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RELATOR :
MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
R.P/ACÓRDÃO :
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
RECORRENTE :
BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO :
GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) -
DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S) - DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO
DE CONTAS. SEGUNDA FASE. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM
CONTA CORRENTE. JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DOS ENCARGOS CONTRATUAIS, QUE DEVEM
SER MANTIDOS NOS TERMOS EM QUE PRATICADOS NO CONTRATO BANCÁRIO
SEM PREJUÍZO DA POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO REVISIONAL.
1. Tese para os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973:
- Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas.
2. O titular da conta-corrente bancária tem interesse processual para propor ação de
prestação de contas, a fim de exigir do banco que esclareça qual o destino do dinheiro
que depositou, a natureza e o valor dos créditos e débitos efetivamente ocorridos em
sua conta, apurando-se, ao final, o saldo credor ou devedor. Exegese da Súmula 259.
3. O rito especial da ação de prestação de contas não comporta a pretensão de alterar
ou revisar cláusula contratual, em razão das limitações ao contraditório e à ampla
defesa.
4. Essa impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas contratuais diz respeito a
todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não pode o autor da ação deduzir
pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase), conforme a reiterada
jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em impugnação às contas
prestadas pelo réu (segunda fase).
5. O contrato de conta-corrente com abertura de limite de crédito automático (cheque
especial) é negócio jurídico complexo. Se o cliente não utiliza o limite de crédito, não há
dúvida de que o banco está empregando o dinheiro do correntista na compensação dos
cheques, ordens de pagamento e transferências por ele autorizadas. Havendo utilização
do limite do cheque especial, concretiza-se contrato de empréstimo, cuja possibilidade
era apenas prevista no contrato de abertura da conta.
6. A taxa de juros do empréstimo tomado ao banco não diz respeito à administração
dos recursos depositados pelo autor da ação. Ela compreende a remuneração do
capital emprestado e flutua, conforme as circunstâncias do mercado e as vicissitudes
particulares, em cada momento, da instituição financeira e do cliente. A taxa de juros
em tal tipo de empréstimo é informada por meios diversos, como extratos, internet e
atendimento telefônico.
7. Não se sendo a ação de prestação de contas instrumento processual adequado à
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 1 de 15
Superior Tribunal de Justiça
revisão de contrato de mútuo (REsp. 1.293.558/PR, julgado sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973, relator Ministro Luís Felipe Salomão), da mesma forma não se presta esse
rito especial para a revisão de taxas de juros e demais encargos de empréstimos
obtidos por meio de abertura de limite de crédito em conta-corrente.
8. O contrato bancário que deve nortear a prestação de contas e o respectivo
julgamento - sem que caiba a sua revisão no rito especial - não é o simples formulário
assinado no início do relacionamento, mas todo o conjunto de documentos e práticas
que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos. Esse feixe de obrigações e
direitos não cabe alterar no exame da ação de prestação de contas.
9. Caso concreto: incidência do óbice da Súmula n. 283 do STF, no tocante à alegação
de decadência quanto ao direito de impugnar as contas. No mérito, o Tribunal de
origem, ao decidir substituir a taxa de juros remuneratórios aplicada ao longo da relação
contratual e excluir a capitalização dos juros, ao fundamento de que não houve
comprovação da pactuação de tais encargos, efetuou, na realidade, revisão do contrato
de abertura de crédito em conta corrente, o que não é compatível com o rito da
prestação de contas.
10. Recurso especial a que se dá parcial provimento para manter os juros
remuneratórios e a capitalização nos termos em que praticados no contrato em exame,
sem prejuízo da possibilidade de ajuizamento de ação revisional.
ACÓRDÃO
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 2 de 15
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA HILDA MARSIAJ PINTO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS FEBRABAN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado o julgamento por indicação do Sr. Ministro Relator.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 3 de 15
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS FEBRABAN -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
RELATÓRIO
Em suas razões, a parte recorrente alegou violação dos arts. 1º, inciso V,
e 4º, inciso IX, da Lei 4.595/64, art. 26, inciso II, do Código de Defesa do
Consumidor, e art. 591 Código Civil, sob os argumentos de: (a) descabimento
de pedido revisional em ação de prestação de contas; (b) decadência do direito
de impugnar eventuais lançamentos indevidos; (c) legalidade da taxa de juros
contratada; (d) validade da capitalização mensal ou anual de juros.
O recurso especial foi inadmitido na origem, tendo ascendido a esta Corte
Superior por força do agravo do art. 544 do Código de Processo Civil (cf. fl.
1054/1064).
O agravo foi provido, para determinar a reautuação como recurso
especial (cf. fl. 1089).
Por decisão deste relator, recurso especial foi afetado ao rito do art.
543-C do Código de Processo Civil para consolidar do entendimento desta
Corte acerca da "possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na
segunda fase da ação de prestação de contas".
Os amici curiae BANCO CENTRAL DO BRASIL e FEDERAÇÃO
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 5 de 15
Superior Tribunal de Justiça
BRASILEIRA DE BANCOS - FEBRABAN manifestaram-se pela
impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais na ação de prestação de
contas.
A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO absteve-se de opinar, sob o
argumento de que "não seria recomendável, em nome do órgão, a adoção de
uma posição definitiva" (fl. 1161).
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL opinou pelo não conhecimento
do recurso.
É o relatório.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 6 de 15
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
VOTO
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 7 de 15
Superior Tribunal de Justiça
Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a
citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou
contestar a ação.
§ 1º. Prestadas as contas, terá o autor 5 (cinco) dias para dizer sobre
elas; havendo necessidade de produzir provas, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento; em caso contrário, proferirá desde
logo a sentença.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 8 de 15
Superior Tribunal de Justiça
condenado a pagar o saldo e não o fazendo no prazo legal, o juiz
poderá destituí-lo, seqüestrar os bens sob sua guarda e glosar o prêmio
ou gratificação a que teria direito.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 9 de 15
Superior Tribunal de Justiça
evitar o posterior ajuizamento de uma ação revisional.
Argumenta-se, de outro lado, que não há amparo legal para se revisar
cláusulas contratuais nesse procedimento especial. Ademais, o rito especial
seria incompatível com essa pretensão, devido às limitações ao contraditório e
à ampla defesa.
Esse último entendimento acabou prevalecendo na jurisprudência desta
Corte Superior, conforme bem demonstrou a amicus curiae FEBRABAN,
apontando decisões de todos os Ministros integrantes desta Seção (cf. fls.
1155/1157).
Ilustrativamente, transcrevem-se as seguintes ementas de decisões das
duas Turmas integrantes desta Segunda Seção:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE. CABIMENTO DA
AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS (SÚMULA 259). INTERESSE
DE AGIR. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. COMISSÃO
DE PERMANÊNCIA, JUROS, MULTA, CAPITALIZAÇÃO, TARIFAS.
IMPOSSIBILIDADE.
1. O titular de conta-corrente bancária tem interesse processual para
exigir contas do banco (Súmula 259). Isso porque a abertura de
conta-corrente tem por pressuposto a entrega de recursos do
correntista ao banco (depósito inicial e eventual abertura de limite de
crédito), seguindo-se relação duradoura de sucessivos créditos e
débitos. Por meio da prestação de contas, o banco deverá demonstrar
os créditos (depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados
em sua conta-corrente (cheques pagos, débitos de contas, tarifas e
encargos, saques etc) ao longo da relação contratual, para que, ao
final, se apure se o saldo da conta corrente é positivo ou negativo, vale
dizer, se o correntista tem crédito ou, ao contrário, se está em débito.
2. A entrega de extratos periódicos aos correntistas não implica, por si
só, falta de interesse de agir para o ajuizamento de prestação de contas,
uma vez que podem não ser suficientes para o esclarecimento de todos
os lançamentos efetuados na conta-corrente.
3. Hipótese em que a padronizada inicial, a qual poderia servir para
qualquer contrato de conta-corrente do Banco Banestado, bastando a
mudança do nome das partes e do número da conta, não indica
exemplos concretos de lançamentos não autorizados ou de origem
desconhecida e sequer delimita o período em relação ao qual há
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 10 de 15
Superior Tribunal de Justiça
necessidade de prestação de contas, postulando sejam prestadas contas,
em formato mercantil, no prazo legal de cinco dias, de todos os
lançamentos desde a abertura da conta-corrente, treze anos antes do
ajuizamento da ação. Tal pedido, conforme voto do Ministro Aldir
Passarinho Junior, acompanhado pela unanimidade da 4ª Turma no
REsp. 98.626-SC, "soa absurdo, posto que não é crível que desde o
início, em tudo, tenha havido erro ou suspeita de equívoco dos extratos
já apresentados."
4. A pretensão deduzida na inicial, voltada, na realidade, a aferir a
legalidade dos encargos cobrados (comissão de permanência, juros,
multa, tarifas), deveria ter sido veiculada por meio de ação ordinária
revisional, cumulada com repetição de eventual indébito, no curso da
qual pode ser requerida a exibição de documentos, caso esta não tenha
sido postulada em medida cautelar preparatória.
5. Embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da
conta-corrente, independentemente do fornecimento extrajudicial de
extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à revisão
de cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao
menos de período determinado em relação ao qual busca
esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos consistentes,
ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que justificam a
provocação do Poder Judiciário mediante ação de prestação de contas.
6. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1.231.027/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, DJe 18/12/2012)
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 11 de 15
Superior Tribunal de Justiça
é descabido nesse rito especial, devendo o magistrado limitar-se ao exame dos
planos da existência e da eficácia das cláusulas contratuais, ou seja, a análise do
conteúdo das cláusulas pactuadas entre as partes no contrato em discussão.
Naturalmente, como consequência dessa limitação à atividade cognitiva,
a sentença proferida na ação de prestação de contas não produz o efeito
preclusivo da coisa julgada no que tange à questão da validade das cláusulas
contratuais, que poderá ser veiculada em ação revisional ou em sede de
embargos à execução.
Nessa esteira, para os fins do art. 543-C do Código de Processo Civil,
propõe-se a redação das teses nos seguintes termos:
a) Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em
ação de prestação de contas
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 12 de 15
Superior Tribunal de Justiça
atacar o fundamento da preclusão, o que atrai a incidência do óbice da Súmula
283/STF, assim lavrada:
Súmula 283/STF - É inadmissível o recurso extraordinário, quando a
decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o
recurso não abrange todos eles.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 15 de 15
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentou oralmente a Dra. PAULA DE PAIVA SANTOS, pelo Recorrente BANCO BRADESCO
S/A.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Relator, negando provimento
ao recurso especial, pediu VISTA a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Aguardam os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Luis Felipe Salomão.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 16 de 15
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação da Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti que iria proferir voto-vista,
com previsão de julgamento na sessão de 8.6.2016.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 17 de 15
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
VOTO-VISTA
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 18 de 15
Superior Tribunal de Justiça
crédito da parte.
3. "De acordo com o disposto no artigo 917 do Código de Processo
Civil, as contas serão prestadas por aquele que tiver a obrigação
de prestá-las. Portanto, não possui o autor a obrigação de juntar à
petição inicial toda a documentação relativa à prestação de contas
que pleiteia." (TJPR, Ac. 2096, 16ª C. Cível, Rel. Hélio Henrique
Lopes Fernandes Lima, p. 0183309-6, j. 03.02.2006).
4. "Não pode ser considerado genérico o pedido formulado pelo
apelante/correntista, porque visa obter informações sobre o
contrato de abertura de crédito em conta corrente firmado com a
instituição financeira ré, tendo em sua inicial declinado o período,
bem como o que deveria o Banco informar." (TAPR - extinto - 6ª
CCív - Ac. 17105 - Rel. Des. Anny Mary Kuss, j. 09.03.2004)
5. "O prazo de 48 horas para a apresentação das contas, previsto
no § 2°, art. 915, do CPC, somente pode ser ampliado por força de
justificado motivo, capaz de tornar inviável a prestação no termo
legal. Apelação cível desprovida." (TJPR, 16ª Câmara Cível,
Apelação Cível sob o n° 360804-2, REL. Desembargador Paulo
Cezar Bellio, DJ 17/11/2006).
6. Ônus sucumbencial. Minoração dos honorários para adequar ao
trabalho desenvolvido pelo advogado, na causa.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
No recurso especial interposto com base no art. 105, inciso III, alíneas "a"
e "c", da Constituição Federal, a instituição financeira sustenta a violação dos arts. 26,
inciso II, do Código de Defesa do Consumidor, 1°, inciso V e 4°, VI e IX, da Lei n.
4.595/64 e 591 do Código Civil, associada a dissídio jurisprudencial.
Alega o recorrente que é incabível a discussão da validade de cláusulas
contratuais no âmbito da ação de prestação de contas, em razão da diversidade de
ritos.
Argumenta, por outro lado, que "o acórdão recorrido violou o disposto no
art. 26, II, do código de Defesa do Consumidor, na medida em que deixou de
reconhecer a decadência do direito do recorrido a pleitear contas de período maior do
que 90 (noventa) dias" (fl. 1.002).
Destaca, por fim, a legalidade dos juros remuneratórios pactuados no
contrato, bem como a possibilidade de cobrança da capitalização dos juros.
Em contrarrazões, a autora sustentou a ausência de prequestionamento
dos dispositivos legais suscitados no recurso especial; a falta de cotejo analítico; e que
o entendimento do julgado estadual está em consonância com a jurisprudência desta
Corte.
O Tribunal de origem negou seguimento ao recurso especial, conforme a
decisão de admissibilidade de fls. 1.049/1.051.
Fora interposto agravo em recurso especial, com fundamento no art. 544
do Código de Processo Civil de 1973, sendo provido, à fl. 1.089, para determinar a sua
reautuação como recurso especial para melhor análise da controvérsia.
O recurso especial foi afetado para julgamento segundo o rito do art.
543-C do Código de Processo Civil de 1973, a fim de que a 2ª Seção desta Corte
examine a questão da possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na segunda
fase da ação de prestação de contas.
O Banco Central do Brasil (fls. e-STJ 1110-1125) e a Federação Brasileira
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 21 de 15
Superior Tribunal de Justiça
de Bancos - FEBRABAN (fls. e-STJ 1147-1158), ambos na qualidade de amicus
curiae, manifestaram-se pela impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais no
âmbito da ação de prestação de contas.
O Ministério Público Federal opinou pelo não provimento do recurso e a
Defensoria Pública da União absteve-se de opinar, ao argumento de que "não seria
recomendável, em nome do órgão, a adoção de uma posição definitiva" (fl. 1.161).
O relator, o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, ao analisar a tese a ser
consolidada, destacou, inicialmente, que "a pretensão veiculada na ação de prestação
de contas busca o cumprimento de obrigação de fazer, tendo também carga
condenatória."
Asseverou, ademais, que, na primeira fase da referida ação, "pretende-se
obter de terceiro a prestação de contas da administração de bens, negócios ou
interesses. Na segunda fase, busca-se a condenação ao pagamento do saldo apurado".
Argumentou que em alguns contratos bancários, tais como, de mútuo e
de financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a propositura da ação de
prestação de contas, nos termos do entendimento já firmado por esta 2ª Seção pelo rito
do art. 543-C do Código de Processo Civil e que, em outros contratos bancários
sujeitos à prestação de contas, como o contrato de abertura de crédito em conta
corrente, "há controvérsia nos tribunais de apelação acerca da possibilidade de revisão
de cláusulas contratuais, especialmente na segunda fase desse procedimento especial
de jurisdição contenciosa".
Afirmou que os tribunais de apelação entendem, por um lado, que a
revisão de cláusulas contratuais na própria ação de prestação de contas seria
justificável por economia processual, para evitar o posterior ajuizamento de uma ação
revisional, e, por outro lado, que não há amparo legal para se revisar cláusulas
contratuais nesse procedimento especial.
Destacou que o último entendimento prevaleceu na jurisprudência desta
Corte Superior, e transcreveu ementas de acórdãos das Turmas integrantes desta 2ª
Seção que amparam a referida tese.
Dessa forma, o Relator propôs a consolidação da tese na linha da
jurisprudência desta Corte Superior, salientando "que não só juízo específico de
abusividade como também qualquer juízo de validade de cláusulas contratuais é
descabido nesse rito especial, devendo o magistrado limitar-se ao exame dos planos da
existência e da eficácia das cláusulas contratuais, ou seja, a análise do conteúdo das
cláusulas pactuadas entre as partes no contrato em discussão".
Diante disso, formulou as teses para os efeitos previstos no art. 543-C do
Código de Processo Civil, assim definidas:
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 22 de 15
Superior Tribunal de Justiça
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Superior Tribunal de Justiça
p. 315
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 24 de 15
Superior Tribunal de Justiça
(...) É preciso notar, porém, que não se está diante de dois
processos distintos, tramitando simultaneamente nos mesmos
autos. O processo, em verdade, é único, embora dividido em duas
fases distintas. Há, pois, o ajuizamento de uma única demanda,
contendo um único mérito. A análise deste, porém, é dividida em
dois momentos: o primeiro, dedicado à verificação da existência do
direito de exigir a prestação de contas, o segundo, dirigido à
verificação das contas e do saldo eventualmente existente.
(Lições de Direito Processual Civil, Editora Atlas S.A. - São Paulo,
21ª edição, 2014, Volume 3, p. 391/392).
O rito é especial, muito mais célere do que o ordinário, sendo o réu citado
para, no prazo de cinco dias, apresentar as contas ou contestar a obrigação de prestar
contas (CPC/73, art. 915).
Julgada procedente a primeira fase, a sentença "condenará o réu a
prestar contas no prazo de quarenta e oito horas, sob pena de não lhe ser lícito
impugnar as que o autor apresentar" (CPC/73, art. 915, §2º).
Tendo em vista a especialidade do rito, não se comporta no âmbito da
prestação de contas a pretensão de alterar ou revisar cláusula contratual. As contas
devem ser prestadas, com a exposição, de forma mercantil, das receitas e despesas, e
o respectivo saldo (CPC/73, art. 917). A apresentação das contas e o respectivo
julgamento devem ter por base os pressupostos assentados ao longo da relação
contratual existente entre as partes.
Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior:
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as ações de nulidade de contratos e declaratória de inexigibilidade
de títulos, por ensejar tumulto e desordem na realização dos atos
processuais. Precedente da Quarta Turma.
Recurso especial conhecido e provido parcialmente."
(4ª Turma, REsp 190.892/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO,
unânime, DJU de 21.8.2000)
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busca esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos consistentes,
ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que justificam a provocação do Poder
Judiciário mediante ação de prestação de contas, bem como não se destina à revisão
de cláusulas contratuais. Eis a ementa do precedente:
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4. A pretensão deduzida na inicial, voltada, na realidade, a aferir a
legalidade dos encargos cobrados (comissão de permanência,
juros, multa, tarifas), deveria ter sido veiculada por meio de ação
ordinária revisional, cumulada com repetição de eventual indébito,
no curso da qual pode ser requerida a exibição de documentos,
caso esta não tenha sido postulada em medida cautelar
preparatória.
5. Embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da
conta-corrente, independentemente do fornecimento extrajudicial
de extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à
revisão de cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na
inicial, ao menos de período determinado em relação ao qual busca
esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos
consistentes, ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que
justificam a provocação do Poder Judiciário mediante ação de
prestação de contas.
6. Recurso especial a que se nega provimento (REsp.
1.231.027/PR, de minha relatoria, DJe 18.12.2012)
II
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respectivo julgamento devem ser delimitados pelo contrato mediante o qual se
desenvolveu a relação de administração de bens do autor pelo réu. Tomando por base
as normas regentes da relação jurídica entre as partes, devem ser especificados os
lançamentos a crédito e a débito e o respectivo saldo. Situações complexas, a
demandar acertamentos a propósito da clareza e interpretação de cláusulas
contratuais, vícios de consentimento, possível abusividade, dentre outras, hão de ser
questionadas na via ordinária, na qual se comporta ampla dilação probatória.
A relação entre o titular de conta-corrente e o banco desenvolve-se ao
longo de anos, sendo regulada não apenas pelo contrato inicial, mas pelos sucessivos
aditamentos contratuais e outros negócios jurídicos que são celebrados na medida da
conveniência das partes, como alterações de limites de crédito, empréstimos,
autorizações para saques, transferências, investimentos, entre outros, feitas
verbalmente, por caixa eletrônico ou computador pessoal.
No contrato de limite de crédito em conta-corrente, as taxas de juros em
regra não constam do contrato de abertura, pois flutuam conforme as contingências do
mercado, e são informadas periodicamente ao correntista por meios diversos, como
extratos, internet e atendimento telefônico.
Anoto que, a rigor, a taxa de juros cobrada do consumidor sequer é
elemento do contrato de depósito de numerário em conta corrente, cuja administração
pelo banco justifica o cabimento da ação de prestação de contas. A taxa de juros é a
remuneração de empréstimo, ou a contraprestação pela efetiva utilização do limite de
crédito aberto pelo banco ao seu cliente.
Entendo, portanto, que o contrato bancário que deve nortear a prestação
de contas e o respectivo julgamento - sem que caiba a sua revisão no rito especial -
não é o simples formulário assinado no início do relacionamento, mas todo o conjunto
de documentos e práticas que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos.
Esse feixe de obrigações e direitos não cabe alterar no exame da ação de prestação de
contas.
Assim, ao contrário do posicionamento do eminente relator, entendo, data
vênia, que não é possível ao magistrado substituir, na ação de prestação de contas, a
taxa de juros remuneratórios, a periodicidade da capitalização ou demais encargos
aplicados ao longo da relação contratual.
Dessa forma, penso que, após prestadas as contas, cabe ao julgador, na
sentença da segunda fase da ação, analisar se tais contas foram prestadas na forma
mercantil e fazer a a verificação da compatibilidade das contas apresentadas entre os
créditos, os débitos e o posterior saldo, sem promover a alteração nos encargos
contratuais vigentes durante a relação contratual.
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Esta conclusão é reforçada pelo entendimento do Relator, ao qual adiro,
de que a sentença proferida na ação de prestação de contas não produz o efeito
preclusivo da coisa julgada acerca da validade das cláusulas contratuais e eventual
abusividade dos encargos cobrados do correntista ao longo da relação contratual.
Dessa forma, independentemente do julgamento da prestação de contas,
fica ressalvada ao correntista, caso considere pertinente, a possibilidade de ajuizar
ação revisional de contrato cumulada com repetição de eventual indébito ou, ainda, se
for o caso, revisar as cláusulas contratuais em sede de embargos à execução, com a
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Assim, em consonância com essas premissas, proponho, pois, a
seguinte tese, para os efeitos previstos no art. 543-C do Código de Processo Civil de
1973:
III
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
ESCLARECIMENTO
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adequado à revisão de contrato de mútuo, conforme reiteradamente proclamado pela
jurisprudência desta Seção, inclusive em recurso repetitivo (REsp. 1.293.558/PR,
relator Ministro Luís Felipe Salomão), penso que, da mesma forma, não se presta esse
rito especial para a revisão de taxas de juros e demais encargos de empréstimos
obtidos por meio de abertura de limite de crédito em conta-corrente.
Com efeito, a taxa de juros não diz respeito à administração de recursos
do autor da ação. Ao contrário, trata-se da remuneração do capital do banco
emprestado ao correntista.
O rito da prestação de contas traz limitações ao contraditório e à ampla
defesa, sendo este o motivo pelo qual a pacífica jurisprudência deste Tribunal entende
que nele não se comporta a pretensão revisional. Mais grave ainda é o prejuízo à defesa
em ações como a presente, em que a genérica petição inicial pede a prestação de
contas de todos os lançamentos ocorridos desde a abertura da conta em 1995 até os
dias de hoje.
Para satisfazer o dever de prestar contas, se nele compreendida a
discussão a respeito das taxas de juros aplicadas desde 1995, seria necessário ao
banco indicar e comprovar as taxas de juros praticadas em cada dia em que o saldo
devedor da conta tornou-se negativo.
Penso, data venia, que a revisão das taxas de juros aplicadas - seja em
contrato de abertura de limite em conta corrente, seja em qualquer outro tipo de mútuo -
não é cabível em ação de prestação de contas, independentemente de o banco haver
apresentado, ou não, documentos comprovando a evolução dessas taxas ao longo do
período de manutenção da conta-corrente.
Esse entendimento, ao meu sentir, não causa prejuízo ao consumidor,
pois, conforme acentuado pelo Ministro Sanseverino, a sentença proferida na ação de
prestação de contas não produz o efeito preclusivo da coisa julgada acerca da validade
das cláusulas contratuais e eventual abusividade dos encargos cobrados do correntista
ao longo da relação contratual.
Dessa forma, ressalto outra vez, independentemente do julgamento da
prestação de contas, fica ressalvada ao correntista a possibilidade de ajuizar ação
revisional de contrato cumulada com repetição de eventual indébito ou, ainda, se for o
caso, revisar as cláusulas contratuais em sede de embargos à execução, com a
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti
divergindo parcialmente das teses repetitivas apresentadas e, no caso concreto, abrindo a
divergência e dando parcial provimento ao recurso especial, pediu VISTA o Sr. Ministro Antonio
Carlos Ferreira.
Aguardam os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio
Bellizze, Moura Ribeiro e João Otávio de Noronha.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
VOTO-VISTA
Na primeira fase, o pedido foi julgado procedente "a fim de determinar que o
Requerido preste contas à Requerente, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, referente
à conta corrente nº 27.380-5, agência 0234-8 do Banco Bradesco S/A, no período de
Janeiro de 1995 até os dias de hoje, devendo juntar o contrato firmado, bem como os
extratos pertinentes; esclarecer quais os percentuais de juros cobrados; a origem deles;
os índices de correção monetária utilizados e seus percentuais; existência ou não de
capitalização; cumulação de comissão com correção monetária e multa contratual; origem
de cada lançamento e legitimidade, indicando a cláusula e norma em vigor entre as
partes; o significado dos códigos indicados à fl. 03, e se foram cobrados valores
referentes aos mesmos; indicar cláusula do contrato em que se embasou e legitimidade da
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cobrança; existência de autorização para compra de seguro, apresentando a respectiva
apólice; saldo devedor ou credor" (e-STJ fls. 74/75).
O TJPR deu parcial provimento à apelação do banco apenas para
reconhecer que, "no caso de eventual irregularidade na cobrança de serviços bancários,
tem o correntista o prazo de 90 (noventa) dias para interpor sua reclamação, diante de
vício aparente e de fácil constatação, no produto ou serviço prestado pela instituição
financeira" (e-STJ fl. 143). Ressaltou, entretanto, "que isso não isenta o banco de prestar
as devidas contas, apenas exclui os valores a eles pertinentes, do período decaído, de
compor eventual débito e crédito da parte" (e-STJ fl. 143).
Interposto recurso especial pela autora, admitido na origem (e-STJ fls.
269/270), o em. Ministro MASSAMI UYEDA deu parcial provimento ao agravo regimental
"para conferir parcial provimento ao recursal especial e afastar a decadência reconhecida
pelo Tribunal de origem, mantida incólume a distribuição dos ônus de sucumbência"
(e-STJ fls. 309/310) – REsp n. 1.021.245/PR.
O recurso especial da instituição financeira não foi admitido (e-STJ fls.
271/272), restando desprovido o agravo de instrumento nesta Corte – Ag n. 999.347/PR
(e-STJ fls. 540/542).
Na segunda fase da ação, o magistrado acolheu "parcialmente as contas
apresentadas pelo Requerido, reconhecendo em favor da Requerente saldo credor no
valor de R$ 380,83 (trezentos e oitenta reais, e oitenta e três centavos), atualizada até a
data da perícia, decorrente da cobrança de juros acima de 0,5% e de forma capitalizada,
bem como saldo credor no valor de R$ 437,16 (quatrocentos e trinta e sete reais, e
dezesseis centavos), atualizado até a data da perícia" (e-STJ fls. 868/869). Extraio da
sentença as seguintes passagens mais relevantes:
"Inicialmente é de se esclarecer que o presente feito se refere à prestação de
contas e não revisão de contrato.
Assim, para que sejam as contas apreciadas e julgadas boas ou não, deve ser
considerado o que restou pactuado entre as partes.
Não cabe neste feito a discussão sobre a validade e legalidade das cláusulas,
discussão esta que deve se dar em ação própria, com rito próprio.
[...]
Também é de se ressaltar que a exclusão de encargos não pactuados ou débitos
não autorizados, existentes nas contas prestadas, não implica em revisão
contratual.
É de se ver que dentre os documentos carreados aos autos, estão presentes
cópias de contratos firmados entre as partes e dos extratos de movimentação da
conta corrente.
Na prestação de contas necessário se faz possibilitar à parte adversa visualizar os
lançamentos que foram efetuados em sua conta corrente, e se eles de fato
correspondem ao que foi pactuado, sem qualquer distorção.
[...]
Quanto aos juros remuneratórios, o Sr. Perito Judicial informou no item 02 de fl.
600 que: 'Não há contrato nos autos pactuando taxa de juros da conta corrente e
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dos contratos de financiamento e ou empréstimo n.º 4896869 (fl. 363) e 895699 (fl.
365).'
Compulsando os autos, verifica-se que o Sr. Perito Judicial se equivocou ao se
referir a contratos de empréstimos supostamente juntados às fls. 363 e 365.
Na realidade o único contrato juntado aos autos foi a ficha proposta de abertura de
conta corrente de fl. 484, no qual não consta a pactuação de taxa de juros
remuneratórios.
Portanto, considerando que não houve prova de estipulação expressa em contrato
quanto à taxa de juros a ser aplicada, motivo pelo qual devem ser considerados os
juros legais, à taxa de 0,5% ao mês, prevista no art. 1062 do CC/16, que vigorava
na época da abertura da conta corrente.
[...]
No que se refere à capitalização de juros, consta na resposta do quesito de nº 03
de fls. 600/601, o Sr. Perito Judicial constatou que a capitalização mensal de juros
efetivamente ocorreu, não tendo o Requerido demonstrado a contratação.
E não tendo sido contratada, há que se reconhecer a abusividade na cobrança,
sendo que o valor correspondente deverá integrar a coluna correspondente aos
créditos, na medida em que o Sr. Perito Judicial deixou claro a sua ocorrência.
Registre-se que, nem mesmo a capitalização anual é devida, uma vez que em
sede de ação de prestação de contas, conforme já salientado, a análise deve
cingir-se apenas ao fato de determinada cobrança ter sido contratada ou não.
E como a capitalização de juros não foi contratada, nem mesmo na periodicidade
anual, sua cobrança não é devida.
[...]
Com relação às tarifas bancárias, somente se mostra legítima a cobrança
daquelas autorizadas expressamente e contidas em tabelas oficialmente
aprovadas, passíveis de exibição, conforme o art. 18 da Resolução 2878/2001 do
Bacen.
Na proposta de abertura de conta corrente, fls. 484, foi pactuado na cláusula G o
seguinte: 'É facultado ao Banco a cobrança de tarifas regulamentadas pelo Banco
Central, inerentes a abertura e manutenção desta Conta, bem como aquelas
relativas a prestação de serviços e produtos convencionados com o Banco, cujos
valores constam no 'Quadro de Tarifas Máximas de Serviços', afixado em local
visível na agência'
Desse modo, tendo havido autorização para o lançamento de tarifas, os
lançamentos a esse título, autorizados em resolução do Banco Central devem ser
considerados devidos.
Todavia, o Sr. Perito no quesito 1 de fl. 599, afirmou que: 'Nem todos os
lançamentos a débito do Autor constam autorização nos Autos.'
Assim, os demais listados pelo Sr. Perito Judicial como não autorizados no Anexo
1 de fls. 620/624, devem ser considerados indevidos.
Importante esclarecer que em referido Anexo o Sr. Perito Judicial considerou como
débitos autorizados os lançamentos de tarifas feitos com base na alínea G do
contrato de fls. 484, acima citada" (e-STJ fls. 862/868).
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ação de prestação de contas'" (e-STJ fl. 1.096).
O Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO, ilustrado
Subprocurador-Geral da República, manifestou-se pelo desprovimento do recurso
especial (e-STJ fls. 1.129/1.141).
O em. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, com fundamento na
jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO, propôs as seguintes teses acerca dos contratos
bancários sujeitos à ação de prestação de contas, entre eles o contrato objeto deste
processo (contrato de abertura de crédito em conta-corrente): (i) "Impossibilidade de
revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas" e (ii) "Limitação da
cognição judicial na ação de prestação de contas ao conteúdo das cláusulas pactuadas
no respectivo contrato". Asseverou que, "como consequência dessa limitação à atividade
cognitiva, a sentença proferida na ação de prestação de contas não produz o efeito
preclusivo da coisa julgada no que tange à questão da validade das cláusulas contratuais,
que poderá ser veiculada em ação revisional ou em sede de embargos à execução".
Quanto ao caso concreto, votou no sentido de desprover o recurso especial mediante os
seguintes fundamentos:
(i) o recorrente deixou de impugnar o fundamento adotado pelo Tribunal de
origem de que haveria preclusão quanto ao tema da decadência, atraindo o óbice da
Súmula n. 283 do STF;
(ii) a Corte local teria limitado os juros à taxa média de mercado e afastado
a capitalização mensal por ausência de pactuação, ficando tal provimento restrito ao
exame do próprio conteúdo das cláusulas contratuais, o que não representaria revisão do
contrato;
(iii) inexistindo cláusula expressa acerca do percentual dos juros, aplica-se a
taxa média de mercado;
(iv) a possibilidade de capitalização depende de pacto expresso, mesmo
para a periodicidade anual, conforme decidido por esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento
do AgRg no AREsp n. 429.029/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, DJe de 18.4.2016.
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cláusula contratual. As contas devem ser prestadas, com a exposição, de forma mercantil,
das receitas e das despesas, com o respectivo saldo (CPC/1973, art. 917). A
apresentação das contas e seu julgamento devem ter por base os pressupostos
assentados ao longo da relação contratual existente entre as partes. Acerca da segunda
tese proposta – "Limitação da cognição judicial na ação de prestação de contas ao
conteúdo das cláusulas pactuadas no respectivo contrato" –, Sua Excelência asseverou
que, na abertura de crédito em conta-corrente, as taxas de juros em regra não constam
do contrato, pois flutuam conforme as contingências do mercado, e são informadas
periodicamente ao correntista por meios diversos, como extratos, internet e atendimento
telefônico. Acrescenta que, a rigor, a taxa de juros cobrada do consumidor não é sequer
elemento do contrato de depósito de numerário em conta-corrente, cuja administração
pelo banco justifica o cabimento da ação de prestação de contas. A taxa de juros,
acrescenta, é a remuneração de empréstimos, ou a contraprestação pela efetiva utilização
do limite de crédito aberto pelo banco ao seu cliente. Com isso, entende que o contrato
bancário deve nortear a prestação de contas e que o respectivo julgamento não se atém
ao simples formulário assinado no início do relacionamento, mas a todo o conjunto de
documentos e práticas que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos. Esse
feixe de obrigações e direitos não seriam alteráveis no exame da ação de prestação de
contas. Diz, então, divergir do Relator para concluir não ser possível ao magistrado
substituir, na ação de prestação de contas, a taxa de juros remuneratórios, a
periodicidade da capitalização ou demais encargos aplicados ao longo da relação
contratual. Concorda, entretanto, com a relatoria no sentido de que a sentença proferida
na ação de prestação de contas não produz o efeito preclusivo da coisa julgada acerca da
validade das cláusulas contratuais e de eventual abusividade dos encargos cobrados do
correntista ao longo da relação contratual.
No caso concreto, divergindo do Relator, acolheu a alegação de que o
acórdão recorrido, ao substituir a taxa de juros aplicada ao longo da relação contratual e
excluir a capitalização dos juros, na realidade, efetuou revisão do contrato de abertura de
crédito em conta-corrente, o que não é compatível com o rito da prestação de contas.
Sua Excelência apresentou esclarecimentos ao seu voto-vista, reiterando
que, independentemente do julgamento da prestação de contas, fica ressalvada a
possibilidade de ajuizar ação revisional de contrato cumulada com repetição de eventual
indébito ou, ainda, se for o caso, revisar as cláusulas contratuais em sede de embargos à
execução, com a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
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ponto, então, passo a examinar o presente recurso.
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pela instituição financeira e em conformidade com essa espécie de operação. Por outro
lado, durante o período de manutenção da dívida, também poderá o devedor conferir a
taxa de juros dia a dia. Continuando a utilizar o dinheiro emprestado, igualmente se infere
que anuiu com a taxa estabelecida pelo banco, cujo limite é, apenas, a eventual
abusividade, vedada no art. 422 do CC/2002 (princípios de probidade e de boa-fé) e no
art. 51, IV, do CDC (obrigações iníquas, abusivas, desvantagem exagerada do
consumidor, incompatibilidade com a boa-fé ou com a equidade).
Conclui-se que essa definição da taxa de juros ao longo da relação
contratual, sem dúvida, é bilateral, em que o banco oferece o crédito a determinada taxa e
o cliente a aceita ao sacar o dinheiro mediante cheque ou cartão de débito automático e
ao permanecer na posse da respectiva importância pelo período que desejar, sempre
tendo prévia ciência da taxa praticada a cada dia. Nessa situação, há, necessariamente,
um pacto acerca dos juros cobráveis, não podendo o devedor simplesmente alegar que
não consultou as possíveis fontes de informação do banco. A suposta desídia do
contratante não é capaz de afastar o pacto da taxa de juros diante da dinâmica específica
do contrato de abertura de crédito em conta-corrente.
Poderão ocorrer hipóteses, entretanto, bastante raras na atualidade, em
que, por fatos isolados, momentâneos, tais como greves e problemas técnicos em
transmissão de dados e de telefonia, as informações acerca da taxa de juros diária se
tornem indisponíveis. Nessa situação, extremamente excepcional, volto a dizer, a eventual
utilização do limite de crédito pelo cliente se dará sem que, previamente, sejam
esclarecidos os juros a que o empréstimo estará sujeito. Aqui, sim, não haverá um claro
pacto da taxa de juros.
Em demandas judiciais, portanto, inclusive em ação de prestação de contas,
na qual o saldo credor/devedor apurado na segunda fase levará em consideração a letra
dos pactos celebrados, deve o banco comprovar que as fontes de informação – sobre as
quais possui total controle – estavam ativas e que o cliente acessou ou que poderia tê-las
acessado se quisesse, demonstrando, com isso, a aceitação e a contratação da taxa
divulgada para o empréstimo efetuado, relativo ao limite de crédito utilizado pelo
contratante.
Com efeito, nas hipóteses de inexistir contratação expressa da taxa de juros
diária, em nenhum momento durante a relação contratual, e de não comprovar a
instituição financeira, por qualquer forma, que a parte devedora, de acordo com as
práticas e dinâmica do mercado financeiro, aceitou a taxa oferecida no período de
utilização do crédito, deve-se entender como contratada tacitamente pelas partes a taxa
média de mercado para o respectivo negócio, na linha da fundamentação adotada por
esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento dos REsps n. 1.112.879/PR e 1.112.880/PR
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(repetitivos), ambos proferidos em 12.5.2010, da relatoria da Ministra NANCY ANDRIGHI,
DJe de 19.5.2010. Confiram-se, a propósito, os seguintes trechos dos votos condutores
dos respectivos arestos, da Relatora:
"Assim, o caminho é o da segunda hipótese, ou seja, deve-se preencher a
omissão do contrato, em relação aos juros que deixaram de ser previstos na
disposição reputada lacunosa. A partir daí, surgem dois desdobramentos
possíveis: a) perquirir se há previsão legal para o limite de juros, na espécie, ou b)
caso não haja esse limite legal, deve-se proceder à integração do contrato, de
acordo com a vontade presumida das partes.
[...]
Assim, ante a ausência de dispositivo legal indicativo dos juros aplicáveis, torna-se
necessário interpretar os negócios jurídicos, tendo em vista a intenção das partes
ao firmá-los, de acordo com o art. 112 do CC/02. Essa intenção, nos termos do
art. 113, deve ter em conta a boa-fé, os usos e os costumes do local da
celebração do contrato.
A jurisprudência do STJ tem utilizado para esse fim a taxa média de mercado.
Essa taxa é adequada, porque é medida segundo as informações prestadas por
diversas instituições financeiras e, por isso, representa o ponto de equilíbrio nas
forças do mercado. Além disso, traz embutida em si o custo médio das
instituições financeiras e seu lucro médio, ou seja, um spread médio.
[...]
Dessarte, nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é imediata,
deve ser consignado no respectivo instrumento o montante dos juros
remuneratórios praticados. Ausente a fixação da taxa no contrato, deve o juiz
limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo
Bacen. Esses são os usos e costumes, e é essa a solução que recomenda a
boa-fé.
Ressalta-se que a taxa média somente não deverá prevalecer nas hipóteses em
que o efetivo índice praticado pelo banco se mostrar inferior a ela e, portanto, mais
vantajoso para o cliente." (Grifei.)
Como se pode verificar, esta Seção adotou a taxa média de mercado com
base na "vontade presumida das partes" e na razoabilidade da referida taxa, invocando os
arts. 112 e 113 do CC/2002, que dispõem:
"Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem."
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contratação, considera-se acertada a taxa média de mercado, coincidente com a intenção
do banco e do cliente. Em outras palavras, o silêncio das partes implica incidência da
referida taxa média. Tal conclusão encontra amparo, igualmente, na ratio legis de outras
normas do CC/2002, ainda que não específicas para a presente situação, entre as quais
cito tão somente para efeito de ilustração, in verbis:
"Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam
querido, se houvessem previsto a nulidade." (Grifei.)
O art. 170 do CC/2002, alinhado aos termos dos arts. 112 e 113 do
CC/2002, também se refere à presunção da vontade das partes nos contratos, ou seja, na
aceitação tácita de determinadas condições contratuais quando nulo o negócio jurídico.
A propósito, igualmente se admite a pactuação tácita na esfera do Código
de Defesa do Consumidor. Segundo Rizzato Nunes, "a Lei n. 8.078 admite todas as
formas de contratação, tais como contratos escritos, verbais, por correspondência etc.
Estão também abrangidas as 'relações contratuais fáticas', conhecidas como
'comportamentos socialmente típicos'" (Curso de Direito do Consumidor. 8ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 678). Mais adiante, na mesma obra, explica que:
"Existem certas relações – especialmente de consumo, que é o que nos interessa
– que geram direitos e obrigações independentemente da preexistência de contrato
escrito ou verbal.
São aquelas em que um comportamento de fato, socialmente generalizado, faz
com que se aceite a existência de um contrato, ainda que ele jamais tenha sido
firmado. O contrato é presumido diretamente do fato da ação ou comportamento.
São, tecnicamente falando, 'relações de fato contratuais'.
Como exemplo, aponte-se a utilização das ruas com estacionamento a ser pago,
na chamada 'zona azul', especialmente sem o uso do talão" (p. 679).
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remuneratórios.
Portanto, considerando que não houve prova de estipulação expressa em contrato
quanto à taxa de juros a ser aplicada, motivo pelo qual devem ser considerados os
juros legais, à taxa de 0,5% ao mês, prevista no art. 1062 do CC/16, que vigorava
na época da abertura da conta corrente" (e-STJ fl. 864).
"Art.51. São nula de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
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X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral."
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Sob o enfoque jurídico, diversamente do que ocorre com a ausência de
contratação expressa da taxa de juros, hipótese em que deve ser considerada como
pactuada de modo tácito a taxa média de mercado (item II acima), a possibilidade de
capitalização depende de pacto expresso, mesmo para a periodicidade anual, conforme
decidido por esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento do AgRg no AREsp n. 429.029/PR,
Rel. Ministro MARCO BUZZI, DJe de 18.4.2016. Sem que haja tal contratação, não é
permitida a capitalização.
Em tais circunstâncias, no caso concreto, o saldo credor/devedor apurado
na segunda fase da ação de prestação de contas tem que observar o que foi pactuado
pelas partes. Sem que a capitalização tenha sido contratada, não pode tal encargo ser
considerado devido pelo tomador do empréstimo. Eventuais pagamentos realizados a
título de capitalização de juros, portanto, devem ser considerados recolhimentos a maior
e, com isso, contabilizados a favor do cliente.
Com efeito, as simples constatações de que a capitalização não foi
contratada e de que, por isso, não pode ser incluída como encargo devido pelo cliente no
cálculo do saldo credor/devedor não implicam revisão contratual.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 53 de 15
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira
negando provimento ao recurso especial e acompanhando o Sr. Ministro Relator, e o voto
antecipado do Sr. Ministro João Otávio de Noronha acompanhando a divergência inaugurada pela
Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti, pediu VISTA o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Aguardam os Srs. Ministros Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Luis
Felipe Salomão.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado pelo Ministro Presidente, com previsão de julgamento na sessão de 14.09.2016.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 55 de 15
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)
VOTO-VISTA
O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA: Pedi vista dos autos
para melhor exame da controvérsia em debate.
Noticiam os autos que ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES propôs "ação de
prestação de contas" contra o BANCO BRADESCO S.A., o ora recorrente, afirmando que firmou
com a ré contrato de abertura de crédito em conta-corrente com a finalidade de concessão de
crédito rotativo na conta-corrente nº 27.380-5, agência 0234-8, desde janeiro de 1995 (e-STJ
fls. 3-10).
Requereu, em sua petição inicial, a apresentação de contas relativas ao período
de janeiro de 1995 até a data do ajuizamento da ação, referentes à conta-corrente em questão
com, as seguintes especificações:
"(...)
Na apresentação das contas deverá o réu informar:
1. Qual a taxa de juros foi aplicada, posto que no contrato não existia
expressamente a taxa;
2. Qual a forma de computar tais juros. Caso forem capitalizados mês a
mês, qual o ordenamento legal que autoriza tal forma de cobrança;
3. Qual a cláusula contratual, firmada, permitindo a cobrança de
comissão de permanência cumulada com correção monetária e/ou multa
contratual, e também qual a norma legal que a autoriza;
4. Se houver débitos diversos dos da emissão de cheques, sejam
justificados e/ou apresentadas as autorizações;
5. Se houver em algum momento autorização para compra de seguro,
seja apresentada a respectiva apólice;
6. Além de informar o porque foi cobrado os seguintes códigos e qual a
previsão contratual, ENCARGOS EMPREST, ENCARGOS EMPREST C/C, TAR
CHQ LIQ/DOC/OPG, TARIFA ADP/EXCESSO, TARIFA DEVOLUÇÃO CHQ, TAXA
DEVOLUÇÃO CHEQUE, TRF EXTR TELEX/FAX, TRF EXTR TELEX/FAX Ccg,
TRF PACOTE MÊS, TRF REEM/MANUT CARTAO, JUR S/EXCESSO LIMITE,
JUROS PROV USO REC IND, JUROS USO REC INDISPON, TAR/MULT. DEV.
CH, ENC. DESCOB. C/C, AQUISIÇÃO DE SEGURO, BRADESCO VISA LOCAL,
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 56 de 15
Superior Tribunal de Justiça
BRADESCO VISA ANUIDADE, BRADESCO VISA SAQEU BDN, DÉBITO
P/ORDEM DE FIRMAS, PENDÊNCIA EM MORA, PTO. MEDIANTE AUT. DBTP,
RECIBO DE RETIRADA, TAR.CH.SUSTADO SEMESTRAL,
TAR,CAR.BRAD.INST.2VIA, TAR.CH.SUSTADO SEMESTRAL, TARIFA CHEQUE
ESPECIAL, TARIFA CHEQUE SUSTADO, TARIFA SEM.EXTR.TERMINAL,
TARIFA FORN.TAL.CHEQUES, TARIFA/MULTA, TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO;
dentre outras" (e-STJ fls. 8-9).
"(...)
(...) a fim de determinar que o Requerido preste contas à Requerente, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, referente à conta corrente n° 27.380-5, agência
0234-8 do Banco Bradesco S/A, no período de Janeiro de 1995 até os dias de
hoje, devendo juntar o contrato firmado, bem como os extratos pertinentes;
esclarecer quais os percentuais de juros cobrados; a origem deles; os índices de
correção monetária utilizados e seus percentuais; existência ou não de
capitalização; cumulação de comissão de permanência com correção monetária e
multa contratual; origem de cada lançamento e legitimidade, indicando a cláusula
e norma em vigor entre as partes; o significado dos códigos indicados à fl. 03, e
se foram cobrados valores referentes aos mesmos, indicar cláusula do contrato
em que se embasou e legitimidade da cobrança; existência de autorização para
compra de seguro, apresentando a respectiva apólice; saldo devedor ou credor"
(e-STJ fls. 74-75).
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 58 de 15
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"APELAÇÃO CÍVEL (RÉU). AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA
FASE. I - DECADÊNCIA. RECONHECIMENTO AFASTADO EM PRIMEIRA FASE.
FORMAÇÃO DE COISA JULGADA. II - TARIFAS E TAXAS. AUTORIZAÇÃO
CONTRATUAL COMPROVADA. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE ACORDO
COM AS NORMAS DO BACEN. DEMAIS LANÇAMENTOS NÃO AUTORIZADOS.
EXCLUSÃO QUE DEVE SE RESTRINGIR À IMPUGNAÇÃO DA AUTORA. III -
TAXA DE JUROS. CLÁUSULA ILEGÍVEL. PACTUAÇÃO NÃO DEMONSTRADA.
LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO APLICÁVEL ÀS OPERAÇÕES DE
MESMA ESPÉCIE. IV - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PRÁTICA
COMPROVADA POR PROVA PERICIAL. EXCLUSÃO DEVIDA, COM
OBSERVÂNCIA DO ART. 354 DO CÓDIGO CIVIL EM SUA APURAÇÃO. V -
CAPITALIZAÇÃO ANUAL OU SEMESTRAL. MATÉRIA NÃO CONHECIDA.
INOVAÇÃO RECURSAL.
I - Impossível discutir novamente a questão acerca da aplicação do art. 26 do
CDC, quando a prejudicial de mérito já foi rechaçada em primeira fase, formando,
portanto, coisa julgada.
II - Comprovada a previsão contratual, admite-se a cobrança das tarifas e taxas,
que estejam autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Todavia, não havendo
impugnação específica da autora, é indevida a exclusão de lançamentos tidos
como não autorizados.
III - Não apresentado o contrato no caderno processual, a taxa de juros deve ser
limitada à taxa média de mercado aplicada às operações de mesma espécie.
IV - Comprovada a prática da capitalização mensal de juros por prova pericial, é
necessária a exclusão de tal prática, com o cálculo dos juros de forma simples e
em atenção à regra da imputação ao pagamento, prevista no art. 354 do Código
Civil, que determina que os depósitos efetuados na conta corrente destinam-se
primeiro ao pagamento dos juros.
V - 'Não pode o apelante impugnar senão aquilo que foi decidido na sentença;
nem cabe à instância 'ad quem' inovar a causa, com invocação de outra causa
petendi'. (RTJ 126/813).
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA EM PARTE E, NESTA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE PROVIDA" (e-STJ fls. 957-958).
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 59 de 15
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Relator, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, propondo a consolidação de duas teses para fins
do artigo 543-C do CPC/1973 e negando provimento ao recurso especial, tendo sido
acompanhado pelo Ministro Antonio Carlos Ferreira, e do voto da Ministra Maria Isabel Gallotti,
divergindo parcialmente das teses repetitivas apresentadas e, no caso concreto, dando parcial
provimento ao recurso especial, no que foi seguida pelo voto antecipado do Ministro João
Otávio de Noronha, pedi vista dos autos e ora apresento meu voto.
É o relatório.
(i) Da delimitação da controvérsia
Cinge-se a controvérsia a definir (i) se é possível a revisão de cláusulas
contratuais na segunda fase da ação de prestação de contas e (ii) se, no caso concreto, houve
revisão do contrato de abertura de crédito em conta-corrente.
Registre-se que o Ministro Relator apresentou as seguintes teses para os fins do
art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973:
O Ministro Antonio Carlos Ferreira, por sua vez, sugeriu ajustes na redação do
subitem 2.2. do enunciado proposto pelo Relator, nos seguintes termos:
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Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 61 de 15
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de ambas as Turmas que compõem a Segunda Seção:
Quarta Turma:
Terceira Turma:
"(...)
Em regra, as pessoas, a quem é submetida a administração de certos
bens ou interesses, estão obrigadas a dar satisfação de seus atos de gestão.
Essa obrigação pode ser imposta ao administrador mediante pedido do
interessado, podendo ainda ser prestada voluntariamente por aquele. Há
várias circunstâncias que determinam o dever de prestar contas de seus atos,
não sendo o caso de, neste espaço, descrevê-las todas. Basta deixar evidenciado
que, em todas essas situações, poderá o interessado solicitar as contas
judicialmente, estando também facultado ao administrador prestá-las, também
judicialmente, quando necessário.
O dever de prestar contas pode ter origem em relação contratual ou legal
e, praticamente, pode-se afirmar que ela está presente sempre que a
administração de bens ou interesses envolva o trato com gastos e receitas.
As contas a serem prestadas devem ser demonstradas e justificadas,
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 65 de 15
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exatamente para que se possa conferir a destinação dada ao patrimônio do
administrado e a razoabilidade da atividade do administrador". (MARINONI, Luiz
Guilherme. Procedimentos especiais. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2013, pág. 82 - grifou-se)
"(...)
Determinadas pessoas, às quais houver sido confiada a
administração ou a gestão de bens ou de interesses alheios, têm a obrigação
de prestar contas, quando solicitadas, ou de dá-las voluntariamente, se
necessário. Nessa situação encontram-se o tutor em face do tutelado (CC, arts.
1.755 a 1.762), o curador em face do curatelado (arts. 1.774 e 1.783, c.c. arts.
1.755 ss), o sucessor provisório em relação aos bens do ausente (art. 33), o
mandatário em face do mandante (art. 668), o testamenteiro em face dos
herdeiros (art. 1.980 e CPC, art. 1.135), o inventariante em face dos herdeiros
(CPC, arts. 991, VII, e 995, V), o curador em relação aos bens que integram a
herança jacente (CPC, art. 1.144, V), o advogado em relação ao constituinte
(Estatuto da OAB, art. 34, XXI - v., ainda, Lei nº nº 11.902/09), entre outros".
(MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos especiais. 14. ed. São Paulo: Atlas,
2010, pág. 127 - grifou-se)
"(...)
O direito de exigir prestação de contas pode resultar de muitas situações
jurídicas, como ocorre em caso de procuração, mandato, cumprimento de
comodato, de anticrese, ou de atividade de comissionário, de testamenteiro,
de inventariante, ou de falecido (....)". (PONTES DE MIRANDA. Comentários ao
Código de processo civil. t. XIII. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, pág. 102 -
grifou-se)
"(...)
Várias são as causas de pedir que ensejam a propositura da ação de
prestação de contas. No direito material e processual, surgem diversas situações
que obrigam à prestação de contas. Como exemplo, citamos a do inventariante
quanto às contas pela administração do espólio, ou do advogado em relação
às despesas para a condução do processo, e, ainda, dos próprios pais em
relação à administração aos bens pertencentes aos filhos menores. No
condomínio, cabe ao síndico a responsabilidade da apresentação das contas.
(...)". (MEDINA, José Miguel Garcia. Procedimentos cautelares e especiais. 5. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, pág. 271-272 - grifou-se)
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 66 de 15
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Processo Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, pág. 345 - grifou-se)
Quando proposta por titular de conta-corrente bancária contra instituição
financeira, a ação de prestação de contas deve se limitar a apurar se os lançamentos feitos
pelo banco são ou não corretos, à luz do que foi pactuado entre as partes.
O âmbito de cognição nesse caso é restrito e não admite a análise da eventual
abusividade de cláusulas com a consequente revisão do contrato, conforme concluíram os
votos já proferidos aos quais adiro no tocante à primeira tese a ser firmada no julgamento do
presente recurso especial repetitivo.
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cláusula contratual pactuada e, ainda, a ilegalidade, com base na jurisprudência, do alegado
anatocismo praticado.
Nesse contexto, nota-se que, no caso em apreço, houve, nitidamente, cumulação
indevida de pedido revisional na ação de prestação de contas, o que afronta a tese ora firmada
em caráter repetitivo.
Referidas pretensões deduzidas na inicial, que se voltavam, em verdade, a aferir
a legalidade de determinados encargos cobrados, deveriam ter sido veiculadas em ação
ordinária revisional cumulada com repetição de indébito e eventual pedido incidental de exibição
de documentos.
O acórdão recorrido, por seu turno, compactuou com essa indevida cumulação de
pedidos ao determinar que a taxa de juros remuneratórios deve ser fixada consoante a taxa
média de mercado, bem como ao afastar a possibilidade de cobrança de juros capitalizados,
determinando que estes incidam de forma simples.
De fato, não há como negar que, ao revisar as taxas de juros aplicáveis ao caso e
ao determinar a exclusão dos juros capitalizados - que não apresentam nenhuma relação com a
administração dos recursos da autora -, o acórdão recorrido incorreu em verdadeira revisão
contratual, contrariando, assim, a jurisprudência desta Corte.
(iv) Do dispositivo
Em vista do exposto, acompanho a divergência para: (a) suprimir a segunda tese
do enunciado proposto pelo eminente Relator e (b) dar parcial provimento ao recurso especial
nos termos do voto da Ministra Maria Isabel Gallotti.
É o voto.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) - DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S) - DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295
VOTO
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 69 de 15
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. SADY D´ASSUMPÇÃO TORRES FILHO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) - DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S) - DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva
acompanhando a divergência inaugurada pela Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti, a Seção, por
maioria, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Maria
Isabel Gallotti.
Para os fins do artigo 1040 do NCPC (art. 543-C do CPC/73), foi fixada a seguinte tese:
"Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas".
Lavrará o acórdão a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Vencidos os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Antonio Carlos Ferreira e Marco
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Buzzi.
Votaram com a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas
Cueva, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Luis Felipe Salomão.
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 71 de 15