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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

FELIPE DE OLIVEIRA

TDE 2 – SENTENÇA DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E APLICAÇÃO DO


ELEMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA.

CIDADE
2022
Resumo:
A sentença anexa trata de um pedido de recuperação judicial distribuído
ao juízo da 31ª Vara Cível do Recife em 08 de maio de 2015. Tal recuperação
se refere a um grupo econômico, composto pelas empresas EKT Lojas de
departamentos LTDA e EKT Serviços de Cobrança LTDA. Seu processamento
foi deferido em 15 de maio de 2015.
O processo tramitou normalmente, sendo que houve a publicação da 1ª
lista de credores em 15/07/2015, seguido da juntada do plano de recuperação
judicial em 20/07/2015, tendo mais dois aditivos. Após isto, a assembleia geral
de credores foi convocada sendo, então, o plano aprovado e homologado pelo
juízo.
Ao declarar encerrada a recuperação judicial, o juiz determinou a
intimação da administradora judicial para apresentar relatório circunstanciado no
prazo de 15 dias, homologou a lista geral de credores consolidada até agosto de
2021, exonerou a administradora do seu encargo, notificou o administrador
judicial a informar se há saldo de honorários a receber, no prazo de 30 dias,
determinou um ofício à Junta Comercial para que haja ciência e averbação do
encerramento da recuperação judicial e que se retire a anotação “em
Recuperação Judicial” do nome da sociedade empresária, determinou a
realização da apuração do saldo das custas judiciais a serem pagas à Diretoria
Cível e determinou que a Diretoria Cível cumpra o que fora determinado em
despacho de maneira integral.

Fora destacado que tal sentença é um título executivo judicial e qualquer


descumprimento ao plano de recuperação enseja em ação de cumprimento de
sentença ou falência.

Função social da empresa:


O elemento da função social da empresa foi atendido em tal processo de
recuperação judicial, porque proporcionou a superação de crise da sociedade
empresária devedora de modo a permitir a prorrogação de seus débitos. A partir
desta recuperação, a atividade econômica foi estimulada, o grupo econômico foi
preservado e os credores recebem seus créditos conforme o que fora acertado
por eles no plano de recuperação.

Segue abaixo o inteiro teor da sentença:


Tribunal de Justiça de Pernambuco
PJe - Processo Judicial Eletrônico

25/04/2022

Número: 0006174-66.2015.8.17.2001
Classe: RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Órgão julgador: Seção B da 31ª Vara Cível da Capital
Última distribuição : 13/05/2015
Valor da causa: R$ 100.000,00
Processo referência: 0003520-09.2015.8.17.2001
Assuntos: Recuperação judicial e Falência
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
EKT LOJAS DE DEPARTAMENTOS LTDA. (REQUERENTE) MILIANY ARAUJO MACIEL (ADVOGADO(A))
FABIANA BRUNO SOLANO PEREIRA (ADVOGADO(A))
THOMAS BENES FELSBERG (ADVOGADO(A))
CLARA MOREIRA AZZONI (ADVOGADO(A))
EKT SERVICOS DE COBRANCA LTDA. (REQUERENTE) MILIANY ARAUJO MACIEL (ADVOGADO(A))
FABIANA BRUNO SOLANO PEREIRA (ADVOGADO(A))
THOMAS BENES FELSBERG (ADVOGADO(A))
CLARA MOREIRA AZZONI (ADVOGADO(A))
Ministério Público (FISCAL DA ORDEM JURÍDICA)
LINDOSO E ARAUJO CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA ANA CLAUDIA VASCONCELOS ARAUJO WEINBERG
(ADMINISTRADOR JUDICIAL) (ADVOGADO(A))
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10075 24/04/2022 15:20 Sentença Sentença
7385
Tribunal de Justiça de Pernambuco
Poder Judiciário
Seção B da 31ª Vara Cível da Capital

AV DESEMBARGADOR GUERRA BARRETO, S/N, FORUM RODOLFO AURELIANO, ILHA


JOANA BEZERRA, RECIFE - PE - CEP: 50080-800 - F:( )

Processo nº 0006174-66.2015.8.17.2001

REQUERENTE: EKT LOJAS DE DEPARTAMENTOS LTDA., EKT SERVICOS DE COBRANCA


LTDA.

SENTENÇA

Vistos, etc ...

Trata-se de PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, distribuído a este juízo da 31ª Vara


Cível do Recife – Seção B, na data de 08 de maio de 2015, formulado em conjunto por empresas
que integram o mesmo grupo econômico, são elas: (i) EKT LOJAS DE DEPARTAMENTOS
LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 09.294.944/0001-93, com
sede na Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, 2010, Loja 2, Bairro Boa Viagem, Recife/PE,
CEP: 51111-020 e (ii) EKT SERVIÇOS DE COBRANÇA LTDA., pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 09.275.053/0001-90, com sede na Avenida Engenheiro
Domingos Ferreira, 2010, Loja 3, Bairro Boa Viagem, Recife/PE, CEP 51111-020.

Em decisão de ID 6736309 foi deferido seu processamento, em 15/05/2015.

O processo tramitou de forma regular, com os seguintes atos: (i) a publicação da 1º lista de
credores em 15/07/2015 (DJE Edição 125/2015); (ii) o Plano de Recuperação Judicial foi juntado
aos autos em 20/07/2015 – ID 7405907, com o primeiro aditivo sendo apresentado em
19/10/2015 ao ID 8562165 e o segundo aditivo em 16/06/2016 ao ID 12201492; (iii)
Apresentação da relação de credores em cumprimento ao art. 7º, §2º, da Lei n. 11.101/2005, de
ID 8303323; (iv) a publicação da 2º lista de credores em 1º/12/2015 (DJE Edição 218/2015).

Com fulcro no art. 56, da Lei n. 11.101/2005, houve a convocação da Assembleia Geral de
credores para deliberar sobre o plano de recuperação – ID 11149831.

Diante da aprovação por parte dos credores, conforme Ata da Assembleia Geral de
Credores anexada aos autos pela administradora judicial ao ID 12294319, o Plano de
Recuperação Judicial foi homologado pelo juízo, nos termos do art. 58 da Lei nº 11.101/2005, e
foi CONCEDIDA a RECUPERAÇÃO JUDICIAL, conforme decisório de ID 12997276.

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Por fim, a Administradora Judicial apresentou o último relatório mensal das empresas
recuperandas ao ID 99260770 e lista de credores atualizada até agosto de 2021 – ID
86928413.

Foi o que entendi de importante a relatar.

DECIDO:

Compulsando os autos, ante o cumprimento das obrigações vencidas até o momento,


verifico que o processo está apto a ser encerrado, conforme explicitado e demonstrado pela
devedora e pelo Administrador judicial, com base nos arts. 61 e 63 da Lei n.º 11.101/2005.
Explico.

O art. 61 da Lei n.º 11.101/2005, disciplina que o prazo de fiscalização da recuperação


judicial é de 02 (dois) anos, devendo a recuperação judicial ser encerrada após o decurso do
referido prazo. Vejamos, in verbis, esse texto da Lei n.º 11.101/2005:

Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em
recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que
se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial.

Assim, expirado o prazo de 02 anos, ainda que remanesçam obrigações do plano a ser
cumpridas, encerra-se o processo de recuperação, ficando os credores com a garantia de que a
decisão concessiva da recuperação judicial constitui título executivo judicial, permitindo-lhes, em
caso de descumprimento do plano, requerer a tutela específica ou a falência do devedor.

Inclusive não há qualquer limitação legal para que o processo de recuperação judicial não
seja encerrado em razão de pendência recursal na impugnação, pois os incidentes de
impugnação são autônomos e permitem a apreciação, mesmo após o encerramento do principal.

Trata-se de hipótese de encerramento da recuperação judicial. Nesse sentido, trago


à baila jurisprudência proferida pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo:

"(...) concedida a recuperação judicial, a empresa devedora permanecerá numa


espécie de observação judicial por dois anos. Findo este prazo, cumpridas as
disposições previstas no plano de recuperação para este período, o juiz deverá
decretar o encerramento da recuperação, na forma prevista no art. 63, da
Lein.11.101/2005. Como encerramento da recuperação, todos os credores cujas
obrigações tenham vencimento previsto para o período superior a dois anos
terão título executivo judicial pelo valor constante no plano de recuperação e,
em consequência, poderão executara dívida ou, caso queiram, ajuizar a
respectiva ação de falência, com fundamento no art.94, I, da Lei n.11.101/05. (....)
O fato de haver impugnações de crédito pendentes de julgamento, por si só, não
obsta a decretação do encerramento da recuperação. Sabe-se que enquanto não
encerrada a recuperação o plano de recuperação pode sofrer alterações, mesmo
após a sua homologação pela Assembléia Geral de Credores. Isto ocorre
exatamente para que se possa adequar o plano de recuperação após o
julgamento de eventuais impugnações e nos casos de habilitações de crédito

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retardatárias, como prevê o art.10, da Lein.11.101/2005. Portanto, não há
obstáculo legal ou processual para o encerramento da recuperação ainda que as
impugnações, eventuais habilitações retardatárias e ações rescisórias não
estejam definitivamente julgadas, eis que diferentemente do que pensa o ilustre
magistrado prolator da decisão agravada, o encerramento do processo não está
vinculado à consolidação do rol de credores. (....) A postergação ao
encerramento da recuperação em virtude da não consolidação do rol de
credores mais do que desvirtuar, frustrará a própria finalidade do
instituto."(Agravo de Instrumento n.030119001714, 1ª Câmara Cível, Des. Rel.
Fábio Clem de Oliveira - TJES) – grifo nosso.

Para além disto, as impugnações já julgadas, mas em eventual fase de recurso,


deverão apenas aguardar a decisão final do Tribunal, e, na sequência, serão consideradas títulos
executivos judiciais para instruir as ações necessárias à realização prática do crédito reconhecido
judicialmente.

O rito a ser empregado aos incidentes convertidos em ação autônoma será o ordinário,
por aplicação analógica ao art. 10, § 6º LRF, tendo como fundamento da conversão: o
encerramento da ação de recuperação judicial pelo decurso do prazo de fiscalização do plano.

Aplica-se ao caso a regra do art. 87 do CPC, com a observação de que a competência


para julgar as impugnações de crédito, mesmo depois de extinta a recuperação judicial, continua
desse juízo especializado.

As ações novas que sejam ajuizadas posteriormente ao encerramento da


recuperação judicial (cobrança, falência, declaratória e quaisquer outras relacionadas às
obrigações da devedora), seguirão as regras normais de competência, não mais existindo juízo
universal.

A conversão das impugnações pendentes em ações ordinárias ocorre de forma


simples e consiste na mera redistribuição do mesmo procedimento ao mesmo juízo. O
processo continuará a seguir o mesmo curso, com instrução e julgamento que, todavia, se
dará por sentença.

Nesse momento, faço minhas as ponderações do Juiz Titular da 1ª Vara de Falências e


Recuperações Judiciais de São Paulo:

"(...) Ora, admite-se a realização da AGC sem quadro geral consolidado. Também é
aceita a aprovação do plano sem quadro de credores consolidado. Admite-se o
cumprimento do plano sem quadro geral consolidado. Então qual seria o empecilho
para se encerrar o processo depois de dois anos de fiscalização do plano segundo o
universo de credores até então incluídos na recuperação? Vincular o encerramento da
recuperação ao julgamento definitivo das impugnações não é adequado e viola a
efetividade processual, tendo em vista que a lei admite que qualquer credor pleiteia a
inclusão de crédito ou discuta eventual valor ou natureza de seu crédito a qualquer
tempo, ainda que de forma retardatária (...)"

Na mesma linha de pensamento, os credores trabalhistas cujos créditos estejam


ilíquidos, nos termos do § 1º do art. 6 da Lei nº 11.101/2005, mas que até o momento se
encontrem habilitados na presente Recuperação Judicial, igualmente não terão prejuízo,
uma vez que também tais credores também deverão receber seus créditos diretamente da
empresa.

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Nesse mesmo cenário, cuida-se, portanto, que o presente processo recuperatório está em
fase final uma vez que houve, in casu, o decurso, muito superior, aos 02 anos de supervisão, que
se estende até a presente data, sem a comprovação incontestável e cabal do descumprimento de
quaisquer das obrigações constantes do plano de recuperação judicial, aprovado em assembleia
e homologado judicialmente.

Conforme art. 63 da Lei n.º 11.101/2005, cumpridas as obrigações vencidas dentro do


prazo previsto de 02 anos, o juiz decretará, por sentença, o encerramento da ação de
recuperação judicial, demonstrando-se, assim, o caráter ex officio da decisão que só se limita ao
preenchimento das condições legais.

Vale ressaltar que, conforme a Lei n.º 11.101/2005, as obrigações previstas no plano
devem ser cumpridas durante o período de prova, que compreende os dois anos seguintes da
concessão da recuperação.

Neste sentido, vislumbro que por meio do pedido da administradora judicial de ID


84167997, autorizado por este Juízo ao ID 86210747, foi oportunizado a todos os credores
trabalhistas o envio dos dados bancários para recebimento do crédito nos termos do PRJ para o
endereço eletrônico disponibilizado pela auxiliar, tento a coletividade de credores sido
devidamente intimada por meio do Edital de ID 87313260.

Observo ainda que ao ID 99753879 foi expedido o alvará de pagamento, contemplando


todos aqueles que enviaram seus dados bancários e constavam na lista de credores pendentes
de pagamento de ID 84167998 ou na lista presente ao ID 84168683.

Ora, compulsando o processo se observa que a empresa recuperanda, dentro do biênio


legal, cumpriu e vem cumprindo com as obrigações previstas no plano de recuperação judicial, o
que vem sendo atestado pelo Administrador Judicial e corroborado pelos documentos juntados
aos autos, ao longo deste feito.

Ou seja, o próximo passo é se observar o comando da própria Lei de Recuperação


Judicial (art. 62), a qual estabelece que o credor poderá e deverá promover a cobrança ou a
execução de seus direitos, de forma individual.

No caso em tela, as habilitações e as impugnações de crédito, oferecidas, no decurso do


biênio, em sua grande maioria foram destramadas e a lista de credores atualizada já foi
devidamente elaborada ao ID 86928413, tornando, portanto, o feito maduro para fins de seu
encerramento.

Nesse contexto, apenas para fins exemplificativos, como se verifica do edital que trata o §
2º do art. 7º da LRF, Edição nº 218/2015, publicado em 01/12/2015, traz cerca de dois mil
credores com créditos ilíquidos, como se verifica abaixo:

Desta feita, aguardar a habilitação de cerca de dois mil credores ou mesmo julgar
todas as Impugnações de Crédito, tornaria o processo de Recuperação Judicial eterno, o
que prejudica todas as partes envolvidas, incluindo o judiciário.

Nesse sentido, a Lei de Recuperação Judicial e Falências (LRF) impõe, e não faculta, ao
juiz do procedimento específico a decisão declaratória do fim da recuperação judicial, desde que
saldadas as obrigações constantes do plano, no prazo estipulado. Eis o comando legal:

Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta
Lei, o juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e
determinará: I - o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial,

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somente podendo efetuar a quitação dessas obrigações mediante prestação de
contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do
caput deste artigo; II - a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; III
- a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo
máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação
pelo devedor; IV - a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do
administrador judicial; V - a comunicação ao Registro Público de Empresas para as
providências cabíveis.

No presente caso, ao se constatar o escoamento do prazo de 02 anos de fiscalização


judicial, foi determinada a juntada nos autos da Lista de Credores Consolidada até a data de
20/08/20, cuja relação, conforme contido no parecer, é composta pelos créditos constantes do 2º
Edital, previsto no § 2º do art. 7º da LRF, juntamente com o julgamento das impugnações de
crédito e das decisões que autorizaram a inclusão e/ou relação de crédito

Ressalte-se, igualmente, que mesmo depois de homologado o quadro geral de credores,


admite-se ação própria para discuti-lo, não existindo prejuízo algum para os credores.

Explico. O Superior Tribunal de Justiça, através do julgamento do REsp 1.851.692-RS,


discorreu acerca da submissão do crédito ainda não inscrito na Recuperação Judicial.

O Relator do Recurso Especial, Min. Ministro Luis Felipe Salomão, acolheu os Embargos
de Declaração apresentados em face da decisão, tendo o Ministro Raul Araújo pedido vistas após
esta decisão.

Embora o referido julgamento tenha ocorrido de forma virtual, sua ata ainda não se
encontra presente para consulta nos autos eletrônicos do referido processo, diversos meios de
comunicação já repercutiram seu conteúdo, como o Consultor Jurídico que destacou os principais
pontos da fala do Relator, abaixo transcrita:

“Salomão afirmou que, uma vez aprovado o plano de recuperação dispondo


acerca do pagamento de determinado crédito, o credor que optou por não se
habilitar sofrerá os efeitos da recuperação. Nesse caso, o crédito será considerado
novado e o credor deverá recebê-lo em conformidade com o previsto no plano, ainda
que em execução posterior ao encerramento da recuperação. Para o relator, o credor
que figurar na listagem, com a exatidão do valor do crédito e da classificação a que faz
jus, estará automaticamente habilitado na recuperação. Quem não estiver na lista terá
de decidir entre habilitar seu crédito de forma retardatária; não cobrá-lo; ajuizar a
execução individual; ou retomar o cumprimento de sentença, após o encerramento da
recuperação. "Em qualquer hipótese, terá o ônus de se sujeitar aos efeitos da
recuperação judicial", afirmou.” (grifos nossos)

Configura-se, assim, que o plano de recuperação judicial aprovado se constitui num título
executivo judicial e por esse motivo, após encerrada a ação de recuperação judicial, caso o
devedor descumpra qualquer obrigação do plano, o interessado poderá requerer a execução
específica ou a falência.

Assim, nos termos do citado art. 94, pouco importa se a recuperação judicial ainda não
tenha sido efetivamente encerrada ao tempo do descumprimento da obrigação, devendo-se
interpretar os dispositivos legais de maneira sistemática, chegando-se à conclusão de que
somente o descumprimento ocorrido nos primeiros 02 anos é que traz a séria consequência da
conversão automática em falência, o que não é o caso dos presentes autos.

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Estabelecida a possibilidade de encerramento do feito, homologo a Lista de Credores
Atualizada apresentado pela Administradora Judicial ao ID 86928413 como Quadro Geral de
Credores, no estado em que se encontra.

Por fim, tendo em vista o encerramento do feito, importante se faz analisar a petição
de ID nº 100889599, apresentada pelas recuperandas requerendo diversos provimentos
deste Juízo, os quais passo a analisar.

1. Da homologação da minuta de edital:

Requerem as recuperandas a homologação da minuta do Edital de Encerramento apresentada ao


ID nº 100889600, a qual deverá ser publicado após a prolatação da sentença de encerramento do
presente feito, com a finalidade de evitar transtornos aos credores em razão da ordem
cronológica aos credores.

Como bem lembrado pelas recuperandas, este Juízo já autorizou a expedição do Edital de
Encerramento ao ID 91189965, motivo pelo qual não vislumbro óbice na concessão do referido
pedido, homologando a minuta apresentada ao ID nº 100889600, determinando que a Diretoria
Cível proceda com a publicação, logo após a publicação da presente sentença de encerramento
da recuperação judicial.

2. Apresentação de Quadro Geral de Credores Definitivo, contendo todos os credores


líquidos, ilíquidos e já quitados:

As recuperandas requereram a intimação do auxiliar deste Juízo com a finalidade de promover a


confecção de novo Quadro Geral de Credores, o qual deveria conter todos os credores líquidos,
ilíquidos e já quitados, bem como a concessão do prazo de 30 (trinta) dias para análise do quadro
a ser apresentado pelo administrador judicial, devendo tal pedido ser indeferido.

Como acima demonstrado, cerca de 2 (dois) mil credores possuem créditos ilíquidos, dentre os
quais, mais de 1.500 são apenas credores trabalhistas. Imaginar que a presente Recuperação
Judicial deverá ficar ativa, aguardando a liquidação de todos os créditos, não é sequer razoável,
como vai de encontro à Lei 11.101/2005.

Os credores trabalhistas submetidos à presente Recuperação Judicial, nos termos do REsp


1.851.692-RS, deverão receber na forma do Plano aprovado e homologado, cabendo à
recuperanda informar tal fato, diretamente na Justiça do Trabalho.

Assim, indefiro o pedido em tela, e recebo a Lista de Credores apresentada pelo administrador
judicial ao ID 86928413 como Quadro Geral de Credores da Recuperação Judicial.

Frise-se mais uma vez, que não haverá qualquer prejuízo aos credores ou às Recuperandas,
visto que tal fato, estará expressamente informado no edital de encerramento da recuperação
judicial.

3. Transferência dos recursos financeiros presentes nas contas judiciais vinculadas ao


presente feito para as contas judiciais atreladas aos processos trabalhistas dos credores
ainda pendentes de pagamento:

Pugnaram as recuperandas pela transferência dos recursos depositados nestes autos, limitados
ao valor incontroverso, no caso, aquele decorrente da aplicação do PRJ, para as contas judiciais
vinculadas aos processos trabalhistas cujos créditos são sujeitos à recuperação judicial.

Para tanto, pugnaram pela manutenção da conta judicial vinculada à recuperação pelo prazo de
90 dias, com a finalidade de obter a listagem de todos os processos, credores e valores a serem

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pagos em conformidade com o pedido apresentado.

Indefiro de plano o citado pedido. A manutenção da abertura da conta pelo longínquo prazo de 90
dias, bem como a confecção e expedição de indefinidos ofícios à desconhecidos juízos
trabalhistas em muito se distancia do princípio da celeridade processual, caracterizando, em
verdade, tentativa de eternização do processo cujo encerramento se dá nesta oportunidade.

Determino, em verdade, a transferência de todos os valores vinculados à recuperação judicial


para conta bancária a ser informada pelas recuperandas, uma vez que estes são de sua
propriedade e o presente feito recuperacional está, de fato, encerrado a partir da presente
sentença, cabendo a mesma efetuar os pagamentos diretamente aos seus credores.

4. Pedido de expedição de ofícios aos TRT’s e ao Detran, Ciretran e Denatran:

Relembram as recuperandas que em decisão de ID 61707130, cujo conteúdo foi reiterado ao ID


99738784, determinei a expedição de ofício para a Justiça do Trabalho com a finalidade de
informar acerca do Plano de Recuperação Judicial deste processo, de modo que se
disponibilizam para auxiliar no que for eventualmente necessário. Tal pedido já foi deferido,
cabendo à Diretoria Cível dar cumprimento à expedição dos referidos ofícios.

Quanto ao segundo pedido de expedição de ofícios, alegam as recuperandas que são


proprietárias de diversos veículos (motos e carros), os quais por sua vez foram atingidos por
diversas determinações de penhoras provenientes de execuções fiscais e execuções trabalhistas
concursais.

Requerem a expedição de ofício para os citados órgãos, sendo determinado por este Juízo a
baixa de todos os gravames dos veículos de sua propriedade, de modo a possibilitar a sua venda
e a destinação dos recursos financeiros à sua atividade empresarial e pagamento de credores.

No que tange às restrições provenientes de execuções fiscais, entendo que neste momento, em
que a presente recuperação judicial se encerra, foge ao escopo de atuação deste Juízo o poder
de determinar a baixa de penhoras provenientes dos Juízos executivos fiscais, já que se trata de
crédito não submetido e não há mais a possibilidade de deliberar acerca das constrições sobre os
bens das recuperandas, uma vez que estas não mais se encontram em recuperação judicial.

Quanto às restrições provenientes de execuções trabalhistas concursais, indefiro o pedido não


por falta de mérito do pedido das recuperandas, mas em razão da alta generalidade do pedido.

Ora, a determinação de baixa de penhoras não pode ser proferida em regime geral, sendo uma
situação que merece a análise caso a caso para averiguar se a penhora de fato é originada de
crédito submetido aos efeitos da recuperação judicial.

Desta feita, INDEFIRO o pedido de baixa das penhoras, cabendo à recuperanda efetuar tal
pedido no Juízo competente. Entretanto, consigno a quaisquer juízos que processem a
execução de créditos submetidos aos efeitos do Plano de Recuperação Judicial das
recuperandas que a satisfação do crédito exequendo só pode se dar por meio do fiel
cumprimento do PRJ, o qual foi aprovado pelos credores e homologado por este então
Juízo Recuperacional, seguindo todos os ditames legais da Lei nº 11.101/2005.

Confiro ao trecho acima força de ofício com o singelo objetivo de prestar informações ao juízo
executivo, deixando claro que não se trata de determinação expressa de baixa de eventuais
penhoras existentes.

5. Expedição de Certidão de Quitação:

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https://pje.tjpe.jus.br:443/1g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22042415203757300000098565205
Número do documento: 22042415203757300000098565205
Por fim, relembraram as recuperandas que ao ID 80810754 este Juízo autorizou a expedição de
certidão de quitação nos termos do PRJ dos credores listados no anexo da petição de ID
64165424.

Informaram que até o presente momento a citada certidão ainda não foi expedida, motivo pelo
qual reitero à Diretoria Cível que cumpra a determinação anterior deste Juízo.

Portanto, é o caso de encerramento da presente ação de recuperação judicial.

Em sendo assim, com fulcro nos termos do art. 61 c/c art. 63, da Lei n. 11.101/2005,
DECLARO ENCERRADA A RECUPERAÇÃO JUDICIAL da EKT LOJAS DE
DEPARTAMENTOS LTDA., inscrita no CNPJ/MF sob o n. 09.294.944/0001-93, e a EKT
SERVIÇOS DE COBRANÇA LTDA., inscrita no CNPJ/MF sob o n. 09.275.053/0001-90, pelo que
passo a determinar:

a) Intime-se a ADMINISTRADORA JUDICIAL para, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar


RELATÓRIO CIRCUNSTANCIADO, em cumprimento a exigência do art. 63, III, da Lei n.
11.101/2005;

b) Recebo a lista geral de credores consolidada até agosto de 2021, apresentada pela
administradora judicial de ID 86928413 como Quadro Geral de Credores, homologando a
mesma;

c) Exonero a Administradora Judicial do seu encargo, resguardado o dever de apresentar o


supracitado relatório. Não houve formação de Comitê de Credores e, portanto, não se aplica o
disposto no art. 63, IV, da Lei n. 11.101/2005;

d) Notifique-se a Administrador Judicial, para, no prazo de 30 (trinta) dias, informar se ainda há


saldo a receber relativo a seus honorários;

e) Oficie-se à Junta Comercial para ciência e averbação do encerramento da presente


recuperação judicial no registo correspondente, bem como para que proceda com a devida
baixa da anotação “em Recuperação Judicial” do nome da empresa recuperanda e demais
providências cabíveis sob seu encargo;

f) Determino que a Diretoria Cível realize a apuração do saldo das custas judiciais a serem
recolhidas, em cumprimento ao disposto no art. 63, II, da Lei n. 11.101/2005.

G) Determino ainda que a Diretoria Cível cumpra na íntegra o que foi determinado em
despacho de ID99738784.

Considerando que foram cumpridas as exigências do caput, do art. 61, da Lei n.


11.101/2005, reitero que no caso de descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano de
recuperação judicial, qualquer credor poderá requerer a execução específica ou a falência, nos
termos do art. 63, da supracitada norma, mas sem qualquer vinculação a este juízo, mediante
distribuição automática.

Todos os créditos trabalhistas que sejam decorrentes de período laboral anterior a


08/05/2015, data em que foi requerida a presente recuperação judicial, estão sujeitos a ela e ao
plano de recuperação homologado nos presentes autos (Decisão de ID 12997276), ainda que a
sentença trabalhista e/ou o seu trânsito sejam posteriores, ficando assegurado a adoção das
medidas previstas no art. 62, da Lei n. 11.101/2005, em caso de descumprimento das obrigações
novadas pelo plano.

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Número do documento: 22042415203757300000098565205
Por fim, com o objetivo de racionalizar a atividade da secretaria deste Juízo quanto
a futuros ofícios eventualmente recepcionados após a publicação da presente sentença,
determino:

1. Todo e qualquer ofício, mandado, carta de citação, intimação ou precatória, solicitando o


pagamento/arresto/sequestro/penhora de créditos reclamados contra a EKT Lojas de
Departamentos Ltda. e a EKT Serviços de Cobrança Ltda., devem ser respondidos através
da simples remessa de cópia da presente sentença ao solicitante, com a advertência de
que este Juízo deu por encerrada a fase de pagamento de todos os créditos apurados e
que qualquer outra providência deverá ser tomada no Juízo próprio e diretamente contra
as mesmas;

2. Todo e qualquer ofício, mandado, carta de citação, intimação ou precatória, solicitando o


pagamento/arresto/sequestro/penhora de custas processuais, contribuição previdenciária,
bem como qualquer outra obrigação fiscal que tenha como fato gerador créditos
reclamados contra a EKT Lojas de Departamentos Ltda. e a EKT Serviços de Cobrança
Ltda., devem ser respondidos através da simples remessa de cópia da presente sentença
ao solicitante, com a advertência de que tais créditos não estão sujeitos aos efeitos do
processo de Recuperação Judicial ora encerrado, e que qualquer outra providência deverá
ser tomada no Juízo próprio e diretamente contra as mesmas;

3. Todo e qualquer ofício, mandado, carta de citação, intimação ou precatória, denunciando


eventual erro quando do pagamento de créditos por esse Juízo, seja em relação ao
beneficiário do crédito, dados pessoais do favorecido, dados cadastrais de conta
corrente/poupança, valor do crédito pago ou dados dos alvarás de
pagamento/levantamento/transferência expedidos por este Juízo, devem ser respondidos
através da simples remessa de cópia da presente sentença ao solicitante, com a
advertência de que as contingências devem ser tratadas diretamente com a EKT Lojas de
Departamentos Ltda. e a EKT Serviços de Cobrança Ltda. e que, ainda persistindo
insatisfação dos credores, estes devem tomar as medidas judiciais cabíveis que
entenderem necessárias, diretamente contra a mesma, uma vez que este Juízo deu por
encerrado o presente feito;

Após o pagamento do alvará de ID 99753879, determino a expedição de ofício à Caixa


Econômica Federal para que informe a existência de saldo para posterior deliberação deste
Juízo, sendo prudente lembrar que os demais atos podem ser realizados independentemente de
encerramento do feito, visto que constituem fase do efetivo cumprimento das medidas
determinadas no presente encerramento.

Cientifique-se o Ministério Público, por seu ilustre agente em exercício nesta Vara.

Intimem-se da sentença todos os credores que habilitaram advogado nos autos, também
por publicação no DJe.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Após, arquivem-se, observadas as cautelas de estilo.

RECIFE, 24 de abril de 2022

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Gildenor Eudócio de Araújo Pires Júnior

Juiz de Direito

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