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DIREITO

ELEITORAL
Prof. Dr. Júlio Coelho
“A TEORIA DO STATUS”

Georg Jellinek
RELAÇÃO JURÍDICA
 Surgimento do Estado de Direito – enfoque transferido do ponto de
vista do soberano que detém o poder e buscar conservá-lo (ex parte
principis) para o ponto de vista do indivíduo (ex parte populi)

 O poder estatal necessariamente limitado e controlado por lei formal

 Divisão entre as esferas pública e privada

 Garantia de uma esfera de liberdade do particular em face do Estado,


para delimitar a interferência estatal na liberdade individual

 Relação do particular com o Estado como RELAÇÃO JURÍDICA -


existência de direitos e obrigações mútuos

 Posição ou STATUS do particular em relação ao Estado


STATUS PASSIVO
 O status passivo (subjectionis) caracteriza-se por uma situação de
subordinação do indivíduo perante o Estado

 Obrigações potencialmente definidas pela ordem jurídica, e que


impõem ao indivíduo sujeições no âmbito de obrigações
individuais.

 Deveres de caráter geral que o Estado, em virtude das


competências que possui em um determinado sistema jurídico,
pode impor aos indivíduos. (ALEXY)
STATUS NEGATIVO
 O desenvolvimento da noção de personalidade - reconhecimento que a
soberania estatal é exercida sobre indivíduos livres, que gozam de um
espaço de atuação que não é passível de ingerências do Estado.

 Status negativo (libertatis) - conjunto de todos os potenciais direitos de


defesa das pessoas contra o Estado, para a proteção contra ingerências
ilegais na sua esfera individual por meio da titularidade de pretensão a não
concretização ou à eliminação de ofensas ilegais.

 A partir dessa limitação de possibilidade de ação do Estado, estabelece-se


para ele uma obrigação de abstenção (imperativo de omissão)

 O status negativo traduz uma esfera individual de liberdade, um espaço de


realização do indivíduo livre da ação do Estado
O status passivo e o status negativo acabam por serem
lados de uma mesma moeda

 Todas as ações que a um indivíduo não estão nem


ordenadas nem proibidas pertencem a sua esfera de
liberdade, enquanto todas as ações lhe são ordenadas ou
proibidas estão no seu âmbito de obrigações.
STATUS POSITIVO
 A concepção de um âmbito de liberdade pelo staus negativo implica , o
reconhecimento da capacidade jurídica de o indivíduo pretender que o
Estado atue em seu favor por meio de ações positivas

 Status positivo (civitatis)


- capacidade do indivíduo exigir do Estado
determinadas prestações positivas que possibilitem a satisfação de
necessidades materiais e melhores condições de vida.

 O “conjunto de todos os potenciais direitos de prestação das pessoas civis


face ao Estado” , prestações essas que seriam pressupostos indispensáveis
ao exercício das liberdades garantidas pelos status negativo.

 Ações fáticas e normativas positivas que garantam uma capacidade jurídica


de exigir tais bens ou serviços, bem como de proteção geral de direitos
STATUS ATIVO
 Status ativo - capacidade do indivíduo de agir por conta do Estado -
indivíduo desfruta de competências para influir sobre a formação da
vontade estatal como membro da comunidade política e contribuir para
os rumos do destino coletivo

 “Conjunto de todos os direitos potenciais de participação na formação


da vontade do Estado, especialmente dos direitos de votar, de acesso
a cargos públicos e a outras participações nas decisões de órgãos
legislativos, (...) de órgãos de governo, de órgãos administrativos ou
jurisdicionais” (Otto Bachof )

CONTEXTO DO DIREITOS POLÍTICOS


DIREITOS POLÍTICOS
 Direitos e garantias que permitem ao cidadão participar
na formação e comando do governo. Englobam o
direito de participar direta ou indiretamente do governo,
da organização e do funcionamento do Estado.
 É pelos direitos políticos que as pessoas – individual
e coletivamente – intervêm e participam no governo

 Direitos titularizados apenas aos nacionais – ou


portugueses equiparados (art. 12, §1º, CF/88) -
que preencham determinados requisitos
expressos na Constituição (art. 14, CF/88) (povo x
população)

 Direitos políticos inerentes à cidadania.


SENTIDO AMPLO - Consciência de ser
sujeito de direitos civis, políticos e sociais e
também de deveres e responsabilidades
enquanto parte integrante da coletividade
Possibilidade de participar ativamente da vida
e do governo do seu povo, inclusão efetiva na
vida social e na tomada de decisões.

Cidadania em sentido restrito - vínculo específico, também de


natureza política e jurídica, que qualifica o indivíduo a participar da vida
do Estado como detentor do direito de votar e ser votado, além de
outros direitos politicos. Nesse sentido estritamente técnico, a
cidadania não é reconhecida a todos

Cidadão - a pessoa detentora de direitos políticos, podendo, pois,


participar do processo governamental, elegendo ou sendo eleito para
cargos públicos. A cidadania é um “atributo jurídico-político que o
nacional obtém desde o momento em que se torna eleitor”. (JAS)
CIDADANIA X NACIONALIDADE

Nacionalidade representa o vinculo jurídico-


político do indivíduo - por nascimento ou
naturalização - com o Estado e sua respectiva
ordem jurídica

Cidadania - guarda relação com o status ativo do indivíduo;


direitos (competências) de participação ativa na formação da
vontade política (estatal) e, nesse sentido, do processo
democrático e decisório

CIDADANIA: Nacional no gozo


dos direitos políticos.
Cidadão é o nacional
(brasileiro nato ou
naturalizado) no gozo dos
direitos políticos e
participantes da vida do
Estado.
Conceito de cidadania ligado ao
conceito de democracia - regime
político que propicia uma maior
participação da população nas
decisões dos órgãos
governamentais, no que aufere um
maior grau de legitimidade e permite
uma discussão prévia para orientar
a tomada de decisões.

O cidadão não é um mero


expectador da vida
política.
DIREITO AO SUFRÁGIO
Sufrágio (subs. masc): aprovação, opinião
favorável, apoio, concordância, aclamação.

No Direito Eleitoral: sufrágio é o conteúdo


essencial dos direitos políticos.

o direito público subjetivo democrático, pelo qual um


conjunto de pessoas – o povo – é admitido a participar da
vida política da sociedade e da organização e da atividade
estatal, escolhendo os governantes ou sendo escolhido
para governar

O Sufrágio traduz o exercício da soberania


popular, o direito de votar e de ser votado.
DIMENSÕES DO SUFRÁGIO

DIMENSÃO ATIVA DIMENSÃO PASSIVA

CAPACIDADE ELEITORAL ATIVA CAPACIDADE ELEITORAL PASSIVA

o direito de o direito de ser


votar, de eleger votado, de ser
representantes eleito
SUFRÁGIO X VOTO

SUFRÁGIO VOTO

direito político que tem o o voto representa o meio


cidadão de votar, ser de exercício do direito
votado e de participar da político. o voto é a
organização e da concretização do
atividade do poder estatal sufrágio.
DIREITOS POLÍTICOS
 direito de sufrágio: alistabilidade (direito de votar em
eleições, plebiscitos e referendos); elegibilidade;
iniciativa popular de lei; ajuizamento de ação popular;
organização de e participação em partidos políticos,
participação em conselhos municipais, estaduais e
federais, etc.

 Direito/dever: não traduz só prerrogativas, mas também deveres


para com o Estado.
 O voto obrigatório no Brasil....
DIREITOS POLÍTICOS
 Titulares dos direitos políticos na perspectiva da Constituição
Federal são, em regra, os nacionais( brasileiros natos e
naturalizados).

 Porém, de acordo com o que reza o art. 12, § 1.º, da CF, aos
portugueses com residência permanente no País, se houver
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os
direitos inerentes ao brasileiro, que incluem a titularidade de
direitos políticos ativos e passivos, salvo quando se cuidar
de cargos reservados apenas aos brasileiros natos, como se
dá com a Presidência e Vice-Presidência da República e
demais cargos que conduzam indiretamente ao primeiro,
dentre outros

 A titularidade varia em se tratando de direitos políticos


ativos e passivos,
Dignidade humana é a premissa e
pressuposto antropológico do Estado
Democrático de Direito - A democracia é a
garantia organizacional e política dessa
dignidade

DIGNIDADE
DA PESSOA DEMOCRACIA
HUMANA

Peter Haberle

DIREITOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS POLÍTICOS
os direitos políticos são, em primeira linha, direitos fundamentais, ou
seja, direitos subjetivos dotados de um regime particularmente reforçado
do ponto de vista constitucional, que abarcam um conjunto diferenciado
de posições jurídicas (de titularidade individual e/ou coletiva) atribuídas
ao cidadão

• Natureza principiológica
• Regime jurídico (formal e material) diferenciado
• Dever estatal de proteção e promoção
• Dimensão objetiva e subjetiva
 Mediante a fruição de direitos políticos é que o indivíduo não será reduzido
à condição de mero objeto da vontade estatal (súdito), e torna-se sujeito do
processo de decisão sobre a sua própria vida e a da comunidade que
integra.
 A democracia material (poliarquia) pressupõe a inserção efetiva de pessoas
na vida política deve ser busca-da na máxima medida possível a fim de
possibilitar que a democracia política leve a uma distribuição mais legítima
dos bens da vida.
 A democracia material (poliarquia) pressupõe o reconhecimento, respeito,
proteção e promoção de direitos fundamentais, pois, do contrário, o
governo do povo e pelo povo poderá eventualmente não ser um governo
para o povo

 Relação de reciprocidade e interdependência entre democracia, direitos


fundamentais e direitos políticos
AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS:
Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia”, (1776):

 Art. 6º.“As eleições de representantes do povo em assembleias devem


ser livres, e todos aqueles que tenham dedicação à comunidade e
consciência bastante do interesse comum permanente têm direito de
voto, e não podem ser tributados ou expropriados por utilidade pública,
sem o seu consentimento ou o de seus representantes eleitos, nem
podem ser submetidos a nenhuma lei à qual não tenham dado, da
mesma forma, o seu consentimento para o bem público.”

Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do


Cidadão (1789) :

art. 6º. “A lei é a expressão da vontade geral. Todos


os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou através de mandatários, para a
sua formação.”
 DIREITO À DEMOCRACIA COMO
DIREITO HUMANO:

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


HUMANOS (1948):

“1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte


no governo de seu país diretamente ou por
intermédio de representantes livremente
escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito
de acesso ao serviço público do seu país. 3. A
vontade do povo será a base da autoridade
do governo; esta vontade será expressa em
eleições periódicas e legítimas, por sufrágio
universal, por voto secreto ou processo
equivalente que assegure a liberdade de
voto”(art. XXI)
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS
E POLÍTICOS – (PIDCP)- (1966)
“os Estados-partes no presente Pacto
comprometem-se a assegurar a homens e
mulheres igualdade no gozo de todos os direitos
civis e políticos enunciados no presente Pacto”
(art. 3o.)
“todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem
qualquer das formas de discriminação
mencionadas no art. 2.º e sem restrições
infundadas: a) de participar da condução dos
assuntos públicos, diretamente ou por meio de
representantes livremente escolhidos; b) de votar
e ser eleito em eleições periódicas, autênticas,
realizadas por sufrágio universal e igualitário e
por voto secreto, que garantam a manifestação
da vontade dos eleitores; c) de ter acesso, em
condições gerais de igualdade, às funções
públicas de seu país”. (art. 25)
O PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA
(1969):

“todos os cidadãos devem gozar dos seguintes


direitos e oportunidades: a) de participar da
condução dos assuntos públicos, diretamente ou
por meio de representantes livremente eleitos; b)
de votar e serem eleitos em eleições periódicas,
autênticas, realizadas por sufrágio universal e
igualitário e por voto secreto, que garantam a livre
expressão da vontade dos eleitores; e c) de terem
acesso, em condições gerais de igualdade, às
funções públicas de seu país”(art. 23, 1)

“a lei pode regular o exercício dos direitos e


oportunidades, a que se refere o inciso anterior,
exclusivamente por motivo de idade,
nacionalidade, residência, idioma, instrução,
capacidade civil ou mental, ou condenação, por
juiz competente, em processo penal”. (art. 23, 2 )
CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA
UNIÃO EUROPEIA (2000):

“1. Todos os cidadãos da União gozam do direito


de eleger e de serem eleitos para o Parlamento
Europeu no Estado-Membro de residência, nas
mesmas condições que os nacionais desse
Estado. 2. Os membros do Parlamento Europeu
são eleitos por sufrágio universal direto, livre e
secreto”. (art. 39)
“todos os cidadãos da União gozam do direito de
eleger e de serem eleitos nas eleições municipais
do Estado-Membro de residência, nas mesmas
condições que os nacionais desse Estado”. (art.
40)

* Reconhecimento de uma cidadania europeia


(supranacional), que implica direitos políticos
europeus , sem prejuízo dos direitos políticos
assegurados no plano interno de cada Estado
TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS POLÍTICOS
Arts. 14-16

CAPÍTULO V
DOS PARTIDOS POLÍTICOS
Art. 17
 Direitos fundamentais com posição de destaque na
Constituição Federal de 1988 – Dignidade da pessoa
humana como fundamento do Estado (art. 1o, III)
 Direitos politicos inseridos no Título II - Direitos e
Garantias Fundamentais

 Arts. 14 a 16 - direitos políticos em sentido estrito, no


sentido de direitos e garantias diretamente destinados a
assegurar uma livre e eficaz participação do cidadão
nos processos de tomada de decisão política na esfera
estatal
 Art. 17 - regime jurídico-constitucional dos partidos
políticos

Todos os direitos e garantias contemplados são direitos fundamentais,


dotados, em regra, de aplicabilidade imediata (art. 5.º, § 1.º), vinculando
diretamente os atores estatais e, além disso, gozando da condição de
“cláusulas pétreas” (seja por se tratar, em geral, de direitos e garantias
individuais, seja pela possível invocação da noção de limites materiais
implícitos)
• Retirada arbitrária de direitos políticos;
• Art. 10 do Ato Institucional nº 1, de 1964: “no
interesse da paz e da honra nacional, e sem as
limitações previstas na Constituição, os
Comandantes-em-Chefe”, poderiam “suspender os
direitos políticos pelo prazo de 10 (dez) anos e
cassar mandatos legislativos federais, estaduais e
municipais, excluída a apreciação judicial desses atos”.

O art. 15 da Constituição Federal veda expressamente a


cassação de direitos políticos, permitindo apenas sua
perda ou suspensão.

Há possibilidade de cassação de mandatos políticos (arts. 52, parágrafo


único, 55, 85 e 86 da CF), que não implica perda definitiva de direitos
políticos e pressupõe observância do devido processo legal, ampla defesa,
contraditório e juízo natural para sua decretação
Direitos Políticos são Direitos Fundamentais

Prevalece a ideia de sua máxima efetividade, da


plenitude da cidadania do gozo dos direitos
políticos positivos, de votar e ser votado.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, Restrições interpretadas restritivamente


cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, A perda ou suspensão ‘ de direitos políticos
enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta
somente se admitem nas hipóteses
ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; taxativamente previstas no art. 15 da CF,
V - improbidade administrativa, nos termos do art.
37, § 4º.
sendo vedada a cassação de tais direitos.
A Constituição não distingue os casos nos quais pode ocorrer a perda ou a
suspensão dos direitos políticos. Apenas enumera os casos nos quais é
admitida a perda ou suspensão desses direitos.

A perda dos direitos políticos ocorreria quando há definitividade na retirada dos


direitos. A suspensão, por seu turno, importa apenas o afastamento temporário
desses direitos. Distinção inócua do ponto de vista prático.

As hipóteses de perda ou suspensão dos direitos políticos


atingem tanto o direito de votar quanto o de ser votado,
tendo, portanto, repercussão mais ampla sobre o estatuto
jurídico da cidadania do indivíduo

Hipóteses previstas taxativamente no art. 15 da CF


PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA
A perda da nacionalidade brasileira acarreta a perda dos direitos políticos, pois o não
brasileiro não possui direitos políticos no território do Estado brasileiro. É desnecessário
decreto específico da perda dos direitos políticos (perda ipso facto):

 Art. 12, § 4.º, II, da CF - brasileiro nato que perca a


nacionalidade brasileira, designadamente quando da
aquisição voluntária de outra nacionalidade, salvo as exceções
(art. 12, § 4.º, II, a e b, da CF)

 Art. 15, I, da CF - cancelamento da naturalização (Lei


13.445/2017) em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional , que rompe o vínculo jurídico de nacionalidade e
restabelece o status de estrangeiro. Somente por decisão
judicial transitada em julgado da Justiça Federal que se pode
efetivamente cancelar naturalização. (STF – RMS no 27840/
DF – Pleno – DJe 27-8-2013.
“INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA” (art. 15, II, CF);
A previsão constitucional (art. 15, II, CF) previa a suspensão de direitos políticos como efeito
secundário de prévia sentença judicial que decreta a interdição, nos termos do art. 3.º do CC (que
elencava os casos de incapacidade civil absoluta), sendo a decisão judicial cível comunicada ao juízo
eleitoral. Seria reversível com o eventual restabelecimento da capacidade civil.
O dispositivo não fazia referencia à de incapacidade civil absoluta em decorrência da idade, no caso dos menores
de 16 anos (CC, inciso I do art. 3º), pois adolescente com menos de 16 anos ainda não adquiriu direitos políticos –
é intuitivo que não se pode perder o que não se tem ou o que ainda não se adquiriu. Seria então aplicável:
II – os que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III – os que, mesmo por causa transitória,
não puderem exprimir sua vontade.

• A Lei n. 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência – EPD)


revogou os referidos incisos daquele dispositivo, passando o caput a
conter unicamente a situação antes prevista no inciso I.
• O Estatuto é baseado na Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (CIDPD) (Convenção de Nova Iorque, 2017)
promulgada no Brasil pelo Decreto no 6.949/2009.
A Convenção de Nova Iorque foi justamente o primeiro documento
internacional de direitos humanos a adquirir status constitucional
por força do artigo 5o, § 3o, da Constituição Federal, sendo
incorporada ao sistema jurídico brasileiro sob a forma de Emenda
Constitucional.

• Entre os princípios gerais da Convenção e do Estatuto,


encontram-se o respeito pela autonomia individual e a
ART. 5º.,§ 3º - § 3º Os tratados e
independência das pessoas com deficiência.
convenções internacionais sobre • Logo, em princípio, são plenamente capazes para o
direitos humanos que forem exercício de atos da vida civil as pessoas com
aprovados, em cada Casa do deficiência, independentemente de esta ser grave ou não,
Congresso Nacional, em dois temporária ou permanente.
turnos, por três quintos dos votos
• O fato de a pessoa com deficiência necessitar de auxílio para
dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas a prática de algum ato não significa que seja incapaz, ou que
constitucionais. (EC n. 45/2004) lhe falte autonomia para agir moralmente
• Uma pessoa interditada e sob curatela mantém incólume
seus direitos de personalidade, podendo, ainda, ser titular de
outros direitos, como os políticos. Nesse caso, terá direito de
votar e ser votada.
[...] 1. O Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei nº 13.146, de 2015 - modificou o art. 3º do
Código Civil, com a alteração do rol daqueles considerados absolutamente incapazes,
circunstância que trouxe impactos no âmbito desta Justiça especializada, particularmente no
funcionamento do cadastro eleitoral, cujos gerenciamento, fiscalização e regulamentação estão
confiados à Corregedoria-Geral. 2. Alcançado o período de vigência do mencionado diploma
legal, a incapacidade absoluta se restringiu unicamente aos menores de 16 (dezesseis) anos, os
quais não detêm legitimidade para se alistar eleitores - exceção feita àqueles que completem a
idade mínima no ano em que se realizarem eleições até a data do pleito (Res.-TSE nº 21.538, de
2003, art. 14). 3. Esta Justiça especializada, na via administrativa, deve se abster de promover
anotações de suspensão de direitos políticos por incapacidade civil absoluta, ainda que
decretada anteriormente à entrada em vigor da norma legal em referência, nos históricos dos
respectivos eleitores no cadastro, de forma a se adequar aos novos parâmetros fixados. 4. Para
regularização das inscrições em que o registro de suspensão de direitos políticos por
incapacidade civil absoluta tenha sido feito antes da entrada em vigor da Lei de Inclusão da
Pessoa com Deficiência, o eleitor deverá cumprir as formalidades previstas nos arts. 52 e 53, II,
a, da Res.-TSE nº 21.538, de 2003. [...]”
(Ac. de 7.4.2016 no PA nº 11471, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura.)

A pessoa com deficiência deve ter aptidão para livremente formar e manifestar
sua vontade. Em caso negativo, poderá, então, ser considerada relativamente
incapaz e ter seus direitos políticos suspensões. Cidadania pressupõe
capacidade de manifestação livre do pensamento, assim como capacidade de
fazer e expressar escolhas.
CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM
JULGADO, ENQUANTO DURAREM SEUS EFEITOS
(art. 15, III, CF);
A pessoa condenada criminalmente, cuja sentença tenha
transitado em julgado, está impedida de exercer seus direitos
políticos - juízo de reprovabilidade expresso na condenação
justifica a privação de seus direitos políticos, enquanto não
cumprir a pena respectiva

A premissa é que o que os cargos público-eletivos sejam


ocupados por cidadãos insuspeitos, sobre os quais não
pairem dúvidas quanto à integridade ético-jurídica,
honestidade e honradez - assegurar a legitimidade e a
dignidade da representação popular por pessoas de boa
conduta social

A norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata , independendo, para efeito de sua


imediata incidência, de qualquer ato de intermediação legislativa.
Repercussão Geral Reconhecida Com Mérito
Julgado – Tema 370
A regra de suspensão dos direitos políticos, prevista no art. 15, III, da Constituição
Federal, é autoaplicável e consequência imediata da sentença penal condenatória
transitada em julgado, independentemente da natureza da pena imposta (privativa de
liberdade, restritiva de direitos, suspensão condicional da pena, dentre outras
hipóteses).[RE 601.182, voto do rel. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, j. 8-5-2019, P,
DJE de 2-10-2019)
Tese firmada: A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15,
inc. III, da Constituição Federal aplica-se no caso de substituição da
pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.

A disposição constitucional, prevendo a suspensão dos


direitos políticos, ao referir-se à condenação criminal
transitada em julgado, abrange não só aquela decorrente da
prática de crime, mas também a de contravenção penal (ARE
859002. Rel. Min. Gilmar Mendes. DJ 16/04/2015)
CONSTITUCIONAL. DIREITOS POLÍTICOS. SUSPENSÃO EM
DECORRÊNCIA DE CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA
EM JULGADO. ART. 15, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
CONSEQUÊNCIA QUE INDEPENDE DA NATUREZA DA
SANÇÃO. RECURSO IMPROVIDO. I – A substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos não impede a
suspensão dos direitos políticos. II – No julgamento do RE
179.502/SP, Rel. Min. Moreira Alves, firmou-se o entendimento no
sentido de que não é o recolhimento do condenado à prisão que
justifica a suspensão de seus direitos políticos, mas o juízo de
reprovabilidade expresso na condenação. III – Agravo regimental
improvido. (RE 577012 AgR, Relator(a): RICARDO
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 09/11/2010)

Logo, não importa a natureza do crime (culposo ou


doloso), contravenção ou ainda da pena aplicada -
pois, em qualquer caso, ficarão suspensos os direitos
políticos em virtude de sentença penal condenatória
transitada em julgado
Djalma Pinto (Direito Eleitoral, 2005, p. 84-85) : “presunção de inocência até o
trânsito em julgado da sentença penal, para fins eleitorais, é uma aberração
repelida pelo Direito Romano, pela Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão e em qualquer lugar onde haja preocupação com a boa aplicação
dos recursos públicos”, já que “significa a constitucionalização da
impunidade diante da eternização dos processos no Brasil”.

Porém, há exigência constitucional expressa de que a


suspensão dos direitos políticos apenas se dê mediante sentença
condenatória transitada em julgado - a simples existência de
processos criminais ou de processos por improbidade
administrativa não afeta os direitos políticos/capacidade eleitoral
passiva
“Relação entre processos judiciais, sem que neles haja condenação
irrecorrível, e o exercício, pelo cidadão, da capacidade eleitoral passiva -
registro de candidato contra quem foram instaurados procedimentos
judiciais, notadamente aqueles de natureza criminal, em cujo âmbito ainda
não exista sentença condenatória com trânsito em julgado -
impossibilidade constitucional de definir-se, como causa de
inelegibilidade, a mera instauração, contra o candidato, de procedimentos
judiciais, quando inocorrente condenação criminal transitada em julgado
(...)” (ADPF 144, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado
em 06/08/2008)
• A propositura de revisão criminal não afasta a suspensão, a não ser
quando venha a ser julgada definitivamente procedente.
• A aplicação de medida de segurança ostenta natureza
condenatória, ensejando também nessa hipótese a suspensão de
direitos políticos.

• Não há, porém, suspensão dos direitos políticos nos casos de


suspensão condicional do processo e na transação penal (disciplinadas
na Lei nº 9.099/1995). Embora possa haver a aplicação de pena restritiva
de direito ou multa, a homologação judicial da transação não significa
condenação criminal.

Para que os direitos políticos sejam suspensos, não é necessário


que tal efeito conste expressamente da decisão, já que a
suspensão deve-se à previsão expressa na Constituição Federal.
Com o trânsito em julgado a autoridade judicial competente
comunicará o Juízo Eleitoral da Zona ao qual o condenado é
alistado para que proceda as anotações de praxe no cadastro
eleitoral.
EFEITOS DA CONDENAÇÃO NOS
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/rel
embre-deputados-federais-presos- CASOS DE PARLAMENTARES
durante-o-mandato-antes-de-daniel-
silveira/ FEDERAIS
Já que a suspensão de direitos políticos constitui efeito
secundário da sentença criminal condenatória,
decorrente direta e automaticamente de seu trânsito
em julgado, independentemente da natureza do crime,
contravenção ou do montante da pena aplicada, o que
acontece com aqueles que estão no exercício do mandato
eletivo?
Tratando-se de condenados criminalmente que exercem mandato de
chefe do Executivo (prefeito, governador, presidente da República e
seus respectivos vices) ou de vereador, a perda do mandato se traduz
em consequência automática da condenação criminal transitada em
julgado, que será comunicada à Justiça Eleitoral, que, por sua vez,
oficiará ao presidente da Casa Legislativa, que, mediante ato de caráter
meramente declaratório, extinguirá o mandato.

Eleitoral. Recurso contra expedição de diploma. Condenação criminal transitada


em julgado após a posse do candidato eleito (CF, art. 15, III). Perda dos direitos
políticos: consequência da existência da coisa julgada. A Câmara de vereadores não
tem competência para iniciar e decidir sobre a perda de mandato de prefeito eleito.
Basta uma comunicação à Câmara de Vereadores, extraída nos autos do processo
criminal. Recebida a comunicação, o Presidente da Câmara de Vereadores, de
imediato, declarará a extinção do mandato do Prefeito, assumindo o cargo o Vice-
Prefeito, salvo se, por outro motivo, não possa exercer a função. Não cabe ao
Presidente da Câmara de Vereadores outra conduta senão a declaração da extinção
do mandato. Recurso extraordinário conhecido em parte e nessa parte provido. (RE
225019, Relator(a): NELSON JOBIM, Tribunal Pleno, julgado em 08/09/1999, DJ 26-
11-1999)
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...)
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
VI – que sofrer condenação criminal em sentença
transitada em julgado
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato
será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado
Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da
respectiva Mesa ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 76, de
2013)
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será
declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou
mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de
partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.
O art. 15, III, contém princípio geral de aplicação imediata, e o art. 55, § 2º, é norma especial
aplicável somente aos parlamentares federais. Assim, o entendimento dominante determina
a suspensão dos direitos políticos enquanto durarem os efeitos da condenação.
Excepciona-se tão somente a situação dos parlamentares federais, para os quais a
suspensão dos direitos políticos está condicionada à decisão da casa legislativa (art. 55,
§2º)...(RE 179502, Relator(a): MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 31/05/1995, DJ
08-09-1995)

Recurso extraordinário: prequestionamento e embargos de declaração. (...). III. Suspensão de


direitos políticos pela condenação criminal transitada em julgado (CF, art. 15, III):
interpretação radical do preceito dada pelo STF (RE 179502), a cuja revisão as circunstâncias
do caso não animam (condenação por homicídio qualificado a pena a ser cumprida em
regime inicial fechado). IV. Suspensão de direitos políticos pela condenação criminal: direito
intertemporal. À incidência da regra do art. 15, III, da Constituição, sobre os condenados na
sua vigência, não cabe opor a circunstância de ser o fato criminoso anterior à promulgação
dela a fim de invocar a garantia da irretroatividade da lei penal mais severa: cuidando-se de
norma originária da Constituição, obviamente não lhe são oponíveis as limitações materiais
que nela se impuseram ao poder de reforma constitucional. Da suspensão de direitos
políticos - efeito da condenação criminal transitada em julgado - ressalvada a hipótese
excepcional do art. 55, § 2º, da Constituição - resulta por si mesma a perda do mandato
eletivo ou do cargo do agente político.(RE 418876, Relator(a): SEPÚLVEDA PERTENCE,
Primeira Turma, julgado em 30/03/2004, DJ 04-06-2004)
PERDA DO MANDATO ELETIVO. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE
PODERES E FUNÇÕES. EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. CONDENAÇÃO
DOS RÉUS DETENTORES DE MANDATO ELETIVO PELA PRÁTICA DE CRIMES
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PENA APLICADA NOS TERMOS
ESTABELECIDOS NA LEGISLAÇÃO PENAL PERTINENTE. 1(...). 2. Diferentemente da
Carta outorgada de 1969, nos termos da qual as hipóteses de perda ou suspensão de
direitos políticos deveriam ser disciplinadas por Lei Complementar (art. 149, §3º), o que
atribuía eficácia contida ao mencionado dispositivo constitucional, a atual Constituição
estabeleceu os casos de perda ou suspensão dos direitos políticos em norma de eficácia
plena (art. 15, III). Em consequência, o condenado criminalmente, por decisão transitada
em julgado, tem seus direitos políticos suspensos pelo tempo que durarem os efeitos da
condenação. 3. A previsão contida no artigo 92, I e II, do Código Penal, é reflexo direto do
disposto no art. 15, III, da Constituição Federal. Assim, uma vez condenado
criminalmente um réu detentor de mandato eletivo, caberá ao Poder Judiciário decidir,
em definitivo, sobre a perda do mandato. Não cabe ao Poder Legislativo deliberar sobre
aspectos de decisão condenatória criminal, emanada do Poder Judiciário, proferida em
detrimento de membro do Congresso Nacional. (...)Entendimento que se extrai do artigo
15, III, combinado com o artigo 55, IV, §3º, ambos da Constituição da República. Afastada
a incidência do §2º do art. 55 da Lei Maior, quando a perda do mandato parlamentar for
decretada pelo Poder Judiciário, como um dos efeitos da condenação criminal transitada
em julgado. Ao Poder Legislativo cabe, apenas, dar fiel execução à decisão da Justiça e
declarar a perda do mandato, na forma preconizada na decisão jurisdicional.
4. Repugna à nossa Constituição o exercício do mandato parlamentar quando recaia,
sobre o seu titular, a reprovação penal definitiva do Estado, suspendendo-lhe o exercício
de direitos políticos e decretando-lhe a perda do mandato eletivo. A perda dos direitos
políticos é “consequência da existência da coisa julgada”. Consequentemente, não cabe ao
Poder Legislativo “outra conduta senão a declaração da extinção do mandato” (RE
225.019, Rel. Min. Nelson Jobim). Conclusão de ordem ética consolidada a partir de
precedentes do Supremo Tribunal Federal e extraída da Constituição Federal e das leis
que regem o exercício do poder político-representativo, a conferir encadeamento lógico e
substância material à decisão no sentido da decretação da perda do mandato eletivo.
Conclusão que também se constrói a partir da lógica sistemática da Constituição, que
enuncia a cidadania, a capacidade para o exercício de direitos políticos e o preenchimento
pleno das condições de elegibilidade como pressupostos sucessivos para a participação
completa na formação da vontade e na condução da vida política do Estado. 5. No caso,
os réus parlamentares foram condenados pela prática, entre outros, de crimes contra a
Administração Pública. Conduta juridicamente incompatível com os deveres inerentes ao
cargo. Circunstâncias que impõem a perda do mandato como medida adequada,
necessária e proporcional. 6. Decretada a suspensão dos direitos políticos de todos os
réus, nos termos do art. 15, III, da Constituição Federal. Unânime. 7. Decretada, por
maioria, a perda dos mandatos dos réus titulares de mandato eletivo.(AP 470, Relator(a):
JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-074 DIVULG 19-04-2013 PUBLIC 22-04-2013 RTJ VOL-00225-01 PP-00011)
EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO PENAL. CONSTITUCIONAL. PERDA DE
MANDATO PARLAMENTAR. SUSPENSÃO E PERDA DOS DIREITOS POLÍTICOS. 1. A
perda do mandato parlamentar, no caso em pauta, deriva do preceito constitucional que
impõe a suspensão ou a cassação dos direitos políticos. 2. Questão de ordem resolvida no
sentido de que, determinada a suspensão dos direitos políticos, a suspensão ou a perda do
cargo são medidas decorrentes do julgado e imediatamente exequíveis após o trânsito em
julgado da condenação criminal, sendo desimportante para a conclusão o exercício ou não de
cargo eletivo no momento do julgamento.
(AP 396 QO, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 26/06/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-196 DIVULG 03-10-2013 PUBLIC 04-10-2013)

Logo em seguida....

No caso específico dos parlamentares, essa relação natural entre suspensão dos
direitos políticos e perda do cargo público (...) não se estabelece como
consequência natural. E a Constituição, no art. 55, § 2º, diz claramente que, nesses
casos, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo
Senado Federal por (...) maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa
ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla
defesa. [AP 565, rel. min. Cármen Lúcia, voto do min. Teori Zavascki, j. 8-8-2013, P,
DJE de 23-5-2014.]
"(...) a jurisprudência consolidada e a melhor doutrina
sobre o assunto sinalizam que a perda do mandato nos
casos de condenação criminal transitada em julgado, em se
tratando de deputados e senadores, regrada pelo art. 55, §
2º, da Lei Maior, não é automática. (...) quando o mandato
resulta do livre exercício da soberania popular, ou seja,
quando o parlamentar é legitimamente eleito, falece ao
Judiciário competência para decretar a perda automática
de seu mandato, pois ela será, nos termos do art. 55, VI, §
2º, da Constituição, “decidida pela Câmara dos Deputados
ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria
absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de
partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa”. Vê-se, pois, que o Texto Magno
é claro ao outorgar, nesse caso, à Câmara dos Deputados e
ao Senado a competência de decidir, e não meramente
declarar, a perda de mandato de parlamentares das
respectivas Casas. [AP 996, rel. Min. Edson Fachin, voto do
min. Ricardo Lewandowski, j. 29-5-2018, 2ª T, DJE de 8-2-
2019.]
"Perda do mandato parlamentar. É da competência das Casas Legislativas decidir sobre
a perda do mandato do congressista condenado criminalmente (art. 55, VI e § 2º, da CF).
Regra excepcionada – adoção, no ponto, da tese proposta pelo eminente revisor,
ministro Luís Roberto Barroso – quando a condenação impõe o cumprimento de pena em
regime fechado, e não viável o trabalho externo diante da impossibilidade de
cumprimento da fração mínima de 1/6 da pena para a obtenção do benefício durante o
mandato e antes de consumada a ausência do congressista a 1/3 das sessões ordinárias
da Casa Legislativa da qual faça parte. Hipótese de perda automática do mandato,
cumprindo à Mesa da Câmara dos Deputados declará-la, em conformidade com o art.
55, III, § 3º, da CF. Precedente: MS 32.326 MC/DF, rel. min. Roberto Barroso, 2-9-
2013.[AP 694, rel. min. Rosa Weber, j. 2-5-2017, 1ª T, DJE de 31-8-2017.]

Direito penal. Ação penal. Aplicação de recursos de financiamento concedido pelo


BNDES em finalidade diversa da prevista em contrato. Crime contra o sistema
financeiro nacional. Lavagem de dinheiro. Quadrilha. (...)3.3. Perda do mandato.
Considerado o regime inicial fechado fixado, decreto, com fulcro no art. 55 da
Constituição e no art. 92, I, “b”, do Código Penal a perda do mandato parlamentar
(AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, j. 02.05.2017) 4. Ação penal julgada procedente.
(AP 965, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO
BARROSO, Primeira Turma, julgado em 08/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-247 DIVULG 09-10-2020)
Súmula nº 9 do TSE - A suspensão de direitos políticos decorrente de
condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou
a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de
reparação dos danos

No caso de inadimplemento apenas da multa aplicada cumulativamente como


pena, permaneceriam suspensos os direitos políticos?

STJ - Recurso Repetitivo (Tema Repetitivo 931) : “Nos casos em que haja
condenação a pena privativa de liberdade e multa, cumprida a primeira (ou a
restritiva de direitos que eventualmente a tenha substituído), o inadimplemento
da sanção pecuniária não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade”
(STJ – REsp no 1519777/SP – Rel. Min. Rogerio Schiett Cruz – 3ª Seção – DJe 10-
9-2015).

Supremo Tribunal Federal diz que a “Lei no 9.268/1996, ao


considerar a multa penal como dívida de valor, não retirou dela o
caráter de sanção criminal, que lhe é inerente por força do art. 5o,
XLVI, c, da Constituição Federal. [...]” (STF – ADI no 3150/DF – Rel.
Min Marco Aurélio, Redator do acórdão Min. Roberto Barroso –
Pleno – j. 13-12-2018)
Nesse caso, deve ser mantida a suspensão dos direitos políticos até
o pagamento integral.
RECUSA DE CUMPRIR OBRIGAÇÃO A TODOS IMPOSTA
OU PRESTAÇÃO ALTERNATIVA, NOS TERMOS DO ART.
5º, VIII (ART. 15, IV, CF)

Escusa ou objeção de consciência,


normalmente fundada em crença ou
convicção religiosa, ética, filosófica ou
Art. 5.º, VIII, da CF. “ninguém será Lei n. 8.239/91
privado de direitos por motivo de política.
crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as
invocar para eximir-se de • A suspensão dos direitos políticos
obrigação legal a todos imposta e em razão do descumprimento de
recusar-se a cumprir prestação dever com o país ocorre somente
alternativa, fixada em lei”.
se houver a recusa de cumprir
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos
da lei. prestação alternativa fixada em lei
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, (pagar a multa ou prestar serviço
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de
paz, após alistados, alegarem imperativo de alternativo)
consciência, entendendo-se como tal o decorrente • direitos políticos ficarão
de crença religiosa e de convicção filosófica ou JÚRI
política, para se eximirem de atividades de caráter
suspensos enquanto tais ART. 436 E SS /CPP
essencialmente militar. obrigações não forem cumpridas.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, NOS TERMOS DO ART. 37, § 4º
(ART. 15, V, CF)

 A lógica para a suspensão dos direitos políticos é semelhante à


invocável no caso de condenação criminal por decisão transitada
em julgado- reprovabilidade de conduta em face da Administração
Pública e seus princípios.
 Lei n. 8.429/92 – Lei de Improbidade Administrativa (LIA) -
alterada pela Lei n. 14.230/2021 – regulamenta o dispositivo
constitucional

Art. 37.º, § 4º, da CF. “§ 4º Os • A condenação por improbidade apresenta


atos de improbidade natureza civil--administrativa.
administrativa importarão a • Diferentemente do que ocorre com a
suspensão dos direitos condenação criminal, a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função políticos deve vir expressa na sentença que julgar
pública, a indisponibilidade dos procedente o pedido inicial (não é automático).
bens e o ressarcimento ao • A suspensão de direitos políticos só se efetiva
erário, na forma e gradação com o trânsito em julgado da sentença
previstas em lei, sem prejuízo condenatória (art. 20, LIA)
da ação penal cabível”.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, NOS TERMOS DO ART. 37, § 4º
(ART. 15, V, CF)
 Lei de Improbidade Administrativa (LIA) estabelece três espécies de atos de
improbidade: os que importam enriquecimento ilícito (art. 9º.), os que causam lesão
ao patrimônio público (art. 10) e os que atentam contra os princípios da Administração
Pública (art. 11). Todos atualmente exigem dolo (Lei n. 14.230/2021)
Art. 12, LIA (Lei n. 14.230/2021)
• Art. 9º - suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos;
• Art. 10 - suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos;
• art. 11 – não prevê mais a possibilidade de suspensão dos direitos políticos
• Transitando em julgado sentença judicial condenatória, deve ser encaminhada
ao juiz eleitoral para registro. Ultrapassado o lapso de suspensão, volta-se a
usufruir dos direitos políticos.
• *Nova lei diz que “computar-se-á retroativamente o intervalo de tempo entre
a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória. (art. 12,
§10, LIA)
• A suspensão total da soma de diversos processos só poderá atingir 20 anos
(art. 18-A, parágrafo único, LIA)
Lei 14.230/2021
• a exigência do dolo, devidamente comprovado, para a punição por improbidade;
• a eliminação da sanção de perda do cargo ou mandato ou suspensão de direitos políticos nas infrações do art.
11;
• a restrição ao sancionamento por improbidade do terceiro à comprovação de ter induzido ou concorrido para
a prática da improbidade;
• a instituição de uma ação judicial típica, envolvendo a punição por improbidade, com o afastamento da
aplicação do regime da ação civil pública;
• a atribuição ao Ministério Público da legitimidade ativa privativa para a ação de improbidade;
• a ampliação do rigor no tocante aos requisitos de ajuizamento da ação de improbidade, com a expressa
exigência de qualificação dos fatos em face dos arts. 9º, 10 e 11 da Lei 8.429;
• a vedação ao julgamento antecipado da lide nas hipóteses de condenação do réu;
• a fixação de prazo prescricional de oito anos, computado a partir da data de consumação do ilícito;
• a previsão da prescrição intercorrente, computada a partir do ajuizamento da ação de improbidade, com
prazo de oito anos
• o bloqueio direto das contas bancárias dos acusados é limitada, com preferência ao bloqueio de bens de
menor liquidez, como imóveis e automóveis;
• Impedimento da ação de improbidade administrativa em casos de absolvição criminal do acusado,
confirmada por órgão colegiado, em ação que discuta os mesmos fatos;
• Compensação das penas aplicadas por outras esferas com as sanções aplicadas nas ações de improbidade
administrativa.
CONSTITUCIONAL. AUTONOMIA DE INSTÂNCIAS. POSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIZAÇÃO PENAL E POLÍTICA ADMINISTRATIVA (DL 201/1967)
SIMULTÂNEA À POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,
DEVIDAMENTE TIPIFICADO NA LEI 8.429/92. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM.
1. "Fazem muito mal à República os políticos corruptos, pois não apenas se impregnam de
vícios eles mesmos, mas os infundem na sociedade, e não apenas a prejudicam por se
corromperem, mas também porque a corrompem, e são mais nocivos pelo exemplo do que
pelo crime” (MARCO TÚLIO CÍCERO. Manual do candidato às eleições. As leis, III, XIV,
32). 2. A norma constitucional prevista no § 4º do art. 37 exigiu tratamentos sancionatórios
diferenciados entre os atos ilícitos em geral (civis, penais e político-administrativos) e os atos
de improbidade administrativa, com determinação expressa ao Congresso Nacional para
edição de lei específica (Lei 8.429/1992), que não punisse a mera ilegalidade, mas sim a
conduta ilegal ou imoral do agente público voltada para a corrupção, e a de todo aquele que o
auxilie, no intuito de prevenir a corrosão da máquina burocrática do Estado e de evitar o
perigo de uma administração corrupta caracterizada pelo descrédito e pela ineficiência.
(...)TESE DE REPERCUSÃO GERAL: “O processo e julgamento de prefeito
municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/67) não impede sua
responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei
8.429/1992, em virtude da autonomia das instâncias”. (RE 976566, Relator(a):
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 13/09/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-210 DIVULG 25-09-2019
PUBLIC 26-09-2019)
EXERCÍCIO DE DIREITOS POLÍTICOS EM PORTUGAL (QUASE-
NACIONALIDADE)
Tratado da Amizade, (2000) assinado entre
Brasil e Portugal, e promulgado pelo Decreto
nº 3.927/2001, prevê o gozo de direitos políticos
por brasileiros em Portugal e por portugueses
no Brasil, aos que tiverem três anos de
residência habitual no país estrangeiro. (Art.
17.1)
Porém, estabelece que o gozo de direitos
políticos no Estado de residência importa na
Art. 12, § 1º, da CF.
suspensão do exercício dos mesmos direitos no
“aos portugueses com
residência permanente Estado da nacionalidade (art. 17.2).

*
no País, se houver
reciprocidade em favor Resolução 23.659/2021/TSE
de brasileiros, serão Art. 11.§ 3º A aquisição do gozo de
atribuídos os direitos direitos políticos por pessoa brasileira em
inerentes ao brasileiro, Portugal não acarreta a suspensão de
salvo os casos direitos políticos ou o cancelamento da
inscrição eleitoral e não impede o
previstos nesta
alistamento eleitoral ou as demais
Constituição”. operações do Cadastro Eleitoral.
CONSEQUÊNCIAS DA PERDA OU SUSPENSÃO DOS DIREITOS
POLÍTICOS:

• cancelamento do alistamento e a exclusão do corpo de


eleitores (CE, art. 71, II);
• cancelamento da filiação partidária (LOPP, art. 22, II);
• perda do mandato eletivo (CF, art. 55, IV, § 3º);
• perda do cargo ou função pública (CF, art. 37, I, c/c Lei
nº 8.112, art. 5º, II e III);
• impossibilidade de ajuizar ação popular (CF, art. 5º,
LXXIII);
• impedimento para votar e ser votado (CF, art. 14, § 3º,
II);
• impedimento para exercer a iniciativa popular (CF, art.
61, § 2º).

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