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Auditor: José Bunga Paulo André.

Turma: C | Sala: 5 | Período: Manhã | INEJ – 2022.

GUIA DE RESOLUÇÃO DO CASO PRÁTICO - IMPÉRIO

1. - DO MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA COLETÁVEL

A Administração tributária utilizou o método indirecto para a determinação da matéria


colectável, com fundamento no incumprimento de obrigações declarativas, ou seja, falta de
apresentação das declarações, nos termos e prazos legais.

Nos termos do disposto no n.º 1 e 2 do art.º 106.º do Código Geral Tributário, o regime
regra é o método de determinação directa da matéria colectável e excepcionalmente aplica-se
o método de determinação indirecto nos casos em que se verifique a falta, insuficiência ou
ausência de elementos comprovativos dos dados já declarados pelo contribuinte. Ora,
analisando os factos já descritos, verificamos que a Administração Tributária não lhe assistia
razão para ter optado pelo método de determinação indirecto.

2. - DA RECLAMAÇÃO DO APURAMENTO DA MATÉRIA COLETÁVEL

Nos termos do artigo 74º do Código do Imposto Industrial os sujeitos passivos de Imposto
Industrial e as pessoas solidárias ou subsidiariamente responsáveis pelo pagamento do
imposto,cpodem reclamar ou impugnar a respectiva liquidação, efectuada pelos serviços da
administração tributária, com os fundamentos e nos termos estabelecidos no Código Geral
Tributário e no Código do Processo Tributário.

Saldanha Sanches define que “A reclamação graciosa feita pelo contribuinte é destinada
a obter uma reanálise de uma certa situação pela Administração Fiscal, constituindo a via
normal de resolução de um litígio entre o sujeito passivo do imposto e o Fisco”.

Nos termos do artigo 107º da Código Geral do Tributário a reclamação é um direito que
assiste ao contribuinte, quando a Administração Tributária proceder a determinação da
matéria colectável com base no método indirecto, sem ter em atenção a declaração dos
contribuintes.

Ora, depreende-se dos factos que o contribuinte, decidiu reclamar do acto tributário de
liquidação oficiosa junto da Repartição Fiscal competente, essa por sua vez não se pronunciou
sobre a referida reclamação, tendo seguidamente procedido à penhora do dinheiro do
contribuinte, domiciliado nas suas contas bancárias.

Nos termos do artigo 109º nº 1, do Código Geral Tributário, com as alterações feitas pela
Lei nº 21/20, de 20 de Julho, a reclamação do apuramento da matéria colectável, deve ser
dirigida ao chefe da Repartição Fiscal competente nos 30 dias posteriores à notificação ao
contribuinte sobre a matéria colectável fixada.

Nesse seguimento, prevendo a lei o prazo de 30 dias para o Contribuinte fazer a respectiva
reclamação, este, apesar de ter sido notificado no dia 21 de Janeiro de 2022, veio reclamar no
dia 24 de Fevereiro de 2022, 3 (três) dias depois do prazo legalmente estabelecido, pelo que a
sua reclamação é extemporânea, incumbindo a Repartição Fiscal o dever de indeferir o
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requerimento de reclamação do contribuinte e comunicado a razão do indeferimento, facto que
não ocorreu por parte da Administração Tributária.

Apesar da falta de pronunciamento da Administração Tributária dentro do prazo legal


para se pronunciar sobre a reclamação feita pelo contribuinte, faz presumir indeferida a
reclamação, constituindo essa falta de pronunciamento fundamento para impugnação judicial,
nos termos do artigo 90º nº 6 Lei nº 21/20, de 20 de Julho.

3. - DA PENHORA

Do caso, depreende-se que a Repartição Fiscal procedeu de seguida a penhora, o que nos
remeta para a matéria das execuções fiscais, cujo regime jurídico vem regulado pela Lei n.º
20/14, de 22 de Outubro - Código das Execuções Fiscais, doravante CEF.

Nos termos do artigo 2º da lei supra o processo de execução fiscal tem natureza judicial,
sem prejuízo da competência do Chefe da Repartição Fiscal ou de outras entidades que a lei
designar para, no referido processo, praticar, sob controlo do juiz, actos materialmente
administrativos.

Nesses termos a penhora do dinheiro do contribuinte, foi feito nos termos do artigo 97º
nº 2, al. c) do CEF. E nos termos do artigo 113º nº 1 do CEF a penhora de dinheiro ou outros
valores depositados em contas bancárias, bem como de objectos guardados em instituições de
crédito é sempre notificada à instituição de crédito depositária por carta registada com aviso de
recepção, ficando a partir da data de recepção da carta, o saldo credor da conta bancária até ao
valor da penhora ou o objecto penhorado colocado em situação de indisponibilidade.

Tendo sido penhora o dinheiro do contribuinte, esse por sua vez sua poderia opor-se a ela
nos termos do artigo 88º do CEF, com o fundamento na inadmissibilidade da penhora dos bens
concretamente apreendidos, por serem absoluta ou relativamente impenhoráveis ou na
Incidência da penhora sobre bens que legalmente não poderiam responder pela dívida
exequenda, nos termos das al. a) e d) do artigo 89º do CEF, no prazo de 10 dias nos termos do
artigo 90º nº 1 do CEF, ou lançar mão a um processo judicial, nos termos da lei, facto que
ocorreu conforme nos ilustra o caso prático sub judice.

4. - DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL

Atento a actual organização judiciária em Angola, sabe-se que as demais provínciais além
de Luanda ainda não têm instaladas todas as salas com competências específica para cada
jurisdição. Nessa senda, o nº 2 do artigo 7º da Lei 22/14 de 5 de Dezembro (Lei que aprova o
Código do Processo Tributário) estabelece que é competente, a Sala do Cível e Administrativo
do Tribunal da Comarca ou Provincial (ex vi Lei nº 29/22, de 29 de Agosto), no que respeita
aos litígios previstos no número anterior, enquanto não forem criadas e instaladas Salas do
Contencioso Fiscal e Aduaneiro, excepto na Província de Luanda.

Neste caso, sabendo que na Província do Cunene não ter a Sala do Contencioso Fiscal e
Aduaneiro para dirimir conflitos entre os contribuintes e a Administração Fiscal, deve a acção
ser proposta na Sala do Civil e Administrativo do Tribunal competente (a data dos factos), ex
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vi no n.º 2 do artigo 7º da Lei 22/14 de 5 de Dezembro. Destarte, o Tribunal onde o contribuinte
intentou a acção é competente para conhecer e julgar o mérito da causa.

5. - DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO

Nos termos do artigo 3º al. e) da Lei n.º 22/14, de 5 de Dezembro - Código de Processo
Tributário, são subsidiária e sucessivamente aplicáveis às lacunas do CPT o Código de
Processo Civil e demais legislação processual civil.

Ademais, nos termos do do artigo 107º al. a) do CPT as sentenças são susceptíveis de
recurso ordinário para o Tribunal Supremo a interpor, processar e julgar, no que não estiver
previsto no presente Código, nos termos do recurso de agravo em processo civil. Nos termos
do artigo 109º do CPT o recurso ordinário para a o caso de sentença, pode ser interposto dentro
do prazo de 15 (quinze) dias a contar da data da notificação.

O recurso interposto pela Administração Tributária apesar de tempestiva e feita dentro


do prazo, peca pelo tipo de recurso interposto (apelação), uma vez que o próprio artigo 107º do
CPT já estatui o recurso de agravo como sendo o tipo legal de recurso que deve ser interposto
em sede do contencioso fiscal e aduaneiro.

Com esse fundamento, o tribunal de recurso limitar-se-ia a ela para indeferir o recurso.
Entretanto, passo a análise dos fundamentos que a Administração Tributária alegou no seu
requerimento de interposição de recurso.

A) INTEMPESTIVIDADE DA IMPUGNAÇÃO JUDICIAL

Nos termos do artigo 24º do CPT oprazo para a interposição de acções ou de


impugnações reguladas no presente Código conta-se, nos termos do Código Civil. Os prazos
do processo judicial tributário contam-se, nos termos do Código de Processo Civil, sem
prejuízo do regime especial dos processos urgentes.

Ademais, o prazo para impugnação judicial dos actos anuláveis é de 60 dias, nos termos
do artigo 62º do Código de Processo Tributário (CPT). Nesse seguimento, o contribuinte esteve
dentro do prazo para impugnar judicialmente o acto praticado pela Administração Tributária,
uma vez que efectou a reclamação não teve qualquer resposta dentro do prazo legalmente
estabelecido, dando azo para que o contribuinte impugnasse judicialmente por força desse
silêncio da Administração Tributária.

B) INTEMPESTIVIDADE DA RECLAMAÇÃO

Já foi apreciada anteriormente, ou seja, a lei prevê o prazo de 30 dias para o Contribuinte
fazer a respectiva reclamação, no acaso em apreço o contribuinte reclamou 3 (três) dias depois
do prazo legalmente estabelecido, pelo que a sua reclamação é extemporânea, a data dos factos
a Administração Tributária estava legitimada para indeferir a reclamação do contribuinte com
fundamento na intempestividade da mesma, o que não ocorreu por parte da Administração
Tributária.
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C) DA PRECEDÊNCIA OBRIGATÓRIA

Nos termos do nº 4 do CPT a impugnação judicial dos actos referidos no n.º 1 do presente
Artigo, praticados pela Administração Tributária, não depende de prévia reclamação ou recurso
hierárquico, ou seja, a impugnação judicial de actos lesivos aos direitos dos contribuintes, não
carece da regra da precedência obrigatória, assim, o contribuinte tem a faculdade de lançar mão
ou não aos meios graciosos de impugnação dos actos lesivos aos seus direitos, fazendo jus o
princípio da tutela jurisdicional efectiva prevista no artigo 29º da CRA e 4º do CPT.

Nessa conformidade, não colhe o fundamento de que o juiz não devia conhecer do mérito
da causa, sem que o contribuinte fizesse previamente o recurso hierárquico.

D) DA INCOMPETÊNCIA MATERIAL DO TRIBUNAL

A anterior e a actual organização judiciária em Angola, estabelecem que as demais


provínciais além de Luanda ainda não têm instaladas todas as salas com competências
específica para cada jurisdição.

Para o caso sub judice, fazemos recurso ao nº 2 do artigo 7º da Lei 22/14 de 5 de


Dezembro (Lei que aprova o Código do Processo Tributário) que estabelece que é competente,
a Sala do Cível e Administrativo do Tribunal da Comarca “ou de Comarca” conforme a
província já tenha instalado os tribunais de comarca, no que respeita aos litígios previstos no
número anterior, enquanto não forem criadas e instaladas Salas do Contencioso Fiscal e
Aduaneiro, excepto na Província de Luanda.

Destarte a Província do Cunene não tendo Sala do Contencioso Fiscal e Aduaneiro para
dirimir conflitos entre os contribuintes e a Administração Fiscal, a acção deveria e foi
devidamente interposta na Sala do Civil e Administrativo do Tribunal competente, ex vi no n.º
2 do artigo 7º da Lei 22/14 de 5 de Dezembro.

Porquanto, o Tribunal onde o contribuinte intentou a acção é competente para conhecer


e julgar o mérito da causa.

E) DO INDEFERIMENTO DO RECURSO PELO TRIBUNAL DA RELAÇÃO

Já ficou devidamente salientado a priori que as decisões judiciais podem ser impugnadas
por meio de recurso ordinário e extraordinário, nos termos dos artigos 107.º e 120.º do Código
do Processo Tributário respectivamente. Sendo o recurso ordinário, apelação, revista, agravo e
o recurso para o tribunal pleno.

Nos termos do artigo 109º do CPT o recurso ordinário para a o caso de sentença, pode
ser interposto dentro do prazo de 15 (quinze) dias a contar da data da notificação, dos factos
vertidos no presente caso prático, a Administração Tributária recorreu depois de 8 dias da data
da notificação da sentença, sendo assim essa interposição do recurso plenamente tempestiva,
pelo que o Tribunal da Relação não deveria indeferir o recurso com esse fundamente, mas com
qualquer um dos fundamentos anteriormente elencados.

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