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Direitos Humanos

Estado de Defesa e
Estado de Sítio
DIREITOS HUMANOS
Estado de Defesa e Estado de Sítio
PROF. HENRY ATIQUE

Guia referente à disciplina de Direitos Humanos do


Centro Universitário de Rio Preto, elaborado pelo
Prof. Dr. Henry Atique.

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SÃO PAULO – BRASIL


CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO - UNIRP

Halim Atique Junior


Reitor

Manuela Kruchewsky Bastos Atique


Vice-Reitora

Anete Maria Lucas Veltroni Schiavinatto


Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação

Agdamar Affini Suffredini


Pró-Reitora Acadêmica

Sérgio Luís Conti


Pró-Reitor Administrativo e Financeiro

Ricardo Costa
Pró-Reitor de Educação à Distância
APRESENTAÇÃO ........................................................................... 6

1. DIREITOS POLÍTICOS ........................................................... 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 13

REFERÊNCIAS ............................................................................... 14
Direitos Humanos

APRESENTAÇÃO

Bem-vindo ao guia de estudos da disciplina de Direitos Humanos!


Neste guia, estudaremos a questão da nacionalidade na Constituição brasileira
de 1988.

Para que este guia fosse produzido, utilizamos a mais celebrada


doutrina no assunto, no sentido de encorpar o quanto exposto, mas, ao mesmo
tempo, buscando trazer a questão de forma que todos – sejam ou não da área
jurídica – possam refletir sobre o assunto.

A partir deste estudo, poderemos ter, em linhas gerais, um panorama


preliminar sobre o que trata a mencionada disciplina.

Leia atentamente o guia. Esperamos que este texto o ajude em


uma melhor compreensão. Bons estudos!

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1. DIREITOS POLÍTICOS

Antes do mais, vale dizer que, assim como vimos que ocorre com
as questões relativas à nacionalidade, a Constituição Federal de 1988 tratou de
estabelecer, em capítulo próprio, regras que tem por objetivo reger a questão
dos direitos políticos e dos partidos políticos.

Tais disposições, no texto constitucional pátrio, encontram-se no


Título II, que é aquele que dispõe acerca dos direitos humanos fundamentais.
Por outro lado, importa considerar que este assunto tampouco é materialmente
constitucional, ou seja, não representa tema propriamente de direito
constitucional, mas poderia estar disposto em normas infraconstitucionais.

Considerado isso, passaremos à análise desses direitos. Os


direitos políticos são também chamados de direitos de cidadania, pois regulam
a forma de intervenção popular no governo, representando o conjunto de
preceitos constitucionais que proporcionam ao cidadão sua participação na vida
pública do país. Consoante ensina Pinto Ferreira1, “são aquelas prerrogativas
que permitem ao cidadão participar na formação e comando do governo”.

Nesse sentido, concretizam o disposto no parágrafo único, do


artigo 1º do texto constitucional, que estatui que “todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.” Estão, na nossa atual Constituição da República, dispostos
do artigo 14 ao artigo 17.

Estes direitos compreendem os institutos constitucionais relativos


ao direito de sufrágio, que se trata do instrumento do regime democrático que se
realiza pela manifestação dos cidadãos na vida do Estado. Nesse sentido, mais
do que um direito, é simultaneamente, um dever. Como ensina José Afonso
da Silva2 (2006:347), a cidadania é um “atributo jurídico-político que o nacional
obtém desde o momento em que se torna eleitor”.

1 Comentários à Constituição brasileira, v. 1, p. 288-289.


2 Curso de direito constitucional positivo, p. 347.

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Aliás, votar é imprescindível para o funcionamento do Estado


democrático. Desta forma, mesmo que o sufrágio não fosse obrigatório, continua
existindo o dever geral aos cidadãos, que não poderia, no entanto, ser exigido
individualmente. Trata-se de opção do constituinte a sua obrigatoriedade, mas, se
analisadas as cláusulas pétreas (art. 60, § 4°, da Constituição), vemos que seria
possível, por emenda constitucional, que o voto deixasse de ser obrigatório em
nosso país.

O direito de sufrágio é, então, o direito-dever, de índole constitucional,


que o cidadão possui de participar da vida política do Estado, o que pode acontecer
de forma direta – por meio da iniciativa popular de leis, do plebiscito, do referendo
e da ação popular (art. 14, da CF) ou indiretamente, através de mecanismos de
representação (elegendo representantes ou sendo eleito para tal tarefa). Por
isso dizemos que a Democracia no Brasil é semidireta, já que há uma mescla
de instrumentos de exercício direto do poder por seu titular – o povo – mas,
geralmente, o fruir do poder se dá por meio de representantes eleitos para tanto.

O direito de sufrágio possui algumas características fundamentais,


quais sejam:

a) Universalidade – Quer dizer que este direito se estende a todos


os cidadãos que atendam às condições indicadas no texto constitucional de forma
genérica e abstrata. A existência de requisitos para o seu exercício não desqualifica
seu caráter universal, desde que as condições e os impedimentos sejam prévia,
genérica e abstratamente definidos, para que possam ser aplicados igualmente a
todos, sem preconceitos de qualquer natureza.

b) Igualdade do voto – Significa que cada pessoa vale um voto, ou


seja, os pesos não podem ser diferenciados de indivíduo para indivíduo em razão
de situações discriminatórias, tais como sexo, cor, classe social, instrução, etc..

O direito de sufrágio é gênero do qual o direito de votar e de ser


votado são espécies. Aliás, não devemos confundir sufrágio – que é o direito de
votar e de ser votado, como dissemos –, com o voto propriamente dito – que é o
ato pelo qual se exercita o direito ao sufrágio.

O direito de votar, também chamado de sufrágio ativo ou cidadania


ativa, formaliza-se pelo alistamento eleitoral que, como o voto, é obrigatório, em
nosso país, diante das regras constitucionais concernentes ao tema, para os
maiores de 18 anos e facultativo para os analfabetos, para os maiores de 16 e
menores de 18 anos e para aqueles que ultrapassaram os 70 anos.

Já o direito de ser votado, também chamado de sufrágio passivo


ou cidadania passiva, diz com o direito que o cidadão tem de apresentar-se como

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candidato a um cargo eletivo, desde que satisfaça as condições necessárias e


esteja livre dos impedimentos constitucionais.

Nesse sentido, o artigo 14, § 3º, da Carta Maior traz as chamadas


condições de elegibilidade, que são as seguintes:

I – a nacionalidade brasileira;

II – o pleno exercício dos direitos políticos;

III – o alistamento eleitoral;

IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;

V – a filiação partidária; e

VI – a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e


Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-
Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado
Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d)
dezoito anos para Vereador.

O direito de sufrágio passivo constitui-se assim no direito de se


apresentar como candidato a cargos eletivos, assim como de ter a proclamação de
sua eleição, com a efetiva posse no cargo, quando vitorioso no certame eleitoral.

Ainda, implica no direito do eleito de permanecer no cargo durante


o prazo do mandato, sendo que as causas de perda deste devem ter previsão
constitucional, e no direito de exercer todas as prerrogativas do cargo, não
podendo um representante se colocar em posição superior a outro.

Por outro lado, a Constituição traz as chamadas inelegibilidades,


que são circunstâncias impeditivas do exercício do sufrágio passivo. Portanto,
trata-se da negação do direito de ser representante do povo no Poder.

Temos dois tipos de inelegibilidades: absolutas, que são para todos


os cargos eletivos; ou relativas, que impedem o acesso a um ou a alguns cargos
eletivos.

Quanto às inelegibilidade absolutas, temos que são inelegíveis os


inalistáveis e os analfabetos. Os inalistáveis são os que, por óbvio, não podem
alistar-se como eleitores. Estamos falando dos estrangeiros e, durante o período
do serviço militar obrigatório, os conscritos.

Já no que tange às inelegibilidades relativas, estas decorrem parte


por normas constitucionais e parte por lei complementar, autorizada a sua edição
pela própria Constituição. São elas:

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a) Inelegibilidade funcional – Desdobra-se do princípio republicano,


garantindo a alternância no poder. É aquela voltada aos chefes de Poder Executivo.
Assim é que o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subsequente.

Vale destacar que, para concorrerem a outros cargos, o Presidente da


República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem
renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito, salvo se forem
candidatos à reeleição, caso em que não há necessidade de haver a renúncia.

b) Inelegibilidade reflexa ou por parentesco – Tem a finalidade de impedir


o que podemos chamar de nepotismo eleitoral. Tem como exceção aquele que for titular
de mandato eletivo e que esteja pleiteando a reeleição.

Assim é que são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge


e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente
da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou
de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

c) Hipóteses complementares – A Constituição diz que lei complementar


poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a
fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.

Na sequência, vale dizer que o militar alistável é elegível, atendidas as


seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da
atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

De seu turno, o mandato eletivo poderá ser impugnado perante a Justiça


Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas
de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. Esta ação de impugnação de
mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se
temerária ou de manifesta má-fé.

Já a perda ou suspensão dos Direitos Políticos ocorrerá nos termos do


artigo 15 da Constituição que estabelece que é vedada a cassação de direitos políticos,
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

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II – incapacidade civil absoluta;

III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem


seus efeitos;

IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação


alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

A suspensão é na definida por José Cretella Júnior3 como sendo a


“interrupção temporária daquilo que está em curso, cessando quando terminam os
efeitos de ato ou medida anterior”. Sendo assim, temos a privação temporária do
exercício dos direitos políticos. Só pode ser suspenso algo que já existia e estava
em curso. Assim, se a pessoa ainda não detinha direitos políticos, não pode haver
suspensão4.

De seu turno, perder é deixar de ter, de possuir ou de gozar algo, ou


seja, é ser privado de alguma coisa. Por óbvio, só se perde o que se tem. Assim, a
ideia de perda possui traço de definitividade, no sentido de que a perda é sempre
permanente, mesmo que se possa recuperar o que se perdeu5.

A doutrina, em sua maioria, tem considerado as hipóteses dos


incisos I (cancelamento de naturalização) e IV (escusa de consciência) do citado
artigo 15 da Constituição como hipóteses de perda dos direitos políticos. As
demais são de suspensão6.

Também é importante mencionar que o artigo 16 da Constituição


estabelece que a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de
sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência. Trata-se do chamado princípio da anualidade eleitoral.

Já quanto aos partidos políticos, o artigo 17 da Constituição Federal


estabelece que é livre a sua criação, fusão, incorporação e extinção, resguardados
a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:

I – caráter nacional;

3 Comentários à Constituição brasileira de 1988, v. 2, p. 1118.


4 José Jairo Gomes. Direitos políticos. In: Revista Brasileira de Estudos
Políticos n. 100, p. 115.
5 Ibid., mesma página.
6 Nesse sentido: Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior.
Curso de direito constitucional, p. 314; Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Curso
de direito constitucional, p. 115; e Alexandre de Moraes. Curso de direito
constitucional, p. 256.
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Direitos Humanos

II – proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade


ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;

III – prestação de contas à Justiça Eleitoral;

IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Os partidos políticos possuem o monopólio das candidaturas, ou


seja, para que se exerça o direito ao sufrágio passivo, em nosso país, é mandatório
estar filiado a um deles, e devem ser constituídos ao modo das associações civis
para, depois, registrar seus estatutos junto ao Tribunal Superior Eleitoral.

É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua


estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha
e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre
as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo
seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

Ainda, eles têm direito a recursos do fundo partidário e acesso


gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, devendo prestar contas à Justiça
Eleitoral. Finalmente, a Constituição veda a utilização pelos partidos políticos de
organizações de caráter paramilitar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse guia, estudamos a questão dos direitos políticos, dos partidos


políticos e sua previsão na Constituição brasileira de 1988.

Com isso, encerramos a temática proposta para a presente


disciplina.

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REFERÊNCIAS

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constitucional. São Paulo: Saraiva, 2015.

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FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São


Paulo: Saraiva, 2005.

FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição brasileira. São Paulo: Saraiva,


1989. v. 1.

GOMES, José Jairo. Direitos políticos. In: Revista Brasileira de Estudos Políticos,
Belo Horizonte, n. 100, p. 103-130, jan./jun. 2010.

MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo


Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008.

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constitucional. São Paulo: Atlas, 2011.

MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 6ª. Ed. São Paulo:
Atlas, 2005.

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Literarias, 1981.

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e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo:
Malheiros, 2006.

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