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Uma crítica a: “ Skinnerianismo, materialismo sem dialética”

Jerry Ulman

Ball State University

Resumo

Mishler(1976) disserta que: “ se vistas a partir de um olhar crítico, as formulações


Skinnerianas e marxistas são incompatíveis” (pag.24), a partir daí, ele se põe a discutir
cinco pontos críticos para tal incompatibilidade. Em resposta, argumento que: O
Marxismo e o Behaviorismo são complementares, não incompatíveis; as formulações de
Mishler derivam de sua incapacidade em distinguir o Behaviorismo Metodológico e o
Behaviorismo Radical e que sua concepção de Marxismo é revisionista, não
revolucionária.

Uma crítica a: “ Skinnerianismo, materialismo sem dialética”

Críticas vindas da esquerda têm sido feitas amaldiçoando os behavioristas como


intrínsecos agentes á serviço das forças de opressão. Em nome de Marx, a esquerda tem
acusado Skinner de ter criado um “homem dócil” para a exploração Capitalista. Em
“Rumo a uma Psicologia Marxista”,( Toward a Marxist Psychology) Brown (1974), por
exemplo, declara que: “Não se pode juntar concepções “radicais” com métodos
conservadores; [...] O método de modificação de comportamento em si é baseado na
prevalência dos valores hegemônicos de nossa sociedade”. (p163-164). Holland, (1978)
descreve um similar ataque dos psicólogos esquerdistas que insistem em apontar que “o
behaviorismo, necessariamente, sustenta e perpetua o Status quo, enquanto a Psicologia
esquerdista procura alterá-lo fundamentalmente.” (Retner, 1977, Pag.21). Em relação às
críticas “esquerdistas”, Holland (1974) as tem rebatido demostrando que, enquanto a
maioria das aplicações da tecnologia de modificação de comportamento é
contrarrevolucionária, “é possível conciliar ambas as coisas: A ciência Behaviorista e os
objetivos e valores daqueles que lutam contra a exploração e a manipulação do
comportamento.” (p.414). Além disso, nesse caso, o problema reside com os
behavioristas não com o Behaviorismo (Holland, 1978).

Ainda outros, professando serem marxistas críticos, têm lançado um ataque mais
sofisticado nesse campo de discursão, atacando os paradigmas filosóficos que subjaz o
Behaviorismo, como sendo eles, originalmente, opostos aos do marxismo. Portanto,
uma defesa adequada do Behaviorismo requer uma refutação nesse mesmo nível de
abstração filosófica, sendo esse, o objetivo da minha formulação que se segue nesse
texto.

Um desses autoproclamados marxistas, crítico do Behaviorismo, é Elliot Mishler


(1976): um professor da escola médica de Harvard. Ele tem considerado o
Behaviorismo como uma expressão de uma consciência tecnocrática, de questionável
mérito científico, que impõe uma estreita visão de mundo. Com tal, de acordo com
Mishler, o Behaviorismo constituiria uma ideologia social que trata o ser humano como
um objeto. Essa “ instrumental-pragmática-objetiva visão de homem” (p 23) ele afirma,
é claramente a materialização da ideologia com ênfase no controle obstinado. Mishler
afirma que os aportes filosóficos do Behaviorismo e do Marxismo são incompatíveis se
vistos criticamente. (pag. 24). Mishler critica o Behaviorismo em relação a cinco
problemas filosóficos e práticos postos pela perspectiva da Teoria Crítica (Uma escola
de pensamento sociológico que supostamente seguiria a tradição marxista.)

Pretendo examinar os méritos da crítica de Mishler ao Behaviorismo, e sua


crítica à combinação entre o Behaviorismo Radical e o Marxismo Revolucionário,
sendo esse último expresso nos escritos de Marx, Engels e Lenin. O cerne do meu
argumento é de que o Behaviorismo e o Marxismo são complementares, não sendo
incompatíveis como Mishler coloca. Ele fracassa em distinguir, por um lado, o
Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical, e por outro, o Marxismo
Revisionista do Marxismo Revolucionário.
Behaviorismo Radical X Behaviorismo Metodológico

Behaviorismo é a filosofia da ciência do Comportamento. O fundamento básico


que subjaz o Behaviorismo, é o de que podemos investigar o comportamento
cientificamente, e, portanto, identificar as variáveis de controle (coisas ou eventos) que
para o comportamento é função.

Partindo desse pressuposto, é de fundamental importância diferenciar o


Behaviorismo Radical doconvencional, Behaviorismo Metodológico. Como Vargas
(1977) coloca: O Behaviorismo Radical está distante do Behaviorismo Metodológico,
uma vez em que o último defende que o comportamento passível de ser estudado é
aquele que pode ser mensurado por dois ou mais observadores independentes (o que
exclui todos os comportamentos que estão debaixo da pele de um indivíduo, os
comportamentos encobertos). Enquanto o Behaviorismo Radical inclui comportamentos
encobertos, como pensamentos e sonhos, sendo passíveis de investigação. B.F Skinner é
o principal porta-voz do Behaviorismo Radical. (pág. 304).

Freudismo, Humanismo, cognitivismo e outras formas de psicologias


mentalistas, retiram a atenção dos eventos externos que explicam o comportamento,
parecendo oferecer explicações alternativas. Ao considerar apenas os eventos
antecedentes externos na determinação do comportamento, o Behaviorismo
Metodológico faz simplesmente o inverso. O Behaviorismo Radical “reequilibra a
balança” ao considerar os eventos particulares, localizados embaixo da pele. Ao invés
de desprezar os eventos subjetivos, o Behaviorismo Radical simplesmente questiona a
natureza e a relevância dos mesmos (Skinner; 1974). Aparentemente, pelo que se segue,
Mishler não entende em sua crítica a importante distinção entre os dois Behaviorismos.
Agora vamos examinar o tipo de Marxismo que ele expõe em seu texto.
Marxismo Revolucionário x Marxismo Revisionista

O termo “revisionista” pode ser utilizado de diferentes, confusas e insuficientes


formas. Pessoas da Republica Popular da China e da União Soviética, por exemplo, se
acusam mutuamente de “revisionistas” pelas diferenças na politica internacional de seus
países. Mas uma maneira de determinar quando uma dada posição representa um
revisionismo do Marxismo, é pela não compreensão do fundamento do pensamento
Marxista: O materialismo dialético. Logo, não se pode haver prática revolucionária
consistente sem uma compreensão do materialismo dialético, como Trotsky (1973)
deixa amplamente claro.

Em um esforço coletivo da maior parte dos membros dos Behavioristas Político-


Radicais, que é um comitê político, de orientação marxista, formado por Behavioristas
dentro de uma recente organização formada: Behavioristas para a Ação Social,
(Behaviorists for Social Action) foi sintetizado, em cinco pontos, características do
materialismo dialético:

a) O mundo existe independentemente das ideias de qualquer pessoa


(materialismo)
b) Existem leis relacionais entre os eventos do mundo.
c) O ser humano pode conhecer tais leis pela prática no mundo (suas ideias são
reflexas dos eventos que existem independentemente das ideias);
d) A realidade está em constante movimento: Um novo fenômeno emerge a partir
de transformações acumulativas no fenômeno antigo (dialética). Por exemplo, O
capitalismo está dado a partir da transformação do feudalismo.

Revisionistas buscam o materialismo dialético “correto” e como resultado, usurpam


do Marxismo seu caráter Revolucionário (Novack, 1978).

Antes de examinar a forma específica de revisionismo presente em Mishler, pode


ser valoroso considerar esses elementos básicos, materialismo e Dialética, mais
detalhadamente.
Materialismo

Materialismo é uma de duas tendências na filosofia moderna que aborda, entre


outras coisas, a relação entre a consciência e a realidade (ou, entre sujeito e objeto). A
outra tendência é o Idealismo. O Idealismo postula que a ideia, ou a consciência, tem
primazia sobre a matéria, e essa última, passaria a ser secundária, sendo algum ente
sobrenatural, ou instância Psíquica, o determinante principal da realidade. Enquanto o
materialismo reconhece o mundo concreto enquanto elemento de primazia. De acordo
com os materialistas, o mundo material existe primeiramente ao ser humano, e
consequentemente, tanto a sociedade quanto a consciência, derivam de determinadas
condições materiais. Como Marx diz: “Não é a consciência dos homens que determinam
seu Ser Social, ao contrário, é o seu Ser Social que determina sua consciência”

Behavioristas não precisam temer o conceito de consciência por medo de serem


infectados pelo mentalismo. Skinner (1974) traduz “consciência” para os termos
Behavioristas: “Para aumentar a consciência de uma pessoa ao mundo externo, basta
simplesmente, colocá-la sob um controle mais sensível ao mundo, sendo ele fonte
de estimulação”. (p.154). Para além disso, quanto a questão da consciência sendo
um processo natural ou não, Skinner (1974) responde da seguinte forma: “O que foi
desenvolvido é um organismo, onde, parte de seu comportamento é explicado pela
invenção do conceito de mente. Não há necessidade de explicar o processo de
desenvolvimento da consciência de maneira especial, extraordinária as leis
ambientais, quando utilizamos os fatos da maneira correta” (pag.45). Embora a
Análise experimental do comportamento rejeite certas noções como uma
consciência mental enquanto explicação para as causas do comportamento, o
Behaviorismo Radical, é quase reconciliável com o estudo científico das variáveis
fenomenológicas, ou processos Psicológicos internos (Day;1969). Portanto, não há
uma razão a priori para os behavioristas rejeitarem o marxismo, com a alegação de
que o último seria mentalista. O marxismo considera a consciência enquanto uma
expressão das habilidades sócio-históricas que cada pessoa adquire ao longo da
vida. Diferenças entre as consciências individuais são concebidas por serem funções
de diferentes práticas características da vida produtiva de cada indivíduo.
Contudo, a maneira pouco rigorosa com que, às vezes, alguns marxistas tratam a
questão da consciência, pode trazer consequências nefastas ao marxismo como o refúgio
às noções idealistas acerca do comportamento humano. Tais limbos, na verdade, são os
piores tipos de abstrações porque eles podem ser preenchidos com qualquer conteúdo,
uma carta branca as ficções explanatórias. Apenas uma rigorosa aplicação do aporte
anti-mentalismo skinneriano, pode extirpar certas noções do marxismo. Por meio de
análises comportamentais de fenômenos associados a manifestações assumidas de
consciência, tanto o behaviorismo quanto o marxismo, podem se enriquecer. A partir
da combinação dos métodos científicos de Marx e Skinner, behavioristas podem
começar a examinar nosso ambiente (tanto público quanto privado) a partir de um largo
espectro, e marxistas podem tornar suas análises acerca dos comportamentos individuais
e das consciências particulares, um pouco mais precisas.

Dialética

É óbvio que o behaviorismo é materialista, o que Mishler concorda


indubitavelmente. Ele afirma, no entanto, que o Behaviorismo não é dialético. E ele está
absolutamente correto se ele se refere ao Behaviorismo metodológico. Se ele se refere
ao Behaviorismo Radical, ele está inquestionavelmente errado.

Assim com existe dois tempos de Behaviorismos, existem dois tipos de


materialismo: O Mecânico e o Dialético. O Behaviorismo Radical é compatível com o
último, o Behaviorismo Metodológico não. Dialética é a lógica do movimento e do
desenvolvimento (evolução e revolução), considera todos os fenômenos como estando
em um processo de transformação contínua. Como foi visto a partir do materialismo
dialético, o desenvolvimento do mundo material em si (em forma e conteúdo, em todos
os níveis de complexidade, da partícula subatômica aos organismos vivos, incluindo os
humanos) é produto da luta entre as contradições presente na natureza (Engels, 1940).
Em contraste com a lógica formal, ou lógica Aristotélica (Silogístico), que é estática e
de limitada aplicação ao mundo real.

A Dialética passou a ser usada na ciência quando Marx e Engels se libertaram do


Idealismo hegeliano: Uma ciência de leis universais [expressões de um espírito
absoluto] que rege o desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do
pensamento. Hegel elucidou o movimento da dialética e aduziu a isso três expressões
básicas do mesmo: A transformação do quantitativo ao qualitativo, e vise-versa, a
unidade entre opostos, e a negação da negação. É necessário recordar de que ele estava
inteiramente mergulhado no modo idealista de pensar (Engels, 1940). A extraordinária
contribuição filosófica de Marx e Engels foi à síntese de uma visão de mundo
materialista consistente e abrangente com uma teoria da evolução universal totalmente
dialética (Novak 1978). Antes deles, materialismo e dialética estavam separadas por
linhas de pensamento divergentes que acreditavam serem incompatíveis ambas as
tradições. É importante notar que a dialética não pode ser imposta aos fatos, mas ao
contrário, ela só pode ser deduzida dos fatos.

De maneira análoga ao avanço que o micrômetro sob a régua de mesa, a lógica


dialética é qualitativamente mais avançada do que a lógica formal. Nessa analogia, entre
mensuração e lógica, o primeiro é superado e ainda tem suas limitações transcendidas
pelo último. Para o leitor que não está familiarizado com o materialismo dialético, é
recomendado um consistente e popular texto de George Novack (1971): Uma
introdução a lógica Marxista (An introduction to the Logic of Marxism).

Devido ao contexto de nossas condições históricas, onde a ideologia burguesa é


hegemônica e o Marxismo é associado constantemente ao totalitarismo e ao
dogmatismo, há um pequeno espanto causado pelos estímulos verbais: “Materialismo
dialético”, evocando respondentes desagradáveis. Como Novack (1978) explica: “Os
filósofos e cientistas ocidentais, quase que por unanimidade, acreditam que o
movimento dialético da natureza é falso, irrelevante, o que possivelmente é prejudicial
para a teoria e prática científica. Tal preconceito, enraizados nas nossas tradições
empiristas e positivistas, tem sido reforçadas pela arbitrária e ignorante interferência da
burocracia Estalinista na teoria científica, justamente com estreitas interpretações
esquemáticas e dogmáticas do Marxismo. (p.250)

Novack observa astutamente, que atualmente, quase todos os cientistas


(Analistas do comportamento incluindo J.U.) têm carregado em seus trabalhos, sem
qualquer consciência, entendimentos das leis dialéticas universais de desenvolvimento,
assim como muitas pessoas falam muito bem, sem qualquer conhecimento da História
da gramática de sua língua.
“Se os cientistas devem se apropriar dos problemas, para os quais procuram soluções,
nas suas áreas particulares com um entendimento, dos traços fundamentais dos mesmos
e de seu desenvolvimento, postulados nas leis da lógica dialética, por que não se pode
utilizar a dialética como guia metodológico geral para as suas questões concretas?” (pp.
250, 251).

Como as análises Behavioristas se expandem e se tornam cada vez mais


especializadas e fragmentadas, a necessidade de um guia unificado se torna urgente.
Uma consideração adequada é a de que se o pensamento Marxista tem algo a oferecer
como um guia, isso requer um tratado, cujo esse presente texto, é claro, não tenta
fornecer. No entanto, é válido ressaltar que chegou a hora de por o pensamento marxista
a prova para determinar se ele é um guia válido para aplicar a dialética em nosso
trabalho diário. Certamente um teste para que eliminemos nossas “fobias marxistas”, e
ampliemos nosso repertório intelectual tornando-nos mais educados filosoficamente e
politicamente.

Enquanto certos cientistas são obstinados em permanecer politicamente


desinteressado ao longo de suas investigações, não se segue que eles devem ser cegos
para o lugar da ciência na sociedade. Nessa convicção, espera-se que, através do estudo
espontâneo do pensamento crítico, mais behavioristas desenvolverão consciência de
classe e acharão seus caminhos pela militância política. Como aliados dos proletários, é
possível esperar que os behavioristas com consciência de classe, trarão consigo suas
tecnologias e habilidades e se juntarão na luta contra o racismo, o machismo, a
exploração de classe, o imperialismo, a guerra, e aos ataques motivados pelo lucro na
nossa qualidade de vida.

Materialismo Mecanicista e Materialismo Dialético

Um predecessor ao Materialismo Dialético é o Materialismo Mecanicista, que


foi proposto por Feuerbach como uma tentativa de explicar todos os fenômenos naturais
a partir das leis mecânicas. Em Feuerbach, as mudanças naturais dos fenômenos são
caracterizadas como cíclicos, repetitivos e eternos, ao invés de perpetuarem um
desenvolvimento. Em termos gerais, as contradições internas não eram consideradas ou
assumidas. Por exemplo, o behaviorismo watsoniano era materialista, porém
completamente mecanicista. Watson, o primordial Behaviorista Metodológico,
antecipando a tradição da lógica positivista, descartou a consciência, os sentimentos, e
outros comportamentos internos enquanto matéria adequada para o estudo da Ciência
Psicológica. Ele demandava que a Psicologia se limitava, em si, ao estudo do
comportamento observável: Se o evento não é diretamente observável, ele simplesmente
não existe. O comportamento humano era pensado semelhante aos movimentos de uma
marionete, não mais do que um sistema de condicionamento respondente Paviloviano,
sob estrito controle ambiental de um tocador de sineta. Na verdade, operacionalmente,
Watson relegou todos os organismos, incluindo os humanos, ao lugar de caixas-pretas,
onde apenas os padrões observáveis de interações estímulo-resposta eram passíveis de
conhecimento, não o que acontecia dentro da caixa preta.

O Behaviorismo Radical não “Decapita o Ser Humano”, me valendo de uma


expressão Skinneriana, como faz a Psicologia mecanicista S-R de Watson. De acordo
com os Behavioristas Radicais, De acordo com os behavioristas radicais, as pessoas têm
consciência de seu entorno no sentido de que têm consciência de eventos em seus
corpos; eles ficam sob controle de estímulos internos. Além disso, como Skinner (1974)
observa, "uma pessoa se torna consciente em um sentido diferente quando uma
comunidade verbal organiza contingências sob as quais ela não apenas vê um objeto,
mas vê que o está vendo. Neste sentido especial, consciência ou percepção é um produto
social” (p.220). Em suma, o ponto de vista de Skinner sobre a consciência é totalmente
dialética e qualitativamente diferente pensado pelo seu predecessor, Watson-
semelhante à diferença entre Einstein e Newton- sendo ambos materialistas. Ainda
assim, Mishler não vê a diferença, surpreendentemente!

O revisionismo de Mishler

Mishler não só apresenta um conhecimento raso sobre o Behaviorismo, sua


compreensão acerca do Marxismo é irremediavelmente defeituosa. Seu Marxismo é
revisionista, derivado da Escola de Frankfurt. Como Novack (1978) pontua, há dois
campos majoritários do revisionismo marxista contemporâneo:
Os pensadores Hegelianos que, como o jovem Lukacs e a escola de Frankfurt,
usam dialética ao mesmo tempo em que seu conteúdo materialista é escasso, e aqueles
como Louis Althusser, Della Volpe, e Colletti que superestimam o materialismo,
enquanto rejeitam o método dialético, procurando atrelar o marxismo a ideologia
positivista. Ambos os campos rejeitam a ideia de Dialética da natureza e,
consequentemente, procuram separar Marx “O dialético” de Engels “O materialista”,
mas o fazem por diferentes razoes. Marxistas Hegelianos, como os teóricos de Frankfurt
(incluindo Theodor Adorno, Erich Fromm, Jurgen Habermas, Max Horkheimer, e
Herbert Marcuse),sustentam que: como a sociedade é um produto humano, ela por si só
envolve contradições genuínas (enquanto os materialistas mecanicistas ou
"feerbachianizadores" rejeitam a dialética em qualquer forma). Engels é rejeitado em
ambas porque sua posição materialista pressupõe uma analogia entre formas de
mudança na natureza e na sociedade, diminuindo assim, o papel da vontade e da razão
humanas. A perspectiva dos hegelianizadores é antropocêntrica: eles temem que, ao
conceder o determinismo material na sociedade, assim como na natureza, os seres
humanos nunca poderão ser livres. Eles são obcecados pelas noções de “Homem
autônomo” que são criticadas por Skinner em “Beyond Freedom and Dignity”(O Mito
da Liberdade) (1971). Mas independentemente de quem faz o corte, sejam os marxistas
Hegelianos ou os materialistas mecanicistas, separar Engels de Marx é esterilizar a
filosofia Marxiana. (Novack, 1978; Trotsky, 1973; Weiss,1977).

Para capturar o espirito idealista de Mishler, e consequentemente, de seu


revisionismo, eu tenho considerado intitular seu artigo de: “Mishlerianismo: Dialética
sem Materialismo”. Como um representante da escola Hegeliana, Mishler e outros
expoentes da Teoria Crítica se opõe a determinação materialista de Marx e Engels. Não
se faz surpreendente que Mishler seja avesso ao determinismo skinneriano também.

Ao longo de seu artigo, Mishler contrasta as conceituações behavioristas, com


ele as imagina, sobre o ser Humano, ciência, politica, e a sociedade, com sua
perspectiva alternativa baseada na teoria crítica. Ele frequentemente cita Habermas
enquanto autoridade para sua perspectiva. Uma vez em que a referencia teórica de
Mishler é a filosofia de Harbemas, se faz necessário entender do que trata sua filosofia.

Habermas
Com exceção a referência negativa ao Marxismo Soviético, Jurgen Habermas
raramente considera a doutrina de Marx e Engels. Sua orientação anti-materialista, anti-
Leninista, se torna transparente em certos pronunciamentos como: “O naturalismo de
Marx é agudamente. diferente do materialismo metafísico dos epígonos: Engels ... e
Lenin " ” (Habermas 1973; P.200). Além disso, Habermas parece alheio à luta de classe
e à Revolução Proletária. Therborn (1971) nota que Habermas é quase exclusivamente
preocupado com epistemologia e reduz Marx a um mero crítico á ideologia. Ele usurpa
o potencial revolucionário do Marxismo. Em seu lugar ele nos dá uma mistura entre
George Hegel, Talcott Parsons e Sigmund Freud: uma indigesta xaropada de
humanismo e obscurantismo glutinoso. Nas palavras de Therbon (1971): “a redução do
marxismo, feita por Habermas, à uma mera crítica a Ideologia, conduz diretamente a
ideia de que (a luta de classes) vai ser harmoniosa, resolvida através do criticismo da
opinião pública, através dos iluminados esforços de crítica dos estudantes e
acadêmicos.”(p83).

Habermas ganhou popularidade na academia- especialmente entre os jovens


sociólogos de orientação reformista- não por acaso. Em seu zelo por alcançar harmonia
ao invés da mudança social, Habermas foi tão longe que denunciou o movimento
estudantil alemão como “Fascismo de esquerda” (Therbon, 1971). Na essência,
Habermas, como outros contemporâneos remanescentes da Escola de Frankfurt, são
liberais reformistas, não revolucionários. Seu objetivo foi construir um braço idealista
nas ciências sociais burguesas. Misheler, é claro, compartilha desse objetivo. Habermas,
Mishler, e companhia, são, na realidade, pseudo-marxistas. Com essa contextualização,
vamos analisar os “problemas” endereçados por Mishler em seu ataque ao
Behaviorismo.

Mishler e seus cinco pontos críticos

Mishler submete o skinerianismo à prova com cinco problemas que ele supõe
mostrar a incompatibilidade dele com o Marxismo. Pretendo avaliar cada ponto nos
termos, tanto do Behaviorismo Radical, quanto do Marxismo Revolucionário.
(A seguinte enumeração dos tópicos foi feita por Mishler).

1.Praxis vs Behavior

Novack (1978) define práxis como um termo “popularizado pelos marxistas


Hegelianos para designar ação social baseada, e integrada, com o entendimento teórico.
Como eles o usam, o termo implica a capacidade da vontade revolucionária de substituir
à falta de oportunidades objetivas propícias a revolução.” (p. 318) Mishler argumenta
que o engajamento baseado na Práxis significa transformar o mundo, o que se constitui
enquanto uma significativa atividade; enquanto que, a emissão de comportamento, a
maneira skineriana, é sem propósito. Na opinião de Mishler, Skinner pode lidar com o
comportamento porque este seria objetivo, mas, em si mesmo, sem propósito. De modo
contrário, Práxis seria proposital, mas, por ser um estado subjetivo, Skinner não poderia
investiga-lo. Mishler acusa o pensamento Skinneriano de ser uma ideologia mistificante
derivada do positivismo, um materialismo mecanicista que teria questionável mérito
cientifico.

Hoffman (1975) tem escrito uma extensa crítica à Teoria da Práxis a partir da
posição de Marxista ortodoxo. Ele explica como a Teoria da Práxis, na realidade,
representa um ataque ao Marxismo e observa que o Karl Marx maduro se distancia
completamente do uso do termo. Os elegantes teóricos da Práxis, assim com Habermas,
brilhantemente imaginam que eles têm transcendido os aspectos positivistas do
Marxismo, quando na realidade, eles transformaram o marxismo no oposto. Eles tem
reproduzindo um tipo de idealismo mais sofisticado, além de mais mistificado e
reacionário. Ironicamente, o próprio revisionismo dos teóricos da Práxis, em si serve de
ilustração curiosa das contradições internas da lógica dialética.

Na prática, tanto o Positivismo quanto a Teoria da Práxis tem premissas


idênticas, e ambas, em ultima instância reduzida ao solipsismo, tem a crença de que o eu
é a única coisa existente. Enquanto os positivistas corretamente acertam ao dizerem que
o conhecimento é iniciado nas sensações, eles negam que certa experiência pode
confirmar a real natureza do mundo externo. Apesar dos teóricos da Práxis verem que
são a antítese do positivismo, eles também negam que pode haver uma visão de mundo
que seja verídica com a realidade. Ambas as posições rejeitam a possibilidade de
entendimento do mundo como um todo. Marxismo por outro lado, assume a posição de
que é possível ter conhecimento seguro e objetivo em relação ao mundo; mas não
postula verdade absoluta alguma fora do desenvolvimento histórico. Hoffman tem
sintetizado a epistemologia marxista da seguinte maneira:

“A verdade sobre o mundo, tal como o universo em si, só pode se aprofundar,


desenvolver e crescer a partir de um período histórico para outro. De certo modo, a
verdade é absoluta, pois é perfeitamente real; e também é necessariamente relativa pois
ela só se expressa em si em condições históricas determinadas. Dessa forma,
combinando o relativo e o absoluto, o materialismo dialético tem decisivamente
quebrado com (ainda construído criativamente) com a metafísica de duzentos anos.”
(pp. 180-181).

A rejeição de Habermas e Mishler à possibilidade de um conhecimento seguro


acerca do mundo, e suas noções teológicas de Práxis, servem como uma vontade
revolucionaria automotriz, que, se aceitada, nos mergulham de volta a um atoleiro
metafísico do qual, tanto o Marxismo quanto o Behaviorismo Radical, lutaram para se
livrar deles. Teóricos da Praxis defendem uma metafísica separação entre Ser Humano e
natureza, rejeitando a dialética da natureza. Práxis não é uma superação do Positivismo;
ela é, como Hoffman apropriadamente coloca, positivismo em sua versão esquerdista.

2 Entendimento Interpretativo vs Análise comportamental

Mishler argumenta que o Behaviorismo é uma ideologia tecnocrática que


reproduz uma autocompreensão de sociedade com um modo cientifico de pensamento,
que restringiria nossa visão. Behaviorismo, ele argumenta, não pode levar em
consideração ações com propósito racional, e suas categorias são inadequadas para
descrever ações humanas carregadas de sentido, expressas através dos símbolos.
Através apenas de métodos subjetivos, como testes psicológicos e entrevistas, pode-se
realizar entendimentos interpretativos de ações humanas simbólicas. O preconceito de
Skinner e o uso limitado dos métodos objetivos, exclui a maior parte das experiências
humanas do estudo científico, Mishler afirma. De maneira resumida, Mishler está
dizendo que a Ciência do Comportamento Humano não é adequada para entender a ação
humana proposital e carregada de sentido.

Repetidamente, Skinner tem dado boas explicações sobre como o Behaviorismo


Radical considera o simbólico e o propósito. Em “Sobre o Behaviorismo”(1974), por
exemplo, ele diz que “significado” não pode ser considerado como uma propriedade de
uma resposta à situação, mas sim “das contingências responsáveis, tanto pela
topografia do comportamento, quanto pelo controle exercido por estímulos ." (Skinner,
1974, p 90). Ilustrando: para um rato pressionando a barra, dependendo do arranjo de
contingências em uma caixa de condicionamento operante, ela “significa” alimento, ou
“significa” água. A mesma análise de significado pode ser feita acerca do
comportamento verbal. (Skinner 1957).

De maneira similar, Skinner pontua que “propósito está nas pessoas enquanto as
contigências de reforçamento estão no ambiente, mas proposito é o melhor dos efeitos
de reforçamento” (p 56). Nós dizemos que “damos a uma pessoa um propósito”
reforçando tal pessoa de determinada forma. Pessoas que agem porque elas têm sido
reforçadas pela resposta podem sentir tal condição em seus corpos e nomearem essa
sensação como “objetivo cumprido”. O que Behaviorismo Radical rejeita é a ideia que
o sentimento de propósito das pessoas causam seus atos. Isso é, o Behaviorismo Radical
não negam a existência de eventos internos, mas rejeitam a noção de que certas coisas
como “propósito” são as causas do comportamentos. Deve-se perguntar as causas do
“propósito”, uma vez descobrindo estas, deve-se investigar as variáveis de controle do
comportamento em questão.

O Behaviorismo Radical rejeita explicações mentalistas como causas de


comportamento como “intenção” e “propósito”. Mas ao mesmo tempo, o Behaviorismo
Radical considera certos eventos como “sentimentos”, “pensamentos” e consciência.
(Day,1969). Analises complexas do comportamento humano, tanto os comportamentos
observáveis quanto os encobertos, em termos de contingências de reforçamento,
transcendem o mecanicismo do positivismo do Behaviorismo Metodológico e o
subjetivismo da psicologia mentalista. No lugar de uma ciência do comportamento que
é, tanto materialista quanto dialética, Mishler nos oferece a anti-materialista e neo-
hegeliana teoria Critica de Habermas.
3.Opressão vs Controle recíproco

Nessa seção o artigo de Mishler tem considerável mérito e sublinha o perigo da


terminologia técnica mal aplicada. Como justificativa Mishler objeta o tratamento de
Skinner ao problema do contra controle. Aqui Mishler é correto em sua observação que
a discussão Skinneriana do contracontrole obscurece a real natureza da opressão. É
politicamente ingênuo e perigoso sugerir que a relação entre, por exemplo, escravo e
Senhor é apenas um controle recíproco. Mishler afirma:

" A falta de uma análise política explícita é particularmente séria neste assunto.
A formulação de Skinner de que 'todo controle é recíproco' é oferecida para tranquilizar
os críticos que persistem em perguntar: 'Quem controlará os guardiões?' A pergunta em
si é muito limitada e permite a resposta que ele dá. A questão crítica não é que haja um
problema abstrato de controle e custódia, mas a existência de assimetrias de poder
político, práticas sistemáticas de discriminação, interesses opostos de classes sociais e, é
claro, a brutalidade da opressão coercitiva. Todos esses fatos sócio-políticos são
obscurecidos pela tela de um vocabulário técnico mal aplicado. " (p.35)

Mas então Mishler vai identificar o Behaviorismo com um aporte teórico


sociológico funcionalista, o que não é verdade.

Nas Ciências Sociais burguesas o aporte teórico funcionalista concebe a


sociedade como um sistema de uma máquina, onde cada instituição está interligada e
serve a funções integradas, que mantêm o sistema. Marxistas também veem a sociedade
como um sistema, mas ela é um sistema de contradições em constante evolução (com
suas contingências de reforçamento antagônicas que são oblíquas na sociedade de
classe). O modelo funcionalista é mecanicista; Apesar de que ele considera que pode
haver "disfunções" na sociedade, não há nesse modelo, luta de classes. Por outro lado, o
modelo marxiano é dialético e a luta de classes é central.

Apesar de em seus escritos como em "Ciência e Comportamento Humano"


(1953), Skinner criticar os governos por sua exclusiva dependência ao controle
aversivo, ele não é um marxista e nem se pretende ser. Ele vê a necessidade de
mudança social fundamental, mas ele não dá credito ao materialismo histórico, a luta de
classes, a necessidade de uma revolução socialista, tão pouco ele entende a natureza de
classe do Estado (q.v., Lenin 1932).

Mesmo assim, não ha nada inerente à natureza dos analistas experimentais do


comportamento que limite suas concepções. Ao contrário. Quando behavioristas
começarem, seriamente, analisar, "contingências de larga escala" (ou
"macrocontigências") vai começar a fazer sentido para nós as grandes variáveis de
controle do operante no nível institucional. Podemos antecipar que nosso campo
começará se atrair pelas teorias marxistas. Quando os behavioristas começarem a
analisar os incontáveis antagonismos macrocontigênciais que existem sob o capitalismo
(e.g exploração, alienação, desemprego, opressão racial, desorganização social, etc.) nós
talvez possamos ver uma interpretação do Behaviorismo Radical junto com a do
socialismo científico, o que certamente será profundamente enriquecedor para ambos os
campos.

Em resposta a Mishler, com tenho argumentado, o Behaviorismo Radical não


possui elementos que o caracterizam como teoria funcionalista. Em contraste com as
concepções funcionalistas das Ciências Sociais burguesas, as concepções operantes são
capazes de mapear o mundo empírico de maneira verdadeiramente dialética.
Consequentemente, apenas a ciência do comportamento humano tem potencial de
formar o elo, materialista dialético, entre o pensamento psicológico, a teoria
evolucionista de Darwin e o materialismo histórico dialético.

Racionalidade prática vs Racionalidade Computacional

Mishler corretamente distingue dois tipos de racionalidade: a dialética


(racionalidade Prática) e a formal (racionalidade computacional), cada uma, como tem
sido discutido, contendo em si uma série de premissas acerca da realidade social. Com
exemplo de racionalidade formal, a jusrisprudência burguesa presume formal equidade
entre todos os cidadãos diante da lei; O "sistema de empreendimento livre" pressupõe
equidade formal de troca. A racionalidade dialética, de outra forma, provê ferramentas
de análise para ver além das aparências e discernir as essências. Isso é: um sistema de
leis injustas que favorecem que favorecem a burguesia e um mundo dominado pelo
monopólio Capitalista e exploração Imperialista.

Mishler (1976) insiste que os behavioristas podem operar apenas nas bases da
racionalidade formal:

"O experimento é racional se ele arranja um esquema de reforçamento efetivo, e o


sujeito é racional se ele se comporta de certa forma como que para assegurar o maior
número de reforçamento possíveis sob determinadas condições.” (p.39)

Na prática, Mishler oferece um critério de racionalidade formal behaviorista que


é definido por aqueles que estão no poder institucional de acordo com os objetivos
institucionais pretendidos. Os behavioristas supostamente neutros, de acordo com
Mishler, acabam por entender que os objetivos das instituições sociais não são
questionáveis e o Status quo é aceito como uma dádiva.

Não há como negar as aplicações reacionárias das analises comportamentais


são hegemônicas; os casos têm sido bem documentados pelos próprios analistas do
comportamento (Holland, 1974a, 1974b, 1978; Redd & Sleator, 1976; Winnet &
Winkler, 1974). Mas novamente Mishler faz uma generalização grosseira de todo
behaviorista e do Behaviorismo em geral. Mishler tem mostrado que a racionalidade
formal, e suas associações políticas ramificadas, são intrínsecas ao behaviorismo. Todas
as ideias acerca das relações sociais são políticas e, desde quando a analise do
comportamento aplicada começou a se preocupar com comportamentos de importância
social, não podemos desconsiderá-la. Mas nem a saúde pública, a ecologia, geografia,
ou outros campos, podem ser entendidos sem as relações sociais. Mishler deve também
notar que muitos behavioristas- behavioristas da Social Action, além de outros- evitam
usos reacionários das análises comportamentais e estão ativamente se envolvendo na
luta contra a injustiça social.

Mishler não tem absolutamente nada de bom para dizer sobre o


"Skinnerianismo". Marx foi um grande admirador dos avanços da ciência e tecnologia e,
indubitavelmente, ele teria saudado o desenvolvimento da tecnologia comportamental
com entusiasmo. Mas Mishler não. Ele nunca mencionou o sucesso notável das
aplicações da análise comportamental em certas áreas como: educação especial, criação
de filhos, prática clinica, tecnologia instrutiva, cuidados com a saúde, docência
universitária, e auto-controle (aqui o experimentador e o sujeito estão dentro da mesma
pele). A despeito disso, Mishler é completamente antagônico para com a metodologia
científica que fez esse significante avanço histórico possível.

A acusação de racionalidade formal e manutenção do status quo não tem


substância no que diz respeito ao behaviorismo. Localizando as causas dos problemas
sociais e o seu desenvolvimento, sem ao invés disso internalizá-lo nas pessoas, as
conclusões behavioristas são uma grande ameaça ao Status quo da ideologia burguesa.
Nenhuma outra Psicologia tem produzido tecnologia tão ameaçadora e poderosa, e
nenhuma outra Psicologia é materialista e dialética. Em larga oposição as teses de
Mishler, eu afirmo que a única teoria psicológica adequada ao marxismo é o
Behaviorismo Radical.

5. Prática Revolucionária Vs Tecnologia Social

Nessa seção, Mishler diz que "skinnerianismo" não é uma pratica revolucionária,
e daí ele repete, essencialmente, os mesmos argumentos como na seção anterior. Em um
tom apoético, Mishler (1976) reafirma: "Habermas está propondo que a dominação da
tecnologia pode ser combatida apenas pela via da discussão livre entre aqueles que
serão afetados por ela [...] de modo que uma decisão racional possa ser tomada."

A "proposta de Habermas" pode ser vista como um pouco suave no contexto do


discurso radical corrente, uma atualização do Jeffersoniorismo, (p.42)

A proposta de Habermas é de fato branda; é a fórmula inútil de um moralizador


pequeno-burguês que substitui a prática revolucionária no mundo real pela retórica de
tom humanístico.

Uma lida rápida nos escritos de Habermas como "Teoria e prática" (1973)- seria
mais adequado se o título fosse "Teoria sem Prática"- se faz óbvio ao leitor que seu
estilo sensacionalista serve mais para obliterar do que para esclarecer questões, e que
suas preocupações idealistas estão longe da luta concreta do trabalho de massas.
A questão permanece, o que é a prática revolucionária? Não tenho ideia da
concepção de Mishler sore prática revolucionária. A saber:

"se nós seguirmos as contribuições da crítica Haberiana, pratica revolucionária


requer que nós reinstituamos ou reinseramos a 'estrutura social total de interesses' no
processo de tomada de decisão política por meio das quais estratégias, tecnologias e
sistemas são escolhidos e estabelecidos.. (Mishler, 1976 p.41)

Se “estrutura social total de interesses” significa o verdadeiro governo da


maioria, então ele está pressupondo uma democracia socialista sob a ditadura do
proletariado (que ainda não existe). Se ele está se referindo a sociedade capitalista,
mesmo sob uma forma de governo parlamentarista, sua prescrição é um conto de fadas.
Para ilustrar a hipocrisia da democracia burguesa, quando o presidente Carter,
recentemente, ordenou a impressionante volta ao trabalho dos mineradores de carvão
em plena vigência do "Taft-Hartly act", ele declarou que estava agindo para "proteger o
país" e "preservar a saúde e segurança de seu povo" (a "total estrutura social?). Os
mineiros sabem melhor, e os Marxistas também. Seguindo os passos de Habermas, a
prática revolucionária em Mishler se torna uma mera moral pequeno-burguesa.

Marxistas são perfeitamente claros sobre o que eles chamam de prática


revolucionária. Ao contrario da propaganda da imprensa capitalista, prática
revolucionária não tem haver com advogar pelo terrorismo. Partindo de realidades
científicas (materialismo dialético), contudo, marxistas tem pequenas divergências se a
mudança social vai ser acompanhada de violência. Mas como James P. Cannon nos
lembra em "Socialismo á prova”(Socialism on Trial) (1970), violência sempre será
incitada, não pela maioria oprimida, mas pela classe dominante para conservar seus
privilégios a todo custo. Infelizmente as lições da História, casadas com nosso
conhecimento acerca das contingências de reforçamento - particularmente: extinção-
induzida, agressão e contracontrole - não nos dá nenhuma esperança que os capitalistas
dos EUA vão se comportar de maneira diferente.

Para os marxistas, o guia indispensável para a prática revolucionária é um


programa que seja totalmente materialista e dialético, e um veículo indispensável é o
partido leninista: um partido de tradição Bolchevique, voltado para as necessidades
objetivas do proletariado, capaz de alcançar as progressivas demandas para avançar na
luta de classes. O que marxistas ainda não tem reconhecido é que o estabelecimento
bem-sucedido do Socialismo também requer um Behaviorismo Dialético.

Os analistas do comportamento tem um papel histórico em construir um futuro


socialista. É tempo de olharmos de uma maneira crítica para nós mesmos a luz das
tendências históricas do século. Onde nós estamos em relação a um movimento
revolucionário? Onde estamos vis-à-vis com o movimento revolucionário? Por mais
impressionante que seja nossa tecnologia comportamental, dada a magnitude dos
problemas sociais de hoje, não estaríamos meramente rearranjando os móveis no convés
do Titanic? Para os behavioristas que querem desenvolver uma perspectiva do tema da
pratica revolucionária, eu recomendo um artigo de Al Szymanski: "A prática da Ciência
Social Marxista" (1977) (The Practice of Marxist Social Science).

Epílogo

Mishler concluí dando um tiro de despedida no "skinerianismo", aparentemente


em resposta às críticas que ele solicitou de alguns behavioristas (ele reconhece Martin
Kozloff, Robert Liberman e David Mostofsky) Mishler alega que, em defesa do
behaviorismo, eles o culparam por não ter levado em conta diferentes tipos de
behaviorismo (Nos termos de Mishler: o Behaviorismo leve, o eclético, os bons moços
do tipo-JABA contra os ortodoxos, rígidos, os caras maus do tipo-JEAB); e, em
segundo lugar, por negligenciar a possibilidade de qualquer grau de autonomia entre os
valores e a teoria psicológica (ou seja, por negar que os behavioristas possam ser
politicamente radicais). Mishler, sumariamente, descarta ambas as declarações de
defesa:

"Sem avaliação crítica da dependência de práticas especificas ao contexto mais amplo,


nem o pragmatismo ecletista de London (1972), nem a abordagem Radical de Holland,
são capazes de desviar o Behaviorismo de seu impulso central, ou nos ajudar a resistir
às suas consequências.."

(1976,p 45)

Mshler nos faria seguir o caminho contemplativo de Habermas da libertação


através da discussão livre, do diálogo, e pensamento reflexivo. Eu desejo concluir
fazendo uma contraposição: No nível teórico, expandir a perspectiva Behaviorista
através da fertilização cruzada com o Socialismo científico. No nível prático aplicar a
tecnologia do comportamento para avançar a luta de classes rumo a ditadura do
proletariado, um objetivo que parece ser estranho para o jeito de Mishler pensar.

Nota para citação: Behaviorismo Político-Radical. Um resumo em crônica. Artigo não


publicado, agosto de 1977. (Disponível em Radical Political Behaviorists,
Departamento de Psicologia, California State University-Sacramento, Sacramento,
California 95819)

Referencias

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Century-Crofts, 1969. Skinner, B.F. Beyond Freedom and Dignity. New York: Bantam
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Szymanski, A. the practice of Marxist social science. Insurgent Sociologist, 1977, 7, 53-
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be quiet, be docile. Journal of Applied Behavior Analysis, 1972, 5, 499-504. 7

Notas de Rodapé:

1. Novack (1978) descobriu que o revisionismo no marxismo ocidental assume


uma de duas formas opostas: '' humanista '' ou '' cientificista '' - conforme
exemplificado nos escritos de Sartre e Althusser, respectivamente. Novack
afirma: “Por mais que discutam entre si, eles representam deformações
igualmente unilaterais da teoria socialista. O marxismo é humanista e
científico..”(p. 182). Essas duas formas de revisionismo podem ser
caracterizadas filosoficamente como idealistas e positivistas. Idealismo é a visão
de que a realidade consiste em idéias, mente, eu ou espírito, em vez de matéria.
Por outro lado, o positivismo mantém apenas o que pode ser imediatamente e
empiricamente verificável como sendo conhecimento válido. Ironicamente, o
positivismo, apesar de seu elogio efusivo à ciência, chega ao mesmo ponto final
não materialista que o idealismo. A falha fatal na teoria positivista do
conhecimento é o suposto abismo entre os dados dos sentidos e o mundo
externo, resultando na desconfiança na própria existência desse mundo material
externo.
2. Comentando sobre a degradação do materialismo dialético, Novack (1978)
escreve: Em seu catecismo obrigatório de materialismo dialético e histórico,
Stalin omitiu a menção da lei da negação da negação, que estabelece o padrão de
desenvolvimento progressivo em que o novo substitui o antigo em um nível
superior como o resultado do conflito de forças opostas. Essa omissão em teoria,
esperava-se, protegeria a burocracia (soviética) da negação na prática. O
maxismo, em vez de ser uma escola de pensamento irrestrito, tornou-se uma
escola de baboseiras escolásticas. O materialismo dialético é um método
refinado de análise científica, não um conjunto de fórmulas a serem reiteradas de
acordo com os ditames vulgares do estado. Quer seja proveniente de Moscou,
Pequim ou de qualquer outro lugar, o marxismo revolucionário nada tem em
comum com esse dogmatismo stalinista.
3. Um bom ponto de partida, junto com o clássico de Marx e Engels, “O manifesto
do Partido Comunista” (1848), é a nova introdução de Ernest Mandel ao
marxismo, “Da sociedade de classes ao comunismo” (1978). Mandel explica os
elementos básicos do materialismo histórico, a teoria econômica marxista, a
história do movimento dos trabalhadores e os problemas de estratégia e tática
para o movimento dos trabalhadores hoje. Cada capítulo é acompanhado por
uma lista útil de '' leituras adicionais ''. Também é útil a cartilha “Marxismo para
iniciantes” (Rius, 1976), escrita no estilo de quadrinhos de Behaviorbelia e
contendo um glossário útil de termos marxistas. (Essas publicações estão
disponíveis na Pathfinder Press, 410 West Street, NY 10014.).
4. Independentemente um do outro, William Kolbe e eu chegamos à mesma
conclusão básica sobre a natureza materialista e dialética do behaviorismo
radical. Foi só depois de escrever o primeiro rascunho deste artigo que tive a
oportunidade de ler o artigo acadêmico e de parturiente de Kolbe (1978).
5. Um modelo exemplar de prática revolucionária é o programa da Quarta
Internacional, a organização mundial da revolução socialista, e seu componente
simpatizante nos Estados Unidos (a legislação reacionária impede a filiação
formal) o Partido dos Trabalhadores Socialista. Chamado de Programa
Transicional (Trotsky, 1974), ele é um programa de ação de massa projetado
para preencher a lacuna entre a fraqueza relativa dos partidos revolucionários e
as possibilidades objetivas para a revolução socialista. O cerne do programa é
um método de aproximações sucessivas que, em qualquer nível da luta de
classes, evita sair do caminho revolucionário desviando-se muito para a direita
(reformismo oportunista) ou para a esquerda (sectarismo ultralesquerdista).
6. Uma vez que o significado de “ditadura do proletariado” continua a ser um
ponto central de controvérsia entre a esquerda política, cabe-me ser explícito.
Por “ditadura” quero dizer o exercício do poder político pela classe trabalhadora
como um todo, não uma ditadura restrita imposta aos trabalhadores por uma
minoria governante de burocratas privilegiados. Sob a '' ditadura do proletariado
'', como o termo é usado aqui, a classe trabalhadora exerce o poder do Estado
dentro de uma estrutura institucional que surge de conselhos de trabalhadores
(sovietes) soberanos, centralizados e democraticamente eleitos. Para uma
explicação detalhada da ditadura do proletariado do ponto de vista do marxismo
revolucionário, consulte o panfleto Democracia Socialista (disponível por 75c
na Pathfinder Press, Ltd., 25 Bulwer St., Toronto, Ontario M5T lAl)
7. (Página 8).

Notas do tradutor: No corpo do texto, as obras nominalmente citadas pelo autor estão
em tradução livre.

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