Você está na página 1de 7

PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

AULA 06
ANDRÉ MOTA

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA
PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
AULA 06
ANDRÉ MOTA

Nesta aula 06 do nosso curso de Prática no cumprimento de sentença,


pudemos relembrar o panorama das execuções e, nele, localizar as execuções das
quais a fazenda pública faça parte.
A execução que nos interessa - e que é objeto deste curso - é fase de
cumprimento de sentença.

OBRIGAÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA PELA FAZENDA PÚBLICA

1. Considerações iniciais

Percebemos que, sendo a fazenda pública executada e em se tratando de


obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa, ser-lhe-ão aplicadas as regras
gerais de cumprimento de sentença, previstas nos artigos 536 a 538 do CPC.

Entretanto, sendo a obrigação para pagamento de quantia certa, serão


inaplicáveis as regras de expropriação relativas à execução em geral, tendo em vista
que os bens públicos são impenhoráveis.

Assim, considerando tal peculiaridade, foi necessário traçar regras específicas


de execução, as quais estão tratadas nos artigos 534 e 535 do CPC, combinados com
os ditames do artigo 100 da Constituição Federal de 1988.

Isso porque as pessoas jurídicas de direito público deverão pagar as suas


dívidas mediante a sistemática dos precatórios ou através de requisição para
pagamento de pequeno valor (RPV).

Ressalte-se que não são abrangidos por este regime especial executivo as
sociedades de economia mista e as empresas públicas, dado o fato de serem pessoas
jurídicas de direito privado, as quais deverão submeter-se ao regime próprio das
empresas privadas.

Não obstante, como o Supremo Tribunal Federal reconheceu a extensão das


prerrogativas da Fazenda Pública à Empresa Brasileira de Correios e telégrafos
(ECT), consoante extraído do RE 220.906/DF, da relatoria do Min. Maurício Corrêa,
deverão as execuções contra a mesma submeter-se ao regime de precatórios e
RPV´s. É que a ECT não explora atividade econômica, mas serviço público essencial,
além de não se submeter ao regime de concorrência nem distribuir lucros entre

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA
PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
AULA 06
ANDRÉ MOTA

acionistas, não se lhe aplicando, portanto, o tratamento contido no artigo 173, § 1º, da
Constituição Federal de 1988.

Conforme visto, o procedimento executivo contra a fazenda pública, relativo


ao título judicial, se dará através de uma fase de cumprimento de sentença, com as
regras procedimentais a seguir dispostas.

2. Procedimento

O procedimento atenderá os seguintes passos:

→ Requerimento: No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda


Pública o dever de pagar quantia certa, o exequente apresentará requerimento,
juntando demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo: I - o nome
completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica do exequente; II - o índice de correção monetária
adotado; III - os juros aplicados e as respectivas taxas; IV - o termo inicial e o termo
final dos juros e da correção monetária utilizados; V - a periodicidade da capitalização
dos juros, se for o caso; VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios
realizados.

Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu próprio


demonstrativo.

Considerando que a Fazenda Pública não é chamada para pagar, mas, sim,
para apresentar impugnação, não há que se falar na aplicação da multa de 10%,
prevista no artigo 523, § 1º, CPC.

→ Intimação: A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu


representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no
prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução.

→ Impugnação: No cumprimento de sentença, a Fazenda Pública poderá


apresentar impugnação e não embargos à execução, sendo esta última modalidade
de defesa cabível na execução de título extrajudicial.

Considerando que já houve o trânsito em julgado da decisão judicial, a


impugnação terá o conteúdo restrito às matérias previstas no artigo 535, CPC. Tais
matérias coincidem quase que totalmente com aquelas previstas no artigo 525, CPC,
à exceção da penhora incorreta ou avaliação errônea, uma vez que os bens públicos
são inalienáveis e impenhoráveis.

Assim, a impugnação poderá versar sobre:

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA
PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
AULA 06
ANDRÉ MOTA

I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu


à revelia: tendo transcorrida a relação processual cognitiva à revelia da Fazenda
Pública, sem que a mesma tenha sido citada, caberá impugnação, a fim de que seja
declarada a nulidade dos atos processuais realizados e retorno da marcha processual
ao estado inicial. Ressalte-se que a alegação da ausência ou nulidade somente
poderá ocorrer caso o processo tenha corrido à revelia. Portanto, caso a ausência ou
nulidade tenha sido arguida na fase cognitiva e não tenha sido acatada, não poderá a
Fazenda Pública alegar o vício, tendo em vista que a questão fora abrangida pela
coisa julgada.

II - ilegitimidade de parte: ocorre quando a Fazenda Pública é demandada


equivocadamente em fase executiva, sendo, portanto, parte ilegítima. É o caso, por
exemplo, do cumprimento de sentença dirigido em face do município quando, na
demanda cognitiva, figurara como réu apenas uma autarquia a ele pertencente.

III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação: a


inexequibilidade ocorre quando não há título executivo ou o documento não possui
certeza ou liquidez. Uma sentença rescindida, por exemplo, não pode ser objeto de
execução por não mais constituir-se em título executivo.

Outrossim, a inexigibilidade, como o próprio termo indica, ocorre quando a


obrigação prevista no título não puder ser exigida pelo beneficiado. A obrigação é
inexigível quando penda alguma condição ou termo que iniba a eficácia do direito
reconhecido na sentença. É o que ocorre, por exemplo, quando a execução foi
instaurada com base em sentença pendente de apelação recebida com efeito
suspensivo.

Considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo


judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo
tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal,
em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
É mister ressaltar que a decisão do Supremo Tribunal Federal deve ter sido
proferida antes do trânsito em julgado da decisão exequenda. Caso a decisão do STF
seja proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação
rescisória, cujo prazo (de dois anos) será contado do trânsito em julgado da decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções: o excesso


de execução ocorrerá quando o credor pleitear quantia superior à prevista no título,
tal como ocorre quando o mesmo acosta ao requerimento de cumprimento de
sentença planilha (artigo 534, CPC) com valores que exorbitam os parâmetros
delineados na decisão transitada em julgado. Quando se alegar que o exequente, em
excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante do título, cumprirá ao

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA
PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
AULA 06
ANDRÉ MOTA

executado declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de não
conhecimento da arguição.

Por sua vez, a cumulação indevida de execuções ocorrerá quando o credor


requerer a cumulação de execuções fora dos parâmetros delineados pelo artigo 780
do CPC, o qual aponta:

“O exequente pode cumular várias execuções, ainda que


fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo
e desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e
idêntico o procedimento.”

Assim, por exemplo, será indevida a cumulação quando a parte pretender


cumular, em um único procedimento executivo, o cumprimento de sentença que fixou
para a Fazenda Pública tanto obrigação de fazer quanto obrigação de quantia certa,
visto serem distintos os procedimentos. Ou, ainda, quando o credor tentar cumular ao
cumprimento de sentença a execução de crédito previsto em título extrajudicial, em
desobediência às regras de competência previstas nos artigos 516 e 781 do CPC.

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução: o cumprimento


de sentença deverá obedecer às regras dispostas no artigo 516 do CPC, sendo
competente, em regra, o juízo que processou a causa em primeiro grau de jurisdição.
Assim, caso o cumprimento de sentença tenha sido requerido pelo credor perante
juízo incompetente, poderá a Fazenda Pública apresentar impugnação alegando
aludido vício.

VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,


novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao
trânsito em julgado da sentença: ressalte-se que a alegação da causa modificativa ou
extintiva da obrigação deve ter ocorrido após o transito em julgado da decisão,
tratando-se, portanto, de fato superveniente. Do contrário, não poderá a Fazenda
Pública alegar dita causa, tendo em vista que a questão fora abrangida pela coisa
julgada.

→ Finalização da execução: Não impugnada a execução ou rejeitadas as


arguições da executada, expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal
competente, precatório em favor do exequente, observando-se o disposto no artigo
100 da Constituição Federal. Tratando-se de impugnação parcial, a parte não
questionada pela executada será, desde logo, objeto de cumprimento.

Sendo a obrigação de pequeno, o pagamento será realizado no prazo de 2


(dois) meses, mediante ordem do juiz (Requisição para Pagamento de Pequeno Valor-
RPV), dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA
PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
AULA 06
ANDRÉ MOTA

processo, através de depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência


do exequente.

Quanto às dívidas de pequeno valor, poderão ser fixados, por leis próprias,
valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades
econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de
previdência social. Ressalte-se que, a teor do disposto no artigo 87 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), serão considerados de pequeno
valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes
da Federação, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que
tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda
dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos
Municípios.

→ A sistemática dos precatórios: Os pagamentos devidos pelas Fazendas


Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de


salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios
previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em
responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão
pagos com preferência sobre todos os demais débitos.

Entretanto, existem débitos que terão prioridade ainda maior, até mesmo em
relação aos de natureza alimentícia: são aqueles de natureza alimentícia cujos
titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade,
ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos
na forma da lei. Neste caso, conforme dito, serão pagos com preferência sobre todos
os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para as dívidas de
pequeno valor, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante
será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.

É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de


verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas
em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 02 de abril (este
prazo era até 1º de julho, mas foi modificado pela EC-114/2021), fazendo-se o
pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados
monetariamente.

As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados


diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a
decisão exequenda determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento do
credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA
PRÁTICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
AULA 06
ANDRÉ MOTA

ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o


sequestro da quantia respectiva.

Ressalte-se que o Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo


ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá
em crime de responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional
de Justiça.

É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de


valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução
para fins de enquadramento de parcela do total como dívida de pequeno valor.

Sem que haja interrupção no pagamento do precatório e mediante


comunicação da Fazenda Pública ao Tribunal, o valor correspondente aos eventuais
débitos inscritos em dívida ativa contra o credor do requisitório e seus substituídos
deverá ser depositado à conta do juízo responsável pela ação de cobrança, que
decidirá pelo seu destino definitivo (este “abatimento” era feito tanto em relação
às dívidas inscritas como não inscritas em dívida ativa e o abatimento era feito
no âmbito do próprio tribunal, antes de emitir o precatório. Porém, esta
sistemática foi modificada pela EC-114/2021: agora, só se “abate” crédito
inscrito em dívida ativa e esta compensação é feita no âmbito do juízo onde a
ação tramita, já que perante ele será feito o depósito e o mesmo decidirá qual o
destino do valor depositado).

É bom ressaltar que, antes da expedição do precatório, o Tribunal solicitará à


Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda
do direito de abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições
acima mencionadas (dívidas inscritas).

Pois bem, estas foram as considerações a serem feitas na aula de hoje.

Na próxima aula (última aula), conversaremos acerca o cumprimento das


sentenças que fixam obrigações de pagar alimentos, bem como acerca da execução
provisória.

Bons estudos e até lá!

APRENDA.COM.BR/ANDREMOTA

Você também pode gostar