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TJBA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

04/02/2024

Número: 0007617-18.2008.8.05.0001
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 5ª V CÍVEL E COMERCIAL DE SALVADOR
Última distribuição : 17/01/2008
Valor da causa: R$ 32.176,52
Processo referência: 00076171820088050001
Assuntos: Inclusão Indevida em Cadastro de Inadimplentes, Expurgos Inflacionários / Planos
Econômicos
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DELMAR MUNIZ DE LELIS (INTERESSADO) LICIO PAES RODRIGUES (ADVOGADO)
TAIS SANTANA SANTOS (ADVOGADO)
BANCO BRADESCO SA (INTERESSADO) FABIO HENRIQUE BARBOSA FRAGA (ADVOGADO)
LARISSA SENTO SÉ ROSSI (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
42192 24/11/2023 18:13 apelação - delmar Apelação
5230
AO JUIZO DA 12ª VARA DOS FEITOS DE RELAÇÃO DE CONSUMO CIVEIS E
COMERCIAIS DA COMARCA DE SALVADOR – BAHIA

PROCESSO Nº. 0007617-18.2008.805.0001

BANCO BRADESCO S.A., já devidamente qualificado, por


seus advogados infra-assinados, nos autos da AÇÃO Nº. 0007617-18.2008.0001,
proposta por DELMAR MUNIZ DE LELIS, vem, tempestivamente, interpor o presente
RECUSO DE APELAÇÃO contra a r. sentença proferida que veio a julgar parcialmente
procedente a referida ação, o que faz com fulcro nas anexas razões, requerendo seja
recebido em ambos os efeitos legais, e, após as formalidades legais, seja
encaminhado, juntamente com a guia de preparo anexa, ao EGRÉGIO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA onde por certo será acolhido e provido para total reforma do decisum.

E. deferimento,
Salvador-BA,

LARISSA SENTO-SÉ ROSSI

OAB/BA 16.330

Assinado eletronicamente por: LARISSA SENTO SÉ ROSSI - 24/11/2023 18:13:53 Num. 421925230 - Pág. 1
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Número do documento: 23112418135121600000408723090
EGREGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSO DE APELAÇÃO

RECORRENTE: BANCO BRADESCO S.A.

RECORRIDA: DELMAR MUNIZ DE LELIS

QUEIXA Nº. 0007617-18.2008.805.0001

RAZÕES DE RECORRENTE

Preclaros Julgadores,

A sentença recorrida merece ser reformada, conforme será


articuladamente demonstrado nos pontos abaixo.

DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO

Inicialmente urge ressaltar a tempestividade da


presente peça, pois o Banco Recorrente foi intimado da r. sentença que julgou a
ação procedente em parte na data 31-10-2023 através do DPJ.

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Tendo em vista que o prazo para a interposição do
presente Recurso é de 15 (quinze) dias, o prazo fatal para a interposição do
presente Recurso se dará em 24-11-2023, pelo que a sua apresentação nesta
data, afigura-se plenamente tempestiva.

SINOPSE DA QUESTÃO

Aduziu a parte Recorrida que no período dos Planos Verão,


Collor I e II, possuía, junto ao Banco Réu, as contas poupança indicadas na inicial e cujos
extratos alguns foram juntados, não lhe tendo sido aplicado os índices de atualização
monetários corretamente.

O nobre magistrado a quo sentenciou o feito, julgou


procedente em parte, os pedidos formulados pela parte Recorrida, nos seguintes termos:

“Pelas razões expostas, e tudo o mais que dos autos consta,


JULGO PROCEDENTE, a presente ação e condeno o BANCO BRADESCO S/A a pagar ao
autor a diferença existente entre o IPC de Janeiro/1989 da ordem de 42,72%, março de
1990 da ordem de 84,32%, abril/1990 da ordem 44,80% estas duas últimas a incidirem
sobre o limite de Cr$ 50.000,00, e fevereiro/1991 da ordem de 14,87% e o índice
efetivamente utilizado pelo banco réu na correção das cadernetas de poupança
mencionadas na inicial, com a incidência de juros remuneratórios de 0,5% ao mês,
capitalizados mês a mês, mais juros de mora de 0,5% ao mês, estes com incidência a
partir da citação, e correção monetária incidente desde a época em que era devido o
expurgo relativos aos Planos Econômicos Verão, Collor I e Collor II. Face a sucumbência
recíproca arcará o banco réu com a metade do ônus da sucumbência, cuja verba
advocatícia arbitro em 10% sobre o valor da condenação”.

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Assim, não concordando o Banco Recorrente com a sentença
proferida, vem mui respeitosamente opor o presente apelo para que a Emérita Corte de
Justiça possa, reapreciando a matéria, vir a modificar a r. sentença no que tange à
condenação imposta.

Com efeito.

PRELIMINARMENTE

DA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO EM RAZÃO DA MATÉRIA

É flagrante a incompetência desse MM. Juízo, em razão da


matéria de que trata a inicial, Plano Collor, ser de absoluto interesse do BANCO CENTRAL
DO BRASIL, haja vista que os cruzados novos retidos ficaram sob sua guarda e
responsabilidade, bem como sua atualização monetária.

Com efeito, foi a MP 186/90, depois convertida na lei 8024/90,


por disposição da União Federal, quem determinou o bloqueio dos cruzados novos e sua
responsabilidade e administração pelo BACEN, no que tange à remuneração mensal pelo
IPC, nada tendo a ver com os Bancos comerciais, que também foram obrigados a remeter
os valores das contas de poupança de seus clientes para o BACEN, que interferiu na relação
contratual em curso entre o Banco-Réu e o Autor, rompendo-a, impondo nova forma de
cálculo da atualização dos valores depositados nas contas de poupanças, e o BANCO
CENTRAL DO BRASIL, como foi e é o responsável direto pelo cumprimento das
determinações contidas na citada lei n° 8024/90, traçando, inclusive, as diretrizes a serem
seguidas pelas instituições financeiras para a correta execução delas, mediante
Resoluções, Circulares, Comunicados, etc.

Corroborando o que acima se diz, o Contestante transcreve


julgados que demonstram a evidente incompetência desse r. Juízo para apreciar e julgar
o feito, todos do E. STJ, a saber, verbis:

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CADERNETA DE POUPANÇA - Diferença de CORREÇÃO
MONETÁRIA - MARÇO/90. Ilegitimidade passiva de INSTITUIÇÃO FINANCEIRA -
LEI 8024/90. Lei 8.024/90. Poupança. Ação de cobrança. É parte ilegítima a
instituição financeira depositária de poupança para estar no pólo passivo da ação em
que se busca diferença de correção monetária relativa ao mês de março de 1990.
Recurso especial atendido. Maioria.” (STJ - Rec. Especial n. 36.961-4 - São Paulo - Ac. 4a.
T. - maioria - Rel: Min. Fontes de Alencar - j. em 06.12.94 - Fonte: DJU I, 06.03.95, pág.
4365).

***************************

CADERNETA DE POUPANÇA - CORREÇÃO MONETÁRIA - LEI


8024/90 - Ilegitimidade passiva da INSTITUIÇÃO FINANCEIRA . Poupança.
Correção monetária. Lei 8.024/90. A instituição financeira depositária de poupança é
parte ilegítima para estar no pólo passivo da ação em que o poupador busca
diferença de correção monetária.” (STJ - Rec. Especial n. 52.630-2 - São Paulo - Ac. 4a.
T. - maioria - Rel: Min. Fontes de Alencar - j. em 25.04.95 - Fonte: DJU I, 12.06.95, pág.
17629).

**************************

CRUZADO NOVO - Bloqueio e CONVERSÃO em cruzeiros -


PLANO COLLOR - LEI 7730/89 - LEI 8024/90 - CORREÇÃO MONETÁRIA - MARÇO/90
- RESPONSABILIDADE do BANCO CENTRAL. Direito financeiro e processual civil.
Cruzados novos bloqueados e convertidos em cruzeiros (plano Collor), com a respectiva
transferência para o Banco Central (Leis nos. 7.730/89 e 8.024/90). Correção monetária
relativa ao mês de março de 1990. Dies a quo em que se configurou a
responsabilidade do Bacen pelo pagamento da correção monetária e sua
legitimidade para figurar no pólo passivo da ação. (...) Recurso especial conhecido
e parcialmente provido. Decisão por maioria. (STJ - Rec. Especial n. 165676 - São Paulo -
Ac. maioria - 1a. T. - Rel: Min. Demócrito Reinaldo - j. em 08.06.99 - Fonte: DJU I,

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30.08.99, pág. 35).

Flagrante, portanto, é a incompetência da Justiça Comum cuja


alegação deverá ser de plano, acolhida, pois, se julgada procedente esta ação, o que se
diz apenas a título de argumentação, e ainda que seja ressalvado ao Banco réu haver, por
vias autônomas, o ressarcimento contra o BANCO CENTRAL DO BRASIL, não terá ela força
vinculante alguma, uma vez que o processo tramita na jurisdição estadual e o Órgão
Federal mencionado goza do privilégio de jurisdição federal. A decisão final seria ineficaz
por incompetência absoluta da Justiça Comum Estadual, para sujeitar o aludido ente
federal a qualquer comando processual que venha atingir seus direitos resguardados no
ordenamento constitucional.

Por todas estas razões, é que espera o Banco-Recorrente, se


rejeitada a preliminar a ser argüida abaixo, de ilegitimidade passiva ad causam, seja
acolhida a incompetência da Justiça Estadual ratione materiae, impondo-se o
deslocamento da competência para a Justiça Federal, ou então a extinção do feito sem
resolução de mérito, a teor do artigo 267 do CPC em vigor.

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA EM FACE DA LEGITIMIDADE DA UNIÃO

A parte Recorrida deverá ser havida por carecedora desta


ação, por não ser o Recorrente parte legítima para figurar em seu pólo passivo, devendo
ser o processo extinto, sem julgamento do mérito, nos termos do artigo 267, inciso VI, do
Código de Processo Civil.

Com a edição dos Planos Econômicos - Bresser


(Decreto-Lei nº. 2.290/86) - Verão (Medida Provisória 32/89 convolada na Lei
7.730/89) – Collor I (Medida Provisória 168/90 convolada na Lei 8.024/90) e
Collor II (Lei 8.177/91) – a União Federal estabeleceu critérios de atualização
dos saldos das cadernetas de poupança em junho de 1987; janeiro de 1989;
março, abril, maio, junho e julho de 1990; e janeiro de 1991.

Isto porque, nos termos da Constituição Federal, cabe à União


Federal baixar as normas referentes à moeda, seja ela de pagamento ou de conta, sem

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prejuízo de, em relação a esta, poder admitir uma faixa mais ou menos ampla de liberdade
das partes.

De acordo com o disposto nos artigos 21, incisos VII e VIII,


22, inciso VI, VII e XIX 48, incisos II, XIII e XIV, da Constituição Federal:

“Art. 21 – Compete à União:


VII. emitir moeda;
VIII. administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
operações de natureza financeira, especialmente de crédito, câmbio e capitalização, bem
como as de seguros de previdência privada;
Art.22 – Compete privativamente a União legislar
sobre:
VI. sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos
metais;
VII. política de crédito, câmbio, seguros e transferência de
valores;
VIII. sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
popular;
Art.48 – Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do
Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor
sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:
II. plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento
anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado.
XIII. matéria financeira, cambial e monetária, instituições
financeiras e suas operações;
XIV. moeda, seus limites de emissão, e montante de dívida
mobiliária federal.”

Demonstrado resta a competência constitucional da União


Federal no tocante ao regime monetário, que abrange tanto a chamada moeda de
pagamento, quanto à de conta, ou indexador, posto que incumbida de legislar sobre o
sistema monetário e política de crédito, sendo tal competência reconhecida pela
Jurisprudência de nossos Tribunais.

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Assim sendo, ainda que se admita, em tese, o direito dos
poupadores de haverem a diferença da correção monetária pleiteada nesta ação, jamais
poderia ser imputada ao Réu a obrigação pelo pagamento, mas sim à União Federal, que
detém o poder de legislar sobre a matéria.

E mais, o Recorrente, ao aplicar o índice contra o qual se


insurge a parte Autora, apenas cumpriu dispositivo de lei expresso, se comportando dentro
dos ditames dela e dos contratos, não podendo ser chamado para ressarcir prejuízos que,
se ocorreram, não lhes deu causa, não tendo, por isso mesmo, a obrigação de indenizar a
que quer que seja, estando eximido da responsabilidade de ressarcir a teor do disposto no
artigo 160, I, do Código Civil (Lei nº. 3.071/16) e no art. 188, I, do Novo Código
Civil (Lei nº. 10.406/02). A modificação das regras no curso do contrato somente pode
ser debitada à lei e, por conseqüência, ao órgão legiferante, em última análise, à União
Federal e, jamais às entidades financeiras do País, que em nada contribuíram para os fatos
narrados nestes autos.

Para o Dr. Juarez C. Silva:

“(...) quem age em virtude de uma lei procede licitamente. A


responsabilidade só pode ser do Estado, que editou a lei em desconformidade com a
Constituição. Destarte, uma vez decretada pelo Judiciário a inconstitucionalidade, os atos
praticados de acordo com a lei assim considerada reputam-se a posterior ilícitos,
facultando-se aos prejudicados reclamar do Poder Público o ressarcimento dos danos que
tiverem sofrido.” (in Responsabilidade do Estado por Atos Judiciários e Legislativos,
pág.267, ed.1985).

No caso em exame, o Recorrente creditou a todos os


poupadores os rendimentos determinados não só pela legislação aplicável a espécie, como
pelos seus órgãos fiscalizadores (Banco Central do Brasil e Conselho Monetário Nacional).
Em situação semelhante à presente, o Egrégio Superior
Tribunal de Justiça, decidindo sobre a constitucionalidade da “tablita”, do Plano Bresser,
assim se manifestou:

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Número do documento: 23112418135121600000408723090
“(...) se prejuízo houve ao autor, em relação da medida
governamental, de deliberava a respeito da inflação zero, contra o governo é que o autor
deve orientar os seus reclamos, posto que a instituição financeira, como outros, apenas
cumpriu a lei inerente à espécie.” (Trecho do acórdão proferido no Resp n. 3.683-SP, Rel.
Min. Athos Carneiro, RT 661/202)

No mesmo sentido, o Réu pede “vênia” para transcrever as


ementas do Colendo Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL – AGRAVO DE


INSTRUMENTO – CADERNETA DE POUPANÇA – PLANO COLLOR I – ILEGITIMIDADE
PASSIVA AD CAUSAM – PREQUESTIONAMENTO – AUSÊNCIA – SÚMULA 83/STJ.
I – Os dispositivos legais ditos violados não foram objeto de
deliberação por parte do aresto recorrido. Incidência da Súmula 211/STJ.
II – No período em que perdurou o bloqueio dos ativos
financeiros determinado pela Lei nº. 8.024/90, a instituição financeira depositária não
responde por eventuais diferenças de correção monetária incidentes sobre depósitos de
poupança, visto que ela perdeu, por força do ato de império, a total disponibilidade dos
saldos depositados, que foram compulsoriamente transferidos para o Banco Central, razão
pela qual não tem legitimidade para figurar no pólo passivo da presente relação
processual.
III – Aplicação do disposto na Súmula 83/STJ.
IV – Agravo Regimental desprovido.
(STJ – AgRg-AI 284.933 – SP – 3ª T. – Rel. Min. Waldemar
Zveiter – DJU 05.02.2001)

Em conseqüência, se algum direito tem os poupadores,


devem se voltar contra a UNIÃO FEDERAL e não contra os Bancos, por ser ela a
responsável pela edição da norma dos planos econômicos – Bresser, Verão, Collor I -
contra qual se insurgem.

Convoca-se a atenção do Juízo ainda, que de acordo com o


estabelecido no artigo 6º e seus parágrafos da Lei nº. 8.024/90, que cuida especificamente
da matéria em discussão, in verbis:

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“Os saldos das cadernetas de poupança serão convertidos em
cruzeiros na data do próximo rendimento, segundo a paridade estabelecida no parágrafo
2º do art. 1º, observado o limite de NCz$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzados novos).

Parágrafo 2º - As quantias mencionadas no parágrafo anterior


serão atualizadas monetariamente pela variação do BTN Fiscal, verificada entre a data do
próximo crédito de rendimentos e a data da conversão, acrescidas de juros equivalentes
a 6% (seis por cento) ao ano ou fração “pro rata”.

Parágrafo 3º - Os depósitos compulsórios e voluntários


mantidos junto ao Banco Central do Brasil, com recursos originários da captação de
caderneta de poupança, SERÃO CONVERTIDOS E AJUSTADOS CONFORME
REGULAMENTAÇÃO A SER BAIXADA PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL.” (grifamos)

Por força do dispositivo legal acima invocado, o Banco Central


do Brasil, no uso de suas atribuições estabelecidas pela Lei nº. 4.595/64 e em razão do
estatuído no artigo 2º da mencionada Lei nº. 8.024/90, que o autorizou a expedir regras
destinadas a adaptar as normas que regem o mercado financeiro às disposições desta Lei,
baixou a Circular 1599, de 18.03.90, normatizando a forma de transferência dos saldos
bloqueados.

Ao recorrente restou, unicamente, em razão da norma contida


no artigo 9º, parágrafo 1º da Medida Provisória 168/90 (Lei nº. 8.024/90) e do
estabelecido na Circular acima referida, a obrigação de transferir os saldos em cruzados
novos não convertidos ao Banco Central do Brasil, e o encargo de manter o controle gráfico
dos ativos financeiros transferidos, individualizados em nome do titular de cada operação.

Assim sendo, os saldos excedentes transferidos ao BACEN,


por força de determinação legal e levada a efeito de acordo com as normas do referido
Banco, depositado na conta VALORES À ORDEM DO BANCO CENTRAL (art. 2º, parágrafo
único, da Circular nº. 1602 de 18.02.90), passaram a ser corrigidos pela variação do BTN
Fiscal, mais juros de 6% ao ano ou fração pro rata (art. 5º, parágrafo 2º e art. 6º,
parágrafo 2º, da Lei 8024/90), e perderam a configuração legal e as características

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específicas dos depósitos em conta corrente e em poupança e o Banco demandado perdeu,
também, a condição de DEPOSITÁRIO deles.

Desta forma, o Apelante apenas cumpriu as normas


expedidas pelo BACEN, normas estas que está obrigado a obedecer, uma vez que,
por se tratar de instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional, está
subordinado àquela entidade governamental (artigos 10, VIII, IX, letra “a” e 18,
da Lei nº. 4.595/ 64), sendo por ela fiscalizado e podendo sofrer pesadas sanções
por descumprimento de qualquer ordem dela emanada, dentre elas, a cassação
da autorização para funcionar (art. 44 e incisos, da Lei nº. 4.595/64).

Ora, se o Banco Recorrente não é parte legítima para


promover o desbloqueio dos cruzados contratualmente a ele confiados em depósitos, como
pode, agora, se tornar legitimado para responder pela remuneração contratual deles, que
sequer tinha a disponibilidade? Os cruzados se encontravam no BACEN, indisponíveis ao
Réu, que, obviamente, não os aplicou e deles não auferiu qualquer renda, não se
locupletando em detrimento do Autor, não podendo, em conseqüência, ser acionado para
ressarcir os prejuízos porventura sofridos pelo Demandante.

A indisponibilidade dos cruzados bloqueados está patenteada


na Circular nº. 1868/90, no Comunicado nº. 2.275/91 e no Informativo 91.016596, todos
do Banco Central do Brasil.

Como a ruptura da relação contratual ocorreu sem culpa do


contestante, determinada que foi por “ato do príncipe”, o sujeito passivo desta ação, onde
se pleiteia diferenças das correções aplicadas às cadernetas pelos meses de março, abril
e maio de 1990, há de ser o seu causador - o fato da parte autora ter eventualmente
contratado com o Réu e não com o Banco Central do Brasil ou a União, não tem o condão
de colocá-lo no pólo passivo desta ação, pois não praticou o ato contra o qual se insurge
o poupador, e que lhe teria causado prejuízo, estando excluído da obrigação de ressarci-
lo, a teor do disposto no artigo 188 do Novo Código Civil.

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Número do documento: 23112418135121600000408723090
É princípio assente em doutrina ser o depósito bancário uma
modalidade contratual atípica, com as peculiaridades de que o percentual de juros e
correção monetária são fixados mês a mês, sempre ao final de cada período mensal, não
havendo que se falar em direito adquirido em relação a esse ou aquele percentual de
incidência, porquanto tais ganhos estão adstritos à inflação, oscilação do mercado
financeiro, etc., portanto, estando subjacente uma permanente condição suspensiva.
Ademais, o Governo Federal, por seu órgão competente, é quem fixa o percentual. E,
nessa avença atípica, ao depositante e depositário (Cliente e Banco) não é dada a mínima
faculdade de alvitrar rendimentos, que não a de aderir ao fixado pelo Governo.

Tanto mais que, à semelhança do que ocorreu com os valores


depositados em cadernetas de poupança, excedentes a NCz$ 50.000,00, bloqueados e
transferidos ao BACEN, e que perderam a configuração legal e as características
específicas dos depósitos em poupança, os ativos financeiros existentes na conta de
poupança da parte autora foram atualizados monetariamente pela variação do BTN Fiscal,
acrescida de juros equivalentes a 6% ao ano ou fração pro rata, consoante a lei vigente.

A correção monetária pode ser contratual (convencional) ou


legal. Na contratual, necessário se faz a prévia convenção das partes sobre a incidência
dela, convenção esta que deve ser expressa; a legal, como o próprio nome diz, é aquela
cuja aplicação é obrigatória, imposta pela lei.

Com o advento da Medida Provisória 168/90, convolada pela


Lei nº. 8.024/90, os saldos existentes em cadernetas de poupança e contas correntes,
superiores a NCz$ 50.000,00, foram transferidos para o Banco Central do Brasil, perdendo
as características legais que regem estes tipos de contratos, passando a ser atualizados
na forma prevista no artigo 5º, parágrafo 2º, e artigo 6º, parágrafo 2º, ficando o
Contestante, repita-se, por força da disposição contida no artigo 9º, parágrafo 1º, da
mencionada lei, APENAS com o encargo de manter o controle gráfico dos ativos financeiros
transferidos, individualizados em nome titular de cada operação, nada mais.

O Exmo. Sr. Ministro Ilmar Galvão, do Supremo Tribunal


Federal, no voto proferido no habeas corpus impetrado por Pedro Nabuco e outros, aborda
com muita propriedade o assunto em discussão, declarando que, verbis:

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“(...) é fora de dúvida que os depósitos bloqueados foram
retirados da administração das instituições financeiras em cujo poder se achavam,
passando para o Banco Central do Brasil. (...) afiguram-se inteiramente desarrazoados e
descabidos mandados judiciais como aqueles cujas cópias acompanham a inicial, dirigidos
aos administradores de agência bancárias, com ordem liminar de entrega imediata da
totalidade das quantias existentes em contas correntes, a ser cumprida sob pena de
requisição de força, de busca e apreensão, de arrombamento e de prisão. Cominações
dessa ordem, contra quem, sem poder da disposição sobre depósitos em referência, só
tem o dever, como se viu, de registrar e comunicar, ao Banco Central, para as providências
cabíveis, a ordem de conversão de cruzados novos em cruzeiros, constituem injusto
constrangimento à liberdade individual dos pacientes, que não pode subsistir.” (grifamos)

Em razão do comando legal contido no caput do artigo 9º,


parágrafo 1º da citada Lei 8024/90, a relação contratual em curso entre Banco e cliente
foi rompida, por força da intervenção do Poder do Estado, e essa intervenção, por ato de
autoridade, na relação jurídica bilateral, é superior à vontade das partes que a ela devem
se submeter.

Aliás, como ficou dito alhures, a aplicação financeira em


contrato bancário de caderneta de poupança sempre teve sua regulamentação ditada pelo
Governo Federal, por meio do Banco Central, e o depositante tinha e tem conhecimento
prévio do seu regramento jurídico, que consta do instrumento de abertura, e é regida, por
sua natureza, pelo princípio, segundo qual: o regime contratual pode ser alterado pela lei,
posto que as partes aceitam, no contrato, o regime legal estabelecido.

Assim sendo, o Banco, ao aplicar o índice contra o qual se


insurge o Autor, apenas cumpriu dispositivo de lei expresso, se comportando dentro dos
ditames da lei e do contrato, não podendo ser chamado para ressarcir prejuízo que, se
ocorreram, não lhes deu causa, não tendo, por isso mesmo, a obrigação de indenizar a
quem quer que seja; a modificação das regras no curso do contrato somente pode ser
devida e, por conseqüência, ao órgão legiferante, em última análise, à UNIÃO, jamais às
entidades financeiras do País, que em nada contribuíram para o fato narrado nestes autos.

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Em conseqüência, se a alteração do regime contratual,
imposta a ambos os contratantes de cadernetas de poupança, por lei e normas
administrativas federais, causou prejuízos aos depositantes, cabe-lhes agir contra o
Estado que, no exercício de seu poder, interveio rompendo a relação jurídica e alterando
regras anteriormente estabelecida.

O Professor José Cretella Junior aborda com muita


propriedade o assunto, declarando, verbis:

“Responde o Estado sempre por atos danosos causados quer


por lei inconstitucional, quer por lei constitucional.” (in O Estado e a Obrigação de
Indenizar, pág. 286 - grifamos).

A responsabilidade contratual do depositário pressupõe que,


além do dano causado, tenha havido culpa ou dolo, não respondendo nem pelo caso
fortuito, nem pela força maior, que abrangem o ato do príncipe, tanto mais que, como
visto, no depósito bancário não se aplica ao Banco o princípio res perit domino (os riscos
da coisa correm por conta do seu proprietário), no caso de apropriação dos recursos pelo
Poder Público.

Na hipótese em discussão não pode ser aplicado o que pleiteia


a parte autora, pois ausentes os requisitos essenciais para sua incidência, já que não
houve culpa, nem dolo do Réu, que apenas obedeceu a um ato do príncipe, contra o qual
não tinha condições e nem legitimidade para resistir, em virtude dos mecanismos de
pressão que o Banco Central do Brasil tem sobre o sistema financeiro nacional,
presumindo-se, assim, a constitucionalidade dos atos do Poder Público; muito menos, não
se pode alegar ter havido um enriquecimento ilícito ou sem causa por parte do ora
Contestante, pois como ficou demonstrado, a posse dos recursos foi transferida ao BACEN.

E mais, obedecer às normas legais vigentes no país não pode


ser considerado como ato culposo e, mesmo admitindo a possibilidade de se considerar

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inconstitucionais as normas dos chamados Planos “Collor I e II”, é preciso lembrar que a
sua inconstitucionalidade não foi, até agora reconhecida, nem pelo Supremo Tribunal
Federal e nem pela maioria dos Tribunais Federais.

É preciso lembrar, ainda, que o depositário não responde pelo


caso fortuito, nem pela força maior, mas que, para que lhe valha como escuso, deve
prová-los (art. 642 do Novo Código Civil), o que faz, no processo em curso, ao evidenciar
o ato do Governo, que transferiu, para terceiros, os recursos depositados, o que constitui
fato público e notório, que até dispensa prova (art. 334, I, do Código de Processo Civil).

As Leis nº. 8.024/90 e 8.177/91 não feriram o princípio da


irretroatividade e o da isonomia.

As citadas normas não atingiram imediatamente os contratos


cujo período mensal para a percepção dos rendimentos se encontrava em curso, dispôs a
Lei que as quantias que excederam o limite de NCz$ 50.000,00: “serão atualizadas
monetariamente pela variação do BTN Fiscal, verificada entre a data do próximo crédito
de rendimento e a data da conversão, acrescidas de juros equivalente a 6% (seis por
cento) ao ano ou fração pro rata (parágrafo 2º do artigo 6º)”, isso porque, após o próximo
crédito, os recursos foram transferidos para o Banco Central do Brasil.

Daí porque os investidores, cuja data base da poupança, no


mês de março, foi anterior a 14.03.90, tiveram preservado o seu direito à correção e juros,
perfazendo o total de 85,24%, creditado no primeiro aniversário, seguinte, que se deu em
abril de 1990 - foi o que ocorreu na hipótese em discussão.

De tudo isso, se conclui que a Lei dispensou tratamento igual


a todos os poupadores, na medida em que a transferência para o Banco Central do Brasil
só se deu, qualquer que fosse o aniversário da poupança, na data do próximo crédito de
rendimento, ou seja, não retroagiu, não atingiu os rendimentos relativos ao período

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anterior, nem os do período que já se encontravam em curso quando da edição do plano
governamental, logo, não há que se falar em ofensa a direito adquirido. Os efeitos da nova
lei se projetaram para o futuro.

É de se ressaltar, por oportuno, a legitimidade da alteração


do regime contratual por norma afeita à economia, que é de ordem pública e de natureza
cogente.

Esta, inclusive, tem sido a orientação do Superior Tribunal de


Justiça, verbis:

“Constitucionalidade dos decretos-lei sobre “finanças


públicas”, ao editarem normas com a intenção de obter a estabilidade econômica no país.
Normas de ordem pública, que implicam na derrogação das cláusulas de contratos em
curso.” (REsp. n. 3.683/SP - 90.0005754-0; j. 11.09.90, v.u. DJU 09.10.90 - grifamos)

Na mesma esteira os acórdãos proferidos nos Recursos


Especiais de nº. 2.595/SP (Bol. AASP nº. 1662, pág. 259), 5.015 e 3.931 (Bol. AASP nº.
1647, págs. 24 e 23), mantêm o mesmo posicionamento.

A questão já está pacificada no Egrégio Superior Tribunal de


Justiça, como se pode verificar da ementa do acórdão proferido no Recurso Especial nº.
40.516-5/SP., julgado pela sua SEGUNDA SEÇÃO, que vai abaixo transcrita, verbis:

“AÇÃO DE COBRANÇA. CADERNETA DE POUPANÇA.


ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. LEI Nº. 8.024/90. Em decorrência da
transferência de titularidade dos ativos financeiros para o Banco Central, imposta pela
Lei nº 8.024/90, desapareceu o objeto do contrato de depósito por força do ato de
império, não se podendo exigir do depositário a atribuição de ressarcir qualquer prejuízo

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do depositante. Assim não pode figurar no polo passivo da relação processual o agente
financeiro depositário dos valores cuja diferença se postula. Recurso conhecido e
provido.” (in JSTJ 67/146)

Alinhada a esse entendimento, a Egrégia Quarta Turma do


Tribunal Regional Federal da Terceira Região, no acórdão proferido na apelação cível nº.
255.273, acolheu e proveu o recurso do ora Contestante, declarando que as instituições
financeiras não ficaram com a disponibilidade do numerário retido por força do bloqueio,
nos termos do disposto no artigo 17, da Lei nº. 8.024/90, e que o Estado, por meio do
Banco Central do Brasil, é responsável pelo ressarcimento do dano suportado pelos
poupadores, em geral.

A Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região,


ao apreciar a Apelação Cível nº. 92.02.18826-2/RJ, da qual foi relator o Desembargador
Federal Ney Valadares, ficou decido que, verbis:

“Também se nos afigura pacífica a ilegitimidade passiva ad


causam da instituição financeira depositária, porque esta transferiu os cruzados novos ao
BANCO CENTRAL DO BRASIL, mantendo, apenas, por determinação legal, um cadastro
das contas dos antigos depositantes para facilitar sua devolução.” (grifamos)

Corroborando ainda mais o entendimento acima, o


Contestante traz à colação, recentes Acórdãos da lavra do E. STJ, julgando diversos
Recursos Especiais, onde, por unanimidade, reconhecem os Ministros que SOMENTE O
BACEN É O RESPONSÁVEL PELOS REAJUSTES dos saldos que lhe foram transferidos, ou
seja, o BACEN É PARTE LEGÍTIMA PASSIVA AD CAUSAM – REsp 231.935/SP, 242.082/SP
e 251.807/DF. (DOC. 02)

Diante de todo o exposto, o reconhecimento da ilegitimidade


de parte do Contestante se impõe, devendo ser extinto o processo, sem resolução do
mérito, sob pena de:

A - ser negada vigência ao disposto no artigo 3o, do Código

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de Processo Civil, deixando-se de reconhecer a eficácia da norma nele contida, segundo
a qual, para propor ou contestar a ação é preciso ter legitimidade.
Assim, como a parte autora deve estar legitimado para agir
em relação ao objeto da demanda, o Réu deverá ser aquele que, por força da ordem
jurídica material, suportará os efeitos e as conseqüências da ação. Não é o que decorre
no caso sub judice.

B - ser negada vigência, ainda, ao disposto no artigo 267,


VI, do Código de Processo Civil, que estabelece seja decretada a extinção do processo,
sem o resolução do mérito, quando ausente uma das condições da ação, como a falta de
legitimação para integrar o pólo passivo da demanda.
O Dr. E. D. Moniz Aragão, quando trata da legitimidade de
parte como sendo uma das condições da ação, cita Libeman, para declarar que

“(...) é a pertinência da ação aquele que a propõe e em


confronto com a outra parte.” (Comentários ao Código de Processo Civil, Vol. II, Forense,
4a Ed., pág. 528).

De acordo com o Dr. E. D. Moniz de Aragão, continuando a


discorrer sobre a legitimidade de parte:

“Este requisito concerne às duas partes, ou seja, não respeita


apenas à pessoa do autor, mas também à do Réu. Não basta, portanto, afirmar que a
legitimidade corresponde à “titularidade na pessoa que propõe a demanda” pois é
indispensável que também o Réu seja legitimado para a causa”. (ob. Cit. Pág. 528)

De tudo isso se depreende que o Contestante não tem


legitimação para agir, já que não existe interesse algum do Autor, configurando suas
pretensões posta em Juízo, com relação ao Réu. O Banco Contestante não é titular de
interesse em conflito. Falta a sua vinculação com a controvérsia que forma o objeto do
processo.

C - de ser negada vigência da norma contida no artigo 160,


inciso I, do Código Civil (Lei nº. 3.071/16), que estabelece não constituir ato ilícito

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aqueles praticados no exercício regular de um direito reconhecido. O Réu praticou os atos
narrados na inicial escudado em disposição de lei, lei essa cuja inconstitucionalidade
sequer foi reconhecida pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, não podendo ser apenado
por isso.

D - contrariar disposições contidas nos artigos 21, inciso


VIII e 22, incisos VI, VII e XIX da Constituição Federal, que estabelecem ser da
competência da União Federal legislar sobre o Sistema Financeiro e política de crédito, e
contrariar, ainda, o estabelecido no artigo 48, inciso XIII, da Carta Magna, que atribui
ao Congresso Nacional competência para tratar da matéria monetária;

E - contrariar disposição contida no artigo 37, parágrafo


6 , da Constituição Federal, que estatuiu que as pessoas jurídicas de direito público
o

respondem pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.

F - dar interpretação diversa daquelas que foram


proferidas por outros Tribunais, que reconhecem como sendo do Governo a
responsabilidade de indenizar os prejuízos advindos das medidas por ele baixadas, já que
as instituições financeiras apenas cumpriram a lei inerente à espécie.
Por tudo isso, se torna imperiosa a decretação da
ilegitimidade de parte do Contestante para figurar no pólo passivo desta ação, e assim
espera ser reconhecido por esse D. Juízo, com o acolhimento desta preliminar, com a
conseqüente extinção do processo, sem resolução do mérito, evitando-se, desta
forma, sejam vulneradas as normas contidas nos artigos aqui referidos, inclusive no
entendimento emanado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, que já se pronunciou
sobre a questão, nos termos dos acórdãos mencionados nesta contestação.

DA ILIQUIDEZ DO PEDIDO

Outra questão prévia ao mérito faz-se urgente, que é a


referente a liqüidez e a certeza do pretendido pela parte. Em breve síntese a Parte
Recorrida requer a condenação do acionado na correção da contas poupanças de sua

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titularidade em patamar que considera de correto, por conta do descumprimento do direito
adquirido e aplicação de índice diverso do cabível.

Contudo, formula pleito longe do quanto determinado pela lei,


haja vista, não respeitar a certeza e liquidez que sua pretensão deve apresentar.

Irreal, portanto, compreender o instituto desta maneira.

Enfim, tendo em mente o pedido autoral nos termos aqui


indicados percebe-se a iliquidez do bem da vida pretendido, então, impossível de
conhecimento por este MM. Juiz.

Até mesmo já existe pacificado na jurisprudência do Tribunal


de Justiça do Estado da Bahia, o entendimento que veda a prática da conduta perpetrada
pela parte Recorrida, o aduzimento de pedido ilíquido.

Dentro desta seara verifica-se que a parte Recorrida não pode


ventilar pedido de tal forma, já que a ilegalidade é expressa, sendo impassível de
deferimento.

Ilíquido é o pleito que foge da certeza e da exata identificação


do objeto, portanto, existe dever processual descumprido pela parte Recorrida, qual seja,
o de informar sobre a exata extensão e caracterização do quanto pretendido, no caso em
tela, inexiste indicação clara de quanto é exigido, de quanto entende ser a dimensão de
seu crédito.

Enfim, de acordo com o quanto argumentado, e de acordo


com a legislação e doutrina resta patente a iliquidez e incerteza resultante no julgamento
desfavorável a parte Recorrida, devendo haver reforma da sentença proferida.

DA IMPOSSIBILIDADE JURIDICA DOS PEDIDOS EM FACE DA QUITAÇÃO.

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A parte Recorrida deverá também ser havida por carecedora
do direito de ação, haja vista a impossibilidade jurídica dos pedidos formulados, devendo
ser extinto o processo sem o julgamento do mérito.

Com efeito, a parte Recorrida reclama junto ao Recorrente


com relação ao índice de correção monetária aplicado na sua conta de poupança por
ocasião dos chamados Planos Econômicos (Verão e Collor I e II), não podendo, sequer, à
vista da publicidade dada à matéria, alegar desconhecimento do fato, e nem mesmo
ignorar as leis, diante do disposto no artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil .

Além da ausência de protesto ou de ressalva em relação aos


valores creditados, a parte demandante, se efetivamente conta e saldo havia no período,
continuou a movimentar sua conta de poupança normalmente, fazendo depósitos e
retiradas parciais ou totais, em atitude absolutamente incompatível com o inconformismo
demonstrado sobre os créditos ora impugnados, demonstração essa manifestada depois
de decorridos quase 20 (vinte) longos anos.

Diante do silêncio da parte Recorrida, se deu a quitação tácita,


própria das operações entre o Banco e o cliente. Tal quitação se operou de direito, uma
vez que sua validade é reconhecida, independentemente de sua forma, de acordo com o
estabelecido no artigo 472, 323 e 320 do Novo Código Civil.

Os lançamentos feitos na conta de poupança da parte


Recorrida, não impugnados à época (1989, 1990 e 1991), fizeram presunção de
pagamento, importando em quitação, e exoneraram o contestante da obrigação almejada,
especialmente em se tratando de dívida de dinheiro, como no caso em discussão. Em
sentido idêntico à tese aqui exposta, disposições contidas no artigo 322 do Novo Código
Civil, segundo o qual, no pagamento em quotas periódicas a quitação da última faz
presumir o pagamento das anteriores, e naquelas do artigo 323, do mesmo Diploma legal,
em que se presume o pagamento dos juros se na quitação do principal não se fez reservas.

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O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar questão
em que o credor recebeu o valor inserido na duplicata, sem incidência de correção
monetária, não fazendo qualquer ressalva quanto a este ponto e que, posteriormente,
ingressou em Juízo para cobrar essa diferença, negou provimento ao recurso do credor,
recebendo a ementa do v. Acórdão a seguinte redação, verbis:

Quitação dada pelo credor. Ausência de ressalva.


Presunção de que quitado integralmente o débito.” (REsp. no. 37.475-8/SP, 3ª
Turma do STJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro

No voto proferido pelo Exmo. Sr. Ministro Relator EDUARDO


RIBEIRO, no recurso acima citado, acompanhado pelos Exmos. Srs. Ministros WALDEMAR
ZVEITER, CLÁUDIO SANTOS, COSTA LEITE e NILSON NAVES, ficou consignado que,
embora possa ter havido algum prejuízo para o recorrente em razão da inflação, a rejeição
do pedido se impunha porque, verbis:

Trata-se, porém de direito disponível e, recebendo


como o fez, aquiesceu, ainda que tacitamente, em ser pago como o foi. Decidir-
se em contrário atenta contra a segurança que devem ter os atos jurídicos”

Tal julgado conduz à conclusão de que a quitação ocorreu no


caso presente, ficando os Bancos exonerados de responsabilidade perante aos seus
poupadores, que não podem agora vir a Juízo para cobrar valores já quitados.

Além disso, a quitação tem por efeito a total liberação do


devedor, nada podendo ser cobrado dele, a não ser se dita quitação foi anteriormente
anulada ou declarada nula por ato judicial, que não é o caso.

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Não se trata de caso de nulidade, posto que as partes são
capazes, e o objeto e a forma são lícitos (artigo 145 do Novo Código Civil), só restando a
parte autora pleitear a anulação da quitação com base em erro, o que não houve.

Acontece, porém, no caso em exame, que não poderia ser


alegado erro, à vista do conhecimento por todos sobre os diversos índices inflacionários e
suas variações decorrentes de normas legais, tocando a cada uma das partes envolvidas
proteger os seus direitos com a diligência necessária. O erro, se invocado, seria
absolutamente inescusável e, em conseqüência, incapaz de afetar a validade da quitação
regularmente outorgada.

E mais, o erro para ser alegado como vício, capaz de acarretar


a anulabilidade do ato, deve ser o erro de fato desculpável, não pode ser nem de direito,
em hipótese alguma, e nem de fato, quando grosseiro ou evitável, com um mínimo de
atenção ou prudência. Além disso, o prazo decadencial para anulação de ato por vício de
vontade é de quatro anos (Novo Código Civil, artigo 178, II), prazo esse já ultrapassado.

O ato anulável, até sua desconstituição em juízo, produz


plenamente seus efeitos, conforme estabelece o artigo 177 do Novo Código Civil. Se a
quitação tem por efeito a exoneração do credor, tal efeito deve persistir enquanto ela não
for anulada.

Em conseqüência, como não houve o requerimento de


anulação da quitação, antecedente essencial para posterior pretensão de cunho
condenatório, a carência da ação no caso em tela se impõe, à vista da impossibilidade
jurídica do pedido, e assim já entendeu o Egrégio 2º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo,
no recurso de Apelação nº. 140.378-SP, dando por inviável o prosseguimento da ação, e
decretando a extinção do processo, pedindo vênia o Contestante para transcrever parte
do acórdão, que diz, verbis:

“A quitação reconhece o adimplemento da obrigação. A


obrigação se define na satisfação de um quantum aprioristicamente
determinado. Nesse sentido, a quitação tem caráter constitutivo, no sentido de extinguir

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a obrigação a que ela se refere. Não se trata de um ato meramente declaratório, restritivo
a um valor, desprezada a obrigação que representa. Ora, dada a natureza constitutiva da
quitação, improvada pelo credor qualquer restrição à obrigação; extinta esta,
implicitamente, arredou-se a possibilidade de se rever a própria obrigação, já extinta. Na
verdade, o que se deu foi a execução voluntária da obrigação, tal como contratada. Assim
agindo, as partes renunciaram às ações que, porventura, dessa obrigação, pudessem
dispor (art. 151 do CC).” (RT560/154 - grifamos)

Diante do exposto, uma vez exonerado o Recorrente da


obrigação decorrente da avença contratada com a parte Recorrida, à vista da quitação, a
impossibilidade jurídica do pedido deve ser reconhecida com a decretação da extinção do
processo sem julgamento do mérito, sob pena de ser negada vigência a disposição de lei
expressa, contida no artigo 267, VI do Código de Processo Civil.

DO MÉRITO

Ad argumentandum, e apenas por cautela, na remota


hipótese de não serem acolhidas as preliminares retro argüidas, de qualquer forma, no
mérito, a presente ação não pode prosperar, devendo ser julgada totalmente
improcedente, pelo que adiante se demonstrará.

DA PRESCRIÇÃO – CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS REMUNERATÓRIOS

A prescrição vem a ser medida de política jurídica, ditada no


interesse da harmonia social. Segundo Frederico Von Savigny, o fundamento da prescrição
reside na necessidade de serem fixadas as relações jurídicas certas, suscetíveis de dúvidas
e controvérsias, encerrando-se a incerteza em determinado lapso de tempo. Ora, já que
a prescrição se funda no interesse social da segurança jurídica, é incontestável sua
natureza de instituto de ordem pública.

Somente a lei pode declarar um direito imprescritível. Um


direito prescritível não pode transformar-se, mediante um contrato, em direito

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imprescritível.

A parte Autora pretende com essa ação haver do Réu a


diferença existente entre os índices relativos ao mês de janeiro e fevereiro de 1989,
março de 1990 e em janeiro de 1991 e aqueles aplicados para corrigir os seus ativos
financeiros depositados em suas contas de poupança no mesmo período.

DA PRESCRIÇÃO DO CÓDIGO COMERCIAL

De acordo com o disposto no artigo 445, do Código


Comercial (Lei nº. 556/1.850), o prazo de prescrição para cobrança de dívidas
"provadas por contas correntes dadas e aceitas" é de quatro anos. A alegada
dívida, objeto dessa demanda, decorre de contratos de poupança, provadas por conta
corrente, e como já se passaram mais de 10(dez) anos da sua possível origem, incide, na
hipótese, a prescrição prevista em mencionado artigo, estando o eventual crédito pleiteado
pela Parte Recorrida prescrito desde julho de 1991, fevereiro de 1993 e março de 1994,
respectivamente.

Aplica-se, também, ao caso em tela, o disposto no artigo 178,


parágrafo 10º, III, do Código Civil (Lei nº. 3.071/16), que estatui que "os juros ou
quaisquer outras prestações acessórias pagáveis anualmente, ou em período mais curtos"
prescrevem em cinco anos. A correção monetária pode ser equiparada, por analogia, aos
juros, para o fim de prescrição, já que não se falava em atualização monetária à época da
promulgação do Código Civil (1916), como se enquadra, também, por analogia, no caso
de "outras prestações acessórias", mencionadas no artigo supra citado. Em assim sendo,
a partir de julho de 1992, janeiro e fevereiro de 1994 e março de 1995, respectivamente,
o prazo prescricional de cinco anos transcorreu.
Ao examinar questão idêntica, o Colendo Superior Tribunal
de Justiça, nos autos do Recurso Especial nº. 86.471/RS (Reg. 96 46166), em que
foi relator o Exmo. Sr. Dr. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, assim se manifestou:

“...Diversamente ocorre com os juros, prestação


acessória, cuja ação de cobrança prescreve em cinco anos, quanto às prestações
vencidas antes disso.”

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A cobrança pretendida pela Parte Recorrida, de eventuais
diferenças dos valores então depositados em suas contas de poupança, levada a efeito
após quatro e cinco anos do recebimento deles, foi alcançada pela prescrição, o que
a inviabiliza, devendo ser essa prescrição reconhecida por esse douto Juízo, com a
decretação de extinção do processo, com resolução do mérito, conforme previsto no
artigo 269, inciso IV, do Código de Processo Civil.

DA PRESCRIÇÃO DA LEI 10.406/02 – CÓDIGO CIVIL VIGENTE.

Caso não seja reconhecida a prescrição ora argüida, o que se


diz apenas a título de argumentação, deverá ser decretada a prescrição de acordo com o
disposto no art. 205 da Lei 10.406/02, segundo o qual o prazo prescricional quando a
lei não lhe haja fixado prazo menor ocorre em 10 (dez) anos.

Portanto, a cobrança pretendida pela Recorrida, de eventual


diferença do valor então depositado em sua conta de poupança, levada a efeito após 10
(dez) anos do recebimento dele, foi alcançada pela prescrição, o que a inviabilizava,
devendo ser essa prescrição reconhecida por esse d. Juízo, com a decretação da
extinção do processo, com o julgamento do mérito, conforme previsto no artigo 269,
IV, do C.P.C.

Aplica-se, também, ao caso em tela, o disposto no artigo


206, § 3º, III, do Código Civil (Lei nº. 10.406/02), que estatui que “a pretensão
para haver juros, dividendos, ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em
períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;” prescrevem em
03 (três) anos.

Deste modo, do valor total eventualmente encontrado nos


cálculos da parte Recorrida, deverão ser abatidos os juros remuneratórios já prescritos, o
que se requer.

PRESCRIÇÃO – ART. 27 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

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Por outro lado, há de salientar a possibilidade de
reconhecimento pelo Douto Magistrado da existência de relação jurídica de consumo entre
as partes, já que é Egrégio Tribunal Federal 1 em ação direta de inconstitucionalidade
ajuizada pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro – CONSIF 2
contra a expressão
constante do § 2º do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor reconheceu por maioria
que no conceito de serviço abrangido pelas relações de consumo, inclui as atividades de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária Lei 8.078/90:

Art. 3º
... § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado
de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Nesse sentido, há de se considerar que assim como o Código


Civil de 1916, o Código de Defesa do Consumidor este em vigência, em seu art. 27 também
dispõe que o prazo para requerer a pretensão à reparação é de cinco anos, encontrando-
se também sob a égide desta lei, prescrita pretensão do Autor.
Com efeito, o prazo prescricional para reaver os expurgos
inflacionários referentes aos Planos Bresser (junho de 1987), seja pela legislação civil,
seja pela Lei Consumerista é de cinco anos.

Assim sendo, verifica-se que a pretensão deduzida nessa


demanda foi atingida irremediavelmente pela prescrição, pelo que requer a extinção do
feito com fundamento no art. 269, inciso IV do Código de Processo Civil.

DO PLANO VERÃO

Não obstante estar totalmente prescrita a pretensão da


parte Autora em pleitear perdas do Plano Verao, no mérito, ad cautelam, vem o Banco

1
Ver informativos do STF nº 264, 417,425 e 430.
2
ADI 2522/DF, rel. Min. Eros Grau, 8.6.2006. (ADI-2522)

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Réu contestar a presente, na forma que se segue:

Pleiteia a parte Autora a atualização monetária de 42,72% de


remuneração, referente ao mês de janeiro e fevereiro de 1989 (Plano Verão), porém,
razão alguma lhe assiste, não podendo tal pedido ser acolhido, como será demonstrado.
Inicialmente há de esclarecer que não se trata, no caso, da
diferença de 42,72%, já que este foi o índice que deveria ter sido aplicado.

Inicialmente há de esclarecer que não se trata, no caso, da


diferença de 42,72%, já que este foi o índice que deveria ter sido aplicado.
Trata-se sim da diferença entre este (42,72%) e o
efetivamente aplicado nas contas de poupança, que foi de 22,97%. Portanto, a efetiva
diferença que deverá ser questionada nos autos, se assim fizer jus a parte Autora, será
de 19,75%.

Na verdade, a questão era objeto de discussão anteriormente,


quando se falava em aplicação do percentual de 70,28% de correção do período.
Ultrapassados os devidos esclarecimentos, necessário dizer
que antes da implantação do Plano Verão, em janeiro de 1989, a disciplina legal que regia
a matéria em discussão era a contida no artigo 12, do Decreto-Lei n° 2.284/86, com as
alterações feitas pelo Decreto-Lei n° 2.290/86 e Decreto-Lei n° 2.311/86.

No uso de suas atribuições de poder normativo, contida no


caput do referido artigo 12, o Conselho Monetário Nacional fez expedir a Resolução n°
1.338/87, que no seu item IV determinou que, a partir de agosto de 1987, os saldos das
contas de poupança passassem a ser atualizados pelos rendimentos das LBC's, deduzindo
o percentual de 0,5%, ou pela variação nominal das OTN's, prevalecendo a correção maior.

Posteriormente, em 22/09/87, foi expedida a Resolução n°


1.396, alterando a de n° 1.338/87, ambas do Banco Central do Brasil, estabelecendo
que a atualização dos saldos da poupança, a partir de novembro/87, seria feita pela
variação da OTN.

Estas regras prevaleceram até o advento da Medida Provisória

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n° 32, de 15 de janeiro de 1989, convertida na Lei 7.730/89, determinando que os saldos
das contas referidas em fevereiro de 1989, fossem atualizados pelo rendimento acumulado
da Letra Financeira do Tesouro Nacional, verificada em janeiro de 1989, deduzido 0,5%.

A única mudança que ocorreu foi relativa à atualização que,


em vez de acompanhar a variação da OTN na forma prevista na citada Resolução n°
1.396/87, do BACEN, passou a ser feita pelo rendimento acumulado da Letra Financeira
do Tesouro Nacional que, de forma incontroversa, foi mais favorável aos poupadores do
que a eventual adoção do índice de correção até então em vigor, pois os rendimentos
daquela foram superiores e geraram créditos matematicamente mais elevados nas contas
de poupança da parte Recorrida.

Em caso semelhante ao ora discutido, a Egrégia Quinta


Câmara de Férias “C” do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, nos embargos
infringentes nº. 166.913-1/4-01/SP, sendo embargante o Contestante e embargado,
Roberto Rodrigues Ferreira, embargos esses recebidos por maioria de votos, decidiu que,
verbis:

“Não se nega que os contratos de caderneta de poupança,


celebrados entre os litigantes, foram pactuados sob a regência do decreto-lei n° 2.311/86,
cujo art. 2° estabelecia que o índice de correção monetária a ser utilizado seria o
correspondente ao Índice de Preços ao Consumidor - IPC. Posteriormente, outros índices
vieram a ser adotados.

Sucede, porém, que essa relação obrigacional estava


subordinada à regência normativa de ordem legal e as diretrizes administrativas,
emanadas das autoridades financeiras do País, sujeitando-se à variação de
tratamento que a matéria comporta, por sua própria natureza, que envolve efeitos que se
desdobram no futuro.

Os preceitos que regulam essa atividade bancária, em relação


aos depositantes, são de ordem pública e contam com eficácia imediata, incidindo sobre
os contratos pendentes.

Bem por isso, não há falar em direito adquirido


assegurado ao poupador, que não conta, por sinal, com direito ao cômputo de índice

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correspondente à inflação real, no período, senão aos fatores de indexação fornecidos
pelas autoridades financeiras.

Nem há falar em expurgo inflacionário.

É da própria natureza do contrato de poupança, que se


reveste desse risco aleatório, na aplicação do capital, a subordinação aos critérios
oficiais nem sempre justos, mas de observância indeclinável, no sistema econômico
vigente no País.

Limitou-se o Banco embargante a cumprir as


determinações legais e as normas administrativas, cuja inconstitucionalidade
não ficou evidenciada nos autos, não agindo culposamente.

Aliás, para efeito indenizatório, a exigência do elemento


subjetivo da culpa seria de rigor, mas o autor ora embargado não especificou a
ocorrência a esse título, na inicial, nada justificando a imputação de procedimento culposo
ao Banco recorrido, que, verdadeiramente, inexistiu no caso vertente.

A remuneração do capital do embargado, pela inflação


real do período, não fora ajustada entre as partes, tampouco veio a ser objeto de
previsão normativa, e a indenização pretendida, a rigor, não passa de cobrança indevida
da diferença monetária, no período aludido na inicial.” (grifamos)

Nota-se que em toda sua petição inicial, a parte Recorrida se


insurge contra tais atos normativos e não contra ato independente e autônomo praticado
pelo Recorrente, valendo ressaltar que referidas normas são válidas e só perdem essa
condição se declaradas inconstitucionais pelo Poder Judiciário,

Ao remunerar as contas de poupança da parte Recorrida, o


Recorrente só fez cumprir as determinações emanadas do Poder Público, respeitando,
como deve ser respeitado, o sistema legal vigente.

E ressalte-se, por oportuno, que o depósito bancário, no dizer


da doutrina, é modalidade atípica de contrato. Com efeito, nem o Banco (depositário)
nem o cliente (depositante) têm a faculdade de contratar de livre alvitre, mas apenas
aderem às regras financeiras, editadas pela União Federal.

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Nesse passo, em se tratando de poupança, os rendimentos
(correção monetária e juros) são creditados mês a mês, na data de abertura da conta
(aniversário). No interregno de uma data à outra, tais rendimentos ficam condicionados
(condição suspensiva) à inflação constatada no período mensal, quando consubstancia-se
o direito líquido e certo.

O percentual pleiteado não é devido, porém, caso esse d.


Juízo entenda de forma diversa, o que se diz apenas a título de argumentação, a questão
precisa ser examinada sob dois aspectos, e que foi inclusive reconhecido pela própria
parte Recorrida, a saber: O PRIMEIRO, REFERENTE ÀS CONTAS DE POUPANÇA COM
DATAS-BASE ENTRE 1° A 15 DE JANEIRO; E O SEGUNDO, RELATIVO ÀQUELAS COM
DATAS-BASE ENTRE 16 A 31 DE JANEIRO/89.
Apenas para recordar, e como bem já reconheceu a própria
parte Recorrida, com relação às contas de poupança cujo trintídio se completava entre
1º a 15 de fevereiro, não é devida a diferença do índice de 70,28%, já que este índice
foi calculado com base em um período de análise de 51 dias e não de duas quinzenas,
refletindo, em conseqüência, uma inflação distorcida, devendo ser expurgado dele os 21
dias apurados a mais.

Assim sendo, não há que se falar em aplicação do índice de


70,28% sobre os saldos existentes na conta de poupança com data-base entre 1º a
15 de janeiro de 1989, pois deixaria de ser levada em consideração que este percentual
corresponde a um período de análise de 51 dias, dando assim interpretação diversa
daquelas que foram proferidas por outros Tribunais, em especial a do Egrégio Superior
Tribunal de Justiça, cujo acórdão foi parcialmente transcrito. E, sabe-se, que apesar da
discussão ter sido posta no percentual de 42,72%, o índice a ser aplicado é de 19,75%,
já que abatidos os na época remunerados, do percentual de 22,97%.

DAS CONTAS DE POUPANÇA COM DATAS - BASE ENTRE 16 A 31 DE JANEIRO

Quanto às contas de poupança cujo trintídio se completava


a partir de 16 de fevereiro em diante, não é devida a diferença do suposto índice,
uma vez que a lei que vigia no momento do início do novo período de trinta dias,
trintídio era a Medida Provisória 32/89, posteriormente convertida na Lei n°

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7.730/89, e que determinou, em seu artigo 17 e incisos, que os saldos existentes nas
contas de poupança fossem atualizados, para fevereiro de 1989, pelo rendimento
acumulado da Letra Financeira do Tesouro Nacional, verificada em janeiro de 1989,
deduzido 0,5%.
A questão discutida foi bem elucidada no acórdão proferido
pelo E. STJ, no Recurso Especial n° 26.864-7-RS, cujo Relator foi o Exm° Sr. Ministro
Sálvio de Figueiredo, que diz o seguinte:

“O momento formador do vínculo jurídico é o da


abertura da conta e o de sua renovação automática, - mês a mês - visto que esta
é a modalidade peculiar segundo a natureza do contrato. Daí porque a execução
do mesmo, para todo o período, rege-se pela lei do dia de abertura ou renovação
da conta.” (Recurso Especial n° 26.864-7-RS, STJ, 2ª Seção, 4ª Turma, DJU de 30.11.92
- grifamos)

Por conseguinte, às contas da parte Recorrida com datas-base


com início entre 16 a 31 de janeiro de 1989, aplica-se, de imediato, a Medida Provisória
32/89 (Lei nº. 7.730/89), com vigência a partir do dia 16 do mesmo mês.

O entendimento sobre a aplicação do artigo 17, da Lei n°


7.730/89 às contas de poupança com período mensal iniciado a partir de 16 de janeiro,
inclusive, já está pacificado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, pedindo vênia o
réu para transcrever parte do acórdão proferido pela sua Quarta Turma, no Recurso
Especial n° 29771-4-RS, que declara que:

“No mérito, porém, assiste razão ao recorrente,


porquanto as cadernetas com trintídio nos dias 16, 23, 24 e 27 de janeiro de
1989, aplica-se, de imediato, a M.P. 32, com vigência a partir do dia 16 daquele
mês.” (grifamos)

Na mesma esteira, acórdãos proferidos pelas duas C. Turmas


do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, competentes para apreciar e julgar a matéria

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Número do documento: 23112418135121600000408723090
em exame, prolatados nos Recursos Especiais nºs 26.864, 26.959 e 17.009, e no
Agravo Regimental nº. 21.525, todos mencionados no Recurso Especial nº. 24.557-
0/RS, acompanham àquele entendimento.

Além de todo o acima alegado, é preciso ressaltar, também,


que antes de se completar o ciclo de trinta dias (trintídio) para efetivação dos
depósitos relativos aos rendimentos do período, a parte Recorrida tinha uma mera
expectativa de direito, uma vez que a eficácia do ato (aqui compreendido como sendo
o depósito da atualização monetária e dos juros) estava subordinada a uma condição,
que era o término do já mencionado ciclo de trinta dias, não se podendo falar em direito
adquirido quando em curso esse período, a teor do disposto no artigo 118, do Código Civil.
Desta forma, não se pode falar em direito adquirido da
Recorrida e, muito menos, que ela foi ofendida com a retroatividade da lei nova,
retroatividade que não ocorreu, já que as leis de ordem pública, e de caráter econômico,
têm aplicação imediata, e se assim não for entendido, o que diz apenas a título de
argumentação, deixará de se reconhecer, também, eficácia à norma contida no artigo
118, do Código Civil, segundo a qual:

“Art. 118. Subordinando-se a eficácia do ato à condição


suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que
ele visa.” (grifamos)

Assim, resta completamente impugnado o pedido da


Recorrida, por ser desprovido de veracidade e fundamentação fática e jurídica.

DAS CONTAS DE POUPANÇA COM DATAS - BASE ENTRE 16 A 31 DE JANEIRO

Quanto às contas de poupança cujo trintídio se completava a


partir de 16 de fevereiro em diante, não é devida a diferença do suposto índice,
uma vez que a lei que vigia no momento do início do novo período de trinta dias,
trintídio era a Medida Provisória 32/89, posteriormente convertida na Lei n°
7.730/89, e que determinou, em seu artigo 17 e incisos, que os saldos existentes nas

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contas de poupança fossem atualizados, para fevereiro de 1989, pelo rendimento
acumulado da Letra Financeira do Tesouro Nacional, verificada em janeiro de 1989,
deduzido 0,5%.

A questão discutida foi bem elucidada no acórdão proferido


pelo E. STJ, no Recurso Especial n° 26.864-7-RS, cujo Relator foi o Exm° Sr. Ministro
Sálvio de Figueiredo, que diz o seguinte:

“O momento formador do vínculo jurídico é o da


abertura da conta e o de sua renovação automática, - mês a mês - visto que esta
é a modalidade peculiar segundo a natureza do contrato. Daí porque a execução
do mesmo, para todo o período, rege-se pela lei do dia de abertura ou renovação
da conta.” (Recurso Especial n° 26.864-7-RS, STJ, 2ª Seção, 4ª Turma, DJU de 30.11.92
- grifamos)

Por conseguinte, às contas do Autor com datas-base com início


entre 16 a 31 de janeiro de 1989, aplica-se, de imediato, a Medida Provisória 32/89 (Lei
nº. 7.730/89), com vigência a partir do dia 16 do mesmo mês.

O entendimento sobre a aplicação do artigo 17, da Lei n°


7.730/89 às contas de poupança com período mensal iniciado a partir de 16 de janeiro,
inclusive, já está pacificado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, pedindo vênia o
réu para transcrever parte do acórdão proferido pela sua Quarta Turma, no Recurso
Especial n° 29771-4-RS, que declara que:

“No mérito, porém, assiste razão ao recorrente,


porquanto as cadernetas com trintídio nos dias 16, 23, 24 e 27 de janeiro de
1989, aplica-se, de imediato, a M.P. 32, com vigência a partir do dia 16 daquele
mês.” (grifamos)

Na mesma esteira, acórdãos proferidos pelas duas C. Turmas


do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, competentes para apreciar e julgar a matéria

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em exame, prolatados nos Recursos Especiais nº. 26.864, 26.959 e 17.009, e no
Agravo Regimental nº. 21.525, todos mencionados no Recurso Especial nº. 24.557-
0/RS, acompanham àquele entendimento.

Além de todo o acima alegado, é preciso ressaltar, também,


que antes de se completar o ciclo de trinta dias (trintídio) para efetivação dos
depósitos relativos aos rendimentos do período, o Autor tinha uma mera expectativa de
direito, uma vez que a eficácia do ato (aqui compreendido como sendo o depósito da
atualização monetária e dos juros) estava subordinada a uma condição, que era o
término do já mencionado ciclo de trinta dias, não se podendo falar em direito adquirido
quando em curso esse período, a teor do disposto no artigo 118, do Código Civil.
Desta forma, não se pode falar em direito adquirido do Autor
e, muito menos, que ele foi ofendido com a retroatividade da lei nova, retroatividade que
não ocorreu, já que as leis de ordem pública, e de caráter econômico, têm aplicação
imediata, e se assim não for entendido, o que diz apenas a título de argumentação,
deixará de se reconhecer, também, eficácia à norma contida no artigo 118, do Código
Civil, segundo a qual:

“Art. 118. Subordinando-se a eficácia do ato à condição


suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que
ele visa.” (grifamos)

Assim, resta completamente impugnado o pedido do Autor,


por ser desprovido de veracidade e fundamentação fática e jurídica.

DOS PLANOS COLLOR I E II

DA IMPROCEDENCIA DA ACAO QUANTO A ATUALIZACAO DOS CRUZEIROS QUE


FICARAM DISPONIVEIS AO POUPADOR

De acordo com a parte Apelada, os saldos da sua conta de


poupança vinham sendo corrigidos na forma estabelecida pelo artigo 17, da Lei nº.

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7.730/89, ou seja, pela variação do IPC verificada no mês anterior, e, em maio de 1990,
ainda estava em vigor a disposição legal referida, sendo certo que o poupador fazia jus ao
crédito do percentual de 44,80%, para abril daquele ano, e de 7,87%, para maio do
mesmo ano.

Declara mais. Que a instituição financeira depositária, com


base na Medida Provisória nº. 168/90, depois convolada na Lei nº. 8.024/90, deixou
de creditar o índice de abril, e somente creditou o percentual de 5,9068% para maio, o
que lhe ocasionou prejuízos.

Acontece que o pedido é improcedente.

Os contratos de caderneta de poupança são renovados mês a


mês, e quando de sua renovação, no mês de abril de 1990, já vigia nova disposição legal,
que passou a regular a matéria, que era a contida no artigo 1º, da Medida Provisória
nº. 172/90, que alterou a de nº. 168/90. Esta modificação foi convalidada pela
Medida Provisória nº. 180/90 (artigo 2º) e suas reedições, até ser convolada na Lei
nº. 8.088, de 31 de outubro de 1990.

Ao contrário do que pretende fazer crer a Recorrida, a lei não


retroagiu atingindo o contrato em curso. A partir da renovação do contrato de poupança,
com o término do trintídio e início de outro, já vigia nova lei, de ordem pública, de
caráter econômico, e de aplicação imediata, não podendo o particular alterá-la, em
busca de proveito próprio, posto que dirigida para atender o bem estar coletivo, e
resguardar os interesses da maioria da sociedade, daí porque contra ela não se pode
invocar direito adquirido.
A questão discutida foi bem elucidada no acórdão proferido
no Recurso Especial nº. 26.864-7-RS, cujo Relator foi o Exmo. Sr. Ministro SÁLVIO
DE FIGUEIREDO, que diz o seguinte:

O momento formador do vínculo jurídico é o da


abertura da conta e o de sua renovação automática, - mês a mês - visto que esta
é a modalidade peculiar segundo a natureza do contrato.

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DAÍ PORQUE A EXECUÇÃO DO MESMO, PARA TODO O
PERÍODO, REGE-SE PELA LEI DO DIA DE ABERTURA OU RENOVAÇÃO DA CONTA.
(Recurso Especial nº 26.864-7-RS, Superior Tribunal de
Justiça, 2ª Seção, 4ª Turma, DJU de 30.11.92, destaques do réu)

Assim, os percentuais pretendidos na petição inicial não são


devidos, uma vez que a lei que vigia no momento do início do novo período de trinta
dias – trintídio -, ou da renovação automática da conta, era a Medida Provisória nº.
172/90, que determinou, em seu artigo 1º, que os saldos existentes nas contas de
poupança fossem atualizados pelo BTN Fiscal, acrescido de 0,5% de juros ao mês,
devendo, por essa razão, reger a execução do contrato por esse dispositivo legal.

Sobre a aplicação do BTN aos saldos disponíveis em cruzeiros


inferiores aos NCz$50.000,00 bloqueados no mês de maio/1990 e seguintes, o Egrégio
Superior Tribunal de Justiça já proferiu os seguintes acórdãos:

EMENTA: CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS


COMO AGRAVO REGIMENTAL. POUPANÇA. PLANO COLLOR. CRUZEIROS DISPONÍVEIS.
CORREÇÃO PELO BTNF DE ABRIL E MAIO.

I. O saldo disponível em cruzeiros, inferiores aos


cinqüenta mil cruzados bloqueados, em maio e junho de 1990, foi indexado pelo
BTN, de acordo com a novel sistemática acima referida. Precedentes.

II. Agravo desprovido.

(AgRg no REsp 1.041.176/SC, DJe 18.08.2008, Ministro


ALDIR PASSARINHO JUNIOR, destaques do réu)
....................................................................................
.....
EMENTA: CADERNETA DE POUPANÇA. SALDO DISPONÍVEL.
CORREÇÃO MONETÁRIA. MESES DE MAIO DE 1990 E SEGUINTES.

O saldo disponível das cadernetas de poupança, isto é,


compreendendo os valores inferiores a NCz$50.000,00 (cinqüenta mil cruzados
novos), foi corrigido monetariamente pela variação do IPC no mês de abril de
1990; completado o ciclo mensal, o respectivo montante foi indexado ao BTN (Medida

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Provisória nº 168, de 1990, art. 6º, § 2º), sem quaisquer prejuízos para o poupador, que
poderia tê-lo sacado, se a regra lhe parecesse desvantajosa. Recurso especial conhecido
e provido.

(REsp 213.347/SP, DJ 04.10.1999, p. 57, Ministro ARI


PARGENDLER, destaques do réu)
....................................................................................
.....
EMENTA: Correção monetária. Caderneta de poupança.
Fevereiro de 1989. Índice aplicável: 1,4272.

Plano Collor. Importâncias até cinqüenta mil cruzados


novos. Correção feita corretamente. Não tendo havido o bloqueio, se o
depositante optou por que permanecessem as importâncias depositadas, admitiu
a aplicação das novas regras.

(REsp 145.818/SP, Ministro EDUARDO RIBEIRO, DJ.


05.6.2000)

...................................................................................
.....
Por outro lado, mesmo os depósitos em contas de
poupança que não foram atingidos pela Lei 8.024/90, ou seja, não foram
bloqueados em virtude do famigerado “Plano Collor” (valores abaixo de
cinqüenta mil cruzados novos), devem sofrer indexação, nos meses de março e
abril de 1990, com base no mesmo critério que serviu à atualização do saldo de
cruzados novos bloqueados – variação do BTNF (artigo 6º, § 2º da Lei 8.024/90).

(AI 705.187/SP, Ministro CASTRO FILHO, DJ 18.4.2006)

Por essas razões, se determinada a incidência do percentual


de 44,80%, para abril de 1990, e de 7,87%, para maio do mesmo ano, sobre os saldos
existentes em conta de poupança, cujo novo período para aquisição de atualização
monetária e juros se iniciou em 1º de abril de 1990, e em 1º de maio de 1990, estará
sendo negada vigência à disposição de lei expressa, não se reconhecendo eficácia à
norma contida no artigo 1º da Medida Provisória nº. 172/90, convalidada pela
Medida Provisória nº. 180/90 e suas reedições, até ser convolada na Lei nº.

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8.088/90, como, também, estará a r. decisão dissentindo de outras proferidas em casos
semelhantes ao presente, em especial daquelas prolatadas pelo Egrégio Superior
Tribunal de Justiça, aqui citadas.

É oportuno mencionar, ainda, que a Recorrida, ciente das


novas regras que passaram a reger os contratos de cadernetas de poupança, optou
livremente por deixar seus recursos depositados na sua respectiva conta, nada podendo
reclamar de quem quer que seja.

Relativamente à correção de janeiro/1991 e dos demais


meses subseqüentes a situação é idêntica: os percentuais pretendidos na petição inicial
não são devidos, uma vez que a lei que vigia no momento do início do novo período
de trinta dias, trintídio, ou da renovação automática da conta, era a Medida
Provisória nº. 294/91, convolada na Lei nº. 8.177/91.

DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O Banco Recorrente, por força do disposto no artigo 9º, da Lei


nº. 8.024/90, ao promover, após o crédito da atualização monetária nos saldos existentes
em cadernetas de poupança, correspondente ao período, a transferência dos valores
superiores a Cr$ 50.000,00 ao Banco Central do Brasil, perdeu a disponibilidade deles,
deixando de ser o seu depositário, substituído, que foi, por aquele Órgão, ficando, apenas,
com a obrigação de manter o cadastro individualizado em nome do titular de cada
operação (parágrafo 1º, do artigo 9º, da já citada Lei nº. 8.024/90).

Ao assim agir, o Recorrente nada mais fez que se sujeitar ao


comando estatal, que ordenava a prática do ato referido no artigo acima mencionado,
comando esse emanado de regra legal, de caráter formal, o que o tornou juridicamente
válido. A sujeição e a subordinação do comportamento do Recorrente a tal norma são
identificadas como princípio da legalidade, previsto no artigo 5º, II, da Constituição
Federal.

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O Dr. PINTO FERREIRA, em seus “Comentários à Constituição
Brasileira”, ao comentar o mencionado artigo 5º, inciso II, diz o seguinte, verbis:

“Elucida José Celso de Mello Filho com precisão (Constituição


Federal anotada, cit., p.429): “qualquer comando estatal, ordenando prestação de ato ou
abstenção de fato, importando comportamento positivo (ação) ou exigindo conduta
negativa (abstenção), para ser juridicamente válido, há de emanar de regra legal”. E
continua: “Apenas a lei em sentido formal, portanto, pode impor às pessoas um dever de
prestação ou de abstenção...” (ob. cit. 1° Vol. Ed. Saraiva, pág. 66 - grifamos)

Desta forma, na remota hipótese de se condenar o Recorrente


a pagar a diferença da correção pleiteada nesta ação, incidente sobre os ativos financeiros
transferidos ao Banco Central do Brasil, dos quais perdeu a disponibilidade, por força do
disposto na Medida Provisória nº 168/90, depois convolada na Lei nº 8.024/90, estará
sendo contrariado dispositivo constitucional contido no já citado artigo 5º, II, da Carta
Magna, posto que o Contestante cumpriu determinação decorrente de lei, que impôs a ele
o dever de agir dentro dos ditames dela.

DA IMPOSSIBILIDADE DE INVOCAR-SE O DIREITO ADQUIRIDO

Os titulares de contas de poupança, enquanto não se


completa o trintídio (aniversário), que se renova mês a mês, têm uma mera expectativa
de direito. O fato jurídico gerador do direito à atualização monetária só se aperfeiçoa no
dia do vencimento da conta, tanto que se houver qualquer saque antes de tal vencimento
o titular não faz jus a ela.

A percepção da atualização monetária pelos poupadores,


enquanto em curso o trintídio, ainda não passou a integrar o patrimônio material deles,
posto que o fato aquisitivo específico não se configurou por completo (“aniversário” da
conta de poupança).

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Ademais, cabe dizer que, para dificultar a defesa e tentar
ludibriar esse r. Juízo a parte autora, em momento algum, comprova na inicial, a data de
aniversário alegada da conta de poupança que afirma não foi remunerada de forma devida
pelo Banco Bradesco.

O Professor Limongi França, em sua obra “A Irretroatividade


das Lei e o Direito Adquirido”, faz uma distinção perfeita entre o direito adquirido e a
expectativa de direito, transcrevendo o Réu, abaixo, a lição do ilustre Professor, a saber,
verbis:

“...Direito Adquirido é a conseqüência de uma lei, por


via direta ou por intermédio de um fato idôneo: conseqüência que, tendo passado a
integrar o patrimônio material ou moral do sujeito, não se fez valer antes da vigência de
lei nova sobre o mesmo objeto.

...Expectativa é a faculdade jurídica abstrata ou em vias


de concretizar-se, cuja perfeição está na dependência de um requisito legal ou de um
fato aquisitivo específico.” (ob. cit. págs. 240/241 – grifamos)

Na questão aqui referida, o direito à percepção da atualização


monetária estava na dependência de um fato aquisitivo específico, que seria o dia do
vencimento da conta, ou o dia em que se completava o trintídio, e como no curso desse
período nova lei foi editada, de ordem pública, de caráter monetário, de aplicação
imediata, a correção passou a ser feita na forma determinada pelo novo diploma legal.

E mais, a norma legal aqui citada é de direito econômico, de


ordem pública, de aplicação imediata, alcançando os contratos em curso de execução, e
por tratar de regime de moeda, não pode sofrer as limitações do direito adquirido e do ato
jurídico perfeito.

A Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região

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ao apreciar a Apelação Cível nº. 93.02.15962-0/RJ, cujo relator foi o Exmo. Sr.
Desembargador Federal Clélio Erthal, decidiu que, verbis:

“EMENTA ADMINISTRATIVO. RETIFICAÇÃO DE ÍNDICES DE


RENDIMENTO DE CADERNETA DE POUPANÇA.

Ao abrir caderneta de poupança, o investidor NÃO


adquire direito a permanência do índice de remuneração vigente à época do contrato,
podendo o Poder Público alterar o requerido índice, de acordo com a política econômica do
Governo.

O período aquisitivo de remuneração somente se


completa ao cabo de trinta dias, não importando a alteração do índice estimado,
em violação de direito já adquirido.” (Apelantes: Banco do Brasil S/A. e Outros.
Apelado: Germano Rosário DJU de 09/08/94, pág. 42.232 - grifamos).

Assim, tal questão deverá ser observada e apreciada por essa


Colenda Turma, frise-se.

DIFERENÇAS – FORMA DE APURAÇÃO

Neste aspecto, cumpre ressaltar que, como amplamente


exposto, não existem diferenças a serem pagas a Parte Recorrida.

Na improvável hipótese de ser julgada procedente a presente


demanda, com a rejeição de todas as preliminares argüidas pelo Recorrente, o que se
admite apenas para argumentar, requer desde já o Recorrente que para a apuração de
eventual diferença sejam utilizados os índices da poupança fornecidos pelos órgãos oficiais
com juros de mora contados a partir da citação - de acordo com o art. 219 do
Código de Processo Civil, e parágrafo segundo do Artigo 1.536 do Código Civil (Lei nº.
3.071/16) – sendo de seis por cento ao ano - artigo 1.062 do mesmo diploma.

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Entretanto, caso V. Excelência entenda que os juros de mora
devam ser aplicados desde o evento danoso, o que se admite apenas por amor ao
argumento, requer o contestante que sejam aplicados os juros de mora do antigo Código
Civil (6% ao ano) e não 12% ao ano (art. 406 do Novo Código Civil), sendo este o
entendimento da 4ª Turma do STJ, no voto do Ministro Aldir Passarinho Junior, Recurso
Especial nº. 645.339/RJ:

CIVIL. ACIDENTE FERROVIÁRIO COM PASSAGEIRO.


RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. DANO MORAL. JUROS DE MORA. EVENTO
DANOSO OCORRIDO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL ANTERIOR. APLICACAO DOS
ARTS. 1.062 E 1.063, ARTIGOS. LICC, ART. 6º.

I. Tratando-se de responsabilidade contratual,


os juros de mora são regidos pelo Código Civil vigente à época do evento
causador do dano moral indenizado.
II. Recurso especial reconhecido e provido.

Também não há o que se falar em prática de ato ilícito por


parte do Recorrente, pois não houve descumprimento ilegal de obrigação acordada, vez
que na época a atualização dos ativos financeiros depositados na conta de poupança do
Autor foi feita nos moldes previstos na Medida Provisória 32/89, depois convolada na
Lei n. 7.730/89, não cabendo ao Recorrente outra alternativa senão a de dar
cumprimento com o determinado no mencionado dispositivo.

Assim, o Banco Bradesco nenhum ato ilícito praticou,


sendo que o procedimento adotado foi efetivado no exercício regular de um
direito protegido por lei, sendo certo que quem age desta forma está amparado
pelo artigo 160, inciso I do C. Civil (Lei nº 3.071/16) e pelo art. 188, inciso I do
Novo Código Civil (Lei nº. 10/406/02) que diz:

Art. 188 – Não constituem atos ilícitos:

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I – Os praticados em legítima defesa ou no exercício
regular de um direito reconhecido

Dessa forma não há como querer responsabilizar o Banco


por aquilo que evidentemente não deu causa.

Ad argumentandum, se restar deferida alguma verba a Parte


Recorrida, o montante equivalente deverá ser apurado em fase oportuna, requerendo
desde já reservar seu direito de se manifestar-se a respeito, com apresentação de cálculos
se for o caso.

CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, vem, respeitosamente, perante


este Colendo Tribunal de Justiça, requerer seja o presente recurso conhecido e provido,
remetendo-se os autos ao segundo grau de jurisdição para que seja:

1. seja admitida ilegitimidade passiva ad causam


preliminarmente argüida, haja vista ser do BACEN a total responsabilidade pela
atualização das contas poupanças, já que a presente autarquia federal possuía a época a
pertinência da relação jurídica em questão, como também o conhecimento da preliminar
de pedido ilíquido, todas com o mesmo resultado a extinção do processo sem
resolução de mérito, na forma prevista no inciso VI do artigo 267 do Código de
Processo Civil;

2. seja reconhecida a ilegitimidade passiva ad causam


preliminarmente argüida, em face da União Federal haja vista ser do BACEN a total
responsabilidade pela atualização da conta poupanças, com a conseqüente extinção do
processo sem julgamento de mérito, na forma prevista no inciso VI do artigo 267
do Código de Processo Civil;

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3. Em que pese a inexistência de pedido quanto ao Plano
Collor I e II. Seja acolhida a preliminar de iliquidez e impossibilidade jurídica do pedido
face a quitação;

4. Seja acolhida a prescrição suscitada, com a extinção do


processo, com resolução do mérito, nos termos do artigo 269, IV do Código de
Processo Civil;

5. Se examinado o mérito, seja esta ação julgada totalmente


IMPROCEDENTE, nos termos da fundamentação colacionada aos autos, face a
inexistência deda conta pleiteada e dos direitos à correção das contas de poupança
trazidas à baila;

6. a remota hipótese de ser deferido algum pedido, seja não


apenas observado os percentuais já efetivamente aplicados (como no caso do Plano Verão
onde já se aplicou dos 42,72 o percentual de 22,97, sobejando a possível discussão tão
somente 19,75) como também observada a limitação suscitada quanto à data de
aniversário da caderneta de poupança, para verificação do suposto direito adquirido, bem
como da prescrição dos juros remuneratórios, indeferindo-se pedido de acréscimo a este
do percentual de mais 10,14% vez que indevido;

7. em quaisquer das possibilidades, seja a Recorrida


condenada ao pagamento das custas e honorários advocatícios,

Requer por fim, que seja condenada parte Recorrida pelo


pagamento de custas e honorários profissionais aos patronos da parte Recorrente
conforme previsão lega do artigo 55 da lei 9.099/95, em consonância com o artigo 20, §
3º do Código Processual Civil.

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Nestes Termos

Pede deferimento.

Salvador, 24 DE novembro de 2023

LARISSA SENTO-SÉ ROSSIA

OAB/BA 16.330

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