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Direito Constitucional: conceitos

Capítulo I: O constitucionalismo
Constitucionalismo

 Gomes Canotilho: técnica especifica de limitação de poder com fins garantísticos; pode
falar-se em constitucionalismo antigo (conjunto de princípios escritos ou
consuetudinários alicerçadores da existência de direitos estamentais perante o
monarca e simultaneamente limitadores do sue poder) e em constitucionalismo
moderno (movimento politico, social e cultural que, sobretudo, a partir do séc. XIV,
questiona nos planos jurídico, politico e filosófico os esquemas tradicionais de domínio
politico, sugerindo, ao mesmo tempo, a invenção de uma nova forma de ordenação e
fundamentação do poder politico)
 Maria Lúcia Amaral: o constitucionalismo tem dois significados, o ideal (pertence ao
domínio da historia das ideias) e o da pratica jurídica (linguagem do Direito); ambos os
significados têm o mesmo objetivo, moderar o exercício do poder politico, de forma a
que este respeite a autonomia e a liberdade dos indivíduos
 Miguel Nogueira de Brito: identifica o conceito de constitucionalismo com o conceito
de Constituição
 MacIlwain: limitação jurídica do poder, antítese da decisão arbitraria, e é o oposto do
governo despótico, o governo da vontade e não do Direito
 Maurizio Fioravanti: movimento de pensamento que esta, desde as suas origens,
orientado a prosseguir finalidades politicas concretas, que se traduzem
essencialmente na limitação dos poderes políticos e na afirmação de esferas de
autonomia normativamente garantidas; o constitucionalismo tem dois lados, o do
limite (traduz-se nas ideias de moderação, de limitação do poder, de garantia dos
direitos individuais, de separação de poderes, de tutela judicial) e o da construção da
unidade politica (valem as ideias de consenso, de participação, de contrato social, de
soberania, de vontade geral, de solidariedade, de racionalização, de eficiência)

Capítulo II: O Estado


Estado: Associação formada por um povo, dotada de um poder politico originário e fixada num
determinado território. Os seus elementos são:

 Povo – elemento humano do Estado; conjunto de pessoas que se encontram ligadas ao


Estado através de um vinculo jurídico de cidadania ou nacionalidade (conceito
jurídico). Não se confunde com o conceito de população (conjunto de pessoas que
residam habitualmente no território português; conceito demográfico), nem com o
conceito de nação (vinculo histórico-cultural; coletividade identificada pela comunhão
de laços culturais ou espirituais e histórico-geográficos entre os seus membros,
permitindo recortar uma alma comum ou espirito comum
 Território – integra o território terrestre, aéreo e marítimo; é um dado definidor da
Nação, um pressuposto do exercício de determinados poderes ou da presença de
certas atribuições, e é também a condição da independência nacional, circunscreve o
âmbito do poder soberano do Estado, e representa um meio de atuação jurídico-
política do Estado
 Poder politico – faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria, instituir
órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas
jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação

Cidadania: vinculo jurídico que liga uma pessoa a um determinado Estado, não estando,
todavia, excluída a possibilidade de alguém ter mais do que uma nacionalidade ou não ter
nenhuma; a sua atribuição é uma prerrogativa do Estado soberano regulada pelas respetivas
leis, na base do ius sanguinis (vinculo determinado pela filiação) e n o ius soli (vinculo
determinado pelo local de nascimento). Pode ser originaria (quando decorre do nascimento ou
facto que se reporte ao nascimento) ou adquirida

Estado soberano: comunidade politica cujo poder politico reveste a forma de soberania,
entendida esta como o poder politico supremo na ordem interna e independente na ordem
internacional; é titular do direito de celebrar tratados, de receber e enviar representantes
diplomáticos, de fazer guerra, de reclamação internacional e de participação em organizações
internacionais

Estado não soberano: Estados protegidos (poder politico tutelado pelo Estado protetor, que
orienta as relações internacionais ou mesmo a politica interna) e os estados federados (poder
politico subordinado ao poder politico da Federação)

Estado semissoberano: Estados que gozam de soberania no plano internacional, mas onde a
mesma está reduzida ou limitada por fatores jurídicos, materiais ou políticos; Estados
protegidos, Estados vassalos (tem personalidade internacional, mas esta ligado por certas
obrigações a um Estado suserano), estados exíguos (devido a diminuta extensão do território
ou escassez da população, não esta em condições de exercer plenamente a soberania,
encontrando-se numa situação especial face ao Estado limítrofe) e Estados confederados (por
ser membro de uma confederação fica com uma soberania internacional ilimitada ao que tiver
sido estabelecido no tratado)

Formas de Estado: relações que se instauram entre o poder politico e o território. Há duas
tipologias:

 Estado simples (ou unitário) – há apenas um poder politico dotado de autoridade


constituinte em todo o território; pode ser centralizado (monopólio das decisões por
parte do poder politico central, um monolitismo que recusa o pluralismo de poderes
públicos dentro do território do Estado), descentralizado (existem outras pessoas
coletivas para alem do Estado, a que são cometidos poderes e atribuições que
normalmente competiriam ao Estado) ou regional (dispõe de um só constituição,
elaborada por uma instancia em que não participaram as regiões enquanto tais, e em
que se verifica uma descentralização politica em regiões autónomas, nos termos da
constituição e de Estatutos orgânicos regionais, outorgados ou aprovados pelos órgãos
legislativos centrais)
 Estado composto – há vários poderes políticos dotados de autoridade constituinte no
território, poderes esses que articulam em distintos níveis territoriais; tem duas
formas, o Estado Federal (pressupõe uma dualidade ou sobreposição de constituições,
de estruturas estaduais e de ordens jurídicas, devendo cada Estado federado elaborar
a sua constituição e organizar os respetivos poderes no respeito pela constituição
federal; os estados federados intervêm na vontade politica federal, quer na camara
que especialmente os representa, quer na revisão da constituição federal) e a União
Real (dois ou mais Estados, sem perderem a sua autonomia, adotam uma constituição
comum, prevendo a existência de um ou mais órgãos também comuns, a par de
órgãos particulares inerentes a cada qual)

Órgão: centro institucionalizado de poderes funcionais que exprime a vontade funcional


imputável à pessoa coletiva

Titular: pessoas físicas que emprestam a sua vontade ao órgão para que ele se possa exprimir

Agente: pessoas singulares que se limitam a colaborar no processo de formação de vontade, a


preparar ou dar execução as decisões tomadas, mas que não exprimem vontade coletiva

Competência: conjunto de poderes funcionais que a lei confere a determinado órgão para o
desempenho de uma função; não se presume, não afastando a possibilidade do
reconhecimento de competências estabelecidas de forma implícita na norma; limitação do
poder politico do estado e mecanismo de racionalização normativa do poder

Imputação: mecanismo jurídico através do qual a vontade manifestada pelo titular ou


titulares, nos termos da norma, é atribuída a determinado órgão do Estado

Cargo: papel institucionalizado em que está investido um determinado titular, exprimindo a


função ou magistratura especifica que lhe foi confiada

Representação política: para o prof. Jorge Miranda é representação do povo, de modo a


torna-lo presente no exercício do poder, que implica que os governantes representem toda a
coletividade e não apenas quem o designou, não existindo sem eleição. Segundo a prof. Maria
Lúcia Amaral, a representação politica é uma forma de representação voluntaria (na medida
em que o povo exerce a sua soberania através da eleição das pessoas que irão ocupar os
cargos), em que os governantes não atuam por conta própria, uma vez que os efeitos das suas
decisões são imputados ao Estado, e o povo não confere nem pode conferir aos seus
representantes nenhumas ordens ou instruções (daí a representação ser qualificada de
politica)

Herança: forma de designação em que o novo titular ocupa, segundo as normas que definem a
ordem legal de sucessão, a posição de sucessor hereditário, apos a morte do anterior
legislador

Inerência: forma de designação de alguém em virtude da titularidade de outro cargo, publico


ou privado (Conselho de Estado do PR, do PM, do presidente do TC, e nos presidentes das
juntas de freguesia)

Cooptação: forma de designação do titular de um órgão colegial por outro ou outros titulares
do mesmo órgão (três juízes do TC pelos restantes juízes eleitos pela AR)

Nomeação: forma de designação de um titular por efeito da vontade expressa nesse sentido
por outro órgão, seja este singular ou plural (Primeiro-Ministro, Ministros, juízes, presidentes
dos governos regionais)

Eleição: forma de designação que resulta da expressão dos votos de uma pluralidade de
sujeitos (Presidente da Republica e Deputados da Assembleia da Republica)
Legitimidade: fundamentos em que assenta o poder dos governantes, sendo que esses
fundamentos têm de ser conforme a critérios e valores (perspetiva ética, que segundo
Zippelius, trata-se de saber se o Estado se pode representar como racional e eticamente
necessário, sendo essa resposta dada pela importância dos fins que o Estado deve prosseguir)
e têm de ser aceites e reconhecidos pela comunidade (perspetiva sociológica, tratando-se de
descobrir se e por que motivos uma comunidade jurídica aceita e aprova de facto uma ordem
estatal, formulando Max Weber a tripartição entre legitimidade tradicional, a que repousa em
hábitos e fundamento de um determinado poder existente, legitimidade carismática, que
repousa no fascínio suscitado por alguém que é detentor de um poder, de uma qualidade ou
de um dom e na crença acerca da respetiva missão, e a legitimidade legal-racional, que assenta
no reconhecimento racional do caracter inevitável do poder estatal, levando à crença na
legalidade)

Ius cogens: conjunto de normas imperativas de Direito Internacional às quais não é possível
qualquer derrogação , sendo inválidos os atos dos sujeitos de Direito internacional que com
elas colidam; para uma corrente ampliativa, são normas de ius cogens todas as normas de
direitos humanos universais; para uma corrente restritiva (JMA) são poucas as verdadeiras
normas de ius cogens, de entre as quais se destacam a igualdade jurídica dos Estados, a
liberdade interior de pensamento ou a proibição do genocídio, da escravatura e da
discriminação racial

Regime politico: relação entre o poder politico e a comunidade, ou seja, tem a ver com a
relação entre governantes e governados. São vários os tipos de regime politico:

 Marcelo Rebelo de Sousa – distingue-se entre ditadura (imposição dogmática de uma


filosofia de Estado, na sua aplicação sistemática através de um aparelho politico que
subordina a garantia dos direitos essenciais dos cidadãos a logica da linha ideológica
exclusiva ou dominante e às conveniências do poder politico) e regime democrático (é
respeitado o pluralismo de conceções filosóficas, onde são efetivamente
salvaguardados os direitos fundamentais os cidadãos e onde estes participam na
designação e controlo dos governantes)
 José Melo Alexandrino – há a distinguir entre regimes democráticos (não há uma
ideologia nem uma doutrina abrangente pelo Estado; verifica-se uma efetiva limitação
do poder politico pela separação de poderes e sobretudo pelo respeito e pela
proteção efetiva dos direitos e liberdades fundamentais; os cidadãos participam de
facto na designação dos governantes e no controlo do exercício do poder politico),
regimes autoritários/ditatoriais (o Estado adota uma doutrina abrangente ou impede
que as pessoas adotem livremente outras doutrinas; a separação de poderes e os
direitos fundamentais não limitam efetivamente o poder politico; existem restrições
graves ao pluralismo e à liberdade de participação politica) e o totalitarismo (os seus
dois elementos são o terror e a fusão; presença de uma ideologia como principio
absoluto de governo; existência de um poder politico ilimitado, face ao Direito e à
Moral; aniquilação e instrumentalização da pessoa humana, manipulada e dissolvida
na massa)

Sistema de governo: relacionamento institucional entre os diferentes órgãos do poder


politico. São quatro os subtipos de sistemas de governo em regimes democráticos:

 Sistema parlamentar – o Governo é formado a partir da composição do Parlamento,


depende da confiança do Parlamento e é politicamente responsável perante o
Parlamento (o que significa que o Parlamento pode provocar a demissão do Governo);
o Chefe de Governo não pode praticar atos políticos sem a referenda ministerial, há
uma separação entre chefe de Estado e chefe de Governo, e o Governo é solidário em
relação ao seu programa e às deliberações do Gabinete. Este sistema de governo
admite varias modalidades, podendo ser:
i) Sistema parlamentar orleanista (há uma conciliação da legitimidade
monárquica com a legitimidade democrática, havendo dupla responsabilidade
politica do Governo, perante o Rei e perante o Parlamento)
ii) Sistema parlamentar de assembleia (há um ascendente do Parlamento em
relação ao chefe de Estado; não existe poder de dissolução do Parlamento; o
Governo não dispõe de poderes de intervenção efetiva junto do Parlamento,
sendo este que domina a vida politica, com a inerente instabilidade
governativa)
iii) Sistema parlamentar de Gabinete (o chefe de Estado não é eleito pelo
Parlamento; existe poder de dissolução; o Governo dispõe de poderes de
intervenção efetiva junto do Parlamento, sendo o Gabinete o eixo da vida
politica, com a inerente estabilidade governativa)
iv) Sistema parlamentar racionalizado (existência de mecanismo que visam
dificultar a queda dos governos, através da existência de uma moção de
censura construtiva, nos termos da qual só se pode derrubar o Governo no
Parlamento se, juntamente com a moção de censura, se apresentar uma
alternativa maioritária de governo e o nome do novo Primeiro-Ministro)
 Sistema presidencialista – o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e em geral
direto; não existe dualidade no Executivo, sendo o Chefe de Estado simultaneamente
chefe do Governo, cabendo-lhe nomear livremente os seus secretários de Estado; há
uma rigorosa separação orgânica entre o Chefe de Estado e o Parlamento, não
respondendo politicamente um perante o outro, falando-se a esse respeito de
“casamento sem divorcio”, existindo, porem, um conjunto de freios e contrapesos que
mantem o sistema em equilíbrio
 Sistema semipresidencialista – caracteriza-se pela confluência de duas componentes,
a parlamentar (em que o Governo é formado em função dos resultados das eleições
parlamentares; a constituição e sobrevivência do Governo depende da confiança
parlamentar, e existe uma diarquia no Executivo, com distinção de funções entre o
Chefe de Estado e o Chefe do Governo), e a presidencial (o Chefe de Estado é eleito
por sufrágio universal; o Governo é politicamente responsável perante o Chefe de
Estado, cumulativamente com a sua responsável perante o Parlamento; e o Chefe de
Estado dispõe de amplos poderes, entre os quais o poder de dissolução do
Parlamento e de veto das leis)
 Sistema diretorial – conceção rígida da separação de poderes, afastando-se do
sistema presidencial apenas pelo facto de o poder executivo estar entregue a um
órgão colegial, e não a um órgão singular; não há responsabilidade entre Diretório e
Parlamento, não podendo este demitir o Diretório, nem o Diretório dissolver o
Parlamento.

Sistema eleitoral: conjunto de regras que definem a forma de expressão da vontade eleitoral,
particularmente as que respeitam à delimitação das circunscrições eleitorais (parcelas do
território do Estado no seio das quais são apurados os mandatos, podendo haver vários
círculos de diversa dimensão ou haver um único circulo nacional) e à definição do modo de
escrutínio (formas de apuramento dos mandatos a partir dos votos expressos pelos eleitores).
Distingue-se, quanto ao modo de escrutínio, entre:

 Sistema maioritário – é eleito o candidato ou a lista de candidatos que obtiverem


maior numero de votos; no sistema maioritário a uma volta, é eleito o candidato mais
votado seja qual for a maioria obtida, no sistema maioritário a duas voltas, é eleito o
candidato que na primeira volta obtiver maioria absoluta e, se tal maioria não tiver
sido alcançada, deve realizar-se nova eleição para os candidatos mais votados na
primeira volta, sendo eleito o que obtiver maioria relativa. As vantagens deste sistema
são a simplicidade, a estabilidade governativa que proporciona, a menor influencia dos
diretórios partidários, bem como a maior aproximação entre os eleitos e os eleitores; a
maior desvantagem é a injustiça, dado prejudicar gravemente os partidos menos
votados
 Sistema de representação proporcional – corresponde ao sufrágio plurinominal, a
representação de cada partido deve ser proporcional ao numero de votos que lhe
couberam na eleição.

Partido politico: agrupamento duradouro de cidadãos organizado tendo em vista participar no


funcionamento das instituições e formar e exprimir organizadamente a vontade popular, para
o efeito acedendo, exercendo ou influenciando diretamente o exercício do poder politico.

Sistema de partidos: fórmula ou modo através do qual se exprime o numero, o peso eleitoral e
a influência dos diversos partidos existentes num determinado Estado. Tendo em conta o
numero de partidos, o seu peso eleitoral e a influencia real de que dispõem acesso, exercício e
controlo do estado, existem cinco tipos de sistema de partidos:

 Sistema sem partidos – existe na Arabia Saudita


 Sistema de partido único – sistema próprio dos regimes não democráticos, existindo
hoje na Coreia do Norte, na China ou em Cuba
 Sistema de partido hegemónico – há mais do que um partido, mas é o principal partido
o único a ter efetivo acesso, exercício e controlo do poder, coexistindo com um regime
politico não democrático e com sistemas políticos não competitivos, ou seja, onde não
estão asseguradas condições de verdadeira concorrência e alternância politica
 Sistema bipartidário – distingue-se entre bipartidarismo perfeito (os dois maiores
partidos obtêm cerca de 90% dos votos, como acontece em Cabo Verde e nos EUA) e
bipartidarismo imperfeito (os dois maiores partidos não obtêm mais de 75% a 80% dos
votos, o que confere a outro ou outros partidos um papel relevante no equilíbrio do
sistema, como é o caso do RU e da Alemanha)
 Sistema multipartidário – pode ser perfeito (quando existem três ou mais partidos que
tenham um peso eleitoral aproximado), imperfeito (quando um dos partidos alcança
menos 35% dos votos) ou condicionado (quando existem outros fatores que limitam a
influencia real dos partidos)

Capítulo III: A Constitucionalismo


Constituição: obra resultante do exercício dessa autoridade constituinte (poder politico
originário e subordinante) no seio de uma dada comunidade. Ordem jurídica fundamental do
Estado, o que significa que a Constituição não pretende regular tudo o que respeita ao Estado,
mas apenas as regras básicas relativas à organização do poder politico do Estado, à definição
dos direitos e liberdades dos cidadãos e ao acatamento das normas constitucionais, e que não
pode resumir-se a um texto escrito, pois, tal como sucede com o Direito constitucional
também a Constituição está especialmente aberta sobre o politico e sobre o social. A
Constituição pode ser:

 Quanto à feição: material (conjunto de normas jurídicas fundamentais que regulam a


organização do poder politico do Estado, os direitos e liberdades das pessoas, bem
como a fiscalização do acatamento dessas normas por parte do poder politico; parte
da delimitação das matérias a que deve ser reconhecida dignidade constitucional; o
conteúdo material permite verificar se uma determinada norma jurídica é ou não
constitucional), formal (conjunto de normas jurídicas decretadas através de um
processo especifico, dotadas de uma força superior e integradas num documento
qualificado de Constituição ou lei constitucional; o procedimento adotado/o lugar que
ocupa no ordenamento e a sua positivação num texto solene) e instrumental (texto
denominado Constituição ou elaborado como Constituição formal)
 Quanto à extensão: concisas (formulam apenas as regras gerais básicas relativas à
organização dos poderes do Estado, aos direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos e à garantia da Constituição, cingindo-se à matéria constitucional em sentido
estrito e deixando tudo o mais à legislação orgânica ou complementar) e prolixas
(incorporam no texto matérias alheias ao Direito constitucional, que tratam da matéria
constitucional com demasiada minúcia e que se ocupam com desenvolvimento que
melhor caberiam ao legislador ordinário)
 Quanto à carga ideológica: estatuaria (definir o estatuto e a organização do poder
politico e a regular a participação politica dos cidadãos, abstendo-se de definir
objetivos ou programas de ação) e programáticas (alem da organização do poder
politico e dos direitos fundamentais dos cidadãos, ocupa-se da fixação de um conjunto
de objetivo, programas e metas a alcançar pelo Estado nos domínios económico, social
e cultural, procurando, na sua versão extrema, dirigir a sociedade)
 Quanto ao processo de alteração: rígida (não podem ser modificadas pelo mesmo
processo adotado para a elaboração das leis ordinárias, estando sujeitas a um
conjunto de limites formais _ respeitam à definição dos órgãos competentes para
desencadear ou aprovar a revisão ou às maiorias necessárias para o efeito _,
temporais _ correspondem a pressupostos da competência em razão do tempo_ ou
materiais _ respeitam a um conjunto de matérias que, por determinação expressa, não
são passiveis de revisão) e flexíveis (podem ser alteradas pelo processo estabelecido
para as leis ordinárias)
 Quanto à autoria: outorgada (provem de um ato unilateral de um órgão soberano, seja
ele um Rei ou eventualmente uma junta ou um partido), pactícia (exprime na sua
aprovação um compromisso entre dois princípios de legitimidade ou entre duas forças
politicas rivais) e democrática (exprime em toda a sua extensão o principio politico e
jurídico de que todo o governo deve apoiar-se no consentimento dos governados e
traduzir a vontade soberana do povo)
 Quanto à concordância com a realidade: normativa (as normas regulam efetivamente
o processo politico e em que o processo politico se ajusta ele próprio a essas normas),
nominal (não consegue regular o processo politico, ficando sem realidade existencial,
por falta de correspondência com a realidade) e semântica (a realidade ontológica é a
formalização da situação do poder politico existente em beneficio exclusivo dos
detentores de facto do poder, que dominam a maquina de coação do Estado)

Poder constituinte: faculdade de um povo, no exercício da sua autoridade suprema, dar a si


próprio uma Constituição; pode ser em sentido material, quando define, segundo uma
determinada ideia de Direito, o conteúdo da Constituição, traduzido nas diversas estruturas da
Constituição, ou em sentido formal, quando adota normas com força jurídica superior à das
leis ordinárias, ou seja, o poder de adotar uma Constituição. É apresentado, na tradição
francesa, como sendo um poder originário (nenhum outro poder anterior lhe serve de
fundamento, dizendo-se mesmo que era logico e cronologicamente anterior à Constituição),
autónomo (pode dispor de forma independente e incondicionada sobre a ordenação da vida
politica da comunidade), omnipotente (não esta subordinado a nenhuma regra de forma ou de
fundo) e inesgotável (não desaparece com a aprovação da Constituição).

Para Jorge Miranda, existem três limites ao poder constituinte: os limites transcendentes
(provêm do Direito Natural e de valores éticos superiores e que teriam sobretudo a ver com os
direitos fundamentais mais próximos da dignidade da pessoa humana), os limites imanentes
(decorrem da própria identidade do Estado) e os limites heterónomos (provenientes da
articulação com outros ordenamentos, como o internacional e o europeu, ou os decorrentes
da existência de uma federação); para Marcelo Rebelo de Sousa, há dois limites, os
condicionamentos estruturais e os condicionamentos de valor; par Miguel Nogueira de Brito,
são de recusar os limites transcendentes e imanentes, admitindo apenas os limites
respeitantes à própria ação que consiste em elaborar e aprovar uma Constituição; para Carlos
Blanco de Morais, não há quaisquer limites jurídicos ao poder constituinte.

Existem duas formas de exercício do poder constituinte: as formas democráticas (o povo


exerce o poder constituinte, intervindo, direta e indiretamente, de forma livre e não
condicionada, na feitura da Constituição, o que pressupõe a existência de uma sociedade
aberta, o respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, a existência de formas de
intervenção popular e a inexistência de condicionamentos que afetem a expressão dessa
vontade), e as formas não democráticas (o exercício deste poder pertence a uma pessoa ou a
um grupo de pessoas, sem intervenção do povo nesse exercício ou com grave manipulação ou
condicionamento da expressão da vontade popular).

Referendo: as normas objeto de consulta foram elaboradas por um órgão designado


democraticamente, num contexto de pluralismo e de liberdade de participação politica

Plebiscito: as normas foram elaboradas por um órgão monocrático ou autocrático

Revisão constitucional: modificação expressa, de alcance geral e abstrato da Constituição, que


visa a continuidade institucional, ainda que por vezes se preveja a possibilidade de revisão
total ou possa vir a ocorrer de facto uma transição constitucional, que representara uma
rutura com a Constituição material anterior. É um poder juridicamente limitado pelo poder
constituinte, encontrando-se submetido aos limites que lhe tenham sido fixados na
Constituição.

Limites formais (teses acerca da relevância jurídica):

 Tese da irrelevância jurídica – tudo o que esta na Constituição pode ser revisto, na
medida em que não há uma diferença qualitativa entre o poder constituinte e o poder
de revisão constitucional, devendo, por conseguinte, os limites materiais serem
entendidos como meras orientações politicas (Marcello Caetano)
 Tese da relevância relativa – os limites materiais têm valor jurídico, mas podem ser
removidos através de uma “dupla revisão”, nos termos da qual, num primeiro
momento, se altera as normas de limites e, numa ulterior revisão, se alteram as
normas que estavam protegidas por aqueles limites, que todavia, no caso de serem de
1º grau, permanecem na Constituição na qualidade de limites implícitos (Jorge
Miranda)
 Tese da relevância limitada – as normas de limites materiais estão no mesmo nível de
todas as demais normas da Constituição, razão pela qual também elas podem ser
revistas através dos procedimentos previstos na Constituição, o que, todavia, não põe
em causa a obrigação de preservar a identidade da Constituição (Miguel Nogueira de
Brito)
 Tese da relevância absoluta – as normas de limites materiais situam-se num nível
hierárquico superior ao das restantes normas constitucionais, razão pela qual os
limites materiais devem ser entendidos como proibições permanentes e absolutas,
cuja violação coloca a lei de revisão constitucional fora da ordem constitucional
(Gomes Canotilho + Melo Alexandrino)

Vicissitudes constitucionais: quaisquer eventos que se projetem sobre a subsistência da


Constituição ou de algumas das suas normas. Distingue-se vicissitudes expressas (revisão
constitucional, derrogação constitucional _ existência de regulamentações constitucionais
especificas contrarias a um principio ou regra geral da Constituição _, transição constitucional
_ passagem a uma nova Constituição material através do aproveitamento das regras
constitucionais que regulam o processo de revisão _, revolução _rutura na ordem
constitucional da qual deriva um novo fundamento de validade material da ordem jurídica;
desempenha uma função de legitimação, uma função hermenêutica e uma função
constitutiva, cumprindo ainda em período revolucionário uma parte da missão que em período
de estabilidade pertence à Constituição_, rutura não revolucionaria e suspensão parcial da
Constituição) e vicissitudes táticas (costume constitucional, interpretação evolutiva da
Constituição e revisão indireta)

Constituição como ordem aberta: a abertura da Constituição manifesta-se na intima relação


entre o texto constitucional e os pressupostos da Constituição, donde resulta a excecional
importância da articulação entre o texto e a realidade constitucional, em tudo o que respeita
às tarefas de interpretação, aplicação e realização das normas constitucionais, no facto da
Constituição se apresentar antes de mais como uma rede de princípios carecidos de
complementação e abertos a uma pluralidade de concretizações e de as normas
constitucionais apresentarem normalmente uma textura aberta, na inevitabilidade do recurso
a ponderações, na resolução de muitos dos problemas que se colocam na aplicação da
Constituição, e na relação da Constituição com o tempo detetável na ligação da Constituição
com o futuro, na necessidade de atualização do consenso constitucional ,de forma a garantir,
em diferentes circunstancias politicas e sociais, a força normativa da Constituição ou ainda no
facto de a própria Constituição institucionalizar que pretende evitar uma insustentável
distancia entre a constituição escrita e a constituição material.

Constituição como ordem quadro: nem tudo esta definido na Constituição, em virtude de
muitas questões substantivas terem sido deixadas, no âmbito do processo legislativo ordinário,
à simples decisão das maiorias parlamentares, sendo tarefa da interpretação constitucional,
reservada ao legislador, com exclusão do Tribunal Constitucional, definir largura dessa
moldura. Remete para o facto de a Constituição consistir numa ordenação parcial e
fragmentaria, na medida em que se trata da ordem fundamental ou básica.

Valor: realidades referidas a fins que refletem preferências intersubjetivamente partilhadas,


definindo-se, ao contrario das regras e princípios (que têm caracter deontológico e
vinculatividade plena; os princípios ocupam hoje o lugar central na Constituição, na teoria da
Constituição e na praxis constitucional) por serem relativamente vinculativos e pelo seu
carater axiológico. São autónomos, vivem em geral numa esfera diversa da esfera do Direito e
são afetados de forma diferente pelas alterações sofridas pelo Direito positivo. Podem
desempenhar funções de sinalização das opções fundamentais, das linhas diretrizes e dos fins
que uma concreta politica escolheu num determinado momento histórico como expressão do
consenso fundamental e de onde decorre também a legitimidade daquela ordem
constitucional, e de orientação nas tarefas de interpretação e realização da Constituição, na
medida em que o apelo a essas referencias se mostre necessário ou devido

Procedimento: esquema juridicamente regulado e organizado de atos e formalidades com


vista à produção de um resultado, que tanto pode ser uma lei de revisão constitucional como
um acórdão do Tribunal Constitucional, um ato eleitoral ou um referendo, a aprovação de uma
lei ou de uma convenção internacional, a declaração do estado de sitio ou a apreciação do
programa do Governo, etc.

Tribunal Constitucional: tribunal que exerce a função jurisdicional e os seus atos têm natureza
de atos jurisdicionais, não deixando, todavia, de ser um órgão politico na forma de designação
dos seus titulares (eleitos por órgãos políticos), na legitimação democrática reforçada de que
aparece revestido, na natureza das matérias que é chamado a resolver, como a fiscalização da
inconstitucionalidade ou os processos relativos a conflitos de poderes, e a terminar pelos
poderes especiais de modulação das decisões de inconstitucionalidade

Rede de regulações constitucionais: outras normas de relevância constitucional, mesmo que


não sejam formalmente constitucionais (Declaração Universal dos Direitos do Homem de
1948, normas de Direito Europeu, Convenção Europeia dos Direitos do Homem de 1950, ius
cogens)

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