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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL

ERU 580
Gestão Ambiental e da Qualidade
no Agronegócio

Aziz Galvão da Silva Júnior

VIÇOSA - MG
2003
Disciplinas do Curso

O Curso de Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio


compreende as disciplinas abaixo:

Código Disciplina
ERU 502 Introdução ao Agronegócio

ERU 503 Economia Aplicada ao Agronegócio

ERU 504 Políticas Governamentais Aplicadas ao Agronegócio

ERU 561 Comercialização e Marketing no Agronegócio

ERU 520 Tecnologia da Informação

ERU 564 Mercados Agroindustriais e de Futuros

ERU 565 O Agronegócio e o Setor Externo

ERU 581 Administração Financeira em Empresas Agroindustriais

ERU 535 Administração Estratégica do Agronegócio

ERU 536 Administração da Produção Agropecuária

ERU 580 Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

ERU 537 Gestão da Produção Agroindustrial

ERU 528 Pesquisa Operacional Aplicada ao Agronegócio

ERU 524 Projetos Agroindustriais I

ERU 534 Cadeias Agroindustriais

ERU 527 Métodos Quantitativos Aplicados ao Agronegócio

ERU 598 Trabalho Final

Das 16 disciplinas apresentadas, o aluno poderá eliminar quatro, sendo


obrigatórias as disciplinas ERU 502, ERU 503, ERU 527 e ERU 534, além do Trabalho
Final.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio

ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no


Agronegócio

Página

Pré-requisitos ..................................................................................................... 1

Objetivos gerais ................................................................................................. 1

Introdução .......................................................................................................... 1

Seqüência de conteúdos .................................................................................... 3

UNIDADE 1: Importância da qualidade no agronegócio ................................... 4

Introdução ................................................................................... 4

Objetivos específicos .................................................................. 4

1. Importância da qualidade ....................................................... 4

2. Enfoque de agronegócio ......................................................... 6

Resumo ....................................................................................... 9

Atividades n.o 1 .......................................................................... 9

UNIDADE 2: Princípios básicos ......................................................................... 10

Introdução ................................................................................... 10

Objetivos específicos .................................................................. 10

1. Histórico ................................................................................. 11

2. Conceitos básicos ................................................................... 13

3. Enfoque tradicional x enfoque moderno ................................ 18

4. Funções da gestão da qualidade ............................................. 20

5. Custos relacionados com qualidade ........................................ 21

Resumo ....................................................................................... 23

iii
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio

Página

Atividades n.o 2 .......................................................................... 24

UNIDADE 3: Instrumentos e métodos da gestão da qualidade .......................... 25

Introdução ................................................................................... 25

Objetivos específicos .................................................................. 25

1. Ferramentas básicas ................................................................ 25

2. Desdobramento da função qualidade (QFD) .......................... 28

3. Análise dos modos e efeitos das falhas (FMEA) .................... 31

4. Análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) .... 33

Resumo ....................................................................................... 36

Atividades n.o 3 .......................................................................... 36

UNIDADE 4: Certificação conforme normas da série ISO 9000 ....................... 38

Introdução ................................................................................... 38

Objetivos específicos .................................................................. 38

1. Introdução .............................................................................. 38

2. ISO e gestão da qualidade ...................................................... 39

3. Versão ISO 9000 - 1994 ......................................................... 40

4. Versão ISO 9000 - 2000 ......................................................... 41

5. Implementação da ISO 9000 no agronegócio ........................ 43

Resumo ....................................................................................... 44

Atividades n.o 4 .......................................................................... 45

UNIDADE 5: Aplicações da gestão da qualidade no agronegócio ..................... 46

Introdução ................................................................................... 46

Objetivos específicos .................................................................. 46

iv
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio

Página

1. Gestão da qualidade na produção integrada de carne suína


na Holanda, Dinamarca e Alemanha ..................................... 47

2. Gestão informatizada da qualidade na extensão rural da em-


presa Sadia ............................................................................ 54

Resumo ....................................................................................... 62

Atividades n.o 5 .......................................................................... 63

UNIDADE 6: Gestão ambiental no agronegócio ................................................ 64

Introdução ................................................................................... 64

Objetivos específicos .................................................................. 64

1. Importância do meio ambiente no agronegócio ..................... 65

2. Sistemas de gestão ambiental ................................................. 66

3. Certificação ISO 14000 .......................................................... 72

4. Sistema informatizado de gestão ambiental ........................... 73

Resumo ....................................................................................... 75

Atividades n.o 6 .......................................................................... 75

Resumo final ...................................................................................................... 77

Avaliação final ................................................................................................... 77

Bibliografia ........................................................................................................ 77

Anexo .................................................................................................................. 81

v
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

Pré-requisitos

Para estudar esta disciplina satisfatoriamente, você deverá:


⇒ Ter conhecimento das funções administrativas básicas, ou seja, planejamento,
direção, implementação e controle.
⇒ Compreender os conceitos de agronegócio e de cadeias de produção.

Objetivos gerais

Ao finalizar esta disciplina, você deverá ser capaz de:


⇒ Avaliar a importância crescente da questão ambiental e da qualidade na
competitividade de empresas e organizações no agronegócio.
⇒ Conceituar e aplicar os conceitos básicos, métodos e instrumentos da gestão
ambiental e da qualidade.
⇒ Analisar exemplos da implementação de sistemas de gestão ambiental e da
qualidade no agronegócio e a importância de sistemas de informações.
⇒ Avaliar a relevância da certificação, no agronegócio, de sistemas de gestão
ambiental e da qualidade, conforme normas ISO 9000 e ISO 14000.
⇒ Atuar na elaboração e implementação de sistemas de gestão ambiental e de sistemas
de gestão da qualidade nas empresas, nas organizações e nas cadeias de produção
no agronegócio.

Introdução

A relevância da Gestão da Qualidade pode ser comprovada com exemplos


históricos, estudos e pesquisas. O tema "qualidade" tem sido intensivamente discutido
nos últimos anos, algumas vezes com exagerado otimismo, outras com infundado
cepticismo. Entre revolucionária filosofia administrativa e mero modismo, esta apostila
apresenta a Gestão da Qualidade como um componente imprescindível em qualquer

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

atividade produtiva, concretizando-se através da implementação sistemática e constante


de métodos adequados em todos os níveis de uma empresa ou cadeia de produção.
A qualidade de um produto ou serviço é determinada pelo elemento mais fraco
da cadeia de produção. Portanto, o enfoque adequado quando se analisa a questão da
qualidade em empresas rurais e agroindústrias é o enfoque de agronegócios. O termo
deriva da palavra inglesa agribusiness, e considera, como objeto de análise, tanto os
elementos de uma cadeia de produção, quando a inter-relações entre eles.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

Seqüência de conteúdos

UNIDADE 1
Importância da qualidade do
agronegócio
1. Importância da qualidade
2. Enfoque de agronegócio

UNIDADE 2
Princípios básicos
1. Histórico
2. Conceitos básicos
3. Enfoque tradicional x enfoque moderno
4. Funções da gestão da qualidade
5. Custos relacionados com qualidade

UNIDADE 3
Instrumentos e métodos da UNIDADE 6
gestão da qualidade Gestão ambiental no agronegócio
1. Importância do meio ambiente no agro-
1. Ferramentas básicas
negócio
2. Desdobramento da função qualidade
2. Sistemas de gestão ambiental
(QFD)
3. Certificação ISO 14000
3. Análise dos modos e efeitos das falhas
4. Sistema informatizado de gestão ambi-
(FMEA)
ental
4. Análise de perigos e pontos críticos de
controle (APPCC)

UNIDADE 4 UNIDADE 5
Certificação conforme normas da Aplicações da gestão da
série ISO 9000 qualidade no agronegócio
1. Introdução 1. Gestão da qualidade na produção inte-
2. ISO e gestão da qualidade grada de carne suína na Holanda, Di-
3. Versão ISO 9000 - 1994 namarca e Alemanha
4. Versão ISO 9000 - 2000 2. Gestão informatizada da qualidade na
5. Implementações da ISO 9000 no agro- extensão rural da empresa Sadia
negócio

Tempo aproximado de estudo: 30 horas

A previsão de tempo para o estudo desta disciplina


depende do ritmo individual de aprendizagem e do grau de
aprofundamento que você deseja alcançar na matéria.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 1

Unidade 1: Importância da qualidade no


agronegócio

Introdução

A qualidade de produtos e serviços é fator crítico para o sucesso de empresas


no agronegócio. Neste setor, a produção de alimentos tem papel fundamental, e a
questão da segurança dos alimentos tem recebido prioridade máxima nos países
avançados, em razão dos graves problemas ocasionados por intoxicações alimentares.
Para compreender e intervir na qualidade de produtos de origem vegetal ou animal,
sejam alimentos ou não, é imprescindível compreender as inter-relações dos elementos
que compõem uma cadeia de produção no agronegócio.

Objetivos específicos

Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:


⇒ Demonstrar a importância da qualidade no agronegócio, especialmente relacionada
com a segurança dos alimentos.
⇒ Compreender que o conceito de agronegócio é o enfoque adequado na melhoria da
qualidade.

1. Importância da qualidade

Atender às exigências do consumidor e, ao mesmo tempo, manter a


competitividade é o desafio que empresas e organizações enfrentam (SCHIEFER,
1994). Consumo em expansão e consumidores pouco exigentes fazem parte da realidade

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 1

de décadas passadas. Atualmente, o mercado mundial passa por um processo de


globalização, o que aumenta ainda mais o nível de competição, tanto em relação a
preços quanto em relação à qualidade dos produtos e serviços. Os consumidores são
mais exigentes e, além disto, contam com instrumentos legais eficientes na defesa de
seus direitos.
Qualidade é, portanto, fator decisivo na sobrevivência de empresas. Estudos
recentes comprovam, por meio de dados empíricos em que se utiliza a metodologia
PIMS-Statistics (Profit Impact on Market Strategies), a importância estratégica do fator
qualidade.
Qualidade é definida, por Crosby, citado por MACEDO e POVOA FILHO
(1994), como “o atendimento de requisitos”. Conforme a norma internacional ISO
8402, qualidade é “o conjunto de características de uma unidade em relação a sua
capacidade de atender às exigências predefinidas”. Nessa acepção, um produto ou
serviço, mesmo que incorpore as mais avançadas tecnologias, pode ser considerado um
produto ou serviço sem qualidade (defeituoso). Para tanto, basta que as exigências dos
clientes não sejam atendidas. Tais exigências não significam, necessariamente,
excelência em tecnologia e variam com o tempo e em função de diferenças
socioculturais.
No setor agrícola, além dos aspectos de segurança e higiene, há preocupação
com outras características do produto e também subprodutos, muitas delas de difícil
mensuração e definição, como características relacionadas com ecologia e aspectos
sociais. Para certos nichos de mercado, tais características são mais importantes que o
preço do produto na decisão de compra. Há crescente preocupação com características
nutricionais dos produtos, presença de resíduos de defensivos agrícolas e utilização de
hormônios durante o processo produtivo.
O processo de globalização da economia impõe grandes desafios ao setor
agroindustrial. A abertura do mercado interno a produtos estrangeiros obriga as
empresas nacionais a aumentarem sua competitividade, para atender a parâmetros de
qualidade internacionais. Com a entrada de novos produtos, o mercado torna-se mais
dinâmico e os consumidores, mais exigentes. Oferecer produtos de qualidade, mantendo
ou até mesmo diminuindo o custo de produção, é a única alternativa para a
sobrevivência das empresas.
Toxiinfecções relacionadas com ingestão de alimentos são extremamente
comuns e podem colocar em risco a saúde humana em qualquer país, independente do
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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 1

seu grau de desenvolvimento tecnológico. Além disso, prejudicam os programas de


saúde pública e causam redução importante da atividade econômica. De acordo com o
relatório "Assegurando a Segurança dos Alimentos: da Produção ao Consumo",
elaborado em 1998, a pedido do congresso americano, cerca de 9.000 mortes e 81
milhões de doenças, a cada ano, foram atribuídas à ingestão de alimentos contaminados
(ROONEY, 2002). Outros estudos, citados pelos mesmos autores, mostram que, nos
EUA, 325 mil pessoas ficaram gravemente doentes e houve cerca de 76 milhões de
casos de distúrbios gastrointestinais. Na União Européia, pretende-se reduzir os 166 mil
casos de intoxicações anuais por salmonella.
O potencial para os alimentos veicularem microrganismos patogênicos (e, ou,
suas toxinas) é alto; em parte, porque existem muitos pontos ao longo da cadeia
alimentar em que a segurança do alimento pode ser comprometida. A maioria dos
patógenos tem acesso aos alimentos no ambiente da fazenda, continuando sua
reprodução nas fases de processamento industrial e distribuição. Os cuidados com a
segurança alimentar devem começar, portanto, na fase de produção, embora sejam
atribuição de toda a cadeia alimentar, incluindo o consumidor final, cuidados com a
segurança do alimento.

2. Enfoque de agronegócio

No setor de alimentação, a qualidade exigida pelo consumidor é influenciada


por todas as etapas produtivas e por todos os elementos da cadeia de produção. A
qualidade do alimento industrializado depende da qualidade da matéria-prima agrícola.
Em certos nichos de mercado, a qualidade do alimento é, em última instância, definida
pelo processo produtivo na agricultura, como, por exemplo, no mercado de produtos
"naturais", que devem ser produzidos conforme normas estritas para proteção do meio
ambiente e direitos dos animais.
Portanto, a abordagem segmentada dos elementos que compõem uma cadeia de
produção não é mais adequada. O conceito de agronegócio, traduzido do termo
agribusiness em inglês, é o enfoque correto para tratar da questão da qualidade na
produção de alimentos e de produtos de origem vegetal ou animal. O termo agribusiness

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Unidade 1

foi utilizado, pela primeira vez, pelos pesquisadores John Davis e Ray Goldberg, da
Universidade de Harvad, em 1957, e foi conceituado como
soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das
operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento e distribuição dos
produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles.

O agronegócio engloba, portanto, não só a produção de alimentos, mas todos


os produtos que tenham como insumo produtos agrícolas.
Dois outros termos têm sido utilizados na área e definidos por Batalha (GEPAI,
1997):
• Complexo Agroindustrial: o ponto de partida para a análise é determinada matéria-
prima de base. Têm-se, portanto, complexo leite, complexo cana-de-açúcar,
complexo soja.
• Cadeia de Produção Agroindustrial. o ponto de análise é determinado produto final.
Exemplos seriam as cadeias da manteiga, de margarina, de café solúvel.
No agronegócio existem três fluxos básicos, esquematizados na figura a seguir,
que são fluxo de produtos, fluxo monetário e fluxo de informações. Imprescindível à
eficiência do agronegócio é o fluxo de informações, sem o qual o gerenciamento da
qualidade, definida como a satisfação das exigências dos consumidores, é inviabilizado.
Sem informações claras e precisas das exigências e expectativas, é impossível oferecer
um produto com as características desejáveis.

Fluxo de Produtos

agro- proces- cliente


insumos distribuição
pecuária samento final

Fluxo Monetário

Fluxo de Informações

O agronegócio é considerado o maior setor da economia brasileira. Segundo a


Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG), o setor representa cerca de 35% do
PIB, absorve 28% da população economicamente ativa, participa com 45% dos gastos
familiares e contribui com 36% das exportações brasileiras. Em 1997, o PIB do
agronegócio foi de US$ 282 bilhões, subdividido em US$ 17 bilhões (6%) para o “antes
da porteira” (indústria de insumos); US$ 79 bilhões (28%) para o “dentro da porteira”; e
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Unidade 1

US$ 186 bilhões (66%) para o “pós-porteira“ (processamento e distribuição). Outros


estudos apresentam valores diferentes para a participação do agronegócio no PIB, os
quais variam de 20,6% (NUNES, 2002) a 35% (PINAZZA, 1999), o que reflete as
diferenças metodológicas.
A Tabela 1, a seguir, resume as principais características do agronegócio
brasileiro.

Tabela 1 - Principais características do agronegócio brasileiro

INDÚSTRIA DE EMPRESA ☺
COMPONENTES PROCESSAMENTO DISTRIBUIÇÃO
INSUMOS RURAL CONSUMIDOR

Fluxo produtos insumos mat. prima produto produto

Fluxo informações
... ...
% PIB agronegócio 06 28 33 33

N.° empresas poucas muitos muito poucas poucas muitos

Marketing rural agrícola agroindustrial alimentar

Influência na qualidade alguma muita muita pouca


venda direta
Compra/venda venda direta contrato contrato venda direta
integracão
genética
fertilizantes armazenamento
agricultura
máquinas transporte atacado
Segmentos pecuária pesca
defensivos transformação varejo
silvicultura
ração embalagem
serviços

A qualidade final é sempre definida pelo elemento mais fraco da cadeia de


produção. No agronegócio, a produção agropecuária é um ponto crítico na gestão da
qualidade. Empresas rurais, normalmente, têm, comparativamente aos setores de
insumos, processamento e distribuição, menor infra-estrutura física e capacitação
administrativa. A produção agropecuária é determinada por fatores biológicos e
climáticos, de difícil controle e previsibilidade.

Resumo
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Unidade 1

Qualidade é determinante para o sucesso de qualquer empreendimento. Na


produção de alimentos, em especial, falta de qualidade é fator ainda mais crítico para a
sobrevivência da empresa. Neste segmento, a qualidade final é determinada pelo
elemento menos eficiente da cadeia de produção. Portanto, a abordagem segmentada
não é adequada. O conceito de agronegócio considera os elementos da cadeia e as inter-
relações destes, representados pelos fluxos de produtos, monetários e de informações,
sendo essas relações a base para a análise da qualidade na agricultura e agroindústria.

Atividades n.o 1

1) Por meio de um exemplo de uma cadeia de produção, explique porque a produção


agropecuária é um ponto crítico na gestão da qualidade no agronegócio.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 2

Unidade 2: Princípios básicos

Introdução

Desde a Idade Antiga já havia preocupação com a qualidade de produtos e


serviços. A partir da Revolução Industrial e, principalmente, após a Segunda Guerra
Mundial, essa preocupação tornou-se cada vez maior. O sucesso comercial japonês, em
que os princípios da gestão da qualidade foram aprimorados e amplamente
implementados, reforça a importância da gestão da qualidade. Os principais conceitos
são apresentados neste capítulo e, mediante comparação entre o enfoque tradicional e o
enfoque moderno, é demonstrada a possibilidade de as empresas aumentarem a
qualidade de seus produtos e serviços, sem, necessariamente, perderem competitividade
em preços.

Objetivos específicos

Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:


⇒ Reconhecer os principais conceitos da gestão da qualidade, a partir de uma visão
histórica;
⇒ Compreender a diferença básica entre os enfoques tradicional e moderno da gestão
da qualidade; e
⇒ Reconhecer, diferenciar e aplicar os principais conceitos de custos relacionados
com qualidade em uma empresa ou cadeia de produção.

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Unidade 2

1. Histórico

A primeira referência histórica e documentada sobre qualidade de serviço ou


produto é o código de Hamurabi, datado de 2150 a.C. Neste código eram estipuladas
penas, quando falhas em algum serviço resultavam em danos. Normalmente, a pena
equivalia ao dano imposto. Inspetores fenícios e egípcios conferiam, de forma
sistemática, a qualidade de serviços, aplicando penas também rigorosas (SILVA JR.,
2000).
Na Idade Média, as corporações de artesões treinavam aprendizes e
profissionais experientes, que desempenhavam funções de controle.
A produção em massa, desenvolvida a partir da Revolução Industrial, é feita
pela divisão do trabalho e montagem de produtos a partir de peças padronizadas em
linhas de montagem. O produto obtido não é mais o produto de um único artesão, que
controlava todo o processo de produção. O moderno sistema industrial, no qual diversos
trabalhadores participam da linha de montagem, criou dificuldades no controle de
produtos.
No final do século XIX, Frederick Taylor lançou as bases da administração
científica, as quais tiveram impacto decisivo no gerenciamento de empresas e no
controle da qualidade. Os quatro princípios básicos da Administração Científica são: i)
substituir o trabalho, a critério individual do operário, por métodos científicos; ii)
preparar operários, máquinas e instalações, de acordo com o método planejado; iii)
controlar o trabalho; e iv) distribuir atribuições e responsabilidades. A pressuposição
básica de Taylor era a do “homem econômico”, segundo a qual, a principal motivação
dos trabalhadores eram ganhos econômicos (CHIAVENATO, 1983). Foi dado grande
enfoque aos aspectos operacionais do trabalho, por meio do estudo do tempo gasto e dos
movimentos necessários em cada etapa da produção. Henry Ford, na primeira década do
século XX, implementou a linha de montagem, que revoluciou a produção industrial.
Em 1924, a empresa Bell System foi a pioneira na introdução de
procedimentos estatísticos no controle da qualidade, processo coordenado pelo
matemático Walter Shewahrt, em conjunto com George Edwards. Shewahrt estava
consciente da importância de fatores organizacionais e do gerenciamento no controle da
qualidade.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 2

A organização britânica para normatização, British Standard (BS), iniciou, em


1901, as primeiras reuniões para a padronização de produtos. A partir do trabalho de
E.S. Pearson, foram desenvolvidas normas para amostragem, como a BS 600, de 1935,
a qual obteve ampla aceitação.
Em 1946, foi criada a Sociedade Americana para o Controle da Qualidade
(ASQC), cujo presidente era George Edwards. No mesmo ano, foi criada a União
Japonesa dos Cientistas e Engenheiros (JUSE). No âmbito do plano Marshall,
implementado pelos EUA, após a Segunda Guerra Mundial, cientistas americanos
atuaram, em conjunto com a JUSE, na recuperação da indústria japonesa. A partir 1947,
o estatítico W. E. Deming, funcionário do Departamento de Agricultura dos EUA,
realizou diversas palestras no Japão para divulgar métodos estatísticos de controle de
qualidade. O engenheiro Ishikawa teve papel de destaque, visto que atuou, como
presidente, no grupo de pesquisa em controle da qualidade da JUSE e desenvolveu
métodos simples, mas ao mesmo tempo eficientes, de controle do processo produtivo.
Complementando o trabalho de Deming, Joseph Juran realizou palestras para
diretores e gerentes de empresas japonesas. Juran, que havia trabalhado na Bell System,
ressaltava que o controle da qualidade é, essencialmente, responsabilidade da gerência.
Houve uma mudança do foco técnico para o foco gerencial. O Controle da Qualidade
Total, introduzido por Feigenbaum na segunda metade dos anos 50, ampliou o conceito
da gestão da qualidade, que englobava a qualidade do projeto e a participação dos
empregados. Crosby, no final da década de 70, divulgou, mundialmente, a Gestão da
Qualidade, introduzindo o conceito de “zero erro” e a importância da prevenção de
erros.
Após a Segunda Guerra Mundial, produtos japoneses eram famosos pela
péssima qualidade. O esforço sistemático para aprimoramento dos ensinamentos de
cientistas americanos, o desenvolvimento de novos métodos e a implementação prática
desses instrumentos foram responsáveis pela mudança da imagem dos produtos
japoneses. Além de produzirem produtos que atendiam às necessidades e expectativas
dos clientes, a gestão da qualidade permitiu que tais produtos fossem altamente
competitivos em preços, o que, sem dúvida, teve contribuição relevante para o sucesso
econômico do Japão.
Em 1987, a Organização Internacional para a Normatização, ISO, lançou a
série ISO 9000, que trata da certificação de sistemas de gestão da qualidade. A norma
teve ampla aceitação e é, hoje, implementada por empresas de mais de 150 países.
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Unidade 2

Os principais conceitos da gestão da qualidade são apresentados a seguir.

2. Conceitos básicos

A implementação do conceito moderno de Gestão da Qualidade teve sua


origem no Japão, tendo como referência teórica o trabalho e o acompanhamento de
cientistas americanos.
Os trabalhos de Deming, Juran, Feigenbaum, Ishikawa, Crosby e ISO
constituem a base teórica e histórica da Gestão da Qualidade.

2.1. Deming
O americano Deming é considerado o pioneiro, no Japão, no estudo e na
aplicação da política de qualidade total. Os princípios básicos do seu pensamento foram
resumidos, por ele, no “programa de 14-pontos”, que é apresentado a seguir (DEMING,
1982):
1. Oferecer produtos e serviços sempre melhores;
2. Implantar a filosofia da não-aceitação de erros;
3. Controlar estatisticamente a produção;
4. Exigir que o fornecedor também execute controle estatístico;
5. Aprimorar sempre a produção e os serviços;
6. Treinar todos os funcionários;
7. Colocar à disposição de todos os funcionários instrumentos de trabalho adequados;
8. Incentivar a comunicação interna e a produtividade;
9. Incentivar o trabalho conjunto de diferentes departamentos;
10. Evitar slogans que não contenham informações sobre progressos na empresa;
11. Utilizar métodos estatísticos no aprimoramento da qualidade e produtividade;
12. Combater tudo que disturbe o bom ambiente de trabalho;
13. Incentivar programas de aperfeiçoamento e reciclagem; e
14. Definir, claramente, as obrigações da administração em relação à qualidade.
O programa foi definido para a alta gerência da empresa. O ponto central
baseia-se na constatação de que, na maioria das vezes, falta de qualidade é conseqüência
de erros sistemáticos, que devem ser combatidos pela administração da empresa. Para

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Unidade 2

Deming, o controle estatístico do processo de produção é o método básico da Gestão da


Qualidade.
As etapas sucessivas até a obtenção dos objetivos da empresa são representadas
na “cadeia de Deming”:
1. Incentivo à qualidade;
2. Melhoria da qualidade;
3. Redução dos custos;
4. Redução dos preços ;
5. Ampliação da fatia de mercado;
6. Garantia da fatia de mercado;
7. Garantia do nível de emprego; e
8. Sucesso da empresa.

2.2 Juran
Juntamente com Deming, o também americano Juran é considerado um dos
fundadores do conceito moderno de Gestão da Qualidade no Japão. Para Juran,
qualidade é medida a partir da utilidade que o produto ou serviço tem para o cliente.
Qualidade é definida tendo em vista necessidades objetivas e também subjetivas de cada
cliente em particular.
Juran divide a Gestão da Qualidade em planejamento, controle e
aprimoramento da qualidade na empresa. Enquanto o enfoque tradicional baseia-se mais
em avaliações e controles, para Juran, o esforço deve ser concentrado no contínuo e
permanente aprimoramento da capacidade da empresa em produzir com qualidade.
O combate aos erros sistemáticos, responsáveis por 80% dos defeitos, deve ser
feito pela implantação de métodos estatísticos, juntamente com técnicas simples
(histogramas, análise de Pareto) e reestruturação do ambiente de trabalho. Na parte de
pessoal, são estimulados a troca de postos de trabalho entre os empregados, o trabalho
em grupo e a auto-avalição regular (JURAN, 1990).

2.3. Feigenbaum
Feigenbaum utiliza a terminologia “Controle da Qualidade Total” (Total
Quality Control) para definir sua concepção de Gestão da Qualidade. Ele conceitua
Controle da Qualidade Total como um sistema que busca integrar todos os esforços no
aperfeiçoamento, na manutenção e na implantação da qualidade em diferentes níveis da
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Unidade 2

empresa. O objetivo é alcançar altos níveis de rentabilidade dos produtos e serviços


oferecidos, por meio da satisfação dos desejos dos clientes (FEIGENBAUM, 1986).
Essa definição é, até hoje, utilizada, e a implantação efetiva do Controle da
Qualidade Total pode ser caracterizada pelos seguintes pontos:
• Qualidade não é função específica de um departamento, mas um processo
sistemático que envolve toda a empresa.
• É necessário que a empresa seja organizada, de tal modo que a qualidade, em cada
local de trabalho e entre departamentos diferentes, seja garantida.
• A idéia de aprimoramento da qualidade não deve ficar restrita à produção, mas estar
disseminada por toda a empresa.
• As necessidades e os desejos dos clientes definem a qualidade a ser alcançada, e não
o interesse de um departamento específico.
• O aprimoramento contínuo da qualidade consiste em aplicar novas e adequadas
tecnologias.
• Somente com a participação de todos os funcionários, e não de um departamento
específico, pode-se alcançar o aprimoramento constante da qualidade.
• O controle da qualidade total deve ser claramente definido, para que todos os
funcionários possam entendê-lo.
O ponto central do enfoque de Feigenbaum baseia-se nos métodos e nas
técnicas da engenharia de qualidade.

2.4. Ishikawa
A filosofia de qualidade total continuou a ser desenvolvida no Japão, por meio
do trabalho de Ishikawa. Baseado em diferentes enfoques e com a preocupação de
aplicar este conceito na empresa como um todo, este autor utilizou a definição de
“Company Wide Quality Control”. No enfoque de Ishikawa, todas as atividades
relevantes são englobadas, em relação à qualidade na empresa, bem como todos os
departamentos e funcionários. A garantia de qualidade de produtos e serviços tem papel
relevante, especialmente no desenvolvimento de novos produtos.
Eficiência administrativa, estreita relação com fornecedores e busca do
aprimoramento de atividades de todos os funcionários caracterizam o enfoque
abrangente de Ishikawa. A preocupação com o cliente externo deve ser também
ampliada aos clientes internos, ou seja, cada repartição e mesmo cada funcionário tem

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Unidade 2

também clientes dentro da empresa. Uma repartição que produz, por exemplo, uma peça
tem como cliente a seção de montagem, que, por sua vez, tem como cliente a seção de
embalagem. Esta rede pressupõe intenso trabalho interdisciplinar e eficiente rede de
informações e, muitas vezes, encontra grande resistência na indesejável competição
entre os departamentos, o que obriga a empresa a desenvolver um completo programa
de treinamento.
Métodos adequados de resolução de problemas e métodos estatísticos são
considerados requisitos indispensáveis no enfoque de Ishikawa. Este autor desenvolveu
um método gráfico de análise de erros, que passou a ser conhecido como “gráfico de
Ishikawa”.
Os principais pontos do enfoque de Ishikawa estão resumidos a seguir
(ISHIKAWA, 1985; ISHIKAWA, 1993):
• Qualidade é mais importante que os ganhos no curto prazo.
• Política de qualidade orientada em relação ao cliente e não à produção.
• Implantação de uma rede ampla cliente-fornecedor-cliente e eliminação de barreiras
de comunição entre os departamentos.
• Aplicação de métodos estatísticos.
• Observação de aspectos sociais.
• Administração participativa que inclua toda a empresa.
• Trabalho interdisciplinar em questões de qualidade.

2.5. Crosby
A partir da constatação de que o conceito de qualidade, muitas vezes, não é
entendido e que há um clima generalizado na empresa contra a qualidade, Crosby
destaca a importância de uma mudança cultural na empresa. Os principais pontos de seu
enfoque são os seguintes (CROSBY, 1988):
• Qualidade como um conceito bem definido e aplicável a todos os níveis da empresa.
• Prevenção de erros como princípio básico.
• Padrão de zero-erro.
• Não-atendimento das exigências do cliente é computado como custo.
O ponto central do pensamento de Crosby está relacionado com a disseminação
de uma filosofia da qualidade dentro da empresa e não com métodos técnicos de
controle.

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Unidade 2

2.6. Normas da International Organization for Standardization (ISO)


As normas publicadas pela “International Organization for Standardization” da
série ISO 9000, determinam os requisitos para certificação de um sistema de controle de
qualidade. O enfoque da Gestão da Qualidade busca atingir índices máximos de
exigências, ao passo que as normas ISO, até a versão de 1994, determinam o nível
mínimo aceitável.
Com a nova versão da norma ISO 9000, a partir do final de 2000, essas normas
incorporaram novas exigências, e o que antes se restringia à “garantia da qualidade”,
agora se estende à “gestão da qualidade” (BANAS, 2002). A nova norma baseia-se nos
oitos princípios básicos que orientam os Prêmios Nacionais ou Comunitários da
Qualidade, inclusive o brasileiro, que são:
1. Foco no cliente,
2. Liderança,
3. Envolvimento de pessoas,
4. Abordagem de processo,
5. Abordagem sistêmica para a gestão,
6. Melhoria contínua,
7. Abordagem factual para a tomada de decisões, e
8. Benefícios mútuos nas relações com fornecedores.

2.7. Conclusões
Entre os conceitos, há as seguintes características em comum:
• Compromisso da administração.
• Melhoria da qualidade é a base para alcançar os objetivos da empresa.
• Reconhecimento do custo da falta de qualidade.
• Necessidade de uma reorganização da empresa e mobilização dos funcionários.
• Condições para trabalho em equipe.
• Treinamento em métodos e técnicas de aprimoramento da qualidade.
• Avaliação estatística dos resultados.
• Reconhecimento e recompensa dos funcionários.
• Busca e aprimoramento da qualidade como um processo contínuo.

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Unidade 2

Os conceitos apresentados não são mutuamente exclusivos, pelo contrário, a


eficiente implantação do enfoque moderno da Gestão da Qualidade pressupõe a
interação dos diferentes enfoques, tendo sempre como base o atendimento às exigências
do consumidor por meio do aprimoramento do processo produtivo.

3. Enfoque tradicional x enfoque moderno

O enfoque tradicional de controle de qualidade não atende às exigências atuais.


Aumentar a qualidade, diminuindo os níveis de tolerância durante o controle do produto
final, aumenta inevitavelmente os custos. Esse aumento ocorre, principalmente, devido
ao desperdício de material, tempo e mão-de-obra investidos no produto descartado. Não
há também preocupação suficiente com os efeitos de subprodutos. A qualidade do
produto é definida a partir de especificações técnicas, e não a partir de uma análise
detalhada das expectativas e desejos do consumidor final.
Dois princípios básicos caracterizam o enfoque moderno da Gestão da
Qualidade, quais sejam:
• Concentração de todos os esforços possíveis no atendimento das expectativas e
desejos dos consumidores; e
• Contínuo aprimoramento da qualidade de todas as atividades na empresa.
Para atingi-los, o treinamento constante de todos os empregados é
imprescindível.
O processo produtivo na empresa pode ser resumido, simplificadamente, como
a transformação de recursos (input) em produtos ou serviços (output). Essa
transformação ocorre em várias etapas dentro da empresa. No enfoque da Gestão da
Qualidade, cada etapa do processo produtivo é o cliente interno da etapa anterior e, ao
mesmo tempo, fornecedor da próxima etapa.
O aprimoramento da qualidade no enfoque tradicional é obtido pela redução do
nível de tolerância. Na Gestão da Qualidade, busca-se reduzir o número de falhas na
produção, tendo como meta o nível zero de erros. Não deve haver produtos sem
qualidade, ou seja, produtos que não atendam às expectativas e exigências do
consumidor.

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Unidade 2

Em qualquer processo, há sempre produtos que, por deficiência (d) ou excesso


(e), não atendem aos limites definidos (ver gráfico “nível anterior”, na figura a seguir).
Com o enfoque tradicional de melhoria da qualidade (gráfico “melhoria da qualidade”),
há um aumento do número de produtos descartados, por não estarem dentro dos limites
de tolerância, seja por estarem abaixo (D) ou acima das novas especificações (E). A
diminuição dos níveis de tolerância durante o controle do produto final eleva,
necessariamente, os custos (soma das áreas D + E) e não garante, necessariamente, que
as características realmente relevantes, do ponto de vista do consumidor, estejam sendo
controladas.

C o n tro le d a Q u a lid a d e
d im in u iç ã o nív e l d e T ole râ n c ia

to le râ n cia

d D ok` E e

Enfoque tradicional de melhoria da qualidade

No enfoque moderno de Gestão da Qualidade, o aprimoramento da qualidade


do processo produtivo (gráfico “melhoria da qualidade”) permite diminuir a quantidade
de produtos descartados (áreas e' e d'), mediante a otimização do processo produtivo, o
que ocorre quando há níveis menores de erros em todas as fases do processo produtivo.

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G estã o d a Q ua lid a d e
dim in uição nível de erros
aprim oram en to do processo

-d ´ ok` -e´
d´ e´


Enfoque moderno de melhoria da qualidade

Não há possibilidade de implementação da Gestão da Qualidade sem a


participação integral de todos os empregados. Há necessidade de treinamento nos
princípios básicos da TQM, para que a comunicação, imprescindível no relacionamente
entre clientes internos (dentro da própria empresa), ocorra com eficiência. Aprimorar o
processo produtivo significa diminuir erros. Como falhas humanas são responsáveis
pela maior parte destes erros, há necessidade, também, de constante treinamento
técnico. Tudo isto não é possível com trabalhadores desmotivados (ROBINSON, 1994).

4. Funções da gestão da qualidade

Gestão da Qualidade é “o conjunto de todas as atividades gerenciais envolvidas


na definição de uma política, na delegação de responsabilidades, planejamento,
implementação, garantia e aprimoramento da qualidade numa empresa”. A hierarquia e
a estrutura dessas atividades podem ser visualizadas na figura a seguir. Na definição
proposta na norma ISO 8402, garantia de qualidade é a "representação e documentação
do Sistema de Gestão da Qualidade de uma empresa".

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Unidade 2

GESTÃO DA QUALIDADE

Política da Qualidade
(Objetivos e definição de responsabilidades)

Implementação da
Planejamento da Garantia da
Qualidade Aprimoramento
Qualidade Qualidade
(Técnicas e ações da Qualidade
(Definição das (Descrição e
utilizadas no (Aprimoramento de
exigências com a documentação do
atendimento das processos
qualidade de Sistema de Gestão
exigências de produtivos)
produtos/serviços) da Qualidade)
qualidade)

5. Custos relacionados com qualidade

Conforme a norma ISO 8402, o custo relacionado com qualidade é definido


como “todo custo decorrente de gastos com a garantia de níveis predeterminados de
qualidade e perdas decorrentes do não atendimento destes níveis”. Podem-se dividir os
custos da qualidade em três grupos:
• Custos de testes (appraisal costs): Inclui todos os custos relacionados com controles
do processo produtivo e controles de produtos.
• Custos de prevenção (prevention costs): São os gastos relacionados com
implementação de um sistema de controle da qualidade, auditorias e treinamento de
funcionários.
• Custos de erros (failure costs): Compreende os custos provocados por erros, ou
seja, custo de reparos, desperdício de material e tempo, além de custos da perda de
clientes, perda de imagem e até custos de processos judiciais motivados pelas
conseqüências da utilização de produtos defeituosos, como, por exemplo, alimentos
contaminados.
Os custos relacionados com qualidade também podem ser divididos nos
seguintes elementos:
a) Custos internos:
• descarte de produtos fora dos níveis de tolerância;
• reparos efetuados em produtos defeituosos;

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Unidade 2

• diminuição do valor dos produtos em decorrência dos defeitos; e


• custos decorrentes de testes e avaliações.
b) Custos externos:
• garantia de qualidade, incluindo insatisfação do cliente e efeitos externos.
No enfoque moderno de Gestão da Qualidade, os custos externos têm grande
importância. Aqui são incluídos os custos relacionados com insatisfação do consumidor
e os custos decorrentes dos efeitos negativos do produto e processo na sociedade. Tais
custos são de difícil mensuração e têm efeitos concentrados, no médio e longo prazo.

Custos
100%
Conseguências
para a
sociedade

Insatisfação
do Cliente difícil mensuração

relativamente de
Garantia fácil mensuração
do produto

Testes,
Descarte
Reparos
Tempo
curto médio longo prazo

Custos relacionados com qualidade

Uma característica do custo decorrente da insatisfação do cliente é seu efeito


em cadeia. Um cliente insatisfeito, caso tenha uma alternativa viável, deixará de
comprar o produto novamente e, certamente, influenciará outros clientes que também
poderão deixar de comprá-lo. Novos clientes serão conquistados com muito mais
dificuldade.
O enfoque da Gestão da Qualidade Total busca atender às exigências do
consumidor e, ao mesmo tempo, reduzir custos. Essa constatação, aparentemente
evidente, não foi considerada com a devida atenção, por décadas. A partir do sucesso
comercial japonês, pôde-se comprovar que qualidade não tem necessariamente seu

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Unidade 2

preço. O que ficou provado é que falta de qualidade significa perda de mercados, que,
muitas vezes, não podem mais ser reconquistados (ISHIKAWA, 1993).
As conseqüências do não-atendimento das exigências dos clientes, em
mercados onde a oferta é maior que a demanda, refletem-se, diretamente, na diminuição
das vendas. Falta de qualidade de processos pode ser traduzida em desperdício e
aumento de custos. A Tabela 3 esquematiza as conseqüências de erros durante
processos de produção.

Tabela 3 - Custos da deficiência de qualidade em processos de produção

Situação Processo de produção Custos

Processo sem erros a b c d e CE= 0


a b d e c
Impossibilidade de reparo e
CE= Σ (Cmdo+CM)
reaproveitamento
⌧ a
a b d e c3
Reparo e reaproveitamento
CE= Σ (Cmdo+CM+CI)
possíveis
c1 c2 c3 c1
a b d e c
Atrasos CE= Σ (Cmdo+CM)*T*j
a

Legenda: a, b, c, d, e = etapas; c1 c2 c3 = etapas adicionais; = erro; ⌧ =


descarte; = atrasos; CE = custo erro; Cmdo = custo mão-de-obra; CM = custos materiais; CI =
custo instalações e equipamentos; T = tempo; e j = juros.

Resumo

Neste capítulo foram apresentados os principais enfoques da gestão da


qualidade, aperfeiçoados no Japão à partir de conhecimentos básicos transmitidos por
especialistas americanos. Os enfoques apresentados convergem para três princípios
básicos: atendimento de exigências e expectativas de clientes, foco na prevenção de
erros e garantia de que a qualidade é resultado do esforço sistemático e contínuo de

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Unidade 2

todos os funcionários de uma organização. O enfoque moderno da qualidade permite


que custos possam ser reduzidos. No final do capítulo, os custos relacionados à
qualidade são caracterizados quanto ao tempo e dificuldade de mensuração.

Atividades n.o 2

1) Indique uma característica para cada um dos enfoques da gestão da qualidade.

2) Mostre a diferença, quanto ao custo, entre o enfoque tradicional e o enfoque


moderno no aprimoramento da qualidade de um produto agropecuário.

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Unidade 3

Unidade 3: Instrumentos e métodos da gestão da


qualidade

Introdução

A concretização do enfoque da gestão da qualidade e o aumento da


competitividade da empresa dependem da implementação de instrumentos e dos
métodos adequados. Neste capítulo, os principais instrumentos utilizados são descritos e
discutidos a partir de exemplos do agronegócio.

Objetivos específicos

Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:


⇒ Compreender e implementar os principais instrumentos e métodos da gestão da
qualidade, em situações de empresas e organizações do agronegócio.

1. Ferramentas básicas

Instrumentos e técnicas da Gestão da Qualidade devem adequar-se ao trabalho


interdisciplinar. Tais ferramentas não substituem instrumentos tradicionais da área
administrativa ou engenharia de produção, sendo ambos complementares e, quando
direcionados à satisfação das exigências dos clientes, totalmente compatíveis.
A implementação da Gestão da Qualidade pressupõe o esforço contínuo de
todos os trabalhadores da empresa na busca do atendimento às expectativas e desejos
dos clientes (clientes internos e clientes externos), cuja meta é o nível zero de erros.
Os instrumentos enfocam (SCHIEFER, 1994):

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Unidade 3

• Adequação de processos às necessidades e expectativas do cliente;


• Identificação e correção de irregularidades de processos produtivos; e
• Readequação de processos a índices de performance mais elevados.
A seguir, serão apresentados os principais instrumentos da Gestão da
Qualidade. Alguns deles são métodos tradicionais da estatística, administração e
economia, adaptados ao contexto específico da Gestão da Qualidade. O método de
análise QFD (desdobramento da função qualidade), o método FMEA (análise dos
modos e efeitos das causas) e o método APPCC, por sua importância, serão discutidos
com mais detalhes.

a) Instrumentos básicos
Os instrumentos e técnicas mais comuns relacionados com implementação da
Gestão da Qualidade são, conforme PFEIFER (1994), SCHIEFER (1994) e BONILLA
(1994), os seguintes:
• Benchmarking: permite determinar níveis de qualidade a partir da comparação com
processos de alta performance de outras empresas.
• Brainstorming: técnica de geração de idéias em atividades de grupo.
• Controle estatístico de processos (SPC, do original “statistical process control”): na
identificação de irregularidades na performance de processos. A partir da análise
estatística das variações, podem-se determinar a estabilidade e a normalidade de
processos. A magnitude dessas variações são comparadas com as especificações
previamente definidas. BONILLA (1994) apresenta exemplos de aplicação na área
agrícola do SPC.
• Instrumentos de controle de qualidade (QCT, do original “quality control tools”):
representam um conjunto de gráficos que facilitam a análise de problemas. Inclui o
“gráfico de fluxo” para descrição e análise de processos (etapas e dinâmica dos
processos). Causas e efeitos de irregularidades são representados, de maneira
organizada e sistemática, no diagrama “espinha de peixe”, ou diagrama de Ishikawa,
em homenagem ao introdutor deste gráfico, no Japão. Nesse gráfico, a relação entre
causas e determinada irregularidade pode ser visualizada com facilidade. Pelo
Diagrama de Pareto, é possível ordenar a importância de defeitos e também as suas
causas.

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Unidade 3

b) Método 5S
O método 5S, originalmente desenvolvido no Japão, é um instrumento
consagrado e testado de mudança organizacional. A implementação do conceito é básica
para a Gestão da Qualidade, pois está relacionado com sistematização de hábitos
indispensáveis, como sistematização e organização. O nome 5S vem das iniciais, em
japonês, dos conceitos de:
• SEIRI = descarte (arrumação);
• SEITON = organização ;
• SEISOU = limpeza;
• SEIKETSU = higiene (asseio e saúde); e
• SHITSUKE = ordem mantida (autodisciplina).
No Brasil, o Sebrae criou o programa De OLHO (Descarte, Organização,
Limpeza, Higiene, Ordem mantida), o qual é voltado para empresas rurais.

c) Ciclo PDCA
O ciclo PDCA, conforme CAMPOS (1992), é um método de gestão para a
solução estruturada de problemas, cujo objetivo é alcançar metas predefinidas. A sigla
representa as etapas de planejamento (plan); execução (do), verificação (control) e ação
corretiva (action).
P = planejamento
• definir metas
• determinar métodos para alcançar as metas
D = execução
• educar e treinar
• executar o trabalho
C = verificação
• verificar os efeitos do trabalho executado
A = atuação corretiva
• atuar no processo em função dos resultados

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Unidade 3

A P

C D

2. Desdobramento da função qualidade (QFD)

Este método, denominado na literatura de língua inglesa como “Quality


Function Deployment”, QFD, teve sua origem no Japão, onde se tornou bastante
difundido. O conceito básico foi proposto por Akao, no ano de 1966, e a primeira
implantação ocorreu numa fábrica do conglomerado Mitsubishi. A mudança de filosofia
na empresa, em que se busca, continuamente, satisfazer às expectativas e desejos dos
clientes, é considerada um dos motivos do próprio sucesso comercial japonês
(PFEIFER, 1994). A aplicação prática desta filosofia é apoiada pelo método QFD.
O resultado da análise é apresentado em forma de gráfico conhecida, em razão
de sua aparência, como “casa da qualidade” (house of quality) (ver figura abaixo).
Nesse gráfico, as expectativas dos clientes são correlacionadas com as especificações
técnicas. Tal processo pode ser comparado com uma tradução, cabendo à equipe que
desenvolve a análise QFD transformar em variáveis técnicas (COMO) os desejos e
expectativas dos consumidores (O QUÊ).

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Unidade 3

matriz de
corrrelacoes

T COMO Concorrentes
C

comparacao
em relacao
matriz
O QUE ao atendi-
mento das
exigencias
dos clientes

Quantidade valor

Concorrentes comparacao em relacao a t = especificacoes técnicas


variaveis técnicas c = expectativas dos clientes

QFD (Desdobramento da Função Qualidade)

As relações entre cada exigência do cliente (O QUÊ) e as variáveis técnicas


(COMO) recebem um valor conforme a sua interdependência. Quando uma
especificação técnica tem grande influência em um desejo do cliente, este valor é alto.
Uma matriz correlaciona os efeitos das variáveis técnicas (COMO) entre si,
que podem ter valores negativos ou positivos.
Finalmente, são feitas comparações entre as especificações técnicas (COMO)
da empresa com suas concorrentes. Como exemplo, poderíamos citar o teor de açúcar
em cana, o teor de sólidos solúveis no café, a contagem de células somáticas no leite.
São feitas também comparações entre a empresa e suas concorrentes, em relação às
especificações dos consumidores (O QUÊ), na qual a comparação é feita a partir da
visão do cliente, ou seja, comparar, por exemplo, a imagem do produto da empresa com
o dos concorrentes, qual o produto mais saudável, qual o mais adequado à alimentação
de crianças.

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Unidade 3

O método de análise QFD tem sido amplamente utilizado. A partir dessas


experiências, pontos negativos do método puderam ser destacados, tais como o tempo e
o custo envolvidos nas intensas discussões de equipe interdisciplinares.
A seguir, é apresentado um exemplo de implantação na indústria de alimentos
do grupo Sadia (CHENG, 1995).

QFD - DESDOBRAMENTO DA FUNÇÂO QUALIDADE

0. Produto: apresuntado
1.
Mercado: doméstico
4. elementos da qualidade
macroscópica química

tec. cartilaginoso %
tecido vascular %

tecido adiposo %
3.
tecido nervoso
importância

proteína

gordura
2.
qualidades exigidas
boa deve parecer carne 3 1 1 1 1 5 1 5.
aparên aparentar pouca mistura 3 5 5 5 5 1
cia cor homogênea 5 1 1 5 5 1
aparência viva 1 5 3
aparência light 3 1 3 3 5 5

6. Ordenação (importância) 6 32 32 58 60 29 0 0 0 0
ex.: tecido vascular importância 6 = 3*1 +0 +0 +0 + 3*1

Etapas Importância (etapa 3) Matriz da Qualidade (etapa


0 definiçã+B12o do produto alta 5 correlacao forte 3
1 exigências do mercado média 3 ha correlacao 2
2 qualidade exigida baixa 1 correlacao possivel 1
3 importância da qualidade exigida
4 elementos da qualidade
5 matriz da qualidade
6 Importância dos elementos da qualidade

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3. Análise dos modos e efeitos das falhas (FMEA)

O objetivo da Análise dos Modos e Efeitos das Causas (no original, “Failure
Mode and Efects Analysis”, FMEA) é detectar possíveis erros, avaliá-los e evitá-los,
mediante ações adequadas.
O método FMEA foi desenvolvido pela NASA, em meados dos anos 60. Sua
aplicação principal ocorre na análise de processos e segue cinco fases (PFEIFER, 1994):
1) Organização (definir equipes e cronograma);
2) Preparo do conteúdo (determinar etapas do processo produtivo a ser analisado);
3) Análise propriamente dita;
4) Interpretação dos resultados; e
5) Avaliação da eficiência das ações corretivas implantadas.
O resultado da análise é apresentado em forma de tabela, na qual cada coluna
representa uma etapa da análise.

Dificuldade de
Probabilidade
de ocorrência

Seriedade do

detecção (D)

R= PxSxD
Controle

erro (S)
Causas

Efeitos

Ações
Etapa

Risco
Erro

(P)

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)

FMEA (Análise dos Modos e Efeitos das Falhas)

Na primeira coluna (Coluna 1), determina-se qual a etapa do processo a ser


analisada. Cada possível erro é determinado (2), bem como suas possíveis causas (3) e
conseqüências (4).
Para cada erro deve haver um procedimento de detecção deste (5).
A seguir, passa-se à fase de determinação do risco (coluna 9), que é o produto
da probabilidade de ocorrência (6) seriedade do efeito do erro (7), e dificuldade em

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Unidade 3

detectar a irregularidade (8). Esta análise é dificultada por falta de dados e de


padronização destes. Ações preventivas e corretivas são descritas na coluna (10).
Trabalho interdisciplinar é essencial na implementação do método, pois causas
e efeitos de erros são provocados e provocam efeitos em cadeia. A metodologia dos
círculos da qualidade, baseada em discussões coordenadas de equipes
multidisciplinares, pode ser aplicada, com vantagem, na condução do método. A
preservação e a sistematização do conhecimento acumulado na empresa, além do
aumento da motivação do empregado, são os principais benefícios proporcionados pelo
método. Outros benefícios são listados abaixo.

Benefícios do método FMEA


• melhora a qualidade, a confiabilidade e a segurança dos produtos;
• melhora a imagem e a competitividade da empresa;
• auxilia no aumento da satisfação do cliente;
• reduz prazos e custos do desenvolvimento do produto;
• documenta e acompanha as ações executadas para reduzir os riscos;
• ajuda a identificar os modos de falhas potenciais do produto, em fase prematura do
seu desenvolvimento;
• aumenta a probabilidade de considerar todos os modos de falhas potenciais e
possíveis problemas de segurança do produto e seus efeitos nos conjuntos
subseqüentes;
• ajuda a identificar problemas de segurança potenciais e, assim, efetiva ações desde o
projeto do produto;
• estabelece prioridades para as ações de aperfeiçoamento do projeto;
• auxilia no aumento da satisfação do cliente;
• reduz prazos e custos do desenvolvimento do produto;
• documenta e acompanha as ações executadas para reduzir os riscos;
• ajuda a identificar os modos de falhas potenciais do produto, em fase prematura do
seu desenvolvimento;
• aumenta a probabilidade de considerar todos os modos de falhas potenciais e
possíveis problemas de segurança do produto e seus efeitos nos conjuntos
subseqüentes;

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Unidade 3

• ajuda a identificar problemas de segurança potenciais e, assim, efetiva ações desde o


projeto do produto;
• estabelece prioridades para as ações de aperfeiçoamento do projeto;
• melhora o conhecimento dos problemas nos produtos/processos;
• apresenta forma sistemática de catalogar informações sobre as falhas nos produtos/
processos;
• proporciona ações de melhoria no projeto do produto/processo, baseadas em dados e
devidamente monitoradas (melhoria contínua);
• diminui custos por meio da prevenção de ocorrência de falhas; e
• incorpora a atitude de cooperação e trabalho em equipe.

4. Análise de perigos e pontos críticos de controle


(APPCC)

O sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC), ou, no


original, “Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP)” foi desenvolvido pela
empresa Pillsbury, em 1959, em cooperação com o exército americano, a partir de uma
solicitação da NASA, preocupada com a prevenção de problemas de intoxicação
alimentar de astronautas, durante missões espaciais.
Apesar de avanços tecnológicos no processamento de alimentos, a preocupação
com a segurança alimentar é crescente. Como exemplo, somente produtos derivados de
carne provocaram custos, decorrentes de toxiinfecções alimentares, estimados entre 1,1
a 4,1 bilhões de US$ (BANAS, 2002).
O APPCC é largamente utilizado na indústria de alimentos, sendo
recomendado por instituições nacionais e internacionais como método fundamental no
controle de qualidade. No Brasil, a exigência de implantação do APPCC é legal para
pescados, desde 1993, e para outros produtos de origem animal, desde 1998. O Sebrae
tem despendido grandes esforços, mediante "Projeto APPCC", na difusão do sistema
entre indústrias de alimentos e, mais recentemente, mediante o programa APPCC
campo (SENAI/DN, 1999). As principais indústrias alimentícias já implementam o

33
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 3

sistema, e há exemplos de aplicação, inclusive, na fabricação de rações para animais


(SALVADOR, 2002).
O sistema APPCC é baseado numa série de etapas inter-relacionadas,
fundamentando-se na identificação dos perigos potenciais à segurança do alimento, bem
como nas medidas para o controle das condições que geram perigos (SENAI/DN,
1999).
As etapas são apresentadas a seguir:
• Avaliação de pré-requisitos: as boas práticas de fabricação (BPF) são os pré-
requisitos fundamentais. Tais práticas envolvem, principalmente, aspectos de higiene
e sanitários, definidos em procedimentos detalhados, claros e precisos.
• Programa de capacitação técnica: o funcionamento do programa depende de
comprometimento de todos os funcionários da empresa, em especial no nível
operacional. A conscientização, a motivação, o comprometimento e a capacitação da
equipe são fundamentais.
• Descrição do produto e uso esperado: a equipe deve descrever o produto, como e por
quem será consumido. As informações devem ser detalhadas e estruturadas em
formulários.
• Elaboração do fluxograma de processo: uma visão clara, simples e objetiva do
processo de produção do produto, além de facilitar a comunicação entre o membros
da equipe, permite analisar, de forma eficiente, os pontos críticos e as medidas
preventivas.
• Validação do fluxograma de processo: o processo descrito deve ser verificado “in
loco”, pois a definição dos pontos críticos de controle depende da exatidão desta
descrição.
• Aplicação do sete princípios básicos:
- Princípio 1: análise dos perigos e das medidas preventivas
- Princípio 2: identificação dos pontos críticos de controle
- Princípio 3: estabelecimento dos limites críticos
- Princípio 4: estabelecimento dos procedimentos de monitoração
- Princípio 5: estabelecimento das ações corretivas
- Princípio 6: estabelecimento dos procedimentos de verificação
- Princípio 7: estabelecimento dos procedimentos de registro

34
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Unidade 3

Abaixo, é apresentado um exemplo de produção de carne resfriada.

Recepção de
carcaças PCC1 (M, Q)

Desossa

Corte

Embalagem

Estocagem PCC2 (M)


APPCC Carne Resfriada

Após a descrição do processo, os perigos, de natureza microbiológica (M),


química (Q) ou física (F), além das medidas preventivas a serem implementadas para
cada um deles, devem ser identificados (princípio 1). Os esforços da empresa devem ser
direcionados para o perigos realmente críticos à segurança dos alimentos. Portanto,
aqueles perigos que podem ser controlados mediante boas práticas de fabricação não são
considerados pontos críticos de controle (PCC). O número de PCC deve restrito ao
mínimo indispensável, e a numeração tem uma seqüência PCC1, PCC2, ... Indica-se,
também, a natureza do perigo (M, Q, F), podendo, em uma mesma etapa, ocorrer
perigos de natureza distinta. No exemplo acima, na etapa “recepção da carcaça” há
perigos de natureza microbiológica (contaminação por microorganismos patogênicos) e
de natureza química (resíduos de drogas veterinárias) (princípio 2). Após definidos os
PCCs, devem ser estabelecidos limites críticos para cada um deles, os quais deverão ser
monitorados. Como exemplo, no PCC1, do exemplo acima, a temperatura interna do
músculo deve ser menor que 7.º (princípio 3). Os procedimentos de monitoração, sejam
eles realizados por meio de observações visuais, avaliações sensoriais, ou por medições

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 3

químicas, medições físicas e testes microbiológicos, devem ser planejados e


implementados por pessoal treinado (princípio 4). Ações corretivas devem ser sempre
aplicadas quando desvios nos limites estabelecidos ocorrerem. No plano APPCC, os
procedimentos corretivos devem ser detalhados e indicado o responsável pelas ações
(princípio 5). Procedimentos adicionais à monitoração de limites são necessários. Deve-
se fazer a verificação técnica e científica dos valores críticos estabelecidos para cada
PCC, e verificar se o próprio plano APPCC está funcionando adequadamente, o que
pode ocorrer por meio de auditorias externas (princípio 6). Todos os procedimentos e
ações devem ser registrados adequadamente (princípio 7).

Resumo

O sucesso da Gestão da Qualidade só é possível com a participação de todos os


trabalhadores da empresa. Métodos a serem implantados devem ser adequados ao
trabalho de grupos interdisciplinares e de fácil entendimento. Neste capítulo, serão
discutidos os principais instrumentos e métodos que permitem a aplicação prática do
enfoque moderno da Gestão da Qualidade. A aplicação eficiente dos instrumentos e
métodos apresentados só faz sentido numa empresa que os implementa de forma
conseqüente, constante e sistemática.

Atividades n.o 3

1) Quais as condições básicas para a implementação dos instrumentos de gestão da


qualidade no agronegócio e qual o papel do método 5S.

2) Descreva o fluxograma de produção simplificado que ocorre em uma propriedade


rural ou indústria de produção de insumo ou processamento no agronegócio.

36
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Unidade 3

3) Tomando como base o mesmo exemplo do exercício anterior, desenvolva um


esboço do método QFD. O objetivo da atividade é exercitar o método, podendo ser
utilizados dados aproximados.

4) Quais as semelhanças e diferenças entre o FMEA e o APPCC.

5) Desenvolva um esboço de um FMEA, para um erro que possa ocorrer no processo


de produção descrito na questão 2.

6) Determine os pontos críticos de controle do processo de produção esquematizado na


questão 2, indicando a natureza do perigo (microbiológica, química ou física), o
limite crítico aproximado e uma ação preventiva e uma ação corretiva.

37
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

Unidade 4: Certificação conforme normas da


série ISO 9000

Introdução

A sigla ISO 9000 é bastante conhecida e utilizada largamente por empresas,


como instrumento de marketing. Neste capítulo, os princípios da certificação de
sistemas de gestão da qualidade serão apresentados, bem como seus benefícios e
procedimentos. A nova versão da série ISO 9000, aprovada recentemente, será discutida
e comparada com a versão anterior.

Objetivos específicos

Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:


⇒ Compreender a importância, os benefícios e as dificuldades da certificação de
sistemas de gestão da qualidade, conforme normas da série ISO 9000.
⇒ Atuar na avaliação e na implementação da certificação ISO 9000 em empresas e
organizações do agronegócio.

1. Introdução

Em mercados competitivos, além de alcançar níveis de qualidade exigidos


pelos clientes, torna-se necessário estruturar e implementar um sistema eficiente de
garantia de qualidade. Não se trata, simplesmente, de um sistema de atendimento a
reclamações e troca de produtos defeituosos.
38
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

Tais sistemas, denominados Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ), podem


ser certificados por normas internacionais. A certificação não é específica a um tipo de
empresa ou a um produto ou serviço, não contendo portanto, especificações técnicas. O
que se pretende certificar é a capacidade da empresa em produzir, de forma constante,
produtos que atendam, além das normas de segurança e higiene, níveis predefinidos de
qualidade. A partir da última versão da norma, o enfoque foi significativamente
ampliado, passando da visão restrita para o enfoque do aprimoramento do sistema de
gestão da qualidade, focando processos e atendimento das exigências dos clientes.

2. ISO e gestão da qualidade

A ISO é uma federação internacional composta por mais de 140 organizações


nacionais (uma por país), criada em 1947. Sua missão é promover o desenvolvimento da
padronização e atividades correlatas, em nível mundial, contribuindo para o intercâmbio
de produtos e serviços e facilitando o desenvolvimento da cooperação internacional nas
esferas intelectual, cultural, tecnológica e econômica. O nome oficial da ISO é
Organização Internacional para a Normatização. A sigla ISO não é uma abreviação do
nome em inglês “international organization for standartization”, mas derivada do
radical grego ISO, que significa semelhante. A ABNT, Associação Brasileira de
Normas Técnicas, é o representante oficial do Brasil nesta federação internacional, com
sede em Genebra, na Suiça (www.iso.ch).
Antes do lançamento da primeira versão da série ISO 9000, em 1987, as
normas publicadas pela ISO eram bastante específicas e detalhavam padrões técnicos
em diversas áreas, principalmente engenharia. A série 9000 e também a série 14000
definem padrões para sistemas genéricos de gestão. Genéricos porque são válidos para
qualquer tipo de organização, independente da área de atuação, local e tamanho. Por
tratarem de processos e procedimentos gerenciais, as normas tiveram larga aceitação e
despertaram grande interesse de publicações administrativas e econômicas. Tais normas
são constantemente revisadas. A versão de 1994 é ainda a mais utilizada, entretanto, a
partir de 15 de dezembro 2000, foi lançada a nova versão. Por ainda estar sendo
utilizada em diversas empresas e ser válida até o ano de 2003, será apresentado um

39
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

resumo da versão ISO 9000:1994, destacando-se na próxima seção, as melhorias


incorporadas na versão 2000.

3. Versão ISO 9000 - 1994

Na versão 1994, existiam cinco normas diretamente relacionadas com a


questão da qualidade. Duas destas contêm informações gerais (ISO 9000, ISO 9004) e
três, modelos para representação e documentação de sistemas de Gestão da Qualidade
(ISO 9001, ISO 9002 e ISO 9003). Para fins de certificação de toda ou parte da
empresa, uma destas três últimas normas deve ser escolhida.

ISO 9003
ISO 9002
ISO 9000 ISO 9001
ISO 9004
Informações Modelos para
representação e Informações
gerais sobre
documentação de gerais sobre
escolha e
um SGQ estrutura e
utilização das
implantação de
normas 9001-3
um SGQ

SGQ = Sistema de Gestão da Qualidade

Esses três modelos (ISO 9001, 9002 e 9003) diferenciam-se pela quantidade e
pelo grau de exigência com os elementos que compõem um SGQ. A norma ISO 9001 é
a mais ampla, visto que permite a representação de um SGQ que compreenda as fases
de desenvolvimento de novos produtos, produção e atendimento de clientes. A norma
ISO 9002 não contempla a fase de desenvolvimento de novos produtos, sendo esta a
diferença em relação à norma ISO 9001. A norma ISO 9003 é a menos ampla das três,
ou seja, contêm menor número de elementos e as exigências são menos rigorosas. Tal
norma é específica para ao controle do produto final.

40
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

Os 20 elementos que compõem a norma ISO 9001 são listados a seguir:


1. Responsabilidade da administração,
2. Sistema da qualidade,
3. Análise crítica do contrato,
4. Controle de projeto,
5. Controle de documentos,
6. Comprovação da qualidade na aquisição de materiais,
7. Manuseio e gerenciamento de produto fornecido pelo cliente,
8. Identificação e rastreabilidade de produtos,
9. Controle de processos,
10. Inscrição e ensaios,
11. Equipamentos de inspecção e ensaios,
12. Situação de inspeção e ensaios,
13. Controle de produtos não conformes,
14. Ação corretiva,
15. Manuseio, armazenamento, embalagem e expedição,
16. Registro da qualidade,
17. Auditoria interna,
18. Treinamento,
19. Serviço de atendimento a clientes, e
20. Métodos estatísticos.

4. Versão ISO 9000 - 2000

Após diversas reuniões de comitês especializados da ISO, entrou em vigor, em


15 de dezembro de 2002, a nova versão da série ISO 9000, que, em relação à norma
anterior, reforçou os seguintes aspectos:
• Incorporação de necessidades e expectativas dos clientes;
• Adoção mais forte da gestão orientada a processos;
• Compatibilidade com outros sistemas gerenciais, notadamente com as normas da
série ISO 14000 que trata da gestão ambiental;

41
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

• Facilidade de implantação das normas por empresas de menor porte.


A nova versão enfoca a gestão da qualidade, não se restringindo à função
garantia da qualidade. A base para a nova versão são 8 princípios básicos, que servem
de base para premiações de qualidade de diversos países.
1. Foco no cliente,
2. Liderança,
3. Envolvimento de pessoas
4. Abordagem de processo,
5. Abordagem sistêmica para a gestão,
6. Melhoria contínua,
7. Abordagem factual para a tomada de decisões, e
8. Benefícios mútuos nas relações com fornecedores.
Em relação às normas, deixaram de existir as normas ISO 9002 e ISO 9003.
Portanto, só é possível certificar uma empresa a partir de uma norma única, a ISO 9001.
As normas ISO 9000, que trata dos fundamentos e vocabulário de sistemas de gestão da
qualidade, e a ISO 9004, que define as diretrizes para melhorias de desempenho do
sistema de gestão da qualidade, continuam válidas. As seções da ISO 9001 foram
reduzidas, bem como a necessidade de documentação, bastante intensa na versão
anterior, a qual acabava burocratizando e encarecendo o processo de certificação e
manutenção do sistema da qualidade e, muitas vezes, inviabilizava a certificação em
empresas menores.
As seções e os requisitos básicos são apresentados a seguir:
4. Sistemas de Gestão da Qualidade: requisitos gerais, requisitos de documentação,
generalidades, manual da qualidade, controle de documentos, controle de registros.
5. Responsabilidade da Direção: comprometimento da direção, foco no cliente, política
da qualidade, planejamento, objetivos da qualidade, planejamento do sistema de
gestão da qualidade, responsabilidade, autoridade e comunicação, representante da
direção, comunicação interna, análise crítica da direção.
6. Gestão de Recursos: provisão de recursos, recursos humanos, competência,
conscientização, treinamento, infra-estrutura, ambiente de trabalho.
7. Realização do Produto: planejamento de realização do produto, processos
relacionados com clientes, projeto e desenvolvimento, aquisição, produção e
fornecimento de serviço, controle de dispositivos de medição e monitoramento.

42
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

8. Medição, Análise e Melhoria: generalidades, medição e monitoramento, controle de


produtos não-conformes, análise de dados, melhorias.
As seções 1, 2 e 3 são introdutórias.

Responsabilidade Medições, Análise


da direção (5) e Melhoria (8)
1. Foco no Cliente
2. Liderança
3. Envolvimento de Pessoas
4. Abordagem de Processo
5. Abordagem Sistêmica
6. Melhoria Contínua
7. AbordagemFactual
8. BenefíciosMútuos na Relação
com Fornecedor
Gestão de Realização do
Recursos (6) Produto (7)

Sistema de Gestão da Qualidade (4)

ISO 9000 versão 2000

5. Implementação da ISO 9000 no agronegócio

As grandes empresas que produzem insumos e as de processamento no


agronegócio já mantêm sistemas de gestão da qualidade certificados pela ISO 9000. A
certificação de empresas rurais por estas normas é, entretanto, bastante rara, no exterior
e, principalmente, no Brasil.
Na Europa, existem experiências de certificação em alguns países. A
Dinamarca implantou, em meados dos anos noventa, um ambicioso programa de gestão
ambiental e de qualidade com base em certificação por normas ISO, denominado
KVAMILLA. Por meio deste programa, diversos produtores rurais tiveram a
oportunidade de certificar seus sistemas de gestão da qualidade, utilizando modelos-

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

padrão desenvolvidos pela equipe do programa. Os resultados apresentados foram


bastante satisfatórios, pois tal programa, aliado a uma excelente organização da cadeia
de produção de leite e principalmente suínos, tem dado contribuição significativa para o
aumento da competitividade desses produtos dinamarqueses em mercados altamente
exigentes, como o europeu e, principalmente, o mercado japonês de carne suína
(KNUDSEN, 1997).
No Brasil, há poucos exemplos de certificação. Uma experiência de sucesso é a
fazenda Alegria, no município de Funilândia em Minas Gerais. A empresa recebeu, em
1999, a certificação ISO 9002, pelo processo de cria de novilhas. Foi realizado um
intenso trabalho de treinamento da mão-de-obra, com implantação do método 5S e
programas de auditoria e premiação da qualidade. O método 5W+1H, no qual em cada
processo há as questões o quê?, onde?, quando?, quem? e como?, é detalhado e serve de
base para a padronização de todos os procedimentos operacionais (BALDE BRANCO,
1999).
As exigências da certificação da série ISO 9000, versão 1994, e os custos de
implantação de um sistema de gestão da qualidade impedem que empresas rurais
possam certificar seus sistemas de qualidade conforme esta versão. A nova versão
certamente, facilitará a certificação de empresas rurais. Entretanto, os maiores desafios
são a capacitação gerencial e a falta de treinamento da mão-de-obra. A certificação, na
maioria da empresas rurais, é certamente, um cenário ainda distante. O que faz parte da
realidade é o aumento das exigências dos consumidores com a qualidade e origem dos
alimentos.

Resumo

Com o aprimoramento das normas da série ISO 9000, em sua última versão
(2000), o foco da certificação deixou de ser exclusivamente a garantia da qualidade,
para contemplar todo o sistema de gestão da qualidade. O atendimento das exigências
dos clientes é fundamento básico, o que torna a certificação um instrumento de
competitividade das empresas. No agronegócio, enquanto empresas industriais de
grande porte já certificaram seus sistemas, normas ISO 9000 em empresas rurais ainda

44
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 4

são extremamente raras. A pressão por qualidade, principalmente em relação a


alimentos, tem aumentado a importância de sistemas de controle e rastreabilidade.

Atividades n.o 4

1) Discuta as diferenças básicas entre a versão de 1994 e a versão atual (2000), da série
ISO 9000.

2) Quais os benefícios, para uma cadeia de produção, da certificação de empresas


rurais?

3) A certificação ISO 9000, em empresas rurais, é factível na realidade brasileira?


Justifique sua resposta e apresente, caso seja procedente, alternativas que possam
viabilizar a implementação de um sistema de controle.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 5

Unidade 5: Aplicações da gestão da qualidade no


agronegócio

Introdução

A aplicação prática da gestão da qualidade no agronegócio é apresentada neste


módulo. A importância da forma de organização da cadeia de produção é destacada na
primeira seção. São apresentados sistemas integrados de gestão da qualidade na
suinocultura de três países europeus. O segundo tópico trata do fluxo de informação no
agronegócio e utiliza, como instrumento básico, o método FMEA, incorporado a um
sistema informatizado. O sistema adequa-se a sistemas integrados de gestão da
qualidade, como o caso da SADIA.

Objetivos específicos

Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:


⇒ Compreender as inter-relações e a importância da forma de organização da cadeia
em sistemas de gestão da qualidade.
⇒ Perceber o papel fundamental do fluxo de informações na gestão da qualidade e
avaliar a relevância da implantação de um sistema informatizado.

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Unidade 5

1. Gestão da qualidade na produção integrada de


carne suína, na Holanda, Dinamarca e Alema-
nha1

a) Introdução
A indústria de processamento de carne na União Européia, em conseqüência do
aumento da competição e da crescente exigência do consumidor, tem implantado,
intensivamente, sistemas de gestão da qualidade. O objetivo de tais sistemas é atender
às exigências dos consumidores e, ao mesmo tempo, manter a competitividade em
preços. Tais sistemas, quando certificados por normas internacionais da série ISO 9000,
permitem comprovar a capacidade da empresa em produzir conforme níveis
preestabelecidos de qualidade (SCHIEFER, 1994). Entretanto, a certificação de um, ou
mesmo de todos os componentes de uma cadeia produtiva, não garante,
necessariamente, que os níveis de qualidade das empresas sejam sempre compatíveis
entre si.
Diante dessa situação, tornou-se necessário, além da implantação de sistemas
de gerenciamento da qualidade, definir critérios unificados, organizar e implementar um
sistema integrado de gerenciamento da qualidade. Na suinocultura européia, onde a
competição por mercados saturados ou próximo da saturação é especialmente intensa, a
garantia da qualidade é condição indispensável para manter-se no mercado.
Na próxima seção, será apresentada, resumidamente, a situação da suinocultura
na Europa. A seguir, os três modelos de sistemas integrados de gerenciamento da
qualidade serão discutidos e comparados.

b) Situação da suinocultura na União Européia


A agricultura dos países da União Européia (UE) sofre grande pressão para
ajustar-se às políticas macroeconômicas, como a introdução da moeda comum, o Euro.
A Política Agrícola Comum (PAC) também sofreu modificações recentes. Tais ajustes
representam diminuição de incentivos e de subsídios e aumento ainda maior da
concorrência em mercados saturados ou próximos da saturação.

1
Esta seção tem como base o artigo de SILVA JR. et al. (1997), Gerenciamento da qualidade na produção
de carne suína: análise comparativa entre sistemas integrados na Holanda, Dinamarca e Alemanha.
Revista de Economia Rural.
47
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Unidade 5

Na indústria de processamento de produtos de origem animal e na suinocultura,


em particular, além da forte concorrência, é também cada vez maior a pressão dos
consumidores sobre a qualidade dos produtos e a preocupação com os direitos dos
animais e com os efeitos ecológicos. Os escândalos que envolvem a produção de carne,
principalmente o problema da doença da vaca louca (BSE) e febre aftosa, inicialmente
na Inglaterra e posteriormente em diversos países europeus, afetam, negativamente,
todo o setor. Com isto, aumenta ainda mais a preocupação dos consumidores com a
qualidade, o que, para muitos consumidores significa diminuir o consumo ou mesmo
excluir carnes dos hábitos alimentares.
Os principais produtores de suínos na Europa são Alemanha com 24,7 milhões
de animais, o que representa 22,7% do total da UE e a Espanha com 18,3 milhões,
seguida da Holanda, da França e da Dinamarca com 13,9, 12 e 10,8 milhões de animais
respectivamente (WINDHORST, 1995).
A suinocultura da UE, com vistas em se adaptar à forte concorrência, sofre um
processo acentuado de concentração da produção, que permite economias de escala. A
suinocultura, na Dinamarca, Holanda e Bélgica/Luxemburgo, é marcadamente voltada
para a exportação para o mercado inglês e para o mercado alemão. Na Dinamarca, a
produção atende a 446% do consumo interno; na Holanda, 275%, e na
Bélgica/Luxemburgo, 173%. Apesar de ser o maior produtor de suínos, a produção na
Alemanha atende somente a 79% do mercado interno, taxa que tem decrescido nos
últimos anos (WINDHORST, 1995). A competição pelo mercado europeu,
principalmente pelo mercado alemão, é especialmente acirrada. Na Alemanha, o fator
qualidade é cada vez mais importante, e a permanência no mercado depende da
capacidade em atender às exigências dos consumidores, sem, contudo, aumentar custos.

c) Organização e controle por meio de contrato de produção (modelo alemão)


No modelo avaliado da Alemanha, a organização e o controle do sistema de
gerenciamento da qualidade são definidos pela indústria de processamento, mediante
contratos. No contrato de produção, são especificados pela indústria as características
do produto e os critérios de qualidade a serem seguidos (HELBIG, 1995). Não há
controle externo.
O produtor rural compromete-se a:
• Deixar que o controle médico-veterinário seja realizado somente por veterinários
conveniados;
48
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 5

• Utilizar somente medicamentos permitidos e documentar, formalmente, sua


utilização e
• Observar as regras relacionadas com emprego de alimentos e formas de alimentação
prescritas.
Conforme HELBIG (1995), o acréscimo no pagamento, obtido pelo produtor,
não cobre os custos adicionais para obtenção dos níveis de qualidade exigidos.
Entretanto, a compra da produção é garantida no contrato.
A indústria, por seu lado, compromete-se, além de garantir a aquisição da
produção do contratado, a fornecer informações sobre o plantel, obtidas durante o abate
(por exemplo, resultados de necrópsia de pulmão, que indica a presença ou ausência de
pneumonia enzoótica no rebanho). Entretanto, a análise de tais informações, de extrema
importância no gerenciamento da qualidade do rebanho suíno, deve ser realizada pelo
produtor rural. Nesse sistema não está incluído o serviço de consultoria.
A integração da indústria, além de garantir o abastecimento, permite o controle
da qualidade de forma mais eficiente, reduzindo, principalmente, gastos no controle da
matéria-prima. Há também compra de produtores não-integrados, nesse caso, há um
controle adicional (ver figura abaixo).

3 grandes Comprador
fornecedores c/ cláusulas
certificados p/ qualidade
Abatedouro /
Indústria
2300 Comprador s/
produtores cláusulas p/
integrados qualidade

1000 Controle LEGENDA


produtores Produto
adicional
independentes Informacao

Organização e controle por meio de contrato (Alemanha)

Nesse modelo, até o momento, somente três grandes produtores tiveram seus
sistemas de gerenciamento da qualidade certificados por normas internacionais da série

49
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Unidade 5

ISO 9000. Para obter a certificação é necessário, entre outras exigências, documentar e
atender a critérios de garantia de qualidade no processo de entrega de produtos. Para a
indústria, a situação ideal é ter somente produtores certificados, o que significa gastos
ainda menores no controle inicial. Para o produtor, a certificação envolve gastos
significativos. Considerando-se somente a auditoria exigida, os custos chegavam a cerca
de 5.000 DM (AGRIZERT, 1996), que equivalem a cerca de 2.500 Euros.

d) Organização e controle externos (modelo holandês)


Uma organização estatal é responsável pela organização e pelo controle no
modelo holandês. O sistema é conhecido como IKB (no original, “Integrele Keten
Beheersing” Controle Integrado da Cadeia Produtiva) e é responsável pela organização
entre os integrantes do sistema. Em cada etapa do processo de produção, há normas que
especificam as exigências correspondentes ao próximo componente da cadeia produtiva.
O objetivo do sistema é aprimorar a imagem do produto holandês e assegurar
que critérios, como o direito dos animais, sejam seguidos e assegurados.
Os produtores rurais devem seguir as seguintes normas:
• Identificar cada animal;
• Documentar dados sobre cada animal, conforme especificações da IKB;
• Permitir que somente veterinários credenciados atuem na empresa e que sejam
utilizados somente medicamentos permitidos pela IKB;
• Utilizar somente alimentos produzidos conforme normas GMP (good manufacturing
practice);
• Respeitar os direitos dos animais; e
• Transportar os animais de acordo com as normas prescritas pela IKB.
O gerenciamento do sistema em relação aos produtores rurais, a concessão do
certificado IKB e a auditoria bianual, nas propriedades participantes do sistema, são
executados pelo abatedouro, que também deve ter o certificado IKB. Na definição dos
critérios de qualidade não há participação de produtores rurais, que têm, portanto, uma
função passiva na Gestão da Qualidade da cadeia produtiva.
Como no modelo alemão, o valor do adicional recebido na venda do produto
no sistema IKB, não cobre os gastos adicionais (HELBIG, 1995). Nesse sistema, são
garantidas ao produtor rural a compra de sua produção e a disponibilização de
informações, mas serviços de consultoria também não estão incluídos no sistema.

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Unidade 5

A vantagem do sistema é obtida por toda a cadeia, na forma de conquista de


mercado no exterior. Entretanto, o certificado IKB é conhecido somente em nível
nacional. Na Holanda, discute-se a possibilidade de compatibilizar o sistema IKB, que
enfoca basicamente o gerenciamento da qualidade do produto, com normas
internacionais, como a série ISO 9000, que certifica a capacidade da empresa em
produzir conforme níveis predefinidos de qualidade. Como no modelo alemão, observa-
se também acentuada redução nos custos de controle durante a aquisição de matérias-
primas.

IKB
Produtor de Racao
Consumi-
dor
Veteri-nário

Abatedouro
Criacao Engorda / Industria Varejo

LEGENDA
Produto

Intermediário Informacao

Organização e controle externo (IKB Holanda)

e) Organização e controle participativo (modelo dinarmaquês)


O desenvolvimento do modelo dinarmaquês é resultado do trabalho conjunto
entre abatedouros e extensionistas rurais. A organização do sistema integrado de
produção é baseada nas normas da série ISO 9000 e incorpora elementos do enfoque
moderno da Gestão da Qualidade (Total Quality Management), como, por exemplo, os
chamados “círculos da qualidade” (SILVA JR., 1996a). Há dois níveis de círculos de
qualidade. No primeiro (círculo de qualidade nível I, ver Figura a seguir), os critérios de
qualidade são discutidos, sistematizados e avaliados pelos produtores rurais, juntamente
com os empregados, o médico veterinário e o extensionista da empresa, em forma de
auditorias internas. Em tais discussões, o produtor rural tem oportunidade de adaptar as
exigências, de caráter geral dos clientes da cadeia produtiva, às condições específicas de
sua propriedade. No segundo nível, os critérios de qualidade para toda a cadeia

51
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 5

produtiva são discutidos uma ou duas vezes por ano (círculo de qualidade nível II, ver
Figura a seguir). Esses grupos interdisciplinares são compostos por dois a três
representantes dos produtores rurais, um extensionista, um médico veterinário, um
representante do abatedouro e um especialista em Gestão da Qualidade.
Como o Sistema de Gestão da Qualidade na produção de suínos é certificado
conforme as normas ISO 9000, o controle principal, neste modelo, não é executado pelo
abatedouro, mas por um organismo externo e independente.
O produtor rural tem participação ativa em todo o processo. Ao lado da
exigência de adotar o enfoque de satisfação dos desejos e expectativas do cliente, o
produtor tem autonomia na implementação das medidas que se adaptem melhor às
condições específicas de sua empresa. Com o aperfeiçoamento do Sistema de Gestão da
Qualidade e sua documentação, o processo produtivo torna-se, para o produtor rural,
cada vez mais transparente, o que aumenta, consideravelmente, a eficiência do trabalho
extensionista. Com o tempo, o processo de documentação torna-se menos complicado e
desgastante, reduzindo-se a cerca de cinco minutos diários, o que facilita e diminui os
custos do processo de certificação da empresa, conforme normas internacionais
(HELBIG, 1996).
Para o abatedouro, a certificação de empresas rurais permite garantir a
qualidade do produto conforme critérios unificados para toda cadeia produtiva. Com a
participação ativa de todos os integrantes da cadeia, a qualidade pode ser continuamente
aprimorada.

Circulo da Qualidade II Orgao


Governa-
mental

Veterinario Consultor

Producao Abatedouro /
certificada Industria

LEGENDA
Produtor Produto
de racao Círculo da Qualidade I
Informacao

Organização e controle participativo (Dinamarca)

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Unidade 5

f) Conclusão
Para a indústria, os três modelos de sistema integrado de Gestão da Qualidade
apresentam vantagens sobre a produção independente. Com a adoção de critérios de
qualidade pelo produtor rural, seja mediante contrato, como no modelo alemão, seja
mediante normas válidas para todo o sistema, como nos modelos holandês e
dinamarquês, há diminuição no custo de controle de matéria-prima.
Para o produtor rural, a garantia de compra da produção pela indústria é um
benefício considerável, mesmo que a bonificação recebida em decorrência da produção
entregue à indústria não cubra os custos adicionais. De forma indireta, o produtor
também se beneficia da conquista de mercado em razão do aumento da competitividade
da cadeia produtiva como um todo. Nesse aspecto, os modelos holandês e,
principalmente, dinamarquês têm-se mostrado mais eficientes.
Dos três modelos avaliados, o modelo dinamarquês tem sido o mais eficiente,
ou seja, o produto “carne de suíno” e o processo “produção agrícola”, da Dinamarca,
atendem às exigências do consumidor final e dos clientes internos da cadeia produtiva,
sem, contudo, perder competitividade em preço. Com o aumento da preocupação dos
consumidores com a qualidade do produto e também com o processo produtivo (direito
dos animais, preocupação com a preservação do meio ambiente), espera-se que o
modelo implantado na Dinamarca traga benefícios ainda maiores para os produtores
desse país. Além da vantagem estrutural (criação intensiva com ganhos de escala) e da
excelente infra-estrutura na Dinamarca, o aumento de 84% nas exportações, no período
de 1970 a 1996, é também atribuído ao modelo de Gestão da Qualidade implantado, que
incorpora elementos da Gestão da Qualidade e é certificado conforme normas
internacionais (WINDHORST, 1996).

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Unidade 5

2. A gestão informatizada da qualidade na exten-


são rural da empresa Sadia2

a) Introdução
Dado o aumento das exigências dos consumidores, é cada vez mais importante
a organização da cadeia produtiva em sistemas integrados, que, além do aumento da
eficiência econômica, garantam também o atendimento dos níveis exigidos de
qualidade. O fluxo adequado de informações é indispensável à uniformidade e
eficiência desses sistemas. Na Europa, principalmente Dinamarca e Holanda, modelos
de gestão integrada de qualidade na cadeia produtiva foram implantados com sucesso
(SILVA JR., 1997). No Brasil, a empresa Sadia S.A. desenvolve um sistema inovador
de Gestão da Qualidade, o TQS (Total Quality Sadia) (RIBAS JR., 1996a, RIBAS JR.,
1996b).
Nesses modelos de gestão integrada da qualidade, a extensão rural tem papel
primordial. A matéria-prima para a indústria é produzida em unidades agrícolas
isoladas, com características socioeconômicas e edafoclimáticas distintas, o que
dificulta a obtenção de produtos padronizados. A extensão rural é, nesse contexto, o
elemento de ligação entre os outros elementos da cadeia e o produtor rural. Ela deve
facilitar o fluxo de informações, auxiliando os produtores rurais a aperfeiçoarem seu
processo produtivo, mantendo a eficiência econômica e oferecendo produtos que atenda
às exigências de seu cliente imediato, o abatedouro, e, em última instância, do
consumidor final. A própria extensão rural é também um elemento da cadeia produtiva,
e o aperfeiçoamento do processo extensionista contribui para o sucesso do
empreendimento rural e para a obtenção de produtos de qualidade, objetivo de todos em
uma cadeia de produção de alimentos.
A existência de um sistema de informações é condição indispensável à
implantação da gestão integrada da qualidade em sistema produtivos. A informatização
adequada pode contribuir, significativamente, para o aumento da eficiência do sistema,
permitindo obter ganhos de produtividade em propriedades rurais, no serviço de
extensão e, indiretamente, em toda a cadeia produtiva.

2
Artigo apresentado no XXXVI Congresso da Sober. Referência: SILVA JR et al. (1998): Gestão
Informatizada da Qualidade em Sistemas de Produção Integrada: uma aplicação na Extensão Rural da
Sadia S.A. O segundo e terceiro autores são especialistas da empresa Sadia.
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b) Objetivos
O objetivo geral do trabalho é apoiar a Gestão da Qualidade em propriedades
rurais integradas, mediante um sistema informatizado. Os objetivos específicos são:
1) Aumentar a eficiência das atividades de planejamento, implementação, garantia
e aperfeiçoamento da qualidade. Tal efeito é medido, diretamente, a partir da
diminuição do número de erros no processo produtivo e do nível de reclamações do
cliente imediato (condenações pelo abatedouro).
2) Aprimorar o processo extensionista, por meio da disponibilização de informações
atualizadas, padronizadas e de forma adequada. A interação mais efetiva entre o
técnico e o produtor rural é medida pela diminuição do tempo despendido na busca,
na análise e na utilização correta de informações durante o processo decisório.
3) Permitir a manutenção e disponibilização, de forma padronizada, de novos
conhecimentos gerados na empresa, diminuindo também o custo de treinamento de
novos funcionários.
4) Contribuir para o aumento da eficiência da cadeia produtiva, como um todo.
Sistemas informatizados de gestão da qualidade mais modernos permitem a
integração de todas as atividades de gestão de qualidade em uma empresa ou cadeia
produtiva. Os dados são armazenados em bancos de dados independentes, o que permite
reduzir custos, evitar redundância de dados, além de possibilitar a padronização das
informações. Tais sistemas, com o uso de computadores portáteis, podem ser utilizados,
em nível de campo, por extensionistas e até mesmo por produtores rurais.

c) Extensão Rural na Sadia


A extensão rural da empresa Sadia S.A. objetiva “contribuir com os
fornecedores ajudando a definir a qualidade e os custos dos animais entregues ao
frigorífico”, tendo como missão “produzir alimentos para o consumo humano e
contribuir para a felicidade das pessoas” (DALMAZO, 1997; RIBAS JR., 1996a).
A Sadia S.A. conta com cerca de 12.000 produtores integrados, concentrados
nos Estados da região Sul do Brasil. A empresa rural típica é de caráter familiar e tem
em média, 20 ha. A variabilidade de produção e os problemas típicos da pequena
produção, como baixa produtividade e rentabilidade do empreendimento rural, são os
desafios enfrentados pela extensão rural da Sadia S.A.
No escopo do Programa de Qualidade “Total Qualidade Sadia”, foi
desenvolvido e implementado um programa específico para o setor agrícola. Produtores
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rurais, dentro do enfoque moderno de Gestão da Qualidade, são fornecedores de


matéria-prima e também clientes da assistência técnica. Ferramentas da administração
rural adequadas à realidade da pequena produção familiar são repassadas aos produtores
rurais.
Um sistema de informações permite que cada produtor possa comparar, com o
uso de métodos econômicos e estatísticos simples, seus resultados com índices obtidos
por empresas rurais semelhantes. O programa tem como base o treinamento e a
participação do produtor rural, e seu sucesso depende da transmissão de informações, na
forma adequada ao produtor rural. A figura, a seguir, esquematiza o fluxo de
informações na cadeia de produção de carnes.

Indústria de Empresa Rural Indústria


Insumos Processamento

Extensão Grupos de
Rural Discussão

Coordenação

Fluxo de informações em cadeias de produção integrada

A extensão rural tem decisivo papel de ligação entre a produção agrícola e


outros componentes da cadeia produtiva. Um órgão centralizado (coordenação) permite
o repasse e a uniformidade de informações. O fluxo adequado e eficiente de
informações e a capacidade de utilizá-las no processo decisório, com o objetivo de
atender às exigências dos clientes por meio do aprimoramento constante do processo
produtivo, influenciam o sucesso ou o fracasso de toda a cadeia produtiva.
Um sistema informatizado, ao tornar o fluxo de informações mais eficaz e
eficiente, pode contribuir, decisivamente, para o sucesso de um programa de qualidade.

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Unidade 5

d) O sistema TQSoft
A partir da necessidade de aumentar a eficiência da Gestão da Qualidade em
cadeias de produção integrada de alimentos, foi desenvolvido um sistema
informatizado, o TQSoft, que se destina aos extensionistas e aos produtores rurais de
uma cadeia de produção integrada. Como exigência básica, todos os produtores rurais
devem ser beneficiados pelo sistema, independente da existência de recursos de
informática na propriedade rural. Para tal, pressupõe-se que exista um computador
central na indústria e que os extensionistas tenham acesso a computadores portáteis.
Como o processo extensionista é dinâmico, novos conhecimentos são gerados
constantemente e devem ser armazenados adequadamente e disponibilizados para todos,
no menor espaço de tempo possível. Assim, evita-se que extensionistas e produtores
rurais desperdicem tempo e recursos escassos na busca da resolução de um problema,
quando uma solução adequada já existe.
Um sistema de informações só será eficaz se permitir que as informações
possam ser usadas, de forma eficiente, na solução de problemas, em nível de campo. O
produtor ou o extensionista deverá dispor de informações claras e precisas sobre as
exigências a serem atendidas e ter condições de detectar problemas, a tempo, e
implementar corretamente a ação mais adequada e de menor custo. Na figura a seguir, é
esquematizado o processo de solução de um problema.
O produtor observa um sintoma e procura detectar o problema, suas causas e
suas prováveis conseqüências, para, a seguir, tomar medidas mais adequadas. Em
sistemas biológicos, como é o caso da agricultura, a análise de erros é altamente
complexa. Mesmo produtores experientes são confrontados, a cada dia,. com novos
problemas que exigem ações imediatas. Caso um erro não seja detectado, é necessário
acionar um especialista, o que resulta necessariamente, em atrasos e custos adicionais.
A detecção incorreta de um erro leva a conseqüências imprevisíveis, com aumento de
custos para o produtor rural e, muitas vezes, como no caso da não-detecção de doenças
infecciosas, por exemplo, provoca grandes prejuízos a toda a cadeia produtiva.
Detectado um erro, é necessário descobrir suas causas e definir e implementar as ações
adequadas. Todo o processo deve ser documentado, com o objetivo de demonstrar a
existência de um sistema de detecção e correção de erros. Assim, a empresa rural poderá
comprovar se os produtos de qualidade oferecidos por ela não são obra do acaso, mas
resultado do esforço constante e sistemático em aprimorar a qualidade.

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Unidade 5

Observacao
de sintomas

acionar
especialistas erro
nao
(atrasos, definido
custos)
sim

correto nao
descartes,
reparos,desper
dícios, custos ...
sim

Continuacao
da análise
documen-
tacao
acionar
especialistas acoes
nao
(atrasos, definidas
custos)
sim

acoes
nao
descartes,
corretas reparos,desper
dícios, custos ...
sim

implementar
acoes
documen-
tacao

Processo de solução de um problema

Falhas no processo produtivo provocam, necessariamente, custos adicionais


que devem ser evitados ou, na pior das hipóteses, minimizados.
Com vistas em aumentar a qualidade do próprio sistema informatizado,
produtores rurais e extensionistas alemães e brasileiros participaram, ativamente, no
desenvolvimento do sistema, desde a fase inicial até os testes finais. Todas as
exigências, críticas e observações foram formalizadas em modelos, que foram
apresentados posteriormente em seminários científicos internacionais (SILVA JR.,
1995; SILVA JR., 1996; SILVA JR., 1996b; SILVA JR., 1997). Tais modelos
acadêmicos serviram de base para o desenvolvimento de protótipos, inicialmente em
forma de esboço em papel até obter-se um sistema adequado aos testes finais.
O sistema final, composto de sete módulos, foi dividido em três grupos
principais:

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Unidade 5

• Informações,
• Análise,
• Documentação.
O grupo informações permite o acesso a informações sobre erros, exigências
dos clientes e leis relacionadas com produção agrícola. O grupo análise permite que
essas informações sejam analisadas no contexto específico de cada propriedade rural,
incluindo, aqui, avaliação de custos relacionados com qualidade e o relacionamento
entre índices técnicos e possíveis erros. O grupo documentação possibilita a
documentação das análise e ações implementadas na empresa rural.
As figuras, a seguir, mostram algumas telas do programa. Para atender às
exigências dos usuários finais e em razão dos resultados das discussões durante o
desenvolvimento, a utilização do sistema foi simplificada ao máximo. Exigem-se
apenas conhecimentos elementares de utilização de um “mouse”, sendo todas as funções
acessadas por meio do acionamento de botões.
Ao acionar o módulo erros, realiza-se uma análise detalhada dos erros que
possam ocorrer durante a produção agrícola, e ao determinar as causas de erros, podem-
se implementar ações preventivas. O módulo permite determinar, corretamente, erros a
partir de sintomas observados no campo e implementar as ações mais adequadas.
Recursos de multimídia facilitam a análise, visto que aumenta significativamente, o
grau de acerto na identificação de erros e na implementação de ações adequadas.

Tela principal do Sistema Informatizado de Gestão da Qualidad “TQSoft“.

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Unidade 5

Módulo “Erros“ do Sistema “TQSoft“.

O módulo índices técnicos permite que conseqüências de erros, refletidas em


indicadores técnicos indesejados, sejam relacionadas com erros, permitindo, assim, uma
análise detalhada de causas. Definida a causa, podem-se implementar as ações
corretivas adequadas.

Módulo “Índices Técnicos“ do Sistema “TQSoft“

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Unidade 5

O módulo documentação permite anotar e documentar todas as ações de


planejamento, implementação e aprimoramento da qualidade desenvolvidas na empresa,
podendo conter informações detalhadas sobre as perguntas: o quê, quem, quando, onde,
porquê e como.

Módulo“Documentação“ do Sistema “TQSoft“

Os módulos leis e clientes, seguem a mesma estrutura básica e permitem,


respectivamente: acessar informações sobre leis relacionadas a produção suína,
exigências dos clientes (abatedouro e consumidor final).

e) Avaliação do sistema
Os dados básicos da análise foram obtidos por meio de testes realizados na
Alemanha e no Brasil. Os testes consistiram em questionários que continham cenários,
nos quais produtores rurais e extensionistas deveriam solucionar problemas relevantes
que ocorrem na produção de suínos, com e sem uso do sistema. Foi utilizado um lap-
top, e as questões foram respondidas no escritórios de extensão rural e na própria
propriedade rural.
Sem o uso do sistema, cerca de 50% das perguntas foram respondidas
incorretamente ou estavam incompletas. Com o sistema, 93% das respostas foram

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Unidade 5

respondidas corretamente. Em relação ao tempo de resposta, foram necessários, em


média, cerca de 17 minutos para que o usuário sem o sistema apresentasse as respostas
(corretas, falsas ou incompletas) das questões propostas. Com o uso do sistema, o tempo
médio reduziu-se para menos de 3 minutos.

f) Resultados e discussão
O sistema informatizado mostrou-se eficaz e eficiente no apoio à gestão da
qualidade em empresas rurais, ou seja, com o sistema obtiveram-se respostas corretas
para os problemas propostos, e de forma mais rápida. A implementação do sistema pode
contribuir, decisivamente, para o aumento da qualidade, ou seja, com informações
disponibilizadas no momento e na forma adequadas, podem-se atender às exigências do
cliente pelo aprimoramento do processo produtivo.
Em programas de Gestão da Qualidade que busquem o aprimoramento
constante da qualidade, como o TQS da empresa Sadia S.A., o sistema informatizado
pode ser uma ferramenta de grande utilidade na manutenção, na uniformização e na
ampliação dos conhecimentos acumulados durante anos e nos novos conhecimentos
gerados continuamente pela interação de produtores rurais, extensionistas e
especialistas.

Resumo

A forma de organização da cadeia de produção influencia, diretamente, a


gestão da qualidade no agronegócio. Sistemas integrados, como ocorre no modelo da
Holanda e, principalmente, no modelo dinamarquês, facilitam a implementação de
programas de gestão da qualidade. No Brasil, cadeias de produção de suínos e,
principalmente, de aves estão fortemente integradas, o que facilita a implementação de
programas de qualidade. O FMEA é um instrumento básico na implementação da gestão
da qualidade, pois permite que causas e conseqüências de erros sejam estruturadas. Um
sistema informatizado de gestão da qualidade, tendo como base a utilização do método
FMEA, desenvolvido para cadeias de produção integrada, foi apresentado e discutido.

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Unidade 5

Atividades n.o 5

1) Tomando-se como exemplo uma cadeia de produção no agronegócio, discuta os


benefícios e as dificuldades na implementação de um sistema integrado de gestão da
qualidade.

2) Para a mesma cadeia utilizada no exemplo acima, indique as informações que cada
segmento da cadeia de produção deve obter do segmento anterior.

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Unidade 6

Unidade 6: Gestão ambiental no agronegócio

Introdução

A atividade econômica interage com o meio ambiente por meio da utilização


de recursos naturais, emissão de dejetos e descarte de produtos. O crescente número de
desastres ambientais provocado, por empresas, tem despertado a opinião pública
mundial para a importância do gerenciamento adequado dos recursos naturais, controle
de poluentes e reciclagem de produtos. Normas e controles mais rígidos têm sido
implementados, e o fato de um número cada vez maior de consumidores levarem em
consideração, na decisão de compra, o efeito ambiental de produtos e subprodutos torna
a gestão ambiental um componente estratégico para a competitividade das empresas.

Objetivos específicos

Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:


⇒ Compreender a importância estratégica da gestão ambiental no agronegócio;
⇒ Atuar na implementação de um sistema de gestão ambiental em empresas e
organizações do agronegócio;
⇒ Atuar na avaliação e na implementação da certificação ISO 14000 em empresas e
organizações do agronegócio; e
⇒ Compreender a importância do fluxo de informações e ter condições de avaliar a
relevância de sistemas informatizados na gestão ambiental.

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Unidade 6

1. Importância do meio ambiente no agronegócio

Todos os elementos de uma cadeia de produção no agronegócio, desde


atividades industriais na produção de insumos e processamento de produtos
agropecuários, até o transporte e as atividades em empresas rurais, afetam diretamente o
meio ambiente. O elemento básico do agronegócio, ou seja, a matéria-prima
agropecuária, é produzido em empresas que utilizam recursos e interagem, diretamente,
com o meio ambiente.
A adoção de tecnologias modernas viabilizou a expansão da produção agrícola
e o aumento altamente expressivo da produtividade. Por outro lado, o desmatamento de
área de florestas e, principalmente, a utilização de defensivos agrícolas aumentaram o
risco ambiental. A comprovação e a divulgação desses efeitos foram importantes
marcos históricos do movimento ambientalista. No início da década de 60, a ecologista
Rachel Carson publicou o livro “Primavera Silenciosa“, no qual os efeitos ecológicos da
utilização de inseticidas e pesticidas na agricultura americana foram apresentados. Tais
produtos controlavam, inicialmente com grande eficiência, a população de insetos e
outras pragas, ocasionando entretanto, a morte de pássaros, predadores naturais dos
insetos. A ausência de predadadores possibilitava o surgimento de populações ainda
maiores de insetos, as quais demandavam quantidades crescentes de defensivos, levando
a alta taxas de contaminação em rios e lagos. A pressão de movimentos ecológicos
sobre o uso de defensivos agrícolas começou a obter resultados. Atualmente,
pesquisadores têm desenvolvido técnicas de manejo e defensivos menos agressivos. Os
efeitos ambientais da agropecuária sobre o meio ambiente são, entretanto, bem mais
amplos que a contaminação de pássaros, rios e lagos por defensivos.
A gestão ambiental de uma empresas rural deve levar em consideração
aspectos como:
• responsabilidade ambiental,
• infra-estrutura ambiental,
• tratamento de efluentes,
• embalagens de produtos tóxicos,
• reservas florestais,
• condições da água, solo e ar, e

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Unidade 6

• manuseio e utilização de produtos tóxicos.


A legislação ambiental é cada vez mais rigorosa, e os custos de multas são
crescentes. Evitar multas é somente um aspecto da preocupação com o meio ambiente
no agronegócio. A fonte primária de recursos para qualquer atividade produtiva e, mais
diretamente, o agronegócio, é o meio ambiente. Preserva-lo é, portanto, uma decisão
econômica estratégica para qualquer empresa.

2. Sistemas de gestão ambiental

Gestão ambiental é definida como “o planejamento, implementação, controle e


aprimoramento de todas atividades conduzidas em uma empresa tendo como objetivo a
conservação do meio ambiente, incluindo também a gerência da empresa e dos
recursos humanos”.
Os benefícios da implementação de um Sistema de Gestão Ambiental pode se
estruturados como mostrado a seguir:
• Redução de custos
- economia de matéria-prima
- aumento da produtividade
- redução do consumo de energia
- redução de dejetos
• Melhoria da competitividade da empresa
- melhoria da imagem da empresa em face à opinião pública
- conquista de novos clientes e mercados
- melhoria do posicionamento no mercado
• Melhoria da organização interna na empresa
- motivação dos empregados
- melhoria da qualificação dos empregados
• Redução de riscos
- diminuição de risco de processos legais contra a empresa
- diminuição do custo de seguros
- aumento do limite de crédito

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Unidade 6

- diminuição das exigência para aprovação de projetos


- análise de erros na empresa
As questões fundamentais que devem ser respondidas pelas empresas, quando
estas procuram melhorar seu desempenho ambiental, são: i) Qual a situação atual ?; ii)
Quais os objetivos e metas ambientais ?; e iii) Como concretizar objetivos e metas ?
Um Sistema de Gestão Ambiental é composto por cinco etapas básicas, entre
as quais há uma retroalimentação constante.

1.
2.
Comprometimento
Elaboração do
e definição da política
plano de ação
ambiental

Melhoria
5. contínua 3.
Revisão do Implantação e
SGA Operacionalização

4.
Avaliação Periódica
Sistema de gestão ambiental

A política ambiental de uma empresa, conforme a ISO 14001, constitui-se de


uma “declaração de princípios e intenções da empresa em relação ao seu desempenho
ambiental, e que devem nortear o planejamento de ações e o estabelecimento de seus
objetivos e metas ambientais” (GAZETA MERCANTIL, 1996). Outras normas e
procedimentos da empresa devem ser compatíveis com a política ambiental, que deverá
também se adequar à natureza, ao porte e aos impactos ambientais dos processos
produtivos desenvolvidos na empresa.
Para elaboração do plano de ação, instrumento básico para a concretização da
Gestão Ambiental, é necessário que a empresa avalie seu desempenho ambiental. A

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Unidade 6

Norma ISO 14031 apresenta as diretrizes para avaliação do desempenho ambiental, que
inclui:
• indicadores de desempenho ambiental, e
• indicadores de condição ambiental.
Em um projeto do IHL (Instituto Herbert Levy), SEBRAE e IBAMA, foi
publicado um questionário de auto-avaliação, que permite quantificar o desempenho
ambiental em 20 critérios, numa escala de 1 a 5. Abaixo, são apresentados os critérios e
a condição para que a empresa obtenha a pontuação máxima (5).
1. Política de meio ambiente: a política de meio ambiente expressa o
comprometimento da alta gerência com a melhoria contínua do desempenho
ambiental da empresa e está claramente definida, documentada e divulgada para
todos os empregados.
2. Aspectos ambientais: como parte do processo de identificação dos aspectos
ambientais, a empresa identifica suas atividades, produtos e serviços considerados
críticos, por poderem causar impactos ambientais adversos no meio ambiente da
região onde opera.
3. Requisitos legais: Leis, decretos, resoluções e portarias federais, estaduais e
municipais, assim como códigos e práticas setoriais relativos à qualidade ambiental,
estão documentados, são periodicamente atualizados e divulgados em toda a
empresa.
4. Objetivos e metas: com base na política de meio ambiente e nos seus aspectos
ambientais considerados críticos, a empresa estabelece seus objetivos e metas
ambientais.
5. Gestão da qualidade do ar: a empresa implementa programa de gestão da qualidade
do ar com instrumentos de monitoramento na sua área de influência.
6. Gestão da qualidade da água: a empresa realiza a gestão da qualidade da água. Os
monitoramentos periódicos dos efluentes líquidos e do corpo receptor apresentam
resultados compatíveis com os padrões legais.
7. Gestão do consumo de água e energia: a empresa implementa um processo de
racionalização do consumo de água e energia.
8. Gestão de resíduos: a empresa mantém um inventário atualizado de todos os seus
resíduos. É meta da empresa reduzir, continuamente, a sua geração de resíduos;
reutilizá-los.

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Unidade 6

9. Gestão de produtos perigosos: o inventário de produtos perigosos é periodicamente


atualizado e o seu manuseio, armazenamento e transporte ocorrem em
conformidade com os requisitos legais específicos. Os empregados são treinados
para esta tarefa.
10. Alocação de recursos: a empresa vem, periodicamente, alocando recursos
finaceiros, e,ou, físicos e,ou, humanos para investir na melhoria de seu desempenho
ambiental.
11. Atribuições e responsabilidades: a empresa atribui responsabilidades ambientais aos
seus empregados. A avaliação de desempenho de seus gerentes e líderes inclui
requisitos de conscientização de seus empregados.
12. Conscientização e treinamento: a empresa investe, continuamente, em programas
de treinamento e no processo de conscientização de seus empregados.
13. Comunicação interna: a empresa tem um sistema de comunicação interna. A
política de meio ambiente, os objetivos e metas ambientais e os planos da empresa
são conhecidos por todos os empregados.
14. Comunicação externa: há procedimento interno específico que regulamenta o
processo de comunicação da empresa com a comunidade, clientes, fornecedores e
orgãos do governo, no que se refere aos assuntos de meio ambiente.
15. Documentação: a empresa mantém um sistema de informações atualizado, inclusive
um Manual de Gestão Ambiental. Cada setor da empresa mantém uma cópia
atualizada desse Manual.
16. Controle operacional: existem procedimentos e instruções de trabalho específicos
para todos os processos, atividades e tarefas, caracterizados como ambientalmente
críticos na empresa.
17. Ações de emergência: o plano de ação de emergência existente na empresa abrange
ações para prevenir e minimizar os impactos ambientais adversos. Os empregados
são periodicamente treinados para agir frente às situações de emergência.
18. Medições: a empresa realiza medições e monitoramentos periódicos do seu
desempenho ambiental, para implementar ações corretivas e preventivas que se
façam necessárias e melhorar, continuamente, seus resultados.
19. Avaliações ambientais: a empresa realiza avaliações periódicas, documentadas, do
seu desempenho ambiental.

69
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio
Unidade 6

20. Melhoria contínua: a empresa revisa periodicamente sua política, seus objetivos e
sua metas ambientais, a partir dos resultados das medições, do monitoramentos e
das avaliações ambientais.
Após avaliação ambiental e definição da política ambiental, a empresa deve
realizar o planejamento para que o plano de ação possa ser disponibilizado. O plano de
ação deve ser integrado ao plano estratégico da empresa e revisto regularmente. O
fluxograma ambiental define os elementos iniciais do plano, quais sejam, os aspectos
ambientais e os impactos ambientais. A avaliação de impactos ambientais é realizada
por meio de metodologias específicas para cada aspecto ambiental e que considerem
escala, intensidade, duração e probabilidade de ocorrência do impacto.

FLUXOGRAMA ASPECTOS IMPACTOS


PROCESSO AMBIENTAIS AMBIENTAIS


insumos → atividade 1 → O que é gerado ? Para onde vai ?


insumos → atividade 2 → Como é gerado ? Quais são as conseqüências para
o meio ambiente ?

A seguir, é apresentado um exemplo de um plano de ação.

70
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio
Aspectos Critérios internos
Impactos Requisitos legais Objetivos Metas Prazos Custos Responsabilidades
ambientais de desempenho

Estabelecer um canal de
comunicação com a Receber 100 avaliações
Incômodo à Nível de percepção
Odor Reclamação zero comunidade e implementar a positivas por parte da 6 meses x R$ Profissional ou setor responsável
comunidade do odor
melhor tecnologia prática comunidade

ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio


possível
71

Exemplo de plano de ação (GAZETA MERCANTIL, 1996)

Unidade 6
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Unidade 6

3. Certificação ISO 14000

Como as normas da série ISO 9000, as normas da série ISO 14000 não são
padrões de produtos. Essas normas permitem a certificação de sistemas de
gerenciamentos de processos que influenciam a qualidade (ISO 9000) ou processos que
possam causar impactos no meio ambiente (ISO 14000). O enfoque na melhoria de
processos é o enfoque básico de ambos os sistemas. Diferentemente da gestão da
qualidade, em que, em última instância, a qualidade do produto é fundamental, na
gestão ambiental, emissões, subprodutos, consumo de fatores de produção, além do uso
e descarte do produto são igualmente importantes
A crescente preocupação com o meio ambiente tem levado a aumentos
expressivos do número de certificações, bem como no número de países que já possuem
empresas e organizações certificadas. Até o final de 2000, foram emitidos 22.897
certificados em 98 países (CZAJA, 2002).
Além da ISO 14000, existe uma norma européia de certificação, conhecida
como EMAS (environmental management and audit schema). O decreto foi ratificado
pelo Conselho da União Européia (UE), que trata da gestão ambiental que entrou em
vigor em 11 de abril de 1995.
As exigências básicas dessas normas internacionais são as seguintes:
• Definição de uma política ambiental,
• Definição de metas,
• Formulação de um plano para conservação ambiental,
• Integração da conservação ambiental na estrutura e na rotina da empresa,
• Condução de auditorias internas e controle relacionado com a gestão ambiental, e
• Definição do aprimoramento constante do meio ambiente como uma obrigação da
empresa.
Apesar da existência, em comum destas exigências básicas, as duas normas
diferenciam-se nos aspectos jurídicos, no grau de detalhamento das exigências e na
obrigação da divulgação pública da política ambiental da empresas, obrigatória na
normas EMAS (KESSELER, 1997).
Existem diversas normas na série ISO 14000, que tratam deste especificações e
diretrizes, passando pelos procedimentos de certificação, qualificação de auditores e
avaliação ambiental. As normas são complementares, sendo a principal delas a ISO
72
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Unidade 6

14001. esta norma norteia os procedimentos a serem implementados por um sistema de


Gestão Ambiental e permite que uma empresa obtenha um certificado.
Algumas normas da série ISO 14000 são apresentadas abaixo.
- ISO 14001: Sistema de Gestão Ambiental, especificações e diretrizes para uso.
- ISO 14004: Sistemas de Gestão Ambiental, diretrizes gerais sobre princípios,
sistemas e técnicas de apoio.
- ISO 14010: Diretrizes para Auditoria Ambiental, princípios gerais.
- ISO 14011: Diretrizes para Auditoria Ambiental, procedimentos de auditoria –
auditoria de sistemas
- ISO 14012: Diretrizes para Auditoria Ambiental, critérios de qualificação para
auditores ambientais.
- ISO 14031: Diretrizes para Gerenciamento Ambiental e para Avaliação de
Desempenho Ambiental.
A certificação de sistema de gestão ambiental na agricultura, como a
certificação da gestão da qualidade, é bastante rara. O programa Kvamilla, desenvolvido
na Dinamarca, permitiu que empresas rurais obtivessem certificados ISO 9000 e ISO
14000, a partir de um modelo básico desenvolvido por extensionistas rurais, o qual
permitiu a redução de custos da certificação.
No Brasil, a fazenda Daterra do grupo Dpachoal, em Patrocínio, obteve a
certificação ISO 14000 no processamento de café. Outros projetos estão em andamento,
mas os custos são altos.

4. Sistema informatizado de gestão ambiental

A disponibilidade de informações adequadas é imprescindível para à gestão


ambiental e a obtenção de uma certificação, na tomada de decisões gerenciais que
possam afetar o meio ambiente (sistema de gestão ambiental) e na comunicação interna
na empresa e na sociedade.
Um sistema informatizado de gestão ambiental é a implementação prática de
um sistema de informações ambientais em empresas, definido, conforme Hilty, citado
por KESSELER (1997), como “um sistema organizacional-técnico de compilação,

73
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Unidade 6

análise e disponibilização de informações relevantes ambientalmente numa empresa”.


Tal sistema permite a compilação de efeitos atuais e potenciais no meio ambiente,
provocados pela atividade produtiva de uma empresa, além de auxiliar a implementação
de ações preventivas e corretivas. Além de apoiar a documentação, tal sistema é
também um instrumento de planejamento, implementação e controle da gestão
ambiental.
O sistema de informações da própria empresas é a principal fonte de dados
para o sistema. O balanço ambiental é a segunda fonte de informações mais importante.
A certificação conforme as normas EMAS ou ISO 14001 gera informações importantes
que alimentarão o sistema. Por outro lado, a existência de um sistema informatizado em
uma empresa simplifica o processo de certificação. Informações externas são obtidas no
ambiente externo da empresa e na cadeia produtiva.
Um sistema computadorizado teria como função principal disponibilizar
informações relevantes para a gestão ambiental, contribuindo para a diminuição dos
efeitos no meio ambiente da atividade agrícola conforme o esquema mostrado na figura
abaixo.

Informações Informações Política


de outros Externas Leis
elementos da Economia
cadeia Tecnologia
produtiva Sociedade

BUIS

monitoramento balanço de relatórios planejamento


ambiental materia prima documentação e apoio a
e energia decisão

elementos do sistema de controle ambiental da empresa

Informações Internas

Estrutura esquemática de um sistema de informações ambientais

74
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Unidade 6

A implementação de um sistema de informações é imprescindível ao controle


de impactos ambientais em uma cadeia de produção no agronegócio, no qual o fluxo de
informações ocorre de forma eficiente. A agricultura é o elemento problemático, seja
em razão do número e da dispersão das empresas, seja em razão falta de infra-estrutura
de comunicação e, principalmente, dificuldades gerenciais.

Resumo

Em razão da preocupação com a questão ambiental da sociedade e dos


consumidores, a gestão ambiental tornou-se um fator crítico de sucesso para as
empresas. É, portanto, imprescindível que empresas e organizações do agronegócio
implementem sistemas de gestão ambiental que possam minimizar impactos ambientais
de suas atividades produtivas. Um sistema de gestão ambiental pode ser certificado por
normas internacionais da série ISO 14000, garantindo que a empresa dispõe de um
sistema gerencial que determine a política ambiental, as metas, os planos de
conservação ambiental e o sistema de controle interno. Como na gestão da qualidade, a
disponibilidade e divulgação de informações é imprescindível para que a empresa atinja,
de forma eficiente, metas de conservação ambiental, pleitear uma certificação ISO e
comunicar-se eficientemente com seus consumidores e sociedade.

Atividades n.o 6

1) Justifique a importância da questão ambiental no agronegócio, utilizando, como


exemplo uma cadeia de produção.

2) Elabore um plano de ação para três atividades de um processo produtivo qualquer no


agronegócio.

3) Qual o impacto atual da certificação ISO 14000 no agronegócio e o que se espera,


nos próximos anos.

75
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Unidade 6

4) Faça um esboço (em forma de uma tela de um programa de computador) das


principais informações que um sistema informatizado de gestão ambiental deva
disponibilizar.

76
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Resumo final

O desenvolvimento dos principais enfoques da gestão da qualidade convergem


para os princípios básicos do enfoque moderno: atendimento de exigências dos clientes,
prevenção de erros e garantia da qualidade. Instrumentos e métodos foram
desenvolvidos, principalmente no Japão, os quais permitem a implementação da gestão
da qualidade em empresas e organizações. A certificação de sistemas de gestão da
qualidade por meio da série ISO 9000 é crescente. Os principais elementos da versão
1994 e da versão 2000 da norma ISO 9000 foram apresentados e discutidos tomando
como referência as especificidades do agronegócio. Exemplos da aplicação prática da
gestão da qualidade foram ilustrados por meio da análise de diferentes sistemas
integrados de produção na suinocultura européia. Outro exemplo apresentado, o sistema
TQSoft, mostra a importância do fluxo de informação e os benefícios da tecnologia da
informação no aprimoramento e garantia da qualidade em cadeias de produção no
agronegócio. A importância crescente da questão ambiental foi discutida e os elementos
básicos de um sistema de gestão ambiental foram apresentados.

Avaliação final

1) Aplique um instrumento, discutido no capítulo 3, para um produto agropecuário.


Utilize, tanto quanto possível, informações reais e atualizadas.

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Anexo

ANÁLISE DO CICLO DE VIDA NA GESTÃO AMBIENTAL DA


SUINOCULTURA 3

1. CARACTERIZAÇÃO

A sociedade em geral espera das companhias um maior compromisso


ambiental em todos os seus processos e os padrões de SGA’s exigem melhoria
contínua no desempenho ambiental. A Análise do Ciclo de Vida e sua utilização para
melhoria dos aspectos ambientais de produtos e processos é uma forma de atender
essas exigências (PRÉ CONSULTANTS, 2002b).
O termo Análise do Ciclo de Vida – ACV foi traduzido para o português pela
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que é a representante brasileira
na ISO. A denominação original, em inglês, é "Life Cycle Assessment – LCA". A
Análise do Ciclo de Vida foi definida na norma ISO 14040 (1997) “como a compilação
e avaliação de entradas e saídas e de potenciais impactos ambientais dos sistemas de
produção por todo seu ciclo de vida”. A figura 1 esquematiza o fluxo em um sistema
industrial.
A ACV cobre todo o uso de materiais e energia, bem como as emissões feitas
pelo sistema de produção por todo o ciclo de vida do produto, numa perspectiva
denominada "do início ao fim"(cradle-to-grave), que inclui desde a extração e o
processamento das matérias primas, distribuição, uso, reuso, manutenção,
reciclagem, destino final e todo o transporte envolvido.

3
Resumo da tese do Eng. Agrônomo, MS. Economia Rural GIOVANNO PRETTO (PRETTO, G.
Técnica de análise do ciclo de vida para gerenciamento ambiental de propriedades produtoras de suínos.
Viçosa:UFV, 2003. 124p.)
81
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Figura 1 - Esquema simplificado de entradas e saídas em um sistema industrial.


ENTRADAS SAÍDAS

Lixo Sólido
Matéria-prima
Emissões para o ar
SISTEMA
Emissões para água
Energia/combustíveis
Produtos Utilizáveis

2. OPERACIONALIZAÇÃO DA ACV

A realização de um estudo de ACV requer uma seqüência ordenada de ações,


cujos procedimentos fundamentais são: i) identificar as unidades operacionais que
compõem um sistema definido; ii) coletar dados de entradas e saídas para cada
unidade operacional; iii) alocar os dados de entradas e saídas entre co-produtos4 de
uma mesma unidade; iv) agregar os dados de entradas e saídas, em uma base, dentro
da unidade; e v) normalizar alocação/agregação dos dados em relação a uma unidade
funcional (RHODES e BROWN, 1999).
Aliando esses procedimentos fundamentais com a estrutura técnica proposta
pela SETAC (Society for Environmental Toxicology and Chemistry), dividiu-se a ACV
em quatro estágios principais (Figura 2).

Figura 2 – Fases da ACV (Fonte: ISO 14040, 1997)

Estrutura da Avaliação do Ciclo de Vida

1. Definição do
objetivo e escopo

2. Inventário do ciclo 4. Interpretação


de vida

3. Avaliação do
impacto do ciclo de
vida

4
Co-produtos: produtos secundários gerados juntamente à uma atividade principal. Exemplo, a cama de
aviário numa produção de frangos de corte.

82
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

Dentro desses estágios é importante ter bem claro a distinção entre as partes
objetivas e subjetivas. O primeiro estágio é considerado subjetivo, uma vez que é
guiado por preferências individuais para escolha dos objetivos e encaminhamentos do
estudo. A fase do inventário, por sua vez, é considerada um processo direto e,
portanto, objetiva. A avaliação do impacto envolve ambas as partes, objetiva e
subjetiva. Por fim, a fase de interpretação é claramente subjetiva, pois, mais uma vez,
depende de julgamentos individuais.

As categorias de impactos devem ser agregadas, pois muitas substâncias


contribuiem com mais de um tipo de impacto, como é exemplificado na figura abaixo.

Figura 3 – Esquema simplificado da relação de algumas substâncias com um


mesmo efeito ambiental (Fonte: OWENS, 1996).

Efeito primário
Hidrólise Transporte ou direto
NO HNO3 aéreo
HNO3

Transporte Chuva Morte


Oxidação aéreo Acidificação
SO H2SO4
ácida das águas de peixes
H2SO4

Transporte
HC aéreo Efeito secundário
HCl ou indireto

Existem diversas classificações das categorias de impacto, as principais são


apresentadas abaixo.

Tabela 1 – Principais categorias de impacto e unidades de referência.


Categorias de impacto Unidade padrão Abrangência
Recursos renováveis = Gasto – Renovação Regional/Global
Reserva mundial
Efeito estufa CO2 equivalente Global
Camada de ozônio g CFC-11 Global
Acidificação g SO2 equivalente Local/Regional
Eutrofização g PO4 equivalente Local/Regional
Lixo sólido kg de lixo sólido Local
5
SMOG g etileno equivalente Local
Uso de energia MJ de energia Local
Eco-toxicidade DL50 Local/Regional
Toxicidade humana Não definida Local
Fonte: JOHANSSON (1999), adaptado pelo autor.

5
SMOG – é uma mistura química de gases, como óxidos de nitrogênio, compostos voláteis orgânicos,
sulfetos, ácidos e partículas de matéria, que formam uma espécie de bruma opaca, geralmente
escurecida .

83
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Durante a avaliação de impacto, é realizada opcionalmente a “normalização”.


A normalização reflete a contribuição de cada categoria. Utiliza-se valores de
referência, normalmente uso e emissão per capita.

Tabela 2 – Valores de referência para os impactos ambientais.


Categorias de impacto Valores de referência
Efeito estufa 33 kg CO2 eq/capita/dia
Acidificação 266 g SO2 eq/capita/dia
Eutrofização 145 g PO4 eq/capita/dia
Lixo sólido 2,35 kg/capita/dia
SMOG 49 g etileno eq/capita/dia
Uso de energia 460 MJ/capita/dia
Fonte: JOHANSSON (1999), adaptado pelo autor.

3. PROCEDIMENTO E DADOS

Foi utilizada a técnica de Análise do Ciclo de Vida dos produtos para analisar o
impacto ambiental potencial dos resíduos de dois sistemas de manejo de suínos em
fase de crescimento e terminação. Foi feita análise comparativa do impacto ambiental
dos dejetos do sistema tradicional de criação, que realiza a lavação das baias para
limpeza dos resíduos dos animais, com um sistema alternativo, onde os animais são
criados sobre cama sobreposta, sendo os resíduos ficam “armazenados” nas próprias
camas.
Foram escolhidos esses dois sistemas de criação para serem comparados, por
que o sistema de lavação das baias é o sistema tradicionalmente usado nas
suinoculturas do Brasil. No sistema tradicional de criação, nas fases de creche,
crescimento e terminação predominam o piso do tipo ripado, que exige lavação das
baias, sendo utilizado por cerca de 81% dos produtores.
O sistema da criação sobre cama sobreposta foi introduzido no país em 1993,
pela EMBRAPA – Suínos e Aves e, posteriormente, implantado em duas unidades de
observação nas fases de crescimento e terminação. Esse sistema de criação é
adotado, atualmente, em cerca de 100 granjas produtoras no Brasil.
Foi definido nesse estudo que a unidade funcional seria “um suíno terminado
com peso médio de 100 kg” e que os limites, dentro do sistema produtivo de uma
suinocultura, seriam as fases de crescimento e terminação.
Em relação aos dados gerais que foram objeto de análise nesse estudo,
encontram-se os dados chamados de secundários, pois provém da coleta em
trabalhos e publicações acessíveis na literatura disponível. Especificamente, os dados
relativos à atividade suinícola foram coletados de publicações da EMBRAPA – Suínos
e Aves.
Adotou-se como fluxogramas dos processos produtivos o esquema que pode
ser visualizado na figura 4.

84
Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

Figura 4 – Entradas e saídas do sistema produtivo da suinocultura.

ENTRADAS SAÍDAS

Ração
Dejetos Líquidos
Água
Cama SUINOC ULTURA Resíduos Sólidos

Energia Elétrica
Lixo Sólido
M edicam entos

Foram escolhidas as seguintes categorias de impacto: efeito estufa,


acidificação e eutrofização, definidas segundo GOEDKOOP et al. (1995) como:
- Efeito estufa: o esperado aumento da temperatura como resultado da crescente
concentração de gases que restringem a radiação de calor pela Terra;
- Acidificação: degradação de florestas por chuva ácida;
- Eutrofização: desaparecimento de plantas raras que crescem em solos pobres,
como resultado da emissão de substâncias que tem efeito fertilizante e, também,
mudanças em ecossistemas aquáticos.
A caracterização foi feita convertendo-se os dados do inventário em unidades
comuns mediante fatores de equivalência. Para essa pesquisa, optou-se pelo uso dos
indicadores recomendados pelo “Eco-Indicador 95”.
Em relação à suinocultura foi feita uma descrição do sistema produtivo de
uma suinocultura intensiva. A Figura 5 apresenta a representação esquemática do
sistema de produção completo de uma suinocultura.

Figura 5 – Representação esquemática do sistema de produção de suínos.

Parto Cobertura

Lactação Matriz Gestação

Leitões
Reposição

Creche Crescimento Terminação

Venda

Acompanhando-se o esquema da Figura 10 e considerando-se apenas uma


matriz, após o parto de uma leitegada, ela amamenta os filhotes por 21 dias, na
chamada fase de lactação. Logo em seguida será coberta e ficará em gestação por
114 dias, quando voltará a parir outra leitegada. Cada leitegada tem, em média, 10
leitões.
Após os 21 dias, os leitões são separados da porca e encaminhados para um
galpão chamado de creche, onde ficam por cerca de 35 dias. Desse galpão eles são
transferidos para outro onde entram na fase chamada de crescimento, que dura em

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média 49 dias. Ao final desse tempo, os leitões entram na fase de terminação, mas
permanecem no mesmo local. Essa fase dura aproximadamente 42 dias, até os
animais atingirem o peso de venda. Nesse ponto, algumas fêmeas podem ser
mantidas no plantel para substituírem as matrizes mais velhas, ficando cerca de 56
dias até serem cobertas e entrarem no sistema na fase de gestação.
Todo esse ciclo dura exatas 21 semanas, assim, as granjas comerciais
trabalham com escalas de produção semanal.
Nesse sentido, uma granja foi considerada pequena, quando trabalhar com
cerca de 230 matrizes – considerando os problemas que podem ocorrer com os
animais, como morte, não cobertura, doenças – para ter uma média de 10 partos por
semana com 10 leitões por parto, o que levará a uma produção de 100 terminados por
semana, prontos para serem vendidos.
Para granjas maiores, fez-se o cálculo da escala de produção através de uma
progressão aritmética, onde foram consideradas como grandes granjas as que
trabalham com cerca de 1840 matrizes que proporcionam 80 partos por semana e
produzem em torno de 800 terminados por semana, prontos para venda.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A metodologia da Análise do Ciclo de Vida, determina que, na fase de


inventário, deve-se construir o fluxograma do sistema de produção em questão. Na
Figura 6, está descrito, de forma agregada, o fluxograma das atividades das fases de
crescimento e terminação da suinocultura.

Figura 6 – Fluxograma das fases de crescimento e terminação da suinocultura.

P re par o das baias

C o lo c ação do s anim ais

P lane jame nto o pe r ac io nal:


m ane jo e alim e ntação

C o ntro le de pe so

Ve nda

Como o fluxograma apresentado na Figura 6 está construído de forma


agregada, pode-se, dependendo do objetivo do estudo, desagregar cada etapa citada,
construindo, então, um novo fluxograma que irá detalhar as etapas relevantes para o
trabalho.

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Em virtude de esse estudo analisar os dejetos produzidos em dois sistemas


distintos, serão desagregados e descritos em fluxogramas individuais, as etapas de
“preparo das baias” (Figura 7) e “planejamento operacional: manejo e alimentação”
(Figura 8) para cada sistema.

Figura 7 – Fluxogramas da etapa de “preparo das baias” em ambos os sistemas.

SISTEMA DE LAVAÇÃO SISTEMA DE CAMA SOBREPOSTA

Lavar baias Retirar cama

Passar amônia ou fogo Limpar pocilga

Revisar equipamentos Revisar equipamentos

Caiar Colocar nova cama

Figura 8 – Fluxogramas da etapa de “planejamento operacional: manejo e


alimentação” em ambos os sistemas.

SISTEMA DE LAVAÇÃO SISTEMA DE CAMA SOBREPOSTA

Lavar excrementos Revolver a cama

Controle de doenças Controle de doenças

Alimentar Alimentar

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1) Entradas

• Ração: Cálculo do consumo de ração dos suínos.


Fase Conversão alimentar Ganho de Consumo de ração:
(CA) peso (GP) CA x GP
Crescimento 2,09 31 kg 64,79 kg ração/suíno
Terminação 2,52 41,5 kg 104,58 kg ração/suíno

Total 169,37 kg ração/suíno


Fonte: Dados da pesquisa

• Água: Cálculo do gasto de água nos dois sistemas em estudo.


Sistema Consumoa/ Limpeza – baiasb/ Total
Lavação 423,7 l/suíno 182 l/suíno 605,7 l/suíno
Cama 446,4 l/suíno - 446,4 l/suíno
a/ b/
Fontes: - OLIVEIRA (2000)., - OLIVEIRA (1995).

• Cama biodegradável
A quantidade de cama que entra no sistema é de 46,2 kg/suíno. Para se
chegar a esse valor procederam-se os seguintes cálculos: a área recomendada por
animal é de 1,10 m2 e a espessura da cama de 0,60 m. Tem-se, assim, um volume de
0,66 m3. Como a densidade da maravalha é de 300 kg/m3, obtêm-se o peso de 198 kg
de maravalha, que, acrescido de 40% (79,2 kg), devido à compactação, resulta em
277,2 kg. Segundo OLIVEIRA et al. (2002) podem ser criados até 6 lotes sobre cada
cama, dessa forma, chega-se ao valor de 46,2 kg de cama por animal.

• Energia elétrica
Foi considerada como entrada de energia elétrica no sistema 6,19 Kwh por
suíno. Contudo, é necessário transformar esse valor para uma unidade padrão, no
caso, megajoule (MJ). Como 1 Kwh eqüivale a 36 x 10 5 J, diretamente deduz-se que
6,19 Kwh eqüivalem a 22,28 x 106 J, ou 22,28 MJ. Portanto, será considerado como
entrada de energia elétrica no sistema 22,28 MJ.

• Medicamentos
Outra entrada nos sistemas é de medicamentos, como antibióticos e vacinas.
Porém, apesar de ter conhecimento dessa entrada, ela não será considerada nesse
estudo, uma vez que não existem relatos de pesquisas feitas no sentido de quantificar
a entrada de medicamentos na suinocultura.

2) Saídas

As principais saídas do sistema suinícola são os dejetos dos animais e o lixo


sólido gerado na produção. Em termos de dejetos, no sistema que realiza lavação das
baias, foi considerada saída, os dejetos líquidos, enquanto no sistema que utiliza cama
sobreposta considerou-se, como saída, os resíduos sólidos da cama.

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• Sistema de lavação

Tabela 3 – Elementos presentes nos dejetos e produção por suíno, no sistema de


lavação.
Elemento Quantidade no dejeto Produção individual
Ntot 9,6 kg/m3 6,115 kg/suíno
PO4a/ 5,3526 kg/m 3
3,410 kg/suíno
NH3 15,2 mg/l 9,682 g/suíno
CO2 799 mg/l 0,509 kg/suíno
Fonte: ITP (1993), citado por OLIVEIRA (2000), adaptado pelo autor.
a/
- Para transformar P2O5 em PO4, segundo RIBEIRO et al.
(1999), utiliza-se um fator multiplicativo de 1,33815.

• Sistema de cama sobreposta

Tabela 4 – Elementos presentes nos resíduos e produção por suíno, no sistema de


cama sobreposta.
Elemento Quantidade no dejeto Produção individual
Ntot 7,9 kg/ton 3,888 kg/suíno
PO4a/ 10,1699 kg/ton 5,005 kg/suíno
NH3 9,7 mg/kg 4,773 g/suíno
CO2 1127 mg/kg 0,555 kg/suíno
Fonte: ITP (1996), citado por OLIVEIRA (2000), adaptado pelo autor.
a/
- Para transformar P2O5 em PO4, segundo RIBEIRO et al.
(1999), utiliza-se um fator multiplicativo de 1,33815.

Como foi estabelecido que o sistema de lavação das baias seria o sistema
padrão, então a concentração dos elementos desses dejetos também será
considerada a concentração padrão, a qual servirá de base para comparação. Assim,
na Figura 9, a linha central representa, exatamente, a concentração padrão dos
dejetos e as barras, para a direita e para a esquerda, representam, respectivamente,
quanto a concentração nos resíduos do sistema de cama sobreposta é maior ou
menor, sempre em termos percentuais.

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Figura 9 – Comparação da diferença percentual entre as saídas do


sistema “cama sobreposta” em relação ao sistema
“lavação das baias”.

CO2 9,04%

NH3 -50,70%

PO4 46,77%

Ntot -36,42%

Analisando a Figura acima, pode-se ter uma visão mais clara da diferença
entre as concentrações dos elementos presentes nos dejetos e que geram algum tipo
de impacto ambiental. No caso da produção de CO2, cuja diferença entre os sistemas
é muito pequena, pode-se perceber que o sistema de cama sobreposta gera cerca de
9% a mais de gás carbônico que o sistema de lavação das baias.
Em relação aos outros valores, a diferença entre os sistemas é clara,
contudo, a Figura 9 dá uma visão mais didática. Constata-se que o sistema alternativo
produz cerca de 50% menos amônia e 36% menos nitrogênio total que o sistema
tradicional. Por outro lado, o sistema de cama sobreposta gera 46,77% mais fosfato
que o sistema de lavação das baias.
De forma complementar, a Figura 10 apresenta, como ilustração, uma
perspectiva completa das entradas e saídas, por suíno, nas fases de crescimento e
terminação em ambos os sistemas, facilitando a visualização das diferenças existentes
entre eles. Fica claro que o sistema de lavação das baias gera muito mais nitrogênio,
seja na forma de amônia ou de nitrogênio total, enquanto o sistema de cama
sobreposta agrega mais fósforo e, ambos geram quantidades semelhantes de gás
carbônico. Quanto às entradas, novamente, percebe-se a grande diferença de
consumo de água entre os dois sistemas.

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Figura 10 – Fluxo de entradas e saídas nos sistemas de lavação e cama sobreposta,


por suíno.

ENTRADAS SAÍDAS

Ração 169,37 kg
6,115 kg Ntot

3,410 kg PO4
Água 605,7 l
SISTEMA DE
LAVAÇÃO
9,682 g NH3
Energia Elétrica 36 MJ
0,509 kg CO2
Medicamentos
Lixo Sólido

Ração 169,37 kg 3,888 kg Ntot

Água 446,4 l
5,005 kg PO4
SISTEMA
Cama DE CAMA
46,2 kg 4,773 g NH3

Energia Elétrica 36 MJ
0,555 kg CO2
Medicamentos Lixo Sólido

Construído o fluxograma do sistema produtivo em estudo e determinadas as


entradas e saídas do sistema completa-se a fase de inventário do ciclo de vida da
ACV. Assim, avançando nas determinações do método, passa-se à fase de avaliação
do impacto do ciclo de vida, cuja primeira etapa é agregar os dados da fase de
inventário nas categorias de impacto definidas. Em seguida, na etapa de
caracterização, deve-se quantificar os impactos através dos fatores de equivalência.
Conforme definido para esse estudo, serão utilizados os fatores de equivalência
descritos pelo Eco-Indicador 95. Nessa etapa também se define a abrangência dos
impactos.
A Tabela 5 apresenta as categorias de impacto, as unidades padrão, as
substâncias que contribuem com esses impactos e a abrangência dos impactos.

91
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Tabela 5 – Categorias de impacto, unidades padrão, substância relacionadas e


abrangência dos impactos.
Categoria de impacto Unidades padrãoa/ Substâncias Abrangência
Efeito estufa CO2 eq. CO2 Global
Acidificação SO2 eq. NH3 Regional
NH3, Ntot, PO4
Eutrofização PO4 eq. Regional
Uso de energia MJ de energia Energia elétrica Local
a/
Fontes: Dados da pesquisa. - JOHANSSON, (1999).

A definição da abrangência dos impactos serve para dar uma idéia dos efeitos,
em termos espaciais, que cada impacto produz. Pode-se considerar que seja uma
informação muito subjetiva, mas certamente é bastante explicativa e demonstrativa de
que os impactos não têm efeito apenas pontual, ou seja, não afetam apenas o local
onde os resíduos ou dejetos são lançados.
Para quantificar o impacto agregado em cada categoria de impacto, deve-se
multiplicar o quanto é produzido de cada substância, individualmente por animal, pelos
fatores de equivalência correspondentes. Esses cálculos são apresentados na Tabela
9.

Tabela 9 – Cálculo dos impactos dos dejetos para cada categoria de impacto, por
animal.
Fatores de Total por
Produção a
Sistema Subst. equivalência substânci Total por categoria
de dejetos /
a
--------------------------- kg/suíno ------------------------ kg/suíno ---------------------------

Efeito estufa
Lavação CO2 0,509 1,00 0,509 0,509 kg CO2 eq
Cama CO2 0,555 1,00 0,555 0,555 kg CO2 eq

Acidificação
Lavação NH3 0,009682 1,88 0,018202 0,018202 kg SO2 eq
Cama NH3 0,004773 1,88 0,008973 0,008973 kg SO2 eq

Eutrofização
Lavação NH3 0,0097 0,33 0,003
Ntot 6,1150 0,42 2,568 5,981 kg PO4 eq
PO4 3,4100 1,00 3,410
Cama NH3 0,0047 0,33 0,001
Ntot 3,8880 0,42 1,633 6,639 kg PO4 eq
PO4 5,0050 1,00 5,005
a/
Fontes: Dados da pesquisa. - GOEDKOOP, (1995)

Com base nos dados apresentados na Tabela 9, vê-se que, em termos do


impacto no efeito estufa, os dois sistemas, de lavação (0,509 kg CO2 eq/suíno) e de
cama sobreposta (0,555 kg CO2 eq/suíno), apresentam valores muito próximos,
indicando que os efeitos dos dejetos líquidos ou dos resíduos sólidos, produzidos por
um único animal durante as fases de crescimento e terminação, são semelhantes.
Mas, apesar de próximos, o resultado do sistema de cama sobreposta é maior,

92
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significando que ele é potencialmente mais impactante do que o sistema de lavação


das baias.
Por outro lado, com relação ao problema da acidificação, apesar dos números
serem muito pequeno, percebe-se que o sistema de lavação (0,018202 kg SO2
eq/suíno) apresenta um valor muito superior ao do outro sistema (0,008973 kg SO2
eq/suíno). Nesse caso pode-se afirmar que, com base nos dados desse estudo, em
termos ambientais, o sistema de lavação das baias, potencialmente, pode causar um
impacto muito maior que o sistema de cama sobreposta em relação à acidificação.
O impacto na acidificação está diretamente relacionada a produção de amônia
(NH3) pelos dejetos. Assim, verificando-se que os dados do dejeto proveniente do
sistema de lavação indicam concentração de amônia muito maior que nos resíduos de
cama, considera-se que esse sistema tem um maior potencial de impacto ambiental
nessa categoria.
Entretanto, deve-se ressaltar que a amônia é muito volátil, ou seja, passa da
forma sólida ou líquida para a forma de vapor com muita facilidade. Portanto, é de se
pressupor que existe uma quantidade de amônia que foi volatilizada e não foi
mensurada.
Analisando o problema da eutrofização, ainda com base nos dados da Tabela
9, visualiza-se que o impacto agregado do sistema que utiliza cama sobreposta (6,639
kg PO4 eq/suíno) é maior que o impacto do sistema que faz lavação das baias (5,981
kg PO4 eq/suíno). Por conseguinte, pode-se inferir que, baseado nos dados dessa
pesquisa, em termos do impacto na eutrofização, o sistema de lavação é melhor, ou
seja, é potencialmente menos impactante em termos ambientais.
Segundo ERISMAN (2000), o nitrogênio, em suas várias formas químicas,
desempenha um papel importante em um grande número de problemas ambientais.
Ele contribui para a acidificação e eutrofização do solo e das águas subterrâneas e de
superfície, diminuindo a vitalidade do ecossistema e a biodiversidade, além de
contaminar as águas subterrâneas com nitrato e alumínio lixiviado.
Diante desse fato, deve-se dar grande atenção à quantidade de nitrogênio que
é produzida nos dejetos e resíduos dos sistemas. Baseando-se na Tabela 9, vê-se que
o sistema de lavação das baias produz mais nitrogênio, tanto na forma de Ntot, quanto
na forma de NH3.
Por outro lado, o sistema de cama sobreposta agrega mais fósforo, o que,
segundo GORREE et al. (2000), é o grande responsável pela eutrofização, junto com
o nitrogênio. ESTEVES (1988) também aponta o fósforo como o principal responsável
pela eutrofização dos ecossistemas aquáticos, sendo que todo fósforo, presente nas
águas naturais, se encontra na forma de fosfato.
O principal tipo de eutrofização é o das águas e isso acontece quando há
presença de N e P em altas concentrações, o que ocasiona o incremento na produção
de biomassa dentro do ecossistema aquático, tornando as águas impróprias para o
consumo. Outrossim, pode reduzir a concentração de oxigênio na água, o que em
casos extremos pode acarretar a morte da fauna aquática.
ERISMAN (2000) destaca ainda que o uso do nitrogênio, tanto na agricultura
quanto na pecuária, é muito ineficiente. O concentrado usado para alimentação dos
suínos apresenta altas concentrações de nitrogênio para estimular o desenvolvimento
do animal, mas apenas 30% do nitrogênio da ração é fixado em carne, os 70%
restante são eliminados no esterco. OLIVEIRA (2001) apresenta uma informação
muito semelhante. Segundo ele, 1/3 do nitrogênio ingerido fica retido no animal, 1/3 é
perdido sob forma de volatilização de amônia e apenas 1/3 fica nos dejetos.
Em termos comparativos, apresenta-se, na Figura 11, a relação percentual entre o
potencial de impacto ambiental dos dejetos do sistema tradicional, de lavação das
baias, e do sistema alternativo, de cama sobreposta, nas diferentes categorias de
impacto.

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Efeito estufa 9,04%

Acidificação -50,70%

Eutrofização 11,01%

Figura 11 – Comparação da diferença percentual entre os impactos do


sistema “cama sobreposta” em relação ao sistema
“lavação das baias”.

A análise comparativa, apresentada na Figura 11, novamente toma como


base de comparação o sistema tradicional de lavação das baias, relacionando, em
termos percentuais, os impactos ambientais potenciais do sistema alternativo com o
sistema tradicional.
Pode-se perceber, claramente, que o sistema de cama sobreposta tem um
potencial de impacto ambiental maior que o sistema tradicional nas categorias de
efeito estufa, 9,04% e eutrofização, 11,01%. Já no caso da acidificação, o sistema
alternativo é melhor, pois tem um poder impactante cerca de 50% menor.
Contudo, para definir qual o sistema que apresenta maior potencial de
impacto ambiental agregado deve-se levar em consideração as características da
região onde a suinocultura está instalada.
Os valores dos diferentes impactos causados por suíno nas fases de
crescimento e terminação, apresentados na Tabela 9 e na Figura 9, talvez não sejam
tão preocupantes, ou tão expressivos. Por isso, e levando em consideração que uma
criação de suínos tem vários animais, apresenta-se na Tabela 10 os impactos
causados por lote de suínos produzidos semanalmente em uma granja considerada
pequena (100 terminados/semana) e em uma considerada grande (800
terminados/semana).

Tabela 10 – Impactos causados por duas granjas produtoras de suínos.


Lavação Cama sobreposta
Granja Ef. Acidif. Eutrof. Energia Ef. estufa Acidif. Eutrof.
Estufa
kg CO2 Kg SO2 kg PO4 MJ kg CO2 kg SO2 Kg PO4
Pequena 50,9 1,82 598,1 2228 55,5 0,90 663,9
Grande 407,2 14,56 4.784,8 17824 444,0 7,18 5.311,7
Fonte: Dados da pesquisa.

Os dados apresentados na Tabela 10, de forma agregada por lote de suínos,


são valores muito mais expressivos e preocupantes, principalmente em relação aos
impactos das grandes granjas produtoras do país. Esses valores extremamente altos
demonstram claramente o problema ambiental, ou o impacto ambiental potencial
dessa atividade produtiva.
Utilizando-se desses valores, pode-se cumprir outra etapa da ACV, dentro da
avaliação do impacto, que é a normalização, ou a comparação do impacto da atividade
em estudo com valores de referência.

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Primeiramente, levando-se em consideração que cada granja produz um lote


por semana, então, dividindo-se os valores da Tabela 10 por 7 dias da semana, será
encontrado o impacto ambiental diário de cada granja. Esse resultado poderá, assim,
ser comparado com os valores de referência usados nesse estudo, que são
apresentados em valores médios diários, per capita, para os seres humanos. Na
Tabela 11 são apresentados os dados da normalização desse estudo.

Tabela 11 – Dados de normalização.


Uso de
Sistema Efeito estufa Acidificação Eutrofização
energia
kg CO2 eq/dia kg SO2 eq/dia kg PO4 eq/dia MJ/dia
Granja Pequena
Lavação 7,27 0,26 85,44 318,29
Cama 7,93 0,13 94,84 318,29
Valor de referênciaa/ 33,0 0,266 0,145 460,0
Granja Grande
Lavação 58,17 2,08 683,54 2546,29
Cama 63,43 1,03 758,81 2546,29
Valor de referênciaa/ 33,0 0,266 0,145 460,0
a/
Fontes: Dados de pesquisa. - JOHANSSON (1999).

A análise comparativa dos dados, ou normalização, apresentada na Tabela 11,


é muito útil para demonstrar o grande potencial impactante da atividade suinícola,
tanto de pequeno quanto de grande porte.
Com base na Tabela 11 nota-se, a princípio, que os valores de menor
gravidade, independente do sistema de manejo adotado, seriam aqueles relacionados
com o impacto no efeito estufa, uma vez que nas pequenas granjas, a produção de
gás carbônico é bem menor que a produção de uma pessoa por dia e nas granjas
maiores, a produção é um pouco maior que a humana.
Entretanto, deve-se ter cuidado antes de fazer inferências sobre isso, pois os
dados considerados nesse estudo avaliaram apenas o impacto do CO2 gerado pelos
dejetos dos animais, restando ainda, o CO2 produzido pela respiração desses animais.
Ante isso, o que se pode afirmar é que os dejetos suínos têm um pequeno potencial
impactante sobre o efeito estufa. Em termos do impacto potencial da atividade
suinícola como um todo, sobre o efeito estufa, não se pode fazer maiores inferências.
Com relação ao uso de energia, que foi considerado o mesmo para os
sistemas de lavação e de cama sobreposta, os dados também não são de muita
gravidade, uma vez que uma pequena granja gasta um pouco menos de energia
diariamente do que uma única pessoa. Já as grandes granjas gastam, diariamente, o
equivalente ao consumo de seis pessoas. Dessa forma, pode-se dizer que o potencial
de impacto sobre o uso de energia, da suinocultura, para as fases de crescimento e
terminação, é pequeno em relação ao consumo humano.
Por outro lado, os dados apresentados na Tabela 11 para a acidificação e,
principalmente, para a eutrofização são preocupantes e, até mesmo, alarmantes do
ponto de vista ambiental.
Com relação a acidificação visualiza-se o poder impactante da suinocultura
quando comparada ao impacto diário humano. Apesar do sistema de lavação ser mais
impactante do que o sistema de cama sobreposta, quando se analisa a produção
individual dos animais, essa diferença passa a ter mais destaque conforme é
aumentada a escala de produção.

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Portanto, o potencial de impacto ambiental dos dejetos suínos, no que diz


respeito a acidificação é considerável. Para granjas pequenas pode-se considerar que
esse impacto também é pequeno, sendo os resíduos sólidos menos impactantes do
que os de uma única pessoa. Entretanto, quando se analisa o impacto potencial dos
dejetos das granjas de grande porte, percebe-se que, enquanto o sistema de cama
sobreposta gera, diariamente, o equivalente ao impacto produzido por 4 pessoas, o
impacto pelo sistema de lavação, no mesmo tempo, eqüivale à 8 pessoas, ou seja,
esse sistema de lavação tem o potencial de gerar um impacto diário proporcional ao
dobro do que o sistema de cama sobreposta.
Com isso, pode-se concluir que, em pequenas produções, o potencial de dano
ambiental dos dejetos líquidos ou dos resíduos sólidos é semelhante, contudo,
conforme se aumenta a escala de produção, o sistema de lavação tem seu impacto
potencializado, tornado-o mais grave do que o produzido no sistema de cama
sobreposta.
No que diz respeito ao potencial de impacto ambiental dos dejetos na
eutrofização, os dados são ainda mais preocupantes, principalmente no sistema de
cama sobreposta, apesar do potencial do sistema de lavação das baias também ser
bastante elevado.
Nas granjas de pequeno porte, o potencial impactante do sistema de lavação
eqüivale ao impacto potencial, diário, de 590 pessoas, enquanto o potencial do
sistema de cama sobreposta é equivalente à produção de 654 pessoas. Isso
demonstra como os dejetos da suinocultura trazem graves problemas de eutrofização,
até mesmo em pequenas propriedades.
Considerando-se as grandes granjas produtoras de suínos do país, vê-se que
os dois sistemas geram muito problema de eutrofização. Os resíduos sólidos
produzidos nessas granjas têm potencial para gerar um impacto equivalente ao gerado
por uma cidade de aproximadamente 5.300 habitantes, diariamente. Por outro lado, os
dejetos líquidos do sistema de lavação, potencialmente, geram um impacto que
eqüivale ao que foi gerado por, “apenas”, 4.714 pessoas.
Portanto, com base nesses dados, pode-se afirmar que o impacto ambiental
potencial da suinocultura, em termos de eutrofização, é muito grande. Para as granjas
que adotam o sistema de lavação das baias, o potencial de impacto é menor, mas não
significa que seja pequeno. Ao contrário, é grande e não deve ser desconsiderado. Já
para aquelas granjas que utilizam o sistema de cama sobreposta, o impacto é muito
maior e bastante grave.

5. CONCLUSÕES

Ao findar o estudo da Análise do Ciclo de Vida dos produtos, as informações


geradas podem ser aplicadas na avaliação de impactos ambientais de forma “isolada”,
isto é, fazendo-se um estudo de ACV e definindo-se os caminhos a serem seguidos,
com base nos resultados do estudo.
Contudo, a ACV pode ser implantada numa empresa como parte integrante do
Sistema de Gestão Ambiental adotado. Nesse caso, a ACV passa a ser uma
ferramenta gerencial e os resultados gerados pelo método são incorporados aos
resultados gerais do SGA, uma vez que as decisões, dentro do SGA, devem ser
baseadas em informações precisas em relação ao processo produtivo e em relação
aos impactos ambientais gerados pela atividade, sejam eles efetivos ou potenciais.
Optando-se por utilizar os resultados da ACV de forma “isolada”, tem-se uma
indicação de qual produto, ou processo, tem menor potencial de impacto ambiental
nas diferentes categorias de impacto. Assim, pode-se escolher diretamente qual
produto, ou processo, será adotado, levando-se em consideração as particularidades
de cada situação. Porém, os maiores obstáculos da tomada de decisão em questões
ambientais, além das características subjetivas, estão nas dificuldades de avaliar e
mensurar precisamente os impactos ambientais.

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Pós-Graduação "Lato Sensu" em Gestão do Agronegócio ERU 580 - Gestão Ambiental e da Qualidade no Agronegócio

Os resultados da ACV são um importante instrumento gerencial, tanto para


empresas e produtores quanto para o governo, uma vez que um estudo amplo e
completo de certa atividade, ou produto, dará indicações precisas dos impactos
potenciais de tal atividade, ou produto. Essas indicações informarão aos gerentes
quais os problemas ambientais da empresa, ou da propriedade, relacionados com tal
atividade, possibilitando um controle direto e preciso das fontes poluidoras. Para o
governo, os resultados da ACV darão subsídios para a criação de políticas ambientais
voltadas para os problemas específicos de cada atividade ou produto.
No caso de se trabalhar com a ACV como uma ferramenta incorporada a um
SGA, ela deve ser integrada ao sistema desde o início, mais especificamente na fase
de “Planejamento”. Nessa fase, a ACV pode ser usada, primeiramente, para
determinar os aspectos ambientais da empresa e os impactos associados, uma vez
que é um método de avaliação de impacto ambiental. Essa é a principal utilização da
ACV dentro de um SGA.
A seguir, a ACV pode ser auxiliar na escolha dos critérios internos de
desempenho e na definição dos objetivos e das metas do programa de gestão
ambiental. Além disso, também é possível se utilizar o método da ACV dentro do SGA,
na fase de “Verificação e ação corretiva”, para o monitoramento e medição das
operações e atividades que foram identificadas como possíveis causadoras de
impacto ambiental.
É importante ressaltar que os resultados produzidos por estudos de ACV
indicam os impactos ambientais potenciais de cada produto ou processo, não
significando, contudo, que esses impactos se tornarão efetivos. Nesse sentido, esses
resultados demonstram as potencialidades impactantes das atividades no Meio
Ambiente servindo, então, para orientar os tomadores de decisão.
Para exemplificar como os resultados da ACV poderiam ser usados no
gerenciamento ambiental da suinocultura, percebe-se que, ao nível de governo, este
poderia adotar medidas para incentivar os produtores a adotarem aquele sistema de
manejo dos dejetos cujos impactos potenciais pudessem ser contornados através das
características da região. Em relação ao produtor, os resultados da ACV poderiam
servir para ele identificar os impactos potenciais de sua atividade e adotar medidas
para minimizar esses impactos, atuando tanto nas entradas quanto nas saídas do
sistema produtivo, por exemplo, no sentido de optar por rações mais assimiláveis
pelos animais ou escolher um substrato menos impactante.
A importância do gerenciamento ambiental também pode ser visualizada
quando se constata que, desde 1996, a Comunidade Européia determinou que
deveriam ser definidos e estabelecidos objetivos e metas para qualidade do ar, além
de avaliar a qualidade ambiental do ar com métodos e critérios comuns, sendo obtidas
informações constantes sobre essa qualidade .
É claro que para tomar qualquer medida, baseando-se em dados de estudos
de ACV, deve-se ter certeza que o estudo realizado é realmente completo, que seguiu
todos os princípios definidos pelo método e que foi baseado em dados confiáveis e de
qualidade comprovada.
Em suma, independente dos resultados de um estudo de ACV serem
utilizados de forma “isolada” ou integrada a um SGA, ou de serem utilizados pelo
governo, por empresas ou ao nível de campo, deve-se ter claro que esses resultados
podem ser um instrumento gerencial útil e importante no sentido de auxiliar o processo
de tomada de decisão relativo a questões ambientais, principalmente no caso de
impactos ambientais.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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