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Módulo Tributo e Segurança Jurídica

SEMINÁRIO I – DIREITO TRIBUTÁRIO E CONCEITO DE TRIBUTO

Aluna: Láisa Oliveira dos Santos


Turma/Data da aula: Terça-feira, 16/08/2022.

1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Explique.

Na minha opinião, direito é um conjunto de normas que visam orientar as condutas dos
cidadãos e que busca a convivência harmônica em sociedade. É texto que comunica, que faz
parte e engloba os objetos culturais.

Para o Professor Paulo de Barros Carvalho [CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito
Tributário. 30. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 42],, o direito positivo e a ciência
do direito “são dois mundos que não se confundem”, e detém peculiaridades que os
diferenciam nitidamente. No seu entendimento, o direito positivo é direito positivo é o
“complexo de normas jurídicas válidas num dado país”, já a ciência do direito “cabe descrever
esse enredo normativo, ordenando-o, declarando sua hierarquia, exibindo as formas lógicas
que governam o entrelaçamento das várias unidades do sistema e oferecendo seus conteúdos
de significação”.

Assim, partindo do entendimento do Professor Paulo de Barros Carvalho, no meu


entendimento tudo que está no direito positivo é prescrição, é ordem, ele regula condutas.
Já a ciência tem como objeto de estudo o direito positivo.

2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais dessas
hipóteses são consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado pela União
a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da
Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17) (anexo
III); (iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); (iv) o
tributo inserido na base de cálculo de outro tributo.

De acordo com o artigo 3º do CTN, o tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em


moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Entendo que a previsão contida no artigo 3º do CTN é uma definição, não um conceito, tendo
em vista a diferença entre as aludidas previsões.

No meu entendimento de acordo com a leitura da doutrina e da jurisprudência:


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i) o valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de


controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda – é um tributo. De acordo com o
entendimento do STF, os valores exigidos de ressarcimento têm como origem o
exercício do poder fiscalizatório, para evitar que as empresas produtoras de bebidas
incidam em evasão fiscal, de modo que o aludido tributo tem natureza jurídica de
taxa.
ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17) – não é tributo. Com
as inovações da reformada trabalhista (artigos 579 e seguintes da CLT), a contribuição
sindical deixou de ter natureza jurídica de tributo, porque lhe falta a compulsoriedade.
iii) tributo instituído por meio de decreto – é inconstitucional, porque não fora instituído
por lei, tal como exige o artigo 3º do CTN.
iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo – se a lei assim o determinar, é
possível a cobrança, e desde que atendidos os requisitos do artigo 3º do CTN.

3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma jurídica
sem sanção? Justifique.

Norma jurídica é uma regra, cujo objetivo é regular o comportamento/procedimento que


regula determinado comportamento ou procedimento. A norma é o elemento que caracteriza
o direito. É o “mínimo irredutível de manifestação do deôntico”.

Nas palavras do Professor Paulo de Barros Carvalho, “a norma é proposição prescritiva


decorrente do todo que é o ordenamento jurídico” [CARVALHO, Paulo de Barros, Direito
Tributário: linguagem e método, 6ª edição, São Paulo: Noeses, 2015, pgs. 143-146].

No posicionamento do Ilustre Professor, a norma jurídica completa é formada por duas


entidades: a norma primária e a norma secundária. A norma primária é àquela que estipula o
dever, a conduta, enquanto que a norma secundária é àquela que estipula a sanção, na
hipótese de eventual descumprimento do que foi estabelecido como “dever”/”conduta” na
norma primária.

Por esta razão, lastreada no aludido posicionamento, entendo que não se pode falar em nome
jurídica sem sanção.

4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e


norma jurídica? Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em sentido
amplo e norma em sentido estrito.
Todas elas são espécies normativas, divididas em abstrata, geral, concreta, individual.
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O documento normativo é o suporte material onde a linguagem é registrada. É a legislação no


seu suporte físico. Já o enunciado prescritivo é o significado, é o dado objetivo, o artigo para
saber quais condutas estão sendo reguladas pelo direito.

A proposição é o raciocínio, a cognição do sujeito a respeito do documento normativo e do


enunciado prescritivo. A Norma jurídica, por sua vez, é a significação jurídica estruturada na
forma hipotético-condicional, nas palavras do Professor Paulo de Barros.

5. Com base em sua resposta dada na questão 2, responda:


a) O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em infrações de
trânsito é uma utilização do tributo como “sanção de ato ilícito”?

Entendo que não é sanção por ato ilícito, uma vez que trata-se de um mero incentivo pelo
cumprimento da lei, um benefício fiscal, visto que aquele que cometeu infrações de trânsito
não será penalizado, mas sim pagará o tributo na integralidade, deixará, portanto, de gozar
do benefício.

b) E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade? Responda


fundamentadamente e considere para sua resposta as seguintes afirmações do autor
Fernando Favacho: “a definição conotativa do art. 3º do CTN conflita com a definição
denotativa do art. 182 da CF. Em suma, a Constituição traz um tributo (IPTU sancionatório
progressivo) que, para o CTN, não é tributo”1 e “o IPTU sancionatório progressivo é tributo,
a par do mandamento do CTN”2.

No meu sentir, a progressividade não é sanção por ato ilícito. É, na verdade, o exercício da
extrafiscalidade.

6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à seguinte
sentença: “Direito tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as relações
jurídicas entre o Fisco e os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e
fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito tributário”.

A sentença indicada mescla características do Direito Positivo ao indicar que o direito

1. FAVACHO, Fernando Gomes. Definição do conceito de tributo. São Paulo, 2010. p. 33.

2. Idem. Loc. cit.


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tributário é “ramo do Direito Positivo”, com características da Ciência do Direito ao dizer que
o direito tributário “estuda”.

É daí que surge a necessária ponderação e críticas sobre a frase referenciada, clássica
definição do direito tributário.

No meu entendimento, o direito tributário positivo é ramo do direito positivo, formado pelo
conjunto de enunciados prescritivos que regulam as condutas relativas à instituição,
arrecadação e fiscalização dos tributos.

Já a ciência do direito tributário é ramo da ciência do direito, formado pelos conjuntos de


enunciados descritivos acerca das condutas reguladas pelo direito positivo, concernentes a
instituição dos tributos. Diferente, pois do direito tributário positivo, que prescreve, a ciência
estuda, não altera o sistema normativo jurídico.

Nas palavras do Professor Paulo de Barros Carvalho:

“(...) Estamos em que o direito tributário positivo é o ramo didaticamente autônomo do


direito, integrado pelo conjunto das proposições jurídico normativas que correspondam,
direta ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos.
Compete à Ciência do Direito Tributário descrever esse objeto, expedindo proposições
declarativas que nos permitam conhecer as articulações lógicas e o conteúdo orgânico desse
núcleo normativo, dentro de uma concepção unitária do sistema jurídico vigente.”

7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício):


Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de 10/10/2017
A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa,
Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o
exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades.
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização de
mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos.
Art. 3º A alíquota é de 3%.
Art. 4º Contribuinte é Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade
de exploração ou aproveitamento econômico.
Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia de
recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento
do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido.
Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte,a autoridade fiscal
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competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50%
sobre o valor da taxa devida.
Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo
destinados à atividade agropecuária
(...)
Pergunta-se:
a) Quantas normas há nessa lei? Identifique-as.

São sete as normas jurídicas contidas na aludida Lei, quais sejam:

1ª Regra matriz de incidência tributária = institui o tributo


2ª Norma de pagamento = estipula a periodicidade e prazo para o recolhimento
3ª Norma de obrigação acessória = preenchimento de guia
4ª Norma sancionadadora = não pagamento do tributo e por descumprimento da obrigação
acessória;
5ª Norma administrativa = se verificar a ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo
contribuinte
6ª Norma sancionadora pelo descumprimento do dever instrumental
7ª Norma de isenção = “Se a utilização de recurso hídrico na captação e consumo forem
destinados à atividade agropecuária”
8ª Norma introdutória = veículo introdutor “dado que a Assembleia Legislativa do Estado de
Minas Gerais sancionou a Lei Estadual nº 2.017, em 10/10/2017...”

b) Qual dessas normas institui tributo?

Entendo que apenas a 1ª norma institui tributo, levando-se em consideração a própria


definição do tributo prevista no artigo 3º do CTN.

c) Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar.

Todas as normas são estudadas pela ciência do direito, com exceção da norma isentiva prevista
no art. 7º.

d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justifique.

Penso que não é ciência do direito, na verdade, trata-se do direito positivo que é objeto de
estudo da ciência do direito.

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