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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL

DO ESTADO
PROFESSOR: ALEXANDRE ELI ALVES

O Estado

. Formação do Estado:
Duas teorias buscam explicar a formação do Estado:
a) Teoria Natural (ou Não Contratualista): Diz que a sociedade surge de forma espontânea,
atendendo as necessidades naturais do homem. Para esta corrente, a existência da
organização humana em sociedade se dá de forma independente à formação do Estado.
A teoria nasceu com Aristóteles, que disse “O homem é, por natureza, um animal social;
O homem é um animal político.”
b) Teoria Contratual (ou Contratualismo): Diz que os homens têm uma vontade natural de
se socializar, mas o fazem através de um contrato social. Assim, a existência da
organização humana em sociedade depende da formação do Estado. Não surge
naturalmente a sociedade, pois que, naturalmente, haveria desordem e caos. Seria
necessário, então, um acordo de vontade entre todos, decorrente da necessidade de
estabelecer regras claras.
Esta teoria segue o princípio de que o homem é mau por natureza e, para que ele não
exerça esta maldade em detrimento de outros homens, seria necessário que se firmasse
um contrato. Nasceu com Hobbes (1588-1679), que acreditava que o contrato foi feito
porque “o homem é o lobo do homem”, pois há no homem um desejo de destruição e de
manter o domínio sobre o seu semelhante.

. Formação do Estado:
- Povo: Conjunto de pessoas em determinado local que se relacionam e se submetem a um
poder central.
- Território: Área geográfica onde habita o povo.
- Poder: Provem da organização que de determinado povo que habita em um determinado
território. É o exercício do Poder do Estado, que detém o controle das políticas econômicas,
sociais e recursais. Já a população está relacionada a um número, e nação está relacionada a
um vínculo moral, cultural, de identidade dos indivíduos entre si e com o seu Estado, e tem
relação com o sentimento de pertencimento e patriotismo.
- Soberania: É o quarto elemento essencial constitutivo do Estado, que teve seu surgimento
com o Estado Moderno. A noção de poder está implícita na soberania (que é mais
abrangente, referida como característica da própria ordem jurídica). Trata-se do Poder que
o Estado tem dentro de seu próprio território, poder que é exclusivo deste, e que também
implica, fora de seu território, a “proteção” contra intervenções externas de outros Estados
ou entidades. Diz- se que todo o Estado é soberano: significa dizer que seu poder se abrange
exclusivamente sobre seu território, dentro do qual nenhum outro Estado tem o poder de
tomar decisões.

A Sociedade

É uma esfera de relações entre indivíduos (ou grupos de indivíduos) que se desenvolvem
dentro de um Estado.

. Organização:
- Reiteração/Repetição: A sociedade vai se organizado ao longo do tempo, sofrendo
adequações, adaptações, estudos e entendimentos que levam à sua posterior firmação. Para
que uma sociedade seja reconhecida como organizada, é necessário que as relações sociais
sejam contínuas e reiteradas.
- Ordem: Deve haver ordem na sociedade para que não fuja do controle. De novo, para isso,
é necessário que suas relações sejam contínuas e reiteradas.
- Adequação: A ordem e regras da sociedade devem estar em harmonia com sua cultura,
história, costumes e tendências.

. Finalidade Social:
É a busca do bem comum, o bem maior (o bem coletivo).

. Poder Social:
Deve haver um Poder Regente a regulamentar as atividades exercidas pelo povo. Ou seja,
deve haver aqueles que exercem e direcionam as políticas da sociedade.
Quanto ao Poder do Estado

A sociedade é uma esfera de relações entre indivíduos (ou grupos de indivíduos) que
se desenvolvem dentro de um Estado.

. Ordens:
- Ordem Jurídica: É a teia de normas jurídicas com auxílio das quais se exerce a dominação
Estatal, objetivando fins jurídicos ou não. A assunção do poder por alguém deve ser
legitimada, validada e legalizada, para o respeito do povo as suas ordens. Quem pode fazer
isso pela pessoa que assumirá este poder para governar o povo no nosso modelo de Estado
é a Ordem Jurídica, através de uma Constituição, chamada Lei Maior.

- Ordem Política: Usando as leis da Ordem Jurídica, executa os atos de comando e


administração da sociedade. Pode-se definir a Ordem Política como “o complexo de
princípios que estabelecem harmonia nas funções e relações do Estado, definidas pela
Ordem Jurídica.” A Ordem Jurídica dita o caminho e a Ordem Política percorre o caminho,
trazendo ordem de direito e de fato à sociedade.

. Formas de Estado:
- Estado Unitário: Traz uma única fonte de poder que atende a todo o povo em todo o
território, em um polo uno. Este tipo de Estado não comporta subdivisões. Estados com
extensão territorial não muito grande conseguem adotar este modelo com mais sucesso
(como a França, Portugal, Itália, Inglaterra e Uruguai).
- Estado Federativo.

. Formas de Governo:
A forma de governo diz respeito à relação estabelecida entre governantes e governados. Às
formas pelas quais o Estado se organiza para exercer seu poder sobre o povo. As principais
formas de governo são:
- Monarquia.
- República: Na República, o Poder emana do povo e deve contar com sua participação. Em
termos mais práticos, o povo elege um governante.
. Sistemas de Governo:
Descrevem o tipo de relação entre os poderes Legislativo e Executivo. Uma vez adotada a
Monarquia ou a República, o Sistema de Governo é a forma como cada uma delas será
operacionalizada.
- Parlamentarismo: Adota-se a forma dualista de poder - há duas figuras de liderança no
Poder Executivo: um é o Chefe de Estado, normalmente o Presidente da República (ou o
Monarca, no caso das Monarquias Constitucionais Parlamentaristas), e o outro é o Chefe de
Governo, chamado comumente de Chanceler ou Primeiro Ministro, podendo também ser um
conjunto deles (Conselho de Ministros).
- Presidencialismo: No Presidencialismo, o Presidente é o chefe do Executivo: tanto o Chefe
de Estado quanto o Chefe de Governo. O Presidencialismo confere maior estabilidade ao
Chefe de Governo.
- Semipresidencialismo: Encontram-se aqui elementos do Parlamentarismo e do
Presidencialismo. Também haverá dois chefes do Poder Executivo, um de Governo e um de
Estado, e também haverá a figura do Presidente e a figura do Primeiro Ministro. A diferença
principal que se encontra neste sistema é que ambos os Chefes terão função de Governo,
dividindo suas competências dentro do Executivo em cooperação interna. Sendo assim, o
presidente possui papel mais significativo do que no sistema parlamentarista, deixando de
ser uma figura simplesmente moral, representativa de valores.
Ainda assim, o Primeiro Ministro é quem desempenha a maior parte das atribuições do
Chefe de Governo, sendo ele escolhido pelo Congresso e subordinado a ele, como acontece
no sistema Parlamentarista. Este sistema ocorre na França, na Rússia e em Portugal.

Democracia

É uma forma de governar, onde a soberania é exercida pelo povo. Pode haver diferentes
formas de Democracia. As principais são: Direta, Indireta (Representativa) e Mista.
- Direta: Democracia Direta ou Participativa: O povo exerce o poder diretamente. Para tanto,
o povo deve se reunir em assembleia e tomar as decisões necessárias para organizar e
governar o Estado. Este tipo de democracia é muito difícil de ser aplicada nos dias atuais,
dada a extensão territorial. Este tipo de democracia era aplicado em Estados antigos nos
quais a sociedade era pequena e pouco desenvolvida em relação às de hoje, como no Estado
Grego, nas polis.
- Indireta/Representativa: Sistema em que o povo indica seu representante por meio de
eleições.
- Mista/Semidireta: É uma forma híbrida: existe a figura do representante aliado a
mecanismos para exercício direto da democracia, ou seja, em geral, o representante continua
sendo “a voz do povo”, tomando decisões por ele, porém há a possibilidade de aplicação de
alguns instrumentos que auxiliam o povo a tomar decisões diretamente, como o plebiscito,
referendo, veto popular e iniciativa popular. Através destes, o povo exerce diretamente o
poder na tomada de decisões em situações excepcionais. Os principais elementos desta
forma democrática são:
. O mandato político eletivo, elemento da democracia representativa, e;
. A participação direta e pessoal do povo nas decisões políticas em situações particulares
(plebiscito, referendo ou iniciativa popular), elemento da democracia participativa.
Esta é a forma de democracia adotada pelo Brasil. Por fim, o Brasil adota os seguintes
sistemas:
- Forma de Governo: Presidencialismo.
- Forma de Estado: Federalismo.
- Democracia: Semidireta.

Representação: Partidos Políticos e Sufrágio

- Partido Político: Pessoa Jurídica de ordem privada, e instrumento de representação política


organizado para que diferentes propostas de governo, encabeçadas por diferentes
candidatos, coloquem-se à disposição do povo para quiçá representá-lo. Um Estado pode ser
unipartidário, bipartidário ou pluripartidário (não confundir com o pluralismo político, que
diz respeito a possibilidade de o Estado adotar e respeitar diferentes ideologias).
- Sufrágio: É o direito de votar e de ser votado, devendo haver convicção política do cidadão
a exercê-lo. O voto, então, é a manifestação do exercício do sufrágio, a forma pela qual se dá
a prática deste direito. Há, ainda, o conceito de escrutínio, que é a forma específica como se
pratica o voto, ou seja, o procedimento adotado para se realizarem as votações.

Federalismo Brasileiro

O Federalismo é uma forma de Estado onde há divisões menores dentro do país, as quais
tem certa autonomia e independência, mas que continuam respondendo a União do Estado
Federal. No Brasil, são quatro os entes federativos: a União, os estados, o Distrito Federal, e
os municípios. No mundo, costuma haver a União e, logo após, os entes federativos, como
estados, províncias ou departamentos, como na França.
- São características do Estado Federal:
. A descentralização política;
. A repartição de competências;
. Constituição rígida, com base jurídica que garanta a autonomia dos entes (“união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”).
Inexistência do Direito de Secessão: É vedada a separação do estado-membro da federação.
Pode-se atuar, em casos te tentativa de secessão, a Intervenção da Federação no estado
devido, bem como pode atuar a Corte Constitucional (STF). Mesmo assim, os estados podem
se dividir (A=B+C), desmembrar (A=A+B) e se unir (A+B=C). Depende de lei complementar e
de plebiscito. Municípios também necessitam de lei complementar federal para serem
criados.

. Entes Federativos:
- União: É uma ordem central que se forma a partir da reunião dos entes federativos em
torno do Pacto Federativo, estabelecendo um acordo entre todos eles em prol da construção
de uma nação conjunta.
. A União tem dupla personalidade: Internamente, caracteriza-se por ser uma pessoa
jurídica de direito público. Externamente, é a representante da República Brasileira ao
mundo.
- Município: É a instância mais próxima da população.
. Cabe a ela: “Legislar sobre assuntos de interesse local; suplementar a legislação federal e
a estadual no que couber; instituir e arrecadar os tributos de sua competência.”
- Distrito Federal: Se comporta como uma mistura entre estado e município. Tem leis
orgânicas, e é regido pelo governador e deputados estaduais. “Compete a União organizar e
manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios; Organização judiciária, do Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização
administrativa destes.”
Fundamentos da RFB (República Federativa do Brasil)

Fundamentos (art. 1º CF): “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito
e tem como fundamentos a: soberania; cidadania; dignidade da pessoa humana; valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa; pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição”
Vedações (art. 19 CF): “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento
ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada,
na forma da lei, a colaboração de interesse público; recusar fé aos documentos públicos; criar
distinções entre brasileiros ou preferências entre si.”
Objetivos (art. 3º CF): “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional;
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.”
Princípios Internacionais (art. 4º CF): “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas
relações internacionais pelos seguintes princípios: independência nacional; prevalência dos
direitos humanos; autodeterminação dos povos; não-intervenção; igualdade entre os
Estados; defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo;
cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.”
Repartição de Competências Constitucionais

. Competências Materiais/Administrativas:
São as políticas públicas e às medidas diretas que devem ser tomadas pela administração.
Podem ser:
- Exclusivas: Cabem apenas a União (art. 21 CF). Caso não fossem executadas por um ente
central, acabariam por gerar conflitos.
- Comuns: São de todos os entes federativos, que devem atuar de forma conjunta e
complementar no sentido de exercer as competências enunciadas (art. 23 CF), como o meio
ambiente.

. Competências Legislativa:
É a faculdade para a elaboração de leis acerca de assuntos específicos.
- Privativas: As competências legislativas privativas da União (art. 22 CF), ou seja, os assuntos
sobre os quais cabe apenas à União legisla (como o Direito Penal). As competências privativas
são passíveis de delegação, podendo-se delega-las para os estados, através de lei
complementar especial para tal. Isso não acontece com a competência exclusiva (material)
que é indelegável.
- Concorrentes: São aquelas nas quais a União legisla apenas em normas gerais, cabendo aos
Estados e ao Distrito Federal a edição de normas específicas peculiares à sua condição. Caso
a União não diga nada quanto a dada competência, os estados e Distrito Federal atuam
plenamente sobre.

O Estado na Esfera do Direito Internacional Público

O Estado reúne três elementos indispensáveis para a sua formação: população, território e
governo efetivo e estável. O Estado como personalidade jurídica internacional plena é aquele
que possui soberania. Para o Direito Internacional Público, só existe poder do Estado se há
reconhecimento internacional e soberania. O Estado-Nação é uma comunidade de
indivíduos, permanentemente estabelecidos em território determinado, sob autoridade de
governo independente, com a devida finalidade de garantir o bem comum e capacidade de
manter relação com outros Estados (este último não é obrigatório).
Elementos Constitutivos do Estado: povo (elemento humano), território (elemento
material), governo, finalidade, capacidade.
- Território: É o espaço jurídico próprio do Estado. A Embaixada NÃO é extensão territorial
do Estado de origem em solo estrangeiro.
- População: A nacionalidade é requisito para ser cidadão, mas a perda dos direitos políticos
(cidadania) não suprime a condição jurídica de nacionalidade.
. Nacionalidade: É um vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a um determinado
Estado, atribuindo-lhe direitos e obrigações. Pode ser primária/originária ou
secundária/derivada.

Formação dos Estados

Os Estados podem surgir de Fundação Direta (que é comum de períodos anteriores, a


maneira clássica e inicial), de Emancipação (como colônias se libertando de colonizadores, a
exemplo do Brasil), por Separação/Desmembramento e por Fusão. Pode haver a criação de
Estados por atos jurídicos, como por Lei Interna, Tratado Internacional, ou por Decisão de
Organismo Internacional.
Há de se ressaltar que Estado não é Governo, sendo o reconhecimento de um independente
do reconhecimento do outro. O reconhecimento de Estado trata-se de reconhecer sua
soberania. Já o reconhecimento de governo possui caráter político. Via de regra, alterações
políticas no plano interno, como eventuais mudanças na política do governo, não modificam
a personalidade internacional do Estado. Isso ocorre pela preservação do princípio da
continuidade do Estado, bem como pela manutenção do papel de observador do Direito
Internacional, que não deve interferir em assuntos internos dos Estados. Potências podem
se recusar ou demorar a reconhecer um novo Estado se não consideram existir elementos de
estabilidade e garantias de cumprimento dos deveres próprios do Estado na esfera
internacional.
- Sucessão de Estados: É a substituição de um Estado (chamado de predecessor ou sucedido)
por outro (chamado de sucessor) na responsabilidade pelas relações internacionais de um
território.

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