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(1832/34-1851)
Desde que assumiu a regência liberal nos Açores, a 3 de março de 1832, D. Pedro não se
poupou a esforços para que o cartismo triunfasse e à sua sombra se construísse o Portugal
novo.
O clero foi especialmente afetado pela legislação liberal. O facto de muitos mosteiros
terem apoiado ativamente o absolutismo miguelista permitiu ao Ministério de D. Pedro
efetivar uma serie de medidas tendentes à eliminação do clero regular. Expulsaram-se os
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Jesuítas, que D. Miguel acolhera em 1829, e proibiram-se os noviciados em qualquer
mosteiro. Finalmente, por um decreto de 1834, da autoria de Joaquim António de Aguiar,
extinguiram-se todos os conventos, mosteiros, colégios e hospícios das ordens religiosas
masculinas, cujos bens foram confiscados pelo Estado.
A vitória definitiva do liberalismo, em 1834, não trouxe a estabilidade que o país há tanto
ansiava. Enquanto os miguelistas, atraves de guerrilhas espalhadas pelo país, procuravam
regressar ao poder, a “família” liberal acentuou a sua divisão em doi grandes grupos: os
vintistas, defensores da Constituição de 1822, e os cartistas, adeptos da Carta
Constitucional. Na prática, a guerra civil não acabara e logo em 1836, em Lisboa, a
Revolução de Setembro agitou a cena política.
Protagonizada pela pequena e media burguesias e com largo apoio das camadas
populares, a Revolução de Setembro reagiu tanto aos excessos de miséria, em que a
guerra civil mergulhara o país, como à atuação do Governo cartista, acusado de beneficiar
a alta burguesia com a concessão de títulos de nobreza e com a venda dos bens nacionais
em hasta pública.
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Acabou por se encontrar uma solução de compromisso entre o radicalismo democrático
da Constituição de 1822 e o espirito monárquico da Carta de 1826, que se concretizou
num novo diploma constitucional, a Constituição de 1838: manteve-se a separação de
poderes, mas o monarca perdeu o poder moderador; voltou a vigorar o sufrágio direto,
mantendo-se, porém, o sufrágio censitário; embora o rei pudesse sancionar e vetar em
definitivo as leis saídas das Cortes, a instituição da Câmara dos Senadores, com carater
eletivo e temporário, limitou o poder régio.
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ministro da Justiça, António Bernardo da Costa Cabral, quem, finalmente, pôs termo à
Constituição de 1838.
A nova governação, conhecida por cabralismo, alicerçou-se nos princípios da Carta e fez
regressar ao poder a grande burguesia.
A demissão do Governo e saída de Costa Cabral para Espanha não foram suficientes para
trazer a acalmia social e política. A guerra civil reacendeu com a chamada “Patuleia”, que
decorreu de outubro de 1846 a junho de 1847, tendo como pretexto a demissão de
ministros anticabralistas, ordenadas por D. Maria II. Iniciadas no Porto, alastrou ao resto
do país, chegando-se a colocar a hipótese da deposição da rainha e da instauração de uma
república.
A ideologia liberal sobrevalorizava os direitos do indivíduo, uma vez que considera ser a
sociedade composta de indivíduos e não de grupos. Esses direitos são, antes de mais, a
liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade.
Foi através dos textos constitucionais que os liberais legitimaram o seu poder político.
Além de um Estado neutro que respeitasse as liberdades e que fizesse aplicar uma lei
igual para todos, o Liberalismo pretendia um Estado laico que separasse a esfera política
da religiosa e secularizasse as instituições.
Esta retirada de poder à Igreja acompanhou uma certa descristianização dos costumes,
bem como episódios de anticlericalismo, que atingiram o auge no século XX, com a
publicação das Leis de Separação da Igreja e do Estado.