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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)

RELATOR :
MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
R.P/ACÓRDÃO :
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
RECORRENTE :
BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO :
GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) -
DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S) - DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO
DE CONTAS. SEGUNDA FASE. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM
CONTA CORRENTE. JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DOS ENCARGOS CONTRATUAIS, QUE DEVEM
SER MANTIDOS NOS TERMOS EM QUE PRATICADOS NO CONTRATO BANCÁRIO
SEM PREJUÍZO DA POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO REVISIONAL.
1. Tese para os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973:
- Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas.
2. O titular da conta-corrente bancária tem interesse processual para propor ação de
prestação de contas, a fim de exigir do banco que esclareça qual o destino do dinheiro
que depositou, a natureza e o valor dos créditos e débitos efetivamente ocorridos em
sua conta, apurando-se, ao final, o saldo credor ou devedor. Exegese da Súmula 259.
3. O rito especial da ação de prestação de contas não comporta a pretensão de alterar
ou revisar cláusula contratual, em razão das limitações ao contraditório e à ampla
defesa.
4. Essa impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas contratuais diz respeito a
todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não pode o autor da ação deduzir
pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase), conforme a reiterada
jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em impugnação às contas
prestadas pelo réu (segunda fase).
5. O contrato de conta-corrente com abertura de limite de crédito automático (cheque
especial) é negócio jurídico complexo. Se o cliente não utiliza o limite de crédito, não há
dúvida de que o banco está empregando o dinheiro do correntista na compensação dos
cheques, ordens de pagamento e transferências por ele autorizadas. Havendo utilização
do limite do cheque especial, concretiza-se contrato de empréstimo, cuja possibilidade
era apenas prevista no contrato de abertura da conta.
6. A taxa de juros do empréstimo tomado ao banco não diz respeito à administração
dos recursos depositados pelo autor da ação. Ela compreende a remuneração do
capital emprestado e flutua, conforme as circunstâncias do mercado e as vicissitudes
particulares, em cada momento, da instituição financeira e do cliente. A taxa de juros
em tal tipo de empréstimo é informada por meios diversos, como extratos, internet e
atendimento telefônico.
7. Não se sendo a ação de prestação de contas instrumento processual adequado à
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revisão de contrato de mútuo (REsp. 1.293.558/PR, julgado sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973, relator Ministro Luís Felipe Salomão), da mesma forma não se presta esse
rito especial para a revisão de taxas de juros e demais encargos de empréstimos
obtidos por meio de abertura de limite de crédito em conta-corrente.
8. O contrato bancário que deve nortear a prestação de contas e o respectivo
julgamento - sem que caiba a sua revisão no rito especial - não é o simples formulário
assinado no início do relacionamento, mas todo o conjunto de documentos e práticas
que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos. Esse feixe de obrigações e
direitos não cabe alterar no exame da ação de prestação de contas.
9. Caso concreto: incidência do óbice da Súmula n. 283 do STF, no tocante à alegação
de decadência quanto ao direito de impugnar as contas. No mérito, o Tribunal de
origem, ao decidir substituir a taxa de juros remuneratórios aplicada ao longo da relação
contratual e excluir a capitalização dos juros, ao fundamento de que não houve
comprovação da pactuação de tais encargos, efetuou, na realidade, revisão do contrato
de abertura de crédito em conta corrente, o que não é compatível com o rito da
prestação de contas.
10. Recurso especial a que se dá parcial provimento para manter os juros
remuneratórios e a capitalização nos termos em que praticados no contrato em exame,
sem prejuízo da possibilidade de ajuizamento de ação revisional.

ACÓRDÃO

Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ricardo


Villas Bôas Cueva acompanhando a divergência inaugurada pela Sra. Ministra Maria
Isabel Gallotti, a Segunda Seção, por maioria, deu parcial provimento ao recurso
especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Para os fins do artigo 1040 do NCPC (art. 543-C do CPC/73), foi fixada a
seguinte tese: "Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de
prestação de contas".
Lavrará o acórdão a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti. Vencidos os Srs.
Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi.
Votaram com a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti os Srs. Ministros Ricardo
Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e
Luis Felipe Salomão.

Brasília/DF, 14 de setembro de 2016(Data do Julgamento)

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


Relatora

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 25/11/2015 JULGADO: 25/11/2015

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA HILDA MARSIAJ PINTO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS FEBRABAN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado o julgamento por indicação do Sr. Ministro Relator.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS FEBRABAN -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


(Relator):

Trata-se de recurso especial interposto por BANCO BRADESCO S/A


em face de acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, assim
sintetizado em sua ementa:
APELAÇÃO CÍVEL (RÉU). AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.
SEGUNDA FASE. 1 - DECADÊNCIA. RECONHECIMENTO
AFASTADO EM PRIMEIRA FASE. FORMAÇÃO DE COISA
JULGADA. 11 - TARIFAS E TAXAS. AUTORIZAÇÃO CONTRATUAL
COMPROVADA. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE AC ORDO
COM AS NORMAS DO BACEN. DEMAIS LANÇAMENTOS NÃO
AUTORIZADOS. EXCLUSÃO QUE DEVE SE RESTRINGIR À
IMPUGNAÇÃO DA AUTORA. 111 - TAXA DE JUROS. CLÁUSULA
ILEGÍVEL PACTUAÇÃO NÃO DEMONSTRADA. LIMITAÇÃO A
TAXA MÉDIA DE MERCADO APLICÁVEL ÀS OPERAÇÕES DE
MESMA ESPÉCIE. IV - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.
PRÁTICA COMPROVADA POR PROVA PERICIAL EXCLUSÃO
DEVIDA, COM OBSERVÂNCIA DO ART. 354 DO CÓDIGO CIVIL EM
SUA APURAÇÃO. V- CAPITALIZAÇÃO ANUAL OU SEMESTRAL.
MATÉRIA NÃO CONHECIDA. INOVAÇÃO RECURSAL.
I - Impossível discutir novamente a questão acerca da aplicação do art.
26 do CDC, quando a prejudicial de mérito já foi rechaçada em
primeira fase, formando, portanto, coisa julgada.
II - Comprovada a previsão contratual, admite-se a cobrança das
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tarifas e taxas, que estejam autorizadas pelo Banco Central do Brasil.
Todavia, não havendo impugnação específica da autora, indevida a
exclusão de lançamentos tidos como não autorizados.
Ill - Não apresentado o contrato no caderno processual, a taxa de juros
deve ser limitada taxa média de mercado aplicada às operações de
mesma espécie.
IV - Comprovada a prática da capitalização mensal de juros por prova
pericial, é necessária a exclusão de tal prática, com o cálculo dos juros
de forma simples e em atenção à regra da imputação ao pagamento,
prevista no art. 354 do Código Civil, que determina que os depósitos
efetuados na conta corrente destinam-se primeiro ao pagamento dos
juros.
V - "Não pode o apelante impugnar senão aquilo que foi decidido na
sentença; nem cabe instância 'ad quem' inovar a causa, com invocação
de outra causa petendi". (RTJ 126/813).
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA EM PARTE E, NESTA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE PROVIDA. (fl. 957 s.)

Em suas razões, a parte recorrente alegou violação dos arts. 1º, inciso V,
e 4º, inciso IX, da Lei 4.595/64, art. 26, inciso II, do Código de Defesa do
Consumidor, e art. 591 Código Civil, sob os argumentos de: (a) descabimento
de pedido revisional em ação de prestação de contas; (b) decadência do direito
de impugnar eventuais lançamentos indevidos; (c) legalidade da taxa de juros
contratada; (d) validade da capitalização mensal ou anual de juros.
O recurso especial foi inadmitido na origem, tendo ascendido a esta Corte
Superior por força do agravo do art. 544 do Código de Processo Civil (cf. fl.
1054/1064).
O agravo foi provido, para determinar a reautuação como recurso
especial (cf. fl. 1089).
Por decisão deste relator, recurso especial foi afetado ao rito do art.
543-C do Código de Processo Civil para consolidar do entendimento desta
Corte acerca da "possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na
segunda fase da ação de prestação de contas".
Os amici curiae BANCO CENTRAL DO BRASIL e FEDERAÇÃO

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BRASILEIRA DE BANCOS - FEBRABAN manifestaram-se pela
impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais na ação de prestação de
contas.
A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO absteve-se de opinar, sob o
argumento de que "não seria recomendável, em nome do órgão, a adoção de
uma posição definitiva" (fl. 1161).
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL opinou pelo não conhecimento
do recurso.
É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


(Relator):

Eminentes colegas, inicio analisando a tese a ser consolidada, relativa à


"possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na segunda fase da
ação de prestação de contas".
A pretensão veiculada em ação de prestação de contas busca,
inicialmente, o cumprimento de obrigação de fazer, tendo também carga
condenatória.
Com efeito, na primeira fase, pretende-se obter de terceiro a prestação de
contas da administração de bens, negócios ou interesses. Na segunda fase,
busca-se a condenação ao pagamento do saldo apurado.
Nas palavras de Humberto Theodoro Jr.:
Consiste a prestação de contas no relacionamento e na documentação
comprobatória de todas as receitas e de todas as despesas referentes a
uma administração de bens, valores ou interesse de outrem, realizada
por força de relação jurídica emergente da lei ou do contrato.

Seu objetivo é liquidar dito relacionamento jurídico existente entre as


partes no seu aspecto econômico, de tal modo que, afinal, se determine,
com exatidão, a existência ou não de um saldo, fixado, no caso positivo,
o seu montante, com efeito de condenação judicial contra a parte que
se qualifica como devedora. (Curso de direito processual civil. vol. III -
procedimentos especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 79)

O Código de Processo Civil de 1973 disciplinou o rito desta ação nos


seguintes termos:
Art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver:
I - o direito de exigi-las;
II - a obrigação de prestá-las.

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Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a
citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou
contestar a ação.

§ 1º. Prestadas as contas, terá o autor 5 (cinco) dias para dizer sobre
elas; havendo necessidade de produzir provas, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento; em caso contrário, proferirá desde
logo a sentença.

§ 2º. Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar


contas, observar-se-á o disposto no art. 330; a sentença, que julgar
procedente a ação, condenará o réu a prestar as contas no prazo de 48
(quarenta e oito) horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o
autor apresentar.

§ 3º. Se o réu apresentar as contas dentro do prazo estabelecido no


parágrafo anterior, seguir-se-á o procedimento do § 1o deste artigo; em
caso contrário, apresentá-las-á o autor dentro em 10 (dez) dias, sendo
as contas julgadas segundo o prudente arbítrio do juiz, que poderá
determinar, se necessário, a realização do exame pericial contábil.

Art. 916. Aquele que estiver obrigado a prestar contas requererá a


citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, aceitá-las ou contestar a
ação.

§ 1º. Se o réu não contestar a ação ou se declarar que aceita as contas


oferecidas, serão estas julgadas dentro de 10 (dez) dias.

§ 2º. Se o réu contestar a ação ou impugnar as contas e houver


necessidade de produzir provas, o juiz designará audiência de instrução
e julgamento.

Art. 917. As contas, assim do autor como do réu, serão apresentadas


em forma mercantil, especificando-se as receitas e a aplicação das
despesas, bem como o respectivo saldo; e serão instruídas com os
documentos justificativos.

Art. 918. O saldo credor declarado na sentença poderá ser cobrado em


execução forçada.

Art. 919. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do


depositário e de outro qualquer administrador serão prestadas em
apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado. Sendo

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condenado a pagar o saldo e não o fazendo no prazo legal, o juiz
poderá destituí-lo, seqüestrar os bens sob sua guarda e glosar o prêmio
ou gratificação a que teria direito.

O CPC de 2015 mudou a denominação da "ação de prestação de contas"


para "ação de exigir contas", disciplinando-a nos artigos 550 e seguintes.
Essa ação tem sido muito utilizada pelos consumidores de serviços
bancários, pois a maioria desses contratos envolve a administração de bens ou
interesses alheios.
Alguns contratos bancários, entretanto, escapam ao âmbito de
abrangência da ação de prestação de contas, como é o caso do mútuo ou do
financiamento, pois suas características peculiares retiram o interesse de agir do
mutuário nesse tipo de demanda, conforme entendimento já firmado
recentemente por esta Segunda Seção pelo rito do art. 543-C do CPC.
Confira-se a ementa do julgado:
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS. CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO.
INTERESSE DE AGIR. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firma-se a seguinte tese: "Nos
contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de
agir para a ação de prestação de contas."
2. No caso concreto, recurso especial não provido.
(REsp 1.293.558/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, DJe 25/03/2015)

Quanto aos outros contratos bancários sujeitos à prestação de contas


(v.g. contrato de conta corrente), há controvérsia nos tribunais de apelação
acerca da possibilidade de revisão de cláusulas contratuais, especialmente na
segunda fase desse procedimento especial jurisdição contenciosa.
Afirma-se, de um lado, que a revisão de cláusulas contratuais na própria
ação de prestação de contas seria justificável por economia processual para

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evitar o posterior ajuizamento de uma ação revisional.
Argumenta-se, de outro lado, que não há amparo legal para se revisar
cláusulas contratuais nesse procedimento especial. Ademais, o rito especial
seria incompatível com essa pretensão, devido às limitações ao contraditório e
à ampla defesa.
Esse último entendimento acabou prevalecendo na jurisprudência desta
Corte Superior, conforme bem demonstrou a amicus curiae FEBRABAN,
apontando decisões de todos os Ministros integrantes desta Seção (cf. fls.
1155/1157).
Ilustrativamente, transcrevem-se as seguintes ementas de decisões das
duas Turmas integrantes desta Segunda Seção:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE. CABIMENTO DA
AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS (SÚMULA 259). INTERESSE
DE AGIR. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. COMISSÃO
DE PERMANÊNCIA, JUROS, MULTA, CAPITALIZAÇÃO, TARIFAS.
IMPOSSIBILIDADE.
1. O titular de conta-corrente bancária tem interesse processual para
exigir contas do banco (Súmula 259). Isso porque a abertura de
conta-corrente tem por pressuposto a entrega de recursos do
correntista ao banco (depósito inicial e eventual abertura de limite de
crédito), seguindo-se relação duradoura de sucessivos créditos e
débitos. Por meio da prestação de contas, o banco deverá demonstrar
os créditos (depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados
em sua conta-corrente (cheques pagos, débitos de contas, tarifas e
encargos, saques etc) ao longo da relação contratual, para que, ao
final, se apure se o saldo da conta corrente é positivo ou negativo, vale
dizer, se o correntista tem crédito ou, ao contrário, se está em débito.
2. A entrega de extratos periódicos aos correntistas não implica, por si
só, falta de interesse de agir para o ajuizamento de prestação de contas,
uma vez que podem não ser suficientes para o esclarecimento de todos
os lançamentos efetuados na conta-corrente.
3. Hipótese em que a padronizada inicial, a qual poderia servir para
qualquer contrato de conta-corrente do Banco Banestado, bastando a
mudança do nome das partes e do número da conta, não indica
exemplos concretos de lançamentos não autorizados ou de origem
desconhecida e sequer delimita o período em relação ao qual há
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necessidade de prestação de contas, postulando sejam prestadas contas,
em formato mercantil, no prazo legal de cinco dias, de todos os
lançamentos desde a abertura da conta-corrente, treze anos antes do
ajuizamento da ação. Tal pedido, conforme voto do Ministro Aldir
Passarinho Junior, acompanhado pela unanimidade da 4ª Turma no
REsp. 98.626-SC, "soa absurdo, posto que não é crível que desde o
início, em tudo, tenha havido erro ou suspeita de equívoco dos extratos
já apresentados."
4. A pretensão deduzida na inicial, voltada, na realidade, a aferir a
legalidade dos encargos cobrados (comissão de permanência, juros,
multa, tarifas), deveria ter sido veiculada por meio de ação ordinária
revisional, cumulada com repetição de eventual indébito, no curso da
qual pode ser requerida a exibição de documentos, caso esta não tenha
sido postulada em medida cautelar preparatória.
5. Embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da
conta-corrente, independentemente do fornecimento extrajudicial de
extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à revisão
de cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao
menos de período determinado em relação ao qual busca
esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos consistentes,
ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que justificam a
provocação do Poder Judiciário mediante ação de prestação de contas.
6. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1.231.027/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, DJe 18/12/2012)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


PRESTAÇÃO DE CONTAS. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL.
CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DIVERSIDADE DE RITOS.
1. Impossibilidade de cumulação de ação de prestação de contas com
ação de revisão de cláusulas contratuais, ante a diversidade dos ritos
das referidas ações. Precedentes específicos.
2. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg nos EDcl no REsp 1.176.781/PR, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, DJe 26/09/2012)

Desse modo, propõe-se a consolidação da tese na linha da jurisprudência


desta Corte Superior, cabendo salientar que não só juízo específico de
abusividade como também qualquer juízo de validade de cláusulas contratuais

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é descabido nesse rito especial, devendo o magistrado limitar-se ao exame dos
planos da existência e da eficácia das cláusulas contratuais, ou seja, a análise do
conteúdo das cláusulas pactuadas entre as partes no contrato em discussão.
Naturalmente, como consequência dessa limitação à atividade cognitiva,
a sentença proferida na ação de prestação de contas não produz o efeito
preclusivo da coisa julgada no que tange à questão da validade das cláusulas
contratuais, que poderá ser veiculada em ação revisional ou em sede de
embargos à execução.
Nessa esteira, para os fins do art. 543-C do Código de Processo Civil,
propõe-se a redação das teses nos seguintes termos:
a) Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em
ação de prestação de contas

b) Limitação da cognição judicial na ação de prestação de


contas ao conteúdo das cláusulas pactuadas no respectivo
contrato.

Esclareça-se que, na primeira fase desse rito especial, é possível o


indeferimento da petição inicial quando verificado que o autor deduziu
pretensão incompatível com o rito.
Na segunda fase, contudo, não há sequer petição inicial a ser indeferida,
pois esta fase da ação de prestação de contas inicia-se automaticamente, por
mero decurso de prazo, conforme previsto no art. 915, §§ 2º e 3º, do CPC/73
(atual art. 550 do CPC/2015), independentemente de petição.
Definida a tese, passo ao exame do caso concreto.
Inicialmente, quanto à alegação de decadência do direito de impugnar os
lançamentos indevidos, o Tribunal de origem entendeu que se tratava de
alegação preclusa, pois já decidida na primeira fase do rito especial.
A parte ora recorrente, contudo, limitou-se a repisar a insurgência, sem

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atacar o fundamento da preclusão, o que atrai a incidência do óbice da Súmula
283/STF, assim lavrada:
Súmula 283/STF - É inadmissível o recurso extraordinário, quando a
decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o
recurso não abrange todos eles.

Relativamente à insurgência contra o pedido revisional, tal alegação não


conduz à improcedência do pedido, como pretende o recorrente, mas tão
somente a uma limitação da cognição, nos termos da tese que se propôs no
presente voto.
Quanto a esse ponto, o juízo de origem decidiu em consonância com a
tese proposta neste voto, conforme se verifica no seguinte trecho da sentença,
litteris:
Inicialmente, é de se esclarecer que o presente feito se refere à
prestação de contas e não de revisão de contrato.

Assim, para que sejam as contas apreciadas e julgadas boas ou não,


deve ser considerado o que restou pactuado entre as partes.

Não cabe neste feito a discussão sobre a validade e legalidade das


cláusulas contratuais, discussão esta que somente deve se dar em ação
própria, com rito próprio. (fl. 852)

No que diz respeito à taxa de juros e à capitalização, o Tribunal de


origem limitou os juros à taxa média de mercado e afastou a capitalização
mensal, porque não havia pactuação nesse sentido.
Esse provimento do Tribunal a quo ficou restrito ao exame do próprio
conteúdo das cláusulas contratuais, não se tratando de revisão de contrato.
Como não havia cláusula pactuada, os juros são limitados à média de
mercado e a capitalização é inadmitida, em qualquer periodicidade.
Sobre a descabimento da capitalização, a questão diz respeito à diferença
entre norma permissiva e norma supletiva, conforme consta em voto-vista
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proferido por este relator nos autos do ARESP 429.029/PR, SEGUNDA
SEÇÃO, Rel. Min. MARCO BUZZI, julgado em 09/03/2016.
Segundo a classificação doutrinária de MARIA HELENA DINIZ
(Compêndio de Introdução ao Estudo do Direito. 23.ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 410), as normas permissivas simplesmente consentem com
uma ação ou abstenção, ao posso que as norma supletivas, além de
consentirem com uma ação, suprem a manifestação de vontade das partes, no
caso de abstenção.
No caso da capitalização anual, há inúmeras norma permissivas, que
autorizam a capitalização, mas nenhuma norma supletiva, que substituiria a
manifestação de vontade dos contratantes.
Efetivamente, como bem demonstrado pelo relator do AgRg no ARESP
429.029/PR, Min. MARCO BUZZI, em seu minucioso voto, todas normas
existentes na legislação brasileira acerca da questão permitem, assentem,
autorizam, não-proíbem, consentem ou concordam com a capitalização
anual, mas nenhuma impõe a capitalização anual no silêncio das partes.
Tratando-se, portanto, de normas permissivas, a capitalização sempre
depende de manifestação expressa de vontade das partes contratantes.
No caso dos autos, como não houve prova de que a capitalização teria
sido pactuada, os juros devem se computados na forma simples, sem
capitalização.
Ante o exposto, proponho a consolidação das seguintes teses para
os fins do art. 543-C do CPC nos seguintes termos:
- Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação
de prestação de contas;

- Limitação da cognição judicial na ação de prestação de


contas ao conteúdo das cláusulas pactuadas no respectivo
contrato.
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No caso concreto, voto no sentido de negar provimento ao recurso


especial.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 13/04/2016 JULGADO: 13/04/2016

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentou oralmente a Dra. PAULA DE PAIVA SANTOS, pelo Recorrente BANCO BRADESCO
S/A.

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Relator, negando provimento
ao recurso especial, pediu VISTA a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Aguardam os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Luis Felipe Salomão.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 25/05/2016 JULGADO: 25/05/2016

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação da Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti que iria proferir voto-vista,
com previsão de julgamento na sessão de 8.6.2016.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)

VOTO-VISTA

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Trata-se de ação de prestação


de contas ajuizada por Andrea Silvana Sequinel Marques em face do Banco Bradesco
S/A exigindo a demonstração, de forma mercantil, da movimentação financeira do
contrato de abertura de crédito em conta corrente celebrado entre as partes, desde o
início do relacionamento, no ano de 1995, nos termos do art. 917 do Código de
Processo Civil.
A sentença de fls. 66/75 julgou procedente o pedido “a fim de determinar
que o Requerido preste as contas à Requerente, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
referente à conta corrente n. 27.380-5, agência 0234-8 do Banco Bradesco S/A, no
período de janeiro de 1995 até os dias de hoje (...)” (fl. 74).
Sobreveio apelação da instituição financeira, tendo o Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná dado parcial provimento ao recurso, nos termos da seguinte
ementa (fls. 134 e 137):

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. 1)


ALEGADA REPETIÇÃO DE ARGUMENTOS ANTERIORES.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO INCISO II DO ARTIGO
514 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 2) DECADÊNCIA.
OCORRÊNCIA. 3) INÉPCIA. DESNECESSIDADE DA JUNTADA DE
DOCUMENTOS 4) FALTA DO INTERESSE DE AGIR. PEDIDO
GENÉRICO. INOCORRÊNCIA. 5) PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO
DAS CONTAS. 48 HORAS. PARTE FINAL DO § 2°, DO ARTIGO
915, CPC. 6) SUCUMBÊNCIA MINORAÇÃO DOS HONORÁRIOS.
1. "A repetição ou a reiteração de argumentos anteriores, por si só,
ainda que possa constituir praxe desaconselhável, não implica na
inépcia do recurso, salvo se as razões do inconformismo não
guardarem relação com os fundamentos da decisão recorrida" (STJ
- 3ª Turma, REsp 536.581-PR, rel. Min. Castro Filho, j. 16.12.03,
DJU 10.204, p. 252).
2. No caso de eventual irregularidade na cobrança de serviços
bancários, tem o correntista o prazo de 90 (noventa) dias para
interpor sua reclamação, diante de vício aparente e de fácil
constatação, no produto ou serviço prestado pela instituição
financeira. Porém, esclareça-se que isso não isenta o banco de
prestar as devidas contas, apenas exclui os valores a eles
pertinentes, do período decaído, de compor eventual débito e

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crédito da parte.
3. "De acordo com o disposto no artigo 917 do Código de Processo
Civil, as contas serão prestadas por aquele que tiver a obrigação
de prestá-las. Portanto, não possui o autor a obrigação de juntar à
petição inicial toda a documentação relativa à prestação de contas
que pleiteia." (TJPR, Ac. 2096, 16ª C. Cível, Rel. Hélio Henrique
Lopes Fernandes Lima, p. 0183309-6, j. 03.02.2006).
4. "Não pode ser considerado genérico o pedido formulado pelo
apelante/correntista, porque visa obter informações sobre o
contrato de abertura de crédito em conta corrente firmado com a
instituição financeira ré, tendo em sua inicial declinado o período,
bem como o que deveria o Banco informar." (TAPR - extinto - 6ª
CCív - Ac. 17105 - Rel. Des. Anny Mary Kuss, j. 09.03.2004)
5. "O prazo de 48 horas para a apresentação das contas, previsto
no § 2°, art. 915, do CPC, somente pode ser ampliado por força de
justificado motivo, capaz de tornar inviável a prestação no termo
legal. Apelação cível desprovida." (TJPR, 16ª Câmara Cível,
Apelação Cível sob o n° 360804-2, REL. Desembargador Paulo
Cezar Bellio, DJ 17/11/2006).
6. Ônus sucumbencial. Minoração dos honorários para adequar ao
trabalho desenvolvido pelo advogado, na causa.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.

Em face do mencionado acórdão foram opostos embargos de declaração


por ambas as partes, tendo sido parcialmente acolhidos os dois recursos, sem a
modificação do julgado.
A autora Andrea Silvana Sequinel Marques e a instituição financeira
interpuseram recursos especiais, sendo admitido pela Corte estadual o recurso da
autora e inadmitido o recurso do banco.
O Banco Bradesco S/A interpôs agravo de instrumento, ao qual foi negado
provimento (fls. 540/541).
O recurso especial da autora foi provido para afastar a decadência
reconhecida pelo Tribunal de origem (fls. 308/310).
Após o trânsito em julgado da decisão (fl. 312), o Banco apresentou as
contas, juntando os respectivos documentos.
A autora, por sua vez, impugnou tais contas, questionando lançamentos e
encargos contratuais, como tarifas, taxa de juros e capitalização, tendo o magistrado a
quo deferido a produção de prova pericial.
Depois dos esclarecimentos do perito, o juízo de origem, às fls. 860/869,
"acolheu parcialmente as contas apresentadas pelo Requerido, reconhecendo em favor
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da Requerente saldo credor no valor de R$ 380,83 (trezentos e oitenta reais, e oitenta e
três centavos), atualizada até a data da perícia, decorrente da cobrança de juros acima
de 0,5% e de forma capitalizada, bem como saldo credor no valor de R$ 437,16
(quatrocentos e trinta e sete reais, e dezesseis centavos), atualizado até a data da
perícia" (fls. 868/869).
Inconformado, o Banco Bradesco S/A interpôs apelação, a qual foi
parcialmente provida, para afastar o valor obtido pela perícia, como lançamentos não
autorizados, determinando-se que, em sede de liquidação de arbitramento, seja
apurado quais os valores apontados pela parte autora que não estão autorizados pelo
Bacen, devendo ser objeto de repetição de forma simples; para determinar, ainda, que
os juros sejam limitados à taxa média de mercado, aplicada às operações da mesma
espécie; e para excluir a capitalização mensal dos juros, com a observância da regra do
art. 354 do Código Civil, nos termos da seguinte ementa (fls. 957/958):

APELAÇÃO CÍVEL (RÉU). AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.


SEGUNDA FASE. I - DECADÊNCIA. RECONHECIMENTO
AFASTADO EM PRIMEIRA FASE. FORMAÇÃO DE COISA
JULGADA. II - TARIFAS E TAXAS. AUTORIZAÇÃO CONTRATUAL
COMPROVADA. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE ACORDO
COM AS NORMAS DO BACEN. DEMAIS LANÇAMENTOS NÃO
AUTORIZADOS. EXCLUSÃO QUE DEVE SE RESTRINGIR À
IMPUGNAÇÃO DA AUTORA. III - TAXA DE JUROS. CLÁUSULA
ILEGÍVEL. PACTUAÇÃO NÃO DEMONSTRADA. LIMITAÇÃO À
TAXA MÉDIA DE MERCADO APLICÁVEL ÀS OPERAÇÕES DE
MESMA ESPÉCIE. IV - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.
PRÁTICA COMPROVADA POR PROVA PERICIAL. EXCLUSÃO
DEVIDA, COM OBSERVÂNCIA DO ART. 354 DO CÓDIGO CIVIL EM
SUA APURAÇÃO. V - CAPITALIZAÇÃO ANUAL OU SEMESTRAL.
MATÉRIA NÃO CONHECIDA. INOVAÇÃO RECURSAL.
I - Impossível discutir novamente a questão acerca da aplicação do
art. 26 do CDC, quando a prejudicial de mérito já foi rechaçada em
primeira fase, formando, portanto, coisa julgada.
II - Comprovada a previsão contratual, admite-se a cobrança das
tarifas e taxas, que estejam autorizadas pelo Banco Central do
Brasil. Todavia, não havendo impugnação específica da autora, é
indevida a exclusão de lançamentos tidos como não autorizados.
III - Não apresentado o contrato no caderno processual, a taxa de
juros deve ser limitada à taxa média de mercado aplicada às
operações de mesma espécie.
IV - Comprovada a prática da capitalização mensal de juros por
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prova pericial, é necessária a exclusão de tal prática, com o cálculo
dos juros de forma simples e em atenção à regra da imputação ao
pagamento, prevista no art. 354 do Código Civil, que determina que
os depósitos efetuados na conta corrente destinam-se primeiro ao
pagamento dos juros.
V - "Não pode o apelante impugnar senão aquilo que foi decidido
na sentença; nem cabe à instância 'ad quem' inovar a causa, com
invocação de outra causa petendi". (RTJ 126/813).
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA EM PARTE E, NESTA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE PROVIDA.

No recurso especial interposto com base no art. 105, inciso III, alíneas "a"
e "c", da Constituição Federal, a instituição financeira sustenta a violação dos arts. 26,
inciso II, do Código de Defesa do Consumidor, 1°, inciso V e 4°, VI e IX, da Lei n.
4.595/64 e 591 do Código Civil, associada a dissídio jurisprudencial.
Alega o recorrente que é incabível a discussão da validade de cláusulas
contratuais no âmbito da ação de prestação de contas, em razão da diversidade de
ritos.
Argumenta, por outro lado, que "o acórdão recorrido violou o disposto no
art. 26, II, do código de Defesa do Consumidor, na medida em que deixou de
reconhecer a decadência do direito do recorrido a pleitear contas de período maior do
que 90 (noventa) dias" (fl. 1.002).
Destaca, por fim, a legalidade dos juros remuneratórios pactuados no
contrato, bem como a possibilidade de cobrança da capitalização dos juros.
Em contrarrazões, a autora sustentou a ausência de prequestionamento
dos dispositivos legais suscitados no recurso especial; a falta de cotejo analítico; e que
o entendimento do julgado estadual está em consonância com a jurisprudência desta
Corte.
O Tribunal de origem negou seguimento ao recurso especial, conforme a
decisão de admissibilidade de fls. 1.049/1.051.
Fora interposto agravo em recurso especial, com fundamento no art. 544
do Código de Processo Civil de 1973, sendo provido, à fl. 1.089, para determinar a sua
reautuação como recurso especial para melhor análise da controvérsia.
O recurso especial foi afetado para julgamento segundo o rito do art.
543-C do Código de Processo Civil de 1973, a fim de que a 2ª Seção desta Corte
examine a questão da possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na segunda
fase da ação de prestação de contas.
O Banco Central do Brasil (fls. e-STJ 1110-1125) e a Federação Brasileira

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Superior Tribunal de Justiça
de Bancos - FEBRABAN (fls. e-STJ 1147-1158), ambos na qualidade de amicus
curiae, manifestaram-se pela impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais no
âmbito da ação de prestação de contas.
O Ministério Público Federal opinou pelo não provimento do recurso e a
Defensoria Pública da União absteve-se de opinar, ao argumento de que "não seria
recomendável, em nome do órgão, a adoção de uma posição definitiva" (fl. 1.161).
O relator, o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, ao analisar a tese a ser
consolidada, destacou, inicialmente, que "a pretensão veiculada na ação de prestação
de contas busca o cumprimento de obrigação de fazer, tendo também carga
condenatória."
Asseverou, ademais, que, na primeira fase da referida ação, "pretende-se
obter de terceiro a prestação de contas da administração de bens, negócios ou
interesses. Na segunda fase, busca-se a condenação ao pagamento do saldo apurado".
Argumentou que em alguns contratos bancários, tais como, de mútuo e
de financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a propositura da ação de
prestação de contas, nos termos do entendimento já firmado por esta 2ª Seção pelo rito
do art. 543-C do Código de Processo Civil e que, em outros contratos bancários
sujeitos à prestação de contas, como o contrato de abertura de crédito em conta
corrente, "há controvérsia nos tribunais de apelação acerca da possibilidade de revisão
de cláusulas contratuais, especialmente na segunda fase desse procedimento especial
de jurisdição contenciosa".
Afirmou que os tribunais de apelação entendem, por um lado, que a
revisão de cláusulas contratuais na própria ação de prestação de contas seria
justificável por economia processual, para evitar o posterior ajuizamento de uma ação
revisional, e, por outro lado, que não há amparo legal para se revisar cláusulas
contratuais nesse procedimento especial.
Destacou que o último entendimento prevaleceu na jurisprudência desta
Corte Superior, e transcreveu ementas de acórdãos das Turmas integrantes desta 2ª
Seção que amparam a referida tese.
Dessa forma, o Relator propôs a consolidação da tese na linha da
jurisprudência desta Corte Superior, salientando "que não só juízo específico de
abusividade como também qualquer juízo de validade de cláusulas contratuais é
descabido nesse rito especial, devendo o magistrado limitar-se ao exame dos planos da
existência e da eficácia das cláusulas contratuais, ou seja, a análise do conteúdo das
cláusulas pactuadas entre as partes no contrato em discussão".
Diante disso, formulou as teses para os efeitos previstos no art. 543-C do
Código de Processo Civil, assim definidas:

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Superior Tribunal de Justiça

- Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em


ação de prestação de contas;
- Limitação da cognição judicial na ação de prestação de
contas ao conteúdo das cláusulas pactuadas no respectivo
contrato.

No caso concreto, entendeu aplicável a Súmula 283 do STF no tocante à


alegação de decadência do direito de impugnar os lançamentos indevidos, uma vez que
a instituição financeira não atacou o fundamento do julgado estadual de que estaria
preclusa a análise do referido tema. Consignou que o recurso contra o pedido revisional
não conduz à improcedência do pedido como pretende o banco, mas tão somente a
uma limitação da cognição; concluiu estar correto o entendimento do Tribunal de origem
ao limitar os juros remuneratórios à taxa média de mercado e ao afastar a capitalização
mensal dos juros porque não havia pactuação nesse sentido; afirmou que tal
provimento do acórdão estadual "ficou restrito ao exame do próprio conteúdo das
cláusulas contratuais, não se tratando de revisão de contrato"; e asseverou, também,
que é incabível a cobrança da capitalização anual dos juros, dado não haver prova de
sua pactuação, negando, portanto, provimento ao recurso especial.
Pedi vista dos autos.

A ação de prestação de contas, prevista nos arts. 914 e seguintes do


CPC de 1973 (arts. 550 e seguintes do CPC de 2015), tem por objetivo demonstrar o
resultado da administração de quem age em nome de outra pessoa ou lhe gerencia os
negócios ou bens.
Segundo a lição de Adroaldo Furtado Fabrício:

"Prestar contas significa fazer alguém a outrem,


pormenorizadamente, parcela por parcela, a exposição dos
componentes de débito e crédito resultantes de determinada
relação jurídica, concluindo pela apuração aritmética do saldo
devedor ou credor, ou de sua inexistência. A natureza dessa
relação jurídica pode variar muito; de um modo geral, pode-se dizer
que deve contas quem quer que administre bens, negócios ou
interesses de outrem, a qualquer título." (Comentários ao Código
de Processo Civil, Forense, 1988, 3ª edição, Volume VIII, Tomo III,

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Superior Tribunal de Justiça
p. 315

Consolidou-se a jurisprudência deste Tribunal, após intensa polêmica, no


sentido da possibilidade de propositura da ação de prestação de contas pelo titular da
conta corrente bancária, independentemente do fornecimento periódico de extratos pelo
banco (Súmula 259).
A análise dos precedentes da Súmula 259 revela que a ação de prestação
de contas é instrumento processual idôneo "ao correntista que, recebendo extratos
bancários, discorde dos lançamentos deles constantes", (...) "visando a obter
pronunciamento judicial acerca da correção ou incorreção de tais lançamentos" (REsp.
12.393-0/SP, 4ª Turma, relator o Ministro Sálvio de Figueiredo, DJ 28.4.1994). No REsp.
264.506/ES, relator o Ministro Aldir Passarinho Júnior, se considerou cabível a
prestação de contas, porque justificado o pedido "por correntista que questiona a
natureza de transferência e débitos em conta corrente lançados pela instituição
depositária" (DJ 26.3.2001). No REsp. 198.071/SP, relator o Ministro Barros Monteiro,
decidiu-se que "ao concorrentista que, recebendo extratos bancários, discorde dos
lançamentos deles constantes, assiste legítimo interesse para intentar ação de
prestação de contas, visando a obter pronunciamento judicial acerca da correção ou
incorreção de tais lançamentos" (DJ 24.5.1999). No REsp. 184.283/SP, afirmou-se "O
correntista, inconformado com os lançamentos feitos em sua conta corrente, sem
condições de conhecer a natureza e a origem dos registros constantes dos
extratos bancários que recebe, tem legítimo interesse de propor a ação de prestação
de contas" (DJ 22.3.1999). Os grifos não constam dos originais. No mesmo sentido, o
REsp. 114.237/SC, relator Ministro Waldemar Zveiter, DJ 1.3.1999; REsp. 75.612/SC,
rel. Ministro Costa Leite, DJ 4.3.1996.
O escopo da prestação de contas é, pois, o acertamento de lançamentos
a crédito e a débito em determinada relação jurídica em que haja a administração de
bens alheios para, ao final, declarar a existência de saldo em favor de uma das partes.
Na hipótese de a ação ser proposta pela parte que invoca para si o direito
de exigir contas, como é o caso dos autos, o procedimento é dividido em duas fases.
A primeira fase busca apurar se existe ou não a obrigação de prestar as
contas que o autor atribui ao réu. Na segunda fase, que só é instaurada se ficar
acertada a existência da obrigação, desenvolvem-se as operações de exame das
diversas parcelas das contas, com a finalidade de alcançar-se o saldo final do
relacionamento econômico discutido entre as partes.
É o que a ensina a doutrina de Alexandre Freitas Câmara:

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Superior Tribunal de Justiça
(...) É preciso notar, porém, que não se está diante de dois
processos distintos, tramitando simultaneamente nos mesmos
autos. O processo, em verdade, é único, embora dividido em duas
fases distintas. Há, pois, o ajuizamento de uma única demanda,
contendo um único mérito. A análise deste, porém, é dividida em
dois momentos: o primeiro, dedicado à verificação da existência do
direito de exigir a prestação de contas, o segundo, dirigido à
verificação das contas e do saldo eventualmente existente.
(Lições de Direito Processual Civil, Editora Atlas S.A. - São Paulo,
21ª edição, 2014, Volume 3, p. 391/392).

O rito é especial, muito mais célere do que o ordinário, sendo o réu citado
para, no prazo de cinco dias, apresentar as contas ou contestar a obrigação de prestar
contas (CPC/73, art. 915).
Julgada procedente a primeira fase, a sentença "condenará o réu a
prestar contas no prazo de quarenta e oito horas, sob pena de não lhe ser lícito
impugnar as que o autor apresentar" (CPC/73, art. 915, §2º).
Tendo em vista a especialidade do rito, não se comporta no âmbito da
prestação de contas a pretensão de alterar ou revisar cláusula contratual. As contas
devem ser prestadas, com a exposição, de forma mercantil, das receitas e despesas, e
o respectivo saldo (CPC/73, art. 917). A apresentação das contas e o respectivo
julgamento devem ter por base os pressupostos assentados ao longo da relação
contratual existente entre as partes.
Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior:

(...) O objeto do procedimento especial, no entanto, não abrange


definição de situações complexas como as de decretação de
rescisão ou resolução contratual ou de anulação de negócios
jurídicos, e tampouco a condenação por atos ilícitos. Esses
acertamentos hão de ser realizados pelas vias ordinárias,
relegando-se à ação especial de prestação de contas apenas as
questões de puro levantamento de débitos e créditos gerados
durante a gestão de bens e negócios alheios.
(Curso de Direito Processual Civil, Volume III, Procedimentos
Especiais, 46ª edição, Rio de Janeiro - Editora Forense, 2014, p.
87).

Em se tratando de contrato de conta corrente, o banco deverá demonstrar


os créditos (depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados em sua conta
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corrente (cheques pagos, débitos de contas, tarifas e encargos, transferências, saques
etc) em relação ao período cuja prestação de contas se pede, para que, ao final, se
apure se o saldo da conta corrente é positivo ou negativo, e se o correntista tem crédito
ou, ao contrário, se está em débito.
Não será possível, todavia, a alteração das bases do contrato mantido
entre as partes, pois, como visto, o rito especial da prestação de contas é incompatível
com a pretensão de revisar contrato, em razão das limitações ao contraditório e à
ampla defesa.
Conforme enfatiza Arthur Mendes Lobo, "a ação de prestação de contas
não permite que o réu saiba, ao contestar, quais são os lançamentos que serão
considerados ilegais ou abusivos pelo autor. Então, na ação de prestação de contas, a
verdadeira pretensão do autor somente é conhecida após a apresentação das contas, o
que acontece na segunda fase, o que impede que ele rebata (em peça de resistência)
todas as alegações do autor." ("Os novos contornos da interpretação do interesse de
agir na ação de prestação de contas: a importante mudança de posicionamento do
STJ", publicado no livro "O Papel da Jurisprudência no STJ", RT, 2014, p. 354).
Essa impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas contratuais
diz respeito a todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não pode o autor da
ação deduzir pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase), conforme a
reiterada jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em impugnação
às contas prestadas pelo réu (segunda fase).
Isso ocorre porque, repita-se, o procedimento especial da prestação de
contas não abrange a análise de situações complexas, mas tão somente o mero
levantamento de débitos e créditos gerados durante a gestão de bens e negócios do
cliente bancário.
A ação de prestação de contas não é, portanto, o meio hábil a dirimir
conflitos no tocante a cláusulas de contrato, nem em caráter secundário, uma vez que
tal ação objetiva, tão somente, a exposição dos componentes de crédito e débito
resultantes de determinada relação jurídica, concluindo pela apuração de saldo credor
ou devedor.
Nesse sentido, orienta-se, de há muito, a jurisprudência deste Tribunal:

"CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. NULIDADE DE CONTRATO,


INEXIGIBILIDADE DE TÍTULOS DE CRÉDITO E PRESTAÇÃO DE
CONTAS. INADMISSIBILIDADE EM RELAÇÃO A ESTA ÚLTIMA.
- De feições complexas e comportando duas fases distintas,
inadmissível é a cumulação da ação de prestação de contas com

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Superior Tribunal de Justiça
as ações de nulidade de contratos e declaratória de inexigibilidade
de títulos, por ensejar tumulto e desordem na realização dos atos
processuais. Precedente da Quarta Turma.
Recurso especial conhecido e provido parcialmente."
(4ª Turma, REsp 190.892/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO,
unânime, DJU de 21.8.2000)

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CUMULAÇÃO DE


PEDIDOS. REVISÃO CONTRATUAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS.
RITOS. INCOMPATIBILIDADE.
1. Consoante entendimento desta Corte, é inviável a cumulação de
ação de revisão de cláusulas contratuais com ação de prestação
de contas, em face da diversidade dos ritos. Precedentes.
2. Agravo regimental desprovido."
(4ª Turma, AgRg no REsp 739.700/RS, Rel. Ministro FERNANDO
GONÇALVES, unânime, DJU de 22.10.2007)

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. PEDIDO DE PRESTAÇÃO
DE CONTAS. CUMULAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INCOMPATIBILIDADE DE RITOS.
1. É impossível cumular ação de prestação de contas com ação
ordinária em que se busca a revisão contratual, em face da
incompatibilidade de ritos.
2. Agravo regimental desprovido."
(4ª Turma, AgRg no Ag 1.094.287/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO
DE NORONHA, unânime, DJe de 27.5.2010)

"AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.


REVISÃO CONTRATUAL. CUMULAÇÃO. RITOS.
INCOMPATIBILIDADE.
I - Consoante entendimento desta Corte, é inviável a cumulação de
ação de revisão de cláusulas contratuais com ação de prestação
de contas, em face da diversidade dos ritos. Precedentes.
Agravo Regimental improvido."
(3ª Turma, AgRg no REsp 1.177.260/PR, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, unânime, DJe de 7.5.2010)

Mais recentemente a jurisprudência da 2ª Seção consolidou-se no sentido


de que a ação de prestação de contas pelo titular da conta-corrente bancária não
prescinde da indicação, na inicial, ao menos de período determinado em relação ao qual

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Superior Tribunal de Justiça
busca esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos consistentes,
ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que justificam a provocação do Poder
Judiciário mediante ação de prestação de contas, bem como não se destina à revisão
de cláusulas contratuais. Eis a ementa do precedente:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE


ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE. CABIMENTO
DA AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS (SÚMULA 259).
INTERESSE DE AGIR. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA, JUROS, MULTA, CAPITALIZAÇÃO,
TARIFAS. IMPOSSIBILIDADE.
1. O titular de conta-corrente bancária tem interesse processual
para exigir contas do banco (Súmula 259). Isso porque a abertura
de conta-corrente tem por pressuposto a entrega de recursos do
correntista ao banco (depósito inicial e eventual abertura de limite
de crédito), seguindo-se relação duradoura de sucessivos créditos
e débitos. Por meio da prestação de contas, o banco deverá
demonstrar os créditos (depósitos em favor do correntista) e os
débitos efetivados em sua conta-corrente (cheques pagos, débitos
de contas, tarifas e encargos, saques etc) ao longo da relação
contratual, para que, ao final, se apure se o saldo da conta
corrente é positivo ou negativo, vale dizer, se o correntista tem
crédito ou, ao contrário, se está em débito.
2. A entrega de extratos periódicos aos correntistas não implica,
por si só, falta de interesse de agir para o ajuizamento de
prestação de contas, uma vez que podem não ser suficientes para
o esclarecimento de todos os lançamentos efetuados na
conta-corrente.
3. Hipótese em que a padronizada inicial, a qual poderia servir para
qualquer contrato de conta-corrente do Banco Banestado,
bastando a mudança do nome das partes e do número da conta,
não indica exemplos concretos de lançamentos não autorizados ou
de origem desconhecida e sequer delimita o período em relação ao
qual há necessidade de prestação de contas, postulando sejam
prestadas contas, em formato mercantil, no prazo legal de cinco
dias, de todos os lançamentos desde a abertura da conta-corrente,
treze anos antes do ajuizamento da ação. Tal pedido, conforme
voto do Ministro Aldir Passarinho Junior, acompanhado pela
unanimidade da 4ª Turma no REsp. 98.626-SC, "soa absurdo,
posto que não é crível que desde o início, em tudo, tenha havido
erro ou suspeita de equívoco dos extratos já apresentados."

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4. A pretensão deduzida na inicial, voltada, na realidade, a aferir a
legalidade dos encargos cobrados (comissão de permanência,
juros, multa, tarifas), deveria ter sido veiculada por meio de ação
ordinária revisional, cumulada com repetição de eventual indébito,
no curso da qual pode ser requerida a exibição de documentos,
caso esta não tenha sido postulada em medida cautelar
preparatória.
5. Embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da
conta-corrente, independentemente do fornecimento extrajudicial
de extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à
revisão de cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na
inicial, ao menos de período determinado em relação ao qual busca
esclarecimentos o correntista, com a exposição de motivos
consistentes, ocorrências duvidosas em sua conta-corrente, que
justificam a provocação do Poder Judiciário mediante ação de
prestação de contas.
6. Recurso especial a que se nega provimento (REsp.
1.231.027/PR, de minha relatoria, DJe 18.12.2012)

Compartilho, portanto, do entendimento do eminente Relator acerca da


"impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas".

II

O motivo de meu pedido de vistas foi a segunda tese proposta e a análise


do caso concreto em julgamento.
Ao discorrer acerca da segunda tese referente à "limitação da cognição
judicial na ação de prestação de contas ao conteúdo das cláusulas pactuadas no
respectivo contrato" o eminente relator consignou que o magistrado deve limitar-se ao
exame dos planos da existência e da eficácia das cláusulas contratuais, ou seja, à
análise do conteúdo das cláusulas pactuadas entre as partes no contrato em
discussão.
Afirmou que a Corte estadual decidiu em consonância com a tese
proposta, quando limitou os juros remuneratórios à taxa média de mercado e afastou a
capitalização mensal dos juros, diante da falta de pactuação nesse sentido.
Asseverou que o provimento do Tribunal de origem "ficou restrito ao
exame do próprio conteúdo das cláusulas contratuais, não se tratando de revisão de
contrato".
Não tenho dúvidas em concordar que a prestação de contas e o

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respectivo julgamento devem ser delimitados pelo contrato mediante o qual se
desenvolveu a relação de administração de bens do autor pelo réu. Tomando por base
as normas regentes da relação jurídica entre as partes, devem ser especificados os
lançamentos a crédito e a débito e o respectivo saldo. Situações complexas, a
demandar acertamentos a propósito da clareza e interpretação de cláusulas
contratuais, vícios de consentimento, possível abusividade, dentre outras, hão de ser
questionadas na via ordinária, na qual se comporta ampla dilação probatória.
A relação entre o titular de conta-corrente e o banco desenvolve-se ao
longo de anos, sendo regulada não apenas pelo contrato inicial, mas pelos sucessivos
aditamentos contratuais e outros negócios jurídicos que são celebrados na medida da
conveniência das partes, como alterações de limites de crédito, empréstimos,
autorizações para saques, transferências, investimentos, entre outros, feitas
verbalmente, por caixa eletrônico ou computador pessoal.
No contrato de limite de crédito em conta-corrente, as taxas de juros em
regra não constam do contrato de abertura, pois flutuam conforme as contingências do
mercado, e são informadas periodicamente ao correntista por meios diversos, como
extratos, internet e atendimento telefônico.
Anoto que, a rigor, a taxa de juros cobrada do consumidor sequer é
elemento do contrato de depósito de numerário em conta corrente, cuja administração
pelo banco justifica o cabimento da ação de prestação de contas. A taxa de juros é a
remuneração de empréstimo, ou a contraprestação pela efetiva utilização do limite de
crédito aberto pelo banco ao seu cliente.
Entendo, portanto, que o contrato bancário que deve nortear a prestação
de contas e o respectivo julgamento - sem que caiba a sua revisão no rito especial -
não é o simples formulário assinado no início do relacionamento, mas todo o conjunto
de documentos e práticas que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos.
Esse feixe de obrigações e direitos não cabe alterar no exame da ação de prestação de
contas.
Assim, ao contrário do posicionamento do eminente relator, entendo, data
vênia, que não é possível ao magistrado substituir, na ação de prestação de contas, a
taxa de juros remuneratórios, a periodicidade da capitalização ou demais encargos
aplicados ao longo da relação contratual.
Dessa forma, penso que, após prestadas as contas, cabe ao julgador, na
sentença da segunda fase da ação, analisar se tais contas foram prestadas na forma
mercantil e fazer a a verificação da compatibilidade das contas apresentadas entre os
créditos, os débitos e o posterior saldo, sem promover a alteração nos encargos
contratuais vigentes durante a relação contratual.

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Superior Tribunal de Justiça
Esta conclusão é reforçada pelo entendimento do Relator, ao qual adiro,
de que a sentença proferida na ação de prestação de contas não produz o efeito
preclusivo da coisa julgada acerca da validade das cláusulas contratuais e eventual
abusividade dos encargos cobrados do correntista ao longo da relação contratual.
Dessa forma, independentemente do julgamento da prestação de contas,
fica ressalvada ao correntista, caso considere pertinente, a possibilidade de ajuizar
ação revisional de contrato cumulada com repetição de eventual indébito ou, ainda, se
for o caso, revisar as cláusulas contratuais em sede de embargos à execução, com a
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Assim, em consonância com essas premissas, proponho, pois, a
seguinte tese, para os efeitos previstos no art. 543-C do Código de Processo Civil de
1973:

- Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em


ação de prestação de contas.

III

Feitas tais considerações, passo à análise do caso concreto.


No recurso especial, o Banco Bradesco S/A sustentou a violação dos
arts. 26, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor, 1°, inciso V e 4°, VI e IX, da Lei
n. 4.595/64 e 591 do Código Civil, associada a dissídio jurisprudencial.
Alegou que é incabível a discussão acerca da validade de cláusulas
contratuais no âmbito da ação de prestação de contas, em razão da diversidade de
ritos, bem como argumentou que deveria ter sido reconhecida a decadência do direito
de impugnar as contas, nos termos do art. 26, II, do código de Defesa do Consumidor.
Sustentou, ademais, a legalidade dos juros remuneratórios pactuados no
contrato e a possibilidade de cobrança da capitalização dos juros em qualquer
periodicidade.
Acompanho o Relator no ponto em que não conhece do recurso especial
quanto à alegada ofensa ao 26, II, do CDC (decadência), porque não impugnado o
fundamento do acórdão recorrido, que entendeu preclusa a questão. Incidência,
portanto, da Súmula 283/STF.
Em divergência, todavia, acolho a alegação de que o acórdão recorrido,
ao decidir substituir a taxa de juros aplicada ao longo da relação contratual e excluir a
capitalização dos juros, na realidade, efetuou revisão do contrato de abertura de crédito
em conta corrente, o que não é compatível com o rito da prestação de contas.
Com efeito, é oportuno transcrever o argumento utilizado pelo Tribunal de
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origem para limitar os juros remuneratórios à taxa média de mercado na ação de
prestação de contas, confira-se (fls. 971 e 975):

(...) A r. sentença determinou a limitação dos juros a 0,5% ao mês,


de acordo com o art. 1.062 do CC/1916, tendo em vista que "(...)
não houve prova de estipulação expressa em contrato quanto a
taxa de juros a ser aplicada (...)".
Porém, não obstante seja devida a limitação dos juros
remuneratórios, verifica-se que estes não devem observar o
percentual de 0,5 ao mês, mas sim à taxa média de mercado,
aplicadas à operações de mesma espécie.
Examinando o caderno processual, observa-se a cláusula L (fl.
484), que, segundo o réu, contém a previsão dos juros,
encontra-se ilegível, de forma que não pode ser considerada para
demonstrar a pactuação dos juros.
(...)
Pontue-se, enfim, que, na prestação de contas, inexistindo prova
da prévia pactuação da taxa de juros, admite-se que esta seja
limitada à taxa média de mercado, de acordo com o Bacen, sem
que tal determinação implique em revisão contratual, uma vez que
trata-se de mera adequação do que fora cobrado pela instituição
financeira com o que encontra previsão contratual (...).

No tocante ao tópico da capitalização dos juros, a Corte estadual, assim


decidiu (fl. 979):

(...) Assim, deve ser mantida a decisão singular que afastou a


capitalização de juros, com a ressalva de se permitir a aplicação do
art. 354 do Código Civil, para que não se penalize o devedor
consumidor final e parte hipossuficiente da relação jurídica (...)

O eminente Relator, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, por sua vez,


concluiu estar correto o entendimento do julgado estadual quando limitou os juros
remuneratórios à taxa média de mercado e excluiu a capitalização dos juros em
qualquer periodicidade, porque, não havendo a comprovação de pactuação dos
referidos encargos, não teria havido revisão contratual, mas julgamento restrito ao
exame do próprio conteúdo das cláusulas contratuais.
Conforme delineado acima, entendo, com a devida vênia, que o acórdão
recorrido efetuou revisão da relação contratual havida entre as partes, com a alteração
da taxa de juros praticada e a exclusão da capitalização, o que não se comporta no
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Superior Tribunal de Justiça
âmbito da ação de prestação de contas.
Em face do exposto, no caso concreto, dou parcial provimento ao recurso
especial para manter os juros remuneratórios e a capitalização nos termos em que
praticada no contrato bancário em exame, sem prejuízo da possibilidade de ajuizamento
de ação revisional.
É como voto.

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)

ESCLARECIMENTO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Reitero que não estou propondo


a revisão e nem o cancelamento da Súmula 259.
É certo que, de modo geral, deve contas quem quer que administre bens,
negócios ou interesses de outrem.
Como já exposto, os precedentes da referida súmula demonstram que a
ação de prestação de contas foi julgada instrumento processual idôneo ao correntista
que, recebendo extratos bancários, "discorde dos lançamentos deles constantes",
"questiona a natureza de transferência e débitos em conta corrente lançados pela
instituição depositária"; "não tem condições de conhecer a natureza e a origem dos
registros constantes dos extratos bancários."
Entendeu-se cabível a ação de prestação de contas, porque o cliente
bancário entrega seus recursos aos cuidados do banco, que os emprega em
sucessivas operações de crédito e débito, conforme o correntista faz ou recebe
depósitos, saques, emite cheques e transferências, autoriza débitos de contas etc.
Considerou-se que o cliente tem interesse processual para exigir do
banco que esclareça qual o destino do dinheiro que depositou, qual a natureza e o valor
dos débitos efetivamente ocorridos em sua conta, para que se apure o saldo credor ou
devedor.
O contrato de conta-corrente com abertura de limite de crédito automático
(cheque especial) é, todavia, negócio jurídico complexo.
Se o cliente não utiliza o limite de crédito, não há dúvida de que o banco
está empregando o dinheiro do correntista no pagamento dos cheques, ordens de
pagamento e transferências, contas etc que ele autoriza.
Havendo utilização do limite do cheque especial, a relação jurídica
torna-se complexa. Concretiza-se um contrato de empréstimo, cuja possibilidade era
apenas prevista no contrato de abertura da conta.
No caso de contrato de abertura de crédito em conta corrente, a taxa de
juros do empréstimo tomado ao banco é, por sua própria natureza, flutuante. Varia
diariamente, conforme as circunstâncias gerais do mercado, e as vicissitudes
particulares, em cada momento, da instituição financeira e do cliente. A taxa de juros
em tal tipo de empréstimo é informada por meio da internet, por extrato obtido em
terminais de auto-atendimento, ou por telefone.
Não se sendo a ação de prestação de contas instrumento processual

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adequado à revisão de contrato de mútuo, conforme reiteradamente proclamado pela
jurisprudência desta Seção, inclusive em recurso repetitivo (REsp. 1.293.558/PR,
relator Ministro Luís Felipe Salomão), penso que, da mesma forma, não se presta esse
rito especial para a revisão de taxas de juros e demais encargos de empréstimos
obtidos por meio de abertura de limite de crédito em conta-corrente.
Com efeito, a taxa de juros não diz respeito à administração de recursos
do autor da ação. Ao contrário, trata-se da remuneração do capital do banco
emprestado ao correntista.
O rito da prestação de contas traz limitações ao contraditório e à ampla
defesa, sendo este o motivo pelo qual a pacífica jurisprudência deste Tribunal entende
que nele não se comporta a pretensão revisional. Mais grave ainda é o prejuízo à defesa
em ações como a presente, em que a genérica petição inicial pede a prestação de
contas de todos os lançamentos ocorridos desde a abertura da conta em 1995 até os
dias de hoje.
Para satisfazer o dever de prestar contas, se nele compreendida a
discussão a respeito das taxas de juros aplicadas desde 1995, seria necessário ao
banco indicar e comprovar as taxas de juros praticadas em cada dia em que o saldo
devedor da conta tornou-se negativo.
Penso, data venia, que a revisão das taxas de juros aplicadas - seja em
contrato de abertura de limite em conta corrente, seja em qualquer outro tipo de mútuo -
não é cabível em ação de prestação de contas, independentemente de o banco haver
apresentado, ou não, documentos comprovando a evolução dessas taxas ao longo do
período de manutenção da conta-corrente.
Esse entendimento, ao meu sentir, não causa prejuízo ao consumidor,
pois, conforme acentuado pelo Ministro Sanseverino, a sentença proferida na ação de
prestação de contas não produz o efeito preclusivo da coisa julgada acerca da validade
das cláusulas contratuais e eventual abusividade dos encargos cobrados do correntista
ao longo da relação contratual.
Dessa forma, ressalto outra vez, independentemente do julgamento da
prestação de contas, fica ressalvada ao correntista a possibilidade de ajuizar ação
revisional de contrato cumulada com repetição de eventual indébito ou, ainda, se for o
caso, revisar as cláusulas contratuais em sede de embargos à execução, com a
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 08/06/2016 JULGADO: 08/06/2016

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti
divergindo parcialmente das teses repetitivas apresentadas e, no caso concreto, abrindo a
divergência e dando parcial provimento ao recurso especial, pediu VISTA o Sr. Ministro Antonio
Carlos Ferreira.
Aguardam os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio
Bellizze, Moura Ribeiro e João Otávio de Noronha.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)

RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) - DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) -
DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA: Na origem,


ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES propôs ação de prestação de contas contra
BANCO BRADESCO S.A., relativa a contrato de abertura de crédito em conta-corrente
celebrado em janeiro de 1995. Asseverou que, desde a referida data, "o banco requerido
vem apresentando extratos bancários, realizando todos os lançamentos de débitos e
créditos, porém limitando-se a registrá-los de forma genérica e lacunosa em extratos
padronizados" (e-STJ fl. 4). Afirmou que busca a "tutela jurisdicional do Estado não para
dizer que não deve, mas para exigir do demandado que, na forma mercantil prevista no
art. 917 do CPC, preste contas, a fim de acertar, de acordo com as normas legais, a
existência de um débito ou de um crédito" (e-STJ fl. 5). Ao final, pleiteou o seguinte:
"Assim, desde já é de se requerer ver deferido por MM. Juízo, nos moldes nos
termos do artigo 355, do Código de Processo Civil, que se digne determinar a
intimação do(ª) Requerido(ª) BANCO BRADESCO S/A, PARA QUE EXIBA EM
JUÍZO, CÓPIA DO CONTRATO ORIGINAL DA ABERTURA DE CRÉDITO DA
CONTA CORRENTE Nº 27.380-5 e suas posteriores alterações – AGÊNCIA Nº
0234-8 – bem como, extratos desde Janeiro de 1995 da referida conta até os dias
de hoje, apresentando ainda, aditivo, contrato de empréstimos e suas quitações,
financiamento, em suma, todos os documentos que foram pactuados e estiverem
relacionados com a conta corrente antedita até o presente momento – ou
responder porque não o faz, reservando-se o direito de apresentar provas que forem
necessárias, conforme lhe faculta o artigo 357 do mesmo Diploma Legal.
[...]
Na apresentação das contas deverá o reú informar:
1. Qual a taxa de juros foi aplicada, posto que no contrato não existia
expressamente a taxa;
2. Qual a forma de computar tais juros. Caso forem capitalizados mês a mês, qual
o ordenamento legal que autoriza tal forma de cobrança;
3. Qual a cláusula contratual, firmada, permitindo a cobrança de comissão de
permanência cumulada com correção monetária e/ou multa contratual, e também
qual a norma legal que a autoriza;
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4. Se houver débitos diversos dos da emissão de cheques, sejam justificados e/ou
apresentadas as autorizações;
5. Se houver em algum momento autorização para compra de seguro, seja
apresentada a respectiva apólice;
6. Além de informar o porque foi cobrados os seguintes códigos e qual a previsão
contratual, ENCARGOS EMPREST, ENCARGOS EMPREST C/C TAR CHQ
LIQ/DOC/OPG, TARIFA ADP/EXCESSO, TARIFA DEVOLUÇÃO CHQ, TAXA
DEVOLUÇÃO CHEQUE, TRF EXTR TELEX/FAX, TRF EXTR TELEX/FAX Ccg,
TRF PACOTE MÊS, TRF REEM/MANUT CARTÃO, JUR S/EXCESSO LIMITE,
JUROS PROV USO REC IND, JUROS USO REC INDISPON, TAR/MULT. DEV.
CH, ENC. DESCOB. C/C, AQUISIÇÃO DE SEGURO, BRADESCO VISA LOCAL,
BRADESCO VISA ANUIDADE, BRADESCO VISA SQUE BDN, DÉBITO P/ORDEM
DE FIRMAS, PENDÊNCIA EM MORA, PTO. MEDIANTE AUT. DBTP, RECIBO DE
RETIRADA, TAR.CH.SUSTADO SEMESTRAL, TAR,CAR.BRAD.INST.2VIA,
TAR.CH.SUSTADO SEMESTRAL, TARIFA CHEQUE ESPECIAL, TARIFA
CHEQUE SUSTADO, TARIFA SEM.EXTR.TERMINAL, TARIFA FORN.TAL.
CHEQUES, TARIFA/MULTA,TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO; dentre outras.
Caso apenas conteste o dever de prestar contas, seja julgada procedente a
presente ação em sua primeira fase, declarando o direito da autora às contas,
condenado a ré a prestá-las na forma do § 2º do art. 915 do CPC, impondo-lhe
custas e honorários.
Quanto à segunda fase, caso haja saldo favorável ao demandante, requer seja o
réu condenado ao pagamento desse, monetariamente corrigido, com juros e
demais cominações de estilo, com base no art. 42, Parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor, visto que a cobrança foi indevida.
Outrossim, caso haja saldo desfavorável ao demandante, mas de conteúdo diverso
exigido pelo réu, requer seja o mesmo condenado a pagar os encargos
sucumbenciais, por ser quem deu causa a instauração do processo.
Requer provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, especialmente
pelos documentos acostados à presente e supervenientes, e, em especial,
PROVA PERICIAL, a serem produzidas no momento processual oportuno (2ª
fase).
Requer mais, seja instado o requerido a trazer aos autos, com a resposta, cópias
dos contratos de abertura de crédito em conta corrente firmado entre as partes no
período da existência da conta corrente e suas respectivas renovações, do período
que medeia entre a data da abertura de conta corrente em Janeiro de 1995, até os
dias de hoje" (e-STJ fls. 8/9).

Na primeira fase, o pedido foi julgado procedente "a fim de determinar que o
Requerido preste contas à Requerente, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, referente
à conta corrente nº 27.380-5, agência 0234-8 do Banco Bradesco S/A, no período de
Janeiro de 1995 até os dias de hoje, devendo juntar o contrato firmado, bem como os
extratos pertinentes; esclarecer quais os percentuais de juros cobrados; a origem deles;
os índices de correção monetária utilizados e seus percentuais; existência ou não de
capitalização; cumulação de comissão com correção monetária e multa contratual; origem
de cada lançamento e legitimidade, indicando a cláusula e norma em vigor entre as
partes; o significado dos códigos indicados à fl. 03, e se foram cobrados valores
referentes aos mesmos; indicar cláusula do contrato em que se embasou e legitimidade da
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cobrança; existência de autorização para compra de seguro, apresentando a respectiva
apólice; saldo devedor ou credor" (e-STJ fls. 74/75).
O TJPR deu parcial provimento à apelação do banco apenas para
reconhecer que, "no caso de eventual irregularidade na cobrança de serviços bancários,
tem o correntista o prazo de 90 (noventa) dias para interpor sua reclamação, diante de
vício aparente e de fácil constatação, no produto ou serviço prestado pela instituição
financeira" (e-STJ fl. 143). Ressaltou, entretanto, "que isso não isenta o banco de prestar
as devidas contas, apenas exclui os valores a eles pertinentes, do período decaído, de
compor eventual débito e crédito da parte" (e-STJ fl. 143).
Interposto recurso especial pela autora, admitido na origem (e-STJ fls.
269/270), o em. Ministro MASSAMI UYEDA deu parcial provimento ao agravo regimental
"para conferir parcial provimento ao recursal especial e afastar a decadência reconhecida
pelo Tribunal de origem, mantida incólume a distribuição dos ônus de sucumbência"
(e-STJ fls. 309/310) – REsp n. 1.021.245/PR.
O recurso especial da instituição financeira não foi admitido (e-STJ fls.
271/272), restando desprovido o agravo de instrumento nesta Corte – Ag n. 999.347/PR
(e-STJ fls. 540/542).
Na segunda fase da ação, o magistrado acolheu "parcialmente as contas
apresentadas pelo Requerido, reconhecendo em favor da Requerente saldo credor no
valor de R$ 380,83 (trezentos e oitenta reais, e oitenta e três centavos), atualizada até a
data da perícia, decorrente da cobrança de juros acima de 0,5% e de forma capitalizada,
bem como saldo credor no valor de R$ 437,16 (quatrocentos e trinta e sete reais, e
dezesseis centavos), atualizado até a data da perícia" (e-STJ fls. 868/869). Extraio da
sentença as seguintes passagens mais relevantes:
"Inicialmente é de se esclarecer que o presente feito se refere à prestação de
contas e não revisão de contrato.
Assim, para que sejam as contas apreciadas e julgadas boas ou não, deve ser
considerado o que restou pactuado entre as partes.
Não cabe neste feito a discussão sobre a validade e legalidade das cláusulas,
discussão esta que deve se dar em ação própria, com rito próprio.
[...]
Também é de se ressaltar que a exclusão de encargos não pactuados ou débitos
não autorizados, existentes nas contas prestadas, não implica em revisão
contratual.
É de se ver que dentre os documentos carreados aos autos, estão presentes
cópias de contratos firmados entre as partes e dos extratos de movimentação da
conta corrente.
Na prestação de contas necessário se faz possibilitar à parte adversa visualizar os
lançamentos que foram efetuados em sua conta corrente, e se eles de fato
correspondem ao que foi pactuado, sem qualquer distorção.
[...]
Quanto aos juros remuneratórios, o Sr. Perito Judicial informou no item 02 de fl.
600 que: 'Não há contrato nos autos pactuando taxa de juros da conta corrente e
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dos contratos de financiamento e ou empréstimo n.º 4896869 (fl. 363) e 895699 (fl.
365).'
Compulsando os autos, verifica-se que o Sr. Perito Judicial se equivocou ao se
referir a contratos de empréstimos supostamente juntados às fls. 363 e 365.
Na realidade o único contrato juntado aos autos foi a ficha proposta de abertura de
conta corrente de fl. 484, no qual não consta a pactuação de taxa de juros
remuneratórios.
Portanto, considerando que não houve prova de estipulação expressa em contrato
quanto à taxa de juros a ser aplicada, motivo pelo qual devem ser considerados os
juros legais, à taxa de 0,5% ao mês, prevista no art. 1062 do CC/16, que vigorava
na época da abertura da conta corrente.
[...]
No que se refere à capitalização de juros, consta na resposta do quesito de nº 03
de fls. 600/601, o Sr. Perito Judicial constatou que a capitalização mensal de juros
efetivamente ocorreu, não tendo o Requerido demonstrado a contratação.
E não tendo sido contratada, há que se reconhecer a abusividade na cobrança,
sendo que o valor correspondente deverá integrar a coluna correspondente aos
créditos, na medida em que o Sr. Perito Judicial deixou claro a sua ocorrência.
Registre-se que, nem mesmo a capitalização anual é devida, uma vez que em
sede de ação de prestação de contas, conforme já salientado, a análise deve
cingir-se apenas ao fato de determinada cobrança ter sido contratada ou não.
E como a capitalização de juros não foi contratada, nem mesmo na periodicidade
anual, sua cobrança não é devida.
[...]
Com relação às tarifas bancárias, somente se mostra legítima a cobrança
daquelas autorizadas expressamente e contidas em tabelas oficialmente
aprovadas, passíveis de exibição, conforme o art. 18 da Resolução 2878/2001 do
Bacen.
Na proposta de abertura de conta corrente, fls. 484, foi pactuado na cláusula G o
seguinte: 'É facultado ao Banco a cobrança de tarifas regulamentadas pelo Banco
Central, inerentes a abertura e manutenção desta Conta, bem como aquelas
relativas a prestação de serviços e produtos convencionados com o Banco, cujos
valores constam no 'Quadro de Tarifas Máximas de Serviços', afixado em local
visível na agência'
Desse modo, tendo havido autorização para o lançamento de tarifas, os
lançamentos a esse título, autorizados em resolução do Banco Central devem ser
considerados devidos.
Todavia, o Sr. Perito no quesito 1 de fl. 599, afirmou que: 'Nem todos os
lançamentos a débito do Autor constam autorização nos Autos.'
Assim, os demais listados pelo Sr. Perito Judicial como não autorizados no Anexo
1 de fls. 620/624, devem ser considerados indevidos.
Importante esclarecer que em referido Anexo o Sr. Perito Judicial considerou como
débitos autorizados os lançamentos de tarifas feitos com base na alínea G do
contrato de fls. 484, acima citada" (e-STJ fls. 862/868).

O Tribunal estadual, por sua vez, no acórdão recorrido, deu provimento


parcial à apelação interposta por BANCO BRADESCO S.A., estando o respectivo acórdão
assim ementado:
"APELAÇÃO CÍVEL (RÉU). AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA
FASE. I – DECADÊNCIA. RECONHECIMENTO AFASTADO EM PRIMEIRA FASE.
FORMAÇÃO DE COISA JULGADA. II – TAREFAS E TAXAS. AUTORIZAÇÃO
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CONTRATUAL COMPROVADA. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE ACORDO
COM AS NORMAS DO BACEN. DEMAIS LANÇAMENTOS NÃO AUTORIZADOS.
EXCLUSÃO QUE DEVE SE RESTRINGIR À IMPUGNAÇÃO DA AUTORA. III –
TAXA DE JUROS. CLÁUSULA ILEGÍVEL. PACTUAÇÃO NÃO DEMONSTRADA.
LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO APLICÁVEL ÀS OPERAÇÕES DE
MESMA ESPÉCIE. IV – CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PRÁTICA
COMPROVADA POR PROVA PERICIAL. EXCLUSÃO DEVIDA, COM
OBSERVÂNCIA DO ART. 354 DO CÓDIGO CIVIL EM SUA APURAÇÃO. V –
CAPITALIZAÇÃO ANUAL OU SEMESTRAL. MATÉRIA NÃO CONHECIDA.
INOVAÇÃO RECURSAL.
I – Impossível discutir novamente a questão acerca da aplicação do art. 26 do
CDC, quando a prejudicial de mérito já foi rechaçada em primeira fase, formando,
portanto, coisa julgada.
II – Comprovada a previsão contratual, admite-se a cobrança das tarifas e taxas,
que estejam autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Todavia, não havendo
impugnação específica da autora, é indevida a exclusão de lançamentos tidos
como não autorizados.
III – Não apresentado o contrato no caderno processual, a taxa de juros deve ser
limitada à taxa média de mercado aplicada às operações de mesma espécie.
IV – Comprovada a prática da capitalização mensal de juros por prova pericial, é
necessária a exclusão de tal prática, com o cálculo dos juros de forma simples e
em atenção à regra da imputação ao pagamento, prevista no art. 354 do Código
Civil, que determina que os depósitos efetuados na conta corrente destinam-se
primeiro ao pagamento dos juros.
V – 'Não pode o apelante impugnar senão aquilo que foi decidido na sentença;
nem cabe à instância 'ad quem' inovar a causa, com invocação de outra causa
petendi'. (RTJ 126/813).
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA EM PARTE E, NESTA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE PROVIDA" (e-STJ fls. 957/958).

O BANCO BRADESCO S.A., então, interpôs o presente recurso especial


com fundamento no art. 105, III, a" e "c", da CF.
Argumenta que o acórdão recorrido "decidiu ser plenamente possível a
revisão em sede de prestação de contas, ao determinar que a taxa de juros
remuneratórios cobrada do autor/recorrido por força do contrato de conta corrente
mantido junto ao Banco recorrente deve ser limitada à taxa média de mercado e afastar a
possibilidade de cobrança de juros capitalizados" (e-STJ fl. 998).
Acerca do dissídio jurisprudencial, indica o AgRg no Ag n. 276.180/MG, Rel.
Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, DJ de 5.11.2001, para sustentar
a impossibilidade de cumular ação de prestação de contas com revisional de juros.
Aponta violação do art. 26, II, do CDC, tendo em vista que a decadência
disciplinada em tal dispositivo deve ser considerada "na ação de prestação de contas, na
segunda fase, ainda que na primeira fase tenha sido rejeitada" (e-STJ fl. 1.001). Para
efeito de aplicar o prazo decadencial de 90 (noventa) dias para reclamar dos vícios,
assevera que "a jurisprudência pátria vem entendendo que cada tarifa ou encargo
debitado na conta corrente corresponde a um serviço específico prestado pela instituição
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financeira. Desta forma, na eventual hipótese de haver lançamentos indevidos em conta
corrente, estes são de fácil constatação pelo correntista, na medida em que recebe e
confere mensalmente os extratos bancários com a especificação de todos os registros a
débito e a crédito, podendo tranquilamente identificar aqueles não reconhecidos" (e-STJ
fl. 1.001).
Alega afronta ao art. 1º, V, da Lei n. 4.595/1964, destacando "que as taxas
de juros aplicadas ao contrato firmado entre as partes estão em consonância com as
determinações do Banco Central do Brasil (doravante denominado 'BACEN') e do
Conselho Monetário Nacional (doravante denominado 'CMN')" e "estão de acordo com a
taxa média praticada pelo mercado em contratos de mesma espécie" (e-STJ fl. 1.002).
Acrescenta ser pacífico "que as taxas de juros praticadas pelas instituições integrantes do
Sistema Financeira Nacional não se submetem ao limite de 1%, estabelecido no Decreto
nº 22.626/33, uma vez que sua atividade é regulamentada por lei específica (Lei nº
4.595/64), na qual inexiste a referida limitação" (e-STJ fl. 1.003).
Afirma contrariedade aos arts. 4º, IX, da Lei n. 4.595/1964, 591 do CC/2002
e 5º da MP n. 2.170-36/2001, sendo legal a capitalização mensal dos juros
remuneratórios.
Ao final, o recorrente pede:
"b) no mérito, o provimento do recurso especial, para que seja reconhecida a
divergência entre os acórdãos, conforme demonstrado no capítulo 3.1., supra,
recebendo o presente recurso especial pela alínea 'c' do permissivo constitucional,
para o fim de julgar totalmente improcedente a segunda fase da ação de prestação
de contas, uma vez que a parte recorrida persegue em sede de ação de prestação
de contas, pleitos relativos à revisão de contrato bancário;
c) sucessivamente, prover o presente recurso especial, para que seja declarada a
violação ao artigo 26, II, do CDC; aos artigos 1º, inciso V; e 4º, inciso IX, da Lei nº
4.595/64; e ao artigo 591, do Código Civil, com a conseguinte e respectiva reforma
do acórdão recorrido para:
(c.1) reconhecer a decadência do direito do recorrido, na segunda fase do
procedimento de prestação de contas, aplicando-se à espécie o art. 26, II, do
CDC;
(c.2) manter os juros remuneratórios cobrados;
(c.3) autorizar a cobrança de capitalização mensal de juros no contrato bancário
sub judice. Sucessivamente, autorizar a capitalização de juros em periodicidade
anual ao menos, nos termos do art. 591, do Código Civil" (e-STJ fls. 1.009/1.010).

Apresentadas contrarrazões (e-STJ fls. 1.036/1.037), o recurso especial


não foi admitido na origem (e-STJ fls. 1.049/1.051), tendo seguimento por força do
provimento do AREsp n. 506.774/PR (e-STJ fl. 1.089).
O julgamento do presente recurso foi afetado à SEGUNDA SEÇÃO "para,
nos termos do art. 543-C do Código de Processo Civil, consolidar do entendimento desta
Corte sobre 'possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na segunda fase da

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ação de prestação de contas'" (e-STJ fl. 1.096).
O Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO, ilustrado
Subprocurador-Geral da República, manifestou-se pelo desprovimento do recurso
especial (e-STJ fls. 1.129/1.141).
O em. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, com fundamento na
jurisprudência da SEGUNDA SEÇÃO, propôs as seguintes teses acerca dos contratos
bancários sujeitos à ação de prestação de contas, entre eles o contrato objeto deste
processo (contrato de abertura de crédito em conta-corrente): (i) "Impossibilidade de
revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas" e (ii) "Limitação da
cognição judicial na ação de prestação de contas ao conteúdo das cláusulas pactuadas
no respectivo contrato". Asseverou que, "como consequência dessa limitação à atividade
cognitiva, a sentença proferida na ação de prestação de contas não produz o efeito
preclusivo da coisa julgada no que tange à questão da validade das cláusulas contratuais,
que poderá ser veiculada em ação revisional ou em sede de embargos à execução".
Quanto ao caso concreto, votou no sentido de desprover o recurso especial mediante os
seguintes fundamentos:
(i) o recorrente deixou de impugnar o fundamento adotado pelo Tribunal de
origem de que haveria preclusão quanto ao tema da decadência, atraindo o óbice da
Súmula n. 283 do STF;
(ii) a Corte local teria limitado os juros à taxa média de mercado e afastado
a capitalização mensal por ausência de pactuação, ficando tal provimento restrito ao
exame do próprio conteúdo das cláusulas contratuais, o que não representaria revisão do
contrato;
(iii) inexistindo cláusula expressa acerca do percentual dos juros, aplica-se a
taxa média de mercado;
(iv) a possibilidade de capitalização depende de pacto expresso, mesmo
para a periodicidade anual, conforme decidido por esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento
do AgRg no AREsp n. 429.029/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, DJe de 18.4.2016.

A em. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI proferiu voto-vista aderindo à


primeira tese proposta pelo Relator – "impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais
em ação de prestação de contas" – e, no caso concreto, deu parcial provimento ao
recurso especial para manter os juros remuneratórios e a capitalização nos termos em que
praticada no contrato bancário em exame, sem prejuízo da possibilidade de ajuizamento
de ação revisional.
Quanto à primeira tese, argumentou que, tendo em vista a especialidade do
rito, a ação de prestação de contas não comporta a pretensão de alterar ou revisar

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cláusula contratual. As contas devem ser prestadas, com a exposição, de forma mercantil,
das receitas e das despesas, com o respectivo saldo (CPC/1973, art. 917). A
apresentação das contas e seu julgamento devem ter por base os pressupostos
assentados ao longo da relação contratual existente entre as partes. Acerca da segunda
tese proposta – "Limitação da cognição judicial na ação de prestação de contas ao
conteúdo das cláusulas pactuadas no respectivo contrato" –, Sua Excelência asseverou
que, na abertura de crédito em conta-corrente, as taxas de juros em regra não constam
do contrato, pois flutuam conforme as contingências do mercado, e são informadas
periodicamente ao correntista por meios diversos, como extratos, internet e atendimento
telefônico. Acrescenta que, a rigor, a taxa de juros cobrada do consumidor não é sequer
elemento do contrato de depósito de numerário em conta-corrente, cuja administração
pelo banco justifica o cabimento da ação de prestação de contas. A taxa de juros,
acrescenta, é a remuneração de empréstimos, ou a contraprestação pela efetiva utilização
do limite de crédito aberto pelo banco ao seu cliente. Com isso, entende que o contrato
bancário deve nortear a prestação de contas e que o respectivo julgamento não se atém
ao simples formulário assinado no início do relacionamento, mas a todo o conjunto de
documentos e práticas que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos. Esse
feixe de obrigações e direitos não seriam alteráveis no exame da ação de prestação de
contas. Diz, então, divergir do Relator para concluir não ser possível ao magistrado
substituir, na ação de prestação de contas, a taxa de juros remuneratórios, a
periodicidade da capitalização ou demais encargos aplicados ao longo da relação
contratual. Concorda, entretanto, com a relatoria no sentido de que a sentença proferida
na ação de prestação de contas não produz o efeito preclusivo da coisa julgada acerca da
validade das cláusulas contratuais e de eventual abusividade dos encargos cobrados do
correntista ao longo da relação contratual.
No caso concreto, divergindo do Relator, acolheu a alegação de que o
acórdão recorrido, ao substituir a taxa de juros aplicada ao longo da relação contratual e
excluir a capitalização dos juros, na realidade, efetuou revisão do contrato de abertura de
crédito em conta-corrente, o que não é compatível com o rito da prestação de contas.
Sua Excelência apresentou esclarecimentos ao seu voto-vista, reiterando
que, independentemente do julgamento da prestação de contas, fica ressalvada a
possibilidade de ajuizar ação revisional de contrato cumulada com repetição de eventual
indébito ou, ainda, se for o caso, revisar as cláusulas contratuais em sede de embargos à
execução, com a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Com a devida vênia da divergência, acompanho o Relator no desprovimento


do recurso, permitindo-me sugerir ajuste na redação dos enunciados propostos. Ponto a

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ponto, então, passo a examinar o presente recurso.

I. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAMINAR A LEGALIDADE DE CLÁUSULAS E


DE ENCARGOS CONTRATUAIS NA AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.
Essa questão jurídica, abstratamente considerada para efeito de aprovação
de tese, não mais demanda grandes discussões nesta assentada. Efetivamente, nos
termos da firme jurisprudência desta Corte, invocada no voto do Relator e no voto-vista da
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI – razão pela qual é desnecessário reiterar os mesmos
precedentes neste julgamento –, a ação de prestação de contas se desenvolve em duas
fases. Na primeira, o magistrado decide se o autor tem direito de postular contas e se o
réu tem a obrigação de prestá-las. Na segunda fase, sendo positiva a primeira, caberá ao
réu apresentar suas contas acompanhadas das necessárias provas, definindo o
magistrado a existência de saldo credor/devedor.
Cuidando-se, especificamente, de contrato de abertura de crédito em
conta-corrente, a jurisprudência do STJ igualmente admite o ajuizamento da ação de
prestação de contas, vedando, entretanto, decisões acerca da abusividade e da
ilegalidade de determinadas cláusulas e encargos contratados. Em outras palavras,
descabe ao autor deduzir pretensão de revisão do contrato nesse tipo de demanda diante
da flagrante incompatibilidade entre tal pedido e o procedimento disciplinado no
CPC/1973, nos arts. 914 a 919.
Com isso, o saldo credor/devedor deverá ser declarado na sentença
proferida na segunda fase da ação de prestação de contas (art. 918 do CPC/1973),
levando em consideração a frieza do que foi pactuado, expressa ou tacitamente, e o que
foi de fato cobrado pela instituição financeira e pago pelo devedor. A propósito, o eventual
saldo credor reconhecido em decisão poderá, inclusive, ser cobrado em execução
forçada, conforme dispõe o mencionado art. 918, sendo permitido nos respectivos
embargos e em ação ordinária discutir a eventual ilegalidade ou abusividade de
determinada obrigação contratada e a possibilidade de cobrança de algum encargo não
pactuado, tal como a capitalização dos juros, não prevista no contrato objeto destes autos.
Sobre o tema, o em. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, de forma
sucinta e precisa, em voto proferido como Relator do AgRg no AREsp n. 473.323/PR,
TERCEIRA TURMA, DJe de 14.11.2014, assim afirmou:
"(...) no âmbito da ação de prestação de contas, é inviável a cobrança de valores
que não estejam previstos no contrato, como bem esclarece Humberto Theodoro
Júnior, em sua obra Curso de Direito Processual Civil, Volume III, 39ª edição, pág.
92:
'Consiste a prestação de contas no relacionamento e na documentação
comprobatória de todas as receitas e de todas as despesas referentes a
uma administração de bens, valores ou interesses de outrem, realizada
por força de relação jurídica emergente da lei ou do contrato.'"
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 45 de 15
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II. PACTO DA TAXA DE JUROS NO CONTRATO DE ABERTURA DE


CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE E SUA COMPROVAÇÃO
O contrato de abertura de crédito em conta-corrente decorre da aglutinação
de dois contratos bancários, a saber: (i) a conta-corrente bancária, na qual o cliente
efetua depósitos e saques controlados pela instituição, podendo o saldo credor/devedor
ser apurado ao final de cada período determinado no contrato ou no encerramento da
relação negocial, conforme pactuado, (ii) o contrato de abertura de crédito simples, em
que o banco põe a disposição do cliente uma determinada importância, que poderá ser
utilizada, quando assim desejar o tomador do empréstimo, em sua totalidade ou não.
Mediante a adoção desses dois tipos contratuais, cria-se uma modalidade
específica de abertura de crédito em conta-corrente. Abre-se uma conta bancária com o
propósito de permitir que o cliente lance mão de empréstimos, quando precisar, dentro de
um determinado limite de crédito, pagando juros remuneratórios e outros encargos
durante o período de utilização das referidas importâncias e efetuando depósitos para
cobrir o saldo devedor, com a quitação total ou parcial da dívida. A propósito, Arnaldo
Rizzardo define e classifica a forma de utilização do crédito, inclusive citando lições do
Professor Orlando Gomes, assim:
"(...) conceitua-se esta espécie como o contrato pelo qual o banco ou creditante
se obriga a colocar uma importância em dinheiro à disposição do creditado, ou a
contrair por conta deste uma obrigação, para que ele mesmo faça uso do crédito
concedido na forma, nos termos e condições em que foi convencionado, ficando
obrigado o creditado a restituir ao creditante as somas das quais dispôs, ou a
cobri-las oportunamente, de acordo com o montante das obrigações contraídas,
incluindo os rendimentos e outas decorrências.
[...]
O creditado adquire o direito de efetuar retiradas do crédito concedido. Autoriza-se
a utilização parcelada, reduzindo-se a disponibilidade à proporção em que se dá a
utilização.
É possível a compensação das retiradas com as entradas de sorte a não se anular
a disponibilidade, ou que fique ela em níveis inconvenientes.
Explica Orlando Gomes: 'A utilização verifica-se mediante saques na conta, que
criam, para o creditado, novas obrigações, como a de pagamento de juros sobre o
saldo devedor, e a de restituição das quantias utilizadas'. Acrescenta que há duas
modalidades de abertura de crédito: a simples ou a em conta-corrente. 'Na
abertura 'simples', tem o creditado direito a utilizar o crédito sem possibilidade de
reduzir parcialmente, com entradas, o montante da dívida. A disponibilidade vai se
reduzindo à medida da utilização, se não saca de uma só vez a soma posta à sua
disposição. Não é, portanto, a utilização, pelo todo que caracteriza a abertura de
crédito simples. Na abertura de crédito conjugada à 'conta-corrente', o creditado
tem o direito de efetuar reembolsos, utilizando novamente o crédito reintegrado.'
Assim, na explanação do jurista, se um banco abre um crédito de um milhão de
reais, conjugando-o à conta-corrente, e o creditado utiliza metade dessa soma,
mas, dias depois, efetua depósito no montante da importância sacada, a
disponibilidade volta a ser a que fora originalmente assegurada.
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[...]
A forma mais simples e original consiste na entrega dos fundos ou do dinheiro
diretamente ao creditado, por meio de um simples recibo.
A segunda maneira correspondente à utilização do fundo por meio do pagamento
de cheques ou cartão de débito automático. Nesta hipótese, o contrato de abertura
de crédito se vincula ao contrato de conta-corrente bancária. O beneficiado, ao
invés de receber diretamente a quantia que necessita, utiliza o crédito que lhe foi
aberto mediante ordens de pagamento contra o banco.
[...]
Uma terceira modalidade de utilização do crédito é a que permite o desconto de
títulos pelos bancos. O creditado usará do crédito mediante o desconto dos títulos
emitidos por terceiros. O cliente tem não apenas a faculdade de descontar os
títulos, mas arma-se da obrigação de permitir o desconto. O desconto, no caso,
representa um simples meio de abertura de crédito.
Pode, ainda, pactuar-se a utilização do crédito por meio da prestação da garantia
de fiança, ou do aval, com o que se asseguram subsidiariamente determinadas
obrigações assumidas pelo beneficiário" (Contratos de Crédito Bancário. 11ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, pp. 50/54).

Tem-se, portanto, um pacto que permite o depósito em conta-corrente e a


efetivação, ao longo da vigência contratual, de empréstimos mediante a utilização de limite
de crédito posto à disposição do cliente, que poderá realizar depósitos para cobrir as
dívidas, total ou parcialmente, e prosseguir com novos saques, realizando outros
empréstimos, utilizando-se de tais importâncias pelo tempo que desejar, recolhendo, em
contraprestação, os respectivos encargos em favor da instituição financeira.
Especificamente acerca dos juros remuneratórios, destaco que, apesar de
ser possível a fixação da respectiva taxa no contrato celebrado originariamente de forma
escrita, tal circunstância não se revela usual, tendo em vista que, conforme
adequadamente lembrado pela em. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, os juros em
contrato de abertura em conta-corrente são flutuantes. Ademais, não se sabe se e
quando o cliente utilizará, de fato, o limite de crédito nem por quanto tempo o fará. Logo,
não há como exigir a prefixação das taxas de juros no ato de assinatura do contrato de
abertura de crédito em conta-corrente, havendo possibilidade de o cliente vir a lançar mão
do empréstimo em cenário econômico diferente daquele existente no momento da
abertura da conta, considerando tratar-se de mercado sujeito a variações.
Em tais circunstâncias, as taxas de juros, normalmente, são definidas pelas
partes em cada momento em que o cliente utilizar o limite de crédito. Explico. A instituição
financeira põe a disposição do cliente, conforme observado pela em. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, informações acerca das taxas de juros diárias através de internet,
caixa eletrônico, telefone, pessoalmente na agência bancária, etc. Diante de tais
informações, o cliente pode ou não utilizar o limite de crédito. Optando por obter o
empréstimo, estará, evidentemente, aceitando a taxa de juros nas condições oferecidas

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pela instituição financeira e em conformidade com essa espécie de operação. Por outro
lado, durante o período de manutenção da dívida, também poderá o devedor conferir a
taxa de juros dia a dia. Continuando a utilizar o dinheiro emprestado, igualmente se infere
que anuiu com a taxa estabelecida pelo banco, cujo limite é, apenas, a eventual
abusividade, vedada no art. 422 do CC/2002 (princípios de probidade e de boa-fé) e no
art. 51, IV, do CDC (obrigações iníquas, abusivas, desvantagem exagerada do
consumidor, incompatibilidade com a boa-fé ou com a equidade).
Conclui-se que essa definição da taxa de juros ao longo da relação
contratual, sem dúvida, é bilateral, em que o banco oferece o crédito a determinada taxa e
o cliente a aceita ao sacar o dinheiro mediante cheque ou cartão de débito automático e
ao permanecer na posse da respectiva importância pelo período que desejar, sempre
tendo prévia ciência da taxa praticada a cada dia. Nessa situação, há, necessariamente,
um pacto acerca dos juros cobráveis, não podendo o devedor simplesmente alegar que
não consultou as possíveis fontes de informação do banco. A suposta desídia do
contratante não é capaz de afastar o pacto da taxa de juros diante da dinâmica específica
do contrato de abertura de crédito em conta-corrente.
Poderão ocorrer hipóteses, entretanto, bastante raras na atualidade, em
que, por fatos isolados, momentâneos, tais como greves e problemas técnicos em
transmissão de dados e de telefonia, as informações acerca da taxa de juros diária se
tornem indisponíveis. Nessa situação, extremamente excepcional, volto a dizer, a eventual
utilização do limite de crédito pelo cliente se dará sem que, previamente, sejam
esclarecidos os juros a que o empréstimo estará sujeito. Aqui, sim, não haverá um claro
pacto da taxa de juros.
Em demandas judiciais, portanto, inclusive em ação de prestação de contas,
na qual o saldo credor/devedor apurado na segunda fase levará em consideração a letra
dos pactos celebrados, deve o banco comprovar que as fontes de informação – sobre as
quais possui total controle – estavam ativas e que o cliente acessou ou que poderia tê-las
acessado se quisesse, demonstrando, com isso, a aceitação e a contratação da taxa
divulgada para o empréstimo efetuado, relativo ao limite de crédito utilizado pelo
contratante.
Com efeito, nas hipóteses de inexistir contratação expressa da taxa de juros
diária, em nenhum momento durante a relação contratual, e de não comprovar a
instituição financeira, por qualquer forma, que a parte devedora, de acordo com as
práticas e dinâmica do mercado financeiro, aceitou a taxa oferecida no período de
utilização do crédito, deve-se entender como contratada tacitamente pelas partes a taxa
média de mercado para o respectivo negócio, na linha da fundamentação adotada por
esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento dos REsps n. 1.112.879/PR e 1.112.880/PR

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(repetitivos), ambos proferidos em 12.5.2010, da relatoria da Ministra NANCY ANDRIGHI,
DJe de 19.5.2010. Confiram-se, a propósito, os seguintes trechos dos votos condutores
dos respectivos arestos, da Relatora:
"Assim, o caminho é o da segunda hipótese, ou seja, deve-se preencher a
omissão do contrato, em relação aos juros que deixaram de ser previstos na
disposição reputada lacunosa. A partir daí, surgem dois desdobramentos
possíveis: a) perquirir se há previsão legal para o limite de juros, na espécie, ou b)
caso não haja esse limite legal, deve-se proceder à integração do contrato, de
acordo com a vontade presumida das partes.
[...]
Assim, ante a ausência de dispositivo legal indicativo dos juros aplicáveis, torna-se
necessário interpretar os negócios jurídicos, tendo em vista a intenção das partes
ao firmá-los, de acordo com o art. 112 do CC/02. Essa intenção, nos termos do
art. 113, deve ter em conta a boa-fé, os usos e os costumes do local da
celebração do contrato.
A jurisprudência do STJ tem utilizado para esse fim a taxa média de mercado.
Essa taxa é adequada, porque é medida segundo as informações prestadas por
diversas instituições financeiras e, por isso, representa o ponto de equilíbrio nas
forças do mercado. Além disso, traz embutida em si o custo médio das
instituições financeiras e seu lucro médio, ou seja, um spread médio.
[...]
Dessarte, nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é imediata,
deve ser consignado no respectivo instrumento o montante dos juros
remuneratórios praticados. Ausente a fixação da taxa no contrato, deve o juiz
limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo
Bacen. Esses são os usos e costumes, e é essa a solução que recomenda a
boa-fé.
Ressalta-se que a taxa média somente não deverá prevalecer nas hipóteses em
que o efetivo índice praticado pelo banco se mostrar inferior a ela e, portanto, mais
vantajoso para o cliente." (Grifei.)

Como se pode verificar, esta Seção adotou a taxa média de mercado com
base na "vontade presumida das partes" e na razoabilidade da referida taxa, invocando os
arts. 112 e 113 do CC/2002, que dispõem:
"Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem."

"Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os


usos do lugar de sua celebração."

Sem dúvida, quando se fala em "vontade presumida das partes", está se


falando em acordo de vontades, pacto alcançado de forma tácita, decorrente da prática
de determinados atos ou mesmo da própria inércia, corroborado, ainda, pelo art. 111 do
CC/2002, segundo o qual "o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os
usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa". Assim,
acaso não contratada expressamente a taxa dos juros ou não comprovada tal

Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 49 de 15
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contratação, considera-se acertada a taxa média de mercado, coincidente com a intenção
do banco e do cliente. Em outras palavras, o silêncio das partes implica incidência da
referida taxa média. Tal conclusão encontra amparo, igualmente, na ratio legis de outras
normas do CC/2002, ainda que não específicas para a presente situação, entre as quais
cito tão somente para efeito de ilustração, in verbis:
"Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam
querido, se houvessem previsto a nulidade." (Grifei.)

O art. 170 do CC/2002, alinhado aos termos dos arts. 112 e 113 do
CC/2002, também se refere à presunção da vontade das partes nos contratos, ou seja, na
aceitação tácita de determinadas condições contratuais quando nulo o negócio jurídico.
A propósito, igualmente se admite a pactuação tácita na esfera do Código
de Defesa do Consumidor. Segundo Rizzato Nunes, "a Lei n. 8.078 admite todas as
formas de contratação, tais como contratos escritos, verbais, por correspondência etc.
Estão também abrangidas as 'relações contratuais fáticas', conhecidas como
'comportamentos socialmente típicos'" (Curso de Direito do Consumidor. 8ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 678). Mais adiante, na mesma obra, explica que:
"Existem certas relações – especialmente de consumo, que é o que nos interessa
– que geram direitos e obrigações independentemente da preexistência de contrato
escrito ou verbal.
São aquelas em que um comportamento de fato, socialmente generalizado, faz
com que se aceite a existência de um contrato, ainda que ele jamais tenha sido
firmado. O contrato é presumido diretamente do fato da ação ou comportamento.
São, tecnicamente falando, 'relações de fato contratuais'.
Como exemplo, aponte-se a utilização das ruas com estacionamento a ser pago,
na chamada 'zona azul', especialmente sem o uso do talão" (p. 679).

Por esse entendimento, sempre haverá uma taxa de juros


remuneratórios pactuada, seja de forma expressa, seja de modo tácito, esse
inclusive quando ausente prévio acerto entre o banco e o cliente. O silêncio
entre as partes ou a ausência de demonstração da aceitação do preço praticado
revela a intenção de contratar a taxa média de mercado.
No caso concreto, a sentença ressaltou a ausência de pacto sobre a taxa
dos juros, assim:
"Quanto aos juros remuneratórios, o Sr. Perito Judicial informou no item 02 de fl.
600 que: 'Não há contrato nos autos pactuando taxa de juros da conta corrente e
dos contratos de financiamento e ou empréstimo n.º 4896869 (fl. 363) e 895699 (fl.
365).'
Compulsando os autos, verifica-se que o Sr. Perito Judicial se equivocou ao se
referir a contratos de empréstimos supostamente juntados às fls. 363 e 365.
Na realidade o único contrato juntado aos autos foi a ficha proposta de abertura de
conta corrente de fl. 484, no qual não consta a pactuação de taxa de juros

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remuneratórios.
Portanto, considerando que não houve prova de estipulação expressa em contrato
quanto à taxa de juros a ser aplicada, motivo pelo qual devem ser considerados os
juros legais, à taxa de 0,5% ao mês, prevista no art. 1062 do CC/16, que vigorava
na época da abertura da conta corrente" (e-STJ fl. 864).

O TJPR igualmente destacou a falta de comprovação de pacto entre as


partes, impondo, entretanto, a adoção da taxa média de mercado para a operação,
constando do acórdão recorrido o seguinte:
"A r. Sentença determinou a limitação dos juros e 0,5% ao mês, de acordo com o
art. 1.062 do CC/1916 do CC/1916, tendo em vista que '(...) não houve prova de
estipulação expressa em contato quanto a taxa de juros a ser aplicada (...)'.
Porém, não obstante seja devida a limitação dos juros remuneratórios, verifica-se
que estes não devem observar o percentual de 0,5 ao mês, mas sim à taxa média
de mercado, aplicadas à operações de mesma espécie.
Examinando o caderno processual, observa-se a cláusula L (fl. 484), que, segundo
o réu, contém a previsão dos juros, encontra-se ilegível, de forma que não pode ser
considerada para demonstrar a pactuação dos juros.
Assim, depara-se com lacuna quanto aos juros a serem aplicados, pois, ao
mesmo tempo em que não foi comprovada a taxa de juros pactuada pelas partes,
não se verifica a presença de limitação legal, por cuidar-se de negócio bancário"
(e-STJ fls. 971/972).

Inexistindo, assim, no contrato de abertura de crédito em conta-corrente a


fixação da taxa de juros e não demonstrando o banco que o cliente acessou ou que
poderia ter acessado as fontes de informações (internet, caixa eletrônico, telefone, etc.),
tampouco apresentando qualquer outro elemento de prova por meio do qual pudesse
confirmar a anuência do contratante quanto às taxas diárias praticadas no período em que
utilizou o limite de crédito, deve-se considerar que a vontade presumida das partes é
aceitar a taxa média de mercado para a operação. Essa é a contratação tácita entre a
instituição financeira e o devedor.
Por todas essas razões, entendo que a Corte local, ao adotar a taxa média
de mercado na segunda fase da ação de prestação de contas, não revisou nem modificou
o contrato de abertura de crédito em conta-corrente. Apenas considerou como contratada,
ainda que de forma presumida, a taxa média de mercado.
Para concluir, cumpre enfatizar as disposições do art. 122, parte final, do
CC/2002 e do 51, X, do CDC, que vedam a potestatividade, nos seguintes termos:
"Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma
das partes." (Grifei.)

"Art.51. São nula de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 51 de 15
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X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral."

Em tais condições, com a devida vênia da em. Ministra MARIA ISABEL


GALLOTTI, entendo inviável a adoção, pura e simples, dos juros aplicados pela instituição
financeira sobre os saldos devedores, na segunda fase da ação de prestação de contas,
sem a mínima comprovação da anuência, ainda que tácita, do devedor nas operações da
espécie de que trata o recurso.
Cabe ao banco, portanto, provar quais as taxas diárias aceitas (pactuadas)
expressa ou tacitamente pelo correntista no momento em que efetuou o empréstimo
mediante a utilização do limite de crédito e durante o período em que permaneceu
devedor. Sem isso, sem essa prova, aplica-se a taxa média de mercado a título de
pactuação tácita, decorrente da "integração do contrato, de acordo com a vontade
presumida das partes", nos termos da fundamentação adotada nos acórdãos proferidos
nos julgamentos dos REsps n. 1.112.879/PR e 1.112.880/PR (repetitivos).

III. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS


Acerca da capitalização dos juros, igualmente entendo não ter havido
revisão do contrato de abertura de crédito em conta-corrente.
Segundo extraio da sentença, inexistiu contratação de juros capitalizados,
apesar de cobrados, in verbis:
"No que se refere à capitalização de juros, consta na resposta do quesito de nº 03
de fls. 600/601, o Sr. Perito Judicial constatou que a capitalização mensal de juros
efetivamente ocorreu, não tendo o Requerido demonstrado a contratação.
E não tendo sido contratada, há que se reconhecer a abusividade na cobrança,
sendo que o valor correspondente deverá integrar a coluna correspondente aos
créditos, na medida em que o Sr. Perito Judicial deixou claro a sua ocorrência.
Registre-se que, nem mesmo a capitalização anual é devida, uma vez que em
sede de ação de prestação de contas, conforme já salientado, a análise deve
cingir-e apenas ao fato de determinada cobrança ter sido contratada ou não.
E como a capitalização de juros não foi contratada, nem mesmo na periodicidade
anual, sua cobrança não é devida" (e-STJ fl. 865).

O Tribunal de origem, por sua vez, reafirmou a ocorrência de capitalização,


tendo em vista "que houve meses em que os depósitos efetuados pela autora foram
insuficientes para o adimplemento dos juros, tendo a perícia constatado a prática da
capitalização mensal [...], consoante se vê na resposta do item 3 (fl. 600), inclusive se
considerada a aplicação do art. 354 do Código Civil (item 4, fl. 614)" (e-STJ fl. 979).
Manteve, então "a exclusão da cobrança de juros capitalizados, devendo incidir sobre a
dívida os juros em sua forma simples, conforme entendimento do Juízo singular" (e-STJ fl.
984). A ausência de pacto acerca de capitalização dos juros não foi modificada.

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Sob o enfoque jurídico, diversamente do que ocorre com a ausência de
contratação expressa da taxa de juros, hipótese em que deve ser considerada como
pactuada de modo tácito a taxa média de mercado (item II acima), a possibilidade de
capitalização depende de pacto expresso, mesmo para a periodicidade anual, conforme
decidido por esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento do AgRg no AREsp n. 429.029/PR,
Rel. Ministro MARCO BUZZI, DJe de 18.4.2016. Sem que haja tal contratação, não é
permitida a capitalização.
Em tais circunstâncias, no caso concreto, o saldo credor/devedor apurado
na segunda fase da ação de prestação de contas tem que observar o que foi pactuado
pelas partes. Sem que a capitalização tenha sido contratada, não pode tal encargo ser
considerado devido pelo tomador do empréstimo. Eventuais pagamentos realizados a
título de capitalização de juros, portanto, devem ser considerados recolhimentos a maior
e, com isso, contabilizados a favor do cliente.
Com efeito, as simples constatações de que a capitalização não foi
contratada e de que, por isso, não pode ser incluída como encargo devido pelo cliente no
cálculo do saldo credor/devedor não implicam revisão contratual.

IV. SUGESTÃO DE TESE


Em virtude do entendimento adotado no presente voto, acompanho a
proposição do eminente Relator sugerindo, no entanto, levar-se em conta a existência de
vínculos jurídico-obrigacionais não escritos, sujeitos às práticas de mercado. Em
consequência, permito-me propor a seguinte redação para o subitem 2.2 do enunciado:
"2.2. Limitação da cognição judicial na ação de prestação de contas ao conteúdo
das cláusulas e condições, escritas ou não, pactuadas no respectivo contrato."

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.


É como voto.

Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 53 de 15
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 10/08/2016 JULGADO: 10/08/2016

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira
negando provimento ao recurso especial e acompanhando o Sr. Ministro Relator, e o voto
antecipado do Sr. Ministro João Otávio de Noronha acompanhando a divergência inaugurada pela
Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti, pediu VISTA o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Aguardam os Srs. Ministros Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Luis
Felipe Salomão.

Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 54 de 15
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 10/08/2016 JULGADO: 24/08/2016

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado pelo Ministro Presidente, com previsão de julgamento na sessão de 14.09.2016.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S)
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S)
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S)

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA: Pedi vista dos autos
para melhor exame da controvérsia em debate.
Noticiam os autos que ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES propôs "ação de
prestação de contas" contra o BANCO BRADESCO S.A., o ora recorrente, afirmando que firmou
com a ré contrato de abertura de crédito em conta-corrente com a finalidade de concessão de
crédito rotativo na conta-corrente nº 27.380-5, agência 0234-8, desde janeiro de 1995 (e-STJ
fls. 3-10).
Requereu, em sua petição inicial, a apresentação de contas relativas ao período
de janeiro de 1995 até a data do ajuizamento da ação, referentes à conta-corrente em questão
com, as seguintes especificações:

"(...)
Na apresentação das contas deverá o réu informar:
1. Qual a taxa de juros foi aplicada, posto que no contrato não existia
expressamente a taxa;
2. Qual a forma de computar tais juros. Caso forem capitalizados mês a
mês, qual o ordenamento legal que autoriza tal forma de cobrança;
3. Qual a cláusula contratual, firmada, permitindo a cobrança de
comissão de permanência cumulada com correção monetária e/ou multa
contratual, e também qual a norma legal que a autoriza;
4. Se houver débitos diversos dos da emissão de cheques, sejam
justificados e/ou apresentadas as autorizações;
5. Se houver em algum momento autorização para compra de seguro,
seja apresentada a respectiva apólice;
6. Além de informar o porque foi cobrado os seguintes códigos e qual a
previsão contratual, ENCARGOS EMPREST, ENCARGOS EMPREST C/C, TAR
CHQ LIQ/DOC/OPG, TARIFA ADP/EXCESSO, TARIFA DEVOLUÇÃO CHQ, TAXA
DEVOLUÇÃO CHEQUE, TRF EXTR TELEX/FAX, TRF EXTR TELEX/FAX Ccg,
TRF PACOTE MÊS, TRF REEM/MANUT CARTAO, JUR S/EXCESSO LIMITE,
JUROS PROV USO REC IND, JUROS USO REC INDISPON, TAR/MULT. DEV.
CH, ENC. DESCOB. C/C, AQUISIÇÃO DE SEGURO, BRADESCO VISA LOCAL,
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BRADESCO VISA ANUIDADE, BRADESCO VISA SAQEU BDN, DÉBITO
P/ORDEM DE FIRMAS, PENDÊNCIA EM MORA, PTO. MEDIANTE AUT. DBTP,
RECIBO DE RETIRADA, TAR.CH.SUSTADO SEMESTRAL,
TAR,CAR.BRAD.INST.2VIA, TAR.CH.SUSTADO SEMESTRAL, TARIFA CHEQUE
ESPECIAL, TARIFA CHEQUE SUSTADO, TARIFA SEM.EXTR.TERMINAL,
TARIFA FORN.TAL.CHEQUES, TARIFA/MULTA, TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO;
dentre outras" (e-STJ fls. 8-9).

Quanto à segunda fase, postulou, "caso haja saldo favorável ao demandante",


fosse "o réu condenado ao pagamento desse, monetariamente corrigido, com juros e demais
cominações de estilo, com base no art. 42, Parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor, visto que a cobrança foi indevida" (e-STJ fl. 9).
O juízo de primeiro grau julgou procedente o pedido

"(...)
(...) a fim de determinar que o Requerido preste contas à Requerente, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, referente à conta corrente n° 27.380-5, agência
0234-8 do Banco Bradesco S/A, no período de Janeiro de 1995 até os dias de
hoje, devendo juntar o contrato firmado, bem como os extratos pertinentes;
esclarecer quais os percentuais de juros cobrados; a origem deles; os índices de
correção monetária utilizados e seus percentuais; existência ou não de
capitalização; cumulação de comissão de permanência com correção monetária e
multa contratual; origem de cada lançamento e legitimidade, indicando a cláusula
e norma em vigor entre as partes; o significado dos códigos indicados à fl. 03, e
se foram cobrados valores referentes aos mesmos, indicar cláusula do contrato
em que se embasou e legitimidade da cobrança; existência de autorização para
compra de seguro, apresentando a respectiva apólice; saldo devedor ou credor"
(e-STJ fls. 74-75).

O recurso de apelação interposto pelo ora recorrente foi parcialmente provido no


tocante à alegação de decadência do direito quanto à cobrança de serviços bancários e no que
se refere ao valor dos honorários advocatícios.
O aresto ficou assim ementado:

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. 1) ALEGADA


REPETIÇÃO DE ARGUMENTOS ANTERIORES. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS DO INCISO II DO ARTIGO 514 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. 2) DECADÊNCIA. OCORRÊNCIA. 3) INÉPCIA. DESNECESSIDADE DA
JUNTADA DE DOCUMENTOS 4) FALTA DO INTERESSE DE AGIR. PEDIDO
GENÉRICO. INOCORRÊNCIA. 5) PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DAS
CONTAS. 48 HORAS. PARTE FINAL DO § 2º, DO ARTIGO 915, CPC. 6)
SUCUMBÊNCIA MINORAÇÃO DOS HONORÁRIOS.
1. 'A repetição ou a reiteração de argumentos anteriores, por si só, ainda que
possa constituir praxe desaconselhável, não implica na inépcia do recurso, salvo
se as razões do inconformismo não guardarem relação com os fundamentos da
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decisão recorrida' (STJ - 3ª Turma, REsp 536.581-PR, rel. Min. Castro Filho, j.
16.12.03, DJU 10.204, p. 252).
2. No caso de eventual irregularidade na cobrança de serviços bancários, tem o
correntista o prazo de 90 (noventa) dias para interpor sua reclamação, diante de
vício aparente e de fácil constatação, no produto ou serviço prestado pela
instituição financeira. Porém, esclareça-se que isso não isenta o banco de prestar
as devidas contas, apenas exclui os valores a eles pertinentes, do período
decaído, de compor eventual débito e crédito da parte.
3. 'De acordo com o disposto no artigo 917 do Código de Processo Civil, as
contas serão prestadas por aquele que tiver a obrigação de prestá-las. Portanto,
não possui o autor a obrigação de juntar à petição inicial toda a documentação
relativa à prestação de contas que pleiteia.' (TJPR, Ac. 2096, 16ª C. Cível, Rel.
Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima, p. 0183309-6, j. 03.02.2006).
4. 'Não pode considerado genérico o pedido formulado pelo apelante/correntista,
porque visa obter informações sobre o contrato de abertura de crédito em conta
corrente firmado com a instituição financeira ré, tendo em sua inicial declinado o
período, bem como o que deveria o Banco informar.' (TAPR-extinto - 6ª CCív - Ac.
17105 - Rel. Des. Anny Mary Kuss, j. 09.03.2004)
5. 'O prazo de 48 horas para a apresentação das contas, previsto no § 2º, art.
915, do CPC, somente pode ser ampliado por força de justificado motivo, capaz
de tornar inviável a prestação no termo legal. Apelação cível desprovida.' (TJPR,
16ª Câmara Cível, Apelação Cível sob n° 360804-2, REL. Desembargador Paulo
Cezar Bellio, DJ 17/11/2006).
6. Ônus sucumbencial. Minoração dos honorários para adequar ao trabalho
desenvolvido pelo advogado, na causa.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA" (e-STJ fls. 134 e 137).

Os embargos de declaração opostos foram parcialmente acolhidos sem efeitos


modificativos (e-STJ fls. 179-189).
O recurso especial interposto pela autora foi parcialmente provido para afastar a
decadência reconhecida pelo Tribunal de origem (e-STJ fls. 308-310).
O recurso especial da ré teve seu seguimento negado, não tendo sido provido o
subsequente agravo de instrumento (e-STJ fls. 540-541).
Após o trânsito em julgado (e-STJ fl. 312), foram apresentadas as contas (e-STJ
fls. 332-496), que foram impugnadas pela autora (e-STJ fls. 501-515).
O juízo de origem acolheu parcialmente as contas apresentadas, "reconhecendo
em favor da Requerente saldo credor no valor de R$ 380,83 (trezentos e oitenta reais, e oitenta
e três centavos), atualizada até a data da perícia, decorrente da cobrança de juros acima de
0,5% e de forma capitalizada, bem como saldo credor no valor de R$ 437,16 (quatrocentos e
trinta e sete reais, e dezesseis centavos), atualizado até a data da perícia" (e-STJ fls. 868-869).
A apelação interposta pelo ora recorrente foi parcialmente provida em acórdão
assim resumido:

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"APELAÇÃO CÍVEL (RÉU). AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA
FASE. I - DECADÊNCIA. RECONHECIMENTO AFASTADO EM PRIMEIRA FASE.
FORMAÇÃO DE COISA JULGADA. II - TARIFAS E TAXAS. AUTORIZAÇÃO
CONTRATUAL COMPROVADA. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE ACORDO
COM AS NORMAS DO BACEN. DEMAIS LANÇAMENTOS NÃO AUTORIZADOS.
EXCLUSÃO QUE DEVE SE RESTRINGIR À IMPUGNAÇÃO DA AUTORA. III -
TAXA DE JUROS. CLÁUSULA ILEGÍVEL. PACTUAÇÃO NÃO DEMONSTRADA.
LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO APLICÁVEL ÀS OPERAÇÕES DE
MESMA ESPÉCIE. IV - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PRÁTICA
COMPROVADA POR PROVA PERICIAL. EXCLUSÃO DEVIDA, COM
OBSERVÂNCIA DO ART. 354 DO CÓDIGO CIVIL EM SUA APURAÇÃO. V -
CAPITALIZAÇÃO ANUAL OU SEMESTRAL. MATÉRIA NÃO CONHECIDA.
INOVAÇÃO RECURSAL.
I - Impossível discutir novamente a questão acerca da aplicação do art. 26 do
CDC, quando a prejudicial de mérito já foi rechaçada em primeira fase, formando,
portanto, coisa julgada.
II - Comprovada a previsão contratual, admite-se a cobrança das tarifas e taxas,
que estejam autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Todavia, não havendo
impugnação específica da autora, é indevida a exclusão de lançamentos tidos
como não autorizados.
III - Não apresentado o contrato no caderno processual, a taxa de juros deve ser
limitada à taxa média de mercado aplicada às operações de mesma espécie.
IV - Comprovada a prática da capitalização mensal de juros por prova pericial, é
necessária a exclusão de tal prática, com o cálculo dos juros de forma simples e
em atenção à regra da imputação ao pagamento, prevista no art. 354 do Código
Civil, que determina que os depósitos efetuados na conta corrente destinam-se
primeiro ao pagamento dos juros.
V - 'Não pode o apelante impugnar senão aquilo que foi decidido na sentença;
nem cabe à instância 'ad quem' inovar a causa, com invocação de outra causa
petendi'. (RTJ 126/813).
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA EM PARTE E, NESTA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE PROVIDA" (e-STJ fls. 957-958).

Nas razões do especial (e-STJ fls. 9.94-1.010), o recorrente aponta, além de


divergência jurisprudencial, violação dos artigos 26, inciso II, do Código de Defesa do
Consumidor, 1º, inciso V, e 4º, inciso IX, da Lei nº 4.595/1964 e 591 do Código Civil.
Sustenta, em síntese: (i) impossibilidade de cumulação de ação de prestação de
contas com revisional de cláusulas de contrato bancário; (ii) decadência do direito de questionar
os alegados lançamentos irregulares em sua conta-corrente; (iii) legalidade das taxas de juros
praticadas no contrato e (iv) legalidade da capitalização mensal de juros.
Tendo em vista a multiplicidade de recursos que ascendem a esta Corte com
fundamento em idêntica controvérsia, o recurso especial foi afetado à Segunda Seção para
exame da questão relativa à "possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na segunda fase
da ação de prestação de contas" (e-STJ fls. 1.095-1.097).
Levado o feito a julgamento pela Segunda Seção, após a prolação do voto do

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Relator, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, propondo a consolidação de duas teses para fins
do artigo 543-C do CPC/1973 e negando provimento ao recurso especial, tendo sido
acompanhado pelo Ministro Antonio Carlos Ferreira, e do voto da Ministra Maria Isabel Gallotti,
divergindo parcialmente das teses repetitivas apresentadas e, no caso concreto, dando parcial
provimento ao recurso especial, no que foi seguida pelo voto antecipado do Ministro João
Otávio de Noronha, pedi vista dos autos e ora apresento meu voto.
É o relatório.
(i) Da delimitação da controvérsia
Cinge-se a controvérsia a definir (i) se é possível a revisão de cláusulas
contratuais na segunda fase da ação de prestação de contas e (ii) se, no caso concreto, houve
revisão do contrato de abertura de crédito em conta-corrente.
Registre-se que o Ministro Relator apresentou as seguintes teses para os fins do
art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973:

"2.1. Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação


de contas.
2.2. Limitação da cognição judicial na ação de prestação de contas ao conteúdo
das cláusulas pactuadas no respectivo contrato".

O Ministro Antonio Carlos Ferreira, por sua vez, sugeriu ajustes na redação do
subitem 2.2. do enunciado proposto pelo Relator, nos seguintes termos:

"2.2. Limitação da cognição judicial na ação de prestação de contas ao conteúdo


das cláusulas e condições, escritas ou não, pactuadas no respectivo contrato".

Já a divergência inaugurada pela Ministra Maria Isabel Gallotti aderiu à primeira


tese sugerida no voto do Relator, propondo a supressão da segunda.

(ii) Da possibilidade de revisão de cláusulas contratuais na ação de


prestação de contas
Quanto à primeira questão posta a desate, não há divergência entre os votos que
me antecederam.
Com efeito, a jurisprudência desta Corte há muito se encontra consolidada no
sentido de que é inviável a cumulação de ação de revisão de cláusulas contratuais com ação de
prestação de contas tendo em vista a diversidade de ritos.
Vale citar, a propósito, julgado paradigmático da Segunda Seção sobre o tema:

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"PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE ABERTURA DE


CRÉDITO EM CONTA-CORRENTE. CABIMENTO DA AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS (SÚMULA 259). INTERESSE DE AGIR. REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA, JUROS, MULTA,
CAPITALIZAÇÃO, TARIFAS. IMPOSSIBILIDADE.
1. O titular de conta-corrente bancária tem interesse processual para exigir
contas do banco (Súmula 259). Isso porque a abertura de conta-corrente tem por
pressuposto a entrega de recursos do correntista ao banco (depósito inicial e
eventual abertura de limite de crédito), seguindo-se relação duradoura de
sucessivos créditos e débitos. Por meio da prestação de contas, o banco deverá
demonstrar os créditos (depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados
em sua conta-corrente (cheques pagos, débitos de contas, tarifas e encargos,
saques etc) ao longo da relação contratual, para que, ao final, se apure se o
saldo da conta corrente é positivo ou negativo, vale dizer, se o correntista tem
crédito ou, ao contrário, se está em débito.
2. A entrega de extratos periódicos aos correntistas não implica, por si só, falta de
interesse de agir para o ajuizamento de prestação de contas, uma vez que podem
não ser suficientes para o esclarecimento de todos os lançamentos efetuados na
conta-corrente.
3. Hipótese em que a padronizada inicial, a qual poderia servir para qualquer
contrato de conta-corrente do Banco Banestado, bastando a mudança do nome
das partes e do número da conta, não indica exemplos concretos de lançamentos
não autorizados ou de origem desconhecida e sequer delimita o período em
relação ao qual há necessidade de prestação de contas, postulando sejam
prestadas contas, em formato mercantil, no prazo legal de cinco dias, de todos os
lançamentos desde a abertura da conta-corrente, treze anos antes do
ajuizamento da ação. Tal pedido, conforme voto do Ministro Aldir Passarinho
Junior, acompanhado pela unanimidade da 4ª Turma no REsp. 98.626-SC, 'soa
absurdo, posto que não é crível que desde o início, em tudo, tenha havido erro ou
suspeita de equívoco dos extratos já apresentados.'
4. A pretensão deduzida na inicial, voltada, na realidade, a aferir a legalidade dos
encargos cobrados (comissão de permanência, juros, multa, tarifas), deveria ter
sido veiculada por meio de ação ordinária revisional, cumulada com repetição de
eventual indébito, no curso da qual pode ser requerida a exibição de documentos,
caso esta não tenha sido postulada em medida cautelar preparatória.
5. Embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da
conta-corrente, independentemente do fornecimento extrajudicial de
extratos detalhados, tal instrumento processual não se destina à revisão de
cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao menos de
período determinado em relação ao qual busca esclarecimentos o
correntista, com a exposição de motivos consistentes, ocorrências duvidosas
em sua conta-corrente, que justificam a provocação do Poder Judiciário
mediante ação de prestação de contas.
6. Recurso especial a que se nega provimento".
(REsp 1.231.027/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 12/12/2012, DJe 18/12/2012 - grifou-se)

Trata-se de jurisprudência pacífica deste Tribunal Superior, o que pode ser


constatado a partir da leitura dos seguintes precedentes proferidos pelos Ministros integrantes

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de ambas as Turmas que compõem a Segunda Seção:

Quarta Turma:

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRIMEIRA FASE. CONTRATO
DE CARTÃO DE CRÉDITO. CARÊNCIA DE AÇÃO. AUSÊNCIA DE INTERESSE
DE AGIR. DECISÃO MANTIDA.
1. O titular do cartão de crédito, independentemente do recebimento das faturas
mensais, pode acionar judicialmente a administradora, objetivando receber a
prestação de contas dos encargos que lhe são cobrados.
2. Nada obstante, de acordo com a interpretação mais recente desta Corte a
respeito da matéria, a ação de prestação de contas não se destina à revisão de
cláusulas contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao menos de
período determinado em relação ao qual busca esclarecimentos.
3. Agravo regimental a que se nega provimento".
(AgRg no AREsp 464.569/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2015, DJe 26/10/2015 - grifou-se)

"AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONTA-CORRENTE BANCÁRIA. PETIÇÃO
GENÉRICA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR NO CASO CONCRETO.
1. A jurisprudência desta Corte Superior assenta que a ação de prestação de
contas pelo titular de conta-corrente reclama a comprovação do vínculo jurídico
entre o autor e o réu e a indicação, na inicial, de período determinado em relação
ao qual se postula esclarecimentos, expondo a existência de lançamentos
duvidosos que justificam a provocação da jurisdição estatal, não se revelando o
meio hábil à revisão de cláusulas contratuais.
2. Na espécie, observa-se que o autor não delimita, na exordial, o período da
relação do qual requer esclarecimentos, tampouco indica a existência de
ocorrências duvidosas a justificar a provocação da presente ação de prestação
de contas.
3. Agravo regimental não provido".
(AgRg no AREsp 668.042/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe 13/04/2015 - grifou-se)

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONTRATO BANCÁRIO. SÚMULA 259/STJ.
IMPOSSIBILIDADE, PORÉM, DE ACOLHIMENTO DE PEDIDO GENÉRICO E
INESPECÍFICO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Conquanto a jurisprudência desta Corte tenha-se firmado no sentido de que 'a
ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta-corrente
bancária' (Súmula 259/STJ), independentemente do prévio fornecimento de
extratos, é imprescindível que, na petição inicial, sejam indicados motivos
consistentes acerca de ocorrências duvidosas na conta-corrente, bem como o
período determinado sobre o qual se busca esclarecimentos, não se admitindo,
para tal fim, a afirmação genérica de que se busca prestação de contas desde a
sua abertura até os dias atuais.
Ademais, para a revisão da contratualidade, deve a parte ajuizar ação
Documento: 1470331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/11/2016 Página 62 de 15
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ordinária, cumulada com eventual repetição do indébito (AgRg no REsp
1.203.021/PR Relatora p/ acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, DJe de 24/10/2012).
2. Agravo regimental a que se nega provimento".
(AgRg no AREsp 469.025/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 11/03/2014, DJe 11/04/2014 - grifou-se)

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS.


REVISÃO CONTRATUAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS. RITOS.
INCOMPATIBILIDADE.
1. Consoante entendimento desta Corte, é inviável a cumulação de ação de
revisão de cláusulas contratuais com ação de prestação de contas, em face
da diversidade dos ritos. Precedentes.
2. Agravo regimental desprovido".
(AgRg no REsp 739.700/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA
TURMA, julgado em 02/10/2007, DJ 22/10/2007 - grifou-se)

"PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PROPÓSITO DE


DISCUTIR A VALIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. IMPROPRIEDADE DA
VIA ELEITA.
I. Configurado, segundo o quadro fático dos autos delineado na instância a
quo, o real propósito da autora em discutir a própria validade das cláusulas
contratuais, inservível a tanto o uso da ação de prestação de contas.
II. Agravo improvido".
(AgRg no Ag 276.180/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA
TURMA, julgado em 21/06/2001, DJ 05/11/2001 - grifou-se)

Terceira Turma:

"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.


PEDIDO GENÉRICO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. AGRAVO REGIMENTAL
NÃO PROVIDO.
1. A ação de prestação de contas 'não se destina à revisão de cláusulas
contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao menos de período
determinado em relação ao qual busca esclarecimentos o correntista, com a
exposição de motivos consistentes, ocorrências duvidosas em sua conta-corrente,
que justificam a provocação do Poder Judiciário' (REsp n. 1.231.027/PR, Relatora
a Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
12/12/2012, DJe 18/12/2012).
2. Impõe a extinção da demanda, por falta de interesse de agir, a apresentação
de pedido genérico, no que se inclui aqueles como o dos autos, em que nem
sequer se aponta lançamentos questionáveis, e se pleiteia a prestação de
contas referente a todo o período da contratação.
3. Agravo regimental não provido".
(AgRg no REsp 1.569.293/MS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 09/05/2016 - grifou-se)

"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


RECURSO RECEBIDO COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRESTAÇÃO DE
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CONTAS. REVISÃO CONTRATUAL. INVIABILIDADE.
1. É firme a jurisprudência das Turmas de Direito Privado do STJ no sentido
da inviabilidade da revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de
contas, haja vista a incompatibilidade de ritos.
2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental.
3. Agravo regimental não provido".
(EDcl no AREsp 363.281/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 31/08/2015 - grifou-se)

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. IMPOSSIBILIDADE. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência da Segunda Seção do Superior Tribunal de
Justiça, 'embora cabível a ação de prestação de contas pelo titular da
conta-corrente, independentemente do fornecimento extrajudicial de extratos
detalhados, tal instrumento processual não se destina à revisão de cláusulas
contratuais e não prescinde da indicação, na inicial, ao menos de período
determinado em relação ao qual busca esclarecimentos o correntista, com a
exposição de motivos consistentes, ocorrências duvidosas em sua conta-corrente,
que justificam a provocação do Poder Judiciário mediante ação de prestação de
contas' (REsp n. 1.231.027/PR, Segunda Seção, Relatora a Ministra Maria Isabel
Gallotti, DJe de 18/12/2012).
2. O dissídio jurisprudencial não foi demonstrado, pois a parte recorrente não
demonstrou as similitudes fáticas e divergências decisórias entre os casos
confrontados.
3. Se a parte agravante não apresenta argumentos hábeis a infirmar os
fundamentos da decisão regimentalmente agravada, deve ela ser mantida por
seus próprios fundamentos.
4. Agravo regimental a que se nega provimento".
(AgRg no AREsp 696.684/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 20/08/2015, DJe 03/09/2015 - grifou-se)

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. JUÍZO DE INADMISSIBILIDADE.


NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO RECURSO ESPECIAL COM BASE NO ART.
543-C, § 7º, I, DO CPC EM RELAÇÃO A UM PONTO E NEGATIVA DE
SEGUIMENTO QUANTO AOS OUTROS. EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA
UNIRRECORRIBILIDADE. CABIMENTO SIMULTÂNEO DE AGRAVO
REGIMENTAL E AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS COM CARÁTER REVISIONAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 83/STJ. VERIFICAÇÃO. SÚMULA N. 7/STJ.
1. É incabível agravo interposto contra decisão que nega seguimento a recurso
especial fundado no art. 543-C, § 7º, I, do CPC, quando o acórdão recorrido tiver
decidido no mesmo sentido daquele proferido pelo STJ em recurso representativo
de controvérsia.
2. No caso de inadmissibilidade de recurso especial com base no art. 543-C, § 7º,
I, do CPC em relação a um ponto e de negativa de seguimento quanto aos outros,
deve a parte interpor, simultânea e respectivamente, agravo regimental e agravo
em recurso especial.
3. São inviáveis, em ação de prestação de contas, a revisão e o afastamento
de cláusulas contratuais, procedimentos próprios da ação revisional.
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4. Aplica-se a Súmula n. 7 do STJ na hipótese em que o acolhimento da tese
defendida no recurso especial reclama a análise dos elementos probatórios
produzidos ao longo da demanda.
5. Agravo regimental desprovido".
(AgRg no AREsp 531.003/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 12/12/2014 - grifou-se)

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE


CONTAS. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. CUMULAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. DIVERSIDADE DE RITOS.
1. Impossibilidade de cumulação de ação de prestação de contas com ação de
revisão de cláusulas contratuais, ante a diversidade dos ritos das referidas
ações. Precedentes específicos.
2. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO".
(AgRg nos EDcl no REsp 1.176.781/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/09/2012, DJe 26/09/2012 -
grifou-se)

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


PRESTAÇÃO DE CONTAS. CUMULAÇÃO COM PEDIDO DE REVISÃO
CONTRATUAL. IMPOSSIBILIDADE.
- É inviável, em demanda de prestação de contas, a discussão sobre
cláusulas contratuais.
- Agravo no recurso especial provido".
(AgRg no REsp 1.229.174/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 1º/03/2012, DJe 07/03/2012 - grifou-se)

Referida orientação tem como foco a natureza e o alcance da ação de prestação


de contas.
A mencionada ação surgiu historicamente para permitir a prestação de contas de
quem administra bens ou interesses de terceiros, tais como procuradores e gestores de
negócios, consoante se observa da doutrina de escol:

"(...)
Em regra, as pessoas, a quem é submetida a administração de certos
bens ou interesses, estão obrigadas a dar satisfação de seus atos de gestão.
Essa obrigação pode ser imposta ao administrador mediante pedido do
interessado, podendo ainda ser prestada voluntariamente por aquele. Há
várias circunstâncias que determinam o dever de prestar contas de seus atos,
não sendo o caso de, neste espaço, descrevê-las todas. Basta deixar evidenciado
que, em todas essas situações, poderá o interessado solicitar as contas
judicialmente, estando também facultado ao administrador prestá-las, também
judicialmente, quando necessário.
O dever de prestar contas pode ter origem em relação contratual ou legal
e, praticamente, pode-se afirmar que ela está presente sempre que a
administração de bens ou interesses envolva o trato com gastos e receitas.
As contas a serem prestadas devem ser demonstradas e justificadas,
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exatamente para que se possa conferir a destinação dada ao patrimônio do
administrado e a razoabilidade da atividade do administrador". (MARINONI, Luiz
Guilherme. Procedimentos especiais. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2013, pág. 82 - grifou-se)

"(...)
Determinadas pessoas, às quais houver sido confiada a
administração ou a gestão de bens ou de interesses alheios, têm a obrigação
de prestar contas, quando solicitadas, ou de dá-las voluntariamente, se
necessário. Nessa situação encontram-se o tutor em face do tutelado (CC, arts.
1.755 a 1.762), o curador em face do curatelado (arts. 1.774 e 1.783, c.c. arts.
1.755 ss), o sucessor provisório em relação aos bens do ausente (art. 33), o
mandatário em face do mandante (art. 668), o testamenteiro em face dos
herdeiros (art. 1.980 e CPC, art. 1.135), o inventariante em face dos herdeiros
(CPC, arts. 991, VII, e 995, V), o curador em relação aos bens que integram a
herança jacente (CPC, art. 1.144, V), o advogado em relação ao constituinte
(Estatuto da OAB, art. 34, XXI - v., ainda, Lei nº nº 11.902/09), entre outros".
(MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos especiais. 14. ed. São Paulo: Atlas,
2010, pág. 127 - grifou-se)

"(...)
O direito de exigir prestação de contas pode resultar de muitas situações
jurídicas, como ocorre em caso de procuração, mandato, cumprimento de
comodato, de anticrese, ou de atividade de comissionário, de testamenteiro,
de inventariante, ou de falecido (....)". (PONTES DE MIRANDA. Comentários ao
Código de processo civil. t. XIII. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, pág. 102 -
grifou-se)

"(...)
Várias são as causas de pedir que ensejam a propositura da ação de
prestação de contas. No direito material e processual, surgem diversas situações
que obrigam à prestação de contas. Como exemplo, citamos a do inventariante
quanto às contas pela administração do espólio, ou do advogado em relação
às despesas para a condução do processo, e, ainda, dos próprios pais em
relação à administração aos bens pertencentes aos filhos menores. No
condomínio, cabe ao síndico a responsabilidade da apresentação das contas.
(...)". (MEDINA, José Miguel Garcia. Procedimentos cautelares e especiais. 5. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, pág. 271-272 - grifou-se)

Já o seu alcance está limitado à apuração de saldo devedor que, na segunda


fase, deve ser o resultado de operações aritméticas, não de complexos juízos de validade
jurídica de lançamentos efetuados.
Com efeito, para Adroaldo Furtado Fabrício, prestar contas "significa fazer
alguém a outrem, pormenorizadamente, parcela por parcela, a exposição dos componentes do
débito e crédito resultantes de determinada relação jurídica concluindo pela apuração
aritmética do saldo credor ou devedor ou de sua inexistência". (Comentários ao Código de

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Processo Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, pág. 345 - grifou-se)
Quando proposta por titular de conta-corrente bancária contra instituição
financeira, a ação de prestação de contas deve se limitar a apurar se os lançamentos feitos
pelo banco são ou não corretos, à luz do que foi pactuado entre as partes.
O âmbito de cognição nesse caso é restrito e não admite a análise da eventual
abusividade de cláusulas com a consequente revisão do contrato, conforme concluíram os
votos já proferidos aos quais adiro no tocante à primeira tese a ser firmada no julgamento do
presente recurso especial repetitivo.

(iii) Da ocorrência da revisão do contrato de abertura de crédito em


conta-corrente no caso em apreço
No caso concreto, cumpre averiguar se houve a indevida revisão do contrato
bancário mediante a análise da legalidade ou validade das cláusulas contratuais.
Para o Relator, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, o Tribunal de origem, ao
limitar os juros à taxa média de mercado e afastar a capitalização mensal, ateve-se ao exame do
próprio conteúdo das cláusulas contratuais pactuadas, não promovendo a revisão do contrato.
Por outro lado, segundo a divergência, inaugurada pela Ministra Maria Isabel
Gallotti, ao assim proceder, a Corte local efetuou revisão do contrato de abertura de crédito em
conta-corrente, o que não é compatível com o rito da prestação de contas.
Nesse particular, com a devida vênia, perfilho-me ao entendimento externado pela
divergência.
Compulsando os autos, verifica-se que ao longo de toda a petição inicial (e-STJ
fls. 3-10) a autora veicula pretensões que desbordam dos estreitos limites da ação de prestação
de contas, questionando (i) a legalidade da cobrança de juros em índices aplicados acima do
permissivo legal; (ii) a legalidade da cobrança de juros na forma capitalizada; (iii) a legalidade
da cobrança de encargos financeiros sobre operações bancárias realizadas; (iv) a legalidade da
estipulação de juros em taxas variáveis ou flutuantes; (v) a abusividade da incidência de
comissão de permanência, cumulada com multa moratória e correção monetária; entre outros.
Além disso, com fulcro no artigo 42, parágrafo único, Código de Defesa do Consumidor,
formula, ao final da peça inaugural, pedido de devolução em dobro do indébito.
O mesmo se infere da simples leitura da impugnação apresentada pela parte
autora na segunda fase da ação de prestação de contas (e-STJ fls. 501-515), na qual defende
com veemência a ilegalidade e a abusividade, por afronta do Código Civil e ao Código de
Defesa do Consumidor, da exigência de juros com taxas flutuantes, sustentando a nulidade da

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cláusula contratual pactuada e, ainda, a ilegalidade, com base na jurisprudência, do alegado
anatocismo praticado.
Nesse contexto, nota-se que, no caso em apreço, houve, nitidamente, cumulação
indevida de pedido revisional na ação de prestação de contas, o que afronta a tese ora firmada
em caráter repetitivo.
Referidas pretensões deduzidas na inicial, que se voltavam, em verdade, a aferir
a legalidade de determinados encargos cobrados, deveriam ter sido veiculadas em ação
ordinária revisional cumulada com repetição de indébito e eventual pedido incidental de exibição
de documentos.
O acórdão recorrido, por seu turno, compactuou com essa indevida cumulação de
pedidos ao determinar que a taxa de juros remuneratórios deve ser fixada consoante a taxa
média de mercado, bem como ao afastar a possibilidade de cobrança de juros capitalizados,
determinando que estes incidam de forma simples.
De fato, não há como negar que, ao revisar as taxas de juros aplicáveis ao caso e
ao determinar a exclusão dos juros capitalizados - que não apresentam nenhuma relação com a
administração dos recursos da autora -, o acórdão recorrido incorreu em verdadeira revisão
contratual, contrariando, assim, a jurisprudência desta Corte.

(iv) Do dispositivo
Em vista do exposto, acompanho a divergência para: (a) suprimir a segunda tese
do enunciado proposto pelo eminente Relator e (b) dar parcial provimento ao recurso especial
nos termos do voto da Ministra Maria Isabel Gallotti.
É o voto.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.831 - PR (2014/0094926-2)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) - DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S) - DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295

VOTO

O Senhor Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO:


Senhor Presidente, rogo vênia ao Relator para acompanhar a divergência.
Como já foi falado aqui pelos que me precederam – com mais precisão, o
Ministro Marco Aurélio Bellizze, que ressaltou, quanto ao item 1, a impossibilidade de revisão
de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas –, entendo haver unanimidade.
Em relação ao item 2.2, penso que o Relator disse mais do que gostaria de
fazê-lo. Quando Sua Excelência afirma: limitação da cognição judicial na ação de prestação
de contas ao conteúdo das cláusulas, implicitamente admite que o magistrado possa
substituir a taxa de juros, a periodicidade da capitalização, os demais encargos estabelecidos
– e isso numa segunda fase da ação de prestação de contas –, o que considero nocivo para
a solução judicial do caso concreto.
Então, rogando vênia ao Relator e àqueles que o acompanharam, creio que a
melhor solução seja mesmo a de suprimir o item 2.2, pois o que o juiz vai analisar é
efetivamente se está estabelecida uma cláusula que foi pactuada. No entanto, admitir a sua
revisão ou substituição seria ruim para o deslinde do caso.
De modo que vou acompanhar a divergência, para suprimir o item 2.2 e
concordar integralmente com o item 2.1.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2014/0094926-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.497.831 / PR

Números Origem: 201200310504 4182006 9577537 957753701 957753702

PAUTA: 14/09/2016 JULGADO: 14/09/2016

Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO

Relatora para Acórdão


Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. SADY D´ASSUMPÇÃO TORRES FILHO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BRADESCO S/A
ADVOGADO : GISALDO DO NASCIMENTO PEREIRA E OUTRO(S) - DF008971
ADVOGADA : ANA LUISA FERNANDES PEREIRA E OUTRO(S) - DF026088
ADVOGADA : PAULA DE PAIVA SANTOS E OUTRO(S) - DF027275
RECORRIDO : ANDREA SILVANA SEQUINEL MARQUES
ADVOGADO : JÚLIO CESAR DALMOLIN E OUTRO(S) - PR025162
INTERES. : BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DO BANCO CENTRAL - PB000000C
INTERES. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : LUIZ RODRIGUES WAMBIER E OUTRO(S) - PR007295

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva
acompanhando a divergência inaugurada pela Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti, a Seção, por
maioria, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Maria
Isabel Gallotti.
Para os fins do artigo 1040 do NCPC (art. 543-C do CPC/73), foi fixada a seguinte tese:
"Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas".
Lavrará o acórdão a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Vencidos os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Antonio Carlos Ferreira e Marco
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Buzzi.
Votaram com a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas
Cueva, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Luis Felipe Salomão.

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