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A punição funciona ?

0 que há nela para nós?


Por que pu n im o s? O que querem os obter? A principal razão é
controlar o u tra s pessoas. Aqueles que relu tam em adm itir a p ossibi­
lidade de controle com portam ental deveriam se p erg u n ta r porque
desejam ver m u ltas, ordens de prisão e talvez m orte d istrib u íd as
p a ra aqueles que praticam crim es contra a sociedade. Se o propósito
d a punição não é controlar com portam ento — d esen co rajar infrato­
res e ou tro s crim inosos potenciais de fazer a m esm a coisa o u tra vez
— então a motivação p a ra a punição só pode ser revanche. Mas
seguram ente não procuram os revanche ao p u n ir a crian ça que se
com porta mal, ou aquela crian ça que coloca em perigo a si m esm a
ou aos ou tro s ao b rin ca r com o fogo, ou aquela que im pulsivam ente
atrav essa correndo u m a ru a que tem tráfego intenso. Se não e sp e ­
rássem os im pedi-las de se com portar mal, ou de a rrisc a r tolam ente
s u a s vidas, deveríam os en ca rar a punição de crian ças como n a d a a
não ser crueldade.
Punim os p esso as b asead o s n a crença de que as levarem os a
agir diferentem ente. U sualm ente querem os p a ra r ou evitar ações
p articulares. P unim os alguém cuja co n d u ta consideram os m á p a ra a
Coerção e s u a s im plicações 81

com unidade, m á p ara algum outro indivíduo, ou m esm o m á p a ra a


própria pessoa. Q uerem os colocar um fim à co n d u ta indesejável.
A lgumas vezes punim os u san d o a rem oção de reforçadores
positivos: retiram os brinquedos de crian ças depois que elas se com ­
portaram mal: m an d am o s infratores p a ra a prisão, isolando-os d a ­
queles que os am am , de fam iliares e amigos; respondem os ã ag res­
são social, económ ica e física de um outro país apro p rian d o -n o s de
parte de seu território. Algumas vezes, em vez de re tira r reforçadores
positivos, tentam o s p a ra r u m a atividade aplicando reforçadores n e ­
gativos: espancam os, repreendem os ou ridicularizam os u m a criança
que se com porta mal, batem os em prisioneiros que d esresp eitam as
regras, atiram os bom bas em cidades de u m outro pais em retaliação
por seus ataques. A dm inistram os todos os tipos de punição de for­
ma a controlar o u tras pessoas a fim de p a ra r ou im pedir q u aisq u er
de su as ações que nos m achucam , privam , in su ltam ou d esag ra­
dam. Por su a vez. outros u sam punição p ara nos controlar, a fim de
parar ou im pedir q u aisq u er de n o ssas ações que os m achucam ,
privam, in su ltam ou desagradam .
Ninguém gosta de ser punido. Ainda assim , prontam ente,
usamos ou toleram os punição. R aram ente perguntam os se punição
é a única ou m esm o a m elhor m aneira de fazer as pessoas agirem
como querem os. Por meio de leis e costum es sociais cada um de nós
tem até m esm o, concordado que punição é u m a m an eira aceitável
para a com unidade controlar n o ssas próprias ações. E speram os que
outros façam ju s tiç a e concordam os em fazê-la nós m esm os.
R aram ente invocam os ju s tiç a como u m a razão p a ra d a r al­
guma coisa boa p a ra alguém que te n h a se com portado bem . Alguém
que obtém “ap en as so b rem esa” não recebeu algo doce como um
retom o razoável por bom com portam ento. Ao contrário, recebeu
uma punição por agir mal. J u s tiç a p asso u a significar punição. O
princípio, “a ju stiç a prevalecerá”, nos faz sen tir seguros já que sab e­
mos que a punição será aplicada a outros que se com portam mal.
Na m edida em que o princípio se aplica tam bém a nós, ele é u m a
ameaça. O alerta de que serem os am eaçados com ju s tiç a serve como
uma m uleta p a ra o autocontrole, aju d a-n o s a nos m a n ter n a linha
quando som os ten tad o s a nos desviar.
Punição é trivial em nosso m undo. Ela funciona? Ela atinge
seus propósitos? Ela é realm ente u m a m an eira efetiva p a ra im pedir
ou nos livrar de com portam ento?
Seria conveniente se essas p erguntas tivessem sim plesm ente
“sim” ou "não” como respostas. Elas não têm. O tópico é excessiva­
mente complexo. S u a resolução requer algo m ais do que m era espe-
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culação, viés filosófico ou emocional, preceitos religiosos, ou p o s tu ­


ra s m orais.
Ninguém gosta de ser punido e alguns descobrem desp razer
em aplicar punição. O argum ento de que punição não deveria ser
u sa d a é freqüentem ente su ste n ta d o por apelos a religião, m oralidade
e decência comum. Por outro lado, aqueles que acred itam que a
punição é necessária e desejável tam bém s u ste n ta m s u a posição por
apelos a religião, m oralidade e, se não decência com um , senso co­
m um . Só ocasionalm ente ouvimos solicitações de dados. O que real­
m ente acontece à co n d u ta que é pu n id a?
C ertam ente, a punição capital elim ina com portam entos —
faz isto b a sta n te diretam ente, exterm inando aquele que se com por­
ta. O assassin ato pela sociedade realm ente reduz o a s s a s sin a to por
indivíduos? Colocar p esso as n a prisão tam bém pode elim inar com ­
portam entos — é m ais difícil, em bora certam ente não im possível
com eter assassin ato , roubo, fraude ou estu p ro a trá s das grades. O
encarceram ento im pede p esso as de com eter esses crim es depois que
elas saem ? P enalidades financeiras podem aca b ar com o lucro dos
sonegadores. Confiscos ocasionais os m antêm ho n esto s en tre a u d i­
torias ou elim ina a evasão de im postos por outros que têm m ais a
g an h ar?
E statísticas sociais podem aju d ar a resp o n d er tais questões,
m as estão notoriam ente ab ertas à m anipulação e viés interpretativo.
Se m ais assa ssin a to s ocorressem em estados que proibiram a p en a
capital, isto significaria que a p en a capital é necessária? Não n eces­
sariam ente. A ssassin ato s freqüentes poderiam refletir u m a econo­
m ia em depressão, escolas inefetivas ou sim plesm ente u m a p o p u la­
ção m ais densa. Por outro lado, a baixa incidência de crim es violen­
tos em estados que proibiram a p en a capital ju stificaria e sta políti­
ca? M ais u m a vez, não necessariam ente. Talvez a conform idade a p a ­
rentem ente não-coagida dos cidadãos reflita o u tro s tipos de coerção
— o estado pode ter leis estritas de controle de arm as ou a polícia
pode realizar um program a de prevenção de crim es m ais efetivo.
Inúm eros fatores devem se r considerados. D ados coletados em si­
tu açõ es não-contro lad as podem fornecer indicações valiosas e h ip ó ­
teses in teressa n tes sobre questões sociais im portantes, m as pode­
m os sem pre disco rd ar d as interpretações e conclusões. Q uando opi­
nião pessoal e política pública são s u ste n ta d a s por estatísticas cor­
relacionais o ceticism o é justificado.
É aqui que a análise do com portam ento pode contribuir. No
laboratório é possível dividir o m undo, descobrir como cad a elem en­
to tra b a lh a independentem ente dos outros e, então, colocar as p ar-
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tes ju n ta s novam ente, u m a de cada vez, p a ra ver como elas in te ra ­


gem u m a s com a s o u tras. Em vez de b a se a r n o ssa opinião sobre a
desejabilidade da punição em nossos sentim entos, convicções reli­
giosas ou m orais, ou dados incorretos, podem os chegar a conclusões
racionais b asead a s em evidência válida. Os dados de laboratório
s u sten ta m fortem ente a posição de que punição, em bora claram ente
efetiva no controle do com portam ento, tem sérias d esvantagens, e
que nós precisam os desesperadam ente de alternativas.

Como se estuda a punição?


Que tipos de experim entos to rn am possível an alisar os efei­
tos da punição? Uma exigência é u m sujeito que esteja fazendo algo
regularm ente e previsivelm ente; u m a linha de b ase de atividade e s­
tável em an dam en to nos dá u m in stru m en to de m edida confiável. Na
m edida em que a lin h a de b ase é estável, sabem os que n en h u m fator
desconhecido está fazendo o sujeito m u d ar seu com portam ento.
Reforçam ento é u m in stru m en to poderoso p ara produzir li­
n h as de b ase com portam entais que facilitarão a análise e perm itirão
generalizações a p a rtir de sujeitos individuais. Um arranjo, por
exemplo, u s a pelotas de alim ento como reforçadores p ara en sin ar
um rato de laboratório a p ressio n ar u m botão — u m a b a rra de metal
m ontada n a parede acim a do d isp en sad o r de alim entos. Os reforça­
dores alim entares, então, m antêm o anim al pressionando a b arra
em u m a ta x a estável. Com este com portam ento confiável como um a
linha de base, podem os então p u n ir o anim al em vez de (ou em
adição a) dar-lhe alim ento quan d o ele p ressio n a a b arra. A punição
faz com que ele p are de p ressio n ar a b arra? C om um ente, quando
um a lin h a de b ase com portam ental perm anece co n stan te, podem os
confiavelm ente atrib u ir q u aisq u er variações a q u alq u er novo ele­
m ento que o experim entador introduza — n este caso, a punição.
Alimento é freqüentem ente o reforçador positivo que gera e
m antém a atividade de lin h a de base de u m sujeito. C hoque elétrico
é um punidor com um ente usado. Choques q u ase sem pre funcionam
como reforçadores negativos p ara atos que os term inam . E como
punidores p a ra atos que os produzem . (Mais tard e terem os o p o rtu n i­
dade de considerar as circu n stân cias n a s quais choques funcionam
realm ente como reforçadores positivos, to m an d o m ais provável o
com portam ento que os produz.)
Os choques u sad o s como p u nidores no laboratório não são
como os choques eletroconvulsivos u sad o s algum as vezes n as te n ta ­
tivas p a ra aliviar depressão severa e debilitante de p essoas. Na ter a-
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pia eletroconvulsiva, m édicos podem repetidam ente p a s s a r u m a cor­


ren te elétrica in ten sa através da cabeça de um paciente, que é forte
o suficiente p a ra c a u s a r convulsões e perd a de consciência. Na
m aioria dos estud o s de punição em laboratórios, o choque atrav essa
dois pontos da superfície da pele do sujeito e é suficientem ente forte
p a ra se r doloroso, m as não cau san d o q u alq u er reação física exceto o
retraim ento reflexo, como quando retiram os a m ão de u m fogão
quente. Choque eletroconvulsivo, u m a terap ia controvertida, não é
um a técnica de análise de com portam ento aplicada. Se formos p u n ir
u n s poucos sujeitos p a ra obter conhecim ento que aju d a rá m u itas
pessoas, som os obrigados a u s a r técnicas de com provada generali­
dade. Luzes b rilh an tes, sons altos, lufadas de ar, p erd a de s u s te n ta ­
ção e outros eventos desagradáveis têm sido tam bém u sad o s experi­
m entalm ente como punidores, m as se u s efeitos são facilm ente su p e ­
rados por aspectos não-controlados da histó ria com portam ental de
um sujeito ou por aspectos irrelevantes de um am biente experim en­
tal. Uma razão im p o rtan te p a ra u s a r choque é que seu efeito p u n iti­
vo m ostra ser am plam ente generalizável en tre espécies, tipos de
com portam ento e situações.
Além disso, m ecanism os autom áticos podem liberar choques
exatam ente quand o o experim ento exige. Isto não é ap en as u m a s ­
su n to de conveniência de laboratório. O tem po en tre o ato e a co n se­
qüência determ in a criticam ente os efeitos da punição. Uma inabili­
dade p a ra controlar p recisam ente e sta relação tem poral levará o
pesquisador a conclusões que podem ser não ap en as não-inform ati-
vas, m as realm ente enganosas.
E xperim entos que provocam dor nos sujeitos devem sem pre
p a ssa r por escrutínio crítico. Q ual é o ganho esperado? O alívio de
sofrim ento antecipado se sobrepõe ao sofrim ento que será infligido?
Temos justificativa p a ra pedir heroísm o?
A prim eira consideração ao fazer tais ju lg am en to s não é o
dano potencial p a ra os sujeitos. Em vez disso, devemos prim eiro
avaliar a adequação técnica dos experim entos. Se o controle de um
experim entador sobre fatores críticos é frágil a ponto de im pedir
interpretação clara dos resu ltad o s ou, talvez, a ponto de até m esm o
produzir conclusões enganosas, então, n ad a pode ju stificar o experi­
m ento. A ntes que padrões éticos to m em -se relevantes, u m experi­
m ento deve aten d er a padrões científicos. Se, porque sentim os que o
uso de choque elétrico é m oralm ente repugnante, u sarm o s form as
de punição que não podem os controlar adequadam ente, produzindo
assim dados que não são claros, nosso trab alh o é m aldirigido cientí­
fica e m oralm ente.
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Portanto, adequação técnica ê u m pré-requisito p a ra avalia­


ção ética. Um experim ento que não satisfaz padrões técnicos já não
é ético. É n este contexto que a relativa facilidade de m edir choques
elétricos aju d a a ju stificar seu uso no estu d o d a punição. Novamen­
te, precisão não é ap en as um ritu al científico. A q u an tid ad e total de
punição que um sujeito obtém influenciará crucialm ente o que a
punição produz. P ara verificar q u a n ta punição u m sujeito recebe,
devemos considerar o núm ero total de punições, ju n to com a in ten ­
sidade e d u ração de cad a punição individual. Choque elétrico provê
a precisão de m edida que é necessária an tes que possam os delinear
conclusões a cu ra d as e generalizáveis sobre o papel que a punição
desem penha no controle d a conduta.

0 que realmente acontece?


Com ecem os com u m rato de laboratório que a p ren d e u a
pressionar u m a b a rra e obter pelotas de alim ento que caem em
um a b an d eja abaixo d a b arra. O anim al tra b a lh a estavelm ente,
ganhando s u a vida de acordo com as contingências que seu m undo
estabeleceu.
E sse m undo agora m u d a su a s regras. P ressio n ar a barra,
antes um a ocupação respeitável, não é m ais co n sid erad a desejável;
assim, ju n to com a pelota de alim ento o anim al recebe u m choque
em seu s pés quan d o qu er que pressione a b arra. O choque é relati­
vam ente suave e d u ra ap en as u m a fração de segundo. E sta punição
atenderá seu propósito, fazendo com que o anim al pare s u a ativida­
de “indesejável"?
O anim al realm ente p á ra de p ressio n ar a b arra. Poucos se
surpreenderão pelo ap aren te sucesso d a punição. A m aioria de nós
recebeu um choque acidental de u m a fiação elétrica, ou viu alguém
receber um choque e podem os facilm ente em patizar com qualquer
um, h u m a n o ou não, que sofra u m a experiência sem elhante. Nós
nos surpreenderíam o s ao observar qualquer u m m an ten d o u m ato
que produz choques.
Mas a histó ria não term in a aqui. O anim al finalm ente com e­
ça de novo. Após um período de su p ressão , a atividade g rad u alm en ­
te se recupera; o anim al acab a pressionando a b a rra tão rap id am en ­
te como sem pre, m esm o que receba u m choque cada vez que o faz.
A punição funciona? Este tipo de coerção elim ina atividades
indesejáveis? Neste prim eiro experim ento, os choques im pediram o
anim al de pressio n ar a b a rra ap en as tem porariam ente; eles não
elim inaram o com portam ento p erm anentem ente. Se não tivéssem os
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continuado a observar o anim al, entretan to , poderíam os te r concluí­


do que a punição foi um com pleto sucesso.
Nosso experimento, em vez de resolver o problem a original,
ap en as colocou um a nova questão que precisam os responder an tes
que cheguem os a u m a decisão m ais fu n d am en tad a sobre a efetivida­
de da punição. Vimos que o choque que de inicio efetivam ente parou
o com portam ento do anim al, então, perdeu esta função. Devemos
agora perguntar: “Como pode um punidor, que originalm ente s u p ri­
m iu a atividade, to rn ar-se incapaz de servir ao propósito pretendido?”
U m a resp o sta possível to rn a-se clara quan d o perguntam os:
“Por que, em prim eiro lugar, o anim al estava tão assid u am en te p re s­
sionando a b a rra ? ” O alim ento, n atu ralm en te, era responsável. O
anim al estava gan h an d o todo seu su ste n to pressio n an d o a barra.
Q ualquer coisa que afastasse o anim al de seu trab alh o a p e n a s o
deixaria m ais fam into. As d u a s conseqüências de p ressio n ar a b a rra
— alim ento e choque — estavam , p o rtanto, em com petição direta,
u m a tendendo a fazer o anim al p ressio n ar m ais freqüentem ente, a
o utra m enos freqüentem ente. Q uanto m ais tem po o anim al parou,
m ais fam into se tornou; finalm ente o reforçam ento positivo por p re s­
sionar a b a rra to rn o u -se m ais poderoso que a punição. O anim al
retornou a s u a atividade “ilegal” porque aquela era a s u a ú n ica
m aneira de obter alim ento.
Mesmo n este estágio inicial de n o ssa avaliação d a punição, o
am biente experim ental relativam ente descom plicado nos perm ite ob­
servar um m ecanism o sim ples que indiscutivelm ente produz m u ita
crim inalidade reincidente. Jovens são libertados de reform atórios e
adultos de prisões com repertórios de com portam entos não m ais
aceitáveis p a ra a sociedade do que os atos d elinqüentes que os
levaram ao encarceram ento. De que outro modo eles irão ob ter seu s
reforçadores? Eles não têm o u tras b a rra s p a ra pressionar.
Não deveria ser su rp reen d en te que os “choques” que a socie­
dade dá em seus delinqüentes não p u n am eficientem ente. Em bora
fatores com plicadores m odifiquem este quadro sim ples, n o ssa p ri­
m eira observação de laboratório fornece u m ponto de p artid a tão
direto que só podem os nos su rp reen d er com o fato de a sociedade
ter ignorado s u a relevância.
. Poderíam os checar experim entalm ente e sta conclusão alte­
rando á efetividade relativa de alim ento e choque. S uponham os, por
exemplo, que nosso sujeito recebesse choques m ais fortes. Com p u ­
nição m ais e m ais forte descobriríam os que o anim al p á ra de p re s­
sionar a b a rra por períodos cad a vez m ais longos. A in ten sid ad e do
choque dem onstra ter u m efeito poderoso. Com choques m uitíssim o
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intensos, a atividade não m ais se recupera; o anim al ja m a is volta à


sua ocupação anterior. Se ele não p u d esse en co n trar algum a o u tra
m aneira de obter comida, ele presum ivelm ente m orreria de fome,
embora n en h u m experim ento te n h a ido tão longe.
Então, em com petição com reforçam ento positivo, finalm ente
o choque perde s u a efetividade como u m agente coercitivo, a não ser
que seja extrem am ente intenso. Mas, se a punição for suficiente­
mente forte, pode até mesm o por um fim à produção de reforçadores
positivos que su sten ta m a vida. E assim , vemos u m a b ase p ara a
aparentem ente interm inável lu ta entre aqueles que b an iriam p u n i­
ções cruéis e n ão -u su ais e aqueles que in sistem que ap en as m edi­
das severas podem conter a ilegalidade.
O que freqüentem ente não é avaliado é que a elim inação
completa da com petição entre reforçam ento positivo e punição pode
fazer com que m esm o a punição suave pareça funcionar. Nosso
sujeito de laboratório, por exemplo, voltou a p ressio n ar a b a rra a
despeito dos choques porque esta era a ú n ica m an eira que tin h a
para obter comida. E se tivéssem os aproveitado a su p ressã o tem po­
rária da atividade do anim al c a u sa d a pela punição e ensinado-lhe
um novo modo de g a n h a r s u a vida? Q uando o anim al p á ra tem pora­
riamente de p ressio n ar a b arra, poderíam os p en d u rar u m a corrente
no teto da caixa; to d a vez que ele p u x a a corrente obtém alim ento,
mas não recebe o choque. T rab a lh ar p ara viver p u x ando a corrente é
uma ocupação “aprovada” e o anim al m u d a de emprego. Ele jam ais
volta à su a vida de crim es.
Com portam ento inadequado p ersiste a despeito da punição
porque é tam bém reforçado. A m aioria de nós, indiscutivelm ente,
preferiria reforçar ações alternativas em vez de utilizar punição p ara
fazer com que nossos filhos e outros m udassem . Algum as vezes,
entretanto, o com portam ento indesejado é tão forte que ele im pede o
indivíduo que se com porta in ad eq u ad am en te de te n ta r qualquer o u ­
tra coisa. O diálogo freqüentem ente não os p ersu ad e a ab an d o n ar
um curso de ação que j á funciona. Podemos, então, se n tir que a
punição é o único recurso. Se u m a ocasião assim surge podem os
usar punição suave. A su p ressão tem porária do ato p u nido nos dá
uma oportunidade p a ra en sin ar ao indivíduo algo novo, algum a ou­
tra m aneira de obter os m esm os reforçadores. Tendo p arad o m o­
m entaneam ente um ato indesejável punindo-o suavem ente, pode­
mos então substituí-lo por meio do reforçam ento positivo de u m a
atividade m ais desejável.
Devemos reconhecer que se algum modo novo, m as ainda
indesejável, de obter o reforçam ento for possível, o indivíduo punido
88 M urray S id m a n

pode descobrir esta opção an te s que tenham os a chance de e n sin a r


n o ssa alternativa preferida. A nova co n d u ta pode não se r m ais do
nosso gosto que a antiga. Podemos p u n ir u m a criança p o r b a te r em
seu novo irm ão, m as se então ela agredisse todas as s u a s bonecas,
nós ain d a teríam os u m problem a em n o ssas mãos. E u direi m ais
sobre isto m ais tard e, m as vale a p en a lem brar que a m enos que
tenham os deliberada e habilidosam ente usad o o efeito su p ressiv o
inicial d a punição suave p ara in sta la r a nova co n d u ta que q u ere­
mos, n a d a g aran te que a su b stitu ição será desejável.
Como vimos, eventos desagradáveis e dolorosos podem p e r­
der su a efetividade como p u nidores quan d o colocados em com peti­
ção com reforçadores positivos poderosos — u m a ju stap o sição su fi­
cientem ente com um n a vida cotidiana. Q uando isto ocorre, u m a
pessoa que te n h a ad m in istrad o punição, talvez com tristeza e pesar,
te rá infligido dor d esn ecessariam en te. A efetividade e mesm o a ética
do uso da punição p a ra controlar a co n d u ta de outros podem se r
tem as de debate, m as pode alguém ju stificar o u so incom petente d a
punição?
Podemos ir u m p asso além. A creditando incorretam ente que
certos eventos são inerente e im utavelm ente punidores, podem os
tran sfo rm a r a dor e o sofrim ento em reforçadores positivos. Eventos
considerados como p u nidores então su sten ta rã o , em vez de elim i­
nar, atos que os produzem . O resu ltad o de tal transform ação se rá
u m a pessoa que b u sc a a punição. Isto é facilm ente dem onstrado no
laboratório. Tudo que tem os de fazer é to rn a r o choque u m a pré-
condição necessária p a ra comer.
Por exemplo, por q u erer que nosso sujeito p are de p ressio n ar
a barra, podem os d ar-lh e u m choque suave e breve quando ele a
pressiona. O anim al recebe o choque, o alim ento vem a ele, então,
ele o come. No início, o choque pode im pedir o anim al de p ressio n ar
a b arra, m as ele se to m a m ais fam into e recom eça, voltando p a ra o
trab alh o a despeito do choque. Se, então, au m en tarm o s g rad u al­
m ente a intensidad e do choque, em pequenos p asso s, o sujeito con­
tin u a rá a p ressio n ar a b arra, ain d a que o choque finalm ente se
to m e tão forte a ponto de derrubá-lo. O anim al te rm in a p ressio n an ­
do a b a rra e sem pre recebendo u m choque in tenso im ediatam ente
a n te s de comer. '
O próprio choque te rá se tornado, agora, um reforçador posi-
tivó. Como podem os m o strar isto? Primeiro in terro m p a am bos: o
alim ento e o choque. Agora n a d a acontece quando o anim al pressio ­
n a a b a rra e depois de um pouco ele a pressio n a ap en as raram en te.
Agora, reintroduza ap en as o choque; a próxim a vez que o anim al
Coerção e s u a s im plicações 89

pressionar receberá o choque, m as não o alim ento. Ele im ediata­


mente com eça a p ressio n ar a b a rra rapidam ente, m esm o que agora
ela produza n a d a além de choques intensos. A ú n ic a razão do a n i­
mai para p ressio n ar a b a rra é o choque conseqüente, que se to m o u
um reforçador positivo.
E sta m u d an ça no valor do choque pode ser m o strad a ain d a
mais conclusivam ente se, então, tirarm os a b a rra e p en d u rarm o s
uma corrente no teto. A prim eira vez que o sujeito p u x a a corrente
novamente recebe o choque, sem alim ento. Ele co n tin u a a p u x a r a
corrente, produzindo u m choque cada vez que o faz. O choque to r­
nou-se um reforçador positivo tão efetivo que pudem os u sã-lo p ara
ensinar ao anim al algo novo — p u x ar a corrente — sem prover
qualquer o u tra conseqüência.
As pesso as freqüentem ente trab a lh am por choques? Todos
conhecemos indivíduos que parecem d esab ro ch ar em seu próprio
sofrimento, que parecem sem pre trazer sobre si m esm os a ira de
seus colegas de trab alh o , famílias, professores ou “autoridades".
Usando punição de modo tal a convertê-la em reforçam ento positivo,
uma com unidade coercitiva subverte s u a pró p ria racionalidade por
recorrer ã punição em prim eiro lugar. Um resu ltad o pode ser a
conduta patológica. P siq u iatras h á m uito estão conscientes d as te n ­
dências au to d estru tiv as que caracterizam m uitos de se u s pacientes
(e mesmo de pesso as que não são pacientes). Sem investigação é
impossível sab er se o tipo de h istó ria coercitiva que podem os criar
no laboratório tam bém é responsável por estes casos, m as a p lau si­
bilidade parece clara.
Evidência m ais d ireta pode ser en co n trad a no com portam en­
to de au to -in jú ria de algum as p esso as institucionalizadas. M uitas
crianças reta rd ad as e a u tis ta s são com um ente ignoradas porque são
consideradas como vegetais em ocional e intelectualm ente, incapazes
de apreciar ou ad ap tar-se a seu am biente. Mas elas à s vezes desco­
brem que se cau sarem danos a si m esm as, batendo, coçando, m or­
dendo, lacerando-se e retirando sangue de si m esm as trazem to d a a
com unidade p a ra si, elas se to m am o centro d a atenção. E sta s
crianças foram en sin ad as por seu s professores, em bora sem o co­
nhecimento deles, a ad m in istrar dor a si m esm as como o único meio
de obter atenção. A prova aparece quando então provem os a m esm a
atenção por atos construtivos; o au to -ab u so cessa. Mas, em alg u n s
casos o au to -ab u so pode continuar. Porque trouxe atenção, a p ró ­
pria dor to rn a-se um reforçador positivo, m antendo o au to -ab u so .
Nos lares, algum as vezes encontram os pais, sem querer, e s­
tabelecendo u m a situação sem elhante. Eles p u n em severam ente
90 M urray S id m a n

u m a criança que fez algo inaceitável. Então, sentindo-se culpados,


cobrem a crian ça com afeto p ara com pensar a punição. Q uando isto
acontece freqüentem ente a crian ça aprende: “J á sei, a m an eira de
realm ente conseguir o afeto de p apai é fazer algo ruim , fazer com
que ele me p u n a e então ele vai me a m a r.”
Podemos ir tão longe a ponto de dizer que m asoquism o, o
prazer da dor — particu larm en te em conjunção com a atividade
sexual — surge de u m a fonte sem elhante? E xperim entos que res­
ponderiam a esta p erg u n ta jam ais foram feitos. Uma m aneira de
ab o rd ar o problem a seria um experim ento como aquele que acabei
de descrever, m as. no qual. em vez de prover alim ento como um
reforçador positivo por p ressio n ar a b arra, déssem os ao sujeito ace s­
so a um parceiro sexual. Então, após en sin a r o sujeito a aceitar
choques como um p recu rso r inevitável do sexo, provavelm ente d e s­
cobriríam os que o próprio choque teria se to m ad o u m reforçador
positivo, assim como quando precede alim ento.
Mas su p o n h a agora que déssem os ao sujeito u m a escolha.
Uma b a rra funcionaria como an tes, produzindo prim eiro um choque
e depois um parceiro sexual; u m a o u tra b a rra p roduziria ap en as o
parceiro, sem choque. O anim al m u d aria p a ra sexo sem choque, ou
co n tin u aria tam bém a infligir choques a si m esm o? Um modelo
experim ental válido n ão -h u m an o p a ra m asoquism o patológico seria
extrem am ente útil p a ra descobrir como aliviar p arte do sofrim ento
que pessoas infligem a si m esm as.
O objetivo m ais razoável do uso da punição é p a ra r com por­
tam ento indesejável, im pedir pessoas de fazer coisas que são perigo­
sas, a s su sta d o ra s ou que consideram os in ad eq u ad as, d esv an tajo ­
sas, im orais ou anorm ais. Vimos dois m odos de u s a r a pu n ição que
parecem aten d er a este objetivo. Um é ad m in istrar punições m uito
fortes: “b a te r até fazer o gato m orto miar". O outro é a d m in istrar
punições suaves p a ra fazer a pessoa p a ra r de se com portar in ad e­
q u ad am en te pelo m enos tem porariam ente e, então, sem in terferên ­
cia do com portam ento inadequado, en sin ar-lh e o modo correto de
agir.
M as estas d u a s m an eiras de u s a r punição não são recom en­
dações. Q ue n en h u m leitor acredite, n este ponto, que foi aco n selh a­
do ou que lhe foi dito como u s a r punição efetivam ente. Os experi­
m entos que vimos até aqui não contam to d a a história. Além de
su p rim ir co n d u ta indesejada, a punição faz m u itas o u tra s coisas.
Q uando levamos em consideração todos os seu s efeitos, o su cesso
da punição em livrar-se de com portam ento parece inconseqüente. As
o u tras m u d an ças que ocorrem n as p esso as que são p u n id a s e, o que
Coerção e s u a s im plicações 91

é às vezes ain d a m ais im portante, a s m u d an ças que ocorrem n aq u e­


les que executam a punição, levam inevitavelm ente à conclusão de
que a punição é o método m ais sem sentido, indesejável e m ais
fundam entalm ente destrutivo de controle da conduta.
N aturalm ente, p ara m uitos de nós a punição j á é indesejável
sim plesm ente porque acham os pessoalm ente aversivo coagir os ou­
tros. Mas podem os fazer m ais que isto. Além de q u alq u er falta de
inclinação pessoal com a qual podem os com eçar, olhar além dos
efeitos im ediatos d a punição fornecerá b ases racionais p a ra te n tar
alterar a orientação q uase universal d a sociedade em direçáo ao
controle coercitivo.
‘Tomando-se um choque

Punição tem efeitos colaterais


Retaliação por meio de b rutalidade, terrorism o, destruição de
propriedade e assassin ato , ain d a que ética e legalm ente condenada,
m anteve-se com um por to d a a histó ria d a h u m an id ad e até o seu
presente. O conselho freqüentem ente ouvido, “Não leve desfeita p ara
c a sa ”, é apenas parcialm ente u m a brincadeira. A punição em rep re­
sália a algum malfeito tem raízes em ocionais, assim seu s p ratican tes
não são receptivos à crítica ou a argum entos com b ase racional ou
factual. C apítulos posteriores considerarão as c a u sa s d a ju s tiç a re-
tributiva e as razões p ara s u a p ersistên cia e predom inância.
Independentem ente de n o ssas motivações reais p a ra aplicar
punição, m ais freqüentem ente argum entam os que seu propósito é o
controle de com portam ento indesejável — a lim itação da destruição,
agressão, im oralidade e loucura. Como vimos, podem os obter este
resultado com punição intensa, ou com binando habilidosam ente p u ­
nição suave com reforçam ento p a ra ações alternativas.
Tam bém se supõe que p u n ir m au com portam ento en sin a
bom com portam ento. Assim, “disciplinam os” crianças espancando-
as ou penalizando-as; nossos governos apontam m ísseis p ara o u tras
Coerção e s u a s im plicações 93

nações a fim de “ensinar-lhes respeito” e de “m ostrar-lhes como


negociar com boa-fé”; u m a filosofia educacional predom inante afir­
ma que a am eaça do fracasso motiva os alu n o s a aprender, assim
professores universitários que não reprovam u m núm ero "razoável”
de alunos são considerados por seu s colegas como tendo dado um
"curso qualquer" que n a d a ensina. Se a punição pode ou não infun­
dir novo com portam ento é um problem a sobre o qual falarei m ais
adiante.
Se os efeitos da punição fossem confinados ao s objetivos
construtivos que se reinvindica p a ra seu uso, então, p a ra se opor a
seu uso seria n ece ssária u m a dem onstração de altern ativ as não-
coercitivas que atingem os m esm os objetivos. A lternativas estão
disponíveis, e eu m ostrarei algum as no percurso, m as elas são
não-tradicionais, não-fam iliares, mesm o p ara a m aioria dos psicólo­
gos. Tam bém , alguns m étodos não-coercitivos não são tão fáceis de
aplicar ou tão rápidos em su a ação, como u m a precisa e in ten sa
punição ou reforçador negativo. O que os to rn a necessários, ainda
que eles sejam não-fam iliares e algum as vezes difíceis de aplicar, é o
vasto catálogo de efeitos colaterais da punição — conseqüências da
punição que cancelam seu s benefícios e são responsáveis por m uito
do que está errado em nossos sistem as sociais.
Não se pode esp erar que q u alq u er pessoa não-ciente destes
efeitos colaterais considere razoável ou m esm o desejável su b stitu ir
controle coercitivo por controle não-coercitivo. P ortanto, vou rever
toda a série de efeitos colaterais p ara m o stra r como eles invalidam
qualquer justificativa que a punição po ssa ter.
O antigo código de H am m urabi prescrevia que um médico
cujo tratam en to fracassasse teria o m esm o destino de seu paciente.
Se o paciente perdesse u m olho, um braço ou u m a p ern a, tam bém o
perderia o médico. E sta s regras d u ras, que algum as p esso as defen
dem hoje, podem em algum a m edida ter tido su cesso em asseg u rar
á com petência dos p ratican tes d a m edicina, m as podem os estar
certos de que a penalidade infligida aos m édicos tam bém teve outros
efeitos colaterais. M uitos pacientes, com doenças que não tin h am
um tratam e n to confiável, indubitavelm ente sofreram negligência
porque n en h u m médico desejava arrisca r seu pescoço — ou q u al­
quer o u tra p arte do corpo — ten tando u m a cura. Em casos sem
esperança, m uitos m édicos provavelm ente não desejavam receitar
sequer p a ra alívio da dor e desconforto, u m a vez que poderiam ser
acusados da m orte do paciente. Alguns jovens b rilh an tes provavel­
m ente evitavam a m edicina como u m a carreira por c a u sa do perigo
pessoal. A punição severa pode ter tornado os p ratican tes m ais
94 M urray S id m a n

cuidadosos, m as, certam ente, m uito do que eles ap ren d eram como
u m a conseqüência do código de H am m urabi orientou-se p ara su a
própria sobrevivência, em vez da sobrevivência de seu s pacientes.
Efeito colateral é um term o que freqüentem ente se refere a
conseqüências não-p reten d id as e su p o stam en te pouco im portantes
ou im prováveis de drogas, m as, como todos sabem os, os efeitos
colaterais de u m a droga freqüentem ente são s u a característica m ais
im portante. Morfina, u m a bênção quan d o elim ina u m a dor in su p o r­
tável, tam bém escraviza seu s u su ário s. Talidom ida, que dim inuia a
n á u se a m a tern a d u ran te os prim eiros m eses de gravidez, tin h a um
trágico efeito colateral; no nascim ento, m uito depois de a m ãe ter
p arado de to m ar a droga, a crian ça algum as vezes tin h a u m ou m ais
braços e p ern as parcialm ente desenvolvidos e seriam ente deform a­
dos. T om ou-se um fato com um que efeitos colaterais perigosos p ro ­
voquem a retirad a de circulação de drogas que foram introduzidas
no m ercado sem testes adequados.
Os efeitos colaterais da punição tam bém , longe de serem
secundários, freqüentem ente têm significação com portam ental con­
sideravelm ente m aior que os esperados “efeitos p rincipais”. Punição
e o u tras form as de coerção, como m u itas drogas, tam bém foram
introduzidas em n o ssa c u ltu ra sem testes adequados. Talvez u m a
avaliação m ais com pleta d as p ráticas coercitivas tam bém fará com
que elas sejam retirad as d a lista dos aprovados.
R esultados de testes estão agora disponíveis. A ciência d a
análise do com portam ento provê u m a descrição d as conseqüências
da coçrçào racional, siste-ijiãtica. M uitos dos efeitos colaterais d a
punição foram isolados p lanejadam ente e estu d ad o s no laboratório,
não como fenôm enos secundários, m as como processos im p o rtan tes
por si m esm os.

De mal a pior: como novos punidores são construídos


U sualm ente adm itim os como certo que determ inados eventos
agirão como punidores. Se não, condenam os como anorm al u m a
p essoa que não m o stra as reações esperadas, ou b u scam o s circuns-
tã n cias m itigadoras e a adm iram os e respeitam os por disciplina e
autocontrole incom uns. E speram os ver pessoas p a ra r de fazer q u al­
quer coisa que produza conseqüências que am eaçam a vida, são
dolorosas, provocam extrem o calor ou frio, b aru lh o s extrem am ente
altos ou irritan te s ou luzes ofuscantes. A penas sob condições inco­
m u n s a m aioria de nós ingere alim entos ácidos ou am argos. C rian­
ças rapidam ente aprendem a não tocar em um fogão quente. Pes-
Coerção e s u a s im plicações 95

soas que espetam ag u lh as em si m esm as ou b u scam dor e d escon­


forto fisico o fazem ap en as porque algum reforçam ento com pete com
sucesso com a punição auto-infligida; aqueles que injetam in su lin a
em si m esm os p ara evitar com as diabéticos tam bém recebem com ­
preensão e sim patia. Q uando van tag en s p ara a com unidade su p e ­
ram o valor que atribuím os a u m a vida individual, adm iram os e
recom pensam os atos de auto-sacrificio; soldados que se ferem no
resgate de cam arad as recebem m edalhas. E n tretan to , encaram os
como anorm al e n ecessitando de tratam en to aqueles que b u scam
dor em si m esm os infligida por u m parceiro sexual.
Exceto sob circu n stân cias extraordinárias, confidentem ente
esperamos que q u alq u er estim ulação excessiva, incom um , dolorosa,
ou perigosa sirva como u m punidor. E stes são os punidores n a tu ­
rais. S u a habilidade p ara p a ra r com portam ento em curso u su a lm e n ­
te não depende de q u alq u er o u tra circunstância, eles são assim .
A lguns aspectos do am biente tam bém podem fu ncionar como
punidores, ain d a que não sejam inerentem ente aversivos. Eventos
que são u su alm en te n eu tro s podem to rn ar-se punidores. A palavra
“Não”, tão tem ida por m u itas crian ças e m esm o por adultos, é ape­
nas um conjunto complexo de sons que não tem poder em si de
controlar com portam ento. Como a palavra adquire este poder? De
que fontes o “0", sim plesm ente u m padrão de linhas sobre o papel,
deriva s u a extraordinária habilidade de p u n ir e stu d an tes? Mesmo
reforçadores positivos n a tu ra is podem to m a r-se punidores. O que,
por exemplo, to rn a o in tercu rso sexual rep u g n an te p a ra alguns?
E stes são cham ados “p u nidores condicionados”, porque su a
habilidade p ara nos fazer p a ra r de fazer algo é condicional a o u tras
circunstâncias. Q uais são e sta s circu n stân cias? Como as e s tu d a ­
mos?
No laboratório vim os o alim ento fu ncionar como um reforça-
dor, m antendo nosso sujeito diligentem ente pressio n an d o a b arra
peló seu pão de cad a dia. Tam bém vimos breves choques elétricos
funcionando como punidores, colocando u m fim, pelo m enos tem po­
rariam ente, às preocupações do sujeito com a b arra. Mas, ap en as no
laboratório u m sujeito produz reforçadores ou p u n id o res in d e­
pendentem ente de o u tras características do am biente. Na natu reza,
a b u sca de alim ento por u m anim al nem sem pre é bem -sucedida. “O
pássaro m adru g ad o r pega a m inhoca” descreve u m a condição n a
qual um a contingência de reforçam ento m an tém -se verdadeira. Pou­
cas de n o ssas ações produzem seu s reforçadores característicos em
todas as circun stân cias. O relógio nos diz se é provável que o ja n ta r
estçja pronto se formos p a ra c a sa naquele m om ento; u m sinal n a
96 M urray S id m a n

porta nos inform a se em p u rran d o -a ou pu x an d o -a ela se abrirá;


u su alm en te falam os ap en as n a p resen ça de u m ouvinte.
O m esm o é verdade p ara a punição. “Q uando os gatos saem
os rato s se divertem ” descreve u m a condição n a qual contingências
de punição são su sp en sas. Em algum as circu n stân cias podem os nos
sa ir bem com con d u tas que de outro modo seriam penalizadas. Avós
tradicionalm ente deixam crianças fazer coisas p ara as quais seus
pais franzem as sobrancelhas; crianças rapidam ente aprendem a
aju sta r su a s dem andas de acordo com isso. Um m acaco de baixa
ordem social no bando pode ro u b ar alim ento de u m outro ainda m ais
inferior n a hierarquia, m as, a m enos que ele esteja desafiando as
relações de dom inância estabelecidas, ele jam ais te n ta pegar a com i­
da do “m acaco líder”. Sensibilidade à probabilidade d a punição res­
tringirá ou encorajará agressão pessoal e internacional. Em um nível
m ais corriqueiro, m uitos m otoristas consideram su a velocidade ex­
cessiva ap en as se u m a p atru lh a policial está à vista; crian ças desco­
brem que serão penalizadas por “palavrões” ap en as se forem tolas o
suficiente p a ra os dizer n a p resen ça de adultos, ou de o u tras crian ­
ças linguarudas; prom iscuidade sexual indiscreta pode ser c e n su ra ­
da em Boston, m as au m en ta a rep u tação e o apelo de bilheteria das
estrelas de Hollywood.
Se vam os ou não obter nossos reforçadores e p u nidores de­
pende, então, do am biente físico e social presente. A prendem os
quais situações levam a e quais situações su sp en d em contingências
de reforçam ento e punição; em u m am biente p articu lar, agimos ou
deixam os de agir de acordo com a probabilidade de que g anharem os
ou sofrerem os a s conseqüências. Se u m elem ento situacional sin ali­
za a disponibilidade de u m reforçador, é provável que realizem os o
ato; se ele sinaliza punição, é provável que façam os algum a o u tra
coisa.
A presen ça ou au sên cia de algum a característica do am b ien ­
te nos diz se u m a conseqüência p articu la r ê provável no caso de
agirm os de um dado modo. A dicionar este terceiro elem ento ã con­
tingência básica de reforçam ento ou punição nos perm ite descobrir
que características do am biente g anham controle sobre a conduta.
E, como verem os, além de sinalizar a probabilidade de co n seq ü ên ­
cias, p articulares, estes am bientes controladores tam bém adquirem
as funções reforçadoras ou punitivas dos eventos que eles sinalizam .
Podemos estu d ar o processo em u m nível simples instalando
u m a luz n a caixa experimental. Agora, apenas enquanto a luz está
ligada o sujeito pode obter comida pressionando a barra. Se ele a
pressiona enquanto a luz estiver apagada n a d a acontece. Porque a luz
Coerção e s u a s implicações 97

controla a contingência de reforçamento, ela tam bém p assa a con­


trolar a atividade do animal, e em breve o registro m ostra o anim al
pressionando a barra apenas quando a luz é ligada, parando assim
que é apagada. Acender e apagar a luz inicia e p ára o com portam en­
to do animal.
A luz pode tam bém ad q u irir controle ao sinalizar punição.
Para m ostrar isso, continuam os a d ar ao sujeito alim ento se ele
pressiona a b a rra no escuro, m as dam os a ele alim ento e choque se
ele pressiona en q u an to a luz está acesa. Agora vem os o anim al
passar a tra b a lh a r quan d o a luz se apaga e p a ra r assim que a luz se
acende.
, Pouca coisa su rp reen d erá n estes experim entos exceto, talvez,
ver que um organism o tão inferior qu an to um rato de laboratório é
tão sensível ao controle am biental. O processo é b a s ta n te geral,
como ele deve ser, p a ra que u m a form a de vida tão com plexa q uanto
o homo sapiens te n h a evoluído. C ertam ente, se u m a espécie não
pudesse fazer uso de indicações am bientais p ara reforçam ento e
punição, ela não sobreviveria por m uito tempo. Uma ovelha que se
deite d ian te de um leão certam ente será comida. Aprendem os que
gelo sinaliza u m a queda, a m enos que andem os cuidadosam ente ou
que coloquem os sap ato s com cravos; dizer “azu l” foi reforçado n a
presença de objetos azuis, não de objetos verm elhos; não tocam os
fios descascados com a s m ãos desprotegidas, não nos enrolam os em
cobertores m olhados p ara elim inar o frio, ou vestim os u m maiô em
uma tem p estad e de neve. A n o ssa sensibilidade ao controle am bien­
tal to rn a possível ad aptarm o-nos a contingências de reforçam ento e
punição variadas e em co n stan te m udança.
Uma vez que u m elem ento do am biente adquire controle,
sinalizando um reforçador ou p unidor p articu lar, o sin al em si m es­
mo to rn a-se-á um reforçador ou p u n id o r potencial. S u a função p a r­
ticular dependerá do tipo de contingência por meio d a q u al ele p a s­
sou a controlar. C onseqüências com portam entais significativas, re­
forçadores e punid o res condicionados são criados d e sta m aneira.
Um evento que com eça n eu tro to m a-se um reforçador ou pu n id o r
potencial como resu ltad o de n o ssa experiência com ele. O sinal
torna-se um símbolo, rep resen tan d o u m a conseqüência p articu lar
que ele p asso u a indicar e tendo aproxim adam ente o m esm o efeito.
Por exemplo, nosso sujeito reagiu à luz trab a lh an d o ou p a ­
rando, dependendo d a contingência que a luz controlava. A luz em si
deveria agora ser capaz de reforçar ou p u nir, dependendo de se ela
sinalizasse ap en as alim ento ou alim ento m ais choque. Como re su l­
tado disso, m esm o o rato de laboratório tra b a lh a rá ou p a ra rá de
98 M urray S id m an

tra b a lh a r por c a u sa de conseqüências que com um ente ignoraria,


m as que se to rn aram significativas porque elas sinalizaram reforça-
m ento ou punição.
Para descobrir se podemos transform ar u m evento neutro em
u m reforçador, devemos primeiro p en d u rar um a corrente no teto da
caixa do sujeito. Toda vez que o anim al p uxar a corrente, a luz se
acende por cinco segundos. Neste ponto o registro m ostra o anim al
puxando a corrente apenas raram ente: a luz não é ainda u m a conse­
qüência significativa. Então, ensinam os o animal, como antes, a pres­
sionar u m a b arra dando-lhe alimento por fazer isso, m as som ente
quando a luz está acesa. Assim que observarmos que ele trab alh a na
presença da luz e p ára quando a luz se apaga, estarem os prontos para-
testar a luz novam ente p ara ver se ela servirá, agora, como um reforça­
dor.
D aqui em diante, dam os ao anim al algum controle sobre a
luz. A m enos que ele puxe a corrente, a luz perm anecerá apagada.
N aturalm ente, n en h u m alim ento está disponível no escuro. Toda vez
que ele p u x a a corrente a luz se acende por cinco segundos, e
d u ra n te este tem po ele pode obter alim ento pressionando a b arra.
Logo, vem os o anim al aju stan d o -se sensivelm ente às novas
d em an d as de seu am biente de trabalho. Ele p u x a a corrente, acende
a luz, e então tra b a lh a n a b a rra nos próxim os cinco segundos. Tão
logo a luz se apaga ele p u x a novam ente a corrente e com eça um
novo período de trabalho.
Porque a luz sinaliza cinco segundos de reforçam ento com
alim ento p a ra p ressio n ar a b arra, ela p a s s a a servir como u m refor­
çador p ara p u x ar a corrente. Sim ilarm ente, nosso contracheque, que
sinaliza todos os reforçadores que u m a ida su b se q ü en te às com pras
pode obter, tam bém serve como u m reforçador que m antém nosso
trabalho sem analm ente. D inheiro é tão poderoso — u m reforçador
qu ase universalm ente efetivo — que algum as vezes pensam os ser
n atu ra l, m as essas m oedas, n o tas e cheques não têm valor inerente.
Eles adquirem s u a habilidade p a ra reforçar q u aisq u er ato s que os
produzem porque eles to m am possível com prar e ad q u irir inúm eros
outros reforçadores.
Reforçadores condicionados controlam m uito daquilo que fa­
zemos. Reações dos ouvintes como “S im ”, “É”, “S eg u ram en te”, ou
u m a balanço de cabeça, u m a piscada, u m sorriso, u m toque, to d as
reforçam n o ssa conversação porque elas sinalizam , em últim a in s ­
tância, sim patia e concordância. A plauso en tu siástico reforça u m a
perform ance no palco porque ele sinaliza críticas favoráveis, adm ira-
Coerção e suas im plicações 99

çao pessoal e trab alh o s futuros. Pequenos sinais que indicam em


últim a in stâ n cia p razer reforçam investidas am orosas.
O m esm o processo pode criar p u n id o res condicionados? S u ­
p o n h a que nosso rato de laboratório ap ren d eu que p ressio n ar a
b a rra lhe tra rá alim ento, m as que p ressio n ar q u an d o a luz está
acesa tam bém produzirá u m choque. Alimento e s tá sem pre disponí­
vel se o sujeito tra b a lh a por ele, m as quando acendem os a luz, que
sinaliza punição, o anim al p á ra de trab alh ar. O anim al p a ra rá , ago­
ra, de fazer q ualq u er coisa que produza luz?
P ara descobrir, prim eiro dam os ao anim al u m a boa razão
p ara p u x ar u m a corrente, e então vemos se acender a luz fará com
que ele pare. Podemos, por exemplo, deixar o anim al pospor a luz ao
p u x ar a corrente; p u x á-la en q u an to a luz e stá apagada garan tiria
que ela perm anecesse ap ag ad a nos próxim os cinco segundos. Se o
anim al p u x a a corrente com suficiente freqüência — pelo m enos
u m a vez a cada cinco segundos — ele evitaria que a luz jam ais se
acendesse.
D u ran te esta fase p rep arató ria do experim ento, o sujeito
pode sem pre obter alim ento ao p ressio n ar a b arra, esteja a caixa
ilum inada ou escura. Depois de cada cinco segundos de escuridão,
u m a luz se acende e perm anece acesa p o r outros cinco segundos.
P ressionar a b a rra n a p resen ça de luz ain d a leva o anim al a obter
seu alim ento, m as ju n to com cad a pelota de alim ento vem u m cho­
que breve. P uxar a corrente en q u an to a luz e s tá acesa não tem
conseqüência. E ntretan to , o sujeito pode evitar que a luz jam ais se
acenda, já que p u x ar a corrente no escuro asseg u ra que a luz não
aparecerá o u tra vez pelo m enos por cinco segundos.
Ao fim desta fase p reparatória, observaríam os o efeito de
todas as contingências. O anim al g astaria a m aior p arte de seu
tem po no escuro pressionando a b a rra e obtendo alim ento. Pelo
m enos u m a vez a cad a cinco segundos e, provavelm ente m ais fre­
qüentem ente, ele deixaria a b arra, se dirigiria à corrente e a puxaria
várias vezes an te s de voltar a tra b a lh a r n a b a rra . O casionalm ente,
ele não p u x aria a corrente a tem po e a luz se acenderia, levando o
anim al a p a ra r de tra b a lh a r até que o escuro reto rn asse. De vez em
quando ele tam bém p ressio n aria a b a rra en q u an to a luz estivesse
acesa e levaria um choque, m antendo assim a função sinalizadora
da luz.
Agora estam os prontos p ara descobrir se u m evento que si­
nalizou punição tornou-se ele m esm o um punidor. As observações
prelim inares dão u m forte indício. Como vimos no início, u m refor-
çador negativo, um evento que au m en ta a freqüência de ações que o
100 M urray S id m a n

encerram ou im pedem de acontecer, u su alm en te p u n irá qualquer


ação que é seguida por ele. Porque esquiva d a luz m an tém o anim al
p uxando a corrente freqüentem ente, sabem os que a luz to m o u -se
um reforçador negativo. P ortanto, é provável que ela tam bém p u n a
q u alq u er com portam ento seguido por ela.
Podemos conduzir o teste crítico revertendo a função d a cor­
rente; em vez de pospor a luz, o anim al agora acende a luz por cinco
segundos sem pre que ele puxa a corrente. E sta punição fará com
que o anim al pare de p u x ar a corrente? Não dem ora m uito p a ra que
a atividade do sujeito reflita a nova contingência; ele não m ais puxa
a corrente. Em vez disso, ele tra b a lh a altern ad am en te n a barra, no
escuro, por cinco segundos e então perm anece longe da b a rra e n ­
q u an to a luz está acesa, nos cinco segundos su b seq ü en tes. A luz,
que sinalizava ao anim al que p ressio n ar a b a rra seria punido, agora
ela m esm a p u n e o anim al por p u x ar a corrente. Ela to m o u -se um
sinal p a ra punição e u m pu n id o r em si m esm a.
A m esm a coisa acontece se punirm os por meio da retirad a de
reforçadores positivos, em vez de a p resen tar reforçadores negativos?
Nem sem pre adm in istram o s conseqüências desconfortáveis ou dolo­
ro sas quando querem os colocar u m fim às ações de alguém . Fre­
qüentem ente ten tam o s atingir este objetivo im pedindo a s pessoas de
obter ou m a n ter algo que queiram . Em vez de esp an ca r u m a criança
que se com portou mal, podem os retirar seu s b rinquedos ou fazê-la
“ficar de pé no can to ”, onde n en h u m de seu s b rinquedos e stá d ispo­
nível. Chicotear, como punição por desfalque ou sonegação de im ­
postos foi su b stitu íd o por m u ltas em dinheiro e confisco de proprie­
dade. Escolas, em larga escala, ab an d o n aram punição corporal em
favor de expulsão, com a conseqüente perd a de op o rtu n id ad es p ara
aprender. (N aturalm ente, é falacioso a ssu m ir que estu d a n te s pos­
sam ser efetivam ente punidos privando-os d a o portunidade de ser
coagidos a aprender.) A m aioria d as cu ltu ra s ab an d o n o u práticas
como co rtar a s m ãos de batedores de carteira, c a stra r estu p rad o res,
çegar aqueles que assistem a ritu ais proibidos e esticar heréticos
religiosos com in stru m en to s de to rtu ra. Em vez disso, elas isolam
crim inosos e pecadores de reforçadores positivos físicos, econômicos
e sociais que, de o u tra forma, teriam estado disponíveis p a ra eles.
E ssas form as m enos b ru tais e presum ivelm ente m ais h u m a n a s de
punição têm tam bém o efeito colateral de to rn ar os elem entos am ­
b ien tais n eu tro s em punidores? S inais de perda ou retirad a de refor­
çadores positivos, como sinais de dor, tam bém to m ar-se-iam eles
m esm os punidores potenciais?
Coerção e s u a s im plicações 101

Voltemos ao laboratório p ara u m a resposta. Em vez de dar


choque no sujeito por “m au com portam ento”, querem os agora desco­
brir se podemos fazê-lo parar, tom ando um reforçador positivo não
disponível. Podemos fazer isto retirando a oportunidade de o animal
comer? S uponha que o experimento comece, m ais u m a vez, com um
anim al que aprendeu a g an h ar seu alimento pressionando u m a barra.
Novamente, períodos de cinco segundos de luz e escuro são alternados,
m as em vez de receber choques, o sujeito sim plesm ente não obtém
alimento se ele pressiona a b arra enquanto a luz está acesa. O anim al
rapidam ente aprende o significado da luz, parando de trab a lh ar tão
logo a luz se acenda e voltando a seu trabalho cinco segundos mais
tarde.
E m bora a luz term ine a atividade de p ressio n ar a b a rra do
anim al, ela não está funcionando ain d a como um punidor, já que ela
não é um a conseqüência de q u alq u er ato. Ela serve ap en as como
um sinal de que alim ento não m ais está disponível. Precisam os,
ainda, descobrir se este sin al tam bém im pede o sujeito de fazer
qualquer coisa que o produza.
D aqui em diante, o experim ento procede ex atam ente como
aquele que tornou a luz um sinal de choque, exceto que a luz agora
sinaliza a não-disponibilidade de alim ento.
Primeiro, porque o anim al pode pospor a luz to d a vez que ele
puxa a corrente, ele freqüentem ente interrom pe seu trab alh o n a
b a rra p ara fazê-lo. A luz funciona como u m reforçador negativo; o
anim al ap ren d e a fazer algo que a protele.
J á que a m aioria dos reforçadores negativos funciona ta m ­
bém como punidores, não ficarem os tão su rp reso s com os re s u lta ­
dos n a fase final, quan d o m udam os as regras. Agora, em vez de
pospor a luz puxando a corrente, o sujeito n a verdade a acende. O
anim al logo p á ra de p u x ar a corrente.
Privação da oportunidade p ara tra b a lh a r por alim ento to rn a ­
se, como o choque, u m a punição efetiva. A luz, um sin al am biental
para não-disponibilidade de reforçam ento positivo, to rn a-se ela m es­
m a um reforçador negativo e u m punidor.

A importância da punição condicionada


O prim eiro efeito colateral d a punição, então, é d a r a q u al­
quer sin al de punição a habilidade p a ra p u n ir por si mesm o. Assim
como um elem ento am biental que leva a reforçam ento positivo perde
seu sta tu s n eu tro e to rn a-se ele m esm o um reforçador positivo, um
elem ento que leva à punição, to m a-se ele m esm o u m punidor. O
102 M urray S id m a n

som d a la ta de biscoitos sendo ab erta reforçará um criança por ser


boazinha; u m a vez que ten h am o s batido em u m a criança, a sim ples
visão de n o ssa mão erguida será suficiente p ara p a ra r m au com por­
tam ento.
Novos reforçadores e punidores são criados d esta m an eira —
sinalizando outros reforçadores ou punidores. Por que este efeito
colateral deveria cau sar qualquer preocupação? Afinal de contas, n a
m edida em que nosso am biente g an h a novos reforçadores positivos,
n o ssa s vidas tornam -se potencialm ente m ais gratificantes. Opções
novas e satisfatórias tornam -se disponíveis. Aproximação pode p re­
dom inar em relação a fuga e esquiva e podem os ap ren d er com b ase
em conseqüências produtivas, em vez de destrutivas.
E ntretanto, com a adição de cad a novo elem ento pu n id o r em
nosso am biente, n o ssas vidas to rn am -se m enos satisfatórias, m ais
desesperadas. Se encontram os punição freqüentem ente, ap ren d e­
mos que nosso cam inho m ais seguro é ficar quietos e fazer tão
pouco quanto possível. Nós nos congratulam os por cad a dia que
p a ssa sem catástrofe. As ú n icas coisas que estam os ansiosos por
aprender são novos m odos de evadir ou de d e stru ir objetos e p e s­
soas que estão em nosso cam inho. O processo é potencialm ente
explosivo. Q uando qu er que sejam os punidos, m ais e m ais elem en­
tos de nosso am biente to rn am -se reforçadores negativos e p u n id o ­
res. Ficam os cad a vez m ais sob controle coercitivo e dependem os
cada vez m ais de contracoerção p a ra nos m anterm os à tona.
A m bientes inteiros podem se to rn a r reforçadores ou p u n id o ­
res por si m esm os. E stu d a n tes que são reforçados por n o tas altas,
respeito de seu s professores e adm iração de se u s colegas provavel­
m ente freqüentam regularm ente a escola. E stu d a n tes que são p u n i­
dos por n o tas baixas, desaprovação e hum ilhação por p arte de seu s
professores e falta de reconhecim ento e até mesm o desprezo de seu s
colegas provavelm ente se m antêm fora da escola ta n to q u an to p o ssí­
vel. A confiança n a punição coloca o selo "Coercitivo” em todo o
sistem a e p a ra m uitos jovens u m segm ento im portante de seu am ­
biente é aversivo. P ara alunos que são pu n id o s em classe, a escola
torna-se um punidor. Em vez de fazer com que eles aprendam , a
punição os leva a se evadir do am biente onde a aprendizagem s u ­
postam ente ocorre e talvez, até mesm o, a se esquivar de todo proces­
so de aprendizagem formal.
Aí está porque punição condicionada é um efeito colateral
“tóxico” da punição. A m bientes em que som os punidos tornam -se
eles rnesm os punitivos e reagim os a eles como a punidores n atu ra is.
Não gostam os deles, os odiam os ou tem em os, evitando-os com pleta-
Coerção e s u a s im plicações 103

mente se puderm os, ou escapando deles assim que for possível.


Considerando o choque como o p u n id o r prototípico, podem os dizer
que situações n a s quais recebem os choques to rn am -se choques elas
mesmas, capazes de gerar todas a s reações que o choque gera.
Punição condicionada é u m efeito colateral com o q u al não
precisam os lidar m uito longam ente neste m om ento. Ele co n tin u ará
aparecendo ã m edida que nosso quadro do controle coercitivo se
desenvolver, u m a vez que punidores condicionados gerarão, eles
mesmos, os m esm os efeitos colaterais que os pu n id o res dos quais
derivam. A m eaças de punição, por exemplo, com unicadas em p ala­
vras ou ações, são u m a experiência universal, m uito m ais com uns
que as realidades que prognosticam . É crítico, p ortanto, reconhecer
que um a p arte particu larm en te im portante de nosso am biente é
uma fonte im portante de punição condicionada. É o am biente social.
Tanto de um ponto de vista prático como de um pessoal,
talvez a coisa m ais significativa a lem brar sobre o prim eiro efeito
colateral da coerção é que as p esso as que u sam punição tornam -se
elas m esm as punidores condicionados. O utros a s tem erão, odiarão e
se esquivarão delas. Se punim os o u tras p essoas, nós tam bém nos
tornam os punidores. N ossa própria p resen ça se rá punitiva. Se sim ­
plesm ente nos aproxim am os daqueles a quem co stu m eiram en te p u ­
nimos, colocarem os u m fim ao que qu er que seja que estejam fazen­
do. Se ap en as am eaçam os de nos aproxim ar, eles fugirão. Todos os
efeitos colaterais que os choques geram , nós tam bém gerarem os.
Q ualquer um que u se choque to rn a-se u m choque.

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