que a criança ignora a palavra como uni-
dade separada nas frases e nos textos. Ela coloca espaços entre partes
da frase, independentemente das palavras que a compõem. Lembra-
mos que, ao falar, não separamos palavras, o que pode reforçar essa
. tendência momentânea das crianças. o aspecto alfabético da sílaba pre-
pondera sobre a separação das palavras numa frase. Esta será uma preo- Alguns materiais e fichas didáticas para
cupação posterior do sujeito que .aprende. · o nível pré-silábico
Por outro lado, ler e escrever assumem seus papéis de ações inver-
sas uma da outra, o que antes podia ser ignorado ou omitido.
Assinalamos, cotn isso, que a vivência do nível intermediário 11
significa a etapa de vinculação de div.ersos elementos que antes esta-
vam ou amalgamados ou independentes. Esses elementos constituem Introdução
agora o sistema de escrita e leitura, no qual se relacionam mutuamen-
te. É um salto qualitativo da maior importância - é a porta de entra- Os modelos de materiais e de fichas didáticas que seguem foram
da do nível alfabético. experimentados pelo GEEMPA em classes de 1~ série de vilas de peri-
Porém, entrar no nível alfabético não significa ainda saber escre- feria de Porto Alegre, em pesquisa científica iniciada em 1979. As ati-
ver corretamente, nem do ponto de vista ortográfico nem do ponto de vidades que eles encerram se destinam especialmente a alunos que es-
vista léxico. No nível alfabético, o aluno ouve a pronúncia de cada sí- tão no estágio mais avançado do nível pré-silábico. Isto é, são ativida-
laba e procura colocar letras que lhe correspondam. Neste nível é ab- des para alunos que já venceram os primeiros passos do nível pré-
solutamente legítimo escrever "qopo" ou "xinelo" ou "cazihna". O silábico. Estes primeiros passos são caracterizados pelas concepções
grande passo da vinculação "pronúncia construção alfabética da síla- mais primitivas sobre o que é ler e escrever. Por exemplo, a de que
ba" está dado, mesmo que a ortografia não corresponda adequada- se lêem imagens contíguas a um texto; a de que as letras não são con-
mente aos padrões lingüísticos, ou que as palavras não sejam separa- cebidas como fo.rmas ao menos semelhantes ~s das letras convencio-
das com correção em frases ou textos. Este é o marco que advogamos nais; a de que os aspectos sonoros da pronúncia não são levados em
como critério básico da alfabetização. Dizemos que alguém que che- conta de nenhuma forma ao se considerar a escrita.
gou a esse ponto transpôs o umbral da porta do mundo das coisas es- Para este estágio elementar, várias atividades didáticas devem ser
critas. Muitas outras barreiras o esperam ainda, porque alfabetizar-se propostas, previamente às que seguem, sendo central a oportunização
é o processo longo de conseguir expressar pela escrjta aquilo que pen- da observação de atos de leitura e de es~rita, bem como do contato
samos, ou de compreender, através da leitura, pensamentos cada vez com muitos materiais escritos. ·
mais complexos de outrem, expressos no texto escrito. Neste sentido, as crianças devem ter espaço didático para realizar
A entrada no nível alfabético deve ser seguida pela aprendizagem pseudo-escrita, inspiradas pela observação des!es atos realizados por
das formas ortográficas de nossa língua, as quais nem sempre são lógi- adultos, muito especialmente pelo professor. E uma etapa em .que o
cas, isto é, um mesmo som pode estar associado a várias letras ou uma aluno necessita ouvir muita leitura feita pelo professor e necessita vê-
letra pode corresponder a vários sons. lo escrever bastante. A leitura e a escrita do professor serão tanto mais
No entanto, desejamos enfatizar que essas novas aprendizagens eficazes quanto mais significativo para o aluno for o seu conteúdo. O
são posteriores a um fato fundamental, qual seja o da estruturação pri- professor deve ler textos com e sem imagem. Ao ler para os alunos,
meira do sistema da escrita na cabeça do aluno, vivido no nível alfabé- o professor pode perguntar onde ele está lendo - se nas imagens ou
tico da psicogênese da leitura e da escrita. nas letras - , onde ele começa a leitura - em que lugar da página..::
Deve mesmo informar algumas vezes aos alunos que ele começa à es-
querda e no alto de cada página e ainda que se lê a página da esquerda
antes da página da direita. A leitura de variados tipos de textos, tais
como livros de histórias, cartas, jornais, rótulos de produtos comer-
ciais, anúncios de televisão, placas de rua, etc. será muito útil à crian-
ça na construção da sua idéia sobre o que se lê. Isto o impedirá de pen-

62 63
·no verso e no reverso. Os crachás contendo a palavra geradora por ex-
sar a leit\Jril só em textos escolares e lhe possibilitará distinguir supor-
1 tes difer~ntes a textos diferentes, como sucede na viqa corrente.
celência para cada aluno - o seu nome - podem ser utilizados em
muitas atividades d' , como aparecem descritos em Aprendiza-
1 É também importante que seja propiciluia, neste estágio inicial do
ge(n em classe po 82), na unidade sobre o nome próprio dos
· nível pré-silábico, à distinção entre letràs e números. Esta distinção se-
alunos.
rá tanto· mais facilitada quanto· mais' avi;mçar a criança na conqúista
Bingo de Letras
da consefvação da quantidade discreta e'não somente na mera utiliza- · Com o nome do ~.pode-se fazer o Bingo de Letras, como
ção qe numerais (representação dós números), o que vincula estreita-
vemos ilustrado tam s páginas 73 e 74. O cartão de bingo de e.a-
mente alfabetização e matemáticá. ·
'. 1 \' \
da aluno é seu próprio nome. O professor canta as letras do alfabeto,
A conservação da quantidade discreta é, segundo Piaget, a apreen- retirando-as de um saco. É importante, após a enunciação do nome
são estável da idéia de quantidade como.uma propriedade de conjun- de cada letra, que o professor mostre a letra retirada do saco. Os alu-
tos. · '· ·
nos colocam um ou mais feijões em seu cartão se a letra cantada e mos-
Para crianças não conservadoras da quantidade discreta, há mais trada figura no seu nome, uma ou mais vezes.
fichas no segundo desenho do que no primeiro, somente porque nele Bingo de Palavras
elas estão mais espalhadas. · Também com os nomes dos alunos se faz um Bingo de Palavras,
conforme a página 74, em que os cartões de cada aluno contêm vários
000.000 nomes, e o que é cantado pelo professor, retirando de um saco, são
nomes completos em vez de letras, como no bingo descrito acima.
Quebra-cabeça com nomes
000000 Podem ser construídos quebra-cabeças com nomes dos alunos, co-
mo indica a página 75. Podem também ser feitos quebra-cabeças so-
A leitura de texto sem imagem tem por objetivo provocar o con- mente da letra inicial de cada aluno ou com numerais.
flito para este sujeito que não acredita ser possível leitura quando só Várias apresentações do mesmo nome
há letras. Ilustra esta concepção o que aconteceu com o filho de Izaura Conforme o modelo da página 75, parte inferior, constroem-se ou-
(4 anos), alµna da 2~ turma do Curso do GEEM,PA sobre Alfal?etiza- tros tantos cartões para cada nome de um mesmo grupo de trabalho.
ção em Classes Populares (a nível de pós-graduação). Izaura e seu ma- Todos os cartões são distribuídos sobre a mesa do grupo e cada aluno
rido preparavam seu jogo na loto, interpretando fatos distintos do ho- deve encontrar todos os cartões com o seu nome, para colá-los-em seu
róscopo do jorn~I Z,f!rO Hora, correspondente ao signo de cada pessoa caderno.
da família. O filho assistia à cena quando perguntou à mãe: "Mas on-
de tu estás lendo?". A mãe lhe mostrou uma região do jornal só com 2. Produção e apresentação de textos significativos
letras. O filho retrucou: "Mas aí é impossível ler! Tu tens que olhar para cada classe.
também para estes desenhos!" (material jornalístico comercial onde.
havia fotografias de móveis e de outros produtos). O texto da página 76 é bem do cotidiano da sala de aula e foi apre-
sentado num dia em que seria servido suco de uva e pipoca na meren-
Propostas de atividades da. Este texto foi apresentado num cartaz. Para trabalhar o texto, o
professor o lê todo (se nenhum aluno ainda está alfabetizado) com en-
Na página 72 apresentamos um esquema básico da.Didática do tonação adequada. Solicita, depois, que toda a classe repita cada frase
Nível Pré-Silábico, em sua etapa avançada. após a sua leitura e volta a ler todas as frases em seqüência. Pergunta,:
mostrando o título, quem já sabe o que está escrito ali. Pode seguir
fazendo a mesma pergunta apontando outras frases e interroga se al-
1. Atividades com o nome próprio guém já é capaz de "ler" todo o texto. Evidentemente, para os alunos
não alfabetizados, não se trata de verdadeira leitura, mas de memori-
Crachás zação do texto. Após a exploração do texto no cartaz grande, ele é dis-
tribuído aos alunos, reproduzido em mimeógrafo. Isto pode ocorrer
Na página 73 vê-se o modelo do crachá de um aluno, o Valdocir,
. 64 65
no dia seguinte ao da apresentação do cartaz do texto, que permanece também aos alunos, explicando-lhes que se tratava da mesma história,
na parede da sala de aula por vários dias. Esta permanência deve vigo- só que escrita com letra emendada (página 78 sup.)
rar enquanto o texto desperta interesse e pode continuar a ser explora- Na ficha das páginas 78 inf. e 79 sup. foram utilizadas as três fi-
. do didaticamente. guras do desenho~ associando-as aos seus nomes escritos. Após pedir
· O texto individual é explorado de várias maneiras, dependendo aos alunos que ligassem imagem e palavra, solicitou-se que eles con-
do 11ível em que se encontre cada aluno. Aos pré-silábicos pode ser pe- tassem o número de letras em cada palavra e anotassem este número
dido inicialmente que repassem, com lápis colorido, cada vez que apa- dentro dos parênteses.
rece a inicial do seu nome - a sua letra. Pode-se mostrar palavras do No contexto desta atividade, pediu-se também aos alunos que en-
texto escritas em cartões de dimensões visíveis para todos os alunos, contrassem palavras que começassem como casa, como árvore e como
para que eles as 1ocalizem em sua folha mimeografada, circundando- guria. Também fizemos o jogo da reordenação oral de sílabas,
as ou sub'!inhando-as. . propondo-lhes a descoberta de palavras baralhadas pela professora. Por
Pode-se pedir que assinalem os espaços existentes no texto. Trata- .1 exemplo: re-vo-ar (árvore), a-ri-gu (guria), sa-ca (casa). _
se dos espaços entre uma palavra e outra. Procura-se com isso enfati- Incluíram-se a seguir outras palavras neste jogo de baralhar síla-
zar a existência desses espaços nem sempre visualizados pelos alunos, bas, entre elas os nomes dos alunos, como cir-do-val (Valdocir), etc.
por diversas razões de ordem psicológica. Pode-se também pedir-lhes Como lição de casa, pediu-se aos alunos que des·enhassem coisas
que escrevam nos desenhos de saquinhos de pipoca, embaixo do texto, cujos nomes começassem como a palavra "casa" (página 79 inf.).
palavras do próprio texto. É mais uma atividade que visa trabalhar o Na parte superior da página 80 consta outra atividade sobre obje-
fato de que um texto é constítuído de palavras, isto é, de todas as pala- tos cujos nomes começam do mesrno jeito, inclusive podendo ser asso-
vras que pronunciamos ao lê-lo. . ciados ou não os desenhos aos seus nomes.
A cópia de partes do texto, sobretudo como lição de casa, é uma
atividade possível de ser solicitada aos alunos. Costumamos propor- A lição de casa, se adequada, pode prolongar a
lhes que copiem, no seu caderno, os pedaços de que mais gostaram. aula. Cada aluno vai trabalhar no contexto da sua
Trata-se de uma cópia que tem significado e não somente um exercício casa, diferente do da sala de aula. Via de regra
mecânico, porque o texto, tendo sido trabalhado, adquire valor sim- vai trabalhar sozinho, o que aliás é desejável. Não
bólico e prático para os alunos na sua caminhada para a alfabetização. pensamos que seja necessário contar com familiares
Com alunos silábicos, ou no nível intermediário II ou no nível al- A lição de casa ·da criança para que ela faça seus deveres. Os pais
fabético, o tratamento de um texto como esse é bem outro, evidente- podem se associar à professora na aventura que
mente. a
é alfabetização, na qualidade de pais e não de
Seguem mais dois modelos de textos utilizados numa das classes pedagogos auxiliares. Podemos mostrar-lhes o quan-
experimentais do GEEMPA: o desenho com história da Valdereza e to eles participam por dentro do processo de apro-
o da brincadeira infantil "mamãe quero doce" com ilustração de An- priação da leitura e da escrita de modo muito es-
tônio (pp. 77, 79 inf. e 80). As páginas 78 inf., 79 e 80 sup. contêm pecial, ou seja, na posição de pais de cada criança.
fichas vinculadas .à da história da Valdereza.
A história da Valdereza surgiu da atividade de desenho em artes Na página 80 inf. vê-se a reprodução do diálogo de uma brinca-
plásticas, o que propomos regularmente (quase todos os dias), sobre- deira infantil que havia sido feita em vários recreios, pelas próprias
tudo no início do ano. Sempre que possível, a professora conversa com crianças. O texto foi então apresentado aos alunos, que o ilustraram
os alunos sobre os desenhos que eles fazem. A partir do seu desenho, como quiseram. Posteriormente foi reutilizado com o desenho do An-
Valdereza contou a história da ficha da página 77. A professora to- tônio, que o ilustra bem.
mou notas enquanto ela falava e com ela confeccionou a ficha de tra- Com este texto, visa-se possibilitar aos alunos a vinculação de um
balho em questão. Um cartaz grande também foi confeccionado com discurso oral conhecido de antemão, com a sua representação escrita.
a mesma ficha e colocado no quadro da aula. Com ele, foram realiza- Não se trata, para alunos no nível pré-silábico, de uma associação de
das atividades d.e leitura de texto, reconhecimento de letras e palavras, fonema e grafema, mas de uma macrocorrespondência do sentido glo-
como o que já foi referido a propósito no texto da merenda. Um outro bal de fala com escrita, que satisfaz muito aos alunos, que se crêem
cartaz, com o mesmo texto escrito em letra cursiva, foi apresentado leitores antes mesmo de o serem tecnicamente falando.

66 67
: 1
'I
Todos os textos costumam ser apresentados também em letra cur- · 4. Leitura de histórias
siva num carta~ coloc;ado ao lado do que é apresentado em
letras maiús-
cula~ .de imprens~. A leitura de histórias é uma parte importante da didática do nível
pré-silábico, porqúe proporciona o estabelecimento da macrocorres-
1 A apresentação simultânea de dois tipos de letras pondência de uma fala com uma escrita, num contexto com significa-
se justifica porque ·o manejo de duas representa- do rico e amplo.
t ções para uma .mesma realidade, ao invés de difi- Ela ajuda a conferir sentido à escrita, impedindo uma aprendiza-
cultar a compreensão desta realidade é, ao con- gem mecânica baseada na mera codificação e decodificação de letras.
trário, um recurso útil para o pensamento. O no- No entanto, a leitura de livros de história requer uma rigorosa se-
Dois tipos
me e apelido, sinônimo~, palavra oral e escrita ... leção, do ponto de vista dos temas tratados, da complexidade da es-
de letras
são duas representações para uina só coisa. . trutura da narração, do vocabulário utilizado, dos personagens, etc.
As letras maiúsculas de imp~ensa e a cursiva são
usada~ 'na propo~t~ d~ GEEMPA, por serem as 5. Máquina - uma concretização da idéia de transformação
mais familiares às crianças das favelas nas quais
trabalhamos. Na página 87 apresentamos um desenho de uma caixa utilizada
como máquina na sala de aula. Conversamos inicialmente com os alu-
nos sobre o que fazem as máquinas, enfatizando seu papel de trans-
3. Baralhos formadoras, isto é, que as coisas entram nelas de um jeito e saem .de
outro. Recordamos com eles a função da máquinas que eles conhecem,
Na página 81 aparecem exemplares de cartas de dois baralhos. O como a de costurar, a geladeira, o liquidificador, etc.
primeiro é constituíd.o dos pares d~s nomes e de s1,1as iniciais e o segun- Estão .indicados abaixo da máquina três tipos de transformações
do de s1.1bstantivos concretos com suas imagens correspondentes. Nes- possíveis:
sa folha aparecem somente os modelos de dois pares, porém muitos a. entrar palavras e sair o número de suas letras;
outros devem ser feitos, como nos. baralhos comuns desses jogos (me- b. a partir da palavra GEEMPA, entrar uma de suas letras e sair
mória e mico) para crianças dessa iqade. No baralho com os nomes
1
1 a que lhe vem imediatamente depois;
podem aparecer todos o.s .nomes dos colegas de aula: · c. entrar desenho e sair a palavra que o designa.
i' As regras para utilizá-los equivale~ às convencionais para os jo-
gos de memória ou mico-preto. 6. Diversificação das atividades
i' O jogo em sala de aula apresenta importante con- Embora estejamos tratando de atividades para o nível pré-silábico,
!
l ! tribuição à aprendizagem. O jogo de competição é necessário ressaltar que o trabalho normal numa classe de alunos cos-
põe em ação considerável soma de energias que tuma produzir níveis diferentes de desenvolvimento na aquisição da lei-
dificilmente poderiam ser mobilizadas com uma tura e da escrita, o que vai exigir uma diversificação de certas ativida-
tarefa escolar do tipo convencional. Enfatizamos, des em sala de aula e da lição de casa.
O jogo como portanto, que jogar não significa uma atividade A partir do livro Dinomir - o Gigante, seguem três fichas com
atividade sem esforço - muito ao contrário. Por outro la- níveis ascendentes de complexidade.
didática do, o jogo implica a superação da frústração de Na página 88 concentramos atividades que visam enfatizar a or-
perda, porque necessariamente alguém perde. A dem das letras numa palavra, o número de letras e/ou a inicial de pa-.:·
capacidade de superar frustrações é uma exigên- lavras cujo nível de complexidade se ajusta ao nível pré-silábico. Pede-
cia inerente à aprendizagem verdadeira, que com- se também a cópia de uma frase inteira.
preende no seu bojo o reconhecimento de erros. As duas séries embaixo visam ajudar os alunos a distinguir a posi-
Os erros se infiltram em toda a construção do sa- ção de certos traçados (números ou letras) com duas rotações diferen-
ber, no sentido de que conhecimento e ignorân- tes, a saber:
cia vêm sempre juntos. · 18.0° para o 6, o que o transforma no 9

68 69

li
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V
1
!
! 90° para o N, o que o transforma no Z. · da de curvas e/ou de segmentos retilíneos, etc.), até a escrita de pala-
1· A página 89 se destina a alunos que já tenham atingido um domí- vras ou frases.
nio maior de certos aspectos da leitura e da escrita. Por exemplo, que Por outro lado, os alunos devem trabalhar séries como a:; que ve-
. eram capazes .de distinguir uma palavr~ de outra numa frase, que já mos na página 100 inf., explorando as letras em diversas posições e
associavam palavras do livro ao.seu significado e que reconheciam a tamanhos .
1 . correspondência da leitura cursiva à de jornal. ·
·A página 90 se destina a alunos no nível alfabético capazes de ma- 10. Sons das letras
nipular sílabas e interpretar perguntas, escrevendo suas respostas.
J A associação do som à letra passa pela dimensão sócio-afetiva das
7. Andlise de palavras iniciais de nomes que sejam muito significativos às crianças. Através
da constatação de que vários nomes começam por certas letras espe-
1 1
No nível pré-silábico, as análises possíveis de palavras devem gi- cialmente importantes para elas, as crianças começam a se dar conta
1 rar em torno da letra inicial, do número de letras, da sua ·ordem, da de que determinadas letras estão associadas a determinados sons.
letra final, do tipo de grafemas que aparecem ou da forma das letras. Explorar, portanto, o universo das palavras mais significativas às
Nas páginas 91, 92 e 93 sup., aparecem sugestões sobre alguns des- crianças é uma ajuda valiosa para que elas aprendam o som das letras.
tes aspectos, a saber: a inicial e a ordem das letras. Neste sentido, é que propomos o Tesouro.* Nele se escrevem para
A página 93 inf. e 94 sup. trata do grafismo das letras. Atividades os alunos os.nomes das coisas, pessoas ou animais de que eles mais
semelhantes podem ser feitas a respeito do número de letras ou da !e- · gostam. Antes de construir o Tesouro individual de cada aluno, pro-
tra final. pomos o Tesouro da classe, o qual vai sendo enriquecido cada vez que
mais uma palavra se torna importante para aqueles alunos. Tanto com
8. Atividades em torno de uma vivência o Tesouro da classe como com as palavras dos Tesouros individuais,
muitas atividades podem· ser realizadas na linha da análise das pala-
As atividades em classe terão maior aproveitamento se forem uti- vras. .
lizados textos e palavras de um universo semântico relativo a uma vi- A pesca dos peixinhos com desenhos de objetos e a inicial do no-
vência atual e significativa para os alunos. me deste objeto propicia também a ênfase no som inicial das palavras.
Neste sentido, seguem várias fichas em torno de uma visita feita Isto se dá de modo especial com a colocação de cada peixinho numa
por d~as classes experimentais de escolas da periferia de Porto Alegre geladeira imaginária onde, a cada prateleira, corresponde uma letra do
à sede do GEEMP A. alfabeto. Os objetos desenhados nos peixes são selecionados dentro de
O trabalho iniciou com um texto sobre a visita que ainda não ti- uma pesquisa das palavras mais significàtivas a cada classe de alunos,
com iniciais de A a Z. Ver páginas 105 e 106.
nha sido realizada, seguindo-se outro ligado à visita efetuada, confor-
me páginas 94 inf. a 103.

9. Forma e posiç{io das letras

É necessário, ao longo .do processo de alfabetização, que a crian-


ça faça o reconhecimento das letras, tanto nas suas formas como na
posição arbitrária em que as formas devem ser consideradas. Para is-
so, é importante trabalhar desde o nível pré-silábico com muitos alfa-
betos; junto com os alfabetos, devem estar também algarismos de O
a 9.
Com eles, .muitas atividades podem ser propostas, desde jogos li-
vres de manipulação, passando por jogos de análises das propriedades
das letras (possuir, ou não, interiores, número de pontes, ser constituí- * O Tesouro significa, para os alunos, um conjunto de palavras.

70 71
Didática da alfabetização

Nível pr.é-silqbico

º----
· [associação palavra X; objeto
Palavras memorização global de p.alavras
. análise· de palavras VALDOCIR

maiúscula de imprensa VER REVEl\5


aspectos gráficos
em dois tipos de letra~ [ e cursjva
Letras aspectos sonor~s através' de Desde o início do ano letivo cada aluno ganha o seu crachá. Cada dia há
ini~iais ·~e palavras significativas um jeito diferente de distribuí-los.
e
distinção entre .letras números

discurso oral
X texto escrito.
aspectos semânticos imagem-escrita
{ suportes de texfo
Textos
letras e palavras
aspectos gráficos textos
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distribuição espacial
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72 73
Atividades com o .nome próprio Quebra-cabeça com nomes

VERSO REVEllSO

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MAR.CE. "-O ~
A M \ L TON ~
'JAL OE. RE 'Z.A
.~ Correspondência entre o mesmo nome em letras, tamanhos ou posições
diferentes
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L\JCI ANA ~
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[ ES'T~ER.
Cada aluno ganha um cartão com seis nomes de colegas. Cada cartão de-
ve ser difeq:nte do outro.
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Os cartões com o nome de cada aluno ficam num saco para serem tirados
e "cantados". Quem tiver o nome no seu cartão, marca com um palito.
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Com estes baralhos pode-se jogar memória e mico. Uma das cartas não
forma par e é o mico.

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O ~E.~MÇ>A E l>'- \Ot)O~ ·NO~, (. ••• .1

Nota: todas estas atividades esi;ritas devem vir depois de atividades de mani-
pulação ~om ~s l~~r~ grandes cm madei.~a.

O GrEEMPA
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i ~l.; Nota: nesta ficha, as frases do texto "a visita no GEEMPA" estão fora de
1';: ordem. Pede-se aos alunos que as reordenem, colando-as no sep caderno de
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acordo com o texfo-base. Para isso, usando tesoura eles as destacam uma a
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uma seguindo os traços.
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\E \rn} \ l \ Pescaria e geladeira
Pescaria: cada criança "pesca"
um peixinho e coloca na geladei-. •
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[BfO'laJ~t '1 l lavra ou figura do peixinho.

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