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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE-UFS

GEPEL-UFS

Jênisson Alves de Andrade

F. ENGELS. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. 2ª Edição. São Paulo: Centauro, 2005.

A obra está divida em cinco partes: um prefácio do próprio autor em 20 de abril de 1892, o conteúdo da obra
subdivido em três partes e um resumo no qual ele retoma sucintamente o percurso histórico da sociedade, o
qual compreende a sociedade medieval, a revolução capitalista e a revolução proletária.

Primeira parte
Engels aponta a realidade da época, conforme cita Hegel, “o mundo girava sobre a cabeça”, imperava então a
razão, uma razão idealizada pela burguesia, que fazia universais os seus interesses, especialmente na
revolução francesa com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, os quais foram mobilizados para lutar
contra a nobreza usando toda a população a seu favor.

Os movimentos socialistas anteriores à concepção científica de socialismo vinham de três fontes: Saint-
Simon, Fourier e Owen, mas estes traziam um traço em comum, nenhum deles atuavam como representante
dos interesses do proletariado, o qual surgia como um produto histórico, além disso detinham suas
preocupações emancipatórias para toda a humanidade e não primeiramente uma determinada classe (a classe
dominada tem as condições objetivas propícias para a emancipação muito mais evidentes do que o conjunto
da humanidade representado pelas duas classes antagônicas).

Na época das experiências socialista de Saint-Simon, Fourier e Owen o modo de produção e o antagonismo
das classes ainda estava pouco desenvolvido, ou seja, ainda não eram condições universais. Somente com a
grande indústria é que se desenvolvem os conflitos (entre as classes e as indústrias e entre as próprias forças
produtivas e as formas de distribuição da produção) e os meios para as soluções daqueles.

As concepções dos utopistas eram eminentemente idealistas, era necessário converter o socialismo em ciência,
situando-o no materialismo, na realidade concreta.

Segunda parte
Junto com a filosofia francesa surgia a moderna filosofia alemã (ponto culminante foi a dialética hegeliana), e
seu mérito maior era a recolocação da dialética como a forma suprema do pensamento.

Os filósofos da antiguidade clássica eram todos dialéticos e Aristóteles era o que mais avançado no
pensamento dialético.

No entanto a dialética caia no domínio e influencia principalmente dos ingleses idealistas (metafísicos).

Engels resume rapidamente os traços fundamentais dos métodos discursivos: Metafísica (idealista) e
dialética (em sua evolução do idealismo para o materialismo)

As ciências naturais e a história, para penetrar nos fenômenos, descartavam seu caráter histórico para estudá-
lo isoladamente, pois não havia ainda uma quantidade razoável de materiais históricos e naturais para que se
tornasse possível o exame crítico, comparações e a divisão e classificação em classes, ordens e espécies.
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[não havia condições objetivas para o desenvolvimento do conhecimento senão sob a forma dos fenômenos
isolados, foi necessário primeiramente haver as mudanças quantitativas para que viessem as mudanças
qualitativas].

Assim os rudimentos das ciências naturais exatas somente foram ser desenvolvidos a partir dos gregos do
período alexandrino (cultura grega da cidade de Alexandria no Egito) e mais tarde na idade média pelos
árabes, a autêntica ciência da natureza data da segunda metade do século XV e desde então ela progride
aceleradamente.

O desenvolvimento das ciências naturais nos transmitiram o hábito de investigar os fenômenos isoladamente,
separados de sua relação com o todo, não em sua dinâmica, mas estaticamente (método analítico de
investigação e análise, baseado na lógica formal).

A lógica formal não observa a interdependência dos dois pólos de uma antítese, ou seja, é um movimento
linear, no qual não há interdependência entre causa e efeito.

Para a dialética é o contrário da metafísica, ela focaliza as coisas e suas imagens concietuais substancialmente
em suas conexões, sua concatenação, sua dinâmica, seu processo de nascimento e velhice, o fundamento da
dialética é a natureza, as modernas ciências naturais mostram isso, pois trazem dados que demonstram que o
movimento que é observado é dialético e não metafísico.

Darwin por exemplo provou que toda a natureza orgânica é fruto de um processo de desenvolvimento de
milhões de anos, e isso foi um golpe muito forte na concepção metafísica de natureza. Ainda assim, são
poucos os naturalistas que souberam pensar dialeticamente.

Esta dicotomia entre o que é descoberto e o método discursivo tradicional (lógica formal) expõe a grande
confusão presente na teoria das ciências naturais.

A filosofia alemã encontra seu apogeu no sistema de Hegel, o qual pela primeira vez concebe o mundo da
natureza, da história e do espírito como um processo de movimento e desenvolvimento (dialeticamente).

Com isso a história da humanidade passa do que era tido como um caos insuportável de violências absurdas,
todas condenáveis pela razão filosófica, para um processo de desenvolvimento da própria humanidade cuja
responsabilidade, a partir de agora, do pensamento era acompanhar em suas etapas e desvios, demonstrando a
existência de leis internas que orientam seu movimento.

“O sistema de Hegel foi um aborto gigantesco, mas o último de seu gênero” (p.63) isso nos mostra que o
grande problema do sistema hegeliano era sua base idealista 1, e isso trazia limitações para suas formulações de
conexões concretas, tudo estava posto de cabeça para baixo e a concatenação real do universo estava às
avessas. Esta era a contradição interna do sistema hegeliano, partia da concepção de história humana como um
processo de desenvolvimento que por sua natureza não pode se basear na verdade absoluta, mas ao mesmo
tempo apresenta esta concepção como a soma e a síntese dessa verdade absoluta.

A compreensão de inversão presente no idealismo alemão levou necessariamente ao materialismo, mas não
aquele materialismo metafísico e mecânico do século XVIII (determinismo mecânico, Feuerbach é ainda mais
avançado do que este), o materialismo moderno (materialismo histórico) vê na história o processo de
desenvolvimento da humanidade, o qual é regido por leis dinâmicas que é preciso descobrir.

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Para ele a realidade era uma projeção das idéias pré-existentes, não se sabendo como, mas estas idéias existiam antes da
matéria, antes do próprio mundo.
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“O materialismo moderno resume e compendia os novos progressos das ciências naturais, segundo os quais a
natureza tem também sua história no tempo, e os mundos, assim como as espécies orgânicas que em
condições propícias os habitam, nascem e morrem, e os ciclos, no grau em que são admissíveis, revestem
dimensões infinitamente mais grandiosas” (p.64)

Certos fatos mudaram o modo de focalizar a história, em 1831 em Lyon a primeira insurreição operária e de
1838 a 1842 chega ao auge o primeiro movimento operário nacional que foi o movimento cartista inglês.
Assim “[…] a luta de classe entre proletariado e burguesia passou a ocupar o primeiro plano da história dos
países europeus mais avançados, ao mesmo ritmo em que se desenvolvia neles, por um lado, a grande
indústria, e por outro lado, a dominação política recém-conquistada da burguesia” (p.65).

Os fatos de então refutavam cada vez mais as doutrinas burguesas da identidade de interesses entre o capital e
o trabalho e da harmonia universal e o bem-estar das nações como sendo fruto da livre concorrência, não se
podia negar estes fatos nem ignorar o socialismo inglês e francês. A velha concepção de história, que ainda
não havia desaparecido, não reconhecia a luta de classes baseada em interesses materiais e sequer reconhece
qualquer tipo de interesse material, ela vê a produção e todas as relações econômicas como um elemento
secundário dentro da “história cultural” (foco acentuado na cultura sendo que a economia ficava em segundo
plano).

A nova concepção de história entendeu que excetuando o Estado primitivo toda a história anterior era a
história das lutas de classes e que estas classes em todas as épocas eram fruto das relações econômicas (de
produção e troca) de sua época, que a estrutura econômica da sociedade em cada época constitui a base real
cujas propriedades explicam toda a superestrutura integrada pelas Instituições jurídicas e políticas, assim
como a ideologia religiosa, filosóficas e etc. de cada período histórico.

Com a concepção materialista da história abria-se caminho para a explicação da consciência do homem por
sua existência, e não o contrário como era até então tradicional.

Assim o socialismo já não era causal e fruto das idéias, mas da necessidade que vinha da luta travada entre as
classes que se formaram historicamente: o proletariado e a burguesia, e sua missão já não era mais elaborar
um sistema mais perfeito da sociedade, mas investigar o processo histórico econômico do qual essas classes e
seu conflito resultavam, descobrindo os meios para a solução desse conflito na solução econômica assim
criada.

O socialismo tradicional era incompatível com a concepção materialista de história e não podia se ajustar à
dialética e às novas ciências naturais, ele criticava o modo de produção capitalista e suas conseqüências, mas
não podia explicá-lo e, portanto, não poderia destruí-lo ideologicamente, restava então repudiá-lo.

Era necessário expor duas coisas: o modo capitalista de produção em suas conexões históricas e com isso a
necessidade de seu desaparecimento; desnudar seu caráter interno ainda desconhecido. Isso ficou evidente
com a descoberta de Marx da mais-valia, a qual mostrava como o regime capitalista de produção e exploração
do operário, que dele se deriva, tinha sua forma fundamental a apropriação do trabalho não pago, o capitalista
retira sempre mais valor do trabalho do seu operário e esta mais-valia vai culminar na acumulação cada vez
maior do capital nas mãos das classes possuidoras.

Graças à concepção materialista da história e a revelação do segredo da produção capitalista (mais-valia),


ambas descobertas de Karl Marx, o materialismo se converte em ciência, restando-nos desenvolvê-la em todos
os seus detalhes e concatenações.
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Terceira parte:
A concepção materialista de história toma como base da sociedade a superestrutura econômica, baseado nisso,
qualquer causa de transformações sociais e revoluções políticas deve ser procurada na economia de sua época.

A ordem social vigente (capitalismo) é obra das classes dominantes dos tempos modernos, ou seja, da
burguesia. A burguesia derruba completamente a ordem feudal, esta foi a condição para o desenvolvimento do
capitalismo através da grande indústria, a qual trouxe uma velocidade de desenvolvimento das forças
produtivas jamais visto. A grande indústria chega a um nível de desenvolvimento que já não mais condiz com
o modo de produção capitalista, este conflito entre as forças produtivas e o modo de produção brota dos fatos
da realidade objetiva, concreta. O socialismo moderno é o reflexo do conflito material na consciência das
pessoas, primeiramente pelas pessoas da classe que sofre diretamente suas conseqüências, a classe operária.

Para explicar estes conflitos entre as forças produtivas e o modo de produção Engels retoma a idade média
mostrando que os meios de trabalho pertenciam, de modo geral, aos produtores, isso fazia com que estes
meios fossem individuais e desorganizados, para consolidar as formas atuais em formas mais poderosas de
produção era necessário concentrar e desenvolver de forma organizada estes meios, então tratava-se da
necessidade de a burguesia transformar os meios de produção individuais em meios de produção sociais, os
quais só poderiam ser manejados por uma coletividade de homens. Estas mudanças dos meios de produção
trazem também mudanças na própria produção que deixa de ser uma cadeia de atos individuais para se tornar
uma cadeia de atos sociais e os produtos passam de produtos individuais para produtos sociais (a divisão
social do trabalho, neste momento, já não permitia ao trabalhador afirmar que determinado produto era feito
por ele ou que lhe pertencia).

No regime de produção baseado na divisão social do trabalho a produção imprime nos produtos a forma de
mercadoria, a qual em suas troca, compra e venda permite aos diferentes produtores satisfazer suas diferentes
necessidades. O mesmo já acontecia na idade média com a compra dos produtos da terra pelos artesãos e a
venda aos camponeses dos produtos das oficinas por estes, ao lado desta divisão elementar do trabalho o novo
modo de produção implantou nas fábricas uma divisão planificada do trabalho, e os produtos de ambas as
formas de produção eram vendidos no mesmo mercado a preços aproximadamente iguais, mas a organização
planificada da divisão do trabalho podia ainda mais que a divisão elementar do trabalho, ou seja, onde o
trabalho estava socialmente dividido e organizado os produtos eram mais baratos do que os dos pequenos
produtores isolados.

A propriedade dos produtos baseava-se no trabalho pessoal, porém, no processo de concentração dos meios de
produção em grandes oficinas e manufaturas, transformação em meios de produção sociais, os meios de
produção e seus produtos sociais foram considerados como o que eram antes, individuais, então os
proprietários dos meios de produção puderam se apropriar dos produtos que já não eram mais seus, mas que
eram agora fruto exclusivo do trabalho alheio. (alienação dos meios de produção e da produção)

Importante! p.74: embora os meios de produção e a produção estivessem convertidos essencialmente em


fatores sociais, ainda se viam submetidos a uma forma de apropriação que pressupõe a produção privada
individual, onde cada um é dono do seu produto e o representa no mercado, ou seja, as relações produtivas são
sociais, mas as relações de apropriação, consumo, são individualistas, o que resulta que a distribuição da
mercadoria produzida socialmente não tem alcance social. Eis a contradição entre a produção social e a
apropriação capitalista (bem tratada no resumo da página 96).

O trabalho assalariado já existia no regime feudal, mas sob a forma de ocupação secundária, assim também o
capitalista já existia, mas tratava-se de uma atividade secundária, um ponto de transição, com a total derrocada
do sistema feudal, o trabalho assalariado passa de exceção para regra fundamental de toda a produção, a
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ocupação acessória passa a ser ocupação exclusiva do operário e o operário assalariado temporário converte-
se em operário assalariado para toda a vida.

“A contradição entre a produção social e a apropriação capitalista reveste a forma de antagonismo entre o
proletariado e a burguesia” (p.75).

A única forma de relações sociais que subsiste é a troca, a qual se impõe sob a forma de leis imperativas de
concorrência (leis de mercado), estas por sua vez “impõem-se, pois, sem os produtores, e mesmo contra eles,
como leis naturais cegas que presidem essa forma de produção. O produto impera sobre o produtor” (p. 76).

Na sociedade medieval a produção destinava-se ao consumo próprio, onde havia relações de vassalagem
também se contribuía para satisfazer as necessidades do senhor feudal, ou seja, não havia troca, nem os
produtos se tornavam mercadorias. Os produtos convertem-se em mercadoria quando a produção atingiu um
excedente, começou-se a descobrir as próprias necessidades de consumo e os tributos que o senhor feudal
cobrava, daí então este excedente era lançado no intercâmbio social, a produção convertia-se então em
mercadoria.

Juntando-se a extensão da produção de mercadorias, o surgimento do modo capitalista de produção as leis da


produção passam a funcionar de maneira mais aberta e poderosa, de modo que a anarquia da produção social
emerge novamente, mas desta vez convertendo-se no seu inverso: em lugar de uma desorganização da
produção, sua organização com caráter social em cada estabelecimento de produção. Isso finaliza a antiga
estabilidade, dando lugar a uma ordem onde impera a concorrência de mercado que já não mais coexiste com
as velhas formas, a apropriação de uma determinada força produtiva na verdade a destrói, assim o terreno do
trabalho se torna um campo de guerra, surgindo nos séculos XVII e XVIII guerras comerciais. Finalmente a
grande indústria e o mercado mundial à luta e a sua violência atinge níveis nunca vistos (livre concorrência
universal). As condições da produção decidem a luta pela existência na qual o perdedor é esmagado sem
piedade. Trata-se do darwinismo transplantado da natureza para a sociedade. “As condições de vida da besta
convertem-se no ponto culminante do desenvolvimento humano. A contradição entre a produção social e a
apropriação capitalista manifesta-se agora como antagonismo entre a organização da produção dentro de
cada fábrica e a anarquia da produção no seio de toda a sociedade” (p. 78).

Engels difere o socialismo científico do socialismo concebido por Fourier pelo fato de que este último não via
um fim para a contradição, não via que seu movimento concreto tende para a sua superação, pois no
capitalismo o desenvolvimento das forças produtivas leva inevitavelmente a uma destruição das forças de
trabalho.

Na crise todo mecanismo de produção falha, esgotado pelas forças produtivas que ele mesmo engendrou, os
meios de produção já não conseguem ser transformados em capital, pois todos os meios de produção e da
riqueza em geral já existem em abundância (meios de produção, meios de vida, operários disponíveis). Assim
o modo de produção capitalista mostra que é incapaz de continuar dirigindo suas forças produtivas e que estas
forças produtivas compelem com uma força cada vez maior no sentido de resolver-se a contradição para
tornarem-se reconhecidamente e efetivamente forças produtivas sociais.

Quando alguns desses meios de produção se tornam tão gigantescos eles passam a excluir qualquer outra
forma de exploração capitalista. Neste momento, já não basta este desenvolvimento e esta forma, grandes
produtores industriais se unem para formar trustes, trustes são consórcios destinados a controlar a produção,
estes porém se desmoronam facilmente, o que leva a uma socialização mais concentrada ainda, com isso
formam-se os grandes monopólios, nesse contexto a produção sem plano da sociedade capitalista cede diante
das circunstâncias a uma produção organizada e planificada da nascente sociedade capitalista, com a ressalva
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de que isso se dá em proveito e benefício dos capitalistas. No caso dos trustes a exploração é tão evidente que
precisa ser necessariamente derrubada, pois nenhuma sociedade suportaria a produção dirigida por trustes.

Ainda assim o Estado (representante oficial da sociedade capitalista) precisa tomar o comando da produção
(vejamos o caso da atualidade). Além desta incapacidade de a burguesia continuar no controle das forças
produtivas, as quais se revelam pelas crises (Cracks), fica evidente que a burguesia já não mais é
indispensável para tal controle das forças produtivas.

Antes o modo capitalista de produção deslocava os operários, mas agora desloca também os capitalistas e os
lança junto à população excedente, porém ainda de fora do exército industrial de reserva (compõem o
excedente de trabalho, mas ainda assim não trabalham, a única função que lhes resta é a especulação
financeira). [entender melhor-p. 86]

Engels alerta que ainda que se convertam em propriedade de sociedades anônimas, trustes ou propriedades do
Estado, as forças produtivas não perdem sua condição de capital, e o Estado moderno é essencialmente
capitalista, ele é o estado dos capitalistas. O Estado sempre esteve a serviço da classe no poder a exemplo da
antiguidade que representava os cidadãos escravagistas, a nobreza feudal na Idade Média, atualmente é a
burguesia. A propriedade do Estado das forças produtivas não é a solução para o conflito, mas é um
instrumento para se chegar à solução, a qual depende de se reconhecer efetivamente o caráter social das forças
de produção, de apropriação e troca, harmonizando seu caráter social.

Para tanto o caminho é a posse por parte da sociedade das forças produtivas, que como expôs não admite outra
direção, pois a burguesia se mostra incapaz de tal direção, dessa maneira se converte o caráter social dos
meios de produção e dos produtos, o qual se voltava contra os próprios produtores, em forças produtivas mais
desenvolvidas e das quais os produtores terão consciência e domínio, em lugar de serem dominados por elas.
Convertendo assim as forças ativas da sociedade de forças ‘naturais’ das quais não temos o controle em forças
a nosso serviço, sujeitas à nossa vontade para alcançarmos os fins propostos, mas enquanto resistirmos em
compreender estas forças produtivas elas nos dominarão.

Quando as forças produtivas se submeterem a sua natureza agora conhecida toda anarquia social da produção
deixará de existir dando lugar à regulação coletiva e organizada da produção, que seguirá de acordo com as
necessidades da sociedade e do indivíduo. Assim o produto em vez de escravizar primeiro o seu criador e
depois quem se apropria dele, terá sua apropriação será colocada diante de duas necessidades: a social, da
manutenção e aumento da produção, e individual, do meio de vida e de proveito.

O proletariado deve então tomar o poder do Estado e converter os meios de produção em propriedade do
Estado e, no mesmo ato, destrói-se o antagonismo de classes e próprio Estado, pois agora a sociedade não
precisará mais do Estado pois não haverá mais nenhuma classe que precise ser submetida através dele, e
sumindo a luta pela sobrevivência individual, que é marcante na sociedade capitalista, também não haverá
necessidade de repressão, assim o primeiro ato do Estado como representante de toda a sociedade é também
seu ultimo ato como Estado. O Estado não será abolido, ele se extinguirá, e isso só se dará diante das
condições efetivas e não da noite para o dia, por isso não será abolido, mas extinto.

Surge pela primeira vez um sistema de produção social que satisfaz todos os membros da sociedade em suas
necessidades materiais e assegura um livre e completo desenvolvimento e exercício de suas capacidades
físicas e intelectuais. A apropriação da produção pela sociedade faz cessar a produção de mercadorias e
conseqüentemente o domínio do produto sobre os produtores.

“É o salto da humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade” (p.93).

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