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RECURSO ESPECIAL Nº 1896061 - PE (2020/0244053-3)

RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINA


RECORRENTE : BANCO DO BRASIL SA
ADVOGADO : MAURÍCIO PEREIRA PRÉVE E OUTRO(S) - SC015655
RECORRIDO : MARIA MADALENA MARTINS DA SILVA
ADVOGADO : MARIA DE LOURDES OLIVEIRA VIANA - CE026826
INTERES. : UNIÃO

DECISÃO

Trata-se de recurso especial manejado pelo Banco do Brasil S.A. com


fundamento no art. 105, III, a e c, da CF, contra acórdão proferido pelo Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, assim ementado (fls. 443/444):

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. CONTA DO PASEP. PRETENSÃO DE


APLICAÇÃO DE EXPURGOS INFLACIONÁRIOS E JUROS E RESTITUIÇÃO
DE VALORES SUBTRAÍDOS. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO.
INCOMPETÊNCIA DA AD CAUSAM JUSTIÇA FEDERAL. REMESSA DOS
AUTOS À JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO PREJUDICADO.
1. Apelação interposta pelo BANCO DO BRASIL, em face da sentença que, em
relação a ele, reconheceu a incompetência da Justiça Federal para processar e
julgar o pedido, extinguindo, nesse ponto, o feito sem apreciação do mérito, e
julgou improcedente o pedido, quanto à UNIÃO.
2. A pretensão deduzida nestes autos não cuida da ausência de depósitos de
responsabilidade da UNIÃO, e sim, de supostos desfalques de valores da conta
individual da parte autora, que, segundo por ela aduzido, também não teria
recebido a aplicação da atualização e da remuneração devidas.
3. À vista do pedido e da causa de pedir, não há que se falar em legitimidade da
UNIÃO, para figurar no polo passivo da demanda, considerando que, nos
termos do art. 2º da LC nº 8/70, respondia tão somente pelos recolhimentos
mensais, que, inclusive, perduraram apenas até a promulgação da CF/88.
4. A responsabilidade por eventual subtração ou má gestão dos valores
depositados na conta do PASEP é da instituição gestora, no caso, do BANCO
DO BRASIL, em virtude do que determina o art. 5º da LC nº8/70, que dispõe
que a essa instituição financeira "competirá a administração do Programa,
manterá contas individualizadas para cada servidor e cobrará uma comissão
de serviço, tudo na forma que for "estipulada pelo Conselho Monetário
Nacional.
5. Diante da sua ilegitimidade passiva, a UNIÃO deve ser excluída da lide,
impondo-se, em consequência, o reconhecimento da incompetência da Justiça
Federal para processar e julgar o feito em que o polo passivo é ocupado
apenas por uma sociedade de economia mista, remetendo-se os autos à Justiça
Estadual competente.
6. "Agravo de instrumento interposto contra decisão que reconheceu a
ilegitimidade passiva da União Federal e, consequentemente, a incompetência
da Justiça Federal para processar e julgar pleito indenizatório relativo às

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Publicação no DJe/STJ nº 3402 de 30/05/2022. Código de Controle do Documento: e5adc97a-2f06-4da8-a421-4f4940689914
contas individualizadas do PASEP (Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público)./Consoante consignado na decisão recorrida, 'toda a causa
de pedir envolve suposto desfalque de valores na conta de depósitos do PASEP',
da qual é gestor o Banco do Brasil S/A. Nesses casos, a orientação
jurisprudencial firmada por todas as Turmas deste Tribunal é no sentido de que
a responsabilidade é apenas do Banco do Brasil S/A, na qualidade de gestor de
tais recursos, a quem compete, a teor do art. 5º da LC nº 08/1970, a
administração do Programa, mantendo as contas individualizadas para cada
servidor e cobrará uma comissão de serviço, tudo na forma que for estipulada
pelo Conselho Monetário Nacional. Precedentes: AGTR/ nº 0809550-
77.2018.4.05.0000, Rel. Des. Fed. Frederico Wildson da Silva Dantas
(Convocado), Segunda Turma, Julgamento: 16/10/2018; AGTR/RN nº 0809694-
51.2018.4.05.0000, Rel. Des. Fed. Élio Siqueira Filho, Primeira Turma,
Julgamento: 04/10/2018; AGTR/RN nº 0812353- 33.2018.4.05.0000; Rel. Des.
Fed. Fernando Braga Damasceno, Terceira Turma, Julgamento: 22/11/2018;
AGTR/SE nº 08010659320154050000, Rel. Des. Fed. Rubens de Mendonça
Canuto, Quarta Turma, Julgamento: 08/10/2015./Apesar de a sociedade de
economia mista integrar a administração pública indireta (é o caso do Banco
do Brasil S.A), a competência para julgar as causas de seu interesse pertence à
Justiça Estadual, conforme disposto na " (TRF5, Processo nº 0804992-
28.2019.4.05.0000, Relator: Desembargador Súmula nº 42 do STJ [...]Federal
Roberto Machado, 1ª Turma, julgado em 05/08/2019).
7. Sentença anulada, reconhecendo-se a ilegitimidade passiva da UNIÃO e a
incompetência da Justiça Federal e determinando-se o envio dos autos à
Justiça Estadual (mediante cópia, ante a incomunicabilidade entre o Sistema
PJE e o utilizado pela Justiça de destino). Apelação prejudicada.

A parte recorrente aponta, além de divergência jurisprudencial, violação aos


arts. 17 e 485, VI, do CPC/2015; 4º-A da Lei Complementar n. 26/1975; 7º e 10 do
Decreto n. 4.751/2003. Sustenta, em síntese, que o Banco do Brasil não tem legitimidade
para figurar no polo passivo de ação, pois "tem papel de mero administrador do fundo
governamental, de modo que o entendimento encravada na Súmula 77 é aplicada de
maneira análoga em seu favor, reconhecendo-se, consequentemente, a sua ilegitimidade
para compor e figurar no polo passivo de qualquer demanda que tenha como causa de
pedir o saldo irrisório no fundo PASEP que, conforme exaustivamente exposto, é de
responsabilidade do Conselho Diretor vinculado à União Federal" (fl. 530).
É RELATÓRIO. SEGUE A FUNDAMENTAÇÃO.
Observa-se que as razões de recurso especial contêm discussão acerca de
tema que será objeto de decisão por este Sodalício, sob a sistemática dos recursos
repetitivos, conforme afetação determinada nos autos do REsp 1.895.936/TO, Rel. Min.
Herman Benjamin, pela Primeira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, na sessão de
julgamento ocorrida em 08/03/2022. Veja-se:

PROPOSTA DE AFETAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. RITO DOS RECURSOS


REPETITIVOS. DEFINIÇÃO DA LEGITIMIDADE DO BANCO DO BRASIL
PARA FIGURAR NAS AÇÕES QUE DISCUTEM FALHA NA PRESTAÇÃO
DOS SERVIÇOS QUANTO À CONTA VINCULADA AO PASEP.
ESTABELECIMENTO DO PRAZO E TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO
PARA AÇÕES DE TAL NATUREZA, À LUZ DOS ARTS. 205 DO CC E 1° DO

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DL 3.365/1941.
1. Delimitação das controvérsias: "a) O Banco do Brasil possui, ou não,
legitimidade passiva ad causam para figurar no polo passivo de demanda na
qual se discute eventual falha na prestação do serviço quanto a conta vinculada
ao PASEP, saques indevidos e desfalques, além da ausência de aplicação dos
rendimentos estabelecidas pelo Conselho Diretor do referido programa; b) A
pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão dos desfalques em
conta individual vinculada ao PASEP se submete ao prazo prescricional
decenal previsto pelo artigo 205 do Código Civil ou ao prazo quinquenal
estipulado pelo artigo 1° do Decreto n° 20.910/32; c) O termo inicial para a
contagem do prazo prescricional é o dia em que o titular toma ciência dos
desfalques ou a data do último depósito efetuado na conta individual vinculada
ao PASEP".
2. Ratificação do quanto decidido pelo Ministro Presidente da Comissão
Gestora de Precedentes no SIRDR 71/TO (DJe de 18.3.2021), no sentido de
ordenar a suspensão nacional de todos os processos atinentes ao tema, até
decisão a ser proferida pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do
presente caso.
3. Recurso Especial afetado ao rito do art. 1.036 do Código de Processo Civil.
(ProAfR no REsp n. 1.895.936/TO, relator Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, DJe de 6/5/2022.)

Nesse contexto, impõe-se aguardar o exaurimento da jurisdição do Tribunal


a quo, a qual apenas se esgotará com a fixação da tese por este STJ, oportunidade em que
a Corte de origem, relativamente ao recurso especial lá sobrestado, haverá de observar o
iter delineado nos arts. 1.040 e 1.041 do CPC.
Note-se que, no julgamento da Questão de Ordem no REsp 1.653.884/PR,
pela Primeira Turma deste Superior Tribunal de Justiça, ficou assentado que, nos casos de
devolução do recurso especial ao Tribunal de origem para se aguardar o desfecho do
recurso repetitivo, a Corte recorrida, caso verifique a existência de resíduo não alcançado
pela afetação do Superior Tribunal de Justiça, deverá determinar o retorno dos autos a
este STJ somente após ter exercido o juízo de conformação ao que decidido pelo Tribunal
Superior no julgamento do representativo da controvérsia respectiva (QO no REsp
1.653.884/PR, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 6/11/2017).
Importante salientar que o retorno dos autos à origem, para aguardar o
julgamento do recurso especial afetado, é medida que tem sido adotada em casos como o
presente. Exemplificativamente, destacam-se as seguintes decisões singulares:
REsp 1.917.899/RS, relator Ministro Luiz Felipe Salomão, DJE 18/2/2021; AREsp
1.759.474/SP, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 18/2/2021; REsp
1.911.859/DF, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe 11/2/2021; REsp 1.912.455/SP
, relator Ministro Og Fernandes, DJe 5/2/2021; AgInt no REsp 1.815.259/SP, relatora
Ministra Assusete Magalhães, DJe 2/2/2021 e AgInt no AgInt no REsp 1.847.990/SP
ANTE O EXPOSTO, determino a devolução dos autos, com a respectiva
baixa, ao Tribunal de origem, onde, nos termos dos arts. 1.040 e 1.041 do CPC, deverá
ser realizado o juízo de conformação ou manutenção do acórdão local frente ao que vier a

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ser decidido por este Superior Tribunal de Justiça sobre o Tema 1.150/STJ.
Publique-se.
Brasília, 25 de maio de 2022.

Sérgio Kukina
Relator

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