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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.867.694 - MT (2020/0067076-4)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


RECORRENTE : ALESSANDRA CAMPOS DE ABREU NICOLI
RECORRENTE : ALESSANDRO NICOLI
ADVOGADOS : ROBERTA MARIA RANGEL - DF010972
EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680
ADVOGADOS : JOANA D'ARC AMARAL BORTONE - DF032535
LUIS GUSTAVO SEVERO - DF034248
ALLISON GIULIANO FRANCO E SOUSA - MT015836
MAYARA DE SA PEDROSA - DF040281
SOC. de ADV. : RANGEL ADVOCACIA
RECORRIDO : BAYER S/A
ADVOGADOS : CELSO UMBERTO LUCHESI - SP076458
ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA FREITAS - SP166496
RECORRIDO : LOUIS DREYFUS COMPANY BRASIL S.A
ADVOGADOS : RENATO LUIZ FRANCO DE CAMPOS - SP209784
CARLOS MACEDO BARROS E OUTRO(S) - DF050253
JOAO GRANDINO RODAS E OUTRO(S) - SP023969
MARCO AURÉLIO TAVARES FRANCISCO E OUTRO(S) - SP215973
RECORRIDO : FIAGRIL LTDA
ADVOGADO : BRUNO ALEXANDRE DE OLIVEIRA GUTIERRES - SP237773
RECORRIDO : NICOLI AGRO LTDA
ADVOGADOS : EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DISCUSSÃO ACERCA DA VALIDADE DE


ATOS CONSTRITIVOS REALIZADOS EM EXECUÇÕES INDIVIDUAIS POR OCASIÃO DO
SOBRESTAMENTO E REFORMA, PELO TRIBUNAL ESTADUAL, DA DECISÃO QUE HAVIA
DEFERIDO O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROVIMENTO JUDICIAL
FINAL QUE RECONHECE O ACERTO DA DECISÃO QUE DEFERIU O PROCESSAMENTO DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL, COM O RESTABELECIMENTO DE TODOS OS SEUS EFEITOS
LEGAIS, DESDE A SUA PROLAÇÃO. RECONHECIMENTO. CRÉDITOS REPRESENTADOS
POR CÉDULAS DE PRODUTO RURAL GARANTIDAS POR PENHOR RURAL. SUBMISSÃO
AO PROCESSO RECUPERACIONAL. JUÍZO ACERCA DA ESSENCIALIDADE DOS BENS
ARRESTADOS. DESCABIMENTO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. Controverte-se no presente recurso especial sobre a validade e a subsistência dos atos
executivos realizados no bojo de execuções individuais promovidas por credores contra os
produtores rurais (ora recorrentes), consistentes no arresto, no depósito e a na remoção de
produtos agrícolas, objeto de garantia pignoratícia, em interregno no qual a decisão de
deferimento do processamento da recuperação judicial dos executados havia sido reformada
pelo Tribunal estadual.
2. Uma vez deferido o processamento da recuperação judicial, este passa a ser o marco
inicial legal de suspensão de todas as execuções individuais que fluem contra o empresário
recuperando, a atrair a competência do Juizo recuperacional para decidir sobre os bens
daquele. Ainda que esta decisão seja objeto de impugnação recursal, o provimento judicial
final que venha a reconhecer o acerto da decisão que deferiu o processamento da
recuperação judicial do empresário tem o condão de manter incólumes todos os efeitos
legais dela decorrentes, desde a sua prolação.
2.1 Entendimento contrário esvaziaria por completo a recuperação judicial do empresário
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que obteve em seu favor o deferimento do processamento desta – confirmado em provimento
judicial final –, caso se convalidasse a constrição judicial e o levantamento do patrimônio do
recuperando em favor de determinados credores exarados no âmbito de execuções
individuais, durante a tramitação dos correlatos recursos por período absolutamente
indefinido, em detrimento dos demais credores também submetidos ao processo
recuperacional.
2.2 A suspensão de todas as execuções contra o empresário em recuperação judicial
consiste em benefício legal absolutamente indispensável para que este, durante o stay
period, possa regularizar e reorganizar suas contas, com vistas à reestruturação e ao
soerguimento econômico-financeiro, sem prejuízo da continuidade do desenvolvimento de
sua atividade empresarial.
3. A validade dos atos executivos realizados no bojo das execuções individuais, no interregno
em que a decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial encontra-se
sobrestada ou mesmo reformada (porém, sujeita a revisão por instância judicial superior),
fica condicionada à confirmação, por provimento judicial final, de que o empresário, de fato,
não fazia jus ao deferimento do processamento de sua recuperação judicial. O credor
assume os riscos de prosseguir com a sua execução individual, ao ensejo do sobrestamento
ou da reforma provisória da aludida decisão. Em se confirmando o acerto da decisão que
deferiu o processamento da recuperação judicial, com o restabelecimento de todos os seus
efeitos desde a sua prolação, os atos executivos realizados no âmbito das execuções
individuais tornam-se absolutamente nulos.
4. Revela-se de todo descabido, para efeito de validade e subsistência dos atos executivos
em comento, aferir a essencialidade dos bens arrestados, a pretexto de aplicação da parte
final do § 3º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005, como procedeu o Tribunal estadual. Os
créditos em análise (representados por cédulas de produto rural garantidas por penhor rural)
não se subsumem a nenhum daqueles descritos no § 3º do art. art. 49 da Lei n. 11.101/2005
(entre os quais, o de titularidade de credor titular da posição de proprietário fiduciário),
reputados extraconcursais. Nos termos do art. 41, II, da LRF, os créditos com garantia real,
como é o caso do penhor, submetem-se, indiscutivelmente, ao processo recuperacional.
5. Reconhecida a invalidade dos atos constritivos realizados no bojo das execuções
individuais, os ora recorridos haverão de proceder à disponibilização dos bens arrestados
aos recorrentes, sob a supervisão e sob os critérios a serem determinados pelo Juízo da
recuperação judicial, a quem compete, também, deliberar sobre eventual pedido, por parte
dos recuperandos, de alienação dos bens, objeto de garantia, para dar continuidade às suas
atividades ou para dar consecução aos termos do Plano de recuperação judicial a ser
submetido à Assembleia Geral Credores.
6. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, dar provimento ao recurso
especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Votou vencido o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino
(Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 06 de outubro de 2020 (data do julgamento).

MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.867.694 - MT (2020/0067076-4)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

Alessandro Nicoli e Alessandra Campos de Abreu Nicoli — ambos em


recuperação judicial — interpõem recurso especial, fundado nas alíneas a e c do
permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de
Mato Grosso (Agravo de Instrumento n. 1015139-31.2019.8.11.0000).

Extrai-se dos autos que Alessando Nicoli, Alessandra Campos de Abreu


Nicoli — ambos na qualidade de empresários rurais, inscritos na Junta Comercial do
Estado de Mato Grosso em 29/11/2018 — e Nicoli Agro Ltda., integrantes do Grupo Nicoli,
requereram, em 6/12/2018, pedido de recuperação judicial (e-STJ, fls. 87-136), cujo
processamento foi deferido pelo Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Sinop/MT.

Não obstante, o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso conferiu


provimento à insurgência recursal manifestada por um dos credores (Louis Dreyfus
Company Brasil S.A.), por reputar não comprovado o exercício da atividade agrícola pelo
período de 2 (dois) anos contados do registro, para indeferir "o processamento da
Recuperação Judicial n. 1011782-32.2018.8.11.0015 da r. Vara Cível da Comarca de Sinop
em relação a Alessandro Nicoli e Alessandra Campos de Abreu Nicoli".

Nesse interregno – em que houve a suspensão dos efeitos da recuperação


judicial em relação aos produtores rurais Alessandro Nicoli e Alessandra Campos de Abreu
Nicoli –, três de seus credores (Friagil Ltda., Louis Dreyfus Company Brasil S.A. e Bayer
S.A.), no bojo das respectivas ações executivas, lograram êxito em obter o arresto, o
depósito e a remoção de "14.130.518 kg (quatorze milhões, cento e trinta mil e quinhentos
e dezoito quilos), equivalentes à aproximadamente 235.508 (duzentos e trinta e cinco mil e
quinhentos e oito) sacas de grãos de soja, "ou seja, toda, absolutamente toda, a produção
de soja 2018/2019 dos recuperandos" (e-STJ, fl. 15-16).

Especificamente em relação ao acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do


Estado de Mato Grosso, que havia indeferido o processamento da recuperação judicial em
relação a Alessandro Nicoli e Alessandra Campos de Abreu Nicoli, saliente-se que seus
efeitos foram sobrestados em razão do deferimento de tutela de urgência, por esta

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relatoria, no âmbito da TP n. 2.107/MT.

Diante desse quadro, Alessandro Nicoli e Alessandra Campos de Abreu


Nicoli requeram ao Juízo recuperacional que tornasse sem efeito os arrestos efetuados no
âmbito das execuções individuais, para determinar que "os credores LCD, Friagil e Bayer
disponibilizassem os certificados de depósito dos armazéns onde se encontram os
produtos arrestados, autorizando a venda pelos recuperandos ou, alternativamente, que os
credores depositassem em Juízo o valor correspondente ao que cada um arrestou"
(e-STJ, fl. 16).

O Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Sinop/MT, em que se


processa a recuperação judicial do Grupo Nicoli, indeferiu o pedido, com base na seguinte
fundamentação, com destaque no que importa à presente controvérsia (e-STJ, fls. 53-59 -
sem grifos no original):

Vistos etc.
1. ID. 22786629 - pedidos de liberação/restituição/venda e/ou
depósitos de valores referentes a soja arrestada.
1.1. Os recuperandos, sob o fundamento de que se tratam de
ativos essenciais ao soerguimento do grupo, pretendem que
os credores LDC, Fiagril e Bayer disponibilizem os certificados
de depósito dos armazéns onde se encontram os produtos
arrestados, sendo autorizada a venda pelos recuperandos ou,
alternativamente, que os credores depositem em Juízo o valor
correspondente ao que cada um arrestou.
[...]
3.2. Por outro lado, insta consignar que os recuperandos, sabedores
da situação em que se encontravam (crise financeira), ao ingressarem
com o pedido de recuperação judicial, tinham plena consciência, por
consectário lógico, que o pedido de recuperação judicial daria fôlego
ao grupo, porém dificultaria a obtenção de crédito e aumentaria a
margem de insolvência.
3.3. Neste sentido, no que toca aos pedidos de
liberação/restituição/venda e/ou depósitos de valores da soja
arrestada, não obstante o referido produto se trate de ativo
circulante dos recuperandos, a safra arrestada já se
encontrava há muito comprometida, conforme se verifica dos
contratos firmados com os credores (CPRs) e do título judicial
juntados aos autos (IDs. 17673913, 17883828, 20762840 [Pág.
130-137]).
3.4. Com efeito, a liberação/restituição/venda da soja arrestada,
somente se tornou essencial em virtude da omissão dos
recuperandos, que não se dispuseram a buscar outros meios
de se reestruturar financeiramente.
3.5. Ora, o procedimento recuperacional certamente impõe sacrifícios
aos credores, mas necessária e obrigatoriamente também deve impor
sacrifícios aos devedores. Deste modo, neste momento processual,
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não se mostra razoável e nem proporcional a restituição dos referidos
bens, constritos no período de suspensão da decisão que deferiu o
processamento da presente recuperação judicial
(15.02.2019-17.05.2019).
3.6. De fato, "[a] função social da empresa exige sua preservação,
mas não a todo custo. A sociedade empresária deve demonstrar ter
meios de cumprir eficazmente tal função, gerando empregos,
honrando seus compromissos e colaborando com o desenvolvimento
da economia, tudo nos termos do art. 47 da Lei n° 11.101/05". (AgRg
no CC 110250/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 08/09/2010, ale 16/09/2010).
3.7. Acrescente-se, ainda, como já exposto na decisão de ID.
20957090, que os atos de constrição foram efetivados segundo
a decisão judicial vigente ao tempo em que se efetuou,
constituindo-se em atos jurídicos perfeitos e acabados (art. 14,
CPC). Neste sentido, em que pese a argumentação dos
recuperandos no tocante ao recebimento antecipado do
crédito, à época das constrições, a decisão que deferiu o
processamento da recuperação não estava produzindo
quaisquer efeitos.
[...]
3.8. Demais disso, não obstante a posição da Administradora
Judicial nas divergências administrativas apresentadas,
consigno expressamente que ainda há controvérsia acerca da
concursalidade ou não dos créditos ora discutidos, havendo
jurisprudências tanto no sentido da concursalidade quanto da
extraconcursalidade.
3.9. Outrossim, os mesmos fundamentos se aplicam com
relação ao pedido de depósito judicial dos valores
provenientes dos arrestos.
3.10. Ante o exposto, indefiro os pedidos formulados pelos
recuperandos no ID. 22786629, referentes a soja arrestada.

Interposto agravo de instrumento pelos recuperandos (e-STJ, fls. 6-50), o


Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso negou-lhe provimento, nos termos da
seguinte ementa (e-STJ, fls. 557-558):

(Agravo de Instrumento n.1015139-31.2019.8.11.0000)


AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECUPERAÇÃO JUDICIAL - FASE DE
STAY PERIOD – SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES
AJUIZADAS CONTRA A RECUPERANDA – AGC NÃO REALIZADA –
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE SOJA OBJETO DE ARRESTO NO
PERÍODO EM QUE A RJ ESTAVA SUSPENSA – PRODUTOS QUE EM
SUA MAIORIA CONSTITUEM A GARANTIA DE CPR’S –
ESSENCIALIDADE NÃO EVIDENCIADA NO MOMENTO – SAFRA
ASSEGURADA ATRAVÉS DE FINANCIAMENTO COM TERCEIROS –
INFORMAÇÃO PRESTADA PELO ADMINISTRADOR JUDICIAL -
RECURSO NÃO PROVIDO.
O deferimento do processamento da Recuperação Judicial suspende
o curso da prescrição e de todas as Ações e Execuções contra a
recuperanda (art. 6º, §4º, e art. 49, §3º, da Lei nº. 11.101/2005).
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O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, embora a penhora dos
créditos devidos à recuperanda tenha sido realizada antes do pedido
de recuperação judicial, a competência para deliberar sobre o
levantamento dos respectivos valores passou a ser do Juízo onde se
processa o pedido de recuperação (CC nº147.994-MG).
Apesar de o artigo 49 da Lei 11.101/2005 estabelecer no final do § 3º
que no stay period é vedada a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua
atividade empresarial, ainda que se trate de créditos não submetidos
à RJ, isso não autoriza a imediata liberação em favor da recuperanda
de qualquer bem que tenha sido objeto de constrição, sobretudo
quando os arrestos ocorreram no intervalo em que a RJ estava
suspensa.
A análise da situação exige extrema cautela se os bens objeto de
arresto consistem nas próprias garantias prestadas pelos
recuperandos em cédulas de produto rural emitidas para o
financiamento da safra, e portanto já estava comprometida, não
podendo ser considerada a princípio como fonte de renda para a
safra seguinte. Tratando-se de commodities, constituem ativos
destinados à circulação, ou seja, quando comercializados esvaziam a
própria garantia.
Não se vislumbra a essencialidade da restituição dos bens para a
continuidade da atividade econômica dos produtores rurais se há
informação do administrador judicial de que foi possível a implantação
da safra através do financiamento obtido com terceiros.

Alessandro Nicoli e Alessandra Campos de Abreu Nicoli, nas razões de seu


recurso especial, apontam a violação dos arts. 47 e 49, § 5º, da Lei n. 11.101/2005; 1.443
do Código Civil, além de dissenso jurisprudencial (e-STJ, fls. 608-641).

Para tanto, invocam, de início, julgados desta Corte de Justiça que esposam
o entendimento de que: i) não é possível o prosseguimento da execução após o
deferimento do processamento da recuperação judicial, ainda que exista penhora anterior,
deixando assente, inclusive, que, na hipótese de adjudicação posterior levada a efeito em
juízo diverso, o ato deve ser desfeito, em razão da competência do Juízo universal e da
observância ao princípio da preservação da empresa; ii) os bens de capital essenciais à
atividade da empresa em recuperação devem permanecer em sua posse, enquanto durar
o período de suspensão das ações e execuções contra a devedora, aplicando-se a
ressalva final do § 3º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005, na eventualidade de se reputar
aplicável o referido dispositivo ao caso dos autos, ad argumentandum.

Frisam que as CPRs, representativas de créditos constituídos anteriormente


ao pedido de recuperação judicial, estão garantidas unicamente por penhor rural, de modo
a afastar claramente a extraconcursalidade advinda do § 3º do art. 49 da Lei n.
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11.101/2005.

Ponderam que, "em sendo penhor, exatamente como consignado no


recurso, não há possibilidade de exclusão do crédito dos efeitos da recuperação judicial,
de modo que nenhum credor, dentro desta situação jurídica, poderá ser agraciado pela
continuidade das expropriações que tinham iniciado, uma vez que o seu crédito,
OBRIGATORIAMENTE, deve ser recebido nos termos do plano de recuperação judicial!
Não há lugar para nem mesmo se questionar a exceção da exceção tratada na parte final
do § 3.º do art. 49 da Lei 11.101/05, em que a essencialidade seria um ponto de
discussão" (e-STJ, fls. 625-626).

Asseveram, no ponto, que "a aplicação do § 5.º do art. 49 da Lei 11.101/05


não é uma opção do julgador, mas sim, uma obrigação legal. Afinal, tratando-se de crédito
garantido por penhor, o depósito do valor respectivo deverá ser vinculado ao Juízo da
Recuperação Judicial. É dizer, o depósito judicial decorre da própria Lei e não da vontade
do Juiz, inclusive sob a perspectiva da essencialidade" (e-STJ, fl. 626).

Acrescentam, ainda, que "o precedente citado no acórdão recorrido como


impeditivo de liberação em razão do perecimento da garantia, refere-se exclusivamente à
denominada trava bancária de recebíveis de cartão de crédito (REsp 1758746/GO), que
vem abarcada sob o pálio da cessão de crédito, cujo conteúdo [...] não se aplica ao caso
em comento" (e-STJ, 479). Concluem, assim, que "a garantia prestada nas respectivas
CPR's o foram exclusivamente sob a cláusula de Penhor Rural, o qual amolda-se à
redação do § 5º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005, portanto, tratando-se de distinguing case"
(e-STJ, fls. 628).

Sobre a liberação dos grãos, com esteio no art. 1.443 do Código Civil,
rechaçam o indeferimento exarado na origem pelo entendimento de que a situação deveria
ser analisada pelo Juízo de origem, “especialmente diante da informação de que grande
quantidade de soja foi dada em penhor de primeiro grau nas CPR’s emitidas em favor das
empresas que financiaram a próxima safra (2019/2020)” - e-STJ, fl. 630).

No ponto, sustentam que essa compreensão não possui respaldo legal, pois
"a continuidade do ciclo impõe a renovação da garantia para as demais safras que
seguem, de sorte que o credor, no caso LDC e Bayer, especialmente, terão seus direitos
restituídos automaticamente para as safras futuras, que recairá sobre o excesso apurado

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na colheita anterior, exatamente como consignado no voto condutor" (e-STJ, fl. 630).

Por fim, requerem, "admitido o recurso, sejam os autos encaminhados ao


colendo Superior Tribunal de Justiça para que, à luz do § 5.2 do art. 49 da Lei 11.101/05,
em cotejo com o art. 47 da Lei 11.101/05 c/c a inteligência do art. 1.443 do Código Civil,
respeitando-se os precedentes daquela conspícua Corte, reforme o acórdão recorrido e
proveja o agravo de instrumento interposto pelos ora recorrentes, autorizando o depósito
judicial na conta vinculada à Recuperação Judicial dos valores decorrentes da venda dos
grãos arrestados durante o período de suspensão do processo de soerguimento,
autorizando o seu levantamento pelos recuperandos, mediante prestação de contas ao
administrador judicial" (e-STJ, fl. 641).

Às fls. 776-783, 785-804 e 806-830 (e-STJ), Bayer S.A., Louis Dreyfus


Company Brasil S.A. e Fiagril Ltda. apresentaram, respectivamente, as contrarrazões.

O pedido de tutela provisória, feito no bojo da TP 2.605/MT, foi indeferido, em


decisão publicada em 13/3/2020, deixando-se assente que, a despeito da presença da
aparência do bom direito, a prudência, na oportunidade, recomendava aguardar o
julgamento final dos recursos especiais, os quais seriam pautados a julgamento tão logo
fosse possível.

Em virtude da pandemia causada pela doença Covid-19 — fato


caracterizado como de força maior, indiscutivelmente —, as sessões de julgamento
presenciais do STJ, foram suspensas, a partir de 16 de março de 2020.

Em se tratando de serviço público essencial, como o é o serviço judiciário, o


Superior Tribunal de Justiça, sem poupar esforços para promover a continuidade de seus
julgamentos, permitiu, por meio da Resolução STJ/GP n. 9, a realização de sessões de
julgamento por videoconferência, em caráter excepcional, durante a pandemia da
Covid-19, sem prejuízo da participação dos advogados das partes, possibilitando a
realização de sustentações orais, bem como o encaminhamento prévio de memoriais aos
gabinetes. Em 5 de maio, aliás, foi realizada a primeira sessão de julgamento presencial
por vídeoconferência pela Terceira Turma do STJ.

Em 26/5/2020, foi designado o julgamento do recurso especial em epígrafe,


para a sessão presencial por videoconferência.

Todavia, a recorrida, Fiagril Ltda., valendo-se da prerrogativa conferida pela


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aludida Resolução, manifestou oposição ao julgamento (e-STJ, fls. 876-878), razão pela
qual o feito retirado de pauta (o mesmo também ocorreu em relação ao recurso especial
que veiculava a questão prejudicial, em razão de pedido feito pelo credor, naqueles autos,
o Banco Bradesco S.A.).

Nesse contexto, novo pedido de tutela incidental de urgência foi postulado


pelos recorrentes (e-STJ, fls. 883-972).

Às fls. 976-993 (e-STJ), este relator deferiu pedido de efeito ativo ao Resp
1.867.694/MT, para determinar que os recorridos procedessem à disponibilização dos
bens arrestados ou do correspondente valor no Juízo recuperacional, sob a supervisão e
sob os critérios a serem por ele (Juízo recuperacional) determinados, providência a
perdurar até o presente julgamento.

A despeito da retirada de pauta do recurso especial em epígrafe da Sessão


de Julgamento presencial por videoconferência do dia 26.5.2020, em atendimento
(automático) ao pedido efetuado pela recorrida Fiagril Ltda. (e-STJ, fl. 876), nos termos do
art. 1º, § 3º, da Resolução STJ/GP nº 9/2020, o que ensejaria, em princípio, a remessa
para pauta de julgamento em sessão presencial, com data indefinida, os recorridos, Louis
Dreyfus Company Brasil S.A (e-STJ, fls. 1.004-1.005), a própria Fiagril Ltda. (e-STJ, fls.
1.231.1.262) e Bayer S.A (e-STJ, fls. 1.368-1.369) pugnaram por nova inclusão do feito em
sessão de julgamento presencial por videoconferência.

É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):

Controverte-se no presente recurso especial sobre a validade e a


subsistência dos atos executivos realizados no bojo de execuções individuais promovidas
por credores contra os produtores rurais (ora recorrentes), consistentes no arresto, no
depósito e a na remoção de 14.130.518 kg (quatorze milhões, cento e trinta mil e
quinhentos e dezoito quilos), equivalentes à aproximadamente 235.508 (duzentos e trinta e
cinco mil e quinhentos e oito) sacas de grãos de soja, em interregno no qual a decisão
de deferimento do processamento da recuperação judicial dos executados havia
sido reformada pelo Tribunal estadual.

Nos termos relatados, os referidos atos executivos ocorreram após o


Tribunal de origem ter, em grau recursal, reformado a decisão de primeira instância que
havia deferido o pedido de processamento de recuperação judicial, por reputar não
comprovado o exercício da atividade agrícola pelo período de 2 (dois) anos contados do
registro de produtor rural na Junta Comercial.

É certo, todavia, que os efeitos do aludido acórdão foram sobrestados por


esta Corte de Justiça, em virtude da tutela de urgência deferida na TP 2.017/MT, por esta
relatoria, restabelecendo-se, assim, o deferimento do processamento da recuperação
judicial deferido em primeira instância até o julgamento do REsp 1.821.773/MT.

Como se constata, a discussão posta está, entre outras, em definir a


validade e a subsistência desses atos executivos autorizados pelo Juízo em que se
processam as execuções individuais em interregno no qual a decisão de deferimento do
processamento da recuperação judicial havia sido sobrestada e, em seguida, reformada
pelo Tribunal estadual.

Já se pode antever, nesse contexto, que a questão relacionada ao


deferimento do processamento da recuperação judicial dos requerentes, produtores rurais,
objeto de Recurso Especial n. 1.821.773/MT, a ser julgado com antecedência por esta
Terceira Turma na presente assentada, repercute diretamente no desfecho do presente
recurso especial.

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Afinal, caso se chegasse à conclusão de que os recorrentes não preenchem
a condição temporal de admissibilidade da recuperação judicial estabelecida no art. 48 da
Lei n. 11.101/2005 – em absoluta contrariedade aos termos do voto apresentado por
este relator –, os atos executivos realizados no bojo das execuções individuais haveriam
de ser considerados indiscutivelmente hígidos, sobretudo porque incidentes, nesse caso,
sobre bens que não integrariam a recuperação judicial.

Assim, o enfrentamento dos argumentos expendidos pelos recorrentes


pressupõe o reconhecimento prévio de que fazem jus ao benefício do processo
recuperacional.

Em sendo esta a deliberação desta Terceira Turma do STJ, a partir do


provimento conferido ao Recurso Especial n. 1.821.773/MT, passa-se, propriamente,
a analisar as teses deduzidas nas razões recursais, destinadas a evidenciar a invalidade e
insubsistência dos atos constritivos levados a efeito no bojo das execuções individuais.

De acordo com a moldura fática delineada na origem, imutável na presente


via especial, os atos executivos, exarados no bojo de execuções individuais – aos quais se
pretende invalidar por meio do presente recurso especial –, deram-se em momento em
que a decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial dos executados
foi sobrestada e, em seguida, reformada pelo Tribunal estadual, circunstância, aliás,
utilizada pelas instâncias ordinárias como fundamento para reconhecer a validade destes.
Consubstanciariam, segundo decidido, "atos perfeitos e acabados".

Essa é a conclusão que se extrai, claramente, das decisões proferidas nas


instâncias ordinárias, respectivamente:

3.7. Acrescente-se, ainda, como já exposto na decisão de ID.


20957090, que os atos de constrição foram efetivados segundo a
decisão judicial vigente ao tempo em que se efetuou, constituindo-se
em atos jurídicos perfeitos e acabados (art. 14, CPC). Neste sentido,
em que pese a argumentação dos recuperandos no tocante ao
recebimento antecipado do crédito, à época das constrições, a
decisão que deferiu o processamento da recuperação não
estava produzindo quaisquer efeitos (e-STJ, fl. 57).

Em 04/02/2019 foi deferido o processamento da RJ, porém


suspensa a decisão no Agravo de Instrumento n.
1001203-36.2019.8.11.0000.
Em 22/03/2019 foi julgado o Agravo de Instrumento n. 1001203-
36.2019.8.11.0000, provido para indeferir o processamento da
Recuperação Judicial n. 1011782-32.2018.8.11.0015 da 2ª Vara
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Superior Tribunal de Justiça
Cível da Comarca de Sinop em relação a Alessandro Nicoli e
Alessandra Campos de Abreu Nicoli.
Interposto Recurso Especial, foi negado o efeito suspensivo
pleiteado à Vice-Presidência.
Com isso, os agravantes postularam ao STJ tutela provisória de
urgência para atribuição de efeito suspensivo (TP 2017/MT) ao
REsp, o que foi inicialmente negado pelo ministro Marco
Aurélio Bellizze em 25/04/2019 e em 08/05/2019. Todavia, no
Agravo Interno na TP 2017 ele reconsiderou a sua decisão e em
22/05/2019 concedeu efeito suspensivo ao recurso especial
interposto pelos requerentes e determino a suspensão dos
efeitos da decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Mato
Grosso, até o julgamento definitivo do apelo extremo por este
Superior Tribunal.
Logo, a Recuperação Judicial está em processamento e por
isso foram suspensas as Ações e Execuções propostas contra
as recuperandas, como impõe o caput do art. 6º da Lei
11.101/2005.
Depois que a recuperação voltou a tramitar, os agravantes postularam
em 18/06/2019 a devolução dos maquinários apreendidos, a fim de
garantir a colheita da safra do milho e assim a continuidade das
atividades dos r e c u p e r a n d o s ; b e m assim que b) autorize o
pagamento pela Amaggi do crédito de R$ 872.908,86 (oitocentos e
setenta e dois mil, novecentos e oito reais e oitenta e s e i s c e n t a v
o s ) e 2 3 . 8 8 8 ( v i n t e e t r ê s m i l , o i t o c e n t o s e oitenta e
oito) kg de soja com preço a fixa (id nº 20994658 - Pág. 10 dos autos
de origem).
Esses bens foram objeto de arresto entre 28/02/2019 e 15/03/2019 no
Cumprimento de Sentença nº 1002163-56.2016.8.11.0045 movido
pela Fiagril.
O juízo deferiu a restituição uma vez que na época entendeu-se pela
sua essencialidade para o soerguimento dos recuperandos, decisum
mantido nos Agravos de Instrumento nº 1010663-47.2019.8.11.0000 e
1011633- 47.2019.8.11.0000.
Posteriormente, em 21/08/2019 os agravantes peticionaram no
juízo a quo a devolução de outros grãos que foram objeto de
arresto no período em que a Recuperação Judicial estava
suspensa.
Indicaram ali que a LDC (Louis Dreyfus Comprany Brasil S.A.), na
Tutela Cautelar Antecedente nº 1002734-34.2019.8.26.0100, 8ª
Vara Cível da Comarca de São Paulo, realizou a constrição de
180.054 sacas de grãos de soja, entre 21 e 22/02/2019; a Fiagril,
no Cumprimento de Sentença nº 1002734- 34.2019.8.26.0100, 6ª
Vara Cível da Comarca de Lucas do Rio Verde-MT, obteve a
constrição de 54.097 sacas de soja entre 28/02/2019 e
14/03/2019; e a Bayer S/A, na Execução de Título de Extrajudicial
n. 1023009-04.2019.8.26.0100, 5ª Vara Cível da Comarca de São
Paulo-SP, arrestou 1.357 sacas de soja em 25/03/2019.
Arguiram que os créditos deveriam ser recebidos em conformidade
com o processo concursal, cuidava-se de ativo circulante, e tais
produtos demonstravam-se indispensáveis ao fluxo de caixa para a
safra seguinte (2019/2020). Pediram ainda que, além da devolução da
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Superior Tribunal de Justiça
soja, também fossem liberados os ônus incidentes sobre elas.
Apesar de o artigo 49 da Lei 11.101/2005 estabelecer no final do
§ 3º que no stay period é vedada a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a
sua atividade empresarial, ainda que se trate de créditos não
submetidos à RJ, isso não autoriza a imediata liberação em
favor da recuperanda de qualquer bem que tenha sido objeto
de constrição, ainda mais no caso dos autos em que os
arrestos ocorreram no intervalo em que a RJ estava suspensa,
sendo portanto válidos, não sendo possível desconstituí-los
apenas em razão do retorno do processamento da RJ, até
porque não houve essa determinação na TP 2017-STJ (e-STJ, fls.
560-563).

Permissa venia, tem-se que o entendimento exarado pelas instâncias


ordinárias ignorou por completo os efeitos legais advindos da decisão que deferiu o
processamento da recuperação judicial dos produtores rurais, especificamente no que
tange à suspensão das execuções individuais promovidas contra os recuperandos,
prevista no art. 6º, caput, da Lei n. 11.101/2005, bem como no tocante à competência
exclusiva do Juízo recuperacional para deliberar sobre o patrimônio do empresário em
recuperação judicial.

Ressalta-se que a essa conclusão mostra-se de todo irrelevante o fato de a


questão afeta ao processamento da recuperação judicial dos recorrentes encontrar-se, na
oportunidade, sub judice. Isso porque, uma vez deferido o processamento da recuperação
judicial, este passa a ser o marco inicial legal de suspensão de todas as execuções
individuais que fluem contra o empresário recuperando, a atrair a competência do Juízo
recuperacional para decidir sobre os bens daquele.

Ainda que esta decisão seja objeto de impugnação recursal, o


provimento judicial final que venha a reconhecer o acerto da decisão que deferiu o
processamento da recuperação judicial do empresário tem o condão de manter
incólumes todos os efeitos legais dela decorrentes, desde a sua prolação.

Entendimento contrário esvaziaria por completo a recuperação judicial do


empresário que obteve em seu favor o deferimento do processamento desta – confirmado
em provimento judicial final –, caso se convalidasse a constrição judicial e o levantamento
do patrimônio do recuperando em favor de determinados credores exarados no âmbito de
execuções individuais, durante a tramitação dos correlatos recursos por período
absolutamente indefinido, em detrimento dos demais credores também submetidos ao
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processo recuperacional.

Veja-se, a esse propósito, que a lei de regência determina, como consectário


legal do deferimento do processamento da recuperação judicial, a suspensão de todas as
ações e execuções contra a recuperanda pelo prazo de 180 (cento e oitenta dias), passível
de prorrogação nos termos da uníssona jurisprudência desta Corte de Justiça (ut AgRg no
CC 119.337/MG, Rel. Ministro Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em 08/02/2012, DJe
23/02/2012; REsp 1.610.860/PB, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
13/12/2016, DJe 19/12/2016).

Trata-se, pois, de um benefício legal conferido à recuperanda


absolutamente indispensável para que esta, durante tal interregno, possa
regularizar e reorganizar suas contas, com vistas à reestruturação e ao
soerguimento econômico-financeiro, sem prejuízo da continuidade do
desenvolvimento de sua atividade empresarial.

Ressai clarividente, assim, que, uma vez deferido o processamento da


recuperação judicial – ainda que a correlata questão se encontre em discussão nas
instâncias jurisdicionais subsequentes –, o prosseguimento das execuções individuais
frusta, de modo indelével, os propósitos do comando legal inserto no art. 6º, caput, da Lei
n. 11.101/2005, sobretudo se, ao final, ficar reconhecido o acerto da decisão de
deferimento do processamento da recuperação judicial.

Conforme registrado, a lei elegeu, como marco inicial para o stay period –
cujo efeito principal consiste justamente na suspensão de todas as execuções promovidas
contra a recuperanda, a atrair a competência do Juízo recuperacional para decidir sobre os
bens daquela) –, a decisão que (primeiramente) defere o processamento da recuperação
judicial.

Assim, mesmo que esta venha a ser reformada em grau recursal, o


provimento judicial final que reconhece o acerto da decisão que deferiu o
processamento da recuperação judicial mantém incólumes todos os efeitos legais dela
decorrentes desde a sua prolação, já que este é o marco legal adotado pela lei para a
produção destes.

Desse modo, a validade dos atos executivos realizados no bojo das

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Superior Tribunal de Justiça
execuções individuais, no interregno em que a decisão de deferimento do processamento
da recuperação judicial encontra-se sobrestada ou mesmo reformada (porém, sujeita a
revisão por instância judicial superior), fica condicionada à confirmação, por provimento
judicial final, de que o empresário, de fato, não fazia jus ao deferimento do processamento
de sua recuperação judicial.

Deferido o processamento da recuperação judicial, a emergir os efeitos


legais próprios (suspensão das execuções e competência do Juízo recuperacional para
deliberar sobre o patrimônio do empresário recuperando), o credor assume os riscos de
prosseguir com a sua execução individual, ao ensejo do sobrestamento ou da reforma
provisória da aludida decisão. Em se confirmando o acerto da decisão que deferiu o
processamento da recuperação judicial, com o restabelecimento de todos os seus efeitos
desde a sua prolação, os atos executivos realizados no âmbito das execuções individuais
tornam-se absolutamente nulos.

Portanto, independentemente das decisões que se seguiram, o marco inicial


para o stay period, com a produção dos correlatos efeitos, é a decisão que deferiu o
processamento da recuperação judicial, primeiramente, nos autos da recuperação judicial,
cujo acerto vem a ser confirmado por provimento judicial final.

Na hipótese dos autos, merece registro o fato de que, a despeito da


existência de decisão liminar exarada por esta Corte de Justiça, restabelecendo os
efeitos da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial dos
recorrentes, o próprio Juízo recuperacional, que detém, como visto, competência
exclusiva para deliberar sobre o patrimônio dos recuperandos, com respaldo do Tribunal
de origem, reputou válidos, ainda assim, os atos executivos realizados em execuções
individuais, em detrimento do concurso recuperacional e à margem da lei de regência.

É de se reconhecer, nesse contexto, que os atos executivos realizados no


bojo de execuções individuais promovidas por credores contra os produtores rurais (ora
recorrentes), consistentes no arresto, no depósito e a na remoção de sacas de grãos de
soja, deram-se em momento posterior à decisão que deferiu o processamento da
recuperação judicial dos recorrentes, o que evidencia, per si, a invalidade destes.

Relevante destacar, ainda, o posicionamento jurisprudencial das Turmas que


integram a Segunda Seção do STJ segundo o qual a força atrativa do Juízo recuperacional

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abrange, inclusive, atos constritivos realizados antes da decisão que defere o
processamento da recuperação judicial, conforme corroboram os seguintes precedentes
(sem grifos no original):

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. PENHORA
DETERMINADA EM MOMENTO ANTERIOR AO PEDIDO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUJEIÇÃO DO CRÉDITO AO PLANO DE
SOERGUIMENTO. PRECEDENTES.
1- Execução distribuída em 27/8/2013. Recurso especial interposto em
26/10/2015 e concluso à Relatora em 5/9/2016.
2- Controvérsia que se cinge em definir se créditos
penhorados anteriormente à data do pedido de recuperação
judicial devem ou não sujeitar-se ao juízo universal.
3- A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados
como violados impede o conhecimento do recurso especial.
4- A penhora determinada em processo executivo
anteriormente ao deferimento do pedido de recuperação
judicial não obsta a inclusão do crédito respectivo no plano de
reerguimento da sociedade empresária devedora.
5- Recurso especial provido.
(REsp 1.635.559/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 10/11/2016, DJe 14/11/2016)

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCURAÇÃO.


ADVOGADOS DAS AGRAVADAS. ART. 525, I, DO CPC/1973.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
PENHORA ANTERIOR AO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO. CRÉDITOS
GARANTIDOS POR CESSÃO FIDUCIÁRIA.
1- Ação ajuizada em 12/9/2014. Recursos especiais interpostos em
28/8/2015 e conclusos à Relatora em 26/8/2016.
2- Controvérsia que se cinge em determinar (i) se a ausência de
juntada da procuração outorgada aos procuradores das agravadas
enseja o não conhecimento do agravo de instrumento; (ii) se a
constrição de valores efetivada em processo executivo
movido contra a devedora pode ser desconstituída mesmo se
realizada em momento anterior ao pedido de recuperação; e (iii)
se créditos garantidos por cessão fiduciária sujeitam-se à recuperação
judicial da devedora.
[...]
5- O fato de a penhora ter sido determinada em data anterior ao
deferimento do pedido de recuperação judicial não obsta o
exercício da força atrativa do juízo universal. Precedentes.
6- Os créditos garantidos por cessão fiduciária não se submetem aos
efeitos da recuperação judicial, em razão da interpretação conferida
ao § 3º do art. 49 da Lei 11.101/2005.
7- RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO POR ALUTECH E PPX NÃO
PROVIDO. 8- RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO PELO FUNDO
PETROS PARCIALMENTE PROVIDO.
Documento: 1982025 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/10/2020 Página 16 de 6
Superior Tribunal de Justiça
(REsp 1635332/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/11/2016, DJe 21/11/2016)

AGRAVO INTERNO NO CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA.


COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL PARA TODOS OS ATOS QUE
IMPLIQUEM RESTRIÇÃO PATRIMONIAL. PENHORA ANTERIOR.
PRECEDENTES.
1. Respeitadas as especificidades da falência e da recuperação
judicial,
é competente o juízo universal para prosseguimento dos atos de
execução, tais como alienação de ativos e pagamento de credores,
que
envolvam créditos apurados em outros órgãos judiciais.
2. O fato de haver penhora anterior ao pedido de recuperação
judicial, em nada afeta a competência do Juízo Universal para
deliberar acerca da destinação do patrimônio da empresa
suscitante, em obediência ao princípio da preservação da
empresa.
3. Agravo interno no conflito de competência não provido.
(AgInt no CC 152.153/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe 15/12/2017)

AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA -


RECUPERAÇÃO JUDICIAL - MEDIDAS DE CONSTRIÇÃO DE BENS
INTEGRANTES DO PATRIMÔNIO DA EMPRESA RECUPERANDA
DETERMINADAS POR JUÍZO FALIMENTAR - COMPETÊNCIA - JUÍZO
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL - PRECEDENTES - DELIBERAÇÃO
MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO CONFLITO E DECLAROU A
COMPETÊNCIA DO JUÍZO RECUPERACIONAL.
INSURGÊNCIA DA AGRAVANTE.
1. Compete ao Superior Tribunal de Justiça o conhecimento e
processamento do presente conflito, uma vez que envolve juízos
vinculados a Tribunais diversos, nos termos do que dispõe o artigo
105, I, "d", da Constituição Federal.
2. É pacífica a orientação da Segunda Seção no sentido de ser o
Juízo onde se processa a recuperação judicial, o competente para
julgar as causas em que estejam envolvidos interesses e bens da
empresa recuperanda. Precedentes.
2.1. A deliberação proferida pelo r. juízo suscitado invadiu a
competência do r. juízo da recuperação judicial, na medida em
que autorizou o levantamento de valores em face das
agravadas sem franquear ao r. juízo da recuperação, o exame
se tal medida judicial - caso deferida - poderia dificultar a
execução do plano de soerguimento.
3. Ainda que a penhora de valores seja anterior ao deferimento
do pedido de recuperação judicial, tais constrições também se
sujeitam à atratividade do juízo universal. Precedentes: AgInt
no Código Civil 147.994/MG, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, Segunda Seção, julgado em 11/04/2018, DJe 18/04/2018;
AgInt no CC 152.153/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
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Superior Tribunal de Justiça
Segunda Seção, julgado em 13/12/2017, Dje 15/12/2017; AgInt
no CC 148.987/SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,
Segunda Seção, julgado em 13/09/2017, DJe 21/09/2017; AgInt
no CC 148.987/SP, Rel. Ministro Antonio Carlos ferreira,
Segunda Seção, julgado em 13/09/2017, DJe 21/09/2017.
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no CC 155.535/BA, Rel. Ministro MARCO BUZZI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 11/09/2019, DJe 16/09/2019)

AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA.


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL. ATOS
EXECUTÓRIOS. PENHORA ANTERIOR AO DEFERIMENTO DA
RECUPERAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO.
ART. 76 DA LEI N. 11.101/2005. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Os atos de execução dos créditos individuais promovidos
contra empresas falidas ou em recuperação judicial, tanto sob
a égide do Decreto-Lei n. 7.661/45 quanto da Lei n. 11.101/2005,
devem ser realizados pelo Juízo universal. Inteligência do art. 76
da Lei n. 11.101/2005.
2. Tal entendimento estende-se às hipóteses em que a penhora
seja anterior à decretação da falência ou ao deferimento da
recuperação judicial. Ainda que o crédito exequendo tenha sido
constituído depois do deferimento do pedido de recuperação judicial
(crédito extraconcursal), a jurisprudência desta Corte é pacífica no
sentido de que, também nesse caso, o controle dos atos de constrição
patrimonial deve prosseguir no Juízo da recuperação. Precedentes.
3. Agravo não provido.
(AgInt no CC 166.811/MA, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/02/2020, DJe 18/02/2020)

E ainda: REsp 1.635.332/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,


julgado em 17/11/2016, DJe 21/11/2016; REsp 1.635.608/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 10/11/2016, DJe 14/11/2016; AgInt no REsp 1.814.187/RS,
Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 14/10/2019, DJe
22/10/2019; AgInt no CC 148.987/SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Segunda
Seção, julgado em 13/09/2017, DJe 21/09/2017; AgInt no CC 147.994/MG, Rel. Ministra
Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em 11/04/2018, DJe 18/04/2018; AgInt no CC
159.972/RJ, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em 17/03/2020,
DJe 20/03/2020.

Sob qualquer prisma que se analise a questão, é de ser reconhecer a


nulidade dos atos executivos realizados no bojo de execuções individuais durante o stay
period, nos termos acima explicitados, cabendo, pois, ao Juízo recuperacional,
unicamente, deliberar sobre o patrimônio do devedor, que integra o processo concursal.

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Superior Tribunal de Justiça
Não bastasse tal conclusão, suficiente, em si, para a reforma do julgado
impugnado, reconhece-se, ainda, a insubsistência dos fundamentos remanescentes
adotados na origem.

Efetivamente, revela-se de todo descabido, para efeito de validade e


subsistência dos atos executivos em comento, aferir a essencialidade dos bens
arrestados, a pretexto de aplicação da parte final do § 3º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005,
como procedeu o Tribunal estadual, valendo-se, inclusive, de julgado desta Corte de
Justiça (REsp 1.758.746/GO) que, nitidamente, não se subsume à hipótese dos autos.

Veja-se que o acórdão recorrido é absolutamente claro em descrever os


créditos – todos constituídos anteriormente ao pedido de recuperação judicial do Grupo
Nicoli – representados por cédulas de produto rural garantidas por penhor rural, que
lastreiam as execuções individuais, nas quais se efetivaram o arresto, o depósito e a
remoção de sacas de grãos de soja.

A esse propósito, destaca-se o seguinte excerto do aresto impugnado


(e-STJ, fls. 566-567):

O arresto realizado pela LDC originou-se na Tutela Cautelar


Antecedente, relativo ao inadimplemento de 04 Cédulas de
Produto Rural, todas garantidas por penhor rural cedular: nº
01-0201-2019-0032, promessa de entrega em 30/01/2019 de
3.030.000 kg de soja (id nº 17521865 - Pág. 1 dos autos de origem);
nº 01-0201-2019-0033, promessa de entrega em 10/03/2019 de
5.540.380 kg de soja (id nº 17521866 - Pág. 1 dos autos de origem);
nº 01-0201-2019-0111, promessa de entrega em 15/02/2019 de
1.002.000 kg de soja (id nº 17521866 - Pág. 1 dos autos de origem);
nº 01-0201-2019-0111, promessa de entrega em 15/02/2019 de
1.002.000 kg de soja (id nº 17521885 - Pág. 1 dos autos de origem); e
nº 01-0201-2019-0112, promessa de entrega em 15/02/2019 de
1.330.860 kg de soja (id nº 17521886- Pág. 1 dos autos de origem).
Segundo a LDC, foram adiantados US$ 2.510.687,94, para custeio da
atividade agrícola, plantio e cultivo da soja por operação de Barter em
25/05/2018 com a Macrofértil e a Macroseeds. E em 04/12/2008 foram
adiantados mais US$ 200.000,00 (id nº 17467472 - Pág. 6 dos autos
de origem).
Com relação à Fiagril, o produto objeto de arresto dizia
respeito ao o Cumprimento de Sentença de acordo formulado
na Execução n. 1002163- 56.2016.8.11.0045, o qual compreendia
também as Execuções n. 1002169- 63.2016.8.11.0045 e
1002161-86.2016.8.11.0045, homologado em 12/05/2017, no qual
foi postulado o arresto de 392 mil sacas de soja e 176.854 de
milho, ou, alternativamente, de 56 mil sacas de soja e 26.761 de
milho, objeto do ajuste.
Já o arresto da Bayer foi realizado na Ação de Execução Para
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Entrega de Coisa Incerta (id nº 20312081 - Pág. 1 dos autos de
origem) em duas CPRs - a de nº 1337932/01/2019, promessa de
entrega em 20/02/2019 de 89.300 sacas de soja (id nº 17673913 -
Pág. 1 dos autos de origem), e a de nº 1337932/03/2019,
promessa de entrega em 31/01/2019 de 9.747 sacas de soja (id
nº 17673913 - Pág. 11 dos autos de origem), ambas garantidas
por penhor rural de primeiro grau.

De seus termos, ressai de modo evidente, portanto, que os créditos em


análise (representados por cédulas de produto rural garantidas por penhor rural) não se
subsumem a nenhum daqueles descritos no § 3º do art. art. 49 da Lei n. 11.101/2005
(entre os quais, o de titularidade de credor titular da posição de proprietário fiduciário),
reputados extraconcursais.

Nos termos do art. 41, II, da LRF, os créditos com garantia real, como é o
caso do penhor, submetem-se, indiscutivelmente, ao processo recuperacional, conforme
já reconhecido, inclusive, por esta Corte de Justiça:

DIREITO RECUPERACIONAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
INEXISTÊNCIA. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PENHOR.
DIREITO REAL DE GARANTIA. INCLUSÃO ENTRE AS EXCEÇÕES
AOS SEUS EFEITOS, EM VISTA DO DISPOSTO NOS ARTS. 49, § 3º E
50, § 1º, LEI N. 11.101/2005. DESCABIMENTO. ADEQUADA
EXEGESE. DISPOSITIVOS QUE NÃO IMPEDEM A ALIENAÇÃO DE
BEM QUE CONSTITUI GARANTIA REAL, MAS SIM OS DIREITOS
REAIS EM GARANTIA, ISTO É, APENAS AQUELES BENS QUE,
ORIGINARIAMENTE DO DEVEDOR, PASSAM À PROPRIEDADE DO
CREDOR. O ART. 59 DA LEI N. 11.101/2005 ESTABELECE QUE O
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL IMPLICA NOVAÇÃO DOS
CRÉDITOS ANTERIORES AO PEDIDO E OBRIGA O DEVEDOR E
TODOS OS CREDORES A ELE SUJEITOS, SEM PREJUÍZO DAS
GARANTIAS. CONTUDO, LIMITA-SE À RELAÇÃO JURÍDICA
MATERIAL EXISTENTE ENTRE O CREDOR E O EMPRESÁRIO OU
SOCIEDADE EMPRESÁRIA EM RECUPERAÇÃO, ALÉM DO SÓCIO
SOLIDÁRIO, NÃO BENEFICIANDO COOBRIGADOS, FIADORES E
OBRIGADOS DE REGRESSO.
1. Por fatores variados, muitas vezes exógenos - como crise
econômica segmentada no setor em que atua o empresário individual
ou sociedade empresária -, pode advir crise financeira, com quebra do
fluxo entre receita e despesa. Nesse passo, se ainda há viabilidade
econômica e convier ao interesse econômico e social - perspectiva de
interesse público que legitima a intervenção do Judiciário - é possível
a homologação do plano de recuperação judicial da empresa.
2. Com efeito, "[a] função social da empresa exige sua preservação,
mas não a todo custo. A sociedade empresária deve demonstrar ter
meios de cumprir eficazmente tal função, gerando empregos,
honrando seus compromissos e colaborando com o desenvolvimento
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Superior Tribunal de Justiça
da economia, tudo nos termos do art. 47 da Lei nº 11.101/05". (AgRg
no CC 110250/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 08/09/2010, DJe 16/09/2010)
3. Os arts. 49 e 50, §1º, da Lei 11.101/2005 não eximem dos
efeitos da recuperação judicial os direitos reais de garantia,
mas sim os direitos reais em garantia, isto é, apenas aqueles
bens que, originariamente do devedor, passam à propriedade
do credor (propriedade resolúvel, desconstituída com o
adimplemento da obrigação garantida), cuja efetivação do
direito se faz pela consolidação do bem garantido no
patrimônio deste, e não por expropriação judicial.
4. Ademais, é bem de ver que os direitos reais de garantia têm
característica de acessoriedade, não subsistindo por si só,
cessando, pois, a sua existência com a extinção da obrigação
garantida. Com efeito, o art. 59 da Lei n. 11.101/2005 estabelece
que o plano de recuperação judicial implica novação dos
créditos anteriores ao pedido e obriga o devedor e todos os
credores a ele sujeitos.
5. Registre-se que, nessa hipótese, à luz do disposto nos arts. 6º e 49,
§ 1º c/c art. 59, caput, da Lei n. 11.101/2005, é relevante consignar
que, evidentemente, a submissão limita-se à relação jurídica material
existente entre o credor e o empresário ou sociedade empresária em
recuperação, além do sócio solidário, não resultando, conforme
expressa ressalva do caput do art. 59 da Lei n. 11.101/2005 em
"prejuízo das garantias", de modo que, se na relação há coobrigados,
fiadores e obrigados de regresso, os credores do devedor em
recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra
aqueles, não impedindo a recuperação judicial o curso das execuções,
no tocante aos coobrigados, fiadores e obrigados de regresso.
6. Recurso especial provido para restabelecer a decisão de primeira
instância.
(REsp 1374534/PE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 05/05/2014)

Não há, desse modo, nenhuma razão para se sopesar se os bens, objeto de
constrição judicial, consubstanciariam (ou não) bens de capital essenciais ao
desenvolvimento da atividade econômica, a ficarem retidos na posse do devedor em
recuperação judicial durante o stay period, nos termos do § 3º do art. art. 49 da Lei n.
11.101/2005 em sua parte final, já que tal providência se restringe aos créditos
(extraconcursais) ali referidos.

Justamente por isso o julgado desta Corte de Justiça (REsp 1.758.746/GO),


mencionado no acórdão recorrido, não tem nenhuma aplicação à hipótese vertente.
Saliente-se que, naquele caso, esta Terceira Turma reconheceu que os
créditos/recebíveis cedidos fiduciariamente, os quais não se submetem aos efeitos da

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Superior Tribunal de Justiça
recuperação judicial por expressa disposição legal, não consubstanciam bens de capital, a
obstar sua retenção pelo devedor em recuperação judicial e dispensar, por conseguinte,
qualquer juízo acerca de sua essencialidade pelo Juízo recuperacional, na dicção do § 3º,
in fine, do art. 49 da Lei n. 11.101/2005.

O julgado recebeu a seguinte ementa:

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CESSÃO DE


CRÉDITO/RECEBÍVEIS EM GARANTIA FIDUCIÁRIA A EMPRÉSTIMO
TOMADO PELA EMPRESA DEVEDORA. RETENÇÃO DO CRÉDITO
CEDIDO FIDUCIARIAMENTE PELO JUÍZO RECUPERACIONAL, POR
REPUTAR QUE O ALUDIDO BEM É ESSENCIAL AO
FUNCIONAMENTO DA EMPRESA, COMPREENDENDO-SE,
REFLEXAMENTE, QUE SE TRATARIA DE BEM DE CAPITAL, NA
DICÇÃO DO § 3º, IN FINE, DO ART. 49 DA LEI N. 11.101/2005.
IMPOSSIBILIDADE. DEFINIÇÃO, PELO STJ, DA ABRANGÊNCIA DO
TERMO "BEM DE CAPITAL". NECESSIDADE. TRAVA BANCÁRIA
RESTABELECIDA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A Lei n. 11.101/2005, embora tenha excluído expressamente dos
efeitos da recuperação judicial o crédito de titular da posição de
proprietário fiduciário de bens imóveis ou móveis, acentuou que os
"bens de capital", objeto de garantia fiduciária, essenciais ao
desenvolvimento da atividade empresarial, permaneceriam na posse
da recuperanda durante o stay period.
1.1 A conceituação de "bem de capital", referido na parte final do § 3º
do art. 49 da LRF, inclusive como pressuposto lógico ao subsequente
juízo de essencialidade, há de ser objetiva. Para esse propósito,
deve-se inferir, de modo objetivo, a abrangência do termo "bem de
capital", conferindo-se-lhe interpretação sistemática que, a um só
tempo, atenda aos ditames da lei de regência e não descaracterize ou
esvazie a garantia fiduciária que recai sobre o "bem de capital", que
se encontra provisoriamente na posse da recuperanda.
2. De seu teor infere-se que o bem, para se caracterizar como bem de
capital, deve utilizado no processo produtivo da empresa, já que
necessário ao exercício da atividade econômica exercida pelo
empresário.
Constata-se, ainda, que o bem, para tal categorização, há de se
encontrar na posse da recuperanda, porquanto, como visto, utilizado
em seu processo produtivo. Do contrário, aliás, afigurar-se-ia de todo
impróprio e na lei não há dizeres inúteis falar em "retenção" ou
"proibição de retirada". Por fim, ainda para efeito de identificação do
"bem de capital" referido no preceito legal, não se pode atribuir tal
qualidade a um bem, cuja utilização signifique o próprio esvaziamento
da garantia fiduciária. Isso porque, ao final do stay period, o bem
deverá ser restituído ao proprietário, o credor fiduciário.
3. A partir da própria natureza do direito creditício sobre o qual recai a
garantia fiduciária - bem incorpóreo e fungível, por excelência -, não
há como compreendê-lo como bem de capital, utilizado materialmente
no processo produtivo da empresa.
4. Por meio da cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou de

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Superior Tribunal de Justiça
títulos de crédito (em que se transfere a propriedade resolúvel do
direito creditício, representado, no último caso, pelo título - bem móvel
incorpóreo e fungível, por natureza), o devedor fiduciante, a partir da
contratação, cede "seus recebíveis" à instituição financeira (credor
fiduciário), como garantia ao mútuo bancário, que, inclusive, poderá
apoderar-se diretamente do crédito ou receber o correlato pagamento
diretamente do terceiro (devedor do devedor fiduciante). Nesse
contexto, como se constata, o crédito, cedido fiduciariamente, nem
sequer se encontra na posse da recuperanda, afigurando-se de todo
imprópria a intervenção judicial para esse propósito (liberação da
trava bancária).
5. A exigência legal de restituição do bem ao credor fiduciário, ao final
do stay period, encontrar-se-ia absolutamente frustrada, caso se
pudesse conceber o crédito, cedido fiduciariamente, como sendo "bem
de capital". Isso porque a utilização do crédito garantido
fiduciariamente, independentemente da finalidade (angariar fundos,
pagamento de despesas, pagamento de credores submetidos ou não
à recuperação judicial, etc), além de desvirtuar a própria finalidade
dos "bens de capital", fulmina por completo a própria garantia
fiduciária, chancelando, em última análise, a burla ao comando legal
que, de modo expresso, exclui o credor, titular da propriedade
fiduciária, dos efeitos da recuperação judicial.
6. Para efeito de aplicação do § 3º do art. 49, "bem de capital", ali
referido, há de ser compreendido como o bem, utilizado no processo
produtivo da empresa recuperanda, cujas características essenciais
são: bem corpóreo (móvel ou imóvel), que se encontra na posse direta
do devedor, e, sobretudo, que não seja perecível nem consumível, de
modo que possa ser entregue ao titular da propriedade fiduciária,
caso persista a inadimplência, ao final do stay period.
6.1 A partir de tal conceituação, pode-se concluir, in casu, não se
estar diante de bem de capital, circunstância que, por expressa
disposição legal, não autoriza o Juízo da recuperação judicial obstar
que o credor fiduciário satisfaça seu crédito diretamente com os
devedores da recuperanda, no caso, por meio da denominada trava
bancária.
7. Recurso especial provido.
(REsp 1758746/GO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/09/2018, DJe 01/10/2018)

Bem de ver, assim, que a análise acerca da validade dos atos executivos
realizados no bojo de execuções individuais, durante o stay period, a atrair a competência
exclusiva do Juízo recuperacional para deliberar sobre o patrimônio dos recuperandos, não
perpassa por nenhum juízo de essencialidade dos bens arrestados, não pairando dúvida
alguma, aliás, quanto à concursalidade dos créditos exequendos, conforme bem assentou
o Procurador de Justiça em seu ponderado parecer acostado às fls. 549 (e-STJ):

Inicialmente, cabe ressaltar que o Ministro Marco Aurélio Belizze


concedeu efeito suspensivo ao Recurso Especial interposto pelos
agravantes, determinando a imediata suspensão dos efeitos da
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Superior Tribunal de Justiça
decisão proferida pelo TJ/MT até o julgamento definitivo do recurso
especial. Logo, para todos os efeitos, a Recuperação Judicial está em
processamento, já que restabelecido os efeitos da decisão proferida
pelo Juízo da 2, Vara Cível de Sinop/MT, que deferiu a recuperação
judicial em 04/02/2019 (ID 17786484 dos autos n°
1011782-32.2018.8.11.0015).
Partindo desta premissa, não há dúvidas de que os créditos
dos agravados estão sujeitos à Recuperação Judicial e aos
ditames da Lei 11.101/2005, pois se tratam de créditos
anteriores a data do pedido (art. 49, caput, da Lei 11.101/05).
Por consequência, os arrestos cautelares praticados em
benefício dos agravados devem ser desfeitos, já que
praticados em data posterior ao deferimento da recuperação
judicial e, como se sabe, promovida a adjudicação do bem
penhorado em execução individual, em data posterior ao
deferimento da recuperação judicial ou decretação da falência,
o ato fica desfeito em razão da competência do juízo universal
(Tese 05 - Jurisprudências em Teses do STJ - Recuperação
Judicial 1).
Portanto, a meu ver, o caso discutido não envolve a
essencialidade ou não do bem. Trata-se, na verdade, de
incompetência do juízo comum de realizar penhora em
execução individual de bem sujeito à recuperação judicial, uma
vez que a "competência para promover os atos de execução do
patrimônio da empresa recuperanda é do juízo em que se
processa a recuperação judicial, evitando-se, assim, que
medidas expropriatórias prejudiquem o cumprimento do plano
de soerguimento" (Tese 09 - Jurisprudências em Teses do STJ -
Recuperação Judicial 1).
Por fim, tenho por certo que a liberação dos bens arrestados não
acarretaria prejuízos aos credores agravados, pelo contrário, os
credores estarão resguardados pela previsão do art. 1.443 do CG/02,
cuja incidência não ofende o disposto no §1°do art. 50 da Lei
11.101/05, já que não se estará a substituir o penhor agrícola das
safras, nem a suprimi-lo, restando a garantia hígida, acaso
sobrevenha o insucesso da recuperação.
Do mesmo modo, as recuperandas se beneficiarão da decisão, tendo
em vista que a transformação de suas colheitas em renda possibilitará
o cumprimento de suas obrigações, criando, inclusive, condições
econômico-financeiras para o futuro cumprimento do plano de
recuperação judicial, tutelando o principal objetivo do processo
recuperacional, qual seja, a preservação da empresa (art. 47).
Face o exposto, opino pelo conhecimento e provimento do recurso,
para que os agravados informem os armazéns onde os produtos
foram depositados, autorizando a venda dos bens, a preço de
mercado, intimando o digno Administrador Judicial para
acompanhamento.

Por fim, deve-se ressaltar, uma vez mais, que o objeto da presente
insurgência refere-se unicamente à (in)validade das constrições realizadas no bojo das

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Superior Tribunal de Justiça
execuções individuais, após o deferimento do processamento da recuperação judicial.

Nessa medida, uma vez reconhecida a nulidade absoluta dos atos


constritivos realizados no bojo das execuções individuais, a consequência imediata do
decisum é, naturalmente, o restabelecimento do status quo ante, o que se dá a partir da
disponibilização dos bens arrestados às recorridas, sob o critério e supervisão do
Juízo da recuperação judicial.

Esclareça-se, assim, que a questão referente à possibilidade de o devedor


em recuperação judicial vir a comercializar os bens dados em garantia pignoratícias,
indevidamente arrestados, a fim de viabilizar o plantio da soja 2019/2020 (a essa altura
já implementado por meio da assunção de novos empréstimos, como deixou assente o
Tribunal de origem, com esteio nas informações prestadas pelo Administrador Judicial), ou
para dar continuidade às suas atividades ou para dar consecução, futuramente, aos
termos do Plano de recuperação judicial (ainda não submetido à Assembleia Geral
Credores), é matéria que nem sequer foi objeto de análise pelo Juízo da
recuperação Judicial, conforme consignou o Tribunal estadual, nos seguintes
termos (e-STJ, fl. 569):

Como visto, ainda que cuidasse de crédito concursal, o que se discute


em tese, a liberação dependeria da autorização do credor e da
aprovação do plano, o que ainda não aconteceu.
Mesmo que entendesse pelo cabimento do art. 1.443 do CC,
como sugerem os agravantes, essa situação deveria ser antes
analisada pelo juízo de origem, especialmente diante da
informação de que grande quantidade de soja foi dada em
penhor de primeiro grau nas CPRs emitidas em favor das
empresas que financiaram a próxima safra (2019/2020), como
consignado pelo administrador judicial.
[...]
Importante ressaltar que no precedente do STJ (RESp
1.388.948), em que se admitiu a aplicação em harmonia do art. 50,§1º
e o art.1.443 do CC e autorizou-se a transferência do penhor agrícola
para as safras posteriores, o plano de recuperação judicial já havia
sido aprovado, situação diversa dos autos.
Aqui nem sequer foi realizada a Assembleia Geral de Credores, não
tendo sido deliberado sobre a aprovação ou não do plano
apresentado pelos agravantes, de forma que por ora não se pode
cogitar que a manutenção desses arrestos implicará em pagamento
antecipado a determinados credores em detrimento de outros, até
porque o decisum só indeferiu o pedido de devolução dos
produtos aos recuperandos, mas não autorizou, nem fez
qualquer juízo de valor, que eles ficassem definitivamente em
poder das agravadas.
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Superior Tribunal de Justiça

Desse modo, reconhecida a invalidade dos atos constritivos realizados no


bojo das execuções individuais, as ora recorridas (Friagil Ltda., Louis Dreyfus Company
Brasil S.A. e Bayer S.A.) haverão de proceder à disponibilização dos bens arrestados aos
recorrentes, sob a supervisão e sob os critérios a serem determinados pelo Juízo da
recuperação judicial, a quem compete, também, deliberar sobre eventual pedido,
por parte dos recuperandos, de alienação dos bens, objeto de garantia, para dar
continuidade às suas atividades ou para dar consecução aos termos do plano de
recuperação judicial a ser submetido à Assembleia Geral Credores.

Em arremate, na esteira dos fundamentos acima delineados, dou provimento


ao recurso especial para reconhecer a invalidade do arresto, depósito e remoção de
14.130.518 kg (quatorze milhões, cento e trinta mil e quinhentos e dezoito quilos),
equivalentes à aproximadamente 235.508 (duzentos e trinta e cinco mil e quinhentos e
oito) sacas de grãos de soja, realizados no bojo das execuções individuais,
determinando-se às recorridas (Friagil Ltda., Louis Dreyfus Company Brasil S.A. e Bayer
S.A.) a disponibilização dos aludidos bens aos recorrentes, sob o critério e supervisão
do Juízo da recuperação judicial, em ratificação à tutela deferida.

É o voto.

Documento: 1982025 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/10/2020 Página 26 de 6
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2020/0067076-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.867.694 / MT

Números Origem: 10106634720198110000 10117823220188110015 10151393120198110000

PAUTA: 15/09/2020 JULGADO: 15/09/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS ALPINO BIGONHA
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ALESSANDRA CAMPOS DE ABREU NICOLI
RECORRENTE : ALESSANDRO NICOLI
ADVOGADOS : ROBERTA MARIA RANGEL - DF010972
EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680
ADVOGADOS : JOANA D'ARC AMARAL BORTONE - DF032535
LUIS GUSTAVO SEVERO - DF034248
ALLISON GIULIANO FRANCO E SOUSA - MT015836
MAYARA DE SA PEDROSA - DF040281
SOC. de ADV. : RANGEL ADVOCACIA
RECORRIDO : BAYER S/A
ADVOGADOS : CELSO UMBERTO LUCHESI - SP076458
ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA FREITAS - SP166496
RECORRIDO : LOUIS DREYFUS COMPANY BRASIL S.A
ADVOGADOS : RENATO LUIZ FRANCO DE CAMPOS - SP209784
CARLOS MACEDO BARROS E OUTRO(S) - DF050253
JOAO GRANDINO RODAS E OUTRO(S) - SP023969
MARCO AURÉLIO TAVARES FRANCISCO E OUTRO(S) - SP215973
RECORRIDO : FIAGRIL LTDA
ADVOGADO : BRUNO ALEXANDRE DE OLIVEIRA GUTIERRES - SP237773
RECORRIDO : NICOLI AGRO LTDA
ADVOGADOS : EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Recuperação judicial e Falência - Administração judicial

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. ALLISON GIULIANO FRANCO E SOUSA e Dr. EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR, pela
Documento: 1982025 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/10/2020 Página 27 de 6
Superior Tribunal de Justiça
parte RECORRENTE: ALESSANDRA CAMPOS DE ABREU NICOLI
Dr JOAO GRANDINO RODAS e Dr. RENATO LUIZ FRANCO DE CAMPOS, pela parte
RECORRIDA: LOUIS DREYFUS COMPANY BRASIL S.A

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze, dando provimento ao recurso
especial, pediu vista antecipada o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. Aguardam os Srs.
Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente).

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.867.694 - MT (2020/0067076-4)
RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE
RECORRENTE : ALESSANDRA CAMPOS DE ABREU NICOLI
RECORRENTE : ALESSANDRO NICOLI
ADVOGADOS : ROBERTA MARIA RANGEL - DF010972
EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680
ADVOGADOS : JOANA D'ARC AMARAL BORTONE - DF032535
LUIS GUSTAVO SEVERO - DF034248
ALLISON GIULIANO FRANCO E SOUSA - MT015836
MAYARA DE SA PEDROSA - DF040281
SOC. de ADV. : RANGEL ADVOCACIA
RECORRIDO : BAYER S/A
ADVOGADOS : CELSO UMBERTO LUCHESI - SP076458
ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA FREITAS - SP166496
RECORRIDO : LOUIS DREYFUS COMPANY BRASIL S.A
ADVOGADOS : RENATO LUIZ FRANCO DE CAMPOS - SP209784
CARLOS MACEDO BARROS E OUTRO(S) - DF050253
JOAO GRANDINO RODAS E OUTRO(S) - SP023969
MARCO AURÉLIO TAVARES FRANCISCO E OUTRO(S) - SP215973
RECORRIDO : FIAGRIL LTDA
ADVOGADO : BRUNO ALEXANDRE DE OLIVEIRA GUTIERRES - SP237773
RECORRIDO : NICOLI AGRO LTDA
ADVOGADOS : EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680

VOTO-VISTA
VENCIDO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA: Pedi vista dos autos
para melhor compreensão da controvérsia.

Trata-se de recurso especial interposto por ALESSANDRO NICOLI e


ALESSANDRA CAMPOS DE ABREU NICOLI, com fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas “a”
e “c”, da Constituição Federal, impugnando acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Mato Grosso no julgamento de agravo de instrumento interposto pelas recorridas e
naquela Corte registrado sob o nº 1015139-31.2019.8.11.0000 (fls. 555/570, e-STJ).

Consta dos autos que os recorrentes pretendiam que fossem disponibilizados


pelos credores LDC, Fiagril e Bayer os certificados de depósito dos armazéns onde se
encontravam os produtos por eles arrestados (soja), com a autorização, em sequência, da
venda dos produtos.

O Juízo de primeiro grau, entendendo que a situação era diversa daquela em que
foi obstada a remoção de maquinários e capital de giro, indeferiu o pedido, consignando:

Documento: 1982025 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 15/10/2020 Página 29 de 6
Superior Tribunal de Justiça
“(...)
3.2. Por outro lado, insta consignar que os recuperandos,
sabedores da situação em que se encontravam (crise financeira), ao ingressarem
com o pedido de recuperação judicial, tinham plena consciência, por consectário
lógico, que o pedido de recuperação daria fôlego ao grupo, porém dificultaria a
obtenção de crédito e aumentaria a margem de insolvência.
3.3. Neste sentido, no que toca aos pedidos de
liberação/restituição/venda e/ou depósitos de valores da soja arrestada, não
obstante o referido produto se trata de ativo circulante dos recuperandos, a safra
arrestada já se encontrava há muito comprometida, conforme se verifica dos
contratos firmados com os credores (CPRs) e do título judicial juntados aos autos
(IDs. 17673913, 17883828, 20762840 [Pág. 130-137]).
3.4. Com efeito, a liberação/restituição/venda da soja arrestada,
somente se tornou essencial em virtude da omissão dos recuperandos, que não
se dispuseram a buscar outros meios de se reestruturar financeiramente.
3.5. Ora, o procedimento recuperacional certamente impõe
sacrifícios aos credores, mas necessária e obrigatoriamente também deve impor
sacrifícios aos devedores. Deste modo, neste momento processual, não se
mostra razoável e nem proporcional a restituição dos referidos bens, constritos no
período de suspensão da decisão que deferiu o processamento da recuperação
judicial (15.02.2019-17.05.2019)” (fls. 56/57, e-STJ).

O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, por unanimidade de votos dos


integrantes de sua Quarta Turma, negou provimento ao agravo de instrumento interposto pelos
recorrentes em acórdão assim ementado:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECUPERAÇÃO JUDICIAL – FASE DE STAY


PERIOD – SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES AJUIZADAS CONTRA A
RECUPERANDA – AGC NÃO REALIZADA – PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE
SOJA OBJETO DE ARRESTO NO PERÍODO EM QUE A RJ ESTAVA SUSPENSA
– PRODUTOS QUE EM SUA MAIORIA CONSTITUEM A GARANTIA DE CPR'S –
ESSENCIALIDADE NÃO EVIDENCIADA NO MOMENTO – SAFRA ASSEGURADA
ATRAVÉS DE FINANCIAMENTO COM TERCEIROS – INFORMAÇÃO PRESTADA
PELO ADMINISTRADOR JUDICIAL – RECURSO NÃO PROVIDO.
O deferimento do processamento da Recuperação Judicial suspende o curso da
prescrição e de todas as Ações e Execuções contra a recuperanda (art. 6º, § 4º,
e art. 49, § 3º, da Lei nº 11.101/2005).
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, embora a penhora dos créditos
devidos à recuperanda tenha sido realizada antes do pedido de recuperação
judicial, a competência para deliberar sobre o levantamento dos respectivos
valores passou a ser do Juízo onde se processa o pedido de recuperação (CC nº
147.994/GO).
Apesar de o artigo 49 da Lei 11.101/2005 estabelecer no final do § 3º que no stay
period é vedada a venda ou retirada do estabelecimento do devedor dos bens de
capital essenciais a sua atividade empresarial, ainda que se trata de créditos não
submetidos à RJ, isso não autoriza a imediata liberação em favor da recuperanda
de qualquer bem que tenha sido objeto de constrição, sobretudo quando os
arrestos ocorreram no intervalo em que a RJ estava suspensa.
A análise da situação exige extrema cautela se os bens objeto do arresto
consistem nas próprias garantias prestadas pelos recuperandos em cédulas de
produto rural emitidas para o financiamento da safra, e portanto, já
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Superior Tribunal de Justiça
comprometida, não podendo ser considerada a príncípio como fonte de renda da
safra seguinte. Tratando-se de commodities, constituem ativos destinados à
circulação, ou seja, quando comercializados esvaziam a própria garantia.
Não se vislumbra a essencialidade da restituição dos bens para a continuidade da
atividade econômica dos produtores rurais se há informação do administrador
judicial de que foi possíval a implantação da safra através do financiamento obtido
com terceiros” (fls. 557/558, e-STJ).

Daí a interposição do recurso especial ora em exame.

No apelo extremo, os recorrentes esclarecem que sua recuperação judicial está


em processamento, já que foi concedida tutela de urgência para conferir efeito suspensivo ao
recurso especial interposto contra o acórdão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso que
indeferiu o processamento da recuperação judicial (TP nº 2.017/MT). Apontam, além da
ocorrência de dissídio jurisprudencial, violação dos artigos 47 e 49, § 5º, da Lei nº 11.101/2005
e art. 1.443, parágrafo único, do Código Civil.

Sustentam que os bens de capital essenciais à atividade da empresa em


recuperação devem ser mantidos na sua posse, questão que deve ser submetida ao crivo do
Juízo da recuperação mesmo na hipótese em que os atos expropriatórios sejam anteriores ao
pedido.

Ressaltam ser necessária a reunião de ativos em prol do soerguimento da


empresa.

Defendem que o Tribunal de origem feriu de morte a concursalidade de que trata


o artigo 49 da Lei nº 11.101/2005, além de esquecer dos propósitos do artigo 47 da referida lei.

Aduzem que os contratos têm como garantia o penhor, não se tratando de


alienação ou cessão fiduciária em garantia, o que os excluiria dos efeitos da recuperação
judicial. Concluem, assim, que os créditos somente poderão ser pagos na forma do plano de
recuperação, não havendo motivo para discutir a essencialidade dos bens.

Afirmam que a produção rural depende de datas definidas para a realização de


seus atos, sendo que a perda do momento do plantio pode gerar graves danos. Diante disso,
sustentam que precisam dos grãos para trocar por insumos necessários à safra seguinte, além
de, na fase atual, necessitarem de mais valores para fazerem frente às despesas com
maquinários, pessoal e combustível. Assim, não bastou o financiamento obtido para o plantio,
como afirmou a Corte local.

Asseveram que “é defeso ao credor proceder à constrição de produtos agrícolas

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Superior Tribunal de Justiça
que guardam identidade com a atividade precípua dos recorrentes” (fl. 629, e-STJ), não
havendo óbice para a restituição do que foi levado, ou o depósito do valor correspondente no
Juízo da recuperação.

Entendem que não há risco de perecimento das garantias, porque a continuidade


do ciclo impõe a renovação da garantia para as demais safras que seguem. Assim, as
recorridas terão seus direitos restituídos automaticamente para as safras futuras, que recairá
sobre o excesso apurado na colheita anterior.

Destacam que o credor somente perderá as garantias “por conduta própria,


como, por exemplo, se não proceder ao fomento da safra futura (CC – parágrafo único, art.
1.443)” (fl. 631, e-STJ).

Requerem, diante da maturidade da causa, que seja determinado que as


recorridas façam o depósito judicial dos valores auferidos com a venda dos bens arrestados,
autorizando-se desde logo o levantamento desses valores.

Alegam que precisam de, no mínimo, quantia de R$ 3.752.000,00 (três milhões e


setecentos e cinquenta e dois mil reais), lembrando que o total da safra custará mais de R$
24.000.000,00 (vinte e quatro milhões de reais).

Diante disso pedem que seja concedida antecipação de tutela para determinar o
depósito do valor da soja do dia do pagamento ou, alternativamente, o depósito do valor de R$
3.752.000,00 (três milhões e setecentos e cinquenta e dois mil reais) para as contas mais
urgentes, ou dos valores que as recorridas entenderem devidos, sob pena de multa diária de
R$ 100.000,00 (cem mil reais) e a configuração de crime de desobediência.

Contrarrazões de Bayer S.A. às fls. 776/783 (e-STJ), de Louis Dreyfus Company


Brasil S.A. às fls. 785/804 (e-STJ) e de Fiagril Ltda. às fls. (806/830, e-STJ).

O recurso especial foi admitido pela decisão de fls. 831/835 (e-STJ).

Às fls. 883/972, o Relator deferiu o pedido de tutela provisória incidental para


conferir efeito ativo ao presente recurso especial, determinando que “os requeridos precedam à
disponibilização dos bens arrestados ou do correspondente valor, nos termos definidos pelo
Juízo da recuperação judicial, sob sua supervisão e sob os critérios a serem por ele
determinados –, providência a perdurar até o julgamento final do REsp n. 1.867.694/MT” (fl.
993, e-STJ).

Louis Dreyfus Company Brasil S.A. e Bayer S.A. interpuseram agravos internos
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Superior Tribunal de Justiça
(fls. 1.001/1.101 e 1.117/1.128, e-STJ respectivamente).

Na petição de fls. 1.117/1.128 (e-STJ), Louis Dreyfus Company Brasil S.A.


requereu a concessão de efeito suspensivo ativo ao agravo interno de fls. 1.001/1.101 (e-STJ),
tendo sido indeferido o pedido (fls. 1.155/1.161, e-STJ).

Às fls. 1.231/1.262 (e-STJ), Louis Dreyfus Company Brasil S.A. informa que os
recorrentes têm lançado interpretação diversa quanto ao teor da tutela de urgência concedida,
motivo pelo qual a provimento deveria ser cassado. Transcreve a seguinte manifestação dos
requerentes dirigida ao juízo de piso:

(...)
Conforme se vê acima Excelência, a atuação deste juízo deve ser
destinada exclusivamente a dar impulso às ordens exaradas pelo Superior
Tribunal de Justiça, não podendo no meio do jogo ser alterada a decisão
proferida pelo STJ, que, como dito estava destinada exclusivamente a
proporcionar a entrada desses recursos provenientes dos arrestos nas contas
dos recuperandos, para que estes, de acordo com a planilha já apresentada em
juízo fazerem frente às despesas operacionais, que não estão limitas
exclusivamente aos custeios da safra, mas também ao pagamento de sua folha, e,
de todos os outros compromissos financeiros durante o período de sua operação,
de sorte que, prevalecendo a decisão até aqui proferida estará invertendo toda a
urgência em prol de um único credor, que gera sim uma preocupação sobre a
imparcialidade deste juízo na condução do presente feito” (fl. 1.233, e-STJ).

Alessandro Nicoli e outra apresentaram impugnações aos agravos internos (fls.


1.309/1.326 e 1.329/1.352, e-STJ).

Levado o feito a julgamento, pela egrégia Terceira Turma, em 15.9.2020, após a


prolação do voto do relator, Ministro Marco Aurélio Bellizze, dando provimento ao recurso
especial, pedi vista dos autos e ora apresento meu voto.

É o relatório.

Cinge-se a controvérsia a definir se devem ser devolvidos os bens arrestados


pelos credores quando foi reformada pelo Tribunal de origem a decisão que havia deferido a
recuperação judicial dos produtores rurais ou se deve ser depositado o respectivo valor perante
o Juízo recuperacional.

No laborioso voto que apresentou a esta Turma julgadora na sessão de


15/9/2020 o relator do feito, Ministro Marco Aurélio Bellizze, concluiu que (i) a decisão proferida
na TP nº 2.017/MT restabeleceu o processamento da recuperação judicial dos recorrentes; (ii)
o entendimento ora manifestado parte do pressuposto de que a Terceira Turma deu provimento

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Superior Tribunal de Justiça
ao REsp nº 1.821.773/MT, admitindo a recuperação judicial do produtor rural inscrito a menos
de 2 (dois) anos na Junta; (iii) o entendimento exarado pelas instâncias ordinárias ignorou os
efeitos legais da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial, especificamente
quanto à suspensão das execuções individuais promovidas contra os recuperandos e à
competência do juízo da recuperação para deliberar sobre o destino de seu patrimônio; (iv)
ainda que a decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial seja objeto de
impugnação recursal, o provimento judicial que venha a reconhecer o acerto da decisão tem o
condão de manter incólumes todos os efeitos legais dela decorrentes, desde a sua prolação;
(v) entendimento diverso acarretaria o esvaziamento da recuperação e permitiria o
levantamento do patrimônio dos recuperandos em favor de determinados credores no âmbito
das execuções individuais, em detrimento dos demais; (vi) o período de suspensão das ações
pelo prazo de 180 (cento e oitenta dias) é indispensável para a reestruturação da empresa em
recuperação; (vii) os atos executivos realizados nas execuções individuais promovidas por
credores contra os produtores rurais consistentes no arresto, no depósito e na remoção de
sacos de grãos de soja, deram-se em momento posterior ao deferimento da recuperação, o que
evidencia sua invalidade; (viii) a jurisprudência da Segunda Seção está consolidada no sentido
de que inclusive os atos de constrição realizados antes da decisão que defere o processamento
da recuperação estão submetidos à força atrativa do Juízo recuperacional; (ix) revela-se
descabido perquirir acerca da essencialidade dos bens pois os créditos são representados por
cédulas de produto rural garantidas por penhor, que não se encaixam nas exceções do art. 49,
§ 3º, da LRF, motivo pelo qual não se aplica à espécie o entendimento acolhido no REsp nº
1.758.746/GO, e (x) a consequência imediata do reconhecimento da nulidade dos atos
constritivos é o restabelecimento ao status quo ante, o que se dá a partir da disponibilização
dos bens arrestados aos recorrentes, sob a supervisão do Juízo da recuperação judicial, a
quem caberá decidir acerca da necessidade de sua alienação.

Com tais considerações, sua Excelência votou por dar provimento ao recurso
especial para “reconhecer a invalidade do arresto, depósito e remoção de 14.130.518 Kg
(quatorze milhões, cento e trinta mil e quinhentos e dezoito quilos), equivalentes à
aproximadamente 235.508 (duzentos e trinta e cinco mil e quinhentos e oito) sacas de grãos de
soja, realizados no bojo das execuções individuais, determinando-se às recorridas (Friagil Ltda.,
Louis Dreyfus Company Brasil S.A. e Bayer S.A.) a disponibilização dos aludidos bens aos
recorrentes, sob o critério e supervisão do Juízo da recuperação judicial, em ratificação à tutela
deferida”.

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Superior Tribunal de Justiça
1. Da incidência da Súmula nº 283/STF

Conforme se colhe do acórdão recorrido, o Tribunal de Justiça do Estado de Mato


Grosso entendeu que os atos expropriatórios são válidos, porque realizados no período em que
a recuperação judicial estava suspensa, conforme se verifica do seguinte trecho:

“(...) ainda mais no caso dos autos em que os arrestos ocorreram


no intervalo em que a RJ estava suspensa, sendo portanto válidos, não sendo
possível desconstituí-los apenas em razão do retorno do processamento da RJ,
até porque não houve essa determinação na TP 2017-STJ” (fl. 563, e-STJ -
grifou-se).

Os recorrentes, em suas razões, apontam violação dos artigos 47 e 49, § 5º, da


Lei nº 11.101/2005 e art. 1.443, parágrafo único, do Código Civil, os quais não tratam da
questão em nenhum de seus aspectos. De fato, referidos dispositivos legais não cuidam do stay
period, nem tampouco dos efeitos em que são recebidos os recursos, ou mesmo de atos
jurídicos perfeitos e acabados, não sendo suficientes, portanto, para impugnar o fundamento
apontado.

Além disso, os recorrentes apontam a existência de dissídio jurisprudencial em


relação a acórdãos nos quais ficou decidido ser do Juízo da recuperação judicial a competência
para decidir quanto ao prosseguimento dos atos executórios após o deferimento do
processamento da recuperação ainda que haja penhora anterior. Nenhum deles, porém, trata
da hipótese em que a decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial foi
reformada, havendo um período de tempo em que não estava gerando efeitos, motivo pelo qual
o fundamento utilizado pelo acórdão recorrido não é atingido por nenhum deles.

Cumpre consignar, ademais, que os acórdãos apontados como paradigma foram


proferidos em conflitos de competência, (CC nº 165.402/PR, AgRg no CC nº 136.040/GO, AgInt
no CC nº 147.994/MG, CC nº 111.614/DF, AgInt no CC nº 152.153/MG e AgInt no CC nº
148.987/SP), os quais não se prestam, nos termos da iterativa jurisprudência desta Corte, a
comprovar a existência de dissídio jurisprudencial.

A propósito:

“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. INADMISSIBILIDADE DE
PARADIGMA EM HC PARA COMPROVAR A DIVERGÊNCIA. VIOLAÇÃO DE
DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. DESCABIMENTO. PLEITOS DE
ABSOLVIÇÃO POR ATIPICIDADE, EXCLUSÃO DA CAUSA DE AUMENTO DE
PENA PREVISTA NO ART. 317, § 1º, DO CP E ART. 71 DO CP. QUESTÕES
DECIDIDAS NO RESP N. 1.693.690/AC. PREJUDICIALIDADE. REITERAÇÃO DE
PEDIDO. INVIABILIDADE. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS. ACÓRDÃO
RECORRIDO. FUNDAMENTOS NÃO IMPUGNADOS. INCIDÊNCIA DAS
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Superior Tribunal de Justiça
SÚMULAS 283 E 284/STF. PLEITO DE CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS, DE
OFÍCIO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL E DE FLAGRANTE
ILEGALIDADE.
1. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que não se
admite como paradigma para comprovar eventual dissídio, acórdão proferido
em habeas corpus, mandado de segurança, recurso ordinário em habeas
corpus, recurso ordinário em mandado de segurança e conflito de
competência. Inúmeros precedentes.
2. Descabida a alegada afronta ao art. 5º da Constituição Federal. Esta Corte, em
sucessivas decisões, deixou assinalado que o recurso especial não é a via
adequada ao exame de suposta violação de dispositivos constitucionais,
considerando o disposto no art. 102, III, da Constituição Federal, sob pena de
usurpação da competência atribuída ao Supremo Tribunal Federal.
3. Caso em que as teses de absolvição do crime de corrupção passiva, por
atipicidade dos fatos, exclusão da causa de aumento de pena prevista no art.
317, § 1º, do Código Penal, e equívoco na majoração da pena a título de
continuidade delitiva já foram analisadas e decididas por esta Corte em anterior
recurso especial interposto na mesma ação penal, o que impede a sua
apreciação em nova insurgência.
4. As razões recursais não tangenciaram os fundamentos do acórdão recorrido,
no ponto em que apreciou questões específicas em relação ao corréu. Por
estarem as razões dissociadas e por não haver impugnação específica aos
fundamentos do acórdão recorrido têm incidência os óbices das Súmulas 283 e
284/STF.
5. A concessão de habeas corpus, de ofício, demanda a ocorrência de flagrante
ilegalidade, situação que não se verifica no presente caso.
6. Agravo regimental improvido.”
(AgRg no REsp 1.849.766/AC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 1º/9/2020, DJe 9/9/2020)

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. RECEBIMENTO DOS EMBARGOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.
AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE E PRESTAÇÃO DE CONTAS.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. ARTS. 541, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC
E 255, § 2º, DO RISTJ. ACÓRDÃO PARADIGMA PROFERIDO EM CONFLITO DE
COMPETÊNCIA. INADMISSIBILIDADE. JULGADOS SUBMETIDOS A
CONFRONTO. INEXISTÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICO-JURÍDICA. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. Recebem-se como agravo regimental embargos de declaração opostos a
decisão monocrática, por força dos princípios da economia processual e da
fungibilidade.
2. O recurso especial fundado na alínea "c" do permissivo constitucional exige o
pleno atendimento dos requisitos indispensáveis à comprovação da divergência
jurisprudencial, conforme prescrito nos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 255,
§ 2º, do RISTJ.
3. Não se admitem como paradigmas, para fins de comprovação do dissídio
jurisprudencial em recurso especial, acórdãos proferidos em recurso
ordinário em mandado de segurança, ação rescisória, habeas corpus e
conflito de competência. Precedentes do STJ.
4. O conhecimento da divergência jurisprudencial reclama a existência de
similitude fático-jurídica entre o acórdão recorrido e os paradigmas submetidos a
confronto.
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5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega
provimento.”
(EDcl no REsp 1.254.636/ES, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 14/4/2015, DJe 23/4/2015)

É preciso consignar, ainda, que os recorrentes não realizaram o cotejo analítico


de modo a demonstrar a existência de similitude fática entre os arestos confrontados, o que
também inviabiliza o conhecimento do recurso pela alínea “c” do permissivo constitucional.

Nesse contexto, o fundamento utilizado pelo Tribunal de origem, de que se estaria


diante de atos perfeitos e acabados, e que, portanto, não poderiam ser alterados, suficiente por
si só para manter o acórdão recorrido, não foi objeto de impugnação válida no recurso especial,
que não merece, portanto, ser conhecido.

2. Da Recuperação Judicial do produtor rural

O registro do produtor rural tem natureza constitutiva, de modo que, apenas com
o registro o produtor rural passa a ser considerado empresário, isto é, ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário registrado (efeito ex nunc).

Assim, como o art. 48 da Lei nº 11.101/2005 é expresso ao estabelecer o mínimo


de 2 (dois) anos de atividade regular do devedor empresário, somente pode ser
considerado o tempo a partir do registro, isto é, o tempo do exercício da atividade
como empresário.

Na hipótese dos autos, verifica-se que os recorrentes obtiveram o registro em


29.11.2018, 7 (sete) dias antes de ingressar com o pedido de recuperação judicial (fl. 1.494,
e-STJ, REsp nº 1.811.952/MT).

Nesse contexto, não preenchem o requisito temporal de 2 (dois) anos de exercício


regular de atividade como empresário de que trata o artigo 48 da Lei nº 11.101/2005, motivo
pelo qual nem sequer fazem jus aos benefícios da recuperação judicial.

3. Da oponibilidade da condição de empresário a terceiros

Nos termos do artigo 1º, I, da Lei nº 8.934/1994, o Registro Público de Empresas


Mercantis tem como finalidade dar garantia, publicidade e segurança aos atos jurídicos das
empresas mercantis. Esses atos podem ser conhecidos por terceiros mediante consulta aos
assentamentos e extração de certidões (art. 29).

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Superior Tribunal de Justiça
Dentre os atos abrangidos pelo registro está o arquivamento de documentos
relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas individuais (art. 32, II, “a”).

A partir da inscrição do empresário é aberto um registro no qual serão averbadas


todas as modificações que lhe digam respeito. Em relação ao empresário individual, serão
averbadas para conhecimento público todas as alterações que possam implicar na modificação
de seu patrimônio, como o casamento, os pactos e declarações antenupciais, os títulos de
doação, herança e bens gravados com cláusula de inalienabilidade e incomunicabilidade
(artigos 979 e 980 do Código Civil).

Essa determinação tem como objetivo dar conhecimento a terceiros de que: (i)
estão contratando com um empresário e (ii) qual é a situação de seu patrimônio no momento do
ajuste. A ausência do registro tem como consequência a inoponibilidade a terceiros dos atos
não registrados, sob pena de se prestigiar a má-fé nas relações jurídicas.

Assim, a condição de empresário e as consequências advindas desse ato


somente poderão ser opostas a quem com ele contratou se, no momento do ajuste, já
havia sido realizado o registro.

Conforme se colhe da sentença (fl. 56, e-STJ), os contratos objeto de execução


por parte dos credores (CPRs) foram firmados antes dos recorrentes realizarem o registro na
Junta Comercial, o que ocorreu em 29.11.2018.

Nesse contexto, como na data da contratação inexistia registro na Junta


Comercial, não é possível opor às credoras a condição de empresário dos recorrentes
e, portanto, a própria recuperação judicial.

4. Do dispositivo

Ante o exposto, divirjo do Relator para não conhecer do recurso especial e, caso
superada a preliminar, para negar-lhe provimento.

É o voto.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2020/0067076-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.867.694 / MT

Números Origem: 10106634720198110000 10117823220188110015 10151393120198110000

PAUTA: 06/10/2020 JULGADO: 06/10/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃES
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ALESSANDRA CAMPOS DE ABREU NICOLI
RECORRENTE : ALESSANDRO NICOLI
ADVOGADOS : ROBERTA MARIA RANGEL - DF010972
EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680
ADVOGADOS : JOANA D'ARC AMARAL BORTONE - DF032535
LUIS GUSTAVO SEVERO - DF034248
ALLISON GIULIANO FRANCO E SOUSA - MT015836
MAYARA DE SA PEDROSA - DF040281
SOC. de ADV. : RANGEL ADVOCACIA
RECORRIDO : BAYER S/A
ADVOGADOS : CELSO UMBERTO LUCHESI - SP076458
ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA FREITAS - SP166496
RECORRIDO : LOUIS DREYFUS COMPANY BRASIL S.A
ADVOGADOS : RENATO LUIZ FRANCO DE CAMPOS - SP209784
CARLOS MACEDO BARROS E OUTRO(S) - DF050253
JOAO GRANDINO RODAS E OUTRO(S) - SP023969
MARCO AURÉLIO TAVARES FRANCISCO E OUTRO(S) - SP215973
RECORRIDO : FIAGRIL LTDA
ADVOGADO : BRUNO ALEXANDRE DE OLIVEIRA GUTIERRES - SP237773
RECORRIDO : NICOLI AGRO LTDA
ADVOGADOS : EUCLIDES RIBEIRO S JUNIOR - MT005222
EDUARDO HENRIQUE VIEIRA BARROS - MT007680

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Recuperação judicial e Falência - Administração judicial

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
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Superior Tribunal de Justiça
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, divergindo do voto do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze, a Terceira Turma, por maioria,
deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votou vencido o
Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Paulo
de Tarso Sanseverino (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.

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