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Acórdão Nº 1248640
EMENTA
1. Verifico que o recurso possui os elementos necessários para seu conhecimento, visto que menciona
expressamente os fundamentos da sentença objurgada.
2. Cuida-se de recurso de Apelação Cível interposto contra a r. sentença em que o Juízo monocrático
julgou extinto o processo, sem resolução de mérito, em ação pelo procedimento comum ajuizada contra
BANCO DO BRASIL, alegando que o saldo constante em conta do PASEP é inferior ao que deveria,
pois o requerido não teria aplicado os reajustes necessários.
3. A legitimidade, como condição da ação, deve ser verificada em abstrato, em vista do que foi alegado
pelo autor, conforme a teoria da asserção, de tal sorte que havendo liame entre conduta que possa ser
imputada ao réu e os fatos aduzidos pela parte autoral, resta configurada a legitimidade passiva ad
causam.
4. É legítimo o Banco do Brasil figurar no polo passivo de demanda relativa ao Programa de Formação
do Patrimônio do Servidor Público - PASEP em que não se discutam os índices legais do programa,
mas à má administração dos valores e descumprimento das diretrizes do Conselho Diretor do fundo.
(Acórdão 1233881, 07038660620198070012, Relator: LEILA ARLANCH, 7ª Turma Cível, data de
julgamento: 27/2/2020, publicado no PJe: 16/3/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
5. Não são objeto de questionamento, por parte do autor, circunstâncias relacionadas a índices de
cálculo ou ajustes contábeis ou financeiros, elementos estes cuja fixação compete ao Conselho Diretor
do programa, e, caso tivessem sido deduzidos como causa de pedir, poderiam, em tese, legitimar a
União a integrar o polo passivo da lide. Os limites objetivos da presente demanda compreendem,
apenas e tão somente, a alegada má-administração pelo Banco do Brasil S/A do saldo havido na conta
vinculada à parte autora, o que o torna parte legítima para compor o feito. (Acórdão 1192005,
07298237620188070001, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, data de julgamento:
31/7/2019, publicado no DJE: 13/8/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
6. Não havendo sequer a formação da relação processual, vedado ao Tribunal adentrar no mérito da
questão, sob pena de configurar cerceamento de defesa e supressão de instância julgadora.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Cuida-se de recurso de Apelação Cível interposto contra a r. sentença (14734402) em que o Juízo
monocrático reconheceu a ilegitimidade do requerido para figurar no polo passivo da demanda e
indeferiu a inicial, em ação de conhecimento ajuizada contra o Banco do Brasil S.A., relacionada a
gestão da conta PASEP.
“Trata-se de ação de conhecimento ajuizada por Artur Henrique Mattar em face do Banco do Brasil
S/A.
O autor alega que ter sido servidor público (militar), e que após anos de trabalho, ao se aposentar, se
dirigiu a uma agência do Banco do Brasil para sacar as cotas do PASEP, recebendo quantia irrisória.
Destaca a incorreção do valor recebido.
Registra que compete ao Banco do Brasil S.A. a administração do PASEP e a manutenção das contas
individualizadas para cada servidor, mediante cobrança de comissão pelo serviço (art. 5° da Lei
Complementar n° 8, de 03.12.1970), sendo-lhe, portanto, aplicável a responsabilidade objetiva pelo
desfalque das cotas depositadas em favor dos beneficiários do Programa.
Assevera que, em decorrência do ato ilícito, o réu tem a obrigação de efetuar a complementação dos
valores que lhe são devidos.
A parte dispositiva do julgado vergastado foi exarada nos seguintes termos, ad litteris:
“Diante do exposto, reconheço a ilegitimidade do réu para figurar no polo passivo do presente feito e
indefiro a petição inicial, com fundamento no artigo 330, II, c/c o artigo 485, VI, ambos do Código de
Processo Civil.
Sem condenação em honorários advocatícios, eis que a relação processual sequer foi aperfeiçoada”.
Inconformado, Artur Henrique Mattar apela (14734404), pleiteando a cassação da sentença, para que
prosseguimento do processo. Afirma que a instituição bancária não apenas deixou de proceder a
atualização monetária/remuneração aplicável sobre o saldo acumulado existente na conta
individualizada do PASEP do autor, mas também realizou saques indevidos na conta deste, sendo,
portanto, parte legítima para responder a ação. Preparo presente nos autos (14734407).
É o relatório.
VOTOS
Verifico que o recurso possui os elementos necessários para seu conhecimento, visto que menciona
expressamente os fundamentos da sentença objurgada.
Cuida-se de recurso de Apelação Cível interposto contra a r. sentença (14734402) em que o Juízo
monocrático reconheceu a ilegitimidade do requerido para figurar no polo passivo da demanda e
indeferiu a inicial, em ação de conhecimento ajuizada contra o Banco do Brasil S.A., relacionada a
gestão da conta PASEP.
O autor alega que ter sido servidor público (militar), e que após anos de trabalho, ao se aposentar, se
dirigiu a uma agência do Banco do Brasilpara sacar as cotas do PASEP, recebendo quantia irrisória.
Destaca a incorreção do valor recebido.
Registra que compete ao Banco do Brasil S.A. a administração do PASEP e a manutenção das contas
individualizadas para cada servidor, mediante cobrança de comissão pelo serviço (art. 5° da Lei
Complementar n° 8, de 03.12.1970), sendo-lhe, portanto, aplicável a responsabilidade objetiva pelo
desfalque das cotas depositadas em favor dos beneficiários do Programa.
Assevera que, em decorrência do ato ilícito, o réu tem a obrigação de efetuar a complementação dos
valores que lhe são devidos.
Diante do exposto, requer a condenação do réu a restituir ao autor a importância deR$ 99.613,93,
correspondente aos valores desfalcados da conta PASEP, já deduzido o que foi recebido, atualizado
até a data do efetivo saque, com juros a contar da citação (Lei 9494/97). Postula, ainda, a condenação
do réu pagamento de indenização pelos danos morais que alega ter sofrido”. (14734402).
A parte dispositiva do julgado vergastado foi exarada nos seguintes termos, ad litteris:
“Diante do exposto, reconheço a ilegitimidade do réu para figurar no polo passivo do presente feito e
indefiro a petição inicial, com fundamento no artigo 330, II, c/c o artigo 485, VI, ambos do Código de
Processo Civil.
Sem condenação em honorários advocatícios, eis que a relação processual sequer foi aperfeiçoada”.
Inconformado, Artur Henrique Mattar apela (14734404), pleiteando a cassação da sentença, para que
prosseguimento do processo. Afirma que a instituição bancária não apenas deixou de proceder a
atualização monetária/remuneração aplicável sobre o saldo acumulado existente na conta
individualizada do PASEP do autor, mas também realizou saques indevidos na conta deste, sendo,
portanto, parte legítima para responder a ação. Preparo presente nos autos (14734407).
O Banco do Brasil é parte legítima para figurar no polo passivo de ação relativa ao Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público - PASEP em que não se discutam os índices legais do
programa, mas à má administração dos valores e descumprimento das diretrizes do Conselho Diretor
do fundo.
Diante disso, o STJ sedimentou, por meio do enunciado da Sùmula 77 de sua jurisprudência, o
entendimento de que “a Caixa Econômica Federal é parte ilegítima para figurar no polo passivo das
ações relativas às contribuições para o fundo PIS/Pasep.”
Enquanto a Caixa Econômica Federal é a responsável pela gestão do fundo relativo ao PIS, o Banco
do Brasil gere o relativo ao Pasep, Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público,
conforme previsto no art. 5º da Lei Complementar 8/1970.
O Banco do Brasil, portanto, não é o responsável por captar as contribuições, ou por definir quais os
índices de atualização a serem utilizados, mas tão somente por gerir o fundo segundo as diretrizes do
Conselho Diretor.
A presente demanda não versa sobre os índices ou sobre a captação das contribuições, mas
sobre o regular seguimento das diretrizes - a regular administração dos valores aportados ao
programa -, o que é atribuição da parte ré.
Destarte, resta caracterizada a legitimidade passiva do Banco do Brasil para atuar e exercer o
contraditório.”
A legitimidade do Banco do Brasil para figurar em ações dessa natureza também foi objeto de
apreciação por este Colegiado, nos autos da Apelação Cível nº 0729823-76.2018.8.07.0001, de
relatoria da eminente Desembargadora Gislene Pinheiro, cuja ementa peço vênia para transcrever, na
fração de interesse:
1. Compulsando os autos, não se vislumbra qualquer decisão que tenha deferido a gratuidade de
justiça em favor da parte recorrida, razão pela qual entendo não haver interesse recursal no tocante a
este ponto, de modo que a irresignação deduzida em apelação neste sentido não merece ser conhecida.
2. Não são objeto de questionamento, por parte do autor, circunstâncias relacionadas a índices de
cálculo ou ajustes contábeis ou financeiros, elementos estes cuja fixação compete ao Conselho Diretor
do programa, e, caso tivessem sido deduzidos como causa de pedir, poderiam, em tese, legitimar a
União a integrar o polo passivo da lide. Os limites objetivos da presente demanda compreendem,
apenas e tão somente, a alegada má-administração pelo Banco do Brasil S/A do saldo havido na conta
vinculada à parte autora, o que o torna parte legítima para compor o feito.
[...]
(Acórdão 1192005, 07298237620188070001, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, data de
julgamento: 31/7/2019, publicado no DJE: 13/8/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
A análise da pretensão autoral movida em face da instituição financeira, ora apelante, evidencia que a
causa de pedir em que se fundamentam os pedidos refere-se, em suma, à má-prestação do serviço
desempenhado na gestão dos depósitos realizados em sua conta do PASEP.
A toda evidência, não são objeto de questionamento, por parte do recorrido, circunstâncias
relacionadas a índices de cálculo ou ajustes contábeis ou financeiros, elementos estes cuja fixação
compete ao Conselho Diretor do programa, e, caso tivessem sido deduzidos como causa de pedir,
poderiam, em tese, legitimar a União a integrar o polo passivo da lide.
De fato, os limites objetivos da presente demanda compreendem, apenas e tão somente, a alegada
má-administração pelo Banco do Brasil S/A do saldo havido na conta vinculada à parte autora, o que
o torna parte legítima para compor o feito.
Não é demais salientar, como bem indicou o Juízo de primeiro grau, que o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, consolidado no teor da súmula de nº 179, pode ser aplicado, guardadas as devidas
adaptações, ao presente caso. Confira-se, a propósito, a sua redação: “O estabelecimento de crédito
que recebe dinheiro, em depósito judicial, responde pela correção monetária relativa aos valores
recolhidos.”
Logo, por estarem ausentes elementos que possam infirmar a legitimidade passiva da parte recorrente,
rejeito a presente preliminar.
Destarte, a parte não se insurge contra as deliberações do Conselho Diretivo do PIS/PASEP, mas
alega má-gestão da administração dos valores depositados em sua conta individual pela instituição
financeira, o que induz a legitimidade desta para figurar no polo passivo da ação.
O c. Superior Tribunal de Justiça decidiu pela competência da justiça estadual para julgar o feito, in
verbis:
1. A Primeira Seção desta Corte tem entendimento predominante de que compete à Justiça Estadual
processar e julgar os feitos cíveis relativos ao PASEP, cujo gestor é o Banco do Brasil (sociedade de
economia mista federal).
2. Incide, à espécie, a Súmula 42/STJ : Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as
causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
3. Conflito de Competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 12a. Vara Cível
de Recife -PE.
(CC 161.590/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 13/02/2019, DJe 20/02/2019)
No que concerne ao pleito para a reforma da sentença e provimento dos pedidos inaugurais,
conquanto o art. 1.013, § 3º, CPC, autorize a apreciação pelo Tribunal quando o processo estiver em
condições de julgamento imediato, entendo que a hipótese vertente não comporta tal solução.
Com efeito, o réu sequer foi citado para responder a ação, de tal sorte que o pronunciamento sobre o
mérito neste momento processual configuraria evidente cerceamento de defesa e supressão de
instância.
Dessa forma, em que pesem os argumentos apresentados, necessário reconhecer o acerto das razões
apresentadas pelo Apelante, para que se possa apreciar se a instituição ré cumpriu corretamente com
as determinações que lhe incumbia.
É como voto.
DECISÃO