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ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES: UMA

BREVE REVISÃO TEÓRICA

Silva, Pedro de Freitas, pedrofs.adm@gmail.com1


Ba, Serigne Ababacar Cissé2
Nicolau, Igor Carneiro1
1
Discente no Mestrado Profissional em Gestão Organizacional - UFG
2
Docente do Mestrado Profissional em Gestão Organizacional – UFG

Resumo: Toda e qualquer organização possui um sistema de produção, e a partir deste sistema é possível
visualizar a geração de produtos ou serviços que são lançados no mercado a fim de atender determinada
demanda. As organizações são constituídas não apenas por maquinas e estruturas, mas também de recursos
humanos, estes que por sua vez operam funções produtivas nas quais auxiliam as organizações a atingirem seus
objetivos. Deste modo este trabalho foi constituído de modo descritivo e exploratório a fim de descrever a
Administração da Produção nas Organizações visualizando sistemas que contribuíram para o desenvolvimento
da produção, as funções que a produção exige para que haja bom funcionamento organizacional visando a
produtividade como estratégia de competitividade.

Palavras-chave: Administração, Produção, Sistema de Administração da Produção


___________________________________________________________________________
1. INTRODUÇÃO dinheiro etc.” além de que vê-se necessidade de
pessoas as quais tenham habilidade e capacidade
A administração da produção é uma atividade para operar estas organizações de modo que a
orientada para a produção de um bem físico ou para mesma possa atingir os objetivos estratégico e
a prestação de um serviço, tendo como função operacionais.
administrativa a responsabilidade pelo desempenho O ser humano depende das organizações, uma
de técnicas de gestão da produção de bens e de vez que a sociedade é constituída de organizações,
serviços ligando também a finalidade de pois quase todos os itens de necessidades humanas
desenvolver serviços e produtos. são produzidos pelas mesmas. Não podemos
O presente artigo tem como objetivo abordar esquecer que além destas necessidades, o próprio
pontos teóricos referentes à Administração da homem passa parte de seu tempo e de sua vida
Produção, Sistema da Administração da Produção, dentro das mesmas.
contribuições para com os sistemas produtivos Para alcançar o máximo rendimento de todos
advindos de uma perspectiva americana e japonesa, recursos os quais constituem a organização, e
perpassando pontos sobre a produção nas preciso uma serie de competências que possam
organizações e os reflexos da produtividade, reunir os recursos atingindo assim os objetivos da
competitividade e estratégias referentes ao tema. empresa. As empresas são exemplos de
O método utilizado para a construção deste organizações, pois são constituídas de pessoas
artigo vem a partir de uma fundamentação teórica trabalhando em conjunto, estas que conforme
em pesquisa básica, ou seja, buscando inicialmente Chiavenato (2005, pg. 02) “[...] essencialmente
teóricos que abordam o tema, sendo uma pesquisa dinâmicas, passam por mudanças, tem ciclos de
de cunho descritivo e exploratório a fim de buscar prosperidade ou de dificuldade e necessitam de
maiores orientações sobre a perspectiva da constante renovação [...]”.
Administração da Produção nas Organizações. Quanto à produção das organizações e o que
elas produzem, podemos classificar em empresas
2. REFERENCIAL TEÓRICO primárias ou extrativistas, secundárias ou
transformadoras e terciárias ou prestadoras de
2.1 Administração da Produção serviços, onde o seu sucesso depende de sua
sobrevivência e concorrência perante ao mercado
Conforme Chiavenato (2005, pg. 02) “As ao qual esta inserida, a maneira em que se
organizações são constituídas de recurso como administra o pessoal, as relações estabelecidas com
edifícios, instalações, maquinas, equipamentos,

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todos envolvidos no processo produtivo até o gerenciar recursos destinados a produção e
cliente final. disponibilização de bens é serviços e função de
Segundo Harding (1981) uma boa definição de produção é a parte da organização responsável por
Administração de Produção proposta como esta atividade. Onde todas as organizações acabam
abordagem prática, apareceu no período anterior, por possuir uma função de produção porque produz
logo após a Segunda Guerra Mundial. Essa algum tipo de produto e/ou serviço.
abordagem sugeriu que a Administração de Numa visão geral e possível perceber que todas
Produção fosse relacionada com a fabricação de um as organizações necessitam de sistemas aplicados
produto (ou serviço) na quantidade certa, ao tempo para gerenciamento de suas rotinas, bem como
certo e na qualidade certa.” pessoas no processo produtivo para garantir o
Conforme Slack et al (2009, pg. 04) “A alcance de metas e objetivos a serem alcançados
administração da produção é a atividade de pelas organizações.
gerenciar recursos destinados a produção e Independente da lógica utilizada, os Sistemas
disponibilização de bens e serviços.” Vendo assim de Administração da Produção devem alcançar seus
as organizações como um sistema ao qual envolve objetivos que é dar suporte ao atingimento dos
vários setores operando e produzindo resultados objetivos estratégicos da organização, dando apoio
que por sua vez devem satisfazer os objetivos aos itens como, planejar as necessidades futura de
estratégicos. capacidade produtiva da organização, planejar os
Administração da produção soma os interesses materiais comprados, planejar os níveis adequados
estratégicos aos operacionais, fazendo que haja bom de estoques de matérias-primas, semi-acabados e
entendimento das necessidades de produção, alocar produtos finais, nos pontos certos, programar
os recursos necessários para que seja atingido o atividade de produção para garantir que os recurso
produto final e para que isto ocorra da melhor produtivos envolvidos estejam sendo utilizados, em
maneira envolve-se o Planejamento, lidando com cada momento, nas coisas certas e prioritárias, ser
disponibilidade de materiais, verificação a mão-de- capaz de saber e de informar corretamente a
obra e capacidade produtiva, análises constantes respeito da situação corrente dos recursos (pessoas,
dos cenários da produção, realizando previsões de equipamento, instalações, materiais) e das ordens
necessidades, enfim, liga o sistema de planejamento (de compra e produção), ser capaz de prometer os
e produção, e para Harding (1981) objetivo do menores prazos possíveis aos clientes e depois fazer
planejamento de produção é buscar satisfazer as cumpri-los e ser capaz de reagir eficazmente
datas de entrega aos clientes com o mínimo custo conforme Corrêa et al (2008).
total, por meio do planejamento da sequência das A abordagem de Corrêa et al (2008) permite
atividades de produção. reflexão referente ao que se pode esperar de um
sistema de administração de produção, envolvendo
2.2 Sistema de Administração da Produção questões como as necessidades futuras de
capacidade que implica em parte no processo de
Segundo Chiavenato (1991, pg. 47), “Cada decisões ao que se envolvem recursos e seu uso
empresa adota um sistema de produção para realizar efetivo, além de permitir que seja traçado o
as suas operações e produzir seus produtos ou horizonte de antecedência ou de tempo, uma vez
serviços da melhor maneira possível e, com isto, que planejar as necessidades futuras liga-se a uma
garantir sua eficiência e eficácia.” Para atingir os série de análise e fatores que podem influenciar no
objetivos estratégicos da organização e necessário incremento da capacidade produtiva, permitindo
um conjunto de técnicas e lógicas que podem ser também a firmeza para com as decisões.
utilizadas para esta finalidade, chamando Os materiais adquiridos devem ser planejados
genericamente de Sistemas de Administração da de maneira a estar disponível para uso no período
Produção os sistemas de informação que apoiam as correto a necessidade, ou seja, não deve chegar nem
tomadas de decisões, táticas e operacionais antes ou depois, nem em quantidades maiores ou
buscando definir: menores do que necessária para atender a demanda,
- O que produzir e comprar objetivando assim manter os níveis de custos com
- Quanto produzir e comprar materiais reduzidos, fazendo que a organização não
- Quando produzir e comprar arque com os custos de compras excessivas.
- Com que recursos produzir Toda organização que possui atividades
A Administração da Produção trata da maneira produtivas com as entradas de materiais para que
pela qual as organizações produzem bens e serviços possa haver o ciclo de produção envolvendo os
e esta ligada a todos os setores de uma empresa e esforços de trabalho e transformação até a saída do
até mesmo na vida das pessoas. Segundo Slack et al produto final, e visível que haja uma preocupação
(2009) a administração da produção é a atividade de em relação aos níveis de estoques evitando a falta

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ou excesso de materiais, disponibilizando apenas o produção que seja o mais adequado ao
essencial à produção. produto/serviço que se pretende produzir.” Cada
Como alguns recursos são escassos é necessário organização possui um sistema de produção para
observação e acompanhamento de todo os realizar suas operações e produzir seus bens e
processos se falando de produção uma vez que pode serviços, a produção processa e transforma os
se programar atividades de produção para garantir materiais e as matérias-primas em produtos
que os recursos produtivos envolvidos estejam acabados para serem estocados ou enviados para
sendo utilizados em cada momento, não gerando venda.
tempo ocioso em casos de aumento na produção e Existem três tipos de sistemas de produção: a
atendimento a demanda produtiva. produção em lotes, produção continua e a produção
Assim os gestores começam a receber sob encomenda, onde:
informações corretas a respeito da situação corrente Segundo Chiavenato (2005, pg. 53) a produção
dos recursos, sejam eles, pessoas, equipamentos, sob encomenda “É o sistema de produção utilizado
instalações, sobressalentes, etc. e também do pela empresa que produz somente após ter recebido
atendimento as necessidades, ordens de compra e o pedido ou a encomenda de seus produtos.” Para
de produção, o que pode alavancar positivamente a que haja um bom funcionamento na produção por
contribuição estratégica dos parceiros envolvidos, lotes e necessário envolver aspectos como: Relação
levando também há um bom desempenho da cadeia das matérias-primas necessárias a produção, relação
de suprimentos. de mão-de-obra especializada para executar as
Para as organizações envolvidas na sistemática atividades e o processo de produção detalhando a
do Sistema da Administração de Produção, sequência a ser seguida.
encontram-se empresas que são capazes de atender Sistema de produção sob encomenda possui
as necessidades em menor tempo devido sua força características iniciando pelo fato de que cada
produtiva, porém para esta situação e necessário produto e único e especifico, cada produto exige
que a organização realize junto ao sistema um uma variedade de máquinas e equipamento, cada
acompanhamento do que esta sendo produto exige uma variedade de operários
executado/cumprido para que o resultado final seja especializados, cada produto tem uma data definida
realmente positivo além de criar um bom de entrega e que é difícil fazer previsões de
relacionamento com as forças de venda para que produto, pois cada produto exige um trabalho
conforme Corrêa et al (2008) possa se evitar que ao complexo e demorado que e diferente dos demais
final, o resultado e turbulência de prazos não segundo Chiavenato (2005).
cumpridos, não só do novo pedido, mas também de Conforme Chiavenato (2005, pg. 55) a
pedidos anteriormente existentes não gerem produção em lotes “É o sistema utilizado por
problemas em relação a capacidade de produção e empresas que produzem uma quantidade limitada
atendimento da demanda, pois a força de vendas de um tipo de produto de cada vez. Essa quantidade
pode agir de maneira desregulada pela falta de limitada e denominada lote de produção.” Após
apoio informacional. finalização de produção de cada lote se inicia um
Segundo Corrêa et al (2008), “O mundo novo ciclos e cada lote exige um plano de produção
competitivo de hoje demanda que os sistemas especifico.
produtivos sejam capazes de adaptar-se As características para produção em lotes
rapidamente a mudanças: mudanças nos processos podem ser identificadas da seguinte sequencia: 1. A
produtivos, mudanças na disponibilidade de fabrica e capaz de produzir produtos com diferentes
suprimentos e, acima de tudo, mudanças na características; 2. As maquinas são agrupadas em
demanda.” Com base nesta afirmação vê-se que baterias do mesmo tipo; 3. Em cada lote de
planejar atividades no processo produtivo que esta produção as maquinas e ferramentas devem ser
sendo coordenado decorre tempo até se passar para modificadas, adaptadas e arranjadas para atender
a execução das atividades, e mesmo se adequando a aos diferentes produtos; 4. A produção em lotes
mudanças propostas e exigidas, é necessária permite uma utilização regular e plana da mão-de-
sensibilidade para identificar os desvios que obra sem grandes picos de produção; 5. A produção
ocorrem em relação ao planejado e ter a capacidade em lotes exige grandes áreas de estocagem de
de replanejar o futuro conformes as ocorrências, produtos acabados e um grande estoque de
pois durante a execução por diversas razões a materiais em processamento ou em vias; 6. Impõe a
produção pode não se comportar conforme necessidade de um plano de produção bem-feito e
planejado. que possa integrar novos lotes de produção à
Segundo Chiavenato (2005, pg. 48) “Para medida que outros sejam completados. Chiavenato
produzir com eficiência e eficácia torna-se (2005).
necessário escolher e definir um sistema de

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A produção continua é utilizada por empresas operacional da execução das atividades. Funciona
que produzem determinado produto, sem grandes de maneira que a produção exerça suas funções
modificações, por um longo período de tempo. O através de cartões ou ordens de fabricação.
ritmo de produção geralmente é acelerado e as Just In Time (JIT) – busca agilizar a resposta da
operações são executadas sem interrupção ou produção as demandas do cliente através da
mudança. Para Chiavenato (2005) as principais eliminação dos desperdícios e como consequência o
características do sistema de produção continua são aumento da produtividade, ou seja, o sistema tem
caracterizadas pelo produto que é mantido em por objetivo produzir o necessário para satisfazer as
produção durante longo período de tempo sem demandas atuais, sem excessos ou desperdícios que
modificações, além de que a produção continua conforme Chiavenato (2005, pg. 65) “Toda
facilita o planejamento detalhado, e exige maquinas atividade que consome recursos e não agrega valor
e ferramentas altamente especializadas e dispostas é um desperdício.” E para evitá-los e necessário dar
em formação linear e sequencial para a produção de prioridades aos seguintes itens: Plano Mestre,
cada componente do produto final, permite dividir Tempo de preparação, Trabalho em equipe,
operações de montagem com a quantidade exata de Kanban, Layout, Qualidade e Fornecedores.
trabalho para cada operário, com base no seu tempo Housekeeping – o ambiente de trabalho
padrão e no ciclo de produção, e o produto é agradável, limpo, higiênico e saudável, para isso
produzido em enormes quantidades ao longo do todo programa de qualidade tenta modificar os
tempo, a produção continua permite que as hábitos das pessoas com relação a limpeza, asseio,
despesas e os investimentos em equipamentos, ordem e organização no local de trabalho. Os
gabaritos, sejam depreciados (recuperados padrões do Housekeeping são chamados pelos
contabilmente) dentro de um período mais longo, o japoneses de 5S (Seiri – Seleção, Seiton –
que facilita as ações corretivas para resolver Organização, Seiso – Limpeza, Seikeetsu–
rapidamente qualquer problema de paralisação no Manutenção dos demais itens, Shitsuke –
processo de produção. O sucesso do sistema de Autodisciplina).
produção continua depende totalmente do A contribuição Americana para com os
planejamento detalhado que deve ser feito antes de sistemas de produção envolve quatro itens que
a produção iniciar um novo produto. colocam em prática o planejamento e controle da
A questão da produção e seus sistemas produção e os seus sistemas visando o controle de
envolvem também a qualidade, pois não basta todas as atividades operacionais, dentre eles estão:
produzir atendendo a demanda se há falhas no Benchmarking – que segundo Chiavenato
processo de qualidade, e através da necessidade do (2005, pg. 67) “é um processo de estudo e
desenvolvimento de novas ações que comparação das operações de uma área ou
proporcionassem inovações para os sistemas de organização em relação a outras áreas ou
produção, além de um impulso e invasão de novos concorrentes diretos ou indiretos.”, ou seja, o
mercados. Benchmarking e uma metodologia de analise de
praticas administrativas utilizado pelas
2.3 Contribuições Japonesas e Americanas organizações que são concorrentes direta ou
indiretamente e que são lideres de mercado.
Os sistemas de produção tiveram contribuições Downsizing – ferramenta que e utilizada para
Japonesas e Americanas para com a busca do reduzir e enxugar a estrutura organizacional e os
desempenho e a maximização dos resultados. processos produtivos, segundo Chiavenato (2005,
As contribuições Japonesas para com a pg. 67) “O downsizing significa cortar etapas
Administração de Produção são: desnecessárias de produção, encurtar ciclos ou
Kaizen – Conceito associado à melhoria eliminar aqueles que pouco valor agregam [...]”.
continua, com foco na eliminação de perdas, Reengenharia de Processos – descarta
ocorrem a partir dos mais baixos níveis hierárquicos estruturas, processos e sistemas existentes, procura
ate os mais altos, segundo Chiavenato (2005, pg. reinventá-los de maneira diferente, busca o
60) “Reuni dois aspectos importantes: o primeiro e desempenho excelente, conforme Chiavenato
a preocupação de mudar para melhor, e o segundo e (2005, pg. 67) “a reengenharia representa um
a continuidade desse esforço traduzido em ações redesenho fundamental e drástico dos processos do
permanentes de mudança”. negócio para melhorar custo, qualidade, serviço e
Kanban – Dispositivo de controle de ordem de velocidade.”.
atividades de um processo sequencial, seu maior 6-Sigma – medida de variação estatística, que
objetivo e indicar a necessidade de materiais se refere com que determinada operação de um
utilizados no processo produtivo, assegurar sua processo produtivo utiliza mais do que os recursos
disponibilidade garantindo a continuidade mínimos para atingir a satisfação do cliente.

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Chiavenato (2005, pg. 68-69), afirma que “O esforços integrados de um grupo, em vez dos
programa 6-sigma utiliza um conjunto de técnicas esforços individuais realizados por pessoas
em um metódico processo para atingir metas trabalhando separadamente.” Ou seja, através de
definidas. [...] busca a eficácia organizacional [...]”. um conjunto de atividades realizadas por
Ambas as contribuições para o processo determinados grupos dentro de uma organização
produtivo envolveram questões como competição pode-se atingir o cumprimento dos objetivos,
entre nações, a fim de buscar maiores resultados mesmo que suas funções não operem de maneira
organizacionais, mostrando assim seu semelhante durante o processo de produção.
desenvolvimento, crescimento e entendimento das A função de operações no âmbito empresarial
necessidades do mercado. envolve as atividades que estão ligadas diretamente
a produção de bens, fornecimento de serviços,
2.4 A Produção nas Organizações enfim, a função não existe apenas nas operações de
fabricação e montagem, mas estão presentes em
Toda e qualquer organização que produz bens e outros setores, e segundo Stevenson (2001), é
serviços tem como função central a produção, responsável pela geração dos bens ou serviços de
sendo sua razão para se manter inserida no mercado uma organização. Tem como função agregar ou
exercendo suas atividades com clareza e objetivos adicionar valor durante o processo de
estratégicos propostos, porém não pode ser definida transformação.
como única e mais importante razão, pois todas as
organizações se embasam também em três funções Tabela 1. Exemplos de tipos de operações de
centrais Stevenson (2001)

Tipos de Operações Exemplos


Agropecuária, mineração,
Produção de Bens construção, fabricação,
geração de energia elétrica
Armazenagem, transporte
rodoviário de carga,
Armazenamento/Transporte serviços de correios,
mudanças, taxis, ônibus,
hotéis, companhias aéreas
Figura 1. As três principais funções que Vendas de varejo, vendas
apresentam superposição em uma organização
de atacado, serviços
empresarial de Stevenson (2001)
Operações de Troca bancários, locação ou
A função Marketing que inclui vendas é leasing, empréstimos
responsável por comunicar os produtos ou serviços bibliotecários
de uma empresa para seu mercado de modo a gerir Produções – Filmes, radio
pedidos de serviços e produtos por consumidores. A
Entretenimento e televisão, teatro,
função Desenvolvimento de Produto/Serviço é
responsável por criar novos produtos e serviços ou concertos, gravações
modificá-los, de modo a gerar solicitações futuras Jornais, noticiários de
de consumidores por produtos e serviços. Enquanto Comunicações radio e televisão, telefone,
a função Produção é responsável por satisfazer as comunicação via satélite
solicitações de consumidores por meio da produção
e entrega de produtos e serviços.
Slack et al (2009) destaca também as funções Valor agregado ou adicionado descreve a
Contábil-Financeira, que fornece as informações diferença entre o valor ou preço dos Outputs
para ajudar os processos decisórios econômicos e (saídas) e o custo dos Inputs (entradas), em
administra os recursos financeiros da organização e organizações sem fins lucrativos o valor dos outputs
também a função dos Recursos Humanos que tanto é o seu valor para sociedade, conforme Stevenson
recruta e desenvolve funcionários da organização, (2001, pg. 04) “[...]quanto maior o valor agregado,
como também se encarrega do seu bem estar. tanto maior será a eficácia dessas operações.” Para
Conforme Stevenson (2001, pg. 04), as organizações com fins lucrativos, o valor dos
“Organizações são constituídas para se poder outputs e definido e medido pelo preço ao qual o
perseguir objetivos com mais eficiência, através dos cliente estará disposto a pagar pelo bem ou serviço.

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O valor agregado e utilizado pelas organizações Figura 2. As interfaces da área de operações com
para o desenvolvimento, investimentos em novas uma série de funções de apoio de Stevenson
instalações, equipamentos e para formação de lucro, (2001).
assim as organizações buscam ser mais produtivas e
avaliam suas operações de produção buscando 2.5 Produtividade Competitividade e Estratégia
aperfeiçoamento dos sistemas produtivos,
diminuindo os custos dos inputs ou do Segundo Mayer (1992, pg. 15) “A produção
processamento, aumentando o valor agregado. requer a obtenção e utilização dos fatores de
A função de Finanças busca envolver produção, que incluem mão-de-obra, materiais,
atividades que assegurem recursos em condições edifícios e equipamentos [...] tudo que está
vantajosas, estes os quais são obtidos através da envolvido na Produção e na Comercialização custa
organização e para Stevenson (2001) os dinheiro [...]” visto que os resultados obtidos de
funcionários da gerência financeira e da gerência de cada setor vem através dos esforços de pessoas e
operações cooperam por meio de troca de para que seja satisfatório e necessária preocupação
informações e com sua especialidade em áreas da organização com recrutamento, seleção,
como orçamentos, análise de propostas econômicas treinamentos, motivação e administração desse
para investimento e obtenção de fundos. pessoal, não bastando apenas realizar um bom
A venda e/ou promoção de bens e serviços de planejamento das atividades a fim de atender a
uma organização e chamado de Marketing, as demanda da produção de bens e serviços.
decisões sobre publicidade e preços são A produtividade, competitividade e estratégias
praticamente definidas pelas equipes de marketing. de demonstra grande importância para as
Além de que o setor e responsável por analisar o organizações empresariais, uma vez que liga a
mercado e identificar as necessidades e desejos dos utilização dos recursos produtivos com grau de
clientes, e transmitir a informação as demais eficiência de uma organização no mercado quando
equipes de operações e projetos, pois o setor comparado a outras que oferecem serviços e
fornece informações sobre as preferências dos produtos semelhantes buscando atingir a estratégia
clientes, para que a área de projetos possa saber que determinam a direção que a empresa devera
quais tipos de produtos e suas características sofrem tomar e alcanças para obter o cumprimento de seus
busca continua e em grande escala, e a operação objetivos e metas.
para determinar a capacidade de suprir/atender a Para se entender a produção e os demais itens
demanda exigida pelo mercado. ligados aos processos produtivos e necessário
As demais funções de produção na organização entendimento sobre o sistema de entradas e saídas
atuam como apoio, funções complementares, da produção, chamados de Inputs e Outputs.
interagindo com a organização e os setores e Segundo Slack et al (2009) as operações produzem
conforme Stevenson (2001, pg. 06) “[...] podemos produtos e serviços através da transformação de
também incluir as áreas de recursos humanos ou de entradas em saídas, o que e chamado de processo de
pessoal, desenvolvimento e projeto do produto, transformação, em resumo produção envolve um
engenharia industrial e manutenção.” Observe conjunto de recursos de input (entradas) usado para
exemplificação pela figura abaixo: transformar algo ou ser transformado em outputs
(saídas) de bens e serviços.
A produtividade é de responsabilidade das
gerencias de produção, conforme Stevenson (2001)
a produtividade é um índice que mede a relação
entre o output gerado (os bens produzidos e os
serviços oferecidos) e o input utilizado (a mão-de-
obra, a energia e outros recursos) para produzir o
output.
Para que as organizações possam vender seus
bens e serviços no mercado e necessários que as
mesmas sejam mais competitivas, pois a
competitividade e um fator importante para
determinar o bom funcionamento e prosperidade da
empresa ou se a mesma não esta preparada para o
mercado. A concorrência ocorre de varias maneiras
nas quais se destacam o preço, a qualidade, a
flexibilidade, a diferenciação do produto e o tempo
para atingir determinadas variedades.

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Conforme Stevenson (2001) as organizações organização e o envolvimento com o mercado e
fracassam ou tem um desempenho fraco por uma suas necessidades.
série de razões, a chave para a concorrência bem- Este trabalho teve como objetivo visualizar a
sucedida e determinar o que os clientes desejam, e administração da produção, o modo como à mesma
então direcionar os esforços para atender (ou ate é caracterizada dentro das organizações, assim
mesmo superar) suas expectativas. deixa-se em aberto o fato de que as pesquisas sobre
As estratégias de uma organização possuem um a temática possua continuidade a fim de buscar
impacto de longo prazo sobre as características da transmitir maior clareza sobre os aspectos
organização, estas que afetam a capacidade de relevantes da dinâmica organizacional em relação a
competição da empresa, seu objetivo segundo produtividade, qualidade, sistemas de produção e
Corrêa e Corrêa (2005) é garantir que os processos gestão organizacional o que de certo modo reflete
de produção e entrega de valor ao cliente sejam nas estruturas e no contexto em que as organizações
alinhados com a intenção estratégica da empresa operam.
quanto aos resultados financeiros esperados e aos
mercados a que pretende servir e adaptados ao REFERÊNCIAS
ambiente em que se insere.
Estratégias são planos para se alcançarem CHIAVENATO, I. Administração da Produção.
metas. Se você pensa nas metas como sendo 11ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
destinos, então as estratégias são os mapas para CHIAVENATO, I. Iniciação a Administração da
alcançar os destinos, elas fornecem a focalização Produção. 1ª edição – São Paulo: Makron,
necessária para a tomada de decisão. De modo McGraw-Hill, 1991.
geral, as empresas têm estratégias globais CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração
denominadas estratégias organizacionais, de Produção e de Operações: Manufatura e
relacionadas com a organização inteira, e também Serviços. Edição Compacta – São Paulo: Atlas,
tem estratégias funcionais, relacionadas com cada 2005
uma das áreas funcionais da organização. As CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M.
estratégias funcionais devem dar suporte às Planejamento, Programação e Controle da
estratégias globais da organização, assim como as Produção. MRPII/ERP, Conceitos, uso e
estratégias organizacionais devem dar suporte as implantação, base para SAP, Oracle Applications e
metas e a missão da organização segundo outros Softwares Integrados de Gestão. 5ª edição –
Stevenson (2001). São Paulo: Atlas, 2008.
HARDING, H. A. Administração da Produção. 1ª
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS edição – São Paulo: Atlas,1981.
MAYER, R. R. Administração da Produção. 1ª
A administração da produção constitui o núcleo edição – São Paulo: Atlas S.A., 1992.
de toda atividade da empresa e dessa maneira e SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R.
possível ver a importância em se manter Administração da Produção. 3ª edição – São Paulo:
competitiva perante o mercado, alinhando a Atlas 2009.
produção para com os objetivos e estratégias STEVENSON, W. J. Administração das Operações
organizacionais, pois cada negócio possui sua de Produção. 6ª edição – Rio de Janeiro: LTC –
finalidade de existência. Cabe aos gestores de Livros Técnicos e Científicos Editora, 2001.
produção e administração levantar suas capacidades
e necessidades a fim de atingir como um todo, a RESPONSABILIDADE AUTORAL
conclusão das atividades e obtenção das metas
estipuladas através das estratégias, mantendo bom Os autores são os únicos responsáveis pelo
relacionamento entre os departamentos da conteúdo deste trabalho.
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PRODUCTION MANAGEMENT IN ORGANIZATIONS: A BRIEF
THEORETICAL REVIEW
1
Silva, Pedro de Freitas, pedrofs.adm@gmail.com
Ba, Serigne Ababacar Cissé2
Nicolau, Igor Carneiro1
1
Studentes in the Professional Masters in Organizational Management - UFG
2
Teacher’s Professional Masters in Organizational Management - UFG

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Abstract. Any organization has a production system, and from this system you can see the generation of
products or services that come on the market in order to meet specific demand. Organizations are made up not
only by machines and structures, but also human resources, these in turn operate productive functions that help
organizations achieve their goals. Thus this work consisted of descriptive and exploratory way in order to
describe the Administration of Production in Organizations viewing systems that contributed to the development
of production, functions that production requires so there is good organizational functioning aimed at
productivity and competitiveness strategy.

Keywords: Administration, Production, Administration System for Production

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ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Silva, Fernanda Siqueira, fernanda2504@outlook.com


Rossi, Maria Aparecida Lopes, picidarossi@hotmail.com
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação na Unidade Acadêmica de
Educação da Universidade Federal de Goiás
2
Profª Drª. na Unidade Acadêmica de Educação da Universidade Federal de Goiás

Resumo: Este projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-graduação em Educação da


Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão, tem como objetivo investigar e discutir as estratégias de
leitura utilizadas no ensino de leitura por professores. Tem-se a intenção de observar e refletir sobre as
estratégias de leitura que as professoras utilizam para desenvolver o trabalho pedagógico com a leitura, bem
como analisar as concepções e práticas que dão suporte ao fazer pedagógico das professoras com relação ao
ensino de leitura e perceber quais as estratégias de leitura são consideradas mais eficientes pelas professoras no
ensino de leitura. A metodologia da pesquisa se pautará em uma abordagem qualitativa de cunho etnográfico e
subsidiar-se-á na observação e entrevistas com duas professoras, do 3ª ano e do 5º ano do Ensino Fundamental
I, da rede pública de Corumbaíba – GO. A abordagem teórica desta investigação se assenta em discussões que
emergiram sobre as estratégias envolvidas no ensino de leitura e o professor mediador neste processo. O
arcabouço teórico-conceitual das estratégias de leitura é expresso a partir dos estudos de Masetto, Solé, Moura
e Martins, Girotto e Souza, Antunes entre outros. Tais estudos destacam o papel do professor na formação de
leitores, o qual deve propor estratégias, procedimentos e atividades que facilitem e proporcionem a
compreensão em leitura dos alunos.

Palavras-chave: ensino de leitura; estratégias de leitura; professor mediador.


___________________________________________________________________________
1. INTRODUÇÃO A leitura de acordo com o PCNs (1998, p.
69) é o “processo no qual o leitor realiza um
A educação deve ter como uma das trabalho ativo de compreensão e interpretação do
preocupações centrais a formação do individuo texto, a partir, de seus objetivos, de seu
critico, atuante e participante na sociedade. conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de
Neste sentido a leitura ocupa um papel tudo o que sabe sobre a linguagem, etc.”
fundamental nessa formação, uma vez que Assim espera-se de todo leitor que este
propicia ao indivíduo a capacidade de consiga ser competente, tendo a capacidade de,
desenvolver sua autonomia, ampliar o através dos seus conhecimentos prévios, estabelecer
conhecimento e despertar o imaginário. Assim, uma relação entre o texto e o mundo. Pois um leitor
contribui para que os sujeitos tenham uma competente não é apenas aquele que decifra uma
visão critica da sociedade, percebendo que mensagem, mas, sim aquele que busca um sentido
lugar e papel nela devem desempenhar. Como no que está lendo, questionando e buscando fazer
ressaltam Moura e Martins (2012): inferências sobre o texto que está lendo.
A leitura é essencial para o Entendendo a atividade de ler deve ser
individuo construir seu mais do que uma simples leitura dos grafemas, ler
próprio conhecimento e deve ser compreender, percebendo-se a
exercer seu papel social no compreensão como um processo de construção de
contexto da cidadania, pois a significados sobre o texto lido.
capacidade leitora amplia o Sobre o processo de compreensão na
entendimento de mundo, atividade de leitura, Fischer (2006) afirma que:
propicia o acesso à [...] fazemos o
informação, facilita a processamento de
autonomia, estimula a fantasia informação de modo
e a imaginação e permite a pessoal, visualizamos,
reflexão crítica, o debate e a sentimos emoções,
troca de ideias. (Moura e fazemos inferências e
Martins 2012, p. 87) referencias cruzadas e
realizamos muitas

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outras complexas De acordo com o PCN (1997)
atividades cerebrais, Para aprender a ler, portanto, é
quase ao mesmo preciso interagir com a
tempo. A leitura ocorre diversidade de textos escritos,
independemente dos testemunhar a utilização que
grafemas individuais os já leitores fazem deles e
pretos em uma página participar de atos de leitura de
branca ou na tela do fato; é preciso negociar o
computador, os quais conhecimento que já se tem e
são registrados apenas o que é apresentado pelo texto,
em um nível inferior e o que está atrás e diante dos
quase inconsciente de olhos, recebendo incentivo e
percepção e ajuda de leitores experientes.
processamento. Alguns (p. 56)
estudiosos acreditam E um dos mecanismos que podemos
que a leitura seja uma utilizar para que a escola consiga cumprir com o
atividade tão complexa seu papel de formadora de indivíduos autônomos, é
quanto pensar. utilizar as estratégias de leitura no trabalho
(FISCHER, 2006, desenvolvido na sala de aula, no qual o professor
p.302) torna-se um mediador desse processo de
Desde modo, a leitura deve envolver o leitor/texto, assim como tratam os autores
processo de compreensão pautado no letramento Masetto(2000), Solé (1998), Moura e Martins
ativo, no qual o leitor se forma leitor ao interagir (2012), Girotto e Souza (2010), entre outros.
com o texto lido, por meio da ação do professor ou Segundo Isabel Solé (1988), as estratégias
de mediadores de leitura. Assim ler tornar-se uma de leitura estão presentes no processo de leitura e
forma para aprender significativamente, e quando o são as ferramentas necessárias para o
aluno compreende o que leu está aprendendo. desenvolvimento da leitura proficiente. Sua
Por isso, a necessidade de despertar nos utilização permite aos alunos compreender e
alunos a vontade de ler, e o professor, enquanto interpretar, de forma autônoma os textos lidos.
mediador, deve auxiliá-los nesse processo. Pois Girotto e Souza (2010) lembram que
cabe ao professor, enquanto mediador, utilizar das discutir o uso de estratégias no ensino de leitura
estratégias e do conhecimento prévio dos alunos, implica em discutir também sobre o letramento
estimulando esses a fazerem conexões com as suas ativo, pois quando o ensino se dá no âmbito do
experiências, conhecimento de mundo e o texto. letramento ativo, este é mais efetivo. Vez que “o
Segundo Girroto e Souza (2010), “a ensino de leitura baseado no “letramento ativo”
criança forma-se como leitora, ao construir seu pressupõe a tomada de consciência de estratégias de
saber sobre texto e leitura, conforme as atividades leitura desde a educação infantil.” (p. 48)
que lhe são propostas pelo mediador durante o Para estes autores:
processo de planejar, organizar, e implementar O objetivo de aula, de
atividades de leitura literária.” (p. 54) professores de leitura
A leitura se configura como uma literária, deve ser,
experiência cultural, capaz de transformar e explicitamente, ensinar
modificar a mente histórico–cultural dos sujeitos, se um repertório de
constituindo como uma atividade complexa, na qual estratégias para
o leitor se relaciona com outros e com o mundo, aumentar o motivo do
para Bajard (2002) “a leitura é o produto de uma entendimento e
interação entre o leitor e o texto, e não uma interesse pela leitura.
decodificação de um significante, desvelamento de Ou seja, deve se oferta
um sentido pré-existente; convocando seus situações para que as
referenciais culturais, o leitor constrói o sentido do crianças possam
texto.” (p.42) monitorar e ampliar o
Para Orlandi (1988) a leitura é uma entendimento, bem
questão linguística, pedagógica e social, se como adquirir e ativar
tornando papel da escola e do professor propiciar o seu conhecimento de
condições necessárias para que os alunos tornem-se mundo, linguístico e
leitores autônomos, sendo capazes de pensar e textual, a partir do que
julgar o que estão lendo. estão lendo.

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(GIROTTO E SOUZA, caráter elevado que envolve a formulação de
2010, P. 55) objetivos a serem realizados, planejamento de ações
desencadeadas com a finalidade de atingi-los, a
Desde modo, percebe-se como é avaliação e a possível mudança. Não devem ser
importante o papel do professor, o qual deve propor tratadas como técnicas precisas, infalíveis ou
estratégias, procedimentos e atividades que habilidades especificas, pois o uso das estratégias se
facilitem e proporcionem a compreensão em leitura caracteriza pela capacidade de representar, analisar
dos alunos. Com isso, o professor torna–se um guia os problemas e a flexibilidade para buscar soluções.
neste processo, porque exerce o papel de mediador Os autores Girotto e Souza (2010) e Solé
na construção do conhecimento. (1998), defendem o emprego das estratégias de
Para Masetto (2000) a mediação leitura em todas as etapas no ensino de leitura, que
pedagógica que o professor deve ter, refere-se à seria o antes, o durante e o depois.
atitude, posicionamento e comportamento deste Para Solé (1998) o professor, no processo
professor, que deve se tornar um facilitador, do antes da leitura, deve oferece aos alunos
incentivador e motivador do processo de finalidades/objetivos para a leitura, levando os
aprendizagem da leitura. alunos a ativarem os conhecimentos prévios,
Solé, por sua vez, (1998) nos alerta sobre incentivando suas previsões e perguntas. Já no
o processo de ler afirmando que, processo do durante a leitura, deve-se avaliar a
para que uma pessoa consistência do texto e sua compatibilidade com o
possa se envolver em conhecimento prévio. E no processo depois da
uma atividade de leitura, espera-se que o leitor seja capaz de fazer
leitura, é necessário resumos, destacando as ideias principais e
que sinta que é capaz identifique os elementos implícitos no texto.
de ler, de compreender Um outro aspecto importante destacado
o texto que tem em por Girotto e Souza(2010) é que a compreensão do
mãos, tanto de uma texto depende da fluência de cada aluno, ou seja, o
forma autônoma como aluno precisa receber instruções. E cabe ao
contando com a ajuda professor enquanto mediador planejar e propor
de outros mais atividades cada vez mais complexas que irão
experientes que atuam possibilitar ao leitor autoconfiança e assim ser
como suporte e recurso. capaz de ler com maior segurança.
De outro modo, o que Para Solé (1998) se faz importante que os
poderia ser um desafio professores reflitam sobre o trabalho com a leitura
interessante – elaborar na complexidade desse processo, e sobre a
uma interpretação capacidade que as crianças têm de enfrentarem essa
adequada – pode se complexidade. Cabe aos professores oferecer ajudas
transformar em um para os alunos superarem os desafios da atividade
sério ônus e provocar o de leitura.
desânimo, o abandono, Percebemos assim que podemos realizar
a desmotivação. diferentes atividades com a leitura podendo
(SOLÉ, 1998, p. 42) articular de varias formas, buscando sempre
Assim, percebe-se como o uso das oferecer uma leitura significativa para a criança,
estratégias de leituras se torna uma aliada eficiente para que esta compartilhe e compreenda as
no processo de ensino/aprendizagem, pois elas finalidades da leitura. E para isso a criança deve ter
desenvolvem habilidades leitoras de compreensão e conhecimento sobre quais os objetivos pretendidos
interpretação, as quais contribuem para a formação com aquela leitura e saber que pode contar com a
do leitor independente, critico, e autônomo. presença do professor, que irá auxilia-la nesse
Para Coll (1987) Apud Solé (1998) processo.
estratégias de leitura são “um procedimento – com O papel do professor como mediador e o
frequência chamado também de regra, técnica, uso de estratégias, no ensino de leitura tem sido
método, destreza ou habilidade – é um conjunto de destacados como fundamentais para formar alunos
ações ordenadas e finalizadas, isto é, dirigidas à que compreendem o que lêem. Diante disto, as
consecução de uma meta.” (COLL, 1987, p. 89) questões que norteiam a pesquisa são as seguintes:
Para Solé (1998) as estratégias têm como Como tem sido desenvolvido o trabalho com a
características próprias não detalharem nem leitura em duas salas de aula da rede pública
prescreverem totalmente o curso da ação. As municipal de Corumbaíba no 3º ano e 5º ano do
estratégias se constituem em um procedimento de ensino Fundamental I? Quais as estratégias de

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leitura são utilizadas no trabalho desenvolvido na A professora prossegue a aula fazendo
sala de aula? Percebe-se diferenças das estratégias uma interpretação oral com os alunos da HQ que foi
de leitura utilizadas no 3º ano e no 5º ano do ensino entregue para eles, falando sobre as placas na
Fundamental I? estrada, ela diz: “Na estrada sempre têm placas
A pesquisa visa investigar e discutir as sinalizando não é, falando a quantos KM temos que
estratégias de leitura utilizadas no ensino de leitura andar. O que é reduza? Os alunos respondem: era
por professores, do 3º e do 5ª ano do Ensino uma cidade. Ela questiona: Adiantou ele ficar
Fundamental I da rede municipal de educação do reduzindo a velocidade? Eles respondem: Não.
município de Corumbaíba. Bem como observar e Ela continua: Este fato torna essa história o quê?
refletir sobre as estratégias de leitura que as Engraçada? Um aluno responde: humor. Ela fala:
professoras utilizam para desenvolver o trabalho dá um certo humor à história, agora vamos a
pedagógico com a leitura, analisar as concepções e interpretação oral.
práticas que dão suporte ao fazer pedagógico das Em seguida a professora vai lendo as
professoras com relação ao ensino de leitura e perguntas e fazendo comentários sobre a HQ e
perceber quais as estratégias de leitura são anotando as respostas no quadro. Ela diz: ele é
consideradas mais eficientes pelas professoras no consciente ou não? Os alunos respondem: sim.
ensino de leitura. Ela pergunta: todas as pessoas são assim? Que vê
Assim, se faz necessário refletir sobre placa e para? Os alunos falam: não. A professora
como vem sendo realizado o ensino de leitura e questiona: têm gente que vê placa e não para,
quais estratégias vêm sendo desenvolvidas pelos então esse motorista é consciente, por quê? Porque
professores com seus alunos. É neste contexto é ele obedeceu a sinalização. Como a gente percebe?
que se insere esta pesquisa que visa observar e Eles respondem: pelos risquinhos. Ela diz: Da pra
analisar quais e como estratégias de leitura têm sido ver o velocímetro do carro? Eles: não. Ela
trabalhadas pelos professores no processo de pergunta: Então como vocês percebem que o carro
formação do aluno leitor. Com isso, perceber ainda está em alta velocidade? Respondem: pelos
que concepções de leitura dão suporte ao fazer risquinhos. A professora: O que acontece com o
pedagógico da professora, e quais estratégias são passar do tempo? Os alunos: os riscos vão
consideradas mais eficientes no trabalho diminuindo. Ela diz: O que provoca o humor da
desenvolvido. Desde modo foram selecionadas tirinha? Por que a tirinha fica engraçada? O que
duas salas: uma de 3º ano do ensino fundamental I, vocês acham engraçado? Eles respondem: por
que é quando se esta consolidando o processo de causa das placas. Ela questiona: Só por causa das
alfabetização e no 5º ano do ensino fundamental I placas? Um alunos diz: não é só por causa das
que encerra a etapa relativa aos anos iniciais do placas não, eu coloquei assim tia, porque ao ler as
ensino fundamental o primeiro ciclo escolar. placas pensou que tinha que parar. Ela fala: muito
bem, vamos a segunda atividade.
2. RESULTADOS E CONCLUSÕES A professora vai anotando no quadro as
respostas para as questões e em seguida passa para
Para amostra dos resultados optamos por a atividade dois. Ela inicia a atividade
trazer a análise de apenas uma aula observada. E perguntando: quem é esse personagem? Eles
durante a observação deste aula que se deu em uma dizem: Mafalda. Ela pergunta: Vocês gostam da
turma do 5º a professora trabalhou com o gênero Mafalda? Eles: sim. Ela fala: tem fábula da
história em quadrinhos, o objetivo da aula foi Mafalda? Os alunos respondem: tem. A
introduzir esse gênero para os alunos. Inicialmente professora pergunta para eles: O que é uma
ela entrega aos alunos uma atividade xerocopiada fabula? Eles respondem: História com animais e
que tem duas histórias em quadrinhos e perguntas moral. Mais uma vez ela pergunta: então tem
de interpretação de cada uma delas. A professora fabula da Mafalda? Eles dizem: não, porque é uma
questiona-os sobre qual gênero literário eles haviam HQ. Ela pergunta: onde vocês leram a Mafalda?
visto na aula passada, e eles respondem que a Eles falam: jornal, televisão, revista. Ela
fábula. A professora informa que na atividade que continua: a Malfada ta conversando com quem?
eles iriam trabalhar naquele dia era sobre as Eles: com o Quino. Ela pergunta: onde eles estão
Histórias em Quadrinhos. Após a leitura da história conversando? Eles falam: no parque. E ela fala: o
em voz alta para os alunos, ela levanta algumas primeiro a falar é quem? Eles: Quino.
questões sobre linguagem verbal e não verbal, A professora lê a história para os alunos
recapitulando com eles o que seria cada uma delas. em voz alta e pergunta novamente: Com quem ela
Foi possível perceber que ela já havia trabalhado está conversando? Agora eles respondem:
esse conteúdo, pois eles não demonstraram Miguelito. Ela fala: vocês leram Mafalda e Quino
nenhuma dificuldade ao responderem. do lado e acharam que o amigo dela era o Quino

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né, agora vocês sabem. Qual era a duvida do adivinhar um tema,
Miguelito? Sujeito e predicado né. O Miguelito não deduzir um resultado,
entende por mais que a professora explica e chegar a uma grande
explica, ele não entende. Então a Mafalda quis dar ideia etc. (GIROTTO E
um exemplo. Qual é o sujeito? Os alunos: esse SOUZA, 2010, p. 76)
lixo. Ela diz: e o predicado: enfeia a rua, mas ele Deste modo, inferir permite que os alunos
entendeu que ela estava perguntando de quem era a leitores consigam relembrar e reaplicar o que leram,
culpa pelo lixo e que era do Prefeito. Ele continuo criando novos conhecimentos. As inferências
sem entende nao foi!? resultam de um dialogo com o texto e
A professora lê as perguntas e vai fazendo correspondem a um processo que permite a
comentários sobre as respostas, ela lê a pergunta 01 compreensão deste texto. Assim inferir é o que
e responde com eles: sobre qual era o sujeito e move o leitor na compreensão do texto, partindo-se
predicado. Como ele interpretou? Os alunos do conhecimento prévio que esse leitor já possui.
respondem: quem era o culpado pelo lixo. Ela A estratégia de inferência permite captar as
fala: Critica implícita é o que a gente interpreta no informações implícitas, é tudo aquilo que lemos
texto, porque a gente não deve joga lixo na rua. As sem estar escrito. Podem ser adivinhações baseadas
pessoas tem que ter consciência, mas como tem em pistas dadas pelo próprio texto ou em nosso
pessoas que não tem, então é responsabilidade de conhecimento de mundo. Podemos inferir sobre o
quem manter a cidade limpa? Os alunos falam: do conteúdo de um texto, sobre as intenções do autor
prefeito. A professora diz: porque a gente paga ou até mesmo sobre a significação de uma palavra.
impostos para que o prefeito mantenha a cidade O importante é observar o contexto e as pistas
limpa. Então qual a critica? È a que a culpa pela deixadas pelo autor.
cidade não estar limpa é do prefeito não é? Mas é Assim a inferência é uma estratégia de
só culpa do prefeito? Eles respondem: Não. Ela leitura básica, pois através dela o aluno leitor
fala: È culpa da população também. Qual a complementa a informação disponível, utilizando-
expressão da Mafalda? Eles falam: espanto. Ela se dos conhecimentos conceituais e linguísticos,
pergunta: Ela está assustada? Eles: não. A sendo possível ao leitor inferir tanto a informação
professora fala: ela está insatisfeita, porque ela textual explícita quanto a implícita.
ficou sem saber o que dizer para ele, mas ele estava Para Ferreiro (1988, p.17) “como a
errado? Os alunos respondem: não. E a seleção, as predições e as inferências são estratégias
professora finaliza pergunta: vocês gostaram das básicas de leitura, os leitores estão constantemente
Histórias em Quadrinhos? E Os alunos respondem controlando sua própria leitura para assegurar-se de
que sim. que tenha sentido”.
Nesta aula podemos perceber que a Deste modo, as estratégias utilizadas no
professora tenta levar os alunos a fazerem ato da leitura fazem parte da construção do sentido
inferências a partir das duas histórias trabalhadas, que os leitores têm do texto, os leitores aprendem a
na primeira a partir das placas de sinalização de ler através do autocontrole de sua própria leitura.
trânsito e na segunda através do lixo, que é de Pois, não vivemos isolados no mundo, mas em
responsabilidade da população, mas também do sociedade. É importante para a compreensão
prefeito de fazer a coleta semanalmente. textual, o contexto social, ideológico, político,
Assim, realizar inferências é também fazer religioso em que vivemos.
o uso do conhecimento prévio que já tínhamos, e Para Marcusch (1996, p.74). “a inferência
perceber o que esta nas entrelinhas do texto, no é aquela atividade cognitiva que realizamos quando
caso dessa atividade que foi oral, os alunos reunimos algumas informações conhecidas para
buscaram inferir novas ideias e trazendo suas chegarmos a outras informações novas”. E a
experiências e vivencias, relacionando-as à temática inferência dá ao leitor condições de complementar a
que foi abordada, construindo assim uma rede de informação que está disponível, pois através da
conhecimentos. utilização dos conhecimentos de conceitos
Assim, segundo Girotto e Souza (2010) linguísticos, o leitor consegue inferir as
Leitores inferem informações explicitas e implícitas do conteúdo
quando utilizam o que textual.
já sabem, seus Nesta pesquisa concebemos a concepção
conhecimentos prévios interacional da língua, na qual a compreensão do
e estabelecem relações sentido do texto se dá através da interação entre
com as dicas do texto autor-texto-leitor. Nesta perspectiva entendemos
para chegar a uma que a leitura constitui-se como uma atividade
conclusão, tentar

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complexa em que o leitor traz consigo seus BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O
conhecimentos e experiências. professor pesquisador: Introdução à
Assim a leitura se efetiva através dos pesquisa qualitativa. 1ª ed. São Paulo:
elementos linguísticos presentes no texto, na forma Parábola Editorial, 2008.
de organização e fundamentalmente nos saberes BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros
que o leitor possui sobre o assunto presente no Curriculares Nacionais: Língua
texto. Os conhecimentos que o leitor traz são uma portuguesa. Secretaria de Educação
condição essencial para que a interação texto e Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
leitor se estabeleça. KOPKE, H. F. Repertorio de Estratégias de
compreensão da leitura e conhecimento
3. REFERÊNCIAS metacognitivo de professores de língua
portuguesa. Psicologia Escolar e Educacional.
ANDRÉ, Marli E. D. A. Etnografia da prática 2002, v. 6, nº : 67-80.
escolar. Campinas: Papirus, 1999. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em
______________. A Pesquisa no cotidiano Educação: Abordagens qualitativas. São
escolar. In: FAZENDA, Ivani (org.). Paulo: EPU, 1986.
Metodologia da pesquisa educacional. São MARCONI, M. D. A.; LAKATOS, E. M.
Paulo: Cortez, 12 ed, 2010. p. 39-50. Técnicas de pesquisa: planejamento e
ANTUNES, Renata; OLIVEIRA, Thaís de. execução de pesquisas, amostragens e
Negligência na mediação do professor no técnicas de pesquisas, elaboração, análise e
trabalho de leitura. In: BORTONI, Ricardo; interpretação de dados. 3.ed. São Paulo:
MACHADO, Veruska Ribeiro; STELLA, Atlas, 1996.
Maris (Org.). Os dozes trabalhos de Hércules: MOURA, Ana Aparecida V. de; MARTINS,
do oral para o escrito. Luzinethe Rodrigues. A mediação da leitura:
ARENA, Dagoberto; GIROTTO, Cyntia G. G. do projeto à sala de aula. In: BORTONI-
Simões; MENIN, Ana Maria da C. S.; SOUZA, RICARDO, Stella Maris (Orgs)...[et al.].
Renata Junqueira de. (Org.). Ler e Leitura e Mediação Pedagógica. São Paulo:
compreender: estratégias de leitura. 1ª ed. Parábola, 2012, p. 87-112.
Campinas: Mercado de Letras, 2010. SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. 6ª ed.
Porto Alegre: Artmed, 1998.

_____________________________________________________________________________________

READING STRATEGIES
Silva, Fernanda Siqueira, fernanda2504@outlook.com
Rossi, Maria Aparecida Lopes, picidarossi@hotmail.com
1
Master's Program of Graduate Studies in Education at the Academic Unit of Education of the Federal University of Goiás
2
Prof. Dr. the Academic Unit of Education of the Federal University of Goiás

Abstract. This research project presented to the Graduate Program in Education of the Federal University of
Goiás - Regional Catalan, aims to investigate and discuss reading strategies used in teaching reading by
teachers. It has been the intention to observe and reflect on the reading strategies that teachers use to develop
the pedagogical work with reading and analyzing the concepts and practices that support the pedagogical
practice of teachers in relation to teaching reading and realize which reading strategies are considered more
efficient by teachers in reading instruction. The research methodology shall be founded on a qualitative
approach to ethnographic and will be subsidizing the observation and interviews with two teachers, the 3rd year
and 5th year of elementary school, from public Corumbaíba - GO. The theoretical approach of this research is
based on discussions that have emerged about the strategies involved in teaching reading and facilitator in this
process. The theoretical and conceptual framework of reading strategies is expressed from Masetto studies, Solé,
and Moura Martins, Girotto and Souza, Ali among others. These studies highlight the teacher's role in the
formation of readers, which must propose strategies, procedures and activities that facilitate and provide the
reading comprehension of students.

Keywords: reading instruction; reading strategies; facilitator.

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A ESTIMULAÇÃO PRECOCE DE CRIANÇAS PÚBLICO ALVO DA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Borges, Gabriela Silva Braga, gabysbborges@hotmail.com1


Flores, Maria Marta Lopes, mmlopesflores@brturbo.com.br
Silva, Janaina Cassiano, janacassiano@ufg.br

1
Mestranda do PPGEDUC-UDG / R.C.
2
Professora do PPGEDUC-UFG/RC
3
Professora do PPGEDUC-UFG/RC

Resumo: Este artigo tem como objetivo abordar a Estimulação Precoce como um programa educacional
para o desenvolvimento das crianças público alvo da educação especial na faixa etária de zero a três anos. Para
isto partimos da visão de Vygotski (2012) que a criança público alvo da educação especial está sujeita as
mesmas leis de desenvolvimento que a criança sem deficiência, porém no seu desenvolvimento há algumas
especificidades. Desta forma, a educação da criança público alvo da educação especial deve ser a mesma
compartilhada por todos, mudando apenas os estímulos e havendo a necessidade de uma revisão de
planejamentos e orientações, de forma a garantir uma maior experiência social. Assim, a estimulação precoce
como forma preventiva tem como objetivo principal fazer com que a criança desenvolva potencialmente suas
capacidades de desenvolvimento e de bem estar, o que possibilita a mais completa integração com a família, a
escola e a sociedade. Sob essa nova visão é que entendemos a educação infantil como um dos locais adequado
para o oferecimento de serviços de estimulação precoce. Assim o trabalho desenvolvido na educação infantil
deve primar pela qualidade fundamentando-se no cuidar, no educar e no brincar. Desta forma, as intervenções
realizadas com as crianças público alvo da educação especial devem ser realizadas durante as brincadeiras, as
rotinas e as atividades, que ocorrem ao longo do período que a criança está na escola, buscando o
desenvolvimento integral por meio de sua inserção no meio social.

Palavras-chave: Estimulação Precoce, Crianças Público Alvo da Educação Especial, Educação infantil
___________________________________________________________________________
1. INTRODUÇÃO diferenciado na sociedade, ou seja, vai estar sujeita
aos estigmas, aos padrões históricos e culturais
Vivemos em uma sociedade onde os padrões impostos. Neste sentido não se deve evidenciar a
estabelecidos para determinar um sujeito ideal deficiência de tal modo que possa ser causa da
(físico, moral, intelectual) serão definidos conforme invalidez social da criança.
os padrões vigentes em cada época. Ainda, de acordo com Vygotski (2012) a
Sob a égide da inclusão constantemente vemos criança público alvo da educação especial está
a afirmação de que as diferenças são valorizadas, sujeita as mesmas leis de desenvolvimento que a
entretanto quando aprofundamos nosso olhar para criança sem deficiência, porém no seu
as relações estabelecidas para com as pessoas com desenvolvimento há algumas especificidades.
deficiência esta, ainda, é envolta numa névoa de Desta forma, a educação da criança público
pré-conceitos, onde a visão da segregação se faz alvo da educação especial deve ser a mesma
muito presente. compartilhada por todos, mudando apenas os
Com as crianças público alvo da educação estímulos e havendo a necessidade de uma revisão
especia1l esse pensamento também é frequente, pois de planejamentos e orientações, de forma a garantir
ainda é pouco difundido que as interações uma maior experiência social.
educacionais adequadas realizadas desde os Segundo Vygotski (2012) não há como definir
primeiros meses de vida proporcionarão o seu pleno o grau de desenvolvimento que a pessoa com
desenvolvimento. deficiência pode chegar, pois isso dependerá da
Vygotski (2012) aponta que quando uma compensação e estímulos que abrirão novos
criança com deficiência nasce já ocupa um lugar caminhos para o desenvolvimento.
Deste modo, a aprendizagem da criança público
alvo da educação especial não está ligada a forma
1
São crianças com deficiência, transtornos globais convencional de ensino, mas vai aprender e
do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação.

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consequentemente se desenvolver por meio de García Sanches (2003 apud AMBRÓZIO,
aparatos diferenciados. 2009, p. 23) considera que: “A atenção precoce
É sob esta visão que a estimulação precoce se deve ser entendida como um conjunto de atuações
apresenta como o primeiro programa educacional dirigidas à criança, à família e ao meio,
destinado ao atendimento da criança público alvo desenvolvidas pela ação coordenada de
da educação especial. profissionais e equipes interdisciplinares, com a
finalidade de assegurar os recursos necessários para
2. A ESTIMULAÇÃO PRECOCE DE prevenir, detectar e dar uma resposta imediata,
CRIANÇAS PÚBLICO ALVO DA planejada com caráter global, sistemática, dinâmica
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO e integral às necessidades transitórias ou
INFANTIL permanentes da população infantil que na primeira
infância (0-6 anos), apresenta transtornos em seu
A expressão estimulação precoce vem da desenvolvimento ou risco de tê-los”.
tradução do termo em espanhol “estimulación Podemos notar no conceito de atenção precoce
temprana” e “estimulación precoz”. Ela deriva uma ampliação do modelo antigo proposto para este
também do termo em inglês “early stimulation” ou atendimento. Assim, há um entrelaçamento da
“early intervention” (QUEIROZ; PÉREZ-RAMOS, “vertente da reabilitação da intervenção
1974 apud NASCIMENTO, 2010). psicossocial e a educação dando forma a um
O termo estimulação precoce tem recebido processo integral que objetiva o desenvolvimento
vários significados na prática educacional, não harmônico da criança aos mais diversos contextos”
existindo um consenso na literatura quanto ao seu (PÉREZ-LÓPEZ et al., 2012; FRANCO, MELO,
uso, podendo ser encontrado outras nomenclaturas APOLONIO, 2012; GAT 2000 apud COSTA, 2013,
como: estimulação essencial, educação precoce, p. 26-27).
atenção precoce, intervenção precoce e intervenção Outro termo adotado em substituição a
essencial (GORETTI, 2012; COSTA, 2013; estimulação precoce é estimulação essencial, por
HANSEL, 2012). apresentar uma maior clareza e abrangência da
Esta indefinição quanto à nomenclatura necessidade desta intervenção. Assim, a
acontece pelos significados que se dão aos termos estimulação não seria destinada apenas as crianças
estimulação e precoce. A palavra precoce gera público alvo da educação especial , mas a todas as
alguns equívocos, remetendo a ações antecipadas, crianças, sejam elas com ou sem deficiências.
prematuras, fora do tempo, no sentido de acelerar o Segundo Arce e Silva (2012, p.178) a estimulação
desenvolvimento da criança tornando-a não consistiria em adiantar ou antecipar as “perdas
superdesenvolvida. Entretanto, este termo deve ser futuras, mas sim tomá-la como uma estimulação
entendido como uma ação pontual, no momento necessária; uma vez que essa não deve ser somente
certo, por meio de estímulos adequados e destinada a crianças comprometidas por alguma
necessários ao bom desenvolvimento da criança disfunção neurológica ou motora específica, mas
público alvo da educação especial da educação destinada a todos os bebês”.
especial (PAINEIRAS, 2005). Conforme Paineiras (2005) muitos autores
Quanto à palavra estimulação entende-se esta diferenciam estimulação precoce da intervenção
como uma forma de “proporcionar a criança precoce. A estimulação precoce teria um caráter
diversos tipos de oportunidades de experimentar, socioeducativo, que busca promover uma melhora
explorar e brincar com os objetos ao redor dela. na qualidade de vida, o que permite à criança
Isso inclui movimentos corporais e o uso de todos adquirir condições internas e externas para
os sentidos, principalmente a visão, audição e tato” constituir-se enquanto “ser, pessoa, e sujeito,
(WERNER, 1994 apud PAINEIRAS, 2005, p. 51). ultrapassando comprometimentos motores e
Hansel (2012) aponta que a mudança conceitual cognitivos” (PAINEIRAS, 2005, p.54). Já a
e terminológica nos programas de estimulação intervenção precoce possui um significado mais
precoce acontece porque esta tinha como base uma voltado para a prática em si, ou seja, para a
função reabilitadora, centrada basicamente na formulação e a execução de planos de ação. Esse
criança com deficiência ou transtorno. Contudo, planejamento de intervenção teria um papel mais
tem-se usado o termo atenção precoce que abrangente que alcançaria não só a criança, mas sua
implicaria na adoção de uma perspectiva família ou cuidador e os vários ambientes onde está
preventiva, social e ecológica do desenvolvimento, inserida como: hospitais, escolas, residências. Tudo
na qual a família tem papel preponderante e os isto com o intuito de “promover tanto os aspectos
serviços são organizados de forma interdisciplinar profiláticos, quanto o diagnóstico de algum desvio
visando o desenvolvimento global da criança. no desenvolvimento” (PAINEIRAS, 2005, p.54).

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Já o termo educação precoce estaria voltada “à infantil, referenda-se por programas antecipatórios
intervenção ao nível educacional, no sentido de que enfatizem o emprego de ações divulgadoras e
estabelecer um conjunto de medidas que ajudem a promocionais, destinadas a fortalecer o processo
criança a adquirir o maior número possível de evolutivo integral na primeira infância”(COSTA,
competências, tendo em vista o seu 2013, p.14). Nesta estão incluídos os serviços de
desenvolvimento” (CORREIA, 2011, p. 52). Assim, saúde, educativos e sociais.
a educação precoce seria aquela realizada na rede Já a prevenção secundária estende sua esfera de
de ensino, desenvolvida exclusivamente por atuação à criança que, sob o impacto dos fatores de
professores, que visam a inclusão da criança risco, é considerada suscetível à aquisição de
público alvo da educação especial na escola regular. distúrbios no seu desenvolvimento. “A implantação
No entanto, as Diretrizes Educacionais sobre de programas compensatórios nesse contexto
Estimulação Precoce (BRASIL, 1995) adotam o uso considera atualmente as classificações de natureza
do termo estimulação precoce por ser um termo já biológica e ambiental, a identificação das
consagrado internacionalmente e por ter sentido de características de vulnerabilidade no
proporcionar ações que procuram atenuar, evitar ou desenvolvimento infantil e a carência afetiva e
compensar as deficiências que por acaso à criança sociocultural” (PÉREZ-RAMOS, 1990 apud
possa ter nascido com ela e ou suas consequências. COSTA, 2013, p. 14). Costa (2013) ainda destaca
O documento acima mencionado define a que o objetivo da prevenção secundária é a
estimulação precoce como “conjunto dinâmico de detecção e o diagnóstico precoce para poder
atividades e recursos humanos e ambientais amenizar as deficiências que já tenham se instalado.
incentivadores que são destinados a proporcionar à Estão inclusos nesta prevenção os serviços de
criança, nos primeiros anos de vida, experiências obstetrícia, neonatologia, pediatria, os serviços
significativas para alcançar pleno desenvolvimento educacionais e sociais e, o envolvimento familiar.
no seu processo evolutivo” (BRASIL, 1995, p.11). No que se refere à prevenção terciária, esta
Desta definição pode-se entender que a busca minimizar os efeitos e reduzir ao máximo o
estimulação precoce busca proporcionar serviços, transtorno ou a deficiência constatada mediante
apoios e recursos que procuram atender as avaliação contínua e acompanhada de oportuna
necessidades das crianças e da família, intervenção. Agrupando todas as atividades
apresentando-se como uma importante ferramenta desenvolvidas com a criança, sua família e o seu
preventiva e assistencial para promover o meio. Esta objetiva melhorar as condições de
desenvolvimento infantil. Retira-se, ainda, desta desenvolvimento da criança e pode ser feita em
definição o público alvo da educação especial a hospitais, escolas e pela família. “A prevenção
quem é dirigido os serviços de estimulação precoce: terciária pode ser dividida em quatro etapas: a
crianças pequenas com idade entre zero e três anos avaliação inicial da criança, a intervenção
que tenham alguma deficiência (física, mental, terapêutica, a avaliação e controle dos resultados e
auditiva, visual ou múltiplas) ou pertençam ao os encaminhamentos de que a criança necessita”
grupo de alto risco (BRASIL, 1995). (FEAPAT, 2004 apud HANSEL, 2012, p. 33).
Nos primeiros anos de vida da criança o De acordo com Soejima e Bolsanello (2012, p.
desenvolvimento cerebral é mais rápido e alcança 67): “A prevenção, de qualquer nível, será efetiva
uma maior extensão do que em qualquer outra etapa quando se fundamentar em teorias sólidas, incluir a
da vida, mas ele também é mais vulnerável ficando criança, sua família e a escola e ser conduzida por
suscetível a fatores nutricionais, de interação, de pessoas capacitadas, capazes de seguir
cuidado e estimulação. Neste sentido, ações ideais sistematicamente programas e procedimentos de
para a promoção do desenvolvimento infantil são intervenção (BRITO DE LA NUEZ et al., 2006).
aquelas que permitem antecipar-se ao dano e de Além disso, a prevenção deve ser adequada à
certa forma preveni-lo. De acordo com García cultura e à idade das crianças”.
Sanches (2001, 2003 apud HANSEL, 2012) Assim, a estimulação precoce como forma
existem três formas de prevenção: a primária, a preventiva tem como objetivo principal fazer com
secundária e a terciária. que a criança desenvolva potencialmente suas
A prevenção primária é aquela que é feita antes capacidades de desenvolvimento e de bem estar,
de qualquer indício de deficiência, risco ou atraso possibilitando a mais completa integração com a
no desenvolvimento, ou seja, são aquelas família, a escola e a sociedade.
estratégias que acontecem como prevenção ao Na perspectiva da inclusão, os serviços de
aparecimento do transtorno e que se aplica a estimulação precoce estariam direcionados às
população em geral. Esta caracteriza-se pela crianças em práticas colaborativas, de convivência,
“necessidade de otimizar ou manter os níveis de de aceitação, promovendo a interação com a
saúde e bem-estar, alcançados pela população família, com a vizinhança, com a creche e com a

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escola. Ou seja, a “organização e a execução desses capacidades e habilidades cognitivas e sociais”.
programas implicariam na participação de todos Assim, estar atenta aos fatores emocionais, físicos,
aqueles que convivem e atuam com a criança, além sociais e cognitivos significa prevenir eventuais
dos profissionais da área da saúde” (OLIVEIRA; atrasos do desenvolvimento e compensar
PADILHA, 2013, p. 207). determinadas carências que podem advir do
Assim, apresenta-se uma mudança no foco do ambiente familiar (MULAS, 2007).
atendimento e intervenção das crianças pequenas e Deste modo, o desenvolvimento pode e deve
dos bebês, havendo um deslocamento deste ser potencializado através das relações que são
atendimento das instituições especializadas para as estabelecidas na Educação Infantil, principalmente
necessidades da família e da criança no espaço quando estão fundamentadas em um projeto
escolar e no contexto comunitário, “buscando político pedagógico direcionado para o
organizar ambientes adaptados às necessidades das desenvolvimento da criança público alvo da
crianças e formas de comunicação e de relações educação especial. Pois estas necessitam de
psicoafetivas que possibilitem o seu serviços, “estratégias instrucionais, tratamentos
desenvolvimento integral” (BRUNO, 2006 apud terapêuticos, equipamentos especiais ou ambientes
OLIVEIRA; PADILHA, 2013, p. 208). estimuladores que sejam diferentes daqueles
Sob essa nova visão é que entendemos a necessários para as crianças com desenvolvimento
educação infantil como um dos locais adequado normal”. (MENDES, 2010, p. 49)
para o oferecimento de serviços de estimulação Assim o trabalho desenvolvido na educação
precoce. A educação infantil é a primeira etapa da infantil deve primar pela qualidade fundamentando-
educação básica e tem por finalidade o se no cuidar, no educar e no brincar. Desta forma,
desenvolvimento integral da criança até cinco anos, as intervenções realizadas com as crianças público
em vários aspectos como os físicos, os psicológicos, alvo da educação especial devem ser realizadas
os intelectuais e os sociais. Nela as crianças durante as brincadeiras, as rotinas e as atividades,
desenvolvem a linguagem, a psicomotricidade e que ocorrem ao longo do período que a criança está
passam a interagir com o mundo a sua volta. Muitos na escola buscando o desenvolvimento integral por
são os benefícios que uma escola de educação meio de sua inserção no meio social.
infantil traz para qualquer criança,
independentemente de sua condição física, 3. CONCLUSÕES
intelectual ou emocional (DRAGO, 2014).
Na educação infantil assim como na Diante do exposto, podemos dizer que este
estimulação precoce o objetivo principal é fomentar artigo teve o objetivo de fazer um estudo da
o desenvolvimento global da criança, apregoando a estimulação precoce entendendo-a como um
importância de estímulos para o desenvolvimento processo educacional que visa promover o
infantil. A estimulação que a criança recebe desde desenvolvimento integral da criança público alvo da
que nasce e se estende aos primeiros anos de vida é educação especial e que vem passando por
indispensável para o seu desenvolvimento, pois lhe transformações e mudanças conforme os ideais
permite atingir novas fases, proporcionando que ela políticos-pedagógicos vigentes em cada período.
experimente e conviva com pessoas, o que gera Deste modo, sob a ótica da inclusão deixa-se de
experiências enriquecedoras. Conforme explica lado a visão fragmentada e individualizada e busca-
Mendes (2010, p. 48): “Nos primeiros anos de vida, se ver a criança público alvo da educação especial
devem ser abertas janelas de oportunidades para como um indivíduo inserido em uma cultura, em
que a criança aprenda determinados tipos de uma comunidade e em uma família que precisa da
aprendizagem, que se não forem adquiridas neste interação para se desenvolver de forma plena.
período crítico se tornam difíceis, quando não
impossíveis, de serem adquiridas mais tarde. Assim, REFERÊNCIAS
as descobertas científicas têm colocado cada vez
mais em evidência a importância dos primeiros AMBROZIO, C. R. Participação de mães na
anos de vida e o papel que o ambiente tem nesse avaliação do desenvolvimento do bebê com
processo, e esse avanço tem implicado uma Síndrome de Down, realizada pelo psicólogo, na
crescente preocupação social com o cuidado e a estimulação precoce. Dissertação (Mestrado)-
Educação Infantil”. Universidade Federal do Paraná. Programa de Pós-
Concordamos com Paineiras (2005, p.71) Graduação em Educação-Setor de Educação.
quando afirma que “um espaço físico e social Curitiba, PR, 2009.
desprovido de estimulação tem efeitos debilitantes e ARCE, A. ; SILVA, J. C. É possível ensinar no
são fatores causadores ou precipitadores de berçário?: O ensino como eixo articulador do
deficiências, sobretudo no desenvolvimento de trabalho com bebês (6 meses a 1 ano de idade). In:

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ARCE, A.; MARTINS, L. M. (ORGS). Ensinando NASCIMENTO, A. L. As primeiras
aos pequenos de zero a três anos. 2ª edição aprendizagens da criança surda. Dissertação
revisada. Campinas, SP: Editora Alínea, 2012. (mestrado em Letras e Ciências Humanas) –
BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza
educacionais sobre estimulação precoce: o Herdy”, Escola de Educação, Ciências, Letras,
portador de necessidades educativas especiais. Artes e Humanidades. Rio de Janeiro, RJ, 2010.
Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial OLIVEIRA, I.M; PADILHA, A.M.L. Atendimento
(SEESP), 1995. educacional especializado para crianças de zero a
CORREIA, N. C. C. C. A importância da três anos. In: JESUS, D.M; BAPTISTA, C.R;
intervenção precoce para as crianças com CAIADO, K.R.M. (Org). Prática pedagógica na
autismo na perspectiva dos educadores e educação especial: multiplicidade do atendimento
professores de educação especial. Dissertação educacional especializado. 1.ed. Araraquara, SP:
(Mestrado)- Escola Superior de Educação Almeida Junqueira & Marin, 2013.p.197-218.
Garrett. Lisboa, Portugal, 2011. PAINEIRAS, L. L. Narrativas sobre estimulação
COSTA, R. C. G. F. O estado do conhecimento precoce evidenciando as particularidades de
sobre estimulação precoce no conjunto de teses e crianças portadoras da Síndrome Alcoólica
dissertações brasileiras no período entre 2000 e Fetal. Dissertação (Mestrado)-Instituto Fernandes
2011. Dissertação (Mestrado)- Universidade Figueira da Fundação Oswaldo Cruz. Rio de
Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Janeiro, RJ, 2005.
Educação-Setor de Educação. Curitiba, PR, 2013 SOEJIMA, C. S.; BOLSANELLO, M. A. Programa
DRAGO, R. Inclusão na educação infantil. 2ª de intervenção e atenção precoce com bebês na
edição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2014. Educação Infantil. Educar em Revista, Curitiba,
GORETTI, A. C. S. A relação mãe-bebê na Brasil, n. 43, p. 65-79, jan./mar. 2012. Editora
estimulação precoce: um olhar psicanalítico. UFPR.
Dissertação (Mestrado). Universidade Católica de VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas – V
Brasília. Brasília, DF, 2012. fundamentos de Defectologia. De la traduccion:
HANSEL, A. F. Estimulação precoce baseada em Julio Guillermo Blank, 1997. Machado Grupo de
equipe interdisciplinar e participação familiar: Distribucion, S.L. Madrid: 2012.
concepções de profissionais e pais. Tese
(Doutorado)- Universidade Federal do Paraná. RESPONSABILIDADE AUTORAL
Programa de Pós-Graduação em Educação-Setor de
Educação. Curitiba, PR, 2012. Os trabalhos escritos em português ou espanhol
MENDES, E. G. Inclusão marco zero: começando devem incluir (após direitos autorais) título, os
pelas creches. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, nomes dos autores e afiliações, o resumo e as
2010 palavras chave, traduzidos para o inglês e a
MULAS, J. P. Análisis de un modelo de declaração a seguir, devidamente adaptada para o
seguimiento en atención temprana. 434 p. Tesis número de autores.
(Doctorado en Educación) - Facultad de Educación, “O(s) autor(es) é(são) o(s) único(s) responsável(is)
Universidad Complutense de Madrid, Espanha, pelo conteúdo deste trabalho”.
2007.
___________________________________________________________________________
THE EARLY STIMULATION OF CHILDREN TARGET OF SPECIAL
EDUCATION IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION
Borges, Gabriela Silva Braga, gabysbborges@hotmail.com1
Flores, Maria Marta Lopes, mmlopesflores@brturbo.com.br
Silva, Janaina Cassiano, janacassiano@ufg.br

1
Mestranda do PPGEDUC-UDG / R.C.
2
Professora do PPGEDUC-UFG/RC
3
Professora do PPGEDUC-UFG/RC

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Abstract. This article aims to address the Early Stimulation as an important educational program for the
development of the target group of special education children aged zero to three years. For this we start from
Vygotsky's view (2012) that the target public child's special education is subject to the same laws of
development that children without disabilities, but in its development a few specifics. Thus, the target audience
child's education of special education should be shared by all the same, changing only the stimuli and thus
requiring a review of plans and guidelines in order to ensure greater social experience. Thus, early stimulation
as preventive aims to make the child potentially develop their capacity development and well-being, providing
the most complete integration with the family, school and society. Under this new view is that we understand
early childhood education as one of the suitable places for offering early intervention services. So the work in
early childhood education should strive for quality reasons in the care, in education and play. Thus,
interventions with the target audience children of special education of special education should be carried out
during play, routines and activities that occur during the period that the child is in school, seeking the full
development through its insertion in the social environment.

Keywords: Early Stimulation, Target Public Children of Special Education, Early Childhood Education

“Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo deste trabalho”.

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NARRATIVAS FOTOGRÁFICAS COMO CAMINHOS PARA
COMPREENDER O ESPAÇO DA LUDOTECA UFG/RC

Rogério Santos e Silva, Paulo, ppaullao@hotmail.com¹


Pereira de Araujo, Juliana, juliana.barrado@gmail.com²
¹ Mestrando em Educação UFG/ Regional Catalão
² Professora Doutora do Departamento de Educação UFG/Regional Catalão

Resumo — O presente artigo deriva das reflexões inicias de uma pesquisa em desenvolvimento que objetiva
investigar os sentidos e significados sobre as culturas da infância constituídos no espaço da Ludoteca a partir
da análise das narrativas fotográficas de um ludotecário. A hipótese da pesquisa é que as imagens da ludoteca
inspiram sentidos que extrapolam os de ludicidade e cuidado outrossim concorrem para elaboração daquele
espaço como lócus de observações e entendimento das ressignificações das culturas da infância, que se
expressam através do brincar. É a partir destas reflexões iniciais que percebemos o espaço da Ludoteca como
um lugar povoado de narrativas e portanto campo para investigação qualitativa. Vale salientar que esta
proposta de trabalho – projeto de Mestrado – encontra-se em desenvolvimento não possuindo resultados até o
momento.
Palavras Chave - Espaço; Ludoteca; Fotografia.
__________________________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO brincadeiras, pelos tempos, ritos, risos e que


expressam os sentidos construídos pelo brincar, na
Passei a me interessar em como a criança, convivência com o outro, no uso dos objetos, portanto
enquanto sujeito, vivencia, elabora e absorve suas no experienciar o espaço.
experiências a partir das minhas experiências em um Duas orientações me guiam no intento de melhor
Grupo de estudo e trabalho desenvolvido no conceber este objeto ludoteca: primeiro a admissão a
Laboratório Ludoteca do Curso de Educação Física. partir de Henry Lefebvre (2006) de que ele é um
Com o tempo direcionei este interesse para a “espaço de territorializações”, expressão da dialética
Ludoteca considerando-a como um espaço em cultural entre o mundo adulto e a infância e; segundo
potencial para a investigação qualitativa não apenas a consideração de que ao mesmo tempo ele é marcado
pelo que oferece e constrói com e para as crianças pela cotidianidade, portanto pela subjetividade (no
mas também pelos impactos na constituição dos sentido da individualidade, da pessoa, do sujeito)
outros sujeitos que a vivenciam como os sendo este elemento que Agnes Heller (1989, 1994)
pesquisadores e os ludotecários. A partir dessa resgata e coloca no centro do processo histórico,
ampliação do olhar passei a vê-la como lócus propício entendido como expressão do homem em busca de
a uma investigação científica na qual para além de sua humanização.
uma identificação pessoal há a possibilidade de A metodologia que me ampara no processo para
descobrir quais os sentidos e significados constituídos responder ao objetivo lança mão da minha história
no espaço da Ludoteca espaço este impacta ou naquele espaço. Utilizarei como ferramenta para
contribui para o desenvolvimento dos sujeitos. Assim potencialização de narrativas sobre a Ludoteca os
passei a dirigir meus esforços no sentido de saber meus registros fotográficos. Daí então devo admitir
quais as interpretações sobre Ludoteca derivam da que se trata de uma pesquisa qualitativa de cunho
experiência nela vivida. autobiográfico no qual meus sentidos e significações
A princípio sabemos que a Ludoteca do Curso de norteiam interpretações que auxiliam a atingir o
Educação Física em questão, tem como principal foco objetivo da pesquisa que é a compreensão sobre a
integrar diferentes áreas de conhecimento numa própria Ludoteca do Curso de Educação Física.
proposta interdisciplinar de atuação, promovendo
projetos de formação de educadores e discentes de 2. DO DIÁLOGO COM OS AUTORES A
diferentes níveis de ensino e possibilitar o acesso ao PROBLEMATIZAÇÃO
lúdico a diferentes faixas etárias e camadas sociais.
Instigado por tal espaço, no transcender das Como dito anteriormente tenho como finalidade
atividades do Laboratório comecei a desenvolver desta pesquisa investigar quais os sentidos e
registros fotográficos dos trabalhos e pesquisas ali significados no espaço da Ludoteca do Curso de
desenvolvidos e por meio das lentes de registro Educação Física. Portanto descobrir sentidos e
eternizei momentos nos quais as crianças e os significados sobre a Ludoteca implica ponderar
ludotecários se constituíam a si mesmos a partir das também sobre o modo como ela influi na constituição
muitas relações ali estabelecidas. Momentos dos sujeitos. E pensar na Ludoteca como espaço de
estabelecidos pelo modo como organizam as constituição de sujeitos me impele a enveredar

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também na leitura de Agnes Heller (1989, 1994) para permite que ela construa o seu próprio
quem a formação dos indivíduos começa sempre nas conhecimento.” (SANTOS, p.08, 1997)
esferas da vida cotidiana. Da segunda vertente teórica a percepção de que a
Para Heller (1989, 1994) a vida cotidiana é Ludoteca enquanto um lugar, não é apenas como
parcela inerente à existência de todo e qualquer espaço físico ou somente lúdico, mas também palco
indivíduo. Nessa esfera o indivíduo apropria-se da de interações aonde pesam fatores culturais, sociais e
linguagem, dos objetos e instrumentos culturais, bem individuais, que possui como consequência a tomada
como dos usos e costumes de sua sociedade. Sem a do contexto como importante objeto de estudo. Tomo
apropriação dessas objetivações seria impossível a sua contribuição de Lefebvre (p.98, 2006) para avançar na
existência e convivência em qualquer sociedade elaboração da Ludoteca enquanto espaço dialético. O
humana, independentemente do nível de autor pensa os espaços como, espaços de
desenvolvimento dessa mesma sociedade. representação e representações do espaço.
A metodologia da investigação se alinha aos De acordo com o pensamento de Lefebvre (2006)
estudos pautados nas narrativas autobiográficas, mas o espaço envolve as contradições da realidade à
incorre em concretizá-lo pelos registros fotográficos medida que é um produto social, diante dessa
do próprio pesquisador presumindo que neles ou a afirmação o espaço torna-se uma mercadoria que se
partir deles são perceptíveis estas objetivações, abstrai enquanto mundo, ao mesmo tempo, que traduz
apreensões de signos e cultura, em síntese traços da as diferenças e as particularidades contextuais.
formação do sujeito. Por eles a Ludoteca pode ser Conferindo a possibilidade de antever os movimentos
interpretada, significada, analisada. de opressão ou de emancipação do homem por meio
Admitir que na Ludoteca (lugar de relações da dialética espacial.
concretas e subjetivas), adultos e crianças (guardadas É fundamental considerar o lugar como palco dos
as diferenças de papéis) tem a oportunidade de acontecimentos pela sua dimensão real, prática,
experimentar e conhecer, explorar e manipular o sensível e concreta. Além disso, se torna fundamental
espaço, os objetos e o seu corpo, vivendo considerá-lo como uma construção tecida por relações
experiências, construindo assim seu conhecimento, sociais no espaço vivido, garantindo uma rede de
além de resgatar um dos direitos da infância, ou seja, significações e sentido, tecidos pela história e cultura.
o direito de brincar é admitir a necessidade em O lugar tem usos e sentidos e, portanto, abarca a vida
compreendê-la como espaço formativo, constitutivo social, a identidade e o reconhecimento. (CARLOS,
de sujeitos, de subjetividades e objetivações. Instiga- p.52, 1996)
me saber como a Ludoteca é significada pelas Neste sentido, é sobre e no espaço que as marcas
crianças já que inferimos duas possibilidades da sociedade vêm sendo inscritas, isso através de seus
simultâneas. Uma que a consolida como espaço de atos, resultado e produto das atividades sociais
liberdade do brincar, no qual a criança está (Lefebvre, 2006). De outra maneira, é sobre e no
construindo seu mundo interior, portanto, seu espaço da Ludoteca que as crianças/infâncias
conhecimento sobre o mundo se amplia, uma vez que inscrevem e recebem inscrições, a partir de suas
ela pode se colocar no lugar do outro. Nela a criança relações também com este, isso fruto de seus atos, ou
constrói conhecimentos ao interagir com o seu corpo, de relações entre o sujeito histórico que produz o
objetos, espaços, pessoas, situações e acontecimentos, espaço a partir do momento em que assume este como
enfim, com o mundo e no mundo que a cerca. E a lugar de sua existência.
outra perspectiva é de que a Ludoteca produz sentidos O espaço da Ludoteca é um lugar pensado para
mediatizados pela cultura, portanto produtos das potencializar linguagens, estas são possibilidades de
relações sociais nas quais as tensões de gênero, raça, vivenciar a infância por uma de suas características
classe e outros aparecem em maior ou menor grau. principais, a Cultura Lúdica. Lefebvre nos diz que,
Da primeira vertente teórica advém à leitura que toda linguagem se situa num espaço. Todo discurso
temos do espaço da Ludoteca do Curso de Educação diz qualquer coisa sobre um espaço (lugares ou
Física admitido como um espaço de precioso recurso conjuntos de lugares); todo discurso fala de um
de aprendizagem interessante e significativa, pois espaço (p.110, 2006).
através do brincar há uma possibilidade de O referido autor quando fala destes discursos, que
apropriação e constituição de conhecimentos no são legitimados no espaço, aponta que devemos
âmbito das linguagens e dos valores. compreender os discursos no, sobre, e do espaço.
Estes discursos – no, sobre e do espaço – são
“Este ambiente criado especialmente para as
fundamentais para compreendermos o espaço da
crianças tem como objetivo estimular a
Ludoteca como um lugar que através da Cultura
criatividade, desenvolver a imaginação, a
comunicação e a expressão, incentivar a Lúdica, propõem momentos de emancipação das
brincadeira do faz-de-conta,a dramatização, a infâncias que ali se encontram. Portanto, ao abordar
construção, a solução de problemas, a socialização as relações que se manifestam neste espaço não se
e a vontade de inventar, colocando ao alcance da pretende buscar meras características culturais e sim
criança uma variedade de atividades que além de uma busca do entendimento da produção/reprodução
possibilitar a ludicidade individual e coletiva, social em uma sociedade de classes.

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Ao ter o espaço como uma categoria de análise e fotografia é nesta pesquisa mais do um recurso
me fundamentar na teoria de Lefebvre (2006), faço do artístico é também metodológico e acadêmico.
meu olhar, quanto ao espaço/lugar da Ludoteca, [...] Compreendendo que uma imagem nunca é
tanto de maneira material, quanto de maneira abstrata. inocente representação desprovida de significação, e
Um tal espaço toma valor simbólico (p.116-117). Os sim um documento socio-histórico de uma época, de
discursos, as experiências, as realidades, as relações um lugar, de um grupo social, atestado de usos e
sociais, as relações de poder, as tradições, as costumes. É formadora de identidades que se
vivências culturais dão forma aos discursos e colocam constroem no cotidiano (Dubois, 1993). Segundo
em diálogo vários conhecimentos produzidos no, Dubois (1993), na ideia de compreender a
sobre e do espaço. O espaço é o lugar da prática transformação do real pela foto, entende-se que esta é
social, é neste lugar que os discursos se articulam uma ramificação de códigos.
dialeticamente, e estes se encontram e falam sobre um Ainda nessa perspectiva, Martins (2002) aborda
espaço. que existem dimensões, significações e determinações
Acredito que em sendo espaço para as crianças a ocultas na realidade fotografada que demandam aos
Ludoteca potencializa o desenvolvimento destas de pesquisadores decifrarem o que se esconde por trás do
modo orientado já que nela as crianças constroem visível e do fotografável. A fotografia pode ser
seus mundos sociais sofrendo influências de um entendida, segundo o autor, como meio de
contexto social, histórico e cultural. Sarmento (p.19, compreensão imaginária da sociedade.
2006) nos ampara, pois afirma, que “cada criança vive
no interior de um sistema simbólico que administra o 3. METODOLOGIA
seu espaço social”. É esse sistema simbólico que
oferece ou não à criança possibilidades de fazer, Ao adotar como problemática as leituras e
pensar, escolher determinadas coisas. interpretações no, sobre, e do espaço da Ludoteca
produzidas pelo próprio pesquisador em um espaço
“Este processo é tanto criativo quanto reprodutivo. específico que é a Ludoteca do curso de Educação
O que dá à visibilidade, neste processo, é que as Física algumas orientações metodológicas se fazem
crianças são competentes e têm capacidade de necessárias.
formularem interpretações da sociedade, dos outros Infiro que as compreensões que busco sobre a
e de si próprios, da natureza, dos pensamentos e Ludoteca expressam ou reproduzem concepções
dos sentimentos, de o fazerem de modo distinto e sociológicas de infância e de mundo assim como
de o usarem para lidar com tudo o que as rodeia.” emergem novas elaborações e possibilidades.
(SARMENTO, p. 373, 2005). Entretanto o fato de atingir tais compreensões através
A Ludoteca é um destes espaços sociais de meus registros fotográficos faz com que a pesquisa
reprodutores, mas também, disseminador de propostas assuma um caráter autobiográfico. Assim ela se
emancipatórias, que por sua polissemia, e esta gerada conforma nas subjetividades particulares que
pelas relações, espaço e infância, possibilitam uma significam e dão sentido a momentos, manifestações,
investigação fecunda, isso se justifica, pois, através da culturas, rotinas. Subjetividade que está imersa na
visão de construção social da infância que considera realidade concreta do espaço e por isso ela também é
de modo análogo, a importância do sujeito, no caso a determinada. Para dar conta do objeto Ludoteca com
criança, e da coletividade (o espaço é parte deste o objetivo de descobrir sentidos e significados dela e
coletivo): as crianças negociam, compartilham e sobre ela considero a necessidade de garantir que:
criam culturas. O primeiro momento desta pesquisa seja baseado
Assim, o espaço é parte desta teia de construção na aquisição\produção de conhecimento que permita
de significados, produto de uma prática social, que elaborar a Ludoteca com base no conceito de espaço
possibilita a expansão dos sujeitos e a resignificação porque entendemos que a análise das representações
das representações deste espaço, desta forma, as sócio-espaciais dos lugares que disseminam a cultura
infâncias que são vivenciadas neste lugar, produzem lúdica, especificamente a Ludoteca do curso de
reflexão sobre o espaço e a prática social, questões Educação Física, vem, ao longo do tempo,
que não são focalizadas separadamente, pois ambas se influenciando a construção de identidades, bem como
articulam, incluindo ou excluindo (Lefebvre, 2006). delineando o potencial de aprendizagem de tais
Outro elemento que nesta proposta de pesquisa instituições. Para atingirmos esta meta (objetivo
surge também como estratégia de compreensão do específico por sinal) partilharei dos olhares de
mundo, e nesse caso, o mundo ao qual nos referimos é Lefebvre (2006), autor que converge para a indicação
o da ludoteca se consubstancia na fotografia. A de que o espaço físico se caracteriza por ser um objeto
fotografia, estratégia de compreensão do mundo, de representação, ganhando uma dimensão simbólica
aparece nesta pesquisa a fim potencializar narrativas capaz de regular conduta, justificar determinadas
que orientem-se ao objetivo central do trabalho que é práticas e contribuir para a construção de identidades.
a descoberta dos sentidos e significados produzidos O momento seguinte na pesquisa configura a
sobre a Ludoteca do Curso de Educação Física. A pesquisa de campo arquitetada pelas narrativas
geradas no processo de interpretações (se necessário

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da textualização) das fotografias contidas no acervo a realidade que se imagina: a primeira realidade
da própria Ludoteca. O material será gerado de uma (a do fato passado), recuperado apenas de
seleção das imagens obtidas pelo próprio pesquisador maneira fragmentária por referências (pleno de
entre os anos de 2011 a 2013, no Laboratório hiatos) ou pelas lembranças pessoais
Ludoteca do curso de Educação Física espaço que (emocionais).” (KOSSOY, p.47-48, 1999)
propõe potencializar a cultura lúdica para a infância e Segundo o autor, existem, na imagem
o foram conseguidas quando este estava na condição fotográfica, diversas realidades; “fluidas na
de ludotecário. representação e/ou que dela emanam” (KOSSOY,
Com base na avaliação de teses e dissertações p.41-43, 1999), sendo duas destas seguramente
cuja metodologia se consubstanciou na fotografia identificáveis e distintas: a primeira realidade,
prevejo o uso de 30 fotografias-narrativas que correspondente à qual o fotógrafo tem contato e a
retratam a própria Ludoteca, as brincadeiras e as partir da qual constrói sua representação, “um dado
próprias crianças. Portanto, classificaremos as tema na dimensão da vida”; e a segunda realidade,
imagens fotográficas em categorias ainda em correspondente à realidade do próprio objeto
delineamento. Espero que em contato com a construído e que agrega elementos à primeira.
fotografia, ou seja, através das narrativas, possamos Explorando a apresentação das etapas da
produzir discursos que revelem interpretações sobre o pesquisa, esclareço a necessidade de contextualizar
espaço de produção de cultura lúdica, a Ludoteca. historicamente a imagem fotográfica, o que para
Consequentemente assumo com tal atividade a Kossoy (1989) é um desafio tendo a fotografia como
possibilidade de compreender o espaço da Ludoteca, fonte. Ele estrutura esta tarefa nas seguintes etapas: a)
as práticas pedagógicas ali presente e como as se Reconstituir o processo gerador do artefato,
criam e resignificam os conhecimentos na e para a compreendendo seus elementos constitutivos;
Ludoteca. b)Determinar os elementos icônicos que compõem o
As narrativas fotográficas caminham no conceito registro visual. Estes pontos levantados pelo autor
de fonte, isso implica em determinadas apropriações implicam e demonstram a importância em
para o uso da imagem fotográfica, o que para Mauad desenvolver uma análise técnica (informações
(p.82, 1996), “[...] a fotografia – para ser utilizada implícitas) e iconográfica (informações explícitas) do
como fonte histórica, ultrapassando seu mero aspecto registro fotográfico.
ilustrativo – deve compor uma série extensa e A etapa final da pesquisa se constituirá da analise
homogênea no sentido de dar conta das semelhanças e das narrativas fotográficas produzidas, para este
diferenças próprias ao conjunto de imagens que se momento utilizarei a análise do conteúdo estruturada
escolheu analisar”. por Bardin (1977). A análise do conteúdo é
Esta perspectiva ocorre, pois, além de uma compreendida como um conjunto de técnicas de
imagem fixa e produzida, a fotografia “informa sobre pesquisa cujo objetivo é a busca do sentido ou dos
os cenários, as personagens e os acontecimentos de sentidos de um documento, neste caso das narrativas
uma determinada cultura material”. (BORGES, p.82, do e sobre o espaço da Ludoteca previamente
2005). A autora salienta que a imagem fotográfica divididas em categorias. Segundo o autor ela
possui o papel “cultural, que tanto informa quanto “representa um conjunto de técnicas de análise das
constrói interpretações sobre os objetos e sujeitos comunicações que visam a obter, por procedimentos
fotografados”. (BORGES, p.92, 2005). É proeminente sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
destacar o “seu poder de celebrar e difundir a mensagens, indicadores que permitam a inferência de
memória coletiva de grupos sociais e sua capacidade conhecimentos relativos às condições de produção e
de definir perfis socioculturais” (BORGES, p.92, recepção dessas mensagens” (BARDIN, p. 42, 1977).
2005), e é exatamente esse o objetivo da fotografia
nesta pesquisa, valer-se das imagens fotográficas 4. CONCLUSÃO
como fonte de pesquisa para auxiliar na compreensão
da história recente do espaço da Ludoteca. Esta pesquisa aponta elementos de um trabalho
É pelo viés das informações contidas nas imagens maior,o qual vem sendo desenvolvido no mestrado
fotográficas, que se procura a complementação com em Educação na linha de história e culturas
elementos de outras naturezas, as narrativas são um educacionais. A pesquisa está em andamento mas
exemplo, que possibilitem validar o que é perceptível acreditamos que o acúmulo até aqui conquistado
visualmente naquela representação imagética. Isso contribui ao debate proposto pelo evento e que
ocorre pelo fato de que o “processo de construção do converge ações e reflexões sobre a investigação
signo fotográfico implica necessariamente a criação qualitativa em educação. Nos importa por ora lançar
documental de uma realidade concreta” (KOSSOY, luzes ao objeto que é a Ludoteca e ao modo como
p.46, 1999). buscamos investigá-la e que mescla teoria,
subjetividade, imagem e auto-biografia. É propósito
“É o conflito entre a realidade que se vê: a futuro que a consecução dos objetivos nos mantenha
segunda realidade (a que se insere no em posição de socialização e diálogo junto aos pares.
documento, a representação) – através de
nossos filtros culturais, estético/ideológicos – e

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REFERÊNCIAS MARTINS, J. S. Sociologia da fotografia e da
BARDIN, L. (1977). Análise de Conteúdo. Lisboa, imagem. São Paulo: Contexto, 2002.
Portugal: Edições 70. MAUAD, A. M. Através da Imagem: Fotografia e
BORGES, M. E. L. História & fotografia. Belo História Interfaces. Tempo, v1. N2. UFF, Rio de
Horizonte: Autêntica, 2005. Janeiro: 1996.
CARLOS, A. F. A (re) produção do espaço urbano. SANTOS, S. M. P. dos. O lúdico em diferentes
São Paulo: Edusp, 1996. contextos. Petrópolis. Vozes, 1997.
DUBOIS, P. O Ato fotográfico e outros ensaios. SARMENTO, M.J. Mapa de conceitos na área de
Campinas: Papirus, 1993. estudos da sociologia da infância. Revista Eletrônica
HELLER, A. Cotidiano e história. Rio de Janeiro: Zero-a-seis. Núcleo de Estudos e Pesquisa da
Paz & Terra, 1989. Educação na Pequena Infância, Centro de Ciências da
HELLER, A. Sociologia de la vida cotidiana. 4. ed. Educação, UFSC, n 14, agosto – dezembro de 2006.
Barcelona: Península, 1994. SARMENTO, M.J. Gerações e alteridade:
KOSSOY, B. Fotografia e História. São Paulo: interrogações a partir da sociologia da infância. In:
Ática, 1989. Educação e Sociedade: Revista de ciências da
KOSSOY, B. Realidades e Ficções na Trama Educação – Centro de Estudos Educação e Sociedade
Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. – São Paulo: Cortez; Campinas, CEDES – Vol. 26, n
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. 91, Maio - agosto, 2005.
Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins (do original:
La production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions
Anthropos, 2000). Primeira versão: início - fev.2006.
__________________________________________________________________________________________

Photographic narratives as ways to understand the space of toy library


UFG/RC
Rogério Santos e Silva, Paulo, ppaullao@hotmail.com¹
Pereira de Araujo, Juliana, juliana.barrado@gmail.com²
¹ Mestrando em Educação UFG/ Regional Catalão
² Professora Doutora do Departamento de Educação UFG/Regional Catalão
Abstract: This article derives from the initial reflections of a research in progress that aims to investigate the
meanings of childhood cultures made in the space of a toy library from analysis of photographic narrative of a
toy library. The hypothesis of the research is that the toy library of images inspire senses that go beyond the
playfulness and care likewise contribute to the preparation of that space as a place of observation and
understanding of changes in meaning of childhood cultures that express themselves through play .From these
initial reflections we understand the space of toy library as a place full of narratives and therefore field for
qualitative research. It is worth noting that this proposed work - Master's project is in the development process,
having no results until the moment

Keywords: Space; Toy Library; Photographic.

“Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo deste trabalho”

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“HISTÓRIA DO LIVRO ESCOLAR: GOYAZ, NO CORAÇÃO DO
BRASIL”

OLIVEIRA, Ingrid Janini Ramos, ingridjanini@gmail.com


PERES, Selma Martines, selmamartines@uol.com.br

Bolsista Pibic/FAPEG – UFG/RC/UAEE


Profa. Adjunto - UFG/RC/PPGEDUC

Resumo: O presente trabalho apresenta resultados parciais do projeto de pesquisa de PIBIC, que tem como
objetivo a análise do livro didático “Goyaz, Coração do Brasil” da autora Ofélia Sócrates Nascimento
Monteiro, publicado em 1934. Esta obra foi a primeira publicação sobre a história de Goiás como material
didático para o uso nas escolas primária em todo o estado. Neste texto é apresentado alguns estudos sobre a
história do livro e do livro didático, dados da autora Ofélia Sócrates e uma breve caracterização da obra
adotando como perspectiva metodológica a análise documental e o estudo bibliográfico.

Palavras-chave: livro didático; Goyaz, coração do Brasil; história do livro.


___________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta resultados parciais da sua importância para investigar o contexto
pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de histórico em que a obra foi utilizada, os
Iniciação Científica (PIBIC), que tem como conteúdos trabalhados, a metodologia indicada e
objetivo a análise do livro didático “Goyaz, muitos outros assuntos podem ser abordados,
Coração do Brasil” da autora Ofélia Sócrates pode-se dizer então, um material riquíssimo
Nascimento Monteiro, publicado em 1934, para estudos.
sendo o primeiro livro didático a trabalhar a Nesse sentido, o presente texto apresenta
história de Goiás nas escolas primárias. aspectos históricos acerca do livro, a
Para desenvolver este estudo o fundamento caracterização do livro didático, a apresentação
teórico metodológico pautou-se na pesquisa da autora Ofélia Sócrates Nascimento Monteiro
documental, que segundo Cellard (2010), a e da obra “Goyaz, Coração do Brasil” e por fim,
partir do estudo de documentos é possível é realizada uma reflexão deste que foi o
acrescentar a dimensão do tempo a primeiro livro didático de história adotado em
compreensão do social, tendo as seguintes Goiás.
análises: o contexto, o autor ou os autores, a
autenticidade e a confiabilidade do texto e a 2. LIVRO: ASPECTOS HISTÓRICOS
natureza do texto.
Pesquisar sobre a história de um livro, neste A história do livro segue as transformações
caso, “Goyaz, Coração do Brasil”, exige sócio-histórico e culturais da sociedade, assim,
primeiro, o exercício de pensar sobre a história desde a antiguidade até os dias atuais o que se
do livro. Assim, apresento, de modo breve, o pode observar são os diferentes suportes para o
percurso acerca da história do livro para registro da escrita, como por exemplo: as tábuas
compreender seu processo de desenvolvimento, de argila usadas na mesopotâmia, o papiro, o
desde as tábuas de argila, a invenção de pergaminho, tecidos, cerâmicas, folhas de
Gutenberg chegando às inovações tecnológicas palmeiras e ainda, o manuscrito, o impresso e o
da atualidade. digital. (BELO, 2002). Ao estudar a história do
Outro aspecto significativo é pensar sobre a livro é possível detectar alguns marcos que
história do livro didático, haja vista que o livro contribuíram para mudanças significativas na
de Ofélia Sócrates Nascimento Monteiro, se cadeia produtiva do livro, como por exemplo, a
caracteriza como obra de referência didática. invenção de Gutenberg. A partir da invenção da
Nestes termos, o livro didático como material prensa destaca-se a possibilidade de produzir
para o auxilio do professor, tem sido foco de um número maior de livros em um tempo
estudo de vários pesquisadores, que reconhecem menor, momento no qual houve uma grande

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expansão em relação aos livros, caracterizado 2.1. Livro Didático: História e
por Chartier (1999) como uma “cultura do Caracterização
impresso”. No entanto, o autor faz a ressalva
que muito antes da descoberta de Gutenberg, no Não se tem muito a dizer sobre a história
oriente, especificamente na China e no Japão, já inicial do livro didático, o que estudos apontam
tinha um tipo móvel, porém não era usada de é que antes da existência da prensa os livros
forma ampla, sendo limitado a trabalhos eram escritos a mão, e por isso mesmo, não era
religiosos, textos oficiais e livros escolares. possível a utilização de livros específicos nas
Os livros carregam características e escolas. No entanto, com a produção em larga
histórias que apresentam indícios do momento escala facilitou a aquisição e o acesso desse
histórico vivido, para além do que está escrito material nas escolas. (GATTI Jr. , 2004)
neles. Nestes termos, é possível notar a capa, o Estudando o livro didático e todo o seu
miolo, as fontes e o próprio texto que estes percurso até a atualidade podemos enfatizar
mudam ao longo do tempo, se apropriando das vários momentos históricos em que este recurso
novas tecnologias, respeitando os acordos pedagógico contribuiu para o desenvolvimento
ortográficos, dentre outros. Observa-se assim, e/ou fortalecimento de ideologias, regimes
os processos relativos à editoração, a produção democráticos, valores morais, sociais e
do livro, distribuição até chegar ao leitor. religiosos. Segundo Munakata (2012), analisar a
Outra forma de perceber o livro é tomá-lo produção do livro didático possibilita observar
como uma mercadoria, segundo Belo (2002, p. os múltiplos sujeitos envolvidos, tais como:
44): “O livro impresso, além de ser um meio de autores, editores, ilustradores, revisores,
divulgação de textos e imagens, é também visto divulgadores, consultores e, ainda leitores e
como uma mercadoria com a qual se envolvem tantos outros. De modo geral, quando refletimos
novas categorias de atores sociais, desde sobre o desenvolvimento do livro didático pode-
humildes trabalhadores artesanais até grandes se destacar também, um fato histórico, como por
comerciantes internacionais”. exemplo, o período da ditadura – em que os
Frente a expansão do mercado editorial e livros didáticos da época traziam características
das novas possibilidades de produção do livro próprias do momento vivido, expressos nas
ampliam-se também a veiculação de gêneros capas, figuras de soldados no decorrer do livro e
textuais atendendo os vários gostos e a os textos exaltando a ordem e a disciplina, etc.
diversidade de leitores, como por exemplo, No Brasil até os anos de 1920, a circulação
desde livros para as crianças pequenas era basicamente de livros editados e impressos
planejados pedagogicamente a elas, como para no exterior, e o acesso a esse material era
adolescentes e adultos de entretenimento à restrito, sendo assim destinados somente as
livros técnicos. classes mais elitizadas. Contudo, a partir da
Com o acesso as novas tecnologias, não década de 1930, autores brasileiros começaram
podemos deixar de citar a inquietação que há a ganhar espaço no cenário nacional, ainda que,
em relação ao futuro do livro, no temor de que os manuais escolares eram muito utilizados, a
se torne algo esquecido no passado. O que antes esse respeito, Décio Gatti Júnior (2004, p.37)
existia no formato impresso, hoje o livro pode afirma que: “O período compreendido entre as
ser acessado no próprio smartphone, décadas de 1930 e 1960 caracterizou-se, no que
computador, e-readers que garantem facilidade diz respeito aos manuais escolares da seguinte
no transporte podendo ter vários exemplares em forma: foram livros que permaneceram por
um só aparelho, deixando de lado os livros longo período no mercado sem sofrerem
físicos (BELO, 2002). grandes alterações; livros que possuíam autores
Conforme aponta o autor, a discussão provenientes de lugares tidos, naquela época,
acerca do possível desaparecimento do livro como de alta cultura, como o Colégio D. Pedro
físico, parece algo muito distante, pois há II; livros publicados por poucas editoras que,
diversos tipos de leitores, há os que apreciam o muitas vezes, não os tinham como mercadoria
suporte digital, mas, há outros leitores que não principal e, por fim, livros que não
abrem mão do livro impresso, para aprecia-lo apresentavam um processo de didatização e
página por página. Enfim, as análises acerca da adaptação de linguagem consoante às faixas
revolução do livro e da leitura que tem como etárias às quais se destinavam”.
foco o impresso e o digital, ainda são muito Contudo, houve um período em 1960, em
incipientes, sendo mais adequado falar da que foi necessário a transição dos manuais para
coexistência de livros digitais e impressos em os livros didáticos, tendo uma atenção maior a
nossa sociedade. realidade das escolas que naquele momento
compreendia em um contexto diferente com a
expansão das escolas, o livro didático se torna

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um instrumento fundamental, tendo papel inserção de Goiás no concerto da nação, através
central no universo escolar e nos planos dos da revolução de 1930.
governantes, especialmente no período da Por fim, pode-se dizer que pesquisar sobre o
ditadura militar (GATTI Jr., 2004). livro e o livro didático, especificamente a obra
Goyaz, coração do Brasil permite conhecer um
3. RESULTADOS E CONCLUSÕES pouco mais sobre a educação e a história da
sociedade goiana nas décadas de 1930 e 1940.
“Goyaz, Coração do Brasil” – Autora e
Obra REFERÊNCIAS
Ofélia Sócrates Nascimento Monteiro, BELO, A. História & Livro e Leitura. Belo
nasceu em 1900, no Rio de Janeiro. Segundo Horizonte: Autêntica, 2002.
estudos de Ribeiro (2011), Ofélia desde a sua
infância tinha vínculo com Goiás, formando-se CELLARD, A. A Pesquisa Qualitativa:
em pedagogia na escola Normal de São Paulo enfoques epistemológicos e metodológicos /
em 1918. Ela mudou-se em 1922 para Goiás, tradução de Ana Cristina Nasser. 2. Ed. –
onde se tornou professora do Grupo Escolar da Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
Capital, assumindo a diretoria dessa escola em
1925. Destaca-se a influencia das classes CHARTIER, R. As Revoluções da Leitura no
dominantes que dirigia o estado, na Primeira Ocidente. In:. ABREU, M. (org.) Leitura,
Republica, no qual permaneceu durante a História e História da leitura. Campinas-SP:
transição para o governo pós-1930. Segundo Mercado das Letras; ALB, 1999.
Ribeiro, Ofélia foi peça fundamental para a
educação em Goiás, produzindo o primeiro livro GATTI JÚNIOR, DÉCIO. A Escrita Escolar da
didático que trabalhava a história de Goiás nas História: livro didático e ensino no Brasil (1970
escolas primárias, sendo também referência na – 1990) Bauru, SP: Edusc, 2004.
formação de professores da época e, um
exemplo de professora aos seus alunos. O livro MEDEIROS, WILTON DE ARAUJO.
Goyaz, coração do Brasil foi adotado nas Publicações Oficiais em Goiás (ANOS DE
escolas primárias de Goiás, conforme anuncia o 1930): imagem como estrutura e bricolagem.
Decreto n. 4.349, de 26 de fevereiro de 1934 Anais do XXVI Simpósio Nacional de História
(GOIÁS, 1934, p.6 apud RIBEIRO, 2011, – ANPUH • São Paulo, julho 2011.
p307).
O livro contém 44 textos e possui poucas MUNAKATA, Kazumi. O Livro Didático:
ilustrações, constituído por 215 páginas, sendo alguns temas de pesquisa. Revista Brasileira de
um livro de leitura especificamente didático. História da Educação. Campinas SP, v. 12, n.3
Segundo, Medeiros (2011), a proposta de Ofélia (30), p. 179 197, set./dez.. 2012.
Monteiro é apresentar a história de Goiás a
partir de pensamentos organizados de modo a RIBEIRO, Miriam Bianca Amaral. Cultura
promover as riquezas do estado e do seu povo Histórica e História ensinada em Goiás (1846-
partilhando assim, as ideias de „nova republica‟ 1934). Tese (Doutorado) – Universidade
e do concerto geral da nação e da civilização‟. Federal de Goiás, Faculdade de História, 2011.
Para ele, nessa obra, a autora exalta o estado de
goiás, apresentando uma coleção de imagens de RESPONSABILIDADE AUTORAL
sonhos e paisagens seguido por prosas,
representando as potenciais riquezas do Brasil OLIVEIRA, Ingrid Janini Ramos
Central. Destaca-se ainda, o universo simbólico
do Estado, como hino, brasão, personalidades,
as letras e a instrução, culminando com a

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"HISTORY OF SCHOOL BOOK : GOIAZ , HEART OF BRAZIL".

OLIVEIRA, Ingrid Janini Ramos, ingridjanini@gmail.com


PERES, Selma Martines - selmamartines@uol.com.br

Pibic/FAPEG - UFG/RC/UAEE
Teacher Doctor UFG/RC/PPGEDUC

Abstract: The present work presents partial results about a research project of PIBIC which aims to
analyze the textbook “Goiaz, Coração do Brasil” (Goiaz, Heart of Brazil) by the author Ofélia Sócrates
Nascimento Monteiro, published in 1934. This work was the first publication about the Goiás’s history as
didactic material to be used in the primary schools throughout state. In this text it is presented about
history of the book and the textbook, data from the author Ofélia Sócrates and a brief description of the
work, adopting as a methodological perspective the documental analysis and the bibliographical study.

Keywords: textbook; Goiaz, the Heart of Brazil; history of the book.

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O USO DO ACERVO DO PNBE EM OFICINAS DE LEITURA NO 1º
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Lucas, Rejane Guimarães de Mello¹, remellucas@ibest.com.br-


Peres, Selma Martines², selmamartines@uol.com.br
1Mestranda – PPGEDUC/RC/UFG
2 Prof. Adjunto – PPGEDUC/RC/UFG

Resumo: Este estudo é um recorte de pesquisa realizada no curso de Mestrado em Educação do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás- Regional Catalão (PPGEDUC-UFG/RC).
Tem por objetivo analisar o uso dos livros literários do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) por
alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental de uma escola no interior do estado de Goiás, em oficinas de
leitura. Entende-se que o aprendizado significativo das crianças e o processo de alfabetização, podem ser
reforçados com a democratização do acesso às obras literárias nas escolas da rede pública de ensino do Brasil,
por meio de programas de incentivo e fomento à leitura como o que passa a ser aqui discutido. Assim, o
presente estudo tem por objetivo apresentar a trajetória do PNBE, além de demonstrar a possibilidade do uso
dos acervos distribuídos pelo governo federal em salas do primeiro ano do ciclo de alfabetização. Foram
adotados como percurso metodológico, a análise documental, sendo utilizadas fontes como o próprio Programa
e Leis que regulamentam a política de leitura vigente no país, e ainda foram utilizados, com base nos princípios
de uma pesquisa-ação, dados oriundos de intervenções, sendo realizadas oficinas de leitura. Mediante tal
proposta foi constatado que os alunos do primeiro ano recorriam diariamente ao acervo do PNBE, sendo que
as oficinas literárias possibilitaram a ampliação dessa apropriação, envolvendo toda a turma a partir da
leitura de histórias que compõem o acervo do Programa.

Palavras-chave: Políticas de Leitura; PNBE; Oficinas de Leitura.


___________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO política de formação de leitores para mediar o


O acesso aos livros literários tem se efetivado contato das crianças com os livros. (PAIVA, 2012).
com relevante diversificação nas diferentes O contato com a literatura pode potencializar o
modalidades de ensino, mediante programas do leitor a ampliar os referenciais de mundo e
governo federal de incentivo à leitura, como o trabalhar, simultaneamente, com todas as
Programa Nacional Biblioteca da Escola, PNBE, linguagens: escrita, sonora, dramática,
que distribui há quase vinte anos, obras de literatura cinematográfica, corporal, etc. (PERROTI, 1990).
infanto-juvenis, brasileiras e estrangeiras, materiais Essas diferentes formas de linguagem possibilitam
de pesquisa e de referência a alunos e professores fazer da literatura um importante produto cultural.
das escolas de educação básica do país. Assim, os livros do PNBE, compõem um
Na escolha dos títulos para o leitor, tornou-se importante e valoroso meio que pode auxiliar o
primordial observar o caráter artístico da obra, no processo de construção significativa da
escopo de possibilitar a formação de um repertório aprendizagem e a formação intelectual do
que ultrapasse a literatura de massa. Esse é um indivíduo, podendo o material ser apropriado tanto
critério para a formação dos acervos do PNBE. pelo aluno como pela comunidade.
(RAMOS, 2013). Levando em consideração a importância da
É preciso ressaltar que as obras que fazem parte leitura na formação do indivíduo, foram realizadas
da política de distribuição de livros têm chegado às oficinas de leitura numa escola no interior de Goiás.
escolas públicas brasileiras, porém é importante Justifica-se a pesquisa no contexto escolar
questionar se os livros vêm sendo apropriados pelas tendo em vista que uma política que privilegia a
crianças do ciclo de alfabetização. As pesquisas mediação, por meio da distribuição de livros,
apontam que a distribuição dos livros se consolida, precisa comprometer-se com seus usos e sua
porém, faz-se importante ressaltar que esta política circulação. (PAIVA, 2012, p. 30).
pública de leitura, precisa ser acompanhada de uma Compunham a sala do 1º ano, vinte e um
alunos, sendo os mesmos, voluntários da presente

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Anais do I CONPEEX 2015 - 334


pesquisa, cujo objetivo foi o de promover Em 2002, o Programa além de continuar a
momentos de interação dos alunos com os livros ação: “Literatura em Minha Casa”, também
literários do Programa Nacional Biblioteca da distribuiu nas escolas, acervos para suas bibliotecas.
Escola- PNBE, por meio de oficinas literárias, com Essa ação, de acordo com pesquisadores da área
a intenção de despertar o interesse pelos livros de (Fernandes, 2007), garantiu o incentivo à leitura e a
literatura infantil e ampliar o uso do acervo no troca de livros entre os beneficiados e suas famílias.
ambiente escolar, utilizando-se dos elementos que O Programa em 2003 contou com a realização de
constituem a pesquisa-ação. cinco ações distintas: Literatura em minha casa,
A pesquisa-ação tem por princípio a Palavra da Gente; Casa da Leitura; Biblioteca do
transformação de uma realidade estabelecida, além Professor; Biblioteca Escolar. Não houve uma
de produzir conhecimentos relativos a essas versão do PNBE 2004.
transformações. (BARBIER, 2007). Os alunos voltam a ser beneficiados em 2005,
Com o objetivo de provocar mudanças no sendo que o acervo das bibliotecas das escolas com
cotidiano dessa escola, optou-se pelos princípios as séries iniciais do Ensino Fundamental foi
dessa metodologia para através de intervenções que ampliado. Em 2006, o Centro de Alfabetização,
são as oficinas de leitura, possibilitar um processo Leitura e Escrita- CEALE, da UFMG, passa a ter a
de reflexão na concepção que os alunos têm dos responsabilidade de avaliar e selecionar os livros de
livros literários. literatura distribuídos pelo MEC.
O presente artigo foi construído tomando-se O Ceale conta com pareceristas, vinculados a
como referência três das cinco oficinas de leitura instituições públicas de ensino superior e da escola
realizadas na turma. O estudo faz parte da básica. Ainda realiza a seleção de obras para a
Dissertação de Mestrado para o Programa de Pós- composição dos acervos, o que permite a
Graduação em Educação da Universidade Federal distribuição de livros de literatura para todas as
de Goiás - Regional Catalão (PPGEDUC/UFG/RC). escolas públicas do país, visando ao estímulo à
Assim, o texto está organizado em duas partes, a leitura e à formação de leitores. (PAIVA, 2012, p.
primeira discute o funcionamento do PNBE e a 24).
segunda, relata as oficinas de leitura, trazendo Em 2007, o Programa passa a se referir ao ano
considerações acerca do uso do livro literário na de atendimento e não mais ao ano de aquisição
escola. como acontecia até 2006. Não existiu a versão do
_________________________________________ PNBE 2007 (PAIVA, 2012). Quanto às obras de
literatura em 2008, a Educação Infantil, o Ensino
2. O FUNCIONAMENTO DO PNBE Fundamental e o Ensino Médio receberam o acervo
O governo federal nos últimos anos vem do Programa, que também contou com o PNBE
investindo no incentivo da leitura no país por meio Especial 20081. Quase 30 milhões de alunos foram
das políticas públicas. Criado em 1997, o Programa beneficiados com essa edição do Programa.
Nacional Biblioteca da Escola – PNBE distribui Em 2009, foram atendidas as séries finais do
acervos às bibliotecas e a alunos e professores das Ensino Fundamental, além do Ensino Médio. No
escolas públicas do país. ano seguinte, a distribuição envolveu alunos da
O Programa foi instituído pela Portaria nº 584, Educação Infantil, ano iniciais do ensino
de 28 de Abril de 1997 no governo de Fernando fundamental e a EJA, sendo criados editais
Henrique Cardoso e se constituiu de diferentes complementares como PNBE Periódico e PNBE
formas durante a permanência de quase vinte anos, Professor. Também foi distribuído o Vocabulário
sendo mantido o seu objetivo, como traz o art. 2º da Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Mais de
Resolução nº 7, de 20 de Março de 2009 que é o de 248 mil escolas foram contempladas, um total de
promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura mais de 24 milhões de alunos beneficiados. Em
por meio da distribuição de acervos de obras de 2011, o atendimento se deu aos alunos dos anos
literatura, de pesquisa e de referência e de outros finais do ensino fundamental e do médio.
materiais relativos ao currículo nas áreas de Para a versão do PNBE/2012, foi lançado o
conhecimento da educação básica. edital de periódicos, e outro dos ciclos da educação
De 1998 a 1999 foram beneficiados 27,4 com obras para os anos iniciais do Ensino
milhões de alunos com acervos para as bibliotecas Fundamental, EJA e Educação Infantil. Em 2013, a
das escolas. Em 2000, as obras pedagógicas foram
voltadas para os professores. A partir do ano 2001, 1
No anexo II do Edital do PNBE Especial 2008, há uma
o PNBE passou a distribuir os livros diretamente declaração, na qual os autores das obras deveriam assinar,
aos alunos matriculados nas 4ª e 5ª séries do Ensino permitindo a adaptação de forma a atender aos alunos
Fundamental, recebendo a denominação de portadores de necessidades especiais. Disponível em
“Literatura em minha casa”. (FERNANDES, 2013). file:///C:/Users/Cliente%20Especial/Downloads/edital_pn
be_2008%20(1).pdf. Acesso em 05/03/2015.

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Anais do I CONPEEX 2015 - 335


aquisição e distribuição das obras literárias foram às características físicas e comportamentais
direcionadas aos anos finais do Ensino relatadas pela pesquisadora.
Fundamental e do Ensino Médio, sendo ainda Faz-se importante justificar que essa atividade
lançado o PNBE Temático2. A versão PNBE/2014 foi tomada em sua dimensão principal, exaltando o
foi direcionada aos anos iniciais do E.F., EJA e aspecto artístico, de fruição e de envolvimento do
Educação Infantil, sendo distribuídos mais de 5,5 livro com o leitor, o que não impediu que fosse feita
milhões de livros, o que atendeu mais de 13 uma ligação com os conteúdos escolares, pois a
milhões de alunos só no Ensino Fundamental. literatura é sempre e inevitavelmente escolarizada,
O critério de seleção dos títulos do PNBE para quando dela se apropria a escola. (SOARES, 2006).
a realização de oficinas de leitura com o 1º ano do Assim, a autora discute como a literatura
ciclo de alfabetização partiu de observações infantil tem sido inadequadamente escolarizada,
realizadas na biblioteca da escola. Nesse ambiente apontando implicitamente como ela poderia ser
foi verificado que as crianças alcançavam apenas as feita de maneira adequada: “aquela que conduza
três primeiras prateleiras das estantes de livros. mais eficazmente às práticas de leitura que ocorrem
Foram selecionadas obras das prateleiras mais altas no contexto social e às atitudes e valores que
para discussão com as regentes. correspondem ao ideal de leitor que se quer
_______________________________________ formar”. (SOARES, 2006, p. 25)
A cantiga popular “Atirei o pau no gato” e
2.1- Oficinas de Leitura e o Uso do Acervo do “Arca de Noé”, de Vinícius de Moraes foram
PNBE executadas em CD para encerrar a oficina, que além
Para intervir na prática leitora dos alunos do 1º de abordar o tema em apreciação oportunizou o
ano, pesquisadora e regente escolheram títulos que aprofundamento das discussões acerca dos animais
foram lidos em voz alta em decorrência da escassez domésticos e selvagens, ampliando e, não
de exemplares para todos os alunos. meramente, reforçando o conteúdo visto semanas
Após as leituras, era estabelecido um diálogo antes.
com a turma, onde cada aluno relatava Outro livro utilizado nas oficinas de leitura foi
voluntariamente, sua experiência sobre o assunto Dentro da casa tem.../PNBE 2010, de Márcia
em debate. O acúmulo de informações que o aluno Alevi, com duração de 45 minutos. O livro trata de
traz é resultado de escolhas feitas a partir de uma casa que tem um armário e, dentro dele, uma
milhões de possibilidades, “escolha esta que, por caixa. Nessa caixa tem um vidro bem fechado. O
sua vez, se faz em função das relações que os enigma para o leitor é descobrir o que tem dentro
sujeitos estabelecem no interior da sociedade em do vidro. Foi elaborado um painel com o desenho
que estão inseridos”. (BRITTO, 2006, p. 78). da planta de uma casa, nele os alunos mobiliavam
As atividades foram planejadas de maneira os cômodos com os móveis que foram coloridos por
cuidadosa e sistemática, envolvendo os alunos em eles. Foi pedida a identificação dos móveis para que
momentos prazerosos, ativos e dinâmicos. fossem colados no cômodo, tendo como fundo
A primeira oficina de leitura teve a duração de musical A casa e Um, dois, três, de Vinícius de
50 minutos e contemplou a realização de um cartaz, Moraes, ambas da obra A Arca de Noé. A oficina
no qual os alunos colaram a figura dos animais também contou com a realização de frases, sendo
referidos no livro Com quem será que eu me formadas duplas em que pelo menos um dos
pareço?/ PNBE 2010, de Georgina Martins. A integrantes apresentava maior facilidade com o
história se passa num zoológico, sendo que os código escrito. Um aluno chorou por não conseguir
filhotes dos bichos perguntavam às mães com que realizar a atividade, sendo que por diversas vezes,
criança eles se pareciam. Uma discussão a respeito ele apresentava ansiedade de ler como os colegas.
das diferenças do indivíduo, que na infância Nesse sentido, Saraiva (2001) ressalta que a
costuma ser questionada. Os alunos relataram palavra é uma via de exclusão social, que pode
experiências vividas com os animais domésticos e interferir na posição hierárquica dos indivíduos,
mencionaram situações reais veiculadas na diferenciando o mundo dos adultos e das crianças.
televisão em 2014, quando um tigre atacou um Se a palavra escrita pode separar os que têm
menino no estado do Paraná. Em seguida, eles acesso ao conhecimento daqueles que ainda não
escreveram o nome dos animais conforme eram dominam tal prática, o processo de alfabetização
mostradas as figuras e ainda relacionaram o animal nos leva a refletir sobre as dificuldades enfrentadas
por alguns alunos na realização do registro e leitura,
levando a considerar que as experiências são
2
O PNBE Temático é composto por nove temas que distintas, cada criança tem seu tempo de
atendem às especificidades brasileiras, tendo sido compreensão e de aprendizagem, o que não
trabalhados e direcionados a estudantes e professores dos significa atrasos em relação às demais.
anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

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Anais do I CONPEEX 2015 - 336


Nesse sentido, escrita e leitura estão associadas, interação com a história, caracterizando o uso
tendo em vista que “sem a leitura, a escrita efetivo dos acervos do Programa. O aprendizado
permaneceria na condição de letra morta, significativo das crianças e o processo de
monumento mudo, parada no tempo e no espaço, alfabetização puderam ser reforçados com a
bem aquém da oralidade”. (Yunes, 2003, p. 7). democratização do acesso às obras literárias.
A turma teve uma boa interação com a leitura
do livro, participando com interesse e entusiasmo AGRADECIMENTOS
das atividades de colorir, escrever o nome dos A agência financiadora CAPES.
móveis e objetos e depois colar na planta da casa.
No registro de frases, as dificuldades surgiram em REFERÊNCIAS
alguns grupos, porém a realização do trabalho em BARBIER, R. 2007. Pesquisa-ação. Brasília: Liber
equipe despertou a capacidade de cooperação entre Livro Editora.
os alunos. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.
Foi ainda realizada a oficina com o livro, A 1997. Portaria nº 584, de 28 de Abril de 1997.
menina das borboletas/PNBE 2010, de Roberto Institui o Programa Nacional Biblioteca da Escola
Caldas. A duração da atividade foi de 45 minutos. (PNBE). Diário Oficial da União, Seção I, página
Esse livro apresenta narrativa visual. A história 8.519.
mostra a sequência de cenas em que uma menina _____________. 2009. Ministério da Educação e
tenta cultivar uma flor no jardim, mas passa por do Desporto. Fundo Nacional de Desenvolvimento
diversas frustrações até conseguir um lindo canteiro da Educação; Conselho Deliberativo. Resolução nº
de flores. 7, de 20 de Março de 2009. Dispõe sobre o
O livro de imagem propiciou uma maior Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE).
integração dos alunos, pois houve a participação Disponível em
conjunta no momento em que descreveram as ações http://www.fnde.gov.br/index.php/be-legislacao.
da personagem. Após interpretarem cada cena, foi Acesso em 06/03/215.
pedido que reproduzissem a história por escrito. BRITTO, L. P. L. 2006. Leitura e Política. In:
Cada dupla descreveu apenas uma cena. EVANGELISTA, A. A. M. et al.; A Escolarização
Conforme Soares (2008), no PNBE/2008, o da Leitura Literária- o jogo do livro infantil e
livro de imagens teve a produção editorial dirigida juvenil. 2ª ed., 2ª reimp.- Belo Horizonte: Autêntica
predominantemente para a faixa etária da Educação (pp.77-92).
Infantil, assim, a autora insiste que se esse tipo de FERNANDES, C. R. D. 2007. A importância da
leitura é excelente durante os primeiros passos da formação do leitor no Brasil contemporâneo. In:
alfabetização, não menos importante é quando esse Leitura, Literatura Infanto-Juvenil e Educação.
processo está em pleno desenvolvimento. Londrina: EDUEL.
Essa atividade refletiu em diferentes formas de _____________ 2013. Leitura, Literatura Infanto-
ler, sendo a leitura por meio de imagens tão juvenil e Educação [livro eletrônico]- Londrina:
importante quanto os livros de textos associados a Eduel,.1 Livro digital: il. Disponível em:
ilustrações. A sequência das cenas compôs uma http://www.uel.br/editora/portal/pages/livros-
nova história, a qual foi intitulada por meio de digitais-gratuítos.phpI.
votação, Gabriela e suas borbotes brilhantes. Os PAIVA, A. 2008. Literatura Infantil: políticas e
vinte e um alunos assinaram como autores dessa concepções. Belo Horizonte: Autêntica Editora.
nova história que recebeu formato de livro. _________ 2012. Literatura fora da caixa: o PNBE
Foi observada a preocupação de muitos alunos na escola: distribuição, circulação e leitura. São
com a grafia correta, o que não era o objetivo da Paulo: Editora UNESP.
oficina. Porém, o interesse e a satisfação em PERROTI, E. 1990. Confinamento Cultural,
executar a proposta da criação oral da historia foi Infância e Leitura. São Paulo: Summus.
um momento de grande alvoroço e diversão. RAMOS, F. B. 2013. Literatura na escola: da
_________________________________________ concepção à mediação do PNBE-dados eletrônicos-
Caxias do Sul, RS: Educs.
3. CONCLUSÕES SARAIVA, J.A. 2001. Literatura e Alfabetização-
As intervenções realizadas conseguiram do plano do choro ao plano da ação. PNBE do
ampliar a apropriação dos livros do PNBE pelos Professor 2010.
alunos do primeiro ano. Eles tiveram mais tempo SOARES, M. 2006. A Escolarização da Literatura
para fazer a leitura, já que no dia-a-dia, o contato Infantil e Juvenil. In: EVANGELISTA, A. A. M. et
com os livros literários do PNBE é feito em tempo al. A Escolarização da Leitura Literária- o jogo do
exíguo. Trabalhando em duplas, as oficinas de livro infantil e juvenil. 2ª ed., 2ª reimp.- Belo
leitura permitiram momentos coletivos de grande Horizonte: Autêntica,( pp. 17-48).

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Anais do I CONPEEX 2015 - 337


__________ 2008b. Leitura e Democracia Cultural.
In: PAIVA, Aparecida [et al] (Org.). RESPONSABILIDADE AUTORAL
Democratizando a Leitura: pesquisas e práticas. “Os autores são os únicos responsáveis pelo
Belo Horizonte: CEALE; Autêntica. conteúdo deste trabalho”.
YUNES, E. 2003. A Experiência da Leitura. São
Paulo: Editora Loyola
___________________________________________________________________________
The COLLECTION OF USE PNBE READING WORKSHOPS IN 1
YEAR BASIC EDUCATION.
Lucas, Rejane Guimarães de Mello, remellucas@ibest.com.br
Peres, Selma Martines, selmamartines@uol.com.br
1
Master's student- PPGEDUC/RC/UFG
2
Prof. Adjunct - PPGEDUC/RC/UFG

Abstract. This study is a research clipping performed in the Master’s Education Course of the Graduate
Program in Education of the Federal University of Goiás- Catalão Regional (PPGEDUC-UFG / RC). It aims to
analyze the use of literary books of the National Program Library of the School (PNBE) by students of the first
year of elementary school at a school in the state of Goiás, in reading workshops. It is understood that the
children’s significant learning and literacy process, can be reinforced with the democratization of access to
literary works in the public school system in Brazil, through the encouragement and promotion of reading
programs such as to be discussed herein. Thus, this study aims to present the trajectory of PNBE and
demonstrates the possibility of using the collections distributed by the federal government in the first year
classrooms of the literacy cycle. The adopted methodological approach was documentary analysis, and used
sources such as the Program itself and laws regulating the current reading policy in the country, and was still
used, based on the principles of action research, data from interventions collected from reading workshops.
Upon such proposal was found that the first-year students resorted daily to PNBE collection, and the literary
workshops allowed the expansion of this appropriation, involving the entire class by reading stories from the
programs collection.

Keywords: Reading Policies; PNBE; Reading workshops.

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SAÚDE-TRABALHO, NO LOCUS RURAL

Borges, Danyelle, danyelle_borges_@hotmail.com1


Diniz, Leidiane²
Mei, Paulina³
1
Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão
2
Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão
3
Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão

Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa desenvolvida na disciplina de psicologia do trabalho, e teve
como propósito discutir a relação saúde e trabalho, através da articulação de aspectos teóricos com a vivência
prática. O locus de trabalho foi o sindicato dos trabalhadores rurais, localizado na cidade de Catalão, estado
de Goiás. Neste local, realizamos uma entrevista aberta com dois trabalhadores desta organização, sobre
trabalho e saúde. Realizamos uma entrevista com dois trabalhadores rurais para conhecer sua realidade de
trabalho, e também, de investigar a saúde do trabalhador rural. Neste sentido, o objetivo desde estudo é
conhecer a realidade do trabalho no campo e assim, pensar nas questões referentes à saúde do trabalhador e
seus desafios, para então problematizarmos maneiras de atuações possíveis da psicologia diante destas
questões. Segundo os entrevistados o trabalho rural é desgastante e o trabalhador se submete a condições de
risco. Porém é um tipo de trabalho em que o homem tem mais liberdade para realiza-lo do seu jeito singular.
Vimos também que o trabalho ocupa uma posição central na vida destes trabalhadores. Desta forma
acreditamos que atuação do psicólogo deve trazer alternativas que possibilitem a humanização do trabalho e
que problematize as diversas questões que envolvem o trabalho no campo e a vida do trabalhador, pois apenas
com o debate teremos modificações no sentido de melhorar às condições de trabalho no campo e assim evitar o
adoecimento físico e psíquico destes trabalhadores.

Palavras-chave: psicologia do trabalho, saúde do trabalhador, trabalhador rural


___________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
As questões referentes ao trabalho rural são
pouco estudadas pela psicologia. Isso foi Foi realizada uma pesquisa de campo, que
perceptível em nossa pesquisa, pois, tivemos incluiu uma entrevista com dois funcionários do
dificuldades em encontrar produções científicas sindicato dos trabalhadores rurais e uma entrevista
referentes à inserção da psicologia no ambiente com dois trabalhadores do campo, bem como,
rural. pesquisas bibliografias em artigos acadêmicos,
Neste contexto, pensamos em trabalhar este teses e livros. No que tange à abordagem do
tema não só pela escassez de estudos na área, mas problema, esta é de ordem qualitativa, sendo este
também por considerarmos fundamental pensar um trabalho empírico que busca relacionar
neste campo de análise, visto que a economia do fundamentação teórica e prática.
estado de Goiás é caracterizada pelo trabalho O local escolhido para desenvolver o trabalho
agrícola. foi o sindicato dos trabalhadores rurais, situado na
Posto isso, esse estudo teve como objetivo cidade de Catalão, estado de Goiás. Foram
investigar a relação trabalho e saúde no contexto realizadas duas atividades neste local. Sendo, que a
rural, e, consequentemente, pensar nas questões primeira buscou apresentar a proposta do trabalho;
referentes à saúde do trabalhador e seus desafios, discutir a relação homem e trabalho e saúde,
para então problematizarmos maneiras de atuação estabelecer um vínculo com a instituição.
possíveis da psicologia diante destas questões. Para No segundo encontro, realizamos uma
isso, o trabalho foi organizado em fundamentação entrevista com o presidente do sindicato e a
teórica, metodologia, discussão e considerações tesoureira do mesmo. Por meio deste instrumento,
finais e referências bibliográficas. buscou-se conhecer a trajetória profissional destes

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trabalhadores; sua relação homem-trabalho, como na pesquisa realizada com os trabalhadores rurais,
também aspectos da relação entre o sindicato com que o trabalho infantil presente neste locus.
os trabalhadores rurais. Vale dizer que essa foi uma Ainda sobre o trabalho rural, abordamos
entrevista aberta, isto é sem uso de um roteiro através de Faria (2005) que a constante exposição
estruturado. Desta forma, os entrevistados ficaram do trabalhador ao ambiente aberto ou em contato
livres para falar de outras temáticas além das suas com a natureza, assim, estes trabalhadores estão
trajetórias profissionais e questões referentes ao sujeitados constantemente a poeiras,
sindicato rural. microrganismos, produtos químicos, entre outras
Para enriquecer o trabalho, realizamos também variáveis. Esse contexto pode emergir as patologias
uma entrevista semi- estruturada com trabalhadores tanto fisiológicas e psicológicas. Porém vale
rurais do estado de Goiás, visando abordar questões ressaltar que a produção de Faria focaliza mais o
sobre trabalho rural, escolarização, saúde do adoecimento orgânico advindo da relação-homem
trabalhador. rural e trabalho. Por outro lado, o adoecimento
psicológico produzido desta relação é pouco
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA questionado. Assim, mais uma vez destacamos
ausente de produção psicologia neste campo. Os
resultados, quando for o caso, e as conclusões do
A priori discutimos a relação homem e trabalho devem estar nesta seção.
trabalho, para isso recorremos a Vieira, Barros e
Lima (2007). Para estes autores é comum, colocar o 4. RESULTADOS E CONCLUSÕES
trabalhador na posição de mero executante de um
rol de protocolos e de prescrições. Porém, muitas A principio realizamos dois encontros com os
vezes o trabalhador ultrapassa o trabalho prescrito, funcionários do Sindicado dos trabalhadores rurais,
pois, há gargalos que surgem no trabalho, em que senhor A e senhora B, que apesar de trabalharem no
os procedimentos, regras e normas, tornam-se sindicato, ainda mantêm contato com meio rural e
insuficiente para resolver tal questão, logo, o se identificam como trabalhadores rurais.
trabalhador cria maneira singular de solucioná-los, Posteriormente fizemos uma entrevista com um
isto é, ele irá construir, de forma particularmente trabalhador e estudante, C, e com um proprietário
singular, o “jeito de fazer” sua tarefa (Vieira, Barros rural, D.
e Lima, 2007). Três destes entrevistados destacaram que
Também, pontuamos as implicações desta começaram a trabalhar precocemente sendo notável
relação, pode ser tanto positiva como negativa, isto então, como o trabalho infantil era inerente ao
é, dependendo das condições de trabalho e da ambiente familiar rural, visto que as famílias eram
relação gestor-trabalhador, o trabalho pode numerosas e os pais utilizavam a mão de obra dos
proporcionar tanto satisfação quanto insatisfação, o filhos no sustento da família.
que é, consequentemente, corresponsável para o Também estes trabalhadores comentam que o
agravo de doenças físicas e mentais (Oliveira, trabalho no campo se inicia muito cedo e só se
2002). encerra com a noite, que por se tratar do trabalho
Na sequência, abordamos a psicologia do conjunto com o lar, não há divisão entre casa e
trabalho aplicada no contexto rural. Neste ponto, trabalho, diferença entre os dias com feriados e até
percebemos que há raríssimas produções a respeito mesmo o clima pouco influencia, porque o trabalho
da atuação do psicólogo neste campo bem como deve ser feito e como trabalhador é autônomo ele
pesquisas relacionadas com a saúde/adoecimento não é dispensado das suas atividades a não ser em
psicológica (o) do trabalhador. Uma das razões para casos excepcionais, como a doença que o impede.
isso seria que psicologia do trabalho desde seu A esse respeito, o estudante de agronomia destaca
desenvolvimento no Brasil bem como na um dado relevante acerca do trabalho rural, que é a
atualidade, tinha/tem o papel primordial de atuar organização dos horários, onde a facilidade de
principalmente no processo de recrutamento e poder alterá-los se torna problemática, pois não
seleção de candidatos a cargos em empresas estabelecem limites, isto é, não há um horário
(Coelho, et al, 2011). adequado para concretizar as atividades rurais, bem
como não há férias, principalmente quando o
Por último abordamos o trabalho rural. Em trabalhador é proprietário.
resumo, percebemos que tanto na pesquisa teórica, Outro aspecto observado nesta experiência
cujo consultamos a obra de Valmir Luiz refere-se às dificuldades enfrentadas pelos
Stropasolas, “Trabalho infantil no campo: do funcionários do Sindicado dos Trabalhadores
problema social ao objeto sociológico” bem como Rurais, como por exemplo, o processo de
aposentadoria, que na maioria das vezes é rejeitado

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Anais do I CONPEEX 2015 - 340


pelo INSS- Instituto Nacional do Seguro Social constantemente a força física, a percepção é de que
devido o descrédito que sofreram por problemas da o trabalho na cidade é mais difícil e desgastante, e
administração anterior. Neste contexto, tais que o trabalho no campo é libertador e relaxante.
dificuldades produzem insatisfação para os Logo, o trabalho rural não pode ser o responsável
funcionários com relação ao seu trabalho, que não é pelas mazelas acometidas ao trabalhador.
reconhecido por outras instituições e também pelos Neste contexto, embora a atuação do psicólogo
próprios contribuintes, gerando diversos no campo não possa ter a mesma estrutura que tem
transtornos. em outras áreas, ela pode ser relevante se pensada
Ao entrarmos na questão da saúde do naquela realidade. O psicólogo poderia se inserir na
trabalhador, a partir do diálogo com os funcionários zona rural, por exemplo, para realizar atividades de
do Sindicato Rural nos é apresentado um dado orientação-informativa sobre trabalho e saúde,
relevante para se pensar saúde, que é que os doença, bem como realizar práxis que promova a
trabalhadores rurais, no geral, se consideram mais reflexão e autonomia deste trabalhador. Os estudos,
saudáveis que os trabalhadores urbanos, bem como a atuação do psicólogo devem ser
justificando isto com seu estilo de vida, que apesar direcionados então a trazer alternativas que
do trabalho ser mais pesado (em termos de energia possibilitem a humanização e reflexão do trabalho.
física), e por conhecerem ambas as áreas de
trabalho, consideram que o trabalho urbano seja REFERÊNCIAS
mais adoecedor, pois sentem prazer com as
atividades do campo e o trabalho urbano é visto COELHO, L. F; COSTA, A. L. F; YAMAMOTO,
como uma obrigação da qual eles gostariam de ser O. H. JUL-DEZ 2011. O exercício profissional do
dispensados. psicólogo do trabalho e das organizações: uma
A respeito de sua saúde, o proprietário rural, revisão da produção científica. Revista Psicologia:
senhor D, relatou sentir dores físicas, cansaço e Organizações e Trabalho, 11(2) 21-35.
irritação, dizendo que os sintomas físicos poderiam FARIA, N. M. X.. 2005. A saúde do trabalhador
estar relacionados ao trabalho rural. Percebemos rural. Tese (doutorado). Programa de Pós-
que o processo saúde-doença está associado por ele Graduação em Epidemiologia. Universidade
aos sintomas físicos, uma vez que este não Federal de Pelotas Pelotas. 253.
relaciona as dores físicas como possível decorrência OLIVEIRA, P. A. B. 2002. Trabalho coletivo: a
de fatores psicológicos, como a exaustão no construção de espaços de cooperação e de trocas
trabalho. Neste sentido, esta ideia é apoiada na cognitivas entre os trabalhadores. Saúde mental e
abordagem tradicional de saúde, porque coletiva. Organizado por Wanderley Codo. Rio de
desconsidera a saúde mental. Assim, Assunção Janeiro: Vozes.
(2003) nos fala que ainda pensamos a saúde ASSUNÇÃO, A. A. 2003. Uma contribuição ao
mediante o modelo tradicional, uma vez que não debate sobre as relações saúde e trabalho. Ciência
consideramos os aspectos não biológicos & Saúde Coletiva. 8 (4):1005 – 1018.
(psicológicos), na análise das causas do STROPASOLAS, V. L. 2012. Trabalho infantil no
adoecimento gerado pelo trabalho. campo: do problema social ao objeto sociológico.
A partir deste estudo com os trabalhadores Revista Latino-americana de estudos do trabalho.
rurais percebemos que o trabalho infantil é 17(27).
naturalizado, principalmente nas famílias extensas VIEIRA, C. E. C.; BARROS, V. A. e LIMA, F. P.
de pequenos produtores. A. jun, 2007. Uma abordagem da Psicologia do
Além disto, embora o trabalho no campo seja Trabalho, na presença do trabalho. Psicologia em
desgastante, uma vez que o trabalhador utiliza Revista. Belo Horizonte, 13 (1) 155-168.
___________________________________________________________________________
HEALTH - WORK , NO LOCUS RURAL

Borges, Danyelle, danyelle_borges_@hotmail.com1


Diniz, Leidiane2
Mei, Paulina³
1
Federal University of Goiás , Regional Catalão
2
Federal University of Goiás , Regional Catalão
³Federal University of Goiás , Regional Catalão

I Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da Regional Catalão, Universidade Federal de Goiás.

Anais do I CONPEEX 2015 - 341


Abstract. This work is the result of a research and extension project of the discipline of work psychology, which
aimed to discuss the man-work-health relationship, through the articulation of theoretical aspects with the
practical experience. That said, our locus of work was the Rural Workers Union, located in Catalão, Goiás
state. In this place, we held an open dialogue with two employees of this organization about work and health. In
addition, we conducted an interview with two farmers to know your real work, and, in order also to investigate
the health of rural workers. In this sense, the goal from the study is to know the reality of work in the field and
so, think about the issues of health worker and challenges, and then problematize ways of possible
psychological intervention on these issues. The rural labor although it is exhausting and the worker is subject to
the conditions of risk, is a kind of work in which men have more freedom to realize by his unique way. We see
that the work occupies a central position in the lives of these workers, most important even than health. Thus we
believe that actions of the psychologist should bring alternatives that enable the humanization of work and
discusses the various issues involving farmers and the worker's life, because only the debate will change
towards improved working conditions in field.

Keywords: occupational psychology , occupational health, farm worker.

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Anais do I CONPEEX 2015 - 342


JUST IN TIME E AS RELAÇÕES DE TRABALHO NA MONTADORA
MITSUBISHI MOTORS DO BRASIL S.A.

SILVA, Magda Valéria da, magdaufgcatalão@yahoo.com.br 1


MARTINS, Mônica Kélen da Silva, monicakelen@hotmail2
1
Professora da Unidade Acadêmica Especial Instituto de Geografia, Universidade Federal de
Goiás/Regional Catalão;
2
Graduada em Geografia, Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão.

Resumo: O presente texto objetiva refletir sobre o processo de reestruturação produtiva do capital mediante os
princípios do Toyotismo e assim apresentar os principais impactos no trabalho e relações de trabalho. O
Toyotismo implementa no espaço fabril os sistemas de gestão e gerenciamento do processo produtivo
denominados Just in time e Kanban. Adota-se como objeto analítico a linha de produção da montadora
Mitsubishi Motors do Brasil S.A., localizada em Catalão/Goiás. Especificamente, almeja apresentar os
princípios do Just in time e Kanban, assim como as técnicas de abastecimentos e de reposição de peças
adotados na linha de produção desta montadora (andon, supermercados e sequenciado e kaisen) e ainda refletir
sobre os impactos desses procedimentos sobre o trabalho e o trabalhador (polivalência/multifuncionalidade,
trabalho em grupo e terceirização). Em termos metodológicos o texto se estrutura a partir de leituras e
pesquisas bibliográficas, comparadas com observações da linha de montagem realizadas durante três visitas de
campo. Contudo, as análises apresentadas pautam-se em pressupostos teórico-metodológicos da ciência
geográfica e visa contribuir para que reflexões mais aprofundadas sobre o modelo de produção adotado pela
montadora, bem como seus impactos no trabalho e na vida do trabalhador passam a ser investigadas.

Palavras-chave: Toyotismo, Sistema de abastecimento, Trabalho, Trabalhador.


____________________________________________________________________________________

INTRODUÇÃO seus impactos no trabalho, nas relações de trabalho


e na condição sócio-histórica do trabalhador.
A decadência do modelo de produção Ressalta-se que a montadora instalou em
fordista/taylorista no fim dos anos de 1960 leva a Catalão em 1998, atraída por incentivos fiscais,
uma nova forma de reorganização da produção e da produz diariamente cerca de 300 veículos: Lancer,
economia global. É nesse processo de Pajero, L200 Triton e suas versões e ASX. A
reestruturação produtiva que as forças do capital concepção e desenvolvimento produtivo destes
conseguem introduzir novos métodos e pilares ao veículos se dão nesta fábrica, cujas etapas envolve
sistema produtivo, levando o mundo do trabalho a projeto, montagem, testes de qualidade e auditoria
enfrentar novos desafios e problemas com a final. Além disso, importa os veículos Pajero Full,
chegada da acumulação flexível, que tem como Outlander e Lancer Evolution X, que são
momento hegemônico o toyotismo, que se propaga distribuídos para o Brasil por meio de suas
através dos princípios do Just in time e Kanban. concessionárias.
A produção fabril passa a adotar procedimentos Portanto, o foco deste texto é reportar ao
de abastecimento da linha de produção: andon, sistema de gerenciamento e gestão da produção
supermercado, kaisen, sequenciado, kit/pacote e automotiva e aos processos e etapas que envolve a
outros. Junto à essas novas formas de organização montagem veicular, bem como faz referências os
produtiva, há também mudanças no trabalho e nas impactos nas relações de trabalho e no cotidiano do
relações de trabalho, devido a adoção da trabalhador perante esses novos processos.
flexibilidade, representada pela polivalência,
trabalho em grupo e terceirização. 2. O TOYOTISMO: CONSIDERAÇÕES
É com base nesses apontamentos que este texto SOBRE O JUST IN TIME E KANBAN
se estrutura e visa contribuir com reflexões acerca
do processo de produção desenvolvido na linha de A decadência do modelo de produção
montagem da indústria automotiva Mitsubishi fordista/taylorista no fim dos anos de 1960 e início
Motors do Brasil S.A. (Mitsubishi ou MMCB), dos 1970 é marcada principalmente pela rigidez da
localizada em Catalão/Goiás, bem como destacar produção fordista, devido a incapacidade dos

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princípios da produção em massa em responder a procedimentos de abastecimentos da linha de
retração do consumo em massa. produção, tais como: andon, kaisen,
Para Antunes (2009) alguns fatores supermercados, CCQ, kit/pacote e sequenciado. A
contribuíram com tal decadência, dentre eles: adoção da polivalência, do trabalho em grupo e da
aumento do desemprego, diminuição dos terceirização configuram em flexibilização
investimentos públicos e privados na indústria, produtiva e impactam na precarização do trabalho e
eclosão de revoltas e ações ofensivas do operariado, na condição social do trabalhador. Estas questões
internacionalização do capital e rigidez da produção serão analisadas conforme realidade apresentada na
fordista ao acompanhar as inovações técnicas e linha de produção da MMCB.
tecnológicas. Esses fatores permitiram que o capital Nota-se que com a mudança do modelo de
se reinventasse sobre bases tradicionais, mas com produção fabril fordista/taylorista para o toyotista,
uma nova proposta de reprodução e reorganização alguns elementos ainda se mantém e continuam a
produtiva baseada em inovações tecnológicas. conduzir a produção, dentre eles: a esteira,
Essa nova forma de reorganizar a produção é reprodução do capital, precarização do trabalho.
imposta a economia global via globalização na sua A esteira tanto na produção fordista quanto na
concepção de mundialização do capital, porém, não toyotista permite a articulação de diferentes etapas
atinge homogeneamente os lugares. É nesse de trabalho, além de dar ritmo e tempo necessários
processo de reestruturação produtiva que as forças para a realização das tarefas pelos trabalhadores,
do capital conseguem introduzir novos métodos de dessa maneira, o ritmo da produção não é ditada
produção e de trabalho mediante a acumulação pela capacidade de desempenho laboral do
flexível via toyotismo. trabalhador, mas pela velocidade da esteira, que
O toyotismo ou Sistema Toyota de Produção traz em si elementos que leve a reprodução do
(STP) é desenvolvido no início dos anos de 1950 na capital e precarização do trabalho.
fábrica da Toyota Motors Company, no Japão, por Associado ao JIT tem-se o Kanban, que
Taiichi Ohno e almeja aumentar a produtividade, significa cartão em japonês “é um sistema de
apesar das limitações do sistema Just in time (JIT) e programação da produção puxada para atender as
Kanban. É a partir dessas bases que o JIT ganha necessidades dos clientes e facilitar o
caráter universal no pós-1980 e se espacializa com gerenciamento visual da fábrica”. (DAL FORNO,
a implantação na produção de seus princípios TUBINO, VALLE, 2007, p.2). A produção puxada
flexíveis. é entendida como “um sistema de produção em que
Para Abramides e Cabral (2003, p. 4) "A cada etapa do processo só deve produzir um bem ou
acumulação flexível, com o toyotismo, torna-se serviço quando um processo posterior ou cliente
para o capital tanto uma forma de maior exploração final, o solicite”. (DAL FORNO, TUBINO,
quanto de maior controle sobre a força de trabalho", VALLE, 2007, p. 3).
ou seja, com a implantação dos princípios do Em outras palavras, no Kanban a produção
toyotismo via JIT e Kanban o controle e domínio volta-se para atender a demanda do mercado
sobre a produção, o trabalho e o trabalhador são consumidor, atuando em consonância com a ideia
essenciais para a reprodução do capital. de produção enxuta e eliminando grandes estoques
Considerando que JIT é um modelo de gestão de produtos industrializados.
da produção, em que os insumos são fornecidos O Kanban surgiu inspirado no funcionamento
apenas no momento em que serão processados, a de supermercados norte-americanos, em que alguns
ideia de produção enxuta passa a imperar na aspectos chamaram a atenção de Taiichi Ohno, pai
produção industrial, no comércio e nos serviços, intelectual do Toyotismo, dentre eles: a disposição
cujas implicações nos processos produtivos e no de mercadorias em prateleiras, informações
trabalho são notáveis. Já o Kanban implementa importantes codificadas em um pequeno cartão; a
uma produção orientada e conduzida pela demanda mercadoria é retirada pelo próprio consumidor e
do mercado de consumo. sua reposição é feita de acordo com a demanda.
As transformações no sistema de produção (ANTUNES, 2009; ALVES, 1999).
industrial são sentidas no modo de produzir e de Com base nessas características observadas nos
administrar a cadeia produtiva, dessa forma, o supermercados, começou-se a adotar o Kanban nas
aumento de produtividade, estoques mínimos, montadoras com as devidas adequações. Assim,
produção enxuta, eficiência, qualidade, novas com esse sistema não se produz nada até que o
formas de tecnologia e de gestão são efetivadas por cliente (interno ou externo) solicite a produção.
meio de inovações tecnológicas aplicadas a fábrica. (DAL FORNO, TUBINO, VALLE, 2007).
As empresas baseadas nas técnicas do JIT Dessa forma, a produção atua diretamente
tornam-se mais enxutas, eliminando os desperdícios associada ao sistema de controle e gestão de
em prol de competitividade e passam a adotar estoques. A programação da produção mantém um

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sistema de planejamento eficaz para evitar que acompanha a linha de montagem com peças
desperdícios ou prejuízos financeiros, como: deixar comuns a um determinado modelo de veículo.
produtos estocados por muito tempo sem usá-los na No entanto, o controle desses estoques nas
produção e/ou estocar produtos industrializados prateleiras/contêineres se dá através dos cartões
sem venda programada e, ainda, atentar para que Kanban. Em cada supermercado há um painel
não falte componentes na linha de montagem. porta-kanban(cartão), que é acionado
Contudo, nota-se que o JIT e o Kanban são eletronicamente pelo funcionário multifuncional.
sistemas de gestão de produção que mediante o uso Após esse procedimento o cartão é recolhido
de inovações tecnológicas realizam ajustes entre pelo pessoal de materiais (abastecedor), que circula
trabalhador e equipamentos, com o fim de aumentar pela linha de produção, passando por cada
a produtividade e maximizar os lucros, porém, o supermercado, de 10 em 10 minutos. O funcionário
impacto nas relações de trabalho tem sido pouco abastecedor comunica a falta de peças na linha de
pesquisado, pois o imperativo do capital camufla as montagem através do coletor (scanner que faz
lutas sociais por condições melhores de trabalho. leitura do código de barras do cartão disparado),
assim o pedido de reposição de peças é processado
2.1. A Implementação das Técnicas de no estoque e dentro de alguns minutos, um carrinho
Abastecimento do JIT na Linha de Produção da busca as peças faltosas e completa os
MMCB supermercados. Essa técnica parte do princípio de
que o abastecimento de componentes é proveniente
Considerando os pressupostos básicos do JIT e as do estoque.
observações empíricas realizadas a partir de três Esse processo é repetido por diversas vezes
visitas à linha de produção da montadora da durante o período em que a linha de montagem está
MMCB em 2009, para fins de pesquisa de campo em operação. A reposição nos supermercados deve
para Tese de Doutorado, intitulada "A indústria seguir o que Dal Forno, Tubino e Valle (2007, p.3)
automobilística em Catalão/Goiás: da rede ao afirmam: “O processo fornecedor precisa repor o
circuito espacial da produção da MMC supermercado antes que os níveis mínimos de peças
Automotores do Brasil S.A.", notou-se que a definidos sejam atingidos.” No entanto, essa
referida indústria adota esse modelo de reposição depende do quantitativo de material
gerenciamento e organização da produção armazenado no estoque da montadora.
automotiva. Observou-se também que a montadora Outro procedimento de reposição de peças na
mescla no processo produtivo padrões oriundos do linha de produção da Mitsubishi é o andon ou
fordismo/taylorismo com inovações do toyotismo. chamada direta. É uma técnica que atua através da
Conforme preconiza esse novo modelo de emissão de sinais eletrônicos capazes de informar a
produção e para que o fluxo de abastecimento da falta de um componente na linha de produção da
linha de montagem não seja interrompido por falta montadora. Este procedimento tem como propósito
de componentes - job stop - é necessário que o o abastecimento de peças grandes e necessita do
sistema JIT em cumprimento ao que determina o uso de empilhadeiras ou carrinhos. (FRANCA,
Kanban adote técnicas complementares de 2007).
abastecimento. No caso da montadora Mitsubishi, A chamada direta usa um coletor que envia
com base em informações resultantes de automaticamente a falta de componentes, em
observações in loco, verifica-se que algumas seguida é realizada a reposição do produto. Entre os
técnicas são adotadas na linha de produção e no tipos de itens grandes usados pela montadora e que
sistema de controle de estoque, entre elas: estão mais propensos à paradas na produção, estão:
supermercado, andon, sequenciado e kaizen. radiadores, escapamentos e para-choques. Como se
Na Mitsubishi os supermercados estão trata de componentes de grande porte, não há
presentes na linha de produção e são representados espaço físico ao lado da linha de montagem para
por prateleiras e/ou contêineres onde ficam armazenar uma maior quantidade, assim, o
armazenadas peças de pequeno porte, como: abastecimento é sequenciado.
parafusos, fiação, acessórios etc. Além dessa função, o andon/chamada direta
Segundo Franca (2007, p. 45) os assume papel fundamental no processo de gestão e
supermercados: “É um sistema para abastecer itens gerenciamento da linha de montagem, sendo um
em um ponto centralizado, geralmente de difícil sistema de alerta de job stop, que pode se dá através
acesso”. Assim, o auto-abastecimento do do acionamento de sensores eletrônicos instalados
supermercado é executado pelo próprio operador da ao longo da linha de produção e/ou de um painel
linha de montagem da montadora em estudo. eletrônico visível para toda a fábrica.
Porém, cabe esclarecer que os supermercados, são Ressalta-se que com o acionamento do painel
pontos de armazenamento (prateleiras/contêineres) de alerta de chamada direta, é possível que os

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operadores resolvam o problema de abastecimento nesta montadora, sendo preciso, uma pesquisa mais
antes de acionar sinal vermelho e consequente aprofundada para verificação. (FRANCA, 2007).
parada de montagem. Frisa-se que a implementação do JIT e somente
Outro processo de abastecimento da linha de das técnicas usadas na montagem veicular da
montagem da montadora é o sequenciado, que Mitsubishi (andon, supermercados, sequenciado e
refere-se ao abastecimento em sequenciamento à kaizen) e tratadas neste texto não garantem seu
linha de montagem de diversas peças oriundas do pleno funcionamento, por isso, a empresa adota
estoque. (FRANCA, 2007). Na Mitsubishi é outras ações complementares na produção e, que
chamado de Chamada Direta Sequenciada. necessitam de pesquisas mais detalhadas.
Segundo Heckert e Francischini (2009, p. 3) o Contudo, nota-se que a produção na MMCB
abastecimento sequenciado, também é denominado está integrada à demanda do mercado, exigindo um
de Just in Time Sequenciado (JITS), isto é, "[...] as controle de qualidade e planejamento rigoroso para
peças são entregues pelo fornecedor diretamente na que as ações e medidas sejam eficazes durante a
linha de montagem da montadora, já na sequência operação da linha. E ainda que a empresa monta
em que serão colocadas nos automóveis". veículos diariamente conforme a demanda do
A chamada direta sequenciada na MMCB se mercado consumidor (informada pelas
dá mediante o abastecimento da linha com o concessionárias), ou seja, usa-se o sistema Kanban.
conjunto de rodas/pneus e de componentes Se de um lado, o mercado determina a produção,
plásticos (para-choques, para-lamas, proteção de por outro, ele também determina o ritmo e tempo
carrocerias), cujas entregas são realizadas de trabalho ao trabalhador.
diretamente pelos fornecedores. Para tal a empresa
fornecedora do conjunto de rodas/pneus - Fórmula 3. O JIT e os impactos nas relações de trabalho
R Indústria - e a de componentes plásticos - MVC na Mitsubishi: alguns apontamentos
Componentes Plásticos - possuem funcionários que
os levam até a linha para serem devidamente Com a revolução técnico-científica, os elos
montados. O abastecimento obedece a programação entre a máquina e a informática são aprimorados
diária de produção de veículos. (SILVA, 2011). sistematicamente, resultando no aumento da
O uso da chamada direta sequenciada requer automação, elevação na produtividade, ganhos em
confiança na parceria entre a montadora e empresas qualidade dos produtos postos no mercado para
fornecedoras. Nesse caso, o fato dos fornecedores consumo e redução de vagas de emprego.
estarem sediados nas proximidades da montadora Reconhece que as tecnologias informacionais
ou dentro de sua área industrial facilita o são indispensáveis para o desenvolvimento do
fornecimento de produtos, que pode ser realizado sistema de gerenciamento da produção JIT, cuja
diversas vezes ao dia, além de reduzir custos com gestão contribui para manter a continuidade e
transportes. aceleramento da produção, assim como permite
Compreender as formas de abastecimento de controlar os processos produtivos tanto dentro,
uma linha de montagem automotiva requer estudos como fora da fábrica. Além disso, o JIT permitiu
minuciosos e conhecimento de como ela funciona e ainda mais controle sobre os meios de trabalho e
se mantém em operação, no entanto, todas as domínio sobre o trabalhador.
técnicas usadas para abastecer a linha de montagem Com a efetivação do JIT no espaço fabril, o
são complexas e exige o envolvimento de capital busca meios e alternativas para retomar a
funcionários, além de serem responsáveis pela acumulação, mediante a implantação de novas
montagem, também são envolvidos na busca de formas de gestão, controle do trabalho e ampliação
soluções para possíveis problemas. da exploração da força de trabalho, que se dá pela
A busca de soluções de problemas ou mais-valia relativa, caracterizada pelo uso da
montagens de processos, é conhecida como Kaizen. inovação tecnológica e também pela mais-valia
Esse procedimento é bastante comum na MMCB, e absoluta, representada pela ampliação do ritmo de
fica a cargo dos multifuncionais e encarregados de trabalho, levando a "subsunção real do trabalho ao
processos, que ao deparar com dificuldades na capital", devido o uso de máquinas na produção
produção, inconformidades em peças e serviços fabril. (ANTUNES, 2009, p. 39).
atuam em equipe para buscar soluções. Nesse viés, é importante destacar que as
As técnicas de abastecimentos troca de técnicas de abastecimento e reposição de peças na
equipamentos (emissão de sinais eletrônicos de linha de produção automotiva associadas ao uso de
carrinho vazio para informar a falta de inovação técnica e organizacional no processo de
componentes) e kit/pacote (o número de unidades trabalho diminui a porosidade, isto é, permite
produzidas indica a necessidade de reposição de um "reduzir o tempo de transporte de um produto ou
conjunto de componentes), não foram detectadas informações entre uma operação e outra no espaço

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da fábrica" (FRANCA, 2007, p. 46-7), que significa sem reflexões sobre as condições degradantes de
redução das barreiras espaciais entre as escalas trabalho e de sua exploração em prol da reprodução
geográficas. Compreendendo o estudo de Silva do capital.
(2011), essa redução de tempo e eliminação de Por força do conjunto de princípios da
barreiras espaciais vai além do chão de fábrica, flexibilidade são impostas condições flexíveis de ao
abrange o circuito espacial da produção da trabalhador, que estão presente tanto dentro da
montadora em estudo. fábrica e quanto em sua vida sociocultural. A
Ainda, a redução do tempo entre as fases da flexibilidade captura a capacidade de reflexão do
produção, bem como a eliminação de algumas fases trabalhador sobre as condições de trabalho, as
no processo produtivo representa a "exclusão de tarefas executadas no chão de fábrica e o leva a
trabalhadores" , cuja tarefa passa a ser realizada por desenvolver habilidades diversas mediante a
um número reduzido de trabalhadores ou por robôs. multifuncionalidade exigida pela produção flexível,
(FRANCA, 2007, p. 48). torna-o desprovido da especialização e o conduz a
Isso significa que o sistema JIT desenvolveu-se agir de acordo com as regras do mercado de
como força antagônica aos trabalhadores, pois a trabalho, perfazendo em um processo de
automação e o controle das atividades produtivas precarização do trabalho contínuo.
leva o trabalhador a aumentar seu esforço físico e As adaptações impostas ao trabalhador objetiva
psicológico para desempenhar tarefas de forma cumprir as prioridades do JIT e do Kanban, cuja
condensada e múltipla, pois a eminência da base é a flexibilidade. Com isto, as linhas de
demissão está presente no dia a dia do trabalhador. produção são balanceadas para que a produção
Em outras palavras, o JIT ampliou o controle esteja ajustada às variações da demanda,
do trabalho e do trabalhador, tornando o processo possibilitando uma subserviência dos funcionários à
de trabalho ininterrupto (sem paradas), eliminado as máquina ou a tecnologia, em prol de apresentar
porosidades e exigindo cada vez mais um poucas ocorrências que leve a desperdícios ou
trabalhador atento no exercício de suas atividades. atrasos no processo produtivo, ou seja, há o
O toyotismo via JIT adota uma organização da aproveitamento total do tempo pela produção
produção que traz uma nova intensificação do capitalista. Nesse sentido, Alves (1999, p. 87)
trabalho, por meio da “desespecialização dos afirma que: "A flexibilidade torna-se, no sentido
trabalhadores qualificados”, através da instalação geral, um atributo da própria organização social da
de uma certa polivalência e plurifuncionalidade dos produção".
homens e das máquinas, e do “tempo partilhado”, Nota-se que dentro do espaço da fábrica da
baseados em tarefas múltiplas, em padrões (de MMCB há a presença de trabalhadores
tempo e de trabalho) flexíveis. (ALVES, 1999, p. terceirizados, marcando uma outra etapa na
111). flexibilização das condições sociais do trabalho e
A polivalência torna-se "uma possibilidade da produção. As condições sociais da produção são
produtiva vantajosa para a empresa" (FRANCA, diferenciadas, pois alguns setores funcionam com
2007, p. 50). Imbuída desse preceito a MMCB, trabalhadores próprios e outros terceirizados, que
adota o trabalhador polivalente, conhecido como por sua vez, pagam a seus funcionários salários
multifuncional, cuja atividade é controlar uma inferiores aos dos trabalhadores da montadora.
célula de produção na linha de montagem, ficando Portanto, as técnicas do JIT e os sistemas de
sob sua responsabilidade a qualidade do processo gestão da produção do Kanban adotados nesta
produtivo e a eficácia das tarefas executadas pelos montadora contribuem para realçar ainda mais o
trabalhadores desta célula. Nesse viés, o processo de exclusão social e de subserviência do
trabalhador multifuncional desempenha várias ser humano as condições do capital.
atividades ao mesmo tempo, portanto, mantém-se
em estado de trabalho permanente, exigindo-lhe um 4. CONSIDERAÇÕES
esforço físico e mental constante.
A empresa utiliza ainda o trabalho em grupo, Com base nas reflexões citadas o toyotismo via
geralmente sob o comando do trabalhador JIT e Kanban enfatizam a gerência e organização
multifuncional. É criado junto ao trabalhador uma no fluxo de produção, procurando fazer com que os
ideologia voltada para a eficiência e necessidade de produtos fluam de forma contínua através das
cooperação no trabalho, cujo espírito de diversas fases do processo produtivo, mediante a
complementariedade e solidariedade é permanente, adoção de técnicas de reposição de peças no chão
pois a produção precisa ser cumprida no tempo de fábrica. Para tais reflexões, abordou como esse
certo e com a qualidade exigida. (FRANCA, 2007). processo é realizado na linha de montagem da
Essa captura ideológica torna-se alienante e indústria automotiva Mitsubishi, identificando que
induz o trabalhador a desempenhar tarefas laborais

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a empresa usa os supermercados, andon, kaisen e Fornecedor, Transporte e Produção: estudo de caso
sequenciado para realizar a produção de veículos. em empresa de cabines de máquinas agrícolas.
Observou-e também que o uso constante desses Anais... XXVII Encontro Nacional de Engenharia
procedimentos de abastecimento leva a uma da Produção. Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de
intensificação do ritmo do trabalho, determinado outubro de 2007. Disponível em:
externamente (mercado de consumo), impactando http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2007
severamente nas condições de trabalho dentro da _TR570426_9676.pdf. acesso em 05 de maio de
fábrica (multifuncionalidade, trabalho em equipe, 2015.
terceirização), criando um processo de subjunção FRANCA, G. C. O Trabalho no Espaço da
do trabalhador aos ditos do capital. Fábrica: um estudo da General Motors em São
Por fim, nota-se que o toyotismo assim como o José dos Campos (SP). 1.ª ed. São Paulo:
fordismo não consegue eliminar a precarização do Expressão Popular, 2007. 176p.
trabalho no espaço fabril, ao contrário, acirra-a e HECKERT, C. R.; FRANCISCHINI, P. G.
superlativiza a separação entre trabalhadores e Variações do Just-in-time na indústria
meios de produção. automobilística brasileira. Disponível em:
http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep1998_ar
REFERÊNCIAS t169.pdf. Acesso em: 05 de maio de 2015.
SILVA, M. V. da. A Indústria Automobilística
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio em Catalão/Goiás: Da Rede ao Circuito Espacial
sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2.ed. da Produção da MMC Automotores do Brasil S.A.
[10ª reimpr. rev. e ampl.]. São Paulo: Boitempo, 2011. 431 f. Tese (Doutorado em Geografia)-
2009. 287p. Instituto de Geografia, Universidade Federal de
ABRAMIDES, M. B. C.; CABRAL, M. do S. R. Uberlândia, Uberlândia, 2011.
Regime de acumulação flexível e saúde do ALVES, G. Trabalho e Mundialização do
trabalhador. São Paulo Capital: A Nova Degradação do Trabalho na Era
Perspectiva. vol.17 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2003. da Globalização. 2. ed. Londrina/PR: Praxis, 1999.
Disponível em: 185p
http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n1/v17n1a01.pdf.
Acesso em: 05 de maio de 2015.
DAL FORNO, A. J.; TUBINO, D. F.; VALLE,
A..C. R. do Implementação de Kanban de
________________________________________________________________
JUST IN TIME AND LABOR RELATIONS IN ASSEMBLY
MITSUBISHI MOTORS OF BRAZIL S.A.

MARTINS, Mônica Kélen da Silva, monicakelen@hotmail1


SILVA, Magda Valéria da, magdaufgcatalão@yahoo.com.br2

¹Graduated in Geography, Federal University of Goiás/ Regional Catalão;


²Professor of the Academic Unit Special Geography Institute, Federal University of Goiás/Regional Catalão

Abstract: This paper aims to reflect on the process of productive capital restructuring by the principles of
Toyotism and thus present the main impacts on work and labor relations. The Toyotism implements the factory
space management systems and management of the production process called Just in Time and Kanban. Is
adopted as an analytical object the production line automaker Mitsubishi Motors do Brazil S.A., located in
Catalão/Goiás. Specifically, aims to introduce the principles of Just in Time and Kanban as well as the technical
supplies and spare parts adopted in the production line this automaker (andon, supermarkets and sequenced and
kaisen) and also reflect on the impact of these procedures on the work and the worker (multipurpose /
multifunctionality, teamwork and outsourcing). In terms of methodology the text is structured from readings and
literature searches, compared with assembly line observations made during three field visits. However, the
analyzes presented are guided in theoretical and methodological assumptions of geographical science and aims
to contribute to deeper reflections on the production model adopted by the automaker and its impact on work
and worker's life become investigated.

Keywords: Toyotism, Supply system, Work, Worker.

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Digitalização de Fontes para Estudos em História da Educação:
conservação e memória de escolas primárias de Catalão-GO

SILVEIRA, Adriana Ferreira drisoudedeus@hotmail.com


Graduanda em Pedagogia. UFG/RC. PIBIC/FAPEG
GONÇALVES, Ana Maria, anamaria.23@uol.com.br
Professora Associado II. UAEE/UFG/RC
As autoras são as únicas responsáveis pelo conteúdo deste trabalho.

Resumo: O presente trabalho resulta de um subprojeto vinculado ao projeto de pesquisa “A Instrução


Elementar em Goiás: currículos e práticas educativas nos grupos escolares (1919-1971)”. Nossa proposta,
intitulada “Digitalização de Fontes para Estudos em História da Educação: conservação e memória de escolas
primárias de Catalão-GO”, se inscreve no universo de discussões e pesquisas preocupadas com a preservação e
o acesso a fontes de pesquisa. Nesse sentido, realizamos leituras acerca de bibliografias que tratam da
localização e conservação de fontes de pesquisa, assim como sobre concepções de arquivo. Num segundo
momento, em andamento, estamos localizando e digitalizando documentos em arquivos de cinco escolas do
munícipio de Catalão. Após a digitalização e catalogação desses documentos faremos o registro em CD-Rom.
Nesse processo constituiremos um acervo digital de documentos que dizem respeito às práticas de ensino,
currículos, enfim registros relativos à história dos grupos escolares catalanos. Esse trabalho se insere na
perspectiva da Nova História, que ampliou não somente a compreensão de documentos/fontes, mas também de
objetos de pesquisa. Sabendo que esses indícios antes eram desprezados pela História Tradicional, hoje
podemos destacá-los como parte integrante e formadora da História, ou seja, são experiências vividas, seja ela
individual e/ou coletiva. Nesses termos, entendemos que esses documentos contribuem com a formação de um
acervo digital que ampliará o acesso a fontes, as quais ampliarão o conhecimento sobre a escola primária em
Goiás e o aprofundamento de estudos e pesquisas na área de história da educação goiana.

Palavras chave: Acervos, História da Educação em Goiás, Grupos Escolares em Catalão.


___________________________________________________________________________
1. INTRODUÇÃO Considerando que as investigações em
História da Educação apontam para a emergência
Com o passar do tempo os humanos de novas fontes para a pesquisa, tais como:
compreenderam melhor o valor da informação, por fotografia, material escolar, relatos de inspetores,
conseguinte, o valor dos documentos, não somente cadernos de alunos, exames, trabalhos escolares,
escritos, comprovados empiricamente, os quais livros de atas, livros de visitas, livros didáticos,
constituem fontes, pistas, indícios, vestígios, que cartilhas, diários de professores e de alunos, mapas
ajudam a analisar as práticas humanas no tempo e de notas, mapas de frequência, dentre outros, os
no espaço. Na perspectiva do trabalho de guarda e arquivos escolares vem sendo realçados como
conservação desses documentos, assim como de locais importantes para a pesquisa.
sistematizar o controle das atividades cotidianas Mas, o que seria um arquivo escolar? A
relacionadas à sociedade, no que diz respeito à vida resposta a essa questão exige que pensemos a
social, política, econômica e cultural do indivíduo, definição de arquivo corrente, arquivo morto e
surgiram os arquivos. De acordo com Lopes (2004, arquivo histórico. De acordo com Vidal (2005a,
s/p): p.21), as secretarias das escolas em virtude de uma
Arquivos são locais destinados à guarda preocupação centrada em documentos de valor
ordenada de documentos criados por comprobatório mantém registro cuidadoso,
instituições ou pessoas, no decorrer de suas referente à vida escolar, apenas do arquivo
atividades, buscando a preservação desta corrente, que segundo o Dicionário de
documentação como um conjunto e não Terminologia Arquivística diz respeito a:
como unidades isoladas, pois estes na sua Um conjunto de documentos
maioria servem de prova de transações estreitamente vinculados aos
documentais realizadas e estão objetivos imediatos para os quais
relacionados com os direitos e deveres foram produzidos ou recebidos no
destas instituições ou pessoas. cumprimento de atividades-fim e
atividades-meio e que se

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conservam junto aos órgãos Assim, nossa proposta de trabalho se
produtores em razão de sua inscreve nesse universo de discussão e soma-se às
vigência e da frequência com que preocupações de pesquisadores preocupados com a
são por eles consultados. preservação e acesso a fontes de pesquisa. Nesse
Para a Vidal as secretarias das escolas não sentido, estamos realizando a digitalização de
estendem o mesmo zelo para com os documentos fontes primárias, presentes em arquivos de algumas
históricos, os quais são acumulados em arquivo escolas públicas do município de Catalão-GO.
morto, comumente definido como: “depósito onde
se acumulam os documentos já não mais 2. GRUPOS ESCOLARES
necessários à administração, mas que ainda As pesquisas em história da educação têm
guardam valor legal”. (VIDAL, 2005a, p.21) Desse avançando de modo significativo em termos de
modo, acervos preciosos, que tornaria possível produção do conhecimento sobre a escola. Esses
conhecer as atividades administrativa e pedagógica avanços se deram sob a perspectiva da Nova
da educação ao longo do tempo, sofrem destruição História.
progressiva em espaços inapropriados. Podemos destacar assim, o
Vidal alerta para necessidade de aparecimento de novos objetos de
construção de “planos de destinação” dos pesquisa: uma crescente atenção a
documentos para além da lógica administrativa no indícios desprezados ou não
sentido de assegurar a preservação da memória da percebidos pela História
educação escolar no país. Nesse sentido, defende tradicional, como as evidências
uma redefinição dos princípios quanto ao que orais, as imagens, a iconografia,
guardar e descartar. Nessa direção defende políticas as escrituras privadas e ordinárias,
públicas de preservação de documentos, que a literatura e etc. (STPHANOU e
propiciem uma parceria entre pesquisadores, BASTOS, 2005, p. 419)
arquivistas e profissionais da informática na Dentre os novos objetos de estudo estão os
elaboração de critérios técnicos para tais fins. A grupos escolares. Sobre essa instituição,
autora salienta a importância do acesso a esses importantíssima na história da educação brasileira,
depósitos no sentido de transformá-los em arquivo Faria Filho (2000, p. 147) informa:
histórico, que são definidos, de acordo com o Os grupos escolares, concebidos e
Dicionário de Terminologia Arquivística, como: construídos como verdadeiros
“um conjunto de documentos custodiados em templos do saber, encarnavam, a
caráter definitivo, em função de seu valor”. um só tempo, todo um conjunto
Cabe ressaltar que esse debate se coloca a de saberes, de projetos político-
partir do rompimento com as velhas tradições de educativos, e punham em
pesquisa, especialmente com a abordagem trazida circulação o modelo definitivo da
pela História Cultural, que abre um leque de novas educação do século XIX: o das
temáticas e objetos, dentre eles a história das escolas seriadas.
instituições escolares, seus arquivos e fontes. Nesse Os primeiros grupos escolares do Brasil
contexto, os arquivos escolares ganharam foram criados na última década do século XIX,
proeminência como “espaços de memória, mais precisamente no ano de 1893, na cidade de
depositários de fontes produzidas e acumuladas na São Paulo e, depois, em vários estados brasileiros.
trajetória do fazer e o pensar pedagógico no As salas de aula dos grupos escolares eram
cotidiano das escolas", conforme Bonato (2002, planejadas segundo preceitos médico-higienistas
p.3). bastante precisos. (FILHO, 2000). Foi criado como
Reafirmamos, por fim, que o arquivo elemento modernizador do sistema escolar,
escolar permite localizar fontes documentais superando o modelo casa/escola. Foi através dos
variadas, de naturezas diversas, de caráter histórico, grupos escolares que se instituiu o ensino de forma
administrativo e pedagógico, as quais, concordando seriada. Nessa forma de organização escolar, os
com Vidal (2005b, p. 24), podem: alunos são agrupados em série, geralmente anuais,
[...] fornecer elementos para a reflexão conforme seu nível de conhecimento dos conteúdos
sobre o passado da instituição, das pessoas escolares. Esse projeto Republicano atravessou o
que a frequentaram ou frequentam, das passado imperial, com objetivo de modernizar e
práticas que nela se produziram e, mesmo, civilizar o povo, fazendo do Brasil uma nação
sobre as relações que estabeleceu e progressista. Essa forma de ensino foi extinta com a
estabelece com seu entorno (a cidade e a promulgação da Lei 5.692/71, que estabeleceu o
região na qual se insere). Ensino de Primeiro e Segundo Graus.
(GONÇALVES. 2004)

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A criação dos Grupos Escolares em Goiás reprodução e de conservação de que
se deu com a Reforma Educacional de 1918, dispõe, mas pela superstição e pelo
durante o governo de Alves de Castro. “Na sua respeito ao vestígio. (VIDAL, 2005, p. 18
gestão (1917-1921), em 1918 veio a cume a apud NORA, 1993, p. 15)
importante reforma educacional que além de A função principal de um arquivo é
colocar a instrução primária nas mãos da esfera disponibilizar as informações contidas em seu
estadual, criou o Grupo Escolar nas terras Goianas”. acervo de maneira ordenada e funcional
(PINTO, 2012, p.303). (LOPES,2004)
A primeira cidade goiana a demandar a Segundo VIDAL (2005) o apreço por
construção de um grupo escolar foi Catalão, porém arquivos vem da preocupação da sociedade em
o primeiro Grupo Escolar a instalar-se em Goiás foi superar o esquecimento e o medo a perda
o da Capital, Cidade de Goiás, em fevereiro de generalizada da memória. Em consequência desse
1919. (BRETAS, 1994) comportamento a sociedade vive uma “religião
conservadora e no produtivismo arquivístico”
3. GRUPOS ESCOLARES EM CATALÃO VIDAL (2005), ou seja, um acúmulo de papel, que
não salvará o homem do esquecimento. Vidal não
Como foi mencionado anteriormente a pretende defender o fim dos arquivos, todavia
Cidade de Catalão foi a primeira a pleitear a considera que mais que depósitos de papel, os
construção de um grupo escolar, contudo somente arquivos devem se constituir em lugares de
em 1923 teve seu início. O primeiro nome dessa memória.
instituição foi “Grupo Escolar de Catalão”, logo em Com o acúmulo de documentos nos
seguida mudou para “Grupo Escolar Dez de arquivos fez-se necessário estabelecer novas
Novembro”, depois passou a se chamar “Vinte e técnicas de arquivamento e organização. Locais,
Nove de Outubro”, e por fim “ Grupo Escolar Rita portanto, que permitissem além das condições de
Paranhos Bretas” (CAMPOS, 1979, p.66) guarda física do documento, o tratamento técnico e
O segundo Grupo Escolar inaugurado no a organização da informação. VIDAL (2005)
município foi o Grupo Escolar Joaquim de Araújo e Barletta (2005), também, trata desse
Silva, criado pelo decreto Estadual N. 694 do ano aspecto conceitual dizendo que, em 1984, o
de 1948. Conselho Internacional de Arquivos (CIA) definiu a
No Governo de JK (1955-1958) foi criado arquivologia como a disciplina que tem por objetivo
o “Plano Nacional de Erradicação do dar característica funcional e procedimentos
Analfabetismo”, e durante esse plano algumas técnicos aplicados aos documentos. De acordo com
cidades foram contempladas com a instalação de autor, os arquivos são considerados um conjunto de
Grupos Escolares. Catalão foi uma das cidades documentos, seja de qualquer período, de quaisquer
contempladas com a instalação de grupos escolares. formas e suportes materiais, produzidos ou
Nesse período foram criados os prédios das recebidos por pessoas físicas e jurídicas, de direito
seguintes escolas: Wilson Democh, David público ou privado no desempenho de suas
Persicano, Dona Yayá e Rita Paranhos Bretas. atividades. Por conseguinte, desde que uma
(ALMEIDA, 2013) instituição jurídica ou uma pessoa física acumule
documentos voluntariamente, eles passam,
4. HISTÓRIA A PARTIR DA naturalmente a constituir um arquivo.
ARQUIVOLOGIA (BARLETTA, 2005, p.103)
De acordo com Mattar (2003, apud
Os arquivos são parte importante para BONATO, 2005, p. 196) pela lei brasileira, n.
compreensão do passado. O principal objetivo dos 8.159, de 8 de janeiro de 1991, art. 2º, arquivos são
arquivos é traçar uma linha histórica entre o considerados:
passado, presente e futuro, facilitando assim o [...] os conjuntos de documentos
acesso a informações importantes, no que diz produzidos e recebidos por órgãos
respeito à compreensão de determinado período públicos, instituições de caráter público e
histórico. Quando bem organizados, transmitem entidades privadas, em decorrência do
ordem e eficiência na pesquisa, evitando assim exercício de atividades específicas, bem
quaisquer transtornos e incoerência de informações. como por pessoa física, qualquer que seja
Nenhuma época foi tão voluntariamente o suporte da informação e natureza dos
produtora de arquivos como a nossa, não documentos.
somente pelo volume que a sociedade Vale lembrar que com o crescimento do
moderna espontaneamente produz, não volume de documentos se fez necessário o
somente pelos meios técnicos de desenvolvimento de novas técnicas de

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armazenamento desses acervos, das quais podem CAMPOS, Maria das Dores. Catalão, Estudo
ser destacadas as microfilmagens e GED Histórico e Geográfico. Goiânia: Editora
(Gerenciamento Eletrônico de Documentos) por Bandeirantes, 1979.
meio de digitalização. Os chamados acervos
Digitais.
FILHO, Luciano Mendes de Faria. LOPES, Eliane
Marta Teixeira. VEIGA, Cynthia Greive. (orgs).
5. DESAFIOS DA PESQUISA Instrução Elementar no Século XIX. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000.
Temos buscado por meio de visitas às
escolas “Colégio Estadual Rita Paranhos Bretas”, GONÇALVES, A. M. Educação secundária
“Colégio Estadual Joaquim de Araújo e Silva”, feminina em Goiás: intramuros de uma escola
“Wilson Democh” , “Colégio Estadual David católica (Colégio Sant’Anna – 1915/1937).
Persicano”, e “Colégio Estadual Dona Yayá” Araraquara-SP, Faculdade de Ciências e Letras,
fontes de pesquisa. Contudo, o acesso aos arquivos Universidade Estadual Paulista, 2004, (Tese de
das escolas, bem como os da Subsecretaria de Doutorado).
Educação tem sido bem mais difícil do
esperávamos devido às mudanças físicas ocorridas.
Por exemplo, o atual prédio da Escola Estadual Rita LOPES, Uderban dos Santos. Arquivos e a
Paranhos Bretas é novo e muitos dos documentos se Organização da Gestão Documental. Revista ACB:
perderam com a mudança, o que tem ocasionado Biblioteconomia em Santa Catarina, v.9, p. 113-
um problema para localização dos acervos. Uma de 112, 2004.
nossas perspectivas para nossa pesquisa é
conscientizar sobre a importância de que se ter um PINTO, Rubia-Mar Nunes. Escola Primária em
arquivo bem organizado, utilizar novas técnicas de Goiás na Primeira República: tensões e
arquivamento, tais como os digitais, para que a distensões de um jogo de empurra. In: Rosa
nossa história não se perca. Fátima de Souza (org) Araraguara: Junqueira &
A reprodução de documentos em formato Marin, 2012.
digital tem facilitado muito o trabalho dos
pesquisadores, economizando tempo na coleta de SOUZA, Rosa Fátima de. VALDEMARIN, Vera
dados e potencializando o acesso e mobilização das Teresa. (orgs). VIDAL, Diana Gonçalves. Cultura
fontes para produção da pesquisa. A e Prática Escolares: Uma Reflexão sobre
disponibilização de fontes digitais encerra várias Documentos e Arquivos Escolares. Campinas ,
dificuldades, entre elas, a dos direitos de SP: Autores Associados, 2005.
propriedade intelectual e da preservação e
integridade dos documentos em longo prazo. STHEPHANOU, Maria. BASTOS, Maria Helena
(SOUZA, 2005) Camara. Histórias e memórias da educação no
Concluindo, o importante é que seja Brasil, vol III. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
pensado que esse artigo, assim como outros, só teve
sua escrita possível devido a pesquisas de arquivos VIDAL, D. G. Apresentação do dossiê arquivos
que proporcionaram leituras e reflexões sobre o escolares: desafios à prática e à pesquisa em
assunto, e que com essas reflexões podemos História da Educação. Revista Brasileira de
concluir que a pesquisa com arquivos escolares nos História da Educação, n. 10, p. 71-73, jul./dez,
provoca analisar um conjunto de teorias, saberes, 2005a.
ideias, regras, rituais, rotinas, hábitos e práticas.
VIDAL, D. G. Cultura e prática escolares: uma
reflexão sobre documentos e arquivos escolares. In:
REFERÊNCIAS SOUZA, R. F.; VALDEMARIN, V. T. (Org.). A
cultura escolar em debate: questões conceituais,
ALMEIDA, Jucemária da Silva. Grupos Escolares metodológicas e desafios para a pesquisa.
em Catalão-GO. Catalão: PIBIC/UFG, 2013. Campinas: Autores Associados, 2005b. p. 3-30.

BRETAS, G. F. História da Instrução Pública em


Goiás. Goiânia: CEGRAF/UFG, 1991.

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Sources scanning for Studies in Education History: conservation and
memory primary schools Catalão-GO
Abstract: This paper is the result of a subproject linked to the research project "The Elementary Education in
Goiás: curricula and educational practices in school groups (1919-1971)". Our proposal entitled "Sources of
Scanning for Studies in Education History: conservation and memory primary schools Catalão-GO" is inscribed
in the discussions of the universe and research concerned with the preservation and access to research sources.
Thus, we performed readings about bibliographies dealing with the location and conservation research sources,
as well as on file conceptions. Secondly, ongoing, we are locating and scanning documents in five schools in the
Catalan municipality files. After scanning and cataloging of these documents will make the record on CD-Rom.
That process shall constitute a digital archive of documents relating to teaching practices, curriculum, finally
records relating to the history of Catalão School Groups. This work fits into the perspective of the New History,
which not only expanded the understanding of documents / sources, but also of research objects. Knowing that
these indications were previously neglected by traditional history, today we can highlight them and forming an
integral part of history, ie they are experiences, whether individual and / or collective. In these terms, we believe
that these documents contribute to the formation of a digital archive that will expand access to sources, which
will expand the knowledge of the elementary school in Goiás and the deepening of studies and research in the
area of history of Goias education.

Keywords: Archives, History of Education in Goiás, School Groups in Catalão.

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HABERMAS E A TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA: ESTUDO DO
CONCEITO DE RACIONALIDADE
Santos1, Scalat Susan, scalatsusan@hotmail.com
Araújo2, Juliana P.
1
Licenciatura em Pedagogia, Universidade Federal de Goiás- Regional Catalão
2
Unidade Acadêmica Especial Educação, Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão.
Resumo: Este trabalho é produção derivada de um Projeto de Iniciação Científica cujo tema é a proposta das
Comunidades de Aprendizagem. Nesta oportunidade objetivamos particularmente socializar os resultados de
uma revisão teórica fundamentada na leitura da obra clássica do autor Jurgen Habermas intitulada “A teoria
da ação comunicativa”. Refletimos especialmente os conceitos de: racionalidade instrumental e racionalidade
comunicativa que sustentam a teoria de Habermas. É possível perceber como os conceitos de fato inspiram e
instrumentalizam as Comunidades de Aprendizagem e devem ser melhor compreendidos pois apresentam
grande pertinência ao atual contexto de crise na educação e em seus pressupostos basais, dentre eles as
relações humanas.
Palavras-chave: Habermas, Racionalidade, Comunidades de Aprendizagem.
___________________________________________________________________________
1. INTRODUÇÃO racionalidade de uma ação depende da fiabilidade
O presente trabalho de iniciação científica é do saber que elas exercem sobre um sujeito. A
uma reflexão sobre as contribuições de Habermas racionalidade é o que ampara a vida cotidiana, o fiel
(sobretudo dos conceitos de racionalidade) para da balança para as escolhas da sociedade.
pensar uma possível reforma na escola através da Evoluindo em nossa reflexão baseando-nos em
teoria da ação comunicativa. Consideramos que o Habermas admitimos como contextos racionais
autor é particularmente contributivo ao indicar a aqueles que fazem uma afirmação e são capazes de
necessidade da escola estabelecer como base uma defendê-la.
racionalidade menos instrumental, isto é aquela que Contudo uma manifestação, ideia, ação deve
parte para a técnica, para a absorção apenas de cumprir os pressupostos de modernidade e deste
conteúdos e que não incorre na construção de modo é necessário considerar a validade de algo
conhecimentos, na resolução de problemas quando isso se exerce partir de um saber falível
objetivos. A partir de Habermas é possível avançar ainda que tenha relação com o mundo objetivo.
na proposição de uma escola mais pautada na Habermas pondera que as manifestações precisam
racionalidade comunicativa que é aquela que tem ter o mesmo significado para o destinatário e o
como base a comunicação, o diálogo, a troca, a agente e há apenas dois caminhos para se implantar
reciprocidade de ideias. A base deste resumo é a algo considerado verdade.
obra clássica de Habermas “A teoria da ação O primeiro é o caminho pautado pela imposição
comunicativa” e a dissertação de mestrado de e o segundo é o caminho pautado pelo dialogo no
Vanessa Gabassa intitulada “Contribuições para qual todos os participantes possam ser ouvidos e ter
transformações das práticas escolares: racionalidade suas opiniões consideradas, as manifestações
comunicativa em Habermas e dialogicidade em podem ser também corrigidas, pois o conceito de
Paulo Freire”. Nosso objetivo é a socialização de racionalidade está ligado a capacidade de lidar com
dados da revisão teórica abordada e especialmente criticas também. Habermas opta em contribuir
baseados em Habermas. Discutiremos aqui os fortalecendo conceitos que valorizam o segundo
seguintes conceitos: Racionalidade (técnica- caminho, que é o da prática comunicativa.
instrumental e comunicativa), mundo da vida e Podemos compreender a prática comunicativa
teoria da ação comunicativa. como relação baseada no mundo da vida e nela a
racionalidade se mede pela sua capacidade de
2. DESENVOLVIMENTO fundamentar suas emissões. Essa capacidade
ultrapassa a posse do conhecimento pois ela se
2.1 A Teoria da ação comunicativa afiança na capacidade de expor o conhecimento,
negociá-lo, discuti-lo, não apenas no rumo do
Para propor e estruturar a “teoria da ação ganho, da submissão de uma verdade. Pressupõe
comunicativa” Habermas parte de uma discussão inclusive saber fundamentar-se em horas
sobre a racionalidade a partir da modernidade. Para apropriadas estando diretamente ligado à prática de
ele existe uma estreita relação entre saber e argumentação.
racionalidade e por isso na modernidade a

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Para Habermas os argumentos são os meios com Para essa construção teórica Habermas parte do
quais podemos obter um reconhecimento entendimento linguístico, colocando o
intersubjetivo para a pretensão de validez que entendimento como um acordo racionalmente
quando expostos de forma hipotética, como forma alcançado pelos indivíduos de um diálogo, medido
de opinião podem se transformar em conhecimento. por pretensões de validade suscetíveis de critica. As
Além disso, as argumentações que são os pretensões de validade podem ser: verdade
argumentos organizados podem servir para mediar proposicional, atitude normativa e veracidade
conflitos ou soluções. Pressupondo a mudança de expressiva.
paradigma da atividade teológica para a ação Essas pretensões estão em diversas categorias
comunicativa, Habermas acredita que seja possível que se dão através de manifestações ou emissões
falar da intersubjetividade e da autoconservação, simbólicas. Para Habermas a ação comunicativa
como crítica a razão historicamente preponderante pode ser o desenvolvimento das diversas formas de
que é a instrumental. Para isso é necessário explorar pretensão de validade e a relação que os sujeitos
o mundo da vida em que os agentes se movem, e estabelecem com o mundo e entre si através da ação
como esse mundo se transforma mediante as comunicativa. Por isso ele desenvolve os quatro
mudanças na sociedade, como já foi explicado o tipos de ações da teoria sociológica: ação
mundo da vida se estabelece na esfera do mundo teleológica, ação regulada por normas, ação
social, objetivo e subjetivo. dramatúrgica e ação comunicativa.
No mundo da vida vislumbrado por Habermas A ação comunicativa trata do meio linguístico e
quando os sujeitos participam de uma situação e das relações sujeito-mundo, diferente dos outros
entram em acordo sobre ela eles participam de uma modelos de ação se trata apenas de alguns aspectos
tradição cultural, que pode ser renovada conforme a da linguagem. Para Habermas somente a ação
necessidade, ao coordenar suas ações comunicativa faz da linguagem um meio de
intersubjetivamente à base dos sujeitos são os seus entendimento entre falantes e ouvintes relacionado
grupos sociais onde a interação eles mesmos ao seu mundo de vida para administrar as situações
validam. Quando as crianças são participantes propostas que são vivenciadas por todos. A ação
dessas interações ela toma para si as tradições de comunicativa seria a integração das ações
seu grupo e se torna agente competente de fala. teleológicas, normativas e dramatúrgicas e dos três
Sendo assim a ação comunicativa do ponto de vista mundos (subjetivo, objetivo e social) onde todos
funcional do entendimento renova a tradição e a podem compartilhar e entender-se.
cultura, do ponto de vista da coordenação da ação, a Na teoria da ação comunicativa o entendimento
ação comunicativa integraliza e torna os sujeitos é o que coordena a ação, os sujeitos manifestam
mais solidários, e do ponto de vista da socialização, suas ações onde estão intersubjetivamente
forma a identidade pessoal. Sendo estes três percebemos as pretensões de validade.
processos os componentes que estruturam o mundo Habermas coloca o mundo objetivo como as
da vida. entidades que fazem enunciados verdadeiros, o
Para Habermas o que empobrece o mundo da mundo social como as relações interpessoais e o
vida e portanto a ação comunicativa é a ruptura mundo subjetivo sendo a vivencia dos falantes.
elitista na cultura comunicativa, que nos leva a Nos processos comunicativos, Habermas coloca
coisificação das práticas comunicativas, e a que todos devem ter o direito de falar e de ouvir
racionalidade econômica onde os indivíduos se para chegar ao consenso não existindo, portanto um
prendem ao capital e ao poder. Essa racionalidade é “monopólio de interpretativo”, onde um ou outro
alienante e despersonaliza os sujeitos que seguem sujeito fala e os outros ouvem sem o direito de nem
os ditos apenas do estado capitalista, esse poder mesmo opinar.
coisificante da ação é encontrado nas forças A ação comunicativa relaciona-se ao ato
irracionais e está presente na modernidade. Por isso ilocucionário, pois um falante pode fazer com que
precisamos nos voltar para a racionalidade quem recebe a mensagem aceite-a de forma
comunicativa que constrói uma sociedade mais racionalmente motivada, isto significa que os
cooperativa e comunicativa e menos alienada, além sujeitos capazes de exercer uma ação e linguagem
disso, na racionalidade comunicativa as estruturas baseiam suas ações numa sistema de mundo
da intersubjetividade devem ter o devido valor e compartilhado. Sendo assim podemos considerar
deve haver a substituição de destinos pré- essa teoria através da pragmática formal mostrando
determinados pela construção de uma história que que os atos comunicativos coordenam as ações e
pode ser construída a partir da interação e da contribuem para interação dos indivíduos.
formação de identidade.
Mas essa nova racionalidade só pode ser
entendida através da teoria da ação comunicativa.

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2.2 A Racionalidade Instrumental Habermas concorda nestes termos que a
Percebemos que a escola é marcada pelo racionalidade instrumental sofre influência do
incentivo ao individualismo e a competição entre os conceito de razão de Kant e deste modo a razão
alunos e por isso fundamenta-se na imposição de instrumental é a forma dominante de racionalidade
valores formais hegemônicos e unos. na modernidade porque esta é gerida pela razão. É
Profundamente alinhada à dimensão econômica e isso que está presente nas ações e manifestações na
produtiva tem adotado um modelo organizacional e escola. Temos práticas que fortalecem a razão-
teórico que se pauta cada vez menos pela e para a racionalidade instrumental e daí temos seres regidos
construção de conhecimento e assim muito pelo por modos-metódicos racionais de vida. Habermas
contrário impele os professores a apenas avança e produz a crítica a este painel.
apresentarem os conteúdos. O que depreende destas É na crítica da racionalidade instrumental que é
construções históricas é que os alunos somente uma crítica da coisificação, que a racionalidade
memorizam os conteúdos de ensino e muitas vezes comunicativa aparece como teoria crítica das
não acessam os verdadeiros sentidos daquilo que relações sociais. Habermas sugere então a mudança
copiam. da racionalidade instrumental para a racionalidade
A avaliação por seu turno tem sido entendida comunicativa, levando mais em consideração a
como mero instrumento de verificação da intersubjetividade do sujeito, neste modelo de
aprendizagem e assume papel de culminância e não racionalidade o importante não é o sujeito solitário
diagnose ou formação neste processo empobrecido e sua relação com o mundo, mas a relação
e esvaziado. E neste sentido o que notamos é que e intersubjetiva dos sujeitos capazes de linguagem e
em geral, quando chega a hora da prova temos consequentemente suas ações.
alunos que tentam apenas transferir o que foi dito
ou escrito, sem nenhum senso crítico daquilo que 2.3 A Racionalidade Comunicativa
foi colocado e sem ao menos refletir sobre
determinado conteúdo proposto. De modo circular e Antes de adentrarmos a reflexão sobre a
incessante tal processo é levado ao conjunto da racionalidade comunicativa destacamos que o
sociedade tangenciado por um senso comum no conceito tem sido acionado como uma das
qual a lógica que prepondera é a de que o aluno não possibilidades para mudança da escola, como
precisa entender o que lhe é transmitido precisa possibilidade de torna-la melhor para todos por
apenas absorver e num determinado momento, permitir e fomentar a participação de todos. Daí
colocar aquilo que memorizou no vestibular. Habermas oferecer a base teórica de propostas
A exposição acima serve de preâmbulo para educativas como as comunidades de aprendizagem.
introduzirmos neste artigo o conceito que Habermas Quanto ao conceito de racionalidade é preciso
denomina “racionalização instrumental”. Para ele apontar que para Habermas a racionalidade tem
tal racionalidade é preponderante na sociedade e menos a ver com a aquisição de conhecimento e
podemos compreende-la como um modo de pensar- mais com o que os sujeitos fazem desse
agir que busca apenas produzir o melhor meio para conhecimento, ou seja, a racionalidade para
se atingir o fim desejado. Para Habermas a Habermas é uma escolha e não algo pré-
racionalidade com objetivo a fins e a racionalidade determinado. A racionalidade tem função de
com objetivo a valores produzem uma ação com orientar o mundo da vida cotidiano. Habermas vê a
condição submetida a prática que quando sociedade moderna como em um processo de
generalizada pelas pessoas cria um modo-metódico racionalização crescente. Enquanto um sistema
racional da vida. operante, a racionalidade é mediada pela linguagem
A racionalidade instrumental é, portanto, e pela comunicação, elementos que são estruturados
conceito pertinente e alinhado ao capitalismo. No em três esferas: objetivo, subjetivo e social.
ambiente educativo formal, ou seja, nas escolas, Habermas parte dos estudos da natureza do ser
vemos os exemplos dessa imposição da (concepção ontológica) para construção da
instrumentalidade quando nos deparamos com racionalidade levando em consideração a relação
alunos submetidos desde muito cedo as preparações dos sujeitos.
excessivas para vestibulares, simulados e É nas construções políticas feitas por homens
simuladinhos. Raramente há a proposição de reais numa sociedade real que a racionalidade
trabalhos em grupo, há sim uma desvalorização da comunicativa se torna um consenso da realidade
participação dos alunos e até mesmo dos social. A ação comunicativa busca explorar uma
professores, ou da comunidade na tomada de sociologia em que o universo subjetivo, a ação
decisões pela gestão ainda que o discurso se paute política e a racionalidade dos indivíduos sejam
no eixo da democratização, da descentralização e da elementos estruturados da esfera pública na busca
gestão democrática.